setembro | 2014
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JORNAL DE
Porto Alegre | | | ARTES | Setembro 2014 2
Foto: Mari Lopes Fotografia e Arte
o delírio e a engrenagem
A MEMÓRIAPOESIA EM PROSA POESIA
Por Djine Klein de Porto Alegre/ Viamão/RS
Por Elvio Vargas de Porto Alegre
“A Men�ra da noite é matar o cansaço dos homens.” Mia Couto, in: Vozes Anoitecidas.
Hojevirá con�go o novo trono de Troia.
Crianças brincamno úl�mo clarão da aurora.
Revoada de pássaroscin�lações de arco-írisalfabetos desenhados
pelo voo hipnó�co de borboletassoprarão um pergaminho
com os pontos cardeais da viagem.Um pequeno barco
com as provisões básicas– pão ázimo, leite, figos, lascas de vitela –
será depositado na concha da quilha.O mastro será talhado
em cerne de eucalipto.Uma única vela
com formato, levezae força de página
singrará o Mar Egeuaté o sinuoso Rio das Antas.
Montanhas de vales verdejantesvinhas, artefatos maiores
que os da idade do bronzeiluminarão tua grande odisseia.
Na cidade novanão haverá muralhas, portões
só minaretes fumegantestriunfos.
Plantarás tua mágica embarcação de bruma
na margem do riozinho.Iça a vela com cuidado.
Ela poderá ser tetona hora da tempestade
livro para o registro épico.Teu palanque brilhará
bem no meio dos mercados.O Bem-te-vi que te acompanhou
voltou para o pago.Aqui, Aquiles, Menelau, Helena
Agamenon e os outrosterão seus des�nos reescritos por Homero.
Nem a pressa... Nem a calma.Príamo e Hécuba
te esperam...
Para o nosso neto, Heitor Mendes Vargas.
Caxias do Sul, 20 de julho de 2014.
HEITOR
Era como um pequeno disco com hastes trêmulas, de um verde-acinzentado. Mergulhei a mão água fria e aquilo
se projetou para o fundo. Um bebe cágado em fuga, e eu de joelhos assim me ofendo à sua margem! Estou com febre, em delirar
que logo alcancei ter uns cinco anos. O tempo havia parado. Em um sapo ele no rente-chão, eu chapéu e flor de sombrinha
catando as estrelas da minha testa. Ah! Que doce distração! Mas ele anuro ali firme seus olhos de vidro, eu dentro deles
arregalada, o sapo esbugalhado um triste. Então é possível contar mais que um susto, para cada delírio um silêncio e vozes? Enquanto com quatro anos, e três séculos a figueira no quintal, eu três ela quatro e a minha boca estava cheia de
beijos. Nos olhos os figos, a fruta madura no alto da árvore, eu sobre maneira meio dançando no chão. Ela sóbria eu nervosa por
quanto longa à espera, seu mel. Na super�cie com desejo salivando e que rubra a doçura, adivinhava e queria o fruto: água de
beber pra minha sede! Tenho dois anos, e o tempo nada estanque libera tempo pra sonhar em azul. É fim de tarde, sigo por entre as
folhagens, decididamente e avante. Na travessia se conheci a noite, ou se �ve medo da escuridão, já amanhecia a paisagem
úmida, quase �ve frio. E que visão terna as aves no céu, eu na planura contente, meus passos redondos. Adiantei-me uma trilha
havia uma raposa no quintal, em estado de vidro fascinada. Em ponto de mira pra conhecer o bicho humano, e espingarda. Agora já não posso mais retroceder. Depois de defrontar do outro lado da vida tão rente é a morte. Ainda me
aplicam o que os ouvidos tanto ainda hoje zunem. As palavras-gritos de um ser monstruoso, vindo do fundo mais escuro do
quintal. E zomba que sou uma menina, portanto não poderia estar ali. Até pensei em dar as costas, ou perguntar ao pardal no
telhado, se deveria virar à esquerda ou seguir pela rota do lago? Precisava urgente, desesperante apagar-me desse desencontro.
A criatura ela mesma e a outra, rezingas em amplexo, eu lia era o pavor. Antes me salvar deles, seus dois abismos, uma ação por
minha infância. Feliz? Todavia, fui pega marginal me
extraviando, e queria apenas ler com vagar o que
encontrei no entorno. Mas da ousadia o retorno foi
isso, de a vida ser cheia de sustos e haver ainda mais
para além do instante - decifrei. Também sobre
minha pequenez, não reparar nos arranjos dos
fatos, e nem �ve permissão de fuga. Com a roupa
suja e exposta, desalinho cabelos, o laço de fita
amarrotado entre os dedos, e que de pronto fui
deportada por legí�ma pessoa de explorador. Do
desencontro é fato deu-se como o do Apanhador de
Sonhos, extremo e tenso. Para o desfecho eu fecho
os olhos, mas que imediatamente ordeno as
pálpebras a ter visão. Primeiro escolho postar-me
firme as duas extremidades latentes daquela
tragédia. Depois aplico sobre seus ouvidos (uma
mulher), e aos oponentes minha voz num grito.
Longo e lâmina.Foi assim - rompi a corda que aos
dois seres se atraiam, em ví�ma e fera. E embora
reconheça que não me salvei, postergada de fato
estava minha primeira mágoa.
JORNAL DE
ARTESArtes Plásticas | Artes Cênicas |
Cinema | Musica | Literatua
EXPEDIENTE
Jornal de Artes é uma publicação da MURUCI EditorEditor | João Clauveci B. Muruci Editora de Literatura | Djine Klein ([email protected])Design Gráfico/Capa/Diagramação | Mauricio Muruci Email | [email protected] Edição Virtual | www.issuu.com/jornaldeartesFacebook |www.facebook.com/jornaldeartesTumblr |www.murucieditor.tumblr.comCNPJ | 107.715.59-0001/79 - Fone | 51 3276 - 5278 | 51 9874 - 6249
Colaboradores desta edição
Capa: Detalhe fotointerior da Basílica
de Santo Andréem Muntua, Itália
Elvio Vargas | Rejane Hirtz Trein| Paulinho Parada | Djine Klein | Gilberto Wallace Ba�lana
Telefones: (51) 3333-3294 | Rua Cabral, 291 Porto Alegre, Bairro Rio Branco, Brazil | Site
h�p://telasgaudi.blogspot.com/
TROFÉU PARA P 1º LUGARCriado pelo atelier Arte Real
PAULO AMARAL Por Rejane Hirtz Trein de Porto Alegre/Viamão-RS
Inaugurando a minha página mensal do jornal de ARTES escolhi como
entrevistado um ar�sta que, a meu sen�r, é extremamente qualificado para
elucidar e depurar o assunto “arte”.
Paulo Amaral gen�lmente me convidou à sua bela residência, cuja entrada
caracteriza logo sua personalidade de ar�sta. Com um imenso painel tríp�co,
evocando inusitado misto de realismo e fantás�co pictórico urbano, uma
par�cular caracterís�ca do Paulo, assim como uma assinatura, iden�fica sua
pessoa.
Em tons suaves com volumes fortes e majestosos, poder-se-ia dizer que sua
arte é reflexo do moderno e do homem do futuro. A luminosidade incorpora
cor como base de claros e escuros, evidenciando luz e sombra em suas
perspec�vas, criando uma sensação de equilíbrio, tranquilidade e paz.
No mesmo ambiente descontraído, medalhas, troféus e �tulos de honraria
compar�lham o espaço com livros que convivem com uma escrivaninha
neoclássica que denuncia sua paixão também, como escritor. Um belíssimo
piano, que faz parte de sua habilidade como músico, faz uma bela composição
com o ambiente harmônico e refinado dialogando com a simplicidade
excêntrica dos ar�stas, filósofos e escritores; tudo funcional e singular.
Subimos ao seu ateliê onde muitos pincéis, �ntas e telas estão dispostas
organizadamente, em um espaço especialmente preparado para o
trabalho.
Com uma vista inspiradora do Morro Recaldone e abundância de luz natural,
Paulo se dedica com disciplina todos os dias à tarde.
Iniciei a minha entrevista perguntando sobre o início de sua vida ar�s�ca e ele
me relatou que desde criança gostava de desenho e pintura, destacando-se
sempre com boas notas nesta disciplina, principalmente. Influenciado por sua
mãe que chegou a cursar a Faculdade de Belas Artes, Paulo, que sempre
gostou de música e de escrever, foi refinando suas habilidades naturais.
Aos 17 anos foi estudar em “high school", nos Estados Unidos, tendo a
oportunidade ímpar de ser orientado, tanto em matérias obrigatórias, como
em outras de maior interesse, por excelentes professores.
A cada mês o estudo sobre uma Escola de Arte era realizado, com reprodução
ar�s�ca de um mestre clássico ao es�lo de pintura original, seguida de uma
interpretação pessoal do aluno.
Em 1978, já vivendo no Brasil, sempre desenhando e pintando, logo foi
convidado para sua primeira individual, na Galeria Tina Presser.
Paulo fez Faculdade de Engenharia, casou, teve filhos e os encaminhou para
sua formação. Durante este período, embora tenha diminuído sua produção,
nunca se afastou de suas gravuras.
Em 1997 foi convidado para ser diretor do Museu de Arte do Rio Grande do
Sul, cuja a�vidade foi tão exitosa que resultou na sua recondução entre 2003 à
2006, novamente. Sua primeira gestão à frente do MARGS foi marcada pelas
profundas e defini�vas reformas que colocaram a en�dade em patamares
dignos da internacionalidade.
Com os filhos criados, maduros e já isento desta tarefa muito bem cumprida e
trabalhada, pode dedicar-se às suas criações.
Sua bagagem, amor e paixão pela arte possibilitou com que nela mergulhasse
com dedicação, tão logo a Engenharia deixou de fazer parte do seu dia a dia.
Pode dedicar-se a curadorias e acompanhamentos, assim como aprofundar-
se com entusiasmo à escrita, mais um de seus fascínios.
Perguntei o que pensava sobre a arte da atualidade, pergunta essa
francamente respondida de que existem muitas coisas boas e existe muita
"bosta”! Paulo assegura que os ar�stas precisam ter como base o desenho,
que há muitas instalações sem sen�do, que em nada acrescentam ao
expectador. Disse também que há coisas muito boas, verdadeiros “gênios”
contemporâneos como o Vic Muniz, que constrói imagens em diferentes e
surpreendentes escalas,, Adriana Varejão, com suas distorções de formas e
beleza e, citando um jovem ar�sta, Theo Felizzola, com sua arte quase
clássica, mas inusitada, por quem também guarda o maior apreço.
Ao perguntar-lhe sobre o que é ser um ar�sta, me respondeu de maneira
decisiva que o ar�sta deve sempre estar ligado aos valores esté�cos, desenho
e equilíbrio, deve transpirar arte, deve vibrar e emocionar os outros.
Indaguei-o sobre curadoria e ele foi claro novamente me dizendo que,
acreditando e apostando no ar�sta, sua arte passa emoções aos que irão
apreciar.
Aos novos e jovens colecionadores aconselha comprar o que gostam, pois
arte é uma loteria; ela é um bom inves�mento e também pode ser trocada ou
vendida em baixa ou em alta.
Ponderou que muitos ar�stas têm dúvidas quanto à abordagem em galerias,
destacando que que basta ter confiança no que se faz e autocrí�ca.
Perguntei-lhe, também, sobre o panorama mundial das artes, ao que
respondeu que o mercado das artes sempre vai estar valorizado como
inves�mento; que há a tendência da volta ao figura�vo, nos modelos da arte
clássica greco-romana, da busca da forma mesmo no expressionismo, enfim:
que pintura boa está na perseguição busca da esté�ca, mesmo nos abstratos,
com suas formas e cores.
Minha curiosidade me levou à pergunta sobre o Paulo de hoje. Disse-me que
no balanço das coisas, teve e tem uma vida feliz. Criou os filhos, escreve, pinta
e faz suas gravuras; que nunca deixou de vender, faz curadorias e
acompanhamentos, e que está escrevendo um livro que irá lançar na próxima
feira do livro, em outubro.
Foi um privilégio entrevistá-lo e é uma sa�sfação poder tê-lo como amigo; um
grande homem, com uma bagagem repleta de arte, assunto que
compar�lhamos com respeito e amorosidade, com a leveza e seriedade
merecidas.
Obrigada, Paulo!
ARTES PLÁSTICAS
ENGENHEIRO, ARTISTA E ESCRITOR
Paulo Amaral e sua obra. Foto Rejane Hirtz Trein Paulo Amaral em seu Atelier. Foto Rejane Hirtz Trein
Porto Alegre | | | ARTES | Setembro 2014 4
Cinema Africano
O cinema africano tem relação direta e fundamentalmente na experiência pós- colonial. Na verdade vem sendo um cinema de gueto, e
por ser assim, apresenta dificuldades de mercado para sua cinematografia. Aborda temas que gira em torno da migração; sobre as
mulheres africanas no cinema, e o passado colonial e seu conteúdo polí�co. Alguns crí�cos e cineastas africanos apontam, os subsídios
dos países ocidentais, como fator de castração ideológica na produção cria�va, fazendo com que alguns cineastas militantes, sejam
desencorajados a uma cri�ca mais audaz sobre o papel dos colonizados na cultura africana.
Entre outras, estas foram as questões mais diretas, que afastou o cinema africano do mercado e o jeito foi voltar-se para cinema de
fes�vais e projetos especiais para conseguir oportunidade de exibição. Alguns criadores, são acusados de filmarem com essa esté�ca,
deixando de lado, a narra�va real do que se passa numa África cheia de contrariedades coloniais, mas somente inseridas no cinema a
par�r de 1975, com filmes que refletem a realidade africana e que se interroga ao mesmo tempo sobre as raízes culturais da sociedade em
transformação.
Essa presença nos fes�vais, não foi devidamente aproveitada, para forçar a entrada desses filmes de linha ideológica no mercado
ocidental, levando essas obras, finalmente as salas de cinema não só na África, como no ocidente, já que precisava conquistar estatuto
internacional, porque esses cineasta já haviam definido seu território.
A consagração de alguns cineastas ,alavancou o conceito do cinema africano, o que fez ser mais conhecido no ocidente, entre eles, o
argelino Mohamed Lakhdor – Homina ( chronique des annès de braise – Palma dÒr / 1975 em Cannes. Soules Ymane Cissé(Mali) vencedor
do Prix du juri com o Brigtmmess yeelen,1977.Com ausência de dois anos, Idrissa Queadroaogo, de Burkina Fasso, recebem o prêmio
dejuri, com o The Law/Tilai (1989).
Paulin Vieyra (1963) com Lamb,Ousomame Sembène com Black Gril/La Noirede ...1964- e por úl�mo o cineasta Djibril diop Mambéty que
volta a Cannes,em 1992, Hienas /Hyénnes.
E, justamente, esse cineasta, rompe com o circulo do cinema de tendencia realista, ideológico do cinema africano, com seu primeiro filme,
A Viagem da Hiena,(Hienas) 1973, com a proposta vanguardista, ao filmar Dakar em narra�vas do caos, documental, porque é através de
uma dialé�ca “som-imagem” que Mambéty, renomeia o co�diano barroco, ao narrar as conseqüenciais das vozes que existem visceral
nas ruas de Dakar.
É um cineasta moderno, ao fazer uso da dialé�ca, do sonho, da palavra, da imagem e do real. Ele reinventou o cinema enquanto
linguagem, e quando fez da montagem nova escrita ao desconstruir os clássicos.
Por Clauveci Muruci
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Atores| Naiume Goldoni e Rafael Mentges | Curta Metragem « » de Olávo Amaral Depois da Poeira
Por Clauveci Muruci
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DEPOIS DA POEIRA«Depois da Poeira», curta-metragem de Olavo Amaral, sugere primeiramente desolação. A
referência do caos surge nos escombros aproveitados de um velho hospital demolido. Os
personagens [trabalho bem construído por Naiume Goldoni e Rafael Mentges] dois jovens que
sobrevivem a uma catástrofe qualquer [talvez a queda de um meteorito apocalíp�co]
conduzem suas falas inerentes a quem sobreviveu esse trágico desastre vindo do cosmo. Os
sobreviventes transitam com suas angús�as, entre blocos de concreto e ferro. Nesse cenário
alguns animais se locomovem fur�vamente informando que, depois que a poeira baixou, a
natureza se recompõe vagarosamente. Os dois jovens conversam sobre situações vividas com
palavras codificadas e indecifráveis. Elas surgem aos pedaços, como os destroços de cimento
armado que compõe toda o cenário. Nada se sabe do evento. Toda a narra�va é uma sugestão.
As falas lembram fatos, memórias [ cor�nas temporais] que costuram o antes e o depois da
catástrofe. Nada mais resta aos personagens que perambulam, na tenta�va de recons�tuir
através da memória, em seu pequeno universo perdido.
O estreante Olavo Amaral é consistente, sua câmera mostra o necessário, sem exageros, com
planos curtos e incisivos, nos traz material de análise e exercícios para quem �ver coragem de
compor o seu próprio cenário apocalíp�co. As imagens de uma provável realidade de fim de
mundo, costuma sugerir temá�cas inigmá�cas sobre suas origens e conseqüências cinzentas.
Esse tema nem sempre é bem resolvido. Há quem deslize ao drama�camente banal, ou
despenque no sobre-natural incoerente. Amaral conduz sua narra�va com o que pode colher,
embora o expectador deixe a sala de projeção com a sensação de querer mais, e isso, é uma
boa indicação, para uma obra que propõe à reflexão.
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Porto Alegre | | | ARTES | Setembro 2014 09
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ESCREVERARTIGO
Por Gilberto Wallace Battilana de Porto Alegre/RS*
ESCREVER SOBRE
*Contato: | [email protected] facebook.com/gilberto.ba�lana.
Escrevo o que não sei. Ao escrever, o que pretendo é arrancar-me da dúvida, da perplexidade, não para chegar a alguma resposta - não acredito em respostas - mas para preencher o vazio da vida com palavras. Não escrevo para os que tem certezas, antes para os perplexos, para os que, igual a mim, sabem só perguntar, assumindo suas contradições no abismo da sua indecisão entre tantos valores e verdades. Mas, sem medo.
A perplexidade é a forma mais aguda do pensamento, a reflexão,a mais passiva.Todo escritor tem a vontade de escrever sobre escrever. Tratar das suas relações com as palavras. Segundo Jean
Ricardou, mais que contar aventuras, há que contar a aventura de contar. Será necessário reflexionar sobre um instrumento para dele fazer uso? Sopesará um bisturí um médico, perguntando-se quantos gramas pesará, quanto mede a lâmina, ou usa-o ins�n�vamente, com a precisão que a sua formação e a prá�ca lhe conferiram? Este escrever sobre escrever não será uma demonstração da impossibilidade de fazê-lo?
Não tendo certezas, jogo com estas palavras fazendo do meu pensamento uma montanha - se preferirem, uma salada - russa.
O simples relatar já impede que o texto se feche à interpretação do leitor. Ao escrever um texto, este texto, estou pondo à prova, o meu conhecimento, a minha capacidade intelectual de compreensão e expressão, o meu entendimento do mundo e, afinal, de mim mesmo. Disponho o que penso saber, buscando o que pretendo descobrir, instaurando um novo conhecimento sobre o que narro, descrevo ou interpreto. Quem escreve, se não escrever a si mesmo em cada parágrafo, descobrindo-se, poderá ser um autor, não um escritor. Para ser um Autor basta publicar um livro, para ser um escritoré necessário muito mais que isso. E, acreditem-me, há mais Autores que escritores. Escrever é descobrir, descobrindo-se. Não deve ser inteiramente planejado sob pena de perder o viço. É o improviso que torna tenso e vivo um texto. Ao deparar-se, enquanto escreve, com algo que o surpreende é que o escritor surpreende o leitor. A imaginação, ao contrário da natureza, dá saltos. Quem se propõe a sofrear a sua imaginação, domando-a, conduzindo-a, em vez de se deixar levar por ela, não é um escritor, é um burocrata da palavra. Eu prefiro que a minha imaginação me assuste, corcoveie à beira de abismos, me transporte em seu lombo por caminhos desconhecidos, que nem pensava percorrer. Como escreveu Ernst Junger, em outro contexto: "Não fracassamos por causa dos nosso sonhos, mas por não sonhá-los com suficiente intensidade".
Permita-me, numa rápida interpolação dar um exemplo da imaginação agindo sobre a emoção e a necessidade de escrever: Walter Sco� caçava, quando a imaginação lhe sobrepõe à ação da caça uma cena do romance que escrevia. Esquece a presa que perseguia e, abatendo um corvo, arranca dele uma pena, faz uma ponta, mergulha no sangue da ave e, caçando a cena, escreve-a num pedaço da camisa que rasgou para tal fim. Eis a imaginação conduzindo a emoção e a ação. Eis o escritor.
Toda a obra de um ar�sta é forjada pela imaginação numa reação às suas circunstâncias. Não significa que seja confessional, mas quem escreve sem se mostrar no que escreve é um farsante, um forjador de falsas ficções. Daí o Autor, o que finge sen�r a dor que deveras não sente. Escritor, nos ensinou Fernando Pessoa, é aquele que finge sen�r a dor que deveras sente. E escrever é o que mais nos permite nos revelar escondendo-nos atrás de personagens. O ar�sta exprime das suas emoções aquelas que são comuns aos outros, nos diz, e bem, o Pessoa.
Nenhum escritor é inocente ou imparcial. Escolhe o seu tema, a forma como vai desenvolvê-lo; elege as palavras, distorce, sa�riza ou idealiza a realidade, conforme o seu propósito, desdenhando a isenção, para inventar um mundo, não com fatos, com um texto. Apropria-se do mundo através da linguagem, integrando o real inventado ao seu discurso. Não há quem escreva que não se deixe contaminar pelas imagens e o ritmo contagiante em que as palavras, sedutoras sereias - com s quais pretendemos seduzir o leitor - nos afogam. A linguagem, como fato sintá�co, semân�co, ou estrutural, é uma aliada que, quase sempre, nos trai; com a qual precisamos lutar para adequá-la às nossas necessidades ou às exigências do assunto. Devemos usar as palavras com o mesmo cuidado que tem os técnicos que lidam com nitroglicerina. Há, a cada vez, o perigo iminente de ofuscar, com o brilho delas, a clareza das ideias, ou obscurecer o que pretendemos expressar. Os textos obscuros são um seguro para quem não tem segurança em como expor a verdade de que se pensa detentor. Para que buscar num texto de ficção o emaranhamento filosófico, quando é muito pedir ao leitor comum além do que lhe é necessário para viver? Ele tem o seu emprego, a sua casa,a sua família; alguns, a amante, suas contas a pagar, o seu carro, a televisão, e sente-se feliz por ser enganado que tem uma vida, por não lhe sobrar tempo para pensar. Só a uns poucos desocupados é que se dá o luxo desse desespero.
Avancemos, vamos aos que confundem extravagância e excentricidade com originalidade, me permitam dizer-lhes que o original, o novo, de hoje, é o lugar-comum de amanhã. Querem originalidade? Procurem-na nos concursos de Escolas de Samba, lá existe esse quesito nota deeeez. Falando sério, quem consegue ler os exageros dos surrealistas ou concre�stas? Exceção àqueles que, mesmo sem o ismo, seriam quem são: um Louis Aragon, um Ferreira Gullar. A sede do novo quase nunca leva a uma ideia, mas a uma confusão delas.
Eu vejo cada frase como uma ponte estendida pela imaginação para atravessar os abismos das ideias e imagens, numa viagem sem mapas, tendo como referência apenas a delida imagem de um des�no final. O que pretendia Allan Poe ao afirmar que deveriamos ter o epílogo constantemente em vista para dar ao enredo seu aspecto indispensável de consequência ou causalidade? Ainda que, depois de Poe, alguns romances pareçam ser inconsequentes na sua intenção. Assim avanço até a�ngir esse des�no que me aponta um novo percurso, numa viagem em que as palavras me servem de apoio e obstáculo e que só terá fim com a minha morte. Nesse sen�do, escrever é um ato inú�l. Par�mos do desconhecido pretendendo a�ngir um ponto inalcançável. "Escrevi-lhe uma carta, de Praga e, depois outra, de Merano. Não recebi resposta". Assim escreve Ka�a, numa carta seguinte. E con�nua a escrever, mesmo sem receber resposta. Assim escreve todo escritor. Sem precisar de respostas, ainda que as aguarde. Escreve porque precisa, tem necessidade de escrever.
Escrever pode provocar prazer, um prazer que desafia o tempo, numa tenta�va de perpetuidade, como quando fazemos do sexo amor. A página escrita, o filho, são resultados com os quais desafiamos a morte. Sherazades nos contamos histórias com o propósito de enganar, de adiar a nossa morte. É, antes, mo�vado pela incompletude, pela insa�sfação, que alguém escreve. Em cada um que escreve há um vazio a ser preenchido com palavras. O ato de exis�r se especifica por aquilo que lhe falta, nos ensina Tomás de Aquino. O homem sa�sfeito, diria o homem comum - normal - não sente nenhuma necessidade de escrever, ele tem o futebol , a televisão. Escreveo insa�sfeito. Para quem apenas uma vida, esta, não basta. Há que inventar uma outra, a que escreve. E uma outra, em que aposta viver, através da sua obra, mesmo depois de morto. E a cada folha escrita, sem desis�r, sente a inu�lidade desse tentame.
Ao escrever, o escritor não estabelece nenhuma relação com o que lhe é alheio: editor, leitores. Só ao publicar é que cria este vínculo com o mundo crí�co. Como afirma Gumbrecht, o verdadeiro ar�sta dialoga com a sua obra, o impostor dialoga com o seu público.
Se neste texto encontrou o leitor contradições que o confundiram, saiba que o que mais faço é contradizer-me e confundir-me. Essa afirmação, como desenlace do leitor com o texto, é para que se considere mais lúcido que eu, o que nos fará bem a ambos.
"É espantoso que as pessoas não tenham encontrado uma linguagem para expressar a sua ignorância"
Witold Gombrowicz
Pinturas | Desenhos | Gravuras Fotografias |Esculturas Troféus Jóias-Esculturas Molduras | Restauros
Porto Alegre | | | ARTES | Setembro 2014 4
Tudo vai
depender da
neve cair.
GRAPHIC NOVEL
Elisa & Simone
Por Cloveci Muruci de Porto Alegre/RS
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Telas, Quadros e Molduraswww.kersson.com.br
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Violão | Guitarra | Teclado | Piano | Musicalização Infan�l |
Outros Instrumentos
Plauto Cruz com
Engenho e ArtePor P aulinho Parada / Paulo F. Parada de Porto Alegre/RS
É com grande prazer que inauguro o espaço falando de Plauto Cruz (15/11/1929). Em cada edição do jornal
falaremos sobre música com um viés analí�co, buscando dialogar com o leitor e abordar assuntos
interessantes sobre personagens, gêneros e espaços musicais de Porto Alegre e, quem sabe, do mundo.
Atualmente, fui agraciado pelo FUMPROARTE, onde devo pesquisar O Universo Sonoro de Plauto Cruz e
desfrutarei da orientação do professor-doutor Reginaldo Gil Braga (UFRGS). Para não violar o inedi�smo da
pesquisa supracitada, escreverei aqui sobre vivências que par�lhei com meu amigo Plauto Cruz, além de
expor uma breve análise do álbum Engenho e Arte que o flau�sta gravou com Mário Barros. Quando eu �nha seis anos de idade, meu avô passou uma temporada na casa de meus pais e, nesse
mesmo ano, presenteou-me com o disco Engenho e Arte – que foi o primeiro Cd de música instrumental
que ouvi em minha vida. Já que eu era muito jovem, aquelas músicas me causaram certa estranheza e,
somente com o passar dos anos, consegui dedicar a atenção necessária para ouvir esse álbum. Hoje faz
pra�camente duas décadas que ganhei o disco, pude tornar-me músico e escritor graduado e,
evidentemente, a percepção sobre a música de Plauto Cruz é outra em relação à minha infância. Vamos para a breve análise do disco Engenho e Arte de Plauto Cruz e Mário Barros (1995). Já na
contra capa encontramos recomendações de Luiz Antônio de Assis Brasil: “nossos avós já sabiam: a música
de salão é a síntese da elegância e do refinamento sonoro. E quando executada por essas duas glórias da arte
brasileira, passa à categoria de celebração da vida”, seguido pelo comentário de Luiz Fernando Veríssimo:
“Não é sempre que se consegue fazer beleza e jus�ça ao mesmo tempo. Este disco faz as duas coisas.[...] E
que beleza de música!”. O disco mistura o popular, folclore e o dito “erudito”, encontramos tais
caracterís�cas nas versões e contrastes de Tico Tico no Fubá (Zequinha de Abreu) e de Serenata (Franz
Schubert), em Engenho e Arte (Plauto Cruz) e Romance de Amor (Antonio Rovira), O Rio e eu (Mário Barros)
e El Condor Pasa do folclore Andino, Roman�ssimo (Plauto Cruz) e Casinha Pequenina (domínio público),
Porto dos casais (Jaime Lublanca) e Carnavalito (folclore Andino), Czardas (W. Mon�) e a belíssima valsa
Juliana (Plauto Cruz), Greensleeves, an�ga canção europeia nunca registrada por ninguém. O disco encerra
com J. S. Bach e Gounod, Ave Maria. É interessante ressaltar e perceber: as regravações são versões. Na
música de concerto é tradição seguir rigorosamente as par�turas – não é uma regra – mas é a tradição. Para
quebrar um pouco a tradição, as escolhas foram rigorosamente selecionadas, Plauto confidenciou-me:
“Mário Barros é exigente com as versões”. Por exemplo: não é comum ouvir uma flauta em Romance de
Amor, peça que foi escrita originalmente para violão solo. Mas quando ouvimos Plauto Cruz tocar sua flauta
onde originalmente não se escreveu flauta, compreendemos a jus�fica�va da escolha de repertório do disco
– as versões foram trabalhadas com sabedoria e não é à toa, pois em 1995 os dois músicos estavam no auge
da técnica e experiência. Não consigo observar pontos nega�vos: é di�cil comentar um álbum que foi feito
por músicos já virtuoses quando minha mãe estava nas fraldas. Nesse tempo que passou com pressa, fiz amizade com Plauto. Gravamos juntos meu primeiro disco
(Paulinho Parada, Minhas Águas de 2007) e realizamos apresentações. Esse meu amigo flau�sta está com 84
anos de idade, ao lado de Altamiro Carrilho fez a história do instrumento da flauta e da música brasileira
durante a segunda metade do século XX. Sempre com carinho e humildade, Plauto me dizia: “a vida é mais
feliz quando fazemos amigos”. Ouvir Plauto Cruz é ouvir uma flauta tocada com técnica, sen�mento e
su�leza: Altamiro elogiava o som delicado produzido por Plauto. Não é segredo que o personagem desse
texto tocou com Lupicínio Rodrigues, Elis Regina, Vicente Celes�no, Nelson Gonçalves, Túlio Piva, Yamandú
Costa e muitos outros ar�stas de nossa música, venceu e par�cipou de inúmeros fes�vais, além de ter
integrado como flau�sta �tular os regionais de choro nas rádios Itaí (1952-1956), Farroupilha (1956-1961),
Gaúcha (1961-1964) e Rádio Clube Paranaense de Curi�ba (1969). Durante os shows que Plauto tocou ao meu lado sempre ouvi sua frase ao final do show: “Essa não é
a úl�ma. É a penúl�ma. A úl�ma é quando a gente capota, amanhã tem mais”. Hoje Plauto está afastado da
música devido à sua saúde, vivendo em sua casa com muitos dengos e cuidados de sua família sempre
amorosa. Parafraseando meu novo e velho amigo da flauta: amanhã tem mais! Para ilustrar o texto
contamos com a foto de meu amigo Achu� e a revisão da professora Natalina Oliveira.
Foto: Achu�