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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA – CT
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA – CCET PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E
ENGENHARIA DE PETRÓLEO – PPGCEP
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Síntese, Caracterização e Aplicação de LaSBA-15 e
como catalisador para Obtenção de Biodiesel de Soja via Rota Etílica
LARISSA CICIANNY LUZ FERREIRA DE ARAÚJO
Orientador: Prof. Dr. Antonio Sousa de Araujo
Natal/RN
Julho de 2011
LARISSA CICIANNY LUZ FERREIRA DE ARAÚJO
Síntese, Caracterização e Aplicação de LaSBA-15 e
como catalisador para Obtenção de Biodiesel de Soja via Rota Etílica
Natal/RN
Julho de 2011
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / SISBI / Biblioteca Setorial
Especializada do Centro de Ciências Exatas e da Terra – CCET.
Araújo, Larissa Cicianny Luz Ferreira de.
Síntese, caracterização e aplicação de LaSBA-15 e como catalisador para
obtenção de biodiesel de soja via rota etílica / Larissa Cicianny Luz Ferreira de
Araújo. – Natal, RN, 2011.
101 f. : il.
Orientador: Prof. Dr. Antônio Sousa de Araújo.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro
de Ciências Exatas e da Terra. Programa de Pós-Graduação em Ciência e
Engenharia de Petróleo.
1. Catálise heterogênia - Dissertação. 2. Peneira molecular mesoporosa –
Dissertação. 3. Etanólise – Dissertação. 4. Biodiesel – Dissertação. I. Araújo,
Antônio Sousa de. II. Título.
RN/UF/BSE-CCET CDU 544:47:544.344
LARISSA CICIANNY LUZ FERREIRA DE ARAÚJO
Síntese, Caracterização e Aplicação de LaSBA-15 e
como catalisador para Obtenção de Biodiesel de Soja via Rota Etílica
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-graduação em Ciência e
Engenharia de Petróleo PPGCEP, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
como parte dos requisitos para obtenção do título
de Mestre em Ciência e Engenharia de Petróleo.
Aprovado em ____de__________de 2011.
____________________________________
Prof. Dr. Antonio Sousa de Araujo Orientador – UFRN
____________________________________
Profª Dra Ana Paula de Melo Alves Membro Interno – UFRN
____________________________________
Profª Dra Ana Catarina Fernandes Coriolano Membro Externo – Unp
ARAÚJO, L. C. L. F. de Síntese, Caracterização e Aplicação de LaSBA-15 e como
catalisador para Obtenção de Biodiesel de Soja via Rota Etílica. Dissertação de
Mestrado, UFRN, Programa de Pós-graduação em Ciência e Engenharia de Petróleo. Área de
Concentração: Pesquisa e Desenvolvimento em Ciência e Engenharia de Petróleo. Linha de
Pesquisa: Meio Ambiente, Natal – RN, Brasil.
Orientador: Prof. Dr. Antonio Sousa de Araujo
RESUMO
O biodiesel é um combustível alternativo, renovável, biodegradável e não tóxico. A
transesterificação dos óleos vegetais ou gordura animal com álcool é a forma mais usual de
produção desse combustível. O procedimento de produção de biodiesel ocorre mais
comumente através da reação de transesterificação, na qual se utiliza catalisadores para
acelerar e aumentar seu rendimento, podendo ser básico, ácido ou enzimático. O uso da
catálise homogênea requer condições e etapas específicas de purificação dos produtos da
reação (éster alquílicos e glicerol) e remoção do catalisador ao término da reação. Como
alternativa para melhorar o rendimento da reação de transesterificação, minimizar os custos
com a produção é que muitos estudos estão sendo realizados com aplicação de catálise
heterogênea. O uso de materiais nano-estruturados como catalisadores na produção de
biodiesel é uma alternativa para obter um biocombustível semelhante ao diesel mineral.
Mesmo sendo mais lentos, conseguem transesterificar os triglicerídeos e esterificar os ácidos
graxos livres, além de sofrerem pouca influência da água, que possa estar presente na matéria-
prima. Este trabalho teve como objetivo a síntese, caracterização e aplicação de materiais
nano-estruturados como catalisadores na reação de transesterificação de óleo de soja, para
obtenção de biodiesel pela rota etílica. O material do tipo SBA-15 contendo lantânio
incorporado na estrutura mesoporosa, com razão Si/La=50, foi utilizado como catalisador. As
amostras sólidas foram caracterizadas por difração de raios-X, análise termogravimétrica,
espectroscopia na região do infravermelho, adsorção e dessorção de nitrogênio. Para o
processo de transesterificação, utilizou-se uma razão molar entre álcool e óleo de 20:1 com
0,250 g de catalisador, temperatura de 60ºC e tempos de 6 horas de reação. Determinou-se o
teor de ésteres etílicos pela análise de H-RMN e cromatografia a gás. Foi verificado que a
variável de conversão obtida foi de 80%, mostrando uma boa atividade catalítica do LaSBA-
15 na transesterificação do óleo de soja via rota etílica.
Palavras-chave: LaSBA-15. Catalise Heterogênea. Etanólise. Biodiesel.
ABSTRACT
Biodiesel is an alternative fuel, renewable, biodegradable and nontoxic. The
transesterification of vegetable oils or animal fat with alcohol is most common form of
production of this fuel. The procedure for production of biodiesel occurs most commonly
through the transesterification reaction in which catalysts are used to accelerate and increase
their income and may be basic, acid or enzyme. The use of homogeneous catalysis requires
specific conditions and purification steps of the reaction products (alkyl ester and glycerol)
and removal of the catalyst at the end of the reaction. As an alternative to improve the yield of
the transesterification reaction, minimize the cost of production is that many studies are being
conducted with the application of heterogeneous catalysis. The use of nano-structured
materials as catalysts in the production of biodiesel is a biofuel alternative for a similar to
mineral diesel. Although slower, can esterify transesterified triglycerides and free fatty acids
and suffer little influence of water, which may be present in the raw material. This study
aimed at the synthesis, characterization and application of nano-structured materials as
catalysts in the transesterification reaction of soybean oil to produce biodiesel by ethylic
route. The type material containing SBA-15 mesoporous lanthanum embedded within rightly
Si / La = 50 was used catalyst. Solid samples were characterized by X-ray diffraction,
thermogravimetric analysis, infrared spectroscopy, nitrogen adsorption and desorption. For
the transesterification process, we used a molar ratio of 20:1 alcohol and oil with 0.250 g of
catalyst at 60°C and times of 6 hours of reaction. It was determined the content of ethyl esters
by H-NMR analysis and gas chromatography. It was found that the variable of conversion
obtained was 80%, showing a good catalytic activity LaSBA-15 in the transesterification of
vegetable oils via ethylic route.
Keywords: LaSBA-15. Heterogeneous catalysis. Ethanolysis. Biodiesel.
Aprender é a única coisa
de que a mente
nunca se cansa,
nunca tem medo e
nunca se arrepende."
(Leonardo da Vinci)
AGRADECIMENTOS
A Deus nosso senhor, pela sua presença viva em todos os momentos de minha vida e
que sempre esteve ao meu lado.
A minha mãe pela grandiosidade em minha, donde busco inspiração.
Ao ser mais precioso da minha vida, a razão do meu existir, meu filho Pedro
Eduardo, por ser este SER iluminado e preencher minha vida de amor e ternura.
A meu esposo por tudo que me proporciona a cada dia, fazendo de mim melhor.
Aos Professores doutores Antonio Souza de Araújo, a Professora Ana Catarina
Coriolano, a Professora Ana Paula Alves, a Professora Regina Delgado e ao Professor
Valter Fernandes Junior pelo companheirismo, dedicação, amizade e orientação científica
ao longo de minha vida acadêmica.
As amigas Aline, Edjane, Hellyda, Maria José (Dedeia), Mirna e Verushka por
todo amor e carinho, nos momentos mais difíceis de minha vida.
A minha querida “Madrinha”, Solange Quintela pela relevante e incomensurável
contribuição, amizade e apoio.
A Adalgisa, Amanda, Ana Beatriz, Ana Cláudia, Anne Gabriella, Aruzza,
Camila, Cícero, Júlio, Juciara, João Paulo, Késia,, Leticia, Lidiane, Marcela, Marcílio,
Regineide, Rennê, Taísa e Vinicius que fazem parte do Laboratório de Catálise e
Petroquímica pelos bons momentos de convivência e amizade.
A Camila, Jiliano, Lívia, Telma e Clovis, e todos que fazem parte do Laboratório de
Combustíveis e Lubrificantes, pela amizade e realização das análises solicitadas.
A minha querida Irany, por todo amor e carinho.
Aos alunos do Laboratório PVT Charlon e Pierre por toda ajuda dada nos
experimentos.
Ao Programa de Pós Graduação em Ciência e Engenharia do Petróleo pela oportunida.
Ao Laboratório Institucional de Raio X da UFRN, pelas análises realizadas.
A Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – pela
bolsa de mestrado concedida.
A todos aqueles que contribuíram de forma direta ou indiretamente, para a realização
desse estudo.
SUMÁRIO
1 Introdução................................................................................................................ 2
1.1 Justificativa.................................................................................................................... 5
1.2 Objetivos.......................................................................................................................... 5
1.2.1. Objetivo geral............................................................................................................. 5
1.2.2 Objetivos específicos..................................................................................................... 5
2 Aspectos teóricos................................................................................................................ 7
2.1. Petroquímica versus Petróleo........................................................................................ 7
2.2. Biocombustíveis.............................................................................................................. 11
2.3 Matéria-Prima................................................................................................................ 13
2.3.1 Fontes de ácidos graxos.............................................................................................. 13
2.3.2 Óleo de soja................................................................................................................. 16
2.3.2.1 Caracterização do óleo de soja......................................................................................... 17
2.3.3 Alcoóis........................................................................................................................ 20
2.4. Processos de Produção.................................................................................................... 20
2.4.1 Variáveis que influenciam o curso da reação de transesterificação.................................. 23
2.5 Catálise............................................................................................................................. 25
2.5.1 O uso de catalisadores químicos................................................................................. 25
2.5.2 Peneiras moleculares.................................................................................................. 26
2.5.3 Síntese Materiais Mesoporos do Tipo SBA-15........................................................... 28
2.6 Materiais porosos modificados......................................................................................... 30
2.7 Métodos de caracterização de materiais mesoporosos..................................................... 31
2.7.1 Análise Térmogravimetrica........................................................................................... 31
2.7.2 Difração de raios-X....................................................................................................... 32
2.7.3 Adsorção e dessorção de Nitrogênio............................................................................. 34
2.7.4 Microscopia Eletrônica de Varredura........................................................................... 37
2.7.5 Espectroscopia na Região do Infravermelho................................................................ 39
2.8 Avaliação catalítica do SBA-15....................................................................................... 40
3 Estado da arte.................................................................................................................... 42
3.1 História do Biodiesel...................................................................................................... 42
3.2 Desafios ambientais....................................................................................................... 45
3.3 Combustíveis renováveis ............................................................................................... 45
3.4 Novos catalisadores........................................................................................................ 47
4 Metodologia experimental................................................................................................ 49
4.1. Síntese do catalisador LaSBA-15............................................................................................ 49
4.2 Reagentes.................................................................................................................................. 49
4.3. Caracterização dos catalisadores..................................................................................... 52
4.3.1. Análise termogravimétrica (TGA/DTG)...................................................................... 52
4.3.2. Difração de Raios-X (DRX)......................................................................................... 52
4.3.3. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV).............................................................. 53
4.3.4. Espectroscopia na região do Infravermelho com transformação de Fourier (FTIR)... 54
4.3.5. Adsorção e dessorção de N2......................................................................................... 54
4.4. Caracterização do óleo.................................................................................................. 55
4.4.1. Massa Específica a 20ºC............................................................................................ 55
4.4.2. Viscosidade Cinemática a 40ºC................................................................................. 56
4.4.3. Índice de Acidez......................................................................................................... 57
4.4.4. Ácidos Graxos Livres................................................................................................. 57
4.4.5. Ponto de fulgor........................................................................................................... 58
4.4.6. Teor de Enxofre Total por Fluorescência Ultravioleta............................................... 58
4.5. Condições reacionais.....................................................................................................
59
5 Resultados e discussão...................................................................................................... 63
5.1 Caracterização dos catalisadores .................................................................................... 63
5.1.1 Análise termogravimétrica (TGA/DTG)....................................................................... 63
5.1.2 Difração de Raios-X (DRX).......................................................................................... 64
5.1.3 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)............................................................... 65
5.1.4 Espectroscopia na região do Infravermelho com transformação de Fourer (FTIR)..... 66
5.1.5 Adsorção e Dessorção de Nitrogênio (N2).................................................................... 67
5.2 Óleo de Soja................................................................................................................... 69
5.3 Atividade catalítica......................................................................................................... 70
6 Conclusão......................................................................................................................... 72
REFERÊNCIAS................................................................................................................... 75
LISTA DE FIGURAS
Capítulo II
Figura 2.1: Evolução dos biocombustíveis no Brasil............................................................ 9
Figura 2.3.2: (a, b) Plantação de soja........................................................................................... 16
Figura 2.4.2 Transesterificação de Triglicerídeo com Etanol................................................. 22
Figura 2.5.2 Representação das estruturas, (A) hexagonal, (B) cúbica, e (C) lamelar............ 27
Figura 2.5.3.1 Mecanismo de síntese do material SBA-15 a partir de copolímero................... 28
Figura 2.5.3.2 Difratograma de raios-X característico da SBA-15........................................... 29
Figura 2.5.3.3 Isoterma de adsorção/dessorção de N2 característica da SBA-15..................... 29
Figura 2.7.2.1 Esquema representativo para formulação da lei de Bragg................................. 33
A Figura 2.7.2.2 representa um difratograma da SBA-15........................................................ 34
Figura 2.7.3.1 Perfil das histereses de adsorção de nitrogênio.................................................. 36
Capítulo IV
Figura 4.2.1: Fluxograma da metodologia experimental da síntese dos catalisadores de sílica-
lantânio......................................................................................................................... 50
Figura 4.2.2 Sistema de calcinação dos catalisadores............................................................... 51
Figura 4.4.1 Termobalança TG/DTG...................................................................................... 52
Figura 4.4.2 Detalhe do difratômetro de Raios-X.................................................................. 53
Figura 4.4.3 Microscópico eletrônico de varredura................................................................ 53
Figura 4.4.5 Equipamento utilizado para as análises superficiais por adsorção/dessorção de
N2..........................................................................................................................................
55
Figura 4.6.1 Sistema utilizado na reação de transesterificação.............................................. 60
Figura 4.6.2 Separação da fase aquosa e dos ésteres etílicos.................................................. 61
Capítulo V
Figura 5.1.1.2: Curva termogravimétrica (TG/DTG) da amostra LaSBA-15 (Si/La=50) não
calcinadas..................................................................................................................................
63
Figura 5.1.2 Difração de Raio X das amostras de catalisadores................................................ 64
Figura 5.1.3 (a, b) - Micrografias eletrônica de varredura das amostras (a) SBA-15; (b)
LaSBA-15 (Si/La=50................................................................................................................
65
Figura 5.1.4 Espectros de infravermelho na região 4000-400 cm-1 para as amostras de
catalisadores sintetizadas..........................................................................................................
66
Figura 5.1.5 (a, b) - (a) Isoterma de adsorção/dessorção de nitrogênio da amostra SBA-15. Em
detalhe, a distribuição do diâmetro de poros desta amostra. (b) Isoterma de adsorção/dessorção
de nitrogênio da amostra La50SBA-15. Em detalhe, a distribuição do diâmetro de poros desta
amostra.......................................................................................................................................
67
Figura 5.3.1 Espectro de RMN 1H de óleo de soja puro..........................................................
69
Figura 5.3.2 Espectro de 1H RMN do éster etílico após 6 horas de reação.............................. 70
LISTA DE TABELAS
Capítulo II
Tabela 2.3.1 Comparação das características Físico-Químicas do Biodiesel e do Diesel....... 15
Tabela 2.3.2.1.1: Características Físico–Químicas do Óleo de Soja....................................... 18
Tabela 2.3.2.1.2: Composição média de ácidos graxos (%) do Óleo Soja.............................. 19
Capítulo V
Tabela 5.1.5 Características texturais sintetizadas amostras de materiais.............................. 67
Tabela 5.2: Características físico-químicas do óleo de soja................................................... 68
Tabela 5.3 Comparação da conversão de biodiesel.................................................................. 70
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 1: Introdução
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 2
1 Introdução
A sociedade mundial vem ponderando significativamente suas preocupações com a
preservação do meio ambiente, em todos os pontos inseridos no contexto econômico das
atividades industriais. Isso é evidenciado pelo inconveniente da produção de elementos
tóxicos prejudiciais a saúde humana e ao planeta, provocados por boa parte dos meios atuais
de geração e consumo de energia. Um dos primeiros relatos do uso de combustíveis
alternativos ao petrodiesel é do início do século XX, quando Rudolf Diesel (SHAY, 1993)
utilizou óleo vegetal em motores a diesel, observando que não ocorreu nenhuma alteração no
seu funcionamento. A evolução dos motores, com o passar dos anos, impossibilitou o uso
direto dos óleos vegetais, devido, principalmente, à sua elevada viscosidade.
As mudanças climáticas, induzidas em grande parte pelo uso de combustíveis fósseis,
associadas à preocupação com o desenvolvimento sustentável, tornam as fontes renováveis de
energia, extremamente necessárias, principalmente o uso daqueles tipos de fontes que
provocam menos danos ao meio ambiente. Nesse aspecto, a biomassa tem atraído muita
atenção. Com o aumento na demanda por energia estarão relacionados com alguma forma de
combustível fóssil: carvão, petróleo e gás natural e o mundo todo deverá investir US$ 16
trilhões para garantir e expandir o suprimento de energia (MAIA, 2005).
Neste cenário, a busca por fontes alternativas de energia tem se intensificado, bem
como os investimentos em pesquisas orientadas para o desenvolvimento de novas tecnologias
para a substituição gradual dos combustíveis fósseis. Dentre estes, podemos citar o biodiesel,
o qual é produzido a partir da biomassa proveniente de óleos vegetais como soja, girassol,
algodão e a mamona ou gordura de origem animal. O biodiesel é um éster de ácido graxo,
renovável e biodegradável, obtido comumente a partir da reação química de óleos ou
gorduras, de origem animal ou vegetal, com um álcool na presença de um catalisador (reação
conhecida como transesterificação). O biodiesel pode ser obtido também pelos processos de
craqueamento e esterificação (PRATES et al. , 2007).
O biodiesel é uma das opções que ganhou destaque a partir da ausencia de compostos
sulfonados e por fechar a cadeia de carbono em seu ciclo de utilização. É composto de ésteres
alquílicos, obtidos pela transesterificação de triglicerídeos com alcoóis primários,
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 1: Introdução
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 3
principalmente, metanol e etanol, e possui características similares ao diesel proveniente do
petróleo, como a viscosidade e o poder calorífico, podendo ser utilizados em motores à
compressão sem que haja necessidade de alterações mecânicas destes.
A partir de 2008, seu uso se tornou obrigatório no Brasil como mistura no diesel do
petróleo em percentual de 2%. Inicialmente, o aumento é gradativo podendo chegar até 100%,
sendo utilizada, atualmente, a mistura em 5%, fazendo com que a demanda deste combustível
seja de 1,26 bilhões de litros por ano.
Um dos maiores problemas da substituição do diesel é o custo elevado do processo de
produção convencional do biodiesel, que utiliza catalisadores alcalinos extremamente
sensíveis à qualidade da matéria-prima empregada, que devem possuir alto grau de pureza,
contendo um mínimo de presença de água e de ácidos graxos livres, para não ocorrer reações
paralelas à transesterificação, como a saponificação.
O rendimento da reação de transesterificação para a produção do biodiesel é afetada
pela temperatura de reação, tipo e concentração do catalisador e razão molar etanol/óleo
vegetal (ENCINAR et al., 2002). Assim como o rendimento da reação, o processo de
purificação do biodiesel consiste basicamente de três etapas - decantação, lavagem e secagem.
O processo convencional (ou industrial) para a produção de biodiesel ocorre pela
transesterificação de óleos vegetais com álcool na presença de um catalisador. Esse sistema
apresenta problemas, principalmente de ordem ambiental, como o excesso de água residual, e
a eliminação direta (sem recuperação) do catalisador homogêneo. Uma alternativa para esses
problemas é a utilização de catalisadores heterogêneos. Estudos têm se concentrado na síntese
e desenvolvimento de catalisadores sólidos que apresentem alta atividade catalítica, que possa
ser reutilizado, de fácil recuperação, não necessitando de excesso de água para sua lavagem.
A incorporação de metais a materiais mesoporosos tem futuro promissor, já apresentando
resultados semelhantes ao de catalisadores homogêneos (KIM et al., 2004) e até superiores
(LIU et al., 2007) em relação a conversão de triglicerídeos. Esses metais possibilitam um
aumento na atividade catalítica, formando óxidos desses metais que são os sítios ativos para
essa reação.
Além disso, estes estudos também apontam um aumento da seletividade da fração
semelhante ao diesel à medida que há um aumento do diâmetro de poros do catalisador sólido.
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 1: Introdução
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 4
Neste contexto, a peneira molecular do tipo SBA-15 apresenta-se como um material promissor,
já que é um material com elevado diâmetro médio de poros e elevadas estabilidade térmica e
hidrotérmica. Além disso, pode passar a ter sítios ácidos quando impregnada por determinados
metais, eles proporcionam aumento da estabilidade térmica e hidrotérmica desta (ARAUJO,
1992; ARAUJO e JARONIEC, 1999; JANG et al., 2004; SHAO et al. , 2005; TIMOFEEVA et
al. , 2007).
Levando-se em consideração estes fatos, torna-se necessário o estudo da síntese,
caracterização e aplicação de materiais nanoestruturados como catalisador na reação de
transesterificação do óleo de soja. Possibilitando uma conversão maior no processo de
transesterificação de óleo com etanol, no intuito de produzir ésteres etílicos. Bem como
avaliar o uso de materiais do tipo SBA-15 com Lantânio incorporado, LaSBA-15, utilizado
como sólido metálico catalítico.
Esta dissertação é composta de 6 capítulos. No capítulo II são apresentados os
aspectos teóricos que fundamentam a compreensão do trabalho. No capítulo III, referente ao
estado da arte, onde são apresentados os diversos estudos relacionados ao tema. O capitulo IV
mostra os aspectos relacionados a metodologia experimental apresentando os materiais e
métodos empregados para a realização desse trabalho teórico – experimental. No capítulo V
têm-se os resultados e as discussões dos ensaios realizados do processo de produção do
biodiesel através etanolíse. O capítulo VI mostra as conclusões obtidas e recomendações para
trabalhos posteriores.
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 1: Introdução
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 5
1.2 Justificativa
Os meios atuais de geração e consumo de energia propõem utilizar modelos
alternativos para diminuição do consumo de combustível fosseis e diminuição das emissões
provenientes da combustão. Esta por sua vez é um elemento importante de pesquisa em
programas de desenvolvimento para aplicação em projetos de engenharia, envolvendo o
melhoramento contínuo nas performances de equipamentos. A utilização conjunta de mais de
um combustível como biodiesel via rota etílica pode contribuir para que os objetivos e metas
de proteção ambiental sejam atingidos.
1.3 Objetivos
1.3.1 Objetivo geral
Sintetizar, caracterizar e testar o material mesoporoso SBA-15 com metal-lantânio
(Si/La = 50), para aplicação na reação do óleo de soja, visando à produção de biodiesel via rota
etílica.
1.3.2 Objetivos específicos:
1. Sintetizar, caracterizar e testar o material mesoporoso SBA-15 incorporando Lantânio
(Si/La = 50);
2. Caracterizar e analisar o catalisador sintetizado;
3. Analisar as propriedades catalíticas dos sólidos obtidos na reação de transesterificação;
4. Verificar a eficiência de conversão do catalisador utilizado neste trabalho.
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 2: Aspectos teóricos
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 7
2. Aspectos teóricos
Neste capitulo são descritos os principais conceitos sobre a petroquímica e o petróleo,
biocombustíveis, a produção de biodiesel, os métodos de produção, suas características, um
breve histórico e o tipo de catalisador empregado.
2.1. BIODIESEL – PETROQUÍMICA VERSUS PETRÓLEO
A ligação entre o setor de petróleo e a petroquímica pode ser explicada de forma
simplificada quando se classifica a indústria petroquímica como cadeia produtiva que se
estrutura em torno da utilização de derivados do petróleo, principalmente a nafta
petroquímica, da qual se produzem substâncias como o eteno, o propeno e os aromáticos. A
nafta, assim como o gás natural são os insumos de uma central petroquímica.
Alguns exercícios preliminares econométricos estabelecem um coeficiente de
correlação entre os preços do barril - Brent e da nafta em torno de 0,85, o que implica em um
índice bem elevado. Logo, preços elevados para o segmento petrolífero tendem a reduzir a
margem para as centrais petroquímicas. A possibilidade do setor petroquímico, em algumas
linhas de produção, ter como matéria-prima outra fonte, e ainda renovável representa uma
mudança, uma quebra de paradigma no segmento (TORRES e AVILA, 2006).
Com esse panorama, o mundo todo começa a pesquisar mais intensamente outras
fontes possíveis de energia, algumas das quais já haviam sido estudadas no passado, como os
biocombustíveis renováveis e não poluentes. Portanto, o momento é de escolha de quais
tecnologias deverão ser adotadas e de quais matérias-primas utilizar.
No Brasil, a evolução das pesquisas sobre combustíveis de fontes renováveis não foi
diferente. Em 1980, foram criados programas de implementação e regulação do uso de
biocombustíveis, como passaram a ser denominados os combustíveis de fontes renováveis.
Primeiramente, o PROÁLCOOL, implementando o uso de etanol hidratado como
combustível puro e do anidro na mistura com a gasolina em 5%. Este valor vem sendo
elevado, com o passar do tempo, até a porcentagem atual de 25% (ANP).
Em seguida, o PRO-ÓLEO, que se propôs o uso de produtos da transesterificação de
diversos óleos ou gorduras misturados ao petrodiesel. Era esperada sua mistura em até 30%
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 2: Aspectos teóricos
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 8
com o derivado de petróleo ou até mesmo a substituição completa Nesta época foi
homologada a primeira patente nacional sobre a produção de biodiesel, em 1980 com Parente
(PI-8007957). Com a queda do preço do barril de petróleo, este último programa foi
abandonado em 1986 (SUAREZ et al., 2007b; PARENTE, 2003).
O uso destas fontes naturais inúmeras vantagens, a começar pelo fato de ser um
combustível e 100% renovável. Há também ganhos ambientais, como a redução da emissão
de gases poluentes. Segundo especialistas a sua utilização na sua forma pura diminui a
emissão de dióxido de carbono em 46% e de material particulado em 68% (TORRES e
AVILA, 2006).
No início do século XXI, o Brasil retoma as discussões sobre o uso de biodiesel, como
passou a ser conhecido o produto da transesterificação de óleos e gorduras, na substituição
parcial do petrodiesel, criando uma comissão interministerial, através de um decreto em 02 de
julho de 2003, composta por 13 ministérios, e o principal resultado da formação desse grupo
foi a lei 11.097 em 13 de janeiro de 2005, implementando o uso do biodiesel misturado ao
diesel com aumento gradativo de sua porcentagem, iniciando em 2% e podendo chegar até a
sua utilização em 100% (GARCEZ et al., 2009).
A partir de 1º de janeiro de 2010, estabeleceu-se em 5% o percentual mínimo
obrigatório de adição de biodiesel ao diesel, no Brasil. O maior aproveitamento do biodiesel
na matriz energética brasileira tem enorme importância econômica e estratégica para o país
(UBRABIO, 2009).
Com isso faz-se necessários o incentivo e o aumento dos estudos com o intuito de
aperfeiçoar as tecnologias utilizadas, além da busca por meios alternativos aos processos de
produção já conhecidos, viabilizando cada vez mais o uso de combustíveis de fontes
renováveis.
Segundo a Agência Nacional do Petróleo e Gás Natural e Biocombustíveis (ANP),
cerca de 45% da energia e 18% dos combustíveis consumidos no Brasil já são renováveis. No
resto do mundo, 86% da energia vêm de fontes energéticas não-renováveis. Pioneiro mundial
no uso de biocombustíveis, o Brasil alcançou uma posição almejada por muitos países que
buscam fontes renováveis de energia, como alternativas estratégicas ao petróleo. A Figura 2.1
sumariza o histórico da evolução dos biocombustíveis no Brasil em virtude às crises do
petróleo, originando escassez e, por conseguinte, alto custo de aquisição.
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 2: Aspectos teóricos
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 9
Figura 2.1: Evolução dos biocombustíveis no Brasil. Fonte: ANP
Devido à premência das questões ambientais, as fontes alternativas de energia vem
ocupando um espaço cada vez maior em discussões e medidas governamentais. Essas fontes
alternativas, além de não prejudicarem a natureza, são renováveis. Como exemplos de fontes
de energias renováveis podem-se citar a energia solar (painel solar, célula fotovoltaica), a
energia eólica (turbina eólica, cata-vento), a energia hídrica (roda d’água, turbina aquática) e a
biomassa (matéria de origem vegetal).
O Brasil possui uma propensão notável para a geração de energia por fontes
renováveis. As condições de clima e relevo são favoráveis no país, tanto para a energia solar e
eólica, quanto para a potência hídrica e para os recursos de biomassa.
Para um país como o Brasil, que possui condições extremamente favoráveis e com
grande extensão territorial, produzir o biodiesel como uma opção de energia renovável para
uso na sua matriz energética, parece ser uma excelente opção, não só econômica, mas por
produzir menos poluentes que o diesel do petróleo.
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 2: Aspectos teóricos
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 10
Observa-se que se tornou vital para a economia mundial pesquisar a produção e uso de
novas fontes de energia para reduzir a dependência dos combustíveis de origem fóssil que são
finitos.
A viabilidade do biodiesel acontece em linha com a superação de diversas dificuldades
provenientes da introdução de inovações em ambientes fortemente protegidos por trajetórias e
sinergias tecnológicas e muito consolidadas.
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2.2. Biocombustíveis
Os biocombustíveis são alternativas que podem gerar uma grande quantidade de
energia com potencial de produzir menor impacto ambiental. Segundo a Lei Nº 9.478, de
6.8.1997 (ANP, 2011), o biocombustível é definido como sendo um combustível derivado de
biomassa renovável para uso em motores a combustão interna ou, conforme regulamento, para
outro tipo de geração de energia, que possa substituir parcial ou totalmente combustíveis de
origem fóssil.
O Governo Brasileiro, ao final do século XX, reiniciou as discussões a respeito do uso
dos biocombustíveis e sua inserção na matriz energética do país. Em outubro de 2002, foi
lançado pelo Ministério de Ciências e Tecnologia (MCT) o PROBIODIESEL, programa de
inserção da utilização do biodiesel como fonte de energia renovável no Brasil. Este programa
prevê a utilização do biodiesel adicionado a todo o diesel mineral consumido no Brasil em
proporções crescentes ao longo dos anos.
De acordo com estudos da literatura (GOODWIN JR. et al., 2005), é importante
ressaltar que o uso dos biocombustíveis não é apenas uma alternativa econômica e segura à
utilização de combustíveis fósseis, mas, sobretudo possui aspectos sociais e ambientais
bastante favoráveis, tais como:
• Os biocombustíveis são biodegradáveis e inócuos;
• Podem ser produzidos a partir de matérias-primas renováveis;
• Etíl ou metíl ésteres de ácidos graxos não contém compostos sulfurados;
• O uso de biocombustível automotor diminui significativamente as emissões
poluentes;
• Quantidade equivalente do CO2 emitido pela combustão do biodiesel é absorvida
durante o cultivo das oleaginosas;
• Não contém nenhuma das substâncias cancerígenas encontradas no óleo diesel;
• Os biocombustíveis não são considerados materiais perigosos;
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• Existem inúmeras vantagens sociais e econômicas para o uso do biocombustível,
principalmente em países em desenvolvimento como o Brasil;
• O biodiesel representa um emprego adequado do óleo vegetal, servindo como uma
ferramenta importante para a regulamentação do seu mercado;
• O uso do biodiesel aumenta o tempo de vida útil do motor devido a sua elevada
capacidade de lubrificação.
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2.3. Matéria-prima
2.3.1 Fontes de ácidos graxos
Triacilgliceróis, ou simplesmente, óleos vegetais ou gorduras animais são misturas de
ácidos carboxílicos de cadeia longa, solúveis em solventes apolares. Os óleos são líquidos a
temperatura ambiente, e as gorduras são sólidas. Isso decorre, da gordura ter ácidos graxos
saturados que empacotam de maneira eficiente em cristais, apresentando forças de Van Der
Walls grandes, que por este motivo têm pontos de fusão mais altos. As ligações duplas do
ácido graxo insaturado impõem uma curvatura rígida à cadeia de carbono, diminuindo as
forças de Van Der Walls entre as moléculas, por isso, apresentam ponto de fusão mais baixo,
sendo líquidos na temperatura ambiente (SOLOMONS, FRYHLE, 2006).
As moléculas de triglicerídeos têm massa molecular elevada, geralmente entre 800 e
900 g.mol-1. As composições dos ácidos graxos presentes nos diferentes óleos vegetais variam
no tipo de ácidos presentes e na quantidade relativa destes nos vários óleos.
O uso de óleos vegetais como os de soja, palma, girassol, amendoim e oliva como
combustível alternativo tem, aproximadamente, 100 anos, quando o inventor Rudolph Diesel
testou pela primeira vez óleo de amendoim, nos seus motores de compressão-ignição (PINTO
et al., 2005). Entretanto, o uso direto de óleos vegetais, os quais têm características físico-
químicas inadequadas como alta viscosidade e baixa volatilidade acarretam diversos
problemas ao motor, como: alto teor de depósito de carbono, queima incompleta e dificuldade
de volatilização do combustível (MURUGESAN et al., 2009), fazendo com que a eficiência
do motor seja bem menor que com o uso de diesel.
As causas destes problemas foram atribuídas à polimerização dos triglicerídeos, por
meio de suas duplas ligações, que conduzem à formação de depósitos, assim como à baixa
volatilidade e a elevada viscosidade dos óleos vegetais que geram problemas na atomização
do combustível diminuindo a eficiência da queima e gerando resíduos fuliginosos
(MEIRELLES, 2007). Esses fatores contribuem para direcionar o uso desses óleos no
desenvolvimento de combustíveis alternativos que, se aproximem mais do diesel, o que pode
ser feito via reação química que transforma os ácidos graxos em ésteres diminuindo a
viscosidade e aumentando a volatilidade.
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Além dos triglicerídeos, os óleos geralmente contêm ácidos graxos livres,
fosfolipídios, esteróis, água, odores e outras impurezas. Mesmo os óleos e gorduras refinados
contêm pequenas quantidades de ácidos graxos livres e água. Os ácidos graxos livres e a água
têm efeitos significativos na transesterificação de glicerídeos com alcoóis usando
catalisadores homogêneos ácidos ou alcalinos (MA; HANNA, 1999). Diversas pesquisas vêm
sendo realizadas utilizando óleo de soja na obtenção de biodiesel (GOFF et al., 2004;
KOUZU et al., 2008; LIU; XIE, 2006; LIU et al., 2007; LIU et al., 2008; XIE; LIU, 2006a;
XIE; LIU, 2006b; XIE et al., 2006a).
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) define o
biodiesel como um combustível renovável e biodegradável, derivado de óleos vegetais ou de
gorduras animais, para uso em motores a combustão interna com ignição por compressão, que
possa substituir parcial ou totalmente o óleo diesel de origem fóssil. É um combustível
composto de alquil-ésteres de ácidos graxos de cadeia longa, derivados de óleos vegetais ou
de gorduras animais, conforme a especificação contida no Regulamento Técnico N°1/2008 da
ANP, parte integrante da Resolução N°7 da ANP, de 2008.
Algumas características físico-químicas do biodiesel apresentam valores relativamente
similares ao diesel derivado de petróleo, e outras dizem respeito somente ao biodiesel, que são
dependentes da sua matéria-prima e de sua origem diferente. Como demostrados na tabela
2.3.1.
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Tabela 2.3.1 Comparação das características Físico-Químicas do Biodiesel e do Diesel
O uso de biodiesel em comparação ao diesel apresenta inúmeras vantagens, por este
ser um combustível biodegradável, renovável, reduz a emissão de particulados, monóxido de
carbono, enxofre, hidrocarbonetos (FUKUDA et al., 2001), compostos aromáticos, é atóxico e
não há incremento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera, por advir de
materiais agrícolas produzidos pela fixação fotossintética de carbono (SHU et al., 2007). Por
estes fatores, é caracterizado, em geral, como um combustível ambientalmente correto.
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2.3.2. Óleo de soja
A soja [Glycine max (L.) Merrill] é uma espécie de leguminosa nativa, figura 2.3.2,
pertencente à família Fabaceae, também conhecida com Leguminosae, proveniente da Ásia
Oriental, onde se desenvolveu principalmente ao longo do Rio Amarelo, na China. Portanto,
nas três primeiras décadas do século XX, a produção de soja era quase exclusivamente feita
nos países do Oriente, como a China, Indonésia, Japão e Coréia (BELTRÃO, 2008).
Figura 2.3.2: Grãos de soja Fonte: Agroanalysis
Atualmente, seu desenvolvimento se concentra principalmente nos Estados Unidos,
este, considerado maior produtor mundial e com produção estabilizada. O Brasil e a
Argentina, são respectivamente o segundo e terceiro maiores produtores mundiais os únicos
que possuem a capacidade de atender a demanda por alimentos. A China o quarto, é
considerado maior consumidor, além de possuir uma produção também estabilizada.
De acordo com Beltrão et al (2008) o advento da soja no Brasil ocorreu em 1908, por
intermédio dos imigrantes japoneses, que a introduziram no Estado de São Paulo. A partir da
década de 60, os agricultores brasileiros do Sul se interessaram pelo seu cultivo de forma
extensiva.
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Em virtude de um sistema agroindustrial de grande proporção e já consolidado a soja,
tornou-se a única oleaginosa com escala suficiente para a produção imediata de biodiesel.
Certifica Moreira et al., (1999) que atualmente, a soja é reconhecida como um alimento rico
em proteínas e lipídios e a sua inclusão na alimentação humana tem se tornado cada vez
maior, o que acaba criando um impasse entre a produção de alimentos versus energia.
Com relação ao teor de óleo extraído das sementes, de acordo com Medeiros (2009)
apenas 22,7 % são obtidos, em um estudo sobre o efeito do ambiente na percentagem de óleo
em sementes de soja. Batista et al., (2010), cita um percentual de 23,78%, o mesmo autor
menciona em seu trabalho Albrecht et al., (2008), onde foi obtido 28,52% e por ele
considerado como resultado ótimo (BATISTA, 2010).
2.3.2.1. Características do Óleo de Soja
Quanto a composição média do óleo de soja, Vieira et al (2010) menciona que, seja
constituído, principalmente, pelos ácidos linoléico (54.5%), oléico (22.3%), ácidos graxos
insaturados com pontos de fusão em -5 ºC e 4 ºC, respectivamente, bem como ácido palmítico
(12,7%), linolênico (4,5%) e esteárico (3,9%) (BELTRÃO, 2008). Portanto, o óleo de soja é
considerado por possuir um potencial para produção de biodiesel, pela abundância dessa
matéria prima e suas propriedades físico-químicas (VIEIRA, 2010).
Para Beltrão et al (2008), os ácidos graxos insaturados, particularmente o oléico,
linoléico e o linolênico, são os que se destacam da fração lipídica do óleo de soja, por serem
facilmente oxidados sendo o número de insaturações nas moléculas um fator decisivo para a
velocidade da reação. Característica esta, que inevitavelmente é repassada aos
correspondentes dos ésteres metílico ou etílico (biodiesel) obtidos a partir desta oleaginosa.
O processo de oxidação no biocombustível causa um aumento da sua viscosidade pela
ocorrência de reação de polimerização envolvendo as duplas ligações, que em estágios mais
avançados, podem levar a formação de materiais insolúveis, tais como goma e sedimentos que
podem entupir os filtros de combustível, a elevação da acidez e a presença de hidroperóxidos,
ambos decorrentes do desencadeamento de processos oxidativos, podendo ocasionar a
corrosão de componentes do sistema de injeção de combustível bem como o tanque de
elastômeros (MONEYEM; Van GERPEN, 2001 apud BELTRÃO 2008).
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As propriedades físico-químicas do óleo de soja como, a composição média estão
ilustradas nas Tabelas 2.3.2.1.1, 2.3.2.1.2 respectivamente.
Tabela 2.3.2.1.1: Características Físico–Químicas do Óleo de Soja.
Propriedades
Físico–Químicas
Valores de referência
Massa Específica a 200C, g.cm-3 0,916 – 0,922
Índice de Refração a 25 oC 1,465 – 1,475
Índice de Iodo, g I2/100g 120 – 141
Índice de Saponificação, mg KOH/g 180 – 200
Matéria Insaponificável, % < 1,0
Acidez, g ácido oléico / 100g < 0,2
Índice de Peróxido meq/kg < 100
Fonte: CAMPESTRE, 2010.
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Tabela 2.3.2.1.2: Composição média de ácidos graxos (%) do Óleo Soja
Fonte: CAMPESTRE, 2010.
Ácidos Graxos Óleo de Soja
Mirístico (C14:0) < 0,5
Palmítico (C16:0) 7,0 - 14,0
Palmitoléico (C16:1) < 0,5
Esteárico (C18:0) 1,4 – 5,5
Oléico (C18:1) 19,0 – 30,0
Linoléico (C18:2) 44,0 – 62,0
Linolênico (C18:3) 4,0 – 11,0
Ricinoléico [C18:1(OH)] -
Outros < 2,5
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2.3.3 Alcoóis
O biodiesel, produzido a partir da reação de transesterificação, pode usar diferentes
tipos de álcool como matéria-prima. O metanol e o etanol são os álcoois mais utilizados,
dando origem, respectivamente, às rotas metílica e etílica. O biodiesel utilizado em vários
países da Europa e nos Estados Unidos são ésteres produzidos principalmente pela rota
metílica. O metanol, também chamado de álcool metílico, é um álcool geralmente obtido de
fontes fósseis, por meio de gás de síntese, a partir do metano. Entretanto, o metanol, em
quantidades menores, pode ser obtido por destilação seca da madeira.
A tecnologia de produção de biodiesel pela rota metílica é totalmente dominada.
Ressalte-se, no entanto, que o metanol tem uma toxicidade muito elevada. Ele traz malefícios
à saúde, podendo causar, inclusive, cegueira e câncer. O Brasil não é auto-suficiente na
produção de metanol e o importa, não para uso como combustível.
O etanol apresenta a vantagem de não ser tóxico, ser biodegradável e ser produzido a
partir de fontes renováveis. Destaque-se que o Brasil produz anualmente cerca de 12 bilhões
de litros de etanol a partir da cana-de-açúcar e que tem uma capacidade ociosa de mais de 2
bilhões de litros por ano.
Ressalte-se, ainda, que o Brasil tem uma grande área disponível para a produção de
oleaginosas e cana-de-açúcar. O Brasil cultiva 56 milhões de hectares e tem mais 90 milhões
de hectares disponíveis. Existem, ainda, 225 milhões de hectares de pastagens que poderão,
devido ao avanço tecnológico, ser reduzidos em 15% nos próximos anos, sem diminuição da
produção de bovinos. Apenas com a substituição de pastagens, o país terá mais 30 milhões de
hectares de terras disponíveis que poderão ser usadas na produção de matérias-primas para a
produção de etanol e biodiesel.
2.4 Processos de Produção
Existem quatro maneiras primárias de obtenção do biodiesel a partir de óleos vegetais e
sebo animal, seja em escala laboratorial ou industrial: usando misturas diretas de óleos vegetais
e diesel fóssil, por técnicas de microemulsões, craqueamento térmico e a transesterificação
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(LUZ JR, 2010). Dentre estas, a mais usada é a reação de transesterificação de óleos vegetais e
gorduras animais com metanol ou etanol.
A transesterificação, também chamada de alcoólise, ilustrada na figura 2.4, é a reação
entre um álcool de cadeia curta (metanol ou etanol), triglicerídeo, éster e glicerol. Um
catalisador é geralmente usado para aumentar a taxa de reação. Devido ser uma reação
reversível, um excesso de álcool é usado com o intuito de deslocar o equilíbrio para a formação
dos produtos. As condições da reação geralmente envolvem a relação entre o tempo e a
temperatura na qual a reação se torna completa; esta relação é o parâmetro mais crítico na
obtenção do biodiesel. Uma das maiores dificuldades da obtenção do biocombustível a partir
de triglicerídeos é a contaminação por água, ácidos graxos e impurezas no final da produção
tais como glicerina, metanol, e sabão (LUZ JR, 2010).
No Brasil, atualmente, uma vantagem da transesterificação via rota etílica é a oferta do
etanol, em todo o território nacional. Sob o ponto de vista ambiental, o uso do etanol leva
vantagem sobre o uso do metanol, visto que este último álcool é obtido de derivados do
petróleo, e é importante considerar que o etanol pode ser produzido a partir da biomassa.
Freedman et al.,(1984) demonstraram que a alcoólise com metanol é tecnicamente mais viável
do que a alcoólise com etanol, particularmente se esse corresponde ao etanol hidratado, cujo
teor em água (4-6%) retarda a reação. O uso de etanol anidro na reação minimiza efetivamente
este inconveniente, embora não implique em solução para o problema inerente à separação da
glicerina do meio de reação que, no caso da síntese do éster metílico, pode ser facilmente
realizada por simples decantação.
Alguns estudos de produção de biodiesel foram realizados sem o uso de catalisador na
reação de transesterificação, entretanto foi preciso o uso de pressões muito elevadas para
aumentar a taxa de reação (LUZ JR, 2010). Dasari et al. mediram a taxa da reação sem
catalisador com temperatura entre 120°C e 180°C. Tiveram, entretanto, dificuldades para
reproduzir os resultados referentes à cinética da reação de outras pesquisas (EVANGELISTA
et al., 2007) e atribuíram este fato ao efeito catalítico na reação.
Com o passar do tempo, tanto o motor quanto o combustível foram evoluindo na busca
de maior eficiência e menor custo, a tal ponto que, atualmente, não é mais possível utilizar,
diretamente, petróleo cru ou óleos vegetais in natura, como combustível (SUAREZ et al.,
2007a).
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Motores a diesel modernos usam sistemas de injeção de combustível que são sensíveis
às mudanças de viscosidade. Altas viscosidades, observadas em óleos vegetais, acarretam
pobre atomização do combustível, combustão incompleta, formação de incrustação nos bicos
injetores e acúmulo de combustível no óleo lubrificante (SCHWAB et al., 1987).
Ao longo desses últimos 100 anos, quatro propostas de utilização de óleos e gorduras
foram estudadas: diluição direta no próprio combustível; microemulsão, formando colóides
com alcoóis de cadeia curta, diminuindo sua viscosidade; pirólise, clivando as cadeias dos
triglicerídeos, para formar compostos similares ao diesel ou de cadeias menores como a
gasolina e o querosene (HANNA & MA, 1999); e a transesterificação e esterificação, onde
ocorre a formação de ésteres alquílicos pela reação dos triglicerídeos e dos ácidos graxos
livres (AGL), respectivamente, com um álcool de cadeia curta (FURUTA et al., 2004), como
mostrado nas Figuras 2.4.
Figura 2.4. Transesterificação de Triglicerídeo com Etanol.
A transesterificação é o método de produção de biodiesel mais comum atualmente.
Um catalisador é, geralmente, utilizado para melhorar a taxa de reação e a conversão. Por ser
uma reação reversível, excesso de álcool é adicionado, a fim de favorecer a reação para o lado
dos produtos.
Um variado número de catalisadores de diferentes tipos vem sendo estudado, sendo os
principais: básicos (ARACIL et al., 2007; ANWAR et al., 2007; GOODWIN Jr. et al., 2005),
ácidos (OKTAR et al., 2008; BHATTI et al., 2008; SANTACESARIA et al., 2006a;
MARCHETTI & ERRAZU, 2005), lipases (AKIN et al., 2007; FUKUDA et al., 2001;
HANNA & MA, 1999) e enzimas (FUKUDA et al., 2001; MUTHUKUMAR, 2007). Os
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catalisadores podem ser classificados em dois grupos; homogêneos, que se apresentam no
mesmo estado físico dos reagentes, líquidos, e heterogêneos, sólidos.
Transesterificação in situ difere da reação convencional, por que nela as sementes
entram em contato com álcool diretamente, em vez de reagir o álcool com o óleo extraído. Ou
seja, a extração e transesterificação procedem em uma única etapa, o álcool atua, tanto como
solvente de extração, como reagente da transesterificação in situ (KIM et al., 2009; SHIU et
al., 2010).
GEORGOGIANNI et al., (2008) usaram ultra-som convencional na transesterificação
com metanol obtendo altos rendimentos de ésteres metílicos (95%), após um tempo baixo de
reação (20 min.). A presença de etanol levou a altos rendimentos de éster (98%) em apenas 40
min. de tempo de reação. Na transesterificação in situ se obtiveram rendimentos de éster
semelhantes aos obtidos por transesterificação convencional com a vantagem de aquela ser
um processo eficiente e econômico.
2.4.1 Variáveis que influenciam o curso da reação de transesterificação:
• Tipo de álcool e razão molar de álcool:óleo
Na transesterificação, assim como na maioria das reações, a reação se processa até
atingir um equilíbrio. Essa reação requer uma razão molar de 3:1 de álcool/óleo. Mas para
deslocar esse equilíbrio no sentido de formar mais produtos e assim, ter uma maior conversão
em ésteres, necessita-se de um excesso de álcool para completa transformação dos ácidos
graxos em ésteres. Vários trabalhos disponíveis na literatura relatam a importância da razão
molar de metanol:óleo na formação do biodiesel (NOIROJ et al., 2009; LIU et al., 2007;
BENJAPORNKULAPHONG et al., 2009; BOZ et al., 2009; VYAS et al., 2009; Ma et al.,
2008; XIE et al., 2006b). Boz e Kara (2009) mostrou que para metanol e etanol nas mesmas
condições reacionais, a taxa de conversão é maior, cerca de 96% em metil ésteres para o
metanol, enquanto que, usando o etanol, não ultrapassa os 65% de etil ésteres.
• Temperatura, tempo e agitação da reação
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Duas variáveis essenciais são o tempo e temperatura de reação. Em geral, tanto o
aumento do tempo, como o da temperatura aumenta, proporcionalmente a conversão dos
triglicerídeos. Trabalhos recentes mostram esse comportamento (NOIROJ et al., 2009; LIU et
al., 2007; BOZ et al., 2009; VYAS et al., 2009; Ma et al., 2008; XIE et al., 2006b; BOZ;
KARA, 2009) a velocidade de agitação é importante na reação, pois o álcool apresenta alta
polaridade, e o triglicerídeo é apolar e viscoso, por isso, agitação é importante para que se
forme uma mistura entre ambos. Vyas et al. (2009) analisou a velocidade de agitação de 100-
700 RPM, constatando que com agitação de 600 RPM, obteve-se a melhor conversão 84%,
mantendo-se as outras variáveis constantes.
• Tipo e quantidade de catalisador
Os catalisadores mais utilizados para transesterificação são os homogêneos (básicos ou
ácidos). As enzimas e os catalisadores heterogêneos são poucos utilizados e até o presente
momento, só tem importância em pesquisas sobre o tema. Os catalisadores básicos são muito
mais usados que os ácidos, em função da sua maior atividade catalítica e melhor qualidade do
biodiesel obtido, tendo em vista que, os catalisadores ácidos aumentam a acidez do biodiesel.
Os catalisadores básicos são mais eficientes que os heterogêneos, no entanto,
recentemente, pesquisadores mostram que os heterogêneos podem apresentar eficiências
semelhantes (NOIROJ et al., 2009; LIU et al., 2007) e serem mais baratos, já que podem ser
reciclados e tornam o processo mais simples e menos poluente. Razão pela qual começam a
ser explorados em testes industriais para a produção em grande escala.
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2.5 Catálise
A catálise é um aspecto muito importante na produção de biodiesel. Nesse contexto um
fator que merece atenção especial é a análise dos catalisadores utilizados. Trabalhos na
literatura afirmam que esta é a área em que menos houve evolução, visto que ainda não foi
encontrado um catalisador alternativo que possa substituir os hidróxidos e metóxidos
industrialmente (ALBA-RUBIO, 2007).
2.5.1 O uso de catalisadores químicos
Os catalisadores químicos básicos tais como o hidróxido de sódio (NaOH) e o
hidróxido de potássio (KOH) são os mais utilizados na transesterificação de óleos e gorduras
devido a sua maior rapidez, simplicidade e eficiência (SOLDI, OLIVEIRA e RAMOS, 2006).
Sendo, portanto, utilizados com freqüência em escala industrial. Apesar dos elevados
rendimentos obtidos quando da utilização de catalisadores básicos, como hidróxidos alcalinos,
as reações devem ser conduzidas somente usando óleos vegetais neutros ou de baixa acidez,
pois a presença de ácidos graxos livres neutraliza a ação catalítica. Alem do mais, os
catalisadores básicos, devido a formação de sabões, são associados a presença de emulsões no
final da reação, dificultando as etapas de purificação do biodiesel formado, podendo conduzir
quase sempre a perdas no rendimento da mistura de ésteres.
A catálise ácida possui a vantagem de não necessitar de reagentes com acentuado grau
de pureza, pois o catalisador ácido é utilizado para esterificar os ácidos graxos livres presentes
na matéria-prima, transformando-os em ésteres. Entretanto, os catalisadores ácidos estão
associados a corrosão e apresentam atividades catalíticas muito inferiores aquelas verificadas
nos sistemas básicos. Cabe destacar aqui que a atividade, tanto dos sistemas básicos quanto
dos ácidos, decresce drasticamente com o tamanho da cadeia do álcool, sendo pouco ativos ou
completamente inativos para alcoóis com mais de três átomos de carbonos (FREEDMAN,
1984).
Outra possibilidade descrita na literatura para substituir os catalisadores tradicionais
ácidos ou básicos, foram os de sistemas heterogêneos. Diversos aluminossilicatos, óxidos,
hidróxidos e carbonatos, contendo metais representativos e de transição, alem de polímeros
orgânicos, vem sendo estudados em reações de transesterificacao (SOLDI, OLIVEIRA e
RAMOS, 2006). Estes catalisadores heterogêneos, principalmente os ácidos, são ativos para
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alcoóis de alto peso molecular, atingindo conversões acima de 95% em sistemas onde os
catalisadores tradicionais não funcionam (FREEDMAN, 1984), com a vantagem de não
produzirem corrosão ou emulsão, facilitando assim a separação dos produtos obtidos.
Infelizmente estes catalisadores apresentam atividades inferiores aos usuais. Este decréscimo
nas atividades ocorre devido a problemas de difusão, uma vez que estes meios heterogêneos
se comportam como sistemas trifásicos (óleo/metanol/catalisador).
2.5.2 Peneiras moleculares
Os materiais porosos são de interesse particular, não apenas pela sua importância nas
aplicações industriais (adsorventes, catalisadores e suportes catalíticos), mas também pela sua
grande potencialidade tecnológica em materiais avançados, tais como: fotossensores de
transferência de elétrons, semicondutores, fibras de carbono, clusters, materiais com
propriedades ópticas não-lineares, entre outros.
De acordo com a definição da IUPAC (ROUQUEROL et al., 1994), os materiais
porosos são divididos em três classes:
• Microporosos (dp ≤ 2 nm) • Mesoporosos (2 < dp < 50 nm) • Macroporosos (dp ≥ 50 nm)
Na classe dos microporos, já bem conhecida, estão as zeólitas, que apresentam
excelentes propriedades catalíticas em virtude da rede cristalina de aluminosilicato. Porém,
suas aplicações são limitadas pela abertura do poro ser relativamente pequena (0,3-0,72 nm).
Portanto, o alargamento do poro foi um dos primeiros aspectos principais na química das
zeólitas.
Na década de 60, Donald W. Breck (1964) sintetizou a zeólita do tipo Y (NaY) e
revolucionou a indústria de refino de petróleo, utilizando até os dias de hoje este material
como suporte para catalisadores de craqueamento catalítico (FCC). Na década seguinte,
Argauer e Landolt (1972) sintetizaram a zeólita do tipo ZSM-5, utilizada em vários processos
da indústria petroquímica como isomerização de xilenos, alquilação etc. Schlenker e
colaboradores (1978) sintetizaram a ZSM-48.
Mas foram nas décadas de 80 e 90, que várias companhias multinacionais e grupos de
pesquisas começaram a direcionar seus esforços no sentido de sintetizar materiais com poros
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maiores, visando atender as exigências ambientais nos processos de purificação de petróleo,
cujos compostos contendo heteroátomos de enxofre, nitrogênio e oxigênio apresentavam
diâmetros cinéticos elevados.
No início dos anos 90, pesquisadores do grupo Mobil Oil Corporation descobriram a
preparação de silicatos e aluminosilicatos mesoporosos do tipo MCM-41 (KRESGE et al.,
1992; BECK et al., 1992), com a distribuição do tamanho dos poros uniforme. A novidade
deste trabalho foi a utilização de moléculas surfactantes como direcionadoras de estrutura, em
vez de espécies catiônicas (VARTULI et al., 1994).
De acordo com os pesquisadores do grupo Mobil Oil Corporation existem três tipos de
fases estruturais pertencentes à família M41S:
• Fase hexagonal (MCM-41) – (Fig. 2.5.2A) • Fase cúbica (MCM-48) - (Fig. 2.5.2B) • Fase lamelar não estável (MCM-50) - (Fig. 2.5.2C)
Figura 2.5.2 Representação das estruturas, (A) hexagonal, (B) cúbica, e (C) lamelar.
No final da década de 90, pesquisadores da Universidade da Califórnia – Santa
Bárbara – EUA (ZHAO et al, 1998 a e b), sintetizaram um material mesoporoso com
diâmetro de poros entre 2 e 30 nm, altas áreas superficiais, largas espessuras de paredes e
maior estabilidade térmica do que as obtidas pelos materiais MCM-41. Este material foi
chamado de SBA-15 (Santa Bárbara Amorphous) e empregou-se o copolímero tribloco
Pluronic P123 não iônico como agente direcionador de estrutura. Devido aos seus poros mais
largos, foi possível a utilização destes materiais em processos com moléculas maiores.
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2.5.3 Síntese Materiais Mesoporos do Tipo SBA-15
Os materiais mesoporosos do tipo SBA-15 foram sintetizados por Zhao et al., (1998)
obtiveram um grande progresso na preparação de sílica mesoporosa ao utilizarem copolímeros
do tipo triblock-poliox ialquileno (Plurônico) para a síntese de materiais com grande tamanhos
de poros. A forma hexagonal bidimensional do sólido (figura 2.5.3.1) assim obtida foi
denominada de SBA-15 (Santa Bárbara nº.15) e a cúbica de SBA-16. O material SBA-15 pode
ser preparado com tamanhos de poro variando entre 4,6 a 30 nm (J. SUN, 2001) e espessura
de parede de 3,1 a 6,4 nm, variando a temperatura e o tempo de síntese.
Figura 2.5.3.1 Mecanismo de síntese do material SBA-15 a partir de copolímero Zhao et al.
O difratograma de raios-X desta peneira molecular, apresentado na Figura 2.5.3.2 , bem
como a sua isoterma de adsorção/dessorção de N2, apresentada na Figura 2.5.3.3, refletem a
estrutura hexagonal dos seus mesoporos. Os planos cristalográficos (100), (110) e (200), entre
0,5 e 3,0º, presentes no difratograma da SBA-15, são característicos de estruturas com plano de
simetria P6mm, a qual é relacionada às estruturas com ordenamento hexagonal (ZHAO et al.,
1998a, b), conforme a figura 2.5.3.2. Já a isoterma é classificada pela IUPAC como do tipo IV
com histerese do tipo I (CIOLA, 1981; LEOFANTI et al., 1998), ilustradas na figura 2.5.3.2.
Este tipo de isoterma, associada à histerese do tipo I, é característica de materiais com
mesoporos cilíndricos e de tamanho uniforme, nos quais ocorre condensação capilar durante a
dessorção do N2, ocasionando a histerese (LEOFANTI et al., 1998; SONWANE e
LUDOVICE, 2005).
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Figura 2.5.3.2 Difratograma de raios-X característico da SBA-15 (COUTINHO, 2006).
Figura 2.5.3.3 Isoterma de adsorção/dessorção de N2 característica da SBA-15 (COUTINHO, 2006).
A sua estrutura porosa, aliada à elevada área superficial, estabilidade térmica e
hidrotérmica, bem como o seu grande diâmetro médio de poros, tornam este material muito
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promissor na área de catálise. No entanto, devido à ausência de sítios ativos nativos, a SBA- 15
apresenta baixa atividade catalítica (TIMOFEEVA et al., 2007; BACA et al ., 2008;
KUMARAN et al ., 2008). Em decorrência deste fato, diferentes metais vêm sendo
impregnados nesta peneira molecular como meio de elevar a sua atividade catalítica
(TIMOFEEVA et al ., 2007; BACA et al ., 2008; KUMARAN et al., 2008; JANG et al .,
2004; MU et al ., 2008; DAI et al., 2007; KAO et al., 2005; LUAN et al., 1999; GÉDÉON et
al., 2001; LOU et al., 2008; SELVARAJ et al., 2008; SHAH et al., 2007; KUMAR et al.,
2008; LI et al., 2005; AGUADO et al., 2008; CHERALATHAN et al., 2008; JARRY et al.,
2006; YUE et al., 1999; GU et al., 2004; ZHANG et al., 2008; GARG et al., 2009).
Neste sentido, basicamente dois métodos de incorporação são utilizados: pós-síntese e
síntese direta. A incorporação pós-síntese é normalmente realizada pelo grafting do metal na
peneira molecular (BACA et al., 2008; KAO et al., 2005; LUAN et al., 1999). Neste processo,
uma amostra sólida da SBA-15 é misturada a uma solução diluída de solvente orgânico
(BACA et al., 2008; LUAN et al., 1999) ou aquosa (KAO et al., 2005; CHERALATHAN et
al., 2008; BENDAHOU et al., 2008), contendo o metal que se deseja incorporar à peneira
molecular. O sistema, assim obtido, fica sob agitação até a quase completa evaporação do
solvente e, depois, é lavado e calcinado em ar. Embora este processo seja simples e tenha uma
considerável eficiência de incorporação, a literatura (SHAH et al., 2007; BACA et al., 2008;
HAN et al., 2003; LUAN et al., 1999; BENDAHOU et al., 2008) indica que este método de
incorporação pode levar à formação de óxido metálico na superfície externa da peneira
molecular, após calcinação, provocando o bloqueio dos seus poros; o que ocasiona uma
significativa diminuição da capacidade de peneiramento molecular do material.
2.6 Materiais porosos modificados
Um aspecto importante destes materiais mesoestruturados é a possibilidade de
incorporar heteroátomos e/ou funções orgânicas na superfície dos canais formando parte das
paredes ou dentro da rede sólida. A estabilidade térmica, mecânica ou estrutural é
proporcionada pela matriz de sílica, embora que as funções orgânicas e os heteroátomos sejam
constituídos por si mesmo, ou são precursores das espécies ativas na aplicação final do
material.
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Na síntese direta, a fonte metálica é adicionada ao sistema de síntese em conjunto com
a fonte de sílica. Este método possibilita a incorporação do metal no interior das paredes da
peneira molecular, bem como a formação de sítios ativos no interior dos mesoporos e, assim, a
não perca da capacidade de peneiramento molecular (MELERO et al., 2005; LI et al., 2005;
DAI et al., 2007; MU et al., 2008; LOU et al., 2008). Por outro lado, a incorporação do metal
por este método é dificultada pela elevada solubilidade dos íons metálicos no meio fortemente
ácido em que a síntese hidrotérmica da SBA-15 é normalmente realizada (LI et al., 2005; DAI
et al., 2007; MU et al., 2008; LOU et al., 2008; DAO et al., 2008).
2.7 Métodos de caracterização de materiais mesoporosos
A caracterização do material mesoporoso pode ser realizada por diversas técnicas,
dentre as quais destacam-se: difração de raios-X (DRX), microscopia eletrônica de varredura
(MEV), medidas de adsorção, espectroscopia na região do infravermelho (FT-IR),
espectroscopia de energia dispersiva de raios-X (EDX) e termogravimetria (TG/DTG).
2.7.1 Análise Térmogravimetrica
Neste métodos de análise é possível realizar a determinação de muitas propriedades dos
materiais, tais como: estabilidade térmica, percentual de água fisissorvida e quimissorvida,
pureza, pontos de ebulição, calores de transiço, calores específicos, coeficiente de expansão
linear, inflamabilidade, reações metal-gás, caracterização de catalisadores, cristalização,
caracterização de minerais, caracterização de fibras, controle de produtos cerâmicos, transiçes
do vidro e controle de qualidade de polímeros (RIVES, 2000).
Na área de catálise as técnicas termoanalíticas mais empregados são: termogravimetria
(TG), derivada da termogravimetria (DTG), análise térmica diferencial (DTA) e calorimetria
exploratória diferencial (DSC). A análise térmica através da TG é um experimento que permite
avaliar a perda de massa de uma determinada substância em um ambiente que é aquecido ou
resfriado a uma taxa controlada, tendo como variáveis o tempo e/ou temperatura (KEATTCH;
DOLLIMORE, 1975). O equipamento utilizado para este experimento é denominado de
termobalança. Os resultados obtidos são apresentados na formas das curvas TG e DTG. Da
análise TG se obtém um gráfico de perda de massa no eixo da ordenada versus temperatura ou
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tempo no eixo da abscissa. A partir da derivada da curva TG se obtém a curva DTG, que em
outras palavras dá idéia da taxa de perda de massa em função da temperatura ou do tempo. Da
curva DTG também podem ser visualizados com boa aproximação o início e o término de cada
evento de perda de massa.
Vyazovkin e Goryachko (1992) desenvolveram um método cinético integral no qual
múltiplas razões de aquecimento são usadas para se avaliar por TG reações de decomposição
simples e complexas. A taxa de reação nesses casos depende da conversão (a), temperatura (T)
e tempo (t). A análise é baseada no princípio da isoconversão, onde para uma conversão
constante, a taxa de reação é unicamente função da temperatura (VYAZOVKIN e
LESNIKOVICH, 1988; VYAZOVKIN e WRIGHT, 1999). Num experimento típico é
necessário se obter no mínimo três razões de aquecimento diferentes (ß) e suas respectivas
curvas de conversão são avaliadas das curvas TG.
Neste trabalho, foi utilizada a análise térmica para se estudar as melhores condições de
calcinação para remoção do direcionador orgânico dos mesoporos. Sabe-se que altas
temperaturas favorecem uma rápida eliminação das moléculas do direcionador, porém pode
causar a destruição da estrutura ordenada de sílica dos materiais mesoporosos. O estudo das
ótimas condições de tempo e temperatura durante a etapa de calcinação torna-se uma etapa
decisiva para a obtenção de um material de alta qualidade.
2.7.2. Difração de raios-X
A técnica de Difração de raios-X (DRX) é aplicada, para se obter determinadas
propriedades dos materiais, tais como: estrutura cristalina e o grau de cristalinidade;
identificação quantitativa das fases existentes no material; os parâmetros da cela unitária;
textura e tamanho dos cristalitos. Para se fazer as análises o material pode estar na forma de
sólidos em pó, monocristais, matrizes, folhas e fibras. Apesar de ser bastante empregada em
catálise, principalmente para determinação da estrutura cristalina dos materiais sintetizados, a
técnica apresenta também as suas limitações, dentre elas: Usada apenas em materiais
estruturados, cristalinos ou não.
• Os materiais amorfos geralmente não reproduzem uma boa difração;
• A sobreposição de picos pode interferir na análise quantitativa para identificação;
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• Materiais fortemente difratados podem encobrir os fracamente difratados, o que chama-
se de efeitos de matriz;
• Amostras fluorescentes podem elevar a linha de difração ou pode causar saturação em
certos tipos de detectores;
A Figura 2.7.2.1 representa um plano cristalino para formulação da Lei de Bragg. A
equação básica da difração (Santos, 1989) é apresentada como:
λn = 2.d.sen(θ) (1)
Onde n é a ordem de reflexão (n = {1,2,3,...}), λ é o comprimento de onda, d é a distância
interplanar e θ é o ângulo de incidência entre os planos reticulados.
Figura 2.7.2.1 Esquema representativo para formulação da lei de Bragg.
O método empregado para a análise de raios-X dos materiais mesoporosos do tipo
SBA-15 é o método do pó proposto por Settle (1997). O método consiste basicamente em
uniformizar a amostra de modo a torná-la um pó fino e homogêneo. Quando esse pó é
colocado no porta amostra do equipamento um grande número de pequenos cristalitos é
orientado em todas as direções possíveis. Dessa forma, quando um feixe de raios-X atravessa o
material, um número significativo de partículas estão orientadas de tal forma que a condição de
Bragg para a reflexão de cada possível distância interplanar seja obedecida pela Equação. 1. A
identificação da fase ocorre quando se observa a obtenção de três a cinco picos referentes aos
planos (100), (110), (200), (210) e (300), na faixa de 0,5 a 3,0º. Estes planos são, segundo a
literatura (ZHAO et al., 1998 a, b; HAN et al., 2000; TUEL et al ., 2000), característicos de
estruturas hexagonais dos materiais SBA-15.
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O parâmetro mesoporoso de rede (ao) que representa a soma do diâmetro médio dos
poros (dp) do material e a espessura média da parede de sílica (Wt) pode ser obtido a partir do
valor da distância interplanar no plano (100). A Equação 2 correlaciona as distâncias
interplanares no plano (100) com o valor do parâmetro mesoporoso ao (BECK et al ., 1992).
(2)
A Figura 2.7.2.2 representa um difratograma da SBA-15 (DHAR et al ., 2005; KUMARAN et al ., 2006).
2.7.3. Adsorção e dessorção de Nitrogênio
Quando duas fases imiscíveis são postas em contato, sempre ocorre que a concentração
de uma substância numa fase é maior na interface do que no seu interior. A esta tendência de
acumulação de uma substância sobre a superfície de outra damos o nome de adsorção (CIOLA,
1981). O fenômeno de adsorção pode ser classificado como adsorção química e adsorção
física.
A adsorção física é um fenômeno reversível onde se observa normalmente a deposição
de mais de uma camada de adsorbato (espécie química retida pelo adsorvente) sobre a
superfície adsorvente (sólido sobre o qual ocorre o fenômeno de adsorção). A adsorção física
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constitui o princípio da maioria dos processos de purificação e separação. As energias
liberadas nestas adsorções são relativamente baixas.
As propriedades superficiais de diversos materiais, como área superficial, volume e
distribuição de poros se baseia no fenômeno da adsorção. Segundo a IUPAC, a maioria dos
sólidos obedece a um dos seis tipos de isotermas de adsorção existentes, contudo quatro tipos
de isotermas (I, II, IV e VI) são comumente encontradas em caracterização de catalisadores
(EVERETT, 1988; ROQUEIROL SIEMIENIEWSKA, 1994).
As isotermas de adsorção dessorção de nitrogênio para cada material específico,
segundo a classificação da IUPAC, podem ser descritas como:
Tipo I: Isoterma típica de materiais microporosos onde a adsorção se dá a baixas pressões
devido a forte interação entre as paredes porosas e o adsorbato. Podem ser obtidas por
adsorção química. Quando a adsorção física produz isotermas do tipo I, indica que os poros são
Microporosos e que a superfície exposta reside somente dentro dos microporos, os quais, uma
vez cheios com o adsorbato, deixam pouca ou nenhuma superfície para adsorção adicional.
Tipo II: nesse tipo de isoterma a baixas pressões relativas ocorre a formação de uma
monocamada de moléculas adsorvidas. São encontradas quando a adsorção ocorre em
materiais porosos ou com poros de grande diâmetro. O ponto de inflexão ocorre quando a
primeira camada de cobertura ficar completa. Com o aumento da pressão relativa, o sólido
ficará coberto de diversas camadas até que na saturação seu número será infinito.
Tipo III: são caracterizadas, principalmente, por calores de adsorção inferiores ao calor de
liquefação do adsorbato. Conforme a adsorção procede, a adsorção adicional é facilitada
porque a interação do adsorbato com a camada adsorvida é maior do que a adsorção com a
superfície do adsorvente.
Tipo IV: ocorrem em materiais mesoporosos. Neste caso ocorre inicialmente a cobertura de
uma monocamada. O segundo degrau de adsorção indica a adsorção na faixa dos mesoporos.
Normalmente esse tipo de isoterma apresenta um “loop” de histerese, ou seja, a isoterma não
segue o mesmo caminho para a adsorção e dessorção.
Tipo V: ocorrem quando existe pouca interação entre o adsorvente e o adsorbato, como no tipo
III. Entretanto, o tipo V está associado a estruturas porosas que produzem o mesmo degrau que
nas isotermas de tipo IV.
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Tipo VI: ocorrem em materiais ultramicroporosos. A pressão na qual a adsorção depende
fundamentalmente da interação entre a superfície e o adsorbato. Se a adsorção é
energeticamente uniforme, o processo ocorre com uma pressão bem definida. Porém se a
superfície contém poucos grupos de sítios energeticamente uniformes, uma isoterma com
degraus pode ser esperada.
Cada degrau na isoterma corresponde a um grupo específico de sítios. Os materiais
mesoporosos do tipo SBA-15 apresentam as Isotermas do tipo IV ao adsorver nitrogênio a 77
K. O fenômeno de histerese pode ocorrer principalmente em função da estrutura dos
mesoporos. Isto pode ser explicado pelo fato de que a evaporação do gás condensado em poros
mais finos não ocorre tão facilmente como a sua condensação. Isto ocorre porque as moléculas
que evaporam de meniscos de altas curvaturas tem uma alta probabilidade de recondensar que
uma evaporando de uma superfície plana (BOND, 1987).
Segundo a IUPAC as histereses observadas em isotermas do tipo IV por adsorção de
nitrogênio com p/p de 0 a 1 se dividem em quatro tipos (Figura 2.7.3.1). As histereses do tipo I
e II são características de materiais com sistema de poros cilíndricos, ou feitos a partir de
agregados ou aglomerados, de partículas esferoidais. Em ambos os casos os poros podem ter
tamanho uniforme (H tipo I) ou tamanho não uniforme (H Tipo II). As histereses do tipo III e
IV são usualmente encontradas em sólidos formados a partir de agregados de partículas
formando poros de diferentes geometrias, como por exemplo: pratos ou partículas cúbicas,
com tamanho uniforme (H tipo III) e não uniforme (H tipo IV).
Figura 2.7.3.1 Perfil das histereses de adsorção de nitrogênio
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Um dos métodos mais empregados para se obter área superficial total de sólidos
porosos foi proposto por Brunauer, Emmet e Teller (BET) (BRUNAUER, 945; BRUNAUER
et al., 1938). Com esse método se permite determinar a massa de gás necessária a recobrir uma
monocamada (W) a 77 K. Alternativamente podem também se adsorver outros gases como
kriptônio, argônio e hélio em substituiço de nitrogênio. Nesse caso quando se pretende obter
áreas superficiais menores que 1 mg. O método BET assume que:
• O calor de adsorção da primeira monocamada é constante;
• A interação lateral entre as moléculas adsorvidas é desprezada;
• As moléculas adsorvidas atuam como novos centros de adsorção para novas moléculas;
• O calor de adsorção da primeira camada é igual ao calor de condensação.
Um método bastante utilizado para determinação da distribuição e volume mesoporoso
consiste no método proposto por Barret, Joiyner e Halenda (BJH) (BARRETet al., 1953). Este
método é amplamente utilizado e pode ser encontrado comercialmente nos softwares de
tratamento de dados em muitos equipamentos de levantamento de isotermas de adsorção sob a
norma ASTM D 4481/87.
Outros métodos que podem ser utilizados para estimar as propriedades superficiais de
materiais micro, meso e macroporosos são encontrados na literatura, como por exemplo, t, -
plot para área superficial externa e volume total de poros para sólidos microporosos (DeBoer e
Lippens, 1965; Sing, 1970), MP para volume e distribuição de diâmetro de microporos
(Mikhailet al., 1968), DFT para volume e distribuição de diâmetro microporoso (Seatonetal.,
1989), KJS para distribuição de diâmetro de mesoporos (KRUKet al., 1997 a,b).
2.7.4 Microscopia Eletrônica de Varredura
A análise da morfologia que caracteriza um determinado material pode ser estudada
através das técnicas de microscopia, tais como microscopia óptica (MO), microscopia
eletrônica de varredura (MEV), Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET) e Microscopia
de Campo Iônico (MCI). De uma forma geral podemos destacar cada uma dessas técnicas
microscópicas como tendo as seguintes utilidades:
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• Microscopia ótica: permite a análise de grandes áreas, além de ser de utilização
simples, rápida e pouco dispendiosa;
• Microscopia eletrônica de varredura: apresenta excelente profundidade de foco,
permitindo analisar superfícies irregulares, dando idéia de morfologia e diâmetro médio de
partículas;
• Microscopia eletrônica de transmissão: permite a análise de defeitos e fases internas
dos materiais, como discordâncias, falhas de empilhamento, metais dispersos em suportes e
poros de peneiras moleculares mesoporosas;
• Microscopia de campo iônico: por apresentar excelente resolução, permite estudos
difíceis de serem realizados com as outras técnicas, tais como defeitos puntiformes, forma de
contornos e de interfaces.
Na técnica de microscopia eletrônica de varredura (MEV), os elétrons são acelerados
na coluna do microscópio através de duas ou três lentes eletromagnéticas por tensões de 1 a 30
kV. Estas lentes fazem com que um feixe de elétrons bastante colimado (50 a 200 Å de
diâmetro) atinja a superfície da amostra. Bobinas de varredura fazem com que o feixe varra a
superfície da amostra na forma de uma varredura quadrada similar a uma tela de televisão. A
corrente que passa pela bobina de varredura de maneira sincronizada pelas correspondentes
bobinas de deflexão de um tubo de raios catódicos de modo a produzir uma imagem similar,
mas aumentada. Os elétrons emitidos atingem um coletor e a corrente resultante é amplificada
utilizada para modular o brilho do tubo de raios catódicos. Os tempos associados com a
emissão e coleta dos elétrons comparados com o tempo de varredura não são desprezíveis de
modo que há uma correspondência entre o elétron coletado de um ponto particular da amostra
e o brilho do mesmo ponto na tela do tubo. O limite de resolução de um MEV é cerca de uma
ordem de grandeza melhor que o microscópio ótico (MO) e pouco mais de uma ordem de
grandeza inferior que a de um microscópio eletrônico de transmissão (MET). Enquanto que
para o MO a profundidade do foco decresce sensivelmente para aumentos crescentes e em
MET só com o auxílio de réplicas, pode-se analisar superfícies, com MEV qualquer superfície
boa condutora elétrica e estável em vácuo pode ser analisada com boa profundidade de foco.
Materiais isolantes devem ser recobertos com uma fina camada de material condutor que
tipicamente é à base de ouro.
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2.7.5. Espectroscopia na Região do Infravermelho
A Espectroscopia na Região do Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR) é
uma das técnicas de caracterização mais comuns existentes. O seu uso permite caracterizar
uma larga faixa de compostos inorgânicos e orgânicos. Esta técnica se baseia
fundamentalmente na medida de absorção em freqüncias de infravermelho por uma amostra
posicionada no caminho do feixe de radiação infravermelha. As radiações infravermelhas
apresentam comprimentos de onda típicos que variam 0,78 a 1000 µm e números de onda
variando de 13000 a 10 cm-1. O número de onda pode ser definido como o recíproco do
comprimento de onda (SETTLE, 1997).
Os espectros de infravermelho são gráficos apresentados sob a forma de número de
onda ou comprimento de onda (eixo das abscissas) versus absorbância ou transmitância (eixo
das ordenadas). A absorbância e a transmitância estão relacionadas entre si pela Equação 3.
Ab = log10(1/Tr) (3)
As principais aplicações para esta técnica são:
• Identificação de todos os tipos de compostos orgânicos e muitos tipos de compostos
inorgânicos;
• Determinação de grupos funcionais em substâncias orgânicas;
• Determinação quantitativa de compostos em misturas;
• Identificação de componentes de reação e estudos cinéticos das reações.
As amostras para essa análise podem ser sólidas, líquidas ou gases. Para sólidos é
desejável se trabalhar com cerca de 50 a 200 mg sendo 10 µg o mínimo requerido para se diluir
de 1-3 % numa matriz transparente (como por exemplo: KBr). Para líquidos são requeridos
geralmente cerca de 0,5 µL e para gases cerca de 50 ppm. Essas quantidades são padrões, mas
podem variar dependendo do tipo do equipamento (SETTLE, 1997).
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 2: Aspectos teóricos
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 40
2.8. Avaliação catalítica do LaSBA-15
A utilização de reações modelo como técnica de caracterização para a identificação de
materiais tem sido bastante útil por fornecer informações sobre as propriedades ácidas da
estrutura porosa.
As mais importantes aplicações industriais para os vários tipos de materiais
mesoporosos são as reações de catálise ácida e catálise bifuncional utilizadas em processos da
indústria petroquímica. Com a descoberta dos materiais mesoporosos do tipo SBA-15 abriram-
se várias perspectivas para uma conversão catalítica mais efetiva das moléculas de cadeia
longa, causada pela sua melhor acessibilidade aos centros ácidos (RESCHETILOWSKI et al,
1997).
As peneiras moleculares mesoporosos têm sido bastante estudadas nos últimos anos,
principalmente quanto ao seu comportamento catalítico em diversas reações da indústria
petroquímica (PINNAVAIA et al, 1999; ZHAO et al., 1996). A introdução de lantânio nas
paredes dos silicatos mesoporosos tem modificado as propriedades ácidas destes materiais,
aprimorando características, tais como: porosidade (tornando facilmente acessível) e uma
melhor estabilidade térmica e química, podendo revelar-se particularmente útil na preparação
de novos catalisadores, substituindo os materiais microporosos tradicionais (NOWAK ;
ZIOLEK, 1999).
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 3: Estado da arte
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 42
3 Estado da arte
Neste capitulo são descritos os principais ponderamentos, evolução histórica do
trabalho.
3.1 História do Biodiesel
O petróleo é um importante combustível fóssil com uma composição complexa nos
quais destacam-se os hidrocarbonetos e outros compostos orgânicos contendo átomos de
oxigênio, nitrogênio ou enxofre na sua estrutura (Kropp et al., 1997). Durante o processo de
combustão, os heteroátomos presentes nas cadeias carbônicas dão origem a perigosos
poluentes atmosféricos como o monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx) e
óxidos de enxofre (SOx) que se destacam por possuírem difícil degradabilidade.
A partir da primeira crise mundial do petróleo, em 1973, observa-se a existência de
políticas públicas em diversos países destinadas a promover a produção de biocombustíveis
de forma mais consistente. No caso brasileiro, a política de criação do Pró-Álcool visou
reduzir a dependência do país dos combustíveis fósseis, ao mesmo tempo em que se buscou
construir uma alternativa à matriz energética do país.
Assim, nota-se que desde a década de 1970 o Estado brasileiro vem estimulando o
desenvolvimento de novas fontes energéticas a partir do uso mais expressivo da biomassa,
destacando-se especialmente a produção de etanol. Já o programa do Biodiesel, incorporado
efetivamente no debate da matriz energética somente nas últimas décadas do século XX, se
constitui em uma fonte renovável de energia derivada de produtos agrícolas, biomassa
florestal e outras matérias orgânicas, além de produtos de origem animal.
Em termos de trajetória histórica, verificam-se distintas fases na incorporação do
Biodiesel à agenda das políticas públicas. Em 1980 o Governo Federal lançou o Programa
Nacional de Produção de Óleos Vegetais para Fins Energéticos (Proóleo), que continha o
Prodiesel, como um de seus subprogramas. Ainda naquele ano foi criada a Empresa Cearense
Produtora de Sistemas Energéticos (Proerg), em Fortaleza, de onde surgiram dois tipos de
óleos combustíveis: o óleo de origem vegetal, obtido através da semente de maracujá; e óleo
de origem animal, extraído de peixes.
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 3: Estado da arte
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 43
Em 1983, a Proerg, em parceria com Aeronáutica, desenvolveu o Prosene, que
substituiu o querosene de avião, sendo realizado no mesmo ano o primeiro vôo com
combustível não derivado do petróleo. No entanto, como nos anos seguintes a crise do
petróleo diminuiu, o programa foi desativado e a Proerg extinta.
Este tema voltou à agenda pública somente na segunda metade da década de 1990,
quando houve uma reestruturação da matriz energética do país, com a instituição de novos
marcos regulatórios e com a própria criação das agências reguladoras, dentro da lógica que
comandou o processo de privatização do sistema energético estatal edificado nas décadas
anteriores.
Assim, através da resolução 180, de 1998, a Agência Nacional do Petróleo (ANP)
autorizou a realização de testes e comercialização de combustíveis não especificados, sendo a
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a primeira instituição que solicitou a
realização de testes para uso do biodiesel em motores de combustão. Registre-se que nesses
primeiros testes foi utilizado óleo vegetal residual advindo de frituras para obter o biodiesel, o
qual foi misturado ao óleo diesel normal a uma proporção de 5%. De posse de alguns
resultados, a UFRJ/COPPE realizou em 2001 o seminário “Potencial do Biodiesel no Brasil”,
contando com a participação de diversos agentes públicos (Petrobrás, Instituto Nacional de
Tecnologia, ANP) e privados (empresários dos ramos de transportes e energia). O evento
concluiu pela viabilidade econômica de uma política nacional que buscasse a substituição
paulatina do óleo diesel derivado do petróleo pelo biodiesel advindo de produtos vegetais e da
biomassa.
Em decorrência dos diversos estudos e pesquisas realizadas após o novo marco
regulatório energético brasileiro, o Governo Federal criou, em 2002, o Programa Brasileiro de
Biocombustíveis (Probiodiesel), cuja coordenação ficou ao encargo do Ministério das
Ciências e Tecnologia. Em linhas gerais, esse programa tinha como objetivos reduzir a
dependência do petróleo; expandir os mercados das oleaginosas; impulsionar a demanda por
combustíveis alternativos; e reduzir a emissão de gases poluentes, visando atender as regras
do Protocolo de Kioto, do qual o Brasil é signatário (POUSA et al., 2007).
Atualmente, o Brasil tem se mostrado como uma potência na produção de
biocombustíveis, especialmente, etanol, com metas ambiciosas para o biodiesel. Neste
sentido, foi lançado em dezembro de 2004, o Programa Nacional de Produção e Uso do
Biodiesel (PNPB). Dentre os objetivos econômicos da produção do biodiesel, o principal
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 3: Estado da arte
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 44
objetivo social foi o desenvolvimento regional via promoção da agricultura familiar. O PNPB
incentiva pesquisas de projetos relacionados com biodiesel em toda a cadeia produtiva deste e
estimula a demanda do mercado para biodiesel na matriz energética Brasileira (POUSA et al.,
2007).
Após o início do Governo Federal de 2002, o Probiodiesel sofreu diversas
reformulações, sendo renomeado como Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel
(PNPB), em 2004. Segundo o Governo Federal atual, essas reformulações foram realizadas
para dar um caráter mais social ao programa, através da incorporação de outros segmentos
sociais ao mesmo, especialmente dos agricultores familiares, e ampliar a capacidade de
geração de emprego e de renda.
Para tanto, criou, através de decreto presidencial, um Grupo de Trabalho
Interministerial (GTI) composto por representantes da Casa Civil e de mais onze ministérios,
com o objetivo de discutir a viabilidade econômica e social do uso de biodiesel como fonte de
energia. Tal GTI produziu um relatório que enfatizou aspectos relacionados à produção,
distribuição, comercialização, tributação e controle de qualidade. Este relatório técnico, que
serviu de base para as reformulações anteriormente mencionadas, acenou que a produção de
biodiesel que deveria ocorrer de forma descentralizada, contemplando as diversas rotas
tecnológicas, matérias-primas utilizadas, categorias de produtores, característicos regionais e
tamanhos de plantas industriais.
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Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 45
3.2 Desafios ambientais
Atualmente, discussões a respeito dos problemas ambientais passaram a ocupar lugar
de destaque nos fóruns mundiais. O que antes era debatido quase que no campo filosófico,
passou a fazer parte das agendas de decisões dos mesmos. Governantes, empresários,
industriais, engenheiros, cientistas, enfim todos os setores da sociedade moderna
compreendem a importância da preservação dos recursos naturais e do controle de emissões
de poluentes. Como exemplo, destaca-se o protocolo de Kioto, que tem levado países como o
Japão a meta de reduzir em 6% os níveis de emissão de CO2 entre os anos de 2008 a 2012
(POUSA et al., 2007).
Neste contexto, a queima de combustíveis fósseis para os mais diversos fins como
transporte, energia e aquecimento, possui grande destaque nessas discussões. Além de ser
uma fonte não renovável, os combustíveis fósseis são responsáveis por diversos problemas
ambientais, como aquecimento global e chuvas ácidas.
3.3 Combustíveis renováveis
A busca por combustíveis renováveis e com menores impactos ambientais tem levado
ao uso dos chamados biocombustíveis. O bioetanol e o biodiesel são os principais
biocombustíveis atualmente empregados em grande escala. O diesel proveniente do petróleo
ocupa um lugar de destaque na matriz energética e de transporte nacional, o que tem
incentivado as pesquisas de desenvolvimento de produtos e aplicações envolvendo o
biodiesel.
O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel define biodiesel como sendo:
Combustível biodegradável derivado de fontes renováveis como óleos vegetais e gorduras
animais que, estimulados por um catalisador, reagem quimicamente com álcool. Existem
diferentes espécies de oleaginosas no Brasil das quais se podem produzir o biodiesel, entre
elas: mamona, dendê, girassol, babaçu, soja e algodão.
O biodiesel pode ser produzido pela transesterificação, também conhecida como
alcoólise, de óleos vegetais e/ou gorduras animais, ou pela esterificação de ácidos graxos
livres, mediante a utilização de um catalisador ácido, básico ou enzimático, que pode ser
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 3: Estado da arte
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 46
homogêneo ou heterogêneo. Trata-se de um biocombustível que possui grande adaptabilidade
à tecnologia atual dos motores do ciclo-diesel, configurando-se como uma alternativa técnica
capaz de atender, de imediato, a toda a frota já existente e movida a diesel de petróleo.
O etanol apresenta a vantagem de não ser tóxico, ser biodegradável e ser produzido a
partir de fontes renováveis. Destaque-se que o Brasil produz anualmente cerca de 12 bilhões
de litros de etanol a partir da cana-de-açúcar e que tem uma capacidade ociosa de mais de 2
bilhões de litros por ano.
Ressalte-se, ainda, que o Brasil tem uma grande área disponível para a produção de
oleaginosas e cana-de-açúcar. O Brasil cultiva 56 milhões de hectares e tem mais 90 milhões
de hectares disponíveis. Existem, ainda, 225 milhões de hectares de pastagens que poderão,
devido ao avanço tecnológico, ser reduzidos em 15% nos próximos anos, sem diminuição da
produção de bovinos. Apenas com a substituição de pastagens, o país terá mais 30 milhões de
hectares de terras disponíveis que poderão ser usadas na produção de matérias-primas para a
produção de etanol e biodiesel.
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 3: Estado da arte
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 47
3.4 Novos catalisadores
Industrialmente, o biodiesel ainda é em grande parte produzido por catálise alcalina
em meio homogêneo, utilizando alcóxidos metálicos como catalisadores e variando-se o tipo
de óleo vegetal, de acordo com a região.
Entretanto, para que este processo seja tecnicamente viável, o óleo deve conter baixo
teor de ácidos graxos livres para evitar o consumo do catalisador alcalino e assim reduzir o
rendimento do processo de alcoólise. Outro requisito importante é que o material graxo
possua baixo teor de umidade. Isto porque a água desloca o equilíbrio químico em favor da
hidrólise do alcóxido, produzindo o álcool correspondente e o hidróxido do metal utilizado
como contra-íon do alcóxido.
Além disso, a presença de água pode induzir a hidrólise dos monoésteres produzidos,
aumentando assim a possibilidade da formação de emulsões e de uma consequente redução no
rendimento do processo. (Chuayplod, Trakampruk, 2009)
A síntese do biodiesel também pode ser realizada por catálise heterogênea. Tal
estratégia oferece vantagens técnicas e ambientais em relação à catálise homogênea, pois
facilita à purificação dos monoésteres alquilicos, permite a reciclagem do catalisador sólido
ao longo de sua vida útil e minimiza a geração de efluentes. Além disso, facilita
consideravelmente a recuperação e a purificação da glicerina. Vários sólidos têm sido
propostos como catalisadores em potencial para a síntese do biodiesel. O desempenho destes
materiais como catalisadores está naturalmente relacionado com a natureza dos sítios ácidos
ou básicos encontrados nestes materiais (ZABETI et al., 2009).
McBain (1932) introduziu o termo “peneira molecular” para designar um grupo de
zeólitas naturais que tinham a capacidade de separar grupos de moléculas em função do seu
diâmetro cinético inferior ou superior aos diâmetros dos poros das zeólitas. Esta propriedade
também definida como seletividade de forma, foi então tida como a base da arquitetura de
novos tipos de matérias zeolíticos.
Albuquerque et al., (2008) estudaram as propriedades catalíticas do material suportado
em várias mesoporosa SBA-15 sílica na transesterificação de óleos vegetais com etanólise.
Yan et al., (2009) estudaram o uso de SBA-15 modificado com lantânio na reação de
transesterificação etílica.
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 4: Metodologia experimental
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 ‘49
4 Metodologia experimental
Neste capítulo serão apresentados os procedimentos para o desenvolvimento deste
trabalho. Mostrando a síntese, suas caracterizações, os equipamentos e utilizando o material na
obtenção do biodiesel afim de verificar sua conversão.
4.1 Síntese do catalisador LaSBA-15
A síntese do catalisador foi feita através do método hidrotérmico proposto por Zhao et
al., (1998) e com uma adaptação de Sousa (2005), levando em consideração o monitoramento
feito na síntese do material nanoestruturado SBA-15 que serviu para ajustar as propriedades
tornando-as adequadas para o uso do material.
O catalisador foi preparado com a seguinte razão de Si/La: 50. Para a obtenção da razão
escolhida foi realizado cálculo estequiométrico para determinar a quantidade necessária do sal
de cloreto de lantânio heptahidratado, LaCl3.7H2O, sendo que após os cálculos os reagentes
foram misturadas para corresponder à seguinte composição molar:
0,015 P123 + 2,763HCl + 166, 674H2O + 1TEOS + XLaCl3.7H2O (4)
Onde: X = Si/La.
4.2 Reagentes
O catalisador de sílica-lantânio (LaSBA-15) foi sintetizado hidrotermicamente
utilizando os seguintes reagentes:
• Tetra-etil-ortosilicato - TEOS – Si(OC2H5)4(C8H20O4Si) (Aldrich PM =208.33g/mol,
d=0,934 g/cm3 ) - fonte de sílica utilizada;
• Pluronic P123: Copolímero Tribloco – EO20PO70EO20 (BASF, PM médio =5.750g/mol) –
direcionador estrutural;
• Ácido Clorídrico Fumegante HCl (MERCH – 37% P.A. – PM = 36,5 g/mol, d=1,19
g/cm3) – diluente;
• Cloreto de Lantânio Heptahidratado (LaCl3.7H2O);
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 4: Metodologia experimental
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 ‘50
• Água destilada H2O (PM = 18,02 g/mol, d = 1,00 g/cm3).
O procedimento de síntese foi iniciado com a dissolução do direcionador, copolímero
tribloco P123 (EO20PO70EO20) e ácido clorídrico P.A. (HCl), foram misturados a água
destilada (H2O) sob agitação e a 40 ºC, por 2 horas. Após este tempo, foram adicionados a
fonte de sílica, TEOS Si(OC2H5)4(C8H20O4Si) e a quantidade necessária da fonte de lantânio
LaCl3.7H2O, a mistura resultante foi mantida sob agitação na mesma temperatura por 24 horas
até obter uma mistura homogênea. O gel, assim obtido, foi transferido para o frasco de Teflon,
onde foi aquecido a 100 ºC e mantido em repouso, nesta temperatura, por 48 horas. Decorrido
este tempo, o material obtido foi resfriado a temperatura ambiente, filtrado a vácuo e lavado
com 50 mL de álcool etílico P.A. da Vetec. Em seguida, o material foi seco a temperatura
ambiente por 48 horas. Um fluxograma geral deste procedimento de síntese está apresentado
na Figura 4.2.1.
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 4: Metodologia experimental
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 ‘51
Figura 4.2.1: Fluxograma da metodologia experimental da síntese dos catalisadores de sílica-lantânio.
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 4: Metodologia experimental
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 ‘52
Uma determinada quantidade do material sintetizado foi submetido ao processo de
calcinação em um forno mufla, com temperatura programada iniciando na temperatura 30º até
500ºC, sob a uma razão de aquecimento de 10 ºCmin-1 em atmosfera dinâmica de nitrogênio
(N2) a um fluxo de 60mLmin-1 durante uma hora, para total remoção do direcionador inserido
no interior dos poros do material. A seguir, o fluxo de nitrogênio (N2) foi trocado por
atmosfera de ar nas mesmas condições, para oxidação do direcionador orgânico remanescente
(Figura 4.2.2).
Figura 4.2.2 Sistema de calcinação dos catalisadores.
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 4: Metodologia experimental
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 ‘53
4.3. Caracterização dos catalisadores
As propriedades do catalisador como estabilidade, seletividade e atividade catalítica são
observadas e explicadas a partir de caracterizações físico-químicas. Propriedades como área
superficial e diâmetro dos poros de um catalisador é de extrema importância na verificação de
sua atividade catalítica.
4.3.1 Análise termogravimétrica (TGA/DTG)
A análise foi realizada com o objetivo de determinar a melhor condição de retirada do
direcionador P123 dos poros do material obtido, e também determinar as melhores condições
de calcinação para decomposição do sal precursor da fase metálica. Na análise foi utilizado
aproximadamente 12mg de material não calcinado, em um equipamento modelo METTLER
TOLEDO TGA/SDTA 851, como ilustrado na figura 4.3.1. Utilizando uma razão de
aquecimento de 10ºCmin-1 variando a temperatura de 30º até 900ºC, para a realização de
estudos cinéticos para a remoção do direcionador utilizando-se uma atmosfera dinâmica de
nitrogênio, com fluxo de 60 mL/min.
Figura 4.3.1 Termobalança TG/DTG.
4.3.2 Difração de Raios-X (DRX)
A estrutura cristalina do material obtido foi determinada utilizando o método analítico
baseados no emprego de raios X. O método do pó tem sido o mais utilizado na obtenção de
difratogramas da estrutura mesoporosa SBA-15, verificando se houve a formação de estrutura
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 4: Metodologia experimental
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 ‘54
hexagonal mesoporosa (ZHAO et al, 1998). Os experimentos de difração de raios-X foi
realizado utilizando radiação de CuKα, com tensão acelerada 40 KV e corrente de 40 mA, com
varredura de 0,5º a 10º para 2θ, com velocidade de varredura de 2°min-1, realizado em um
difratômetro XRD-6000 da SHIMADZU, como mostrado na figura 4.3.2 abaixo.
Figura 4.3.2 Detalhe do difratômetro de Raios-X.
4.3.3 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
A microscopia eletrônica de varredura do material obtido pela razão Si/La = 50 com o
objetivo de observar morfologicamente foi obtida em um equipamento Philipps modelo XL30-
ESEM, figura 4.3.3. Antes da análise a amostra foi aderida ao porta amostra por meio de uma
fina fita de carbono. A análise foi realizada com ampliações de faixa de 500 e 20000 vezes.
Figura 4.3.3 Microscópico eletrônico de varredura.
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 4: Metodologia experimental
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 ‘55
4.3.4 Espectroscopia na região do Infravermelho com transformação de Fourier
(FTIR)
A espectroscopia na região do infravermelho foi utilizada com o objetivo de identificar
qualitativamente as frequências vibracionais, suas respectivas atribuições referentes aos grupos
funcionais, inorgânicos presentes no material mesoporoso obtido e aos grupos funcionais
orgânicos presentes na estrutura do direcionador (P123). Nos poros da amostra na forma não
calcinada e verificar a eficiência do processo de calcinação na remoção do direcionador com
desaparecimento de algumas bandas, e também, verificar quais são as principais frequências
vibracionais e suas respectivas atribuições na estrutura da peneiras molecular contendo
lantânio.
Os espectros de absorção na região do infravermelho das amostras calcinadas e não
calcinadas foram obtidos na região do infravermelho médio na faixa de 400 – 4000 cm-1
resolução de 4 cm-1 . Antes da análise a amostra foi seca na estufa a 100ºC por 2 horas, para
diminuir a umidade, e em seguidas diluída em KBr numa concentração de aproximadamente
2 % em peso. O material obtido foi prensado (Prensa Carver) hidraulicamente com 5 toneladas
e as pastilhas analisadas em um espectrômetro de infravermelho com transformada de Fourier
(FTIR) da Bomem MB102.
4.3.5 Adsorção e dessorção de N2
A determinação da área superficial do material foi obtida através da adsorção de N2 a
77K usando o método BET em um equipamento da Quantachrome modelo NOVA- 2000.
Antes da análise cerca de 500mg de amostra, previamente calcinada, foi pré-tratada a 200 °C
sob vácuo por 3 horas. Esse tratamento visa remover a umidade da superfície do sólido. As
isotermas de adsorção de N2 para a amostra foi obtida na faixa de P/P0 entre 0,1 e 0,9,
permitindo-se obter informações importantes sobre o material, tais como: área superficial
(BRUNAUER et al., 1938), e volume mesoporoso (BARRET et al., 1953).
Os dados de área superficial são importantes para se avaliar a influência da
incorporação de lantânio no material mesoporoso SBA-15. As isotermas de adsorção e
dessorção foram obtidas numa faixa de P/P0 de 0,01 até 0,95. Os dados relativos a volume de
gás adsorvido em função da pressão parcial foram correlacionados por modelos matemáticos
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 4: Metodologia experimental
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para determinação da área superficial (BRUNAUER et al., 1938), volume e distribuição de
poros (BARRET et al., 1953).
Figura 4.3.5 Equipamento utilizado para as análises superficiais por adsorção/dessorção de N2.
4.4 Caracterização do óleo
O óleo de soja foi estudado em conformidade as normas da American Oil Chemists
Society (AOCS). Todas estas compiladas no Regulamento Técnico da ANP No1/2008 através
da Resolução No7/2008 da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP).
4.4.1 Massa Específica a 20ºC
A massa específica é uma propriedade do combustível que afeta diretamente as
características de desempenho do motor. Muitas características de desempenho, tais como o
número de cetano e de valor de aquecimento, estão relacionadas com a densidade (TAT;
GERPEN, 2000). A massa específica e viscosidade dos combustíveis afeta o início da injeção,
a pressão de injeção, e as características de pulverização de combustível, de modo que elas
influenciam o desempenho do motor de combustão e emissões de escape (ALPTEKIN;
CANAKCI, 2008).
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 4: Metodologia experimental
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 ‘57
A massa específica das amostras de óleo e biodiesel foram determinadas segundo a
norma ASTM D 4052 realizada em um densímetro digital de bancada da Anton Paar, modelo
DMA 4500 M. O equipamento foi calibrado com água pura a 4ºC. A amostra foi injetada na
célula do densímetro até o preenchimento total da mesma, a leitura para determinação da
massa específica foi realizada diretamente no visor do equipamento a 20ºC.
4.4.2 Viscosidade Cinemática a 40ºC
Viscosidade cinemática e densidade são os parâmetros exigidos para biodiesel e diesel,
por ser fundamental para as propriedades do combustível. Em um motor diesel, o combustível
é borrifado no ar comprimido, e atomizada em pequenas gotas perto da saída do bocal
(ALPTEKIN; CANAKCI, 2008). Uma das razões mais importantes dos óleos vegetais não ser
utilizado em motores diesel é a sua alta viscosidade, por isso é necessário sua
transesterificação.
A viscosidade cinemática de todas as amostras de óleo e biodiesel, a 40ºC foi
determinada em um viscosímetro automático Tanaka, modelo AKV-202, de acordo com a
norma ASTM D 445. Depois de sugar 15 mL da amostra e analisá-la, o equipamento forneceu
diretamente a viscosidade cinemática da mesma de acordo com a referida norma. O cálculo da
viscosidade cinemática foi realizado conforme a equação 5:
(5)
Sabendo que,
V = Viscosidade cinemática (mm2/s2);
k1 = Constante do tubo capilar para o óleo – 0,03892 mm2/s2;
k2 = Constante do tubo capilar para o biodiesel – 0,01572 mm2/s2;
t = tempo gasto para o liquido fluir no viscosímetro (s).
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4.4.3. Índice de Acidez
O método utilizado para determinação do índice de acidez foi realizado de acordo com
a NBR 14448, utilizando um Titulador Potenciométrico Automático, modelo AT-500N e
marca KEM, equipado com um eletrodo de indicador de vidro e um eletrodo de referência ou
eletrodo combinado, a leitura do resultado é realizada ao final do ponto de equivalência.
Inicialmente, pesou-se 20 g da amostra em uma balança analítica, marca Mettler Toledo, com
precisão 0,0001g, com auxílio de um béquer e adicionou-se 125 mL de solução solvente,
composta por 5mL de água destilada, 495mL de isopropanol e 500mL de tolueno. A solução
solvente foi anteriormente titulada com solução alcoólica de hidróxido de potássio 0,1N sendo
o valor obtido, em mL, correspondente ao branco. A solução de hidróxido de potássio foi
padronizada por uma solução alcoólica de ácido clorídrico e assim determinada a real
concentração da solução titulante (GONDIM, 2009). O cálculo do índice de acidez foi
realizado pela equação 6:
(6)
Onde: IA = índice de acidez; VA = volume (mL) da solução alcoólica de KOH a 0,1N gasto
na titulação da amostra; VB = volume (mL) da solução alcoólica de KOH gasto na titulação
da solução solvente (branco); Ct = concentração (N) da solução de KOH obtida na
padronização e m = massa (g) da amostra.
4.4.4 Ácidos Graxos Livres
A determinação dos ácidos graxos livres em óleo foi realizada de acordo com o
método AOCS Ca 5a-406. Pesou-se 5 g da amostra em um erlenmeyer e adicionou-se 50 mL
de álcool etílico a 95%, previamente neutralizado com solução aquosa padrão de NaOH
aproximadamente 0,1M. Em seguida, aqueceu-se a solução sobre uma placa térmica até
iniciar a ebulição. Utilizando 0,5 mL de solução etanólica de fenolftaleína a 1%, como
indicador titulou-se a quente com solução aquosa de NaOH aproximadamente 0,1 N, até
coloração rósea persistente por 15 segundos. O cálculo do teor de ácidos graxos livres baseou-
se na equação 7:
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Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 ‘59
(7)
Onde: AGL = teor de ácidos graxos livres; V = volume (mL) da solução de hidróxido de
sódio a 0,1 M; ƒ= fator da solução de hidróxido de sódio e m = massa (g) da amostra.
4.4.5. Ponto de fulgor
Os pontos de fulgor e de combustão foram determinados num aparelho de medir ponto
de fulgor tipo vaso pensky aberto, marca Quimis, modelo Q-292-2 seguindo as
recomendações da norma ASTM D 93. Para as medições é colocado na cuba cerca de 0,07 L
da substância a ser analisada, depois inicia-se o aquecimento e abre-se o registro de gás para
acender a chama, esta deve ser controlada para ter aproximadamente 0,003 m de
comprimento. A amostra é aquecida via resistência elétrica, sendo a temperatura medida por
um termômetro diretamente imerso na amostra. Faz-se a leitura do ponto de fulgor no
termômetro, no momento em que há o primeiro lampejo de chama que sai do combustível.
4.4.6. Teor de Enxofre Total por Fluorescência Ultravioleta
A determinação do teor de enxofre para os óleos vegetais, biocombustíveis e blends
foi embasada na norma ASTM D5354, que apesar de ser direcionada a hidrocarbonetos
líquidos, é aplicada também para naftas, destilados, óleos e combustíveis para motores como:
gasolina, gasolina rica em oxigênio, diesel, biodiesel e combustível de aviação, cujo ponto de
ebulição varie na faixa de aproximadamente 25 a 400°C, viscosidades compreendidas entre
0,2 a 20 cSt (mm2/s) a temperatura ambiente que contenha de 1,0 a 8.000 mg kg-1 de enxofre
total (ASTM D5354).
O ensaio foi realizado em um equipamento TS 3000 da Thermo Scientific com
detector de fluorescência ultravioleta, esse equipamento possui um sistema de combustão,
onde o enxofre é oxidado a dióxido de enxofre (SO2). Inicialmente a amostra foi submetida a
homogeneização, com aproximadamente 50 ml foi feita a lavagem do becker com a própria
amostra por três vezes e cerca de 10 ml foram para a lavagem da seringa, 30 µL foram
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succionados e depois cuidadosamente aferido para 20 µL em seguida injetado no forno do
equipamento.
4.5 Condições reacionais
O teste foi realizado num frasco de 500 ml de fundo chato. Um termômetro foi
acoplado à primeira saída para controle de temperatura. O condensador de refluxo foi inserido
na segunda saída para minimizar a perda de etanol por evaporação. A reação de
transesterificação etílica via catálise heterogênea foi realizada com o sistema representado na
Figura 4.5.1.
Figura 4.5.1 Sistema utilizado na reação de transesterificação.
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Inicialmente, o catalisador foi ativado em 1073 K, sob atmosfera inerte, durante uma
hora, a fim de ativar os sítios de Lantânio, eventualmente, formada pelo contato atmosfera em
óxido desde Lantânio não apresentam atividade catalítica (KNOTHE, 2000; COSTA, 2004).
No reator de transesterificação, 30,3 g de óleo de soja comercial (Liza, São Paulo, Brasil)
foram adicionados ao etanol 99,6% (JTBaker, México).
A razão molar de óleo de soja e etanol utilizado foi de 1:20. A reação foi realizada
com 1000 rpm de agitação. Quando a mistura de óleo e álcool atingiram a temperatura
desejada, 343 K, o catalisador foi inserida para a mistura de reação usando um
catalisador/massa de óleo de 0,01. Amostras de 5 mL foram tomadas após 3h e 6h, filtrada
sob vácuo para extrair o catalisador da mistura de reação. Para melhorar a separação de fases
na mistura de reação, 99,5% diclorometano (Cromolina, Diadema, Brasil) foi adicionado e,
posteriormente, vaporizado a partir da fase de éster de 373 K.
A conversão de ésteres etílicos foi avaliada através de espectroscopia de hidrogênio
por ressonância magnética nuclear (1H RMN) com 60 MHz de freqüência utilizando
equipamento Varian EM-360 e CDCl3 como solvente (KNOTHE, 2000; COSTA, 2004).
A técnica de 1H RMN para a determinação de ésteres etílicos é baseado na análise de
três conjuntos de sinais: (A1) de hidrogênio a partir do carbonos etoxi éster; (A2) a
hidrogênios de metileno quatro de glicerol; (A3), o α-metileno presente hidrogênio carbonila
em todos os mono, di e triglicéridos de óleo e ésteres etílicos de ácidos graxos . A conversão
do óleo de soja (EE) em biodiesel (etil esteres) foi obtido a partir da técnica de 1H RMN
utilizando Equação 8.
(8)
Os seguintes parâmetros foram fixados, como: razão molar de etanol:óleo de 20:1,
tempo de reação de 6 horas e temperatura de refluxo (XIE; LI, 2006a).
Uma condição importante que foi investigada é a quantidade de catalisador, a qual
influência diretamente na viabilidade econômica da transesterificação. As sínteses ocorreram
variando a porcentagem de catalisador de 1% a 5%. Essa porcentagem esta relacionada à
massa do óleo.
100)(
(%)2
31×
−=
A
AAEE
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Ao termino da reação, a mistura foi resfriada e separada por filtração para remoção do
catalisador. Em seguida o filtrado foi transferido para um funil de decantação, onde ficou em
repouso por 24 horas. Foram observadas a formação de duas fases, sendo a superior formada
pelos ésteres metílicos impuro, e a fase inferior formada pelo glicerol e etanol, como mostra a
Figura 4.5.2.
Figura 4.5.2 Separação da fase aquosa e dos ésteres etílicos.
Passado o período de 24 horas de decantação, o glicerol e etanol foram recolhidos,
ficando o biodiesel impuro. Para remoção completa do etanol, o biodiesel foi submetido a um
tratamento de lavagem com água morna, sendo controlada pelo pH da água residual da
lavagem, indicava o fim do processo de lavagem. A umidade residual presentes nos ésteres
etílicos após a lavagem foi eliminada por aquecimento a 110ºC em estufa por 3 horas. Após
colocou-se no dessecador até atingir a temperatura ambiente (~25ºC) para ser utilizado nas
análises experimentais.
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 5: Resultados e discussão
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5 Resultados e discussão Apresenta-se neste aqui os resultados e suas discussão. 5.1 Caracterização dos catalisadores 5.1.1 Análise termogravimétrica (TGA/DTG)
A análise termogravimétrica do catalisador de silício-lantânio foi realizada com
amostra não calcinada em atmosfera de nitrogênio. Esta técnica foi utilizada para determinar
quais as melhores condições para calcinar o catalisador de silício-lantânio para retirada do
direcionador (material orgânico) preservando a estrutura do catalisador.
A análise termogravimétrica do catalisador preparado com razão silício/lantânio igual a
50 pode ser visualizada na Figura 5.1.1. Nela encontra-se a TG/DTG do catalisador feita
usando a razão de aquecimento de 10 ºCmin. A curva observada na figura apresenta duas
faixas de temperatura onde ocorrem eventos distintos que são visualizados pelas perdas
percentuais de massa.
Figura 5.1.1: Curva termogravimétrica (TG/DTG) da amostra LaSBA-15 (Si/La=50) não calcinadas.
O primeiro evento de perda percentual de massa localizado na faixa de temperatura de
30 a 140ºC e o segundo evento na faixa de temperatura de 290 a 650ºC. Araújo e Jeroniec
(2000) atribuem em materiais nanoestruturados como sendo o primeiro evento resultado da
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 5: Resultados e discussão
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remoção da água fisissorvida na cavidade porosa dos catalisadores, quando a umidade pode ter
sido adquirida pelas amostras antes destas análises, o segundo evento está relacionado com a
saída de moléculas do direcionador (P123). A partir destes dados foi possível determinar qual
temperatura ideal para retirar o direcionador usado obtendo o modelo cinético de Vyazovkin
(1988).
5.1.2 Difração de Raios-X (DRX)
A Difração de Raios-X do suporte e dos catalisadores foi realizada com as amostras
calcinadas para identificar as estruturas hexagonais que caracterizam os materiais mesoporosos
denominados de SBA-15 (ZHAO et al, 1998). A Figura 5.1.2(a, b) mostra respectivamente os
difratogramas das amostras de SBA-15 e do catalisador com a razão Si/La = 50. Nos
difratogramas aparecem três picos que se apresentam como picos principais da difração
referindo-se aos planos cristalinos com índices de Miller (100), (110) e (200). Estes picos são
característicos da simetria hexagonal p6mm, sendo comuns em materiais mesoporosos do tipo
SBA-15 (DHAR et al., 2005; KUMARAN et al., 2006).
Figura 5.1.2 Difração de Raio X das amostras de catalisadores. (a) SBA-15, (b) LaSBA-15.
Nota-se, ainda, na Figura, que uma intensidade do pico de difração aumentou com a
incorporação do lantânio, o que indica um aumento do ordenamento estrutural da peneira
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molecular com a incorporação do lantânio. Observações semelhantes também foram reportadas
em trabalhos recentes (UM et al., 2008; ZHANG et al., 2008; DAÍ ET al., 2007; LOU et al.,
2008; SELVARAJ e KAWI, 2008; LI et al., 2005) e podem ser causadas pelo aumento do
diâmetro médio de poros ou da espessura da parede; o que, no caso da amostra LaSBA-15,
pode indicar a presença do lantânio no interior das paredes, já que a ligação La – O é mais
longa que a Si – O.
5.1.3 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
A Figura 5.1.3 (a, b) apresenta as micrografias eletrônicas de varredura da SBA-15 e da
amostra LaSBA-15. As análises foram obtidas para observar a morfologia das amostras
sintetizadas.
(a) (b)
Figura 5.1.3 (a, b) - Micrografias eletrônica de varredura das amostras (a) SBA-15; (b) LaSBA-15 (Si/La=50).
Foram observadas na figura morfologia diferenciada para o suporte e o catalisador com
razão Si/La=50. Em algumas regiões das micrografias observa-se partes bem mais claras que
em outras regiões indicando a presença de outro material que encontra-se marcado em circulo,
lantânio. A entrada do lantânio na rede do suporte fez com que sua morfologia se modificasse
passando a aparecer formas em bastões. Algumas morfologias de materiais mesoporosos
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podem ser encontradas na literatura (CHAO et al., 2002; CHOI e YANG, 2003; KATIYAR et
al., 2006) sobre o suporte SBA15.
5.1.4 Espectroscopia na região do Infravermelho com transformação de Fourier (FTIR)
A Figura 5.1.4 apresenta os espectros de infravermelho na região 4000-400 cm-1 para as
amostras de catalisadores sintetizados. Nestes espectros observamos diversas bandas referentes
a estiramentos e deformações de grupos funcionais orgânicas provenientes da molécula do
direcionador (P123), presentes na estrutura do catalisador como também grupos funcionais
inorgânicos.
Figura 5.1.4 Espectros de infravermelho na região 4000-400 cm-1 para as amostras de catalisadores sintetizadas.
Nas amostras observa-se uma banda no comprimento de onda 3400cm-1, que está
relacionada às vibrações de estiramento dos grupos hidroxilas na estrutura mesoporosa
(CALLEJA et al , 2002). No espectro observa-se três picos que caracterizam a presença de
lantânio no suporte SBA-15. Segundo Yu e Zhai (2008) as bandas localizadas na região em
que o comprimento de onda fica entre 500-400cm-1 corresponde a ligação T-O (T=Si, La). As
bandas localizadas entre 870-800 cm-1 correspondem a um estiramento simétrico T-O-T, e a
região 1100 - 1000 cm-1 corresponde ao estiramento assimétrico.
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5.1.5 Adsorção e Dessorção de Nitrogênio (N2)
A Figura 5.1.5 (a, b) apresenta a isoterma de adsorção e dessorção para as amostras
SBA-15 e La-SBA-15 com razão Si/La 50. Nesta figura pode-se observar isoterma do tipo IV,
segundo a classificação de Brunauer et al. (1938) este comportamento é característico de
materiais mesoporosos. De acordo com a literatura os materiais sintetizados são mesoporosos.
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Figura 5.1.5 (a, b) - (a) Isoterma de adsorção/dessorção de nitrogênio da amostra SBA-15. Em detalhe, a
distribuição do diâmetro de poros desta amostra. (b) Isoterma de adsorção/dessorção de nitrogênio da amostra
La50SBA-15. Em detalhe, a distribuição do diâmetro de poros desta amostra.
As áreas superficiais dos materiais foram determinadas a partir dos dados das isotermas
de adsorção de nitrogênio a 77K utilizando o modelo de BET (BRUNAUER et al., 1938) a
faixa de P/Po usada nessa análise foi de 0,05 – 0,20. O diâmetro de poro do material
sintetizado foi obtido pela dessorção do N2 líquido através do volume dessorvido do gás em
função da pressão relativa (P/Po) propostos por BJH (BRUNAUER, 1945). Utilizando uma
faixa de poros de 1 – 8nm. A amostra com razão Si/La=50 mostrou possui maior volume de
poros. Como verificado na tabela 5.1.1 abaixo.
Tabela 5.1.5 Características texturais sintetizadas das amostras de materiais
Amostras a0(nm) Dp(nm) Vp(cm3g
-1) SBET(m
2g
-1)
SBA-15 11.88 4.33 0.95 931.3
La50SBA-15 11.88 7.29 1.09 735.2
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5.2 Óleo de Soja
O óleo de soja empregado foi analisado para a determinação de sua composição
química. Sua composição e suas características físico-químicas são apresentadas na Tabela
5.2. Este tipo de óleo foi escolhido por, além de ser a principal matéria-prima mundial na
produção de biodiesel, o que contribui para um aumento na conversão, em um produto com
melhores características físicas (SUAREZ et al., 2004).
Tabela 5.2: Características físico-químicas do óleo de soja.
Características Óleo de Soja
Enxofre Total (mg.Kg-1) 0,3
Ácidos Graxos Livres (%) 0,25
Índice de Acidez (mg KOH.g-1) 0,18
Índice de Iodo (g de I2.100g-1) 126,24
Massa Específica a 20ºC (Kg.m-3) 921,2
Ponto de Fulgor (°C) 318,0
Viscosidade Cinemática a 40º C (mm2.s-1) 36,51
De acordo com Freedman et al (1984), os principais parâmetros que afetam a reação
de transesterificação são: a razão molar óleo vegetal álcool, tipo e quantidade de catalisador,
tempo, temperatura e os teores de ácidos graxos livres e água no óleo e por conseguinte, a
ordem cinética, as taxas de reação e a energia de ativação (FREEDMAN, 1984;
FREEDMAN, 1986).
Conforme apresentado na Tabela 5.2, todas as características físico-químicas, do óleo
de soja escolhido, estão dentro do padrão determinado de acordo com as normas da ANVISA,
publicados na Resolução nº 482, de 23 de setembro de 1999 (ANVISA, 1999), servindo para
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 5: Resultados e discussão
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 70
o consumo como óleo comestível. A sua baixa acidez (0,07 mgKOH/g óleo) e teor de água
(0,4% p/p) conferem a este características que são adequadas para ser utilizado como matéria
prima para produção convencional de biodiesel, com catalisadores básicos, de acordo com o
demonstrado por MA e HANNA (1999).
5.3 Atividade catalítica
O espectro de 1H RMN do óleo de soja puro que foi usado é mostrado na figura 5.3.1.
Os grupos de oito sinais descritos por Miyake et al.,(1998) podem ser observados: um do
hidrogênio olefínico e um hidrogênio metilênico da glicerina; quatro hidrogênios da glicerina;
hidrogênios dimetilênicos; três grupos CH2 α-carboxílico; grupos de carbonos CH2 vizinhos a
carbonos insaturados; carbonos CH2 vizinhos a carbonos saturados; carbonos CH2 ligados a 2
átomos de carbonos saturados; e três gupos metilas terminais.O espectro de 1H RMN do
produto éster etílico é mostrado na figura. 5.3.2. O sinal quarteto em relação ao hidrogênio
OCH2 grupo, que aparece exclusivamente no espectro da molécula de ésteres etílicos, pode
ser observados na região de 3,8-4,2 ppm. Além disso, o sinal triplet está relação a grupos-α-
CH2, que podem ser encontrados tanto em óleo e ésteres etílicos, é visto na região de 2,2-2,5
ppm.
Figura 5.3.1 Espectro de RMN 1H de óleo de soja puro
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 5: Resultados e discussão
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 71
Figura 5.3.2 Espectro de 1H RMN do éster etílico após 6 horas de reação.
O espectro de 1H RMN do produto após o tempo de reação de 3 hs não mostrou
nenhuma conversão para éster etílico. Depois de 6 hs (Fig. 5.3.2), o valor calculado da
conversão do óleo de soja com etanol utilizando como catalisador na reação de
transesterificação foi de 80% v/v, que é comparável aos valores relatados anteriormente (ver
Tabela 5.3).
Tabela 5.3 Comparação da conversão de biodiesel
Óleo/Álcool Razão molar óleo/álcool
Catalisador Razão molar Catalisador/óleo
Temp (K)
Tempo (h)
Conv. (%vv)
Soja/EtOH 20 LaSBA15 0.01 343 6 80.0
Soja/EtOH 18.8 homogeneous (KOH )
0.01 n.a. 4 96.0
Soja/MeOH 21 Ca3La1 0.05 331 3 94.3
Esta conversão possibilita um novo questionamento sobre qual o tipo de álcool
utilisado associado a um catalisador mesoporoso incorporado com um metal, mostrando uma
conversão melhor quando utilizado como proposto neste trabalho.
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 6: Conclusão
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 72
6 Conclusão
De acordo com os resultados apresentados e discutidos anteriormente referentes as
diversas técnicas de caracterização empregadas no estudo das propriedades dos catalisadores
de silício- lantânio com razão Si/La destacam-se as seguintes conclusões:
A síntese hidrotérmica do material mesoporoso do tipo LaSBA-15 foi conduzida com
sucesso.
Através das análises de difração de raios-X das amostras calcinadas, observou-se que
os difratogramas exibiram os três principais picos referentes aos índices de Miller cujos planos
são (100), (110), (200), o que indica que um grau de ordenação hexagonal foi obtido com a
síntese hidrotérmica do material LaSBA-15.
O método de calcinação também foi efetivo na remoção do P123 sem comprometer
estruturalmente os materiais.
Com base nas análises de adsorção e dessorção de nitrogênio a 77K dos suportes foi
observado que as isotermas de adsorção e dessorção apresentam-se com perfil do tipo IV,
segundo a classificação de Brunauer, as quais são características de materiais mesoporosos.
Através do método BET foi observado que as amostras apresentam áreas superficiais na faixa
de 735 a 931 m2g-1 e os diâmetros médios de poros foram estimados através das curvas de
distribuição de poros obtidas pelo método BJH na etapa de dessorção e os valores se
encontram na faixa de 4,3 a 7,29nm.
As análises de Microscopia Eletrônica de Varredura de todos os materiais revelaram
que fibras de sílica com dimensões micrométricas foram formadas a partir da adesão linear de
nódulos de partículas sub-micrométricas.
A partir das análises de espectroscopia na região do infravermelho médio foi possível
identificar as frequências vibracionais e suas respectivas atribuições referentes aos grupos
funcionais inorgânicos referentes à estrutura da LaSBA-15.
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN Capítulo 6: Conclusão
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo julho/2011 73
Para a transesterificação de óleo de soja o catalisador se mostrou efetivo, conseguindo
alcançar resultados dentro do esperado, de acordo com os valores da Resolução da ANP Nº
7/2008, na faixa de 3 a 6 mPa.s.
Os resultados da reação de transesterificação de óleo de soja utilizando LaSBA-15
(Si/La = 50) como catalisador heterogêneo, confirma a possibilidade de seu uso na etanólise
de óleo de soja em condições mais brandas de operação do que os estudos anteriormente
relatados com metanol. A conversão de 80,0% v/v pode ser obtido usando o óleo/etanol razão
molar de 1:20; relação catalisador/óleo de massa de 0,01; temperatura 343K; atmosfera inerte;
e 6 horas de reação.
Apresentado-se, assim, esta rota etílica com a utilização do material mesoporo
LaSBA-15, uma promissora altenativa na produção de biocombustível, a fim de minimizar os
impactos ambientais.
Dissertação de Mestrado PPGCEP / UFRN REFERÊNCIAS
Larissa Cicianny Luz Ferreira de Araújo junho/2011 75
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