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    NIR CE IAPX SE

    PDA Sistemas agroflorestaiem assentamentosde reforma agrria

    IP e Terra Viva

    Antnio de Barros AssumpoEx-coordenador do Terra Viva

    Cludio Valladares PduaJefferson Ferreira Lima

    Laury Cullen Jr.Maria Ins Rodrigues MoratoTcnicos do IP

    Programa Piloto paraProteo das Florestas

    Tropicais do Brasil - PPG7

    Experincias similares ediferentes regies da Ma

    Atlntica revelam a importncdos sistemas agroflorestais pa

    a sobrevivncia das famlassentadas e a manuteno

    biodiversida

    N 2Janeiro de 2002

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    Sistemas agroflorestaisem assentamentos de

    reforma agrria

    IP e Terra Viva

    Braslia, janeiro de 2002

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    Sistemas agroflorestais em assentamentos de reforma agrria

    Ministrio do Meio Ambiente - MMAMinistro: Jos Sarney Filho

    Secretaria de Coordenao da Amaznia - SCASecretria: Mary Helena Allegretti

    Programa Piloto para Proteo das Florestas Tropicais do Brasil - PPG7Coordenador Geral: Carlos Aragon Castillo

    Subprograma Projetos Demonstrativos - PDASecretrio Tcnico: Jorg ZimmermannSecretrio Tcnico Adjunto: Wigold SchfferAssessores Tcnicos: Clia Chaves de Souza, Demstenes Augusto Alves de Moraes, Ricardo Russo eRicardo VerdumEquipe Financeira: Cludia Alves, Nil son Luiz Nogueira e Srgio MaranhoEquipe Administrativa: Bruno Mello, Eduardo Ganzer, Francisca Kalidaza Medeiros, Gergia Basto Al e

    Lcia Amaral SouzaPerito da GTZ: Thomas Fatheuer

    Esta publicao uma verso revisada e editada dos relatrios:Meio Ambiente e Reforma Agrria na Costa do Descobrimento: Dilemas e perspectivas para odesenvolvimento de sistemas sustentveis com a agricultura familiar dos assentamentos no extremosul da Bahia, produzido pela ONG Terra Viva, e

    Projeto Abrao Verde: Mdulos agroflorestais na conservao de fragmentos florestais da Mata Atln-tica, produzido pelo Instituto de Pesquisas Ecolgicas - IP.

    Esta publicao foi realizada com o apoio da agncia alem de cooperao tcnica, Deutsche Gesellschaft

    fr Technische Zusammenarbeit (GTZ) GmbH.

    Equipe Responsvel: Clia Chaves, Jorg Zimmermann, Ricardo Verdum e Thomas Fatheuer

    Edio: Tereza MoreiraProjeto Grfico: Luiz Dar

    Cooperao Financeira: Repblica Federal da Alemanha - KfW, Unio Europia - CEC, Rain Forest TrustFund - RFT, Fundo Francs para o Meio Ambiente Mundial - FFEM

    Coordenao do PPG7 no Brasil: Banco Mundial - Unidade de Florestas Tropicais - RFUM

    Cooperao Tcnica: Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, Projeto BRA/93/044 - Projetos Demonstrativos - PDA

    Deutsche Gesellschaft fr Technische Zusammenarbeit (GTZ) GmbH

    Agente Financeiro: Banco do Brasil

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    Sistemas agroflorestais em assentamentos de reforma agrria

    Apresentao

    com grande satisfao que apresentamos o segundo nme-ro da SrieExperincias PDA, Sistemas Agroflorestais em Assentamen-tos de Reforma Agrria, que retrata experincias de proteo e recuperao ambientalem diferentes regies de domnio da Mata Atlntica: a primeira no Pontal do Paranapa-nema, no Estado de So Paulo, e a segunda no Sul do Estado da Bahia.

    As experincias so coordenadas, respectivamente, pelo Instituto de Pesquisas Eco-

    lgicas IP, e pelo Centro de Desenvolvimento Agroecolgico do Extremo Sul daBahia Terra Viva, e contam com uma intensa participao dos agricultores familiares eassentados e suas entidades associativas e representativas.

    A divulgao destas duas experincias tem por objetivo tornar acessvel, para umpblico mais amplo, um pouco da histria da implementao dos dois projetos e osresultados alcanados, bem como fornecer subsdios para o debate a respeito das possi-bilidades e condies para a implantao de assentamentos de reforma agrria na MataAtlntica.

    Os textos foram elaborados pelos protagonistas das experincias. Com isto, preten-demos garantir aqui a reproduo de uma das principais caractersticas do PDA, que dar voz e autoria aos atores que efetivamente construram o sucesso que o Subprogramadesenvolveu ao longo destes anos.

    Ricardo VerdumAntroplogo, assessor do PDA/PPG7

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    Sistemas agroflorestais em assentamentos de reforma agrria

    Sumrio

    IPMdulos agroflorestais na conservao de fragmentos florestaisda Mata Atlntica....................................................................... 7

    Econegociao: parcerias em defesa dos bens naturais..............................8

    Introduo.................................................................................................9

    Atividades e resultados............................................................................14

    Condies para o desenvolvimento do projeto ........................................25

    Lies aprendidas at o momento ...........................................................27

    Concluses sobre as aes coletivas do projeto .......................................29

    Consideraes e recomendaes finais....................................................31

    Bibliografia recomendada........................................................................ 33

    Terra VivaMeio ambiente e reforma agrria na Costa do Descobrimento 35

    Introduo ....................................................................................................... 36

    Contexto socioambiental ................................................................................. 38

    Estratgias e metodologias ............................................................................... 46

    Implantao dos sistemas agroflorestais ........................................................... 50

    Resultados principais ....................................................................................... 52

    Parcerias e redes .............................................................................................. 58

    Desafios presentes ........................................................................................... 59

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    Sem-terra participam do combate a incndiosflorestais no Pontal do Paranapanema

    Cludio Valladares PduaJefferson Ferreira Lima

    Laury Cullen Jr.Maria Ins Rodrigues Morato

    IP

    Mdulos agroflorestais naconservao de fragmentos daMata Atlntica

    LauryCullenJr.

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    Oque chamamos de econegociao refere-seauma aliana ou parceria estabelecida de comumacor-do entre as partes interessadas em um recurso natural protegido,para compartilhar com os responsveis pela sua proteo as fun-es de manejo e conservao. Isto significa, por um lado, assumirtotal ou parcialmente os direitos e responsabilidades de conserva-o, e, de outro, uma compreenso das necessidades econmicase sociais dos interessados.

    Essa negociao adaptativa, ou seja, est em constante avalia-o, com ajustes e reformulaes, visando melhor sintonia entreas partes envolvidas e ao aprimoramento dos resultados. Entre aspartes interessadas incluem-se principalmente a instituio respon-svel pela conservao da rea e vrias associaes de residenteslocais e usurios de recursos, podendo ser envolvidas tambm or-ganizaes no-governamentais, institutos de pesquisa,empresariado, administraes locais e outras instituies, como o

    Ministrio Pblico, por exemplo.Essa tem sido a metodologia utilizada pelo Instituto de Pes-

    quisas Ecolgicas IP, na implementao do Projeto Abrao Ver-de, que envolve o Estado, uma organizao no-governamental eo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST, do Pontaldo Paranapanema (SP). A experincia mostra que um contnuo esistemtico esforo de equipe, que inclui relaes de confiana eamizade, educao ambiental, extenso agroflorestal, pesquisas embiologia da conservao, manejo participativo, legislaes apro-

    priadas e fiscalizao efetiva, a conservao de um ecossistematorna-se no s possvel, mas operacionalmente mais fcil. Conser-vao em escala comunitria, ecossistmica e de paisagem ofere-ce uma das alternativas mais promissoras para a salvao dabiodiversidade da Mata Atlntica do Planalto, bem como de outrosecossistemas brasileiros.

    Econegociao: parceriasem defesa dos bens naturais

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    Esta publicao refere-se s ati-vidades desenvolvidas e aos re-

    sultados preliminares obtidos durante osprimeiros quinze meses de execuo doProjeto Abrao Verde, financiado peloPDA, que est implementando zonas deamortecimento agroflorestadas ou zo-nas de benefcio mltiplo no entornode fragmentos florestais da Mata Atlnti-ca do Pontal do Paranapanema, no ex-tremo oeste do Estado de So Paulo.

    O trabalho resultado de uma par-ceria com grupos de assentados e lide-ranas da cooperativa do MST e tem aconcordncia de diversos rgos do go-verno estadual. Entre os objetivos e de-

    safios principais deste projeto esto:disponibi li zar informaes agroecolgi-cas para os assentados, estimular a ado-o de prticas de manejo agroflorestalem lotes vizinhos aos fragmentos flores-tais e implantar mdulos agroflorestaisdemonstrativos adaptados cultura e snecessidades locais.

    A experincia inicial tem mostra-

    do que a conservao dos ecossistemastorna-se possvel com o que temos cha-mado de econegociao. Isso inclui aparticipao e educao comunitria,credibilidade, amizade e relaes deconfiana, extenso e pesquisas agroe-colgicas, manejo adaptativo, alm de

    Introduo

    A imagem de satlite mostra o Parque EstadualMorro do Diabo e entorno, com outros fragmentosflorestais da regio do Pontal do Paranapanema

    ArquivoIP

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    legislao apropriada e fiscalizao efe-tiva. Buscamos, assim, uma harmoniaagroecolgica na interface entre assen-tamentos rurais e remanescentes de MataAtlntica e, portanto, o desenvolvimen-to de uma reforma agrria ambiental eeconomicamente mais sustentvel paraa regio do Pontal.

    Contexto social, luta pela terrae destino dos fragmentosflorestais

    O Pontal do Paranapanema umadas regies mais pobres do Estado de SoPaulo. Localizado na confluncia entreos rios Paran e Paranapanema, o Pontalest includo dentro dos limites do de-creto 750, que define legalmente os do-mnios da Mata Atlntica e regulamentaa sua utilizao. A cobertura vegetal ori-ginal dessa regio classificada comoMata Atlntica do interior ou do planal-to (Floresta Estacional Semidecidual).

    Em 1941 e 1942, Fernando Costa,o ento governador de So Paulo, de-cretou toda a rea oeste do Pontal comoReserva de Fauna e Flora. Nos anos1950, todavia, o governador Ademar deBarros distribuiu as terras da Reserva aseus amigos e correligionrios, que ini-

    ciaram um processo voraz de ocupaodo solo. Devido a essa ocupao semcritrios, o Pontal do Paranapanema so-freu drstica reduo em sua coberturaflorestal, restando hoje apenas 1,85% dacobertura original. A maior parte do que

    ainda resta est no Parque Estadual Mor-ro do Diabo 37 mil hectares e em al-guns fragmentos em propriedades priva-das. Ainda como conseqncia do modode ocupao da Reserva do Pontal, hou-ve grande concentrao de terrasdevolutas em poder de poucos fazendei-ros.

    Atualmente, ocorre um segundoprocesso de ocupao territorial movi-do por grupos de agricultores sem terra,organizados em torno do MST. Os n-meros atuais mostram a existncia de

    aproximadamente 4.500 famlias assen-tadas em glebas no Pontal, ocupando umtotal de 38 mil hectares. Cada lote dasrespectivas glebas tem em mdia 15 hec-tares. As projees futuras para a regioso de assentar 50 mil famlias em umtotal de um milho de hectares de terrasdevolutas na regio.

    Toda essa ocupao, se no for fei-

    ta com preocupaes ambientais, podecolocar em risco o que resta das flores-tas do Pontal. A dinmica de ocupaoatualmente em prtica tem levado a umapaisagem regional na qual vrios frag-mentos florestais so circundados e pres-sionados por assentamentos rurais. Estecenrio, comum na paisagem do Pontal,com assentamentos rurais abraando

    as ltimas ilhas de biodiversidade daMata Atlntica, desafia-nos na arteemergencial de desenhar e adaptar no-vos modelos de conservao capazes detrazer um mnimo de sustentabil idade aoavano da reforma agrria na regio.

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    A paisagem do Pontal luz dabiologia da conservao

    No faz muito tempo, o Pontal erauma regio inteiramente coberta por flo-

    restas tropicais de valor bitico singular.Prova disso que os remanescentes flo-restais ainda abrigam uma rica e impor-tante biodiversidade, com a presena devrias espcies endmicas ou ameaa-das de extino, como o mico-leo-pre-to (Leontopithecus chrysopygus), a anta(Tapirus terrestris), o macuco (Tinamussolitarius) e a ona pintada (Panthera

    onca).Na regio predomina o grande la-

    tifndio de pecuria extensiva. A ocu-pao desordenada combinada com afragilidade dos solos, a concentrao dechuvas num perodo curto do ano e aexposio das encostas produziram umdos cenrios mais degradados do esta-do do ponto de vista ambiental. Com o

    tempo, verificou-se a perda gradual darea florestada da Grande Reserva doPontal. Restam hoje pouco mais de 37mil hectares no Parque Estadual Morrodo Diabo, localizado no municpio deTeodoro Sampaio, e cerca de 15 mil hec-tares em fragmentos de diversos tama-nhos espalhados pela regio.

    Essa situao de isolamento dosfragmentos compromete a manutenoda diversidade biolgica de algumas es-pcies de rvores e animais. necess-rio um nmero mnimo de indivduospara garantir a manuteno gentica dasespcies, que ao longo do tempo vo

    realizando cruzamentos sucessivos en-tre os mesmos indivduos, o que implicareduo da diversidade gentica. Dessaforma, para garantir a manuteno dadiversidade e da prpria existncia dasespcies necessria a utilizao de umaabordagem que privilegie o conceito ea viso de paisagem.

    Esse conceito da biologia da con-servao cada vez mais utilizado pe-las organizaes ambientalistas atuantesna regio, com destaque para o IP, queh mais de 12 anos dedica-se conser-

    vao da diversidade biolgica na re-gio.

    Para que os esforos em prol daconservao de espcies da fauna e daflora dem resultados, apenas a manu-teno dos fragmentos que restaram edo prprio Parque Estadual Morro do Di-abo so insuficientes. Isto no garante ofluxo gentico que muitas espcies ne-

    cessitam para sua viabilidade no longoprazo. Torna-se necessrio implantar cor-redores florestais que contribuam como fluxo dos genes e minimizem o isola-mento das espcies animais e vegetais.Alm disso, preciso garantir a integri-dade dos fragmentos que ainda existem,principalmente o Parque do Morro doDiabo, pois nele esto essas ltimas se-

    mentes de biodiversidade da regio.Uma das formas de garantir a inte-

    gridade dessas reas proteg-las dosimpactos externos provenientes da aohumana, como o fogo, a retirada de ma-deira e a caa, o que pode ser consegui-

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    Sistemas agroflorestais em assentamentos de reforma agrria

    do por meio de zonas de amortecimen-to (buffer zones).

    Essas duas estratgias (corredoresbiolgicos e zonas de amortecimento)

    esto sendo implementadas por meio doProjeto Abrao Verdenos assentamen-tos Ribeiro Bonito e Tucano. Os assen-tados participam ativamente da implan-tao dessas estratgias. Para a zona deamortecimento, os assentados que fazemdivisa com o Parque destinaram uma fai-xa de aproximadamente 50 metros delargura para plantios consorciados de es-

    pcies florestais nativas e exticas. Asfamlias concordaram tambm emdisponibilizar uma rea para a criaodo corredor, que liga o Parque a um frag-mento florestal do assentamento.

    No Pontal do Paranapanema existenecessidade imediata e condies eco-lgicas e sociais favorveis para um pro-grama agroflorestal, com fins de restau-

    rao de paisagens fragmentadas. Nestesentido, o Abrao Verdevem incorpo-rando a diversificao das atividadesprodutivas nos assentamentos, a conser-vao do solo e da gua, bem como deespcies e populaes desse ecossiste-ma ameaado.

    Agrofloresta e biodiversidadePouca ateno tem sido dada aopapel e ao grande potencial que os sis-temas agroflorestais desempenham naconservao de reservas florestais empaisagens fragmentadas. Uma das ma-neiras de faz-lo utilizando mdulos

    agroflorestais como zonas de amorteci-mento, amenizadores da degradao dasbordas dos fragmentos florestais.

    Do ponto de vista biolgico, um dos

    principais benefcios dessas zonas deamortecimento seria a reduo dos efei-tos de borda. Esses efeitos podem pene-trar at 500 metros para o interior dosfragmentos, ocasionando mudanas demicroclima, afetando a integridade eco-lgica das florestas e levando os fragmen-tos ao desaparecimento. Abraandoesses remanescentes florestais com

    mdulos agroflorestais, reduzimos ospossveis efeitos negativos das pastagense/ou roas agrcolas de campo aberto emseu entorno.

    Do ponto de vista econmico e so-cial, a explorao desta zona agroflores-tada proporciona um espao produtivoe diversificado para as comunidades ru-rais vizinhas, alm de uma provvel re-

    duo nos conflitos entre a fauna e florapresentes nos fragmentos florestais e osassentamentos rurais do entorno.

    rea de concentrao doprojeto

    Os assentamentos rurais Tucano eRibeiro Bonito so timos exemplos da

    dinmica da ocupao de terras na re-gio. H trs anos vrias famlias foramassentadas no entorno desses fragmen-tos florestais, que esto biologicamenteentre os mais significativos da regio. Ofragmento florestal da Gleba RibeiroBonito, com seus 400 hectares, e o da

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    Gleba Tucano, com seus quase dois milhectares, ainda abrigam muitas espci-es endmicas e ameaadas, como porexemplo, uma das ltimas populaesremanescentes do mico-leo-preto(Leontopithecus chrysopygus), um dosprimatas mais ameaados de extino domundo. Cada famlia de assentado ruralpossui um lote de 15 hectares em m-dia. Metade do lote normalmente usa-da para uma agricultura de subsistncia(milho, algodo, mandioca, arroz, feijo,amendoim) e a outra metade destina-sea uma pecuria leiteira de pequena pro-duo.

    Devido m conservao do solo, falta de um extensionismo adequadoe carncia de um modelo de desen-volvimento apropriado, a agricultura epecuria so pouco produtivas nessasglebas. Por isso, a maioria das famliaspermanece em constante luta por suas

    necessidades bsicas de subsistncia.Por outro lado, importantes frag-

    mentos de mata vizinha so altamentevulnerveis s constantes incurses degado, plantas invasoras, cips, fogo, que-da de rvores e dissecaes provocadaspelo vento, tudo isso como conseqn-cia de bordas expostas e desprotegidas.Aos poucos, essas eroses antrpicas

    esto consumindo os fragmentos e afe-tando sua integridade ecolgica. Paraamenizar a degradao ambiental e apobreza rural que caracterizam algunspontos da regio, estamos implantando

    um projeto modelo de econegociaocom a comunidade e incorporando flo-restas sociais nesses assentamentos.

    Aes envolvem diferentesatores

    O projeto acima citado resulta deuma parceria com grupos de assentadose lideranas do MST, por meio da Coo-perativa de Comercializao e Prestaode Servios dos Assentados de ReformaAgrria do Pontal Cocamp, com o Es-tado (Instituto Florestal IF/SMA, Uni-versidade de So Paulo ESALQ/USP, eInstituto de Terras do Estado de So Pau-lo ITESP), alm das ONGs Associaode Recuperao Florestal do Pontal doParanapanema Pontal-Flora, e Associ-ao em Defesa do Rio Paran, Afluen-tes e Mata Ciliar Apoena.

    Reestruturao e ampliao doviveiro do Parque Estadual

    Atravs de um trabalho conjuntoentre o IP e o Parque Estadual Morrodo Diabo, este viveiro foi implantado em

    junho de 1998. Est localizado na sededo Parque, no municpio de TeodoroSampaio. At o incio das atividades doprojeto, a sua capacidade mdia era de

    trs mil mudas/ano. Com o financiamen-to do PDA, toda a estrutura de produode mudas do viveiro passou para o siste-ma de tubetes, aumentando sua capaci-dade para 150 mil mudas/ano.

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    Sistemas agroflorestais em assentamentos de reforma agrria

    Atividades e resultados

    Viveiro Agroflorestal do Parque Estadual Morro doDiabo

    Alm da produo e do forne-cimento de mudas de manei-

    ra contnua e no burocrtica para a im-plantao dos mdulos agroflorestais nosassentamentos, o viveiro do Parque Es-tadual tem funcionado como uma esco-la, onde so ministradas aulas prticasde cursos agroflorestais. L trabalham emtempo parcial quatro funcionrios quedireta ou indiretamente prestam os se-

    guintes servios:

    Coleta de sementes de espcies compotencial agroflorestal

    Esta atividade vem sendo realiza-da nas matas e imediaes do ParqueEstadual Morro do Diabo. Foi desenvol-

    vido um cronograma de frutificao dasespcies arbreas para indicar a pocaespecfica de coleta das sementes paracada espcie. Alm das espcies nativas,coletam-se sementes de espcies exti-cas com potencial de uso em agroflo-restas. Aps a coleta, uma parte dessassementes beneficiada e encaminhadapara o viveiro central do Instituto Flo-restal, na cidade de So Paulo. O restan-

    te armazenado em recipientes plsti-cos e acondicionado em um freezer, auma temperatura mdia de 8oC, sendoutilizado para abastecer o viveiro agro-florestal do Parque Estadual Morro doDiabo.

    JeffersonF.

    Lima

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    Sistemas agroflorestais em assentamentos de reforma agrria

    Tabela 01. Caractersticas das principais espcies produzidas pelo viveiro agroflorestal do Par-que Estadual Morro do Diabo.

    ESPCIES PERMANENTESPRINCIPAL FUNO

    AGROFLORESTALCOLETA DE SEMENTES

    Accia (Acacia mangium) LE, PO, QV, CS, TO Novembro-Dezembro

    Albizia (Albizia lebeck) LE, OR, A, AP, AV, CS, FA, FS Outubro-Fevereiro

    Alecrim (Holocalyx balansae)* MD, FA, OR Dezembro-Fevereiro

    Angico-branco (Anadenantheracolubrina)*

    MD, CS, LE, TO, FS, ME Julho-Agosto

    Angico-do-cerrado (A. macrocarpa)* MD, CS, LE, TO, FS, ME Agosto-Setembro

    Cabreva (Myroxylun peruiferum) * MD Outubro-Novembro

    Caf-de-bugre (Cordia ecalyculata) * MD, OR, AS, FS, FA Janeiro-Maro

    Canafstula (Cassia ferruginea) * A, MD, LE, QV, CS, AV, OR, ME Abril-Maio

    Cedro (Cedrella fissil is) * MD, AP, LE Junho-Agosto

    Corao-de-negro (Poecilantheparviflora)*

    MD, OR Abril-Maio

    Eucalipto (Eucalyptus spp) LE, MD, ME, PO, QV, AS, TO, FA Junho-Dezembro

    Farinha-seca (Albizia hasslerii) * LE, AS, A, AV, MD, OR Setembro-Outubro

    Gliricdia (Gliricdia sepium) A, AP, MD, LE, AV, CP, CS, AS, CV Junho-Setembro (Estacas)

    Guapuruvu (Schizolobium parahyba) OR, FA, AP Abril-Junho

    Gurucaira (Peltophorum dubium)* MD, AS, OR, FA Abril-Maio

    Ip-amarelo (Tabebuia chrysotricha) * MD, OR, FA, AP Setembro-Outubro

    Ip-amarelo (Tabebuia ochracea) * MD, OR, FA, AP Setembro-Outubro

    Ip-roxo (Tabebuia heptaphylla) * MD, OR, FA, AP Setembro-Outubro

    Ip-tabaco (Zeyheria tuberculosa) * MD, OR Julho-Setembro

    Jacarand-mimoso (J. cuspidi folia)* OR, FA, MD Agosto-Setembro

    Louro-pardo (Cordia trichotoma)* MD, OR, AS, FS Julho-Setembro

    leo-de-copaba (Copaiferalangsdorffii)* ME, OR Agosto-Setembro

    Pau-marfim (Balfourodendronriedelianum)*

    MD, LE, ORAgosto-Setembro

    Pau-jacar (Piptadenia gonoacantha) * MD, LE, ME, AP Setembro-Outubro

    Paineira (Chorisia speciosa) * OR, FA, FI Agosto-Setembro

    Pau-de-tucano (Vochysia tucanorum)* OR, FA, MD Janeiro-Maro

    No-frutferas

    s

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    Futferas

    * Presentes na flora do Parque Estadual Morro do Diabo e outras florestas da regio do Pontal

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    Sistemas agroflorestais em assentamentos de reforma agrria

    A = Alimentao/forragem animal GO = Goma

    AP = Apicultura HU = Consumo humano

    AS = rvore sombra/consrcio LE = Lenha

    AV = Adubao verde MD = Madeira/construo

    CP = Controle pragas ME = Medicinal

    CS = Conservao solo OL = leo

    CV = Cerca viva OR = Ornamental

    FA = Uso faunstico PO = Madeira polpa

    FI = Fibra QV = Quebra-vento

    FS = Fertilidade solo TO = Madeira/toras

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    Sistemas agroflorestais em assentamentos de reforma agrria

    Espcies que perdem o podergerminativo muito rpido, como FicuseInga, so conservadas em banco de pln-

    tulas, em estufas apropriadas. Durante oprocesso de produo das plntulas emestufas, procura-se controlar os fatoresambientais desfavorveis para algumasespcies. Posteriormente, essas plntu-las so transplantadas para tubetes ou sa-cos plsticos definitivos.

    Setor de sementes

    Este setor responsvelpelo armazenamento, bene-ficiamento e envio de se-

    mentes e frutos para o Insti-tuto Florestal de So Paulo eassentamentos vizinhos.Nele so ministradas aulasprticas sobre a implantaoe conduo de viveiros agro-florestais comunitrios. Du-rante as aulas prticas, os as-sentados recebem treina-

    mento em escolha do terre-no; viso geral do viveiro;uso de ferramentas, recipien-tes, mistura da terra, semen-tes, matria orgnica, quebrada dormncia; formao desementeira; replantio; forma-o das mudas; abertura decovas; espaamentos; poda

    de limpeza e raleio. Produo de mudas

    A principal forma depropagao ocorre pormeio de sementes. Os re-

    cipientes utilizados pelo viveiro doParque Estadual so os tubetes (95%)e os sacos plsticos (5%). A escolha

    do sistema de produo baseia-se nagerminao da semente e no sistemaradicular da espcie. Para encher ostubetes, uti liza-se substrato base devermiculita expandida (bioterra), ad-quirido comercialmente.

    No setor de sementes agroflorestais do ParqueEstadual ocorrem as aulas prticas para implantaode viveiros nos assentamentos

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    ESPCIE QUANTIDADE

    cia (Acacia mangium) 11.000

    rola (Malpiguia glabra) 196

    crim (Holocalyx balansae) 216

    ico-preto (Anadenanthera falcata) 864

    ico-vermelho (Parapiptadenia rigida) 216

    upari (Rhedia sp) 224

    -de-bugre (Cordia ecalyculata) 390

    ambola (Averrhoa carambola) 600

    ro (Cedrella fissil is) 800

    aba (Copaifera langsdorffi i) 216

    alipto (Eucalyptus camaldulensis) 13.500

    alipto (Eucalyptus citriodora) 2.600

    alipto (Eucalyptus urograndis) 6.300

    nha-seca (Albizia hasslerii) 162

    aba (Psidium sp) 150

    vira (Patagonula americana) 756

    mixama (Eugenia brasiliensis) 288

    puruvu (Schizolobium parahyba) 75

    ucaia (Peltophorum dubium) 1.100

    Tabela 2. Espcies produzidas no viveiro agroflorestal do Parque Estadual Morro do Diabo noperodo de maro a dezembro de 2000.

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    Sistemas agroflorestais em assentamentos de reforma agrria

    Em quinze meses, foram produ-zidas cerca de 45 mil mudas de 27espcies diferentes. O tempo mximode permanncia das mudas no vivei-

    ro de cinco meses. Atualmente a pro-duo est centrada principalmentenos meses de junho a outubro, aprovei-tando-se assim, o perodo das chuvasde novembro a fevereiro para a implan-tao dos mdulos agroflorestais nos as-sentamentos.

    Cursos agroflorestaisO objetivo geral dos cursos agro-florestais promover a integrao entreo desenvolvimento scio-econmico dosassentamentos rurais e a manuteno dadiversidade biolgica na paisagem doPontal do Paranapanema. Busca-se, as-sim, uma reforma agrria ecologicamen-te sustentvel nos assentamentos rurais.

    Os objetivos especficos desses cursosso:

    disponibilizar informaes agro-ecolgicas e conceitos bsicosde biologia da conservao paragrupos e lideranas dos assenta-mentos de reforma agrria;

    promover a extenso agroflores-tal por meio do estmulo ado-

    o de prticas de manejo agro-ecolgico em lotes rurais queincorporam conceitos de agroflo-resta, diversificao e sustenta-bilidade da produo;

    estimular a produo de bens(frutos, madeiras, lenha, mel, er-vas medicinais, matria orgni-ca, forragem etc.) e servios(conservao e fertilidade dosolo e da gua, restaurao econservao da paisagem regio-nal, aumento da produtividadeagropecuria, diversificao dasatividades produtivas, aceiros,quebra-ventos, cerca viva, lazer);

    estimular a implantao de vi-veiros agroflorestais comunitri-

    os por meio do plantio de esp-cies com potencial agroflorestalna regio;

    contribuir com a formao deagentes disseminadores tcni-cos e lideranas locais pormeio do envolvimento comuni-trio, em busca de solues paraos problemas agro-ambientais

    locais e regionais; avaliar o projeto de maneira sis-

    temtica e contnua;

    disseminar os resultados obtidospara outras regies onde o avan-o da reforma agrria ameaa abiodiversidade regional.

    Os cursos tm durao de dois dias.

    As aulas tericas so administradas nocentro de visitantes do Parque. Por meiode slidese vdeos, os participantes en-tram em contato com os vrios benefci-os proporcionados pela agrofloresta. Asexposies reforam a importncia doconsrcio de espcies, enfatizando com-

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    Sistemas agroflorestais em assentamentos de reforma agrria

    binaes que aumentem as interaeseconmicas e ecolgicas entre os com-ponentes. Discutem-se os seguintes atri-butos positivos da agrofloresta, quando

    comparados s monoculturas de baixorendimento implantadas na regio:

    melhoria do microclima;

    melhoria da ciclagem de nutrientes;

    aumento da fertil idade eporosidade do solo e do compo-nente matria orgnica;

    aumento do volume explorado

    de solo; economia de fertil izantes;

    proteo contra o impacto daschuvas;

    proteo contra o vento;

    barreira e controle de pragas.

    Mostra-se tambm que tudo issoest associado ao aumento da diversifi-cao, da sustentabilidade dos sistemasde produo, contribuindo para a inte-

    gridade dos ecossistemas e a conserva-o da biodiversidade regional.

    Inicialmente 40 famlias de assen-tados das reas de concentrao do pro-

    jeto foram convidadas para participar docurso. O critrio de escolha baseou-seno fato das famlias possurem seus lotesprximos, em muitos casos dividindo amesma cerca com a borda dos fragmen-

    tos. Para tanto, um convite foi elaboradoe distribudo em mos. Tcnicos da co-operativa do MST e do ITESP, sediadosem Teodoro Sampaio participaram des-te curso, pois so eles os responsveis,em grande parte, pela extenso rural ofi-cial nos assentamentos do MST.

    Os cursos mobilizaram as famlias cujos lotes fazemlimite com o Parque, assim como extensionistas queatuam como multiplicadores das informaes

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    Viveiros agroflorestaiscomunitrios

    Como resultado dos cursos de ca-pacitao, foram instalados, at o mo-

    mento, 13 viveiros agroflorestais comu-nitrios nos assentamentos do Pontal,cada um com capacidade mdia de 20mil mudas/ano. Vale ressaltar que vriosdos assentados e tcnicos capacitadosdurante os cursos j esto funcionandocomo agentes multiplicadores, principal-mente entre os grupos de famlias queinstalaram os viveiros agroflorestais co-

    munitrios. Servem como plos de dis-seminao da cultura agroecolgica naregio e de estmulo na participao demuitos outros assentados rurais da re-gio.

    Diagnstico nos lotes dasfamlias

    Os primeiros seis meses foram de-dicados ao planejamento em campo dosmdulos e sistemas agroflorestais a se-rem adotados pelos participantes. Comexceo de uma nica famlia de assen-tados, as demais visitadas no utilizavamprticas agroflorestais.

    A escolha do desenho, assim comoa forma de implementao de cada

    mdulo agroflorestal, dependem de umbom diagnstico da rea, de discussese negociaes com as famlias assenta-das. Planejamos com o assentado e nopara o assentado, buscando possibilitara adaptao e modificao desses mo-delos agroflorestais s condies locais.

    O uso futuro que o agricultor deseja fa-zer da rea em questo definir quaisespcies arbreas, desenhos e espaa-mentos sero utilizados.

    A espcie arbrea escolhida emfuno do seu uso (lenha, madeira, pas-to, adubao do solo, sombra etc.). Oespaamento definido em funo dotempo que o agricultor deseja usufruirdeste consrcio. Assim, quanto maior operodo de utilizao, maior o espaa-mento e vice-versa. Para implantaoinicial dos mdulos agroflorestais, optou-

    se por preparar a terra considerando umarea mdia de aproximadamente meioa um hectare por lote.

    As rvores raramente aparecemcomo elemento principal do lote do as-sentado. O elemento arbreo utiliza-do em geral como cerca viva, oferecen-do sombra e embelezamento para oslotes, sendo que o Eucalyptus sp e a

    Acacia mangium so as espcies maisempregadas. Apesar disso, tais famliasmostraram-se dispostas a adotar o usode prticas agroflorestais se houver est-mulo e capacitao para isto.

    Os sistemas agroflorestais podemcontribuir para solucionar problemas nouso dos recursos naturais devido s fun-es biolgicas e scio-econmicas que

    exercem. A presena de rvores no sis-tema traz benefcios diretos e indiretos,tais como o controle da eroso e manu-teno da fertilidade do solo, aumentoda biodiversidade, diversificao da pro-duo e alongamento do ciclo de ma-nejo de uma rea.

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    Entre outubro e dezembro de 2000foram distribudas mudas para os assen-tados participantes, considerando sem-

    pre o diagnstico de campo, assim comoo planejamento prvio realizado com asfamlias.

    Extenso agroflorestalNo Brasil, as aes extensionistas

    concentram-se em servios de assesso-ria a agricultores no campo da produ-

    o agropecuria. Cabe ao extensionistadesempenhar um papel meramente in-formativo sobre as tecnologias dispon-veis. Entretanto, uma extenso eficazbaseia-se na discusso participativa e,muitas vezes, na negociao com osagricultores, definindo e desenvolvendo

    tecnologias necessrias, mais adequadase aceitas por eles.

    Essa negociao sempre realiza-

    da de maneira adaptativa, ou seja, estem constante avaliao, com ajustes ereformulaes, visando melhor sintoniaentre as partes envolvidas. Extensionistasque trabalham com sistemas agroflores-tais precisam ter conhecimentos tantosobre rvores quanto sobre o comporta-mento das pessoas. Isso significa, porexemplo, conhecer o papel de homens,

    mulheres e crianas no plantio, manuten-o e manejo dos sistemas implantados.

    A equipe de extensionistas do Pro-jeto Abrao Verde composta por umengenheiro florestal e um tcnico agr-cola. Estes profissionais visitam semanal-

    rea preparada para a implantao de SAFsabraa os limites do Parque Estadual

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    LauryCullenJr.

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    mente os locais de implantao dosmdulos agroflorestais para identificar esolucionar problemas inesperados e ve-rificar as dificuldades que se apresentam.Discutem com os assentados soluesmais adaptadas, focando no somente aproduo, mas tambm a sustentabilida-de ecolgica dos sistemas de produo.

    Os extensionistas sempre buscamconselhos de outros profissionais da rea.Utilizam tambm o conhecimento, aexperincia e a prtica dos agricultorespor meio de conversas informais em que

    se discutem prticas mais eficazes, bara-tas e compatveis com a realidade localde cada participante. Este conhecimento repassado para os demais agricultores.

    Geralmente, antes de aceitar umanova prtica, os agricultores precisamestar convencidos de que:

    a inovao aumentar a relaocusto-benefcio em comparaocom as prticas vigentes;

    a nova tecnologia menos tra-balhosa;

    os resultados da nova prtica sovisveis;

    o agricul tor poder testar a ino-vao numa escala limitada, ouseja, numa rea pequena.

    Por tudo isso, uma extenso agro-florestal eficaz demanda:

    pacincia: para introduzir novossistemas, como os da agroflores-

    ta, deve-se pensar num progra-ma de longo prazo e na maneiracomo os agricultores percebemo custo, o esforo ou o risco as-sociados a novas prticas. Estesfatores em geral impedem umarpida adeso nova tecnologia;

    escutar tambm com os olhospara verificar como a reaodos agricultores s novidades;

    aprender com os agricultores:pode-se aprender muito maissobre o que necessrio para

    ajud-los a solucionar seus pro-blemas. Por exemplo: pedir aosagricultores a descrio de rvo-res boas e ruins para seuslotes ou sugestes para protegermananciais;

    comunicar de forma eficaz: terclareza sobre o que se quer e oque se espera do agricul tor, sem-pre tendo em mente o que estesente e precisa;

    trabalhar junto aos lderes degrupos: os lderes j possuem aconfiana do grupo. Portanto, seestes conhecerem e adotarem asnovas tecnologias, ser mais f-cil a adeso dos demais agricul-

    tores. As lideranas agem comomultiplicadores de novas idiase tecnologias.

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    Aexistncia de uma cooperaotcnica entre o IP e o ParqueEstadual Morro do Diabo tem funciona-do como a grande alavanca do ProjetoAbrao Verde. O viveiro agroflorestalrecm instalado no Parque Estadual temsuprido de maneira contnua e no bu-rocrtica a demanda por mudas neces-srias implantao dos mdulos agro-florestais. Existe tambm na regio umconvnio oficial firmado entre o IP e aCocamp/MST. Por meio deste convnioso prestados servios tcnicos comple-mentares s atividades do projeto, uma

    vez que nesta parceria esto diversosprofissionais com experincia em ativi-dades semelhantes s aqui propostas. ACocamp tem trs tcnicos de nvel su-perior, alm de sete extensionistas decampo e uma infra-estrutura j organi-zada para prestar servios agronmicosem campo. O constante contato entre

    os tcnicos da Cocamp e os do IP maisuma condio favorvel para os freqen-tes ajustes no projeto.

    A necessidade do cumprimento dasleis ambientais e das normas do Institu-to Nacional de Colonizao e Reforma

    Condies para o desenvolvimento do projeto

    A cooperao tcnica com o Parque Estadualgarante suprimento contnuo de mudas paraimplantao dos sistemas agroflorestais

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    Agrria Incra, que obrigam os projetosde assentamento rural terem no mnimo20% de sua rea ocupada com plantiosflorestais para fins sociais, econmicose/ou ecolgicos, tambm uma das prin-cipais condies externas positivas ao

    desenvolvimento do projeto. Essas deter-minaes legais servem para fortaleceras intenes dos assentados rurais, bemcomo das instituies participantes emestabelecer mdulos agroflorestais naspropriedades.

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    As atividades realizadas at omomento conduziram s se-guintes aprendizagens:

    necessrio um planejamentocuidadoso do cronograma de sa-da das mudas do viveiro para ocampo, para que isto ocorra noperodo chuvoso (novembro a fe-

    vereiro); algumas espcies no so bem

    aceitas pelos assentados, seja porcrendices ou por falta de infor-mao. Isto demanda dos exten-sionistas maiores esclarecimen-tos sobre as vantagens de us-las;

    a aproximao com a comuni-dade deve basear-se em amiza-de, carisma e, principalmente,em credibi lidade e confiana. Oassentado deve participar ativa-mente das discusses, pois oempoderamento da comunidade garantia da continuidade dos

    modelos agroflorestais mesmoaps o trmino do projeto. A con-servao da natureza s ser pos-svel se as pessoas se sentiremcapazes de realizar algo;

    os assentados so receptivos snovas idias e propostas, apesar

    Lies aprendidas at o momento

    Culturas anuais e espcies exticas de valorcomercial, como o eucalipto, compem ossistemas junto com espcies florestais nativas

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    da resistncia s mudanas, na-tural em comunidades rurais semexperincia e cul tura agroflores-tal;

    so necessrias qual idadescomo pacincia, persistncia epresena constante, pois este um trabalho de longo prazo emum assentamento com diferentesrealidades, origens e ambies;

    a mulher, na maioria dos casos,participa amplamente das ativi-dades agroflorestais;

    os mdulos agroflorestais so-mente so implantados se esti-verem associados a, pelo menos,uma espcie de valor econmi-co, como por exemplo, eucalip-to e caf;

    deve-se trabalhar junto aos lde-res de grupos, fazendo com que

    estes se tornem disseminadoresde idias;

    a visita aos mdulos agroflores-tais j implantados e que apre-sentam resultados satisfatrios uma das melhores maneiras deconvencer a populao a adotara prtica agroflorestal.

    Dificuldades encontradasEntre as aprendizagens propociadas

    pelo Projeto esto tambm alguns obs-tculos consecuo dos objetivos. En-

    tre eles, podemos citar: oscilaes climticas, principal-

    mente geadas, que dificultam aadoo da prtica agroflorestal;

    o controle de pragas, principal-mente de formigas. Procuramosminimizar este problema com ofornecimento de defensivos agr-colas e plantio de espcies repe-

    lentes;

    inexistncia de referncias con-vincentes (estudos e sistemasagroflorestais) para os agriculto-res na regio;

    parcerias em que as instituiesdemonstram dificuldade em tra-balhar juntas, mesmo em proje-

    tos semelhantes e com o mesmopblico;

    o fato de muitos assentados, parasobreviver, prestarem serviosem lotes vizinhos, sem dispor detempo para cuidar atenciosa-mente do seu prprio lote.

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    As atividades realizadas at omomento permitem elaboraralgumas concluses parciais sobre a re-alidade dos assentamentos e sua relaocom o Parque Estadual Morro do Diabo.

    A primeira delas que a intensarelao entre tcnicos, pesquisadores e

    assentados est levando ao surgimentode uma racionalidade social e ambien-tal com novas normas de comportamen-to. Isto influencia a maneira como cadaum desses atores visualiza a prpriaao. Os assentados comeam a enxer-gar nos ambientalistas (e na prpria na-

    tureza, por conseqncia) no mais umentrave s suas atividades, mas uma pos-sibilidade de alcanar melhores resulta-dos individuais e coletivos.

    Os ambientalistas, por sua vez, co-meam a compreender que existe umenorme potencial de conservao se os

    assentados participam das decises so-bre o futuro das florestas da regio. Seantes enxergavam nessas comunidadesum perigo para a manuteno da inte-gridade das florestas, agora concebemos assentados como importantes aliadosda conservao ambiental.

    Concluses sobre as aes coletivas

    do projeto

    A intensa relao entre tcnicos, pesquisadores eassentados propicia o surgimento de novospadres de comportamento

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    Para o movimento social, as ativi-dades ambientais promovem ganhos emqualidade de vida, que , em ltima ins-tncia, o seu objetivo principal. Ou seja,tiram os agricultores sem terra da exclu-so, inserindo-os em um ambiente ca-paz de lhes garantir melhores condiesde vida. Como muitas atividades so re-alizadas de forma coletiva, o movimen-to social vislumbra nestas uma aprendi-zagem para a ao cooperativa que podeser uti lizada em outras aes, no s eco-nmicas, mas tambm polticas.

    A experimentao de tcnicas me-nos impactantes do ponto de vista am-biental, abre caminho para a experimen-tao de outras tcnicas, como a produ-o orgnica de alimentos ou o contro-le biolgico de invasoras e pragas da la-voura. Gradualmente percebe-se que acrena segundo a qual s se consegueproduzir com a utilizao dos recursos

    da moderna indstria qumica e mec-nica, geralmente inacessveis s suas

    condies, vai aos poucos sendo deixa-da de lado. Em um dos seminrios detroca de experincia, os assentados fo-ram capazes de elencar seis maneiras decontrolar formigas sem o uso de inseti-cidas.

    Outra concluso a que se chega que, se num primeiro momento foi ne-cessrio o estmulo de um agente exter-no ao assentamento para iniciar a dis-cusso sobre a questo ambiental, aospoucos os assentados vo ganhandomaior autonomia neste terreno. Uma vez

    que o seu conhecimento valorizado,eles sentem-se encorajados a disseminarpara outros assentamentos as idias deconservao, por meio de visitas de ou-tros grupos s reas j implantadas. Con-forme sintetizado por Beduschi (2001),essa emancipao pode ser a garantiade sustentabi lidade do processo que estem curso, e deve ser cada vez mais esti-

    mulada pelos pesquisadores e tcnicosdas organizaes envolvidas.

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    Aprimeira constatao de quevrios dos assentados j domi-

    nam as tcnicas de produo de mudasagroflorestais e incorporam conceitos eprincpios no seu cotidiano. Se um fatoque as mudas esto sendo implantadase cuidadas pelos assentados, fato tam-bm que o comprometimento aumentana medida dos investimentos que cada

    famlia realiza, conforme se pode cons-tatar nesses primeiros meses de implan-tao. Isto , quanto maior o investimen-to, principalmente de trabalho, maior o grau de compromisso com a questoambiental nos assentamentos.

    Gostaramos de frisar que a cons-truo de novas instituies para a con-servao da natureza numa realidade tocomplexa como a do Pontal do Parana-panema exige um freqente esforo dedilogo e negociao envolvendo todosos atores sociais de alguma maneira re-lacionados problemtica ambiental naregio, desde as organizaes de assen-

    tados, passando pelo Estado e chegan-do s famlias.

    A continuao dos trabalhos atual-mente desenvolvidos no Projeto AbraoVerdepode representar o possvel elo deligao entre a conservao de ecossis-

    Consideraes e recomendaes finais

    O compromisso da famlia assentada aumenta namesma medida do investimento em trabalho querealiza

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    temas e uma nova postura de atuaodos envolvidos com a reforma agrria emnosso pas. As aes desenvolvidas apre-sentam um carter demonstrativo inova-dor, pioneiro e com grande potencialmultiplicador para o Pontal do Parana-panema e demais regies brasileiras.

    Por ltimo, gostaramos de ofere-cer algumas recomendaes para quemdeseja o sucesso em trabalhos que en-volvem a colaborao de vrias partesinteressadas:

    reconhea, que muitas vezes, as

    parcerias ocorrem entre pessoase no entre instituies;

    mobilize suporte e recursos dediversas fontes;

    prossiga sempre com determi-nao e comportamento pro-ati-vo;

    sempre estimule o senso de res-

    ponsabilidade e compromissonas partes e/ou indivduos envol-vidos;

    crie novas oportunidades para ainterao entre as partes envol-vidas;

    desenvolva um processo de co-laborao que tenha um signifi-cado comum, que seja objetivo,efetivo e duradouro, mantidosempre por uma forte relao deconfiana entre as partes e/ouindivduos envolvidos.

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    Sistemas agroflorestais em assentamentos de reforma agrria

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    Terra Viva:Meio ambiente e

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    Antnio de Barros AssumpoAgrnomo, coordenador do Terra Viva

    de setembro de 1995 a setembro do 2000

    AcervoTerraViva

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    Sistemas agroflorestais em assentamentos de reforma agrria

    disseminao e a adoo em larga escala desistemas agroecolgicos de produo nasreasdereforma agrria da Costa do Descobrimento, no sul da Bahia,so condies para a sustentabi lidade dos assentamentos e paraa manuteno das famlias na atividade agrcola. Significa tam-bm a chance de preservar importantes remanescentes de MataAtlntica no entorno dos assentamentos, em sua maior parteincludos nos Parques Nacionais do Descobrimento, Monte

    Pascoal e Pau Brasil.Os remanescentes florestais de Mata Atlntica no interior

    dos assentamentos sofrem grande presso de uso por agricul-tores economicamente fragilizados e socialmente excludos. Ademanda por novas terras para a agricultura torna-se perma-nente por causa de tecnologias e procedimentos que degra-dam os agroecossistemas e pela predominncia de atividades

    Introduo

    A

    A incorporao de tcnicas agroecolgicas pelasfamlias assentadas comeou como uma longaaprendizagem, iniciada em 1992 e que seintensificou com o projeto financiado pelo PDA

    AcervoTerraViva

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    que no geram renda satisfatria para asfamlias. Os remanescentes florestais,ainda que protegidos por lei, so pro-gressivamente ocupados e incorporadosaos sistemas produtivos.

    O uso do fogo tambm prticausual, especialmente na pecuria e nasmonoculturas. Este procedimento oprincipal gerador de queimadas aciden-tais que destrem importantes reasprotegidas, com perdas irreparveis paraa biodiversidade. Os sistemas agroeco-lgicos, ao contrrio, mantm os recur-

    sos dos agroecossistemas e prescindemdo uso do fogo. Se adotados em largaescala, reduzem enormemente a pres-so sobre os remanescentes florestais.

    Trajetria do projetoAs aes do Terra Viva na regio

    foram iniciadas em 1992 com a misso

    de contribuir com o fortalecimento daagricultura familiar por meio do desen-volvimento de sistemas agroecolgicosde produo e de preservao ambien-tal. O exerccio do fazer concreto juntocom agricultores e agricultoras permitiuacumular conhecimentos e lies estra-tgicas, num processo construdo conti-nuamente, que incluiu tambm erros einsucessos.

    Em 1996, tivemos aprovado umprojeto no PDA/PPG7, denominado Sis-temas Sustentveis de Produo Agrco-la e de Preservao Ambiental em reasde Reforma Agrria. Embora tenhamoscontado com apoio de importantes par-

    ceiros ao longo do projeto, a participa-o do PDA foi decisiva para orientar aconstruo da matriz de planejamentodas aes executadas pelo Terra Viva.

    Com este artigo, pretendemos so-cializar os aspectos relevantes da exe-cuo de projetos envolvendo a geraode novos conhecimentos e o desenvol-vimento de processos de mudana nossistemas de produo da agricultura fa-miliar no extremo sul da Bahia. Nossodesejo demonstrar a relevncia destaabordagem para a consecuo dos ob-

    jetivos do PDA de conservar a biodi-versidade, reduzir as emisses de carbo-no e promover maior conhecimento deatividades sustentveis nas florestas tro-picais.

    Na primeira parte apresentamos ocontexto socioambiental da regio-focode nosso trabalho, a plancie litorneado extremo sul da Bahia, no ncleo da

    Costa do Descobrimento. A seguir, des-crevemos os elementos estratgicos emetodolgicos desenvolvidos, assimcomo os principais resultados alcana-dos em nosso projeto, executado comagricultores e agricultoras do assenta-mento Riacho das Ostras, no municpiodo Prado, vizinho ao Parque Nacionaldo Descobrimento. Na terceira parte

    apresentamos alguns temas centrais naconsecuo de nossos objetivos e sobreos quais acreditamos possam assentar osprincipais desafios para a construo deum modelo de desenvolvimento regio-nal sustentvel.

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    ACosta do Descobrimento pos-sui singularidades decorrentes

    dos processos histricos. A regio foiocupada desde perodos imemoriais porancestrais dos grupos indgenas tupi prai-eiros e tapuias. Estes, com suas com v-rias etnias (botocudo, patax e maxacali)

    j viviam nesse local quando chegaramos portugueses.

    Com a chegada dos colonizadoresocorre a extrao do pau-brasil, inician-do o primeiro ciclo de explorao pre-datria da regio. O insucesso da ocu-pao no perodo posterior atribudoa uma associao de entraves para a im-plantao dos engenhos e fazendas de

    Contexto socioambiental

    cana-de-acar. Isto fez com que osecossistemas locais se mantivessem emelevado grau de preservao durante operodo colonial.

    Durante o Imprio, a ocupaoocorreu lentamente em poucas vilas dolitoral. A interiorizao deu-se s mar-gens dos principais rios com uma agri-cultura familiar envolvendo diferentes

    povos indgenas, negros fugitivos da es-cravido, negros libertos e brancos po-bres. Essas caractersticas mantiveram aregio margem dos grandes ciclos daeconomia nacional e permitiram a ma-nuteno de um enorme remanescenteflorestal at meados do sculo XX.

    Cenrio tpico da regio: pastagens degradadasexercem presso sobre os remanescentes florestais

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    Sistemas agroflorestais em assentamentos de reforma agrriaAcervo Terra Viva

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    A partir dos anos 1950, inicia-se umnovo ciclo de ocupao regional. O des-matamento nesse perodo decorreu daexpanso da pecuria extensiva j im-plantada em Minas Gerais e no norte doEsprito Santo, caracterizando-se pelaexplorao seletiva de madeira. Apenasos grandes jacarands eram aproveita-dos e a mata sofria freqentes queima-das. Gradualmente outras madeiras fo-ram adquirindo valor de mercado e aabertura da rodovia BR-101, que liga oNordeste aos estados do Sul e Sudeste,permitiu a expanso da atividade madei-reira que j vinha destruindo o norte doEsprito Santo.

    A integrao com a sociedade na-cional produziu um profundo impactonas comunidades tradicionais. A valori-zao da terra transformou a lgica daocupao territorial indgena e das cen-tenas de comunidades de agricultores.

    Surgem os primeiros conflitos e inicia-se o processo de expulso e esvaziamen-to da zona rural, tendncia dominantenas dcadas seguintes.

    Durante os anos 1970, este proces-so se acelerou, deslocando os plos decrescimento urbano para o eixo da ro-dovia. Em poucos anos, pequenas cida-des e distritos, como Eunpol is, Teixeira

    de Freitas e Itabela tornaram-se grandesaglomerados humanos em torno das cen-tenas de serrarias que se instalaram naregio.

    O esgotamento dos recursos, ocor-rido na dcada de 1980, levou as em-

    presas madeireiras a se deslocar paranovas frentes de desmatamento. Atual-mente, a maioria atua na Amaznia,principalmente no estado do Par. O r-pido declnio da atividade criou umagrande instabilidade social nesses cen-tros urbanos. A crise de trabalho gerouum grande contingente de desemprega-dos e o crescimento da misria. Nestecontexto se iniciou a luta pela reformaagrria.

    A reforma agrria na regioOs sindicatos de trabalhadores ru-

    rais e, em seguida, o Movimento dos SemTerra - MST, passam a mobilizar a popu-lao, organizando grandes ocupaes,principalmente na plancie litornea,onde se concentravam latifndios impro-dutivos aptos para reforma agrria.

    Com a regio integrada ao cresci-

    mento nacional, muitos e novos atoresse inserem na dinmica e conflituosaocupao da terra: as indstrias de ce-lulose, as atividades associadas ao turis-mo e as empresas agrcolas produtorasde mamo e caf. A atividade econmi-ca predominante continua a ser a pecu-ria extensiva, que ocupa cerca de 70%do total da rea da regio.

    Nos anos recentes, o cenrio temse tornado mais favorvel para a manu-teno dos remanescentes florestais edos ecossistemas associados. Emborano se tenha revertido o atual quadro dedegradao, o crescimento das aes re-gionais, nacionais e internacionais re-

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    dundaram em atitudes concretas paradefender os remanescentes da MataAtlntica do sul da Bahia.

    A regio ganhou statusde Patrim-

    nio Mundial e prioridade para uma aointegrada de polticas pbl icas, com n-fase na preservao do meio ambiente.Foi realizado um plano de ao coorde-nado pelo Ministrio do Meio Ambiente- MMA, dos quais algumas foram ou es-to sendo viabilizadas, embora no noritmo e com os recursos necessrios.Existem grandes demandas de apoio ao

    desenvolvimento sustentvel e preser-vao nos assentamentos de reformaagrria e nas aldeias patax, alm deestruturao e gesto dos parques naci-onais e da implantao da ReservaExtrativista Marinha do Corumbau. Hainda grande necessidade de se desen-volver programas de educaoambiental para todos os atores sociais

    que interagem na regio.

    Indgenas no centro do cenrioA questo indgena ocupa hoje o

    centro do cenrio no ncleo da rea. Ospatax demonstram uma enorme capa-cidade de resistncia tnica e cultural evivem um processo de reagregao ecrescimento populacional. Nos ltimosanos ocorreram algumas retomadas deterritrio indgena, eventos que marca-ram especialmente as proximidades dosquinhentos anos de Brasil. Em agosto de1999 ocorreu a retomada do MontePascoal, situao que permanece inde-

    finida at o momento. Mais tensa est arelao com os fazendeiros, alguns dosquais se utilizam de violncia para coi-bir a ao indgena.

    A ocupao da terra torna a regioum grande palco de conflitos entre osatores sociais: sem-terra versus latifun-dirios, ndios versusfazendeiros, Iba-ma versusndios, ndios versussem-ter-ra. A conformao definitiva da posse daterra atualmente depende em grandeparte da demarcao e reacomodaodos patax, situao que pode se pro-

    longar ainda por muitos anos.As reas estratgicas mnimas pos-

    sveis para conservao esto definidas.Foram criados dois parques nacionaisnos dois ltimos grandes remanescentesde Mata Atlntica ainda no protegidos.A rea do Parque Nacional do MontePascoal dever ser preservada indepen-dentemente da definio deste litgio.

    Estas reas formam uma espcie de mo-saico, alternando-se principalmente comos assentamentos e as aldeias dos muni-cpios do Prado e Porto Seguro. Os mo-radores do entorno so atores decisivosno que ocorre de destruio ou preser-vao ambiental.

    A maior ameaa aos grandes rema-nescentes e a reas menores de matassecundrias dispersas na paisagem ouso do fogo, prtica comum a muitossistemas de produo e que acelera adegradao dos agroecossistemas.

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    Situao inicial do projetoEm 1995, o Terra Viva, em parceria

    com uma articulao de 14 sindicatosde trabalhadores rurais, realizou pesqui-

    sa regional sobre a agricultura familiar.Este diagnstico foi muito importantepara definir estratgias para o planeja-mento do ltimo qinqnio do sculoXX. Neste trabalho, visitamos 19 reasde reforma agrria existentes na regio,incluindo assentamentos regularizadospelo Incra e reas ainda sem a emissode posse, mas cuja ocupao j estava

    consolidada.Realizamos dezenas de reunies,

    caminhadas de observao das localida-des e aplicamos cerca de mil question-rios em entrevistas familiares. Levanta-mos dados sobre a famlia, sistemas deproduo, comercializao e renda,infra-estrutura local e acesso a polticaspblicas, participao em organizaes

    e outras informaes complementares.Aps este trabalho, acompanhamos odesenvolvimento local de algumas re-as e iniciamos a execuo do projetoPDA no Assentamento Riacho das Os-tras, alm de projetos menores com fa-mlias de outros assentamentos.

    Com exceo do AssentamentoVale Verde, as demais reas nasceram

    de ocupaes organizadas pelos sindi-catos dos trabalhadores e pelo MST en-tre 1986 e 1991. Aps esse perodo, asocupaes se reduziram, mas vrias ou-tras reas foram incorporadas reformaagrria por meio do programa Cdula daTerra.

    O modo de ocupao das reas dereforma agrria determinou a implanta-o de sistemas produtivos com baixasustentabil idade ambiental, social e eco-nmica que colocam em permanenterisco os remanescentes florestais aindapresentes na regio.

    Uma questo com a qual nos de-paramos em vrios assentamentos comat dez anos de existncia foi o baixograu de estruturao social. O associati-vismo ainda no foi plenamente incor-porado na vida social, seja pela falta de

    estruturas comunitrias, seja por causados frgeis vnculos culturais e afetivosentre as pessoas e das pessoas com a ter-ra. So profundas as diferenas em rela-o a uma comunidade tradicional deagricultura familiar. A sociedade, aindaem formao, no est conseguindoestruturar os sistemas produtivos, geran-do uma situao crtica de sustentabili-

    dade.A ineficcia e a lentido na execu-

    o de polticas pblicas que propicias-sem condies favorveis para o desen-volvimento local desses assentamentosforam determinantes para a instalao deprocessos com grandes problemas desustentabilidade e geradores de fortesimpactos ambientais.

    Somente em anos recentes, o Esta-do passou a operar realmente nas reas.Provocou uma mudana no cenrio daproduo, com a liberao de crditoindividual e comunitrio, alguma assis-tncia tcnica e a implantao de infra-

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    estrutura local, como escolas, estradas eenergia eltrica. O modo como essasoperaes foram realizadas provocounovos impactos no ambiente. Houveuma grande uniformizao nos projetosindividuais, priorizando-se a pecuria.Nesses projetos o sonho de muitos as-sentados de ter o seu rebanho conver-giu com o projeto associativo da Coo-perativa Central de Produo de Leite eDerivados.

    Nas reas de reforma agrria doextremo sul predominam os parcelamen-

    tos em lotes individuais/familiares. Cadafamlia assentada em lotes com reaem torno de 25 hectares. A principal re-gra que orienta o parcelamento a dis-ponibilidade de gua no maior percen-tual possvel de lotes. Os elementos derelevo da plancie litornea so achapada, plana ou suavemente ondula-da, recortada geograficamente por uma

    rede pluvial predominante no sentidoOeste-Leste. Dependendo da vazo dosrios e bacias, que em geral pequena,formam-se leitos em V ou em U eencostas que variam muito em declivi-dade. Na regio onde predominam osassentamentos, a diferena de nvel en-tre a chapada e o leito varia de 30 a 50metros. O modo como as famlias ocu-

    pam essa paisagem determina o grau desustentabilidade do assentamento, a con-servao dos recursos hdricos e a pre-servao da biodiversidade presente nosremanescentes da regio. A maioria doslotes composta por uma fatia da rea

    de chapada, um recorte de encosta e deleito de gua.

    A gua, claro, desempenha um pa-pel essencial na reproduo cotidiana da

    famlia e nos sistemas de criao animal.As habitaes e quintais ocupam umarea de transio da chapada para a en-costa. H duas opes para o abasteci-mento de gua: ou h um deslocamentoat a gua, ou a gua elevada mecani-camente at a chapada. A elevao me-cnica pode ser realizada por sistemasdependentes de fontes externas de ener-

    gia (eltrica ou combustvel) ou por sis-temas hidrulicos (rodas e carneiros).Nos primeiros anos este no era um pro-blema simples, pois dependia de recur-sos e capacidade tcnica que no foramdisponibilizados pelos rgos executo-res da reforma agrria.

    Com a predominncia dos sistemasde criao de gado, as pastagens ocu-

    param as encostas e se estenderam at abeira dgua. Os animais tm acesso li-vre aos cursos dgua, uma prtica cor-rente entre os pecuaristas da regio. Oque ocorre nos assentamentos um es-pelho do que tem ocorrido na regio nasltimas dcadas.

    Um modelo fadado ao fracassoNo existiram parmetros ecolgi-

    cos ou orientao legal para o uso daterra e dos recursos naturais disponveis.Uma boa parte das reas ocupadas apre-sentava grande porcentagem de matas

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    secundrias degradadas pelo corte sele-

    tivo da madeira de valor comercial.O territrio do Riacho das Ostras

    dispunha de 85% da rea composta decapoeiras em estgios avanados e dematas secundrias. A ocupao ocorreuem dezembro de 1986. Somente na d-cada de 1990 o Incra concluiu a regula-rizao dos lotes e concedeu acesso acrdito agrcola aos assentados. As fa-

    mlias permaneceram na rea, passan-do a sobreviver da mata, destruindo gra-dualmente os recursos madeireiros. Amadeira que restou foi comercializada,destinou-se produo de estacas paracerca e produziu carvo, maior fonte derenda para muitas famlias durante anos.

    O passo seguinte ao desmatamento a

    queimada, para plantio de roa ou depastagens.

    As evidncias do fracasso destemodelo so apontadas por alguns indi-cadores de sustentabilidade que quali fi-camos nesse processo, destacando-se osreferentes dimenso ambiental:

    maior parte de reas de preser-vao permanente desmatadas e

    com destinao agropecuria.Na maioria dos assentamentos,grande parte das matas ciliaresfoi destruda para a implantaodas pastagens;

    uso recorrente do fogo e ausn-

    A natureza d sinais de esgotamento: infestao desap (Imperata brasiliensis) em rea escolhidacomo prioritria para manejoAc

    ervoTerraViva

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    cia de controle social e de fisca-lizao. Essa prtica continuasendo o maior risco para a ma-nuteno dos principais rema-nescentes de Mata Atlntica queesto nas proximidades de assen-tamentos;

    aumento gradual das reas de-gradadas pela agricultura emfuno do tempo de ocupao.Durante a pesquisa e em nossosacompanhamentos posteriorestornou-se evidente o ciclo de de-

    gradao dos lotes individuais.reas degradadas pela agricultu-ra, segundo os indicadores dosagricultores, so aquelas em queo sap (Imperata brasiliensis) nas-ce muito forte e vence a enxada,e a formiga (Atta e Acromirmex)no deixa a mandioca em paz.

    Desde 1996, o Terra Viva executa o

    projeto Desenvolvimento de SistemasSustentveis de Produo Agrcola e Pre-servao Ambiental em reas de Refor-ma Agrria, com apoio do PDA/PPG7.No ltimo trinio, o projeto concentrousuas aes no assentamento Riacho dasOstras, no municpio de Prado, vizinhoao Parque Nacional do Descobrimento.No assentamento, criado em 1986, vi-

    vem 87 famlias em lotes individuais quetm, em mdia, 23 hectares. A rea totaldo assentamento de 2 mil hectares eos assentados provm da periferia dascidades que se situam beira da rodo-via BR-101.

    Este projeto teve como objetivo es-tratgico implantar uma experincia-pi-loto em um assentamento que servissecomo referncia de desenvolvimentolocal para as demais reas de reformaagrria, com uma matriz agroecolgicae de sustentabilidade ambiental.

    As aes executadas em parceriacom a associao local do assentamen-to Riacho das Ostras desencadearamnovos processos de gerao de conhe-cimentos. Houve profundas mudanasnos sistemas produtivos para cerca de 50

    famlias de assentados, o que acarretoua implantao em larga escala de siste-mas agroflorestais e tambm a demar-cao e o incio de recuperao de mui-tas reas de preservao permanente.

    O projeto articulou mltiplas aeseducativas, metodologias participativas,acompanhamento tcnico, apoio mate-rial e logstico. Proporcionou tambm

    uma forte apropriao social de umanova matriz de desenvolvimento local.A perspectiva de sustentabilidade eco-nmica assentada em estratgias de va-lorizao da produo diversificada dossistemas agroflorestais. No prximo ano,a produo dever atingir uma escalaque demandar um empreendimento co-munitrio que viabilize a comercializa-

    o de produtos agroecolgicos. A ela-borao de um plano de negcios e oincio de implantao do empreendi-mento foram prioridades para a conti-nuidade do projeto de desenvolvimentolocal em 2001.

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    Nosso trabalho partiu da pre-

    missa de que as mudanas nomodo de ocupao da paisagem, no de-senvolvimento de sistemas agroecolgi-cos e agroflorestais deveriam ser decidi-das pelos agricultores e agricultoras, ouseja, pelas prprias pessoas que gover-nam e executam essas mudanas em suarea de domnio, o lote.

    A questo fundamental de nossaestratgia como operar essas mudan-as no nvel familiar, convergindo cole-tivamente para um plano de desenvolvi-mento local que seja sustentvel tantodo ponto de vista ambiental, quanto so-cial e econmico.

    Essas mudanas, como as percebe-

    mos, acarretam re-elaboraes no co-nhecimento, no modo de pensar, no sis-tema de crenas e valores dos agriculto-res e agricultoras. So mudanas queoperam no nvel dos indivduos e dasrelaes humanas e das relaes entreos seres humanos e o meio ambiente.Demandam, portanto, tempo de acumu-lao para desencadear mudanas tan-

    gveis no ecossistema local.Uma condio essencial para que

    este processo se inicie o desejo demudana. As pessoas tm de querermudar; necessrio criar um estado demobilizao social e de participao efe-

    Estratgias e metodologias

    A base do trabalho a participao socialAcervoTerraViva

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    tiva para que os sistemas de produo eo modo de ocupao sejam alterados.

    No caso do Assentamento Riachodas Ostras, a realizao do Diagnstico

    Participativo, como meio de identificara situao inicial, foi muito eficaz. Umgrupo muito significativo percebeu cla-ra e coletivamente as dimenses da de-gradao ambiental e a desestruturaode seus sistemas de produo, que se-quer chegaram a se consolidar, devido baixssima sustentabilidade que apre-sentavam.

    Com o grupo mobi lizado para ope-rar mudanas significativas em seu modode produzir, o desencadeamento de pro-cessos efetivos de execuo destas mu-danas envolveu inmeras atividadesarticuladas, vrios atores, alm de par-cerias permanentes e pontuais. A maiorparte do esforo empreendido pelo Ter-ra Viva baseou-se em dois eixos:

    desenvolvimento de processoseducativos e

    apoio tcnico e logstico para aimplantao de sistemas agroflo-restais e de preservao perma-nente.

    Diagnstico Participativo deAgroecossistemas

    A metodologia do DRPA - Diagns-tico Rpido Participativo de Agroecos-sistemas, foi um dos ganhos da articula-o em rede. Sistematizada pela AS-PTA- Assessoria e Servios em Projetos de

    Tecnologias, esta metodologia atualmen-te uti lizada pelas entidades da rede PTApor sua eficcia e efetividade namobilizao local para um estudoparticipativo do ambiente, dos sistemasde produo ou de outras temticas efocos que o grupo se prope investigar.

    O princpio metodolgico a or-ganizao e gerao participativa doconhecimento. Os procedimentosmetodolgicos so orientados para esti-mular a manifestao de cada indivduoparticipante, considerando a diversida-

    de geracional e de gnero.Cada diagnstico tem suas especi-

    ficidades decorrentes do contextosocioambiental, do grupo executor e dosobjetivos estabelecidos. Portanto, no possvel consolidar um modelo metodo-lgico definitivo, mas til nos referen-ciarmos nas experincias acumuladas naaplicao do mtodo.

    Descreveremos brevemente o pro-cesso realizado no Assentamento Riachodas Ostras visando proporcionar elemen-tos para a disseminao da metodologia.Trata-se de um instrumento muito tilpara a releitura das relaes sociedadelocal/meio ambiente, alm de uma ex-celente ferramenta de mobilizao e deeducao ambiental.

    O primeiro passo foi montar a equi-pe do diagnstico. Esta equipe consti-tuiu-se de tcnicos do Terra Viva, da Uni-versidade Estadual da Bahia - UNEB, edo Centro de Pesquisas e Estudos para oDesenvolvimento do Extremo Sul da

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    Bahia - Cepedes. Contou tambm comestagirios da universidade e represen-tantes da associao local. Esta equipedefiniu os roteiros, coordenou a aplica-o das tcnicas, analisou e sistemati-zou as informaes obtidas com a apli-cao das tcnicas.

    Os eixos temticos definidos noDRPA do assentamento foram:

    histria do assentamento;

    populao e cultura;

    paisagem;

    sistemas de agricultura;

    sistemas de criao animal;

    economia e mercado;

    educao e cultura.

    Como se pode ver, trata-se de umroteiro amplo que conduz a um primei-ro risco: de o grupo se perder em ummar de informaes que no conseguedigerir, sistematizar, dar sentido ou atri-buir significado. Neste aspecto muitoimportante definir claramente os objeti-vos do trabalho, quais so as informa-es realmente relevantes e necessriase quais as tcnicas mais adequadas paraobt-las.

    A partir do tema, definiu-se um ro-teiro para orientar o trabalho dosaplicadores do mtodo. No se trata deum questionrio, mas de uma orienta-o para a vivncia das tcnicas, que soprocedimentos capazes de favorecer epropiciar a expresso dos participantes.

    Cena do diagnstico: agricultores conversam sobre

    reas de preservao do assentamentoAcervoTerraViva

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    Principais tcnicas utilizadas:

    Entrevistas individuais e em grupo -semi-estruturadas e realizadas com lide-ranas e pessoas-chave da localidade. As

    entrevistas em grupo ocorreram com seg-mentos da sociedade local, como gru-pos de famlias, de mulheres, de homens,de crianas. Esta tcnica foi realizadacom grupos de 6 a 10 pessoas, forman-do uma roda de conversa orientada,como nas entrevistas individuais, por umroteiro semi-estruturado sobre a temticaabordada.

    Caminhadas transversais- momen-tos privilegiados de estudo da paisageme oportunidade para se refletir sobre adegradao do ambiente e dos recursosprodutivos. Foram realizadas nove cami-nhadas, com a participao de cerca de70% das famlias. As caminhadas segui-ram um roteiro pr-definido, passandoobrigatoriamente por todas as unidades

    da paisagem. Em diversos pontos ocor-reram paradas e houve reflexo e estu-do dos elementos do agroecossistema e/ou do ecossistema visitado.

    Os participantes foram convidadosa dar depoimentos, explicar itinerrios,expor opinies, e a formular previamenteo roteiro semi-estruturado. necessrio

    manter uma postura flexvel para estimu-lar o debate com base nas reflexes pro-cessadas pelo grupo de participantes.

    As caminhadas geraram impacto no

    coletivo, uma constatao da gravidadedos problemas e da falta de perspectivade futuro com a permanncia do modode ocupao realizada. Este fato foi de-cisivo para a implantao dos sistemasagroflorestais fomentados pelo projetoem sua fase posterior, pois mobi lizou naspessoas a vontade de participar no pro-cesso de mudanas.

    Confeco de mapas- realizada emgrupos e aps as caminhadas, essa ativi-dade consolidou uma viso coletiva dalocalidade e permitiu aprofundar novasquestes sobre a ocupao da paisagem.Os mapas constituem ferramentas teisda fase de planejamento, principalmen-te para a prpria equipe tcnica, mastambm para o grupo local.

    Outras tcnicas - Durante o diag-nstico foram aplicadas outras tcnicas,como o calendrio sazonal e a rotina di-ria. Realizamos tambm censos popu-lacionais e de educao e um estudotemtico especfico sobre a formiga,identificado como srio problema noassentamento.

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    Aimplantao dos sistemasagroflorestais iniciou-se no fim

    de 1997, com a adeso de 42 famliasparticipantes do diagnstico. Os agricul-tores apropriaram-se do conhecimentoagroecolgico requerido neste trabalhopor meio das aes de formao descri-tas e da vivncia prtica no manejo dossistemas.

    Durante o primeiro ano, cada fa-mlia participante implantou 5 mil m2,totalizando 21 hectares descontnuos noassentamento. Para a implantao destaparcela inicial, o contrato entre o Ter-ra Viva e cada famlia previu e ocorreunos seguintes termos:

    cada famlia escolhia as frutasque desejava incluir em seu sis-tema (no mnimo trs espcies)e determinava a rea do lote parao plantio;

    os tcnicos do Terra Viva visita-vam a famlia e a rea, realiza-vam um desenho da distribuioespacial das plantas e definiam

    o itinerrio tcnico em funodas condies iniciais da parce-la (rea degradada, roado etc.);

    o Terra Viva forneceu as mudase a adubao organo-mineral deplantio. Os agricul tores executa-ram as tarefas nos seus lotes. As

    Implantao dos sistemas agroflorestais

    A produo de mudas no prprio assentamentocontribui para a implantao em larga escala dossistemas agroflorestais

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    mudas fornecidas obedeciam seguinte proporo: 70% eramdas trs ou mais espcies esco-lhidas pelas famlias e 30% eramde espcies variadas (frutferas eflorestais) que completavam acomposio do desenho dos sis-temas;

    o Terra Viva proporcionou oapoio tcnico em campo paraimplantao das parcelas.

    No primeiro ano os resultados emcampo foram diversificados, com vrios

    desenhos e situaes agro-ambientaisdiferenciados e o plantio de 60 espciesde arbreas. Estas parcelas iniciais foramimportantes fontes de aprendizagempara a ampliao dos sistemas, que ocor-reu no ano seguinte. Permitiram tambmaos participantes avaliar o desenvolvi-mento e o grau de adaptao das esp-cies escolhidas, assim como os pontos

    de estrangulamento no manejo do siste-ma.

    A partir do segundo ano de implan-tao, o Terra Viva no dispunha de re-cursos para fornecer as mudas, apenaspara instalar os viveiros. Fornecemosequipamentos e apoio tcnico, enquan-to a mo-de-obra para instalao, ma-nejo e manuteno ocorreu sob respon-sabilidade das famlias participantes.

    Foram constitudos seis grupos defamlias por amizade e vizinhana. Cadaum dos seis grupos instalou seu viveirono local escolhido e passou a produziras mudas para a ampliao ou implan-

    tao dos sistemas familiares.A partir do segundo ano definiram-

    se algumas culturas prioritrias para aproduo de mercado, mas a diversida-de nos sistemas se manteve. Todos os re-cursos para a implantao das reas fo-ram obtidos pelas famlias. Nesta fase foifundamental a parceria com a EmpresaBaiana de Desenvolvimento Agrcola -

    EBDA, que viabilizou o acesso ao crdi-to agrcola necessrio para o plantio.

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    Monitoramento e avaliaoA nfase do monitoramento e daavaliao realizada nos siste-mas agroflorestais recaiu sobre o desen-volvimento daquelas espcies frutferascom produo voltada para o mercado.Enfatizou-se tambm a evoluo geraldo sistema, tendo como parmetros a di-versidade e a fitossanidade.

    Este trabalho foi realizado de for-ma participativa. Um grupo de tcnicose agricultores realizou a coleta de da-dos em todas as unidades familiares. Aequipe tcnica organizou as informaese coordenou as reunies de avaliaoparticipativa.

    Resultados principais

    Consrcios de espcies arbreas de valor comercialgarantem a sustentabilidade econmica e ambientaldo sistema

    No ltimo monitoramento foramcontabilizadas 58.601 rvores frutferasde 41 espcies, em cerca de 140 hecta-res de sistemas agroflorestais. Ocorreramavaliaes fitotcnicas e uma descriodo manejo realizado pelas famlias.Quanto ao desenvolvimento, 54% dossistemas foram avaliados como satisfa-trios, 36% como regulares e 9% comono satisfatrios. Duas espcies de frut-feras apresentaram problemas fitossani-trios.

    Experimentao participativaOs resultados do monitoramento

    apontam problemas que mobilizaram o

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    grupo de agricultores em busca de solu-es. As solues propostas foram intro-duzidas como tratamentos experimen-tais. Definiram-se, por exemplo, algunstratamentos baseados em caldas casei-ras para o controle de pragas e doenas.Foram montadas parcelas experimentaisem algumas unidades familiares com aparticipao de um grupo de agriculto-res. Este processo favoreceu o conven-cimento do grupo para que adotasse umdeterminado procedimento aps a com-provao de sua validade na parcela ex-perimental.

    Processos educativosAo trmino da fase de implantao

    dos sistemas agroflorestais constatamosque o imputde recursos que o projetofinanciado pelo PDA proporcionou foirelativamente reduzido em relao aoque as prprias famlias e a comunida-

    de como um todo mobilizaram. O quefizemos foi desencadear processos comos quais os participantes se comprome-teram. As aes educativas foram pila-res desta apropriao dos conhecimen-tos socializados e gerados na perspecti-va de disseminao de um pensar e agirecolgicos.

    A parceria com a UNEB possibili-

    tou-nos uma melhor interpretao e lei-tura da realidade e o desenvolvimentode aes educativas sintonizadas com asdemandas locais. A ampliao de nossacapacidade tcnica pela parceria nosconduziu a uma grande diversidade de

    atividades e aes educativas, entre asquais destacamos:

    investimento na melhoria dascondies de aprendizagem,

    com a construo de dois cen-tros de vivncia;

    ampliao do nmero de jovense adultos na educao escolar eo desenvolvimento de umametodologia de alfabetizaoecolgica;

    realizao de oficinas, cursos edias de campo de formaoagroecolgica para o desenvol-vimento de habilidades deman-dadas na execuo do projeto;

    investimento em viagens de in-tercmbio (Zona da Mata-MG,norte do Esprito Santo eEunpolis, no sul da Bahia);

    apoio pedaggico educao

    formal, com aes de planeja-mento, promoo de atividadesculturais, realizao de oficinaspedaggicas, introduo do brin-quedo e do jogo pedaggico nametodologia de ensino e no es-pao escolar;

    sensibilizao para a superaode desigualdades nas relaes degnero. Estas aes visam supe-rar a predominncia da culturapatriarcal, que exerce um fortecontrole masculino (machismo)sobre as mulheres, principalmen-te na rea rural;

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    aumento do interesse por culti -vos arbreos;

    implantao de aproximada-mente 150 hectares de sistemas

    agroflorestais diversificados, ba-seados na fruticultura tropicalcom finalidades comerciais;

    validao da cultura do urucum(Bixa orelana), como cultivo im-portante para a sustentabilidadeeconmica dos sistemas agroflo-restais no assentamento;

    demarcao das reas de reser-va e preservao permanentepelas famlias participantes;

    contribuio efetiva na consoli-dao do Parque Nacional doDescobrimento entre os morado-res dos lotes vizinhos ao Parque;

    aumento do interesse pelo res-gate de espcies florestais nati-

    vas da Mata Atlntica;

    adoo, nos cultivos convenci-onais, de prticas utilizadas nosSAFs;

    aumento do nvel de conscin-

    cia ecolgica; incluso dos jovens e mulheres

    na vida associativa da comuni-dade;

    acmulo, por parte da