sim 73 kabir: ver o invisível

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OLIBERAL BELÉM, DOMINGO, 2 DE NOVEMBRO DE 2014 MAGAZINE 11 sim [email protected] VICENTE CECIM Kabir: Ver o Invisível V ocê sabia que no México, no Dia de Finados, não há lágri- mas, apenas risos? E que para eles, mexica- nos, o Dia dos Mortos é dia de festa, por- que é o dia em que os mortos voltam para visitar seus parentes & amigos e são recebidos com muita alegria, comes & bebes e caveiras de açúcar - para a de- lícia dos adultos e, também, das crian- ças? Bem diferente da maneira brasilei- ra solene e entristecida com que, hoje, nos lembramos deles, não é?. Consta que o homem se tornou re- almente humano quando passou a en- terrar seus mortos. Desde então, em sua Memória, todos os povos dedicaram um dia do ano para lembrar ou como que ressuscitar seus chamados mortos. Eu não penso nisso usando a pala- vra morte, que suspeito haver surgido na linguagem humana em um tempo muito arcaico - de Trevas profundas, em que mal sabíamos o que éramos quanto mais o que nos acontecia nesse momento decisivo da travessia de nós mesmos como último obstáculo à Ilu- minação – segundo o Livro Tibetano dos Mortos, que orienta sobre como fazer essa travessia através das obs- curidades do Bardo Tödol, o Espaço Intermediário para bem atingir a Luz em seu coração essencial – e nela ser acolhido. Por sua vez, os gnósticos, em o Evangelho de Judas, apócrifo, nos apresentam Judas não como um traidor – e sim como alguém com uma missão: a de despir Jesus de suas vestes – o que o próprio Cristo lhe diz para fazer, sendo estas vestes seu cor- po, sua materialidade, libertando seu Espírito do denso no sutil. Pelas coisas que vieram a mim, de mim mesmo, ao longo e através do meu haver nascido e ter que um dia desnas- cer - e também me vieram de outros que pensaram o assunto Morte – passei a usar as palavras florescer e fenecer para o que acontece a tudo o que um dia Nasceu: homem, árvore, estrela. Meus livros visíveis de Andara, ao serem escritos, foram o que mais me revelou realidades ocultas, submer- sas nas realidades que nos cercam, as quais - segundo o filósofo pré-so- crático Heráclito, que disse: Vida ama ocultar-se - mais nos ocultam o Real do que o revelam. Quando iniciei a geração de Viagem a Andara oO livro invisível, não-livro sem fim porque não tem começo, as primei- ras palavras que escrevi foram estas: Nós somos homens invisíveis Depois de nascidos, visíveis. Entre o início invisível e o invisível final, nós somos os homens visíveis. Aproveitemos para ver-nos Dessas primeiras palavras na aber- tura de Andara, escritas em 1979, até as mais recentes – persisti na mesma compreensão do que seja este nosso florescer e fenecer. E assim foi que, em 2005, no livro de Andara – ainda desconhecido no Brasil e só publicado em Portugal - chamado K O escuro da semente, me vi escrevendo estas outras palavras: - Tudo vem como Sombra do Um e para o Um volta como sombra Aqui, na Breve Residência a vida, imersos nesta luz cheia de penum- bras em que somos e não-somos, pois permanecemos sendo lá no Um en- quanto aqui até parece que somos, as sombras estão no Vários, e se tornam coisas Entre aquelas primeiras e estas mais recentes palavras, nasceu o livro inédi- to Fonte dos que dormem – e, nele, este Poema: A Lua é o Sol , que diz, melhor do que eu diria com palavras prosaicas o que são para mim aqueles que se vão retornando à Origem de onde vieram. Um homem sorrindo é um Tem- plo,/e os mortos/são os Belos Sa- grados/Um homem chorando é um Dia e noite, o refrão da música enche os céus, e Kabir diz: “Meu Amado brilha como o relâmpago no céu.” (...) Não vá para o jardim de flores Não vá para o jardim de flores! Ó, amigo! Não vá lá, o seu corpo é o jardim de flores. Leve o seu assento nas mil pétalas da flor de lótus, e veja a beleza infinita. Diga-me, irmão Diga-me, irmão, como posso renunciar a Maya? Quando eu desisti da subordinação de fitas, eu ainda amarrava a minha túnica sobre mim. Quando desisti de amarrar as minhas vestes, eu ainda cobria meu corpo em suas dobras. Então, quando eu desisto da paixão, eu vejo que a raiva continua, e quando eu renuncio à raiva, a cobiça está comigo ainda, e quando a ganância é vencida, orgulho e vaidade permanecem, quando a mente está separada e lança Maya longe, ainda se apega à letra. Kabir diz: “Ouça-me, caro Sadhu! o verdadeiro caminho é raramente encontrado.” Eu disse a esta criatura Eu disse a esta criatura dentro de mim querendo: O que é este rio que você quer cruzar? Não há viajantes no rio corrente, e nenhuma estrada. Você vê alguém se movendo sobre esse banco, ou assentamento? Não há rio em tudo, e nenhum barco, e nenhum barqueiro. Não há nenhum cabo de reboque, e ninguém para puxá-lo. Não há terra, nem céu, nem o tempo, nenhum barco, nenhum vau! E não há corpo, não mente! Você acredita que existe algum lugar que vai fazer a alma menos sedenta? Nesse grande ausência não vai achar nada. Seja forte, então, e entre em seu próprio corpo, lá você tem um lugar sólido para os seus pés. Pense nisso com cuidado! Não vá para algum outro lugar! Kabir diz: “Simplesmente jogar fora todos os pensamentos de coisas imaginárias, e se manter firme no que você é.” Dentro deste vaso de barro Dentro deste vaso de barro estão caramanchões e bosques, e dentro dele está o Criador. Dentro deste navio estão os sete mares e as estrelas incontáveis. A pedra de toque e o avaliador de joias estão dentro, e dentro deste navio Eterno, os poços a brotar. Kabir diz: “Ouça-me, meu amigo! Meu amado Senhor está dentro.” Quando chegou o dia Quando chegou o dia, o dia para o qual eu tinha vivido e morrido, o dia que não está em nenhum calendário, nuvens pesadas de amor se derramaram em mim com abundância selvagem. Dentro de mim, minha alma estava encharcada. Em torno de mim, até o deserto verde cresceu. Para ser um escravo da intensidade Amigo, espero que vá para o Senhor enquanto estiver vivo. Ir para a experiência enquanto você está vivo! Pense... pense... enquanto estiver vivo. O que vocês chamam de ‘salvação’ pertence ao tempo antes da morte. Se você não quebrar suas cordas enquanto você está vivo, você acha que fantasmas irão fazê-lo depois? A ideia de que a alma se juntará com o êxtase só porque o corpo está decomposto, isso é tudo fantasia. O que se encontra agora se encontra depois. Se você não encontra nada agora, você vai simplesmente acabar com uma casa na Cidade da Morte. Se você faz amor com o divino agora, na próxima vida você vai ter o rosto do desejo satisfeito. Então mergulhe na verdade, descubra quem é o Mestre, acredite no grande som! Kabir diz: “Quando o Senhor está sendo procurado, é a intensidade do desejo pelo Senhor que faz todo o trabalho. Olhe para mim, e você verá um escravo dessa intensidade.” Meu cisne, vamos voar Meu cisne, vamos voar para aquela terra onde vive a sua amada para sempre. Essa terra tem um poço de cuja boca estreita como um fio a alma tira água sem uma corda ou jarro. Meu cisne, vamos voar para aquela terra Onde vive a sua amada para sempre. Nuvens nunca passaram lá, no entanto, continua e continua chovendo. Não fique de cócoras fora no quintal. - Venha! Fique encharcado, sem um corpo! Meu cisne, vamos voar para aquela terra onde vive a sua amada para sempre. Aquela terra é sempre embebida em luar, a escuridão jamais pode se aproximar dela. É inundada sempre com o deslumbramento não de um, mas um milhão de sóis. Meu cisne, vamos voar para aquela terra onde vive a sua amada para sempre. Quanta humildade em Deus Quanta humildade em Deus Deus é a árvore nas florestas que se permite morrer e não vai se defender ante aqueles com o machado, não querendo lhes causar vergonha. E Deus é a terra que irá se permitir ser deformado pelas ferramentas do homem, mas Ele chora, sim, Deus chora, mas só na frente de seus mais próximos. E um belo animal está a ser espancado até a morte, mas nada pode fazer Deus quebrar seu silêncio para as massas e dizer: “Pare, pare, por que vocês estão fazendo isso a Mim?” Quão humilde é Deus? Kabir chorou quando soube. O Senhor está em mim O Senhor está em mim, e o Senhor está em você, como a vida está escondida em cada semente. Então engula seu orgulho, meu amigo, e olhe para ele dentro de você. Quando eu sento no coração do seu mundo um milhão de sóis brilham com a luz, um mar ardente azul se espalha por todo o céu, a agitação da vida cai silenciosa lavando todas as manchas de sofrimento. Escute os sinos e tambores! O amor está aqui, mergulhe em seu êxtase! Chuvas se agitam sem água, os rios são correntes de luz. Como eu poderia expressar como me sinto abençoado para me deleitar em êxtase tão vasto no meu próprio corpo? Esta é a música da alma e do encontro da alma, do esquecimento de toda a tristeza. Esta é a música que transcende todas as idas e vindas. Tradução do original: Rabindrana Tagore Templo/e ainda por cima da ter- ra/flutua/o cemitério lunar/::/A lua cheia de flores guarda/o teu lugar, o teu/lugar / Podes rugir nas noites, mas quem te ouvirá?/Ou, se prefe- rires, uma residência com heras vai desmoronar/Onde és,/é o tigre e o homem/Aqui/não há tempo, nem o lugar lunar/À noite,/sempre rosnam os animais dos dias/Nos dias,/sem- pre rondam os animais das noites Não é tua a fome/daquele que come/ as flores visionárias do ar?/Má sorte é ter nascido sem saber jogar com as sombras/Melhor será dormir abraça- do/às garras de um deus Toda esta introdução falando da mi- nha própria convivência, via Imaginá- rio, com o visível & o Invisível, foi para lhes apresentar alguém que viu trans- lucidamente o Invisível: o místico poeta indiano Kabir, nascido em 1440 e feneci- do em 1518 – que, embora sua terra na- tal seja Bharat Ganarajya, como a Índia é chamada em hindi, idioma nacional, é ao mesmo tempo um dos santos da Ín- dia Medieval e cultuado entre os árabes no Sufi. Kabir se manifestou através de poemas que integram a Escritura sikh, em Padas, Dohas e Ramainis – formas da poesia indiana. Uma lenda conta que quando ele morreu seus seguido- res indianos e muçulmanos entraram em desacordo sobre os ritos finais – e quando levantaram o pano que cobria o corpo de Kabir acharam flores. Kabir praticava e recomendava a autoentrega, dizendo que a verdadeira relação com o Sagrado se volta para o interior do homem. O que transparece nesta Sim dedicada aos seus Poemas - que, neste Dia de Finados, eles sejam Luzes para os olhos tristes. Kabir: Poemas místicos A Luz do Sol A luz do sol, a lua e as estrelas brilham: a melodia de amor cresce e avança, e o ritmo do desapego do amor supera o tempo. Não há dia ou noite, nem Lua nem Sol, há Cintilação sem luz. KABIR Taj Mahal Kabir

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Poesia e mística indiana medieval

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Page 1: Sim 73 Kabir: Ver o Invisível

O LIBERALBELÉM, DOMINGO, 2 DE NOVEMBRO DE 2014 MAGAZINE 11

sim [email protected] CECIM

Kabir: Ver o Invisível

Você sabia que no México, no Dia de Finados, não há lágri-mas, apenas risos?

E que para eles, mexica-nos, o Dia dos Mortos é dia de festa, por-que é o dia em que os mortos voltam para visitar seus parentes & amigos e são recebidos com muita alegria, comes & bebes e caveiras de açúcar - para a de-lícia dos adultos e, também, das crian-ças? Bem diferente da maneira brasilei-ra solene e entristecida com que, hoje, nos lembramos deles, não é?.

Consta que o homem se tornou re-almente humano quando passou a en-terrar seus mortos. Desde então, em sua Memória, todos os povos dedicaram um dia do ano para lembrar ou como que ressuscitar seus chamados mortos.

Eu não penso nisso usando a pala-vra morte, que suspeito haver surgido na linguagem humana em um tempo muito arcaico - de Trevas profundas, em que mal sabíamos o que éramos quanto mais o que nos acontecia nesse momento decisivo da travessia de nós mesmos como último obstáculo à Ilu-minação – segundo o Livro Tibetano dos Mortos, que orienta sobre como fazer essa travessia através das obs-curidades do Bardo Tödol, o Espaço Intermediário para bem atingir a Luz em seu coração essencial – e nela ser acolhido. Por sua vez, os gnósticos, em o Evangelho de Judas, apócrifo, nos apresentam Judas não como um traidor – e sim como alguém com uma missão: a de despir Jesus de suas vestes – o que o próprio Cristo lhe diz para fazer, sendo estas vestes seu cor-po, sua materialidade, libertando seu Espírito do denso no sutil.

Pelas coisas que vieram a mim, de mim mesmo, ao longo e através do meu haver nascido e ter que um dia desnas-cer - e também me vieram de outros que pensaram o assunto Morte – passei a usar as palavras florescer e fenecer para o que acontece a tudo o que um dia Nasceu: homem, árvore, estrela.

Meus livros visíveis de Andara, ao serem escritos, foram o que mais me revelou realidades ocultas, submer-sas nas realidades que nos cercam, as quais - segundo o filósofo pré-so-crático Heráclito, que disse: Vida ama ocultar-se - mais nos ocultam o Real do que o revelam.

Quando iniciei a geração de Viagem a Andara oO livro invisível, não-livro sem fim porque não tem começo, as primei-ras palavras que escrevi foram estas:

Nós somos homens invisíveisDepois de nascidos, visíveis.Entre o início invisível e o invisível

final, nós somos os homens visíveis.Aproveitemos para ver-nos

Dessas primeiras palavras na aber-tura de Andara, escritas em 1979, até as mais recentes – persisti na mesma compreensão do que seja este nosso florescer e fenecer.

E assim foi que, em 2005, no livro de Andara – ainda desconhecido no Brasil e só publicado em Portugal - chamado K O escuro da semente, me vi escrevendo estas outras palavras:

- Tudo vem como Sombra do Um e para o Um volta como sombra

Aqui, na Breve Residência a vida, imersos nesta luz cheia de penum-

bras em que somos e não-somos, pois permanecemos sendo lá no Um en-quanto aqui até parece que somos,

as sombras estão no Vários,e se tornam coisas

Entre aquelas primeiras e estas mais recentes palavras, nasceu o livro inédi-to Fonte dos que dormem – e, nele, este Poema: A Lua é o Sol, que diz, melhor do que eu diria com palavras prosaicas o que são para mim aqueles que se vão retornando à Origem de onde vieram.

Um homem sorrindo é um Tem-plo,/e os mortos/são os Belos Sa-grados/Um homem chorando é um

Dia e noite, o refrão da música enche os céus, e Kabir diz:“Meu Amado brilha como o relâmpago no céu.”(...)

Não vá para o jardim de floresNão vá para o jardim de flores! Ó, amigo! Não vá lá,o seu corpo é o jardim de flores. Leve o seu assento nas mil pétalas da flor de lótus, e veja a beleza infinita.

Diga-me, irmãoDiga-me, irmão, como posso renunciar a Maya? Quando eu desisti da subordinação de fitas, eu ainda amarrava a minha túnica sobre mim. Quando desisti de amarrar as minhas vestes, eu ainda cobria meu corpo em suas dobras. Então, quando eu desisto da paixão, eu vejo que a raiva continua,e quando eu renuncio à raiva, a cobiça está comigo ainda,e quando a ganância é vencida, orgulho e vaidade permanecem, quando a mente está separada e lança Maya longe, ainda se apega à letra. Kabir diz:“Ouça-me, caro Sadhu! o verdadeiro caminho é raramente encontrado.”

Eu disse a esta criaturaEu disse a esta criatura dentro de mim querendo: O que é este rio que você quer cruzar?Não há viajantes no rio corrente, e nenhuma estrada.Você vê alguém se movendo sobre esse banco, ou assentamento?

Não há rio em tudo, e nenhum barco, e nenhum barqueiro.Não há nenhum cabo de reboque, e ninguém para puxá-lo.Não há terra, nem céu, nem o tempo, nenhum barco, nenhum vau!

E não há corpo, não mente!Você acredita que existe algum lugar que vai fazer a alma menos sedenta?Nesse grande ausência não vai achar nada.

Seja forte, então, e entre em seu próprio corpo, lá você tem um lugar sólido para os seus pés.Pense nisso com cuidado!Não vá para algum outro lugar!

Kabir diz:“Simplesmente jogar fora todosos pensamentos de coisas imaginárias,e se manter firme no que você é.”

Dentro deste vaso de barroDentro deste vaso de barro estão caramanchões e bosques, e dentro dele está o Criador.Dentro deste navio estão os sete mares e as estrelas incontáveis.A pedra de toque e o avaliador de joias estão dentro, e dentro deste navio Eterno, os poços a brotar.Kabir diz: “Ouça-me, meu amigo! Meu amado Senhor está dentro.”

Quando chegou o diaQuando chegou o dia, o dia para o qual eu tinha vivido e morrido, o dia que não está em nenhum calendário, nuvens pesadas de amor se derramaram em mim com abundância selvagem.Dentro de mim, minha alma estava encharcada.Em torno de mim, até o deserto verde cresceu.

Para ser um escravo da intensidadeAmigo, espero que vá para o Senhor enquanto estiver vivo.Ir para a experiência enquanto você está vivo!Pense... pense... enquanto estiver vivo.O que vocês chamam de ‘salvação’ pertence ao tempo antes da morte. Se você não quebrar suas cordas enquanto você está vivo, você acha que fantasmas irão fazê-lo depois? A ideia de que a alma se juntará com o êxtase só porque o corpo está decomposto,isso é tudo fantasia.O que se encontra agora se encontra depois.Se você não encontra nada agora,você vai simplesmente acabar com uma casa na Cidade da Morte.Se você faz amor com o divino agora,na próxima vida você vai ter o rosto do desejo satisfeito.

Então mergulhe na verdade, descubra quem é o Mestre,acredite no grande som! Kabir diz: “Quando o Senhor está sendo procurado, é a intensidade do desejo pelo Senhor que faz todo o trabalho.Olhe para mim, e você verá um escravo dessa intensidade.”

Meu cisne, vamos voarMeu cisne, vamos voar para aquela terraonde vive a sua amada para sempre. Essa terra tem um poçode cuja boca estreita como um fioa alma tira água sem uma corda ou jarro. Meu cisne, vamos voar para aquela terra

Onde vive a sua amada para sempre. Nuvens nunca passaram lá,no entanto, continua e continua chovendo.Não fique de cócoras fora no quintal.- Venha! Fique encharcado, sem um corpo! Meu cisne, vamos voar para aquela terraonde vive a sua amada para sempre. Aquela terra é sempre embebida em luar,a escuridão jamais pode se aproximar dela.É inundada sempre com o deslumbramentonão de um, mas um milhão de sóis. Meu cisne, vamos voar para aquela terraonde vive a sua amada para sempre.

Quanta humildade em DeusQuanta humildade em Deus

Deus é a árvore nas florestas quese permite morrer e não vai se defender ante aqueles com o machado, não querendo lhes causar vergonha. E Deus é a terra que irá se permitirser deformado pelas ferramentas do homem, mas Ele chora, sim, Deus chora,mas só na frente de seus mais próximos. E um belo animal está a ser espancado até a morte, mas nada pode fazer Deus quebrar seu silêncio para as massas e dizer:“Pare, pare, por que vocês estão fazendo isso a Mim?” Quão humilde é Deus?Kabir chorouquando soube.

O Senhor está em mimO Senhor está em mim, e o Senhor está em você,como a vida está escondida em cada semente.Então engula seu orgulho, meu amigo,e olhe para ele dentro de você. Quando eu sento no coração do seu mundo um milhão de sóis brilham com a luz, um mar ardente azul se espalha por todo o céu,a agitação da vida cai silenciosalavando todas as manchas de sofrimento.

Escute os sinos e tambores!O amor está aqui, mergulhe em seu êxtase!Chuvas se agitam sem água,os rios são correntes de luz.

Como eu poderia expressarcomo me sinto abençoadopara me deleitar em êxtase tão vastono meu próprio corpo?

Esta é a músicada alma e do encontro da alma,do esquecimento de toda a tristeza.Esta é a músicaque transcende todas as idas e vindas.

Tradução do original: Rabindrana Tagore

Templo/e ainda por cima da ter-ra/flutua/o cemitério lunar/::/A lua cheia de flores guarda/o teu lugar, o teu/lugar / Podes rugir nas noites, mas quem te ouvirá?/Ou, se prefe-rires, uma residência com heras vai desmoronar/Onde és,/é o tigre e o homem/Aqui/não há tempo, nem o lugar lunar/À noite,/sempre rosnam os animais dos dias/Nos dias,/sem-pre rondam os animais das noites Não é tua a fome/daquele que come/as flores visionárias do ar?/Má sorte é ter nascido sem saber jogar com as sombras/Melhor será dormir abraça-do/às garras de um deus

Toda esta introdução falando da mi-nha própria convivência, via Imaginá-rio, com o visível & o Invisível, foi para lhes apresentar alguém que viu trans-lucidamente o Invisível: o místico poeta indiano Kabir, nascido em 1440 e feneci-do em 1518 – que, embora sua terra na-tal seja Bharat Ganarajya, como a Índia é chamada em hindi, idioma nacional, é ao mesmo tempo um dos santos da Ín-dia Medieval e cultuado entre os árabes no Sufi. Kabir se manifestou através de poemas que integram a Escritura sikh, em Padas, Dohas e Ramainis – formas da poesia indiana. Uma lenda conta que quando ele morreu seus seguido-res indianos e muçulmanos entraram em desacordo sobre os ritos finais – e quando levantaram o pano que cobria o corpo de Kabir acharam flores. Kabir praticava e recomendava a autoentrega, dizendo que a verdadeira relação com o Sagrado se volta para o interior do homem. O que transparece nesta Sim dedicada aos seus Poemas - que, neste Dia de Finados, eles sejam Luzes para os olhos tristes.

Kabir: Poemas místicos A Luz do SolA luz do sol, a lua e as estrelas brilham:a melodia de amor cresce e avança, e o ritmo do desapego do amor supera o tempo.

Não há dia ou noite, nem Lua nem Sol,há Cintilação sem luz.KABIR

Taj Mahal

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