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Slide 1 objetivo investigar, identificar e contextualizar a obra para flauta do compositor Antônio da Costa Nascimento, visando processos identitários relacionados às suas peculiaridades estilísticas, à sua inserção e do instrumento flauta no universo musical da cidade de Pirenópolis/Goiás A justificativa do trabalho começa com a afirmação de que é dever daqueles que se preocupam com a preservação da história e da cultura de seu povo fazer o que lhes for possível para evitar a dissipação do legado de seus ancestrais. É enquanto pirenopolino, músico, flautista, portanto, interessado em buscar e divulgar a história da música e, em especial da flauta dos pireneus goianos, que viveram um intenso movimento musical no ciclo do ouro nos séculos XVIII/XIX, que reconheço e invisto no conhecimento dessa história, ciente da necessidade de divulgá-la para outros brasileiros e, em especial, para os próprios goianos que, em grande parte, também a desconhecem. Slide 2 1727- A iniciativa da fundação do arraial de Meia- Ponte partiu de Manuel Rodrigues Tomar “que, verificando serem aquelas paragens ricas do precioso e cobiçado metal, ali se estabeleceu, com grande número de aventureiros, e deu início à mineração e à lendária cidade”. . A fama da riqueza das minas trouxe para a povoação formada muitos habitantes novos, portugueses e elementos de

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objetivo investigar, identificar e contextualizar a obra para flauta do compositor Antônio da Costa Nascimento, visando processos identitários relacionados às suas peculiaridades estilísticas, à sua inserção e do instrumento flauta no universo musical da cidade de Pirenópolis/Goiás

A justificativa do trabalho começa com a afirmação de que é dever

daqueles que se preocupam com a preservação da história e da cultura de seu

povo fazer o que lhes for possível para evitar a dissipação do legado de seus

ancestrais. É enquanto pirenopolino, músico, flautista, portanto, interessado em

buscar e divulgar a história da música e, em especial da flauta dos pireneus

goianos, que viveram um intenso movimento musical no ciclo do ouro nos

séculos XVIII/XIX, que reconheço e invisto no conhecimento dessa história,

ciente da necessidade de divulgá-la para outros brasileiros e, em especial, para

os próprios goianos que, em grande parte, também a desconhecem.

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1727- A iniciativa da fundação do arraial de Meia-Ponte partiu de Manuel

Rodrigues Tomar “que, verificando serem aquelas paragens ricas do

precioso e cobiçado metal, ali se estabeleceu, com grande número de

aventureiros, e deu início à mineração e à lendária cidade”.

. A fama da riqueza das minas trouxe para a povoação formada muitos

habitantes novos, portugueses e elementos de outros estados brasileiros,

assim como vários sacerdotes que, arrostando diversos perigos, se instalaram

no arraial e constituíram fonte de desenvolvimento para o mesmo.

Esse contexto propiciou uma grande circulação de pessoas, foram

construídas igrejas, e, com elas, firmou-se a prática da música sacra, a

circulação de músicos e de partituras musicais.

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Mendonça (1981, p. 101), concordando com Borges, afirma que foi José

Joaquim Pereira da Veiga – o Vigário da Vara – um dos músicos mais antigos

de que se tem notícia em Pirenópolis, com um trabalho social de formação

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cultural. Ele nasceu a 13 de maio de 1772, ordenou-se no Rio de Janeiro a 16

de setembro de 1799, e faleceu a 10 de dezembro de 1840. Além de lecionar

música, era professor, também, de latim e de desenho. Mendonça (1981, p.

102) ressalta ainda que padre Veiga trouxera consigo do Rio de Janeiro,

ensaiara e encenara nas festas religiosas de Meia Ponte, uns dramas

intercalados de árias que o povo chamava de “ópera”. As árias dessas óperas

necessitavam ser acompanhadas por instrumentos durante a representação e,

por esse motivo, padre Veiga providenciou a organização de um quarteto de

cordas que pudesse desincumbir-se de tal missão. É atribuído a ele, portanto,

um dos primeiros grupos instrumentais que se tem notícia na cidade.

Para o acompanhamento das óperas (que é como se denominava o

teatro), e para e execução dos trios e quartetos clássicos, assim como para a

execução das missas e novenários, o padre Veiga contava com a colaboração

dos seus alunos Paulo Antônio Baptista (violino); Emídio Batista da

Ressureição (violino); José Inácio do Nascimento (violeta) e o padre João

(violoncelo). O padre Veiga e seus músicos formaram no início do século XIX,

por volta de 1805, um quarteto e um pequeno conjunto vocal, que perdurariam

até o seu falecimento, em 1840. [...]

O quarteto criado pelo padre Veiga funcionava principalmente nas igrejas,

executando missas a quatro vozes, cujas partituras eram conseguidas em

arquivos do Rio de Janeiro, das igrejas de São João Del Rei ou eram

compostas pelo próprio padre Veiga ou por outros compositores goianos.

Padre Francisco Inácio da Luz, que também esteve durante algum

tempo no Rio de Janeiro, trouxe para Meia Ponte diversas músicas sacras e

teatrais (Jayme, 1971, p. 247). É considerado, segundo Borges (1999, p. 19),

juntamente com o Pe. Pereira da Veiga, um dos precursores do ensino musical

na antiga Meia Ponte: “instrumentista exímio, marceneiro, pintor, regente,

compositor, deixou inúmeras obras que estão no arquivo musical e na

biblioteca teatral de Pirenópolis”. Foi professor de Antônio da Costa

Nascimento que, segundo Jayme (1971, p. 247) executava com perfeição

flauta, clarinete e saxofone.

Por volta de 1858 foi fundada por esse professor, o que Jayme (1971,

p.247) determina segunda orquestra da cidade. Era formada pelos seguintes

elementos: flauta, Antônio da Costa Nascimento; 1º e 2º violinos, padre

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Francisco Inácio da Luz e Teodolino Graciano de Pina; clarinete, José

Inácio da Cunha Teles; violoncelo, José Inácio do Nascimento Júnior e

oficleide, José Rafael da Cunha Teles. A orquestra executava trechos das

óperas de Bellini, Rossini, Beethoven e outros. Em 1871, ao partir para a

capela de Sant’Ana das Antas, como vigário, o vigário passou a direção

da orquestra a Antônio da Costa Nascimento. A orquestra duraria pouco

tempo, devido ao desmembramento de alguns integrantes diante do

temperamento irascível do novo diretor.

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Por lei de 18 de agosto de 1831, foi criada a Guarda Nacional, da regência

permanente, quando ministro da justiça o padre Diogo Antônio Feijó. Segundo

Jayme (1971, p. 251), essa nova instituição militar foi, pouco depois,

estabelecida em Meia Ponte e teve como pioneiro o comendador Oliveira. À

Guarda Nacional se incorporou a “banda de música”, que passou a ser

chamada “Banda Militar”.

Esse ano de 1868 é muito importante, porquanto foi criada pelo Pe.

Francisco Inácio da Luz e seu irmão Antônio da Costa Nascimento, a Banda

Euterpe, somatório do que restava da antiga corporação de música da Guarda

Nacional, criada em 1831, inclusive com o aproveitamento dos velhos

manuscritos musicais de partes de missas, música para teatro e música para

concerto.

A banda Euterpe foi dirigida, segundo Jayme (1971, p. 251), por Antônio

da Costa Nascimento durante trinta e cinco anos, com “energia e férrea

disciplina”.

Outro ponto observado nas configurações de banda levantadas por

Siqueira é que, de todas elas1, apenas as bandas Euterpe, Phoenix e a Banda

do Seminário (1915), em Goiás, contam com a presença do flautim.

A Banda Nova surgiu, segundo Jayme (1971, p. 253), em 23 de julho de

1893, dia em que Joaquim Propício de Pina, ex-aluno de Antônio da Costa

1Siqueira analisa as configurações das seguintes bandas: Banda do Seminário (1915), em Goiás; banda de Jaraguá (1888 e 1900), banda de Silvânia (1910); Banda Santa Cecília (1908), Banda de um grupo de alunos, Banda União Democrática (1909) e Banda União Operária, do norte de Goiás, atual Tocantins; e banda de Pires do Rio (SIQUEIRA, p. 32 et seq.)

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Nascimento, completou 26 anos. Nesta data, a incipiente corporação, até então

composta somente por alunos de Propício de Pina, foi cumprimentá-lo,

executando várias peças. Jayme (1971, p. 254) observa ainda que, graças ao

espírito de organização do maestro Propício, a banda tinha um arquivo de

músicas religiosas e profanas admirável e bem acondicionado

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Trata-se da abertura do Credo do Bom-Sucesso (Exemplo 1), cuja partitura

apresenta duas linhas de flauta, duas linhas de violino, trompa, oficleide e

baixos. As vozes das duas flautas movem-se juntas em homofonia, geralmente

em intervalos de terças. Tais vozes são executadas na extensão média e

aguda da flauta, onde o instrumento é mais sonoro. Além disso, estão

dispostas sempre em alturas mais agudas que as vozes dos demais

instrumentos

Aluno de Tonico do Padre, major Silvino escreveu, dentre outras obras,

a Novena de São Sebastião e São Bento (MENDONÇA, 1981, p. 129), peça

que conta com a seguinte instrumentação: 2 flautas em dó, 2 clarinetas, 2

pistons, alto, barytono, 2 trombones, 2 bombardinos e baixo, além das quatro

vozes do coro. As madeiras nesta obra são de primordial importância, pois

suas melodias permeiam toda a extensão da obra, em andamento andante, ora

movendo-se homofonicamente, ora em contraponto. Em grande parte desta

peça em Sol maior, a primeira flauta permanece na região aguda, a mais difícil

de todas as regiões da flauta2, chegando a alcançar, no compasso 27, a nota Si

63. No Exemplo 2 estão transcritos os cinco primeiros compassos desta peça,

que antecedem a entrada do coro:

PARTE 2

2“A terceira oitava é a mais difícil de todas as regiões da flauta porque o dedilhado deixa de ter a mesma sequência natural, observada nas duas primeiras oitavas” (WOLTZENLOGEL, 1982, p. 63)3“As notas mais críticas da flauta são o Dó # das regiões média e aguda, que são muito altas. Além destas, o Mib, o Fá #, o Sol #, o Si, o Dó e o Dó # da terceira oitava ficam igualmente altas quando emitidas em fortíssimo” (ibidem, p. 42)

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Antônio da Costa Nascimento nasceu no dia 28 de dezembro de 1837.

Filho do músico e professor de primeiras letras José Inácio do Nascimento

(1787-1850) e de Ana da Glória. Era descendente de paulistas, da família

Rodrigues Nascimento, mais precisamente da terceira geração dos nascidos

em Meia Ponte. (JAYME, 1973, p. 330)

José Inácio do Nascimento foi um homem com um destacado papel na

vida cultural de Goiás, tendo sido “mestre de outro mestres” no magistério.

Instrumentista do conjunto musical erudito do Pe. José Joaquim Pereira da

Veiga, atuou como compositor e regente da orquestra e coro da Matriz, além

de ocupar o cargo de diretor, ensaiador e ator no teatro. O primeiro de seus

filhos, Pe. Francisco Inácio da Luz (1821-1879), também foi, para Pina Filho,

um dos expoentes das artes de todo o estado, tendo feito parte de seus

estudos no Rio de Janeiro.

Pe. Francisco Inácio da Luz foi músico compositor, instrumentista,

regente, pintor, escultor, inventor e marceneiro. Toda a sua base intelectual

deveu-se, segundo o autor (p. 3), a seu pai, o Pe. Manoel Pereira da Souza e,

possivelmente, ao Pe. Pereira da Veiga – o Vigário da Vara. Pe Francisco

ordenou-se no ano de 1844 na cidade de Goiás e foi o primeiro pároco do

então Arraial das Antas, hoje Anápolis. A ele se deve a criação de uma

orquestra e da corporação musical Euterpe. Foi também responsável pela

educação de seu irmão mais novo, Antônio da Costa Nascimento, que herdou

a alcunha de Tonico do Padre nesse contexto. Assim o descreve Jayme: “Bom

marceneiro, hábil mecânico, pintor exímio e musicista renomado. Nos arquivos

musicais de Pirenópolis, encontram-se belíssimas e extraordinárias produções

desse grande discípulo da Euterpe.” (JAYME, 1973, p. 331)

Antônio da Costa Nascimento foi também membro da Irmandade do

Santíssimo Sacramento,

As primeiras notícias de sua atuação como músico remontam, segundo

levantamento de Pina Filho (1986, p. 11), ao ano de 1858, como um dos

músicos da orquestra criada por seu irmão Pe. Francisco Inácio da Luz.

A partir desse mesmo ano de 1868, Antônio da Costa Nascimento

tornou-se responsável pela direção musical instrumental da Igreja, sendo que,

segundo PINA FILHO (1986, p. 12), a partir de 1872 passou a ser responsável

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pela parte instrumental e vocal, “somando ao título de diretor, o de Mestre

Capella, como ele mesmo assinava”