a complexidade do pensamento matemático e a qualidade das aprendizagens: a escrita como tarefa...

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*Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia no âmbito do Projeto Promover o Sucesso em Matemática (contrato PTDC/CPE-CED/121774/2010). Resumo . Propomos um modelo de análise para as respostas dos alunos, sustentado nas teorizações de Tall sobre o pensamento matemático, na taxonomia SOLO e no modelo da teoria da atividade de Engeström que conduz à conjetura que o pensamento matemático pode ser visto de duas formas diferentes: de forma processual como um processo memorizado e/ou um procedimento e de forma proceptual. Neste poster o modelo de análise é utilizado para analisar respostas a uma tarefa de simplificação de expressões numéricas. Enquadramento. A integração da escrita nas tarefas matemáticas permite que a comunicação matemática seja útil não só para os alunos, potenciando a sua compreensão sobre o tópico abordado, mas também para o professor, que analisa mais do que somente o algoritmo de resolução, permitindo clarificar o pensamento matemático envolvido na resposta. Referências. Biggs, J. & Collis, K. (1982). Evaluating the quality of learning . London: Academic Press. Engeström, Y. (2001). Expansive Learning at Work: toward an activity theoretical reconceptualization . Journal of Education and Work 14 (1), (133-156) : DOI: 10.1080/13639080020028747 Gray, E. & Tall, D. (1994). Duality, Ambiguity and Flexibility: A Proceptual View of Simple Arithmetic, The Journal for Research in Mathematics Education, 26 (2) , 115-141. Tall, D. (Ed.). (2002). Advanced mathematical thinking. New York: Kluwer Academic Publishers. A complexidade do pensamento matemático e a qualidade das aprendizagens: A escrita como tarefa matemática* Fernando Luís Santos 1 & António Domingos 2 1 ESE Jean Piaget de Almada, Instituto Piaget & UIED FCT-UNL, ([email protected]) 2 Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa & UIED FCT-UNL, ([email protected]) Aluno Resposta Conteúdos, processos e procedimentos Professor Taxonomia SOLO, proceito, bifurcação proceptual Conhecimento expresso Conhecimento avaliado Conhecimento do conteúdo Normas sociomatemáticas Curso de Educação Básica Papel do aluno Normas sociomatemáticas Formação inicial de professores; Educação matemática Lecionação, avaliação e investigação Resposta Níveis (Taxonomia SOLO) Pensamento matemático Ação do aluno Abstrato (Extended abstract) O aluno conceptualiza a um nível superior ao requerido na própria aprendizagem. Pode generalizar para novas áreas. Pensamento proceptual Proceito, conhecimento significativo e conhecimento derivado. Teoriza, generaliza, apresenta hipótese, reflete. Relacional Indica uma orquestração entre factos e teorias, ação e objetivos. Compreensão de vários componentes que são integrados conceptualmente. Pode aplicar o conceito a problemas familiares ou situações de trabalho. Compara, explica as causas, integra, analisa, relata, aplica. Multi-estrutural Indica compreensão de limites, mas não de sistemas de rede. Compreende os vários componentes, mas de uma forma discreta. Tem uma coleção de ideias ou conceitos sobre o assunto, mas ainda desorganizadas. Não é capaz de relacionar itens de uma lista. Pensamento processual Procedimento e conhecimento memorizado. Enumera, classifica, descreve, lista, combina, trabalha com algoritmos. Uni-estrutural Compreensão concreta e minimalista de uma área. Focalizado num tópico conceptual em detrimento do panorama geral. Identifica, memoriza, realiza procedimentos simples. Pré-estrutural Não demonstra compreensão. Não consegue relacionar. Metodologia. Análise qualitativa e intepretativa recorrendo ao modelo de análise, a respostas de dois alunos do 1.º Ciclo de Educação Básica (Formação inicial de professores de 1.º e 2.º Ciclos e Educação de Infância), à simplificação da expressão, classificada como possivelmente multi-estrutural : ( 2 2 ) 6 × [ ( 1 2 ) 3 ] 4 ÷ [ ( 1 ) 5 ] 2 Aluno A. Aluno B. Sistema de atividade - aluno Sistema de atividade - professor Modelo de análise Aluno A. Sem contradições. Teoremas e regras. Sem contradições Resposta de acordo com o esperado. Nível SOLO: relacional Pensamento proceptual, com evidências de conhecimento derivado. Aluno B. Regras Artefacto Resposta Teoremas e regras com texto corrido. Regras Artefacto Resposta Resposta diferente do esperado. Nível SOLO: multi-estrutural Pensamento processual, com evidências de conhecimento memorizado.

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Propomos um modelo de análise para as respostas dos alunos, sustentado nas teorizações de Tall sobre o pensamento matemático, na taxonomia SOLO e no modelo da teoria da atividade de Engeström que conduz à conjetura que o pensamento matemático pode ser visto de duas formas diferentes: de forma processual como um processo memorizado e/ou um procedimento e de forma proceptual. Neste poster o modelo de análise é utilizado para analisar respostas a uma tarefa de simplificação de expressões numéricas.

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Page 1: A complexidade do pensamento matemático e a qualidade das aprendizagens: a escrita como tarefa matemática

*Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia no âmbito do Projeto Promover o Sucesso em Matemática (contrato PTDC/CPE-CED/121774/2010).

Resumo. Propomos um modelo de análise para as respostas dos alunos, sustentado nas teorizações de Tall sobre o pensamento matemático, na taxonomia SOLO e no modelo da teoria da atividade de Engeström que conduz à conjetura que o pensamento matemático pode ser visto de duas formas diferentes: de forma processual como um processo memorizado e/ou um procedimento e de forma proceptual. Neste poster o modelo de análise é utilizado para analisar respostas a uma tarefa de simplificação de expressões numéricas.

Enquadramento. A integração da escrita nas tarefas matemáticas permite que a comunicação matemática seja útil não só para os alunos, potenciando a sua compreensão sobre o tópico abordado, mas também para o professor, que analisa mais do que somente o algoritmo de resolução, permitindo clarificar o pensamento matemático envolvido na resposta.

Referências. Biggs, J. & Collis, K. (1982). Evaluating the quality of learning. London: Academic

Press.Engeström, Y. (2001). Expansive Learning at Work: toward an activity theoretical

reconceptualization . Journal of Education and Work 14 (1), (133-156): DOI: 10.1080/13639080020028747

Gray, E. & Tall, D. (1994). Duality, Ambiguity and Flexibility: A Proceptual View of Simple Arithmetic, The Journal for Research in Mathematics Education, 26 (2), 115-141.

Tall, D. (Ed.). (2002). Advanced mathematical thinking. New York: Kluwer Academic Publishers.

A complexidade do pensamento matemático e a qualidade das aprendizagens: A escrita como tarefa matemática*Fernando Luís Santos1 & António Domingos2

1ESE Jean Piaget de Almada, Instituto Piaget & UIED FCT-UNL, ([email protected])2Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa & UIED FCT-UNL, ([email protected])

Aluno Resposta

Conteúdos, processos e procedimentos

Professor

Taxonomia SOLO, proceito, bifurcação proceptual

Conhecimento expresso

Conhecimento avaliado

Conhecimento do conteúdo

Normas sociomatemáticas

Curso de Educação

Básica

Papel do aluno

Normas sociomatemáticas

Formação inicial de professores; Educação

matemática

Lecionação, avaliação e investigação

Resposta

Níveis (Taxonomia SOLO)Pensamento matemático

Ação do aluno

Abstrato (Extended abstract) O aluno conceptualiza a um nível superior ao requerido na própria aprendizagem. Pode generalizar para novas áreas. Pensamento

proceptual Proceito, conhecimento significativo e conhecimento derivado.

Teoriza, generaliza, apresenta hipótese, reflete.

RelacionalIndica uma orquestração entre factos e teorias, ação e objetivos. Compreensão de vários componentes que são integrados conceptualmente.Pode aplicar o conceito a problemas familiares ou situações de trabalho.

Compara, explica as causas, integra, analisa, relata, aplica.

Multi-estruturalIndica compreensão de limites, mas não de sistemas de rede. Compreende os vários componentes, mas de uma forma discreta.Tem uma coleção de ideias ou conceitos sobre o assunto, mas ainda desorganizadas. Não é capaz de relacionar itens de uma lista. Pensamento

processual Procedimento e conhecimento memorizado.

Enumera, classifica, descreve, lista, combina, trabalha com algoritmos.

Uni-estruturalCompreensão concreta e minimalista de uma área. Focalizado num tópico conceptual em detrimento do panorama geral.

Identifica, memoriza, realiza procedimentos simples.

Pré-estruturalNão demonstra compreensão.

Não consegue relacionar.

Metodologia. Análise qualitativa e intepretativa recorrendo ao modelo de análise, a respostas de dois alunos do 1.º Ciclo de Educação Básica (Formação inicial de professores de 1.º e 2.º Ciclos e Educação de Infância), à simplificação da expressão, classificada como possivelmente multi-estrutural:

(22)

6×[(− 1

2 )3

]4

÷[ (−1 )5]

2

Aluno A.

Aluno B.

Sistema de atividade - aluno Sistema de atividade - professor Modelo de análise

Aluno A. Sem contradições.Teoremas e regras.

Sem contradiçõesResposta de acordo com o esperado.

Nível SOLO: relacionalPensamento proceptual, com evidências de conhecimento derivado.

Aluno B.Regras Artefacto Resposta↔ ↔Teoremas e regras com texto corrido.

Regras Artefacto↔ ↔ RespostaResposta diferente do esperado.

Nível SOLO: multi-estruturalPensamento processual, com evidências de conhecimento memorizado.