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objetivo investigar, identificar e contextualizar a obra para flauta do compositor Antônio da Costa Nascimento, visando processos identitários relacionados às suas peculiaridades estilísticas, à sua inserção e do instrumento flauta no universo musical da cidade de Pirenópolis/Goiás
A justificativa do trabalho começa com a afirmação de que é dever
daqueles que se preocupam com a preservação da história e da cultura de seu
povo fazer o que lhes for possível para evitar a dissipação do legado de seus
ancestrais. É enquanto pirenopolino, músico, flautista, portanto, interessado em
buscar e divulgar a história da música e, em especial da flauta dos pireneus
goianos, que viveram um intenso movimento musical no ciclo do ouro nos
séculos XVIII/XIX, que reconheço e invisto no conhecimento dessa história,
ciente da necessidade de divulgá-la para outros brasileiros e, em especial, para
os próprios goianos que, em grande parte, também a desconhecem.
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1727- A iniciativa da fundação do arraial de Meia-Ponte partiu de Manuel
Rodrigues Tomar “que, verificando serem aquelas paragens ricas do
precioso e cobiçado metal, ali se estabeleceu, com grande número de
aventureiros, e deu início à mineração e à lendária cidade”.
. A fama da riqueza das minas trouxe para a povoação formada muitos
habitantes novos, portugueses e elementos de outros estados brasileiros,
assim como vários sacerdotes que, arrostando diversos perigos, se instalaram
no arraial e constituíram fonte de desenvolvimento para o mesmo.
Esse contexto propiciou uma grande circulação de pessoas, foram
construídas igrejas, e, com elas, firmou-se a prática da música sacra, a
circulação de músicos e de partituras musicais.
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Mendonça (1981, p. 101), concordando com Borges, afirma que foi José
Joaquim Pereira da Veiga – o Vigário da Vara – um dos músicos mais antigos
de que se tem notícia em Pirenópolis, com um trabalho social de formação
cultural. Ele nasceu a 13 de maio de 1772, ordenou-se no Rio de Janeiro a 16
de setembro de 1799, e faleceu a 10 de dezembro de 1840. Além de lecionar
música, era professor, também, de latim e de desenho. Mendonça (1981, p.
102) ressalta ainda que padre Veiga trouxera consigo do Rio de Janeiro,
ensaiara e encenara nas festas religiosas de Meia Ponte, uns dramas
intercalados de árias que o povo chamava de “ópera”. As árias dessas óperas
necessitavam ser acompanhadas por instrumentos durante a representação e,
por esse motivo, padre Veiga providenciou a organização de um quarteto de
cordas que pudesse desincumbir-se de tal missão. É atribuído a ele, portanto,
um dos primeiros grupos instrumentais que se tem notícia na cidade.
Para o acompanhamento das óperas (que é como se denominava o
teatro), e para e execução dos trios e quartetos clássicos, assim como para a
execução das missas e novenários, o padre Veiga contava com a colaboração
dos seus alunos Paulo Antônio Baptista (violino); Emídio Batista da
Ressureição (violino); José Inácio do Nascimento (violeta) e o padre João
(violoncelo). O padre Veiga e seus músicos formaram no início do século XIX,
por volta de 1805, um quarteto e um pequeno conjunto vocal, que perdurariam
até o seu falecimento, em 1840. [...]
O quarteto criado pelo padre Veiga funcionava principalmente nas igrejas,
executando missas a quatro vozes, cujas partituras eram conseguidas em
arquivos do Rio de Janeiro, das igrejas de São João Del Rei ou eram
compostas pelo próprio padre Veiga ou por outros compositores goianos.
Padre Francisco Inácio da Luz, que também esteve durante algum
tempo no Rio de Janeiro, trouxe para Meia Ponte diversas músicas sacras e
teatrais (Jayme, 1971, p. 247). É considerado, segundo Borges (1999, p. 19),
juntamente com o Pe. Pereira da Veiga, um dos precursores do ensino musical
na antiga Meia Ponte: “instrumentista exímio, marceneiro, pintor, regente,
compositor, deixou inúmeras obras que estão no arquivo musical e na
biblioteca teatral de Pirenópolis”. Foi professor de Antônio da Costa
Nascimento que, segundo Jayme (1971, p. 247) executava com perfeição
flauta, clarinete e saxofone.
Por volta de 1858 foi fundada por esse professor, o que Jayme (1971,
p.247) determina segunda orquestra da cidade. Era formada pelos seguintes
elementos: flauta, Antônio da Costa Nascimento; 1º e 2º violinos, padre
Francisco Inácio da Luz e Teodolino Graciano de Pina; clarinete, José
Inácio da Cunha Teles; violoncelo, José Inácio do Nascimento Júnior e
oficleide, José Rafael da Cunha Teles. A orquestra executava trechos das
óperas de Bellini, Rossini, Beethoven e outros. Em 1871, ao partir para a
capela de Sant’Ana das Antas, como vigário, o vigário passou a direção
da orquestra a Antônio da Costa Nascimento. A orquestra duraria pouco
tempo, devido ao desmembramento de alguns integrantes diante do
temperamento irascível do novo diretor.
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Por lei de 18 de agosto de 1831, foi criada a Guarda Nacional, da regência
permanente, quando ministro da justiça o padre Diogo Antônio Feijó. Segundo
Jayme (1971, p. 251), essa nova instituição militar foi, pouco depois,
estabelecida em Meia Ponte e teve como pioneiro o comendador Oliveira. À
Guarda Nacional se incorporou a “banda de música”, que passou a ser
chamada “Banda Militar”.
Esse ano de 1868 é muito importante, porquanto foi criada pelo Pe.
Francisco Inácio da Luz e seu irmão Antônio da Costa Nascimento, a Banda
Euterpe, somatório do que restava da antiga corporação de música da Guarda
Nacional, criada em 1831, inclusive com o aproveitamento dos velhos
manuscritos musicais de partes de missas, música para teatro e música para
concerto.
A banda Euterpe foi dirigida, segundo Jayme (1971, p. 251), por Antônio
da Costa Nascimento durante trinta e cinco anos, com “energia e férrea
disciplina”.
Outro ponto observado nas configurações de banda levantadas por
Siqueira é que, de todas elas1, apenas as bandas Euterpe, Phoenix e a Banda
do Seminário (1915), em Goiás, contam com a presença do flautim.
A Banda Nova surgiu, segundo Jayme (1971, p. 253), em 23 de julho de
1893, dia em que Joaquim Propício de Pina, ex-aluno de Antônio da Costa
1Siqueira analisa as configurações das seguintes bandas: Banda do Seminário (1915), em Goiás; banda de Jaraguá (1888 e 1900), banda de Silvânia (1910); Banda Santa Cecília (1908), Banda de um grupo de alunos, Banda União Democrática (1909) e Banda União Operária, do norte de Goiás, atual Tocantins; e banda de Pires do Rio (SIQUEIRA, p. 32 et seq.)
Nascimento, completou 26 anos. Nesta data, a incipiente corporação, até então
composta somente por alunos de Propício de Pina, foi cumprimentá-lo,
executando várias peças. Jayme (1971, p. 254) observa ainda que, graças ao
espírito de organização do maestro Propício, a banda tinha um arquivo de
músicas religiosas e profanas admirável e bem acondicionado
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Trata-se da abertura do Credo do Bom-Sucesso (Exemplo 1), cuja partitura
apresenta duas linhas de flauta, duas linhas de violino, trompa, oficleide e
baixos. As vozes das duas flautas movem-se juntas em homofonia, geralmente
em intervalos de terças. Tais vozes são executadas na extensão média e
aguda da flauta, onde o instrumento é mais sonoro. Além disso, estão
dispostas sempre em alturas mais agudas que as vozes dos demais
instrumentos
Aluno de Tonico do Padre, major Silvino escreveu, dentre outras obras,
a Novena de São Sebastião e São Bento (MENDONÇA, 1981, p. 129), peça
que conta com a seguinte instrumentação: 2 flautas em dó, 2 clarinetas, 2
pistons, alto, barytono, 2 trombones, 2 bombardinos e baixo, além das quatro
vozes do coro. As madeiras nesta obra são de primordial importância, pois
suas melodias permeiam toda a extensão da obra, em andamento andante, ora
movendo-se homofonicamente, ora em contraponto. Em grande parte desta
peça em Sol maior, a primeira flauta permanece na região aguda, a mais difícil
de todas as regiões da flauta2, chegando a alcançar, no compasso 27, a nota Si
63. No Exemplo 2 estão transcritos os cinco primeiros compassos desta peça,
que antecedem a entrada do coro:
PARTE 2
2“A terceira oitava é a mais difícil de todas as regiões da flauta porque o dedilhado deixa de ter a mesma sequência natural, observada nas duas primeiras oitavas” (WOLTZENLOGEL, 1982, p. 63)3“As notas mais críticas da flauta são o Dó # das regiões média e aguda, que são muito altas. Além destas, o Mib, o Fá #, o Sol #, o Si, o Dó e o Dó # da terceira oitava ficam igualmente altas quando emitidas em fortíssimo” (ibidem, p. 42)
Antônio da Costa Nascimento nasceu no dia 28 de dezembro de 1837.
Filho do músico e professor de primeiras letras José Inácio do Nascimento
(1787-1850) e de Ana da Glória. Era descendente de paulistas, da família
Rodrigues Nascimento, mais precisamente da terceira geração dos nascidos
em Meia Ponte. (JAYME, 1973, p. 330)
José Inácio do Nascimento foi um homem com um destacado papel na
vida cultural de Goiás, tendo sido “mestre de outro mestres” no magistério.
Instrumentista do conjunto musical erudito do Pe. José Joaquim Pereira da
Veiga, atuou como compositor e regente da orquestra e coro da Matriz, além
de ocupar o cargo de diretor, ensaiador e ator no teatro. O primeiro de seus
filhos, Pe. Francisco Inácio da Luz (1821-1879), também foi, para Pina Filho,
um dos expoentes das artes de todo o estado, tendo feito parte de seus
estudos no Rio de Janeiro.
Pe. Francisco Inácio da Luz foi músico compositor, instrumentista,
regente, pintor, escultor, inventor e marceneiro. Toda a sua base intelectual
deveu-se, segundo o autor (p. 3), a seu pai, o Pe. Manoel Pereira da Souza e,
possivelmente, ao Pe. Pereira da Veiga – o Vigário da Vara. Pe Francisco
ordenou-se no ano de 1844 na cidade de Goiás e foi o primeiro pároco do
então Arraial das Antas, hoje Anápolis. A ele se deve a criação de uma
orquestra e da corporação musical Euterpe. Foi também responsável pela
educação de seu irmão mais novo, Antônio da Costa Nascimento, que herdou
a alcunha de Tonico do Padre nesse contexto. Assim o descreve Jayme: “Bom
marceneiro, hábil mecânico, pintor exímio e musicista renomado. Nos arquivos
musicais de Pirenópolis, encontram-se belíssimas e extraordinárias produções
desse grande discípulo da Euterpe.” (JAYME, 1973, p. 331)
Antônio da Costa Nascimento foi também membro da Irmandade do
Santíssimo Sacramento,
As primeiras notícias de sua atuação como músico remontam, segundo
levantamento de Pina Filho (1986, p. 11), ao ano de 1858, como um dos
músicos da orquestra criada por seu irmão Pe. Francisco Inácio da Luz.
A partir desse mesmo ano de 1868, Antônio da Costa Nascimento
tornou-se responsável pela direção musical instrumental da Igreja, sendo que,
segundo PINA FILHO (1986, p. 12), a partir de 1872 passou a ser responsável
pela parte instrumental e vocal, “somando ao título de diretor, o de Mestre
Capella, como ele mesmo assinava”