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1 Sociologia •• Marcos Eduardo G. de Lima Renato Garibaldi Mauri Professor

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1Sociologia •••Marcos Eduardo G. de LimaRenato Garibaldi Mauri

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MÓDULO 1

Conhecimento e humanidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

1. Conhecimento: característica da humanidade . . . . 2

2. Sociologia: um conhecimento de todos . . . . . . . . . . 4

Agora é a sua vez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

De olho no vestibular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

MÓDULO 2

Uma nova ciência – novas possibilidades . . . . . . . . . . . 9

1. Uma ciência moderna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2. Desafios da Sociologia atual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

Agora é a sua vez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

De olho no vestibular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

MÓDULO 3

As bases do pensamento sociológico . . . . . . . . . . . . . . . 19

1. Renascimento e espírito especulativo . . . . . . . . . . . . 19

2. O Iluminismo (1650-1700) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

3. Representantes do Iluminismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

4. Formação do pensamento burguês e

Revolução Industrial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

Agora é a sua vez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

De olho no vestibular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

MÓDULO 4

Positivismo e sua influência no mundo . . . . . . . . . . . . . 24

1. Positivismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

2. O Positivismo no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

Agora é a sua vez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

De olho no vestibular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

MÓDULO 5

Em defesa da ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

1. O conceito de fato social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

2. Método sociológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

3. Instituições sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

4. Consciência coletiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

Agora é a sua vez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

De olho no vestibular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

MÓDULO 6

A divisão do trabalho social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

1. Função da divisão do trabalho social . . . . . . . . . . . . . 40

2. Condições para a divisão do trabalho social . . . . . . 42

3. Anormalidades na divisão do trabalho social . . . . . 43

Agora é a sua vez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

De olho no vestibular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

MÓDULO 7

Sociologia compreensiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

1. Ação social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

2. Tipos ideais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

3. Tipos weberianos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

4. Ciência e política: duas vocações . . . . . . . . . . . . . . . . 50

Agora é a sua vez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

De olho no vestibular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

MÓDULO 8

Racionalidade e domínio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

1. Racionalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

2. O fenômeno do domínio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

3. Religião e sociedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

Agora é a sua vez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

De olho no vestibular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

SUMÁRIO

Nome: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Se você parar para pensar...

Na correria do dia a dia, o urgente não vem deixando tempo para o importante. Essa constatação,

carregada de estranha obviedade, obriga-nos quase a tratar como uma circunstância paralela e eventual

aquela que deve ser considerada a marca humana por excelência: a capacidade de refl exão e consciência.

Aliás, em alguns momentos, as pessoas usam até de uma advertência (quando querem afi rmar que algo

não vai bem ou está errado): se você parar para pensar...

Por que parar para pensar? Será tão difícil pensar enquanto se continua fazendo outras coisas, ou,

melhor ainda, seria possível fazer sem pensar e, num determinado momento, ter de parar? Ora, pensar é

uma atitude contínua, e não um evento episódico! Não é preciso parar, e nem se deve fazê-lo, sob pena

de romper com nossa liberdade consciente. Isso, de certa forma, retoma uma séria brincadeira feita pelo

escritor francês Anatole France (Nobel de literatura em 1921, um mestre da ironia e do ceticismo). Ele dizia

que “o pensamento é uma doença peculiar de certos indivíduos e que, a propagar-se, em breve acabaria

com a espécie”.

Talvez, pensar mais não levasse necessariamente ao “término da espécie”, mas, com muita probabi-

lidade, difi cultaria a presença daqueles no mundo dos negócios e da comunicação que só entendem e

tratam as pessoas como consumidores vorazes e insanos. Talvez, pensar mais nos levaria a gritar basta

de tantos imperativos! Compre! Olhe! Veja! Faça! Leia! Sinta! E a vontade própria e o desejo sem contor-

nos? E (ainda lembras?) a liberdade de decisão, escolher, optar, aderir? Será um basta do corpo e da

mente que já não mais aguenta tantas medicinas, tantas dietas compulsórias, tantas ordens da moda e

admoestações da mídia; corpo e mente que carecem, cada dia mais, de horas de sono complementares,

horas de lazer suplementares e horas de sossego regulares, quase esgotados na capacidade de persistir,

combater e evitar o amortecimento dos sentidos e dos sonhos pessoais e sinceros.

Essa demora em pensar mais, esse retardamento da refl exão como atitude continuada e deliberada,

vem produzindo um fenômeno quase coletivo: mais e mais pessoas querendo desistir, largar tudo, com

vontade imensa de sumir, na ânsia de mudar de vida, transformar-se, livrando-se das pequenas situações

que torturam, amarguram, esvaem. Vêm à tona impulsos de romper as amarras da civilidade e partir,

célere, em direção ao incerto, ao sedutor repouso oferecido pela irracionalidade e pela inconsequência.

Desejo grandão de experimentar o famoso “primeiro, a gente enlouquece e, depois, vê como é que

fi ca” [...] Cansaço imenso de um grande sertão com diminutas veredas?

Quando o inglês (nascido nas Índias) George Orwell, no fi nal dos anos 40 do século passado, publicou a

obra 1984 – uma assustadora utopia negativa quanto ao futuro das sociedades, nas quais não haveria liber-

dade, individualidade e privacidade –, despontou no Ocidente um disfarçado e ansiado consenso (apoiado

em uma simulada expectativa): tudo aquilo que ele colocara no livro jamais poderia acontecer e nem se

relacionava com o porvir do mundo capitalista. No entanto, a macabra história sobre a sociedade totalitária

vai além de fatos abstratos e atinge hoje, em cheio, o terreno da mercadolatria. Orwell disse que, numa socie-

dade como a que prenunciou, “o crime de pensar não implica a morte; o crime de pensar é a própria morte”.

Pouco importa, dado que o ser humano é ser capaz de dizer não ao que parece não ter alternativa.

Apesar dos constrangimentos e da tentativa de sequestro de nossa subjetividade, pensar não é, de fato,

crime e, por isso, claro, não se deve parar...

CORTELLA, Mario Sergio. Não nascemos prontos: provocações fi losófi cas. Petrópolis: Vozes, 2006. p. 63-65.

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Conhecimento e humanidade

1. CONHECIMENTO: CARACTERÍSTICA DA HUMANIDADE

Existem muitas teorias sobre o que diferencia o homem dos outros animais. Não se pode

afirmar quais seriam todas as ca-racterísticas diferenciais entre eles, mas é possível analisar algumas si-tuações. O objetivo aqui não é dis-cutir as diferenças entre os animais ditos “racionais” e os irracionais, mas compreender sobre a ca-pacidade humana de adquirir conhecimento.

Essa capacidade é peculiar ao ser humano, que pode conhe-cer muitas coisas, de diversas ma-neiras. É possível conhecer o mundo por meio dos sentidos – visão, olfa-to, audição, paladar e tato. Mas, além disso, pode-se conhecê-lo utilizando a capacidade de dar sentido a tudo com que se relaciona.

Desde a Antiguidade, o ser humano demons-trou ser capaz de ter compreensão a partir da dúvida, da curiosidade e do inconformismo. É da na-tureza humana o desejo de conhecer, e isso motivou os primeiros sábios e filósofos a se inquietarem com o mundo. A partir daí, passaram a buscar elementos que ajudassem a responder às indagações, das mais simples às mais complexas.

Para a Sociologia, o mais importante no conhecimen-to humano não é exatamente como se dá o conhecimento, isso fica a cargo da Filosofia, mas como se trabalha com o conhecimento adquirido, para transformá-lo.

O fato de transformar o conhecimento nos difere mar-cantemente dos outros animais; por isso, somos capazes de acumular conhecimento na memória individual e coletiva. O uso de registros, ao longo do tempo, permite acumular e transmitir esses conhecimentos, a que é dado o nome de cultura.

A cultura tem aspectos materiais e não materiais. A cultura material inclui tudo o que é feito, modela-do ou transformado como parte da vida social coletiva. A cultura não material inclui símbolos – de palavras à notação musical – e as ideias que modelam e informam a vida de seres humanos em relações recíprocas e os sis-temas sociais dos quais participam. As mais importantes dessas ideias são as atitudes, crenças, valores e normas.

É importante notar que a cultura não se refere ao que as pessoas fazem con-

cretamente, mas às ideias que têm em comum sobre o que fazem e

os objetos materiais que usam. O que torna uma ideia cul-

tural, e não pessoal, não é simplesmente o fato de ser comum a duas ou mais pes-soas. Ela deve ser vista e vi-venciada como portadora de uma autoridade que transcen-

de, isto é, vai além dos pensa-mentos do indivíduo.

Conhecimento e sociedade

A História ensina que não é só a es-crita que serve de memória para o ser humano. Os primeiros registros feitos

pela humanidade foram as pinturas. Há diferentes manifestações dessa

capacidade de armazenar conhe-cimento num mesmo período histórico. Pinturas, escritas e monumentos, dos mais sim-

ples aos complexos, podem ser datados de uma mesma época e são testemunhos da capacidade e criatividade hu-manas. Esses registros apontam para uma conclusão de extrema importância sociológica: o ser humano sobrevi-veu e tem garantido essa sobrevivência graças ao seu po-tencial em conhecer, acumular e transmitir conhecimentos e habilidades para viver em sociedade. Para muitos, o pró-prio poder ou domínio do homem sobre o planeta é expli-cado a partir de sua capacidade de viver em sociedade de forma dinâmica, alterando-a e sendo influenciado por ela. O conhecimento permite essa vivência dinâmica, uma res-significação mútua e constante.

Não foi sem motivo que Aristóteles (384-322 a.C.) viu o ser humano como um ser gregário, isto é, que vive em sociedade. Descrevendo essa capacidade ou necessida-de humana, ele aponta a família como princípio da vida social. A união do homem e da mulher tem por objetivo a preservação da espécie por meio da geração de um novo componente. O agrupamento de várias famílias for-maria a aldeia, que seria superior à família em complexi-dade e perfeição. Por último, a formação mais complexa seria a polis, a forma suprema de sociedade, pois seria au-tônoma. As famílias e as aldeias necessitariam umas das outras, mas a polis não.

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Para um grego, a polis era muito mais que uma cidade. Era um estado de cidadania, o direito de ser cidadão, ir à praça, discutir e propor leis. Aos demais habitantes da cidade, era vedada a participação política.

Na conclusão do raciocínio de Aristóteles está uma de suas frases mais famosas: “O homem é por natureza um ‘animal político’.” Ele apresenta a ideia de que alguém que não necessite ou não possa viver na cidade ou é uma besta do campo ou um deus. Esse pensamento justifi cava o tra-tamento dispensado a quem não fosse grego, por exemplo – a um bárbaro, capaz de ser escravizado.

De modo geral, o ser humano tende à produção de co-nhecimento de forma social, isto é, ele toma informações, aproveita-as e adapta-as à sua necessidade, dotando-as de signifi cado, não só para ele, mas para a coletividade. Ao fa-zer isso, ele consegue sobreviver nos mais distintos am-bientes, nas mais diferentes condições. Não é falácia dizer que o ser humano é o animal com mais capacidade de adaptação na natureza. Ao captar uma informação, ele jul-ga-a útil ou inútil (geralmente ele retém as úteis e descarta as inúteis). Essa seleção já faz parte do processo de produ-ção de conhecimento. De certa maneira, a necessidade im-pulsiona a produção de conhecimento. Ela é a força motriz do desenvolvimento humano, que tem como base sua ca-pacidade diferenciada de conhecer.

Quando o ser humano se dispõe a conhecer, tem a oportunidade de explorar todas as possibilidades e formas de conhecimento. Nesse processo, ele pode chegar a mui-tas conclusões que, por sua vez, também serão diferencia-das, podendo chegar então a tantas outras deduções sobre um mesmo objeto de estudo.

Não existe apenas uma forma de conhecimento. Pode-mos identifi car, resumidamente, quatro tipos: popular, fi lo-sófi co, religioso e científi co. Seria um equívoco dizer que um deles é mais importante que o outro. Contudo, eles po-dem ser antagônicos. Há uma tendência de se superestimar o conhecimento científi co; no entanto, por meio de uma pes-quisa científi ca, por exemplo, pode-se chegar a uma conclu-são que já pertencia ao conhecimento religioso ou popular.

O ser humano tende a se apropriar do conhecimento do outro. Isso é fundamental para a sobrevivência da es-pécie. Imagine como seria se, cada vez que uma pessoa tivesse que resolver um problema, fosse preciso percorrer

todo um caminho que outras pessoas já percorreram na resolução do mesmo problema. Haveria progresso? Pos-sivelmente sim, mas seria tão lento que talvez ainda hoje usássemos pedras para acender fogo, ou esperaríamos até que um raio acendesse uma fogueira para nós.

A transmissão do conhecimento é tão importante quan-to a sua produção. Ao se armazenar e transmitir as infor-mações já selecionadas, e contextualizá-las, acaba-se por facilitar a vida da próxima geração, que não terá que percor-rer o mesmo caminho das gerações anteriores.

Se o fi zer, realizará de maneira bem mais rápida e segu-ra, pois já conhece o “caminho das pedras”. Esse acúmulo de conhecimento libera tempo para que a nova geração se preocupe com novos desafi os, acumulando mais conheci-mento ao que recebeu.

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Artesãos de Cuzco, Peru: artesanato é transmissão do conhecimento.

Conhecimento e trabalho

Em que momento o ser humano descobre informações e as transforma em conhecimento? É justamente no proces-so de trabalho, que é toda ação ou força humana empre-gada sobre um objeto, para produzir algo útil. Trabalho é, pois, uma atividade humana para produzir bens e serviços. Essa atividade pode ser auxiliada por ferramentas e máqui-nas. O objeto sobre o qual se emprega força pode ser algo em estado natural, chamado de matéria-prima, ou algo já trabalhado, chamado de insumo. De uma forma ou de ou-tra, sem a força humana não existe trabalho. Uma atividade desenvolvida por uma máquina ainda seria trabalho, pois essa máquina teria sido construída pelo ser humano.

Portanto, conhecimento é algo essencialmente huma-no, pois deriva ou é resultado das necessidades e do esfor-ço. É o trabalho que produz conhecimento, e o acúmulo de conhecimento é cultura. Assim, cultura é fruto do traba-lho e um subproduto da transformação do meio ambiente pelo ser humano que, ao fazê-lo, também se transforma.

O que fazemos na escola? Você até pode dizer que está simplesmente obedecendo aos pais ou professores, o que também pode ser verdade, mas a realidade é que na escola adquirimos cultura, encurtando o tempo para novas descobertas.

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Escola de Atenas, de Rafael Sanzio, caracterizando Platão e Aristóteles. Observe Platão apresentando o mundo das ideias a Aristóteles para demonstrar a transformação do ser por meio do mundo sensível.

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Platão Aristóteles

Somente o trabalho gera cultura. Três coisas são essencial-mente humanas e sociais: trabalho, cultura e escola. É daí que o conhecimento é produzido, acumulado e transmitido.

Não existe cultura superior a outra. A cultura de cada povo é correspondente às suas necessidades, capacidades de trabalho e de transmissão. Existem culturas diferencia-das, resultantes de conhecimentos diferenciados. Reconhe-cer isso é sinal da verdadeira educação.

Cultura: conjunto de símbolos, ideias e produtos materiais associados a um sistema social, seja ele uma sociedade inteira ou uma família. Junto com a estru-tura social, população e ecologia, a cultura constitui um dos principais elementos de todos os sistemas so-ciais e é conceito fundamental na defi nição da pers-pectiva sociológica.

2. SOCIOLOGIA: UM CONHECIMENTO DE TODOS

Você já se perguntou o motivo de todo mundo ter um telefone celular? Ou quase todo mundo? Isso é fruto da ne-cessidade ou de uma, quase imperceptível, imposição da sociedade? Aliás, quando falamos em sociedade, o que isso signifi ca? Estamos falando de todas as pessoas ou de um grupo de empresários produtores que, juntamente com empresários da comunicação, criaram um desejo com rou-pagem de necessidade? Ah! Um pequeno detalhe: basta ser telefone ou precisa ser um smartphone?

Sociologia é uma ciência que ajuda o ser humano a co-nhecer a si próprio. Como toda ciência, ela também tem um objeto de estudo. Há quem diga que “Sociologia é o estudo da sociedade”. Entretanto, fazer Sociologia não é simplesmen-te estudar a sociedade; é estudar a sociedade a partir de um estranhamento do mundo em que vivemos. A grande ca-pacidade da Sociologia está em oferecer algumas respostas a tais indagações. Como não estranhamos tudo ao mesmo tempo e nem daria para estudar a totalidade, estabelecemos limites para esse estudo, uma vez que faz parte de seu método

científi co a elaboração de um recorte da realidade para se processar o estudo. Além disso, a sociedade é algo tão abran-gente, que muitas outras ciências também a estudam: Histó-ria, Geografi a, Economia, Antropologia, entre outras.

Método científi co: observação, formulação de hi-póteses, experimentação e interpretação de resultados.

EXEMPLO DE RECORTE DA REALIDADE PARAESTUDO DA SOCIOLOGIA

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deputados, na cidade de Itassuá – SPVo

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O sociólogo Pedro Demo defi ne Sociologia como “o tra-tamento teórico e prático da desigualdade social”. Nessa defi -nição, há um recorte da sociedade, destacando uma de suas características mais marcantes – a desigualdade social. No Di-cionário de Sociologia, de Allan Johnson, encontramos outra defi nição para Sociologia: “É o estudo da vida e do comporta-mento social, sobretudo em relação a sistemas sociais, como eles funcionam, como mudam, as consequências que produ-zem e sua relação complexa com a vida dos indivíduos.”

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A partir dessas duas definições, ambas corretas e não contraditórias, o mais importante é compreender que a So-ciologia tem por objeto de estudo algo muito específico na sociedade, seja a desigualdade ou os sistemas sociais. Tal-vez seja exatamente como os sistemas sociais produzem, mantêm e ampliam, ou não, as desigualdades sociais.

Quando um sociólogo se propõe a estudar, ele lançará mão de várias técnicas que você também usará em sua car-reira profissional, seja ela qual for. Exemplos:

• Entrevistas• Questionários• Análise documental• Observação de campo• Observação participante• Análise de indicadores sociais• Levantamento histórico

Estudo de Sociologia

Há homens e mulheres de grande coração, os quais meditam ansiosamente na situação dos po-bres e nos meios pelos quais possam ser aliviados. Um problema para o qual muitos estão buscando uma solução é como os desempregados e os que não têm um lar podem ser ajudados a obter as bênçãos comuns da providência de Deus e viver a vida que Ele intentava que o homem vivesse. Mas não há muitos, mesmo entre educadores e esta-distas, que compreendam as causas que se acham no fundo do atual estado da sociedade. Os que seguram as rédeas do governo são incapazes de resolver o problema da pobreza, do pauperismo e do crime crescente. Estão a lutar em vão para colo-car as operações comerciais em base mais segura.

WHITE, Ellen G. Ciência do bom viver. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2004. p. 183.

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Uma das características da Sociologia é que todas as ou-tras ciências sociais a usam em seus estudos para a realização de pesquisas. Não existe estudo geográfico de uma sociedade sem os instrumentos sociológicos e sem uma visão sociológica.

A Sociologia é uma ciência multidisciplinar e inter-disciplinar. Ela faz uso de outras ciências, tais como a História, a Estatística, a Geografia, a Economia, etc., e, ao mesmo tempo, também se oferece como parte do estudo dessas ciências.

Toda ciência tem diversos termos, palavras ou expres-sões que lhe são peculiares. Certos termos são comuns ao dia a dia de qualquer pessoa, mas quando se trata de um texto ou uma discussão científica, a mesma palavra pode ter significados distintos. Isso às vezes dificulta a compreensão do universo da ciência. As palavras são usadas para expres-sar pensamentos, são “os nomes das ideias”. De certa for-ma, essas palavras são conceitos que se têm sobre as coisas. Contudo, existe diferença na maneira de o senso comum aceitar esses conceitos.

Senso comum: saber que nasce do cotidiano. É impreciso e, às vezes, incoerente e fragmentado. Por exemplo, quando alguém diz: “eu odeio a buro-cracia” ou “detesto política”, será que sabe o que de fato significam esses termos? Você já ouviu alguém dizer: “Ah! aquele cara é um burguês [...]”? O signifi-cado histórico e científico desses termos (burocra-cia, política, burguês) corresponde ao sentido que a pessoa pretendia empregar?

Para o senso comum, os conceitos estão carregados de emoção e experiências individuais, locais e regionais. Para a ciência, um conceito deve expressar, o máximo possível, a característica exata de um fenômeno. Por exemplo: família, grupo, sociedade, religião e indivíduo podem ser termos usados todos os dias na comunicação e fazem sentido para certo grupo, mas para um sociólogo esses termos podem ter significados diferentes.

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Os conceitos são uma espécie de ferramenta que um cientista usa para trabalhar a teoria. Para tanto, o instrumento tem de ser adequado a cada situação. Não se pode usar uma chave de fenda comum para trabalhar com um parafuso sextavado.

Se formos explicar cada termo, cada ferramenta, antes de estudarmos Sociologia, as aulas ficariam tão chatas que você acharia que esta é uma matéria para poucas pessoas, com muita paciência. Portanto, esses termos serão esclarecidos ao

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longo do estudo e darão a você um repertório mais preciso de palavras que, com certeza, facilitará a leitura de materiais científicos e, principalmente, a leitura do mundo. Outro im-portante detalhe é o fato de que a Sociologia não é uma ciência apenas especulativa, pois ela propõe também de-safios práticos. Dessa forma, a cada leitura de mundo você é chamado a se posicionar e agir.

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Atualmente, a Sociologia tem estado mais presente no cotidiano das pessoas. As mídias usam expressões sociológi-cas (jargão sociológico) muito mais do que se imagina. No-tícias sobre política, indicadores de qualidade de produtos, índices de aprovação dos governantes partem do repertório sociológico direto para discussões em aulas de História, em rodas de amigos e até em discussões de pessoas que votam em candidatos de partidos diferentes.

Em exercícios de estatística, nas aulas de Matemática, também podemos ver exemplos de conhecimento so-ciológico. Diversas revistas como Veja, IstoÉ, Época, entre outras, apresentam propagandas baseadas em pesquisas sociológicas. A Sociologia também é estudada em cursos de Publicidade, Propaganda e Marketing.

Contudo, nem sempre foi assim. Quando a Sociologia sur-giu, no século XIX, recebeu muitas críticas. Muitos diziam que não havia necessidade de mais uma ciência para explicar o que as outras já explicavam. A grande diferença, além do ob-jeto de pesquisa – desigualdade social e sistemas sociais – foi tratar o fenômeno social como fato social. A própria socieda-de passou a ser vista como um “estado de natureza”, ou seja, como um fenômeno natural e não fruto da ação do homem.

Fato social: fenômeno que pode ser investigado, analisado, como se faz com fenômenos em outras ciências, mas guardando as devidas diferenças de áreas. Isso permitiu a distinção entre as impressões pessoais, juízos de valor e o conhecimento sistemati-zado e refletido produzido pela ciência.

A partir disso, fenômenos sociais passaram a ser estuda-dos e hoje se tornaram essenciais. Por exemplo: uma doença pode ser vista apenas como um problema biológico ou pode ser considerada também como um problema sociológico. Da mesma forma, a crise econômica na qual a Europa mergulhou nos últimos anos não pode ser explicada apenas do ponto de vista econômico. O problema se assenta também sobre bases sociológicas, tais como hábitos de consumo, noção de sucesso pessoal, distribuição de renda, gastos públicos, etc.

Tal como um cientista em seu laboratório não pode prescindir de seus instrumentos de medição e análise, o sociólogo não pode abrir mão de procurar entender, a partir de conceitos próprios, expressões como: fato social, relações de trabalho, classe social, ação social e estrutura social, entre tantos, para que possa ser feita a “leitura” do mundo que o cerca, interpretando-o e modificando-o. Esses conceitos se tornaram relevantes, senão essenciais, porque homens e mulheres se dispuseram a construir essa nova ciência. Augusto Comte, Karl Marx, Max Weber e Emile Durkheim são considerados os autores clássicos da Socio-logia. São clássicos porque o que eles escreveram ainda é atual e fonte de constante releitura, fornecendo novas in-terpretações e apontando caminhos para a mudança.

| | | | Agora é a sua vez | | | |

1. Dê seu ponto de vista sobre a visão aristotélica da ne-cessidade humana de viver em sociedade e argumente sobre isso.

Resposta pessoal

A resposta poderá contemplar o conceito de polis. Comente sobre a intencionalidade humana de viver em grupo, diferentemente de outros animais que, apesar de gregários, não compreendem esse estado. Aos humanos, pode até ser natural e biológico o viver em grupo, mas, aci-ma do fator genético, está o intelectual e social, ou seja, desejamos e escolhemos viver em grupo e somos ensinados a viver assim. A resposta poderá também discutir a ideia do viver só. A ideia de que uma vez que um ser humano escolha viver sozinho, isso pode ser um sinal de superio-ridade (um deus) ou de inferioridade (barbárie).

2. Redija um breve texto opinativo sobre a seguinte frase: “O que nos torna realmente humanos é nossa capacida-de de compreender, solucionar e transmitir soluções.”

Resposta pessoal

A resposta poderá enfatizar o conceito de produção e transmissão,

algo que nós humanos fazemos de maneira muito significativa.

Passamos às gerações futuras mais do que recebemos e estes, por sua

vez, repetem o processo. Isso amplia o conhecimento, o que não é

observado em outros seres animados.