sistema de segurança pública brasileiro
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Sistema de Segurança Pública BrasileiroTRANSCRIPT
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como temos notado ao longo de toda argumentação, o Sistema de Segurança
Pública Brasileiro é constituído por diversos órgãos que, em perfeito sincronismo, nos
mostram a realidade do nível de segurança. Entretanto, podemos avaliar essa segurança
tomando por base a eficiência e rigidez da legislação penal, bem como a eficiência e
capacidade do sistema prisional em recuperar o indivíduo apenado.
Se olharmos por esse ângulo, concluímos que a segurança da sociedade brasileira
está longe da realidade que desejamos, pois não é novidade pra ninguém que nossa
legislação, de certa forma, é branda, cheia de brechas que acaba beneficiando o
delinquente. Por outro lado, nosso sistema penitenciário tem se mostrado monstruoso e
ineficaz, como mostra Letícia Dall’agno, em sua pesquisa sobre a ressocialização do
apenado, afirmando que:
O sistema penitenciário no Brasil é bastante criticado e ferozmente combatido pelos estudiosos do assunto, revelando a preocupação com a ineficácia do sistema, que não consegue cumprir sua principal finalidade: recuperar o criminoso e devolvê-lo á sociedade em condições adequadas. (DALL’AGNO, 2010, p. 38)
Ainda como se não bastasse, em junho de 2014 o Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) divulgou o resultado de uma pesquisa, levando em consideraçao aos dados recentes
do Sistema Penitenciário Nacional, a qual mostra que em 2014 o Brasil já possuia uma
populaçao carcerária de aproximadamente 564 mil presos encarcerados. Se somarmos com
a população em prisão domiciliar, esse número passa de 711 mil presos. Com esses
números, alcançamos a marca dos 358 presos para cada 100 mil habitantes, colocando o
Brasil como um dos países mais violentos do mundo e entre os quatro com maior
população carcerária do mundo.
Ainda conforme a pesquisa, percebemos que atualmente o sistema penitenciário
brasileiro tem uma capacidade de aproximadamente 374 mil vagas disponível, para um
total de 564 mil presos encarcerados, ou seja, um déficit de quase 200 mil vagas. Esses
números poderíam ser bem piores, se levássemos em consideraçao ao cumprimento do
número de mandados em aberto, o número de indivíduos em prisão domiciliar e os
atualmente encarcerados, a população carcerária subiria para aproximadamente 1 milhão e
100 mil indivíduos, o que provocaria um déficit de 700 mil vagas.
É por essas e outras razoes que FERNANDES & RIGHETTO afirmam que:
O Sistema Penitenciário Brasileiro, ou seja, a prisão é o local onde o condenado cumpre a pena imposta pela Lei e aplicada pelo Juiz e, é sabido que este é alvo de grandes discussões, críticas e muitos problemas, como a superlotação, a higiene e saúde, as rebeliões, a não aplicabilidade do princípio da dignidade da pessoa humana, os quais impossibilitam a ressocialização do detento ao convívio social, tendo em vista o descaso e a situação em que os mesmos estão submetidos dentro das prisões. (FERNANDES & RIGHETTO, 2014, p. 121)
Diante do exposto, podemos facilmente chegar a conclusão que o sistema
penitenciário brasileiro está falido, pois a disponibilidade de vagas para a atual população
carcerária é insuficiente, provocando uma superlotação descomunal; o índice de
reincidência é muito elevado, deixando claro que o sistema não consegue atingir a sua
finalidade, que é de recuperar o delinquente; as politicas penitenciárias demonstram certa
estagnação; rebeliões e fugas se tornaram constantes; a insalubridade, a ausência de
normas quanto à higiene; falta de acompanhamento médico adequado; estruturas físicas
inadequadas; proliferação de doenças infectocontagiosas; ociosidade, etc; tudo isso
contribui para transformar a prisão numa opção monstruosa, fazendo nos lembrar do
encarceramento do século XVIII, onde indivíduos eram lançados em ambientes
semelhantes e sem as mínimas condições de recuperação, como afirma ribeiro:
Os penitenciários eram abrigados em prisões subterrâneas, infectas que propagavam as doenças para a população livre, o que causou debates sobre a necessidade de regulamentação do processo de encarceramento e da sua humanização. A preocupação em se criar um ambiente que fomentasse a ideia de correção era destaque no movimento liderado por John Howard (1720-1790), na Inglaterra, que enfatizava a necessidade do encarceramento celular com uma rotina de trabalho, oração, alimentação e condições de higiene. Esse movimento deu origem à construção de duas penitenciárias nesses moldes na Inglaterra. (RIBERO, 2012, p. 33)
Analisando as palavras de ribeiro, percebe-se que o sistema penitenciário
brasileiro, após três séculos, quase nada mudou em relação ao encarceramento inglês, pois
parece que a sociedade atual contenta-se em encarcerar o autor da violência, como se este
nunca mais fosse retornar ao contexto social; como se condená-lo a uma subvida fosse nos
livrar do seu potencial agressivo, esquecendo-se que em um novo momento, quando livre,
poderá vingar-se da sociedade com violência. E que o ambiente encarceramento é muito
mais propício para o desenvolvimento de valores nocivos à sociedade do que ao
desenvolvimento de valores e condutas benéficas.
Seguindo esse raciocínio, ribeiro ainda afirma que:
As frustrações advindas das penas restritivas de liberdade apontam para um sujeito condicionado a vida no ócio e, consequentemente, com comportamento agressivo, sem perspectivas de mudanças de vida, acentuado os casos atingidos pela descontinuidade da vivencia social anterior à prisão. O afastamento do convívio social remete a preocupação do Estado com a ordem pública e impelem o sujeito a outras práticas delituosas. (RIBERO, op. cit, p. 50)
Aos sujeitos encarcerados existem poucas esperanças, principalmente no sistema
prisional brasileiro, cheios de muitas oportunidades de reincidência e poucas de
ressocialização. As prisões não proporcionam ao preso a sua recuperação. As cadeias são
ambientes tensos, em péssimas condições humanas onde a superlotação é comum. O
ambiente prisional se constitui atualmente como habitat natural do criminoso, não havendo
alternativas para a sua ressocialização, de acordo com os princípios de humanização da
pena.
Nesse contexto, a cadeia é monstruosa, e a prisão é uma coisa infame e
devastadora da personalidade humana e o criminoso não é só um criminoso, mas, antes de
tudo é um ser humano que não apenas tem os seus direitos garantidos pela Constituição,
como também tem o direito natural de viver em sociedade, produzir e retomar sua posição
após ser punido.
Assim, contrário ao que indica a LEP (Lei de Execuções Penais) no seu artigo 10,
sobre as assistências garantidas a todo indivíduo em encarceramento, a realidade prisional
está bem distante do preconizado pela lei. As condições de encarceramento violam os
princípios dos direitos humanos, provocando uma situação de constantes rebeliões, onde
em muitos casos os governos reagem com descaso para tal realidade, excessiva violência e
descontrole.
Com base nessa atual conjuntura em que se encontra nosso sistema prisional e
compartilhando da mesma linha de raciocínio de ribeiro, Jorge Roberto Gomes, em sua
obra que trata sobre o sistema prisional e a lei de execução penal, também menciona sobre
a situação de falência em que se encontra esse sistema, veja:
Atualmente é notória a falência do sistema prisional brasileiro, diariamente a mídia de forma escancarada e sem pudor, veicula matérias, apresentando para a sociedade a realidade nefasta do sistema, os detentos vivem em condições subumanas, pois os presídios são verdadeiros depósitos de seres humanos, a superlotação acarreta violência sexual entre os presos, proliferando doenças graves, os mais fortes subordinam os mais fracos, drogas são cada vez mais apreendidas dentro das celas, rebeliões acontecem rotineiramente, sendo que nestas, sentenciados são mortos por seus próprios companheiros, funcionários e familiares de detentos são transformados em reféns, resgates e fugas audaciosas acontecem de forma cinematográfica, a corrupção ocorre de forma assustadora, e para agravar ainda mais, existe o fator da infiltração de facções criminosas para
dentro dos presídios, onde vergonhosamente seus mentores continuam a comandar ações criminosas. (GOMES, 2010, p. 06)
Sabe-se que no estabelecimento prisional há poucas atividades e programas
educacionais consolidados, voltados à realidade carcerária, com espaços apropriados e que
associados a condições de encarceramento favoreçam diretamente o objetivo central do
cumprimento da pena que é a ressocialização do indivíduo. Que tal ressocialização vem no
intuito de trazer a dignidade, resgatar a autoconfiança e autoestima dos presos, além de
produzir e efetivar projetos que tragam proveito profissional, entre outras formas de
incentivo e com ela os direitos básicos dos mesmos vão sendo aos poucos novamente
priorizados.
Entretanto, como pode um individuo, que encontra-se enclausurado nessa
condições citadas anteriormente se ressocializar-se? Ora, ele cometeu um crime, está
socialmente maculado, perdeu sua liberdade, perdeu sua dignidade como pessoa humana, a
partir do momento em que recebe um tratamento degradante do próprio Estado, o qual
tinha o dever legal de cumprir e fazer-se cumprir a Declaração Universal do Direitos
Humanos, da qual o Brasil é signatário.
O Estado, a partir do momento que o tira sua liberdade desse indivíduo, em prol
de uma sanção estabelecida por ele (Estado), subtende-se ter a obrigação legal, conforme a
própria legislação, submetê-lo a um processo de recuperação antes de devolvê-lo à
sociedade. Porém, na prática, a realidade não está em consonância com os dispositivos
legais. Percebe-se que o delinquente, ao ser devolvido para o seio social, retorna ainda pior
do que quando ingressou no encarceramento, e o mesmo, por falta de oportunidade, volta a
delinquir, como afirma João Paulo Beal:
Essa realidade é um reflexo direto do tratamento e das condições a que o condenado foi submetido no âmbito prisional, durante seu encarceramento, além do sentimento de rejeição e de indiferença sob o qual ele é tratado pela sociedade e pelo próprio Estado ao readquirir sua liberdade. O estigma de ex-detento e seu total desamparo pelas autoridades faz com que o egresso do sistema carcerário se torne marginalizado no meio social, o que acaba levando-o de volta ao mundo do crime, por falta de melhores opções. (BEAL, 2009, p. 42)
Diante de tantas exposições acerca da criminalidade e do alto índice de
reincidência de indivíduos apenados, nos perguntamos: Então estamos num beco sem
saída? Como poderíamos resolver o problema da criminalidade? Bom, muitos especialistas
no assunto chegariam a conclusão que bastaria um investimento maior não educação de
base, evitando assim que crianças e adolescentes se envolvesse com o mundo do crime. Já
no que se refere à população carcerária, investir em educação também seria uma
oportunidade de resgatar o apenado do mundo do crime. Entretanto, apenas instalar escolas
dentro das unidades prisionais não seria suficiente. Há de se pensar também no
desenvolvimento de atividades laborativas técnico-profissionais, onde os mesmos tivessem
a oportunidade de aprender uma profissão, saindo da ociosidade carcerária. Por outro lado,
não se pode deixar de mencionar estruturas físicas adequadas, que possibilite ao individuo,
mesmo preso, viver dignamente. Ao contrário de tudo isso, só podemos perceber o sistema
penitenciário brasileiro como um sistema falido, uma bomba relógio pronta para explodir,
vitimando ainda mais a sociedade.
Para tanto, fica aqui registrado que esta pesquisa não se resume em um trabalho
pronto e acabado. Mas que seja apenas um fragmento que permita o apontamento de outros
pontos de vista.