setembro | 2014

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Artes pláscas Cênicas Cinema Música Literatura | | | | Porto Alegre | | 2014 | R$ 3,00 Setembro Edição Virtual jornaldeartes | www.issuu.com/ Facebook | jornaldeartes www.facebook.com/ Tumblr | murucieditor.tumblr. www. com JORNAL DE

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Arte | Cultura | Musica | Cinema | Literatura | Publicado pela Muruci Editor, circula em Porto Alegre e interior. Tumblr| www.murucieditor.tumblr.com Facebook | www.facebook.com/jornaldeartes

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Page 1: Setembro | 2014

Artes plás�cas Cênicas Cinema Música Literatura| | | |Porto Alegre | | 2014 | R$ 3,00Setembro

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JORNAL DE

Page 2: Setembro | 2014

Porto Alegre | | | ARTES | Setembro 2014 2

Foto: Mari Lopes Fotografia e Arte

o delírio e a engrenagem

A MEMÓRIAPOESIA EM PROSA POESIA

Por Djine Klein de Porto Alegre/ Viamão/RS

Por Elvio Vargas de Porto Alegre

“A Men�ra da noite é matar o cansaço dos homens.” Mia Couto, in: Vozes Anoitecidas.

Hojevirá con�go o novo trono de Troia.

Crianças brincamno úl�mo clarão da aurora.

Revoada de pássaroscin�lações de arco-írisalfabetos desenhados

pelo voo hipnó�co de borboletassoprarão um pergaminho

com os pontos cardeais da viagem.Um pequeno barco

com as provisões básicas– pão ázimo, leite, figos, lascas de vitela –

será depositado na concha da quilha.O mastro será talhado

em cerne de eucalipto.Uma única vela

com formato, levezae força de página

singrará o Mar Egeuaté o sinuoso Rio das Antas.

Montanhas de vales verdejantesvinhas, artefatos maiores

que os da idade do bronzeiluminarão tua grande odisseia.

Na cidade novanão haverá muralhas, portões

só minaretes fumegantestriunfos.

Plantarás tua mágica embarcação de bruma

na margem do riozinho.Iça a vela com cuidado.

Ela poderá ser tetona hora da tempestade

livro para o registro épico.Teu palanque brilhará

bem no meio dos mercados.O Bem-te-vi que te acompanhou

voltou para o pago.Aqui, Aquiles, Menelau, Helena

Agamenon e os outrosterão seus des�nos reescritos por Homero.

Nem a pressa... Nem a calma.Príamo e Hécuba

te esperam...

Para o nosso neto, Heitor Mendes Vargas.

Caxias do Sul, 20 de julho de 2014.

HEITOR

Era como um pequeno disco com hastes trêmulas, de um verde-acinzentado. Mergulhei a mão água fria e aquilo

se projetou para o fundo. Um bebe cágado em fuga, e eu de joelhos assim me ofendo à sua margem! Estou com febre, em delirar

que logo alcancei ter uns cinco anos. O tempo havia parado. Em um sapo ele no rente-chão, eu chapéu e flor de sombrinha

catando as estrelas da minha testa. Ah! Que doce distração! Mas ele anuro ali firme seus olhos de vidro, eu dentro deles

arregalada, o sapo esbugalhado um triste. Então é possível contar mais que um susto, para cada delírio um silêncio e vozes? Enquanto com quatro anos, e três séculos a figueira no quintal, eu três ela quatro e a minha boca estava cheia de

beijos. Nos olhos os figos, a fruta madura no alto da árvore, eu sobre maneira meio dançando no chão. Ela sóbria eu nervosa por

quanto longa à espera, seu mel. Na super�cie com desejo salivando e que rubra a doçura, adivinhava e queria o fruto: água de

beber pra minha sede! Tenho dois anos, e o tempo nada estanque libera tempo pra sonhar em azul. É fim de tarde, sigo por entre as

folhagens, decididamente e avante. Na travessia se conheci a noite, ou se �ve medo da escuridão, já amanhecia a paisagem

úmida, quase �ve frio. E que visão terna as aves no céu, eu na planura contente, meus passos redondos. Adiantei-me uma trilha

havia uma raposa no quintal, em estado de vidro fascinada. Em ponto de mira pra conhecer o bicho humano, e espingarda. Agora já não posso mais retroceder. Depois de defrontar do outro lado da vida tão rente é a morte. Ainda me

aplicam o que os ouvidos tanto ainda hoje zunem. As palavras-gritos de um ser monstruoso, vindo do fundo mais escuro do

quintal. E zomba que sou uma menina, portanto não poderia estar ali. Até pensei em dar as costas, ou perguntar ao pardal no

telhado, se deveria virar à esquerda ou seguir pela rota do lago? Precisava urgente, desesperante apagar-me desse desencontro.

A criatura ela mesma e a outra, rezingas em amplexo, eu lia era o pavor. Antes me salvar deles, seus dois abismos, uma ação por

minha infância. Feliz? Todavia, fui pega marginal me

extraviando, e queria apenas ler com vagar o que

encontrei no entorno. Mas da ousadia o retorno foi

isso, de a vida ser cheia de sustos e haver ainda mais

para além do instante - decifrei. Também sobre

minha pequenez, não reparar nos arranjos dos

fatos, e nem �ve permissão de fuga. Com a roupa

suja e exposta, desalinho cabelos, o laço de fita

amarrotado entre os dedos, e que de pronto fui

deportada por legí�ma pessoa de explorador. Do

desencontro é fato deu-se como o do Apanhador de

Sonhos, extremo e tenso. Para o desfecho eu fecho

os olhos, mas que imediatamente ordeno as

pálpebras a ter visão. Primeiro escolho postar-me

firme as duas extremidades latentes daquela

tragédia. Depois aplico sobre seus ouvidos (uma

mulher), e aos oponentes minha voz num grito.

Longo e lâmina.Foi assim - rompi a corda que aos

dois seres se atraiam, em ví�ma e fera. E embora

reconheça que não me salvei, postergada de fato

estava minha primeira mágoa.

JORNAL DE

ARTESArtes Plásticas | Artes Cênicas |

Cinema | Musica | Literatua

EXPEDIENTE

Jornal de Artes é uma publicação da MURUCI EditorEditor | João Clauveci B. Muruci Editora de Literatura | Djine Klein ([email protected])Design Gráfico/Capa/Diagramação | Mauricio Muruci Email | [email protected] Edição Virtual | www.issuu.com/jornaldeartesFacebook |www.facebook.com/jornaldeartesTumblr |www.murucieditor.tumblr.comCNPJ | 107.715.59-0001/79 - Fone | 51 3276 - 5278 | 51 9874 - 6249

Colaboradores desta edição

Capa: Detalhe fotointerior da Basílica

de Santo Andréem Muntua, Itália

Elvio Vargas | Rejane Hirtz Trein| Paulinho Parada | Djine Klein | Gilberto Wallace Ba�lana

Page 3: Setembro | 2014

Telefones: (51) 3333-3294 | Rua Cabral, 291 Porto Alegre, Bairro Rio Branco, Brazil | Site

h�p://telasgaudi.blogspot.com/

TROFÉU PARA P 1º LUGARCriado pelo atelier Arte Real

Page 4: Setembro | 2014

PAULO AMARAL Por Rejane Hirtz Trein de Porto Alegre/Viamão-RS

Inaugurando a minha página mensal do jornal de ARTES escolhi como

entrevistado um ar�sta que, a meu sen�r, é extremamente qualificado para

elucidar e depurar o assunto “arte”.

Paulo Amaral gen�lmente me convidou à sua bela residência, cuja entrada

caracteriza logo sua personalidade de ar�sta. Com um imenso painel tríp�co,

evocando inusitado misto de realismo e fantás�co pictórico urbano, uma

par�cular caracterís�ca do Paulo, assim como uma assinatura, iden�fica sua

pessoa.

Em tons suaves com volumes fortes e majestosos, poder-se-ia dizer que sua

arte é reflexo do moderno e do homem do futuro. A luminosidade incorpora

cor como base de claros e escuros, evidenciando luz e sombra em suas

perspec�vas, criando uma sensação de equilíbrio, tranquilidade e paz.

No mesmo ambiente descontraído, medalhas, troféus e �tulos de honraria

compar�lham o espaço com livros que convivem com uma escrivaninha

neoclássica que denuncia sua paixão também, como escritor. Um belíssimo

piano, que faz parte de sua habilidade como músico, faz uma bela composição

com o ambiente harmônico e refinado dialogando com a simplicidade

excêntrica dos ar�stas, filósofos e escritores; tudo funcional e singular.

Subimos ao seu ateliê onde muitos pincéis, �ntas e telas estão dispostas

organizadamente, em um espaço especialmente preparado para o

trabalho.

Com uma vista inspiradora do Morro Recaldone e abundância de luz natural,

Paulo se dedica com disciplina todos os dias à tarde.

Iniciei a minha entrevista perguntando sobre o início de sua vida ar�s�ca e ele

me relatou que desde criança gostava de desenho e pintura, destacando-se

sempre com boas notas nesta disciplina, principalmente. Influenciado por sua

mãe que chegou a cursar a Faculdade de Belas Artes, Paulo, que sempre

gostou de música e de escrever, foi refinando suas habilidades naturais.

Aos 17 anos foi estudar em “high school", nos Estados Unidos, tendo a

oportunidade ímpar de ser orientado, tanto em matérias obrigatórias, como

em outras de maior interesse, por excelentes professores.

A cada mês o estudo sobre uma Escola de Arte era realizado, com reprodução

ar�s�ca de um mestre clássico ao es�lo de pintura original, seguida de uma

interpretação pessoal do aluno.

Em 1978, já vivendo no Brasil, sempre desenhando e pintando, logo foi

convidado para sua primeira individual, na Galeria Tina Presser.

Paulo fez Faculdade de Engenharia, casou, teve filhos e os encaminhou para

sua formação. Durante este período, embora tenha diminuído sua produção,

nunca se afastou de suas gravuras.

Em 1997 foi convidado para ser diretor do Museu de Arte do Rio Grande do

Sul, cuja a�vidade foi tão exitosa que resultou na sua recondução entre 2003 à

2006, novamente. Sua primeira gestão à frente do MARGS foi marcada pelas

profundas e defini�vas reformas que colocaram a en�dade em patamares

dignos da internacionalidade.

Com os filhos criados, maduros e já isento desta tarefa muito bem cumprida e

trabalhada, pode dedicar-se às suas criações.

Sua bagagem, amor e paixão pela arte possibilitou com que nela mergulhasse

com dedicação, tão logo a Engenharia deixou de fazer parte do seu dia a dia.

Pode dedicar-se a curadorias e acompanhamentos, assim como aprofundar-

se com entusiasmo à escrita, mais um de seus fascínios.

Perguntei o que pensava sobre a arte da atualidade, pergunta essa

francamente respondida de que existem muitas coisas boas e existe muita

"bosta”! Paulo assegura que os ar�stas precisam ter como base o desenho,

que há muitas instalações sem sen�do, que em nada acrescentam ao

expectador. Disse também que há coisas muito boas, verdadeiros “gênios”

contemporâneos como o Vic Muniz, que constrói imagens em diferentes e

surpreendentes escalas,, Adriana Varejão, com suas distorções de formas e

beleza e, citando um jovem ar�sta, Theo Felizzola, com sua arte quase

clássica, mas inusitada, por quem também guarda o maior apreço.

Ao perguntar-lhe sobre o que é ser um ar�sta, me respondeu de maneira

decisiva que o ar�sta deve sempre estar ligado aos valores esté�cos, desenho

e equilíbrio, deve transpirar arte, deve vibrar e emocionar os outros.

Indaguei-o sobre curadoria e ele foi claro novamente me dizendo que,

acreditando e apostando no ar�sta, sua arte passa emoções aos que irão

apreciar.

Aos novos e jovens colecionadores aconselha comprar o que gostam, pois

arte é uma loteria; ela é um bom inves�mento e também pode ser trocada ou

vendida em baixa ou em alta.

Ponderou que muitos ar�stas têm dúvidas quanto à abordagem em galerias,

destacando que que basta ter confiança no que se faz e autocrí�ca.

Perguntei-lhe, também, sobre o panorama mundial das artes, ao que

respondeu que o mercado das artes sempre vai estar valorizado como

inves�mento; que há a tendência da volta ao figura�vo, nos modelos da arte

clássica greco-romana, da busca da forma mesmo no expressionismo, enfim:

que pintura boa está na perseguição busca da esté�ca, mesmo nos abstratos,

com suas formas e cores.

Minha curiosidade me levou à pergunta sobre o Paulo de hoje. Disse-me que

no balanço das coisas, teve e tem uma vida feliz. Criou os filhos, escreve, pinta

e faz suas gravuras; que nunca deixou de vender, faz curadorias e

acompanhamentos, e que está escrevendo um livro que irá lançar na próxima

feira do livro, em outubro.

Foi um privilégio entrevistá-lo e é uma sa�sfação poder tê-lo como amigo; um

grande homem, com uma bagagem repleta de arte, assunto que

compar�lhamos com respeito e amorosidade, com a leveza e seriedade

merecidas.

Obrigada, Paulo!

ARTES PLÁSTICAS

ENGENHEIRO, ARTISTA E ESCRITOR

Paulo Amaral e sua obra. Foto Rejane Hirtz Trein Paulo Amaral em seu Atelier. Foto Rejane Hirtz Trein

Porto Alegre | | | ARTES | Setembro 2014 4

Page 5: Setembro | 2014

Cinema Africano

O cinema africano tem relação direta e fundamentalmente na experiência pós- colonial. Na verdade vem sendo um cinema de gueto, e

por ser assim, apresenta dificuldades de mercado para sua cinematografia. Aborda temas que gira em torno da migração; sobre as

mulheres africanas no cinema, e o passado colonial e seu conteúdo polí�co. Alguns crí�cos e cineastas africanos apontam, os subsídios

dos países ocidentais, como fator de castração ideológica na produção cria�va, fazendo com que alguns cineastas militantes, sejam

desencorajados a uma cri�ca mais audaz sobre o papel dos colonizados na cultura africana.

Entre outras, estas foram as questões mais diretas, que afastou o cinema africano do mercado e o jeito foi voltar-se para cinema de

fes�vais e projetos especiais para conseguir oportunidade de exibição. Alguns criadores, são acusados de filmarem com essa esté�ca,

deixando de lado, a narra�va real do que se passa numa África cheia de contrariedades coloniais, mas somente inseridas no cinema a

par�r de 1975, com filmes que refletem a realidade africana e que se interroga ao mesmo tempo sobre as raízes culturais da sociedade em

transformação.

Essa presença nos fes�vais, não foi devidamente aproveitada, para forçar a entrada desses filmes de linha ideológica no mercado

ocidental, levando essas obras, finalmente as salas de cinema não só na África, como no ocidente, já que precisava conquistar estatuto

internacional, porque esses cineasta já haviam definido seu território.

A consagração de alguns cineastas ,alavancou o conceito do cinema africano, o que fez ser mais conhecido no ocidente, entre eles, o

argelino Mohamed Lakhdor – Homina ( chronique des annès de braise – Palma dÒr / 1975 em Cannes. Soules Ymane Cissé(Mali) vencedor

do Prix du juri com o Brigtmmess yeelen,1977.Com ausência de dois anos, Idrissa Queadroaogo, de Burkina Fasso, recebem o prêmio

dejuri, com o The Law/Tilai (1989).

Paulin Vieyra (1963) com Lamb,Ousomame Sembène com Black Gril/La Noirede ...1964- e por úl�mo o cineasta Djibril diop Mambéty que

volta a Cannes,em 1992, Hienas /Hyénnes.

E, justamente, esse cineasta, rompe com o circulo do cinema de tendencia realista, ideológico do cinema africano, com seu primeiro filme,

A Viagem da Hiena,(Hienas) 1973, com a proposta vanguardista, ao filmar Dakar em narra�vas do caos, documental, porque é através de

uma dialé�ca “som-imagem” que Mambéty, renomeia o co�diano barroco, ao narrar as conseqüenciais das vozes que existem visceral

nas ruas de Dakar.

É um cineasta moderno, ao fazer uso da dialé�ca, do sonho, da palavra, da imagem e do real. Ele reinventou o cinema enquanto

linguagem, e quando fez da montagem nova escrita ao desconstruir os clássicos.

Por Clauveci Muruci

C i n e m a | Fo to g rafi a | V í d e o

Page 6: Setembro | 2014

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Atores| Naiume Goldoni e Rafael Mentges | Curta Metragem « » de Olávo Amaral Depois da Poeira

Por Clauveci Muruci

C i n e m a | Fo to g rafi a | V í d e o

DEPOIS DA POEIRA«Depois da Poeira», curta-metragem de Olavo Amaral, sugere primeiramente desolação. A

referência do caos surge nos escombros aproveitados de um velho hospital demolido. Os

personagens [trabalho bem construído por Naiume Goldoni e Rafael Mentges] dois jovens que

sobrevivem a uma catástrofe qualquer [talvez a queda de um meteorito apocalíp�co]

conduzem suas falas inerentes a quem sobreviveu esse trágico desastre vindo do cosmo. Os

sobreviventes transitam com suas angús�as, entre blocos de concreto e ferro. Nesse cenário

alguns animais se locomovem fur�vamente informando que, depois que a poeira baixou, a

natureza se recompõe vagarosamente. Os dois jovens conversam sobre situações vividas com

palavras codificadas e indecifráveis. Elas surgem aos pedaços, como os destroços de cimento

armado que compõe toda o cenário. Nada se sabe do evento. Toda a narra�va é uma sugestão.

As falas lembram fatos, memórias [ cor�nas temporais] que costuram o antes e o depois da

catástrofe. Nada mais resta aos personagens que perambulam, na tenta�va de recons�tuir

através da memória, em seu pequeno universo perdido.

O estreante Olavo Amaral é consistente, sua câmera mostra o necessário, sem exageros, com

planos curtos e incisivos, nos traz material de análise e exercícios para quem �ver coragem de

compor o seu próprio cenário apocalíp�co. As imagens de uma provável realidade de fim de

mundo, costuma sugerir temá�cas inigmá�cas sobre suas origens e conseqüências cinzentas.

Esse tema nem sempre é bem resolvido. Há quem deslize ao drama�camente banal, ou

despenque no sobre-natural incoerente. Amaral conduz sua narra�va com o que pode colher,

embora o expectador deixe a sala de projeção com a sensação de querer mais, e isso, é uma

boa indicação, para uma obra que propõe à reflexão.

Page 9: Setembro | 2014

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ESCREVERARTIGO

Por Gilberto Wallace Battilana de Porto Alegre/RS*

ESCREVER SOBRE

*Contato: | [email protected] facebook.com/gilberto.ba�lana.

Escrevo o que não sei. Ao escrever, o que pretendo é arrancar-me da dúvida, da perplexidade, não para chegar a alguma resposta - não acredito em respostas - mas para preencher o vazio da vida com palavras. Não escrevo para os que tem certezas, antes para os perplexos, para os que, igual a mim, sabem só perguntar, assumindo suas contradições no abismo da sua indecisão entre tantos valores e verdades. Mas, sem medo.

A perplexidade é a forma mais aguda do pensamento, a reflexão,a mais passiva.Todo escritor tem a vontade de escrever sobre escrever. Tratar das suas relações com as palavras. Segundo Jean

Ricardou, mais que contar aventuras, há que contar a aventura de contar. Será necessário reflexionar sobre um instrumento para dele fazer uso? Sopesará um bisturí um médico, perguntando-se quantos gramas pesará, quanto mede a lâmina, ou usa-o ins�n�vamente, com a precisão que a sua formação e a prá�ca lhe conferiram? Este escrever sobre escrever não será uma demonstração da impossibilidade de fazê-lo?

Não tendo certezas, jogo com estas palavras fazendo do meu pensamento uma montanha - se preferirem, uma salada - russa.

O simples relatar já impede que o texto se feche à interpretação do leitor. Ao escrever um texto, este texto, estou pondo à prova, o meu conhecimento, a minha capacidade intelectual de compreensão e expressão, o meu entendimento do mundo e, afinal, de mim mesmo. Disponho o que penso saber, buscando o que pretendo descobrir, instaurando um novo conhecimento sobre o que narro, descrevo ou interpreto. Quem escreve, se não escrever a si mesmo em cada parágrafo, descobrindo-se, poderá ser um autor, não um escritor. Para ser um Autor basta publicar um livro, para ser um escritoré necessário muito mais que isso. E, acreditem-me, há mais Autores que escritores. Escrever é descobrir, descobrindo-se. Não deve ser inteiramente planejado sob pena de perder o viço. É o improviso que torna tenso e vivo um texto. Ao deparar-se, enquanto escreve, com algo que o surpreende é que o escritor surpreende o leitor. A imaginação, ao contrário da natureza, dá saltos. Quem se propõe a sofrear a sua imaginação, domando-a, conduzindo-a, em vez de se deixar levar por ela, não é um escritor, é um burocrata da palavra. Eu prefiro que a minha imaginação me assuste, corcoveie à beira de abismos, me transporte em seu lombo por caminhos desconhecidos, que nem pensava percorrer. Como escreveu Ernst Junger, em outro contexto: "Não fracassamos por causa dos nosso sonhos, mas por não sonhá-los com suficiente intensidade".

Permita-me, numa rápida interpolação dar um exemplo da imaginação agindo sobre a emoção e a necessidade de escrever: Walter Sco� caçava, quando a imaginação lhe sobrepõe à ação da caça uma cena do romance que escrevia. Esquece a presa que perseguia e, abatendo um corvo, arranca dele uma pena, faz uma ponta, mergulha no sangue da ave e, caçando a cena, escreve-a num pedaço da camisa que rasgou para tal fim. Eis a imaginação conduzindo a emoção e a ação. Eis o escritor.

Toda a obra de um ar�sta é forjada pela imaginação numa reação às suas circunstâncias. Não significa que seja confessional, mas quem escreve sem se mostrar no que escreve é um farsante, um forjador de falsas ficções. Daí o Autor, o que finge sen�r a dor que deveras não sente. Escritor, nos ensinou Fernando Pessoa, é aquele que finge sen�r a dor que deveras sente. E escrever é o que mais nos permite nos revelar escondendo-nos atrás de personagens. O ar�sta exprime das suas emoções aquelas que são comuns aos outros, nos diz, e bem, o Pessoa.

Nenhum escritor é inocente ou imparcial. Escolhe o seu tema, a forma como vai desenvolvê-lo; elege as palavras, distorce, sa�riza ou idealiza a realidade, conforme o seu propósito, desdenhando a isenção, para inventar um mundo, não com fatos, com um texto. Apropria-se do mundo através da linguagem, integrando o real inventado ao seu discurso. Não há quem escreva que não se deixe contaminar pelas imagens e o ritmo contagiante em que as palavras, sedutoras sereias - com s quais pretendemos seduzir o leitor - nos afogam. A linguagem, como fato sintá�co, semân�co, ou estrutural, é uma aliada que, quase sempre, nos trai; com a qual precisamos lutar para adequá-la às nossas necessidades ou às exigências do assunto. Devemos usar as palavras com o mesmo cuidado que tem os técnicos que lidam com nitroglicerina. Há, a cada vez, o perigo iminente de ofuscar, com o brilho delas, a clareza das ideias, ou obscurecer o que pretendemos expressar. Os textos obscuros são um seguro para quem não tem segurança em como expor a verdade de que se pensa detentor. Para que buscar num texto de ficção o emaranhamento filosófico, quando é muito pedir ao leitor comum além do que lhe é necessário para viver? Ele tem o seu emprego, a sua casa,a sua família; alguns, a amante, suas contas a pagar, o seu carro, a televisão, e sente-se feliz por ser enganado que tem uma vida, por não lhe sobrar tempo para pensar. Só a uns poucos desocupados é que se dá o luxo desse desespero.

Avancemos, vamos aos que confundem extravagância e excentricidade com originalidade, me permitam dizer-lhes que o original, o novo, de hoje, é o lugar-comum de amanhã. Querem originalidade? Procurem-na nos concursos de Escolas de Samba, lá existe esse quesito nota deeeez. Falando sério, quem consegue ler os exageros dos surrealistas ou concre�stas? Exceção àqueles que, mesmo sem o ismo, seriam quem são: um Louis Aragon, um Ferreira Gullar. A sede do novo quase nunca leva a uma ideia, mas a uma confusão delas.

Eu vejo cada frase como uma ponte estendida pela imaginação para atravessar os abismos das ideias e imagens, numa viagem sem mapas, tendo como referência apenas a delida imagem de um des�no final. O que pretendia Allan Poe ao afirmar que deveriamos ter o epílogo constantemente em vista para dar ao enredo seu aspecto indispensável de consequência ou causalidade? Ainda que, depois de Poe, alguns romances pareçam ser inconsequentes na sua intenção. Assim avanço até a�ngir esse des�no que me aponta um novo percurso, numa viagem em que as palavras me servem de apoio e obstáculo e que só terá fim com a minha morte. Nesse sen�do, escrever é um ato inú�l. Par�mos do desconhecido pretendendo a�ngir um ponto inalcançável. "Escrevi-lhe uma carta, de Praga e, depois outra, de Merano. Não recebi resposta". Assim escreve Ka�a, numa carta seguinte. E con�nua a escrever, mesmo sem receber resposta. Assim escreve todo escritor. Sem precisar de respostas, ainda que as aguarde. Escreve porque precisa, tem necessidade de escrever.

Escrever pode provocar prazer, um prazer que desafia o tempo, numa tenta�va de perpetuidade, como quando fazemos do sexo amor. A página escrita, o filho, são resultados com os quais desafiamos a morte. Sherazades nos contamos histórias com o propósito de enganar, de adiar a nossa morte. É, antes, mo�vado pela incompletude, pela insa�sfação, que alguém escreve. Em cada um que escreve há um vazio a ser preenchido com palavras. O ato de exis�r se especifica por aquilo que lhe falta, nos ensina Tomás de Aquino. O homem sa�sfeito, diria o homem comum - normal - não sente nenhuma necessidade de escrever, ele tem o futebol , a televisão. Escreveo insa�sfeito. Para quem apenas uma vida, esta, não basta. Há que inventar uma outra, a que escreve. E uma outra, em que aposta viver, através da sua obra, mesmo depois de morto. E a cada folha escrita, sem desis�r, sente a inu�lidade desse tentame.

Ao escrever, o escritor não estabelece nenhuma relação com o que lhe é alheio: editor, leitores. Só ao publicar é que cria este vínculo com o mundo crí�co. Como afirma Gumbrecht, o verdadeiro ar�sta dialoga com a sua obra, o impostor dialoga com o seu público.

Se neste texto encontrou o leitor contradições que o confundiram, saiba que o que mais faço é contradizer-me e confundir-me. Essa afirmação, como desenlace do leitor com o texto, é para que se considere mais lúcido que eu, o que nos fará bem a ambos.

"É espantoso que as pessoas não tenham encontrado uma linguagem para expressar a sua ignorância"

Witold Gombrowicz

Pinturas | Desenhos | Gravuras Fotografias |Esculturas Troféus Jóias-Esculturas Molduras | Restauros

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Porto Alegre | | | ARTES | Setembro 2014 4

Tudo vai

depender da

neve cair.

GRAPHIC NOVEL

Elisa & Simone

Por Cloveci Muruci de Porto Alegre/RS

Apoio Cultural :

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Outros Instrumentos

Plauto Cruz com

Engenho e ArtePor P aulinho Parada / Paulo F. Parada de Porto Alegre/RS

É com grande prazer que inauguro o espaço falando de Plauto Cruz (15/11/1929). Em cada edição do jornal

falaremos sobre música com um viés analí�co, buscando dialogar com o leitor e abordar assuntos

interessantes sobre personagens, gêneros e espaços musicais de Porto Alegre e, quem sabe, do mundo.

Atualmente, fui agraciado pelo FUMPROARTE, onde devo pesquisar O Universo Sonoro de Plauto Cruz e

desfrutarei da orientação do professor-doutor Reginaldo Gil Braga (UFRGS). Para não violar o inedi�smo da

pesquisa supracitada, escreverei aqui sobre vivências que par�lhei com meu amigo Plauto Cruz, além de

expor uma breve análise do álbum Engenho e Arte que o flau�sta gravou com Mário Barros. Quando eu �nha seis anos de idade, meu avô passou uma temporada na casa de meus pais e, nesse

mesmo ano, presenteou-me com o disco Engenho e Arte – que foi o primeiro Cd de música instrumental

que ouvi em minha vida. Já que eu era muito jovem, aquelas músicas me causaram certa estranheza e,

somente com o passar dos anos, consegui dedicar a atenção necessária para ouvir esse álbum. Hoje faz

pra�camente duas décadas que ganhei o disco, pude tornar-me músico e escritor graduado e,

evidentemente, a percepção sobre a música de Plauto Cruz é outra em relação à minha infância. Vamos para a breve análise do disco Engenho e Arte de Plauto Cruz e Mário Barros (1995). Já na

contra capa encontramos recomendações de Luiz Antônio de Assis Brasil: “nossos avós já sabiam: a música

de salão é a síntese da elegância e do refinamento sonoro. E quando executada por essas duas glórias da arte

brasileira, passa à categoria de celebração da vida”, seguido pelo comentário de Luiz Fernando Veríssimo:

“Não é sempre que se consegue fazer beleza e jus�ça ao mesmo tempo. Este disco faz as duas coisas.[...] E

que beleza de música!”. O disco mistura o popular, folclore e o dito “erudito”, encontramos tais

caracterís�cas nas versões e contrastes de Tico Tico no Fubá (Zequinha de Abreu) e de Serenata (Franz

Schubert), em Engenho e Arte (Plauto Cruz) e Romance de Amor (Antonio Rovira), O Rio e eu (Mário Barros)

e El Condor Pasa do folclore Andino, Roman�ssimo (Plauto Cruz) e Casinha Pequenina (domínio público),

Porto dos casais (Jaime Lublanca) e Carnavalito (folclore Andino), Czardas (W. Mon�) e a belíssima valsa

Juliana (Plauto Cruz), Greensleeves, an�ga canção europeia nunca registrada por ninguém. O disco encerra

com J. S. Bach e Gounod, Ave Maria. É interessante ressaltar e perceber: as regravações são versões. Na

música de concerto é tradição seguir rigorosamente as par�turas – não é uma regra – mas é a tradição. Para

quebrar um pouco a tradição, as escolhas foram rigorosamente selecionadas, Plauto confidenciou-me:

“Mário Barros é exigente com as versões”. Por exemplo: não é comum ouvir uma flauta em Romance de

Amor, peça que foi escrita originalmente para violão solo. Mas quando ouvimos Plauto Cruz tocar sua flauta

onde originalmente não se escreveu flauta, compreendemos a jus�fica�va da escolha de repertório do disco

– as versões foram trabalhadas com sabedoria e não é à toa, pois em 1995 os dois músicos estavam no auge

da técnica e experiência. Não consigo observar pontos nega�vos: é di�cil comentar um álbum que foi feito

por músicos já virtuoses quando minha mãe estava nas fraldas. Nesse tempo que passou com pressa, fiz amizade com Plauto. Gravamos juntos meu primeiro disco

(Paulinho Parada, Minhas Águas de 2007) e realizamos apresentações. Esse meu amigo flau�sta está com 84

anos de idade, ao lado de Altamiro Carrilho fez a história do instrumento da flauta e da música brasileira

durante a segunda metade do século XX. Sempre com carinho e humildade, Plauto me dizia: “a vida é mais

feliz quando fazemos amigos”. Ouvir Plauto Cruz é ouvir uma flauta tocada com técnica, sen�mento e

su�leza: Altamiro elogiava o som delicado produzido por Plauto. Não é segredo que o personagem desse

texto tocou com Lupicínio Rodrigues, Elis Regina, Vicente Celes�no, Nelson Gonçalves, Túlio Piva, Yamandú

Costa e muitos outros ar�stas de nossa música, venceu e par�cipou de inúmeros fes�vais, além de ter

integrado como flau�sta �tular os regionais de choro nas rádios Itaí (1952-1956), Farroupilha (1956-1961),

Gaúcha (1961-1964) e Rádio Clube Paranaense de Curi�ba (1969). Durante os shows que Plauto tocou ao meu lado sempre ouvi sua frase ao final do show: “Essa não é

a úl�ma. É a penúl�ma. A úl�ma é quando a gente capota, amanhã tem mais”. Hoje Plauto está afastado da

música devido à sua saúde, vivendo em sua casa com muitos dengos e cuidados de sua família sempre

amorosa. Parafraseando meu novo e velho amigo da flauta: amanhã tem mais! Para ilustrar o texto

contamos com a foto de meu amigo Achu� e a revisão da professora Natalina Oliveira.

Foto: Achu�

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