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Síndrome Ictérica: Anatomia e Patologias das Vias Biliares e Pancreáticas Deborah Vasconcelos Fernando Sabino

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Page 1: Síndrome Ictérica

Síndrome Ictérica: Anatomia e Patologias das Vias Biliares e Pancreáticas

Deborah VasconcelosFernando Sabino

Page 2: Síndrome Ictérica

Funções do fígado normal • Metabolismo energético e interconversão de substratos • Funções de síntese proteica• Funções de solubilização, transporte e armazenamento• Funções de proteção e depuração

Page 3: Síndrome Ictérica

Tipos de disfunção hepática

• As consequências clínicas da doença hepática podem ser, em sua maioria, consideradas em termos de falência de uma das quatro principais funções do fígado ou de consequência de hipertensão portal.

Page 4: Síndrome Ictérica

Perda das funções de solubilização e armazenamento – distúrbio da secreção de bile

• Colestase - consequência de obstrução extra-hepática ou de disfunção seletiva no mecanismo de síntese e secreção da bile no interior dos próprios hepatócitos.

• A supressão da secreção de bile leva a uma incapacidade de solubilizar substâncias, como lipídeos dietéticos e vitaminas lipossolúveis, resultando em má absorção e estados de deficiência, respectivamente.

Page 5: Síndrome Ictérica

Perda das funções de solubilização e armazenamento – distúrbio da secreção de bile

• Na colestase, as substâncias endógenas que são normalmente excretadas pelo trato biliar podem acumular-se, atingindo níveis elevados. Uma dessas substâncias é a bilirrubina, um produto de degradação do heme.

Page 6: Síndrome Ictérica

Icterícia• A síndrome é caracterizada pela elevação da bilirrubina• A exteriorização clínica principal é a coloração amarelada

da esclerótica, mucosas, pele e líquidos orgânicos• Líquidos orgânicos: cerebroespinal, sinovial, lágrimas,

esperma, suor.

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Page 7: Síndrome Ictérica

Fisiologia da bilirrubina

Page 8: Síndrome Ictérica

Formação da bilirrubina• A formação da bilirrubina depende da biossíntese e degradação

dos grupos heme, presentes principalmente nas hemácias (85%)

• Os 15% restantes provém de grumos hemes de outras moléculas como Citocromo p-450 e mioglobina

• A maior parte da produção diária é derivada da destruição de eritrócitos senescentes pelo sistema mononuclear fagocítico

• No citoplasma de macrófagos, a hemoglobina é quebrada em globina e heme

Page 9: Síndrome Ictérica

Formação da bilirrubina• O heme é clivado formando ferro livre e protoporfirina

• A protoporfirina é oxidada pela enzima heme-oxigenase e transformada em biliverdina

• A biliverdina é reduzida pela biliverdina redutase em bilirrubina

• A bilirrubina é liberada e ligada a albumina sérica(bilirrubina indireta ou não conjugada)

Page 10: Síndrome Ictérica

Metabolismo hepático• Captação: mediado por um transportador na membrana sinusoidal

• Conjugação: A bilirrubina não conjugada é insolúvel em água e precisa ser convertida num derivado hidrossolúvel para que possa ser excretada do hepatócito para bile

• Esse processo é efetuado no retículo endoplasmático do hepatócito através da conjugação com uma ou duas moléculas de ácido glicurônico pela bilirrubina uridina difosfato (UDP)- glicoronil trasnferase ( UGT1A1). Esta enzima é a única isoforma responsável glicuronidação da bilirrubina

• Uma vez conjugada ao glucoronídeo, a bilirrubina passa a ser chamada de bilirrubina direta ou conjugada

Page 11: Síndrome Ictérica

Metabolismo hepático• Excreção para a bile: Este processo é depende de ATP.

Winita Hardikar and Frederick J. Suchy. Hepatobiliary function. In: Walter F. Boron, Emile L.Boulpaep, editors. Medical physiology, ed 1, Saunders, 2003; Chap.45: 975-1002

Page 12: Síndrome Ictérica

Fase intestinal• Após seu aparecimento na luz intestinal, a bilirrubina direta pode

seguir dos caminhos:– ser excretada nas fezes– ser metabolizada em urobilinogênio

• Uma vez no intestino grosso,cerca de 50% da BD é convertida em urobilinogênios pelas β-glicuronidases bacterianas.

• Aproximadamente 20% do urobilinogênio formado são reabsorvidos e devolvidos ao fígado e reexcretados na bile. Uma pequena quantidade reabsorvido e excretadana urina.

Page 13: Síndrome Ictérica

Anatomia das Vias Biliares • A BD excretada pelo hepatócito ganha os - Canalículos bilíferos - Dúctulos bilíferos intralobulares - Ductulos bilíferos periportais - Ductos bilíferos - Ducto hepáticos (direito e esquerdo)

Page 14: Síndrome Ictérica

Anatomia das Vias Biliares

Page 15: Síndrome Ictérica

Anatomia das Vias Biliares

Page 16: Síndrome Ictérica

Drenagem Venosa da Vesícula Biliar e Ducto cístico

• Veias císticas

• São pequena e múltiplas

• Se unem com as veias que drenam os ductos hepáticos e a parte proximal do ducto colédoco e desembocam na porta

• As veias do fundo e corpo da vesícula biliar drenam diretamente para os sinusoides hepáticos

Page 17: Síndrome Ictérica

Drenagem linfática da Vesícula Biliar

• Linfonodos císticos

• Drenam para os linfonodos celíacos

Page 18: Síndrome Ictérica

Inervação da Vesícula Biliar e Ducto Cístico

• Os nervos seguem ao longo da artéria cística a partir:

• Plexo celíaco

• Nervo vago

• Nervo frênico direito

Page 19: Síndrome Ictérica

Anatomia do Pâncreas

Page 20: Síndrome Ictérica

Irrigação arterial do pâncreas

Page 21: Síndrome Ictérica

Drenagem venosa do pâncreas

Page 22: Síndrome Ictérica

Drenagem linfática/inervação

Page 23: Síndrome Ictérica

Hiperbilirrubinemia

Fisiopatologia

Page 24: Síndrome Ictérica

Fisiopatologia - Hiperbilirrubinemia

• Tanto a bilirrubina não conjugada quanto a bilirrubina conjugada podem sofrer acúmulo sistêmico

• A bilirrubina não ligada pode se difundir para os tecidos, particularmente o cérebro em lactentes, e produzir lesão tóxica Doença hemolítica do recém-nascido kernicterus

• O excesso de bilirrubina conjugada no plasma pode ser excretado na urina

Page 25: Síndrome Ictérica

Fisiopatologia - Hiperbilirrubinemia

• Duas condições resultam de defeitos específicos no metabolismo hepatocelular da bilirrubina:

1. Icterícia neonatal – não amadurecimento completo do maquinário hepático para conjugação e excreção da bilirrubina hiperbilirrubinemia não conjugada leve e transitória

Page 26: Síndrome Ictérica

Fisiopatologia - Hiperbilirrubinemia

2. Hiperbilirrubinemias hereditárias - mutações genéticas podem causar hiperbilirrubinemia hereditária

• Síndrome de Crigler-Najjar de tipo I - UGT1A1 hepática está completamente ausente, e a bile incolor contém apenas quantidades mínimas de bilirrubina não conjugada

• Síndrome de Crigler-Najjar de tipo II - atividade da enzima UGT1A1 está grandemente reduzida e a enzima é capaz apenas de formar bilirrubina monoglicuronidada.

Page 27: Síndrome Ictérica

Fisiopatologia - Hiperbilirrubinemia

• Síndrome de Gilbert - hiperbilirrubinemia leve, flutuante, na ausência de hemólise ou doença hepática.

Page 28: Síndrome Ictérica

Fisiopatologia – Hiperbilirrubinemia

• Os níveis séricos de bilirrubina no adulto normal variam entre 0,3 e 1,2 mg/dL

• A taxa de produção sistêmica de bilirrubina é igual às taxas de captação hepática, conjugação e excreção biliar

• A icterícia torna-se evidente quando os níveis séricos de bilirrubina aumentam acima de 2,0 a 2,5 mg/gL.

Page 29: Síndrome Ictérica

Fisiopatologia – Hiperbilirrubinemia

A icterícia ocorre quando o equilíbrio entre a produção e a eliminação de bilirrubina é perturbada por um ou mais dos seguintes mecanismos:

Page 30: Síndrome Ictérica

Etiologia de Hiperbilirrubinemia

SUPERPRODUÇÃO DIMINUIÇÃO DA CAPTAÇÃO

DIMINUIÇÃO DA CONJUGAÇÃO

ALTERAÇÃO DA EXCREÇÃO

OBSTRUÇÃO BILIAR

Page 31: Síndrome Ictérica

Fisiopatologia

• Superprodução1. Hemólise2. Eritropoiese ineficaz

• Diminuição da captação1. Medicamentos2. Jejum prolongado3. Sepse4. Doença hepatocelular

Page 32: Síndrome Ictérica

Fisiopatologia

• Diminuição da conjugação1. Síndrome de Gilbert2. Síndrome de Crigler-Najjar tipo I e II3. Deficiência adquirida de glucoruril-transferase4. Icterícia neonatal fisiológica

Page 33: Síndrome Ictérica

Fisiopatologia

• Alteração da excreção1. Síndrome de Dubin-Johnson2. Síndrome de Rotor3. Colestase intra-hepática recorrente4. Icterícia colestática da gravidez5. Doença hepatocelular6. Colestase medicamentosa7. Sepse

Page 34: Síndrome Ictérica

Fisiopatologia

• Obstrução Biliar1. Estenose2. Tumor3. Calculose4. Corpo Estranho

Page 35: Síndrome Ictérica

Aumentos

• AUMENTO DA BI1. Aumento da produção2. Diminuição da captação3. Diminuição da conjugação

• AUMENTO DA BD1. Doenças hepáticas2. Obstrução das vias biliares

Page 36: Síndrome Ictérica

Fisiopatologia

• Nos casos de hiperbilirrubinemia não conjugada há icterícia, mas não colúria ou hipocolia/acolia fecal

• Nos casos de hiperbilirrubinemia conjugada há icterícia e colúria. A hipocolia/acolia fecal pode estar presente ou não.

Page 37: Síndrome Ictérica

Fisiopatologia

Page 38: Síndrome Ictérica

Semiologia da Hiperbilirrubinemia

Page 39: Síndrome Ictérica

Abordagem do paciente ictérico - história clínica

• Idade – etiologia de certas doenças, que são prevalentes em certas faixas etárias

• Profissão – exposição a infecções virais ou exposição a tóxicos• Procedência/viagens - regiões endêmicas de

esquistossomose, hepatites e outras doenças que cursam com icterícia

• Raça - anemia falciforme em negros• Hábitos – etilismo, uso de drogas injetáveis• Antecedentes – história de transfusões sanguíneas, tatuagens,

contato com ictéricos• Uso de medicamentos

Page 40: Síndrome Ictérica

Anamnese

• Primeiro episódio ou recorrente? Síndrome de Gilbert se recorrente, hepatopatia crônica agudizada, colestase intra-hepática recorrente beningna, hepatite aguda, coledocolitíase, pancreatite, hepatite crônica ou neoplasias...

• Início abrupto ou insidioso? Instalação súbita e curso flutuante: coledocolitíase ou tumor de papila

• Dor abdominal? Distensão da cápsula hepática ou espasmo do trato biliar Dor Aguda: ColedocolitíaseDor em mesogástrio com irradiação pra dorso, anorexia e icterícia: Tumor de cabeça de pâncreas Dor surda, leve e mais perceptível a palpação: hepatites virais e medicamentosas agudas, congestão secundária a cardiopatia

Page 41: Síndrome Ictérica

Anamnese

• Procurar sintomas associados como:1. Pródromos de hepatite - queixas de náusea, anorexia e

aversão ao cigarro, precedendo o aparecimento de icterícia, sugerem hepatite viral.

2. Febre – baixa e sem calafrios com calafrios

3. Manifestações de anemia – anemias hemolíticas, hipertensão portal, cirrose e neoplasias

4. Colúria – indica que a doença provoca hiperbilirrubinemia às custas da fração conjugada

5. Acolia/Hipocolia fecal - sugere obstrução biliar extra-hepática

Page 42: Síndrome Ictérica

Anamnese

6. Dor abdominal- Cólica biliar- Dor ou desconforto no hipocôndrio direito - Dor pancreática

7. Prurido cutâneo – é comum em doenças hepáticas colestáticas intra ou extra-hepáticas

8. Perda de peso – doenças hepáticas agudas e crônicas e casos de malignidade

9. Vesícula biliar palpável 10. Manifestações de hipertensão portal

Page 43: Síndrome Ictérica

Anamnese

11. Manifestações de insuficiência hepática – aranhas vasculares, eritema palmar, diminuição dos pelos, atrofia testicular, ginecomastia, distúrbios da coagulação (sangramentos), hálito hepático.

12. Exame do fígado13. Esplenomegalia – manifestação da síndrome de hipertensão

portal 14. Ascite 15. Edema periférico – manifestação de hipoalbuminemia que

acompanha as hepatopatias graves 16. Manifestações de colestase crônica – xantomas, xantelasmas,

hiperceratose e pigmentação da pele.

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Anamnese

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Exame Físico

• Turgência jugular• Linfonodo de Virchow e Maria-José• Xantomas ou xantelasmas• Sinais de prurido

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Exames complementares

• Bilirrubina sérica total e frações• Aminotransferases• Fosfatase alcalina• Tempo de protombina e albumina sérica• Ultrassom• Tomografia Computadorizada Abdominal• Colangiopancreatografia RM/Endoscópica

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CASO CLÍNICO

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Caso clínico

• M.S, feminino, casada, 42 anos, dona de casa, deu entrada no hospital com queixa de “Amarelão que vem e volta”. Relata que o primeiro episódio começou a 4 meses atrás e ela se recuperou em 2 semanas. O segundo episódio aconteceu 1 semana antes da admissão. Paciente relata anorexia nos 2 episódios e nega náusea, vômitos ou dor abdominal. Nega colúria.

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Caso clínico

• Ao exame físico apenas apresentou icterícia como anormalidade. Nos exames laboratoriais ela tinha elevação da bilirrubina sérica com TGP, fosfatase alcalina, albumina e tempo de protrombina normais. Os marcadores virais também deram negativos. Hemoglobina normal.

• A bilirrubina sérica aumentada é a do tipo não-conjugada ou indireta.

• Não apresentou bilirrubina na urina.

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Resolução do Caso Clínico Síndrome de Gilbert

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Síndrome de Gilbert

• É considerada uma hiperbilirrubinemia indireta benigna, familiar, leve e não associada a hemólise ou decréscimo de função hepática.

• Afeta 2-10% da população• Mais comum nos homens (2-7:1)• Aparecimento por: jejum, estresse, menstruação,

exercícios, infecção.

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Síndrome de Gilbert

• Deficiência parcial da glicurunosil transferase.

• Tem atividade próxima a 30% da normal.

• É uma herança recessiva homozigótica.

• Cerca de 40% da população tem pelo menos um alelo.

Page 59: Síndrome Ictérica

Síndrome de Gilbert

• Clínica1. Icterícia leve-moderada e intermitente2. BI <6mg/dl3. Pode ser desencadeado por uma infecção4. Pode cursar com náusea, vômitos e desconforto em

hipocôndrio direito.

Page 60: Síndrome Ictérica

Síndrome de Gilbert

• Diagnóstico1. História familiar2. Duração da doença3. Ausência de outras hepatopatias4. Aparecimento por: jejum, estresse, menstruação,

exercícios.• Confirmação

1. Diminuição da icterícia com o uso de fenobarbital2. Aumento da icterícia com o uso de ácido nicotínico

endovenoso.

Page 61: Síndrome Ictérica

Referências• GUYTON, A.C., HALL, J.E. Tratado de fisiologia médica. 12ª ed. Rio de Janeiro:

Elsevier; 2011. • McPHEE, S. J; GANONG, W. F. Fisiopatologia da doença: Uma introdução à

medicina clínica. 5ª edição. São Paulo: McGraw-Hill Interamericana do Brasil, 2007.

• ROBBINS, S. L.; KUMAR, V. (ed.); ABBAS, A.K. (ed.); FAUSTO, N. (ed.). Patologia: Bases Patlógicas das doenças. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

• MARTELLI, A. Síntese e metabolismo da bilirrubina e fisiopatologia da hiperbilirrubinemia associados à Síndrome de Gilbert: revisão de literatura. Rev Med Minas Gerais 2012; 22(2): 216-22

• BARBOSA et al. Anestesia em Paciente com Síndrome de Gilbert: Relato de Caso• GONÇALVES et al. Síndrome de Gilbert: breve revisão a propósito de 5 casos.

Rev Med Interna do Hospital Pulido Valente 1997; 1(4). Lisboa.• WAZIB et al. A case of Gilbert’S Syndrome. J Dhaka Med Coll. Dhaka 2010; 19(1) :

67-68

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