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Sociedade & Natureza, Uberlândia, 21 (2): 211-225, ago. 2009 211 Síntese e complexidade no Pensamento Geográfico Cinthia Maria de Sena Abrahão SÍNTESE E COMPLEXIDADE NO PENSAMENTO GEOGRÁFICO Synthesis and Complexity in Geographic Thinking Cinthia Maria de Sena Abrahão Doutoranda em Geografia pela Universidade Federal do Paraná Matinhos /PR – Brasil [email protected] Artigo recebido para publicação em 02/11/08 e aceito para publicação em 14/07/09 RESUMO: Neste artigo tratamos dos marcos da Geografia Moderna através da reflexão sobre os elementos que caracterizaram a influência do romantismo alemão. Para tanto, destacamos a herança humboltiana e de alguns de seus seguidores, que estiveram em expedições pela América ao longo do século XIX. Através da obra destes cientistas é possível perceber o esforço de interconectar formas de compreensão da realidade que foram consideradas incompatíveis pela ciência moder- na, a racional e a artística. Contemporaneamente percebe-se um percurso da Geografia em busca de uma nova matriz científica, que dê suporte à complexidade dos fenômenos. Neste contexto, confirma-se e revitaliza-se a necessidade de refletir sobre as contribuições dos naturalistas via- jantes do século XIX. Palavras-chave: Geografia. Complexidade. Viajantes-naturalistas. ABSTRACT: In this article we treat some elements of the Modern Geograhy, a view of the reflections above the heritage of Humbolt and about his followers, who were in expeditions by America along the 19th century. Across the work of these scientists it is possible perceive the effort of interconnecting fields of the knowledge that were dichotomized by the modern science, the reason and artistic languages. Nowadays, it’s perceptible a way of the Geography in pursuit of a new scientific base to comprehend the phenomenon complexity. In this context, it is confirmed and revitalized the requirement of reflections about the naturalists from 19 th century. Keywords: Geography. Complexity. Naturalist-travellers. 1. INTRODUÇÃO O processo histórico, que deu configuração à modernidade capitalista, trouxe em sua esteira, a traje- tória de um modo de vida que se tornou hegemônico e, sobretudo, combinou de forma complexa as manei- ras de refletir o mundo e a materialidade da existência humana. A consolidação do capitalismo, ao contrário do que supõe a leitura positiva da história, se configu- rou de forma não linear. Trouxe em seu contexto a dinâmica das contradições e incongruências presentes mesmo depois da sua instituição como modo de pro- dução hegemônico. A mudança da percepção e da ação humana em relação ao seu entorno, permitindo que este repre-

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Síntese e complexidade no Pensamento GeográficoCinthia Maria de Sena Abrahão

SÍNTESE E COMPLEXIDADE NO PENSAMENTO GEOGRÁFICO

Synthesis and Complexity in Geographic Thinking

Cinthia Maria de Sena AbrahãoDoutoranda em Geografia pela Universidade Federal do Paraná

Matinhos /PR – Brasil

[email protected]

Artigo recebido para publicação em 02/11/08 e aceito para publicação em 14/07/09

RESUMO: Neste artigo tratamos dos marcos da Geografia Moderna através da reflexão sobre os elementos

que caracterizaram a influência do romantismo alemão. Para tanto, destacamos a herança

humboltiana e de alguns de seus seguidores, que estiveram em expedições pela América ao longo

do século XIX. Através da obra destes cientistas é possível perceber o esforço de interconectar

formas de compreensão da realidade que foram consideradas incompatíveis pela ciência moder-

na, a racional e a artística. Contemporaneamente percebe-se um percurso da Geografia em busca

de uma nova matriz científica, que dê suporte à complexidade dos fenômenos. Neste contexto,

confirma-se e revitaliza-se a necessidade de refletir sobre as contribuições dos naturalistas via-

jantes do século XIX.

Palavras-chave: Geografia. Complexidade. Viajantes-naturalistas.

ABSTRACT: In this article we treat some elements of the Modern Geograhy, a view of the reflections above the

heritage of Humbolt and about his followers, who were in expeditions by America along the 19th

century. Across the work of these scientists it is possible perceive the effort of interconnecting fields

of the knowledge that were dichotomized by the modern science, the reason and artistic languages.

Nowadays, it’s perceptible a way of the Geography in pursuit of a new scientific base to comprehend

the phenomenon complexity. In this context, it is confirmed and revitalized the requirement of

reflections about the naturalists from 19th century.

Keywords: Geography. Complexity. Naturalist-travellers.

1. INTRODUÇÃO

O processo histórico, que deu configuração àmodernidade capitalista, trouxe em sua esteira, a traje-tória de um modo de vida que se tornou hegemônicoe, sobretudo, combinou de forma complexa as manei-ras de refletir o mundo e a materialidade da existênciahumana. A consolidação do capitalismo, ao contrário

do que supõe a leitura positiva da história, se configu-rou de forma não linear. Trouxe em seu contexto adinâmica das contradições e incongruências presentesmesmo depois da sua instituição como modo de pro-dução hegemônico.

A mudança da percepção e da ação humanaem relação ao seu entorno, permitindo que este repre-

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sentasse a natureza como algo que lhe é externo, foiconsolidada nos processos que se conformarão e da-rão título ao que chamamos de modernidade. A transi-ção lenta e gradual da era medieval, na Europa Oci-dental, para a etapa de hegemonia do capitalismo trou-xe os elementos constitutivos e reflexivos deste pro-cesso. A natureza, a partir da interferência humana,assumiu a condição de meio, extensão e movimento,coisa passível de dominação e reprodução. Algo com-preensível através do estabelecimento de leis, para-digmas científicos, que permitiriam desvendar todos equaisquer mistérios de sua existência. A atitude con-templativa dava lugar à ação de domínio e controle.

A primeira etapa da transição para o capitalis-mo fez emergir um conjunto de questionamentos nocampo das idéias que consolidou o resgate dos funda-mentos filosóficos da Idade Antiga. Esta etapa foi no-meada como Renascimento na história das ciências.As raízes do pensamento geográfico moderno tambémestão vinculadas a este ponto de partida. Na Antigui-dade Clássica, a partir da teorização de Eratóstenes ePtolomeu, a geografia tinha o objetivo de determinarcoordenadas de lugares na superfície da Terra (CLA-VAL, 2002). Percebe-se enraizada na Geografia a or-dem fundante desta lógica de relacionamento do ho-mem com o externo, na busca de perceber o espaço,que se transformou paulatinamente em busca pela do-minação da natureza.

A expansão comercial no continente europeurepresentou um dos elos de ruptura da estrutura feudalpredominante. Contudo, pode-se pensar no elevadoimpacto que as navegações e a expansão ultramarinaprovocaram sobre o modo de pensar e agir dos euro-peus, a partir do século XVI. A descoberta do novo con-tinente, em especial das regiões tropicais, representouquestionamentos efetivos às verdades estabelecidas atéentão. O fortalecimento da burguesia e de seus desígni-os representou por si, um processo descontinuado,complexo e desigual mesmo se pensado dentro do conti-nente europeu. Contudo, foi suficientemente forte paraabalar a estrutura de pensamento moldada sob a lógicada escolástica medieval. Contribuindo assim para quenovas formas de interpretação passassem a ser possí-veis e até mesmo, crescentemente necessárias.

Partindo deste ambiente de discussão, o pre-sente texto tem por objetivo versar sobre o surgimentoda Geografia, inserida no quadro das ciências moder-nas. O foco está na compreensão da natureza comoseu objeto de interpretação a partir da análise históri-ca, tendo por base as transformações sócio-econômi-cas e culturais. Além disso, pretende destacar caracte-rísticas fundantes do pensamento geográfico, especial-mente a partir da influência do romantismo alemão eem especial de Alexander Von Humboldt, naturalista,considerado um dos fundadores da Geografia Moderna.

Considerando os objetivos desenhados, o tex-to foi organizado em três partes. Na primeira, destacao ressurgimento da natureza como objeto da reflexãohumana, partindo da história da filosofia. Nesta etapado artigo procuramos estabelecer um diálogo com aexpressão artística, em especial com a pintura, comvistas a expressar de que forma a natureza passou aser percebida. Perfazemos um breve caminho dorenascimento até as contribuições do romantismo ale-mão através da obra de Humboldt, onde se evidenciauma busca de fusão dos dois caminhos perceptivos darealidade, o científico e o artístico. Na segunda parte,tratamos o surgimento da Geografia moderna aindasob a ótica do romantismo alemão, tendo por base arealidade do “novo” mundo. Aqui, o texto procuraelucidar a proposição romântica de compreensão dacomplexidade do objeto geográfico, que suplanta ori-ginariamente a dualidade entre o físico e o humano.

Entendemos que a busca de referência nestacorrente de pensamento, o romantismo, enquanto sis-temática de compreensão, seja capaz de revelar umcaminho perdido da modernidade. Interessa-nosresgatá-lo, sobretudo por considerarmos as questõespautadas contemporaneamente, em tempos de crisede paradigmas do pensamento moderno. Neste senti-do, fazemos alusão ao trabalho de alguns dos natura-listas viajantes que estiveram pela América. Por fim,concluímos discutindo a recolocação da síntese cientí-fica no debate contemporâneo da ciência geográfica,procurando destacar as contribuições possíveis do res-gate das experiências analisadas ao longo do artigo.

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2. DA FILOSOFIA RENASCENTISTA AO RO-MANTISMO DE HUMBOLDT

A confiança na razão foi resgatada da civiliza-ção greco-romana, passando a se constituir enquantofundamento social na Idade Moderna. O argumentoracional passou a se correlacionar de forma cada vezmais contundente à pretensão humana de abarcar omundo. O ponto de partida esteve centrado na idéia deque não existe um mundo uno e ordenado, que sepropõe ao reconhecimento humano, contrariamenteàquele percebido pelo pensamento greco-romano.Explicitava-se um “novo” mundo, diverso, relativo ecomplexo, que iria requerer fundamentos eficazes parasua compreensão efetiva. Em nome desta necessidadede compreensão foi resgatada a idéia de razão.

A expressão máxima deste modelo está na ma-temática, em sua raiz etimológica, ta mathema, conhe-cimento completo, tido como inteiramente racional. Osmétodos inerentes aos estudos matemáticos tornaram-se referência fundamental, não apenas no sentido daquantificação, mas do estabelecimento de teoremas.Instaurou-se aí uma obsessão moderna da filosofia embusca dos métodos, dos elementos mediadores entre oproblema e a verdade racional (ABRÃO, 1999).

O momento de ruptura que estas novas idéiasproporcionaram remete-nos, ainda no século XVI, aFrancis Bacon, cuja tese empirista foi aprofundada porGalileu. A partir da obra de Bacon, observação, des-crição e isenção das idéias preconcebidas tornaram-secondições necessárias para a análise dos fenômenos.Além disso, propunha a metodologia da experimenta-ção, capaz de permitir a descrição rigorosa e precisa, avariação das condições ambientais, bem como as com-parações (BACON, 1999).

A ciência nascente a partir do racionalismo edo experimentalismo de Bacon empoderava o humanoneste processo de compreensão do mundo natural e,atrelado a isto, o domínio de outros povos e culturaspor parte dos europeus ocidentais. Dominação quepassa a ser realizada a partir do manto da razão humana.

Considere-se ainda, se quiser, quanta dife-

rença há entre a vida humana de uma regiãodas mais civilizadas da Europa e uma regiãodas mais selvagens e bárbaras da Nova Índia[referência à América]. Ela parecerá tãogrande que se poderá dizer que o “O homemé Deus para o homem”, não só graças aoauxílio e benefício que ele pode prestar a ou-tro homem, como também pela comparaçãodas situações. E isto ocorre não devido aosolo, ao clima ou à constituição física. (BA-CON, 1999, p. 97).

Bacon afirmava em sua análise, não só a rele-vância do surgimento do fenômeno representado pelo“novo mundo”, mas, sobretudo a relação entre o co-nhecimento científico e o poder de dominação, que seestende ao campo natural, bem como para o humano.Nas palavras de Bacon, “saber é poder”.

Nesta mesma etapa da história é possível tam-bém estendermos nosso olhar para outro campo dapercepção humana, e observar o aflorar do renasci-mento na forma como foi lido pela Arte. Paulatina-mente, os temas pagãos foram emergindo na pintura,rompendo com a leitura escolástica da pintura medie-val. E, na medida em que as novas temáticas aden-traram o universo da pintura, a natureza também pas-sou a ser expressa de forma completamente distinta,como elemento vivo e dinâmico, ao tempo em que acentralidade humana torna-se presente.

Tendo em vista elucidar este raciocínio, pode-mos analisar duas obras muito significativas no debatesobre o renascimento na Arte. A primeira delas é dopintor Veneziano Giorgine, de 1505, cujo título é ATempestade (FIG. 1). Giorgine era discípulo de Belini,precursor do renascimento na arte em Veneza. Na obrade Belini a natureza objetivava ser vista aos olhos deSão Francisco, como parte da criação divina. Sob ou-tra proposição, Giorgine parece promover uma ruptu-ra importante em relação a esta visão na tela citada,onde a natureza e a sensualidade humana (que se tor-nariam elementos de uma nova tradição na pintura)não estão submetidas da mesma forma. O fenômenonatural aparece como elemento vivo e dotado de im-portância particular na tela (JANSON, 1988, p.218).

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Esta mesma intencionalidade de Giorgine estáexpressa na tela de Ticiano, o Bacanal (FIG. 2), masas figuras humanas assumem um protagonismo explí-cito. Embora expresse a influência da arte clássica, aomesmo tempo rompe com a mesma, no processo

interativo entre seres de carne e osso, inspirados nosdeuses gregos. Nesta obra de 1518, Ticiano traz osdeuses gregos para a condição de humanos, remetendo-nos a uma nova relação entre o homem e a natureza.

A ciência moderna que está sendo prenuncia-da na filosofia, na obra de Bacon, é, sobretudo, ex-pressa na Arte, a partir de uma linguagem estritamentediversa. Conforme Abrão (1999, p.143-146), atravésda Arte inaugura-se uma nova forma de definir o espa-ço, a perspectiva passa a compor as obras e expressauma maneira definitivamente distinta de ver o mundo.Também aqui a matemática assume papel central, namedida em que a retratação do mundo requer a métri-

ca perfeita, que apenas esta proporciona. Pode-se di-zer que “a perspectiva inventa uma nova imagem doespaço”. (ABRÃO, 1999, p.146). Uma obra-prima dapintura renascentista que não analisaremos aqui, masque simboliza a nova imagem do espaço é A Escola deAtenas de Rafael (1510-1511). De acordo com Janson(1988), nesta obra, corpo e espírito, ação e sentimento,encontram-se equilibrados, simetria e interdependên-cia revelam o despertar de um novo espírito humano.

FIGURA 1. Veneziano Giorgine, A Tempestade, 1505.

Fonte: http://www.britanica.com

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FIGURA 2. Ticiano, Bacanal, 1518.

Fonte: Janson, 1988, p. 222

Ao longo dos dois séculos seguintes, XVII eXVIII, a teorização do conhecimento tornou-se umcampo efervescente. Um marco essencial nesta etapafoi a proposição teórica de Descartes, traduzida nadúvida metódica. A investigação dos fenômenos natu-rais adquiriu mais elementos para a compreensão darealidade. De acordo com Descartes (ABRÃO, 1999)a compreensão requer a redução da diversidade dascoisas, até chegar à mínima parte comum. A partir daí,é preciso dividir as partes de que se compõe o todo atéchegar ao elemento mais simples, o que constitui oprocedimento de análise. Em seguida, deve-se realizara operação inversa, a síntese, que permite a recompo-sição do simples ao complexo, considerado o procedi-mento capaz de instrumentalizar a compreensão darealidade. Neste caminho, não se deve omitir nada,

sob pena de comprometer a conclusão. Através deDescartes tomava corpo a base científica e meto-dológica de investigação, que seria responsabilizada pelaespecialização que a ciência moderna viria a assumir.

Conforme a teoria do conhecimento propostapor Descartes, a representação constitui a operaçãoque converte as coisas em objetos a partir da certezaabsoluta na capacidade humana de pensar, que explicapor sua vez a própria existência (“Penso, logo exis-to”). De forma cada vez mais palpável, percebemosatravés da filosofia como o humano justificadamentefoi se tornando senhor da natureza. Contudo seria aolongo do século XIX, que a dominação da naturezaatingiria o auge e seria consolidada, com o advento daRevolução Industrial.

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Claval (2004) demonstra, que no interstício emque ocorreu o nascimento e consolidação das basesfilosóficas da ciência moderna, a Geografia persistiupresa às suas raízes disciplinares definidas na Antigui-dade. A partir do colonialismo, do século XVI ao XVIII,a relevância desta função não apenas se renovou comofoi reforçada. O geógrafo associava levantamentos as-tronômicos às pesquisas de arquivo, tendo em vistadefinir distâncias e longitudes. Os avanços tecnológicosque marcaram o século das Luzes (o século XVIII)tornaram viável a leitura das longitudes, permitindoque parte desta responsabilidade saísse do campo pro-fissional geográfico e assumisse caráter disciplinar, in-dependente da Geografia. É o que ocorre com a carto-grafia, que teria se tornado um campo da engenharia(CLAVAL, 2004, p.13).

É também no XVIII, que a concepção de na-tureza passou a se inspirar na Física, a natureza “má-quina”. Expressava-se assim o fruto do triunfo da físi-ca e da matemática enquanto conjunto de proposiçõesnecessárias para a compreensão dos fenômenos natu-rais. A transição para o capitalismo teve neste momen-to um ponto alto, na medida em que a produção fabrilpermitiu à burguesia consolidar o domínio do processotécnico da manufatura. Desta forma, superava o modode produção artesanal que havia sido predominante nofeudalismo. Estavam dadas as condições para o feno-menal desenvolvimento das forças produtivas atravésda divisão processual do trabalho, o que possibilitou osurgimento da indústria. Vale sempre lembrar que estadinâmica de transição para o capitalismo foi absoluta-mente desigual no seu ritmo de expansão em termosespaciais, e extremamente concentrada em algumasregiões da Europa ocidental, com o pioneirismo da In-glaterra.

É possível pensar na indústria como uma es-pécie de corolário do processo de dominação da natu-reza pelo homem. Nas palavras de Santos (1992), ahistória do homem foi uma história de ruptura comseu entorno, que o capitalismo a partir de sua basecentrada no indivíduo acelerou de forma brutal. Aindapara Santos (1986, p.172):

A natureza se transforma pela produção e não

há produção sem instrumentos de trabalho.Desde o início dos tempos históricos, o ho-mem produtor idealizava e construía os seusinstrumentos de trabalho com suas própriasmãos; transportava-o como um prolongamen-to imediato do seu corpo; havia uma comu-nhão quase total entre o homem e os instru-mentos que ele utilizava e manipulava na ta-refa cotidiana de produzir. Era assim que eleimprimia a sua marca sobre a natureza: trans-formando-a.

Os acontecimentos do século XIX certamentepassaram a requerer outro olhar científico sobre omundo, o que se estendeu para todos os campos daação e do pensamento humano. Paulatinamente, a idéiapredominante de natureza máquina do século XVIIIfoi sendo substituída pela imagem do sistema orgâni-co. Neste sentido, houve um movimento de reação aoracionalismo, corrente que tinha na razão a primaziade todo conhecimento. Este seria corroborado por vá-rios pensadores, dentre eles, Kant, Schelling e Hegel(GOMES, 2005). Contudo, ao longo do tempo, espe-cialmente em função do empirismo, cujas raízes re-montam a Francis Bacon, haverá a total negação dequalquer elemento que implicasse a subjetividade.

A sociedade capitalista representa per si o pro-cesso fundador de um cenário calcado e que se desen-volve a partir das contradições, observáveis nas refle-xões advindas das correntes dominantes, bem comodas contracorrentes do pensamento filosófico. A Geo-grafia, por sua vez, desde a Antiguidade se apresenta-va como a descrição e criação da imagem do mundo.Como indica Gomes (2005, p.28) “a história da ci-ência geográfica pode, então, ser considerada comoa história do imago mundi da própria modernidade”.Inicialmente, isto se deu através fundamentalmente dacartografia. Mas, na medida em que se desenvolveu ofundamento científico que viabilizou a especializaçãocomo elemento de precisão do conhecimento, foidesencadeada esta mesma necessidade (de recorte deobjeto) no discurso geográfico. Desta forma, possibi-litaria conectá-la à nova ordem científica que se ins-taurava.

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No movimento de reação ao racionalismo emer-giram várias correntes de pensamento, para as quais arazão humana não se revelava suficiente para a com-preensão dos fenômenos. Conforme Gomes (2005,p.33),

... a prática experimental da ciência racio-nalista é falsa, pois o julgamento se faz a par-tir de uma exterioridade que não correspondeà essência do fato observado. Em lugar deexplicar a partir da construção de um siste-ma abstrato e racional, a ciência deveriacompreender o sentido das coisas. Enquantopara o racionalismo, pelo método científico,deveriam ser criadas as condições de distan-ciamento dos fatos, para este outro ponto devista, assim agindo, perdemos a possibilida-de de verdadeiramente compreender a rique-za da diversidade dos fenômenos.

Retomada contemporaneamente no debate so-bre a reunificação científica dos elementos da razão eemoção, a problemática que envolve o papel da ciên-cia esteve presente sob formas diversas ao longo doséculo XIX. O racionalismo “arrancou”, por assim di-zer, o homem da natureza, o que concedeu justificati-va, bem como trouxe instrumental técnico e teóricopara a dominação e transformação do entorno. A cor-rente romântica, em outro pólo, apoiou-se na defini-ção da idéia de humanidade a partir de uma relação naqual o ser humano é pertencente à natureza. Nestesentido, a compreensão dos fenômenos passou a exi-gir um olhar que extrapolasse a racionalidade científicae requeria recursos de percepção e interpretação dasinterações do homem com seu meio, expressas sob aforma da cultura.

O mundo foi compreendido como compostode “aglomerados geoculturais” o que exerceu influên-cia importante para valorização de sistemas nacionais,que por sua vez, aparecem também no gérmen da Ge-ografia moderna. História e natureza foram os doistemas preferenciais do romantismo. Gomes (2005) citatanto Werner, geólogo e mineralogista, como Goethe,escritor e cientista, que expressaram esta fusão entre alinguagem da razão e a organização da natureza. Em

Goethe (1821), a natureza se apresenta como ani-mal vivo e composto de conexões harmônicas; suaconcepção de Terra se aproxima neste sentido àquelaque seria desenvolvida pelos geógrafos da escola fran-cesa.

A pulsante relação homem-natureza do roman-tismo se expressa na linguagem artística através da obrade escritores e pintores. Goethe nos presenteia com aprofusão do romantismo, em sua obra-prima da litera-tura romântica, Os sofrimentos do jovem Werther, aotempo em que revela uma percepção distinta da rela-ção homem-natureza a partir da Arte.

(...) Quando em torno de mim os vapores ele-vam do meu vale querido, e o sol a pino pro-cura devassar a impenetrável penumbra daminha floresta, mas apenas alguns dos seusraios conseguem insinuar-se no fundo destesantuário; quando, à beira da cascata, ocul-tas sob os arbustos, descubro rente ao chãomil diferentes espécies de plantazinhas; quan-do sinto mais perto do meu coração o formi-gar de um pequeno universo escondido em-baixo das ervinhas, e são os insetos, mos-cardos de formas inumeráveis cuja varieda-de desafia o observador, e sinto a presençado Todo-poderoso que nos criou à sua ima-gem, o sopro do Todo-Amante que nos susten-ta e faz flutuar num mundo de ternas delícias(GOETHE,1821, p.3)

Ainda neste período, os paisagistas inglesesWilliam Turner e John Constable “esclarecem com suasobras quais podem ser as atitudes do homem moder-no frente à realidade natural” (ARGAN, 1992, p.38).Mesmo trilhando caminhos estéticos distintos Turnere Constable reafirmam a natureza como um ambientede vida. A tela Chuva, vapor e velocidade (FIG. 3),pintada em pleno século da revolução industrial, ex-pressa os reflexos da velocidade dos tempos moder-nos sobre o ambiente transformado. Refletiam-se ele-mentos sensíveis e racionais, dispostos e capazes desubsidiar uma leitura complexa das relações homem-natureza.

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Ainda assim, até o início do século XIX a Ge-ografia continuava presa à idéia de física do mundo,ligada às narrativas de viagens e incumbida de inter-pretar a dinâmica da natureza e suas relações com amarcha histórica (GOMES, 2005).

O marco de renovação no pensamento geo-gráfico se apresentou a partir da obra de AlexanderVon Humboldt (1769-1859). Nascia uma nova verten-te do estudo, dirigida para um esforço de síntese entrea linguagem científica moderna e a percepção artísti-ca. Em sua obra, revela-se o esforço sistemático dereunir às tradicionais narrativas de viagens a preocu-pação com a análise comparativa e o estabelecimentodos raciocínios gerais e evolutivos. Conforme Gomes(2005), estão explicitamente contidos na obra deHumboldt a preocupação do naturalista francês,Georges-Louis Leclerc, conde de Buffon, quanto a umanatureza vista como conjunto orgânico; assim como a

idéia de cadeia explicativa de Diderot; e, por fim, acausalidade histórica de Voltaire.

Na medida em que seu discurso incorporava otom racional e lógico, ao mesmo tempo em que busca-va apoio na linguagem poética e emocional, Humboldttransformou-se em expressão do romantismo alemãono campo científico. Seus laços com a corrente ro-mântica eram estreitos a ponto de se explicitarem nasinfluências pessoais, especialmente a de Goethe, naelaboração de seu trabalho.

A partir das orientações de Humboldt, a Geo-grafia passaria a englobar reflexões sobre o homem esobre a natureza. Entre 1799 até 1804, a expedição deHumboldt ao Novo Mundo percorreu a região queintitulou de equinocial, hoje correspondente àVenezuela, Cuba, Colômbia, Equador, Peru e México.Sua viagem foi marcada pelo novo espírito científico

FIGURA 3. Willian Turner, Chuva, vapor e velocidade, 1844.

Fonte: National Gallery, London.

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de investigação. A realização do mapeamento e análisedetalhada das paisagens encontradas possibilitou umlegado de conhecimento sobre diversos aspectos, emespecial dos elementos geográficos, tanto na perspec-tiva física, quanto cultural (KOHLHEPP, 2006).

As contribuições sensíveis do campo da Arteexerceram um forte legado sob a ótica científica deHumboldt, bem como de todos aqueles que incorpora-ram os princípios do romantismo. Os instrumentos ci-entíficos, métricos e quantitativos, foram associadosao recurso permanente da pintura. A síntese da paisa-gem apenas se completava na medida em que eramassociados os aspectos estéticos e da percepção. Con-forme o próprio Humboldt (Apud Alves 2005, p.69)“(...) a ciência é o espírito aplicado à natureza, maso mundo exterior só passa a existir para nós no mo-mento em que, pela via da intuição se reflete no nos-so interior.”

3. DE HUMBOLDT A VON MARTIUS NA GEO-GRAFIA DO NOVO MUNDO

A partir da expansão colonialista do século XVIsurgiu um “novo” mundo, responsável pela provoca-ção de outros olhares e, neste sentido, novas deman-das ao pensamento geográfico. Ainda assim, a empre-sa colonial da América por muito se manteve fechadaàs descobertas e às reflexões das ciências em geral,inclusive das ciências naturais. A ação de rapinagemdas Coroas colonialistas foi predominantemente insen-sível ao conhecimento efetivo da realidade encontradanos trópicos.

Tratando da história da devastação da florestaAtlântica, Dean (1996) desmistifica a relação do ho-mem com a floresta, ambiente desde sempre inóspitopara o humano. Este antagonismo acompanha as soci-edades humanas, o que torna evidente que os coloni-zadores não encontraram intacta o ambiente naturaldeste continente americano. Imbuídos do interessemercantil de exploração e inebriados pela crença naabundância de espécies naturais, apenas muito tardia-mente este espaço tornar-se-ia palco de interesse e dedisponibilidade de estudos e pesquisas. A ignorância eo desperdício caminharam lado a lado nesta empreita-

da de dominação territorial conhecida como coloniza-ção do “novo” mundo.

Foi, no entanto, na etapa de consolidação daciência moderna, entre os séculos XVIII e XIX, queos cientistas tornaram-se imbuídos de uma nova visãoacerca do valor das expedições científicas. Exatamen-te neste contexto, Humboldt obteve habilidosamente aconcessão da Coroa espanhola para o estudo minucio-so de vastas regiões da América Central e do Sul. Suaentrada no território de domínio português, no entan-to, foi vetada.

Apenas a partir de 1808, com a transferênciada família real portuguesa para o Brasil, foragida dastropas de Napoleão, iniciaram-se as primeiras expedi-ções científicas à América portuguesa, graças à aber-tura dos portos às nações estrangeiras. Entre os via-jantes que aqui estiveram nesta época, destacam-se osnaturalistas Spix e Martius, Eschwege, Saint-Hilaire, opríncipe Maximiliano von Wied-Neuwied, o barãoLangsdorff, cônsul da Rússia, os pintores Debret,Rugendas, Ender e os ingleses John Luccock, MariaGraham e John Mawe. (DEAN, 1996).

Em função das próprias condições de transfe-rência da Corte portuguesa, que evidenciavam a deca-dência econômica e política do país, o reconhecimen-to e a exploração do potencial produtivo brasileiro as-cendiam como elementos imperativos. Aos olhos daCoroa, o patrimônio natural seria salvaguarda da ri-queza do império colonial. Segundo Dean (1996, p.140):

(...) a Coroa não hesitou em instalar em suanova corte poderosos instrumentos de inves-tigação do mundo natural: uma gráfica, umabiblioteca, uma escola de medicina, um la-boratório de análises químicas, uma cátedrade ensino agrícola (em Salvador) e uma aca-demia militar, cujas funções incluíam enge-nharia civil e mineração.

Neste período, duas instituições criadas cons-tituiriam o berço da rede das ciências naturais brasilei-ra, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro e o Museu deHistória Natural. Este último, embora tenha sido cria-

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do em 1808 chegou a ser fechado em 1813 para serreaberto apenas a partir da influência da arquiduquesaaustríaca Maria Leopoldina. Ao vir para o Brasil,Leopoldina abriu o Brasil para outras nações do pontode vista científico; sua ligação com as ciências naturaispossibilitou que viesse para o Brasil acompanhada porum grupo prestigioso de investigadores da natureza,cientistas austríacos e germânicos. (DEAN, 1995, p.140) Dentre estes estavam Johann Emanuel Pohl, KarlFriedrich Philipp von Martius e Johan Baptista vonSpix (FERREIRA, 2006).

A botânica estava entre os campos de estudoscientíficos mais apreciados do período. No entanto,não havia delimitação precisa entre as áreas de pesqui-sa, especialmente em função da formação dos pesqui-sadores, quase todos de origem germânica ou france-sa. Em seus países de origem fervilhavam as novasidéias e muitos destes cientistas eram influenciados pelacorrente romântica, que já havia trazido contribuiçõesimportantes para os estudos do continente americanoatravés do extenso e profundo trabalho de Humboldt edo botânico Aimé Bonplant.

Muitas destas expedições foram compostas porcientistas e artistas, sendo que alguns desses se torna-ram independentes no objetivo de retratação da reali-dade vivenciada. A profusão de cores, o calor, a diversi-dade étnica, enfim tudo questionava a métrica, a for-ma neoclássica da pintura do século XIX. Este desafiotambém se apresenta como referência para a compreen-são dos contornos assumidos por este “novo” mundo.

Embora um artista possa retratar com preci-são esta ou aquela flor no solo da floresta, afloresta inteira desafia a habilidade artísti-ca. Nenhuma pintura ou foto - que não pas-sam de meras obras - consegue captar a pre-sença envolvente, misteriosa, da floresta, sua“solidez plástica”. (DEAN, 1996, p.142)

A história da Geografia brasileira teria umaimportante propulsão a partir do século XIX, no en-tanto, suas raízes remontam à primeira etapa da colo-nização. Elementos de caracterização da vegetaçãoestão presentes já na carta de Pero Vaz de Caminha.

Os padres Manuel da Nóbrega (1559) e José deAnchieta produziram relatos que traduziam observa-ções sobre a cultura do fumo e sobre a vegetação emgeral. Nicolas Durand de Villegaignon e André Thevetdescreveram uma diversidade considerável de aves.Estas descrições eram marcadas pela composição en-tre a observação e a incorporação dos elementosfantasiosos, típicos da produção do século XVI(CAMARGO, 2002).

Segundo Camargo (2002), ainda no século XVIforam registrados escritos mais objetivos sobre o am-biente geográfico do Brasil, dentre eles o de Jean deLery (1578) e Fernão Cardim (1625), tendo este últi-mo publicado “Do clima e da terra do Brasil”. Mas,chama a atenção o tratado enciclopédico realizado pelofazendeiro Gabriel Soares de Souza, do qual resultousua sugestão ao então Rei Felipe I, acerca da relevân-cia do saber geopolítico, isto é, da compatibilizaçãoentre a política administrativa da colônia e suas condi-ções geográficas.

Durante o governo de Maurício de Nassau noperíodo de domínio holandês no nordeste brasileiro, otrabalho científico e o artístico, que se vinculava aoprimeiro, foram estimulados. Destaca-se nesta etapa avinda de Jorge Marcgrave (1610-1644), responsávelpor fundar um observatório astronômico em Recife,então capital da colônia. As pesquisas de Marcgraveassumiram intenso caráter geográfico e cartográfico,seguindo seu objetivo de inventariar o domínio naturaldo território. Para Camargo (2002), a descriçãoetnográfica seguia objetivo claro, no sentido de elucidaro entrosamento e a obediência ao fator geográfico naspráticas e na distribuição da população.

Já no final do século XVIII, Martinho de Meloe Castro responsável por substituir o Marquês de Pom-bal também enviou expedição científica ao Brasil como intuito de estudar as riquezas naturais, clima e núcle-os de povoamento. Dirigida por um brasileiro, Alexan-dre Rodrigues de Almeida, naturalista baiano, esta ex-pedição gerou um acervo bastante rico, que instaladoem Lisboa terminou sendo capturado pelos francesesapós a invasão de Portugal pelas tropas napoleônicas(CAMARGO, 2002).

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É compreensível, no entanto, que de formamais contínua e consistente, os estudos científicos re-alizados no Brasil a partir da transferência da Cortetenham se tornado mais expressivos. Nesta etapa, in-teressa destacar a obra dos naturalistas que estiveramem solo brasileiro e desenvolveram seus trabalhos apartir da concepção romântica, que havia marcado otrabalho de Humboldt na América. Podemos dizer queaqueles que mais se aproximaram ou mais veemente-mente reivindicaram a herança humboldtiana foramFriederich Von Martius e Auguste Saint Hilaire.

Conforme Kury (2001) deve-se salientar quea atuação dos viajantes naturalistas era a expressão deuma vertente científica que defendia a necessária fu-são entre a pesquisa metódica associada à percepção,à tradução sensível da realidade. Segundo esta autora,o debate entre Georges Cuvier e Humboldt retrata deforma estupenda um embate que ressonaria a partirdaí, favoravelmente à posição do primeiro e em detri-mento do caminho propugnado pelos cientistas român-ticos. Para Cuvier, a ausência da experiência sensorial

da pesquisa científica realizada no ambiente controla-do (gabinetes, jardins botânicos e outros) era compen-sada por todas as possibilidades de acesso às informa-ções comparadas, às bibliotecas, sendo, portanto, su-perior àquilo que se podia produzir a partir da experi-ência proporcionada pelas viagens. Segundo Cuvier “Oviajante percorre apenas um caminho estreito. É uni-camente no gabinete que se pode percorrer o univer-so em todos os sentidos” (Apud KURY, 2001, p.864).

Por outro lado, para os viajantes que deramcontinuidade à linha de trabalho de Humboldt, a expe-riência estética compunha a atividade científica. O gostoe a sensibilidade integravam o processo de construçãodo conhecimento, o que não significava prescindir damedição de maneira sistemática e precisa no que serefere aos fatores físicos. O romantismo alemão, a partirde Kant, depositava na arte a capacidade de levar ocientista ao alcance daquilo que a razão, por meio dafilosofia, não tornaria possível. Neste sentido, o artistaproporcionaria o que os filósofos não seriam capazesde proporcionar em termos de apreensão da realidade.

FIGURA 4. Carl Friedrichi P. Von Martius.

Fonte: Kury, 2001.

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A expedição liderada por Martius permitiu clas-sificações precisas, organização de herbários e traba-lhos em antropologia e história. Mas este trabalho foiorganizado e descrito a partir do exercício da sensibili-dade. Registra-se a busca incessante dos pesquisado-res por traduzir aquilo que transcende aos elementostangíveis da realidade. A FIG. 4 é um exemplar destaproposição do pesquisador em busca de uma síntese,que traduzisse os elementos expressivos do imaginá-rio, da abundância e diversidade florestal, da imposi-ção religiosa, conectadas à concreta demarcação doposicionamento geográfico.

Em sua obra, derivada dos estudos realizadosna expedição pelo Brasil, Flora Brasiliensis (de 1840),Martius procurou articular texto e imagem de formaorgânica (KURY, 2001). A natureza é tratada nestaobra como um conjunto de indivíduos, animais e ve-getais. “Para os naturalistas do século XIX, a ciên-cia devia buscar descrever a totalidade de elementos

que atuavam em um fenômeno local. É como se cadaparte contivesse o todo.” (KURY, 2001, p.870)

Vale destacar que as obras artísticas ao seremincorporadas no corpo de trabalho das expedições pas-saram a cumprir uma função, qual seja a de viabilizara expressão do fenômeno sob outra matriz que nãoapenas a predominante, a escrita. Isto vale tanto paraa expressão pictórica, como para a poética. A referên-cia poética esteve freqüentemente em Goethe, mas tam-bém em outros literatos. Isto também vale para a pin-tura, muitas delas pouco importantes do ponto de vistada produção artística em si. Algumas expedições, porsua vez, contaram com pintores especialmente contra-tados para a função de traduzir os fenômenos e a rea-lidade sócio-cultural dos locais visitados, como foi ocaso do pintor Rugendas, assim como Taunay, queparticiparam da expedição organizada pelo barão GeorgHeinrich Von Langsdorff.

FIGURA 5: Johan M. Rugendas. Rua Direita.

Fonte: Museu Castro Maya/Iphan, Rio de Janeiro.

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Ambos, cientista e artista viam-se confronta-dos com uma realidade tanto diversa, como complexa,a ser desvendada, compreendida e, do ponto de vistado interesse colonial, rastreada. O “novo” mundo foiperdendo paulatinamente o caráter de “outro” mundo,tornando-se desencantado, da visão paradisíaca e dadescrição idílica do bom selvagem à condição de mun-do concreto, de natureza a ser dominada pelo conheci-mento. Ilustrando esta condição, Siqueira (2006) trataa obra de Rugendas, para quem a cidade do Rio deJaneiro era tão difícil de representar, quanto a paisa-gem tropical. Em sua tela Rua Direita, Rugendas (FIG.5) expressa exatamente este desafio do inesperado, daausência da uniformidade que requer do artista umnovo olhar.

É possível dizer que o esforço de síntese reali-zado pelos cientistas românticos se aproxima da abor-dagem ecológica contemporânea, na medida em queexplora a relação homem-natureza a partir da ótica dascorrelações e cooperações. De forma impressionante,a empresa destes cientistas, tanto Humboldt, comoMartius e outros que seguiram a mesma proposição,buscou fundir no estudo da natureza todos os demaiselementos relevantes à compreensão do mundo e deseus fenômenos.

Os estudos de Humboldt proporcionaram ele-mentos essenciais para a compreensão dos fenômenosrelativos ao clima e vegetação e, neste sentido, consti-tuíram elementos fundantes da moderna Geografia fí-sica. Por outro lado, trouxeram as análises de cunhoregional como contribuição para o campo da Geogra-fia Humana, que também viria a se consolidar moder-na-mente. Tal como Martius, aqueles cientistas, queseguiram esta mesma proposição, deram continuidadea uma linha de construção do conhecimento que bus-cava a compreensão do mundo a partir da unificaçãoentre elementos da razão e da sensibilidade. Partia-sede um pressuposto muito claro de que apenas seriapossível apreender a realidade partindo de sua com-plexidade. Para Morin (2000b, p.1), “o problema doconhecimento é um desafio porque só podemos co-nhecer, como dizia Pascal, as partes se conhecermoso todo em que se situam, e só podemos conhecer otodo se conhecermos as partes que o compõem”.

4. GEOGRAFIA: UMA CIÊNCIA EM BUSCA DASÍNTESE E DA COMPLEXIDADE

O conceito de paisagem a partir de Humboldtconsolidou-se como elemento fundante da síntese en-tre os dois aspectos essenciais à ciência, o humano e onatural. Este conceito foi incorporado à Geografia etornou-se vital até o início do século XX. Ao longo dotempo, é notório que o termo acabaria sofrendo modi-ficações relevantes. (SALGUEIRO, 2001). Os refle-xos da especialização científica, sob a égide do posi-tivismo e da corrente neopositivista no século XX, se-riam evidenciados também na ciência geográfica.Marcadamente nesta ciência, tornaram-se hegemônicosdois campos de produção do conhecimento, a Geogra-fia Física e a Humana.

A Geografia, tal como nos propusemos a pen-sar nesta discussão, apresenta-se como uma ciência,que na sua fundação partiu da síntese e não da especi-alização. Nela apresentaram-se interconectados os cam-pos dicotomizados pela ciência moderna, o natural e osocial, bem como o racional e o sensível. Deve-se con-siderar que a roupagem moderna, racionalizadora ematematizada, encontrou um campo extremamentefértil nas ciências naturais e marginalizou em grandeparte a ciência social, cujo objeto, em geral, é intrinse-camente subjetivo, tendo realizado o mesmo com ocampo da Arte. Este embate foi internalizado por estaciência, o que se refletiu especialmente no campoepistêmico.

Contemporaneamente, várias questões quepertenceram ao seu marco fundador voltaram a sercolocadas em meio ao debate reaberto no último quar-tel do século XX, que gira em torno da crise da ciênciamoderna. Sem dúvida, são controversas a extensão ea profundidade desta crise, mas suficientemente po-tentes e capazes de suscitar a criatividade e a renova-ção do pensamento científico. Refletindo sobre a “ce-gueira do conhecimento”, Morin (2000a) demonstraque o conhecimento comporta tanto o erro, como ailusão. Em busca da eliminação de ambos, erro e ilu-são, a razão foi alçada ao primeiro plano da ciência.No entanto, a racionalidade teria se transformado emracionalização, entendida como sistema lógico, perfei-

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to e irrefutável. Neste sentido, todos os elementos dapercepção, da afetividade, portanto da subjetividadehumana, teriam sido descartados. Perverteu-se assima busca do conhecimento em arrogância, distanciadada compreensão efetiva da sociedade humana.

Através da especialização, a natureza conver-teu-se em um campo do conhecimento científico daGeografia, pertencente a uma de suas especialidadesde forma mais explícita, a Geografia Física. Foi a frag-mentação científica que se responsabilizou pela exis-tência deste campo, com objeto aparentemente tão dis-tante do campo da Geografia Humana. ConformeSuertegaray (2001), muitos teóricos da Geografia físi-ca buscaram reencontrar a análise integrada do meiofísico a partir de conceitos como paisagem, posterior-mente, geosistema e sistemas físicos. De acordo comesta autora, este caminho foi retomado a partir dosanos 70, quando veio à tona a discussão ambiental ecom ela o resgate da ecologia e da idéia de relaçãoentre os organismos e seus ambientes.

Conforme Mathews (2004), a modernidadetrouxe à Geografia a percepção da necessária separa-ção entre o mundo humano e biofísico. Porém, a ques-tão ambiental teria recolocado a necessária inter-rela-ção entre os dois campos, o que tem se apresentadode forma mais contundente na produção teórica dosgeógrafos físicos. As novas tendências de pesquisa,em especial aquelas que estão focadas no meio ambi-ente, estariam provocando uma retomada do pensa-mento sintético na Geografia. Beaumont (2004) criticaa insuficiência de estudos profundos na perspectivaambiental a partir da Geografia, mas destaca que entreos geógrafos que estão dedicados a esta temática exis-te uma profusão de questões relacionadas à história eantropologia, que confirmam a tendência da síntese.

Dentro deste contexto, quando se coloca a“necessidade de um pensamento complexo” (Morin,2000b) e que se percebe um novo percurso da Geo-grafia em busca da síntese científica é que também sereforça, a nosso ver, a importância de refletir sobre ascontribuições dos naturalistas viajantes. Baseados namatriz filosófica do romantismo, em sua vertente ale-mã, consolidaram em suas obras no século XIX uma

preocupação e uma experiência de síntese, que de an-temão deve ser valorizada como referência histórica.

Neste primeiro decênio do século XXI, medi-ante a esquizofrenia do sistema capitalista e suas crisescrônicas, as verdades científicas permanecem sendoquestionadas, torna-se possível superar a matriz depensamento que considerou o humano como centrodo mundo, mestre e dominador da natureza. É possí-vel que esta nova tendência à complexidade tambémseja abortada como o foi no século XIX, no entanto,no tempo presente podemos nos dispor às proposiçõesousadas como fizeram Humboldt e todos os pensado-res que por ele foram influenciados.

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