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Sistema e Política Nacional de Inteligência Geovaldri Maciel Laitartt Régis André Silveira Limana

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Sistema e Política Nacional de InteligênciaGeovaldri Maciel Laitartt

Régis André Silveira Limana

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CréditosUniversidade do Sul de Santa Catarina | Campus UnisulVirtual | Educação Superior a Distância

ReitorAilton Nazareno Soares

Vice-Reitor Sebastião Salésio Heerdt

Chefe de Gabinete da Reitoria Willian Corrêa Máximo

Pró-Reitor de Ensino e Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e InovaçãoMauri Luiz Heerdt

Pró-Reitora de Administração AcadêmicaMiriam de Fátima Bora Rosa

Pró-Reitor de Desenvolvimento e Inovação InstitucionalValter Alves Schmitz Neto

Diretora do Campus Universitário de TubarãoMilene Pacheco Kindermann

Diretor do Campus Universitário da Grande FlorianópolisHércules Nunes de Araújo

Secretária-Geral de EnsinoSolange Antunes de Souza

Diretora do Campus Universitário UnisulVirtualJucimara Roesler

Equipe UnisulVirtual

Diretor AdjuntoMoacir Heerdt

Secretaria Executiva e CerimonialJackson Schuelter Wiggers (Coord.)Marcelo Fraiberg MachadoTenille Catarina

Assessoria de Assuntos Internacionais Murilo Matos Mendonça

Assessoria de Relação com Poder Público e Forças ArmadasAdenir Siqueira VianaWalter Félix Cardoso Junior

Assessoria DAD - Disciplinas a DistânciaPatrícia da Silva Meneghel (Coord.)Carlos Alberto AreiasCláudia Berh V. da SilvaConceição Aparecida KindermannLuiz Fernando MeneghelRenata Souza de A. Subtil

Assessoria de Inovação e Qualidade de EADDenia Falcão de Bittencourt (Coord.)Andrea Ouriques BalbinotCarmen Maria Cipriani Pandini

Assessoria de Tecnologia Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coord.)Felipe FernandesFelipe Jacson de FreitasJefferson Amorin OliveiraPhelipe Luiz Winter da SilvaPriscila da SilvaRodrigo Battistotti PimpãoTamara Bruna Ferreira da Silva

Coordenação Cursos

Coordenadores de UNADiva Marília FlemmingMarciel Evangelista CatâneoRoberto Iunskovski

Auxiliares de CoordenaçãoAna Denise Goularte de SouzaCamile Martinelli SilveiraFabiana Lange PatricioTânia Regina Goularte Waltemann

Coordenadores GraduaçãoAloísio José RodriguesAna Luísa MülbertAna Paula R.PachecoArtur Beck NetoBernardino José da SilvaCharles Odair Cesconetto da SilvaDilsa MondardoDiva Marília FlemmingHorácio Dutra MelloItamar Pedro BevilaquaJairo Afonso HenkesJanaína Baeta NevesJorge Alexandre Nogared CardosoJosé Carlos da Silva JuniorJosé Gabriel da SilvaJosé Humberto Dias de ToledoJoseane Borges de MirandaLuiz G. Buchmann FigueiredoMarciel Evangelista CatâneoMaria Cristina Schweitzer VeitMaria da Graça PoyerMauro Faccioni FilhoMoacir FogaçaNélio HerzmannOnei Tadeu DutraPatrícia FontanellaRoberto IunskovskiRose Clér Estivalete Beche

Vice-Coordenadores GraduaçãoAdriana Santos RammêBernardino José da SilvaCatia Melissa Silveira RodriguesHorácio Dutra MelloJardel Mendes VieiraJoel Irineu LohnJosé Carlos Noronha de OliveiraJosé Gabriel da SilvaJosé Humberto Dias de ToledoLuciana ManfroiRogério Santos da CostaRosa Beatriz Madruga PinheiroSergio SellTatiana Lee MarquesValnei Carlos DenardinSâmia Mônica Fortunato (Adjunta)

Coordenadores Pós-GraduaçãoAloísio José RodriguesAnelise Leal Vieira CubasBernardino José da SilvaCarmen Maria Cipriani PandiniDaniela Ernani Monteiro WillGiovani de PaulaKarla Leonora Dayse NunesLetícia Cristina Bizarro BarbosaLuiz Otávio Botelho LentoRoberto IunskovskiRodrigo Nunes LunardelliRogério Santos da CostaThiago Coelho SoaresVera Rejane Niedersberg Schuhmacher

Gerência AdministraçãoAcadêmicaAngelita Marçal Flores (Gerente)Fernanda Farias

Secretaria de Ensino a DistânciaSamara Josten Flores (Secretária de Ensino)Giane dos Passos (Secretária Acadêmica)Adenir Soares JúniorAlessandro Alves da SilvaAndréa Luci MandiraCristina Mara SchauffertDjeime Sammer BortolottiDouglas SilveiraEvilym Melo LivramentoFabiano Silva MichelsFabricio Botelho EspíndolaFelipe Wronski HenriqueGisele Terezinha Cardoso FerreiraIndyanara RamosJanaina ConceiçãoJorge Luiz Vilhar MalaquiasJuliana Broering MartinsLuana Borges da SilvaLuana Tarsila HellmannLuíza Koing  ZumblickMaria José Rossetti

Marilene de Fátima CapeletoPatricia A. Pereira de CarvalhoPaulo Lisboa CordeiroPaulo Mauricio Silveira BubaloRosângela Mara SiegelSimone Torres de OliveiraVanessa Pereira Santos MetzkerVanilda Liordina Heerdt

Gestão DocumentalLamuniê Souza (Coord.)Clair Maria CardosoDaniel Lucas de MedeirosJaliza Thizon de BonaGuilherme Henrique KoerichJosiane LealMarília Locks Fernandes

Gerência Administrativa e FinanceiraRenato André Luz (Gerente)Ana Luise WehrleAnderson Zandré PrudêncioDaniel Contessa LisboaNaiara Jeremias da RochaRafael Bourdot Back Thais Helena BonettiValmir Venício Inácio

Gerência de Ensino, Pesquisa e ExtensãoJanaína Baeta Neves (Gerente)Aracelli Araldi

Elaboração de ProjetoCarolina Hoeller da Silva BoingVanderlei BrasilFrancielle Arruda Rampelotte

Reconhecimento de CursoMaria de Fátima Martins

ExtensãoMaria Cristina Veit (Coord.)

PesquisaDaniela E. M. Will (Coord. PUIP, PUIC, PIBIC)Mauro Faccioni Filho (Coord. Nuvem)

Pós-GraduaçãoAnelise Leal Vieira Cubas (Coord.)

BibliotecaSalete Cecília e Souza (Coord.)Paula Sanhudo da SilvaMarília Ignacio de EspíndolaRenan Felipe Cascaes

Gestão Docente e DiscenteEnzo de Oliveira Moreira (Coord.)

Capacitação e Assessoria ao DocenteAlessandra de Oliveira (Assessoria)Adriana SilveiraAlexandre Wagner da RochaElaine Cristiane Surian (Capacitação)Elizete De MarcoFabiana PereiraIris de Souza BarrosJuliana Cardoso EsmeraldinoMaria Lina Moratelli PradoSimone Zigunovas

Tutoria e SuporteAnderson da Silveira (Núcleo Comunicação)Claudia N. Nascimento (Núcleo Norte-Nordeste)Maria Eugênia F. Celeghin (Núcleo Pólos)Andreza Talles CascaisDaniela Cassol PeresDébora Cristina SilveiraEdnéia Araujo Alberto (Núcleo Sudeste)Francine Cardoso da SilvaJanaina Conceição (Núcleo Sul)Joice de Castro PeresKarla F. Wisniewski DesengriniKelin BussLiana FerreiraLuiz Antônio PiresMaria Aparecida TeixeiraMayara de Oliveira BastosMichael Mattar

Patrícia de Souza AmorimPoliana SimaoSchenon Souza Preto

Gerência de Desenho e Desenvolvimento de Materiais DidáticosMárcia Loch (Gerente)

Desenho EducacionalCristina Klipp de Oliveira (Coord. Grad./DAD)Silvana Souza da Cruz (Coord. Pós/Ext.)Aline Cassol DagaAline PimentelCarmelita SchulzeDaniela Siqueira de MenezesDelma Cristiane MorariEliete de Oliveira CostaEloísa Machado SeemannFlavia Lumi MatuzawaGeovania Japiassu MartinsIsabel Zoldan da Veiga RamboJoão Marcos de Souza AlvesLeandro Romanó BambergLygia PereiraLis Airê FogolariLuiz Henrique Milani QueriquelliMarcelo Tavares de Souza CamposMariana Aparecida dos SantosMarina Melhado Gomes da SilvaMarina Cabeda Egger MoellwaldMirian Elizabet Hahmeyer Collares ElpoPâmella Rocha Flores da SilvaRafael da Cunha LaraRoberta de Fátima MartinsRoseli Aparecida Rocha MoterleSabrina BleicherVerônica Ribas Cúrcio

Acessibilidade Vanessa de Andrade Manoel (Coord.) Letícia Regiane Da Silva TobalMariella Gloria RodriguesVanesa Montagna

Avaliação da aprendizagem Claudia Gabriela DreherJaqueline Cardozo PollaNágila Cristina HinckelSabrina Paula Soares ScarantoThayanny Aparecida B. da Conceição

Gerência de LogísticaJeferson Cassiano A. da Costa (Gerente)

Logísitca de MateriaisCarlos Eduardo D. da Silva (Coord.)Abraao do Nascimento GermanoBruna MacielFernando Sardão da SilvaFylippy Margino dos SantosGuilherme LentzMarlon Eliseu PereiraPablo Varela da SilveiraRubens AmorimYslann David Melo Cordeiro

Avaliações PresenciaisGraciele M. Lindenmayr (Coord.)Ana Paula de AndradeAngelica Cristina GolloCristilaine MedeirosDaiana Cristina BortolottiDelano Pinheiro GomesEdson Martins Rosa JuniorFernando SteimbachFernando Oliveira SantosLisdeise Nunes FelipeMarcelo RamosMarcio VenturaOsni Jose Seidler JuniorThais Bortolotti

Gerência de MarketingEliza B. Dallanhol Locks (Gerente)

Relacionamento com o Mercado Alvaro José Souto

Relacionamento com Polos PresenciaisAlex Fabiano Wehrle (Coord.)Jeferson Pandolfo

Karine Augusta ZanoniMarcia Luz de OliveiraMayara Pereira RosaLuciana Tomadão Borguetti

Assuntos JurídicosBruno Lucion RosoSheila Cristina Martins

Marketing EstratégicoRafael Bavaresco Bongiolo

Portal e ComunicaçãoCatia Melissa Silveira RodriguesAndreia DrewesLuiz Felipe Buchmann FigueiredoRafael Pessi

Gerência de ProduçãoArthur Emmanuel F. Silveira (Gerente)Francini Ferreira Dias

Design VisualPedro Paulo Alves Teixeira (Coord.)Alberto Regis EliasAlex Sandro XavierAnne Cristyne PereiraCristiano Neri Gonçalves RibeiroDaiana Ferreira CassanegoDavi PieperDiogo Rafael da SilvaEdison Rodrigo ValimFernanda FernandesFrederico TrilhaJordana Paula SchulkaMarcelo Neri da SilvaNelson RosaOberdan Porto Leal Piantino

MultimídiaSérgio Giron (Coord.)Dandara Lemos ReynaldoCleber MagriFernando Gustav Soares LimaJosué Lange

Conferência (e-OLA)Carla Fabiana Feltrin Raimundo (Coord.)Bruno Augusto Zunino Gabriel Barbosa

Produção IndustrialMarcelo Bittencourt (Coord.)

Gerência Serviço de Atenção Integral ao AcadêmicoMaria Isabel Aragon (Gerente)Ana Paula Batista DetóniAndré Luiz Portes Carolina Dias DamascenoCleide Inácio Goulart SeemanDenise FernandesFrancielle FernandesHoldrin Milet BrandãoJenniffer CamargoJessica da Silva BruchadoJonatas Collaço de SouzaJuliana Cardoso da SilvaJuliana Elen TizianKamilla RosaMariana SouzaMarilene Fátima CapeletoMaurício dos Santos AugustoMaycon de Sousa CandidoMonique Napoli RibeiroPriscilla Geovana PaganiSabrina Mari Kawano GonçalvesScheila Cristina MartinsTaize MullerTatiane Crestani Trentin

Avenida dos Lagos, 41 – Cidade Universitária Pedra Branca | Palhoça – SC | 88137-900 | Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 | E-mail: [email protected] | Site: www.unisul.br/unisulvirtual

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PalhoçaUnisulVirtual

2011

Universidade do Sul de Santa Catarina

Sistema e Política Nacional de Inteligência

Livro Digital

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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul

Copyright © UnisulVirtual 2011

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Edição – Livro Digital

Professor ConteudistaGeovaldri Maciel LaitarttRégis André Silveira Limana

Coordenação de CursoGiovani de Paula

Design InstrucionalLis Airê Fogolari

Projeto Gráfico e CapaEquipe Design Visual

DiagramaçãoOberdan Porto Leal Piantino

RevisãoComTexto Editoração e Revisão

658L19 Laitartt, Geovaldri Maciel

Sistema e política nacional de inteligência : livro digital / Geovaldri Maciel Laitartt, Régis André Silveira Limana ; design instrucional Lis Airê Fogolari. – Palhoça : UnisulVirtual, 2011.

184 p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.

1. Gestão do conhecimento. 2. Gerenciamento de recursos de informação. 3. Planejamento estratégico. 4. Sistemas de suporte de decisão. I. Limana, Régis André Silveira. II. Fogolari, Lis Airê. III. Título.

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PalhoçaUnisulVirtual

2011

Lis Airê Fogolari Designer instrucional

Geovaldri Maciel LaitarttRégis André Silveira Limana

Sistema e Política Nacional de Inteligência

Livro Digital

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5 Sumário

7 Apresentação

9 Palavras do Professor

11 Plano de Estudo

14 Unidade 1Organização da Inteligência no Brasil

42 Unidade 2Atribuições e estratégias de atuação em ações de inteligência

80 Unidade 3Cooperação internacional de inteligência de segurança

121 Unidade 4Inteligência de segurança e o Estado Democrático de Direito

169 Para concluir os estudos

171 Minicurrículo

173 Respostas e comentários das atividades de autoaprendizagem e colaborativas

175 Referências

Sumário

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Caro/a estudante,

O Livro Digital desta disciplina foi organizado didaticamente, de modo a oferecer a você, em um único arquivo pdf, elementos essenciais para o desenvolvimento dos seus estudos.

Constituem o livro digital:

• Palavras do professor (texto de abertura);

• Plano de estudo (com ementa, objetivos e conteúdo programático da disciplina);

• Objetivos, Introdução, Síntese e Saiba mais de cada unidade;

• Leituras de autoria do professor conteudista;

• Atividades de autoaprendizagem e gabaritos;

• Enunciados das atividades colaborativas;

• Para concluir estudo (texto de encerramento);

• Minicurrículo do professor conteudista; e

• Referências Bibliográficas.

Lembramos, no entanto, que o Livro Digital não constitui a totalidade do material didático da disciplina. Dessa forma, integram o conjunto de materiais de estudo: webaulas, objetos multimídia, leituras complementares (selecionadas pelo professor conteudista) e atividades de avaliação (obrigatórias e complementares), que você acessa pelo Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem.

Tais materiais didáticos foram construídos especialmente para este curso, levando em consideração as necessidades da sua formação e aperfeiçoamento profissional.

Atenciosamente,

Equipe UnisulVirtual

Apresentação

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Car@ Alun@,

Em nossa disciplina de Sistema e Política Nacional de Inteligência você terá a oportunidade de conhecer a histórica da Atividade de Inteligência, bem como suas atribuições e estratégias de atuação.

Será feita uma análise da estrutura organizacional e funcional da Inteligência, a partir da apresentação dos seus sistemas. O conteúdo foi desenvolvido no sentido de sedimentar a importância tática e estratégica que a Inteligência deve possuir, principalmente no fortalecimento do estado democrático de direito.

Nesta disciplina você também verá como as demandas e os conflitos sociais, somadas as novas expressões de violência e criminalidade exigem o fortalecimento da Atividade de Inteligência como forma de enfrentamento qualificado desse cenário.

Veremos ainda que este enfrentamento qualificado exige estratégias modernas que perpassam pela cooperação internacional na área de inteligência.

Assim, a partir da exploração desses conteúdos objetivamos que você possa conhecer e compreender o Sistema e a Política Nacional de Inteligência, e sua importância na construção de um modelo eficiente e eficaz de Segurança Pública para o Brasil.

Bons estudos!

Prof. Régis Limana Prof. Geovaldri Maciel Laitartt

Palavras do Professor

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O plano de estudos visa a orientá-lo/a no desenvolvimento da disciplina. Possui elementos que o/a ajudarão a conhecer o contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos.

O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam, portanto a construção de competências se dá sobre a articulação de metodologias e por meio das diversas formas de ação/mediação.

São elementos desse processo:

• o livro digital;

• o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA);

• as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de autoavaliação);

• o Sistema Tutorial.

Objetivo Geral:

Conhecer a concepção do Sistema de Inteligência e a Política Nacional de Inteligência do Brasil, sua estrutura organizacional e funcional, e identificar, discutir e analisar as diferentes estratégias de atuação em ações de inteligência.

Objetivos Específicos: • Entender o Sistema Brasileiro de Inteligência, o contexto histórico de sua criação, as atribuições de seus órgãos. Conhecer o Subsistema de inteligência de Segurança Pública, sua composição, o conselho especial do subsistema.

• Conhecer e entender o sistema de inteligência Financeira, conhecer o órgão central e o contexto histórico de sua criação;

• Conhecer os mecanismos de coorperação de inteligência policial internacional . Conhecer a estrutura e funcionamento da Interpol; Enterder o mecanismo de cooperação direta internacional;

Plano de Estudo

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Pós-graduação

Ementa:

Organização da Inteligência no Brasil. O Sistema e os Subsistemas de Inteligência. A Agência Brasileira de Inteligência. Objetivos do Sistema e do Subsistema de Inteligência no Brasil. Atribuições dos órgãos de inteligência. Estratégias de atuação em ações de inteligência. Cooperação Internacional na Inteligência de Segurança. Conhecimento e Informação aplicáveis ao Estado Democrático de Direito e com respeito aos Direitos da Cidadania.

Conteúdo Programático/objetivos

A seguir, as unidades que compõem o livro digital desta disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias a este nível de estudo.

Unidades de estudo: 4

Unidade 1 – Organização da Inteligência no Brasil

Nesta unidade de estudo abordaremos aspectos voltados ao histórico das atividades de inteligência no mundo e no Brasil, de maneira a esclarecer que a atividade de “inteligência” remonta de períodos remotos da história da humanidade.

Unidade 2 –

Nesta unidade de estudo abordaremos aspectos voltados ao histórico das atividades de inteligência no mundo e no Brasil, de maneira a esclarecer que a atividade de “inteligência” remonta de períodos remotos da história da

humanidade.

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Sistema e Política Nacional de Inteligência

Unidade 3 – Cooperação internacional de inteligência de segurança

Esta unidade didática se propõe a estabelecer a importância da cooperação internacional na área de inteligência de segurança à medida que se identifica a necessidade de potencializar a produção de conhecimento de inteligência estratégica ou tática com o compartilhamento de conhecimentos/informações com outros países.

Unidade 4 – Inteligência de segurança e o Estado Democrático de Direito

Nesta unidade vamos entender as funções da Inteligência enquanto entidade estatal. Na sequência vamos conhecer os limites éticos e jurídicos da atividade de inteligência, bem como conhecer os mecanismos de controle da atividade de inteligência.

Carga horária: 30 horas

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Organização da Inteligência no Brasil

Unidade 1

Objetivos de Aprendizagem • Compreender a evolução história da inteligência.

• Conhecer o Sistema Brasileiro de Inteligência.

• Entender o papel da atividade de inteligência de segurança pública.

Introdução

Nesta unidade de estudo abordaremos aspectos voltados ao histórico das atividades de inteligência no mundo e no Brasil, de maneira a esclarecer que a atividade de “inteligência” remonta de períodos remotos da história da humanidade.

Sabemos que desde os primórdios da civilização o anseio pelo conhecimento impulsionou o homem à busca pelo desvendamento dos fatos da vida e sua compreensão no sentido de proporcionar a satisfação de suas necessidades, notadamente a sobrevivência e a segurança.

No Brasil, os órgãos de inteligência foram constituídos a partir de 1927 para fazer frente às ameaças internas e externas que pudessem vir a comprometer os chamados “interesses nacionais”, originando, com isso, a concepção de Inteligência Clássica ou de “Estado”.

A análise que esta unidade apresenta recai também sobre o âmbito da atividade de inteligência de segurança pública. E, ainda, sobre a estruturação e composição dos órgãos que atuam em segurança pública no país e as perspectivas que se apresentam diante do fenômeno da violência e da criminalidade no que tange à produção do conhecimento e da informação.

A concepção de inteligência em segurança pública é ainda incipiente, e surge no escopo da implantação de uma Política Nacional de Segurança Pública e criação da Secretaria Nacional de Segurança Pública.

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Pós-graduação

Na sequência, é criado o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública pelo Decreto n° 3.695, de 2000, dando início em nosso país a uma doutrina de inteligência em segurança pública.

Ao longo do estudo serão analisados os principais desafios e formas de atuação dos serviços de inteligência no sentido de assegurar a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos dentro e fora do território nacional. Essas informações sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental, e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado, conforme previsto no artigo 1º, § 2° da Lei n° 9.883, de 7 de dezembro de 1999. Esse artigo instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência, tendo como objeto central de atenção a realização dos grandes eventos.

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Organização da Inteligência no Brasil

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Atividade de inteligência: resgate históricoRégis André Silveira Limana

A busca pelo conhecimento é inerente ao ser humano. Dessa forma, a atividade de inteligência é tão antiga quanto a própria humanidade.

Valia-se essa atividade como recurso para que as autoridades constituídas mantivessem os seus interesses. De forma específica, para a manutenção das relações de poder, controle social, sobrevivência e segurança. Tais relações sempre existiram, pois mesmo as sociedades anteriores ao conhecimento da escrita utilizavam a atividade de inteligência.

Há exemplo na Antiguidade clássica:

No primeiro Império Universal (medos e persas), promovido por Ciro, o Grande, Dario, “O Grande Rei”, sucessor do primeiro, organizou um corpo de espiões: “Os olhos e os ouvidos do rei” para espionar os sátrapas (vice-reis das unidades político-administrativas chamadas Satrapias). Na Roma Antiga era comum a presença de espiões atrás das cortinas para ouvir segredos. Antes do século II esta potência não possuía um corpo diplomático. Para resolver problemas, enviava ao exterior pequenas missões que agiam em nome do governo, tornando-se, posteriormente, embaixadas permanentes: muitos membros prestaram-se ao serviço de espionagem. Toda a aristocracia romana tinha sua rede permanente de agentes clandestinos e casas com compartimentos secretos para espionarem seus hóspedes. Apesar desse histórico, os romanos só institucionalizaram a atividade de Inteligência e espionagem no período do Império. (REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA, 2005, p. 89).

Ao longo da história podem-se constatar vários registros históricos da Atividade de Inteligência. Citamos como exemplo, na Bíblia, o Livro dos Números, capítulo 13, no qual Moisés recebe uma ordem para enviar espias à terra de Canaã. No livro de Josué, capítulo 2, ele envia espias para fazer reconhecimento avançado em Jericó.

No livro a “Arte da Guerra”, de Sun Tzu, sobre estratégias de guerra, escrito em 510 a.C., destacam-se os papéis dos diferentes tipos de profissionais que tinham o objetivo de conseguir conhecimento avançado sobre dificuldades do terreno, planos do inimigo, das movimentações e do estado de espírito das tropas:

[...] se não conheces a ti e nem a teu inimigo, sempre sereis derrotado...

...se conheces a ti e não a teu inimigo, para cada vitória terás uma derrota...

...se conheces a ti e a teu inimigo, não temereis o resultado de cem batalhas [...]. (SUN TZU, 2002)

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Pós-graduação

Consta também que as legiões de César, imperador romano, obtinham informações dos exércitos inimigos usando especuladores, com o objetivo de vencer a guerra e ampliar os seus limites territoriais.

Porém, Maomé utilizou-se da espionagem em 624. Seus agentes infiltrados em Meca (Arábia Saudita) o avisaram de um ataque de soldados árabes a Medina, cidade em que estava refugiado. Ele mandou então que fizessem trincheiras e barreiras ao redor da cidade, que impediram o avanço dos soldados.

Antes de invadir a Pérsia, Alexandre, O Grande, informava-se com viajantes que vinham de terras estrangeiras, obtendo assim dados sobre outros territórios. Informações que lhe foram úteis para a invasão do império Persa (OLIVEIRA, 2009).

Já na Idade Média, segundo a Revista Brasileira de Inteligência (2005, p. 89), o serviço de espionagem foi posto de lado devido à influência da Igreja e da Cavalaria que o julgavam pecado.

Na transição da Idade Média para a Idade Moderna ocorreram muitas conquistas para humanidade. Mudou-se a maneira de pensar as coisas e as relações da vida, havendo muitos enfrentamentos e disputas.

E, mais uma vez, a atividade de inteligência se fez presente nesse contexto, pois os pensadores se valeram da rede de relacionamentos e informações para a construção do pensamento e de percepção de dados da realidade material que pudessem servir de subsídios para ações de seus interesses.

Nesse cenário de afirmação dos Estados Nacionais da Europa, tendo como pressuposto a conquista de territórios e populações, surgem as primeiras organizações estáveis especializadas em inteligência e segurança, os serviços secretos, que mais tarde denominaram-se Serviços de Inteligência.

Durante esse período, todos os conhecimentos produzidos pela atividade de inteligência clássica foram de natureza estratégica para a proteção do Estado, funcionando como instrumentos decisórios para os chefes de governo, na busca da manutenção do poder.

No mundo contemporâneo, junto aos novos conhecimentos, surgem novas tecnologias que se tornaram aliadas da atividade de inteligência, a exemplo do código Morse, oficinas de impressão, fotografia, dentre outros avanços tecnológicos.

Em 1909, havia o inglês MI-6 (nome oficial era Secret Intelligence Service), também conhecido como “A Firma” ou “A Empresa”. Logo após a II Guerra Mundial, destaca-se a criação dos seguintes organismos de inteligência:

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Organização da Inteligência no Brasil

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a. em 1946, a Central Intelligence Agency (CIA) nos Estados Unidos;

b. em abril de 1951 foi criado o órgão de inteligência israelense, o Mossad, também conhecido por “Instituto”;

c. também em 1951, na União Soviética, a NKGB, órgão de inteligência soviético, que em 1954 passou a se chamar Comitê de Segurança do Estado (KGB).

Brasil e a inteligência

A história da inteligência no Brasil tem início em 1927, no governo de Washington Luis, com a criação de um órgão civil federal, o então denominado Conselho de Defesa Nacional.

Esse conselho tinha a atribuição de coordenar a produção de conhecimento considerando os aspectos econômicos, financeiros, bélicos e morais brasileiros, sendo subordinado diretamente ao Presidente da República.

Antes desse período, a atividade de inteligência era exercida apenas no âmbito dos ministérios militares então existentes, que se dedicavam exclusivamente à defesa nacional e atuavam em proveito das respectivas forças (REVISTA NOSSA HISTÓRIA, 1996).

Com a Constituição de 1937, também conhecida como Constituição “Polaca”, o Conselho Superior de Segurança Nacional ficou conhecido apenas como Conselho de Segurança Nacional (CSN), o qual executava o serviço de busca de informações para subsidiar ações do governo apenas com foco nas questões de Estado.

Durante esse período de governo, a atividade de informações adquiriu um perfil estritamente de inteligência de Estado.

Em razão das nuanças políticas, a atividade de informações sofreu inúmeras adaptações. A principal foi a criação do Serviço Federal de Informações (SFICI) durante o governo de Eurico Gaspar Dutra, pelo Decreto-Lei n° 9.775-A, de 3 de setembro de 1946, com o intuito de coordenar e supervisionar as atividades de informações que interessassem à Segurança Nacional.

O SFICI foi concebido em um momento histórico de luta ideológica que caracterizou a “Guerra Fria” entre as duas maiores potências mundiais: Estados Unidos da América e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (antiga URSS).

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Pós-graduação

O Brasil acabou se inserindo nesse conflito, o que estimulou a estrutura de inteligência brasileira a tratar com maior atenção as questões de cunho ideológico, gerando a chamada produção de “atividades de informação e de contra-informações”, principalmente as concernentes ao acompanhamento de movimentos sociais ligados à esquerda do país e visando, sobretudo, à repressão. Na prática, tal serviço só foi implantado durante o governo de Juscelino Kubitscheck, em 1956.

O cenário político institucional do país no início da década de 1960 se apresentava bastante conturbado, com um conjunto sucessivo de greves, mobilização nacional, instabilidade político-institucional, culminando na intervenção militar no processo político nacional a partir de 1964.

Com a assunção à Chefia do Executivo do General Humberto Castelo Branco, o serviço secreto brasileiro é fortalecido, extinguindo-se o SFCI e criando-se o Serviço Nacional de Informações (SNI) (MJ-ANP, 2009).

O General Costa e Silva percebeu a importância e fortaleceu o Serviço de Informações, tornando-o mais atuante e, inclusive, com atribuições e competências típicas de polícia, de forma que atuasse juntamente com o Serviço Nacional de Informações (SNI) (em vigor entre 1964 e 1985) e que fosse estruturado nas bases do Serviço Reservado do Exército. Consta que:

Com o endurecimento do regime, a partir de 1967, o SNI ganhou tentáculos. Abriu escritórios nos ministérios civis – as chamadas Divisões de Segurança e Informações (DSI) – e nas autarquias e órgãos federais

– as Assessorias de Segurança e Informações (ASI). Também ganhou parceiros nas Forças Armadas, com a criação ou reorganização dos serviços secretos militares – o Centro de Informações do Exército (CIE), o Centro de Informações da Marinha (Cenimar) e o Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (CISA). Era a chamada “comunidade de informações”, em que o SNI entrava com a vigilância e os serviços secretos militares com a repressão e as armas. (FIGUEIREDO, 2005, p. 17).

Dessa maneira, dois meses após a posse do Presidente Costa e Silva, em julho de 1967, o Centro de Inteligência do Exército (CIEX) foi inaugurado. Tal centro foi reforçado em estruturas e ações quando o Emílio Garrastazu Médici assumiu a presidência do país e tinha como foco questões que pudessem comprometer a estabilidade política e institucional brasileira (DE PAULA 2006).

Com o advento do início do processo de redemocratização do país, os governos de João Figueiredo e de José Sarney procuraram ajustar as atividades de informações em seu devido espaço, considerando os novos limites constitucionais.

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Diante do histórico estigma produzido pelas atividades chamadas de “informação”, o governo de Fernando Collor de Melo efetuou reformas administrativas que abrangeram a extinção do SNI e a criação da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), que foi comandada por civis até o ano de 1992.

Ligada diretamente ao Presidente da República, a SAE delimitou o espaço para a atividade de inteligência e instituiu como organismos responsáveis por essas atribuições o Departamento de Inteligência, o Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Recursos Humanos (CEFARH) e as Agências Regionais.

No período do governo de Itamar Franco, foi criada a Subsecretaria de Inteligência (SSI), no âmbito da SAE.

Em janeiro de 1995 Fernando Henrique Cardoso assume a Presidência da República e promove mudança no serviço secreto, visando ao seu fortalecimento e à criação de mecanismos de controle externo.

Em dezembro de 1999 são criados a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), que serão analisados a seguir.

SISBIN e ABIN

A Lei nº 9.883, de 7 de setembro de 1999, instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) e criou a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) com o objetivo de integrar as ações de planejamento e execução das atividades de inteligência do país, com vistas a subsidiar o Presidente da República nos assuntos de interesse nacional.

O SISBIN pauta suas ações na preservação da soberania nacional, na defesa do Estado Democrático de Direito e na dignidade da pessoa humana.

Visa, ainda, a cumprir e a preservar os direitos e garantias individuais, bem como respeitar a Constituição e os tratados, convenções e acordos internacionais dos quais o Brasil seja signatário.

No corpo da referida lei não está contemplado o conceito técnico sobre inteligência. Porém, no art. 2°, §§ 2° e 3°, esta legislação traz um entendimento conceitual sobre as atividades de inteligência e de contrainteligência, respectivamente:

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§ 2o Para os efeitos de aplicação desta Lei, entende-se como inteligência a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado.

§ 3o Entende-se como contra-inteligência a atividade que objetiva neutralizar a inteligência adversa.

A Lei nº 9.883/1999 determina que todos os órgãos e entidades da Administração Pública Federal, com capacidade de produção de conhecimento de interesse das atividades de inteligência, deverão constituir o SISBIN, principalmente os responsáveis pela defesa externa, segurança interna e relações exteriores.

Cria, também, a possibilidade de incorporação, mediante convênio, das unidades da Federação, como órgãos derivados.

A referida lei criou a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), e destacou-a como órgão central do SISBIN, diretamente subordinado à Presidência da República, através do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

A ABIN tem como objetivo “planejar e executar atividades de natureza permanente, relativas ao levantamento, coleta e análise de informações estratégicas, planejar e executar atividades de contrainformação e executar atividades de natureza sigilosa necessárias à segurança do Estado e da sociedade”, conforme a Medida Provisória nº 2.216– 37, de 2001 determina:

Art. 3o Fica criada a Agência Brasileira de Inteligência – ABIN, órgão da Presidência da República, que, na posição de órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência, terá a seu cargo planejar, executar, coordenar, supervisionar e controlar as atividades de inteligência do País, obedecidas à política e às diretrizes superiormente traçadas nos termos desta Lei.

Ao analisar a Lei nº 9.883/1999 fica notório que ao publicá-la o Presidente da República fez questão de criar primeiramente o Sistema (art. 1º) e, posteriormente, a ABIN (art. 3º).

O objetivo dessa ordem não foi diminuir a ABIN, mas sim ressaltar a importância maior que o Sistema deve ter.

Com o intuito de organizar o Sistema Brasileiro de Inteligência foi publicado o Decreto nº 4.376, em 13 de setembro de 2002, que dispõe sobre o funcionamento e organização do SISBIN.

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A principal atribuição desse órgão é integrar as ações de planejamento e execução da atividade de inteligência do país, tendo por finalidade ofertar subsídios ao Presidente da República nos assuntos de interesse nacional.

O Decreto nº 4.376/2002 consolidou o conceito de inteligência e contrainteligência, respectivamente, nos art. 2° e 3°, assim transcritos:

Art. 2o Para os efeitos deste Decreto, entende-se como inteligência a atividade de obtenção e análise de dados e informações e de produção e difusão de conhecimentos, dentro e fora do território nacional, relativos a fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório, a ação governamental, a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado.

Art. 3o Entende-se como contra-inteligência a atividade que objetiva prevenir, detectar, obstruir e neutralizar a inteligência adversa e ações de qualquer natureza que constituam ameaça à salvaguarda de dados, informações e conhecimentos de interesse da segurança da sociedade e do Estado, bem como das áreas e dos meios que os retenham ou em que transitem.

Ao analisar este decreto resta evidente a versatilidade e amplitude da composição do SISBIN, conforme transcrita a seguir:

Art. 4o O Sistema Brasileiro de Inteligência é composto pelos seguintes órgãos: (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

I – Casa Civil da Presidência da República, por meio do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia – CENSIPAM; (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

II – Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, órgão de coordenação das atividades de inteligência federal; (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

III – Agência Brasileira de Inteligência – ABIN, do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, como órgão central do Sistema; (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

IV – Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública, da Diretoria de Inteligência Policial do Departamento de Polícia Federal, do Departamento de Polícia Rodoviária Federal, do Departamento Penitenciário Nacional e do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, da Secretaria Nacional de Justiça; (Redação dada pelo Decreto nº 6.540, de 2008)

V – Ministério da Defesa, por meio do Departamento de Inteligência Estratégica da Secretaria de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais, da Subchefia de Inteligência do Estado-Maior de Defesa, do Estado-Maior da Armada, do Centro de Inteligência da Marinha, do Centro de Inteligência do Exército e do Centro de Inteligência da Aeronáutica; (Redação dada pelo Decreto nº 6.540, de 2008)

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VI – Ministério das Relações Exteriores, por meio da Coordenação-Geral de Combate aos Ilícitos Transnacionais da Subsecretaria-Geral da América do Sul; (Redação dada pelo Decreto nº 6.540, de 2008)

VII – Ministério da Fazenda, por meio da Secretaria-Executiva do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, da Secretaria da Receita Federal do Brasil e do Banco Central do Brasil; (Redação dada pelo Decreto nº 6.540, de 2008).

VIII – Ministério do Trabalho e Emprego, por meio da Secretaria– Executiva; (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

IX – Ministério da Saúde, por meio do Gabinete do Ministro de Estado e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA; (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

X – Ministério da Previdência Social, por meio da Secretaria-Executiva; (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

XI – Ministério da Ciência e Tecnologia, por meio do Gabinete do Ministro de Estado; (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

XII – Ministério do Meio Ambiente, por meio da Secretaria-Executiva; e (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

XIII – Ministério da Integração Nacional, por meio da Secretaria Nacional de Defesa Civil; e (Redação dada pelo Decreto nº 4.872, de 6.11.2003)

XIV – Controladoria-Geral da União, por meio da Secretaria-Executiva. (Redação dada pelo Decreto nº 6.540, de 2008)

Parágrafo único. Mediante ajustes específicos e convênios, ouvido o competente órgão de controle externo da atividade de inteligência, as unidades da Federação poderão compor o Sistema Brasileiro de Inteligência.

Essa diversidade de componentes visa a construir a ideia central de um “sistema”, no caso específico o SISBIN, no qual seus membros, em que pese de atuação distinta, têm que atuar de forma articulada, coordenada e, obviamente, respeitando a autonomia funcional de cada órgão.

Ao mesmo tempo em que inúmeros organismos fazem parte do Sistema com o intuito de facilitar a produção de conhecimento qualificado, é também pelo mesmo motivo um fator de entrave do próprio Sistema, posto que esses organismos, culturalmente, não estão acostumados a trabalhar sob a premissa do compartilhamento de informações.

Decorre desse contexto, dicotômico e complexo, o principal papel da ABIN, enquanto órgão central do SISBIN, que é promover um processo de articulação e integração sistêmica e colaborativa entre estes organismos/instituições, desmanchando visões equivocadas e retrógradas a respeito da atividade de inteligência.

Essa missão é tão complexa que foi necessário criar o Departamento de Integração do Sistema Brasileiro de Inteligência (DISBIN), em 2008

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(alteração dada pelo Decreto nº 6.540/2008, no art. 6º-A da Lei nº 4.376/2002), a seguir transcrito:

Art. 6o-A. A ABIN poderá manter, em caráter permanente, representantes dos órgãos componentes do Sistema Brasileiro de Inteligência no Departamento de Integração do Sistema Brasileiro de Inteligência. (Incluído pelo Decreto nº 6.540, de 2008)

§ 1o Para os fins do caput, a ABIN poderá requerer aos órgãos integrantes do Sistema Brasileiro de Inteligência a designação de representantes para atuarem no Departamento de Integração do Sistema Brasileiro de Inteligência. (Incluído pelo Decreto nº 6.540, de 2008)

§ 2o O Departamento de Integração do Sistema Brasileiro de Inteligência terá por atribuição coordenar a articulação do fluxo de dados e informações oportunas e de interesse da atividade de Inteligência de Estado, com a finalidade de subsidiar o Presidente da República em seu processo decisório. (Incluído pelo Decreto nº 6.540, de 2008)

§ 3o Os representantes de que trata o caput cumprirão expediente no Centro de Integração do Departamento de Integração do Sistema Brasileiro de Inteligência da ABIN, ficando dispensados do exercício das atribuições habituais no órgão de origem e trabalhando em regime de disponibilidade permanente, na forma do disposto no regimento interno da ABIN, a ser proposto pelo seu Diretor-Geral e aprovado pelo Ministro de Estado Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. (Incluído pelo Decreto nº 6.540, de 2008)

§ 4o Os representantes mencionados no caput poderão acessar, por meio eletrônico, as bases de dados de seus órgãos de origem, respeitadas as normas e limites de cada instituição e as normas legais pertinentes à segurança, ao sigilo profissional e à salvaguarda de assuntos sigilosos. (Incluído pelo Decreto nº 6.540, de 2008)

Podemos questionar:

Integrar não era o papel do SISBIN? Não caberia à ABIN realizar essa missão? E se cabe à ABIN, por que criar um novo órgão “integrador”? Essa criação não segmentaria ainda mais os processos? E se a ABIN não estava conseguindo promover essa integração, um novo órgão conseguiria? Não haveria sobreposição de funções?

Não sabemos as respostas para essas perguntas, pois não temos mecanismos para avaliar com profundidade e transparência necessária para afirmar em que nível tais processos se encontram. Essa missão cabe ao órgão de controle externo da atividade de inteligência.

É fundamental para o crescimento de qualquer sistema, no caso o SISBIN, a supervisão e o controle externo da atividade de inteligência. A Lei nº 9.883/1999 determina que sejam feitos pelo Poder Legislativo. Vejamos:

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Art. 6o O controle e fiscalização externos da atividade de inteligência serão exercidos pelo Poder Legislativo na forma a ser estabelecida em ato do Congresso Nacional.

§ 1o Integrarão o órgão de controle externo da atividade de inteligência os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, assim como os Presidentes das Comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

§ 2o O ato a que se refere o caput deste artigo definirá o funcionamento do órgão de controle e a forma de desenvolvimento dos seus trabalhos com vistas ao controle e fiscalização dos atos decorrentes da execução da Política Nacional de Inteligência.

Em que pese esta determinação formal, não existe de fato tal supervisão. Todavia, tramita no Congresso Nacional um projeto de lei que visa a regulamentar a supervisão e o controle da atividade de inteligência.

No Brasil, é notório que a atividade de inteligência, perante a sociedade, ainda tem um estigma negativo oriundo da sua atuação durante o regime de exceção. Para alterar esta visão equivocada sobre o atual papel da atividade de inteligência é fundamental efetivar a supervisão e o controle por parte do Poder Legislativo, promovendo assim um processo de transparência na gestão da atividade.

Importante ressaltar que em países desenvolvidos, nos quais a atividade de inteligência é devidamente valorizada, existe um forte sistema de controle e supervisão, tendo como consequência o reconhecimento da sociedade e do próprio governo acerca da importância da atividade de inteligência.

Daí surge uma premissa básica: “todo país desenvolvido tem um forte sistema de inteligência”.

A partir da criação do SISBIN, bem como da ABIN e posterior regulamentação organizacional, ficou evidente a necessidade de buscar aprimoramento no Sistema e, consequentemente, alcançar com maior efetividade seus objetivos.

Nesse sentido, e em razão de especificidades estratégicas, foi criado o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP) pelo Decreto nº 3.695, de 21 de dezembro de 2000, e o Subsistema de Inteligência de Defesa (SINDE), criado pela Portaria nº 295 do Ministério da Defesa, em junho de 2002.

O surgimento do SINDE deu-se a partir da necessidade do Ministério da Defesa de fornecer dados e conhecimentos específicos relacionados com a defesa das instituições e dos interesses nacionais para a ABIN.

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O SINDE visou, ainda, a atender as diretrizes da Política de Defesa Nacional quanto à necessidade de comando, controle e inteligência de todos os organismos envolvidos na preservação da Defesa Nacional, bem como otimizar a estrutura existente no Ministério da Defesa voltada para o desempenho e coordenação da Atividade de Inteligência de Defesa, facilitando as ligações com o SISBIN.

O SINDE tem como objetivo principal integrar as ações de planejamento e execução da Atividade de Inteligência de Defesa, com a finalidade de assessorar o processo decisório no âmbito do Ministério da Defesa (MD).

Entende-se que nesse objetivo estão englobados os ramos da inteligência e da contrainteligência.

Diante desse contexto, cabe ao SINDE promover o desenvolvimento de um processo de articulação e integração entre os órgãos de inteligência do mais alto nível do MD e das Forças Armadas.

E o órgão responsável por operacionalizar essas ações é o Departamento de Inteligência Estratégica (DIE), da Secretaria de Política Estratégica e Assuntos Internacionais do MD, além de representar o SINDE perante a ABIN e no SISBIN.

Assim como a ABIN é o órgão central do SISBIN, a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) é o órgão central do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP), o DIE é o órgão central do Sistema de Inteligência de Defesa (SINDE).

Note que tanto o SISP como o SINDE são habitualmente chamados de “subsistemas”. Isso ocorre porque, em que pese, quando analisados de maneira isolada, serem “sistemas” completos, não podemos esquecer que ambos (SISP e SINDE) complementam o “sistema macro” que é o SISBIN. Diante disso, é correto tratarmos o SISP e SINDE como subsistemas, todavia, reconhecendo que cada um destes é um sistema dentro do seu próprio contexto.

Independente da denominação, o objetivo geral de qualquer sistema ou subsistema é o trabalho coordenado, integrado e de forma colaborativa, tendo como consequência uma sinergia, in casu, o desenvolvimento efetivo de um processo de integração sistêmica.

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Referências

BRASIL. Decreto nº 4.376, de 13 de setembro de 2002. Dispõe sobre a organização e o funcionamento do Sistema Brasileiro de Inteligência, instituído pela Lei n° 9.883/1999, e dá outras providências.

_______. Lei nº 9.883, de 7 de dezembro de 1999. Institui o Sistema Brasileiro de Inteligência, cria a Agência Brasileira de Inteligência – ABIN, e dá outras providências.

DE PAULA, Giovani. A importância do ensino da disciplina criminologia na formação do policial. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Florianópolis, 2006.

DIAS NETO, Theodomiro. Segurança urbana: o modelo da nova prevenção. São Paulo: Revista dos Tribunais/FGV, 2005.

FIGUEIREDO, Lucas. Ministério do silêncio: a história do serviço secreto brasileiro de Washington Luís a Lula (1927-2005). Rio de Janeiro: Record, 2005.

GONÇALVES, Joanisval Brito. Atividade de inteligência e legislação correlata. Niterói, RJ: Impetus, 2009.

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Polícia Federal. Inteligência Policial. Academia Nacional de Polícia: Brasília, 2009.

OLIVEIRA, Luis Cesar Teixeira de. A inteligência e o Poder Judiciário. Monografia. Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Inteligência Estratégica da Universidade Gama Filho. Brasília, DF, 2009.

BRASIL. AGÊNCIA BRASILEIRA DE INFORMAÇÕES. Revista Brasileira de Inteligência, Brasília, v. 1, n. 1, dez. 2005.

REVISTA NOSSA HISTÓRIA, 1996.

SUN TZU, SUN PIN. A arte da guerra. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

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Atividade de inteligência de segurança públicaRégis André Silveira Limana

As demandas e os conflitos sociais, aliados às suas diferentes formas de expressão, apontam cada vez mais para a necessidade de adequação das estruturas de segurança pública para fazer frente ao problema da violência e da criminalidade, objetivando garantir a ordem pública e social e a promoção da pacificação social.

A violência urbana tem se apresentado como uma das ameaças mais reais às sociedades, tanto em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento, gerando um quadro de insegurança e medo que acaba tornando o espaço de algumas cidades locais de intolerâncias e desrespeitos, gerando prejuízos irreparáveis aos direta ou indiretamente envolvidos.

A consolidação de um Estado Democrático de Direito não se coaduna com um “Estado do medo”, em que as relações espúrias de poder ditam as regras, razão pela qual o problema da violência urbana deve ter primazia no estabelecimento das políticas públicas de segurança. Isso porque este tipo de violência interfere diretamente no cotidiano das pessoas, inclusive no contexto da realização de grandes eventos.

As estruturas de segurança pública em um país são as responsáveis pela intervenção mais direta e imediata nos problemas que dizem respeito à criminalidade, criminalização e enfrentamento à violência.

Muito embora se saiba que uma atuação efetuada de forma cooperativa, envolvendo não apenas o poder público, mas também ações do empresariado, da sociedade civil organizada e de comunidades locais, tenha efeitos bem mais úteis quando os esforços são empreendidos sob o aspecto da solução integrada desses problemas sociais.

O desenvolvimento de formas modernas de se articular ações de segurança pública perpassam pela adequação e viabilidade de políticas públicas que permitam a interação entre os vários atores, desde os integrantes do sistema de justiça criminal, a sociedade civil organizada e os cidadãos (PAULA, 2010).

Por este viés, a atividade de inteligência de segurança pública se apresenta como valioso instrumento de busca e produção de conhecimento que pode possibilitar ações mais efetivas e eficazes na administração dos conflitos e na busca de reformulação de políticas de Estados e de governos.

A inteligência de segurança pública, sob uma perspectiva que revele os direitos de cidadania e aponte para outras possibilidades de intervenção nos conflitos,

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que não apenas a voltada para o sistema de justiça criminal, é algo novo no país e sempre esteve direta ou indiretamente vinculada às mais variadas formas de estabelecimento das relações de poder.

O desafio que se apresenta para consecução da atividade de inteligência de segurança pública consiste na percepção de que a produção de informação e conhecimento, visando à manutenção da ordem pública e à promoção da pacificação social, tem outras especificidades que se diferenciam da chamada inteligência clássica, ou seja, vinculada à inteligência de Estado, a qual, segundo Joanisval Brito Gonçalves, é aquela atividade

[...] associada a informações, processos e organizações relacionados à produção de conhecimentos, tendo por escopo a segurança do Estado e da sociedade, e que constituem subsídios ao processo decisório da mais alta esfera de governo. [...] A Inteligência de Estado, portanto, reúne a produção de conhecimento de diferentes matizes, também podendo ser fruto da integração de inteligência produzida por diversos órgãos, e tem como objetivo assessorar o processo decisório de mais alto escalão, de maneira a dotar o tomador de decisão com informações na sua maioria de caráter estratégico na defesa do Estado e da sociedade contra ameaças reais ou potenciais. (GONÇALVES, 2009, p. 40).

A concepção de inteligência de Estado, sob o aspecto estratégico, é conceituada pelo Manual Básico da Escola Superior de Guerra (ESG) como sendo aquela que é

[...] a resultante da obtenção, análise, interpretação e disseminação de conhecimentos sobre as situações nacional e internacional, no que se refere ao Poder Nacional, aos Óbices, às suas Vulnerabilidades, às Possibilidades e outros aspectos correlatos, com possível projeção para o futuro. [...] A Atividade de Inteligência é reconhecida em nível mundial como fator indispensável de assessoria na estrutura administrativa do Estado. Como consequência é aplicada a qualquer planejamento estratégico de governo em todas as suas fases. É conveniente, portanto, que a Atividade seja estruturada através de Planos que orientem o trabalho a ser desenvolvido. Entendendo Plano como sendo um conjunto ordenado de disposições e procedimentos visando à operacionalização de decisões governamentais, é interessante que ele seja elaborado na cúpula do SISBIN. (ESG, 2008).

Os processos decisórios que dizem respeito à segurança pública se distinguem daqueles inerentes às decisões de Estado, muito embora possa haver pontos de interseção. Isto porque a dinâmica dos conflitos que exige intervenção do aparato policial perpassa por medidas de caráter imediato para que não haja a ruptura da ordem legal e o comprometimento da segurança coletiva.

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Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP)

A necessidade de uma estrutura de produção de informação e conhecimento que atendesse à complexidade das demandas em segurança pública ensejou a criação do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP), surgido com o Decreto Executivo n° 3.695/2000, conforme se depreende a seguir:

O SISP foi estabelecido em dezembro de 2000, por meio do decreto-executivo 3.695, para organizar de forma cooperativa os fluxos de informação nas áreas de inteligência criminal, inteligência de segurança (ou interna), bem como contra- inteligência. Este subsistema é coordenado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) do Ministério da Justiça. Os principais órgãos do SISP são o Departamento de Polícia Federal (DPF) e o Departamento de Polícia Rodoviária Federal (DPRF), no Ministério da Justiça, além de componentes do Ministério da Fazenda (COAF, COEPI e SRF), do Ministério da Integração Regional, do Ministério da Defesa (SPEAI), do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (ABIN e SENAD), além das polícias civis e militares dos 26 estados e do Distrito Federal. Embora definido como um subsistema do SISBIN, não se sabe até que ponto a presença da ABIN no SISP garanta um fluxo significativo de informações relevantes e a integração entre as agências. (ANTUNES e CEPIK, 2003, p. 119)

A criação do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP) vem ao encontro da necessidade de reformulação de um modelo mais voltado às novas demandas sociais e que tenha por objetivo a promoção do desenvolvimento social. Isso tende a reflexos diretos na segurança, e que também auxilia na produção de informação e conhecimento para uma atuação mais efetiva contra os problemas sociais que acabam culminando em conflitos.

O conceito da atividade de inteligência de segurança pública corrobora esse entendimento, conforme descrito na Doutrina Nacional de Segurança (2009, p. 13)

A atividade de ISP é o exercício permanente e sistemático de ações especializadas para a identificação, acompanhamento e avaliação de ameaças reais ou potenciais na esfera de Segurança Pública, basicamente orientadas para subsidiar os governos federal e estaduais a tomada de decisões, para o planejamento e à execução de uma política de Segurança Pública e das ações para prever, prevenir, neutralizar e reprimir atos criminosos de qualquer natureza ou atentatórios à ordem pública.

O SISP tem como órgão central a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP/MJ), integrando também sua estrutura os Ministérios da Justiça, Fazenda, Defesa e Integração Nacional e o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI).

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Os organismos de inteligência de segurança pública dos Estados e do Distrito Federal, através de convênio com a SENASP, também podem integrar o SISP.

A estrutura criada pela SENASP para atuar como órgão central de inteligência de segurança pública no país é a Coordenação-Geral de Inteligência (CGI).

Essa coordenação tem a função de realizar a produção de informação e de conhecimento para assessorar as decisões do Secretário Nacional de Segurança Pública, nas mais diversas áreas de atuação. E, ainda, fomentar políticas públicas na seara da inteligência, bem como realizar pesquisas e desenvolver e difundir ferramentas e novas tecnologias para as atividades dos membros do SISP e dos demais integrantes do Sistema de Justiça Criminal.

Segundo uma concepção filosófica pautada nos pilares da integração, compartilhamento e produção de conhecimento, o Planejamento Estratégico da Coordenação-Geral de Inteligência (CGI) tem as seguintes matrizes de atuação:

• Missão: integrar e padronizar os organismos de inteligência de segurança pública.

• Valores: ética, lealdade, responsabilidade e proatividade.

• Visão de futuro: ser referência na produção de conhecimento estratégico e em ações de integração.

Essa breve sinopse histórica é importante para que compreendamos os rumos, caminhos e possibilidades da atividade de inteligência no país, evitando os erros do passado. Eis que, segundo Oliveira (2009, p. 12)

Com a sociedade da informação o poder do indivíduo e da sociedade aumentou. Com mais informações e um acesso a uma variedade de fontes, a população fica mais atenta ao comportamento das empresas e dos Estados. Os temas de desenvolvimento sustentável, meio ambiente, responsabilidades sociais são cada dia mais fortes. As empresas e os líderes públicos têm que levar esses aspectos em conta para não perder a legitimidade social de atuar. Os valores e a reputação das organizações são aspectos que se tornam ainda mais importantes. Neste contexto a Inteligência Estratégica é considerada necessária para a vida política, econômica, diplomática e social.

Percebe-se que além da importância das ações de inteligência como valioso recurso para a investigação preliminar, visando à elucidação e prevenção de práticas criminosas, também tem destaque seu papel na produção de informação e conhecimento no âmbito da manutenção da ordem pública.

Essa concepção permite perceber a extensão da atividade de inteligência que, além de visar a diagnósticos que possam conter eventuais abusos por parte de

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particulares contra a ordem vigente, também tem por escopo proteger ações contrárias, nocivas ou perturbadoras ao bem-estar social e ao desenvolvimento e à segurança nacional.

Pela sua própria natureza, a atividade de inteligência de segurança pública não possui o chamado “poder de polícia”, mas são catalisadas para que este poder possa manifestar-se de forma oportuna e efetiva. Com isso visando, como dito, à manutenção da ordem pública, facilitando e dando suporte para o exercício das funções de prevenção, repressão, investigação e cooperação judiciária, naquilo que se chama de “poder de polícia de segurança pública” (SANTIN, 2004)

Cabe destacar que as possibilidades de produção de conhecimento para a tomada de decisões, ou em apoio às instituições de segurança pública, têm a própria extensão do poder de polícia, que é atualmente muito ampla. Segundo Hely Lopes Meirelles (1993, p. 118):

[...] abrangendo desde a proteção à moral e aos bons costumes, a preservação da saúde pública, o controle de publicações, a segurança das construções e dos transportes até a segurança nacional em particular. Daí encontrarmos nos Estados modernos a polícia de costumes, a polícia sanitária, a polícia das construções, a polícia das águas, a polícia da atmosfera, a polícia florestal, a polícia de trânsito, a polícia dos meios de comunicação e divulgação, a polícia das profissões, a polícia ambiental, a polícia da economia popular, e tantas outras que atuam sobre atividades particulares que afetam ou possam afetar os superiores interesses da comunidade que ao Estado incumbe velar e proteger. Onde houver interesse relevante da coletividade ou do próprio Estado haverá, correlatamente, igual poder de polícia administrativa para a proteção desses interesses. É a regra, sem exceção.

A atividade de inteligência de segurança pública pode, por este viés, atender demandas de informação e conhecimento para as funções estatais comumente denominadas como polícia administrativa, de segurança e judiciária. Segundo Santin (2004, p. 107-108),

[...] as referidas “polícias” não são instituições públicas autônomas, mas sim tradução de funções, que podem ser desempenhadas por inúmeros órgãos públicos, não apenas órgãos policiais propriamente ditos. Pode ser exercido o poder de polícia por inúmeros outros órgãos executivos, por exemplo, pelos órgãos de vigilância sanitária, de saúde pública, ambientais e fiscais. Também por órgãos legislativos (poder de polícia parlamentar, nas audiências e sessões parlamentares do processo legislativo) e judiciários (poder de polícia judicial em audiências e no andamento de processo). O juiz detém o poder de polícia na vigilância, fiscalização e disciplina dos atos processuais e nas audiências, para a adequada atuação das partes e regular tramitação de procedimento de investigação e processo. [...] O poder de polícia de segurança pública é exercido para permitir e facilitar o exercício das funções de prevenção, repressão, vigilância de fronteiras, investigação e cooperação judiciária.

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Pós-graduação

Esse entendimento de que a segurança pública tem uma natureza multidimensional, multiagencial, multidisciplinar e multiatorial, mais abrangente na proteção da população, é previsto na Constituição Federal de 1988, no artigo 144, que diz:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I – polícia federal;

II – polícia rodoviária federal;

III – polícia ferroviária federal;

IV – polícias civis;

V – polícias militares e corpos de bombeiros militares.

§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a

I – apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;

II – prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;

III – exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;

IV – exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.

§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.

§ 4º – Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.

§ 5º – Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.

§ 6º – As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.

§ 7º – A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.

§ 8º – Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.

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Organização da Inteligência no Brasil

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A questão da segurança pública vem sendo assumida como responsabilidade de todos, sociedade e Estado, muito embora tenhamos as competências e responsabilidades dos órgãos que a compõem como um “Sistema”. A amplitude, portanto, da ordem pública, insere-se num contexto mais amplo de proteção da sociedade e do Estado e de prevenção às mais variadas formas de expressão da violência.

Disso decorre a necessidade de que a atividade de inteligência de segurança pública se desenvolva de forma articulada e cooperativa, preservando-se, de um lado, a repartição de competências previstas na Constituição Federal, mas, por outro, assegurando parcerias que permitam o planejamento e a execução com eficiência das ações de preservação e de manutenção da ordem pública.

Desse modo, para que os organismos de inteligência de segurança pública possam atuar de forma conjugada e harmônica, criou-se então o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, cujo órgão central, como visto, é a Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça (SENASP).

Essa compleição faz com que os sistemas governamentais de inteligência de segurança pública adotem novas premissas na produção de conhecimentos estratégicos visando à promoção da pacificação social e a garantia da ordem pública.

Isso, além das questões inerentes à investigação preliminar, também apontam para a avaliação de outras ameaças, reais ou potenciais, que possam servir como subsídio para a tomada de decisões.

Já que estamos em uma época em que as novas tecnologias de informações e comunicação (TICs) têm ampliado a produção e os fluxos informacionais e de conhecimentos nas mais variadas áreas que requerem políticas públicas adequadas.

Essa complexidade deu origem ao Decreto nº 3.695, de 21 de dezembro de 2000, que criou o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP).

Inteligência e o Plano Nacional de Segurança Pública

O desenvolvimento de formas modernas de se articular ações de segurança pública perpassam pela adequação e viabilidade de políticas públicas que permitam a interação entre os vários atores, desde os integrantes do sistema de justiça criminal até a sociedade civil organizada e os cidadãos.

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Pós-graduação

Essa questão tem destaque no Plano Nacional de Segurança Pública (2000), conforme segue:

A solução para a complexa e desafiadora questão da segurança exige o efetivo envolvimento de diferentes órgãos governamentais em todos os níveis, entidades privadas e sociedade civil. Busca-se, com o estabelecimento de medidas integradas, aperfeiçoar a atuação dos órgãos e instituições voltadas à segurança pública em nosso País, permitindo-lhes trabalhar segundo um enfoque de mútua colaboração. Somente com essa participação conjunta, este programa terá efetividade e criará condições para o desenvolvimento de ações mais eficazes.

Cabe destacar os compromissos do Plano Nacional de Segurança Pública, o qual previu medidas no âmbito do governo federal de cooperação com os governos estaduais, medidas estas de natureza normativa e de natureza institucional, que foram assim distribuídas:

No âmbito do governo federal:

• Combate ao narcotráfico e ao crime organizado.

• Desarmamento e controle de armas.

• Repressão ao roubo de cargas e melhoria da segurança nas estradas.

• Implantação do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública.

• Ampliação do Programa de Proteção a Testemunhas e Vítimas de Crime.

• Mídia x Violência: regulamentação.

Em cooperação com os governos estaduais:

• Redução da violência urbana.

• Inibição de gangues e combate à desordem.

• Eliminação de chacinas e execuções sumárias.

• Combate à violência rural.

• Intensificação das ações do Programa Nacional dos Direitos Humanos.

• Capacitação profissional e reaparelhamento das polícias.

• Aperfeiçoamento do sistema penitenciário.

- De natureza normativa: o aperfeiçoamento legislativo.

- De natureza institucional: a implantação do Sistema Nacional de Segurança Pública.

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Organização da Inteligência no Brasil

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O compromisso n° 4 do PNSP previu a implementação do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, nas seguintes ações:

38. Implantar o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública.

39. Integração dos Estados ao Subsistema de Inteligência de Segurança Pública.

40. Criação dos Núcleos Federais e Estaduais do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública.

41. Atuação dos Núcleos Estaduais do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública.

E, diante dos novos cenários de riscos, surge também a responsabilidade das estruturas de segurança pública na realização de “grandes eventos”, que ensejam toda uma preparação e um planejamento que minimizem as probabilidades de comprometimento da ordem e da segurança pública.

Disso decorre a necessidade de uma estrutura de inteligência de segurança pública que permita às estruturas de polícia uma atuação mais precisa nos conflitos, seja de natureza preventiva ou repressiva, combinado com um sistema de interoperabilidade entre os órgãos policiais que apontem para diagnósticos ou prognósticos que possam auxiliar na tomada de decisões gerenciais em segurança pública, quer no plano estratégico ou no plano tático.

Pautado nesse contexto, o primeiro grande passo em direção a um modelo eficaz de segurança pública para o Brasil foi a criação do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (–SISP).

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_______. Decreto nº 6.540, de 19 de agosto de 2008. Altera e acresce dispositivos ao Decreto nº 4.376/2002, que dispõe sobre a organização e o funcionamento do Sistema Brasileiro de Inteligência, instituído pela Lei nº 9.883/1999.

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_______. Agência Brasileira de Inteligência (ABIN). Revista Brasileira de Inteligência,

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Organização da Inteligência no Brasil

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Síntese

Nesta unidade, inicialmente fez-se uma sinopse histórica das atividades de inteligência, percebendo-se que desde tempos remotos, a mesma tem feito parte da história das sociedades, quer sendo empregada como meio de proteção, ou mesmo como forma de cooptação, submissão e poder,

Após, passou-se a abordar o Sistema Brasileiro de Inteligência - SISBIN, bem como seus objetivos e composição, onde se ressaltou o papel central que a Agência Brasileira de Inteligência – ABIN exerce junto ao Sistema. Ficou evidenciado que o Sistema, em que pese passados mais de uma década da sua criação, ainda carece de fortalecimento institucional e regulamentação, para um funcionamento eficiente e eficaz.

Mereceu destaque a abordagem sobre Inteligência de Segurança Pública. Neste momento, demonstrou-se que as estratégias e ações devem pautar-se numa perspectiva que releve as questões transversais que implicam em expressões de violência e processos de criminalização, com o conseqüente comprometimento da ordem e da paz social associados ainda, as diretrizes do Plano Nacional de Segurança Pública.

Com a criação do Subsistema de Inteligência em Segurança Pública - SISP pelo Decreto Executivo 3.695 de 2000, passou-se a organizar de forma cooperativa e interinstitucional os fluxos de informação nas áreas de inteligência criminal, inteligência de segurança (ou interna), bem como contra-inteligência, com uma perspectiva voltada pra a identificação, acompanhamento e avaliação de ameaças reais ou potenciais na esfera de Segurança Pública, as quais passam a ser orientadas para subsidiar os governos federal e estaduais na tomada de decisões para o planejamento e execução de uma política de prevenção em Segurança Pública a partir de uma concepção de ação policial “apoiada pelos laços comunitários”.

No SISP, onde a SENASP exerce papel de órgão central do Subsistema, realiza-o através da Coordenação-Geral de Inteligência – CGI, cujo escopo é “Integrar e padronizar os Organismos de Inteligência de Segurança Pública”, as atividades de inteligência de segurança pública no país passam a ter uma perspectiva mais aberta e democrática. As proposições não subestimam a necessidade de repressão à violência, mas buscam informações e conhecimentos que possam permitir a percepção e o enfrentamento aos aspectos culturais, econômicos e sociais da violência.

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Pós-graduação

Depreende-se também que, a fim de viabilizar ações integradas de prevenção à violência e à criminalidade, além da necessidade de cooperação intergovernamental e interinstitucional em segurança publica, torna-se imperioso o estabelecimento de um novo padrão de relacionamento entre as comunidades e as forças de segurança direta ou indiretamente envolvidas, com o fortalecimento das relações entre os indivíduos e a sociedade de maneira que a responsabilidade moral e a consideração dos “sujeitos” como cidadãos capazes de contribuir nos processos decisórios possa auxiliar no enfrentamento aos riscos e na prevenção de ocorrências que comprometam a segurança e a paz social.

Ficou evidente que as ações no campo da Inteligência de Segurança Pública, quer seja de cunho tático ou estratégico, cada vez mais devem estar alicerçadas sobre teses, teorias e doutrinas, mas também naquilo que as atividades de inteligência podem oferecer de mais especial e suas possíveis consequências, que dizem respeito a materialidade substancial da realidade, de modo a oferecer intervenções qualificadas nos conflitos ou sobre seus riscos, ampliando a dimensão da cidadania e reduzindo os impactos sobre a paz social.

Saiba Mais

Vamos explorar um pouco como funciona a ABIN - Agência Brasileira de Inteligência. Acesse o site e pesquise.

http://www.abin.gov.br/

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Atribuições e estratégias de atuação em ações de inteligência

Unidade 2

Objetivos de Aprendizagem • Conhecer as principais atribuições dos órgãos de inteligência de segurança.

• Entender as estratégias de atuação da atividade de inteligência.

• Entender a moderna estratégica de enfrentamento ao crime organizado.

Introdução

Esta unidade de estudo se propõe a estabelecer as atribuições dos principais sistemas e subsistemas de inteligência de segurança. Não raro nos deparamos com situações fáticas que nos fazem perguntar “Qual é a atribuição de determinado órgão? O que faz a inteligência de segurança em cada instituição?”.

Infelizmente, vivemos em uma crise de atribuições institucionais nas quais muitas instituições estão perdidas, sem saber onde se inserir no atual contexto, ou mesmo sem saber exatamente quais são suas estratégias para o futuro.

Faz-se necessário delimitar detalhadamente as atribuições de cada instituição de inteligência de segurança. Além disso, adaptar essas atribuições de acordo com a evolução social, pois não se pode produzir conhecimento de inteligência nos dias de hoje pautados nos princípios, métodos e técnicas da época da Segunda Grande Guerra.

Um aspecto que merece atenção na atuação das agências de inteligência de segurança no Brasil é que as estratégias mundialmente apregoadas não são priorizadas.

A atuação de forma integrada e sistêmica das agências de inteligência de segurança, bem como o estrangulamento financeiro das organizações criminosas, é fundamental para o êxito de qualquer serviço de inteligência.

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Pós-graduação

A produção de conhecimento estratégico não será eficiente se não contar com um sistema integrado, no qual possam transitar informações sem reserva de mercado entre as diversas agências de inteligência de segurança do país.

No mesmo sentido, não existe produção de conhecimento tático que consiga ser efetivo sem que tenha seu foco na descapitalização da organização criminosa.

Do mesmo modo, não podemos perder de vista a moderna forma de entender fenômenos que perpassam necessariamente pela análise local e mundial da criminalidade.

Ou seja, durante a produção de conhecimento de inteligência o agente deve, necessariamente, levar em conta que as informações e o conhecimento de inteligência, cedo ou tarde, terão alguma interface entre os Estados da Federação, ou até mesmo entre diferentes continentes. Daí a importância de termos noção de quais os mecanismos e fundamentos jurídicos possibilitam a cooperação internacional de inteligência de segurança.

Essas estratégias andam lado a lado com o grande objetivo de todos os serviços de inteligência: preservação dos direitos e garantias fundamentais e a defesa do Estado Democrático de Direito.

Para tanto, é preciso nos desvincularmos de práticas historicamente rechaçadas como as que utilizam técnicas violando direitos e garantias fundamentais.

O moderno operador da atividade de inteligência tem que ser estrábico em sua atuação: um olhar sobre a atividade e outro sobre a Constituição da República.

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Atribuições e estratégias de atuação em ações de inteligência

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Os sistemas, subsistemas e foco de atuaçãoGeovaldri Maciel Laitartt

Iniciemos uma reflexão acerca das atribuições e focos de atuação dos sistemas e subsistemas de inteligência. Para tanto, é fundamental que tenhamos a capacidade de buscar um entendimento inovador para atividade de inteligência.

Faz-se necessário que venhamos a confiar à nobre arte valores e finalidades que estejam diretamente relacionados à proteção da sociedade. E, principalmente, a maneira pela qual a sociedade quer ser protegida, posto que é soberana, como já insculpido na Carta Democrática de 1988, “todo o poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido”.

Nesta forma de entender, o professor Jorge da Silva Bessa (2004, p. 63) nos remete a dimensões intrínsecas da atividade de inteligência contemporânea:

Para o século XXI as preocupações da Inteligência também devem estar além daquelas tradicionalmente ligadas à segurança nacional, incluindo temas como o aprofundamento da democracia, o desenvolvimento econômico sustentável e a justiça social. As políticas de segurança devem englobar uma ampla e complexa gama de questões, que abordem as vulnerabilidades da sociedade, buscando a promoção de um ambiente estável e no qual todos possam gozar dos frutos da civilização e de uma existência próspera.

Além do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN); do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP) e do Subsistema de Defesa, podem ser citados outros, tais como:

a. o Sistema de Inteligência Financeira;

b. o Sistema de Inteligência Fiscal;

c. inteligência criminal, inteligência ministerial, inteligência externa, inteligência empresarial, entre outros.

Independentemente da especificidade de cada um dos sistemas, todos buscam a produção ou proteçãoo de conhecimentos de inteligência aptos a assessorar a tomada de decisão, seja ela tática ou estratégica.

Na tomada de decisão estratégica o conhecimento produzido é difundido à autoridade que, a partir da “leitura de ambientes naquele momento a respeito de determinado fato ou fenômeno”, buscará traçar alguns cenários futuros. A produção de conhecimento estratégico visa a questões macro, medidas de longo prazo e estruturantes.

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Pós-graduação

No entanto, a produção de conhecimento tático revela informações para decisões de caráter operacional, que exigem providências imediatas, específicas e pontuais.

Nas palavras de Feitosa (2009),

[...] de maneira irreversível, apesar das resistências culturais e institucionais, a inteligência de segurança pública, e de um modo geral novas inteligências (como a ministerial, fiscal e prisional), tem firmado sua “dupla natureza”, como “inteligência estratégica” (processo decisório – natureza consultiva), e “inteligência tática” (produção de provas – natureza executiva), destinadas tanto à produção de provas para investigação e processos criminais, cíveis e fiscais (inteligência tática), especialmente em situações mais complexas, como combate às organizações criminosas, programas de controle de crimes e defesa de interesses coletivos, quanto à produção de conhecimento destinado a processos decisórios estratégicos. (grifo nosso)

De maneira geral, podemos dizer que o SISBIN tem por finalidade precípua a produção de conhecimento estratégico que vise ao assessoramento do poder decisório da Presidência da República, tendo como seu órgão central a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN).

É assim que está disposto no § 1º, do art. 1º do Decreto nº 4.376, que regulamenta a organização e funcionamento do SISBIN, de 13 de setembro de 2002:

O Sistema Brasileiro de Inteligência tem por objetivo integrar as ações de planejamento e execução da atividade de inteligência do País, com a finalidade de fornecer subsídios ao Presidente da República nos assuntos de interesse nacional.

Os assuntos que sejam de natureza estratégica para o Brasil, dentro e fora do território nacional são objetos de preocupação da ABIN. Em âmbito interno, podemos citar alguns assuntos estratégicos:

a. a proteção do parque industrial e tecnológico;

b. tecnologia aeronáutica;

c. programa de energia nuclear;

d. a tecnologia de prospecção de petróleo em águas profundas;

e. as tendências climáticas que possam interferir na safra e obrigue o aumento de importações para futura regulação de mercado e manutenção de abastecimento;

f. os sistemas tecnológicos.

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Atribuições e estratégias de atuação em ações de inteligência

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Merece atenção especial a proteção da biodiversidade brasileira, a produção de energia renovável, o sistema elétrico nacional, e o sistema de abastecimento de água.

Em fim, toda e qualquer matéria que tenha natureza estratégica de gestão do país e que não tenha outro órgão encarregado da produção de conhecimento de inteligência estratégica, será objeto de atenção do SISBIN e, consequentemente, da ABIN, seu órgão central.

Já no âmbito internacional, diversos assuntos palpitam no âmbito de produção de conhecimento estratégico produzido pela ABIN, em especial o acompanhamento de cenários de conflitos armados em locais ou regiões que tenham grande densidade de brasileiros.

A ABIN preocupa-se também com a produção de conhecimento sobre a dinâmica política e social de países que se apresentam como estratégicos parceiros comerciais para consumir produtos brasileiros ou mesmo para fornecer matérias-primas.

Com certeza a produção de energia atômica nuclear, a produção farmacêutica, a indústria espacial, entre outras, são objeto de produção de conhecimento da ABIN. Ou seja, qualquer assunto que se revele como estratégico para o Brasil merece atenção especial dessa agência.

Além disso, a ABIN tem toda sua ação voltada para a finalidade suprema de defender o Estado Democrático de Direito, os direitos e garantias fundamentais, em especial, a dignidade da pessoa humana.

É neste sentido que as palavras expressas no § 1º do art. 1º da Lei nº 9.883, de 7 de dezembro de 1999, apresenta:

§ 1º O Sistema Brasileiro de Inteligência tem como fundamentos a preservação da soberania nacional, a defesa do Estado Democrático de Direito e a dignidade da pessoa humana, devendo ainda cumprir e preservar os direitos e garantias individuais e demais dispositivos da Constituição Federal, os tratados, convenções, acordos e ajustes internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte ou signatário, e a legislação ordinária.

O Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, por sua vez, tem por objetivo a produção de conhecimento tático e/ou estratégico sobre assuntos relacionados à segurança pública, violência e criminalidade.

O conhecimento produzido, seja ele em âmbito de polícia preventiva ou repressiva, ou até mesmo na atividade de inteligência penitenciária, servirá para assessorar a tomada decisão.

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A gestão das ações de segurança pública, direcionada pelo conhecimento produzido através da atividade de inteligência, é relativamente nova. E para aqueles que não conhecem suficientemente o funcionamento deste subsistema, seus paradigmas e princípios, pode até provocar certa reticência, como bem salienta Ferro Júnior (2008, p. 46):

A idéia de utilização da inteligência na Segurança Pública pode produzir reações que vão da simpatia e encorajamento à antipatia. Igualmente, do clamor da necessidade de sua utilização à imposição de dificuldades e cerceamento do alcance dos agentes das instituições da lei e da ordem. No Brasil, a simples referência à Atividade de Inteligência pode produzir sentimentos controvertidos, na medida em que evoque, para alguns, a lembrança do antigo Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão identificado com o regime de exceção instalado no país entre as décadas de 1960 e 1980.

Quando nos referimos ao modelo de polícia preventiva, não podemos deixar de contextualizar que nos dias de hoje já não há mais espaço para aquele planejamento de policiamento ostensivo baseado em puro empirismo. Momento este em que o modo, o local, o equipamento e o foco da prevenção eram definidos conforme ordem de comando, eminentemente pessoal, sem qualquer fundamento em conhecimento metódico previamente produzido.

Este modelo surtia efeito até a década de 1970, ocasião que grande parte das ações criminais era evitada com a simples presença ostensiva da polícia, o que atualmente não ocorre mais.

Agora, a presença física da polícia, motivada empiricamente é “fator de deslocamento do local do crime”, pois os grupos criminosos se organizam para identificar o espaço de atuação do policiamento, monitorando o local de emprego do efetivo, a quantidade de policiais, o armamento utilizado, que tipo de viatura é empregada, quais os horários de troca de turno.

De posse dessas informações, os infratores realizam suas empreitadas criminosas de maneira que se torna praticamente impossível a prevenção. Assim, sem estar embasado pela produção de conhecimento de inteligência estratégica é totalmente ineficaz planejar a aplicação da polícia preventiva.

No que se refere ao modelo repressivo, o problema se acentua ainda mais. Primeiramente, cabe destacar que a atividade de polícia repressiva é realizada pelas polícias (civil e federal) que paulatinamente estão retomando a atividade de inteligência como ferramenta da investigação.

Isso porque, após a abertura política ocorrida entre os anos de 1974 e 1988, culminando com a Carta Magna de 1988, essas instituições praticamente

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Atribuições e estratégias de atuação em ações de inteligência

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extinguiram seus serviços de inteligência, pois, na época, eram vinculadas ao serviço de repressão da ditadura e de fato a serviram.

Hoje os parâmetros, objetivos e princípios de atuação são diferentes. A Constituição da República de 1988 consignou inúmeros dispositivos que visam a proteger o cidadão do poder do Estado, exigindo assim readequação de procedimentos e foco na cidadania e na dignidade da pessoa humana.

Somado a isto, a complexidade das relações sociais e econômicas, as inovações tecnológicas e a formação de blocos econômicos propiciaram que os perfis criminais, e até mesmo os tipos de violência, se transformassem ao longo do tempo, tornando totalmente obsoletas as técnicas clássicas de investigação criminal.

Esta ideia se verifica com muita clareza na atuação das organizações criminosas, o que exige da polícia repressiva a aplicação de técnicas especiais de investigação que somente a atividade de inteligência é capaz de fornecer.

Neste sentido, Ferro Júnior (2008, p. 27) leciona que:

Em consonância com o desenvolvimento tecnológico, a Inteligência tem fundamental relevância no processo, porque interage com investigação criminal e potencializa a ação pelo uso de técnicas e ações especializadas. Métodos de análise de informações proporcionam mecanismos mais eficazes para a realização de diagnósticos e prognósticos sobre a criminalidade. A detecção, identificação e a antecipação de ações delitivas passam a ser um trabalho constante e permitem uma visão contextual e global da criminalidade.

Vislumbramos assim o papel fundamental da atividade de inteligência nas atividades de polícia repressiva, sob seu aspecto estratégico ou tático. Papel este que se consubstancia na produção de conhecimento para o enfrentamento das novas formas de criminalidade e de novas modalidades de atuação do crime organizado.

Não é incomum a tentativa de usurpar as atribuições das polícias no que se refere à atividade de inteligência. Isso decorre em função dos fatos e fundamentos já apresentados.

Porém, a partir do momento em que foi regulamentado, em 1999, o subsistema de inteligência de segurança pública, bem como criada sua doutrina de inteligência, esta realidade tem mudado consideravelmente, pois as instituições policiais passaram a contar com um conjunto de princípios, técnicas e normas legalmente estabelecidas.

Lembramos que o grande fundamento para atividade de inteligência das polícias está previsto na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu

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artigo 144, que define o papel de cada uma das instituições responsáveis pela segurança pública em nosso país.

Assim, a produção/proteção de conhecimentos de inteligência deverá estar em sintonia com a garantia da segurança pública adequada, que proteja o cidadão e forneça condições para viver com a almejada paz social.

Corroborando com esta ideia é importante consignar as palavras de Gonçalves (2009, p. 28):

A inteligência policial tem como escopo questões tática de repressão e investigação de ilícitos e grupos infratores. Essa inteligência está a cargo, e deve aí permanecer, das polícias – no caso do Brasil, estaduais (civis e militares) e polícia federal.

O Subsistema de Inteligência de Defesa deve buscar sua aspiração nas atribuições constitucionais das Forças Armadas brasileiras, que à luz do artigo 142, e na Estratégia Nacional de Defesa, descreve:

Art. 142 As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.

As Forças Armadas brasileiras, como em todo o mundo, foram as que idealizaram, influenciadas pelas forças das grandes potências militares mundiais, toda a doutrina de inteligência que se conhece atualmente.

Diante de inúmeros conflitos internacionais, os países se obrigaram a desenvolver seus serviços de inteligência com a perspectiva inicial de defesa, e, posteriormente, visando a conquistas e domínios territoriais.

No Brasil não foi diferente. Mesmo considerando que em nossa história não houve grandes conflitos armados, a aproximação com outras forças durante a primeira e a segunda guerras mundiais inspiraram o Brasil à criação de seus serviços de inteligência, sempre focados na existência de um inimigo do Estado.

O auge desse modelo de inteligência militar ocorreu durante o regime de exceção, ocasião em que foi criado o Sistema Nacional de Informações (SNI).

Regime de exceção que se caracteriza pela total suspensão dos mínimos direitos reconhecidos ao ser humano, como vida, integridade física, etc., inclusive autorizando o uso de tortura física como método de investigação.

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Atribuições e estratégias de atuação em ações de inteligência

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Este serviço foi o que mais se assemelhou a um sistema de inteligência, na acepção técnica da palavra, pois:

a. era totalmente integrado;

b. tinha ramificações em todo território nacional;

c. seguia uma doutrina própria;

d. os conhecimentos e informações eram agilmente transmitidos e chegava a seu destinatário de forma eficiente;

e. dispunha de escola de formação.

Ressaltamos que apenas se assemelhou a um sistema exclusivamente pelo fato de que seus integrantes cooperavam sob forte pressão e, por que não dizer, opressão, à medida que era altamente discricionária a decisão que incluía qualquer pessoa no rol dos inimigos do Estado daquele Estado militar da época. Assim, a simples falta de transmissão de determinado conhecimento poderia ser um sinal de desagravo ao “sistema”.

De qualquer forma, tentando estabelecer uma investigação totalmente voltada para técnica de produção e proteção de conhecimento, o SNI foi, sem dúvida, uma importante etapa evolutiva na atividade de inteligência de nosso país.

O professor Jorge da Silva Bessa (2004, p. 131), em uma exposição durante o III Encontro de Estudos, Desafios para a Atividade de Inteligência no século XXI, ocorrida em 2004, intitulada “Os sistemas de inteligência no Brasil”, afirma que

[...] o grande problema vai acontecer com a eleição do Presidente Collor e o cumprimento da sua promessa de campanha de acabar com o SNI, que atingia de imediato vários segmentos que clamavam há muito tempo por isso. Ele acha que foi uma atitude inteligente, mas trouxe como conseqüência algo desastroso que foi a desintegração do sistema. Então o todo poderoso SNI, a agência central que tinha toda aquela capilaridade, que reunia todos os ministérios, onde as informações sempre fluíam tranqüila e normalmente numa direção única, se esfacela e nunca mais consegue se equilibrar. Esse período marca o momento negro da Inteligência, que ficou como um filho enjeitado.

Nesta passagem, destacamos a importância do SNI como embrião técnico de um sistema de inteligência eficiente. No caso das Forças Armadas, por sua própria atribuição constitucional, não seria permitido prescindir de um eficiente sistema de inteligência.

Apesar de a decisão governamental extinguir o SNI, as responsabilidades das três forças de proteção de nosso país obrigam que se tenha um sistema minimamente estruturada e amplamente eficiente.

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Desta forma, os militares utilizaram sua larga experiência nesta área e organizaram o que atualmente se denomina de Subsistema de Inteligência de Defesa (SIND). Bessa (2004, p. 131) afirma que “[...] quando o SNI ruiu, as Forças Armadas montaram o seu próprio sistema de Inteligência”.

Ainda segundo Bessa (2004, p. 132),

é o segmento militar que trata e assume a questão da Inteligência. É o mesmo segmento que sabiamente, em 1994, quando o sistema todo rui, montou o seu sistema de Inteligência militar, o sistema cooperativo. De acordo com o Professor, aquilo que as organizações civis não fizeram, os militares decidiram fazer e com isso não ficaram sem a sua comunidade, sem o seu sistema de Inteligência.

Podemos dizer que essa atitude da alta gestão militar foi de grande valia, pois não se imagina qualquer corpo armado que não seja assessorado por produção de conhecimento.

Esta concepção é extremamente antiga, pois data de 500 a.C. a obra do general chinês Sun-Tzu, denominada “Tratado Sobre a Arte da Guerra”, na qual inúmeras passagens deixam clara a necessidade do emprego da atividade de inteligência no assessoramento ao processo decisório (SIMÕES FILHO, 2010).

Ao se remontar o sistema de inteligência específico para as Forças Armadas, os militares estabeleceram focos e formas específicos de atuação, pois se encontravam em outro cenário, o cenário democrático.

Segundo Guarizo (2010):

A Inteligência Militar, por ser um tema voltado mais especificamente para as Forças Armadas e de interesse direto dos Comandantes em todos os níveis, a sua conceituação serve tão somente para estabelecer diferenças e estimular comparações em relação à “Inteligência Estratégica de Defesa”, esta sim desenvolvida no âmbito do Departamento de Inteligência Estratégica/Ministério da Defesa.

Criado pela Portaria n° 295, de junho de 2002, indica que o Departamento de Inteligência Estratégica (DIE) do Ministério da Defesa fica estabelecido como sendo seu órgão central, representado no SISBIN e no Congresso Nacional.

Neste novo contexto, a produção de conhecimento de inteligência continua sendo a grande ferramenta de assessoramento do comando, que já está nas mãos de civis, no caso do Ministério da Defesa, pois este órgão será o encarregado de formular as políticas e estratégicas nacionais de defesa.

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Guarizo (2010) continua seu raciocínio afirmando que:

Pela conceituação acima, podemos afirmar que os trabalhos de Inteligência realizados no âmbito do Ministério da Defesa, mais especificamente no DIE, visam, sobretudo, e tendo como produto nobre o Planejamento Político Estratégico de Defesa e o assessoramento ao Senhor Ministro, para subsidiar a elaboração da Política e da Estratégia Militar de Defesa.

O Brasil é um país declaradamente pacífico, inclusive está expresso na Constituição Federal de 1988, como princípio que rege suas relações internacionais, a não utilização de força para solução de conflitos, mais precisamente no art. 4°, assim descrito:

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

I - independência nacional;

II - prevalência dos direitos humanos;

III - autodeterminação dos povos;

IV - não-intervenção;

V - igualdade entre os Estados;

VI - defesa da paz;

VII - solução pacífica dos conflitos;

VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;

IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;

X - concessão de asilo político. (grifo nosso).

Além disto, a própria Estratégia Nacional de Defesa, aprovada pelo Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008, assim esclarece:

O Brasil é pacífico por tradição e por convicção. Vive em paz com seus vizinhos. Rege suas relações internacionais, dentre outros, pelos princípios constitucionais da não-intervenção, defesa da paz e solução pacífica dos conflitos. Esse traço de pacifismo é parte da identidade nacional e um valor a ser conservado pelo povo brasileiro.

Porém, mesmo tendo suas relações internacionais regidas pelo princípio do não conflito, é fundamental a existência de um serviço de inteligência apto a produzir conhecimentos estratégicos e táticos em diversos campos. Isso porque o Brasil, além de estar em harmonia com as grandes potências econômicas mundiais, objetiva a conquista de um acento no Conselho de Segurança da ONU.

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Para tanto, o Brasil tem empregado um grande contingente de militares nas chamadas forças de paz, as quais, sem sombra de dúvida, precisam estar pautadas por conhecimento produzido.

Ainda buscando embasamento na Estratégia Nacional de Defesa, o Decreto nº 6.703 expressa:

A exatidão é o princípio fundamental da Inteligência Militar. Por meio da Inteligência, busca-se que todos os planejamentos – políticos, estratégicos, operacionais e táticos – e sua execução desenvolvam-se com base em fatos que se transformam em conhecimentos confiáveis e oportunos. As informações precisas são condição essencial para o emprego adequado dos meios militares.

Segundo Guarizo (2010), a produção de conhecimento estratégico das Forças Armadas tem como foco prioritário o Atlântico sul para a produção de conhecimento de inteligência.

Em especial sobre assuntos como “objetivos nacionais”, “política externa”, “atividades industriais”, “movimentos de conflitos sociais que afetam a estabilidade”, assuntos como pesquisa tecnológica, particularmente as que se ferem ao campo militar, engenharia naval e sistema de defesa.

Desta forma, podemos concluir que a atividade de inteligência desenvolvida pelo subsistema de inteligência de defesa, visa, antes de mais nada, a assessorar o Comando acerca das potencialidades inimigas, nossas vulnerabilidades e eventuais oportunidades, sempre na missão de proteger a soberania nacional.

Por fim, nas próprias palavras da Estratégia Nacional de Defesa, Decreto nº 6.703, buscamos inspiração suficiente para estabelecer medidas a serem tomadas em tempo de paz:

Serão desenvolvidas atividades permanentes de inteligência, para acompanhamento da situação e dos atores que possam vir a representar potenciais ameaças ao Estado e para proporcionar o alerta antecipado ante a possibilidade de concretização de tais ameaças. As atividades de inteligência devem obedecer a salvaguardas e controles que resguardem os direitos e garantias constitucionais.

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A política nacional de inteligência

Quando tentamos caminhar pelas atribuições dos sistemas e subsistemas de inteligência precisamos, necessariamente, revisar a Lei n° 9.883, de 7 de dezembro de 1999.

Esta lei cria o Sistema Brasileiro de Inteligência, especificamente o que determinam os artigos 5º e 6º, § 1°:

Art. 5º A execução da Política Nacional de Inteligência, fixada pelo Presidente da República, será levada a efeito pela ABIN, sob a supervisão da Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Conselho de Governo.

Parágrafo único. Antes de ser fixada pelo Presidente da República, a Política Nacional de Inteligência será remetida ao exame e sugestões do competente órgão de controle externo da atividade de inteligência.

Art. 6º O controle e fiscalização externos da atividade de inteligência serão exercidos pelo Poder Legislativo na forma a ser estabelecida em ato do Congresso Nacional.

§ 1º Integrarão o órgão de controle externo da atividade de inteligência os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, assim como os Presidentes das Comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

A Política Nacional de Inteligência é fixada pelo Presidente da República, após exame a deliberação do órgão competente para controle externo como anteriormente visto.

Apesar de os dispositivos acima citados terem sua finalidade precípua nas diretrizes da atividade de inteligência da ABIN, por se referir ao SISBIN tal dispositivo será referência para outros subsistemas de inteligência.

Em 18 de fevereiro de 2009 foi criado o Comitê Interministerial para elaboração da Política Nacional de Inteligência (PNI), por meio de Decreto presidencial.

O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República criou um grupo de trabalho por meio da Portaria nº 12, de 18 de março de 2009, fundamentado no artigo 3º do supracitado Decreto.

Este grupo de trabalho teve os seguintes objetivos específicos:

a. apresentar a proposta de política nacional de inteligência;

b. identificar interesses e ameaças a população e o Estado;

c. reavaliar o SISBIN;

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Do trabalho deste grupo foram identificadas 11 ameaças:

a. espionagem;

b. sabotagem;

c. interferências externas;

d. ações contrárias à soberania nacional;

e. ataques cibernéticos;

f. terrorismo e seu financiamento;

g. atividades ilegais utilizando bens de uso dual e tecnologias sensíveis;

h. armas de destruição em massa;

i. criminalidade organizada;

j. corrupção; e

k. ações contrárias ao Estado Democrático de Direito.

No texto mensagem que o grupo encaminhou ao Congresso Nacional, em especial a comissão mista que atua como fiscalização externa da atividade de inteligência, constartam premissas extremamente importantes com sinais de evolução da atividade.

Premissas de como buscar mecanismos de transparência da atividade em que se estabeleçam os objetivos e limites da atividade, irrestrita observância à Constituição da República e ao ordenamento jurídico.

Por fim, a proposta encaminha pela PNI indica que se faz necessária a existência dentro do SISBIN de quatro subsistemas de inteligência:

• inteligência de Estado;

• de defesa;

• de segurança pública; e

• econômico-financeira.

Atualmente, a PNI tramita na comissão mista do Congresso Nacional.

Referências

BRASIL. Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008. Aprova a Estratégia Nacional de Defesa, e dá outras providências. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6703.htm>. Acesso em: 10 mar. 2011.

* Sugestão: colocar

NUMERAÇÃO no lugar

de letras.

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Atribuições e estratégias de atuação em ações de inteligência

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ENCONTRO DE ESTUDOS: Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI (Brasília : 3. : 2004). III Encontro de Estudos: Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI. Brasília: Gabinete de Segurança Institucional; Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais, 2004.

FEITOZA, Denílson. Apresentação. In: GONÇALVES, Joanisbal Brito. Atividade de inteligência e legislação correlata. Niterói: Impetus, 2009. (Série Inteligência, Segurança e Direito)

GONÇALVES, Joanisval Brito. Inteligência: escopo e categorias. In: _____. Atividade de Inteligência e legislação correlata. Niterói: Impetus, 2009.

GUARIZO, José dos Santos. Trabalho de conclusão de curso de operações de inteligência de Estado. Revista Inteligência Operacional. Edição 2. Disponível em http://www.administradores.com.br/informe-se/producao-academica/sistema-de-inteligencia-de-defesa-sinde/3806/. Acesso em: 4 abr. 2011.

FERRO JÚNIOR, Celso Moreira Ferro. Inteligência e a gestão da informação policial: conceitos, técnicas e tecnologias definidos pela experiência profissional e acadêmica. Brasília: Fortium, 2008.

SIMÕES FILHO, Oscar Alves. Esboço histórico. In:____. Inteligência policial, informação e gestão do conhecimento na segurança pública. Palhoça: UnisulVirtual, 2010.

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As estratégias de atuação Geovaldri Maciel Laitartt

Parece-nos que a atividade de inteligência merece uma releitura bastante profunda, pois constatamos nossos serviços de inteligência pautados por premissas e princípios incompatíveis com o Estado Democrático de Direito.

Os direitos e garantias fundamentais devem ser respeitados, em especial a dignidade da pessoa humana. Desta forma, é necessário que tais serviços se justifiquem por meio de resultados pautados pelo respeito aos princípios constitucionais, para que a sociedade reconheça tais serviços como imprescindíveis à República.

Precisam ter metas e resultados palpáveis. É importante que os procedimentos e técnicas sejam regulamentadas para que se obtenha o princípio da legalidade.

É preciso que os resultados sejam visíveis, embora com algum arcabouço legal embasando sua atuação. A atividade de inteligência precisa se legitimar, o que somente ocorrerá com o aval social acerca de métodos e resultados.

É o que ousamos nominar de justificativa Democrática da Atividade de Inteligência.

Enquanto não ocorre tal releitura, posto que não amadurecemos o suficiente para tanto, duas estratégias se revelam como exequíveis pelas próprias agências, sem depender de grandes providências legislativas.

A primeira delas é a que visa a tornar a produção de conhecimento de inteligência, tanto estratégica como tática, minimamente integrada e, consequentemente, eficiente, ou seja, é a atuação da atividade de inteligência dentro de um sistema.

Importante!O termo integração das agências de inteligência, diante da independência dos órgãos, em especial aos imperativos do Pacto Federativo, pressupõe autonomia não hierarquizada. Sem segregações ou discriminações, todos interagindo e com os mesmos direitos. O termo integração precisa significar “ser participante, ser considerado, fazer parte de”. O verbo integrar provém do latim integer (inteiro) e a sua tradução dá um sentido de ação, através da qual as partes se formam de um todo e de alguma forma desaparecem nesse conjunto.

* a sinopse presente

no doc foi retirada

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A segunda é o foco de atuação de produção de conhecimento que vise ao estrangulamento financeiro das organizações criminosas. Desta forma, teremos a produção e proteção de conhecimento de inteligência estratégica e tática totalmente integrada, universal, uníssona em nosso país.

É fundamental que possamos estabelecer de alguma forma a unidade da atividade de inteligência, pois diversos cenários apontam para situações em que é imprescindível um sistema de inteligência irretocável do ponto de vista técnico-sistêmico.

Isso não somente pelos aspectos econômicos em que nosso país se insere, pela biodiversidade, pela tecnologia de prospecção de petróleo em águas profundas, pelo biocombustível, entre outras questões estratégicas.

Mas também pelo cenário em que o Brasil estará participando com a realização de eventos como a Copa do Mundo de futebol em 2014, bem como o maior evento esportivo do planeta, os Jogos Olímpicos de Verão. Neste último são esperados mais de 10.500 atletas, de cerca de 205 nações, além de milhares de profissionais de imprensa, de apoio, apaixonados pelo esporte e turistas de todos os cantos do globo (dados obtidos do site <http://www.rio2016.com.br/os-jogos/o-evento>, acesso em: 4 abr. 2011).

Atuação em lógica sistêmica

O grande ponto de contato entre todas as agências de inteligência é a necessidade de trabalhar efetivamente dentro de um sistema. Trabalhar de forma integrada é a grande estratégia de sucesso para qualquer produção de conhecimento que seja abrangente e completa.

Internacionalmente, um grande exemplo de trágica consequência foi o atentado terrorista ao World Trade Center em Nova York, EUA, em 2001, no qual morreram mais de três mil pessoas, após extremistas integrantes da rede terrorista Al-Qaeda terem sequestrado e arremessado dois aviões comerciais sobre as torres gêmeas.

É de conhecimento comum que as agências de inteligência norte-americanas tinham produzido o conhecimento necessário para se evitar o atentado.

Porém, por falta de atuação sistêmica, o conhecimento produzido por cada agência envolvida, em torno de 15 agências, reproduzira o conhecimento parcial sobre o atentado, não sendo o suficiente para impedi-lo.

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É muito comum ouvir das autoridades que as grandes necessidades das agências de inteligência são os recursos financeiros e o treinamento.

O exemplo citado demonstra claramente que por mais que tenhamos muitos recursos (30 bilhões de dólares é o orçamento somente de uma agência norte-americana de inteligência responsável pela produção de satélite, segundo reportagem da revista SuperInteressante (n. 171, 2001), treinamento e tecnologia se não estivermos operando em um verdadeiro sistema nunca produziremos um conhecimento de inteligência suficientemente completo.

Com toda a tecnologia, com todos os recursos financeiros disponíveis, treinamento constante e continuado, experiência em conflitos armados de toda a natureza, mesmo assim não foi possível evitarem o atentado. O que lhes faltou foi integração sistêmica.

Após esse evento, muitas providências foram tomadas no âmbito do sistema de inteligência norte-americano. Foram criadas agências específicas, aumentado o orçamento para a atividade de inteligência, mas, infelizmente, houve um retrocesso nas liberdades civis no país, que era considerado um exemplo de democracia à proteção ao cidadão.

Vamos observar exemplos em território nacional, pois temos inúmeros por aqui:

• O que vocês diriam sobre a produção de conhecimento de inteligência sobre o tráfico de seres humanos em nosso país?

• Ou sobre os homicídios com natureza de serial?

• Ou sobre as vulnerabilidades dos sistemas de energia elétrica de sua região?

• Do tráfico de drogas?

• Sobre a Amazônia?

• Sobre o pré-sal?

• Sobre nosso biocombustível?

• Sobre tráfico de drogas? De armas?

• Sobre roubo a bancos?

• Sobre fraudes em licitações públicas?

Enfim, é evidente que nossas agências de inteligência ainda não funcionam dentro de um sistema, muito menos de forma integrada. Na verdade, temos partes operando de forma individual e quando, eventualmente, há algum interesse da própria agência, ocorre o compartilhamento da informação.

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Atribuições e estratégias de atuação em ações de inteligência

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Em nada se mostra relevante o nome que se dê à determinada estrutura ou instituto, não basta chamá-lo de sistema, de subsistema, se, na verdade, trata-se de unidades estanques que compartilham somente o que lhes interessa, em que o foco não está no sistema, mas sim na unidade.

Assim se revela a primeira premissa sistêmica, a qual nos remete ao entendimento de que o foco de funcionamento deve ser o todo e não a unidade.

A lógica egoística atualmente em voga nas instituições tem relação direta com os tipos de relação de poder que se estabelecem dentro das instituições, em que as disputas por espaço e reconhecimento pessoal se sobrepõem à afetividade do sistema.

No sentido de se estabelecer um mecanismo verdadeiro de integração, Ferro Júnior (2008, p. 31) afirma que:

Está evidente que o desempenho investigativo de organizações policiais precisa ser melhorado. Isto pode ser processado por meio da inclusão de uma nova mentalidade dos dirigentes na Inteligência da Organização, de uma melhor associação do homem com a máquina e do uso de tecnologias que permitam criar um modelo organizacional em rede de conhecimento. Nessas redes, todos os componentes e atores são disseminadores de informação, participam do processo de criação do conhecimento e funcionam como se fossem neurônios de um cérebro. (grifo nosso)

A questão chave dos sistemas de inteligência é a capacidade de eliminar os crivos pessoais e a centralização de tomada de decisão sobre o que difundir e para quem. Enquanto qualquer sistema depender de autorização para difusão de informações dentro de si mesmo, pode-se chamar de qualquer coisa, menos sistema.

Um bom exemplo que veremos mais adiante é o do Serviço Especial de Informações (SEI), da unidade de inteligência financeira do Brasil.

Não podemos nos esquecer ainda de todo o ordenamento jurídico administrativo que regulamenta as funções públicas. Nossa Carta Magna prevê, em seu artigo 37, os princípios da legalidade, impessoalidade, publicidade, moralidade e, por fim, o princípio da eficiência.

Em uma rápida análise poderíamos refletir a respeito do princípio da legalidade administrativa, o qual é unanimidade na doutrina nacional que tal princípio obriga ao servidor público somente a realizar ações previstas em lei, enquanto os particulares devem abster-se de praticar ações proibidas em lei.

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Nas palavras de Carvalho Filho (2006, p. 16), fica cristalino o modo de proceder a que se obriga todo o servidor público, em especial os que trabalham na atividade de inteligência, “o princípio da legalidade é certamente a diretriz básica da conduta dos agentes da Administração. Significa que toda e qualquer atividade administrativa deve ser autorizada por lei. Não o sendo, a atividade é ilícita” (grifo nosso).

Desta forma, em análise estrita, toda e qualquer ação das agências de inteligência são pautadas na lei, obrigando-nos a fundamentar todas as nossas ações, posto que, em tese, são atos administrativos.

Agindo assim, estaríamos em perfeita consonância com o Regime Democrático de Direito que hoje vigora. Teríamos, com certeza, mais legitimidade do que possuímos, pois uma regulamentação legal precisa, estrita, escrita, principalmente das técnicas operacionais de coleta e busca, revelaria os objetivos e principalmente os limites das atividades de inteligência.

Embora o princípio da legalidade nos salte aos olhos como preocupação latente, o princípio da eficiência, que está intimamente ligado à ideia de sistematização, é que precisa maior atenção por parte das agências de inteligência de segurança, pois é evidente que nossos sistemas de inteligência em geral são ineficientes, o que não é admissível no atual contexto constitucional como bem lembra Feitoza (2009, p. xx):

No Brasil, o princípio constitucional da eficiência (art. 37, caput, da Constituição da República) veda que o Estado trabalhe com essa “massa de informações” de forma meramente empírica, com desperdício de recursos humanos, materiais e financeiras. O Estado deve utilizar-se de métodos, técnicas e ferramentas adequados para lidar com as informações necessárias ao desempenho de suas finalidades constitucionais, superando a fase individualista e amadorística de seus agentes públicos e políticos e alcançando a racionalidade gerencial exigida pelo princípio da eficiência.

Assim, não existe outra forma de pensar atividade de inteligência que não seja sob o aspecto sistêmico, em homenagem ao princípio constitucional da eficiência, moralidade, impessoalidade, supremacia do interesse público, razoabilidade e proporcionalidade.

Podemos então nos perguntar: De que forma poderemos integrar os vários

órgãos, as várias agências, agências de Ministérios, agências de Estados

federados diferentes, agências dos Ministérios Público Federal e Estadual,

com atribuições funcionais diferentes, características regionais específicas,

objetivos e focos de produção de conhecimento diferentes?

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Atribuições e estratégias de atuação em ações de inteligência

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Quanto ao sistema ideal de integração da atividade de inteligência não ousarei influenciar suas conclusões. Todavia, uma certeza nos é derradeira: o sistema e subsistemas existentes hoje em nosso país não são eficientes, pois segmentam conhecimento, monopolizam informações e, por fim, não conseguem proteger o cidadão e a cidadania.

A conclusão muito semelhante chegou o Grupo de Trabalho instituído pela Portaria nº 12, de 18 de março de 2009, publicada no Diário Oficial da União nº 53, de 19 de março de 2009, à medida que estabelece as vulnerabilidades e formas de enfrentá-las, traçando assim algumas diretrizes, dentre elas a que assim se descreve:

8.5 Compartilhar dados e conhecimentos. O êxito de uma atuação coordenada depende do compartilhamento oportuno de dados e conhecimentos entre os diversos organismos estatais, observadas as características específicas da atividade de inteligência, em especial quanto aos usuários que a eles devem ter acesso. As missões e atribuições da Inteligência devem ser realizadas, sempre que possível, com a disponibilidade sistêmica de acesso a dados e conhecimentos entre os órgãos do SISBIN.

Faz-se oportuno que tenhamos uma ideia do significado do termo “sistema”, o qual está definido no Dicionário Aurélio (2004, p. 1856) como:

Conjunto de elementos, materiais ou ideais, entre os quais se possa encontrar ou definir alguma relação. Disposição das partes ou dos elementos de um todo, coordenados entre si, e que funcionam como estrutura organizada. Conjunto de órgãos, compostos dos mesmos tecidos, interligados, que funcionam com um propósito comum, e que produzem resultados impossíveis de se obterem por um só deles isoladamente.

Ainda, nesta mesma fonte, encontramos a definição de “sinergia” que compreende “ato ou esforço coordenado de vários órgãos na realização de uma função. Associação simultânea de vários fatores que contribuem para uma ação coordenada” (FERREIRA, 2004, p. 1852). Ou seja, a falta de sinergia, pode implicar mau funcionamento do sistema, vindo a causar a falha completa.

Penso que não estamos na fase da falha completa; todavia, as agências de inteligência nacionais estão trabalhando em sinergia baixa.

Isto decorre de duas questões que são faces de uma mesma moeda, quais sejam: a regulamentação de um Sistema Nacional de Inteligência, na acepção que exaustivamente tratamos aqui, em que todos são partes; e a solução de TICs, criando uma plataforma nacional de conhecimentos de inteligência (ou de dados e

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informações de inteligência).

Dessa forma, se faz necessário entendermos que os sistemas e subsistemas existentes hoje em nosso país são etapas de amadurecimento da atividade de inteligência. E são altamente necessárias, pois não podemos nos esquecer de que todo regime administrativo de proteção e limitações dos poderes do Estado são recentes.

Somente após a Carta Magna de 1988 é que começamos a delinear novas formas de desempenho institucional à medida que nosso foco também passou a ser outro.

É muito importante aproveitarmos os aspectos positivos de todas as iniciativas e os adaptarmos às necessidades tecnológicas do sistema.

No Brasil, temos várias iniciativas que tentavam estabelecer algum tipo de integração sistêmica, seja no âmbito das Forças Armadas, de segurança pública (Infoseg, por exemplo), além de outros de iniciativas estaduais.

Todos esses sistemas têm ferramentas muito importantes, todavia não respondem como se fossem um único Sistema Nacional de Inteligência, pois não são totalmente integrativos (há segmentação na alimentação e no acesso).

Outro ponto importante é que esses sistemas não são universais, pois os conhecimentos são incompletos, não são atuais (não há alimentação contínua e sistemática), não são totalmente seguros (na política de acesso controlado não há mecanismos de auditoria automática), não são impessoais (permitem o crivo do que disponibilizar e o que não disponibilizar). Esses são alguns itens que podemos citar no momento.

O que realmente nos importa nesta etapa de estudo é estabelecermos uma lógica de funcionamento deste sistema, a qual considera algumas premissas, tais como:

a. inexistência de monopólio de gestão;

b. ambiente rápido e amigável ao usuário;

c. hierarquia temática de acesso;

d. criptografia das informações transmitidas;

e. camadas de proteção contra acesso não autorizado;

f. registro dos logs de consultas e de alimentação;

g. identificação de consultas atípicas;

h. impossibilidade de exclusão de dados ou informações por usuário, somente por colegiado (entes federados);

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Atribuições e estratégias de atuação em ações de inteligência

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i. plataforma de análise de dados, com identificação de padrões diversos, como de voz, transações comerciais, econômicas entre outras;

j. dados criminais gerais e específicos;

k. cadastro de todos os serviços públicos, diretos, permitidos, autorizados ou sujeitos à fiscalização;

l. protocolo altamente eficaz de auditoria interna e externa, conjugado com sanções penais, civis e administrativas que realmente inibam qualquer transgressão;

m. programa de classificação do nível de cooperação das agências o qual condicione o repasse de todo e qualquer recurso de qualquer ente federado;

n. previsão de desclassificação à opinião pública mediante protocolo prévio;

o. toda produção formal de documentos de inteligência dentro do sistema, com código de segurança e armazenamento automático.

Enfim, os itens citados foram apenas alguns dos necessários para o funcionamento adequado do sistema.

Para a concepção de uma ferramenta tecnológica que atenda de forma efetiva o Sistema Nacional de Inteligência (SNI), torna-se imprescindível adotar uma política de gestão da informação e investirmos em desenvolvimento tecnológico nacional.

De uma maneira geral, podemos buscar inspiração na lógica adotada no programa do “governo eletrônico”, conforme citado por Ribeiro (2006, p. 27):

Governo Eletrônico é uma tendência global cujos esforços estão concentrados no desenvolvimento de políticas e definições de padrões em termos de Tecnologias de Informação e Comunicação (comumente chamadas de TICs), visando construir uma arquitetura interoperável a fim de munir os cidadãos com acesso a informações e serviços.

Esta iniciativa do governo eletrônico, doravante “e-governo”, tem por finalidade inicial dotar o governo de ferramentas hábeis a disponibilizar ao usuário as informações e serviços necessários ao exercício da cidadania. Isso se deve porque ficou constatado que inúmeros órgãos governamentais, ministérios e entes federados não tinham políticas de gestão da informação voltada a este fim.

Mas qual a relação do e-governo com a atividade de inteligência?

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Podemos identificar três itens gerais de produção de informação que estariam relacionados entre e-governo e a atividade de inteligência:

a. grande volume de informações;

b. elevado número de usuários governamentais dependentes;

c. inexistência de sistema de gestão do conhecimento.

A partir disto, podemos nos perguntar: Mas no que o e-governo poderá

ajudar, se os itens identificados são justamente questões a serem resolvidas?

O e-governo será modelo de plataforma comum de interoperabilidade.

Na busca de algo a agregar à lógica de determinado sistema nacional de inteligência, identificamos nas TICs a grande ferramenta para disponibilizar as especificações necessárias para produção e proteção do conhecimento e das informações de inteligência.

Neste sentido, Ribeiro (2006, p. 23) cita renomados autores que expressam:

Para Dantas (2004) e Gonçalves (2003), a integração de bases de dados é o primeiro passo rumo à Gestão do Conhecimento policial, isto é, à produção e ao compartilhamento de informações e de conhecimentos pelos órgãos envolvidos no combate ao crime organizado e à lavagem de dinheiro no Brasil, facilitando, inclusive, a implementação de acordos internacionais de cooperação. Atualmente, o intercâmbio de informações e de conhecimentos é exercido informalmente, isto é, através de componentes da comunidade de inteligência que trocam informações para potencializar suas investigações. Ações isoladas para intercâmbio de informações com outros países são realizadas no âmbito de ações judiciais específicas, ou quando celebrados acordos internacionais, inexistindo um fluxo contínuo de alimentação em âmbito mundial.

Aliando a ideia de inter-relação do e-governo com um sistema nacional de inteligência, Ribeiro (2006, p. 52) consigna que:

A Gestão do Conhecimento é compreendida, no âmbito das políticas de governo eletrônico, como um conjunto de processos sistematizados, articulados e intencionais, capazes de incrementar a habilidade dos gestores públicos em criar, coletar, organizar, transferir e compartilhar informações e conhecimentos estratégicos que podem servir para a tomada de decisões, para a gestão de políticas públicas e para inclusão do cidadão como produtor de conhecimento coletivo.

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Atribuições e estratégias de atuação em ações de inteligência

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Esse modelo de lógica tecnológica é muito similar ao que se busca para atividade de inteligência, permitindo a produção, o armazenamento, a pesquisa e o resgate de dados, informações ou conhecimentos produzidos ou manipulados de várias agências de inteligência de segurança diferentes.

Para Ribeiro (2006, p. 35), o que resulta em “[...] soluções de TICs que interagem entre si, constituindo uma cadeia de informações disponíveis para serem utilizadas em tempo real por esferas distintas, o que, sem dúvida, aprimora a qualidade dos serviços estatais e melhora o dia a dia da população” (grifo nosso).

Enfim, trata-se de um desafio que, por ser praticamente consensual dentro da comunidade de inteligência, com certeza muito em breve se tornará realidade. Isso tudo em prol do efetível, econômico e para um serviço público com qualidade.

Dantas, Ferro Junior e Moita (2009, p. 1) resumem assim o que foi dito até aqui

Com a Atividade de Inteligência instituída na sua mais ampla abrangência conceitual e prática, pari passu com a existência de uma estrutura tecnológica informacional capaz de permitir o mais rapidamente possível a obtenção, tratamento, distribuição e uso de grandes quantidades de dados e informações de fontes diversificadas, uma instituição policial pode potencializar sua capacidade de produção de conhecimento. Nesse processo, reduz (ou até mesmo idealmente extingue) a multiplicação desnecessária de atividades, também chamada redundância e, ao contrário, produz informação com significado relevante, função da convergência de dados e informações apenas aparentemente disjuntos em relação às fontes respectivas (fusão da informação). Ficam assim potencializadas ao máximo as ações de coleta e busca de maneira qualificada, no ciclo de produção de um conhecimento pertinente, efetivo e oportuno, para depois, disseminado propriamente, apoiar a tomada de decisão em nível estratégico e instrumentar as ações tático-operacionais institucionais.

Referências

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 15. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.

COMO FUNCIONAM OS SERVIÇOS SECRETOS DE INTELIGÊNCIA? Revista Super Interessante, São Paulo, n. 171, dez. 2001. Disponível em: <http://super.abril.com.br/tecnologia/como-funcionam-servicos-secretos-inteligencia-442517.shtml>. Acesso em: 25 abr. 2011.

RIO2016. O evento. Disponível em: <http://www.rio2016.com.br/os-jogos/o-evento>. Acesso em: 4 abr. 2011.

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BRASIL. Congresso Nacional. Mensagem Ministerial nº 198 de 2009 – CN. Proposta da Política Nacional de Inteligência, encaminhada pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da República. DSF 15 dez 2009.

FEITOZA, Denílson. Apresentação. In: GONÇALVES, Joanisbal Brito. Atividade de inteligência e legislação correlata. Niterói: Impetus, 2009. (Série Inteligência, Segurança e Direito)

FERRO JÚNIOR, Celso Moreira Ferro. Inteligência e a gestão da informação policial: conceitos, técnicas e tecnologias definidos pela experiência profissional e acadêmica. Brasília: Fortium, 2008.

DANTAS, George Felipe de Lima; FERRO JÚNIOR, Celso Moreira; MOITA, Adelson Silva. A inteligência tecnológica policial: uma visão estratégica interinstitucional. In: KRIEGER, César Amorim (org.). Inteligência - estratégia de segurança pública. Palhoça: UnisulVirtual, 2009. 176 p.

RIBEIRO, Érica Bezerra Queiroz. A gestão do conhecimento como referência de avaliação do uso de tecnologias de informação e comunicação no sistema de inteligência da segurança pública e no controle de gastos públicos no Brasil. 2006. 88p. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação). Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.

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Atribuições e estratégias de atuação em ações de inteligência

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Estratégia de enfrentamento ao crime organizado

Geovaldri Maciel Laitartt

A atuação sistêmica da atividade de inteligência é internacionalmente concebida como a grande estratégia para alcançar o mínimo de eficiência na produção de conhecimento de inteligência. Ao lado desta estratégia existe a do enfrentamento ao crime organizado.

Esta estratégia de atuação da atividade de inteligência tem seu fundamento centrado na grande lesividade que tais organizações imprimem ao Estado e na sociedade de uma forma geral.

Assim, faz-se necessário seu enfrentamento pelas instituições encarregadas da aplicação da lei. Todavia, embora haja grandes esforços institucionais neste enfrentamento, o que se percebe é um insucesso nos resultados obtidos.

Visualizando as ações, inclusive mundiais, verificamos que este mau resultado ocorre porque o foco de atuação durante muito tempo estava simplesmente voltado para fatores não cruciais da organização criminosa, tais como pessoas e objetos do crime.

Constatou-se que para enfrentar o tráfico de drogas as atenções não poderiam estar concentradas exclusivamente nos traficantes que, em regra, são pessoas socialmente vulneráveis, porque, à medida que são encarcerados, outros os substituem rapidamente. Assim, não se resolvia o problema do tráfico e ainda se acentuava o problema de gestão carcerária.

Exemplo:Para entendermos melhor, podemos exemplificar com a atuação criminosa no ramo de tráfico de drogas, uma vez que se trata de um dos grandes problemas sociais da atualidade, pois, além da violência que irradia da simples traficância, somos atingidos por efeitos colaterais os mais diversos, tais como:

a. furtos e roubos para financiar o vício;

b. custo hospitalar com acidentes provocados pela condução de

veículos sob o efeito de substâncias entorpecentes;

c. guerra entre facções criminais;

d. corrupção;

e. gerações perdidas no consumo de drogas, entre tantos outros.

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Especificamente no tráfico de drogas, é necessária a atuação da atividade de inteligência na produção de conhecimento tanto tático quanto estratégico, uma vez que as tradicionais técnicas de investigação não fazem frente a esta espécie de conduta.

Esse conhecimento, todavia, não poderá estar centrado única, exclusiva e prioritariamente na apreensão da droga e na prisão de traficantes.

Por quê? Por que não priorizarmos tais elementos?

A resposta a esta indagação reveste-se justamente na grande estratégica de atuação da atividade de inteligência que abordaremos aqui.

Precisamos entender que o tráfico de drogas, de armas, a fraude em licitações, o desvio de recursos públicos, entre tantos outros crimes, são condutas ilícitas praticadas por organizações que concebem tais situações do ponto de vista eminentemente comercial, contabilizando previamente a perda de algum carregamento, até a prisão de algum transportador.

Se atuarmos exclusivamente nesses fatores, acabaremos criando mais conflitos, geraremos mais violência, porque, na visão comercial dessas organizações, eles precisam recuperar o que foi perdido na atuação Estatal. Mas como fazem isto?

Veja bem, como se trata de um fenômeno eminentemente comercial, podemos traçar um paralelo com o comércio de um produto qualquer.

Pense em você como um produtor de arroz, por exemplo. Quando você escolhe produzir arroz é porque tem um mercado consumidor, que lhe dará lucro. Assim, você planeja os processos e organiza os fatores de produção: escolhe o local do plantio, prepara a terra, planta, cultiva, colhe, processa, armazena, transporta e, finalmente, entrega seu produto.

Todo este processo é muito oneroso para um produto que é lícito, imagine no caso de drogas, este custo é gigantesco.

Então, depois de todo seu trabalho com as citadas fases de produção, ao transportar sua mercadoria, por algum motivo você acaba perdendo esta carga que hipoteticamente é uma tonelada de produto.

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• Qual sua providência para recuperar o que perdeu?

• Como pagar os salários dos funcionários que plantaram, que colheram, que transportaram e que fizeram a segurança?

• E se houve adiantamento pelo comprador para financiar a produção?

• E seu lucro?

Provavelmente, uma das medidas para saldar os compromissos contraídos com a produção de uma tonelada de mercadoria será produzir duas toneladas.

Assim, se apreendermos uma tonelada de cocaína, com certeza os traficantes serão forçados a colocar mais produto no mercado para compensar seu prejuízo e manter o seu lucro esperado. Sem contar que o preço da droga sobe, pois, como produto comercial, está sujeito à universal lei da oferta e procura.

Importante!É importante que fique claro que não estamos afirmando que não devemos nos preocupar com a apreensão da drogas, mas sim que ao fazê-la exclusivamente não resolveremos o problema social, não amenizaremos as tensões, não cumpriremos nossas funções institucionais, que é deixar a vida das pessoas mais fácil, mais tranqüila. Não poderemos proporcionar a tão sonhada paz, pelo contrário, estaremos fomentando a reprodução de um modelo de violência que há décadas já se mostrou totalmente ineficaz!

Outro ponto relevante para se entender a moderna estratégia de enfrentamento ao crime organizado é o que se refere ao encarceramento de pessoas.

O encarceramento tem seu fundamento legal e axiológico na possibilidade de preservar a ordem pública por meio das funções que a pena teoricamente traria. Tais funções são a prevenção especial e a geral.

A primeira delas pretende que aquele que se vê preso tenha a reprimenda de sua conduta, tendo a oportunidade de se ressocializar durante o cumprimento da pena, bem como intimidado a não voltar a delinquir.

Sobre o tema Bitencourt (1999, p. 109) refere que:

A teoria da prevenção especial procura evitar a prática do delito, mas ao contrário da prevenção geral, dirige-se exclusivamente ao delinqüente em particular, objetivando que este não volte a delinqüir.

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Na segunda função teríamos a prevenção geral, que se volta ao público em geral que se sentirá intimidado a cometer crimes, pois visualizam as possíveis consequências.

Bitencourt (1999, p. 112) sobre essa questão afirma que:

A prevenção geral fundamenta-se em duas idéias básicas: a idéia da intimidação ou da utilização do medo, e a ponderação da racionalidade do homem. Esta teoria valeu-se dessas idéias fundamentais para não cair no terror e no totalitarismo absoluto.

Ocorre que o sistema penal é seletivo, pois não atinge aquelas pessoas que têm condições de custear bons advogados, sendo sempre encarceradas pessoas com perfil de maior vulnerabilidade.

Além do mais, naqueles crimes com maior violência, o encarceramento do sujeito faz parte da atividade criminal, já está computado nos riscos que corre. É muito comum ouvir de pessoas sob a custódia do Estado, no momento de sua prisão, que “estão voltando para casa”.

Isto tudo sem contar o tempo de cumprimento de pena. Se alguém entender que a solução está no cumprimento de pena privativa de liberdade, procurem calcular a pena de um réu primário preso por tráfico internacional de drogas. Você ficaria surpreso.

Sem mencionar que nosso sistema carcerário não recupera o sujeito preso, por isso acaba se tornando uma escola do crime.

Assim, podemos entender que a pena não previne, não diminui a violência, só alcança os mais vulneráveis, que a grande finalidade das organizações criminosas não é a liberdade de seus membros e que não lhes interessa a droga em si, mas que a grande questão neste caso é auferir ganhos financeiros.

Neste contexto, no que a atividade de inteligência pode contribuir?

É justamente com a estratégia do estrangulamento financeiro do crime.

É sabido que a grande finalidade de crimes desta natureza como os aqui citados é o acúmulo de recursos financeiros, o lucro.

Nesse sentido é o que leciona o juiz federal José Paulo Baltazar Júnior, no artigo “Aspectos gerais sobre o crime de lavagem de dinheiro” (2007, p. 27):

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Atribuições e estratégias de atuação em ações de inteligência

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O crime, visto como transgressão de uma regra, é fenômeno social, e é cometido por um motivo que poderá ser o ódio pessoal ou racial, a raiva momentânea, a honra, a cupidez, o poder, ou o lucro. É esse último, em geral, o móvel das organizações criminosas, daí por que se dedicam ao fornecimento de bens ou serviços proibidos, como drogas, jogo, contrabando, comércio de veículos e de cargas roubadas, falsificação e prostituição.

Como se não bastasse o fato de as instituições estatais, em regra, não focarem suas ações no estrangulamento financeiro dessas organizações criminosas e nos crimes em geral, tais grupos utilizam seus recursos potencializando suas ações criminais à medida que, com o poder econômico, multiplicam-se as oportunidades de influir no ambiente em que vivem.

É neste aspecto que Baltazar Júnior (2007, p. 28) novamente elenca algumas aplicações ou destinos utilizados pelos criminosos quando da obtenção de recursos financeiros do crime.

No específico âmbito da criminalidade organizada, o grande volume de dinheiro obtido permite as organizações: a) O exercício da influência sobre os servidores públicos encarregados de coibi-las corrompendo policiais, promotores, fiscais, juízes e políticos; b) A oferta de prestações sociais à população menos favorecida, granjeando simpatia e proteção; c) A contratação de profissionais para o auxílio nos processos de lavagem, como contadores, advogados e conselheiros financeiros; d) A conivência de instituições financeiras, interessadas nos lucros provocados por polpudas aplicações; e) O apoio a campanhas políticas; f) O reinvestimento em atividades lícitas, dificultando a separação da origem dos lucros.

A estratégia de enfrentamento ao crime organizado baseada no estrangulamento financeiro dessas organizações teve origem no enfrentamento norte-americano ao crime organizado, especificamente nas organizações sob o comando de Al Capone.

É neste sentido que Laitartt (2007, p. 11) afirma que:

O mais corrente entre os autores é a associação do termo Lavagem de Dinheiro ao método que era utilizado nos Estados Unidos, na década de 20 do século passado, pela Organização Criminosa chefiada por Al Capone ocasião em que foi montada uma rede de lavanderias para dissimular a origem dos ganhos com o contrabando de bebidas. Diga-se de passagem, que Al Capone só foi preso graças a uma investigação financeira do FBI que o enquadrou em sonegação de impostos federais (imposto de renda).

Durante a infrutífera luta norte-americana contra o tráfico de drogas, sempre centrada na prisão e apreensão de drogas, notaram que a grande estratégia de enfrentamento seria o estrangulamento financeiro.

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Além disso, notaram também que as organizações passaram a utilizar artifícios que dificultavam a investigação das autoridades, em especial, remetiam ao exterior os ganhos de seus crimes.

Foi este contexto mundial que levou as Nações Unidas em 1988 a aprovar a convenção contra o tráfico de entorpecentes, conforme evidencia Laitartt (2007, p. 12):

Como os reflexos das ações do crime organizado, que passaram a ter escala mundial, a ONU em 1988 aprovou em Viena Convenção das Nações Unidas Contra o Tráfico Ilícito de Estupefacientes e Substâncias Psicotrópicas, em que se estabelece a tipificação de Lavagem de Dinheiro como estratégia de combate ao Crime Organizado, sendo a primeira a tratá-la com autonomia. Neste mesmo ano, no âmbito do G7, foi criada uma espécie de força tarefa internacional denominada Grupo de Ação Financeira sobre o Branqueamento de Capitais - GAFI.

O Brasil, como signatário de tal Convenção, obrigou-se a legislar sobre o tema e, embora tenha demorado em torno de dez anos para isto acontecer, em 1998 publicou a Lei n° 9.613. A lei que tipificou o crime de lavagem de dinheiro criou a unidade de inteligência financeira do Brasil, e estabeleceu alguns mecanismos que melhoraram a persecução penal dessas condutas, foi imposição internacional.

Sobre isso Baltazar Júnior (2007, p. 15) refere que

A Lei 9.613, de 03.03.98, conhecida como Lei de Lavagem de Dinheiro, resulta de compromisso assumido pelo Brasil com a comunidade internacional ao firmar a Convenção contra o Tráfico Ilícito de Substâncias Psicotrópicas, conhecida como Convenção de Viena, de 20.12.88, referendada pelo Brasil em 1991 (Decreto 154, de 26.06.91, DOU 27.06.91, aprovada pelo Decreto Legislativo 162, de 14.06.91, DOU 17.06.91).

Essa legislação estabeleceu importantes ferramentas para instrumentalizar a produção de conhecimento de inteligência, tanto estratégica quanto tática. Em especial, a criação da Unidade de Inteligência Financeira do Brasil.

O artigo 14 dessa Lei estabelece que:

É criado, no âmbito do Ministério da Fazenda, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF, com a finalidade de disciplinar, aplicar penas administrativas, receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas previstas nesta Lei, sem prejuízo da competência de outros órgãos e entidades.

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Atribuições e estratégias de atuação em ações de inteligência

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O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) constitui-se a unidade de inteligência financeira que recebe as comunicações de atividades financeiras atípicas.

O COAF, ao receber tais comunicações, realiza um processo de produção de conhecimento de inteligência financeira, e, ao concluí-lo, havendo indícios da ocorrência de crimes, o Conselho remete um relatório de inteligência financeira ao Ministério Público e à polícia.

Não havendo indícios, esta comunicação de atividade atípica é arquivada e fica disponível para consulta posterior.

O sistema que inicialmente processa a comunicação suspeita é chamado de SISCOAF, e o sistema que permite o acesso às comunicações atípicas é o SEI.

Tanto o SISCOAF como o SEI são grandes exemplos de sistemas que entendemos serem os melhores hoje no Brasil no que se refere à transmissão de dados sigilosos, processamento e produção de conhecimento de inteligência. A partir deles, a difusão do conhecimento, seu armazenamento e a posterior consulta são procedimentos realizados de maneira impessoal, com controle digital, pois não há trâmite de papel.

Cada comunicação atípica é analisada por dois analistas distintos que não sabem um do outro. Somente o presidente do COAF, ao receber os dois relatórios é que tem conhecimento de quais analistas produziram os relatórios.

Assim, cabe ao presidente tão somente concordar ou discordar das avaliações dos analistas, e dar o respectivo encaminhamento ao relatório de inteligência financeira produzido, sendo registrado tudo no sistema para eventual auditoria futura.

Cabe salientar que o COAF integra o Grupo de Egmont, que é um sistema de intercâmbio de informações entre as unidades de inteligência financeira de outros países.

A grande lógica da estratégia de estrangulamento financeiro das organizações ou grupos criminosos é, sem dúvida, muito facilitada com a tipificação do crime de lavagem de dinheiro anteriormente visto e a criação do COAF, pois estas ferramentas nos possibilita alcançar o patrimônio ilícito.

Além da Lei n° 9.613, também identificamos na Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, que trata de atos de improbidade administrativa, alguns mecanismos de alcance do patrimônio obtido de maneira ilícita por servidores políticos ou servidores públicos, pois seus artigos 5º e 6º assim determinam:

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Art. 5º Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano.

Art. 6º No caso de enriquecimento ilícito, perderá o agente público ou terceiro beneficiário os bens ou valores acrescidos ao seu patrimônio.

Desta forma, percebemos a importância da produção de conhecimento de inteligência no enfrentamento ao crime organizado, o qual lamentavelmente estabelece uma simbiose com a corrupção, pois esta somente é a marca daquela, e aquele só existirá com a influência desta.

Já o art. 7º da mesma lei estabelece que “Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá à autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado”.

Agora imagine como o Ministério Público irá representar pela indisponibilidade de bens do indiciado se não conhece quais são os bens dele?

Vejamos, os bens do indiciado, não somente aqueles que estejam em nome do indiciado, pois uma das providências básicas de quem aufere recursos ilicitamente é tentar escondê-lo. Quer dar aparência lícita a bens oriundos de crime é não colocar em seu nome.

Aí mais uma vez vislumbramos a atividade de inteligência produzindo conhecimento para demonstrar o que efetivamente pertence ao investigado, conseguindo assim o resultado útil do processo, que no caso é o ressarcimento dos prejuízos provocados ao erário.

Na mesma esteira da estratégia de enfrentamento de grupos criminosos buscando seu estrangulamento financeiro, contamos com a Lei n° 11.343, de 23 de agosto de 2006, que em seu art. 60 nos instrumentaliza com outro mecanismo para dar efetividade à estratégia aqui descrita:

Art. 60. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da autoridade de polícia judiciária, ouvido o Ministério Público, havendo indícios suficientes, poderá decretar, no curso do inquérito ou da ação penal, a apreensão e outras medidas assecuratórias relacionadas aos bens móveis e imóveis ou valores consistentes em produtos dos crimes previstos nesta Lei, ou que constituam proveito auferido com sua prática, procedendo-se na forma dos arts. 125 a 144 do Decreto-Lei n° 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal.

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Atribuições e estratégias de atuação em ações de inteligência

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Esta estratégia de enfrentamento também possui sua instrumentalização no próprio Código Penal (artigo 91), que estabelece os efeitos automáticos da sentença penal condenatória bem como no Código de Processo Penal (artigo 125) quando prevê mecanismos de garantia processual.

Considerando o que vimos sobre as ferramentas legais disponíveis para a produção de conhecimento de inteligência, visando à estratégia de enfrentamento ao crime com foco no estrangulamento financeiro dos grupos, é preciso lembrar que a par deste foco temos a possibilidade de reverter ao próprio órgão público todos os bens e valores que tiveram seu perdimento decretado.

Diante de contexto sociocriminal apresentado, aliado aos mecanismos legais que demandam a utilização da metodologia de produção de conhecimento de inteligência para instrumentalizar as agências encarregadas da aplicação da lei, ou mesmo as agências que tenham inclinação à prevenção da corrupção interna ou externa, não nos restam quaisquer dúvidas acerca da necessidade do enfoque da atividade de inteligência no estrangulamento financeiro dos grupos ou organizações criminosas.

Assim, é imprescindível que as agências de inteligência de segurança de nosso país estabeleçam como estratégias básicas a atuação sistêmica e o enfrentamento ao crime organizado com foco no estrangulamento financeiro.

Para potencializar tais estratégias será necessário extrapolar as fronteiras de nosso Estado e de nosso país e estabelecer mecanismos de cooperação internacional no que se refere à atividade de inteligência.

Referências

BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo; MORO, Sérgio Fernando (org.). Lavagem de dinheiro – comentários à lei pelos juízes das varas especializadas em homenagem ao Ministro Gilson Dipp. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. 199 p.

BRASIL. Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992. Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 3 jun 1992. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8429.htm>. Acesso em: 25 abr. 2011.

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Pós-graduação

BRASIL. Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998. Dispõe sobre os crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 mar 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L9613.htm>. Acesso em: 25 abr. 2011.

BRASIL. Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 ago 2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm>. Acesso em: 25 abr. 2011.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal: parte geral. 5. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: RT, 1999.

LAITARTT, Geovaldri Maciel. A lavagem de dinheiro praticada por organização criminosa. 2007. 46 f. Monografia (Especialização em Ciência Jurídica). Universidade Cândido Mendes, Brasília, 2007.

MAIA, Rodolfo Tigre. Lavagem de dinheiro. São Paulo: Malheiros, 1999.

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Atribuições e estratégias de atuação em ações de inteligência

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Autoaprendizagem

A partir do que você estudou nessa unidade, assinale a alternativa errada:

a. ( ) A atividade de inteligência deve melhor definir suas atribuições, bem como evoluir suas atribuições de acordo com a evolução das relações sociais. É inadmissível produzir conhecimento de inteligência nos dias de hoje com princípios, doutrina, métodos e objetivos utilizados na segunda guerra mundial.

b. ( ) Quando se discute acerca das atribuições das agências de inteligências é muito marcante o posicionamento pacífico de que cada agência tem suas atribuições que devem ser desenvolvida dentro das regras institucionais, buscando realizar os objetivos das instituições, agindo desta forma estará garantida a efetividade sistêmica.

c. ( ) O inter-relacionamento das bases de dados estruturas ou não das diversas agências de inteligência, bem como dos diversos órgão públicos, não ferem o princípio técnico da atividade de inteligência “necessidade de conhecer”, pois os mecanismos tecnológicos de controle e regras de acesso legislativamente estabelecidas viabilizam a segurança do sistema.

d. ( ) A natureza estratégica da produção de conhecimento de inteligência, que versa sobre fraude de determinado sistema estatal, gerador de benefícios fiscais, é imprescindívelmente sistêmica, pois somente será eficaz se produzido conjuntamente por agências que tenham interface com todos os desdobramentos penais, administrativos e civis;

Avaliação Colaborativa

Fórum de discussões:

Como bem dito no preâmbulo da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção, a prevenção e a erradicação da corrupção são responsabilidades de todos os Estados e que estes devem cooperar entre si, com o apoio e a participação de pessoas e grupos que não pertencem ao setor público, como a sociedade civil, as organizações não-governamentais e as organizações de base comunitárias, para que seus esforços neste âmbito sejam eficazes; Tendo presentes os princípios de devida gestão dos assuntos e dos bens públicos, eqüidade, responsabilidade e igualdade perante a lei, assim como a necessidade de salvaguardar a integridade e fomentar uma cultura de rechaço à corrupção.

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Pós-graduação

Considerando a moderna metodologia empregada pela atividade de inteligência no enfrentamento ao crime organizado, como se poderia produzir conhecimento para prevenção da corrupção e desvios de recursos públicos neste cenário de grandes obras públicas para a Copa do Mundo FIFA de futebol de 2014?

Responda a este questionamento apresentando um argumento. Em seguida, comente a participação de um dos seus colegas.

Síntese

Nesta unidade pudemos entender um pouco mais acerca dos sistemas e subsistemas de inteligência existentes em nosso país. Conhecemos o sistema brasileiro de inteligência, o subsistema de inteligência de defesa, o subsistema de segurança pública e o subsistema de inteligência financeira.

Verificamos que uma das grandes estratégias de atuação da atividade de inteligência é a atuação verdadeiramente sistêmica, com pressupostos básicos de integração participativa.

Outra estratégia de atuação da atividade de inteligência é o enfrentamento ao crime organizado. Mas não o enfrentamento corriqueiro que, infelizmente, a maioria das agências encarregadas da aplicação da lei faz. Mas sim um enfrentamento que retire dos grupos o que realmente buscam ao cometerem crimes, ou seja, o lucro.

Trabalhando com a estratégia do estrangulamento financeiro do crime evitaremos que os criminosos possam reinvestir esses recursos no próprio crime, corrompendo servidores, melhorando suas estruturas criminosas, bem como poderemos reverter para as agências os bens judicialmente perdidos.

Saiba maisDANTAS, Jorge Felipe; FERRO, Celso Ferro. A inteligência tecnológica policial: uma visão estratégica interinstitucional.

PITOMBO, Sérgio A. Moraes. Lavagem de dinheiro: a tipicidade do crime antecedente. São Paulo: RT, 2003.

ADMINISTRADORES (homepage). Proposta de Emenda Constitucional da Inteligência. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/a-pec-da-inteligencia/36988/>.

BRASIL. Senado Federal. Projeto da Política Nacional de Inteligência. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/noticias/verNoticia.aspx?codNoticia=103706&codAplicativo=2>. Acesso em: 10 mar. 2011.

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Cooperação internacional de inteligência de segurança

Unidade 3

Objetivos de Aprendizagem • Entender a importância da cooperação internacional de inteligência de segurança.

• Conhecer os mecanismos de cooperação internacional.

• Conhecer as formas de cooperação internacional de inteligência de segurança.

Introdução

É de conhecimento comum que atualmente os interesses e vulnerabilidades de qualquer país não se restringem apenas ao seu território. A produção/proteção de conhecimentos de inteligência será incompleta se durante a análise não forem levadas em conta variáveis de interesse internacional.

O contexto mundial em que há um grande fluxo de capitais, envolvendo transações comerciais intercontinentais, aliado às barreiras cada vez menos presentes nos Estados, em geral criam um cenário complexo para a produção de conhecimentos de inteligência.

Isso porque que a globalização, ao promover o progresso mundial e desenvolvimento dos povos em um enfoque otimista do fenômeno, também permite que diversos componentes danosos se espalhem pelo planeta, aumentando o cenário de incertezas futuras.

Esta unidade didática se propõe a estabelecer a importância da cooperação internacional na área de inteligência de segurança à medida que se identifica a necessidade de potencializar a produção de conhecimento de inteligência estratégica ou tática com o compartilhamento de conhecimentos/informações com outros países.

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Pós-graduação

Essa cooperação internacional tem como objetivo minimizar incertezas e disponibilizar às agências encarregadas da aplicação da lei modernos métodos de atuação da atividade de inteligência, que já não se restringem ao território nacional, extrapolando nossas fronteiras e se interconectando com o mundo.

Para tanto, conheceremos alguns mecanismos utilizados para se estabelecer a cooperação internacional de inteligência de segurança. Esses mecanismos estão constituídos pelas normas de direito internacional, ou que sejam praxe de organizações como as forças armadas, por exemplo.

Procuraremos, ainda, estabelecer formas mais usuais dos nossos sistema e subsistemas de inteligência para realizar tal cooperação, concretizando efetivamente a cooperação internacional na produção/proteção do conhecimento.

Iremos explorar os pontos dessa temática previstos nas principais convenções internacionais que se referem à questão, tais como Convenção Contra o Tráfico de Drogas, Contra o Terrorismo, Contra o Crime Organizado Transnacional e Contra a Corrupção.

Veremos algumas formas de cooperação internacional na área de inteligência de segurança, em especial a Interpol. Esta é uma das organizações que têm muita efetividade em suas ações e conta com uma capilaridade em todos os continentes.

Da mesma forma, veremos o contexto internacional que determina o controle do fluxo financeiro do crime organizado ou de eventuais riscos de financiamento do terrorismo, bem como capitais oriundos de atos de corrupção.

O sistema de cooperação internacional de informações financeiras é operacionalizado pela unidade de inteligência financeira brasileira denominada Conselho de Fiscalização das Atividades Financeiras (COAF). Um exemplo específico de cooperação de inteligência se concretiza por meio da Rede Egmont, que iremos entender nessa unidade.

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Cooperação internacional de inteligência de segurança

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Finalidade dos mecanismos de cooperação internacional

Geovaldri Maciel Laitartt

Atualmente vivemos uma estrutura social e política em que as pessoas de diversas nacionalidades buscam o conhecimento, a aprendizagem, os negócios, o turismo, a exploração comercial. Isso ocorre sem que fronteiras estatais ou limitações como idioma, continente, origem religiosa ou étnica se tornem fatores restritivos, pois, em outras épocas, eram motivos impeditivos de qualquer expedição, ou, ao menos, eram reduzidas em muito tais atividades.

As fronteiras do mundo foram rompidas, da mesma forma que as questões cotidianas. Mercados econômicos se abriram e se globalizaram. A internet interconectou todo o planeta.

Essa constatação é mais relevante ao verificar alguns assuntos de interesse para a atividade de inteligência de segurança, pois as agências de inteligência, via de regra, possuem limitações pelo fato de serem órgãos estatais e estarem totalmente engessadas em sua atuação, mas, no entanto, sofrem total e contínua influência desse cenário globalizado.

Essa maneira de pensar é citada por Paulino (2008, p. 78):

O mundo globalizado incrementou a circulação e o trânsito de bens, capitais, pessoas e serviços, o que, sem dúvida, trouxe a ocorrência do aumento vertiginoso de crimes transnacionais, exigindo das autoridades públicas a adoção de mecanismos de cooperação internacional para o combate dessa criminalidade.

Entendemos que três temas podem ser citados como os que prioritariamente necessitam de cooperação internacional de inteligência, quais sejam:

a. o enfrentamento aos crimes transnacionais;

b. combate ao terrorismo; e

c. assuntos de natureza estratégica.

Esse último merece maior destaque à medida que engloba todas as questões estratégicas para a nação, como a defesa e proteção da pátria, proteção das riquezas naturais e biodiversidade, proteção de conhecimento tecnológico, entre tantos outros itens.

Alguns assuntos estratégicos para o Brasil são objeto de preocupação da atividade de inteligência, conforme aponta Rabello (2006, p. 43)

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Pós-graduação

As tecnologias brasileiras de ponta, a soberania alimentar, o conhecimento tradicional de populações nativas, as formas alternativas de produção de energia e, ainda, as riquezas naturais abundantes e cada vez mais valorizadas, como água doce, minérios estratégicos, biodiversidade, entre outras, vêm despertando a atenção de vários países e a cobiça de transnacionais. [...] Detemos tecnologias de ponta diversas: prospecção de petróleo em águas profundas e em áreas florestais; domínio do ciclo completo do urânio; desenvolvimento de espécies híbridas que melhor se adaptam ao complexo clima-solo; sistemas bancários de informática; urnas seguras para eleições; tecnologia aeroespacial e para construção de satélites. Trata-se de exemplos que tornam a proteção do conhecimento desenvolvido e difundido pela Abin alta prioridade na pauta de segurança nacional.

A produção e a proteção de conhecimentos de inteligência, tanto na assessoria do processo decisório da alta governança quanto de comprovação de autoria e materialidade de determinada conduta reprovada pelo direito pátrio, deparam-se com objetos de estudo dotados de complexidades intrínsecas e extrínsecas.

Podemos citar como exemplos de tais objetos o tráfico internacional de seres humanos, de armas e de drogas; a biopirataria; os crimes cibernéticos, entre tantos outros que, pela natureza, são dotados de complexidade de enfrentamento. Isso se mostra mais problemático à medida que não contam com barreiras formais e culturais impostas às agências encarregadas de seu enfrentamento.

Essas modalidades de conduta são, em geral, praticadas por organizações criminosas, as quais infligem danos sociais e econômicos nos países que são alvos de suas ações.

Tal questão possui tamanha relevância no contexto internacional que levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a assim se manifestar:

Com o aumento dos tipos de delitos transnacionais e o número de grupos criminosos, não há nenhum país que esteja imune à atividade criminosa organizada. Sendo uma ameaça contra a segurança e o desenvolvimento, tendo um impacto importante nos setores da paz e da segurança, dos direitos do homem, a democracia e o bom governo. (ONU, 2011, on-line). (tradução nossa)

Além da cooperação internacional para produção de conhecimentos, não podemos nos esquecer de que a grande estratégia de enfrentamento ao crime organizado é o estrangulamento financeiro dessas organizações.

Uma prática comum para lavagem de dinheiro auferido por organizações criminosas brasileiras é o envio, ou remessa, de valores ao exterior. Esse envio

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Cooperação internacional de inteligência de segurança

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pode ocorrer por meio de transações comerciais fraudulentas, por contrabando de dinheiro ou, ainda, utilizando o sistema financeiro formal.

Para termos êxito na citada estratégia de enfrentamento é necessário repatriar esses valores transferidos para o exterior, o que sem a cooperação internacional não seria possível.

A partir da capacidade de produção de conhecimento sobre esses temas complexos é que a atividade de inteligência se habilita como grande diferencial, formando um conhecimento extremamente confiável. Isso ocorre porque a inteligência de segurança utiliza métodos específicos e técnicas apuradas para coleta e busca de conhecimentos e informações para posterior análise e processamento.

Nesse sentido, a ONU se manifestou da seguinte forma:

Combater este fenômeno não exige apenas uma ação policial que visa o combate dos tráficos ilícitos, a detenção dos responsáveis e a relação de provas conclusivas para a condenação. Requer, antes de tudo, um trabalho de Inteligência que permita conhecer, entre outros fatores, a dimensão das organizações, os ramos, os verdadeiros responsáveis, suas ligações internacionais, o grau de alcance atingido em diferentes organizações e em seu próprio Estado, e sua estrutura financeira. Portanto, a informação é essencial para combater isso. (ONU, 2011, on-line)

No Brasil, devido à sua extensão territorial e ao número de países fronteiriços, esses fenômenos já são realidade e despertaram a atenção das instituições encarregadas da aplicação da lei.

Somente para termos uma ideia, em 2008 tramitava em torno de 600 processos acerca da repatriação de valores, originários, em geral, de crimes praticados por organizações criminosas ou fruto de corrupção, transferidos para o exterior na tentativa de ocultação da origem ilícita.

Os processos dessa natureza são tratados em regra pelo Departamento de Cooperação Jurídica Internacional e Recuperação de Ativos do Ministério da Justiça (DRCI), denominada autoridade central brasileira para inúmeros acordos bilaterais de cooperação em matéria penal.

Vale lembrar que, em se tratando de cooperação intencional com o Canadá ou com Portugal, a autoridade central é o Ministério Público Federal, por meio de seu órgão de coordenação internacional.

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Analisando o caso específico, Genro (2008, p. 12) registra que:

Tramitam no DRCI-SNJ, por exemplo, mais de 600 casos relacionados à recuperação de ativos enviados ao exterior ilicitamente. Os referidos casos de recuperação de ativos incluem processos de grande repercussão no Brasil e no mundo, relacionados a organizações criminosas transnacionais e a crimes como corrupção e lavagem de dinheiro.

Assim, ao entendermos a complexidade do enfrentamento ao crime organizado, bem como a necessidade do estrangulamento financeiro destes grupos, entendemos que a produção/proteção de conhecimento de inteligência se revela uma grande ferramenta para contribuir na gestão dessas questões, em especial pela metodologia própria e técnicas especiais que lhe caracterizam como já foi dito.

Discorrendo sobre a importância da atividade de inteligência em um contexto de inserção global de nosso país, Ribeiro (2006, p. 115) assinala que:

A atividade é desenvolvida a partir de um pressuposto de ação de um Estado sobre as questões estratégicas de sua sociedade, com objetivos claros de posição e inserção internacional, e ao mesmo tempo na construção de um parâmetro de segurança de Estado, além de defesa contra ameaças externas, mas a atividade é ampliada no contexto exterior em função de coleta de informações para construção de cenários competitivos de participação do Estado, em relação ao mercado externo, sua posição e percepção de valor, imagem sólida e concreta de estabilidade, e de posicionamento de sua soberania perante as grandes potências, além da relação diplomática e propagandista do Estado perante os organismos internacionais.

O que o autor nos mostra é que a cooperação internacional de inteligência é uma importante ferramenta de fortalecimento do Estado, tanto no aspecto interno quanto externo, pois, de posse de conhecimentos ou informações adequadamente produzidos pelo serviço de inteligência, terá condições de minimizar incertezas e tomar decisões estratégicas para a Nação, conduzindo-a para patamares de alto grau de respeitabilidade no contexto competitivo mundial.

Para tanto, a grande questão que se coloca é a necessidade de se ter acesso a conhecimentos e informações em outros países. Essa necessidade, de certa forma, provoca inquietação e desconforto, ou até mesmo pessimismo.

Isso ocorre porque dentro da nossa República já é extremamente difícil que haja o compartilhamento de conhecimentos de inteligência, e fora dela parece que as dificuldades se acentuam.

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Cooperação internacional de inteligência de segurança

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Todavia, precisamos visualizar que no Brasil os serviços de inteligência ainda estão em processo de maturação, de fortalecimento de valores e definição do foco de atuação.

Enquanto isto, grande potências mundiais já possuem tais questões razoavelmente sedimentadas, aprendendo a duras penas a necessidade de cooperação. Não é impossível que tenhamos em determinado momento mais facilidade em compartilhar informações com outros países que dentro do nosso próprio.

A busca da capilaridade dos sensores do sistema de coleta e busca de conhecimentos e informações em países vizinhos traduz-se na cooperação internacional da matéria, como bem salienta Ribeiro (2006, p. 124):

A grande razão da integração e cooperação dos serviços de inteligência é a potencialização da estrutura de informações que possam criar um sistema efetivo de defesa regional, e fortalecer a estrutura competitiva de cada país envolvido no processo. Segundo Herman (1996, p. 204), “uma razão básica para a cooperação é que sempre há mais informações potencialmente disponíveis do que qualquer agência pode coletar sozinha”. A própria estrutura de inteligência favorece ao estabelecimento de uma política exterior (HERMAN, 1996, p. 213) integrada em fundamento com as necessidades da região e do fortalecimento do bloco (Mercosul).

Outro aspecto a ser registrado que nos move definitivamente em busca da cooperação internacional de inteligência de segurança é a questão do terrorismo e seu financiamento.

Esses se tornaram uma das grandes preocupações mundiais, em especial após o atentado de 11 de setembro de 2001, em Nova York, nos Estados Unidos.

Não há qualquer hipótese de sucesso na produção de conhecimento de inteligência sobre atividade terrorista que não conte com cooperação internacional, uma vez que a sua maneira de organização e atuação se concretiza necessariamente em países diversos.

Isso porque se trata, em apertada síntese, de luta de extremistas islâmicos contra o capitalismo ocidental cristão, o que provoca o planejamento e treinamento em determinados países e desencadeamento dos atentados em outros.

Tentando conceituar terrorismo, Barros (2003, p.113) aponta que:

Terrorismo é toda violência real, potencial e sistemática, capaz de infundir terror, motivada por ações políticas, étnicas, religiosas ou afins. O terrorismo é um fenômeno complexo. Há terrorismo de

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esquerda, de direita, e também terrorismo de Estado. Há tendência no sentido de alinhá-lo a crime comum, ou de equipará-lo a crime político. A partir da Segunda Guerra Mundial, adquiriu características internacionais, e passou a envolver a segurança e a paz de todos os países. O fenômeno terrorista ampliou absurdamente sua capacidade ofensiva e de destruição em massa. O que mudou no contexto de suas ações não foram suas motivações, mas o teor de sua violência, sua autoria cada vez mais volátil e indeterminada.

Outro conceito que muito nos esclarece é dado por Diniz (2004, p. 28):

Com tudo isso em vista, portanto, podemos entender terrorismo como sendo o emprego do terror contra um determinado público, cuja meta é induzir (e não compelir nem dissuadir) num outro público (que pode, mas não precisa, coincidir com o primeiro) um determinado comportamento cujo resultado esperado é alterar a relação de forças em favor do ator que emprega o terrorismo, permitindo-lhe no futuro alcançar seu objetivo político – qualquer que este seja.

Nesses conceitos verificamos dificuldade de definição do termo terrorismo pela pluralidade de pontos de análise do termo, mas fica claro que sua atuação é de caráter transnacional.

A caracterização de ações armadas em determinado momento histórico como atos terroristas dependerá de análise profunda, caso a caso, e do contexto político em que é realizado. Não sendo objeto deste trabalho sua plena definição, mas sim estabelecer que um traço comum é a forma como se organizam e se distribuem no mundo, a forma como organizações crimonosas realizam o planejamento e execução de atentados denotando o caráter transnacional e, consequentemente, a necessidade de cooperação internacional na área de inteligência de segurança.

Dessa cooperação resultarão conhecimentos que permitirão o adequado enfrentamento por meio de ações de prevenção, ou mesmo na identificação e repressão de eventuais atentados que eventualmente não possam ser evitados.

Ainda na linha de raciocínio que impõe a atividade de inteligência de segurança sua integração internacional a ONU enfatiza

Dos muitos aspectos do crime organizado, grupos terroristas, as redes de tráfico de drogas, tráfico de armas e redes de tráfico de seres humanos, contrabando em larga escala, terrorismo, etc. É claro que o crime organizado é a principal ameaça à segurança. Segurança está intimamente ligada a cada droga, a doença, ato terrorista que mata e destrói em silêncio e sem piedade. (ONU, 2011, on-line).

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Atualmente não podemos comungar com a ideia de que o terrorismo é algo externo ao Brasil e que nosso país está imune a seus efeitos.

Não podemos nos esquecer de que atualmente o mundo está totalmente interconectado, conforme já abordado, e isso faz com que nossa República já sinta as consequências de ações terroristas, bem como tenha alguma interface com este fenômeno, ainda que a posição oficial do país seja de total ausência de atividade terrorista em território nacional.

Essa forma de ver é reforçada por Buzanelli (2004, p. 10):

Mesmo sem ter sido alvo direto do terrorismo ou tendo jamais seu território sido utilizado como palco para uma ação terrorista contra tradicionais alvos, o nosso país, pode-se afirmar, vem sentindo as ondas de choque produzidas pelos últimos grandes atentados. Cidadãos brasileiros engrossaram as listas de vítimas nos atentados ao World Trade Center, em Nova Iorque; à zona turística em Bali; à representação das Nações Unidas, em Bagdá; e, recentemente, aos trens em Madri.

No entendimento que o território nacional precisa ser protegido e prevenido de qualquer atividade dessas organizações, uma vez que apresentam características econômicas, geográficas, culturais e estruturais que facilitam tais atividades, Buzaneli (2004, p. 10) afirma que:

Por último e não menos importante, cabe considerar que, por abrigar uma comunidade de origem árabe e de confissão islâmica numericamente significativa, instalada em grandes metrópoles e em áreas de fronteira de difícil fiscalização e controle, talvez já estejam sendo aqui estabelecidas as condições propícias para o trânsito e homizio de suspeitos de colaborarem com o terrorismo internacional. Como a agenda internacional tem privilegiado a questão da luta contra o terrorismo, tal presença árabe e islâmica – embora sua amplamente positiva inserção na sociedade brasileira

–, se converte em tema de grande assiduidade no diálogo com os EUA e a União Européia, sendo recorrentes as preocupações manifestadas por tais interlocutores quanto à necessidade de ações governamentais de envergadura na área de segurança, de incluir medidas de controle de estrangeiros absolutamente incompatíveis com a tradição de hospitalidade e a total inexistência de práticas discriminatórias que caracterizam a nação brasileira.

Estabelecendo algumas reflexões sobre a possibilidade de o Brasil ser alvo de atentados terroristas, Cepik (2004, p. 50) afirma que:

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Ora, não há nada que exclua o Brasil da possibilidade de ser alvo desse tipo de ação. A decisão, por parte de algum sujeito político, governamental ou não, nacional ou internacional, de utilizar o terrorismo, seja em território brasileiro contra interesses brasileiros ou de terceiros, seja contra interesses brasileiros no exterior, depende de considerações de urgência, oportunidade e custos que precisam ser avaliadas concretamente, mas que no presente contexto internacional indicam um risco médio representado pela ameaça terrorista ao Brasil.

Independentemente dessa discussão quanto à possibilidade ou não de o Brasil ser um potencial alvo de atentados terroristas, ou mesmo que possa haver alguma atividade de células dessas organizações dentro de nosso país, o relevante são questões que nos remetem ao fortalecimento da produção de conhecimento de inteligência sobre atividades terroristas.

Para rapidamente exemplificar tais questões, lembramos que nosso país é signatário de doze das mais importantes convenções, acordos e tratados de combate ao terrorismo internacional e seu financiamento que, por si sós, fundamentariam a preocupação nacional com a questão.

Todavia, outro enfoque pode ser dado, à medida que o Brasil sediará grandes eventos esportivos mundiais, tais como jogos mundiais militares, copa do mundo FIFA de futebol e jogos olímpicos e paraolímpicos de verão.

Assim, o enfrentamento da questão terrorista não só no Brasil como no mundo todo é pauta principal, especialmente após os atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA.

Nesse sentido, Ribeiro (2006, p. 123) avaliza esta percepção

Após o 11 de setembro de 2001, a estrutura integrada de inteligência foi proclamada como um dos novos direcionamentos estratégicos dos estados e das regiões (blocos), até mesmo para justificar a caça ao terror imposta pelos EUA. Esta imposição pode estabelecer excessos, mas isto não pode direcionar a uma problemática de estruturação de serviço cooperado de inteligência, e deve se ter uma preocupação latente do estado com estas questões, pois segundo Vizentini (2004, p. 129): Depois de 11/9, a expressão terrorismo passou a integrar a linguagem cotidiana em todo o mundo. Contudo trata-se de um termo empregado de forma ampla e inadequada, com fortes conotações políticas. Assim, tem sido objeto de manipulação, para justificar uma nova agenda internacional.

Revela-se importante a cooperação internacional de inteligência de segurança que visa à produção/proteção de conhecimento para a prevenção de qualquer ato

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ilícito que imprima insegurança social ao Estado ou à sociedade.

Dessa forma, mais uma vez, destacamos o enfrentamento de ilícitos transacionais, em regra perpetrados por organizações criminosas, o combate ao terrorismo e seu financiamento.

Também devemos nos lembrar acerca da importância da cooperação internacional de inteligência de segurança no que se refere às questões de defesa nacional e assuntos estratégicos diversos.

A produção de conhecimento de inteligência é fundamental na assessoria ao processo decisório nas definições dos rumos da nação nos principais temas, especialmente num mundo globalizado em que a soberania dos Estados não impede o fluxo de fatores que potencialmente podem fragilizar a nação.

Nesse sentido, Rabello (2006, p. 40) aponta que:

Hoje, dada a inserção do País no mundo globalizado e estruturado em rede, no qual Estados nacionais e soberanos têm suas fronteiras cada vez mais porosas, o poder público atentou para o fato de a atividade de Inteligência ser imprescindível à segurança da Nação e ao processo decisório pautado em análises criteriosas, oportunas e imparciais.

No mesmo sentido, Ribeiro (2006, p. 114) destaca que

A atividade de inteligência é por si, um dos instrumentos mais estratégicos que a direção de um Estado tem em seu rol de atividades. Ela é por natureza o instrumento que favorece a constituição de poderes com a construção de cenários com o menor risco no processo de decisão de um dirigente nas diversas questões de Estado.

Embora o nosso país não tenha tradição em grandes conflitos armados tampouco nossa soberania esteja em iminente ameaça de violação, ainda que o controle fronteiriço seja muito frágil, algumas reflexões nos levam a crer que a cooperação internacional de inteligência se faz necessária para as Forças Armadas por diversas razões.

Um delas se refere à constante preparação que nossas forças devem buscar no sentido de compreensão de cenários internacionais para melhor avaliar as motivações de aliados e os interesses de eventuais opositores, pois um antigo jargão militar afirma que na paz nos preparamos para a guerra e na guerra nos preparamos para a paz.

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Outra razão que importante é o constante acompanhamento da evolução da tecnologia militar, a qual não é possível sem uma adequada cooperação internacional.

Assim, é evidente a necessidade que as nossas Forças Armadas estejam em consonância com as grandes potências mundiais no que se refere a métodos de combate, acompanhando a evolução tecnológica e tática de conflitos armados, os quais evoluem a cada conflito internacional.

A liderança regional que o Brasil exerce pode ser outra razão para que as nossas forças de segurança nacional empreendam esforços para acentuar suas ligações internacionais na área de inteligência, à medida que a produção de conhecimento de inteligência estratégica faça com que se direcionem as ações rumo ao fortalecimento e à perenidade desta liderança.

Lembramos ainda que as operações de paz desenvolvidas junto às Nações Unidas também necessitam de um planejamento operacional pautado por conhecimento de inteligência previamente produzido, o qual se tornará tão eficiente quanto a capacidade de coleta e de busca de dados e informações no país palco de operações.

Importante salientar que estamos estabelecendo algumas reflexões sobre a cooperação internacional de inteligência, o que pressupõe que as partes cooperantes tenham pleno conhecimento das atividades umas das outras. Do contrário estaríamos diante de condutas no mínimo antiéticas, o que, a nosso ver, é incompatível com a credibilidade dos serviços de inteligência, embora não evite que alguns países atuem dessa forma.

Nesse contexto é que a atividade de proteção do conhecimento ganha relevo, pois, além de produzir conhecimento, é necessário protegê-lo.

Tecendo algumas palavras sobre a questão, Cepik (2002, p. 8) afirma que:

Em tempo de paz, os países mantêm relações diplomáticas normais e permitem que as representações dos demais em seus territórios enviem relatórios para os países de origem. É certo que oficiais de inteligência usam cobertura diplomática, assim como certas fontes confidenciais dos embaixadores podem se superpôr às fontes menos secretas dos espiões, mas as diferenças entre uma atividade e outra são claras.

Quando determinado Estado gozar de confiança de determinado país para desenvolver a produção de conhecimento de inteligência, todo o cuidado é pouco, pois na suspeita de qualquer atividade irregular, as consequências diplomáticas podem ser muito desfavoráveis.

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Nesse sentido Cepik (2002, p. 9) informa que:

Especialmente no que diz respeito ao grau de fragilidade das fontes diplomáticas ou secretas de informação em relação às contramedidas de segurança dos alvos. Enfim, para marcar a questão basta dizer que diplomatas, adidos militares ou inspetores internacionais suspeitos de espionagem são declarados persona non grata, expulsos do país de hospedagem e devolvidos aos seus países de origem com base na Convenção de Viena de 1961.

Além das matérias relacionadas com a defesa nacional em sentido estrito, podemos ressaltar matérias diversas de interesse estratégico para cada país rumo a seu desenvolvimento e bem viver de seu povo.

A integração de nações, com troca de experiências das mais diversas áreas faz que todos cresçam e aprimorem suas rotinas e métodos de trabalho. Para a atividade de inteligência na produção de conhecimentos estratégicos isso é regra de ouro.

Ao se referir ao assunto, Ribeiro (2006, p. 120) aponta muito bem as múltiplas facetas que a cooperação de inteligência de segurança pode abordar:

A cooperação é ampliada principalmente para atender a necessidades específicas de cada país, mas que de uma forma integrada aflige a região em função das novas ameaças, onde López (2003, p. 83), descreve como o terrorismo internacional, a narcoatividade, o tráfico ilegal de armas, a degradação do meio ambiente, o fundamentalismo religioso, as migrações internacionais, a pobreza, o crime organizado e em separado a biopirataria.

As decisões estratégicas ou operacionais sobre matérias com contornos relativamente complexos, como a criminalidade transnacional, crime organizado, terrorismo, defesa nacional, estratégias econômicas, políticas, ambientais, sociais e tecnológicas de nosso país necessitam ser embasadas pela produção de conhecimento de inteligência que lhes possibilite minimizar a possibilidade de erro.

A redução das incertezas futuras, como produto da atividade de inteligência em temas como esses, estabelece uma relação de simbiose com a cooperação internacional a ponto de não ser possível a existência de uma isoladamente.

Assim como no campo interno, nas relações internacionais precisamos reavaliar nossas posturas e objetivamente dimensionarmos nossa eficiência enquanto assessoria do processo decisório. Nessa ótica, a ONU já se manifestou afirmando que:

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É essencial uma readaptação dos serviços de inteligência global para as circunstâncias que exigem nessa mudança de século. Os estados necessitam mais e melhores informações objetivas, oportunas e concisas, a fim de agir em um mundo cada vez mais dinâmico, incerto e interdependente, disto se depreende a grande importância de uma adequada e potente coordenação executiva que lidere os diferentes organismos de que se ocupam a nível nacional para que seja um todo harmônico, que tem a cooperação mútua, estabelecendo a obrigação de troca de informações entre os vários departamentos que compõem a inteligência nacional. Isto a fim de alcançar objetivos comuns.

Atualmente não há como se evitar a troca de informações com agências de outros países. O crescimento institucional e técnico do serviço de inteligência brasileiro será evidente, bem como a produção de conhecimento de inteligência estratégica ou tática será altamente qualificada e poderá contar com a ampliação dos mecanismos de proteção do conhecimento.

Isso tudo torna a assessoria prestada nas decisões da alta gestão pública imprescindível para a concepção de Estado internacionalmente respeitado.

Concomitante a esses benefícios, Ribeiro (2006, p. 126), ao discorrer sobre a integração regional das agências de inteligência, relaciona outros benefícios da cooperação internacional da atividade de inteligência nacional com os de outros países, como segue:

A integração poderá trazer benefícios do tipo:

– fortalecimento do ciclo de inteligência regional contra as ameaças latentes e a integração das informações estratégicas comuns aos Presidentes das Repúblicas;

– intercâmbio de analistas e profissionais de inteligência para o conhecimento das culturas e práticas para a condução de um processo de inteligência regional;

– estabelecimento de uma escola integrada de inteligência, que visa atender as necessidades do complexo exterior e da política internacional de cada estado;

– integração dos sistemas de inteligência nacional de cada estado, em combate às ameaças junto à segurança internacional;

– estabelecimento de um controle integrado da atividade, juntamente ligada ao processo de defesa da região, de forma institucionalizada;

– criação de um banco de informações, que congrega todas as fontes e potencialidades de inteligência para a estruturação de políticas de segurança e defesa regional;

– fortalecimento da inteligência militar e geração de conhecimento para o complexo de defesa da América do Sul, além do fortalecimento da integração e cooperação das Forças Armadas da região;

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– dotação de uma força conjunta de inteligência integrada ao sistema internacional de polícia, que possa estabelecer um banco de informações completo e em tempo real do crime organizado internacional;

– gerar uma estrutura de informações estratégicas que possa estabelecer parâmetros para o desenvolvimento de estratégias nacionais e conjuntas, onde cada governo possa aproveitar suas potencialidades através de um sistema de fortalecimento do Mercosul, através de Inteligência Econômica, Inteligência Financeira e Inteligência Estratégica.

Neste contexto em que temas centrais das discussões de segurança são tratados em âmbito mundial, não podemos conceber que qualquer serviço de inteligência de segurança também não acompanhe tal lógica.

Ainda, como já mencionado, as três questões que potencialmente levam qualquer Estado a um cenário de crise – o crime organizado transnacional, terrorismo e assuntos estratégicos –, devem ser processadas dentro das estruturas dos serviços de inteligência com a produção/proteção do conhecimento pautados pela cooperação internacional de inteligência de segurança, sob pena de serem incompletos e não retratarem a verdade.

Referências

BARROS, José Manuel de Aguiar. Terrorismo: ação, reação e prevenção. São Paulo: Arte & Ciência, 2003.

BRASIL. Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1972. Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. Diário Oficial da União. 9 set 1942. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/Decreto-Lei/Del4657.htm. Acesso em: 19 jun. 2011.

BUZANELLI, Márcio Paulo. In: II Encontro de Estudos: Terrorismo. Brasília: Gabinete de Segurança Institucional; Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais, 2004.

CEPIK, Marco A. C. Inteligência e políticas públicas: dinâmicas operacionais e a agilidade como um desafio. Disponível em: <http://www.fafich.ufmg.br/ceig/?screen=article&aid=57>. Acesso em: 20 mar. 2011.

DINIZ, Eugênio. Considerações sobre possibilidade de atentados terroristas no Brasil. In: II Encontro de Estudos: Terrorismo. Brasília: Gabinete de Segurança Institucional; Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais, 2004.

GENRO, Tarso. Cooperação jurídica internacional e o propósito deste manual. Manual de Cooperação Jurídica Internacional e Recuperação de Ativos – Matéria Penal. Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, Secretaria Nacional de Justiça, Ministério da Justiça, Brasília.

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ONU. Perspectiva de la ONU frente a la inteligencia policial en la lucha contra el terrorismo. Disponível em: <http://www.fafich.ufmg.br/ceig/?screen=article&aid=15>. Acesso em: 24 mar. 2011.

PAULINO, José Alves. A produção da prova externa e sua validade contra a criminalidade organizada transnacional. Brasília: Projeto Editorial, 2008.

RIBEIRO, Fábio Pereira. Cooperação estratégica em inteligência formação da defesa regional: uma contribuição dos serviços de inteligência. Cadernos PROLAM/USP, São Paulo, a. 5, v. 1, p. 113-128, 2006.

RABELLO, Cláudia Assaf Bastos. Necessidade de inteligência do Estado brasileiro. Revista Brasileira de Inteligência, Brasília, v. 2, n. 2, abr. 2006.

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Mecanismos de cooperação internacional de inteligência de segurança

Geovaldri Maciel Laitartt

Entendendo a essencialidade da cooperação internacional de inteligência de segurança como suporte para produção de conhecimento de inteligência estratégica ou tática, precisamos buscar os mecanismos disponíveis para concretizar tal cooperação.

No ambiente interno, as agências de inteligência têm muita dificuldade para adotar uma postura de compartilhamento de dados e informações por diversas razões, tais como:

a. falta de maturidade institucional;

b. ausência de regulamentação a respeito do tema;

c. ausência de compromisso com a produtividade da atividade de inteligência;

d. visão subjetiva do sistema; e

e. disputas internas e externas das agências em busca de maior visibilidade.

Se no plano interno temos grande dificuldade de cooperação entre as agências de inteligência, no âmbito internacional este fato se torna ainda mais complexo, pois este tema, para o nosso país, é relativamente novo e carece de amadurecimento e de regulamentação legal.

Salientamos que algumas das variáveis negativas que se apresentam no campo interno são minimizadas no campo externo, pois as relações que se estabelecem são de outra ordem.

Para estabelecermos alguns mecanismos de cooperação internacional de inteligência de segurança, necessariamente teremos de buscar fundamento na lógica das relações internacionais. Tendo em vista a farta regulamentação sobre o tema e a consciência da necessidade de aprimoramento dos mecanismos de cooperação internacional de inteligência de segurança em especial após os atentados de 11 de setembro em Nova York.

Nesse sentido, Ribeiro (2006, p. 115) assim se posiciona:

A análise da atividade de inteligência a partir de um pressuposto de cooperação é uma linha de formação de um conceito vinculado ao processo básico de integração dos Estados na vertente das Relações Internacionais, objetivando assim um aspecto de construção de uma temática comum entre os Estados.

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Essa construção de temática comum aos Estados a que se refere o autor já vem acontecendo no âmbito da ONU, pois essa organização tem como um de seus propósitos “realizar a cooperação internacional para resolver problemas mundiais de caráter econômico, social, cultural e humanitário, promovendo o respeito aos direitos humanos e as liberdades fundamentais”.

A crescente globalização da criminalidade transnacional, perpetrada especialmente por organizações criminosas, imprimiu em todo mundo nefastas consequências sem que as nações conseguissem, individualmente, realizar o enfrentamento adequado devido à complexidade que tais delitos apresentam.

Entendendo como positiva a iniciativa da ONU em buscar a cooperação entre as nações, Paulino (2008, p. 25) refere que

A ONU sentiu-se obrigada a exercer o seu papel de integração entre as nações e com rapidez, diante da globalização e do crescente índice de criminalidade organizada transnacional, que “tem sido facilitada pela falta de cooperação e de coordenação de ações entre os países, e, com alguma freqüência, por falta de coordenação entre os órgãos nacionais de repressão”.

O autor, além de referendar a iniciativa integrativa entre as nações, também faz referência à questão da falta de competência das agências nacionais em estabelecer tal cooperação. Esse fato não é algo inesperado, pois tais agências não conseguem sequer estabelecer no campo interno mecanismos de cooperação e integração eficientes para a produção de conhecimento de inteligência.

No entanto, conseguimos claramente ver a evolução e amadurecimento das instituições, o que é reflexo necessário da evolução da consciência política e cultural do povo.

O que se busca é a compreensão de que em um mundo globalizado as agências de inteligência e as encarregadas da aplicação da lei não serão efetivas se atuarem isoladamente. A cooperação, em especial na área de inteligência, mostra-se não como alternativa, mas como ação obrigatória.

A própria ONU já se manifestou neste sentido, vejamos:

Daí a importância de uma abordagem global para promover a cooperação e ajudar no combate aos crimes complexos que causam danos graves, fazendo uso dos instrumentos internacionais existentes e procurando agir em conjunto com outras instituições e agências que desenvolvam tarefas de inteligência, não só em nível nacional, mas também no mundo.

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Assim, a cooperação internacional de inteligência vem cada vez mais sendo discutida e estudada em busca de alternativas de implementação. Essa atividade lida com temáticas muito sensíveis que, por vezes, podem influir na trajetória de acontecimentos em outros países, e confrontar com a soberania primada por todos os Estados, ressaltando a necessidade de que a cooperação nessa área seja bem discutida e legislativamente estabelecida.

No que se refere à discussão mundial do tema, Ribeiro (2006, p. 122) aponta que:

O quesito da integração para cooperação, dos serviços de inteligência já é um ponto de discussão dentro da comunidade de informações, onde Spotta (2002, p. 154) afirma que “paradoxalmente, a interação das agências de inteligência é uma necessidade tão proclamada, mas raramente posta em prática”.

O ponto de partida dos mecanismos de cooperação no âmbito das relações internacionais são as convenções, tratados e acordos internacionais, os quais disciplinam as relações entre os Estados sobre diversas matérias, tais como comércio, navegação, migração, terrorismo, crime organizado, direitos humanos, entre outras.

Esses instrumentos de relacionamento internacional acabam desaguando no que se denomina cooperação jurídica internacional. A cooperação jurídica internacional está inserida em um contexto muito semelhante ao que a atividade de inteligência de segurança está.

Devido a questões que se referem à globalização (abertura de mercados comerciais, migrações, intenso fluxo financeiro, de bens e pessoas), que tornam as limitações impostas pela soberania de cada país um grande entrave para a aplicação de sua jurisdição, a capacidade de produção de conhecimentos de inteligência de segurança fica reduzida à medida que as ações de coleta e de busca de dados ou conhecimentos se revela obstaculizada.

Dessa forma, por meio de instrumentos internacionais, os países buscaram a cooperação internacional para facilitar a aplicação de sua jurisdição naqueles casos em que os desdobramentos dos processos, como medidas cautelares, localização de pessoas e bens, produção de provas, etc., tinham de ser realizadas em outro país.

O poder constituinte originário, já preocupado com essas questões, estabeleceu na Constituição da República um princípio que rege o Brasil em suas relações a respeito da cooperação entre os povos para o progresso da humanidade:

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Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

I – independência nacional;

II – prevalência dos direitos humanos;

III – autodeterminação dos povos;

IV – não-intervenção;

V – igualdade entre os Estados;

VI – defesa da paz;

VII – solução pacífica dos conflitos;

VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo;

IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;

X – concessão de asilo político.

Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. (grifo nosso)

No arcabouço jurídico infraconstitucional, nossa lei de introdução ao Código Civil regulamenta uma série de questões acerca da aplicabilidade da jurisdição de outro país em nosso território.

Além disso, critérios são observados para valerem alguns atos jurisdicionais brasileiros, estabelecendo alguns requisitos para produção probatória, em especial o art. 13 que trata especificamente sobre o assunto:

Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça.

Além desses dispositivos, possui o ordenamento jurídico pátrio alguns institutos de cooperação internacional que, fundamentados nos princípios de direito internacional, procuram romper as barreiras formais da soberania e de jurisdição dos países membros.

Analisaremos brevemente cada um deles para nos ambientarmos com a lógica de cooperação internacional e, a partir de então, buscar estabelecer um mecanismo

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de cooperação na área de inteligência de segurança e, por conseguinte, tentarmos vislumbrar algumas formas de fazê-lo com a máxima eficiência.

O primeiro deles é a Carta Rogatória que, segundo Tóffoli (2008, p. 24), representa um dos mecanismos mais antigos de cooperação jurídica dos Estados. Em geral, a tramitação das cartas rogatórias é efetivada por canais diplomáticos, sendo seu cumprimento sujeito às determinações legais do país rogado.

Esse instrumento é utilizado basicamente para o cumprimento de diligências no território nacional, quando solicitado por outro Estado. Sua previsão legal básica está em nossa Carta Constitucional de 1988, artigo 105, inciso I, alínea i, atribuindo ao Superior Tribunal de Justiça autorizar o cumprimento solicitações.

A Homologação de Sentença Estrangeira é outra forma de cooperação jurídica internacional que concede eficácia em território nacional de sentença proferida por autoridade judiciária de outra jurisdição que não a brasileira.

Tóffoli (2008, p. 25) distingue a Homologação da Carta Rogatória referindo que aquela destina-se ao reconhecimento autônomo de decisão judicial de caráter definitivo. A competência desse instituto também é do Superior Tribunal de Justiça, conforme o mesmo artigo 105, inciso I, alínea i, da Constituição Federal.

Outra forma de cooperação é a Extradição, na qual um país solicita a outro que lhe seja entregue determinada pessoa para que possa processá-la em sua jurisdição. O que regula esta questão no Brasil é o Estatuto do Estrangeiro, Lei n° 6.815, de 1980.

A Transferência de Presos é a forma de cooperação na qual se atende a um princípio de natureza humanitária, pois solicita-se que determinado apenado possa cumprir sua pena em seu Estado de origem.

Tóffoli (2008, p. 26) adverte que no Brasil não existe qualquer regulamentação sobre esta modalidade de cooperação. A transferência do preso, quando feita, obedece a regramentos estabelecidos em tratados em que o Brasil seja signatário.

Esses institutos – Extradição e Transferência de Presos – são formais e requerem a existência de tratados ou acordos entre os países, bem como seu processamento é bastante protocolar, não acompanhando a evolução das necessidades modernas em face da volatilidade de capitais, da grande mobilidade mundial e da urgência de providências jurisdicionais, em especial quando o foco é o terrorismo ou o crime organizado, que requerem mecanismos mais céleres.

Diante disto, não restava alternativa aos Estados que não a de buscar, criar e promover mecanismos mais céleres para a cooperação, sendo que tal necessidade foi materializada por meio de diversos tratados ou acordos bilaterais.

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Ainda que inexista o acordo prévio, a cooperação pode ser atendida mediante promessa de reciprocidade do Estado solicitante. Tal mecanismo denomina-se Cooperação Judiciária stricto sensu, ou auxílio direto, cooperação direta, ou seja, não tramitará nas cortes superiores.

Nos acordos bilaterais de auxílio direto, os países estabeleceram as autoridades centrais para receber e distribuir os pedidos que serão analisados e deferidos pelos juizados de primeiro grau.

No Brasil, embora não se tenha nenhuma forma de contato institucional com os poderes jurisdicionais, nem com ministérios públicos ou com a polícia, a autoridade central geralmente é atribuída ao DRCI.

Sobre o tema, Tóffoli (2008, p. 27) afirma que:

O auxílio direto de caráter penal é utilizado, em regra, quando um estado, a fim se subsidiar procedimento em trâmite em seu próprio território, necessita de providência judicial a ser obtida em outra jurisdição. Crimes de lavagem de dinheiro e tráfico ilícito de entorpecentes, por exemplo, freqüentemente, ao serem processados ou julgados em um país, precisam de produção de provas testemunhais ou documentais em outros países. Em virtude da natureza fluída da prova, a rapidez em sua obtenção é indispensável, o que faz com que o auxílio direto seja o instituto mais adequado para a consecução do pedido.

Alguns ajustes de auxílio direto concretizados pelo Brasil podem ser citados, tais como o acordo bilateral com os Estados Unidos em matéria penal, conhecido como EMLAT, promulgado pelo Decreto nº 3.810/2001 e a Convenção Contra o Crime Organizado Transnacional, promulgado pelo Decreto nº 5.015/2004.

Esta sigla é derivada do termo mutual legal assistence treatise e, nesse caso, se acrescente o “E” por ser formalizada com os EUA.

A evolução dos mecanismos de cooperação jurídica internacional é um paradigma para atividade de inteligência, pois buscam se adequar às constantes transformações mundiais.

Sobre a questão, Tóffoli (2008, p. 28) assim se posiciona:

Diante das demandas do mundo atual, resta ao nosso país adequar-se às inovações do direito internacional contemporâneo. Para isso, não se pode ignorar instrumentos, como o auxílio direto, que se propõem a diminuir distâncias, agilizar procedimentos, evitar a burocracia, respeitando sempre princípios básicos como a soberania, a ordem pública e os costumes nacionais.

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Nesse contexto de evolução e adaptação dos mecanismos de troca de dados e informações destacam-se alguns tratados ou convenções, como as que tratam sobre a repressão ao terrorismo, sobre repressão ao tráfico de drogas e a que dispõe sobre o combate ao crime organizado transnacional.

Outro aspecto importante a ressaltar é quanto à inserção das Forças Armadas nesse cenário de cooperação internacional de inteligência de segurança. É inegável que toda a doutrina e métodos que se conhece hoje na atividade de inteligência advenha, em grande parte, da atividade de informações de nossas forças de defesa.

No que se refere à cooperação internacional não é diferente. Para visualizarmos melhor esta cooperação é importante entender que atribuição de defesa de qualquer nação por meio da atividade militar é assessorada decisivamente pela atividade de inteligência, que busca produzir conhecimentos sobre as capacidades do inimigo, suas vulnerabilidades, bem como identificam quais seriam suas próprias deficiências. Ainda produzem conhecimento apontando cenários futuros e oportunidades a serem aproveitadas.

Historicamente, as Nações buscam desenvolver seus sistemas de defesa com o apoio de outros Estados para que o grupo possa ter maior capacidade de defesa ou de ataque.

É nesse ambiente de mútua cooperação na área militar que há muito tempo se estabelece a Cooperação Internacional de Inteligência de Segurança, para a produção e proteção de conhecimento destinado a ampliar as capacidades dos Estados cooperantes frente a alguma ameaça em tempos de paz, ou frente a algum inimigo comum, em tempos de guerra.

Na própria organização do Ministério da Defesa verificamos que existem algumas unidades especificamente criadas para estabelecer a ligação internacional de inteligência com todas as forças do país.

As Forças Armadas brasileiras possuem uma longa experiência em procurar a cooperação internacional de inteligência de segurança, e o fazem justamente para defesa da pátria.

O Exército brasileiro, a título de exemplo, possui um serviço de inteligência devidamente estruturado, com ramificações em todo o território nacional, possuindo estrutura específica de formação e treinamento dos militares encarregados de desempenhar a atividade de inteligência.

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Dentro dessa estrutura existem setores específicos que recebem todas as informações ou conhecimentos produzidos pelos mais de 30 adidos militares estrategicamente lotados pelo mundo.

Neste sentido, Cruz (2002, p. 5) refere que:

Das três Armas, apenas o Exército possui uma escola especializada e permanente destinada ao preparo dos seus RH de inteligência – a EsIMEx, ao passo que a Marinha e a FAB formam seus quadros ministrando cursos ao pessoal recrutado para a atividade. O SIEx (Sistema de Inteligência do Exército), modernizado em 2003 pelo então coronel Luiz Roberto Fragoso Peret Antunes, tem seu vértice no CIE, órgão de assessoramento direto ao Comandante da Força. Do exterior, o CIE recebe relatórios enviados pelos adidos militares lotados em 32 embaixadas brasileiras – a maioria na América do Sul e na África ocidental –, desde 1990, quando o general Carlos Tinoco Ribeiro Gomes ampliou as atribuições do órgão, até então adstrito ao acompanhamento do cenário interno. No Brasil, o CIE conta com sete Companhias de Inteligência, uma em cada Comando Militar de Área, além de 22 Grupos Destacados. Presentes nas principais capitais, em cidades de fronteira e zonas tensas, tais unidades possuem efetivo variável conforme a importância estratégica da região e totalizam 541 homens. (grifo nosso)

Na Força Aérea Brasileira e na Marinha do Brasil, os serviços de inteligência também são devidamente estruturados para produção e proteção dos conhecimentos e informações afetos a estas armas e à segurança nacional.

Essas forças seguem o mesmo modelo de capilarização e utilização de seus adidos militares para realizarem a cooperação internacional na área de inteligência de segurança.

Todas as forças possuem suas estruturas de inteligência vinculadas tecnicamente ao Ministério da Defesa por meio do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas. Mais especificamente ao setor de assuntos estratégicos ao qual está vinculado, além da inteligência estratégica, também os assuntos internacionais e aditâncias militares de defesa no exterior.

Esse sistema de inteligência militar busca suprir a cúpula das forças de defesa de conhecimentos e informações para a defesa nacional, traçando inclusive cenários futuros e ameaças potenciais, para que se possa antecipar a tais fenômenos.

Neste sentido, Vidigal (2004, p. 12) afirma que:

O Subsistema de Inteligência do Exército Brasileiro apresenta uma rede capilar disposta em todo o território nacional, de modo especial, nas mais remotas guarnições de fronteira, bem como está presente também em

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diversos países através de seus militares destacados que, paralelamente às suas missões, realizam a coleta de dados de interesse para o país.

Essa capilaridade das Forças Armadas dentro do território nacional e em países estrategicamente escolhidos por cada força, aliada a pessoal altamente treinado dentro de uma doutrina de inteligência militar, com longa experiência na produção/proteção de conhecimentos de interesse da defesa nacional, permitem que o serviço de inteligência das Forças Armadas, e em especial a cooperação internacional de inteligência de segurança, seja um fator imprescindível para a soberania do Brasil.

Embora se viva em tempos de paz, é fundamental que tais serviços sejam capazes de avaliar futuras ameaças, pois nosso país cada vez mais se insere entre as grandes potências econômicas mundiais, angariando muitos aliados, mas, ao mesmo tempo, despertando muitos antagonismos.

Nesses tempos de paz (ao menos em nosso país), em que em tese inexistem conflitos armados declarados, o papel da atividade de inteligência confirma seu papel preponderante de assessoria, à medida que a produção de conhecimentos estratégicos, em especial a estimativa, deverá minimizar incertezas futuras, deixando mais consistentes as tomadas de decisões essenciais para a nação.

Concluindo este tema, Ribeiro (2006, p. 118) assim refere:

A cooperação da Inteligência Estratégica é um instrumento histórico do desenvolvimento das relações internacionais, muitas vezes utilizada na guerra, mas como fundamento estrutura das relações entre os povos, onde um dos principais teóricos das relações internacionais define como “a única maneira conhecida de reduzir as incertezas”. (DUROSELLE, 2000, p. 117).

Melhor não fechar matéria com citação direta.* ???

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Referências

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_______. Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1972. Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. Diário Oficial da União. 9 set 1942. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/Decreto-Lei/Del4657.htm>. Acesso em: 19 jun. 2011.

CRUZ, Eduardo Lucas de Vasconcelos. Desafios dos serviços de inteligência das forças armadas: a projeção de cenários como subsídio à capacidade de pronta-resposta e à estimativa dos prazos críticos de mobilização. UNESP. Disponível em: <https://www2.mp.pa.gov.br/sistemas/gcsubsites/>. Acesso em: 20 jun. 2011.

ONU. Perspectiva de la ONU frente a la inteligencia Policial en la lucha contra el Terrorismo. Disponível em: <http://www.fafich.ufmg.br/ceig/?screen=article&aid=15>, Acesso em: 24 mar. 2011.

TOFFOLI, José Antônio Dias. Mecanismos de Cooperação Jurídica Manual de Cooperação Jurídica Internacional e Recuperação de Ativos – Matéria Penal. Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, Secretaria Nacional de Justiça, Ministério da Justiça. Brasília, [s/d].

PAULINO, José Alves. A produção da prova externa e sua validade contra a criminalidade organizada transnacional. Brasília: Projeto Editorial, 2008.

RIBEIRO, Fábio Pereira. Cooperação estratégica em inteligência formação da defesa regional: uma contribuição dos serviços de inteligência. Cadernos PROLAM/USP, São Paulo, a. 5, v. 1, p. 113-128, 2006.

VIDIGAL, Armando Amorin Ferreira. Inteligência e interesses nacionais. In: Encontro de Estudos: Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI. III Encontro de Estudos: Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI. Brasília: Gabinete de Segurança Institucional; Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais, 2004.

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Cooperação internacional de inteligência de segurança

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Formas de cooperação internacional de inteligência de segurança

Geovaldri Maciel Laitartt

É preciso entender que atualmente algumas temáticas essenciais para a nação são objeto de produção de conhecimentos pelas agências de inteligência, e que, para tanto, a cooperação internacional se torna imprescindível, e isso ocorre porque a complexidade de tais temáticas assim requer, uma vez que, em geral, possuem caráter transnacional.

E também já conhecendo alguns mecanismos para se efetivar esta cooperação, diante da ausência de regulamentação específica, importa destacar algumas formas específicas de cooperação internacional de inteligência de segurança.

As formas atuais de auxílio entre as nações favoreceu o surgimento de pactos internacionais que marcadamente fomentam cooperação de inteligência de segurança. Embora não tragam literalmente em seus textos tal temática, os fundamentos, os objetivos e suas disposições revelam a necessidade do estabelecimento de formas céleres de troca de informações como condição de eficácia dessa cooperação.

Nesse enfoque, alguns documentos são elaborados, nos quais, dentre outros aspectos, salienta-se a cooperação via autoridade central ou direta, estabelecimento de oficiais de ligação, previsão de treinamento e capacitação conjunta.

Quatro documentos se destacam:

a. a Convenção Internacional para Repressão ao Financiamento ao Terrorismo;

b. a Convenção Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes;

c. a Convenção para Repressão a Criminalidade Transnacional; e

d. a Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção.

Esses instrumentos internacionais permitiram a criação de mecanismos de cooperação internacional mais céleres como a cooperação direta. Esse instituto que no âmbito da inteligência policial ou criminal é atualmente bastante estudada e empregada em casos específicos.

A chamada cooperação internacional policial direta que, ao lado da Polícia Internacional Criminal, é a grande ferramenta de cooperação na área de inteligência de segurança. Nesse sentido, Lima esclarece (2010, p. 123):

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A cooperação penal internacional, para fins de investigação criminal, realizada entre as polícias ou órgãos correlatos de diversos países, e a mais tradicional forma de ajuda interetática para o combate a criminalidade. Embora a principal manifestação desta modalidade de cooperação não-jurisdicional ocorra pela Organização de Policia Internacional – Interpol, o auxílio policial internacional conhece outros caminhos, igualmente legítimos, para o intercâmbio de provas de infrações penais e de informações de inteligência criminal. (grifo nosso).

A Polícia Criminal Internacional (INTERPOL) possui um relevante papel na cooperação internacional de inteligência de segurança, pois seus objetivos, estrutura e ferramentas são concebidas para romper as barreiras formais dos Estados parte e dar efetividade aos princípios da justiça universal.

Ainda no âmbito das possibilidades trazidas pelos instrumentos internacionais citados, destacam-se a repressão à criminalidade transnacional organizada, ao terrorismo e seu financiamento, as estruturas de cooperação internacional de inteligência financeira, que guardam conexão com a inteligência de segurança à medida que a moderna estratégia de enfrentamento de crimes complexos ocorre exatamente por meio do estrangulamento financeiro de tais organizações.

Assim, nossa unidade de inteligência financeira compõe um sistema internacional chamado Rede Egmont.

No tocante aos instrumentos internacionais contemporâneos, é importante salientar que é a Convenção Internacional para Repressão ao Financiamento ao Terrorismo que inova no que se refere ao fluxo de informações e conhecimentos entre os Estados signatários da Convenção. Esse documento multilateral foi o primeiro a tratar especificamente a respeito do financiamento do terrorismo.

A esta altura da evolução do fenômeno terrorista no mundo já possuímos diversos tratados internacionais sobre o tema. No entanto, essa convenção especificamente possibilitou que houvesse a ampliação das ações de inteligência dos países signatários, pois exigiam o monitoramento de pessoas, bens, comunicações, visando à produção e circulação de informações para prevenção de atentados terroristas no mundo inteiro.

Neste sentido, Vaz (2004, p. 85) manifesta que:

A Convenção Internacional para a Repressão do Financiamento do Terrorismo é, em tal contexto, o primeiro instrumento voltado, explicitamente, não para a repressão a um determinado tipo de ação terrorista, mas para a prevenção, ampliando o universo de atores a serem considerados no enfrentamento ao terrorismo.

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Cooperação internacional de inteligência de segurança

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Esse caráter de prevenção está intimamente ligado à atividade de inteligência. É nesse contexto que diversas agências de inteligência mundiais buscavam aprimorar suas capacidades de produção de conhecimento visando à antecipação a qualquer ação terrorista.

Para tanto, é necessário ampliar as capacidades de coleta e de busca de informações, bem como difundir o conhecimento produzido que possa ser de interesse bilateral, ou seja, se intensifica a cooperação internacional de inteligência de segurança.

Corroborando com a ideia da necessidade da ampliação do fluxo de informações, Vaz (2004, p. 86) assinala:

Face a esse importante desdobramento, a cooperação multilateral frente ao terrorismo passou a definir-se em torno de dois aspectos centrais: a geração e a disseminação de informações, de modo a permitir o monitoramento, em caráter permanente, do fluxo de pessoas, bens e recursos financeiros no interior dos países e através das fronteiras, por um lado, e, por outro, a aplicação de medidas de controle e supervisão do fluxo de pessoas e do sistema financeiro. A esses, veio a somar-se a cooperação em matéria judicial, conformando assim, o tripé fundamental da cooperação internacional para o enfrentamento do terrorismo tal como configurada no presente.

Alguns dispositivos dessa convenção merecem destaque, conforme veremos a seguir.

O Decreto nº 5.639, de 26 de dezembro de 2005, promulga a Convenção Interamericana contra o Terrorismo, assinada em Barbados, em 3 de junho de 2002. Teve seu fundamento na grave ameaça para os valores democráticos, para a paz e a segurança internacionais. Além disso, adotou no Sistema Interamericano medidas eficazes para prevenir, punir e eliminar o terrorismo mediante a mais ampla cooperação.

Salientamos que o artigo 1º desta Convenção determina que o objeto primeiro é a prevenção, ou seja, é a integração internacional de informações e conhecimentos para o estabelecimento de cenários futuros que visem a adotar medidas de caráter operacional que evitem a concretização de atentados terroristas.

Art. 1º Esta Convenção tem por objetivo prevenir, punir e eliminar o terrorismo. Para esses fins, os Estados Partes assumem o compromisso de adotar as medidas necessárias e fortalecer a cooperação entre eles, de acordo com o estabelecido nesta Convenção.

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Já o artigo 4º dispõe de mecanismos para se dar efetividade à Convenção, dentre os quais destacamos:

a. a supervisão bancária, para identificação e monitoramento de recursos financeiros que eventualmente sejam destinados ao financiamento ao terrorismo;

b. vigilância em regiões de fronteira do fluxo monetários de alta liquidez;

c. criação de mecanismos que capacitem as autoridades encarregadas do enfrentamento ao terrorismo para cooperar e intercambiar informações nos planos nacionais e internacionais, sempre observando as disposições constitucionais de seus países;

d. os signatários desta Convenção devem designar e manter unidades de inteligência financeira para processamento de informações a respeito a lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo.

Por fim, estabelece que os Estados Partes observem as diretrizes de entidades internacionais especializadas como o Grupo de Ação Financeira (GAFI) e Comissão Interamericana para o Controle do Abuso de Drogas (CICAD), pertencente à Organização dos Estados Americanos (OEA).

Essas imposições estabelecidas pela Convenção traduzem-se, substancialmente, em atividade de inteligência de segurança. Tratam do acompanhamento e monitoramento de pessoas e fluxos de financeiros, pressupondo troca de informações entre agências, em ambientes seguros, configurando-se como atividades típicas de serviços de inteligência.

Fortalecendo este entendimento, o artigo 8º da mesma lei estabelece

Cooperação entre autoridades competentes para aplicação da lei.

Os Estados Partes colaborarão estreitamente, de acordo com seus respectivos ordenamentos legais e administrativos internos, a fim de fortalecer a efetiva aplicação da lei e combater os delitos estabelecidos nos instrumentos internacionais enumerados no Artigo 2. Neste sentido, estabelecerão e aperfeiçoarão, se necessário, os canais de comunicação entre suas autoridades competentes, a fim de facilitar o intercâmbio seguro e rápido de informações sobre todos os aspectos dos delitos estabelecidos nos instrumentos internacionais enumerados no Artigo 2 desta Convenção.

Mais adiante, o artigo 16 da Convenção estabelece a necessidade de programas de cooperação, técnicas e de treinamentos conjuntos. Isso permite aprimoramento profissional de todas as instituições envolvidas, trocando experiências, desenvolvenvo e disseminando tecnologias de prevenção ao terrorismo.

Esse ambiente é formal e materialmente adequado à cooperação internacional de inteligência de segurança à medida que este serviço fornece doutrina para

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Cooperação internacional de inteligência de segurança

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a produção e proteção de conhecimento, mão de obra especializada para o intercâmbio de informações e, sobretudo, ambiente controlado.

Outro instituto muito relevante para a atividade de inteligência é a Convenção para Repressão à Criminalidade Transnacional, conhecida como Convenção de Palermo, promulgada pelo Decreto n° 5.015/2004.

Essa convenção busca facilitar a cooperação internacional para o enfrentamento ao crime organizado transnacional. Ela define alguns termos, estabelece algumas formalidades e ritos para a cooperação. Além disso, essa Convenção reforça a ideia da necessidade do aprimoramento da cooperação internacional de inteligência de segurança afirmando em vários dispositivos a importância da troca de informações, estabelecimento de mecanismos para identificação de pessoas e atividades, monitoramento de fluxos financeiros relacionados às organizações criminosas.

O artigo 27 desta Convenção dispõe expressamente quanto a esses mecanismos de cooperação assim dispondo

Cooperação entre as autoridades competentes para a aplicação da lei

1. Os Estados Partes cooperarão estreitamente, [...], cada Estado Parte adotará medidas eficazes para:

a) Reforçar ou, se necessário, criar canais de comunicação entre as suas autoridades, organismos e serviços competentes, para facilitar a rápida e segura troca de informações relativas a todos os aspectos das infrações previstas na presente Convenção, incluindo, se os Estados Partes envolvidos o considerarem apropriado, ligações com outras atividades criminosas;

b) [...];

i) Identidade, localização e atividades de pessoas suspeitas [...];

ii) Movimentação do produto do crime ou dos bens [...];

iii) Movimentação de bens, equipamentos ou outros [...];

c) [...];

d) Facilitar uma coordenação eficaz entre as autoridades, organismos e serviços competentes e promover o intercâmbio de pessoal e de peritos, incluindo, sob reserva da existência de acordos ou protocolos bilaterais entre os Estados Partes envolvidos, a designação de agentes de ligação;

e) Trocar informações com outros Estados Partes sobre os meios e métodos específicos utilizados pelos grupos criminosos organizados, incluindo, [...];

f) Trocar informações e coordenar as medidas administrativas e outras tendo em vista [...];

2. Para dar aplicação à presente Convenção, os Estados Partes considerarão a possibilidade de celebrar acordos ou protocolos bilaterais ou multilaterais que prevejam uma cooperação direta entre as suas autoridades competentes para a aplicação da lei e, quando tais acordos ou protocolos já existam, considerarão a possibilidade de os alterar. [...];

3. [...]. (grifos nossos)

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Da redação dos dispositivos acima, fica evidente a necessidade de cooperação internacional de inteligência de segurança, que deixa de ser uma necessidade e passa a ser um compromisso do Brasil.

Do dispositivo acima, cabe destacar a previsão do estabelecimento de oficiais de ligação para o enfrentamento ao crime organizado transnacional. É baseado nesse dispositivo que as agências encarregadas da aplicação da lei mantêm seus servidores em outros países, sem que isto requeira todo o trâmite diplomático que representações desta natureza exigem.

Estudando a Convenção de Palermo, Paulino (2008, p. 52) afirma que:

A Convenção veio abrir aos Estados Partes a possibilidade de celebrarem acordos ou protocolos bilaterais ou multilaterais que, em razão dos mesmos possam estabelecer órgãos mistos de investigação, as chamadas investigações conjuntos, com a ressalva de que seja respeitada a soberania, é o que consta do art. 19, e com respeito a matérias que sejam objeto de investigação, processos ou ações judiciais em um ou mais Estados, confere poderes as autoridades competentes para que possam estabelecer órgãos mistos de investigação.

O estabelecimento da possibilidade de órgãos de investigação mista é a formalização da necessidade de cooperação internacional de inteligência de segurança, pois possibilita a união de esforços das agências encarregadas de aplicação da lei e seus serviços de inteligência de vários Estados soberanos em prol de um objetivo comum, o que certamente traz inúmeros benefícios para todos.

Ao esmiuçar questões operacionais da cooperação, a Convenção enfatiza a necessidade de se aprimorar as técnicas de vigilância empregada por todos os países signatários, pois, como afirma Paulino (2008, p. 52), as partes envolvidas se utilizarão das técnicas existentes em seus países mais outras formas de vigilância:

Quanto às técnicas especiais de investigação, além daquelas previstas no direito interno de cada país, a convenção veio permitir outras técnicas, como o “recurso apropriado a entregas vigiadas”, “a vigilância eletrônica ou outras formas de vigilância”, e as operações de infiltração.

A Convenção Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes, promulgada pelo Decreto n° 154, de 26 de junho de 1991, também estabelece diversas formas de cooperação internacional de inteligência de segurança, seguindo a lógica das Convenções anteriormente mencionadas.

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Além da previsão em diversos dispositivos, a troca de informações por meio do estabelecimento e manutenção de canais de comunicação entre as agências e serviços competentes, também prevê a criação de equipes de investigação conjunta, considerando a necessidade de proteção das pessoas e das operações. Da mesma forma que as demais Convenções, essa também dispõe sobre a possibilidade da definição de agentes de ligação.

O Decreto n° 5.687, de 31 de janeiro de 2006, promulga a Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção. Os Estados signatários desta Convenção entenderam, conforme estabelece o preâmbulo, como graves as ameaças decorrentes da corrupção, para a estabilidade e segurança das sociedades, que enfraquecem as instituições e os valores da democracia, da ética e da justiça e comprometem o desenvolvimento sustentável e o Estado Democrático de Direito, bem como os vínculos entre a corrupção e outras formas de delinquência, que ameaçam a estabilidade política e o desenvolvimento sustentável das Nações.

A Convenção estabeleceu no artigo 1º como uma de suas finalidades a promoção e facilitação da cooperação internacional e assistência técnica à prevenção e luta contra a corrupção.

Esse instrumento internacional, assim como os demais já referidos, também acentua a necessidade de mecanismos seguros de troca de informações, o estabelecimento de investigações conjuntas e definições de agentes de ligação.

Assim, verificamos que todos os quatro instrumentos internacionais de cooperação retrocitados determinam como compromisso dos Estados signatários a cooperação internacional para o estabelecimento, por instrumentos simplificados, de formas seguras de troca de informações, implantação de operações conjuntas e previsão para designar agentes de ligação.

Esse contexto insere a cooperação de inteligência de segurança em um cenário estratégico para todas as nações. Desta forma, essas previsões rompem paradigmas clássicos de cooperação nos quais, para que se concretizasse o intercâmbio de informações, era necessário um longo e moroso caminho diplomático.

Hoje dispomos dessas formas mais simplificadas de cooperação internacional de inteligência de segurança. Foi e é com base nesses dispositivos que se produzem inúmeras operações e cooperações entre as agências.

Em particular, o Brasil participou, dentre tantas outras, de uma operação de cooperação com a polícia italiana que, após protocolos de entendimentos intermediados pela Organização de Polícia Internacional (Interpol) com aquele país, desencadeou-se uma operação para a repressão da exploração sexual em uma cidade do nordeste brasileiro.

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A operação contou com policiais italianos infiltrados em grupos de turistas daquele país, os quais, à medida que identificavam quais seriam os possíveis turistas infratores, passavam a monitorá-los e repassavam essas informações para as equipes brasileiras, que em conjunto realizavam os acompanhamentos e a produção de conhecimento de inteligência necessários. Algumas vezes foram realizadas prisões em flagrante. Assim, constamos que essa operação teve pleno êxito graças à cooperação internacional de inteligência de segurança.

Outra ocasião que podemos citar como desdobramento das Convenções aqui mencionadas foi a participação do Brasil no Foreign Joint Intelligence Group para os Jogos Olímpicos de Inverno de 2010, em Vancouver, no Canadá.

Com base em memorando de entendimentos, o Brasil estava representado naquele escritório internacional de inteligência com a finalidade de estabelecer o fluxo de informações e conhecimentos estratégicos para prevenção e repressão à criminalidade.

Outro aspecto presente nas convenções colacionadas é a questão do estabelecimento de formas de cooperação internacional que visem ao fluxo de informações acerca da lavagem de dinheiro e do financiamento ao terrorismo.

No âmbito interno, o órgão responsável pelo monitoramente das transações financeiras e comerciais consideradas atípicas dentro do território nacional é o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), que é a unidade de inteligência financeira brasileira.

Para serem consideradas atípicas, tais transações são analisadas por critérios objetivos e subjetivos, previamente estabelecidos pelo COAF. No que se refere à cooperação internacional de inteligência financeira, o COAF é integrante da Rede Egmont.

O site da Rede Egmont (<www.egmontgroup.org/>) informa sobre o reconhecimento dos benefícios do desenvolvimento de uma rede de unidades de inteligência financeira, ao relatar que um grupo dessas unidades reuniu-se em 1995 na cidade de Bruxelas, na Bélgica, especificamente no Palácio de Egmont Arenberg, e decidiu formar um grupo informal visando a estimular a cooperação internacional.

Hoje, o Grupo de Egmont reúne-se periodicamente para buscar formas de cooperar entre si, especialmente nas áreas de intercâmbio de informações, treinamento e troca de experiências. É composto por 105 unidades de inteligência financeira e estabeleceu-se como um grande fórum de discussões sobre matérias de lavagem e dinheiro e financiamento ao terrorismo, sendo o intercâmbio de informações financeiras um de seus principais focos de atuação.

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Além disso, o Grupo de Egmont fornece treinamento e pessoal para qualificar os serviços das unidades de inteligência financeira, em especial fornecendo forma de comunicação segura pela rede Egmont Secure Web (OCE).

As agências encarregadas do cumprimento da lei, por meio de suas unidades de inteligência, que necessitem informações financeiras de outros países, poderão requerer ao COAF e este obtém tais informações por meio da Egmont Secure Web, sem a necessidade de utilizar de mecanismos de cooperação via diplomática ou de instrumentos simplificados de cooperação estabelecidos pelas convenções aqui mencionadas,

Outra inovação que as convenções já apresentadas introduziram em âmbito da cooperação internacional é a possibilidade de cooperação internacional em matéria penal por meio das chamadas autoridades centrais.

Vários tratados específicos foram firmados, conforme já citamos, que são os chamados MLAT. Ao discorrer sobre cooperação jurídica internacional em matéria penal, Aras (2010, p. 73) define autoridade central como:

[...] um órgão técnico especializado, em regra não jurisdicional, que se encarrega da interlocução internacional em matéria de cooperação jurídica em matéria civil e penal. Usualmente integra a estrutura do Ministério Público ou do Poder Executivo, na pasta da Justiça ou ministério equivalente. Sua missão precípua, como ponto de contato, é facilitar e acelerar a tramitação dos pedidos de auxílio interetático, eliminando a intermediação dos ministérios de relações exteriores.

Outra forma de cooperação internacional de inteligência de segurança é Organização de Polícia Internacional (Interpol), já mencionada, porém agora mais detidamente analisada.

Conforme consta em seu site (www.interpol.int), a Interpol foi criada em 1923, tendo como missão auxiliar na cooperação policial internacional, auxiliando organizações e autoridades responsáveis na prevenção e repressão ao crime transnacional.

Possuindo 188 membros, seu principal canal de transmissão de informação é o sistema “I 24/7”, que interliga todos os seus membros dentro de um ambiente seguro.

Nesse sistema trafegam informações relacionadas às mais variadas temáticas como drogas, crime organizado, crimes farmacêuticos, crimes financeiros, crimes cibernéticos, terrorismo, tráfico de seres humanos, corrupção, entre outros temas.

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No Brasil, a Interpol é representada pelo Departamento de Polícia Federal, que possui representação em todos os Estados da Federação.

Devido à sua agilidade no trânsito de informações, alguns tratados internacionais estão estabelecendo sobre a possibilidade de a cooperação internacional direta ser feita por meio da Interpol.

Nesse sentido, Lima (2010, p. 145) registra que:

A cooperação policial realizada por meio da Interpol já é tradicional, tendo a vantagem de ser célere, com a dispensa de formalidades burocráticas. Reconhecendo essa realidade, alguns tratados de assistência jurídica mútua em matéria penal permitem que em caso de urgência a utilização subsidiária do canal Interpol, em lugar do mecanismo de autoridades centrais. Exemplos disso estão no artigo 7° da Convenção de Viena de 1988, no art. 6°, Parágrafo 4°, da Convenção da UE de 2000, e no art. 18, parágrafo 13, parte final da Convenção de Palermo de 2000.

A Interpol conta com um sistema de notificação internacional que contêm dados policiais, judiciais e de identificação criminal. Segundo Lima (2010, p. 146), as notificações são organizadas e nominadas por cores diferentes, conforme o tipo de notificação que se pretende difundir.

Será difusão vermelha aquela que se utiliza para facilitar a identificação e prisão de foragidos. Desta maneira, essa difusão terá caráter de mandado de prisão internacional, pois autoriza qualquer autoridade policial do mundo a realizar a prisão de determinada pessoa que estiver em seu território.

Já a difusão amarela destina-se a informar sobre pessoas desaparecidas, enquanto a notificação azul busca obter informações de determinada pessoa envolvida em algum tipo de crime.

A difusão preta relaciona-se a pessoas encontradas mortas e sem identificação. A difusão verde trata de potenciais criminosos, e a difusão laranja refere-se a casos relacionados a materiais explosivos ou que representam perigo à saúde ou à segurança pública.

Por fim, a difusão especial da Interpol/ONU visa à busca de informações sobre pessoas que tenham envolvimento com as redes internacionais de terrorismo conhecidas com Al Qaeda e o Talibã, por exemplo.

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Cooperação internacional de inteligência de segurança

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Embora tenhamos a possibilidade dessas diversas formas de cooperação internacional em inteligência de segurança vale lembrar que existem outras questões que precisam ser avaliadas quando se planeja estabelecer alguma cooperação deste gênero na produção de conhecimento.

O primeiro deles é nossa própria capacidade de receber e tratar os dados e informações oriundos de outros Estados que, somada à falta de recursos humanos devidamente treinados e preparados para esta nova faceta da atividade de inteligência, obriga a unidade de inteligência a preparar e planejar tal cooperação a médio e longo prazo.

Independente de nossas limitações e do tempo que possa transcorrer até que possamos tornar a cooperação internacional de inteligência uma ferramenta à disposição de todo o sistema, devemos amadurecer, treinar e criar alternativas inovadoras visando ao aperfeiçoamento e amadurecimento da capacidade de produção/proteção do conhecimento de inteligência de segurança.

Referências

ARAS, Vladimir. O papel da autoridade central no acordo de cooperação penal internacional. In: BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo; LIMA, Luciano Flores (orgs.). Cooperação jurídica internacional em matéria penal. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2010.

BRASIL. Decreto n° 154, de 26 de junho de 1991. Promulga a Convenção das Nações Unidas Contra o Tráfico Ilícito de entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas.

_______. Decreto n° 5.015, de 12 março de 2004. Promulga a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional.

_______. Decreto n° 5.639, de 26 de dezembro de 2005. Promulga a Convenção Interamericana contra o Terrorismo, assinada em Barbados, em 3 de junho de 2002.

_______. Decreto n° 5.687, de 31 de janeiro de 2006. Promulga a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 31 de outubro de 2003 e assinada pelo Brasil em 9 de dezembro de 2003.

_______. Ministério da Defesa. Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF). Disponível em: <www.coaf.fazenda .gov.br>.

DINIZ, Eugênio. Considerações sobre possibilidade de atentados terroristas no Brasil. In: II Encontro de Estudos: Terrorismo. Brasília: Gabinete de Segurança Institucional; Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais, 2004. 123p.

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EGMONT GROUP. The Egmont Group of Financial Inteligence Units. Institucional. Disponível em: <www.egmontgroup.org>.

INTERNATIONAL CRIMINAL POLICE ORGANIZATION (INTERPOL). Institucional. Disponível em: <www.interpol.int>.

LIMA, Luciano Flores de. Cooperação Internacional Direta pela Polícia ou pelo Ministério Público. In: BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo; LIMA, Luciano Flores (orgs.). Cooperação jurídica internacional em matéria penal. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2010.

PAULINO, José Alves. A produção da prova externa e sua validade contra a criminalidade organizada transnacional. Brasília: Projeto Editorial, 2008.

VAZ, Alcides Costa. A cooperação multilateral frente ao terrorismo internacional: dimensões e desafios da participação brasileira. In: II Encontro de Estudos: Terrorismo. Brasília: Gabinete de Segurança Institucional; Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais, 2004. 123p.

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Cooperação internacional de inteligência de segurança

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Atividades de Autoaprendizagem

Relacione o dado/informação/providência que a agência de inteligência necessita com o mecanismo apto a produzi-lo:

1. Dados referentes a comunicações de atividade econômica/financeiras atípicas de cidadão italiano, residentes no Brasil com contas bancárias no Uruguay;

2. Alerta de da expedição de mandado prisão preventiva de brasileiro que deixou o país;

3. Confirmação de envolvimento de cidadão colombiano com o narcotráfico Americano;

4. Confirmação de atividades econômicas no oriente médio de brasileiro de origem Árabe residente da tríplice fronteira;

5. Bloqueio de contas bancárias na Alemanha decretado judicialmente no Brasil de brasileiro, residente no Brasil, em liberdade.

( ) Acionamento da Polícia Internacional - Interpol para difusão vermelha;

( ) Solicitação via Unidade de Inteligência Financeira Brasil que se utilizará da rede de Egmont para obtenção dos dados;

( ) Encaminhamento via pedido de inteligência junto a Agência Brasileira de Inteligência, ao órgão central do subsistema de inteligência de defesa e a unidade de inteligência financeira do Brasil.

( ) Encaminhamento do alvará judicial via pedido de inteligência junto ao Departamento de recuperação de ativos do Ministério da Justiça.

( ) Pedidos de inteligência encaminhados aos adidos policiais na Embaixada Americana no Brasil e para os adidos Policiais Brasileiros nos EUA;

Avaliação Colaborativa

Entendo a troca de conhecimentos entre agências de inteligência de diversos países prática internacionalmente estabelecida, pesquise sobre organismos internacionais formais ou informais que sejam oficialmente reconhecidos para viabilizar este fluxo (que não tenham sido trabalhados no texto da disciplina). Destacando data e documento de formação, componentes, protocolos básicos de proteção do conhecimento, tipos de informações que trafegam e requisitos legais.

Publique a sua pesquisa na ferramenta Exposição dessa disciplina. Em seguida, lei a pesquisa de seus colegas, e compartilhe suas idéias.

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Síntese

Nesta unidade verificamos que o mundo está totalmente globalizado e interconectado de diversas formas e que isto estabelece um cenário favorável à prática de diversas condutas que podem afetar os Estados constituídos de várias maneiras. Entre essas práticas verificamos que o crime organizado transnacional e o terrorismo são realidade crescente no mundo.

Vimos que diante desse contexto as agências de inteligência de segurança buscam cada vez mais a cooperação internacional, o que já era praxe em termos de defesa nacional.

Amplia-se assim o espectro de cooperação de inteligência de segurança principalmente com o advento das Convenções contra o terrorismo, contra os entorpecentes, contra a corrupção e contra o crime organizado.

Soma-se a essas questões o fato de o Brasil colocar-se entre as grandes potências econômicas mundiais nas próximas décadas, demandando assim grande capacidade de produção/proteção de conhecimentos de inteligência que, sem cooperação internacional, não alcançará a efetividade desejada.

Saiba mais

Após ter estudado a Unidade 03, amplie seus conhecimentos sobre este conteúdo lendo e refletindo sobre as informações contidas nos links abaixo.

• http://europa.eu/legislation_summaries/justice_freedom_security/fight_against_organised_crime/l14005b_pt.htm

• www.dcaf.ch

• www.itamaraty.gov.br

• www.cicad.oas.org

• www.fatf-gafi.org

• www.mj.gov.br/drci

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Inteligência de segurança e o Estado Democrático de Direito

Unidade 4

Objetivos de Aprendizagem • Entender as funções da inteligência como entidade estatal.

• Conhecer os limites éticos e jurídicos da atividade de inteligência.

• Conhecer os mecanismos de controle da atividade de inteligência.

Introdução

A atividade de inteligência de segurança possui, por sua própria natureza, alguns contornos que são alvo de diversas críticas e questionamentos por parte de vários setores e segmentos sociais.

Atualmente, essas críticas e questionamentos são objeto de preocupações dentro das próprias agências de inteligência, pois se busca resgatar a credibilidade de um serviço público de extrema importância para a nação.

A questão que permeia este cenário é fruto da maneira com que a atividade de inteligência nasceu e se desenvolveu em nosso país, uma vez que suas origens estão dentro das estruturas militares, em que vigora o antagonismo com inimigos ou eventuais inimigos, não possuindo inicialmente o foco na defesa do cidadão.

Nessa ótica, a atividade de inteligência se desenvolve utilizando toda a técnica de produção/proteção do conhecimento para que se tenha vantagem frente a este potencial inimigo.

Neste contexto de enfrentamento ao inimigo, as ações de inteligência de coleta e busca de dados para produção do conhecimento eram regradas por normas internas de cada agência, as quais, em especial durante o regime de exceção, não visualizavam a proteção da sociedade, mas sim a proteção contra inimigos do sistema. Tais inimigos durante a ditadura eram os denominados subversivos, ou seja, contrários ao regime militar.

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Inteligência de segurança e o Estado Democrático de Direito

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Outra questão que contribui para acentuar tais questionamentos se refere a uma característica da atividade de inteligência: o sigilo.

O sigilo, com a abertura política de 1988, em especial com a promulgação de nossa Carta Constitucional, tornou-se fragilizado, pois toda estrutura estatal administrativa trabalha à luz de muitos princípios, sendo a publicidade um de seus principais.

Assim, a cultura da utilização da atividade de inteligência crivada pelo sigilo para produzir conhecimentos de interesse militar contra o inimigo fez com que a atividade de inteligência de segurança se desenvolvesse neste cenário de autoridade centralizada, tendo o sigilo como pressuposto básico, no qual o simples fato de pertencer aos quadros no Estado já legitimaria suas ações.

Um jargão muito conhecido que retrata bem esta questão é: quem pertence ao sistema “é um soldado do silêncio”. Atualmente, a visão é: quem pertence ao sistema “é um soldado do conhecimento”.

A partir do pressuposto do sigilo e de legitimidade inquestionável, a atividade se tornou vulnerável ao desvio de finalidade, que em tese é a realização do bem comum, podendo servir aos interesses de pessoas, instituições e ideologias, e não do coletivo.

Para resgatar a credibilidade da atividade de inteligência de segurança se faz necessário alcançar alguns objetivos claros, entre eles a efetividade. Mas, acima de tudo, que a produção e proteção do conhecimento como atividade típica de Estado seja pautada e norteada pelos princípios democráticos constitucionalmente estabelecidos e pelo controle de suas atividades.

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Pós-graduação

Parâmetros de atuação da atividade de inteligência de segurança como função do Estado

Geovaldri Maciel Laitartt

Primeiramente vamos entender o contexto legal e administrativo em que se inserem as agências de inteligência de nosso país. Buscar compreender e identificar como se dá a relação de poder entre os particulares e as agências de inteligência durante produção de conhecimento de inteligência.

A lógica de formação do Estado Moderno nos faz entender quais os motivos e objetivos que levaram o povo a concluir por sua formação. Quais eram as intenções da sociedade na delegação de sua autonomia privada para um ente abstrato.

Conforme ensina Carvalho Filho (2006, p. 1), a palavra Estado (status em latim), estar firme, significa a situação permanente de convivência e ligada à sociedade política.

A primeira evidência desse conceito é apresentada na obra “O Príncipe”, de Maquiavel (1513). Todavia, Estado na acepção política da palavra só vem a existir no séc. XVI, e se define como “todas as sociedades políticas que, com autoridade superior, fixaram as regras de convivência de seus membros”.

Relevante refletir sobre as causas que levam, naturalmente ou por contrato, determinado grupo a buscar mínima organização de suas relações sociais.

Algumas teorias tentam explicar a origem dessa formação, tais como a teoria teológica, familiar, econômica e a contratual. Todavia, o natural desenvolvimento dos grupos de convivência também pode ser um dos motivos para a tentativa de se estabelecer uma harmonia social.

É importante salientar que o homem, desde que se define como ser racional, vive em ambiente minimamente organizado e com delegação de poder para condução do grupo. Porém, sem que haja mecanismos preestabelecidos de estruturação.

Podemos entender que a sua formação foi natural, conforme as necessidades de que era acometido determinado grupo social, podendo, no entanto, ter adquirido natureza contratual. Com isso, a sua formação é derivada da deliberação da coletividade.

Não podemos deixar de anotar aqueles fenômenos que se caracterizam pela formação de um Estado derivado de um já existente, como é o caso da separação e da união.

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Inteligência de segurança e o Estado Democrático de Direito

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Buscando um marco de criação do Estado, Carvalho Filho (2006, p. 1) assim se manifesta:

Discutem os pensadores sobre o momento em que apareceu o Estado, ou seja, qual a precedência cronológica: o Estado ou a sociedade. Informa-nos Dalmo Dallari que para certa doutrina o Estado como sociedade, sempre existiu; ainda que mínima pudesse ser, teria havido uma organização social nos grupos humanos. Outra doutrina da à sociedade em si precedência sobre a formação do Estado. Este teria decorrido da necessidade ou conveniências de grupos sociais. Uma terceira corrente de pensamento ainda retarda o nascimento do Estado, instituição que só passaria a existir com características bem definidas.

Inicialmente, o Estado Moderno foi configurado pelo Estado Absolutista, em que havia total centralização do poder e de funções estatais. O soberano detinha total poder sobre tudo e sobre todos.

Demonstrando claramente como se dava a relação de poder entre o governante e os governados, é nessa fase que ficou célebre a frase do rei Luiz XIV, da França, também chamado de Rei Sol: “O Estado sou Eu”.

Com o advento da Revolução Francesa, em 1789, houve a ruptura com o absolutismo e inaugurava-se o Estado Liberal, no qual vigoraria o Princípio da Supremacia Constitucional e a consequente separação das funções de um Estado de Direito, que teriam sua formalização nas Constituições dos Estados, origem histórica da ideia de Constituição e de Direito Constitucional.

Refletindo sobre o tema, Bonavides (2006, p. 36) assinala que:

A origem da expressão Direito Constitucional, consagrada há cerca de um século, prende-se ao triunfo político e doutrinário de alguns princípios na organização do Estado Moderno. Impuseram-se tais princípios desde a Revolução Francesa, entrando a inspirar as formas políticas do chamado Estado liberal, Estado de direito ou Estado Constitucional.

Esta supremacia constitucional e a separação são mecanismos de controle e equilíbrio entre as forças do Estado soberano e seus cidadãos. Serve justamente para instrumentalizar a concretização das necessidades do povo, pois o Estado e suas estruturas são constituídos do povo, pelo povo e para o povo.

Assim, independentemente do que levou ao surgimento de determinada organização social e a consequente formalização do Estado, o que sempre se buscou ao se delegar o poder foi o atendimento dos interesses coletivos.

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Pós-graduação

Nesse sentido, Carvalho Filho (2006, p. 35), ao discorrer sobre poderes e deveres da administração, refere que:

A evolução do Estado demonstra que um dos principais motivos inspiradores de sua existência é justamente a necessidade de disciplinar as relações sociais, seja propiciando segurança aos indivíduos, ou mesmo praticando atividades que tragam benefício à sociedade.

Nessa concepção de delegação de poder a um ente abstrato chamado Estado, a definição de sua forma, bem como de seu tipo de governo, também busca a realização do bem comum, o qual será materializado por meio de ações concretas realizadas pelo Estado. Para tanto, faz-se necessário que este ente abstrato se estruture adequadamente com recursos humanos e materiais para que consiga realizar alguma ação.

Nesse contexto é que se inserem as agências encarregadas da aplicação da lei, em especial seus serviços de inteligência, caracterizando-se por serem simplesmente forma estrutural para realização dos fins do Estado.

Essas agências possuem um mandato de delegação de poder dos particulares para, enquanto estruturas de Estado organizado, realizarem o bem comum, constituindo-se assim aspectos altamente relevantes para um Estado com regime democrático tão recente.

Barry (1991 apud CEPIK, 2005, p. 67), ao elaborar premissas de pesquisa sobre regime político e sistemas de inteligência no Brasil, assim se manifestou:

[...] a existência de serviços de inteligência institucionalizados, isto é, legítimos e efetivos, é condição necessária para um Estado democrático garantir a segurança dos cidadãos e promover o interesse público. Nesse sentido, serviços de inteligência são parte essencial, juntamente com as Forças Armadas, as polícias e a diplomacia, do aparato burocrático de qualquer Estado com pretensões mínimas de autonomia no sistema internacional. Estados com regimes políticos democráticos não são excepcionais, no sentido de que poderiam prescindir desse tipo de capacidade ou poder.

Embora o autor faça distinção entre serviço de inteligência e forças de segurança, o que, para nós, após a criação do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), do Subsistema de Inteligência de Defesa (SINDE) e do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP), não teria sentido.

O sistema e seus subsistemas reforçam a ideia da essencialidade do serviço de inteligência no Estado Democrático de Direito, pois se constitui ferramenta de

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Inteligência de segurança e o Estado Democrático de Direito

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consolidação de conquistas e de proteção das mesmas, bem como leva à promoção do interesse público como objetivo do Estado e da atividade de inteligência.

A agência de inteligência como órgão público busca a realização do bem comum por meio de determinados poderes inerentes à estrutura operacional do Estado, observando várias regras e princípios, especialmente os administrativos.

Carvalho Filho (2006, p. 39) define poderes administrativos como o conjunto de prerrogativas de direito público que a ordem jurídica confere aos agentes administrativos para o fim de permitir que o Estado alcance seus fins.

Importante salientar que o bem comum da coletividade nem sempre será o bem comum da instituição, não é o bem comum da agência ou de seus agentes.

O bem comum é uma expressão dotada de bastante subjetivismo. No entanto, encontramos na Constituição da República alguns princípios interpretativos que nos dão exata noção do alcance deste conceito, princípios expressos como:

a. a legalidade;

b. a impessoalidade;

c. a moralidade;

d. a publicidade; e

e. a eficiência.

Além desses, há os princípios implícitos, porém reconhecidos, como a supremacia do interesse público, razoabilidade e proporcionalidade.

Quando afirmamos que o bem comum da coletividade não é o bem comum das agências foi exatamente para frisar a questão de fundo desta fundamentação. Em regra, o bem comum de qualquer estrutura estatal deveria ser idêntico ao bem comum da coletividade, denominado interesse público.

Todavia, pela forma como foi amadurecida a atividade de inteligência, pela escassa regulamentação aliada à falta de efetividade dos mecanismos de controle externo e interno, a atividade de inteligência de segurança era utilizada para atender interesses diversos do público, em que pese se justificasse nele.

Nessa linha de entendimento, Carvalho Filho (2006, p. 9), ao discorrer sobre a gestão dos interesses públicos, assim se posiciona:

Seja qual for a hipótese da administração da coisa pública (res publica), é inafastável a conclusão de que a destinatária última

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Pós-graduação

dessa gestão há de ser a própria sociedade, ainda que atividade beneficie, de forma imediata ao Estado. É que não se pode conceber o destino da função pública que não seja voltado aos indivíduos, com vistas à sua proteção, segurança e bem-estar. (grifo nosso)

Para ilustrar a ideia, buscamos identificar qual o interesse do Serviço Nacional de Informações (SNI) (o maior, mais bem treinado e mais poderoso serviço de inteligência que já existiu até hoje em nosso país). Uma das suas principais funções era “controlar as ações de subversivos”, ou seja, os que eram contra ao regime militar.

Em matéria jornalística publicada, Valente (2008) revela que:

Ditadura “fichou” 308 mil, revelam arquivos do SNI

Pesquisados com profundidade a partir de dezembro de 2005, quando foram finalmente entregues à coordenadoria regional do Arquivo Nacional de Brasília, vinculado à Casa Civil da Presidência, os arquivos do SNI (Serviço Nacional de Informações) revelam a extensão da espionagem exercida pela ditadura sobre milhares de brasileiros entre 1964 e 1985. Até então, os arquivos ficavam na própria Abin (Agência Brasileira de Inteligência).

De acordo com os registros do Arquivo Nacional, 308 mil brasileiros foram fichados pela ditadura. Ao ter o nome inserido no Cada, a sigla do Cadastro Nacional do SNI, a pessoa recebia um código, precedido da letra “B” e de um número. As fichas remetem a outros arquivos, todos microfilmados. O material compreende cerca de 1 milhão de páginas sobre o dia-a-dia desses alvos da ditadura.

Essa matéria simboliza exatamente o confronto entre o interesse público de manifestação contra um regime totalitário, que suprimia direitos e garantias fundamentais, contra o interesse da agência de inteligência, que era exatamente identificar quais eram as pessoas que protestavam contra o sistema.

Reforçando a ideia da função democrática da atividade de inteligência, Vidigal (2004, p. 17) afirma que:

O uso pelo governo dos Serviços de Inteligência para investigar e perseguir os desafetos políticos, como parte de uma luta pelo poder, é inaceitável, sob o ponto de vista ético. Sendo os objetivos dos serviços de inteligência a segurança nacional e o bem público, o seu emprego para a manutenção do poder não se justifica, por não se coadunar com o sistema democrático de governo. O caso Watergate, que acabou por levar o presidente Nixon à renúncia, é um exemplo recente do uso da Inteligência com propósitos políticos partidários.

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Inteligência de segurança e o Estado Democrático de Direito

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Atualmente, o que se pretende em relação à atuação das agências de inteligência de segurança é que pautem todo seu processo de produção de conhecimento de inteligência nos princípios constitucionais acima citados. Aliado a isso, desempenhem um trabalho com pleno respeito aos direitos fundamentais e ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Quanto mais sua atuação estiver pautada nessas premissas, mais se afastarão da ilegal utilização dos serviços de inteligência. Para tanto, entendemos que a principal questão é a agência de inteligência e seu corpo funcional entenderem o seu papel, compreenderem a quem servem, e saberem quais são seus limites e os parâmetros legais de atuação.

Como indicado anteriormente, todas as agências nada mais são que estruturas do Estado para concretamente realizar o bem comum, o interesse público. E como as estruturas do Estado denominam-se órgãos da administração estão sujeitos aos parâmetros legais como qualquer outro órgão da Administração Pública.

É necessário, o mais rapidamente possível, nos afastarmos da visão romântica dos filmes de Hollywood, em que agentes trabalham secretamente, possuem codinomes, vidas secretas, e doam a sua vida pela nação, sem regras, sem controles, sem satisfação para com a sociedade à qual servem. Ao contrário desses cenários cinematográficos, o Estado Democrático de Direito exige, antes de mais nada, a observância dos preceitos legais de atuação de seus agentes públicos.

Uma maneira muito clara, por vezes incompreendida, de entender essa relação de força é comparar a atividade de quaisquer outros agentes públicos com o agente de inteligência.

O agente público tem que prestar conta de todas as suas ações, demonstrar sua eficiência, comprovar a alocação de recursos, justificar aquisições de materiais, enfim, uma imensidão de questões burocráticas. Essas questões, se não observadas, geram responsabilizações diversas, tais como administrativa, civil e penal, variando suas sanções desde uma advertência verbal até demissão, ressarcimento ao erário, pena privativa de liberdade, entre outras.

Comumente, é neste ambiente que todo o agente público se insere. Sem que seu órgão nunca tenha sido acusado de servir de alicerce para manutenção de um regime de governo, ou para queda de outro. Sem nunca este órgão se envolva em restrições de liberdades individuais, em injustiças, torturas, entre outras questões. Que sobre este não paire nenhuma dúvida sobre suas intenções, que tenha sua criação e amadurecimento em um ambiente democrático e participativo.

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Pós-graduação

Pois bem, imaginemos agora que sobre este órgão pairem todas as dúvidas anteriormente citadas. Será que seria adequado termos todos esses controles acima elencados? Claro que sim.

A atividade de inteligência de segurança, por tudo que já dissemos sobre sua criação, origem, propósitos iniciais, ambiente de amadurecimento, e, ainda, por seu histórico nocivo aos direitos e garantias fundamentais, deverá nas próximas décadas acentuar seus mecanismos de prestação de contas à sociedade para que conquiste a legitimidade como um serviço que respeita os princípios administrativos e constitucionais, direitos e garantias fundamentais.

Sobre princípios administrativos sempre é adequado entendermos seu significado, como bem exposto por Carvalho Filho (2006, p. 15):

[...] princípios administrativos são postulados fundamentais que inspiram todo o modo de agir da Administração Pública. Representam cânones pré-normativos, norteando a conduta do Estado quando no exercício de atividades administrativas.

Na medida em que a atividade de inteligência for entendida como uma agência que desenvolve uma atividade pública, altamente relevante para a sociedade, mas de natureza pública, que paute sua conduta irrestritamente nos princípios constitucionais, respeitando de forma intransigente os direitos e garantias fundamentais, que preserve valores éticos e morais que visem ao interesse público, esta atividade será respeitada e alavancada.

A partir de então, se transformará em um grande pilar de sustentação de nosso regime democrático e garantirá o Brasil como respeitável protagonista no cenário internacional, constituindo-se em motivo de orgulho da nação.

Ademais, além da necessária observância dos princípios e garantias, constitucionais e administrativas, outra importante questão é o regramento da atividade de inteligência de segurança.

O único e recente regramento do qual tivemos notícia até agora é o regramento do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública que, em 2009, nove anos após sua criação, aprovou a Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública (DNISP). Essa doutrina também regulamentou o subsistema, definindo seus fundamentos, finalidade e constituição, esclarecendo o alcance de alguns conceitos, prevendo formalidades de seleção de pessoal, enfim, tal norma traz um parâmetro inicial que, aliado à DNISP, propõe uma regulamentação mínima.

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Inteligência de segurança e o Estado Democrático de Direito

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Ao comentar e sugerir algumas ações no sentido modernização e conquista de credibilidade dos serviços de inteligência de segurança, no plano político institucional, Diniz (2004, p. 40) assim pondera:

Um primeiro ponto é a regulamentação das Operações de Inteligência e de Contra-inteligência. Embora o grosso da atividade de inteligência se baseie em informações provenientes de fontes ostensivas, a necessidade e existência das Operações está reconhecida na lei que criou a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e no Regimento Interno da Polícia Federal. Porém, não há dispositivo jurídico que as regulamente. Cria-se assim um perigoso vácuo jurídico. Afinal, às organizações compete realizar as operações, mas, como não há regulamentação, cada uma tem que construir seus próprios entendimentos sobre as condições e as maneiras como as conduzirão.

Esta falta de regulamentação faz com que as agências regulamentem suas ações de maneira totalmente isoladas, sem a mínima participação democrática. Com isso, criam-se diversas formas e maneiras de se produzir conhecimentos, em diversas agências, sem que a sociedade saiba exatamente sobre o que cada órgão se debruça, em que são aplicados os escassos recursos financeiros, e, sobretudo, qual o grau de eficiência de cada agência.

Ainda, ao complementar o pensamento anteriormente exposto, Diniz (2004, p. 40) expõe que:

No limite, os agentes podem se ver em situações difíceis do ponto de vista jurídico, caso essas atividades não estejam amparadas por mecanismos legais. Melhor regulamentação poderá, portanto, não só aumentar a eficácia das operações, mas também aumentar o controle jurídico e político sobre elas — diminuindo assim a desconfiança quanto a tais atividades.

Ou seja, a desconfiança a que se refere o autor, ou a falta de credibilidade a que nos referimos anteriormente, somente será afastada com regras claras preestabelecidas e o compromisso institucional, seguindo o regulamento de respeito ao Estado de Direito que vigora em nosso país.

Diniz (2004) salienta a ocorrência de confusão de atribuições decorrente justamente desta falta de regulação, ou regulamentação difusa.

Além do conflito de atribuições, poderá ocorrer falta de atribuições, à medida que não existe um diploma legal geral que se aplique a todas as agências de inteligência.

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Carecemos ainda de uma definição mais precisa da competência dos órgãos. Atualmente, por exemplo, à Diretoria de Inteligência Policial/Polícia Federal (DIP/PF) compete “planejar, coordenar, dirigir e orientar as atividades de inteligência em assuntos de interesse e competência do Departamento” e também “planejar e executar operações de contra-inteligência e antiterrorismo”; é competência do Ministério da Defesa a “inteligência estratégica e operacional no interesse da defesa”; já à ABIN compete “planejar e executar ações, inclusive sigilosas, relativas à obtenção e análise de dados para a produção de conhecimentos destinados a assessorar o Presidente da República” – sem que daí estejam excluídas as anteriores, de competência da Polícia Federal e do Ministério da Defesa;

“planejar e executar a proteção de conhecimentos sensíveis, relativos aos interesses e à segurança do Estado e da sociedade” – ou seja, contra-inteligência, competência também da Polícia Federal. (DINIZ, 2004, p. 41).

É uma das grandes necessidades da busca pelo respeito e reconhecimento social, afastar a desconfiança sobre a atividade de inteligência de segurança. Isso somente ocorrerá com o serviço devidamente regulamentado, como já referimos várias vezes, observando os postulados constitucionais para que se possa ter transparência nas ações.

Trata-se de mais um desafio de nossa jovem democracia, que aos poucos vai se solidificando e suas instituições demonstrando serem, ou não, essenciais.

Neste sentido, Cepik (2005, p. 69) postula que:

Na fase atual de desenvolvimento político do país, uma persistente vulnerabilidade em termos de capacidade estatal na área de provimento de defesa nacional e segurança pública tende a ser deletéria tanto para a estabilidade quanto para a qualidade da democracia. Nesse sentido, conquanto a legitimidade e a efetividade dos serviços de inteligência sejam dois lados da mesma moeda, no caso brasileiro os desafios atuais de institucionalização desses serviços estão mais fortemente associados à efetividade e eficiência do que à legitimidade.

Trata-se, portanto, de uma questão de sobrevivência à atividade de inteligência de segurança a (re)conquista da confiança popular, para que os cidadãos vejam nos serviços de inteligência uma ferramenta de consolidação dos direitos e garantias fundamentais.

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Inteligência de segurança e o Estado Democrático de Direito

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Referências

BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 15. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.

CEPIK, Marco. Regime político e sistema de inteligência no Brasil: legitimidade e efetividade como desafios institucionais. DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 48, n° 1, 2005.

DINIZ, Eugênio. Considerações sobre possibilidade de atentados terroristas no Brasil. In: II Encontro de Estudos: Terrorismo. Brasília: Gabinete de Segurança Institucional; Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais, 2004.

VALENTE, Rubens. Ditadura “fichou” 308 mil, revelam arquivos do SNI. Folha.Com. 14 dez. 2008. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u479179.shtml>. Acesso em: 6 jun. 2011.

VIDIGAL, Armando Amorim Ferreira. No regime democrático, a inteligência deve ser controlada pela sociedade. In: III Encontro de Estudos: desafios para a atividade de inteligência no século XXI. Brasília: Gabinete de Segurança Institucional; Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais, 2004. Disponível em: <http://geopr1.planalto.gov.br/saei/images/publicacoes/inteligencia.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2011.

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Parâmetros éticos e jurídicos da atividade de inteligência de segurança

Geovaldri Maciel Laitartt

O risco do cometimento de ações ilegais e antiéticas. A barreira entre o que é permitido e aquilo que é proibido deve ser legível em todas as circunstâncias, já que a organização de inteligência pode ser civilmente ou penalmente responsável pelas ações de seus executantes. (CARDOSO JÚNIOR, 2003, p. 5).

Inspirados nessas palavras de Cardoso Júnior (2003) procuramos percorrer alguns dispositivos constitucionais e legais visando a traçar algum parâmetro legal de atuação da atividade de inteligência de segurança.

A atividade de inteligência de segurança, por se tratar de uma atividade em regra pública, tem como sua finalidade direta ou indireta a realização de algum interesse público. A realização deste interesse é levado a efeito pelas agências de inteligência, órgãos públicos, e dos agentes de inteligência, agentes públicos.

Tendo em vista a natureza das atividades e funções, as agências de inteligência e seus agentes devem desempenhar suas atribuições pautadas por uma série de princípios e regras impostas à administração pública de uma forma geral, bem como a mandamentos e imposições específicos da atividade de inteligência.

Considerando os objetivos a que nos propomos neste texto, não esgotaremos a análise de toda a legislação sobre a atividade das agências de inteligência, pois acreditamos que qualquer regramento que exista ou venha a ser criado pelo Poder Legislativo, ou até mesmo, excepcionalmente, pelo Poder Executivo deverá estar em sintonia com os dispositivos constitucionais que elencaremos na sequência.

Como ponto de partida desta análise, um dos fundamentos da nossa República é a Dignidade da Pessoa Humana, que está previsto no artigo que inaugura a Constituição Federal, e assim dispõe:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I – a soberania;

II – a cidadania

III – a dignidade da pessoa humana;

IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V – o pluralismo político.

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Inteligência de segurança e o Estado Democrático de Direito

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Esses fundamentos, em especial ao que foi salientado, permeiam todo o arcabouço jurídico, normativo e administrativo de nosso país.

É no fundamento “a dignidade da pessoa humana” que são informados os demais direitos e garantias fundamentais, bem como os princípios constitucionais expressos ou implícitos.

Buscando estabelecer o alcance deste fundamento, Moraes (2001, p. 48) assim manifesta

Esse fundamento afasta a ideia de predomínio das concepções transpessoalistas de Estado e Nação, em detrimento da liberdade individual. A dignidade é um valor espiritual e moral inerente a pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se em um mínimo invulnerável que todo o estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos.

A atividade de inteligência, como qualquer outra atividade estatal, deve ter sua atuação integralmente comprometida neste fundamento, seguindo não só o regramento formalmente estabelecido, mas também a constante percepção entre o certo e o errado, entre o justo e o injusto, entre o ético e o não ético.

Não se pode admitir que nas ações de coleta e busca de dados, na elaboração de determinado relatório, o agente de inteligência guie-se friamente pelos preceitos normativos e se esqueça totalmente da ética necessária.

Nesse sentido, o próprio Código de Ética dos servidores públicos federais, aprovado pelo Decreto n° 1.171, de 22 de junho de 1994, quando trata Das Regras Deontológicas

[...]

II – O servidor público não poderá jamais desprezar o elemento ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas principalmente entre o honesto e o desonesto, consoante as regras contidas no art. 37, caput, e § 4°, da Constituição Federal.

III – A moralidade da Administração Pública não se limita à distinção entre o bem e o mal, devendo ser acrescida da idéia de que o fim é sempre o bem comum. O equilíbrio entre a legalidade e a finalidade, na conduta do servidor público, é que poderá consolidar a moralidade do ato administrativo.

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A atividade de inteligência fundamenta-se na proteção e salvaguarda da dignidade da pessoa humana, imprimindo em suas ações valores éticos e morais que levem em conta os direitos e garantias fundamentais.

Os padrões comportamentais das agências de inteligência devem levar em conta uma conduta que seja inquestionável do ponto de vista legal e moral, pois, à medida que se propõe o resgate da credibilidade e da confiança social, não lhe será aceitável qualquer atitude que represente mácula aqueles preceitos.

Ao lado desses fundamentos constitucionais e éticos, precisamos levar em conta alguns direitos e garantias estabelecidas no título que trata dos Direitos e Garantias Fundamentais, especialmente no caput do art. 5° da Carta Constitucional que assim dispõe:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, [...]

Entendemos que esses direitos fundamentais, em sua maioria, já estão consagrados na atividade de inteligência de segurança. O direito à vida e à liberdade que outrora eram desprezados pelo Estado e seus serviços de inteligência, hoje são amplamente respeitados e protegidos.

Nesse caminhobuscamos a garantia da igualdade formal e material, uma vez que qualquer discriminação imotivada é vedado e, dessa forma, seguimos rumo à sedimentação dos preceitos constitucionais nos dispositivos que regulam a atividade de inteligência.

A própria proposta de Emenda Constitucional n° 398, de 2009, que previa a inserção da atividade de inteligência no artigo 144 da Constituição Federal, já faz referência a irrestrita observância aos preceitos éticos e aos direitos e garantias fundamentais, dispondo no artigo 144b, que dispõe:

A atividade de inteligência será desenvolvida, no que se refere aos limites de sua extensão e ao uso de técnicas e meios sigilosos, com irrestrita observância dos direitos e garantias individuais e fidelidade às instituições e aos princípios éticos que regem os interesses e a segurança do Estado.

Ao lado da observância dos diretos e garantias fundamentais e os preceitos éticos e morais, a atividade de inteligência de segurança deve atentar para os princípios constitucionais relativos à Administração Pública.

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O primeiro deles não poderia ser outro que não o princípio da legalidade, previsto em diversos institutos jurídicos em especial no art. 37 caput da Constituição da República de 1988, que reza:

A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e [..].

Lembremos de uma questão primária, mas relevante, que diz respeito ao proceder dos agentes públicos e dos particulares quando inseridos em um Estado democrático de direito.

Aos agentes públicos somente é permitido realizar ações que estejam prevista na legislação, sendo proibidos de realizar o que não está previsto. Aos particulares somente é proibido realizar as condutas que a lei proíbe, sendo-lhes franqueada toda e qualquer conduta, desde que não proibida.

Neste sentido, Moraes (2001, p. 67) diz que

[...] o artigo 5, inciso II da Constituição federal de 1988 estabelecendo que ninguém será obrigado a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Tal princípio visa combater o poder arbitrário do Estado. Só por meio das espécies normativas devidamente elaboradas conforme as regras de processo legislativo constitucional, podem-se criar obrigações para o indivíduo, pois são expressões da vontade geral. Com o primado soberano da lei, cessa o privilégio da vontade caprichosa do detentor do poder em benefício da lei.....

E continuando sua explanação, Moraes (2001), citando Ives Gandra Martins e Celso Bastos, afirma que este princípio tem muita semelhança a uma garantia constitucional , pois permite ao cidadão se proteger das atitudes do estado que não são provenientes de lei.

E lembra as palavras de Aristóteles “a paixão perverte os magistrados e os melhores homens: a inteligência sem paixão – eis a lei”.

É deste postulado que decorre a importância da regulamentação pormenorizada da atividade de inteligência de segurança, garantindo transparência e ao mesmo tempo estabelecendo razoável garantia aos agentes que terão um campo de atuação bem definido, estabelecendo o que podem e o que não podem fazer, evitando assim juízos a posteriori acerca do acerto ou não da conduta do agente.

Soma-se a isto o fato de que com os parâmetros de atuação legalmente definidos a população em geral saberá os propósitos dos serviços e poderão passar a creditar confiança necessária.

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Recentemente, antes do lançamento da Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública, embora seja um regramento um tanto frágil, posto que se trata de norma regulamentar do executivo, inúmeros conceitos e técnicas eram desenvolvidos sem que se tivesse alguma base legal que possibilitasse a ação por parte da atividade de inteligência.

Os poucos dispositivos dispõe de termos muito genéricos, utilizando expressões muito amplas como segurança nacional, assessoria estratégica, interesse nacional, entre outros. Ainda hoje existem alguns procedimentos ainda não regulamentados como, por exemplo, o controle de fontes humanas, a produção de conhecimento de inteligência penitenciária, entre outras.

Corroborando com esta ideia de recente regulamentação legal da atividade de inteligência Cepik (2005, p. 83) se posiciona:

Inicialmente de maneira lenta, mas adquirindo um tempo crescente nos últimos dois anos, emergiu no Brasil uma importante estrutura legal de regulamentação da atividade de inteligência. Para uma visão mais abrangente e rigorosa dessa moldura legal seria preciso analisar de modo integrado a Constituição Federal de 1988, a legislação em vigor diretamente relacionada com os serviços de inteligência e o restante da legislação infraconstitucional que define os crimes contra a segurança do Estado e dos indivíduos, regula os instrumentos de controle do crime (inclusive interceptações telefônicas), define segurança informacional e segredo governamental, fixa os procedimentos de controle para a administração pública de modo geral etc.

Importante destacar que paulatinamente estamos caminhando rumo ao amadurecimento institucional por meio da regulamentação cada vez mais presente nesta atividade.

O amadurecimento institucional está diretamente relacionado ao próprio amadurecimento social no contexto democrático, no qual o povo exerce o poder legiferante por meio de seus representantes ou diretamente, bem como cada vez mais se estabelecem mecanismos de fiscalização e controle.

Sobre o crescimento regulamentar e estrutural da atividade de inteligência de segurança Cepik (2005, p. 83) constata que

Em relação às mudanças organizacionais mais importantes ocorridas depois da criação da ABIN em 1999, é importante destacar pelo menos cinco transformações recentes: a) subordinação da agência ao Gabinete de Segurança Institucional – GSI da Presidência da República; b) criação da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência – CCAI no Congresso; c) regulamentação da participação dos ministérios no âmbito do SISBIN; d) criação do Sistema de Inteligência de Defesa – SINDE; e) criação do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública – SISP.

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Uma importante contribuição também nos foi dada por Cepik (2005 p. 84) que colacionou alguns dispositivos legais e infra-legais que embasam a atividade de inteligência. O autor cita o tipo de legislação o número, o ano de aprovação, disposições principais e algumas observações. Acompanhe no quadro a seguir.

Tipo de legislação Número Ano Disposições principais Observações

Constituição Federal Art. 5 1988 liberdade de expressão e direito à informação

exceções decorrentes de segurança do Estado

Constituição Federal Art. 142 1988 missões das Forças Armadas defesa externa, garantia da lei e da ordem, defesa da Constituição

Lei Ordinária 7.170 1983 Lei de Segurança Nacional ainda em vigor. Ver Projeto de Lei 6.764/2002 sobre crimes contra o Estado e a democracia

Lei Ordinária 8.028 1990 extingue o Serviço Nacional de Informações – SNI

superada por novas disposições ao longo dos últimos quinze anos

Lei Ordinária 8.159 1991 política nacional de arquivos regula acesso às informações governamentais

Decreto Executivo 4.553 2002 regulamenta segurança informacional

classificações de segurança e credenciais de acesso

Lei Ordinária 9.034 1995 prevenção e repressão ao crime organizado

Lei Ordinária 9.296 1996 interceptação telefônica ABIN não pode solicitar ou executar

Lei Ordinária 9.883 1999 cria a ABIN e o SISBIN define missões, genericamente, nas áreas de obtenção e análise de inteligência e contra-inteligência

Lei Complementar 97 1999 cria o Ministério da Defesa – MD e o Estado-Maior de Defesa – EMD

estrutura do MD foi detalhada pelo Decreto 4.735/2003 e pela Portaria MD 1.037/2003

Decreto Executivo 3.695 2000 institui o SISP SENASP/MJ como órgão central;

Decreto Executivo 4.376 2002 detalha organização do SISBIN

define membros do SISBIN e do Conselho Consultivo, complementado pelo decreto 4.872/2003

Portaria Ministério da Defesa

295 2002 institui o SINDE Departamento de Inteligência Estratégica – DIE do MD como órgão central

Lei Ordinária 10.862 2004 plano especial de cargos da ABIN

define a carreira de analista de informações

Projeto de Resolução 08 2000 CCAI CCAI funciona desde 2000;

Quadro 1: Evolução Legislativa Fonte: Cepik (2005 p. 84).

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Além de estes dispositivos elencados por Cepik (2005), entendemos como pertinente lembrarmos outros marcos legais:

• Portaria número 22, de 22 de julho de 2009 que aprovou a Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública;

• A Resolução número 01, de 15 de julho de 2009, que regulamentou o subsistema de inteligência de segurança pública;

• Decreto 154, de 26 de junho de 1991, que promulga a Convenção das Nações Unidas Contra o Tráfico Ilícito de entorpecentes;

• Decreto 5015, de 12 março de 2004, que promulga a Convenção de Palermo;

• Decreto 5639, de 26 de dezembro de 2005, que promulga a Convenção Contra Terrorismo;

• Decreto 5687, de 31 de janeiro de 2006, que promulga a Convenção Contra a Corrupção;

Ainda sobre a questão da atividade de inteligência de segurança a luz do princípio da legalidade, cabe destacar a Proposta de Emenda Constitucional 398, de 2009, que propunha a inserção da atividade de inteligência no art. 144, estabelecendo, entre outras questões, que

A atividade de inteligência, que tem como fundamentos a preservação da soberania nacional, a defesa do Estado Democrático de Direito e da dignidade da pessoa humana, será exercida, por um sistema que integre os órgãos da Administração Pública direta e indireta dos entes federados.

Esta proposta de emenda à constituição embora tecnicamente falha, pois estabelece novamente de forma equivocada um órgão central do sistema, impedindo que haja sinergia entre as agências, mostra a direção que está se buscando para a atividade, no sentido de efetivá-la como uma ferramenta de defesa da democracia e da dignidade da pessoa humana.

Outra observação a ser feita sobre esta proposta de emenda, que se refere ao princípio da legalidade, estava previsto no art. 144-b, parágrafo único, que dispunha

A lei regulará o uso de meios e técnicas sigilosos pelos serviços secretos e os deveres e garantias do pessoal de inteligência no exercício de suas funções, inclusive no que concerne ao recurso a meios e técnicas operacionais.

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Esta previsão seria da mais alta relevância para atividade de inteligência de segurança. Pode-se dizer que é um dos grandes anseios das agências e da população, e por que não dizer da democracia que a lei venha regulamentar a atividade, em especial as técnicas sigilosas.

Infelizmente esta proposta de emenda constitucional foi arquivada na presente legislatura no dia 01 de fevereiro de 2011, sob o fundamento do art. 105 do regimento interno da Câmara dos Deputados

Art. 105. Finda a legislatura, arquivar-se-ão todas as proposições que no seu decurso tenham sido submetidas à deliberação da Câmara e ainda se encontrem em tramitação, bem como as que abram crédito suplementar, com pareceres ou sem eles, salvo as:

I – com pareceres favoráveis de todas as Comissões;

II – já aprovadas em turno único, em primeiro ou segundo turno;

III – que tenham tramitado pelo Senado, ou dele originárias;

IV – de iniciativa popular;

V – de iniciativa de outro Poder ou do Procurador-Geral da República.

Parágrafo único. A proposição poderá ser desarquivada mediante requerimento do Autor, ou Autores, dentro dos primeiros cento e oitenta dias da primeira sessão legislativa ordinária da legislatura subsequente, retomando a tramitação desde o estágio em que se encontrava.

Resta-nos a expectativa que seja desarquivada e se avance nas discussões a respeito desta necessária previsão constitucional.

Ainda no que se refere a preceitos legais e constitucionais, entendemos como de grande relevância o primado da inviolabilidade domiciliar, posto que em diversos momentos a fim de integrar a produção do conhecimento os agentes de inteligência necessitam buscar um dado que eventualmente possa estar protegido pelo abrigo domiciliar.

Assim, se faz necessário que se tenha plena consciência da proteção que alcança este local.

Discorrendo sobre esta garantia Moraes (2001, p. 79) assim se posiciona:

O preceito constitucional consagra a inviolabilidade do domicílio, direito fundamental enraizado mundialmente, a partir das tradições inglesas, conforme verificamos no discurso de Lord Chatham no Parlamento britânico: O homem mais pobre desafia em sua casa todas as forças da Coroa, sua cabana pode ser frágil, seu teto pode tremer, o vento pode soprar entre as portas mal ajustas, a tormenta pode nela penetrar, mas o Rei da Inglaterra não pode nela entrar.

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Moraes (2001, p. 79) acrescenta que fora pacificado no Supremo Tribunal Federal que “considera-se domicílio, numa extensão mais larga, abrange até mesmo o local onde se exerce uma profissão ou atividade, desde que constitua um ambiente fechado ou de acesso restrito ao público, como é o caso típico dos escritórios profissionais.”

Desta forma, quando houver a necessidade de acesso ao interior de um domicílio jamais poderá fazê-lo sem a permissão de seu morador.

Ainda, o próprio texto constitucional excepciona algumas situações que autorizam entrar em um domicílio sem a autorização do morador como para prestar socorro, no caso de desastre ou em situação de flagrante delito.

Todavia, Moraes (2001, p. 58) adverte que

Os direitos fundamentais, dentre eles os direitos e garantias individuais e coletivas consagrados no art 5 da Constituição Federal, não podem ser utilizados como verdadeiro escudo protetivo da prática de atividades ilícitas, nem tampouco como argumento para afastamento ou diminuição da responsabilidade civil e penal por atos criminosos, sob pena de total consagração ao desrespeito à um verdadeiro Estado de direito.

É desta percepção que os direitos e garantias fundamentais não podem servir de escudo de atividades ilícitas é que deriva a ideia de que não existe direitos absolutos, porém existem regras e procedimentos constitucionalmente previstos para harmonizar os princípios da segurança e defesa nacional com os direitos individuais.

Sobre a definição de direitos fundamentais, Bonavides (2006, p. 560) citando Carl Schmitt assim consignou

Os direitos fundamentais propriamente ditos são, na essência, entende ele, os direitos do homem livre e isolado, direitos que possui em face do Estado. E acrescenta: numa concepção estrita são unicamente os direitos de liberdade, da pessoa particular, correspondendo de um lado ao conceito do estado burguês de Direito, referente a uma liberdade, em princípio ilimitada diante de um poder de intervenção, em princípio limitado, mensurável e controlável.

Outro princípio constitucionalmente previsto no art 37 da Constituição da República é o da eficiência.

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Da análise um tanto superficial do regime jurídico administrativo brasileiro, bem como de decisões dos tribunais constitucionais, era possível entender que um dos grandes primados da administração pública é ter eficiência em seus resultados.

Todavia, buscando deixar mais explícito este comando constitucional, em 1998 por meio da emenda constitucional número 18, o Congresso Nacional adicionou ao caput do art. 37 os princípios em tela, demonstrando ao mínimo duas ideias básicas: a administração em geral não estaria observando tal princípio em suas ações e agora seria obrigação de todo agente público observá-lo.

Atualmente qualquer discussão na área de inteligência é permeada pela análise da eficiência dos serviços, seja quando se discute sistemas, operações, cooperação internacional, regulamentação, doutrina, por exemplo.

Tal tipo de análise está muito em voga justamente pela sinalização de um caminho para que atividade de inteligência pudesse buscar sua definitiva legitimidade social.

Uma vez se demonstrando eficiente nos seus desígnios de garantia da democracia por meio de produção de conhecimento que transforme a vida das pessoas, passa a ter sua eficiência inquestionável, e por consequência sua importância sedimentada.

Disto resultara maiores investimentos, maior participação no processo decisório, constitucionalização da matéria, em fim passa a ser uma atividade reconhecidamente pela sociedade como imprescindível.

Para identificarmos o alcance deste princípio Moraes (2001, p. 312) define

Assim, princípio da eficiência é aquele que impõe à Administração Pública direta e indireta e a seus agentes a persecução de um bem comum, por meio do exercício de suas competências de forma imparcial, neutra, transparente, participativa, eficaz, sem burocracia e sempre em busca da qualidade, primando pela adoção pela adoção dos critérios legais e morais necessários para a melhor utilização possível dos recursos públicos, de maneira a evitar-se desperdícios e garantir-se uma maior rentabilidade social. Note-se que não se trata da consagração da tecnocracia, muito pelo contrário, o princípio da eficiência dirige-se para a razão e fim maior do Estado, a prestação dos serviços sociais essenciais à população, visando a adoção de todos os meios legais e morais possíveis para a satisfação do bem comum.

Esse conceito é abrangente o suficiente para englobar importantes questões da atividade de inteligência de segurança, pois, a atividade precisa se legitimar socialmente e pautando suas ações nos parâmetros de qualidade, da

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transparência, rentabilidade social, não restando dúvidas quanto aos resultados a que se chegará.

Do contrário, se as agências continuarem a serem vistas como ineficientes, obscuras e sem resultado social, não avançaremos na sedimentação da nobre arte como indispensável para o estado democrático.

Este princípio guarda certa ligação com o estabelecimento de metas por parte dos serviços de inteligência, que por sua vez está diretamente ligado ao plano de inteligência das agências, que deverá estar em consonância com a lei que a criou.

Recentemente, poucas unidades de inteligência eram criadas por lei em sentido estrito. A maioria delas se sustentava em atos internos, portarias, decretos, muitas vezes sigilosos, sem qualquer tipo de participação ou fiscalização popular.

Assim, as metas jamais eram formalizadas, pois não tinham sua inspiração legal para o fazerem, e a atividade de inteligência produzia conhecimento conforme as demandas pontuais dos chefes temporários, que por sua vez estavam assessorando outro componente totalmente transitório.

Este cenário leva a total ineficiência da atividade de inteligência de segurança desenvolvido pela agência, pois não existe estrutura legal formal que estabeleça as finalidades, os limites, as metas, os pré-requisitos, em fim, não se investe, não se estrutura, não tem apoio popular.

Não há como esperar eficiência de estruturas que não dispõe do mínimo de parâmetro de atuação, pois não há nem como mensurar se os resultados são ou não são eficientes.

A obrigação dos serviços de inteligência ser eficientes no contexto da busca de sua legitimidade social é a principal força motriz. Mas ainda importa lembrar que a este novel princípio trouxe ao mundo jurídico a possibilidade de perda do cargo público por aquele servidor que não for aprovado na avaliação periódica de desempenho.

Outra característica muito presente no princípio da eficiência é a transparência, que esta muito voga no atual estágio de nossa democracia.

Tal característica requer dos serviços públicos, entre estes os de inteligência, trabalhos como: prestação de conta de seus resultados, evidenciar como gerenciam a aplicação dos recursos públicos, demonstrar quais foram os critérios das escolhas administrativas, entre outros. Ou seja, a transparência requer a participação da sociedade na fiscalização da administração pública e seus serviços.

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Em nosso país cada vez mais aumentam as necessidades de se prestar contas a quem efetivamente financia toda a máquina administrativa.

No entanto, quando se busca a transparência dos serviços de inteligência nos deparamos com uma questão um tanto paradoxal, pois na medida em que é fundamental para agências de inteligência demonstrarem à sociedade a que se dedicam, no que investem, quais são seus mecanismos de atuação, quais seus objetivos e comprovarem que servem à democracia, também precisam manter em sigilo diversas facetas de suas atividades.

A grande questão que se impõe a um Estado democrático é encontrar o ponto de equilíbrio entre o sigilo da atividade inteligência e a salutar transparência do serviço.

Alguns preceitos legais estabelecem que apesar da imposição do sigilo da atividade de inteligência ela deve respeitar determinadas garantias constitucionais.

Neste sentido Vidigal (2004, p. 23) se posiciona

No caso brasileiro, a legislação existente é categórica a respeito, especificando que as Atividades de Inteligência serão desenvolvidas, no que se refere aos limites de sua extensão e ao uso de técnicas e meios sigilosos, com irrestrita observância dos direitos e garantias individuais, fidelidade às instituições e aos princípios éticos que regem os interesses e a segurança do Estado.

A dificuldade que se estabelece é de dupla natureza.

A primeira delas é a origem, formação e amadurecimento a que os serviços de inteligência foram submetidos durante décadas, na medida em que não serviam ao interesse público, mas sim ao de um determinado grupo de pessoas. Por esta razão não podiam tornar público seus objetivos e métodos, utilizando o princípio do sigilo da atividade de inteligência de segurança para encobrir ilegalidades.

A segunda se situa na própria legislação que estabelece o dever de respeito aos direitos e garantias fundamentais, pois não fornece mecanismos eficientes de transparência da atividade de inteligência.

A lógica que se estabelece nas relações de poder entre o indivíduo e o Estado poderá ser mais equilibrada quanto for republicana a atuação dos serviços de inteligência de segurança. Pois se ao contrário de outrora, produzem o conhecimento de inteligência com pleno respeito aos direitos fundamentais, estará assegurado um ambiente dialético, regido pelas regras democráticas de representatividade e de alternância no poder.

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No entanto, o atual conjunto de regramentos institucionais faz com que não se tenha mecanismos adequados para se buscar o equilíbrio entre o sigilo e a transparência.

Corroborando com o entendimento da necessidade da transparência da atividade de inteligência Bessa (2004, p. 63) diz que

A Inteligência, além de ser apartidária, deve ter por princípios a neutralidade e o claro respeito às leis. O mandato estipulando as atribuições da atividade deve ser aprovado pelo povo, por meio de seus representantes no Legislativo, de forma a assegurar equilíbrio entre o sigilo e transparência, oferecendo-se àqueles o papel fiscalizador.

Nesta jornada rumo a sedimentação dos serviços de inteligência de segurança como atividade republicana, uma das tarefas a serem vencidas será a compatibilização do sigilo da atividade de inteligência com o princípio da publicidade dos atos administrativos.

Em uma análise que procura dar efetividade aos dois postulados, adotando uma técnica hermenêutica denominada ponderação de valores, devemos encontrar uma forma de equilibrar estes princípios.

Deve-se dar vida ambos, ou seja, é necessário que atividade de inteligência descortine o manto do obscuro que a tem encobrido por décadas, informando à sociedade.

Da mesma forma, que parcela de sua atividade que depende do sigilo para alcançar um resultado útil, tenha capacidade de operar sem que o público em geral tenha conhecimento e que deposite a necessária confiança e legitimidade à inteligência.

Vale frisar que, ao nos referirmos ao sigilo de determinada parcela da atividade de inteligência de segurança é justamente para acentuar que na produção/proteção de conhecimento, inúmeros componentes devem ser de conhecimento público, tais como:

• a doutrina,

• preceitos éticos e morais,

• os objetivos,

• seu princípios,

• suas metas,

• seu foco,

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Isso para que os titulares do poder, a sociedade, tenham mínimas condições de avaliar os resultados. Tenham mínimas condições de decidirem pela continuidade ou não dos investimentos que estejam sendo feitos ou que necessitem ser implementados.

Não podemos deixar de citar que inúmeros dispositivos legais estabelecem o dever de informação por parte dos agentes públicos, que somente em casos extraordinários, e aí entendemos que devidamente motivados, com possibilidade de controle posterior, possam ser mantidos em sigilo.

Um destes dispositivos que prevêem o dever de informação é o art. 5, inciso XXXIII, da Constituição da República que assim dispõem

todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.

Além deste dispositivo vale lembrar o caput do art.37 da Constituição de 1988, que estabelece o princípio da publicidade, que somado as previsões de fiscalização contábil e financeira pelos tribunais de contas, traduzem uma necessidade ética e legal da publicidade e, consequente transparência da atividade de inteligência de segurança.

A proposta de emenda constitucional já mencionada, ao propor a inserção da atividade de inteligência no texto constitucional previa também a necessidade de regulamentação específica sobre o sigilo desta atividade, assim dispondo

§ 2º Os direitos, deveres e prerrogativas do pessoal de inteligência, inclusive no que conserve à preservação de sua identidade, o sigilo da atividade e seu caráter secreto são resguardados por esta Constituição, cabendo a lei específica dispor sobre esses assuntos.

Ao adotar esta sistemática democrática de transparência se evitará inúmeras acusações infundadas das quais os serviços de inteligência são alvos, se afastará o infundado mistério que atualmente só serve para esconder a incompetência e ineficiência ou o desvio de conduta.

Como bem salienta Rabello (2006, p. 39)

É verdade que, dada a natureza do serviço de Inteligência, o sigilo muitas vezes representa a “alma” de uma missão, o que envolve verbas sigilosas – que, apesar disso, devem passar por fiscalização externa. Tal sigilo está constantemente em conflito com o preceito democrático da transparência, motivo que também contribui para munir os formadores de opinião em seus ataques, por vezes infundados.

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Ao complementar este entendimento, Moraes (2001, p. 309), de forma acertada, menciona que a regra a ser seguida é a publicidade “ a regra, pois, é que a publicidade somente poderá ser excepcionada quando o interesse público assim determinar, prevalecendo esse em detrimento do princípio da publicidade”.

E ao tratar de algumas sugestões no sentido de aumentar a efetividade e transparência da atividade de inteligência, Diniz (2004, p. 45) diz que

Temos ainda duas sugestões adicionais. Uma seria a publicação da Doutrina de Inteligência: não há por que esta ser sigilosa. Sua publicação, além de permitir uma discussão que pode aperfeiçoá-la, ainda poderá dirimir mal-entendidos que permeiam a discussão pública de questões de inteligência.

Como já foi dito o grande esforço conjunto a ser empregado é no sentido de se alcançar o equilíbrio.

Este esforço deve ser encampado por toda a sociedade civil organizada, pelas instituições representativas, pelos profissionais acadêmicos, por nossos parlamentares, pelos órgãos fiscalizadores, e pelas agências de inteligência de segurança

Em especial estas últimas, que são diretamente atingidas pelo descrédito e desconfiança da população causada por uma “sigilosidade estéril”, que somente de forma eventual tem fundamento operacional.

É preciso a constitucionalização da atividade de inteligência para que se estabeleça parâmetros de regulamentação a serem definidos por meio de leis formais e não por atos derivados do poder regulamentar do Estado.

A atividade de inteligência de segurança somente conseguirá resgatar sua legitimidade social como atividade essencial à democracia, na medida em que conseguir ser suficientemente transparente a ponto de não pairar dúvidas quanto aos desideratos institucionais.

Referências

ENCONTRO DE ESTUDOS: Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI (Brasília : 3. : 2004 ). III Encontro de Estudos: Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI. Brasília: Gabinete de Segurança Institucional; Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais, 2004.

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BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional, 18 edição, São Paulo: Malheiros, 2006.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.

________. Decreto nº. 1.171, de 22 de junho de 1994. Aprova o Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d1171.htm. Acesso em: 06 jun 2011.

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Mecanismos de controle da atividade de inteligência de segurança

Geovaldri Maciel Laitartt

A atividade de inteligência de segurança é uma atividade voltada em sua essência para produção/proteção de conhecimento de inteligência, visando assessorar os tomadores de decisões, sejam elas de natureza tática ou estratégica.

Estas decisões necessariamente devem expressar o interesse público e realizar o bem comum.

Desta forma a atividade de inteligência, que em regra é de natureza pública, visa indiretamente a realização de satisfação social, como a manutenção e solidificação da democracia, a preservação dos direitos humanos e realização das garantias fundamentais.

Esta atividade, por sua natureza, realiza suas finalidades dentro de uma metodologia que impõe em algumas vezes a manutenção de suas ações em sigilo.

O sigilo possui um caráter dicotômico, na medida em que este será decisivo para o sucesso de muitas operações de busca, potencializando e complementando a produção de conhecimento.

No entanto é justamente esta característica que macula historicamente a atividade de inteligência, pois sob o manto do sigilo, inúmeras ilegalidades e abusos foram e continuam sendo cometidas.

Ao discorrer sobre dificuldades do mundo em geral em conseguir equilibrar a necessidade de controle e transparência, com o requisito operacional do sigilo da inteligência, Cepik (2005, p. 68) relata

Além dos problemas comuns de controle democrático que existem em outras áreas de atuação do Estado, também caracterizadas por complexidade tecnológica e organizacional, na segurança há tensões e dificuldades específicas que podem ser sintetizadas pela dupla dicotomia segurança estatal versus segurança individual e segredo governamental versus direito à informação. Obviamente, ambas as dicotomias não são características exclusivas dos países semiperiféricos e periféricos, ou que passaram por regimes autoritários de governo há menos de vinte anos, manifestando-se de maneira mais ou menos intensa também nos países mais poderosos, ricos e democráticos do mundo.

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Nesta circunstância se estabelece o conflito, se a inteligência age sob a premissa do sigilo cria um risco social e político. Se não agir em segredo não consegue ser efetiva.

O risco social e político a que nos referimos são bem evidenciados por Cepik (2001, p. 297) que declara:

Em se tratando da existência e da operação de serviços estatais de inteligência e segurança há dois tipos de riscos principais do ponto de vista da democracia: 1) o risco de manipulação dos serviços por parte dos governantes procurando maximizar o poder; 2) o risco de autonomização dos próprios serviços, que se transformariam em um tipo de poder paralelo dentro do Estado.

Qualquer um dos dois riscos não é aceitável dentro de um sistema democrático, pois a manipulação do poder pelos serviços é uma possibilidade muito concreta, na medida em que o conhecimento produzido na assessoria poderá induzir ou conduzir o governante em determinada direção, iludindo, ludibriando, causando falsa percepção da realidade para aquele que irá tomar decisões.

Alguns atributos da atividade de inteligência tais como sua natureza, as características, os métodos e a própria eficiência, podem constituir-se em obstáculos para sua legitimação, pois se processam num ambiente ainda estranho ao cidadão, e por isso existe o receio de que estes atributos sejam mal empregados, que sejam desviados do interesse público.

Neste aspecto Cepik (2002, p. 11) diz

A habilidade de controlar fluxos e acervos informacionais é decisiva para a capacidade de dominação de qualquer grupo que esteja maximizando poder, seja sob um regime democrático ou autocrático. No caso da inteligência, tratam-se de informações que não estão disponíveis através de outros meios e cuja disseminação é protegida pelo segredo governamental. Assim, por controlar um importante corpo de informações, por ter especialização em técnicas de vigilância e interceptação de comunicações e por operar sob um manto de segredo, um aparato de inteligência sempre pode ameaçar o governo a que serve e os próprios cidadãos.

Em respeito aos princípios e valores democráticos, em especial o consignado no parágrafo único do artigo primeiro da Constituição da República no qual se assinala que todo o poder emana do povo, é imperioso o estabelecimento de mecanismos de controle de toda a administração pública, mais ainda de uma atividade pública que é exercida sob o manto do sigilo.

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Sobre controle das atividades públicas Filho (2006, p. 38) assim se posiciona

O comportamento abusivo da autoridades públicas só pode ser eficazmente combatido pelo instrumento do controle, seja qual for o Poder estatal em que seja exercido. A ausência de controle rende ensejo a prática de abuso de poder; assim, para coibi-lo, necessária se torna a criação de mecanismos adequados a identificação do abuso, seu autor, bem como as consequências jurídicas a que estará sujeito o responsável pela ilegalidade.

Como visto, o estabelecimento de um poder paralelo é perfeitamente crível, pois quando se detém a capacidade de influenciar decisões dentro de um processo articulado e sistêmico, a condução do governo e do país se dará e acordo com o que for decidido pelo serviço.

A questão não é de fácil solução, ao contrário, entendemos que é uma das questões da mais alta relevância no atual momento de legitimação pela qual passa a atividade de inteligência de segurança em nosso país.

De um lado, é imprescindível que se tenha alta efetividade na produção de conhecimento de inteligência, que a sociedade perceba concretamente os resultados da estrutura e recursos públicos colocados a disposição deste serviço.

Por outro lado, a atividade deve ter suas produções de conhecimento publicadas para a população controlar e evitar eventuais desvios.

Este virtual conflito entre o sigilo da atividade de inteligência e a transparência dos serviços públicos democráticos não é privilégio de nossa República. No mundo todo, esta questão é debatida à exaustão.

Estudando a questão, Cepik (2001, p. 295) assim se manifesta

[...] um dos principais dilemas enfrentados pela teoria democrática contemporânea é conseguir compatibilizar a necessária autonomia que os governantes precisam ter para defender os interesses, o bem estar e a segurança dos governados, mantendo o pleno funcionamento de mecanismos capazes de assegurar que as ações dos governantes serão conduzidos respeitando-se a vontade dos governados.

A dificuldade que se apresenta é justamente o receio da utilização da máquina dos serviços de inteligência para finalidades que não são as que a população deseja, sejam elas justas ou justificáveis.

Pode-se argumentar que a inteligência precisa ter liberdade de atuação para que seja efetiva. No entanto, esta liberdade não pode ser irrestrita e sem controle preventivo e corretivo.

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Em nenhum momento se nega a importância da atividade de inteligência para a sociedade, pois se trata de ferramenta técnica e científica de alta complexidade e, se bem conduzida, com muita eficiência.

Neste sentido, Gonçalves (2010, p. 1) se manifesta

Ora, que a atividade de inteligência é de suma importância para a defesa do Estado e da sociedade, sobre isto não há o que se discutir. Outrossim, a atividade desenvolvida pelos serviços secretos envolve um poder significativo que, em uma democracia, precisa estar sob rígido e constante controle, de modo a se evitar ou coibir abusos por parte daqueles que lidam com informações sensíveis e, portanto, com um poder significativo.

Não existe solução linear para a questão, porém é unânime que o estabelecimento de mecanismos de controle, eficientes e efetivos, aproximará estas duas diretrizes, mesmo porque, se não conseguir amadurecer e instrumentalizar certos mecanismos de controle, a própria democracia estará em risco e consequentemente todos os direitos e liberdades individuais, a duras penas conquistados poderão ser revistos.

Assim, Gonçalves (2010, p. 23) continua:

[...] tratando-se de democracia e controle da Administração Pública, é fundamental que se tenha clara a ideia de que este é alicerce daquela. Em outras palavras, o poder/ dever/ necessidade de controle da Administração pelos administrados é intrínseco ao modelo democrático; sem esse controle a Administração carece de legitimidade, o cidadão corre o risco de sofrer arbitrariedades por parte dos órgãos e agentes estatais, e o regime democrático deixa de existir.

O controle da atividade de inteligência de segurança pode ser de diversos enfoques e naturezas.

Em países com sistema democrático bem sedimentado como Canadá, Estados Unidos, Austrália, entre outros, os mecanismos de controles não são uniformes, por vezes ocorrendo dentro do próprio Ministério.

Outras vezes, é realizado por meio de comissões parlamentares ou por órgãos criados especificamente para exercer a atividade de controle.

Uma forma de classificar os tipos de controles é se ele é exercido internamente ou externamente.

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Controle interno é identificado quando existe mecanismos de controle dentro da própria agência de inteligência, ou dentro do mesmo Ministério/Secretaria. Ou ainda dentro do mesmo poder ao qual está vinculado o serviço.

Já o controle externo ocorre quando realizado pelos entes fora do poder ou da estrutura administrativa central da agência de inteligência, em regra exercido pelos parlamentos.

Buscando estabelecer algumas formas de controle da atividade de inteligência de segurança, Cepik (2001, p. 297) diz que existem sete tipos específicos de controle público que podem se fundir em uma democracia, assim se posicionando:

1. As próprias eleições;

2. A opinião pública informada pela mídia;

3. Mandatos legais delimitando as funções e missões das diferentes agências e áreas funcionais;

4. Procedimentos judiciais de autorização de certas operações e de resolução de disputas de interpretação sobre os mandatos legais;

5. Inspetorias e corregedorias nos próprios órgãos de inteligência;

6. Outros mecanismos de coordenação e supervisão no Poder Executivo;

7. Mecanismos de supervisão e prestação de contas no poder legislativo.

Sem se opor à lógica exposta por Cepik, Gonçalves (2010, p. 27), com suporte em Araújo Ferraz, refere outras formas de classificar os tipos de controle, assim anotando:

O controle pode ser classificado:

a) quanto ao órgão que o exerce: controle parlamentar, controle administrativo e controle judiciário;

b) quanto ao posicionamento do órgão controlador: interno ou externo;

c) quanto ao momento em que se efetiva: prévio, concomitante e posterior;

d) quanto a forma de instauração: controle ex-ofício ou controle por provocação;

e) quanto a extensão: de legalidade, de mérito e de resultados (desempenho).

Podemos notar que as duas formas de expressar as possíveis formas de controle não são excludentes, pelo contrario, são complementares. Pois podem ou devem coexistir e se relacionar na tentativa da formação de um amplo e complexo sistema de controle da atividade de inteligência de segurança, seja ele interno ou

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externo, público ou social, geral ou restrito, prévio ou posterior, de processos ou de resultados.

O pleito eleitoral em um Estado democrático possui uma natureza ímpar, pois é justamente por meio deste mecanismo que se efetiva a alternância no poder.

Teoricamente se determinado governo não possui uma boa gestão, ou não detêm o apoio da maioria da população dará lugar a outro que a tenha.

Neste sentido, imaginando que todo o governo estabelece sua política de atuação da atividade de inteligência de segurança, ao ocorrer à chancela do governo que está no poder, se presumisse que a atividade que está sendo desenvolvida foi aprovada pela população.

A ideia expressa por Cepik (2001) é justamente no sentido de que, ao eleger ou não determinada maneira de atuação dos serviços de inteligência, se está justamente realizando um tipo de controle, seria um mecanismo de controle democrático.

Porém, o mesmo autor salienta que dificilmente algum governo, ou mesmo algum candidato vai centrar sua plataforma de campanha na atuação da inteligência.

Desta forma, torna-se muito difícil que este tipo de controle seja efetivo, e leve aos cidadãos pautarem sua maneira de votar conforme a atuação da atividade de inteligência de segurança.

Concluindo o raciocínio, Cepik (2001, p.300) diz que “por tudo isso, o controle externo de políticas de inteligência através do processo eleitoral tende a ser muito esporádico e fragmentado”.

Outro mecanismo de controle da atividade de inteligência de segurança deriva exatamente da natureza público-administrativa da atividade que impõem a irrestrita observância dos ditames legais, pois como agentes administrativos somente poderão realizar condutas previstas em lei.

Assim, uma forma de controle da atividade de inteligência é justamente o estabelecimento do regramento dos limites de atuação, bem como seus parâmetros de eficiência em diplomas legais, democraticamente constituídos, sem regulamentos ocultos.

Não estamos abordando questões operacionais, mas tão somente questões procedimentais, tais como: finalidades e objetivos da atividade, atribuições legais, limites institucionais, recursos humanos (contratação, aposentadoria, remuneração etc.), recursos financeiros entre outros.

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Entendemos que este mecanismo de controle é uma forma que a sociedade. por meio do parlamento, pode expressar o que quer de seu serviço de inteligência, bem como, se não estiver regulado em lei significa o que a sociedade não quer.

Todas essas variáveis do controle da atividade de inteligência permite que se estabeleçam formas de controle prévio, concomitante e posterior das ações de inteligência, dando total transparência à atividade e acabando, ou ao menos minimizando, as máculas pejorativas da atividade.

Esta forma de entender o controle da atividade de inteligência de segurança por meio de preceitos constitucionais e legais não é vista com bons olhos por parte da comunidade de inteligência.

Ela argumenta que no sentido de que ao legislar sobre a atividade se estaria maculando o princípio do sigilo e revelaria as técnicas de operações. Este modo de pensar não é compatível com ditames constitucionais vigente em nossa República.

Além disso a atividade passa por um processo de afirmação de compromisso democrático e cidadão, não podendo se esconder atrás de um princípio altamente relativizado na atualidade no mundo todo.

Por fim, é preciso lembrar, que o sigilo da operação e das informações não deve ser confundida com atribuições legais, limites e objetivos institucionais, poderes e limitações Estes devem ser públicos, aqueles podem ser reservados, porém não de foram absoluta.

Sobre a questão do estabelecimento de mandatos legais, Cepik (2001, p. 304) nos revela que o processo de detalhamento da atividade de inteligência em termos legais é lento no mundo todo, pois é possível perceber, pelo lapso temporal, que legislações como do Reino Unido e dos EUA foram sendo editadas gradualmente, nunca de forma simples:

A própria ideia de que as agências de segurança nacional deveriam ter uma regulamentação legal mais detalhada de suas funções, mandatos e missões é relativamente recente. Como lembra corretamente Peter Gill (1996), no caso britânico passaram-se mais de 80 anos entre a criação dos serviços de inteligência exterior e de segurança (originalmente uma única organização fundada em 1909) e a promulgação das duas leis ( Security Service Act de 1989 e Intelligence Service Act de 1994) que atualmente regulam o funcionamento, as missões e os mecanismos de prestação de contas das três principais agências de inteligência de segurança.

O mesmo autor, para reforçar a ideia do estabelecimento legal das atividades de inteligência, revela que a National Security Act of 1947 fixa como mandato da

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Agência Central de Inteligência americana (CIA) a coleta de inteligência a partir de fontes humanas e outros meios apropriado, não tendo poder de polícia nem atuando dentro do país. Estabelece atribuições e define algumas limitações.

Cepik (2001, p. 305, grifo nosso) demonstra a dificuldade deste processo, pois somente transcorridos 34 anos é que houve outra importante regulação da atividade de inteligência americana:

Somente depois de 1981, como resultado de longas disputas sobre o significado e a abrangência deste mandato, a Executive Order 12333 estabeleceu os tipos de informações que a CIA deveria coletar, analisar e disseminar sobre alvos estrangeiros, alem de explicitar pela primeira vez que a agência também era encarregada das operações de contra-inteligência no exterior e das operações encobertas (chamadas nesta executive order de special activities)....Mais importante do que este detalhamento, no entanto, foi o fato de a Executive Order pela primeira vez especificar publicamente as missões e áreas de atuação de uma série de outras agências de inteligência norte-americanas que não haviam sido criadas por lei, mas por decisão administrativa secreta do poder executivo.

É inegável que este tipo de controle facilita o exercício das atribuições das agências de inteligência, pois permite atuar com mais segurança na medida em que claramente estabelecidos os objetivos e as limitações na produção/proteção do conhecimento.

No atual Estado de direito em que nos inserimos, nossa constituição em seu art. 5, inciso XXXV, prevê que a lei não afastará da apreciação do poder judiciário, lesão ou ameaça de lesão a direito.

Com esta previsão pode-se entender que o poder judiciário é outra forma de controle da atividade de inteligência, na medida em que caberá esta função sempre que for demandado por alguém que se julgue lesado em algum de seus direitos materiais ou imaterias. Não podendo a lei (caso de eventual lei que regule os procedimentos da atividade de inteligência) negar ao judiciário o exercício de sua jurisdição.

O problema que se estabelece nesta questão é que em alguns casos os juízos de legalidade, legitimidade, moralidade, finalidade pública, que venham a ser realizados pelo judiciário será posterior, o que se constitui em grande insegurança para aqueles serviços que não tem suas atividades reguladas pormenorizadamente na lei.

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Outra questão envolve justamente o sigilo que muitas vezes se impõe ao agente de inteligência e ao conteúdo do conhecimento produzido, pois este sigilo é justamente justificável no interesse público, na segurança pública e na segurança nacional.

Todavia, caberá a alguma instância de controle definir critérios e checar sua fiel observância.

Discutindo e demonstrando a dificuldade de controle da atividade de inteligência pelo judiciário, tendo em vista a natureza sigilosa das ações de busca, bem como seus contornos serem providos de conceitos relativamente vagos, ou no mínimo um tanto gerais, como o caso de segurança nacional, ordem pública, Cepik (2001, p. 311) assinala

Por outro lado, um papel mais ativo do judiciário no controle da legalidade e da razoabilidade das ações executivas em áreas de segurança e inteligência pode acontecer se a própria legislação em vigor exigir a aprovação judicial ex ante de certas operações. Ou mesmo a posteriori, quando juízes são encarregados (ainda que de forma ad hoc) da coordenação de comissões de inquérito a respeito de operações ou atividades sobre as quais pesem suspeitas de conduta imprópria ou ilegal.

A possibilidade de autorização judicial para muitas técnicas especializadas como a interceptação telefônica, exploração de local (busca domiciliar), infiltração, entre outras, já são uma realidade.

Todavia, muito há que se percorrer, uma vez que existem outras técnicas que carecem de melhor regulamentação legal, tais como controle de fonte humana, entrevista, vigilância, disfarce.

Cepik conclui o raciocínio anteriormente citando a Foreign Intelligence Surveillance Act 1978 nos EUA, em que determinadas ações de vigilância eletrônica precisavam ser autorizadas por escrito pelo Attorney General, espécie de Ministro da Justiça ou Advogado Geral e confirmados por uma corte especial de justiça.

Outra forma de controle que nos chama atenção pela sua ímpar natureza e ao mesmo tempo por sua intrínseca legitimação, é o controle exercido pelo parlamento que representa a sociedade, são os representantes do povo, eleitos democraticamente que exercem a função fiscalizatória legitimados pela lógica de delegação do poder soberano que pertence ao cidadão.

A jovialidade de nossa democracia dá uma importância ainda maior para o controle exercido pelo parlamento, na media em que nossa sociedade ainda não

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atingiu a maturidade suficiente para diretamente exigir prestações de contas do governo, precisando que justamente seus representantes neste momento tenham o monopólio episódico de tal controle.

A cerca desta questão, Gonçalves (2010, p. 17) salienta

Uma vez que nas democracias modernas o povo, como destinatário dos serviços do Estado, retém pouco poder de fiscalização direta, a existência de instancias de prestações de contas e fiscalização da Administração Pública assume enorme relevância. Para a efetividade deste controle, outrossim, é fundamental que as instituições democráticas estejam consolidadas e que o povo possa exercer plenamente a cidadania. Sociedades mais atrasadas em termos democráticos enfrentam dificuldades em exercer o controle do Estado e de seus agentes públicos.

Dentre as várias formas existentes de controle, a parlamentar se sobressai não só por sua legitimidade, mas também pela distância organizacional que existe para com atividade de inteligência de segurança que em regra é exercida dentro de alguma estrutura do poder executivo.

Notem que esta distância não é sinônimo de imparcialidade absoluta, nem tampouco dispensa outras formas de controle, mas atribui ao controle parlamentar um mínimo de independência funcional para atuar.

Quando Gonçalves (2010, p. 39) discorre sobre o controle exercido pelo parlamento que ele denomina de sujeito ativo do controle, assim se posiciona

O que deve ficar claro sobre o sujeito ativo do controle parlamentar é que este é legitimado pela representatividade. Neste sentido, o Parlamento é a mais legítima das instituições do Estado, uma vez que congrega representantes de todo o conjunto da sociedade. Ainda que este controle seja exercido por grupos de parlamentares (como as comissões) ou mesmo por órgãos auxiliares (compostos por não parlamentares), a legitimidade é assegurada.

O controle parlamentar, por sua teórica independência decorrente da separação dos poderes, aliada a inquestionável legitimidade democrática, se constitui em um grande pilar de sustentação, transparência pública e eficaz mecanismo de garantia, de que os serviços secretos estejam cumprindo um papel republicano e democrático.

Além do estabelecimento de comissões específicas para o tema, alguns poderes como controle orçamentário, pedidos para elaboração de relatórios, sabatina para cargos chave (diretor da ABIN, por exemplo), audiências públicas, comissões

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parlamentares de inquérito, liberdade de opinião, fazem do parlamento um mecanismo insuperável no de controle da atividade de inteligência de segurança.

Sem contar, como bem lembra Gonçalves (2010) ao discorrer sobre os tipos de controles parlamentares existentes, a existência de órgãos de controle parlamentar sem serem compostos por parlamentares, exemplificando o Tribunal de Contas da União, que no Brasil é o órgão competente para assessorar o Legislativo na fiscalização e controle externo da atividade da Administração Pública, órgão que tem suas atribuições definidas no artigo 71 da Constituição Federal.

Em nosso país, a própria lei que criou o SISBIN estabeleceu que a ABIN será fiscalizada interna e externamente.

Internamente, ou seja dentro do poder executivo, dois órgãos tem atribuições de controle da atividade de inteligência, o primeiro deles é a Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional, que supervisiona a execução da Política Nacional de Inteligência, e o segundo é a Secretaria de Controle Interno da Presidência da República que controla os gastos da agência.

O controle externo previsto naquela lei, além do já citado Tribunal de Contas da União, com previsão constitucional de suas atribuições, é realizado pela Comissão Mista do Congresso Nacional (CCAI), que é composta por líderes da maioria e da minoria do Congresso Nacional e pelos presidentes das Comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, conforme previsão do artigo 6, § 1 , da lei 9.883 de 07 de dezembro de 1999 .

Com a abertura política culminada com a promulgação da Constituição Federal de 1988, paulatinamente os órgãos estatais passam a organizarem-se e adotar procedimentos e regramentos que sejam compatíveis com o Estado democrático de direito.

A lei de criação do SISBIN e da ABIN é um bom exemplo disto. Ao tecer comentários sobre a evolução das instituições democráticas em nosso país, Cepik (2005, p. 86) afirma que

O segundo desenvolvimento estrutural relevante desde 1999 foi a instalação da CCAI no Congresso Nacional, ocorrida em novembro de 2000. Prevista na Lei no 9.883, de 7 de dezembro de 1999, sob a de– nominação de Órgão de Controle e Fiscalização Externo, a instalação da Comissão Mista ocorreria apenas um ano mais tarde. Tendo realizado onze reuniões até julho de 2004, a CCAI enfrentou até aqui dificuldades para exercer suas funções de controle, as quais decorrem de três fatores principais: 1) do próprio desenho institucional do órgão, presidido a cada ano em caráter rotativo pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do

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Senado e da Câmara dos Deputados; 2) da falta de recursos técnicos e de pessoal, como exemplifica o fato de que a única funcionária do Senado que se especializou no tema e contribuiu decisivamente para implementar a CCAI tem que apoiar os trabalhos de várias comissões e da mesa diretora do Senado; 3) da falta de assertividade do Congresso Nacional como um todo no trato com os componentes militares e policiais do SISBIN, uma vez que a ABIN e os demais ministérios não parecem ter colocado maiores obstáculos ao trabalho da comissão ao longo destes primeiros anos.

Nesta passagem, o autor faz referência a algumas dificuldades operacionais encontradas pela CCAI em realizar suas atribuições institucionais. O texto revela dificuldades encontradas no ano de 2005, mas que perdura até os dias atuais.

A falta de implementação efetiva do controle externo da atividade de inteligência é decorrente em nosso entendimento do próprio estigma negativo, bem como da natureza técnica de seus métodos, os quais exigem um conhecimento especializado para o trato da matéria.

Não possuindo este conhecimento, muitas vezes os parlamentares podem sentir-se desconfortáveis em militar nesta área, até mesmo pela repercussão pública de seus atos nos pleitos eleitorais futuros.

Com a aprovação do regimento interno da Comissão de controle da atividade de inteligência é possível que dificuldades estruturais sejam minimizadas, pois aumentará sua composição e ampliará sua estrutura de assessoramento técnico, facilitando o enfrentamento de questões mais nefrálgicas no controle da atividade de inteligência.

Porém, até o momento não foi aprovada o projeto de resolução número 2 de 2008 que dispõe justamente sobre as finalidades, composição e funcionamento da CCAI.

Ao comentar sobre a Comissão mista de controle externo da atividade de inteligência, Cepik ( 2005, p. 87) salienta que existem outras comissões dentro do Congresso Nacional que poderiam ou deveriam realizar algum tipo de fiscalização:

Além da CCAI, outras quatro comissões poderiam exercer algum papel no controle externo sobre diferentes partes do sistema, quais sejam: as Comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara – CREDEN e do Senado – CRE, bem como a Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado – CSPCCO da Câmara dos Deputados e, ainda, a Subcomissão Permanente de Segurança Pública da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal. Em relação aos orçamentos, exercem fiscalização sobre a área de inteligência tanto a Secretaria de Controle Interno da Presidência da República quanto o Tribunal de Contas da União – TCU.

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Não podemos deixar de mencionar a iniciativa da Proposta de Emenda Constitucional número 389 de 2009, a qual pretendia inserir a atividade de inteligência no texto constitucional, precisamente no capítulo que trata de segurança pública, criando os artigos 144-A, 144-B, 144-C, 144-D E 144-E.

Especificamente nestes dois últimos artigos, a proposta havia previsto a supervisão interna e externa da atividade da atividade de inteligência, bem como estabeleceu a criação de um conselho de controle

Art. 144-D. O controle e a fiscalização da atividade de inteligência serão exercidos em âmbito interno e externo, na forma da lei.

Art. 144-E. O controle e a fiscalização externos da atividade de inteligência serão exercidos pelo Poder Legislativo, especialmente por meio de um órgão de controle externo composto por Deputados e Senadores, e com o auxílio do Conselho de Controle da Atividade de Inteligência, na forma da lei.

§ 1º O Conselho de Controle da Atividade de Inteligência, órgão auxiliar do controle externo do Poder Legislativo, será composto por sete Conselheiros, escolhidos entre cidadãos brasileiros com notórios conhecimentos técnicos e experiência referentes ao controle finalístico da atividade de inteligência e indicados:

I – dois pelo Senado Federal;

II – dois pela Câmara dos Deputados;

III – um pelo Presidente da República;

IV – um pelo Conselho Nacional de Justiça;

V – um pelo Conselho Nacional do Ministério Público.

Esta proposta de emenda à constituição da república foi arquivada pelo presidente da câmara atendendo mandamento do regimento interno daquela casa.

O processo de estruturação do controle externo da atividade de inteligência, apesar de lento, reflete a evolução democrática paulatina destas estruturas de supervisão.

Para a comunidade de inteligência, o estabelecimento de tais mecanismos é extremamente importante, pois se terá a capacidade de prestar contas de suas atividades dentro de um ambiente próprio, regido por normas de responsabilidade com a devida proteção do conhecimento.

Assim, a conquista de um dos maiores objetivos institucionais das agências de inteligência para este milênio que é sua legitimação e estabelecimento de espaço como órgão imprescindível à democracia e à República será facilitado.

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Inteligência de segurança e o Estado Democrático de Direito

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Sobre este ângulo de abordagem Cepik (2001, p. 338) diz

Na medida em que a institucionalização dos serviços de inteligência envolve não apenas a obtenção da estabilidade organizacional, mas também um longo e acidentado percurso através do qual eles se tornam organizações

“valiosas” para o púbico, esse é um processo que esta fortemente relacionado à transparência, ou seja, a capacidade de o público ver e julgar, por si mesmo, os atos dos governantes na área de inteligência.

Os controles internos da atividade de inteligência de segurança, comumente desenvolvido por departamentos de corregedorias ou de assuntos internos, dentre todas as formas de controle da atividade de inteligência, que em regra tendem a possuir um caráter externo de legitimidade, são os que potencialmente possuem a maior capacidade de obtenção de resultados.

Esta afirmação da existência do caráter externo de legitimidade é decorrência do senso comum, que infere que somente quem não esteja participando das estruturas controladas terão a necessária imparcialidade para apurar eventuais desvios de conduta ou de finalidade pública.

Ressalta-se que este raciocínio não se aplica exclusivamente aos serviços secretos, na medida em que todos os órgãos e instituições são eventualmente acusados de cultivarem determinado grau de corporativismo.

O controle desenvolvido pelas agências por meios de suas próprias estruturas orgânicas tem a capacidade técnica necessária para enfrentar esta atribuição, uma vez que em regra é composta por agentes já experimentados, com a conduta ilibada, previamente preparados para o exercício da fiscalização e controle.

Quando o controle está a cargo de órgãos internos o acesso a informação é facilitado, pois se conhece os processos e os trâmites.

Pela experiência é possível enxergar indícios de transgressões que um fiscalizador externo jamais visualizaria. Em fim, os mecanismos de controles orgânicos tem toda a capacidade técnica necessária para executar o controle da atividade de inteligência de sua agência.

A efetividade deste controle aos olhos da sociedade é extremamente positivo.

Alguns podem até argumentar que não se podem divulgar as fraquezas da agência, entendendo que a afetividade do controle externaria determinada mazela institucional.

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Pós-graduação

Todavia, esta forma de entender não se sustenta diante da realidade de um serviço de inteligência que está intensamente em busca da recuperação da credibilidade, não prospera aquele entendimento na medida em a sociedade precisa acreditar que existe um controle efetivo, que agência de inteligência contará a própria carne caso seja necessário.

No entanto, não bastará para a efetividade dos mecanismos de controle interno que simplesmente se crie determinada estrutura para tal fim, sem que seja lhe destinado os recursos humanos necessários e os materiais adequados.

Não surte nenhum efeito as chamadas corregedorias de papel, nas quais não se produzem conhecimentos para se antecipar aos desvios de conduta, tão somente destinadas a apurar denúncias, o que acaba por depor contra a imparcialidade do controle interno.

Além destas questões, Cepik (2001, p. 335) salienta também que a autonomia do órgão de controle é fundamental. Desta forma não há como acreditarmos que a efetividade de uma correição será plena se suas estruturas e vínculos hierárquicos e de subordinação estiverem dentro da mesma agência.

De modo geral, pode-se dizer que a efetividade de qualquer desses mecanismos de supervisão e Accoutability nas áreas de segurança e inteligência dependem do grau de autonomia do órgão fiscalizador em relação ao órgão fiscalizado, da vontade política, capacidade de pessoal dos procuradores e fiscais para exercerem seu mandato, dos recursos disponíveis e do acesso efetivo às informações, documentos e pessoas relevantes da organização.

De um modo geral, independentemente de quais controles efetivamente serão implantados em nosso país, não podemos perder de vista a origem, formação e constituição de nossa República democrática, na qual os grandes detentores do poder são os cidadãos que possuem seus direitos e garantias fundamentais definidas em nossa Carta constitucional.

Cidadãos estes que vivem e trabalham dia após dia para prover o sustento de sua família e destinam grande parte de seus ganhos ao financiamento da máquina pública, ao custeio das agências de inteligência.

Embora existam mecanismos de controle externos muito importantes como o caso do exercido pelo Parlamento, o maior responsável pela transparência são as próprias agências e o Poder executivo a quem em regra são vinculadas/subordinadas.

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Inteligência de segurança e o Estado Democrático de Direito

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Para eles existe um dever supremo de transparência e de prestação de contas que se sobrepõe aos interesses das mais diversas operações de inteligência.

Este dever precisa estar pautado na lei, com critérios e responsabilidades bem definidos, com sanções estabelecidas, visando a proteção do povo e das agências de inteligência contra influências político partidárias.

O dever de transparência é intrínseco ao serviço público, e aos serviços secretos modernamente é mandamental, para que possamos evoluir paulatinamente em nosso estado de direito democrático.

Nas palavras de Cepik (2001, p. 335), fica totalmente evidente e necessidade de ampliarmos e aprimorarmos os mecanismos de controle da atividade de inteligência de segurança.

Como já disse alguém, se for verdade que o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente, então o poder secreto corrompe secretamente e deve por tudo isso ser cuidadosamente limitado e supervisionado.

Referências

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CARVALHO FILHO, Jose dos Santos. Manual de Direito Administrativo, 15 edição. Rio de Janeiro LÚMEN Júris, 2006. Capítulo (princípios administrativos);

CEPIK, Marco. Segurança Nacional e controle público: limites dos mecanismos institucionais existentes. Contexto internacional. Rio de Janeiro, vol. 23, número 2, julho/dezembro de 2001, p 295-395.

_____, Marco. Regime Político e Sistema de Inteligência no Brasil: Legitimidade e Efetividade como Desafios Institucionais. DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, Vol. 48, no 1, 2005, pp. 67 a 11

GONÇALVEZ, Joanisval Brito. Políticos e espiões: o controle da atividade de inteligência. Niterói, RJ: Impetus, 2010.

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Pós-graduação

Autoaprendizagem

1. Marque V para verdadeiro e F para falso de acordo com o texto da unidade:

( ) A atividade de inteligência de segurança é plenamente regrada por normas e princípios típicos da atividade;

( ) A atividade de inteligência de segurança por sua ínsita característica do sigilo não observa o princípio da publicidade administrativa;

( ) Independentemente dos níveis de atuação e os dos objetivos da operação de inteligência, esta deve estar pautadas nos limites legais e constitucionais;

( ) A atividade de inteligência de segurança por ser um serviço altamente especializado e seus quadros compostos de profissionais de conduta irretocável, seu controle pode ser abrandado se comparado a outras atividades/serviços administrativos do Estado.

( ) A evolução social e maturidade institucional têm o condão de paulatinamente moldar as atribuições, princípios e metas da atividade de inteligência de segurança, que tanto mais se fortalecem quanto estiverem com seus regramentos pré e publicamente estabelecidos.

Avaliação ColaborativaEm geral, as agências de inteligências são órgãos públicos, as quais são sujeitos totalmente aos ditames constitucionais, bem como aos regramentos de direito administrativo. Assim, todas ações dos agentes de inteligência devem ser guiados pelo respeito aos DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS, no que refere a legalidade de suas ações, bem como lembrar que “SÓ É DADO AO AGENTE PÚBLICO REALIZAR AQUILO QUE A LEI AUTORIZA”.

Considerando o texto acima e imaginando que você é responsável por uma operação de inteligência, a qual tem como objetivo a produção de conhecimento tático acerca do envolvimento de um militar das forças armadas e de um policial federal no tráfico internacional de armas. Estes servidores públicos são extremamente cautelosos em suas ações e se utilizam de forte estrutura de contra inteligência.

Responda as questões a seguir e publique na ferramenta Exposição.

• Quais providências preparatórias você tomaria?

• Quais técnicas especializadas de inteligência você utilizaria e qual seu fundamento legal?

• Quais garantias fundamentais teriam maior atenção por parte dos agentes para não tornar sua ação ilegal?

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Inteligência de segurança e o Estado Democrático de Direito

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Síntese

Nesta unidade didática podemos entender que a atividade de inteligência de segurança nada mais é do que uma função pública, da mais alta relevância para defesa do Estado e da sociedade, que para tanto exerce suas funções na estrita observância de princípios constitucionais e legais.

As agências de inteligência no exercício de suas atividades de produção e de proteção do conhecimento de inteligência devem pautar suas ações dentro de preceitos éticos e morais visando sempre o atendimento da finalidade pública, ou seja, o interesse público.

Pela natureza e pelos métodos que emprega, em especial o sigilo operacional, este serviço público deve estar sob a égide de um amplo mecanismos de controle externo e interno, para que a sociedade direta ou indiretamente seja informada de objetivos, metas, resultados e limites de seus serviços secretos. Estas informações devem ser suficientes para que a população possa decidir se estão sendo atendidos ou não os interesses públicos.

Saiba Mais:

CEPIK, Marco. Inteligência e Politícas Públicas: Dinâmicas operacionais e a agilidade como um desafio. Center for Hemispheric Defense Studies REDES 2002, Research and Education in Defense and Security Studies. August 7/10, 2002, Brasília, Brazil. Disponível em: http://www.fafich.ufmg.br/ceig/?screen=article&aid=57, acessado em 20 de marco de 2011.

Decreto 4.553 de 27 de Dezembro de 2002. Que regulamenta a classificação de documentos sigilosos.

PETERSON, Marilyn B.; MOREHOUSE, Bob; WRIGHT, Richard (eds). Intelligence 2000: Revising the basic elements. 2. Impressão. Sacramento – CA/ Lawrencevile

– NJ: Law Enforcement Intelligence Unit (LEIU)/nInternational Association of Law Enforcement Intelligence Analysts (IALEIA), 2002.

FEITOZA, Denilson. Atividade de Inteligência e Processo penal. In: IV Jornada Jurídica da Justiça militar da União – auditoria da 4 CJM, 30set2005, Juiz de Fora/MG. Disponível em: http://www.advogado.adv.br/direito militar/ano2005/denilsonfeitozapacheco/atividadedeinteligencia.htm. Acessado em 20/05/2011.

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Pós-graduação

SANTOS, Jair Lima. Tribunal de Contas da União e controle estatal e social da Administração Pública. Curitiba: Juruá, 1 ed. 4 tir, 2006.

VIEIRA, Tatiana Malta. O DIREITO À PRIVACIDADE NA SOCIEDADE DA INFORMAÇAO: efetividade desse direito fundamental diante dos avanços da tecnologia da informação. Monografia de Mestrado. Universidade de Brasília, Orientador: Prof. Dr. Gilmar Ferreira Mendes, Brasília, 2007. Disponível em: http://repositorio.bce.unb.br/bitstream/10482/3358/1/2007_TatianaMaltaVieira.pdf;

www.cia.gov

www.fbi.gov

www.ialeia.org

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Inteligência de segurança e o Estado Democrático de Direito

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Nobres Alunos e Alunas,

Conforme você pôde verificar no início do conteúdo da disciplina de Sistema e Política Nacional de Inteligência, foi realizada uma abordagem sobre a evolução histórica da Atividade de Inteligência, comprovando que sua origem e desenvolvimento confunde-se com a própria história da humanidade, pois está atrelada a necessidade da busca pelo conhecimento, que é inerente ao ser humano.

Nessa unidade, ainda, procuramos apontar como se deu o surgimento da Atividade de Inteligência no Brasil, bem como sua organização funcional e institucional, através da análise dos seus sistemas.

Em decorrência dessa análise, abordamos as principais atribuições dos organismos de Inteligência, bem como a estratégia de atuação da Atividade de Inteligência, enquanto ferramenta fundamental e necessária para a preservação dos direitos e garantias fundamentais e da defesa do estado democrático de direito.

Destacamos que a Atividade de Inteligência, considerando o novo contexto global, deve ter uma atuação ampliada e sistêmica, tanto no aspecto tático como estratégico, visando um enfrentamento qualificado ao crime organizado nacional e transnacional. Nesse sentido, pontuamos a importância estratégica dos acordos de cooperação internacional na área de Inteligência.

Na ultima etapa do nosso estudo, observamos que a atividade de inteligência se constitui numa atividade estatal típica, devendo ser pautada em preceitos éticos e jurídicos, transformando-se assim numa ferramenta fundamental para a sustentabilidade democrática. Soma-se ainda, a comprovação da necessidade de aperfeiçoamento nos mecanismos de controle sobre a Atividade de Inteligência, de forma a fortalecer e sedimentar sua legitimidade.

Assim, o que propomos a você, caro aluno, foi apresentar uma visão ampla e profunda sobre as nuances que norteiam o Sistema e a Política Nacional de Inteligência, deixando a certeza que a Atividade de Inteligência tem um papel fundamental na construção de um país democrático e no fortalecimento da soberania nacional.

Prof. Geovaldri Maciel Laitartt Prof. Régis Limana

Para concluir os estudos

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Geovaldri Maciel Laitartt

É Agente de Polícia Federal, atualmente esat lotado na Diretoria de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal.

Régis André Silveira Limana

Bacharel em Ciências Jurídicas, Especialista em Accountability - Organização dos Estados Americanos/ OEA, Especialista em Inteligência de Estado e de Segurança Pública, Coordenador-Geral de Inteligência da Secretaria Nacional de Segurança Pública (2008 a 2010), Presidente da Câmara Temática de Inteligência de Segurança Pública para a Copa do Mundo de 2014 - SENASP/ MJ. (2009/2010).

Minicurrículo

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Unidade 1

Unidade 2

Autoaprendizagem

Alternativa correta: b

Unidade 3

Autoaprendizagem

Sequência correta: 2, 1, 4, 5 e 3

Unidade 4

Autoaprendizagem

Resposta correta: F, F, V, F, V

Respostas e comentários das atividades de autoaprendizagem e colaborativas

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Título da Disciplina

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Avaliação Colaborativa

1.

• Identificação das normas que regulam os procedimentos administrativos contra os servidores;

• Envolvimento das agências de Inteligência da força a que pertence o militar, bem como da Polícia Federal;

• Instauração de Inquérito Militar/Policial;

• Solicitação ao poder judiciário autorização para registro de conversas ambientais e registros de imagens;

• Solicitação ao poder judiciário para compartilhamento das informações sigilosas com outros órgãos;

• solicitação ao poder judiciário das restrições aos sigilos necessários;

Dois dos itens são satisfatórios;

2. Vigilância, fotografia, filmagem, infiltração, entrega controlada, entrevista, restrição de sigilos, bancários, fiscais e telefônicos, reconhecimento, controle de fonte humana;

Três dos itens são satisfatórios;

3. Presunção de não culpabilidade, legalidade, sigilo das comunicações, inviolabilidade da intimidade, inviolabilidade do domicílio, proteção a imagem, dignidade da pessoa humana;

Três dos itens são satisfatórios;

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ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Sistema penal máximo x cidadania mínima: códigos da violência na era da globalização. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003.

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ARAS, Vladimir. O papel da autoridade central no acordo de cooperação penal internacional. In: BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo; LIMA, Luciano Flores (orgs.). Cooperação jurídica internacional em matéria penal. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2010.

BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo; MORO, Sérgio Fernando (org.). Lavagem de

BARATTA, Alessandro. Direitos humanos: entre a violência estrutural e a violência penal. Fascículo de Ciências Penais, Porto Alegre, a. 6, v. 6, n. 2,p. 141, abr./maio/jun. 1993.

BARROS, José Manuel de Aguiar. Terrorismo: ação, reação e prevenção. São Paulo: Arte & Ciência, 2003.

BEATO F. Cláudio. Políticas públicas de segurança. Disponível em: <http://www.crisp.ufmg.br/polpub.pdf>. Acesso em: 2 fev. 2006.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal: parte geral. 5. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: RT, 1999.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.

_______. Decreto n° 154, de 26 de junho de 1991. Promulga a Convenção das Nações Unidas Contra o Tráfico Ilícito de entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas.

Referências

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Título da Disciplina

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_______. AGÊNCIA BRASILEIRA DE INFORMAÇÕES. Revista Brasileira de Inteligência, Brasília, v. 1, n. 1, dez. 2005.

_______. Agência Brasileira de Inteligência (ABIN). Revista Brasileira de Inteligência, Brasília,v. 1, n. 1, dez. 2005.

_______. Decreto nº 3.505, de 13 de junho de 2000. Institui a Política de Segurança da Informação nos órgãos e entidades da Administração Pública Federal.

_______. Decreto nº 3.695, de 21 de dezembro de 2000. Cria o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP), no âmbito do Sistema Brasileiro de Inteligência, e dá outras providências.

_______. Decreto nº 4.376, de 13 de setembro de 2002. Dispõe sobre a organização e o funcionamento do Sistema Brasileiro de Inteligência, instituído pela Lei n° 9.883/1999, e dá outras providências.

_______. Decreto nº 4.553, de 27 de dezembro de 2002. Dispõe sobre a salvaguarda de dados, informações, documentos e materiais sigilosos de interesse da segurança da sociedade e do Estado, no âmbito da Administração Pública Federal, e dá outras providências.

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_______. Decreto n° 5.015, de 12 março de 2004. Promulga a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional.

_______. Decreto n° 5.639, de 26 de dezembro de 2005. Promulga a Convenção Interamericana contra o Terrorismo, assinada em Barbados, em 3 de junho de 2002.

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Pós-graduação

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_______. Decreto n° 5.687, de 31 de janeiro de 2006. Promulga a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 31 de outubro de 2003 e assinada pelo Brasil em 9 de dezembro de 2003.

_______. Decreto nº 6.540, de 19 de agosto de 2008. Altera e acresce dispositivos ao Decreto nº 4.376/2002, que dispõe sobre a organização e o funcionamento do Sistema Brasileiro de Inteligência, instituído pela Lei nº 9.883/1999.

_______. Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008. Aprova a Estratégia Nacional de Defesa, e dá outras providências. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6703.htm>. Acesso em: 10 mar. 2011.

______. Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992. Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 3 jun 1992. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8429.htm>. Acesso em: 25 abr. 2011.

______. Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998. Dispõe sobre os crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 mar 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L9613.htm>. Acesso em: 25 abr. 2011.

_______. Lei nº 9.883, de 7 de dezembro de 1999. Institui o Sistema Brasileiro de Inteligência, cria a Agência Brasileira de Inteligência – ABIN, e dá outras providências.

_______. Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 ago 2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm>. Acesso em: 25 abr. 2011.

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Título da Disciplina

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_______. Plano Nacional de Segurança Pública. Brasília: SENASP, 2000.

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Pós-graduação

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CEPIK, Marco A. C. Serviços de inteligência: agilidade e transparência como dilemas de institucionalização. Tese (doutorado) em Ciência Política pela IUPERJ. Rio de Janeiro,2001.

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ENCONTRO DE ESTUDOS: Desafios para a Atividade de Inteligência no Século

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Título da Disciplina

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