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A história do circo

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O Circo

Origem

O circo teve sua origem em Roma, mais de 200 anos antes de Cristo. Naquela poca, o circo fornecia populao o divertimento necessrio para que no houvesse atos revolucionrios.

A palavra circo vem do latim "Circus", que significa "o lugar em que as competies se desenrolam".

O Circus (A.C.) era composto de trs partes: Arena ou pista, o anfiteatro ou arquibancadas, e as cavalarias.

O centro da arena era cortado por um embasamento, enfeitado com esttuas, altares, colunas, obeliscos. Nas pontas, dois carros de madeira que os de corrida deveriam contornar. O espetculo compreendia corridas de carros (puxados por dois ou quatro cavalos), combate entre gladiadores, entre homens e animais ou animais entre si. Consolidada sua posio no Imprio Romano, a igreja proibiu os espetculos dos circos, mas nem por isso as manifestaes deixaram de acontecer, seja em praas, seja em feiras ou mercados.

No fim do sculo XV, os antecessores do circo moderno comearam a se organizar. Em 1767, o circo moderno surgiu, com um espetculo montado em Paris, com brincadeiras e acrobacias, e em 1788, apareciam amestrados.

Surgimento do Circo

Duas atividades convergiram e se diluram no "Circo" propriamente dito: - primeiramente os marinheiros, que j na era crist, quando ancoravam os barcos, faziam exibies acrobticas nos portos e nas praas pblicas, e assim ganhavam algum dinheiro a mais para sua sobrevivncia e segundo DANTAS gostando da vida nmade, identificaram-se com a existncia errante que o circo seguia. (1980, p.21).

Nota-se na estrutura do circo tcnicas e aparelhos idnticos aos usados nos barcos. A prpria cobertura de pano com o mastro lembra os barcos a vela. Os Palhaos da Europa so peritos em tocar uma espcie de sanfoninha chamada concertina, e que os marinheiros ingleses tambm tocam com grande maestria. (SEYSSEL, 1977, p.87).

Depois dos marinheiros aparecem os saltimbancos, que se exibiam em acrobacias e variedades nas praas pblicas se dedicando s apresentaes e divertimentos. Muitos deles entraram para o Circo, mas o seu estilo de atividade, informal, era diferente, sem a disciplina e a tica marcantes do circo.

Foi o ingls Philips Astley (1742 1814), que organizou em 1770 um espetculo eqestre para o qual teve a idia de apresentar, entre os nmeros hpicos, algumas exibies de saltimbancos da praa, marcando este espetculo, o nascimento do Circo na concepo contempornea, no mais o circo grego ou romano, nem o construdo em Paris, pelo tambm ingls Beates, e igualmente no sculo XVIII, mas reservado a espetculos de corridas. (VARGAS, 1980, p.22).

Astley, ainda apoiado no princpio de que mais fcil manter-se em p num cavalo a galope, se este faz um crculo, por causa da fora centrfuga, escolheu uma pista redonda, inaugurando o picadeiro. Foi assim que o circo assumiu a mesma forma redonda, para facilitar a viso do espao da rea onde se realizam as exibies. Astley introduziu a disciplina militar caractersticas do circo, com uniformes, marchas e rufar de tambores. Em 1772 levou seu espetculo Frana, donde se difundiu por toda a Europa.Afim de dar mais animao ao espetculo Astley pensou um lado humorstico, cmico e soltou os recrutas em apuros sobre os cavalos, criando em 1782, em Paris, o Palhao

Nascimento do Palhao

O termo Palhao se prende, no idioma italiano, ao radical "Palha", tem a mesma expresso que o revestimento do "colcho de palha".

Com efeito, a roupa do cmico era talhada do mesmo pano dos colches, num tecido grosso e listado; e ainda, cheia, afofada nas partes mais salientes do corpo, fazendo, de quem a vestia, um verdadeiro "colcho ambulante".

Quanto aos dois espcimes de Palhao, a palavra clown se liga, etimologicamente, em ingls, ao termo "campons" (clod), foram os camponeses, simplrios e astutos, que montaram os cavalos de Astley (1782), e provocaram, com suas extravagncias, a hilaridade das platias.

Mais tarde, um cmico, de nome Antony, criou um tipo de Palhao; e esse tipo foi to marcante, que o nome do prprio Antony, chamado no final, passou, como substantivo comum,a designar o tipo de Palhao criado: Tony.

Na apresentao do espetculo de Circo, duas figuras serviam de elemento de ligao entre um nmero e outro: a do mestre de cerimnias, criadas pelo prprio Astley, ele mesmo apresentava seus espetculos, e a do Palhao que o carinho do pblico acabou por transformar no smbolo maior do circo.

Em Londres do final da Idade Mdia eram muito comum os encontros para assitir a demonstraes de cavalos. As pessoas da cidade se encontravam nos estbulos. Beber ajudava a passar o frio. As demonstraes eram feitas por oficiais da cavalaria que saltavam barreiras. Certa vez um soldado raso, cuja obrigao era colocar as barreiras para os saltos, chegou cedo demais. Como fazia frio bebeu alm da conta. Bbado, pegou, por engano, o uniforme de um outro soldado muito mais alto e gordo. Com as roupas desengonadas, ele foi colocar as barreiras e logo na primeira, diante de todos, tropeou. Foi uma gargalhada geral. Ele tentou se recompor, mas ao ver o capito nervoso, saiu correndo de medo e tropeou novamente. Todos riam muito. Escondido, o soldado esperou pela bronca, mas o capito ficou contente com o que tinha acontecido e convocou o soldado para que todos os dias fizesse o mesmo: pusesse roupas largas; fugisse de medo e para que parecesse estar bbado pintasse o seu nariz de vermelho. Segundo Possolo foi assim por causa do frio e da bebida, que deixam o nariz vermelho, que teria surgido o primeiro nariz de Palhao. (POSSOLO, 1998, p.6).

Vrias transformaes ocorreram na figura do Palhao, existem trs tipos: o clown, o tony excntrico e o Tony de soire.

Ao Tony de soire cabe preencher os momentos vagos do espetculo, quando o picadeiro est sendo desimpedido, aparelhos sendo montados ou os artistas se preparando para a prxima etapa: em geral, o Tony faz uma pardia do nmero anterior, ironizando seus perigos e dificuldades.

Waldemar Seyssel, o Palhao Arrelia, diz que o Tony de soire era o maior artista da Companhia, porque ele tinha de fazer todos as pardias do Circo. (SEYSSEL, 1977, P.37).

Ousadia e sofisticao so marca do clown. Veste-se com sedas e lantejoulas, cala, sapatilhas e usa uma maquiagem que lhe confere um ar aristocrtico e malicioso, herdado dos bufes da Idade Mdia. gozador do outro, esperto e malandro. Os clowns so tocadores de violo e cantavam tambm.

O cmico da dupla o Tony, tambm chamado de Tony excntrico. Quase sempre trabalha em dupla com o clown, que faz "escada", suas piadas. um tipo que se apresenta com roupas estilizadas e sapatos enormes. o bobo, o que apanha sempre, ingnuo e de boa-f. Os dois estabelecem sempre uma situao cmica que pressupe a luta do Bem contra o Mal, da Pureza contra a Malcia, da Justia contra a Opresso. A vitria, no entanto, sempre do Tony. Antnio de Arruda Dantas afirma:

No conceito popular em completa oposio tcnica circense, o Tony que o Palhao, e o querido do pblico e popular. Mesmo os cmicos mais famosos de So Paulo Chicharro, Piolin, Arrelia - , foram cmico de dupla, "Tonies". (DANTAS, 1980, p.36).

importante ressaltar tambm que o Palhao atua em diferentes meios de expresso. Existe o Palhao tradicional de picadeiro, tendo como exemplo os j citados Arrelia, Piolin, Chicharro, etc. H o Palhao do Teatro que tambm conhecido como Clown. Um bom exemplo o italiano Nani Colombaioni. E o Palhao que atua no cinema onde o mais famoso Charles Chaplin, alm de Buster Keaton, Harold Lloyd, O Gordo e o Magro e vrios outros.

Tradio Bufonesca

Os Saltimbancos convergiam no Circo, esta tradio, por sua vez, encontra-se na Idade Mdia onde existiu a Commedia DellArte. Foi da que surgiram algumas das principais caractersticas do Palhao.

Os atores da comdia clssica italiana viram que no tinham mais pblico, que seu tipo de espetculo no atraia mais espectadores. Eles foram, ento, atrs dos vendedores ambulantes, que abriam aqueles bas, tiravam coisas coloridas na praa pblica. Eles comearam a ver isso e copiaram. Primeiro andaram muito com estes ambulantes, que eram corcundas, da surgiu todo o tipo grotesco da Commedia Dell'Arte. Foi um sucesso enorme essa frmula, tanto que a Commedia Dell'Arte ficou quase quatro sculos dominando o teatro, com uma nica dramaturgia e personagens fixas.

O Humanismo, que surge no sculo XV, baseado nos moldes gregos latinos e centrado na figura do homem, o pano de fundo para as novas mudanas cnicas. No sculo XVI, espera-se uma dicotomia entre o teatro da Crte donde existia a tradio do Bobo da Crte - e o teatro popular. O maior representante a Commedia Dell'Arte, que nasceu no pastoral, passou pelo mistrio religioso e medieval e agora segura os moldes da cultura clssica. Haviam tambm tragdias. Em reao a este teatro literrio e erudito, que nasceu nas ruas, vibrando com o povo e lembrando as festas dionisacas, um teatro improvisado: a Commedia Dell'Arte (1545). Seu predecessor foi Angelo Beolo (1502-1542), que percorreu a Itlia representando farsas com seus companheiros.

Comdia bufonesca, histrinica, de mscaras, improvisada de argumentos, italiana. Vislumbra a possibilidade de se fazer teatro no condicionado a palavra escrita, e um teatro interpretativo e criador. Seus elementos essenciais so o profissionalismo, as mscaras, e a improvisao. O ator especializa-se. O objetivo obter o riso, a stira, a ridicularizao.

A pea encenada na Commedia Dell'Arte no tinha um texto escrito, usava-se somente um livreto em que se descrevia a linha fundamental da historia. As companhias eram compostas por um grupo de pessoas onde cada uma era uma sntese de ator, autor, diretor, bailarino, malabarista e coregrafo (Como o Tony de Soire). Cada ator tinha o seu Zibaldoni que eram livrinhos (ou cadernos) onde eles anotavam o seu repertrio, suas piadas, seus truques, tudo que tivesse experimentado em cena e tivesse dado certo e obtido boa recepo junto ao pblico. Esse material era colecionado e posto a prova ao longo dos anos.

A Commedia DellArte tinha a tradio bufa em que uma obra se apoiava nos caracteres, ou seja, em personagens de individualidade rica e situaes nitidamente inspiradas em seu meio social. Existem quatro mscaras principais que podem ser classificadas em dois grupos distintos: as mscaras dos vecchi (velhos) e os zanni (criados). Os velhos so: Pantaleo, o veneziano e Doutor, bolonhs. Os criados (tinham nome de zanni pois esta era a transformao dialetal de Giovanni, nome comum entre o criados): Arlequim, o bergamasco e Briguela, o lombardo. Arlequim e Briguela representavam um o servo bobo, o outro o servo astuto (Da o Tony e o Clown).

Uma das principais caractersticas do servo Arlequim sua enorme habilidade para escapar de situaes difceis. A roupa caracterstica de Arlequim tem losangos regulares, multicores (como a dos palhaos) e a graciosa mscara.

Caracterstica Cmica

O Palhao constri seu tipo lanando mo de caractersticas prprias da Comdia. Encontramos assim um dos motivos de a figura do Palhao ser to popular. que a Comdia lida com tipos gerais, comuns, e esta base para o cmico de picadeiro criar seu tipo engraado.

Segundo Vilma Aras, a Comdia se define como:

uma imitao de personagens de um tipo inferior no propriamente no sentido da palavra "mau", visto o cmico ser apenas uma mera diviso do "feio". Consiste em algum defeito ou fealdade no dolorosa e no destrutiva. Para nos servimos dum exemplo evidente, a mscara cmica feia e distorcida, mas no implica dor. (ARAS, 1990, p.14).

O tipo cmico visto no nvel da platia ou olhado de cima para baixo pelo espectador. Por isso o Palhao, principalmente, o Tony ser sempre tolo, ingnuo e grotesco. Suas aes e piadas esto necessariamente ligadas com problemas menores, isto , cotidianos de qualquer homem normal como o casamento, o adultrio, aquisio de dinheiro, etc. Como afirmava Ccero, a comdia uma imitao da vida, um espelho de costumes e uma imagem da verdade (Ccero, apud. ARAS, 1990, p.18).

A Comdia depende de interesses locais e imediatos da audincia e com isso que o cmico circense trabalha, e utilizando constantemente do improviso. A imagem fundamental para a Comdia. Imagens absurdas geram comicidade, deformiodades tambm. H sempre uma quebra da lgica, um desrecalque. Tudo o que comdia est ligado Natureza, s deformidades e aos defeitos. So processos naturais. A imagem que o Palhao cria no picadeiro fundamental, no pura e simplesmente sua figura. A gente ri sempre de um certo nmero de imagens, que podem ser at mesmo tolas. Uma cena clssica a do Palhao andando de travs no cavalo, uma imagem cmica porque absurda, isso gera o riso.

Tudo o que exagerado cmico. A prpria figura do Palhao composta por indumentrias exageradas: o grande nariz vermelho (de tanto frio e tanta bebida), o colarinho enorme, as calas largas, os sapatos de bico largo, o excesso de cores em sua vestimenta, alm de s vezes trazerem objetos tais como bengalas gigantescas. O contrrio tambm constitue a figura cmica, como por exemplo; uma gravata borboleta minscula, um chapeuzinho de cone muito pequeno, calas curtas que deixam as canelas mostra. preciso que se diga, no entanto, que a figura por si s no garante o riso da platia. necessrio que a imagem seja cmica, por isso o bom Palhao deve saber criar bem o seu nmero.

Outras caractersticas prximas da Comdia so utilizadas em nmeros circenses. A musicalidade nas falas, a repetio, o sotaque. Dois bons exemplos disso so os dos Palhaos Piolim e Arrelia. O primeiro tinha um jeito todo diferente de falar, para se comunicar com o pblico carregava no sotaque:

O paiao que ?

ladro de mui!

Hoje tem goiabada?

Tem, sim sinh!

O cumprimento clssico e que ficou famoso, chegando inclusive a virar marcha de Carnaval foi criado pelo Palhao Arrelia. Era assim que ele e seu companheiro Pimentinha comeavam o nmero no picadeiro:

Como vai, como vai vai vai?

Muito bem, muito bem bem bem!

A platia explodia de rir com o cumprimento. Arrelia explorou a idia da repetio para tirar graa de um simples gesto de aperto-de-mo. Com isso obtia uma comunicao imediata com o pblico.

Piolim usava a sua voz para fazer graa, sabia trabalhar com ela, moldando-a de acordo com a situao vivida em cena.

O riso de Piolim inimitvel. Palhao algum consegue reproduzir os gritinhos e guinchos que ele d, quando finge raiva, satisfao ou pavor.

Nenhum consegue igualar aquela voz, que por si s um poema. Nenhum consegue certas inflexes, exclamaes, interjeies, da garganta privilegiada, que vale tanto como a de um tenor universal, com a diferena que o tenor transende vaidade e pretenso e cacetea a gente, ao passo que Piolim nos ajuda a esquecer a feiura da vida (Martins, apud. DANTAS, 1980, p.123).Outra forte nuance da Comdia utilizada pelos cmicos circenses e que vem desde a Idade Mdia o aspecto arquetipal da Commedia Dell"Arte. Os cmicos de dupla se utilizam dos arquetipos do jovem esperto e do jovem tolo, respectivamente Clowm e Tony, para compor seus tipos. Piolin tinha um quadro chamado A Mquina do Tempo, onde se apresentava com Leopoldo Martinelli que exemplifica bem essa situao:

Enquanto o segundo tirava da mquina lindas mulheres, Piolin ficava com a parte pior (gua, farinha, etc.). No final do nmero uma crioula saia de dentro da mquina e corria atrs de Piolin com uma vassoura. (DANTAS, 1980, p.113).Na cena tambm nota-se que a ausncia de lgica combustvel para o ato cmico.

Chaplin dizia que imagens sem consequncias dramticas deixam de ter o riso. Piolin tinha um nmero chamado A Morte onde colocando uma vela acesa sobre a cabea, atirava-se com um revlver, caia e ficava se estrebuchando, agonizando, at morrer. A hilariedade estava no estrebuchamento. (DANTAS, 1980, p. 126).

O trgico tambm levado ao exagero cmico. Por exemplo; rir em velrio trgico demais, est um ponto acima do normal.Para obter o riso necessrio associar a imagem cmica ao carter cmico.

Processo de criao

Piolin afirmava que para chegar a ser Palhao, preciso passar por todos os degraus da arte circense (DANTAS, 1980, p.37).

claro que no existe uma "frmula" de como ser Palhao, no entanto, todos tem a mesma formao: a lona e o picadeiro. Um aspecto importante que muitos assumiram este posto por mero acidente. Arrelia, por exemplo, conta que um dia, quando ainda era acrobata, foi forado por seu pai e irmos a entrar em cena como Palhao. Eles o pintaram e jogaram em cena. Quando viu tinha cado numa bengala e se machucado. Foi a deixa para o povo comear a rir. Ento, chutou um outro rapaz que estava por l com tanta vontade que o machucou mesmo. O atingido correu atrs de Seyssel (Arrelia), que fugiu pelo picadeiro todo desengoado, com roupa de palhao e sapatos enormes. Quanto mais a briga esquentava, mais a platia ria. No final da noite, o pai de Seyssel, o tambm palhao Pinga-Pulha, bateu em seu ombro e selou o destino: "Vai ser voc mesmo". E mesmo Piolin, que teve que substituir s pressas um Palhao que havia desertado a Companhia na qual trabalhava como acrobata.

A construo da comicidade de seus tipos parte na maioria das vezes da pura observao, como afirma Arrelia.

Eu passava horas no Viaduto do Ch, centro paulistano, observando as figuras que passavam. Um coitado que vinha descendo com um defeito na perna ou talvez com um sapato apertado, servia de modelo para meu palhao capengar. A maneira errada de falar dos imigrantes alemes e italianos fazia meu sotaque. (Seyssel, 1977, p.68).

A apropriao de defeitos observados nos outros sem dvida uma caracterstica cmica que d um ar muito engraado ao Palhao. No entanto, antes de mais nada, preciso observar e se utilizar dos prprios defeitos, das prprias imperfeies. Nani Colombaioni, Clown italiano, diz que criou seu clown ao voltar da guerra em 1940, quando se recuperando de ferimentos causados pela exploso de uma granada e impossibilitado de realizar nmeros acrobticos, como seu pai, acabou iniciando o trabalho que resultou na criao do seu Clown: com caractersticas baseadas em minhas prprias limitaes fsicas um manco e com um brao desobediente (Colombaioni, POMBO, 1998, p.1).

Ele diz ainda que o processo de criao de um clown muito pessoal e pode durar uma vida. Voltando a Waldemar Seyssel, o Arrelia, ele conta que seu treinamento foi mais de dois anos na frente do espelho ensaiando caretas e expresses e ensina que todo Palhao, mais do que qualquer outra criatura, deve crescer bem depressa para conhecer a alegria e a tristeza e para avaliar a diferena existente entre ambas, s assim ele poder por toda a sua alma no trabalho que realiza. (Seyssel, 1977, p.166).

Reprise o nmero do Palhao de Circo. Tem esse nome, por que so nmeros que sempre se repetem. Eles so passados de pai para filho, e o que muda o jeito que cada palhao encontra de fazer graa em sua poca. H reprises que chegam a ter mais de 800 anos de existncia. (POSSOLO, 1998, p.6).

J dissemos que existem dois tipos de Palhao, o Clown (tambm conhecido como Branco) que o mando e o Tony (chamado de Augusto), o submisso e ingnuo que cumpre a ordem do branco. Em sua tese para mestrado em artes cnicas, Andrea Copeliovitch fez trabalho de clown em suas experincias prticas na rea de interpretao teatral. Sobre isso afirma que seu clown no era um clown para fazer rir. Ele era pattico e totalmente augusto.

Este processo foi muito doloroso para mim (especialmente se pensarmos em termos de ego), este momento de se despir das mscaras e defesas cotidianas e de se mostrar tal como (ridculo, ingnuo, incompetente, cheio de defeitos e, por isso mesmo, belo); mas a dor foi to grande que influnciou a minha vida pessoal. (COPELIOVITCH, 1997, p.15, 16).

O Sentido do Papel do Palhao

Quando vamos assistir a uma Comdia sabemos que somos superiores aos personagens, que so tipos comuns, inferiores a ns. Por isso ns rimos deles. Vamos ao Circo no para conhecer, mas para participar de uma experincia. Para conviver com o Palhao. Da vem essa aproximao, porque sabemos que vamos rir do "outro". Mas o que o "outro" traz que nos cria o riso na cara? evidente que esse riso produzido pelo bom Palhao, que isso fique bem claro, pois como declarou Piolin:

O sucesso do Palhao nunca fcil, pois seu triunfo est no riso que provoca, e alegrar mais difcil do que comover (apud DANTAS, 1980, p. 37). um riso provocado pela autenticidade, pela genuidade, pois como se sabe, quanto mais o Palhao se esfora para ser engraado, menos resultados ele conseguir. O que realmente causa essa empatia a identificao com nossos prprios defeitos. Porm vistos em outra pessoa, o Palhao. Segundo expe o cmico sovitico Popov:

Na imagem do Palhao, intuimos sempre alguma coisa de familiar. Encontramos a crtica s deficincias da vida, uma crtica suave, spera s vezes, porm, sempre engraada, e que, alm disso, se entrelaa, sem percebermos, com os nmeros do programa circence, smbolo das melhores qualidades da natureza humana: destreza, valentia, beleza e nobreza. (apud DANTAS, 1980, p. 39).

Na descontrada graa do Palhao todos so iguais, e cada exploso de gargalhadas suscitada por ela rompe barreiras invisveis entre os homens e os une em uma atitude comum diante daquilo de que riem em companhia do Palhao. O cmico desperta em ns o sentimento da prpria dignidade. Ao rir, percebemos nossa superioridade sobre o que ridculo na concepo do Palhao. Para Roger Avanzi, o palhao Picolino 2, a personalidade do artista a maquiagem. Mostrar o ridculo do que srio. (apud Possolo, 1998, p. 6).A pureza e o lirismo de seu humor funcionam como fator de comunicao com a platia e, particularmente, com as crianas.

Fazendo-nos rir, o Palhao nos ministra lies de humanidade. Desperta em ns amor, clida simpatia pelo ser humano, assim como com suas qualidades e seus pequenos defeitos, tal como aparece personificado no palhao. Este ignora a crueldade gratuita: No se atira perversamente contra os pequenos defeitos e erros, basta caoar bonacheiramente deles. Segundo MELO:

O clown a exposio do ridculo de cada um, logo, ele um tipo pessoal e nico. Assim, uma pessoa pode ter tendncias ao clown branco ou ao clown augusto, dependendo de sua personalidade. O clown, portanto, no representa, ele o que faz lembrar os bobos e os bufes da Idade Mdia. No se trata de um personagem, ou seja, uma entidade externa a ns, mas da ampliao e dilatao dos aspectos ingnuos, puros e humanos, portanto estpidos do nosso prprio ser. (MELO, 1994, p. 252).

Sem dvida o papel do Palhao extrapola o espao cnico do picadeiro, est na verdade profundamente relacionado com a personalidade de cada um de ns. Com nossas imperfeies, nossos defeitos, nossa ingenuidade e nossa beleza.

Bibliografia:

Arquivo tirado do site:http://analgesi.co.cc/html/t19798.html

ARAS, Vilma. Iniciao comdia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.COPELIOVITCH, Andrea. A construo do personagem atravs do ritual: Uma proposta de aprendizado para o ator. Dissertao de Mestrado. So Paulo: Universidade de So Paulo, 1997.DANTAS, Antnio de A. Piolin. So Paulo: Editora Panmartz, 1980.MELO, Luiz Otvio B. P. de. A arte do ator: da tcnica representao, elaborao, codificao e sistematizao de tcnicas corpreas e vocais de representao para o ator. Dissertao de Doutorado. So Paulo: Pontifcia Universidade Catlica, 1994.POMBO, Cristiano C. "Nani Colombaioni, 77, mostra Clown formado em uma vida". Folha de So Paulo, So Paulo, 29 Nov, 1998, Acontece, p. 1.POSSOLO, Hugo. "Cara de palhao, pinta de palhao...". Folha de So Paulo, 23 Maio, 1998, Folhinha, p. 6.SEYSSEL, Waldemar. Arrelia e o circo. So Paulo: Melhoramentos, 1977.