sintomas auditivos em usuários de estéreos pessoais

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  • 7/25/2019 Sintomas auditivos em usurios de estreos pessoais

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    Int. Arch. Otorhinolaryngol., So Paulo - Brasil, v.16, n.2, p. 163-169, Abr/Mai/Junho - 2012.

    Artigo Original Int. Arch. Otorhinolaryngol. 2012;16(2):163-169.DOI: 10.7162/S1809-97772012000200003

    Sintomas auditivos em usurios de estreos pessoais

    Hearing symptoms personal stereos

    Tiara Santos da Luz1, Ana Lcia Vieira de Freitas Borja2.

    1) Graduao em Fonoaudiologia. Fonoaudiloga.2) Mestre em Medicina e Sade Humana pela Fundao Bahiana para o Desenvolvimento das Cincias, FBDC, Brasil. Docente da Universidade Federal da Bahia.

    Instituio: Universidade Federal da Bahia - Instituto da Cincia da Sade.Salvador / BA - Brasil.

    Endereo para correspondncia: Tiara Santos da Luz - Rua Augusto Viana s/n Bairro: Vale do Canela - Salvador / BA - Brasil - CEP: 40110-060 - Telefone: (+55 71)8628-7013 - E-mail: [email protected] recebido em 15 de junho de 2011. Artigo aprovado em 14 de novembro de 2011

    RESUMO

    Introduo:Prticos e portteis os estreos pessoais se tor-

    naram acessrios quase indispensveis no dia a dia. Estudos

    revelam que os tocadores de msica portteis podem causar

    danos auditivos a longo prazo para quem ouve msica emalto volume por um tempo prolongado.

    Objetivo:verificar a prevalncia de sintomas auditivos em

    usurios de tocadores amplificados e conhecer os seus hbi-

    tos de uso

    Mtodo:Estudo prospectivo observacional de corte transver-

    sal realizado em trs instituies de ensino da cidade de

    Salvador- BA, sendo duas de rede pblica e uma da rede

    privada. Responderam ao questionrio 400 estudantes, de

    ambos os sexos, entre 14 e 30 anos que referiram o hbito de

    utilizar estreos pessoais.

    Resultados:Os sintomas mais prevalentes foram hiperacusia

    (43,5%), plenitude auricular (30,5%) e zumbido (27,5), sendo

    que o zumbido o sintoma mais presente na populao mais

    jovem. Quanto aos hbitos dirios: 62,3% usam frequente-

    mente, 57% em intensidades elevadas, 34% em perodos pro-

    longados. Verificou-se uma relao inversa entre tempo de

    exposio e a faixa de idade (p=0,000) e direta com a prevalncia

    do zumbido.

    Concluso:Apesar de admitirem ter conhecimento sobre os

    danos que a exposio a som de alta intensidade pode causar

    a audio, os hbitos dirios dos jovens evidenciam o uso

    inadequado dos estreos portteis caracterizados por longos

    perodos de exposio, intensidades elevadas, uso frequente

    e preferncia pelos fones de insero. A alta prevalncia de

    sintomas aps o uso sugere um risco maior para a audio

    desses jovens.

    Palavras-chave:audio, sintomas, hbitos.

    SUMMARY

    Introduction:Practical and portable the personal stereos if

    had become almost indispensable accessories in the day the

    day. Studies disclose that the portable players of music can

    cause auditory damages in the long run for who hear musicin high volume for a drawn out time.

    Objective:to verify the prevalence of auditory symptoms in

    users of amplified players and to know its habits of use

    Method:Observational prospective study of transversal cut

    carried through in three institutions of education of the city of

    Salvador BA, being two of public net and one of the private

    net. 400 students had answered to the questionnaire, of both

    the sex, between 14 and 30 years that had related the habit to

    use personal stereos.

    Results:The symptoms most prevalent had been hyperacusis

    (43.5%), auricular fullness (30.5%) and humming (27.5), being

    that the humming is the symptom most present in the population

    youngest. How much to the daily habits: 62.3% frequent use,57% in raised intensities, 34% in drawn out periods. An inverse

    relation between exposition time was verified and the band of

    age (p=0,000) and direct with the prevalence of the humming.

    Conclusion:Although to admit to have knowledge on the

    damages that the exposition the sound of high intensity can

    cause the hearing, the daily habits of the young evidence the

    inadequate use of the portable stereos characterized by long

    periods of exposition, raised intensities, frequent use and

    preference for the insertion phones. The high prevalence of

    symptoms after the use suggests a bigger risk for the hearing

    of these young.

    Keyword:hearing, symptoms, habits.

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    INTRODUO

    Os aparelhos individuais com fone de ouvido revolu-cionaram a forma de ouvir msica. Por serem prticos eportteis se tornaram acessrios quase indispensveis no diaa dia. Esse hbito moderno tem mobilizado os pesquisadores

    para estudar o impacto negativo do uso inadequado dessesequipamentos sobre a audio. Um estudo recente revelaque os tocadores de msica portteis podem causar danosauditivos a longo prazo para quem ouve msica em altovolume por um tempo prolongado (1).

    A audio uma das principais vias pelas qual o serhumano interage com o meio, sendo um dos sentidos maisimportantes, alm disso, tem uma funo bastante comple-xa e primordial na comunicao humana e preservao daespcie. por meio dela que ouvimos e identificamostodos os sons do ambiente. Leses nas estruturas sensoriais

    da audio provocam prejuzos na deteco, localizao ediscriminao dos sons.

    O crescimento da urbanizao e o avano datecnologia favoreceram a elevao dos nveis de rudo nasruas, no trabalho e no lazer, acarretando prejuzo ao bemestar fsico e mental, bem como a audio dos indivduos(2). Autores ratificam essa afirmao, e acrescentam que orudo no afeta apenas a audio, mas tambm podemproduzir sintomas como aumento da presso arterial,distrbios gastrointestinais, insnia e irritabilidade (3). Atu-almente, o rudo ambiental tem sido considerado um

    problema de sade pblica por fazer parte da maioria dasatividades cotidianas do ser humano (4).

    Os jovens, em sua maioria, adolescentes, habitual-mente esto expostos a msica amplificada de alta inten-sidade, especialmente nas suas atividades de lazer (5). Amsica, em geral, um som agradvel que proporcionasensao prazerosa, entretanto, pode se tornar uma fontede poluio sonora dependendo da maneira e do nvelsonoro que utilizado (4).

    Observa-se que adolescentes na faixa etria de 12a 18 anos, aumentaram muito o uso de equipamentosestreos pessoais (EP), muitas vezes, usados de maneirainadequada, por muitas horas e em intensidades muitoelevadas. H dois motivos preocupantes que fazem comque esses modernos equipamentos sejam prejudiciais parausurio: o primeiro a grande capacidade de memria ealta durabilidade da bateria, o que favorece seu uso emjornadas extensas. E o segundo o design dos fones, cujatendncia atual o uso dos fones de insero que socapazes de concentrar toda a energia sonora produzidadentro do conduto auditivo externo, sendo considerados,por esta caracterstica, os mais prejudiciais (6).

    Outro aspecto preocupante o nvel de intensi-dade com que esses equipamentos so utilizados, per-mitindo que pessoas a um metro de distncia escutem amsica que esta sendo ouvida pelo usurio atravs dosfones. Estudos demonstraram que os nveis de pressosonora desses equipamentos podem atingir 120 dB,intensidade suficiente para provocar leso auditiva (7, 8,

    9).

    O grande nmero de estudos acerca deste temaevidencia a preocupao de que o uso desses equipamen-tos de modo abusivo e incorreto possa causar danosirreversveis audio (2,6).

    Desta maneira, considerando a relevncia do tema,o objetivo deste trabalho foi verificar a prevalncia desintomas referidos por usurios de tocadores de msicadigital amplificada e conhecer os seus hbitos em relaoao uso desses equipamentos.

    MTODO

    Desenho do estudo e populao

    Trata-se de um estudo observacional tipo cortetransversal, conduzido com dados primrios, realizado nacidade de Salvador/BA no perodo de setembro a novem-bro de 2010. Foi desenvolvido em trs instituies, uma doensino mdio e duas do ensino superior, sendo duas de

    rede pblica e uma de rede privada.

    Participaram da pesquisa 400 estudantes, de am-bos os sexos, com faixa etria entre 14 e 30 anos quereferiram o hbito de utilizar estreos pessoais. A amostrafoi composta por estudantes do ensino mdio e do ensinosuperior em faculdades pblicas e privadas, independen-te do curso.

    Coleta de dados e Aspectos ticos

    Os dados foram obtidos atravs de um questionrioestruturado (Apndice A) sobre os hbitos dirios de usodos estreos pessoais, sintomas auditivos aps uso dessesequipamentos e o grau de conscientizao acerca dospossveis riscos que estes equipamentos podem causar aaudio. Tambm foi utilizada uma escala analgica visual,a fim de estimar a faixa de volume habitualmente utilizadapelos usurios, a mesma consiste de uma reta de 10 cmdesprovida de nmeros, na qual h apenas indicaes naextremidade esquerda de volume mnimo, quecorresponde a 0 cm e direita volume mximo quecorresponde 10 cm.

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    Para posterior anlise da escala, foram feitas asseguintes consideraes:

    Quadro 1. Correspondncia da escala analgica visual.

    0 ______________________________________10

    Escala em centmetros (cm) Faixa de volume0 - 4,5 Volume adequado/Baixo Risco4,6 - 7,5 Volume moderado/Risco Moderado7,6 - 10 Volume alto/Alto Risco

    Previamente aplicao dos questionrios as insti-tuies que participaram da pesquisa assinaram um termode consentimento autorizando a aplicao dos question-rios nas suas dependncias, bem como, todos os partici-

    pantes tambm assinaram um termo de consentimentolivre e esclarecido.

    Este estudo foi submetido ao Comit de tica empesquisa da Faculdade de Tecnologia e Cincia (FTC),tendo sido aprovado, sem restries atravs do parecer no2037.

    Anlise de Dados

    Os dados foram digitados no programa EpiDataEntry 3.1 (CDC, Atlanta, GA) e analisados, quantitativamente,no SSPS verso 15. Os dados foram tabulados e apresenta-dos em forma de Tabela e Grficos.

    Apndice A.Questionrio.

    Instituio de ensino:Escolaridade: ( ) Fundamental ( ) Mdio ( ) SuperiorIdade:1. Voc faz uso de estreos pessoais (Mp3, Mp4, Ipods)? ( ) Sim ( ) No2. Com que frequncia voc costuma usar seu estreos pessoais?

    ( ) Sempre ( ) s vezes ( ) Raramente3. Quantas horas por dia voc usa seu estreos pessoais? ( ) 30 min ( ) 1h ( ) Mais de 2h ( ) Mais de 4 h4. Na escala abaixo marque em qual posio do volume voc considera usar habitualmente seu estreo pessoal, sendo 0 o volumemnimo e 10 o volume mximo. 0___________________________105. Voc sabe qual o volume mximo de seu equipamento (Mp3, Mp4, Ipod)? ( ) Sim ( ) No6. Qual tipo de fone de ouvido voc costuma usa seu estreo pessoal? ( ) Insero (coloca dentro do canal auditivo) ( ) Circum aural (fica sobre a orelha)7. Em qual ambiente voc costuma usar seu estreo pessoal? ( ) Ambientes ruidosos ( ) Ambientes silenciosos ( ) Em ambos

    8. Voc costuma dormir ouvindo msica com seu estreo pessoal? ( ) Sim ( ) No9. Qual o gnero musical voc costuma ouvir em seu estreo? (pode marcar mais de uma alternativa) ( ) Rock ( ) Pagode ( ) Sertanejo ( ) Jazz ( ) MPB ( ) Samba10. Voc acha que ouve bem? ( ) S im ( ) No11. Aps uso do estreo (Mp3, Mp4, Ipod), j percebeu algum desses sintomas: ( ) Zumbido ( ) Dor ( ) Tontura ( ) Sensao de ouvido tapado ( ) Diminuio da audio ( ) Outros_______________12. Tem dificuldade em perceber ou discriminar sons, ou em compreender a fala, em ambientes ruidosos? ( ) Sim ( ) No13. Quando ouve sons fortes ou est em ambientes muito ruidosos sente desconforto nos ouvidos? ( ) Sim ( ) No

    14. Voc acredita que o uso de estreo pessoal em volume mximo pode causar perda auditiva? ( ) Sim ( ) No15. J obteve alguma informao sobre os efeitos nocivos que o rudo pode trazer para sade? ( ) No ( ) Sim.16. Caso tenha respondido sim pergunta anterior, porque meio teve acesso a essa informao? ( ) Escola ( ) TV, rdio ( ) Outdoor ( ) Mdia escrita (jornal, revista) ( ) Internet ( ) Profissional de sade

    Int. Arch. Otorhinolaryngol., So Paulo - Brasil, v.16, n.2, p. 163-169, Abr/Mai/Junho - 2012.

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    Para variveis categricas foram estimadas frequn-cias simples e comparadas com o teste qui - quadrado dePearson. Enquanto para variveis contnuas foram estima-das mdias e medianas. Foram considerados como resulta-dos estatisticamente significantes aqueles que apresentamp-VALOR < que 0,05.

    RESULTADOS

    A Tabela 1 mostra os dados scio-demogrficos dapopulao. Participaram da pesquisa 200 alunos do ensinomdio e 200 do ensino superior destes 300 pertenciam instituio pblica e 100 de privada. A faixa etria variouentre 14 e 30 anos, entretanto 91,6 % tinham idade at 25anos, 64,8% eram do sexo feminino.

    A Tabela 2 evidencia os resultados quanto aoshbitos dirios de exposio msica eletronicamente

    amplificada em aparelhos individuais. Quanto frequnciade uso observa-se que 62,3% dos participantes referiramusar frequentemente, 31,7% s vezes, 6% raramente.

    No que diz respeito faixa de volume de usohabitual, 57% dos indivduos afirmam ouvir em volumealto, 33% em volume moderado, e apenas 10% em volume

    baixo. Vale ressaltar que 50,8% relataram ter conhecimentodo volume mximo de sada do seu equipamento.

    Verificou-se ainda, que 34% dos jovens costumamouvir msica por um perodo que varia de 2 at 6h por dia.Observou-se uma correlao inversa entre o tempo deexposio e a faixa de idade (p=,000). Quanto ao tipo de

    fone 75,5% afirmaram utilizar fone de insero, 20,8% fonecircum aural e 3,3% utilizam ambos os fones.

    Os gneros musicais mais presentes na prefernciados participantes so a MPB com 63% seguido de rock(48,3%) e pagode (41,5%).

    Tabela 1.Caracterizao da amostra.

    Variveis N(400) %Idade (anos) 14 a 18 205 51,3%

    19 a 25 161 40,3%

    26 a 30 34 8,4%Sexo Feminino 259 64,8% Masculino 141 35,2%

    Instituio Pblica 300 75,0% Privada 100 25,0%Escolaridade Nvel Mdio 200 50,0% Nvel Superior 200 50,0%

    Tabela 2.Hbitos relacionados ao uso de estreos pessoais.

    Variveis N(400) %

    Tempo de exposio/dia At 1/2h min 55 13,80%Entre 1/2h e 2h 117 29.3%Entre 2h de 6h 136 34,00%

    Faixa de volume habitual Volume baixo 40 10,00%Volume moderado 132 33,00%Volume alto 228 57,00%

    Sabe volume mximo? Sim 203 50,80%No 195 48,80%

    Tipo de fone Insero 302 75,50%Circum aural 83 20,80%Ambos 13 3,30%

    Ambiente de uso Ruidoso 55 13,70%Silencioso 60 15,00%Ambos 285 71,30%

    Dorme ouvindo msica? Sim 187 46,80%No 209 52,30%

    Gnero musical MPB 252 63,00%Rock 193 48,30%Pagode 166 41,50%Samba 154 38,50%Sertanejo 91 22,80%Jazz 85 21,30%Outros 18 4,50%

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    A maioria dos entrevistados (71,3%) costuma utilizaro player porttil tanto em ambientes ruidosos quantosilenciosos, porm, 13,7% utilizam somente em ambienteruidoso; 46,8% referem o hbito de dormir ouvindo msicanos estreos pessoais.

    Quanto presena de sintomas aps exposio

    msica eletronicamente amplificada (Tabela 3), 67,2% dosentrevistados j apresentaram pelo menos um sintoma,sendo que 18,7% referiram mais de um sintoma.

    Os sintomas mais prevalentes foram plenitudeauricular (30,5%) seguido de zumbido (27,5%), otalgia(12,8%), hipoacusia (11,5%), tontura (4,8%) e outros(4,0%). 34% no referiram sintomas aps o uso. Verificou-se que quanto maior a idade menor a presena de sintomasaps o uso e quanto menor a faixa etria maior aprevalncia do zumbido nesta populao. Tambm obser-va-se uma relao direta entre o tempo de exposio e o

    aumento da prevalncia do zumbido. Vale ressaltar, que ouso em intensidades elevadas guarda uma relao diretacom a quantidade de sintomas referidos.

    Como queixa permanente 43,5% dos participantesafirmaram apresentar desconforto a sons intensos e dificul-dade em perceber sons e compreender fala em ambientesruidosos (36,5%). Sendo que 15,8% referem no ouvir bem.

    Foi evidenciado que quanto maior o tempo deexposio maior a prevalncia de queixa de zumbido.

    No que diz respeito ao grau de conscientizao emrelao aos possveis riscos que o uso de estreos pessoaispodem causar a audio, 91,5% acreditam que estes podemcausar perda auditiva e 75,5% j obtiveram alguma informa-o sobre os efeitos nocivos que o rudo pode trazer parasade. Os meios de maior acesso a essas informaes foramTV/rdio (40,8%), internet (29,8%), profissionais de sa-de(26%), mdia escrita (24,8%) e escola (23,8%).

    DISCUSSO

    Por serem prticos, portteis e estarem na moda osequipamentos estreos pessoais se tornaram acessriosquase indispensveis no dia-a-dia, principalmente entre osjovens. Este hbito de consumo moderno tem geradograndes discusses e pesquisas no meio cientfico acerca dosprejuzos que podem causar audio desses indivduos.

    Chama a ateno o fato de que o uso dessesequipamentos, embora mais comum entre adolescentes,est presente hoje em todas as faixas de idade. Esse hbitoest cada vez mais incorporado rotina das pessoas e o usoinadequado torna-se num risco sade auditiva.

    Apesar da dimenso reduzida, esses equipamentosesto cada vez mais potentes, com grande capacidade dememria e alta durabilidade da bateria favorecendo seu usoem jornadas extensas (6). Alm disso, estudos mostramque os nveis de presso sonora desses equipamentospodem atingir 120 dB, intensidade de risco potencial aoouvido humano (7, 8, 9).

    Constatou-se que 62,3% da populao estudadatm o hbito de usar frequentemente estreos pessoaispor longos perodos de exposio e em intensidadeselevadas, estes achados corroboram outros estudos comesta populao (2, 8, 9, 10, 11, 12).

    Os riscos sade auditiva ficam evidentes quandoobservamos os hbitos de uso e a correlao com ossintomas auditivos. Neste sentido, h uma correlao diretaentre o tempo de exposio e a presena de sintomasauditivos (p= 0,004) destacando-se o zumbido como osintoma cuja correo tem maior aderncia estatstica.Relao estatisticamente significante tambm foi encon-trada entre o tempo de exposio e a faixa de idade(p=, 0000).

    A utilizao destes equipamentos portteis d-se emdiversos ambientes ruidosos como no trnsito, escola, facul-dade, rua, academia de ginstica etc. Em geral, nesses locais,o nvel de rudo elevado o que faz com que os usuriosaumentem o volume para encobrir sons externos (11,12).Observou-se neste estudo que 81,5% dos jovens costumamutilizar estreos pessoais em ambientes ruidosos.

    Outro aspecto a ser considerado o design dosfones de ouvido cujo modelo pode potencializar a capaci-

    dade sonora desses equipamentos. Os fones de insero

    Tabela 3.Sintomas e queixas relacionadas audio.

    Variveis N(400) %Quantidades de sintomas 1 194 48,50%

    + de 1 75 18,70%

    Sintomas aps uso de P. Auricular 122 30,50%estreo pessoal Zumbido 110 27,50%

    Otalgia 51 12,80%Hipoacusia 46 11,50%Tontura 19 4,8%Outros 16 4,0%

    Dificuldade em perceber Sim 146 36,50%e compreender a fala No 254 63,50%em ambientes ruidosos

    Desconforto a sons Sim 174 43,50%intensos No 225 56,30%Acha que ouve bem Sim 334 83,50%

    No 63 15,80%

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    por serem discretos, mais estticos e por possurempraticidade superior aos volumosos fones externos querecobrem a orelha (circum-aural), so atualmente os maispopulares (6). Nesta populao observou-se que 75,5%tm preferncia pelos fones de insero, concordandocom outros autores (4, 6, 9). A posio deste tipo de fone,inserido no conduto auditivo externo, favorece a

    potencializao da intensidade visto que toda a pressosonora conduzida para orelha mdia. Para GARSTECKI(2006), professor de desordens e cincias de comunicaoda universidade Northwestem (EUA), o problema se agra-va quando estes pequenos fones no se encaixam perfei-tamente nos ouvidos e permitem a entrada de sonsexternos, o que faz com que o usurio aumente mais ovolume do player para abafar o barulho externo (13).

    Um nmero significativo de jovens 67,2%, afirmaramter apresentado pelo menos um dos sintomas aps exposio msica eletronicamente amplificada. Os sintomas auditivos

    mais referidos pelos usurios de estreos pessoais foramplenitude auricular, seguido de zumbido, estes achados foramsimilares aos encontrados em outros estudos (2, 5, 8, 9, 14,15). Alguns autores acreditam que o zumbido, a sensao deouvido tapado e diminuio da audio aps exposioexcessiva msica amplificada, podem ser os primeiros sinaisde perda auditiva induzida pela msica (9,14).

    consenso na literatura a presena de mudanastemporrias do limiar (TTS) aps exposio a rudos de altaintensidade (4, 9, 14, 15, 16, 17). Todavia, mudanastemporrias decorrentes de superexposio ao rudo po-

    dem resultar em mudanas permanentes do limiar (3,18).Os principais fatores para o desenvolvimento de perdaauditiva so o tempo de exposio, intensidade sonora ea suscetibilidade individual (3, 15, 18).

    Por outro lado, perda auditiva para alguns autores no a nica leso resultante da exposio a doses de rudossuperpostos. Esses indivduos podem apresentar queixascomo zumbido crnico, recrutamento e hipersensibilidadeao som (hiperacusia) (19). Este estudo constatou que grandeparte dos participantes (43,5%) referiu desconforto a sonsintensos, concordando com outros estudos (3). Hiperacusiaou hipersensibilidade aos sons o constante incomodo asons de intensidade fraca, moderada ou forte, independenteda situao ou ambiente (3,19).

    Vale ressaltar, que leses do rgo de corti,hiperacusia, zumbido, entre outras alteraes podem im-pedir ou dificultar a utilizao plena das habilidades audi-tivas, prejudicando a qualidade de vida dos indivduos (19).Um nmero significativo dos respondentes 36,5% referiuapresentar dificuldade em perceber sons e compreenderfala em ambientes ruidosos, corroborando pesquisas simi-lares (2, 4, 8,10).

    O impacto negativo do uso inadequado dessesequipamentos sobre a audio, sem dvida pertence aocampo da sade pblica (1). Os equipamentos portteisindividuais esto chegando cada vez mais cedo s mos eouvidos dos jovens, torna-se evidente a necessidade daimplantao precoce de aes educativas desde o ensinofundamental. Neste estudo observou-se uma correlao

    inversa entre o tempo de exposio e a faixa de idade, ouseja, os mais jovens tm uma propenso a utilizar o playerporttil em maiores intensidades (p=, 000).

    A maioria dos sujeitos entrevistados (91,5 %) acre-dita que o uso de estreos pessoais em volume mximopode causar perda auditiva e 75,5% j obtiveram algumainformao sobre os efeitos nocivos que o rudo podetrazer para sade, estes achados esto de acordo comoutros estudos similares (5, 8). Contrariamente, em numestudo realizado em So Paulo 85% dos jovens acreditamque o uso desses equipamentos em intensidade elevada

    no causa perda auditiva (6).

    Apesar do amplo percentual de jovens que jtiveram acesso a informaes sobre os efeitos nocivos dorudo sobre a sade, os achados aqui descritos demonstramque um grande contingente permanece com hbitos deuso inadequados desses equipamentos. Vrios autoresdiscutem a falta de aes de proteo e preveno dasalteraes auditivas ocasionadas especificamente por ex-posio msica amplificada (2,4).

    A escola o meio de informao menos citado pelos

    participantes (23,8%) e o mais citado a TV/Rdio (40,8%).Outros meios citados foram a internet (29,8%), profissionaisde sade (26,0%) e a mdia escrita (23,8%). Estes nmerossugerem uma participao insignificante da escola frente aopapel que desempenha na formao dos jovens.

    CONCLUSO

    Os sintomas auditivos mais prevalentes nos usuriosde equipamentos portteis individuais foram desconfortoa sons intensos, dificuldade em perceber sons e compreen-der fala em ambientes ruidosos, plenitude auricular, zum-bido, otalgia e hipoacusia. Quanto maior a idade menor apresena de sintomas aps o uso e quanto menor a faixaetria maior a prevalncia do zumbido nesta populao

    Os hbitos dirios de exposio evidenciam o usoinadequado desses equipamentos caracterizados por lon-gos perodos de exposio, intensidades elevadas, usofrequente e preferncia pelos fones de insero.

    Apesar de quase a totalidade (91,5%) dos jovensacreditarem que o uso de estreos pessoais em volume

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    mximo possa causar perda auditiva e referirem informa-es prvias sobre os efeitos nocivos do rudo sobre asade, um grande contingente permanece com hbitos deuso inadequados desses equipamentos.

    A escola figura como o meio de informao quemenos contribuiu para a formao do conhecimento acerca

    dos efeitos nocivos do rudo. Sugere-se uma participaomais ativa da escola frente ao papel que desempenha naformao dos jovens, desenvolvimento de aes educaci-onais sobre os riscos que a exposio inadequada aos rudospode causar a sade.

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