sobre a diversidade de sentidos de comunidade

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  • 7/26/2019 Sobre a Diversidade de Sentidos de Comunidade

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    Sobre a diversidade de sentidos de comunidadeRosalina Carvalho da Silva

    Cristiane Paulin SimonFaculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Ribeiro Preto (FFCLRP-USP)

    RESUMO

    Nosso objetivo neste trabalho foi realizar algumas reflexes sobre as implicaes da expanso do uso dotermo comunidade e sua diversidade de sentidos. Pretendemos discutir os usos indiscriminados do termonem sempre acompanhados da devida reflexo e crtica. A partir das perspectivas da sociologia, sade e

    psicologia social identificamos que o termo ainda permanece arraigado aos ideais de comunidades naturaisprprios aos perodos do feudalismo e do ps-revoluo industrial. Esta concepo pode camuflar formasimpositivas de trabalho em muitos dos quais o termo comunidade empregado praticamente como sinnimode populao-alvo e participao comunitria vista meramente como freqncia s atividades propostas

    por profissionais que determinam quem so as comunidades. Comprometem-se assim, as prticas eman-

    cipatrias. Para repensarmos comunidades, hoje, consideramos necessrio relevar os aspectos processuaisrelacionais, dialgicos e identitrios em constantes mudanas. Assim, a condio de comunidade extrapola adelimitao geogrfica para as possibilidades de pertencimento e participao atravs dos espaos simboli-camente delimitados.

    Palavras-chave: Comunidade; participao comunitria; processos relacionais.

    ABSTRACT

    About the diversity of community meanings

    Our objective in this work was to reflect on the implications about the use of the term community and itsdiversity, arguing the indiscriminate use of the term not always accompanied of the proper reflection andcriticism. On the scope of sociology, health and social psychology , the term community still remainsassociated to the idea of natural communities of the feudalism and post-industrial revolution periods. Thisconception can hide non-democratic professional interventions, in which the term community is used

    practically as synonym of population-target; and community participation merely as frequency to theproposed activities. Only the professionals make the definition of community. In this way, they give noopportunity to real emancipatory practices. Nowadays, to rethink communities is necessary to consider the

    processual aspects: relational, dialogic, and identitary aspects which are in permanent change. Thus, thecommunity idea extrapolates geographical delimitation for inclusion of participation possibilities throughsymbolically defined spaces.

    Key words:Community; community participation; relational processes.

    INTRODUO

    Comunidade um termo que pode ter mltiplossentidos, sempre dependentes do referencial de quemos emprega, mesmo que este no seja explicitado, e docontexto em que utilizado. Tornou-se assim aquiloque Dubar (2002) chama de palavra-maletana qualcada um projeta suas crenas, seus estados de nimo esuas posies, de maneira semelhante ao que ocorrecom o termo identidade.

    O problema que se coloca com a utilizao nocontextualizada do termo que ele pode camuflar for-mas impositivas de definies de trabalho e de suas

    populaes-alvo.

    As principais concepes subjacentes aos diferen-

    tes sentidos atribudos ao termo parecem ainda estarassociadas s idias de comunidade caracterizadaspelos laos sangneos, pelo entendimento comumnatural, pelas tradies de um povo, tribo e ou fam-lia, enfim, um grupo de pessoas, geograficamente de-limitados, que compartilhavam interesses em comumsem que estes precisassem ser explicitados ou discuti-dos para se chegar a um consenso. Como descrito porBauman (2003):

    O entendimento ao estilo comunitrio, casual, noprecisa ser procurado, e muito menos construdo:

    esse entendimento j est l, completo e pronto

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    para ser usado de tal modo que nos entendemossem palavras e nunca precisamos perguntar, comapreenso, o que voc quer dizer? O tipo deentendimento em que a comunidade se baseia pre-cede todos os acordos edesacordos. Tal entendi-mento no uma linha de chegada, mas o ponto departida de toda unio... (Bauman, p.15, 2003).

    Esta concepo caracterstica do feudalismo e exaltada durante o perodo ps-revoluo industrialcomo a anttese da sociedade, no clssico estudo deFerdinand Tnnies Comunidade e Sociedade, publica-do originalmente em 1887 (Tnnies, 1963). Nesse tra-balho o autor diferencia comunidade de sociedade emtermos das delimitaes geogrficas, rural e urbano,bem como, em termos de princpios, coletivos e indi-vidualistas.

    Esta mesma concepo de comunidade continua aser utilizada de forma a-crtica, atemporal e a-histri-ca. Presenciamos uma apropriao e transposio deconcepes caractersticas de um momento histrico-social do final do sculo XIX durante todo o sculoXX e incio do sculo XXI. So raros os questio-namentos sobre o uso do termo comunidade, sendo queestes poucos comeam a aparecer, principalmente, nofinal do sculo XX.

    Por mais que seu uso tenha sido ampliado, estaexpanso no foi acompanhada da reflexo, crtica eda necessria contextualizao em seus aspectos so-ciais, econmicos, culturais e polticos.

    O que podemos apreender com isso que o con-ceito de comunidade parece imune as transformaessociais, econmicas, culturais, polticas; aos avanostecnolgicos, as reconfiguraes de tempo e espao.

    Na psicologia, o termo comunidade, durante osanos 60 e 70, passou a ser empregado no contexto daemergncia de um novo campo de atuao, a psicolo-gia comunitria. Foi, ento, utilizado para representartodas as prticas realizadas fora do contexto da clnicae instituies (Sawaia, 1996). E, como acrescentaFreitas (1996), caracterizava e enfatizava a sada da

    psicologia do contexto clnico e das abordagens indi-vidualistas.Este foi um movimento que ocorreu em diferentes

    partes do mundo de forma similar em sua origem erepresentao, entretanto, tambm envolveu as espe-cificidades das diversas realidades dos pases e re-gies (Prilleltensky e Nelson, 2003).

    Entretanto, tambm na psicologia comunitria,mudanas ocorreram e, portanto, faz-se necessriorever como temos utilizado este termo em nossas pr-ticas, enfim em nosso cotidiano profissional.

    Constatar a diversificao dos sentidos atribudos

    ao termo comunidade ao longo dos anos, mas restritos

    a uma nica concepo no significa adotar umposicionamento crtico e reflexivo que julgamos ne-cessrios. A pura constatao no suficiente para nosmobilizar, no implica em prticas comprometidascom as questes coletivas que afligem individualmen-te as pessoas.

    Os diversos sentidos escondem a homogeneidadeda concepo de comunidade ainda arraigada ao pa-radigma positivista de cincia que impede a concre-tizao da diversidade, das implicaes morais e ti-cas subjacentes falsa idia das posies dicotmicas,to presentes na herana deixada por Tnnies: comu-nidade-sociedade.

    Consideramos relevante, iniciarmos uma discus-so sobre as implicaes e as possveis explicaespara esta ausncia de questionamentos referentes aotermo comunidade. Ser que temos considerado otermo to inofensivo, natural que sua discusso se

    torna irrelevante?Mas, qual seria a implicao desta ausncia dequestionamentos, em termos do nosso compromissotico e social to presente em nossas discusses den-tro da perspectiva da cincia ps-moderna?

    Como podemos ignorar a necessidade desta refle-xo se vivemos um momento de quebra das fronteirasgeogrficas, da diminuio da relao tempo e espao,do culto ao individualismo e a autonomia, entre tantasoutras transformaes?

    E, em termos da psicologia comunitria, ser queainda se faz necessrio continuarmos a usar o termopara caracterizar nossas prticas em contextos almdos consultrios e das instituies? Hoje, o que enten-demos por comunidade em psicologia comunitria?

    No temos a pretenso de responder a todas estasquestes, mas temos a inteno de iniciar esta discus-so, trazer elementos que possam nos ajudar neste pro-cesso.

    Nossa questo central no discutir a substituiode determinadas concepes de comunidade por ou-tras, mas sim, compreender as concepes subjacentes adoo dos diferentes critrios do emprego do termo

    comunidade; o que estas definies nos informam,quepressupostos esto subjacentes a estas concepes;que expectativas de participao se constrem a partirdisto; e, quais as implicaes destes usos.

    POSSVEIS MOTIVOS PARA O USOFREQENTE DO TERMO COMUNIDADE

    Como relatado anteriormente, identificamos quenos relatos referentes s prticas desenvolvidas forados contextos institucionais, pouca ateno tem sidodada definio do termo comunidade (Jewkes e

    Murcott, 1996; Sawaia, 1996; Cronick, 2002). Muitas

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    vezes, empregamos o termo, no cotidiano de nossasprticas, sem problematiz-lo, sem refletirmos sobre oque tem representado para ns, profissionais. Isto tal-vez ocorra porque temos partido do pressuposto de que um termo consensual, que quando utilizado ocorraum compartilhamento dos mesmos significados e sen-tidos. Porm, basta nos determos nos relatos de traba-lhos que empregam os termos comunidade e participa-o comunitria para percebermos que os seus signifi-cados so muito diversos. Discutir os diferentes senti-dos de comunidade e conseqentemente o que se con-sidera participao comunitria ao nosso ver muitoimportante para a diferenciao de trabalhos compro-metidos ou no com aes sociais emancipatrias.

    COMUNIDADE COMO SAUDOSISMO

    Comunidade pode ser um termo muito utilizado

    talvez porque ele nos remeta a algo que parece bomem si, que compreende boas intenes dos profissio-nais que se dispem a trabalhar com o tema. Pode en-to estar associado a profissionais que estejam preo-cupados com questes de relevncia social.

    Podemos ter uma impresso de que um trabalhoseja bom, relevante socialmente, simplesmente por eleindicar como inteno atingir a comunidade. Isto podeocorrer pelo efeito que o termo tem sobre nossas per-cepes. Para Bauman (2003) a palavra comunidadepode carregar uma carga positiva, afirma o autor:

    ... As palavras tm significados: algumas delas,porm, guardam sensaes. A palavra comunida-de uma dessas. Ela sugere uma coisa boa: o quequer que comunidade signifique, bom ter umacomunidade, estar numa comunidade... Comu-nidade, sentimos, sempre uma coisa boa... Co-munidade produz uma sensao boa por causa dossignificados que a palavra comunidade carrega todos eles prometendo prazeres e, no mais das ve-zes, as espcies de prazer que gostaramos de ex-perimentar mas que no alcana mais (Bauman,2003, p. 7).

    O termo comunidade, segundo Sawaia (1996),adotado em trabalhos da psicologia e de outras reas,parece que ainda muito empregado no sentido atri-budo por Tnnies, conforme as palavras de Sawaia(1996):

    ... Comunidade era entendida como unidade con-sensual, sujeito nico e homogneo, lugar degerenciamento de conflito e de mudanas de atitu-de. Sua prtica visava a unio de esforos entrepovo e autoridade governamental para melhorar ascondies de vida de comunidades e atravs delas,

    integrar a sociedade nacional, construindo a pros-

    peridade do pas. E sua delimitao era espacial/geogrfica (Sawaia, 1996, p. 45).

    Esta concepo utpica de uma comunidade con-fere, mesma, caractersticas de unicidade, homoge-neidade e seria assim, praticamente, a anttese de so-ciedade e do individualismo. A dicotomia entre os

    valores individualistas e coletivistas, encontrados res-pectivamente, segundo Tnnies, no espao urbano erural. Assim, o uso mais freqente do termo comuni-dade, de tempos em tempos, apareceria como umautopia a ser buscada como uma estratgia para enfren-tar a sobreposio dos valores individualistas atribu-dos, hoje em dia, aos processos de globalizao. En-tretanto, esse emprego pode estar ocorrendo mais poruma utopia saudosista ou at mesmo como um lamen-to pela sensao de tranqilidade perdida, sem ne-nhum comprometimento com aes transformadoras(Sawaia, 1996; Nilsen, 1996; Bauman, 2003).

    Essa tendncia no ocorre somente nos momentosatuais. Os estudos nas reas de sociologia e antropolo-gia social, principalmente, na dcada de 50 e 60, comodescritos por Jewkes e Murcott (1996), Nilsen (1996)e Sawaia (1996), tambm demonstravam este mesmodirecionamento. Tanto nos estudos empricos comonos tericos sobre as comunidades, o alvo parecia sero mesmo, a busca pela comunidade perdida numa alu-so ao paraso perdido. Biddle (1972) chamava aten-o para o fato das definies sociolgicas de comuni-dades referirem-se s estruturas tais como reunies de

    moradores de determinados bairros ou povoados, gru-pos de vizinhana, ou outras do tipo, deixando de ladoas definies de comunidade dadas pelos prprios con-juntos que se identificam como comunidades.

    Bauman (2003) ilustra bem essa espcie de saudo-sismo:

    ... Sentimos falta da comunidade porque sentimosfalta de segurana, qualidade fundamental parauma vida feliz, mas que o mundo que habitamos cada vez menos capaz de oferecer e mais relutanteem prometer... A insegurana afeta a todos ns,imersos que estamos num mundo fluido e im-previsvel de desregulamentao, flexibilidade,competitividade e incerteza, mas cada um de nssofre a ansiedade por conta prpria, como proble-ma privado, como resultado de falhas pessoais ecomo desafio ao nosso savoir faire e nossa agili-dade. Somos convocados, como observou UlrichBeck com acidez, a buscar solues biogrficaspara contradies sistmicas; procuramos a salva-o individual de problemas compartilhados(Bauman, 2003, p. 129).

    possvel que se esteja buscando naquilo que cha-

    mamos de comunidade, os valores considerados como

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    naturais a ela, como: a solidariedade, a cooperao,o compartilhamento de necessidades e interesses, ajustia social, o fortalecimento das pessoas em rela-o ao seu poder de deciso e de influenciar a tomadade decises, a conscincia crtica, e a mudana socialemancipatria, a possibilidade de construo deconcretizao de projetos individuais atravs dos pro-jetos coletivos. Buscamos dar visibilidade aos proble-mas compartilhados, a condio marginal em que v-rios grupos se encontram. Enfim, a comunidade umespao que pode nos possibilitar a construo, re-construo de nossas identidades, nossa subjetivi-dade, a partir das relaes intersubjetivas. Ainda namesma direo, Rorty (1996) afirma que os seres hu-manos reflexivos tentam dar um sentido s suas vidassituando-as em contextos mais amplos, de duas ma-neiras principais. Em ambas seria narrando o relato desuas vidas referidas a uma comunidade. Seja referida

    a uma comunidade real, na qual as pessoas vivem oulonginquamente viveram, ou referindo-se a outras ima-ginrias.

    Mas, se por um lado muitos dos trabalhos, que sereferem comunidade, podem apenas expressar umcerto saudosismo ingnuo, por outro lado, outrostrabalhos empregam o termo sem nenhum comprome-timento com auto-identificao de seus compo-nentes e o que se esperaria de suas participaes noprocesso.

    COMUNIDADE E PARTICIPAOCOMUNITRIA NOS PROGRAMASDE SADE

    Muitos trabalhos no definem ou problematizam otermo comunidade, mas pela leitura dos relatos dasexperincias pode-se depreender que sentidos estosendo dados a ela, tomam rumos muito diferentes dotom saudosista que pode ser atribudo comunidade.Tomando como exemplo, as experincias de progra-mas de sade desenvolvidos na comunidade, pode-mos identificar casos emblemticos dos usos e abusos

    do termo.Participao comunitria tornou-se um con-ceito chave nos programas de sade aps a Declara-o de Alma Ata de 1978 (Ministrio da Sade,1999a). A declarao ressaltava a necessidade da par-ticipao dos membros de uma comunidade no deline-amento das aes e na tomada de decises sobre osservios de sade (Woelk, 1992; Jewkes e Murcott,1996; Zakus e Lysack, 1998). Esta idia foi revigoradana dcada de 80 com a Carta de Ottawa publicadaem 1986 (Ministrio da Sade, 1999b) sobre promo-o de sade, atravs dos conceitos de fortalecimento(empowerment), construo de capacidades e desen-

    volvimento comunitrio (Schawb e Syme, 1997).

    A incluso da participao comunitria como es-tratgia privilegiada dos programas de sade represen-tou um grande avano para a sade pblica. Represen-tou, tambm, a adoo de uma concepo mais amplade sade ao incluir as questes sociais e econmicascomo fatores importantes no processo sade-doena.As expectativas em relao ao uso desta estratgia, na

    promoo de sade, pautavam-se nas expectativas deque a populao se envolvesse nos processos de toma-da de decises em relao aos servios de sade; nadefinio das prioridades para os servios de sade; eque a populao identificasse suas prprias necessida-des e os recursos para enfrent-las, a partir da sua pr-pria perspectiva em parceria com os profissionais desade. Acreditava-se tambm, que a participao co-munitria poderia ser uma forma de corrigir iniqida-des em sade (Kelly e Van Vlaenderen, 1994; Boyce,2001). Apesar disso, pode-se observar que vrios es-

    tudos que empregam os termos promoo de sade eparticipao comunitria tm para estes termos senti-dos bem diferentes das suas proposies iniciais. Paraexemplificar esses outros sentidos, comumente atribu-dos comunidade, podemos citar o estudo de Simon(2003). A autora analisando a descrio de doze pro-gramas durante as dcadas de 70, 80 e 90 relatadosna literatura, que apresentavam como objetivos a pro-moo de sade na comunidade observa que: comu-nidade subentendida pelos profissionais de sade,prioritariamente, como populao-alvo por formaremum conjunto de pessoas que habitam uma dada regio

    espacial ou geogrfica e apresentam determinados fa-tores, padres comportamentais ou de herana genti-ca, que podem coloc-las em risco de adoecimento.Comunidade seria assim o conjunto de pessoas detec-tado como potencialmente exposto a alguns tipos deriscos sade e que assim transformado em popu-lao-alvo. Desta forma, comunidade um termofreqentemente empregado quase como sinnimo depopulao-alvo. Quem define comunidade so, portan-to, os profissionais a partir dos seus saberes assime-tricamente superiores aos da populao alvo. A partir

    dessa viso, a maioria dos programas considera parti-cipao comunitria as freqncias das pessoas dessaspopulaes s atividades propostas pelos profissio-nais. A autora observa ainda, que praticamente s umdos programas analisados relata ter realizado reuniescom os componentes, da populao eleita, para a defi-nio do que deveria ser ou no priorizado pelo pro-grama e como as pessoas poderiam envolver-se efeti-vamente com as propostas. interessante notar tam-bm que a maior parte desses programas, em questo,tinha como inteno trabalhar a sade da comunidadeatravs da modificao de seus estilos de vida. Esse

    tipo de observao nos faz levar em conta que em boa

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    parte dos trabalhos que se dizem comunitrios quemdefine o que comunal um conjunto de profissionaisque a partir de seus saberes: caracterizam o que se-riam as comunidades, quais seus problemas e quesolues seriam as indicadas para os mesmos. No nenhuma surpresa que muitos trabalhos, que assumemesses pressupostos de comunidade e de participao

    comunitria, queixarem-se da falta da adeso da popu-lao aos seus propsitos. Os sentidos de comunidade,identificados nos relatos dos programas investigadospor Simon (2003) nos remetem s idias de comunida-de, problematizadas anteriormente, como uma unida-de em que os objetivos, interesses e necessidades sovistos, de maneira simplista como comuns. Nesta con-cepo, no h espao para a diversidade, paraas idiossincrasias, para o individual; apenas, para ocoletivo, entendido como homogneo. Sintetizando, aautora comenta que as caractersticas da participao

    comunitria nesses programas so, praticamente,determinadas e impostas pelos profissionais e suascentralidades esto na freqncia s atividades defini-das a priori.

    Zakus e Lysack (1998) enfatizam que a principaldificuldade para se alcanar os benefcios da partici-pao comunitria tem sido como ela tem sido enten-dida tanto pelos profissionais como pela prpria co-munidade.

    SOB A PERSPECTIVA DA

    PSICOLOGIA COMUNITRIAOs termos que empregamos, para indicar nossasposies ou intencionalidades, so datados e tm his-tria. Isto, por si j uma justificativa para que estespassem por revises peridicas.

    No caso da Psicologia Comunitria parece aindamais premente que se faa essa discusso uma vez queo termo Comunidade tem vrios outros sentidos, naatualidade, nos quais nem se pensava na poca em queele passou a ser empregado pela Psicologia.

    Evidentemente que a psicologia comunitria nopode mais ser compreendida apenas pelo fato do psi-clogo trabalhar junto a pequenos lugarejos ou comu-nidades definidas por sua localizao geogrfica.

    Esta concepo caracterizou a emergncia destenovo campo de atuao na psicologia, durante as d-cadas de 60 e 70, a psicologia comunitria, em diver-sas partes do mundo (Prilleltensky e Nelson, 2003).At ento, comunidade era um conceito praticamenteausente na Psicologia e:

    ... aparece como referncia analtica apenas nosanos 70 quando um dos ramos da psicologia socialse auto qualificou de comunitria. Assim fazendo,

    definiu intencionalidade e destinatrios para apre-

    sentar-se como cincia comprometida com a reali-dade estudada, especialmente, com os excludos dacidadania (Sawaia, 1996, p.35).

    O emprego do termo comunidade no foi um pro-cesso especfico da psicologia social. Fez parte de ummovimento mais amplo de avaliao crtica do papel

    das cincias humanas e sociais e, por conseguinte, doparadigma da neutralidade cientfica, desencadeadonos anos 60.

    Para Sawaia (1996) a incluso deste conceito napsicologia constituiu-se em algo importante para a dis-ciplina pois representou a opo por teorias crticasque tinham por objetivo a interpretao do mundo coma inteno de transform-lo. Entretanto, com o empre-go frequente e pouco contextualizado do termo comu-nidade, ele passa a ter usos demaggicos. Afirma aautora:

    Devido diversidade de significado, e ao uso de-maggico da palavra comunidade... preciso re-fletir sobre esse conceito, nas suas mltiplas signi-ficaes e esclarecer o enfoque adotado sob penade cometer falhas e interpretaes falsas, especial-mente, hoje, quando a maioria dos profissionaisda sade e das cincias humanas dizem estartrabalhando nas e com as comunidades (Sawaia,1996, p. 36).

    Quando um termo empregado em tantos contex-tos que no se consegue mais vislumbrar os seus sig-nificados e intencionalidades iniciais, nem os novos, necessrio que ele seja revisto.

    A denominao psicologia comunitria j sofreumudanas. A esse respeito Freitas (1996) tem a seguin-te apreciao. A Psicologia Comunitria passa a serchamada na Amrica Latina por psicologia social-comunitria por utilizar-se dos enquadres tericos dapsicologia social, diferenciando-se de prticas assis-tencialistas ligadas principalmente aos servios desade.

    Para Montero (2000):

    Na Amrica Latina a Psicologia social-comunit-ria nasce a partir da inconformidade com uma psi-cologia social que se situava, predominantementebaixo o signo do individualismo e que praticavacom rigoroso cuidado a fragmentao, que no eracapaz de dar respostas aos problemas sociais, pro-duzindo vias de ao para neles intervir. , tam-bm, uma psicologia que olha criticamente, desdeseu incio, as experincias e prticas psicolgicase ao mundo em que surgia e cujas circunstnciasdevia lidar (Montero, 2000, p. 70).

    A Psicologia Social Comunitria, como tantas ou-

    tras reas de atuao profissional, passa tambm por

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    revises que so sempre necessrias para dar conta dasmudanas gerais que ocorrem nas diversas esferas davida.

    Como afirma Campos (1996) no incio nas expe-rincias de psicologia comunitria, comunidade re-feria-se aos trabalhos realizados em ...bairros popu-lares, favelas, associaes de bairro, comunidades

    eclesiais de base, movimentos populares em geral(Campos, 1996, p.9). Mas, evidente que comunida-des no podem ser mais unicamente entendida assim.Como afirma Bauman (2003) necessrio diluir adicotomia arraigada ao termo comunidade, associadaaos valores individuais e coletivos. Para Sawaia (1996)...comunidade, mais do que uma categoria cientfico-analtica, categoria orientadora da ao e da reflexoe seu contedo extremamente sensvel ao contextosocial em que se insere... (Sawaia, 1996, p. 50).

    As diversas concepes de comunidade aqui apre-

    sentadas sob a perspectiva da sade, sociologia, antro-pologia e psicologia permanecem fundamentadas nasidias de homogeneidade e unicidade, o que lhe negao carter processual e contextual.

    O problema central que muitos trabalhos tm porpressuposto a comunidade como uma entidade naturaligual s comunidades da poca do feudalismo, deno-minadas de naturais. Desta forma, alguns pensamque os vnculos, os sentimentos de pertena, decompartilhamento de interesses e necessidades, de so-lidariedade, cooperao, j esto presentes no cotidia-no das pessoas e que se revelaro a partir do momento

    em que colocamos as pessoas juntas sob o critrio desemelhana por ns definidos.

    Desse modo, mesmo quando as propostas de tra-balhos envolvam prticas democrticas, ainda sim, adelimitao do que seja comunidade tem permanecidosob o domnio dos profissionais.

    Isto no quer dizer que no possamos estabelecerum ponto de partida para nossas pesquisas e outrasatuaes profissionais, entretanto, ele no pode seresttico, inflexvel, intransponvel. Se assim o for, cer-ceamos as possibilidades de outras configuraes de

    comunidade que podero ou no ser estabelecidas apartir dos espaos simblicos e concretos da vida coti-diana das pessoas envolvidas.

    O QUE PODERAMOS CONSIDERARCOMUNIDADE?

    Mas, ento, o que poderamos considerar comuni-dade? Certamente a busca deve ser a partir de umaoutra concepo de comunidade, ampliada e reflexiva,que no se restrinja idia de contraposio entrerural e urbano, indivduo e sociedade de Tnnies ou

    ento de localizao geogrfica, ou at mesmo por

    caractersticas definidas a priori por pessoas externas suposta comunidade.

    Dubar (2002) tambm considera que estes tipos decomunidades, mais essencialistas, praticamente nomais existam. So as formas relacionais mais antigas eestavam ligadas s crenas de agrupamentos conside-rados como sistemas de lugares e denominaes pr-

    designados aos indivduos. Comunidades que se repro-duziam identicamente ao largo das geraes, nas quaiscada indivduo tinha suas formas de pertena das quaisderivavam as suas identidades. Essas comunidadesdavam origem s formas identitrias essenciais. Parao autor as formas societrias mais recentes supema existncia de coletivos mltiplos, inconstantes eefmeros as quais os indivduos aderem por perodosvariveis e limitados e que proporcionam recursos deidentificao que se apresentam de maneiras diversase provisionais. Assim, nessas formas societrias pode-

    mos fazer parte de coletivos mltiplos. Essas formassocietrias designam relaes sociais baseadas emcompromissos ou coordenaes de interesses motiva-dos reacionalmente, em valores ou finalidades. For-mam-se alianas por interesses e compromissos, e re-laes mltiplas. Formam-se pactos e racionalidadespara a busca de melhores formas de vida.

    Talvez o caminho para compreenso do que se-riam as comunidades, hoje, deva ser repensada a partirde relaes contextuais e processuais como sugeremdiversos autores tais como, Nilsen 1996; Petersen eLupton; 1996; Sawaia; 1996; Cronick, 2002; entre

    outros.Temos que lembrar tambm, como afirmam Ger-

    gen e Gergen (2000) que vivemos uma intensa revolu-o tecnolgica que torna cada vez mais populares eacessveis os mais diversos meios de comunicao.Inclui-se a telefone, o rdio, a televiso, o automvel,sistemas de transporte coletivos, a aviao, as mat-rias publicadas na imprensa, e a comunicao compu-tadorizada. Para os autores, com a proliferao acele-rada e global das tecnologias, de comunicao em par-ticular, os processos de significao tambm so ace-

    lerados. Valores, atitudes e opinies so todos sujeitosa rpidas oscilaes, e com eles os processos rela-cionais.

    Os meios de comunicao facilitam o crescimentodascomunidades de dilogo. A internet serve comoum contexto significante para tal. Os mesmos autorescitam, por exemplo, os milhares de grupos polticos,religiosos, tnicos e centrados em valores que ofere-cem agora sites que informam e convidam partici-pao. As comunidades de dilogo podem unir entresi desde comunidades de neonazistas at a de Druidas,por exemplo. Alm disso, para muitas pessoas que no

    podem fisicamente estar em contato com outros com

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    os quais compartilham interesses vitais, os intercm-bios mediados pelo computador so altamente dese-jveis. Ampliam suas possibilidades de desenvolvi-mento.

    Com a disponibilidade da internet, os potenciaispara se conferir visibilidade e comunicao efetivaso aumentados exponencialmente. Gergen e Gergen

    (2000) trazem uma ilustrao destes potenciais citan-do o movimento revolucionrio do proletariado no es-tado mexicano de Chiapas. Este grupo poderia ter sidoerradicado pela milcia governamental, mas sua habi-lidade em levar seu caso a uma audincia global atra-vs da internet alterou radicalmente suas circunstn-cias polticas. Numerosos grupos atravs do mundoofereceram auxlio, comunicao intensa foi direcio-nada aos oficiais do governo mexicano, e as diretrizesgovernamentais foram significativamente limitadaspela opino pblica. Para os autores, so precisamente

    tais esforos que os estudos das cincias sociais atuaisdeveriam facilitar como, por exemplo, a criao denovas condies de intercmbio que poderiam propi-ciar novos sensos de perspectivas possveis.

    Segundo Petersen e Lupton (1996), as estratgiasde trabalhos centradas na idia de comunidade basea-da na localidade, impe uma identidade de comunida-de que nega outras possibilidades de construesidentitrias que transcendam os espaos fsicos, prin-cipalmente, se pensarmos no avano tecnolgico e asnovas formas de comunicao, descritas anteriormen-te, como a internet. Por exemplo, as formas identi-

    trias por gnero, classe social, etnia, raa, entre ou-tras. As pessoas no precisam estar no mesmo localpara formarem uma comunidade. Os autores salientamque a idia de comunidade til para aqueles que ne-cessitam dar visibilidade para sua identidade. So gru-pos, geralmente, que esto em desvantagens ou somarginalizados.

    Isto no quer dizer que os autores so totalmentecontra a identidade da comunidade definida pela loca-lidade. A principal crtica que os autores fazem a estadefinio, que geralmente, ela imposta, descon-

    siderando as identidades j existentes. Alm disso, aolidar com os problemas no nvel local, questes maisamplas que influenciam diretamente a localidade, soignoradas, como as relaes de poder assimtricas, asinfluncias das estruturas macro-sociais e extrana-cionais, as disparidades regionais na distribuio dariqueza, os desequilbrios do mercado, racismo, de-semprego, prticas de explorao do trabalho. Entre-tanto, para Petersen e Lupton (1996) ao trabalhar den-tro desta concepo, no se pode pressupor que existauma identidade compartilhada de interesses entre aspessoas. necessrio considerar os aspectos proces-

    suais dialgicos e identitrios em que as relaes so

    construdas, e que mudam atravs do tempo e espao. necessrio relevar que as pessoas j pertencem acomunidades, independente do local em que vivem, eportanto, que as identidades so definidas por vriasoutros pertencimentos a outras comunidades. Estes,ento, so os principais pontos levantados pelos auto-res para se trabalhar a partir da concepo de comuni-

    dade.Com isso, se no so as localidades e as caracte-

    rsticas pessoais que garantem a condio de comuni-dade, podemos pensar que talvez sejam as possibilida-des de pertencimento e participao em espaos deli-mitados simbolicamente na busca de melhores formasde vida. Espaos estes definidos pelo compartilha-mento de interesses individuais que atravs das rela-es estabelecidas nestes espaos se configuram tam-bm em interesses e objetivos coletivos. O cartercoletivo, no entanto, no induz a negao da indivi-

    dualidade, pois ele retro-alimenta os interesses indivi-duais e vice-versa.Com isso, descartamos o carter esttico e atem-

    poral atribudos s comunidades e passamos a com-preend-las a partir de suas constituies em processorelacionais e dialgicos historicamente situados.

    Na Psicologia Comunitria precisamos ento,compreender como estes espaos socialmente, subje-tivamente e intersubjetivamente so constitudos, con-figurados, transformados nas constituies das diver-sas comunidades para realizarmos nossos trabalhosnestes espaos que tambm nos incluiro em determi-

    nados momentos.Portanto, nos diversos estudos apresentados ante-

    riormente sobre as concepes de comunidade e osposicionamentos crticos em relao aos seus usos, nasreas da psicologia, sociologia e sade; os autores sa-lientam a necessidade premente de se rever os princ-pios que norteiam os trabalhos em comunidade ou comcomunidades.

    necessrio lembrar que a concepo tradicionaldos mtodos de pesquisa nas cincias sociais foi de-senvolvida sob condies de saturao tecnolgica re-

    lativamente baixa. Para Gergen e Gergen (2000) asmais importantes das alternativas a serem buscadasseriam as chamadas relacionais.Pesquisas essas commetodologias cada vez mais sensveis: ao relaciona-mento dos pesquisadores com seus sujeitos em pro-cessos dialgicos e co-construtivos; relacionamentosdos pesquisadores com seus pblicos como interde-pendentes, relacionamentos com negociaes depensamentos; e, enfim, como processo relacional. Oobjetivo de pesquisa torna-se ento o de incitar o di-logo que pode sofrer contnua mudana conforme semove para uma rede extensa. Se apoiarmos as impli-

    caes da centralizao cada vez maior nos processos

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    relacionais entre indivduos e concebermos essasimplicaes praticamente dentro das esferas emergen-tes das novas tecnologias poderemos participar efe-tivamente da reconstruo das cincias sociais e daalterao das trajetrias das culturas das quais partici-pamos.

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    Recebido em: 14/06/2004. Aceito em: 14/04/2005.

    Autoras:Rosalina Carvalho da Silva Professora Doutora do Departamento de Psico-logia e Educao da Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de RibeiroPreto, FFCLRP-USP.Cristiane Paulin Simon Psicloga do Departamento de Psicologia e Educa-o da Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Ribeiro Preto, FFCLRP-USP. Professora Doutora do Instituto de Cincias Humanas da UniversidadePaulista, UNIP-Campus de Ribeiro Preto.

    Endereo para correspondncia:ROSALINACARVALHODASILVADepartamento de Psicologia e EducaoFaculdade de Filosofia Cincias e Letras de Ribeiro PretoAv. dos Bandeirantes, 3900 Campus UniversitrioCEP 14040-901, Ribeiro Preto, SP, BrasilE-mail: [email protected]