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Escola de Engenharia
Pedro Miguel Oliveira Fonseca
Sistematização de Indicadores no
Desenvolvimento de Cidades
Inteligentes
Dissertação de Mestrado
Mestrado integrado em Engenharia e Gestão de
Sistemas de Informação
Trabalho efetuado sob a orientação do
Professor Doutor Ricardo J. Machado
Guimarães, janeiro de 2017
RESUMO
Cada vez mais as cidades enfrentam mais desafios e com um maior nível de
complexidade. Há uma necessidade de cumprimento de objetivos, sejam estes movidos
por fatores socioeconómicos, ambientais, ou por fatores que visam melhorar a qualidade
de vida dos cidadãos. Quando os termos ‘smart city’ ou ‘Cidade Inteligente’ são
mencionados, são-no no sentido de responder a estes desafios. São ambientes abertos,
transparentes e baseados na capacidade de inovação da população.
Trata-se de um conceito que tem atraído bastante atenção, nomeadamente no
desenvolvimento urbano. A crescente importância da Internet e tecnologias a esta
associada capacitam a utilização de cada vez mais serviços em formato eletrónico, e de
infraestruturas baseadas nas tecnologias de informação e comunicação. Estas
infraestruturas são um fator chave no bem-estar das cidades.
Outros fatores determinantes incluem a força do elo de ligação entre as empresas e
a entidade governativa, assim como a existência de cidadãos cada vez mais exigentes,
levando a que haja, cada vez mais, uma necessidade de abrir caminho para a inovação e
para o aumento da qualidade dos serviços.
Neste documento serão analisadas as diversas dimensões que compõem as Cidades
Inteligentes, assim como os seus respetivos indicadores. Refere também algumas das
vantagens e entraves à implementação da abordagem de Cidades Inteligentes.
Palavras-chave: Cidade Inteligente; Indicador; Dimensão; TIC.
ÍNDICE
Resumo ................................................................................................................................................................ ii
Lista de Figuras ................................................................................................................................................ v
Lista de Tabelas ............................................................................................................................................. vii
1. Introdução ................................................................................................................................................. 1
1.1. Contextualização ............................................................................................................................ 1
1.2. Objetivos ............................................................................................................................................ 2
1.3. Abordagem de Investigação ....................................................................................................... 3
1.4. Organização do Documento ....................................................................................................... 4
2. Análise do “Estado da Arte” ................................................................................................................ 5
2.1. Conceitos Basilares ............................................................................................................................ 5
2.1.1. Cidades Inteligentes ............................................................................................................. 5
2.1.2. Como alcançar uma Cidade Inteligente? ...................................................................... 6
2.1.3. Cidadãos Inteligentes ........................................................................................................... 8
2.1.4. Indicadores ........................................................................................................................... 12
2.2. Casos de Cidades Inteligentes ................................................................................................ 15
2.2.1. Na Europa .............................................................................................................................. 15
2.2.2. Na Ásia .................................................................................................................................... 18
2.3. Modelos e Arquiteturas ............................................................................................................ 21
2.3.1. City Information Model (CIM) ....................................................................................... 21
2.3.2. Enterprise Architecture para Cidades Inteligentes .............................................. 24
2.3.3. Arquiteturas ICT para Cidades Inteligentes ............................................................. 25
3. Características das Cidades Inteligentes .................................................................................... 29
3.1. Introdução ..................................................................................................................................... 29
3.2. Dimensões...................................................................................................................................... 30
3.2.1. OpenData ............................................................................................................................... 31
3.2.2. Terceiro Setor ...................................................................................................................... 33
3.3. Indicadores .................................................................................................................................... 35
3.3.1. Ambiente, Economia e Educação ................................................................................. 36
3.3.2. Energia, Governação e Planeamento Urbano .......................................................... 38
3.3.3. Água, Saneamento e Saúde ............................................................................................. 40
3.3.4. Participação pública, Segurança e Transportes...................................................... 42
3.4. Modelo de Cidade Inteligente ................................................................................................. 44
3.4.1. Restrições .............................................................................................................................. 47
3.5. Conclusão ....................................................................................................................................... 49
4. Cidades Inteligentes: Vantagens e Entraves .............................................................................. 51
4.1 Introdução ..................................................................................................................................... 51
4.2. O Caso “Projeto SusCity” .......................................................................................................... 52
4.2.1. Descrição ............................................................................................................................... 52
4.2.2. Execução ................................................................................................................................ 55
4.2.3. Avaliação ................................................................................................................................ 57
4.3. Vantagens da Abordagem de Cidades Inteligentes ........................................................ 58
4.3.1. Benefícios .............................................................................................................................. 58
4.3.2. Recomendações .................................................................................................................. 61
4.3.3. Oportunidades ..................................................................................................................... 63
4.4. Entraves à Implementação da Abordagem de Cidades Inteligentes ...................... 65
4.4.1. Máquinas ............................................................................................................................... 66
4.4.2. Pessoas ................................................................................................................................... 67
4.4.3. Transparência dos dados ................................................................................................ 68
4.5. Conclusão ....................................................................................................................................... 70
5. Conclusão ................................................................................................................................................ 71
5.1. Avaliação do Trabalho Realizado .......................................................................................... 71
5.2. Avaliação dos Resultados Obtidos ........................................................................................ 72
5.3. Trabalho Futuro .......................................................................................................................... 72
Referências Bibliográficas ......................................................................................................................... 73
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - O conceito de smart grid em Mannheim, Alemanha ................................................... 16
Figura 2 - Copenhaga vista do palácio de Christiansborg ............................................................. 17
Figura 3 - Cidade de Masdar, em desenvolvimento em Abu Dhabi ........................................... 19
Figura 4 - A espinha dorsal de um City Information Model (Gil, 2011) .................................. 23
Figura 5 - Arquitetura ICT genérica e multicamada para uma cidade inteligente
(Anthpoulos, 2015) ...................................................................................................................................... 26
Figura 6 - Framework de uma arquitetura genérica (Kakarontzas, 2011)............................ 45
Figura 9 - Modelo genérico de Cidade Inteligente para uma autarquia (adaptado de Pike
Research) ......................................................................................................................................................... 47
Figura 10 - Estrutura do Projeto SusCity (Proposal Annex) ........................................................ 53
Figura 11 - Representação de alguns dos benefícios das Cidades Inteligentes .................... 61
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Indicadores de mobilidade para Cidades Inteligentes (Adaptado de IBM, 2015)
............................................................................................................................................................................. 14
Tabela 2 - Indicadores na área do Ambiente ..................................................................................... 37
Tabela 3 - Indicadores na área da Economia ..................................................................................... 37
Tabela 4 - Indicadores na área da Educação ...................................................................................... 38
Tabela 5 - Indicadores na área da Energia ......................................................................................... 39
Tabela 6 - Indicadores na área da Governação ................................................................................. 40
Tabela 7 - Indicadores na área do Planeamento urbano .............................................................. 40
Tabela 8 - Indicadores na área da Água e Saneamento ................................................................. 41
Tabela 9 - Indicadores na área da Saúde ............................................................................................. 42
Tabela 10- Indicadores na área da Participação pública .............................................................. 43
Tabela 11 - Indicadores na área da Segurança ................................................................................. 43
Tabela 12 - Indicadores na área dos Transportes ........................................................................... 44
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
1
1. INTRODUÇÃO
1.1. Contextualização
A motivação para este tema remonta a uma primeira abordagem de aplicação
inteligente com funcionalidades na nuvem, em uma unidade curricular pertencente ao 2º
ciclo de estudos do primeiro semestre. Já no segundo semestre e numa outra unidade
curricular, surge uma proposta de projeto assente na agenda prospetiva 2020, e mais
concretamente nas cidades inteligentes no âmbito do Quadrilátero urbano (Barcelos,
Braga, Guimarães e Vila Nova de Famalicão). A análise do panorama nas perspetivas do
Open Data, da mobilidade e das políticas de terceiro setor enquanto gestor de projeto
dessa equipa de trabalho, permitiu a aquisição de conhecimento no que à lógica de
funcionamento de uma plataforma deste tipo diz respeito. Aliado ao gosto pela análise e
concepção de sistemas de informação, nomeadamente na modelação, permitiu que esta
proposta fosse vista com bons olhos.
Contextualizando, a urbanização global cresce a olhos vistos. De acordo com as
Nações Unidas, desde 2008 mais de 50% da população mundial vive em áreas urbanas.
Em 2050 é estimado que essa taxa rondará os 67% [Unicef, 2011]. Este facto levanta
inúmeras preocupações para os cidadãos, seja ao nível do aumento das necessidades em
relação aos serviços públicos, seja uma maior dificuldade na fluidez dos transportes, tanto
públicos como privados. Uma cidade inteligente deve simplificar os seus sistemas para
que estes sejam escaláveis tendo em conta o potencial de crescimento da mesma, de modo
a evitar a degradação da qualidade de vida, mas também tendo em vista o melhoramento
desta. As cidades devem também fornecer soluções em tempo real para resolverem as
crescentes necessidades de uma população em constante crescimento.
A tecnologia tem sido integrada em bastantes cidades até à data, trazendo
bastantes benefícios, seja ao nível das infraestruturas ou nos serviços. Atualmente
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
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existem inúmeras preocupações: a privacidade dos dados, o impacto ambiental e os
fatores socioeconómicos são bons exemplos.
Tudo requer planeamento. No que toca à tecnologia nas cidades mais ainda.
Tomemos como exemplo os tão desejados veículos sem condutor. Qual será o impacto
destes numa zona urbana? Irá trazer mais carros na estrada, ou reduzir drasticamente a
quantidade de estacionamento que uma cidade requer? Ou ambos? Não é a tecnologia em
si que irá resolver os problemas, mas sim o comportamento que as pessoas irão ter com
as possibilidades que a tecnologia permite e/ou permitirá.
Por outro lado, cabe às cidades desenvolverem a sua propriedade de modo a se
tornarem mais agradáveis ao sucesso e crescimento das empresas, especialmente as
relacionadas com a tecnologia, uma vez que são organizações que criam produtos e
serviços inovadores em mercados de alto valor, trazendo assim benefícios económicos ao
seu meio envolvente. A importância da mobilidade social, coesão social e sustentabilidade
deve ser tida em conta. Uma tendência habitual da população é a de se mover do centro
da cidade para os subúrbios assim que a sua vida estabiliza e constituem família, em busca
de ambientes mais pacíficos, melhores escolas ou apenas mais espaço. É necessário que
as cidades fomentem nos seus habitantes uma relação longa entre estes e os seus lugares.
1.2. Objetivos
Com este trabalho pretende-se aprofundar o estudo e desenvolvimento dos
modelos de cidades inteligentes, mais especificamente da sua aplicação no contexto de
centros urbanos de média dimensão, no âmbito da integração e interoperabilidade de
vários serviços. Apresentam-se como principais objetivos:
1) Análise das dimensões associadas às Cidades Inteligentes e respetiva
importância
2) Análise dos indicadores associados às dimensões e respetiva importância;
3) Generalização dos resultados obtidos.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
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Como resultado é esperado uma série de recomendações no sentido de aconselhar
dirigentes autárquicos a seguirem boas práticas na implementação de Cidades
Inteligentes.
1.3. Abordagem de Investigação
Esta secção serve para descrever qual a metodologia de investigação utilizada, e
de que forma é que foi efetuada a revisão de literatura.
Uma dissertação deve ser realizada tendo em conta diversos fatores, de modo a
que seja correta, que seja fundamentada cientificamente. Isto acontece de modo a
minimizar a parcialidade ou preferência que o autor pode tomar na interpretação de
alguns resultados. Desta forma o trabalho, ao ser replicado, irá normalmente dar origem
a resultados análogos.
Este documento aborda um tema não inovador. Como técnica de pesquisa foram
verificados casos de Cidades Inteligentes noutros países e de como são dimensionados os
seus indicadores nesses exemplos. Uma vez que os problemas deles são similares a estes,
as suas soluções são perfeitamente capazes de resolver parte do problema. Foi também
tido em conta a minha perceção empírica neste âmbito, fruto da minha experiência
enquanto dirigente partidário.
Olhando para a natureza do problema a ser investigado nesta dissertação, assim
como os resultados que dele se esperam, a abordagem metodológica mais apropriada é a
Qualitative Research, uma vez que o pretendido é a identificação de um conjunto de
recomendações e boas práticas para autarcas enquanto parte ativa de qualquer processo
de implementação de cidades inteligentes.
A revisão de literatura foi realizada através da utilização das palavras-chave para
a pesquisa bibliográfica. As pesquisas foram conduzidas no Scopus, no Mendeley e no
Google Scholar. Recorrendo aos artigos que mais se identificavam com a matéria, dando
sempre prioridade a artigos certificados (Scimago, ACM Press, Springer, IEEE, Wiley,
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
4
Elsevier), foi também utilizado novamente o Mendeley, mas desta vez para uma gestão de
referências mais eficaz e eficiente, dada a quantidade de informação que existe
atualmente sobre esta temática. Para além disso, foi também um curso online,
denominado de TechniCity e disponível no Coursera, no sentido de aprofundar o
conhecimento sobre o conceito de cidades inteligentes em zonas urbanas.
1.4. Organização do Documento
Este documento contém todo o trabalho realizado nesta dissertação. Encontra-se
organizado da seguinte forma:
• No primeiro capítulo foi apresentada uma breve contextualização do
documento, bem como os objetivos a que este se propõe, para além da
metodologia de investigação utilizada e esta secção;
• O segundo capítulo apresenta uma análise do “Estado da Arte”, onde são
descritos os conceitos basilares que definem uma cidade inteligente. São
também apresentados alguns casos de cidades inteligentes, tanto na Europa
como na Ásia. Na terceira subsecção são abordadas as temáticas dos
modelos e das arquiteturas para Cidades Inteligentes;
• No terceiro capítulo estão contidas algumas informações acerca das
diferentes dimensões das Cidades Inteligentes, os indicadores que as
caracterizam e o tipo de modelo mais adequado a uma autarquia de média
dimensão e respetivas restrições;
• O quarto capítulo cinge-se às Cidades Inteligentes, onde é abordado o
projeto SusCity e quais as vantagens e entraves comuns à implementação
numa abordagem de Cidades Inteligentes.
• Por fim, no quinto e último capítulo, serão apresentadas as conclusões finais
da resolução desta dissertação.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
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2. ANÁLISE DO “ESTADO DA ARTE”
2.1. Conceitos Basilares
2.1.1. Cidades Inteligentes
Cada vez mais as cidades enfrentam mais desafios e com um maior nível de
complexidade. Há uma necessidade de cumprimento de objetivos, sejam estes movidos
por fatores socioeconómicos, ambientais, ou por fatores que visam melhorar a qualidade
de vida dos cidadãos. Quando os termos ‘cidade inteligente’ ou ‘Cidade Inteligente’ são
mencionados, são-no no sentido de responder a estes desafios. São ambientes abertos,
transparentes e baseados na capacidade de inovação da população.
Trata-se de um conceito que tem atraído bastante atenção, nomeadamente no
desenvolvimento urbano. A crescente importância da Internet e tecnologias a esta
associada capacitam a utilização de cada vez mais serviços em formato eletrónico, e de
infraestruturas baseadas nas tecnologias de informação e comunicação. Estas
infraestruturas são um fator chave no bem-estar das cidades. Outros fatores
determinantes incluem a força do elo de ligação entre as empresas e a entidade
governativa, assim como a existência de cidadãos cada vez mais exigentes, levando a que
haja, cada vez mais, uma necessidade de abrir caminho para a inovação e para o aumento
da qualidade dos serviços [Resende, 2015].
Pensar que as cidades inteligentes se resumem a uma melhor utilização das
tecnologias de informação e comunicação é, por vezes, uma visão limitada da realidade. A
promoção do crescimento económico, uma abordagem integrada ao melhoramento da
eficiência das operações citadinas e a qualidade de vida dos cidadãos são atributos
necessários. Mas em primeiro lugar é preciso criar uma visão que adquira o input dos
cidadãos, de forma a recolher as suas opiniões e contributos. Aliás, antes de tudo, um dos
requisitos é avaliar qual o ponto de situação atual onde a cidade se encontra. Cada cidade
é um caso especial, com a sua dimensão, densidade, topografia, infraestrutura existente,
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6
etc. Enquanto é um facto que há sempre algo a aprender com cidades mais evoluídas neste
âmbito, as cidades devem desenvolver as suas próprias metas tendo como base as áreas
de necessidade e de oportunidade circundantes.
Um dos temas subjacentes quando falamos em cidades inteligentes são os dados.
A cidade faz um esforço consciencializado de modo a poder recolher dados. Depois disto,
aplica os dados com a mais recente tecnologia de maneira a que estes se transformem em
informação. Ou seja, que possam ser feitas diversas leituras, seja na base da predição, ou
apenas na análise de situações já existentes. Isto permite ter um melhor conhecimento e
entendimento das necessidades civis e humanas e, consequentemente, criar uma melhor
comunidade. Criar uma cidade que serve os seus cidadãos da forma mais sustentável e
eficiente possível.
2.1.2. Como alcançar uma Cidade Inteligente?
Uma cidade torna-se inteligente através da introdução de novas tecnologias e
aplicações que melhoram o bem-estar dos cidadãos. Uma cidade inteligente consiste em
projetos e ações concretas que transformam a cidade a este respeito. No entanto, é mais
do que a quantidade dos seus projetos. Necessita de um ambiente produtivo orientado
por uma visão clara e uma organização eficiente e eficaz dos seus processos.
As principais forças emergentes das iniciativas de cidades inteligentes centram-se
em âmbitos como a governação, a energia, a mobilidade e a segurança. O controlo de
tráfego em tempo real, a gestão inteligente do estacionamento e infraestruturas de
carregamento para veículos elétricos são alguns exemplos concretos.
Com vista à adoção de soluções sustentáveis, a criação de cidades inteligentes é
uma decisão que deve ser partilhada por todos os agentes da sociedade, incluindo os
cidadãos. Será importante comunicar as vantagens e a visão das Cidades Inteligentes, e
envolver todos os decisores e utilizadores no processo da construção de um futuro mais
sustentável.
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O conceito de Cidade Inteligente abarca cinco dimensões: governação, inovação,
sustentabilidade, inclusão e integração. As cidades sustentáveis do futuro já estão a ser
pensadas numa lógica integrada. A edificação de cidades inteligentes engloba objetos de
domínio económico, social, cultural e tecnológico; e questões das acessibilidades,
diversidade, qualidade de vida e, naturalmente, energia [Technicity, Coursera].
Iniciativas de construção de cidades inteligentes caracterizam-se por quatro
propensões essenciais: utilização intensiva de TI, destaque no desenvolvimento urbano
ajustado por empresas multinacionais, foco nas indústrias de elevada intensidade
tecnológica e preocupações com a eficiência energética.
Com vista à obtenção de uma cidade inteligente, foram já desenvolvidos diversos
índices que pretendem estabelecer rankings de cidades em diversas áreas, com foco na
sustentabilidade, energia e tecnologias de informação e comunicação.
O índice de cidades inteligentes destaca-se por partir de um modelo integrado de
cidade inteligente, que se traduz numa cidade atrativa para visitantes e investidores pela
aliança entre a inovação, a qualidade do ambiente e a inclusão social/cultural, num
contexto de governação.
As dimensões fundamentais de uma cidade inteligente traduzem-se na inovação,
sustentabilidade e inclusão, sendo a governação e a conectividade dimensões
transversais.
A governação integra políticas urbanas, processos de cooperação entre atores
políticos, económicos e sociais, com destaque para as questões da participação pública.
A inovação abrange a competitividade das cidades em termos de criação de riqueza
e geração de emprego. Foca-se então, no contributo das atividades da economia verde e
social para o desenvolvimento económico dos espaços urbanos.
A sustentabilidade inclui a eficiência na utilização dos recursos, a proteção do
ambiente, assim como o equilíbrio dos ecossistemas. Fatores como gestão da água e dos
resíduos, a eficiência energética e a utilização de energias renováveis, a construção
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sustentável, a mobilidade, a qualidade do ar e a biodiversidade devem ser considerados
numa abordagem de construção de cidades inteligentes.
A inclusão integra, a diversidade cultural, a inovação e o empreendedorismo social,
assim como a inclusão digital dos serviços, da segurança, da educação, da cultura e do
turismo.
Por último, a conectividade abarca o envolvimento das cidades em redes
territoriais nacionais e internacionais, assim como a inclusão de funções e infraestruturas
urbana. A conectividade nas cidades inteligentes alocada à utilização de tecnologias de
informação e comunicação e de redes digitais é considerada como um fator crítico de
sucesso.
Em forma de conclusão podemos reter duas ordens de reflexões que ajudam a
compreender a obtenção de uma cidade inteligente. Em primeiro lugar, uma cidade torna-
se inteligente através da introdução de novas tecnologias e aplicações que melhoram o
bem-estar dos cidadãos. A criação de cidades inteligentes é uma decisão que deve ser
partilhada por todos os agentes da sociedade. Em último lugar, na obtenção de uma cidade
inteligente devem ser consideradas cinco dimensões: inovação, sustentabilidade,
inclusão, governação e conectividade.
2.1.3. Cidadãos Inteligentes
Public Engagement
Normalmente quando falamos em public engagement referimo-nos a uma
qualquer entidade governativa que tenta uma aproximação ao seu eleitorado. Assim é
possível, em conjunto, trabalhar no sentido de obter uma visão partilhada da cidade.
Contudo, por vezes, a governação não está interessada em atuar nas ideias que a
população possa apresentar. Isso leva a que as populações criem organizações
independentes de modo a poderem tomar as tais decisões anteriormente referidas. Há
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também casos em que o órgão público é dirigido de uma forma mais autoritária, não sendo
a voz das pessoas parte do processo democrático.
Tomemos por exemplo as manifestações que ocorrem frequentemente em alguns
países localizados no Médio Oriente ou no Norte de África. Estes protestos sociais
serviram para verificar o potencial das redes sociais enquanto ferramenta organizativa,
sendo utilizadas para espalhar notícias sobre a hora e o local dos ditos de forma bastante
eficiente. Vários investigadores defendem que o sucesso da Primavera Árabe se deve às
redes sociais, uma vez que atualmente podemos estar na rua e ter acesso às mesmas, seja
num tablet ou num telemóvel.
Os municípios interessados numa participação mais ativa por parte da população
podem fazê-lo de diversas formas. Os web sites tradicionais, desde que visíveis e
acolhedores, permitem que as pessoas se conectem, sendo uma secção com propostas
específicas atualmente em discussão essencial. Tais propostas poderão ir desde
orçamentos anuais até ao melhoramento de um parque. O primeiro passo no processo de
considerar essa proposta é dotar o público de informação detalhada sobre a mesma. Por
último, é essencial que estes estejam equipados de forma a permitirem o acesso a
cidadãos portadores de qualquer tipo de deficiência.
O processo de decisão deverá ser transparente e visível. A tecnologia atual pode e
deve ter um papel preponderante nesta situação em particular. O processo de streaming
durante reuniões abertas é um exemplo, permitindo aos cidadãos a participação pública
no conforto do seu lar, dado que seja incluída a possibilidade de comentários públicos e a
participação via telefone ou correio eletrónico. Um repositório de vídeos devidamente
indexado permite à população aceder posteriormente às reuniões supramencionadas,
assim como a possibilidade de saltarem para o item desejado de forma simples e eficaz,
ao invés de serem forçados a assistir à totalidade da reunião.
O público deve ser convidado a dar o seu contributo. Inquéritos online são uma
forma rápida e barata de obter uma visão dos cidadãos sobre determinado assunto. Com
base nestes resultados, o planeamento estratégico pode ser moldado tendo em conta
novas prioridades [Technicity, Coursera].
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Também o Open Data veio trazer uma maior acessibilidade aos dados por parte
dos utilizadores. É uma oportunidade de ouro para adquirir a confiança do público através
da transparência e de um melhor envolvimento do público nas discussões orçamentais e
de projetos. No entanto, os dados devem ser fornecidos num formato acessível à
comunidade. Um exemplo da utilização desta ferramenta é a cidade de Palo Alto, em
Silicon Valley, Califórnia. Os cidadãos foram encorajados a usar os dados disponíveis para
criarem soluções e/ou software que ajudassem a cidade a economizar tempo e dinheiro.
Crowdsourcing
A participação pública no planeamento urbano é uma crescente nos dias de hoje,
como já tivemos oportunidade de constatar em pontos anteriores neste capítulo. O
crowdsourcing tem sido utilizado com sucesso em termos empresariais, ao ponto de
atingir alguma notoriedade, sendo, no entanto, necessário analisar o potencial desta
ideologia no sector público.
Quando alguém menciona crowdsourcing refere-se a um processo onde uma
organização apresenta um desafio específico a uma comunidade online. A comunidade
referida emite uma resposta ao desafio, sendo este trabalho benéfico para a organização.
Trata-se de uma mistura entre uma abertura bottom-up e uma gestão top-down. É um
modelo de negócio baseado na Web que recolhe as soluções criativas de uma rede
distribuída de indivíduos. O facto de serem atribuídas recompensas a quem apresentar
uma solução válida para o problema apresentado é um fator motivador para a população
alvo do desafio lançado [City Pulse, 2013].
Trata-se de um modelo que promete bastante, seja para organizações não
lucrativas ou para funções governamentais. Projetos de planeamento urbano também
podem tomar este modelo de crowdsourcing, de modo a envolver o cidadão, para que este
tenha uma participação mais ativa. Esse envolvimento deve-se ao facto deste tipo de
projetos responderem ao conforto dos cidadãos, tendo em conta as questões ambientais
e os interesses dos cidadãos e/ou empresários da região.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
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Para isso, basta que o problema seja levantado atempadamente e que todos os
dados relativos à temática sejam fornecidos para que este possa ser crowdsourced.
Tradicionalmente esta questão tem sido abordada através de reuniões e workshops, mas
este tipo de reuniões cara-a-cara é limitado na sua capacidade de maximizar o input
criativo dos cidadãos. O caminho deve e tem de ser online [Technicity, Coursera].
No entanto há alguns desafios que se apresentam. Uma limitação óbvia do
crowdsourcing é o facto de estar enraizado num formato digital, o que provoca uma
divisão clara entre dois segmentos populacionais: aqueles que possuem computadores e
sabem manuseá-los, assim como têm acesso à Internet e sabem utilizá-la, daqueles que
não têm e/ou não sabem. É um problema que se levanta para qualquer modelo
democrático, uma vez que há uma preocupação clara em não criar qualquer tipo de
desigualdade entre os cidadãos, sejam eles mais ou menos ambientados com a tecnologia.
Outro desafio que se apresenta é a necessidade de construir uma interface Web que
sustente uma comunidade online. Várias questões circundam esta situação, como por
exemplo a acessibilidade, custo, usabilidade e problemas ao nível do timing, da inclusão e
na necessidade de lidar com a resistência à mudança por parte das pessoas.
Existem várias estratégias com o intuito de promoverem uma maior participação
pública ativa na temática do crowdsourcing. Uma equipa de marketing em colaboração
direta com uma equipa de relações públicas deve planear e promover a plataforma, de
forma a gerar visitas e a criar envolvimento por parte da comunidade. Se numa primeira
fase for conseguido um número de acessos considerável, está dado o primeiro passo para
o sucesso de uma plataforma de crowdsourcing. A importância de listar algumas soluções
existentes e permitir que haja uma discussão pública, através de comentários por
exemplo, faz com que seja criada uma dinâmica associada à plataforma. Isto porque, por
mais bem desenhada e apelativa ao olho e interesse públicos, se não tiver conteúdo
disponível dará a sensação de abandono, levando a que a população deixe de aceder ao
site, uma vez que considerarão o projeto um falhanço. As comunidades online têm pulso
próprio, e é um elemento chave este de perceber o que as faz mexer.
Outro dos desafios que se apresentam é a necessidade de saber quando incluir ou
excluir indivíduos de um determinado processo. Por exemplo, faz sentido um habitante
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
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do sul do País expressar a sua opinião ou proposta face a um problema local, que concerne
apenas os habitantes da sua região? Trata-se de um potencial conflito onde é necessário
analisar devidamente os prós e os contras. Por último, a plataforma deverá estar
preparada para ambiente hostis, em que a população resiste ao surgimento de um dado
projeto. Denominado de crowdslapping, este conceito pode destabilizar uma comunidade
online que não seja a favor que determinada zona urbana se desenvolva, levando a
interferências na solução do problema. Apesar de ser tentador tentar silenciar estes
elementos perturbadores, as consequências deste tipo de censura podem atingir um
alcance considerável.
A tecnologia atual permite que o crowdsourcing seja uma realidade, apesar dos
riscos associados. Dar início a uma plataforma Web com a submissão de projetos de
pequena escala e com poucos riscos associados é o primeiro passo para o trilhar de um
caminho para este novo método de participação dos cidadãos no planeamento público.
2.1.4. Indicadores
Os indicadores necessários para avaliar se uma cidade pode ser considerada como
inteligente dependem de diversos fatores. Dependem também da dimensão que estiver a
ser analisada. As cidades inteligentes podem ser categorizadas em seis diferentes
dimensões [Giffinger, 2007]: Economia, pessoas, governo, mobilidade, ambiente e
qualidade de vida.
A dimensão governo tem como base a transparência, tanto na estratégia política a
ser seguida, como nas diferentes perspetivas ao nível dos serviços públicos e sociais,
assim como a participação por parte da população no processo decisório. Alguns critérios
fundamentais na medição desta dimensão são a disponibilidade, a transparência, a
reutilização e a participação.
Quanto à dimensão que tem como foco a qualidade de vida, existem cinco
indicadores que nos ajudam a compreender qual o grau de maturidade no que diz respeito
a políticas de apoio ao terceiro setor, seja ao nível da coesão social ou das condições de
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saúde dos cidadãos. Os cinco indicadores são: saúde e bem-estar, segurança e autonomia,
interação social, tecnologia integrada e sustentabilidade e eficiência [IBM Corporation,
2015].
Quanto à dimensão mobilidade os indicadores foram agrupados em diferentes
áreas de trabalho. A tabela 1 apresenta esses indicadores:
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
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Tabela 1 - Indicadores de mobilidade para Cidades Inteligentes (Adaptado de IBM, 2015)
Área Indicador Descrição
Transporte
eficiente
Transporte de
energia limpa
Quilómetros de ciclovias e faixas de rodagem por
100,000 habitantes (ISO 37120: 18.7)
Nº de bicicletas partilhadas per capita
Nº de veículos partilhados per capita
Nº de pontos de carregamento de energia na
cidade
Percentagem de transportes públicos ecológicos
Acesso
multimodal Transporte público
Nº de viagens em transporte público anuais per
capita (ISO 37120: 18.3)
Número de viagens em transporte não
motorizado do total de transportes
Sistema de tarifas integrado em transportes
públicos
Infraestrutura
tecnológica
Cartões inteligentes
Percentagem da receita total do transporte
público obtido através de sistemas unificados de
cartões inteligentes
Acesso á informação
em tempo real
Portais para informação de trânsito
Sistemas de informação aos passageiros em
tempo real (Sim/Não)
Sistemas de monitorização de tráfego e de
congestionamento
Percentagem de semáforos conectados em real-
time ao sistema de gestão de trafego
Percentagem de serviços de transporte público
que oferecem informações em tempo real para o
público
Disponibilidade de aplicação de trânsito
multimodal com pelo menos 3 serviços
integrados (Sim/Não)
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2.2. Casos de Cidades Inteligentes
2.2.1. Na Europa
Localizada em Espanha, a cidade de Santander, é considerada um modelo de cidade
inteligente. O principal destaque do projeto está no fato da cidade oferecer informações
de interesse global em uma plataforma pública. Os seus habitantes possuem acesso a
informações sobre poluição do ar, serviço de recolha de dados de trânsito e de iluminação
pública. Para que isso se tornasse uma realidade, foram instalados cerca de 12.000
sensores por toda a cidade, responsáveis pela captação dos dados.
Entre as possibilidades oferecidas pelos recursos, há inúmeros sensores que
controlam o nível de iluminação das ruas. Assim, caso um local esteja deserto, a
intensidade das lâmpadas é diminuída. Da mesma forma, o governo pode controlar o
volume de resíduos a ser recolhido, evitando enviar o serviço de recolha quando não for
necessário.
Outra função estimulante do modelo implementado na cidade é o controlo do seu
tráfego. O sistema de transporte público, os táxis e os carros da polícia informam, em
tempo real, o seu posicionamento e a sua velocidade, permitindo que pontos de
congestionamento sejam mapeados.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
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Figura 1 - O conceito de smart grid em Mannheim, Alemanha
Embora a Alemanha já tenha adotado técnicas para a criação de cidades
sustentáveis, o primeiro município tratado com tal foi Mannheim. A cidade interliga todas
as casas da região por meio de um sistema inteligente de distribuição de energia, como é
de certa forma percetível na imagem acima.
Desde o início do projeto, Mannheim empregou o conceito de smart grid na questão
de geração de energia. Essa técnica consiste em criar um painel com dados das
companhias elétricas para ser utilizado como um guia para aumentar a eficiência da
distribuição [Acatech, 2011].
O foco do projeto está em desenvolver uma infraestrutura que seja capaz de
realizar a ligação de várias necessidades de consumo, envolvendo eletricidade,
aquecimento, gás e água. Assim, é possível evitar o transporte desse recurso e a perda de
energia associada ao mesmo. Além disso, dessa forma também é possível gerar unidades
de armazenamento descentralizadas.
Outro aspeto interessante está na criação de um sistema que permite aos
moradores conhecer melhor o seu consumo e os pontos nos quais a energia é utilizada.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
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Além disso, o mecanismo também é capaz de especificar os valores para o uso da
eletricidade quando os recursos renováveis estiverem privilegiados.
Figura 2 - Copenhaga vista do palácio de Christiansborg
Copenhaga, na Dinamarca, alcançou o primeiro lugar no ranking de cidades
inteligentes, não por um projeto de sustentabilidade, mas por uma série de estudos que
são conduzidos na região. Da mesma forma, há uma série de programas já em fase de
implementação que são responsáveis por fazer adaptações na região urbana tendo como
base o uso de fontes de energia renovável.
Há menos de um ano, Copenhaga completou a construção do primeiro “hotel
verde” da Dinamarca. O edifício possui um sistema de aproveitamento eficiente de
energia, sendo um modelo para a região e um dos poucos do mundo a obter tais valores.
Entre outros projetos desenvolvidos, existem, também, programas com grande foco em
fazer um aproveitamento mais adequado do território.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
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Além disso, para assegurar que as boas práticas sejam mantidas para as gerações
futuras, o governo investiu na educação sustentável. Como resultados desse
desenvolvimento tecnológico e dos investimentos realizados para tal finalidade, estima-
se que sejam gerados mais empregos e garantida uma melhor qualidade de vida para
população.
Na Holanda, a cidade Almere, localizada na região metropolitana de Amsterdão é
uma cidade europeia com poucos anos de vida, possui uma vasta área terrestre. A cidade
holandesa foi projetada para se tornar um município de grande escala em pouco tempo e
ficou rapidamente conhecida pelo seu planeamento urbano eficiente. Toda a região é
interligada por linhas de comboio e transporte urbano, além de um sistema de ciclovias.
No entanto, o que chama a atenção da cidade na discussão da sustentabilidade é a o
aquecimento de todas as habitações ser efetuado por um único sistema de energia solar.
Em forma de conclusão podemos reter uma ordem de reflexão que ajuda a
compreender e a clarificar o desenvolvimento a evolução das cidades inteligentes na
Europa. Quando o tema são as cidades inteligentes, a Europa é o modelo a seguir para o
resto do mundo. As cidades europeias tendem a ser mais densas e a possuir uma melhor
rede de transportes públicos. Várias cidades da Europa possuem um maior foco em
soluções de sustentabilidade e de baixa emissão de carbono. Para além disso, as cidades
inteligentes caminham para se tornarem cidades ainda mais inteligentes.
2.2.2. Na Ásia
Localizada na Coreia do Sul, a cidade de Songdo recebeu destaque por ser uma
cidade planeada como um local sustentável desde a sua conceção. A ideia é fazer com que
tudo seja conectado pela internet de forma a melhorar a vida dos cidadãos. Uma das metas
desse plano é eliminar completamente problemas de congestionamento de trânsito.
Assim, nesta cidade, existirão sensores nas ruas que fazem uma análise constante da
velocidade dos veículos.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
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Além disso, os veículos serão conectados a um sistema capaz de controlar o
intervalo de tempo dos semáforos, auxiliando o fluxo quando houver necessidade. Os
postes de iluminação pública também irão possuir sensores que serão responsáveis pela
gestão da intensidade das luzes, fazendo com que seja reduzida quando uma rua não
estiver em uso.
Figura 3 - Cidade de Masdar, em desenvolvimento em Abu Dhabi
A cidade de Masdar, localizada em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, está
em fase de construção. O governo investiu cerca de 22 bilhões de euros e a conclusão do
projeto está prevista para 2025. Este município foi desenvolvido para se tornar
sustentável e voltado para os habitantes pedestres. Para isso, o planeamento começou
pelas estruturas e materiais empregues nos edifícios da cidade. Os responsáveis fizeram
uma série análises levando em conta a orientação do espaço e os melhores formatos que
poderiam ser utilizados para lidar com o ambiente.
Como resultado, ao executar as construções de forma inteligente, é possível gerar
mias economia. Em parceria com o MIT, o instituto de ciência e tecnologia desenvolveu
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
20
painéis fotovoltaicos para captação e armazenamento de energia solar, gerando
eletricidade para abastecimento do município. O mesmo recurso também será utilizado
para realizar a dessalinização da água. A cidade aplicará mecanismos para gerar
eletricidade a partir do aquecimento da água. No centro da cidade estará posicionada uma
torre eólica para aproveitar a incidência dos ventos fortes na região que serão utilizados,
também, para a geração de energia.
A cidade vai adotar um sistema de transporte baseado em carros e comboios
elétricos, além de manter linhas de metro para atender todos os pontos da cidade,
evitando a circulação excessiva de veículos. Além disso, a Cidade de Masdar possui uma
arquitetura na qual tudo deve ser integrado. De forma a manter a cidade sustentável,
também será realizada a educação da população com tais técnicas. Do mesmo modo, os
governadores da cidade procuram resolver problemas com resíduos ambientais,
estimulando mudanças no comportamento dos cidadãos, regulando quais os tipos de
materiais que poderão estar presentes na cidade [TecMundo, 2013].
O Japão, em parceria com a Panasonic, planeia a construção de uma cidade
inteligente e sustentável até 2018. O objetivo principal é focar três premissas de elevada
importância: arquitetura inteligente, espaço bem planeado e estilo de vida sustentável.
Os responsáveis pelo projeto reforçam que a preocupação principal no
desenvolvimento da cidade é o conforto dos habitantes, levando em consideração o seu
estilo de vida e as suas necessidades. Para isso, em primeiro lugar, serão projetados
sistemas de energia, segurança e transporte.
Serão montados painéis de captação e armazenamento solar para que cada cidadão
seja capaz de gerar quantidade necessária de energia para a sua casa. No capítulo da
mobilidade, será desenvolvido o uso de veículos elétricos e bicicletas elétricas,
incentivando também, a prática de atividades saudáveis por toda a população.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
21
A cidade japonesa pretende adotar uma plataforma pública contendo informações
do interesse da população, como a possibilidade de verificar o seu consumo de energia.
Posteriormente, ela será ampliada para oferecer outros serviços, incluindo a
possibilidade de fazer compras ou reservar um transporte particular.
Para concluir, a Ásia é uma região com desafios e oportunidades únicas na área das
Cidades Inteligentes. Várias cidades da China evoluem a um ritmo sem precedentes
salientado a sua infraestrutura, criando desafios de congestionamento e de poluição do ar
significativos. O Japão é um país onde existe muita tecnologia inovadora, daí que muitas
empresas tendem a implementar as suas soluções no Japão e no seu exterior.
2.3. Modelos e Arquiteturas
2.3.1. City Information Model (CIM)
As cidades inteligentes requerem abordagens com base no conhecimento e
orientadas ao desempenho. Envolvem partes interessadas com backgrounds amplamente
distintos, assim como os domínios de especialidade dos mesmos.
O ambiente de uma cidade é altamente complexo, uma vez que para além de incluir
objetos estáticos, inclui também na sua composição objetos dinâmicos. Para além disso, é
necessário ter em conta as pessoas, organizações e transportes que também eles fazem
parte da cidade. Numa época onde a quantidade de informação disponível explodiu, é cada
vez mais importante saber ordenar quais as fontes de informação que queremos ter
rápido acesso a.
O conceito de City Information Model surge como um método útil à organização da
informação que uma dada cidade tem à sua disposição. É um conceito cuja inspiração
origina do BIM (Building Information Modeling). O BIM consiste na criação e manutenção
de representações digitais de características e funcionais presentes em edifícios [Azhar,
2011].
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
22
No entanto, o CIM é mais do que uma simples aglutinação de todos os modelos BIM.
A diferença que mais se destaca é a função semântica. O CIM permite a descrição, análise,
visualização e monitorização do ambiente urbano, de modo a poder suportar o
planeamento e a concepção de novos projetos urbanísticos. É de mais alto nível no que
diz respeito às redes de infraestrutura, governo e atividade e humana. Forma a estrutura
que segura em conjunto todos os modelos BIM [Xu, 2011].
O modelo CIM deverá ser altamente eficiente, com um sistema de gestão integrado,
dotado de mais informações, multifuncional, mais assertivo e eficaz. O seu objetivo é o de
obter partilha de informação e multisserviços colaborativos em diversas áreas. Outro dos
objetivos é que, tanto a gestão vertical como a gestão horizontal do urbanismo, sejam
realizadas de forma digital, por forma a melhorar a eficiência global da gestão urbana [Gil,
2011].
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
23
Figura 4 - A espinha dorsal de um City Information Model (Gil, 2011)
Como podemos constatar na figura, para além de contemplar todo os BIM de uma
cidade, o CIM contempla também uma panóplia de características importantes, conforme
referido anteriormente. Um bom CIM deve conter todos os aspetos informativos da
cidade. A informação geográfica, a informação relativa aos edifícios, às infraestruturas, no
que diz respeito à propriedade, entre muitos outros. Com a integração e a
interoperabilidade de diversos datasets torna-se possível integrar uma variedade de data
sources díspares.
Atualmente CIM é um modelo de informação para a cidade. No futuro, é expectável
que seja utilizada também como uma plataforma de gestão, por forma a dar um contributo
ao nível do apoio à tomada de decisão por parte dos gestores da cidade.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
24
2.3.2. Enterprise Architecture para Cidades Inteligentes
A globalização da economia tem levado, cada vez mais, a que as empresas
funcionem como grandes redes autónomas. Para as empresas mais recentes esta
constatação é óbvia, sendo que para as mais antigas o mesmo ainda não se verifica. No
entanto, as mudanças constantes nos fatores externos às empresas, aliado a uma
redefinição constante de objetivos levou a que fosse necessário desenvolver um Body of
Knowledge para Enterprise Architecture (EABOK). Por certo que não há fatos à medida e
todos os casos devem ser analisados ao pormenor. Todavia, existem situações genéricas
de aplicabilidade que um EABOK pode contribuir para resolver [H., K., & P., B., 2012].
A doutrina do Enterprise Architecture (EA) é que tudo na empresa deve ser
analisado e conceptualizado de forma profissional, assim como acontece no caso dos
produtos vendidos e serviços prestados. Uma ferramenta essencial na EA são as
linguagens e as ferramentas de modelação. Não só na concepção inicial, mas no decorrer
do ciclo de vida das organizações, uma vez que novos requisitos surgem com o tempo, seja
através de requisitos de negócio externos ou por reconhecimento interno de que dada
prática deve ser modificada ou atualizada [Kakarontzas, 2014].
Já no âmbito das Cidades Inteligentes, e como já foi referido anteriormente neste
capítulo, existem seis características que definem uma cidade como inteligente: economia,
mobilidade, ambiente, pessoas, governo e qualidade de vida. Esta panóplia de
características apresenta-se como um enorme desafio na criação de uma EA que cumpra
todos os requisitos. Contudo, sem uma EA devidamente concebida, simplesmente não é
possível lidar com a complexidade de um projeto para cidades inteligentes [Bernus,
2003].
O primeiro passo é identificar os drivers mais proeminentes nas arquiteturas para
Cidades Inteligentes [Shah, 2007]. Começando pela interoperabilidade, uma vez que cada
aplicação poderá alimentar variados e diferentes serviços. A usabilidade tem que ser uma
das principais preocupações, uma vez que a mesma informação poderá ter de ser exposta
de múltiplas formas, considerando a existência de diferentes tipos de dispositivos e
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
25
diferentes tipos de utilizador. A confidencialidade dos dados é fundamental,
principalmente ao nível da anonimização do utilizador, assim como o processo de
autenticação e autorização que visam dar acesso à realização de determinadas operações.
A sua capacidade de manutenção deverá ser de excelência, e a disponibilidade e
recuperabilidade máximas, de modo a não perder informação vital para alguns serviços
existentes.
2.3.3. Arquiteturas ICT para Cidades Inteligentes
Vários académicos efetuaram tentativas no sentido de providenciarem literatura
relativa à temática das Cidades Inteligentes, mas também no que diz respeito ao
desenvolvimento de modelos e frameworks para a realização destas cidades. As cidades
pioneiras vêm o seu investimento a mostrar resultados, o que se torna um incentivo para
os demais.
Tendo sido aqui já abordadas as diferentes dimensões para que uma cidade seja
considerada como inteligente, foram também identificadas algumas características chave
para um modelo genérico de cidade inteligente.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
26
Figura 5 - Arquitetura ICT genérica e multicamada para uma cidade inteligente (Anthpoulos,
2015)
Existem já algumas características que serão comuns a todas as cidades
inteligentes no futuro. Todas terão que possuir iniciativas lideradas pelo Governo que
busquem a colaboração com o setor privado. Isto porque também o setor privado pode
ter muito a ganhar com um projeto de cidade inteligente implantado na sua área de
operações [Lekamge, 2013].
O modelo será construído sobre uma hierarquia de necessidades [Maslow, 1943].
De modo a que uma cidade prospere, terá obrigatoriamente de ver garantidas as
necessidades essenciais dos seus cidadãos. Sendo que aquilo que é considerado essencial
dependerá do cidadão e do meio onde estiver inserido. Deverá haver alguma flexibilidade
por parte do modelo no sentido de permitir que as cidades identifiquem e definam as suas
aspirações por elas próprias.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
27
Há também um foco na participação do governo e demais instituições. O feedback
emitido pelos stakeholders deve ser valorizado e recebido de forma contínua. Desta forma
poderão ser colmatadas as necessidades, fazendo com que o comportamento do modelo
seja cíclico. As demais instituições devem estar interligadas e devem ter como foco a
otimização da utilização dos recursos existentes na cidade.
Por último, deverá ser integrado um design universal de modo a que as cidades
sejam acessíveis e habitáveis por todos e para todos.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
29
3. CARACTERÍSTICAS DAS CIDADES INTELIGENTES
3.1. Introdução
Neste capítulo encontram-se apresentadas as dimensões chave no âmbito das
Cidades Inteligentes, os indicadores fundamentais a essas dimensões, da sua
aplicabilidade nas autarquias locais e na sugestão de um modelo de cidade inteligente
para uma autarquia tradicional. Através de uma extensa pesquisa sobre dimensões e
indicadores para cidades inteligentes torna-se possível detetar quais destes eram
encontrados de forma mais regular sendo, por isso, considerados prioritários. Em
seguida, fruto da minha perceção empírica sobre a realidade de muitas autarquias serão
apresentadas algumas restrições usualmente verificadas nos municípios nacionais. No
final, será ainda sugerido um modelo tendo em conta as realidades apresentadas.
Como já foi referido no capítulo anterior, a dimensão dos centros urbanos tem
crescido de forma continuada e consistente. A sobrepopulação em determinadas áreas
traz-nos à necessidade de se falar em Cidades Inteligentes. Mas será que estas estão
preparadas para serem consideradas Cidades Inteligentes?
Os indicadores servem para medir a performance em determinados aspetos. Desde
o desempenho ao nível da gestão até ao nível de poluição no ar. No caso das cidades,
existem vários indicadores que são válidos na medição e quantificação de atributos. Só
com bons indicadores é que podemos avaliar devidamente se uma cidade pode ser
considerada inteligente. Uma cidade realmente inteligente irá ter resultados aceitáveis
num largo número de indicadores existentes e pré-definidos.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
30
3.2. Dimensões
Para este exercício, foi considerado que cada dimensão possui dois tipos de
indicadores: os nucleares e os de suporte. Os indicadores nucleares são considerados
essenciais para a avaliação e condução da gestão do desempenho nos diversos serviços
da cidade e, por consequência, na qualidade de vida da mesma. Os de suporte fornecem
dados importantes a todas as dimensões, mas não são têm tanto impacto e, por
consequência, são menos as vezes que aparecem listados em relatórios que abordem esta
temática. Cada dimensão é dividida em diferentes setores e serviços fornecidos pela
cidade.
As dimensões onde é possível retirar indicadores das cidades são bastantes. De
modo a concluir quais as dimensões mais preponderantes, foram analisados vários
relatórios1 que incidem sobre esta temática. As dimensões consideradas nos mesmos
foram identificadas e verificou-se a frequência de existência destas em todos os relatórios
supramencionados. Sendo que algumas estavam presentes de forma recorrente e outras
apareciam com menos regularidade, as dimensões foram selecionadas tendo por base a
sua taxa de frequência. O mesmo processo foi repetido para os indicadores, uma vez que,
a nível hierárquico, estes se encontram logo abaixo das dimensões. As dimensões com
uma taxa de frequência superior a 3 (num total de 7) foram preferidas, sendo as que se
encontram abaixo listadas:
• Água e Saneamento
• Ambiente
• Economia
• Educação
• Energia
• Governação
• Planeamento urbano
• Participação pública
• Saúde
• Segurança
• Transportes
1 [Giffinger, 2007], [Lombardi, 2013], [Between, 2013], [Fast company, 2013], [Forum Pa, 2012], [ISO/IEC, 2014], [ISO37120, 2014]
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
31
Nem todos os relatórios incluem todas estas dimensões neste nível de abstração,
optando por um número menor de dimensões e uma denominação mais genérica, sendo
que todos eles se encontram no nível imediatamente abaixo, sendo por isso considerados,
encontrando-se presentes na generalidade dos documentos.
Depois de analisadas todas as dimensões, foi possível concluir que no âmbito dos
conjuntos de populações locais as dimensões OpenData e Terceiro Setor são as que mais
facilmente podem ser implementadas sem a necessidade de incorrer em elevados gastos
tecnológicos. Nesta subsecção serão abordados quais os indicadores-chave nesta área e
uma descrição dos mesmos.
3.2.1. OpenData
O estudo da dimensão Open Data forneceu conhecimento suficiente para
identificar alguns critérios fundamentais na medição da inteligência das cidades. Os
critérios de medição selecionados são a disponibilidade, a transparência, a reutilização e
a participação [Council, 2014].
O indicador da disponibilidade tem como objetivo avaliar os conjuntos de dados e
a tecnologia que os torna abertos ao público para que possam ser utilizados. Quanto aos
conjuntos de dados são avaliados relativamente à diversidade de fontes ou categorias e
ao custo de acesso. Quanto à tecnologia, é avaliada segundo a acessibilidade aos conjuntos
de dados e respetiva descarga.
Uma cidade é considerada inteligente na sua plenitude relativamente ao indicador
da disponibilidade é verificada quando existe um ponto de acesso aos conjuntos de dados,
quando esse ponto de acesso possibilita a descarga dos mesmos e quando a diversidade
desses conjuntos de dados é total.
O indicador da transparência avalia os conjuntos de dados quanto à partilha total
sem pontos de falha, ou seja, sem restringir determinados dados que possam colocar em
risco quem os cede (Ex. Dados fraudulentos). Embora a transparência dos dados seja
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
32
fundamental, é extremamente importante que os dados sejam anónimos, isto é, que não
sejam expostos de modo a comprometer a privacidade e a segurança dos cidadãos, e
mantenham o real valor analítico.
Uma cidade é considerada inteligente na sua plenitude relativamente ao indicador
da transparência quando os conjuntos de dados disponibilizados possuem a totalidade
dos dados, sem qualquer interrupção, e quando esses dados são anónimos,
impossibilitando a qualquer tipo de associação e identificação.
O indicador da reutilização avalia os conjuntos de dados no que respeita a
qualidade, consistência e integridade. Assim, é medido o formato dos dados, que deve
permitir a leitura, modificação e análise sem recorrer a ferramentas sofisticadas e a
possibilidade de combinação com outros conjuntos de dados de diferentes fontes.
Uma cidade é considerada inteligente na sua plenitude relativamente ao indicador
da reutilização quando os conjuntos de dados disponibilizados são facilmente legíveis,
modificáveis e analisáveis. A possibilidade de combinação com outros conjuntos de dados
é também um contributo para a cidade neste contexto.
O indicador da participação avalia o envolvimento e a satisfação dos cidadãos, sem
qualquer tipo de discriminação ou restrição, medindo o nível de contribuição destes para
com o sistema governamental. O envolvimento dos cidadãos pode contribuir diretamente
para a sua satisfação, sendo realizado através de sugestões sobre aspetos de possível
melhoria da cidade.
Uma cidade é considerada inteligente na sua plenitude relativamente ao indicador
da participação quando os cidadãos são ativos nas decisões tomadas pelos sistemas
governamentais, que contribuem para a sua satisfação, com o objetivo da melhoria das
cidades.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
33
3.2.2. Terceiro Setor
Com base no estudo realizado na dimensão do terceiro setor, é possível obter um
conjunto de conclusões sobre a inteligência de uma cidade. Ou seja, é possível definir
indicadores de forma a compreender o grau de maturidade das cidades no âmbito do
apoio ao terceiro setor.
Neste contexto, podemos enumerar cinco indicadores: (1) saúde e bem-estar, (2)
segurança e autonomia, (3) interação social, (4) tecnologia integrada e (5)
sustentabilidade e eficiência. Assim, poder-se-á esclarecer o nível de maturidade das
cidades inteligentes no apoio ao terceiro setor. [Plateform, 2011]
O indicador da saúde e bem-estar consiste na garantia dos benefícios das
tecnologias aplicadas à saúde e bem-estar. Ou seja, de acordo com o objetivo de cidade
inteligente, este indicador tem como objetivo medir as melhorias que as soluções
implementadas oferecem na saúde e comodidade dos seus utilizadores. Se, de alguma
forma, as soluções aplicadas não aumentarem a qualidade de vida para os níveis
esperados, então não se pode considerar que a cidade seja matura ao nível de apoio ao
terceiro setor.
De modo a medir este fator, o processo de avaliação divide-se em três fases. Numa
primeira fase, será realizada uma análise do presente, onde serão avaliados os métodos
utilizados, os benefícios, os obstáculos e os custos. Numa fase seguinte, o objetivo é
compreender quais as diferenças que o novo modelo possa trazer; onde por último, serão
analisados os objetivos, tendo em vista soluções que o sistema oferece e consiga oferecer.
O que se pretende para estes sistemas é uma prestação de serviços mais eficiente e que
atenda aos problemas colocados de forma personalizada.
O indicador segurança e autonomia está relacionado com o que as soluções possam
providenciar aos seus utilizadores, de forma a estes viverem mais autonomamente, sem
necessidade de uma supervisão presencial e constante de familiares ou outras entidades.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
34
A melhor forma de medir este fator consiste na análise de benefícios e
caracterização das soluções desenvolvidas (ou em desenvolvimento), tendo em conta o
que se pretende numa cidade inteligente. Pretende-se assim, que estes novos sistemas a
implementar considerem um conjunto de características tais como: nível de segurança,
monitorização constante e eficiência de recursos.
O indicador interação social consiste na avaliação da envolvência da população na
sua sociedade. Para serem consideradas de inteligentes, as soluções devem apresentar
características que promovam o nível de interação social, de forma a manter um ambiente
cultural feliz e motivador.
No âmbito deste indicador, é necessário compreender a melhor forma de medir o
nível de sucesso que as soluções estão a providenciar. Olhando para o estado atual de tudo
o que envolve este indicador, é essencial analisar o nível que este indicador tem que
atingir nas cidades inteligentes; a partir daí é possível verificar se as novas soluções irão
trazer benefícios. Para essa medição devem ser calculados valores como: nível de
motivação dos idosos; nível de saúde mental dos idosos; nível de necessidade de interação
social; nível de necessidade providenciada.
O indicador tecnologia integrada pretende analisar o nível de integração que as
soluções apresentam. Neste contexto, uma cidade é considerada inteligente se as soluções
desenvolvidas e implementadas estejam integradas possibilitando a troca de informação
entre estes e o exterior. Para que as soluções possam apresentar o nível de maturidade
esperado, devem apresentar esta característica, uma vez que esta é das principais
necessidades técnicas que os sistemas apresentem.
Hoje em dia não se vêm sistemas com o nível de integração que se solicita no
contexto das cidades inteligentes. Para medir este indicador é necessário definir o nível
pretendido e daí perceber se as soluções conseguem responder a essas exigências. A
possibilidade de troca de informação entre os vários sistemas, é o que se pretende que as
soluções dentro deste âmbito possuam, de forma a permitir que estes sejam viáveis.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
35
Desta forma, fatores que possam ser calculados para medir este indicador cingem-
se pela troca de informação entre as várias plataformas do sistema.
Uma cidade denomina-se inteligente quando esta é sustentável e eficiente. Sendo
assim, o indicador sustentabilidade e eficiência remete para a eficiência e redução de
custos que os projetos deste contexto providenciem, quer seja para os municípios quer
para os seus utilizadores, fornecendo deste modo, uma vida mais sustentável e eficiente.
Consequentemente é necessário definir níveis de sustentabilidade, assim como
níveis de eficiência. Tendo isto, estuda-se as soluções quanto a estes fatores, de forma a
verificar se correspondem às necessidades traçadas [Anthopoulos, 2015].
Para ajudar a esta medição de maturidade, devem-se fazer estudos e projeções,
como por exemplo orçamentos. Com estes indicadores, espera-se definir o nível de
maturidade das cidades para se denominarem como cidades inteligentes no âmbito do
apoio ao terceiro setor (e incapacitados).
3.3. Indicadores
No próximo subcapítulos serão abordados os indicadores com um maior nível de
detalhe, sendo feita a distinção entre indicadores-chave e de suporte, assim como uma
breve descrição dos mesmos.
Um indicador é utilizado como uma forma de medição. Pode ser qualitativa ou
quantitativa, dependendo do âmbito ou do aspeto à qual dá proeminência. Um indicador
quantitativo mede a quantidade de um componente em determinada matéria (Ex: % de
CO2 na atmosfera). Um indicador qualitativo refere-se naturalmente à qualidade dos
objetos, ou seja, à sua natureza. A dimensão é um conjunto de indicadores numa dada área
de intervenção.
Por sua vez, muitos dos indicadores não estão diretamente relacionados com
tecnologias de informação e comunicação. Se olharmos para os indicadores económicos,
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
36
por exemplo, facilmente concluímos que a taxa de desemprego é um indicador
fundamental na análise da situação económica de uma cidade. É altamente provável que
uma melhoria geral das condições socioeconómicas por si só seja suficiente para reduzir
esta taxa, sem a existência de qualquer interferência tecnológica.
Contudo, não se deve olhar para um único indicador e tirar conclusões. Vários
indicadores (independentemente de serem de dimensões diferentes) estão interligados e
o facto de um indicador em particular apresentar um valor abaixo daquilo que seria
expectável, não quer dizer necessariamente que a cidade esteja mal servida nessa matéria.
Deve-se analisar cuidadosamente os dados no seu cômpito geral. De outra forma podem-
se tirar conclusões precipitadas ou, pior ainda, incorretas.
3.3.1. Ambiente, Economia e Educação
A área do Ambiente incide sobre questões ambientais que podem causar dano à
saúde humana. Cidadãos que sofram de uma exposição continuada a uma concentração
elevada de partículas apresentaram, ao longo dos anos e de forma consistente, problemas
de saúde, nomeadamente cancerígenos, respiratórios e/ou cardiovasculares. Com a
agravante que pessoas com problemas de saúde nestes sistemas do corpo humano são
mais suscetíveis à inalação destas matérias. Para além disso, a poluição sonora pode
causar impactos não só a nível físico, como também a nível mental.
Verifica-se também qual o contributo da cidade para uma mudança pela positiva
no que diz respeito tanto às alterações climáticas, como aos efeitos nefastos na
biodiversidade causados pela urbanização.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
37
Tabela 2 - Indicadores na área do Ambiente
Indicador-chave Indicador de suporte
Ambiente
Concentração de partículas (PM10)
Concentração de dióxido de carbono (CO2)
Concentração de ozono (O3)
Emissão de gases de efeito de estufa (tonelada/pessoa)
Poluição sonora
Mudança percentual no número de espécies nativas existentes
Analisando os indicadores na área da Economia, verifica-se que o seu foco assenta
na saúde económica da cidade e no sucesso das suas políticas económicas. A performance
no que diz respeito às condições do mercado de trabalho, a equidade social e uma taxa de
desemprego reduzida são normalmente sinónimos de crescimento económico, assim
como o seu contrário.
É avaliada o nível de atividade económica e respetivo desempenho tendo em
conta o impacto das propriedades comerciais e industriais no cômpito geral, assim como
a sua capacidade para a inovação tecnológica e comercial e o Produto Regional Bruto.
Tabela 3 - Indicadores na área da Economia
Indicador-chave Indicador de suporte
Economia
Taxa de desemprego da cidade Percentagem de pessoas empregadas a tempo inteiro
Percentagem do valor avaliado das propriedades comerciais e
industriais em relação ao valor avaliado de todas as propriedades
Taxa de desemprego jovem
Percentagem da população a viver em situação de pobreza
Número de novas startups por cada 100 mil habitantes por ano
Produto Regional Bruto (€)
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
38
A área da Educação é um dos aspetos fundamentais do desenvolvimento humano.
A questão da oportunidade educacional, analisando o rácio de alunos que concluem o
ensino primário (1º ciclo) e secundário (12º ano) é um dos principais indicadores da
abrangência da educação formal. Já a análise dos dados relativos ao número de mulheres
inscritas no sistema de ensino traz informações pertinentes sobre a questão da igualdade
de oportunidades entre géneros.
O rácio entre o número de alunos e professores fornece a informação relativa às
condições em que os professores exercem a sua profissão. O número de alunos por sala
de aula está diretamente relacionado com a solidez e qualidade do sistema de ensino.
Tabela 4 - Indicadores na área da Educação
Indicador-chave Indicador de suporte
Educação
Percentagem de mulheres em idade escolar inscritas na escola
Percentagem de homens em idade escolar inscritos na escola
Percentagem de alunos com o
ensino primário completo
Percentagem da população em idade escolar inscrita na escola
Percentagem de alunos com o ensino secundário completo
Número de licenciados por 100 mil habitantes
Rácio entre o número de alunos e o de professores no ensino primário
3.3.2. Energia, Governação e Planeamento Urbano
O indicador na área da Energia fornece um maior nível de compreensão no tipo e
quantidade de energia consumida, assim como em que âmbito é que esta é utilizada.
Apenas com este tipo de dados ao dispor de uma cidade é que se torna possível uma gestão
eficaz da criação, consumo e conservação de energia elétrica. Com a medição do número
de residências que possuem um serviço de eletricidade estável é obtida uma perceção
geral do número de residências com um nível básico de serviço urbano.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
39
A conservação de energia dá origem a poupanças significativas aos cofres da
cidade, onde o sistema de compensação de energia elétrica assume um papel importante.
Não esquecendo também o impacto que todas as formas de geração de energia têm a nível
ambiental, distinguindo naturalmente as baseadas em fontes de energia renováveis face
ás baseadas em fontes de energias fósseis.
Tabela 5 - Indicadores na área da Energia
Indicador-chave Indicador de suporte
Energia
Consumo residencial total de energia elétrica per capita
(kWh/ano)
Consumo total de energia elétrica per capita
(kWh/ano)
Suporta sistema de compensação de energia elétrica
Média do número de interrupções elétricas
(consumidor/ano)
Consumo total de energia elétrica dos edifícios públicos (kWh/m²)
Duração média das interrupções elétricas (horas)
Percentagem do consumo
energético com base em energias renováveis face ao consumo
energético total da cidade
Na área da Governação é possível analisar a participação pública local, assim como
o nível de interesse da sociedade na gestão e políticas municipais. Para além dos cidadãos
que não estão recenseados e, por consequência, não possuem uma cidadania ativa através
da expressão do seu sentido de voto em urna, são contabilizados também aqueles
cidadãos que, apesar de recenseados, optam por se abster desse seu direito.
O quão uma governação é inclusiva é avaliado através da participação feminina em
cargos políticos. É um reflexo de uma equidade laboral na administração pública.
Questões como a transparência e honestidade são tidos em consideração, assim como a
abertura que o município dá aos seus cidadãos no que toca a contributos para o
desenvolvimento da cidade através de uma participação política ativa.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
40
Tabela 6 - Indicadores na área da Governação
Indicador-chave Indicador de suporte
Governação
Participação no último ato eleitoral autárquico
(face ao universo eleitoral)
Percentagem de mulheres empregadas em relação ao
número total de trabalhadores (na função pública)
Percentagem de serviços públicos que podem ser acedidos
online
Percentagem de mulheres eleitas para a administração local
Representação dos cidadãos: número de munícipes eleitos
para órgãos locais por 100 mil habitantes
Percentagem do número de
votantes em relação à população total com capacidade de voto
A área do Planeamento Urbano indica a quantidade de espaço verde que a cidade
disponibiliza publicamente aos seus cidadãos, assim como o seu compromisso perante
um crescimento urbano provido de sustentabilidade ambiental e geográfica.
Tabela 7 - Indicadores na área do Planeamento urbano
Indicador-chave Indicador de suporte
Planeamento
Urbano
Zona verde (em hectares) por 100
mil habitantes
Média ponderada da densidade
populacional
Rácio de Empregos/Habitações
3.3.3. Água, Saneamento e Saúde
Na área da Água e Saneamento é possível analisar indicadores que mostram a
saúde coletiva da cidade, higiene e alguns indicadores referentes à qualidade de vida. Um
acesso continuado a água potável é vital para o ser humano. Um serviço de água de
qualidade reduz drasticamente as doenças que têm essa origem.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
41
A preservação de água através de um desperdício reduzido levanta uma questão
ambiental importante, assim como a poluição que advém do sistema de esgotos. Contudo,
ambas podem ser trabalhadas através de um investimento acertado canalizações
eficientes e eficazes assim como em sistemas de tratamento de água.
Tabela 8 - Indicadores na área da Água e Saneamento
Indicador-chave Indicador de suporte
Água e
Saneamento
Percentagem da população com acesso a um serviço de recolha de
águas residuais
Consumo total de água por habitante (Litros/dia)
Percentagem da população com acesso a um serviço de água
potável
Média anual de horas em que o serviço de água é interrompido
por habitação
Percentagem da população com acesso a um serviço de água de alta
qualidade
Percentagem da população com acesso a um serviço de saneamento
de alta qualidade
Percentagem de desperdício de água
Consumo doméstico total de água por habitante (Litros/dia)
A área da Saúde aborda indicadores muito relacionados com as condições de
saúde fornecidas aos cidadãos, condições estas que representam uma parte substancial
do nosso desenvolvimento. A esperança média de vida e a taxa de mortalidade infantil são
indicadores claros da qualidade de vida de uma cidade. São determinantes na dimensão e
no potencial crescimento da população.
A qualidade do sistema de saúde é avaliada através do serviço infraestrutural
prestado, mas essencialmente pela força do serviço humano que é disponibilizado para
esta função de preservação de capital humano. A taxa de suicídio é um indicador claro da
saúde mental dos cidadãos, estando diretamente relacionado com o número de
profissionais de saúde nesta área.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
42
Tabela 9 - Indicadores na área da Saúde
Indicador-chave Indicador de suporte
Saúde
Esperança média de vida Número de enfermeiros por 100
mil habitantes
Número de camas no hospital por 100 mil habitantes
Número de profissionais de saúde mental por 100 mil
habitantes
Número de médicos por 100 mil habitantes
Taxa de suicídio por 100 mil habitantes
Mortalidade infantil por cada mil
nascimentos
3.3.4. Participação pública, Segurança e Transportes
A área da Participação pública consiste em indicadores que refletem o nível de
cidadania ativa existente numa cidade. As tecnologias de informação e comunicação
trazem-nos um vasto leque de opções que permitem ao cidadão participar ativamente
sem se deslocar fisicamente e no conforto do seu lar [Drell, 2012]. Desde a participação
em assembleias municipais via streaming, a medidas que visam um acesso mais facilitado
ao voluntariado.
Os dados fornecidos por estes indicadores mostram o nível de interesse da
sociedade na administração autárquica, seja através da assistência ou inclusivamente da
participação direta em orçamentos participativos e aplicações municipais.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
43
Tabela 10- Indicadores na área da Participação pública
Indicador-chave Indicador de suporte
Participação
pública
Participação cívica via online
Aumento da influência nas
audiências públicas da autarquia
recorrendo ao uso das TIC
Políticas de privacidade que
protejam dados confidenciais de
cidadãos
A área da Segurança indica o índice de prevenção criminal na cidade avaliado pelo
número de membros das forças de segurança. É avaliado também o nível de segurança
pessoal o que está relacionado diretamente com incentivos ao investimento local.
Tabela 11 - Indicadores na área da Segurança
Indicador-chave Indicador de suporte
Segurança
Número de membros das forças de segurança por 100 mil habitantes
Crimes contra a propriedade por 100 mil habitantes
Tempo médio de resposta da
polícia desde a chamada inicial Número de homicídios por 100 mil
habitantes
Crimes violentos por 100 mil habitantes
A área dos Transportes fornece informações sobre o tráfego geral de uma
determinada cidade. Desde a flexibilidade do sistema público de transportes à congestão
de viaturas na estrada, passando pela capacidade pública de transportação. Cidades mais
evoluídas nesta área tendem a possuir menos viaturas pessoais, o que está diretamente
relacionado com questões ambientais, de segurança e de produtividade. Normalmente
este indicador abrange todo o centro urbano (zonas metropolitanas e/ou concelhos). A
baixa qualidade de um sistema público de transportes leva a um maior número de
viaturas pessoais utilizadas. O uso de veículos não motorizados é também uma questão
com impacto na sustentabilidade da cidade e também ambiental.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
44
Tabela 12 - Indicadores na área dos Transportes
Indicador-chave Indicador de suporte
Transportes
Quilómetros do sistema de transportes públicos de alta
capacidade por 100 mil habitantes
Percentagem de passageiros a utilizar mais de um modo de viagem para além do veículo
pessoal
Quilómetros do sistema de transportes públicos de baixa
capacidade por 100 mil habitantes E
Número de veículos a motor sobre duas rodas por habitante
Número anual de viagens em transportes públicos por habitante
Quilómetros de pistas e caminhos para bicicletas por
100 mil habitantes
Número de automóveis pessoais por habitante
Número de fatalidades em acidentes de viação por 100 mil
habitantes
Número fixo de destinos comerciais
3.4. Modelo de Cidade Inteligente
No capítulo 2.3 foram descritos alguns exemplos de estratégias comuns às Cidades
Inteligentes, independentemente das características da mesma. Alguns fatores dependem
do tamanho da cidade ou das preferências e necessidades da população, mas outras são
transversais a tudo isso. São denominados de fatores padrão. Recorrendo aos drivers mais
proeminentes na subsecção Enterprise Architecture para Cidades Inteligentes, é possível
proceder à conceptualização de uma framework genérica.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
45
Figura 6 - Framework de uma arquitetura genérica (Kakarontzas, 2011)
Como podemos ver na figura acima, qualquer cidade tem de possuir a capacidade
de agregar uma quantidade gigantesca de dados. Estes dados devem poder ser
visualizados de diversas formas e facilmente, uma vez que se trata de um serviço acessível
a vários tipos de utilizadores, podendo estes ter ou não competências técnicas na ótica
das tecnologias da informação e comunicação.
De maneira a que possa ser analisado um modelo de Cidades Inteligentes que seja
válido para qualquer conjunto de população local, torna-se necessário verificar quais as
componentes para as quais existem dados disponíveis, tendo essa consideração para a
criação de um sistema de informação verdadeiramente envolvente.
Na área da mobilidade é atualmente uma das principais lacunas nos municípios,
uma vez que normalmente não existem dados disponíveis no que diz respeito aos
transportes em tempo real. O mesmo se verifica na grande maioria das instalações
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
46
públicas e no registo de acidentes de trânsito. No entanto os horários dos transportes
públicos encontram-se disponíveis para toda a população consultar assim que o entender.
Na área ambiental são poucos os que possuem informação sobre a qualidade do ar.
Alguns são dotados dessa informação, mas não de forma específica. Tal se deve ao fato de
integrarem determinadas Comunidades Intermunicipais que medem esse valor. Com isso
torna-se possível obter alguma informação da região no seu todo, mas não concelho a
concelho.
A área económico-financeira é a que se apresenta com mais dados disponíveis,
uma vez que o bom funcionamento das contas públicas é uma exigência proeminente da
população. Existem todo o tipo de informações disponibilizadas pelos municípios,
passando pelos gastos e pelo histórico de contratos municipais até às informações
detalhadas providas anualmente através dos balanços orçamentais. Alguns concelhos já
aderiram inclusivamente ao Orçamento Participativo, onde os cidadãos podem contribuir
com propostas práticas e efetivas para a gestão do município, sendo que garantidamente
os melhores projetos e vencedores da iniciativa terão a possibilidade de ver as mesmas
implementadas.
Outros optam pelo Orçamento Participativo Jovem, um orçamento com o mesmo
conceito, mas focado na população juvenil, uma vez que é a interpretação de alguns
municípios de que os jovens estão mais propensos a abordarem os problemas de uma
forma mais abrangente. Um dos problemas desta iniciativa de crowdsourcing é a de que
pode não haver uma preocupação com o bem geral do concelho, mas apenas com questões
que afetem diretamente a vida dos cidadãos que apresentam as ditas propostas em
particular. Apesar disso, é difícil de encontrar atualmente dados sobre a lista de empresas,
e escassos são os concelhos que armazenam informação no que diz respeito à requisição
de serviços, à emissão de licenças comerciais, e na segurança e higiene alimentar.
Posto isto, o modelo a ser sugerido na figura abaixo representada deverá ter em
conta múltiplos fatores: os dados que estão disponíveis, o montante financeiro que o
município disponibiliza para investimento, as necessidades da sociedade no geral e do
cidadão em particular, assim como todos os fatores externos à administração local.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
47
Figura 7 - Modelo genérico de Cidade Inteligente para uma autarquia (adaptado de Pike Research)
A figura acima representada apresenta-nos de forma clara e percetível o papel das
tecnologias de informação enquanto componente de uma cidade verdadeiramente
inteligente. Revela também a pertinência dos padrões existentes na integração de
tecnologias ICT diversas e complexas. Através de um investimento paulatino na
infraestrutura, com um foco nas políticas visíveis no topo da imagem e cumprindo os
objetivos associados, torna-se possível que, a médio prazo, uma autarquia de média
dimensão possa usufruir dos serviços smart tendo em conta as limitações que o mesmo
apresenta e que são elencadas ao longo deste documento.
3.4.1. Restrições
No conceito de cidades inteligentes os conjuntos de populações locais apresentam
algumas restrições. A maioria das iniciativas são independentes a cada concelho, onde não
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
48
é guardado histórico e por consequência não existe nenhum dado concreto sobre a
matéria, sendo que cada autarquia tem a sua preocupação, não havendo por muitas vezes
uma colaboração intermunicipal.
No âmbito do terceiro setor, por exemplo, não existem muitos projetos a decorrer.
No entanto, há a noção clara que o caminho a percorrer é a não deslocalização do idoso,
por forma a ficar em casa o maior tempo possível. Há um caminho muito grande a
desenvolver nesta área, desde a forma como os idosos interagem com os serviços que lhes
dão apoio, até obterem a compreensão de quais serviços é que são efetivamente
necessários.
Na questão ambiental poucas são as zonas onde são medidos os níveis de dióxido
de carbono, de nitrogénio e de enxofre. Na área da mobilidade há a noção clara que o
transporte individual prevalece sobre o transporte coletivo, e apesar de não haverem
dados concretos, há uma perspetiva do serviço prestado cuja estimativa aponta para cerca
de 75% de transportes individuais em comparação com cerca de 25% de transportes
coletivos. A utilização de modos suaves (ecovias e ciclovias) tem vindo a aumentar e a
preocupação sobre a necessidade racionalizar o transporte público encontra-se bem
presente. Há, no entanto, uma clara intenção programada para que os transportes
públicos tenham uma maior preponderância na transportação de pessoas. Uma restrição
existente na questão do fluxo das pessoas é o poder do município sobre o transporte
interurbano. Atualmente é nulo, uma vez que houve uma mudança da lei que visou essa
mesma alteração.
Quanto ao transporte urbano, existem municípios que prestam esse serviço.
Noutros não existe este tipo de serviço e há ainda bastantes casos onde esse tipo de
serviços é prestado através da concessão a privados. Todos apresentam um denominador
em comum, as suas taxas de circulação são baixas. Não há também dados concretos no
que diz respeito à faixa etária que utiliza os transportes coletivos. No entanto há a noção
plena que é a população jovem e a população sénior que mais usufrui destes serviços,
sendo que na faixa etária entre os 18 e os 50 anos é o transporte individual que prevalece.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
49
Na área da transparência de dados, esta existe apenas enquanto perspetiva de
futuro ou simplesmente os dados não são disponibilizados. Atualmente quase nenhuma
autarquia fornece serviço nesta matéria, excetuando aqueles que são obrigatórios por lei,
como são o caso dos concursos públicos de montante elevado. No entanto, o
conhecimento que tudo o que esteja relacionado com informação deve ser aberto a toda
a gente, onde alguma informação será disponibilizada de forma gratuita, trazendo
vantagens tanto ao cidadão como à qualidade do serviço em si. Outra informação terá
naturalmente de ser paga, mas será uma questão que dependerá de município para
município. A preocupação principal é que tipo de informação é que deve ser
disponibilizada, até onde deve ser disponibilizada, e que tipo de serviços devem ser
dotados de toda essa informação visível publicamente.
3.5. Conclusão
Este capítulo permitiu tirar conclusões significativas sobre as características das
Cidades Inteligentes, seja pela importância da medição e avaliação de determinados
indicadores, assim como as elevadas restrições que a região apresenta. Graças a uma
extensa pesquisa sobre indicadores para cidades inteligentes tornou-se possível detetar
quais os que estavam presentes em praticamente todos eles sendo, por isso, considerados
prioritários.
O conceito de cidade inteligente tem maior potencial quanto maior for o centro
urbano. Apesar de várias cidades da região serem volumosas quando comparadas à média
nacional, não são verdadeiros centros urbanos no sentido lato da palavra, como é o caso
dos casos de cidades europeias apresentados no capítulo 2. Há de facto uma disparidade.
Muitos dos dados não são armazenados e, por consequência, não é possível medir vários
indicadores, quanto mais avalia-los.
Cabe aos agentes políticos da região focarem-se na criação de processos que
permitam este tipo de medições, uma vez que com a avaliação dos mesmos surgem
imensas informações que permitem uma gestão mais eficiente na gestão de recursos
humanos e uma governação mais eficaz a nível económico.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
50
Este bónus económico garantido através do método referido anteriormente
permite uma maior canalização financeira para o investimento tecnológico, criando um
ciclo. Este ciclo de mais eficiência aproveitada para um maior investimento leva a um
aumento gradual da verba disponível para este fim, fazendo com que o ritmo de
crescimento seja cada vez mais acelerado, através de mecanismos inovadores na gestão
das cidades. Desta forma os conjuntos locais de população poderão continuar a
apresentar índices de crescimento satisfatórios.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
51
4. CIDADES INTELIGENTES: VANTAGENS E ENTRAVES
4.1 Introdução
Neste capítulo será abordado o projeto SusCity enquanto experiência pessoal e a
importância deste tipo de projetos para a implementação de cidades inteligentes. Será
também disponibilizada uma série de vantagens e entraves ao tipo de implementação
supramencionado. Com base na minha perceção empírica enquanto dirigente partidário
e conhecimento detalhado sobre esta realidade torna-se possível compreender a sua
forma de pensar dos autarcas, sugerindo boas práticas tendo em conta estes fatores.
Ao longo do tempo os sistemas de informação têm vindo a ser implementados em
várias empresas com graus de sucesso surpreendentes. As melhorias significativas ao
nível da gestão de recursos, sejam estes humanos ou capitais, são um excelente exemplo
disso. A eficiência a nível processual através de uma abordagem holística de todo o
sistema é outro fator de relevo. Com o conceito de Cidades Inteligentes, as tecnologias de
informação e comunicação chegam às autarquias e, por consequência, à administração
local. Porém, os objetivos da administração pública diferem significativamente dos
objetivos presentes no mundo empresarial. Apesar de existirem vários exemplos a nível
organizacional em que a prestação de serviços é o objetivo primário, as autarquias não
visam a obtenção de lucros, como se verifica no tecido industrial e comercial.
As autarquias são organizações de grande dimensão em muitos dos casos de
Norte a Sul de Portugal. O número de serviços que prestam à população é elevado. Todos
estes fatores fazem com que os indicadores utilizados nas empresas não possam ser
aplicados com exatidão na administração local. O número de pessoas a quem determinado
serviço é prestado muitas vezes não pode ser considerado como um indicador, uma vez
que simplesmente os munícipes podem não ter necessitado desse serviço em
determinada época. O conceito de produtividade não existe. Existe sim a qualidade do
serviço prestado e o grau de satisfação do munícipe.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
52
A inovação tecnológica permite às cidades a criação de um maior número de
serviços, e uma agilização substancial dos serviços já existentes [Komninos, 2006].
4.2. O Caso “Projeto SusCity”
O projeto SusCity é um projeto Testbed no âmbito do programa MIT Portugal –
2013. Tem como título a modelação de sistemas urbanos para a promoção de transições
criativas e sustentáveis, sendo as cidades inteligentes a principal área científica abordada,
com um financiamento superior a um milhão de euros.
Como parceiros principais deste projeto encontram-se a EDP Distribuição, a
Câmara Municipal de Lisboa, a IBM e a ADENE. Conta com várias instituições
participantes, entre as quais a Universidade do Minho, mas também com a Universidade
de Coimbra, o Instituto de Engenharia Mecânica, o Instituto Superior Técnico e o Instituto
de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto, entre outros.
Trata-se de um projeto que está focado no desenvolvimento e integração de novas
ferramentas de forma a aumentar a eficiência de recursos urbanos, com o mínimo de
impacto ambiental possível. Ao mesmo tempo deve contribuir para promover o
desenvolvimento económico e preservar os estados atuais de confiabilidade. Um dos
principais objetivos deste projeto é o de fazer evoluir a ciência no que diz respeito à
modelação de sistemas urbanos, através do desenvolvimento e implementação de uma
panóplia de novos serviços que interajam com os cidadãos e que explorem oportunidades
de foro económico. A área de demonstração será em um bairro da cidade de Lisboa, com
o apoio da Câmara Municipal.
4.2.1. Descrição
Para a concretização deste projeto foram constituídos seis grupos de trabalho. Na
sua generalidade, cada instituição académica ficou responsável pelo seu próprio grupo de
trabalho, sendo responsáveis pelo seu Work Package (doravante designado como WP). O
WP1 ficou à responsabilidade do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), do
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
53
Instituto Superior Técnico e da ADENE (Agência para a Energia). O WP2 ficou ao encargo
da Universidade do Minho e da IBM. Já os responsáveis pelo WP3 são a Universidade de
Coimbra e a ADENE. O WP4 tem como líderes do mesmo o Instituto Superior Técnico e a
empresa iTds (Internet, Tecnologias e Desenvolvimento de Software, SA). O WP5 ficou à
responsabilidade do INESC (Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores) e da
EDP Distribuição. Por último, o WP6 ficou exclusivamente a cargo do MIT.
Figura 8 - Estrutura do Projeto SusCity (Proposal Annex)
O WP1 – Urban analytics tem como principais objetivos medir e avaliar o consumo
energético, o uso de matérias-primas e as necessidades para a mobilidade. Isto porque
um desenvolvimento sustentável depende numa interpretação apurada destes fatores,
por forma a utiliza-los da melhor forma para as atividades económicas urbanas. Para
atingir este fim, este WP está organizado em cinco tarefas distintas: a primeira tarefa
passa pela criação de um modelo de energia, utilizado para simular a eficiência ambiental
de vários edifícios, calcular os efeitos de pequenas alterações climáticas, tendo em conta
várias métricas sustentáveis de performance. A segunda tarefa tem como foco o
desenvolvimento de um simulador sobre o metabolismo urbano. Através da
parametrização de diversas intervenções urbanas no que diz respeito ao seu custo e
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
54
eficiência de recursos. Terá ainda a utilidade de poder quantificar indicadores de
sustentabilidade vizinhança a vizinhança. A terceira tarefa assenta na criação de um
modelo de mobilidade caracterizado por uma visão holística que permite avaliar o tráfego
de pessoas e de bens. Desta forma é possível prevenir e criar políticas que vão de encontro
às necessidades dos cidadãos. A quarta tarefa consiste no cálculo do potencial energético
passível de se poupar nos edifícios. É semelhante à primeira tarefa, mas um nível acima.
Por último, a tarefa final passa pela criação de um modelo 3D da vizinhança-alvo neste
projeto. Desta forma os resultados dos modelos podem ser visualizados tendo em conta
uma representação real, facilitando o tratamento de problemas e a introdução de
melhorias aos serviços existentes ou até à criação de novos serviços.
O principal contributo do WP2 – Information Services and Data Processing Platform
assenta no desenvolvimento de uma plataforma orientada ao serviço e aos dados, capaz
de recolher, agregar e processar vários tipos de dados, de fontes e em formatos diferentes,
e integrá-los para que esses dados possam ser analisados e visualizados, com base em
canais de comunicação e interfaces standardizados. Este tipo de plataformas fornece aos
seus cidadãos, empresas e organizações acesso à informação de modo a que estes
continuem a dinamizar e a contribuir para as iniciativas e processos urbanos. O objetivo
não é o de criar uma nova abordagem de plataforma ICT, mas sim de avaliar as existentes
por forma a integrar as boas práticas e acrescentar serviços adicionais necessários. As
restantes tarefas consistem no desenvolvimento da infraestrutura de dados da cidade de
acordo com o paradigma da Internet of Things e na formalização do conceito de City
Information Model através da criação de um modelo onde incorpora o conceito de cidade
acessível a qualquer cidadão. Não menos importante é a publicação dos dados disponíveis
(OpenData) da cidade em ficheiros de formato RDF, cuja informação deriva diretamente
do processamento de dados pela plataforma.
O WP3 – Smart building solutions incide sobre um dos smart services que a
plataforma disponibiliza. Com a evolução das redes elétricas para smart grids, é possível
usar a infraestrutura energética de forma mais eficiente. Os objetivos deste WP consistem
na recomendação de boas práticas em que, e de forma inovadora, monitorizam o
desempenho dos edifícios no que diz respeito à eficiência com que é utilizada a anergia
elétrica, seja ao nível do design, construção ou manutenção dos edifícios. Isto é possível
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
55
através da seleção dos indicadores, das técnicas e das ferramentas mais apropriados na
avaliação da performance energética, impactos ambientais e a qualidade do ar em locais
fechados. A envolvência dos utilizadores no serviço é outro fator a ter em conta na busca
pelos resultados ótimos.
O WP4 – Innovative mobility solutions incide sobre outro dos smart services
disponibilizados pela plataforma. A otimização dos diferentes modelos de transporte
coadunados com o metabolismo urbano é uma necessidade imediata e requerem-se
soluções para a mobilidade. As suas tarefas consistem na monitorização dos veículos e
respetivas necessidades dos seus utilizadores, fornecendo dados em tempo-real de modo
a serem processados e analisados pela plataforma desenvolvida em WP2. É necessário
também um estudo das localizações ideais de estruturas que permitam carregar as
baterias dos veículos equipadas apenas com motor elétrico. O paradigma da mobilidade
requer mudanças. O método de transporte não é o foco, mas sim o grau de satisfação dos
utentes, possível através da realização das necessidades de transporte do cidadão.
O WP5 – Smart Grid Based Services é o terceiro e último smart service
disponibilizado pela plataforma a ser desenvolvida em WP2. As tarefas nucleares para
este WP são o desenvolvimento da capacidade de previsão de energia solar produzida, a
otimização do carregamento de baterias elétricas e o impacto que este indicador tem na
gestão da cidade.
O WP6 – Urban competitiveness lab representa nada mais do que o que o próprio
nome indica. O seu único propósito consiste na criação de um laboratório de
competitividade urbana. O objetivo principal tem como foco avaliar e adequar novos
produtos e serviços que possam imergir.
4.2.2. Execução
Depois da Universidade do Minho ter aceitado abraçar este projeto sendo alocado
no WP2, foi criado um grupo constituído por sete elementos. Três professores, dois
doutorandos e dois mestrandos.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
56
O cargo de gestor de projeto ficou à responsabilidade do Prof. Ricardo Machado.
Um processo natural uma vez que se trata do mentor de várias Unidades Curriculares na
licenciatura em Engenharia e Gestão de Sistemas de Informação cujo principal âmbito é a
gestão de projetos. A Prof. Ana Alice Baptista ficou responsável pelas tarefas que dizem
respeito à segurança e à transparência dos dados. O OpenData tem um papel
preponderante nesta matéria, sendo que há uma série de procedimentos e formatos que
devem ser seguidos de modo a que os dados sejam acessíveis ao número de pessoas que
as cidades assim o entendam, assim como não estejam disponíveis a quem não o deveria
ser suposto. Para que tal aconteça, é essencial parametrizar os dados desde a sua génese,
ou seja, nos outros WP, de modo a que seja possível ao WP2 acarretar as suas tarefas com
sucesso.
A criação de um cluster de dados em Big Data que servirá de base de dados a todo
este sistema ficou a cargo da Prof. Maribel Santos, com o auxílio do doutorando Carlos
Costa. Ambos têm experiência em questões que analisam milhões de dados e a
normalização e a estruturação que é necessária para que, e em tempo real, os dados
possam ser traduzidos em informação.
O doutorando Nuno Soares ficou com a tarefa de definir e avaliar os indicadores-
chave e de suporte para um projeto desta envergadura. Apesar de haver um conjunto de
indicadores considerados padrão e comuns ao conceito de cidade inteligente, cada caso é
um caso e apenas os indicadores padrão não seriam suficientes para o objetivo final
pretendido.
Já o mestrando Pedro Torrinha ficou responsável pela definição dos modelos de
maturidade. Através destes modelos é possível fazer benchmarking entre outros projetos
similares. Uma vez que se trata de um projeto inovador é essencial deixar as diretrizes
essenciais para no futuro serem utilizadas como base de comparação, para deteção de
potenciais falhas e para o desenvolvimento de melhorias adicionais, com processos já
previamente definidos ao invés de serem criados ad hoc ou intuitivamente.
O último elemento desta equipa de projeto é Pedro Fonseca, autor desta
dissertação. Com o acompanhamento do gestor de projeto e orientador Ricardo J.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
57
Machado, cabia a tarefa de criar um modelo de arquitetura de software para o projeto. No
entanto, devido a alguns atrasos no decorrer do projeto fruto de falhas de comunicação
entre os outros parceiros da UM, não foi possível conciliar a participação do próprio neste
aspeto com os timings delineados pelo SusCity.
Até à data, os principais desenvolvimentos do WP2 foram ao nível da
parametrização dos dados, quer ao nível da transparência e segurança, seja ao nível do
cluster que deverá suportar a base de dados, onde há uma clara priorização de
ferramentas opensource. Ambos estão naturalmente interligados, uma vez que é
necessário definir os formatos no planeamento e só depois partir para a execução. Já
foram resolvidos os aspetos infraestruturais e arquiteturais da plataforma de Big Data, e
alguns dos serviços de análise de dados já se encontram implementados na plataforma.
4.2.3. Avaliação
O conceito do projeto SusCity é fundamental para que, através das tecnologias de
informação e comunicação, as nossas cidades se possam tornar mais inteligentes através
de um crescimento inovador, sustentável e continuado das cidades portuguesas.
Obviamente um projeto desta dimensão requer a intervenção de diversas
instituições, tanto académicas como empresariais. A colaboração interna entre parceiros
deve obrigatoriamente ser do mais alto nível, uma vez que é extremamente difícil
conseguir compreender os dados e os objetivos alocados a cada WP sem conversações
regulares. O projeto é um só e todos os WP devem trabalhar em conjunto de forma
sistemática. Se cada instituição se focar no seu nicho qual será a diferença entre esta
temática e as organizações cujos departamentos funcionam isoladamente entre si, como
se fossem silos? De modo a haver melhorias no futuro e o projeto ter um resultado mais
do que apenas satisfatório esta interação é fundamental.
Uma vez que nem todos os WP têm conhecimentos informáticos e/ou tecnológicos,
compreende-se que no caso de alguns WP não exista a sensação de falta de interação.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
58
Inclusive poderão pensar que um sistema de informação é um serviço equivalente ao
Google Drive, mas para o WP2 esta cooperação é da máxima importância, uma vez que a
sua plataforma irá sustentar todos os dados de todos os WP.
Para além disso, só desta forma é que será possível ter uma perceção assertiva da
capacidade de resposta da plataforma para poder dar respostas em real-time. Contudo,
encontra-se neste momento a decorrer uma parceria com Coimbra, analisando os dados
fornecidos pelos sensores alocados à cidade supramencionada.
4.3. Vantagens da Abordagem de Cidades Inteligentes
Este subcapítulo tem como foco o levantamento das vantagens que as Cidades
Inteligentes trazem às autarquias. É essencialmente dirigido a autarcas, dirigentes
político-partidários, forças associativas e munícipes dotados de uma predisposição para
a cidadania e, consequentemente, interessados em colaborar nas forças vivas das suas
cidades e/ou concelhos, através do seu contributo pessoal.
4.3.1. Benefícios
As Cidades Inteligentes trazem bastantes benefícios a todos os seus cidadãos. Seja
na perspetiva do cidadão enquanto utilizador final, do autarca ou das indústrias e
comércios presentes na região.
A administração pública disponibiliza uma série de serviços aos seus munícipes.
Através da parametrização dos serviços já existentes torna-se possível um acesso mais
facilitado aos mesmos graças às tecnologias da informação e comunicação, tornado vários
destes serviços acessíveis em formato eletrónico. Esta melhoria traz um maior conforto
para o cidadão no acesso a estes, assim como um aumento da produtividade por parte das
autarquias. Os serviços estão disponíveis para os cidadãos de forma mais rápida e
acarretam custos menores para ambas as entidades. Consecutivamente, e devido a esta
maior facilidade na acessibilidade, novos serviços podem surgir sem a desvantagem de
custos acrescidos à autarquia.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
59
A vertente da sustentabilidade é uma das principais bandeiras do conceito de
Cidade Inteligente. Utilizando a tecnologia da Internet of Things torna-se possível a
otimização de múltiplos recursos essenciais à sobrevivência e crescimento de zonas
urbanas [Pinto Tomas, 2014]. A gestão da água pode ser melhorada através de contadores
inteligentes, uma maior facilidade na identificação e prevenção em situações de
vazamento e a monitorização da qualidade da água em tempo real torna-se uma realidade.
Da mesma forma, a gestão energética é amplamente melhorada através de uma maior
preponderância por parte das fontes renováveis de energia e edifícios verdes. Uma
simples instalação de lâmpadas LED nos postes de iluminação pública, por exemplo,
consegue diminuir os custos energéticos na ordem dos 50-60%, graças ao seu baixo
consumo, elevado tempo de vida e possibilidade de serem ligadas e desligadas consoante
o tráfego das ruas em questão. Os edifícios inteligentes são um contribuidor adicional para
a poupança, onde as janelas inteligentes por si só reduzem custos na ordem dos 25% em
aquecimento e mais do dobro no que diz respeito ao consumo energético.
Também na mobilidade há um vasto leque de benefícios. A procura de um
estacionamento livre é um problema partilhado por condutores em todo mundo. As
cidades têm limitações de infraestruturas e orçamento, e cada vez mais existem mais
utentes e veículos nas estradas. São este tipo de fatores que levam automobilistas a
desperdiçarem tempo e combustível valioso na procura de um lugar livre de
estacionamento. Através da monitorização de dados de estacionamento em tempo real é
possível resolver este problema. Também a gestão inteligente do tráfego automóvel e a
uma transportação multimodal integrada nesta rede traz vantagens às cidades que vêm
os seus problemas de congestionamento a aumentarem de ano para ano.
Num mundo cada vez mais preocupado com fatores como o aquecimento global,
os benefícios que as cidades inteligentes podem trazer a nível ambiental têm cada vez
mais preponderância. Com acesso facilitado a todos os pontos de interesse da cidade, Wi-
Fi gratuita por toda a cidade, uma rede de transportes públicos que serve os interesses da
população e uma gestão eficiente dos desperdícios, de forma natural os índices de
poluição diminuem.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
60
Quanto à questão financeira há uma melhor governação, um planeamento para o
futuro mais eficaz e consequentemente um desenvolvimento mais acentuado. Com tudo
isto, a economia local acompanha esta evolução. Existe uma redução nos custos
operacionais, o que faz com que mais empresas migrem para cidades capacitadas de uma
infraestrutura inteligente, o que leva a uma dinamização e inovação económica.
A conjugação de todos estes benefícios traz um outro adicional, o crescimento
populacional. Todas estas condições são apelativas para os cidadãos o que resulta num
aumento do fator de atratividade da cidade, resultando num aumento da população que
procura o melhor local disponível para fazer vida. Os cidadãos ficam mais satisfeitos com
o seu meio envolvente, o que contribui amplamente para a construção de uma
comunidade mais forte, mais bem informada e mais saudável. A harmonia entre
diferentes departamentos traduz-se num maior sucesso não só para os cidadãos, mas
também para as indústrias e para o meio ambiente.
De forma resumida e como podemos verificar na figura abaixo, as Cidades
Inteligentes permitem a integração que fornece à administração local a informação
necessária. Esta interação leva a procedimentos comuns que geram uma melhor eficiência
governamental. As políticas públicas são medidas e avaliadas através de indicadores, o
que se traduz numa evolução natural através da comparação com outras cidades e
colmatando eventuais falhas. Acrescentando ainda o fato da otimização na alocação de
recursos e de um maior envolvimento da sociedade civil na administração pública, temos
como resultado final um nível de satisfação elevado por parte da população.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
61
Figura 9 - Representação de alguns dos benefícios das Cidades Inteligentes
4.3.2. Recomendações
Apesar de todo o potencial que as Cidades Inteligentes possuem é necessário que
o processo de decisão seja assertivo e acertado. Cabe aos autarcas tomar as ações
necessárias no sentido de promover o desenvolvimento tecnológico nas suas cidades e de
estandardizar os processos existentes nas mesmas. O êxodo rural continua presente na
sociedade e as cidades devem estar preparadas para albergar novos habitantes, sendo que
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
62
a sua área geográfica não irá aumentar, pelo que devem ser tidos em conta alguns aspetos
para que os serviços disponíveis continuem a funcionar corretamente.
Para além disso, as cidades não serão construídas de raiz. As infraestruturas já se
encontram sedimentadas e as estruturas edificadas. Este inevitável fator leva-nos à
existência de restrições no que diz respeito à implementação de alguns serviços, tornando
este desafio ainda mais ousado. Assim sendo, a importância de tomar as decisões corretas
e as ações que desta derivam assume uma preponderância ainda maior.
Um dos pré-requisitos por forma a que as tecnologias smart sejam implementadas
no mercado local passa pela criação de condições para a existência de uma framework
organizacional que permita interligar os processos de tomada à decisão. Todas as
organizações beneficiam de um sistema orientado ao processo, fazendo com que os
diferentes departamentos estejam permanentemente conectados, quer no planeamento
e gestão das tarefas como na execução. Nas autarquias não devemos diferenciar a política
da sociedade nem da economia. Todos têm o seu papel a desempenhar numa gestão
profícua da cidade. De modo a agilizar todo este processo é necessário desregular alguma
burocracia tradicional de modo a facilitar a inovação tecnológica empresarial. a
envolvência por parte de todos os stakeholders na tomada de decisão é um contributo
para a satisfação das necessidades das partes envolvidas, fazendo com que o seu foco seja
mais orientado a outras questões mais avançadas, na matéria do investimento e na parte
da gestão a longo prazo. Este tipo de sinergias criadas através deste cluster de cooperação
entre organizações traduz-se numa maior aceitação de inovações na área tecnológica que
visem uma maior competitividade no mercado externo.
Também a interoperabilidade não só entre os stakeholders se apresenta como uma
recomendação pertinente, mas da cooperação entre cidades advém bastantes vantagens.
Para além disso, sendo Portugal parte integrante da União Europeia e restantes entidades
europeias, deve adotar o conjunto de recomendações internacionais no que diz respeito
à estandardização dos processos. Desta forma e com a disseminação internacional dos
dados, torna-se possível analisar os dados de cidades homólogas em determinadas áreas,
e com um trabalho em sinergia todas as entidades saem a ganhar.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
63
Mas não basta apenas incentivar o investimento aos stakeholders locais, as
próprias autarquias devem elas próprias apostar neste campo, tendo em conta o que
outras cidades da Europa têm vindo a desenvolver. O trabalho que tem vindo a ser
efetuado pelos países no centro da Europa permite-nos importar as soluções tecnológicas
de maneira a que o processo de implementação seja acelerado e garantidamente de
acordo com as normas europeias. Vários projetos piloto já foram produzidos tendo como
principal preocupação a combinação de várias tecnologias de comunicação, aumentando
os níveis de segurança e uma maior inovação na informação.
Por último, as cidades devem-se debruçar sobre os incentivos existentes na
construção de cidades inteligentes. Graças a estes o processo de integrar as diferentes
dimensões presentes nas mesmas torna-se a principal preocupação, uma vez que as
restantes são contabilizadas como investimento e, portanto, poderão facilmente
candidatar-se e usufruir destes apoios.
4.3.3. Oportunidades
Da utilização de variadas combinações de conjuntos de dados surgem diversas
oportunidades que possibilitam o desenvolvimento de visões e conhecimento para que
sejam criadas novas aplicações com diferentes âmbitos [Acatech, 2011].
No âmbito da participação, envolvimento e satisfação dos cidadãos não deve haver
discriminação em relação às áreas de atuação ou às pessoas e grupos; todos devem ser
capazes de usar, reutilizar e redistribuir os conjuntos de dados disponibilizados,
contribuindo para a transparência das cidades. Existe grande importância em potenciar o
envolvimento dos cidadãos com as cidades. O sistema governamental tem a necessidade
de ouvir os cidadãos, se quiser exercer o poder a um nível elevado; e manter ou atrair
grandes empresas para a sua região. Esse envolvimento contribui para um melhoramento
das cidades na medida em que os cidadãos possuem demasiadas ideias sobre o que
poderá ser corrigido e o que poderá ser feito.
Um dos principais âmbitos é o valor social e económico onde se verifica a
possibilidade de otimizar a qualidade de determinados produtos e serviços (ex. eficiência
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
64
energética das habitações ou tradutor do Google.) e aumentar a produtividade (ex. novas
áreas de negócio), recorrendo à reutilização de informação disponível. É um âmbito que
está, ainda, em fase de exploração pelo que não é expectável o que surgirá no futuro,
embora seja possível afirmar que promove a inovação e estimula o empreendedorismo,
com a promoção de novos negócios e jovens talentos.
O âmbito da inovação relaciona-se com os âmbitos descritos anteriormente porque
recorre à participação dos cidadãos e ao valor social e económico para lançar novas ideias
e novas soluções para os problemas. Por um lado, explora a participação, envolvimento e
satisfação dos cidadãos para que partilhem as suas ideias, por outro explora o valor social
e económico para as implementar. Assim, as cidades têm a capacidade de recolher novas
ideias, estudar a sua viabilidade e colocá-las em prática, com vista quer no melhoramento
de produtos e serviços existentes quer na criação de novos. Para promover a participação
e o desenvolvimento de novas ideias, as cidades devem criar abordagens baseadas em
eventos (ex. Hackathons) e incentivar os cidadãos a participarem.
No contexto das cidades inteligentes existem grandes desafios por resolver no que
diz respeito à mobilidade. A poluição é o tema de maior destaque a nível mundial, e os
países têm de cumprir metas para reduzir a poluição a médio prazo. Os recursos
financeiros dos municípios não são abundantes, e numa época de bastante contenção,
deve-se investir em projetos que resolvam os problemas atuais existentes, mas que
tornem a gestão da cidade mais eficiente para o futuro. A tecnologia atual demonstra um
grande potencial para lidar com esses desafios.
Neste âmbito foi identificado um conjunto de oportunidades para as cidades que
podem tornar a cidade mais ecológica, sustentável e inteligente. A redução dos custos com
a mobilidade, dos congestionamentos nas horas de ponta e das emissões de carbono são
as mais preponderantes. Também a racionalização do transporte público e do plano de
estacionamento urbano contribui amplamente para o tempo de espera existente em
ambos. Há uma promoção da utilização dos transportes públicos e do uso da bicicleta
através da criação de ecovias e ciclovias. Os veículos são vistos como um serviço e a cidade
torna-se mais atrativa para os habitantes.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
65
Já num contexto orientado para os cidadãos do terceiro setor as oportunidades de
projetos de desenvolvimento de soluções com base nas tecnologias de informação são
enormes, devido aos vários benefícios que são consequência da implementação dessas
soluções. Benefícios esses que existem tanto para os municípios, pois leva a uma melhor
eficiência de custos, como para os cidadãos, que podem presenciar com uma melhoria da
sua qualidade de vida. Hoje em dia, as soluções tecnológicas ainda não estão prontas para
responder às necessidades das cidades inteligentes. No entanto, a tecnologia existente
pode desenvolver essas soluções. Um dos focos será desenvolver soluções para
plataformas que já existem no nosso dia-a-dia, como por exemplo smartphones.
Existem vários tipos de doença, desde doenças mentais, às doenças físico-motoras
e até às incapacidades. A personalização da prestação de serviços leva a uma maior
eficiência, uma vez que os recursos que gasta são específicos para aquele caso.
Como está provado, este tipo de soluções leva a uma maior eficiência e a uma
redução de custos. Estes benefícios levam a que a União Europeia aposte nestes projetos,
financiando-os, uma vez que a longo prazo (se foram bem-sucedidos) tornar-se-ão
proveitosos.
4.4. Entraves à Implementação da Abordagem de
Cidades Inteligentes
Este subcapítulo tem como foco o levantamento das dificuldades que as autarquias
normalmente apresentam no que diz respeito à implementação do conceito de Cidade
Inteligente nos seus municípios. É essencialmente dirigido a autarcas, dirigentes político-
partidários, forças associativas e munícipes dotados de uma predisposição para a
cidadania e, consequentemente, interessados em colaborar nas forças vivas das suas
cidades e/ou concelhos, através do seu contributo pessoal.
Em algumas partes do mundo, o principal entrave para o projeto Cidade Inteligente
é a disponibilidade e velocidade da largura de banda da sua rede. Sendo a sua velocidade
média de acesso à Internet 10,6 Mbps [Pplware. 2015], Portugal ocupa a 28ª posição no
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
66
ranking dos países pertencentes à Europa, Oriente Médio e África, acima de Países como
a Espanha, a França e a Itália.
4.4.1. Máquinas
Todas as organizações são constituídas por pessoas, processos e máquinas [Ein-
Dor, 1993]. Na criação de um sistema de informação verdadeiramente envolvente, os
processos são reformulados, as máquinas são reconfiguradas e as pessoas frequentam
formações onde são orientadas para as boas práticas organizacionais e processuais.
Sendo o ser humano o que maior apresenta mais resistência à mudança, também as
máquinas apresentam as suas devidas restrições nesta matéria.
Um dos principais desafios à implementação das tecnologias de informação e
comunicação numa cidade são as restrições ao nível da capacidade e as dificuldades na
integração de dados antigos. Muitas cidades e agências cívicas apresentam uma
capacidade limitada para o armazenamento de dados. Isto requer um investimento
extraordinário em equipamento tecnológico por forma a estar à altura das exigências
futuras. Regra geral terá que ser adquirido novo hardware e software, o que traz um custo
acrescido. Contudo, deve ser visto como um investimento para o futuro, em que alguns
poderão inclusive trazer ganhos no futuro, obtido através da racionalização dos recursos
existentes na disponibilização de serviços.
Outro dos principais obstáculos é a falta de know-how tecnológico, o que traria
entraves à coordenação entre diferentes departamentos, resultando em atrasos na
aprovação de tarefas administrativas. A falta de customização nos processos também
provoca algumas limitações assim como a falta de recursos humanos com formação na
área das novas tecnologias. Contudo, a questão principal continua a ser muitas vezes a
falta de vontade por parte da administração e/ou dos agentes políticos.
De forma a que uma cidade inteligente conduzia verdadeiramente as suas
propriedades orientadas à Internet of Things, deverá ser criado uma infraestrutura
inteligente, coesa e holística [Zanella, 2014]. Só dessa forma é que se poderá verificar um
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
67
retorno a longo prazo do investimento efetuado. Todos os departamentos se devem
envolver e compreender como é que as soluções orientadas para a Internet of Things os
podem beneficiar, e devem trabalhar em conjunto por forma a criar uma experiência
fluente e constante que otimize a vida dos atuais e futuros cidadãos à sua
responsabilidade.
4.4.2. Pessoas
Como foi referido na secção anterior, as pessoas são o fator que apresenta maior
resistência à mudança nas organizações, e o contexto de Cidades Inteligentes não é
exceção. As autarquias apresentam uma gestão diferente à verificada nas empresas, onde
o lucro não é um indicador procurado pelos autarcas. Regra geral, a disponibilização de
várias infraestruturas que visem a prestação de serviços e consequente aumento do grau
de satisfação dos clientes é a principal preocupação. O sentimento de serviço público é
aliado à necessidade de os autarcas prestarem contas perante os seus munícipes a cada
quatro anos. A questão eleitoral tem um peso significativo na forma de gestão preferida
pelos dirigentes autárquicos. Há uma clara preocupação em satisfazer os cidadãos, o que
muitas vezes implica um foco de investimento inconstante, com uma canalização de
recursos para determinados campos de ação que busquem elevar esse grau de satisfação
num curto espaço de tempo, principalmente em momentos pré-eleitorais. Este
planeamento que visa a popularidade faz com que a abordagem varie de município para
município, olhando para a diferente priorização de necessidades por cidadão de norte a
sul do País.
A questão eleitoral aliada ao modelo de planeamento e gestão comummente
utilizado resulta numa falta de visão a longo prazo. As regras do jogo democrático a isso
o obrigam. A diferente visão apresentada pelos diferentes partidos e por vezes a
necessidade de se imporem faz com que muitas atuações sejam revertidas em caso de
mudança de ciclo nos partidos que exercem o poder autárquico, especialmente no que diz
respeito a muitas intervenções Em algumas situações nem foi sequer dado o tempo
necessário para verificar o impacto que determinada iniciativa está a ter na população,
uma vez que não houve dimensão temporal suficiente para avaliar alterações no campo
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
68
alvo da atuação. Uma colaboração entre as diferentes instituições e partidos responsáveis
pela gestão da cidade é necessária em iniciativas a longo prazo.
Por muitas vezes os processos têm que ser remodelados para uma efetiva
colaboração entre os diferentes departamentos. Na criação de um sistema de informação
verdadeiramente envolvente, muitos dos processos são cruzados, enquanto que outros
são eliminados devido à necessidade do novo sentido de cooperação organizacional tendo
em vista a autarquia como um todo, onde todos os departamentos interagem de forma
natural ao invés de se comportarem como departamentos silo. Isto leva à replicação de
processos não necessários, resultando numa perca de eficiência e excesso de tempo, e
num desperdício de recursos capitais e humanos.
No entanto o ser humano é o mais resistente à mudança. Enquanto os processos
são reformulados e as máquinas são facilmente reconfiguradas, as pessoas criam hábitos
na execução processual. São criados maus hábitos que em nada contribuem para a gestão
baseada nas boas práticas organizacionais. Uma vez reconfigurados os processos, é
necessário formar os colaboradores por forma a que o processo de adaptação se faça
sentir o menos quanto possível. Esta questão ocorre bastantes vezes aquando do processo
de informatização da organização, onde os dados em papel são eliminados e toda a
informação é colocada numa base de dados, que depois de devidamente analisada e
traduzida em informação é de vital importância numa gestão mais eficaz em várias áreas:
desde a questão logística que contempla a interação entre fornecedores e consumidores
até à gestão de recursos humanos e de apoio ao cidadão.
4.4.3. Transparência dos dados
A implementação deste conceito está longe de ser simples. Isto deve-se à
existência de diversas adversidades que desrespeitam condições fundamentais para a
atribuição de utilidade aos conjuntos de dados disponibilizados e consequente criação de
valor.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
69
A população ainda não se encontra familiarizada com o conceito de divulgação e
partilha de toda a informação do seu quotidiano, havendo a necessidade de reformulação
do modo de pensar para beneficio comunitário. Os sensores dos dispositivos móveis ou
das câmaras já recolhem dados pessoais e geográficos, sem o consentimento dos
utilizadores, para registar e analisar o seu comportamento levando a outro tipo de desafio
que iremos abordar de seguida, nomeadamente a privacidade e a segurança. As cidades
tentam sempre esconder aquilo que pretendem que os cidadãos não verifiquem (Ex.
Aplicação do montante respeitante aos impostos dos contribuintes) devido a situações de
corrupção, condicionando a sua participação e envolvimento. Deste modo, é
indispensável que haja uma uniformização da divulgação e partilha de informação, em
todos os setores, contribuindo para um mundo mais transparente e honesto.
A necessidade de total transparência origina problemas ao nível da privacidade
e da segurança. No contexto da privacidade é fundamental consciencializar os cidadãos
de que as cidades utilizam os seus dados pessoais (Ex. Informações pessoais recolhidas
das redes sociais) para os beneficiar, melhorando a qualidade de vida e os serviços
prestados. No contexto da segurança existe a obrigação da confidencialidade e
integridade dos dados, cujo valor analítico é nulo, mas o valor pessoal é enorme. Num
ambiente de dados abertos é essencial que as cidades tomem precauções para prevenir a
exposição dos dados em situações que possam comprometer os cidadãos quanto à
privacidade e à segurança. Para combater estes problemas é imprescindível proceder à
anonimização dos dados pessoais de forma a tornar impossível associar a informação
referente à identidade de um cidadão, mantendo o valor analítico dos dados
correspondentes.
A maior parte das cidades trabalham de forma isolada com imensas limitações no
que diz respeito às interações entre os departamentos e sistemas, e qualidade dos
conjuntos de dados. Este tipo de comunicação, quase inexistente, condiciona a aplicação
do conceito de Open Data devido à inconsistência e integridade dos dados de diferentes
fontes, comprometendo a qualidade dos mesmos e dificultando a análise. Por isso, é
essencial garantir a consistência e integridade dos dados entre departamentos e respetiva
atualização, contribuindo para a utilidade dos dados e criação de valor.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
70
4.5. Conclusão
Neste capítulo foram disponibilizados uma série de vantagens e entraves à
implementação de cidades inteligentes em conjuntos de populações locais. Espera-se que
as recomendações transmitidas possam contribuir para uma gestão mais profícua a longo
prazo, numa ótica de preparação e planeamento para um futuro cada vez mais próximo.
De uma forma geral, pode-se verificar que toda e qualquer estratégia de cidade
inteligente se deve distinguir a si própria através da seleção de uma abordagem integrada
em torno dos tópicos foco. As considerações interdepartamentais são a alavanca
enquanto requisito essencial para o desenvolvimento da integração do sistema.
O poder autárquico deve ter em conta os casos de sucesso do papel das cidades
inteligentes no panorama internacional, considerando o potencial futuro enquanto uma
perspetiva importante na criação de valor. Utilizando referências já implementadas a
aceitação tecnológica será facilitada o que permitirá formações mais avançadas num
espaço de tempo inferior. A competitividade entre tecnologias e cidades levará ainda a
contributos para uma visão mais assertiva dos novos conceitos.
Há de facto alguma distância na avaliação que as empresas fazem quanto ao
conceito de cidade inteligente comparando com a das autarquias. O investimento
empresarial é utilizado de forma mais recorrente tendo em conta uma visão a longo prazo
que vise melhorar as condições de trabalho e uma melhoria dos indicadores considerados
de maior importância. Na gestão municipal por muitas vezes o foco é demasiado ad hoc,
causando algumas restrições a uma implementação bem-sucedida.
A existência de projetos com o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia
(FCT) assumem um papel preponderante na inovação. O exemplo do projeto SusCity é,
efetivamente, um potencial motor desta temática. Projetos futuros que abordem esta
temática terão em sua posse material que lhes permita dar o próximo passo no sentido da
construção de uma verdadeira cidade inteligente em todo o seu esplendor no nosso País.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
71
5. CONCLUSÃO
5.1. Avaliação do Trabalho Realizado
Conforme constatado, o número de cidades que se querem tornar inteligentes tem
crescido a olhos vistos. Ainda não há nenhuma que o seja a 100%, cumprindo de forma
exemplar todas as vertentes, mas a tendência é para que isso aconteça. Isto porque cada
vez mais cidades apostam neste tipo de tecnologia/serviço, seja por motivos económicos,
de qualidade de vida dos cidadãos ou simplesmente por desejarem que a tecnologia
acompanhe o processo evolutivo civilizacional.
Os conceitos basilares foram abordados e definidos. No entanto, há ainda alguma
pesquisa a ser feita, nomeadamente ao nível de casos de cidades inteligentes, mas
principalmente no que à modelação e indicadores diz respeito. É um tema muito atual,
cuja informação facilmente se torna desatualizada aquando do surgimento de novos
artigos.
Conclui-se com a expectativa que a finalidade deste trabalho foi satisfatória. As
bases de conhecimento para a modelação em cidades inteligentes foram adquiridas e há
uma familiarização com os conceitos. Os indicadores principais para que uma cidade
possa ser denominada de inteligente foram identificados e descritos, tendo em conta
todos os relatórios disponíveis através dos métodos de pesquisa definidos no primeiro
capítulo. As informações disponíveis referentes ao conjunto de populações locais foram
indicadas e avaliadas em toda a sua extensão, assim como uma série de boas práticas
governamentais no âmbito dos sistemas de informação no contexto das cidades
inteligentes.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
72
5.2. Avaliação dos Resultados Obtidos
Uma vez concluída a dissertação verifica-se que os resultados obtidos são
satisfatórios. Há uma lacuna neste âmbito por parte dos agentes políticos locais. Este
documento permite acelerar o processo de tomada de decisão, através das linhas
orientadoras sugeridas, alertando para os benefícios e oportunidades, assim como para
os entraves que podem ocorrer na implementação de cidades inteligentes.
Considero que a minha experiência pessoal enquanto dirigente partidário me
trouxe inúmeras vantagens, desde a obtenção de conhecimento quanto ao funcionamento
autárquico na perspetiva do político, até a uma análise ponderada sobre a forma como os
mecanismos são processados e sobre a mentalidade do autarca local de uma forma geral.
É expectável que as recomendações descritas no decorrer desta dissertação permitam
influenciar pela positiva para as boas práticas processuais e de gestão eventuais atores
políticos que tenham à sua disponibilidade este documento.
5.3. Trabalho Futuro
Este trabalho traz-nos vários cenários pertinentes de investigação futura. O leque
de sugestões dirigido a autarcas assim o garante. As sugestões podem ser aprofundadas
com um maior nível de detalhe assegurando um guia de implementação passo a passo.
Para além disso, caso alguma autarquia venha a tomar partido das sugestões
supramencionadas, poderá ser avaliado qual o real impacto destas no dia-a-dia, tanto dos
cidadãos como da gestão local das autarquias. A dicotomia existente entre a importância
que a temática das cidades inteligentes tem para investigadores na área comparada à que
tem para autarcas encontra-se bem vincada atualmente. Ainda há muito caminho a trilhar
até vermos os municípios da região como verdadeiras cidades inteligentes em alguns
aspetos.
Sistematização de Indicadores no Desenvolvimento de Cidades Inteligentes
73
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