serviÇo social e a questÃo urbana: um estudo sobre a acessibilidade e mobilidade da pessoa com...

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FACULDADE UNIÃO DAS AMÉRICAS CURSO DE SERVIÇO SOCIAL SERVIÇO SOCIAL E A QUESTÃO URBANA: UM ESTUDO SOBRE A ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO CONJUNTO HABITACIONAL LAGOA DOURADA EM FOZ DO IGUAÇU ZENAIDE DA SILVA DOS SANTOS Foz do Iguaçu-PR Novembro, 2012

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FACULDADE UNIÃO DAS AMÉRICAS

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

SERVIÇO SOCIAL E A QUESTÃO URBANA: UM ESTUDO SOBRE A

ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO

CONJUNTO HABITACIONAL LAGOA DOURADA EM FOZ DO IGUAÇU

ZENAIDE DA SILVA DOS SANTOS

Foz do Iguaçu-PR

Novembro, 2012

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ZENAIDE DA SILVA DOS SANTOS

SERVIÇO SOCIAL E A QUESTÃO URBANA: UM ESTUDO SOBRE A

ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO

CONJUNTO HABITACIONAL LAGOA DOURADA EM FOZ DO IGUAÇU

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Curso de Serviço Social da Faculdade União das

Américas como requisito parcial para a obtenção

do título de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora:

Prof.MSc.Maria Geusina da Silva

Foz do Iguaçu – PR

Novembro, 2012

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ZENAIDE DA SILVA DOS SANTOS

SERVIÇO SOCIAL E A QUESTÃO URBANA: UM ESTUDO SOBRE A

ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO

CONJUNTO HABITACIONAL LAGOA DOURADA EM FOZ DO IGUAÇU

Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado como requisito parcial para a

obtenção do grau de Bacharel no curso de Serviço Social da Faculdade União das Américas.

Foz do Iguaçu, 23 novembro de 2012.

____________________________________

Prof. MSc. Juliana Domingues

Coordenadora do Curso de Serviço Social

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________

Prof. MSc. Maria Geusina da Silva (Orientadora)

Faculdade União das Américas

____________________________________

Prof. Esp. Caroline Santana Ribeiro (Examinador I)

Faculdade União das Américas

__________________________________

Prof. MSc. Elias de Sousa Oliveira (Examinador II)

Faculdade União das Américas

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Dedico a Deus e a minha Família, meu

esposo, meu filho, meu pai e minha mãe, e irmão

(in memoriam) e minha irmã.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a DEUS pela força, coragem, sabedoria e inteligência que me deu durante

esses quatros anos de estudo. Sempre que me sentia aflita, nervosa e achava que não tinha

mais condições de seguir em frente, falava com ele em minhas orações e colocava todas as

minhas angústias em suas mãos e, quando menos esperava, surgia uma solução para o

problema; bem-aventurado aquele que teme ao SENHOR e anda nos seus caminhos.

Agradeço ao meu esposo Joselito que esteve incondicionalmente ao meu lado,

apoiando-me dizendo que tudo ia da certo: faltam três anos, você me dizia, agora faltam dois

anos e, finalmente, falta só mais um ano, você vai conseguir, e inteligente, eu acredito em

você. Essas palavras me motivaram a seguir em frente, mesmo diante das dificuldades que

não foram poucas, mas o sonho de se tornar assistente social persistiu e, graças a seu apoio,

amor e paciência, esta realização se concretiza. Obrigada por tudo, meu amor, eu te amo.

Ao meu filho Thiago, por entender este processo de formação onde precisei me

ausentar e deixar de participar de muitas coisas em sua vida. Quero lhe dizer que seu sorriso,

seu olhar e seu abraço me motivaram sempre a seguir em frente; até suas reclamações, por

que percebia o quanto era importante eu não desistir porque assim você teria em quem pensar

e se espelhar no seu momento de formação que, eu espero se realize. Obrigada pelo seu amor,

carinho e paciência. Eu amo do fundo do coração.

Aos meus pais que me apoiaram e me ajudaram neste processo de formação; minha

mãe Tereza sempre orando por mim para que eu vencesse essa luta árdua, muitas vezes nem

precisava falar, só o abraço que recebia era o suficiente para continuar lutando. Meu pai

Lourenço, que sempre demonstrou força na sua vida, me serviu de exemplo para nunca

desistir dos meus objetivos, Obrigada por serem meus pais, amos vocês muito.

À minha irmã Zeli que, mesmo sem falar, sei que torceu por mim. Somos diferentes,

eu falo muito, você, minha irmã, fala pouco, mas sei o quanto nos amamos. Ao meu irmão

Volmir (in memoriam) que em seus vinte e oito anos de vida esteve do meu lado me

cuidando, protegendo, sorrindo, brincando , brigando e chorando, enfim, quantas coisas boas

e divertidas vivemos juntos, tivemos momentos tristes que foram superados, hoje eu sei que

se estivesse conosco estaria feliz e orgulhoso de mim, assim como eu sempre tive orgulho de

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você. Infelizmente são dez anos sem sua presença, mas diante da morte, não há o que fazer.

Sinto saudades, falta do seu abraço e do seu olhar, vou te amar eternamente.

À minha grande amiga Marilene que, ao longo desses quatros anos, estivemos juntas,

dividindo angústias, alegrias e tristezas. Foram momentos inesquecíveis na sala de aula em

nossas idas a palestras nas semanas acadêmicas e ao V seminário de serviço social. Espero

que, após essa nossa jornada continuemos amigas e, mesmo que estejamos em outra cidade-

como diz nossa professora Geusina: não somos nós que escolhemos o campo de trabalho,

mais sim o campo que nos escolhe espero que possamos continuar a nos falar. Tenho orgulho

em dizer que você é minha colega de profissão.

Quero deixar registrado o meu agradecimento a todas (os) os colegas de turma; não

vou citar nomes por serem muitos. Foram quatro anos juntos neste processo de formação,

realizando trabalhos em grupos, discutindo textos, rindo, chorando, mas, acima de tudo, fortes

para vencer essa luta. Cada uma ou cada um de vocês tem em minha mente uma lembrança

especial.

Quero agradecer minha supervisora de campo, Cátia, que me ensinou muito. Tive a

alegria de ser sua estagiária e de poder conhecer você como profissional comprometida com

seu trabalho e dedicada no que faz, organizada se programando em tudo que vai fazer e,

quando faz é perfeito. Como pessoa é alegre, sorridente e motiva as pessoas com seu alto

astral. Obrigada pela compreensão nos momentos de prova, de realizar trabalhos e na

construção do TCC. Estará em minhas lembranças sempre. Espero que, para além do espaço

de estágio continuemos a nos falar. Para você pode ter sido tão pouco, mas para mim foi tudo!

Agradecerei a você sempre e sempre, por toda a minha vida, por tudo que me ensinou.

À Veridiana que nos recebeu com um lindo sorriso no espaço de estágio. Com sua

compreensão e seu jeito simples de ser nos ensinou a ser fortes diante de qualquer situação.

Obrigada pelas vezes que nos liberou para estudarmos para provas e realizar trabalhos, entre

outras coisas. Sua alegria de viver contagia e faz acreditar em dias melhores.

Mirtes obrigada pela sua compreensão e carinho; Sandra, obrigada por essa pessoa

especial que e. Chegou tímida mais fazendo a diferença com sua força de vontade e

determinação. Saiba que, para além do espaço de estágio estaremos sempre nos falando, pois

a considero minha amiga.

À minha orientadora Geusina o que falar diante de uma pessoa tão especial, tão

inteligente, compreensiva, paciente, atenciosa e exigente. Há dois anos você me acompanha

nesta jornada; foram tantas as coisas que dividi com você, tantas angústias, alegrias e aflições,

mas que com seu jeito simples de ser e de ensinar, me deixava tranquila depois de falar

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algumas palavras. Às vezes, eu só precisava olhar para você e me sentia segura e com força

para continuar em frente. Obrigada por tudo. Saiba que tenho enorme consideração por você e

muito orgulho de estar quatro anos apreendendo através de suas ilustres aulas e seu grandioso

conhecimento. Você e exemplo a ser seguido. Não há conquistas fáceis, são as estradas

sinuosas que levam ao caminho certo. O profissional, em qualquer ofício, alcançará o triunfo

a partir de um espírito tenaz, forte, obstinado. Assim é você Geusina.

Agradeço também aos professores que, ao longo desses quatro anos, estiveram ao

nosso lado mostrando caminhos, ensinando conteúdos, exigindo o mínimo de compreensão

nossa em cada disciplina. Caroline com seu jeito meigo e sorridente, com muita vontade de

ensinar, passou, de forma brilhante, todo seu conhecimento. Roseane, professora espetacular,

nos deu a liberdade de fazer escolhas em relação aos trabalhos realizados em sala, e assim

mostrou que sempre estava atenta a tudo que acontecia. Juliana, com sua forma apaixonante

de ensinar, transmitiu toda sua sabedoria através de seus conteúdos. Sueli seria, às vezes,

descontraída. Passou de forma esplendida seu conhecimento. Elias, apaixonado pelo que faz,

transmitiu toda energia positiva possível em suas aulas. Rosemery, meiga e tímida, passou de

forma simples aquilo que precisávamos aprender. Ana Paula, com seu jeito exuberante,

alegre, transmitiu seu conteúdo de aula de forma espetacular. Keila, com todo seu jeito

especial de ser, de forma carinhosa nos ensinou muito. Solange, com seu jeito avassalador e

com grande conhecimento, nos deu grande ensinamento. Obrigado a todos por

compartilharem seus conhecimentos conosco.

Quero agradecer ainda a todos os meus amigos parentes e colegas que torceram por

mim nesta jornada que, mesmo distantes telefonaram, perguntaram e enviaram e-mail. Saibam

que, muitas vezes, isso me motivou a seguir em frente. Obrigada de coração.

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“Tudo o que era sólido se desmancha no ar,

tudo o que era sagrado profanado, e as pessoas são

finalmente forçadas a encarar com serenidade sua

posição social e suas relações recíprocas”. Karl

Marx.

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SANTOS, Zenaide da Silva dos. SERVIÇO SOCIAL E A QUESTÃO URBANA: UM

ESTUDO SOBRE A ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE DA PESSOA COM

DEFICIÊNCIA NO CONJUNTO HABITACIONAL LAGOA DOURADA EM FOZ DO

IGUAÇU. 2012 73 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Serviço Social). Faculdade

União das Américas – UNIAMÉRICA, Foz do Iguaçu-PR.

RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso teve como objetivo indagar sobre o serviço social e

a questão urbana, um estudo sobre a acessibilidade e mobilidade da pessoa com deficiência no

conjunto habitacional Lagoa Dourada em Foz do Iguaçu. Atentou verificar se existe e quais

são as condições de acessibilidade e mobilidade da pessoa com deficiência, moradora do

conjunto habitacional. A pesquisa realizou-se com os moradores cadeirantes do conjunto

habitacional Lagoa Dourada em Foz do Iguaçu, que são atendidos pelo projeto social de

desfavelamento urbano do município de Foz do Iguaçu. Para tanto, a pesquisa abordou o

serviço social e o planejamento urbano no Brasil, com breves considerações sobre a questão

urbana, perpassando a discussão sobre a questão urbana no cenário mundial. Ainda

considerou a habitação no Brasil e a acessibilidade e atuação do assistente social no resguardo

da pessoa com deficiência no acesso do direito à cidade. Neste sentido, podemos dizer que

esta pesquisa procurou contribuir para a instituição Foz Habita rever a forma de planejamento

arquitetônico no momento da construção de novos conjuntos habitacionais, para que não

aconteça a mesma falha que ocorreu no conjunto habitacional Lagoa Dourada, no qual falta

acessibilidade e mobilidade para pessoas com deficiência.

Palavra-Chave: Serviço Social; Questão Urbana; Acessibilidade.

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SANTOS, Zenaide da Silva dos. SOCIAL SERVICE AND THE URBAN QUESTION: A

STUDY ON THE ACCESSIBILITY AND MOBILITY OF THE DISABLED PERSON AT

GOLDEN POND HOUSING ESTATE IN FOZ DO IGUAÇU. 73 p. 2012 monography

(Social Service). Union College of the Americas - UNIAMÉRICA, Foz do Iguaçu-PR.

ABSTRACT

This dissertation aimed to inquire about the social service and the urban question, a study on

the accessibility and mobility of the disabled person at Golden Pond housing estate in Foz do

Iguaçu. He check if exists and what are the conditions of accessibility and mobility of the

disabled person, resident of the housing project. The research was conducted with the

residents of wheelchair accessible housing Dourada in Foz do Iguacu, which are serviced by

social project of urban desfavelamento of the municipal of Foz do Iguaçu. To this end, the

research has addressed the social and urban planning service in Brazil, with brief

considerations about the urban question, bypassing the discussion on the urban question on

the world stage. Still considered the housing in Brazil and the accessibility and performance

of social worker in the guard of disabled person access the right to the city. In this sense, we

can say that this research finding.

Keywords: Social Work; Urban Accessibility Issue.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11

1 SERVIÇO SOCIAL E PLANEJAMENTO URBANO NO BRASIL: BREVES

CONSIDERAÇÕES ............................................................................................................... 15

1.1 QUESTÃO URBANA E PLANEJAMENTO URBANO NO BRASIL: DOIS TEMAS E

UM MESMO ENFOQUE ......................................................................................................... 15

1.2 SERVIÇO SOCIAL, POLITICA DE HABITAÇÃO E O DIREITO À CIDADE:

CONSIDERAÇOES SOBRE A INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL. .................................. 26

22 HABITAÇÃO SOCIAL NO BRASIL E A ACESSIBILIDADE: A ATUAÇÃO DO

ASSISTENTE SOCIAL NO RESGUARDO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO

ACESSO DO DIREITO Á CIDADE .................................................................................... 36

2.1 A POLITICA DE HABITAÇÃO COMO LÓCUS DE INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE

SOCIAL, O CASO DOS PROGRAMAS DE HABITAÇÃO SOCIAL. .................................. 36

2.2 O DIREITO À CIDADE E À ACESSIBILIDADE ............................................................. 44

2.2.1 Os Programas de Habitação Social e a Atenção às Pessoas com Deficiência ........... 44

3 A MUNICIPALIZAÇÃO DOS PROGRAMAS HABITACIONAIS DE INTERESSE

SOCIAL: O CASO DO INSTITUTO DE HABITAÇAO DE FOZ DO IGUAÇU. .......... 52

3.1 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE HABITAÇÃO DE FOZ DO IGUAÇU

.................................................................................................................................................. 52

3.2 SERVIÇO SOCIAL E ACESSIBLIDADE ......................................................................... 55

3.2.1 Reflexões sobre o resguardo do direito às diferenças ................................................. 55

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 67

REFERENCIAS ..................................................................................................................... 69

APÊNDICES ........................................................................................................................... 71

APÊNDICE I ........................................................................................................................... 72

APÊNDICE II ......................................................................................................................... 73

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INTRODUÇÃO

No acompanhamento dos trabalhos realizados pelas assistentes sociais na Instituição

Foz Habita, durante o processo de estágio supervisionado obrigatório e não obrigatório em

serviço social, no qual desenvolvíamos atividades de atendimentos ás famílias, com visitas

domiciliares e outras atividades vinculadas ao serviço social algumas inquietações surgiram.

Nas visitas domiciliares ao Conjunto Habitacional Lagoa Dourada, percebeu-se um

número significativo de pessoas com deficiência que despertaram a curiosidade em saber o

porquê do número elevado de inserção de pessoas com deficiência em um mesmo conjunto

habitacional, considerando que, no momento, havia dois conjuntos habitacionais em

construção.

Através de informações e pesquisa, descobriu-se que este número significativo de

pessoas com deficiência inseridos no conjunto habitacional Lagoa Dourada estava vinculada a

novas determinações legais da politica nacional de habitação e ao estatuto da cidade que

regulamenta a destinação de cinco por cento das casas construídas nessas unidades

habitacionais para as pessoas com deficiências, que possuem o direito de serem assistidas

mediante a contemplação com uma moradia em cada empreendimento residencial.

Tendo conhecimento das questões apresentadas, buscou-se averiguar se as moradias

concedidas às pessoas com deficiência apresentavam infraestrutura física que garantisse

mobilidade e acessibilidade ao deficiente no conjunto habitacional Lagoa Dourada.

Diante do exposto, tomamos como problema de pesquisa a seguinte indagação: existe

e quais são as condições de acessibilidade e mobilidade da pessoa com deficiência moradoras

do Conjunto Habitacional Lagoa Dourada em Foz do Iguaçu?

Para desvelar o problema de pesquisa, formulamos como objetivo geral; Desvelar e

Caracterizar se existe e quais são as condições de acessibilidade e mobilidade da pessoa com

deficiência moradoras do Conjunto Habitacional Lagoa Dourada em Foz do Iguaçu. Este

objetivo desdobrou-se nos objetivos específicos que demonstrassem os caminhos que

auxiliariam no processo de compreensão do problema de pesquisa, e permitisse alcançar o

objetivo geral proposto. Assim, delimitamos em quatro os objetivos específicos necessários a

tal atividade, que são: categorizar e caracterizar as pessoas com deficiência contempladas no

Projeto de Desfavelamento Lagoa Dourada; apontar qual o papel do serviço social no

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resguardo do acesso ás condições de mobilidade e acessibilidade das pessoas com deficiência

nos conjuntos habitacionais; identificar e descrever se a moradia corresponde às necessidades

das pessoas com deficiência; estabelecer os nexos existentes entre a acessibilidade e a

mobilidade no desenvolvimento da autonomia na superação das limitações incapacitantes que

obstaculizam a inserção e participação da pessoa com deficiência na vida comunitária.

Após essa ação, buscou-se construir o percurso metodológico que permitisse um

diálogo com a realidade, no sentido de permitir captar o movimento do fenômeno em análise

na dimensão proposta e requisitada pela particularidade do objeto de pesquisa em questão.

A forma de abordagem da pesquisa foi o método qualitativo, que tende a verificar uma

relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o

mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. É o que

se aplica ao estudo da história das relações, das representações, das crenças, das percepções e

das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem,

constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam. (MINAYO, 2007, p. 57).

A pesquisa qualitativa para Minayo (2007) tem fundamento teórico além de permitir

desvelar processos sociais ainda pouco conhecidos referentes a grupos particulares, propicia à

construção de novas abordagens, revisão e criação de novos conceitos e categorias durante a

investigação, caracteriza-se pela empiria e pela sistematização progressiva de conhecimento

ate a compreensão da lógica interna do grupo ou do processo em estudo.

Ainda optou-se pela pesquisa de campo, pois ela procede à observação de fatos e

fenômenos exatamente como ocorrem no real, à coleta de dados referentes aos mesmos e,

finalmente, à analise e interpretação desses dados, com base numa fundamentação teórica

consistente, objetivando compreender e explicar o problema pesquisado. Para Miayo (2007), a

pesquisa de campo é o recorte espacial que diz respeito à abrangência, em termos empíricos,

do recorte teórico correspondente ao objeto da investigação.

Na técnica de instrumentos será abordada a pesquisa documental trazendo resultado a

um produto compreensivo que não e realidade concreta e sim uma descoberta construída com

todas as disposições em mãos (GIL, 1999, p. 119), a entrevista estruturada têm por finalidade

colocar as perguntas fechadas, que apresenta uma relação padronizada e fixa de perguntas

(questionário ou formulário), cuja ordem e redação permanecem invariáveis para todos os

entrevistados.

Utilizamos ainda, como procedimentos técnicos, a pesquisa bibliográfica, que Gil

define como “pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado,

constituído principalmente de livros e artigos científicos”. (GIL, 2009, p. 44).

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Para a coleta de dados, optou-se por entrevista com sujeitos que, de alguma forma têm

vinculação com a categoria acessibilidade. O universo da pesquisa foram trezentas e

cinquenta famílias e, destas foram selecionadas como, amostra, onze pessoas com deficiência,

entrevistadas seis. A escolha de perguntas estruturadas se deu porque a mesma “constitui a

técnica mais adequada para a coleta de dados em pesquisas de opinião pública” (GIL, 2009,

pag, 119), ou seja, quando se trata de recolher um tipo de opinião de um

público/grupo/comunidade específica. Além disso, considerou-se o que ressalta Gil (2009), ao

tratar da aplicação do formulário, entendendo que “há que considerar que na aplicação deste,

o pesquisador está presente e é ele quem registra as respostas”.

A aplicação do formulário foi realizada durante três dias seguidos no período

vespertino; às idas ao campo de pesquisa eram somente para a coleta de dados. Para

segurança dos entrevistados e do pesquisador, os sujeitos assinaram o termo de consentimento

livre esclarecido. No caso, não havia nem um entrevistado analfabeto e não foi necessário

usar a coleta digital.

Após concluir esta etapa, realizou-se a estruturação, sistematização e redação do

trabalho, que apresenta a seguinte composição: no primeiro capítulo, abordou-se a questão

urbana e o planejamento urbano no cenário mundial, componentes de um mesmo tema, que

tem sido discutida desde o surgimento das primeiras cidades. Perpassou-se pela discussão

sobre a urbanização no Brasil que está relacionada com a socialização das condições gerais da

produção capitalista discutidas por Marx, conhecidas e estabelecidas na Revolução Industrial.

Trata-se dos fenômenos do maquinismo, da acumulação capitalista, e da consolidação do

capitalismo industrial. Entendendo ser necessário, foi realizada, a discussão sobre a origem do

serviço social como profissão, que tem seu traço profundo no capitalismo e no conjunto de

variáveis que a ele estão subjacentes: alienação, contradição e antagonismo, pois foi nesse

vasto caudal que ele foi engendrado e desenvolvido. Burguesia, Igreja e Estado uniram-se em

um pacto e reacionário bloco político, tentando coibir as manifestações dos trabalhadores

eurocidentais para impedir suas práticas de classe e abafar sua expressão política e social.

A partir daí dar-se-á a discussão, no segundo capítulo, sobre a situação habitacional

urbana no Brasil na virada do século XXI, que demonstrará um quadro dramático o problema

habitacional brasileiro no período em que se formulou o Projeto Moradia. Dando sequência à

discussão, perpassou-se sobre o direito à cidade, que está ligado há diversos movimentos

sociais que se organizam para reivindicar direitos considerados fundamentais para o livre

desenvolvimento das potencialidades humanas. Tais direitos, porém, são sistematicamente

negados às classes subalternas, postas à margem da cidade, de seus serviços e dos bens sociais

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que produz, em nome dos interesses de pequenos grupos de uma elite privilegiada,

historicamente detentora do poder político.

Entendeu-se ainda ser necessário perpassar pela discussão sobre a deficiência que é

entendida quando há redução, limitação ou inexistência das condições de percepção das

características do ambiente ou de mobilidade e de utilização de edificações, espaço,

mobiliário, equipamento urbano e elementos, em caráter temporário ou permanente, a pessoa

com deficiência e quem possui limitação ou incapacidade para o desempenho de atividades.

O terceiro capítulo efetivou a discussão da institucionalização da política de habitação

no município de Foz do Iguaçu. Realizou-se breve consideração sobre a política de habitação

a nível Brasil no início do século XX cuando, devido ao rápido processo de industrialização,

as cidades atraíram grande parte da população, inexistindo políticas habitacionais que

impedissem a formação de áreas urbanas irregulares e ilegais; as áreas ocupadas ilegalmente

eram expressões diretas da ausência de políticas de habitação social. As políticas

habitacionais propostas foram, em sua maioria, ineficazes devido a diversos fatores políticos,

sociais, econômicos e culturais. O resultado desse processo é que, atualmente, mais de 82%

da população brasileira é urbana. Dando ênfase à política de habitação na cidade de Foz e a

seus respectivos programas habitacionais, adentrou-se ainda na discussão das instituições de

habitação que o município implantou na tentativa de diminuir o déficit habitacional existente

na cidade.

Trouxemos ainda o desenvolvimento e crescimento da cidade a partir da instalação da

Itaipu Binacional e os respectivos problemas que acarretou à cidade foi trazido através do

processo de efetivação da usina na cidade. Ainda neste terceiro capítulo, o resultado da

pesquisa realizada com os sujeitos envolvidos com algum tipo de deficiência do conjunto

Habitacional Lagoa Dourada, e, posteriormente, foi realizado o processo de análise dos dados

e a interpretação das respostas dos sujeitos através do referencial teórico. Finalizou-se com as

considerações finais que indicam elementos determinantes para as pessoas que têm algum tipo

de deficiência, no caso, os cadeirantes.

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1 SERVIÇO SOCIAL E PLANEJAMENTO URBANO NO BRASIL: BREVES

CONSIDERAÇÕES

1.1 QUESTÃO URBANA E PLANEJAMENTO URBANO NO BRASIL: DOIS TEMAS E

UM MESMO ENFOQUE

A questão urbana e o planejamento urbano no cenário mundial são componentes de

um mesmo tema e têm sido discutidas desde o surgimento das primeiras cidades, como a

Mesopotâmia (atual Iraque), e depois de construídas as cidades do Vale do Nilo, do Indo, da

região mediterrânea, da Europa, da China e do Novo Mundo. Embora as primeiras cidades

tenham emergido há mais de 3.500 anos a.C, foi com o processo de urbanização na idade

moderna que iniciou-se o acirramento dessas discussões, datando-se século XVIII com a

revolução industrial. (ROSENDO, 2008, p. 1).

A migração de massas humanas das áreas agrícolas para as proximidades das fabricas,

no contexto da revolução industrial provocou o crescimento das populações urbanas,

favorecendo o surgimento de favelas1, a piora das condições de saúde e, consequentemente, o

aumento da mortalidade. A urbanização na Europa pode ser compreendida resultante do

processo de transferência das pessoas do meio rural, campo, para o meio urbano, cidade, em

busca de melhores condições de vida e de trabalho. (ROSENDO, 2008, p. 1 ).

Assim, a ideia de urbanização está intimamente associada à concentração de muitas

pessoas em um espaço restrito na cidade e á substituição das atividades primárias

agropecuárias por atividades secundárias indústrias e terciárias e serviços. Por se tratar de um

processo, costuma-se conceituar urbanização como sendo o aumento da população urbana em

1 Favela e considerada um território que faz parte da cidade e está caracterizada da seguinte forma: insuficiência

histórica de investimentos do Estado e do mercado formal, principalmente o financeiro e o de serviços; forte

estigmatização sócio espacial, especialmente inferida por moradores de outras áreas da cidade; níveis elevados

de subemprego e informalidade nas relações de trabalho; edificações predominantemente caracterizadas pela

autoconstrução que não se orientam pelos parâmetros definidos pelo Estado; aapropriação social do território

com uso predominante para fins de moradia; indicadores educacionais, econômicos e ambientais abaixo da

média do conjunto da cidade; ocupação de sítios urbanos marcados por um alto grau de vulnerabilidade

ambiental; grau de soberania por parte do Estado inferior à média da cidade; alta densidade de habitações no

território; taxa de densidade demográfica acima da média do conjunto da cidade; relações de vizinhança

marcadas por intensa sociabilidade, com acentuada valorização dos espaços comuns como lugar de encontro; alta

concentração de negros (pardos e pretos) e descendentes de indígenas, de acordo com a região brasileira.

(BARBOSA, 2009).

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relação à população rural e, nesse sentido, só ocorre urbanização quando o percentual de

aumento da população urbana é superior ao da população rural. (ROSENDO, 2008, p. 1).

Inglaterra foi o primeiro país do mundo a se urbanizar; em 1850 já possuindo mais de

50% da população urbana. No entanto, a urbanização acelerada da maior parte dos países

desenvolvidos e industrializados somente ocorreu a partir da segunda metade do século XIX.

Nesse sentido, quanto mais tarde um país se torna industrializado tanto mais rápida é sua

urbanização. Observe esses dados segundo Rosendo, (2008, p. 2).

Em 1900 existiam no mundo dezesseis cidades com população superior a 1 milhão

de habitantes dessa somente duas (Pequim e Calcutá) pertenciam ao Terceiro Mundo

Em 1950 havia vinte cidades no mundo com população superior a 2,5 milhões de

habitantes dessas apenas seis (Xangai, Buenos Aires, Calcutá, Bombaim, Cidade do

México e Rio de Janeiro) estavam situadas no Terceiro Mundo. Observação à cidade

de São Paulo nem constava dessa lista. Para o ano 2000, as estimativas mostram

que, das 26 aglomerações urbanas com mais de 10 milhões de habitantes, nada

menos que vinte delas estarão no Terceiro Mundo. A maior aglomeração urbana

mais populosa do mundo será a Cidade do México com 32 milhões de habitantes, o

equivalente à população da Argentina em 1990. São Paulo aparece como a segunda

aglomeração urbana, com 26 milhões de habitantes.(ROSENDO, 2008, p. 3).

Considerando-se os vários agrupamentos de países, a situação urbana pode ser

simplificada como países capitalistas desenvolvidos; a maior parte desses países já atingiu

índices bastante elevados e praticamente máximos de urbanização. A tendência, portanto, é de

estabilização em torno de índices entre 80 e 90%, embora alguns já tenham ultrapassado os

90%. Nos países capitalistas subdesenvolvidos e industrializados, a recente e mais rápida

industrialização gerou desequilíbrio das condições e da expectativa de vida entre a cidade e o

campo, resultando num rapidíssimo processo de urbanização, porém com consequências

muito drásticas: subemprego, mendicância, favelas, criminalidade etc. (ROSENDO, 2008, p.

2).

De acordo com o mesmo autor, isso ocasiona a deterioração das condições de vida em

função do desenvolvimento dos setores secundário2 e terciário

3 que não acompanharam o

ritmo da urbanização, além da total carência de uma firme política de planejamento urbano.

Em alguns desses países, verifica-se taxas de urbanização iguais e até superiores às de países

2 O setor secundário da economia é o conjunto de atividades que envolvem transformação de alimentos e

matérias primas através dos mais variados processos produtivos. Normalmente, se incluem neste setor a

siderúrgica, as indústrias mecânicas, a química, as têxteis, a produção de bens de consumo, o hardware

informático, etc. (MORAES 2010, p. 1 ). 3 Setor Terciário é o setor econômico relacionado aos serviços. Os serviços são produtos não materias que

pessoas ou empresas prestam a terceiros para satisfazer determinadas necessidades. Como atividades econômicas

deste setor econômico podemos citar: comércio, educação, saúde, telecomunicações, serviços de informática,

seguros, transporte, serviços de limpeza, serviços de alimentação, turismo, serviços bancários e administrativos,

transportes, etc. (MORAES 2010 p. 1).

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desenvolvidos, embora, com raras exceções, a urbanização dos países subdesenvolvidos se

apresente em condições extremamente precárias como, por exemplo, favelas e cortiços.

Acrescenta o autor que países subdesenvolvidos não industrializados, em virtude do

predomínio das atividades primárias4 apresentam, em sua grande maioria, baixos índices de

urbanização a exemplo dos países socialistas relativamente pouco urbanizados. A razão

fundamental disso é a planificação estatal da economia que tem permitido ao Estado controlar

e direcionar os recursos (investimentos), podendo assim exercer maior influência na

distribuição geográfica da população. Os índices da população urbana dos países socialistas

desenvolvidos são semelhantes aos dos subdesenvolvidos industrializados.

Hoje quase metade da população mundial vive em cidades, e a tendência é aumentar

cada vez mais a cidade subordinou o campo e estabeleceu uma divisão de trabalho

segundo a qual cabe a ele fornecer alimentos e matérias-primas a ela, recebendo em

troca produtos industrializados, tecnologia etc. Mas o fato de o campo ser

subordinado à cidade não quer dizer que ele perdeu sua importância, pois não

podemos deixar de levar em conta que por não ser auto-suficiente, a sobrevivência

da cidade depende do campo quanto maior a urbanização maior a dependência da

cidade em relação ao campo no tocante à necessidade de alimentos e matérias-

primas agrícolas, (ROSENDO ,2008, p. 3).

A discussão sobre a urbanização no Brasil está relacionada com a socialização das

condições gerais da produção capitalista discutidas por Marx, conhecidas e estabelecidas na

Revolução Industrial. Trata-se dos fenômenos do maquinismo e acumulação capitalista, e da

consolidação do capitalismo industrial. O processo de urbanização, na reflexão do mesmo

autor, além de ser dado pela socialização das forças produtivas consecutivas ao

desenvolvimento da mais valia relativa, não está em absoluto limitado á forma do trabalho

coletivo no local da produção. Para Marx, esse conceito de socialização estende-se de fato ao

conjunto da produção do capital social, com mais qualidade, pode-se dizer que ela abrange

simultaneamente a divisão técnica do trabalho na oficina e na divisão do trabalho no conjunto

de uma sociedade.

Marx discorre em o Capital que o modo de produção capitalista é obrigado á

revolucionar incessantemente seus meios de produção para aumentar a parte do

trabalho excedente com relação ao trabalho necessário, longe de ser pura

4 O setor primário está relacionado à produção através da exploração de recursos da natureza, podendo citar

como exemplos de atividades econômicas do setor primário, agricultura, mineração, pesca, pecuária,

extrativismo vegetal e caça. É o setor primário que fornece a matéria-prima para a indústria de transformação.

Este setor da economia é muito vulnerável, pois depende muito dos fenômenos da natureza como, por exemplo,

do clima, da produção e exportação de matérias-primas. Não gera muita riqueza para os países com economias

baseadas neste setor econômico, pois estes produtos não possuem valor agregado como ocorre, por exemplo,

com os produtos industrializados. (MORAES,2010, p. 1).

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necessidade técnica, o aumento da produtividade é imprescindível ao

desenvolvimento da acumulação capitalista. (LOJKINE, 1997, p. 144).

Lojkine afirma que, apesar de Marx não ter formulado uma teoria sobre a urbanização,

essa se apresenta como pano de fundo quando o autor discorre sobre o capital, o capitalismo,

o mundo da produção e a moderna sociedade burguesa. Na hipótese de desenvolver a

urbanização na teoria Marxista, o autor baseia-se muito nesse conceito porque acha que

convêm analisar de modo mais rigoroso e exaustivo possível o seu real alcance. Quando

Marx se refere a isso, não parece, com efeito, dar-lhe um sentido que possa ser logo

aproximado do fenômeno.

A revolução ocorrida no mundo da produção, e consequentemente na indústria e na

agricultura, exigiu uma revolução nas condições gerais do processo de reprodução social, isto

e, nos meios de comunicação e de transportes. Essa limitação do alcance do conceito parece-

nos hoje discutível por causa do aparecimento de fatores também importantes que são outras

tantas condições necessárias à reprodução global das formas capitalistas desenvolvidas na

construção das cidades. (LOJKINE, 1997, p. 145).

Verifica-se, no período dos anos 70, que a aglomeração dos meios de produção de

troca, exemplo banco e comércio, não são caraterísticas específicas da cidade capitalista para

Marx 5, na medida em que o burgo medieval já reunia em escala mais restrita, mais clara,

atividades produtoras e mercantis. O que vai caracterizar duplamente a cidade capitalista é a

crescente concentração dos meios de consumo coletivos, que vai criar, pouco a pouco, um

modo de vida e novas necessidades sociais. Chegou-se a falar de uma civilização urbana, de

outro modo de aglomeração específica do conjunto dos meios de reprodução do capital e

força do trabalho que se torna, por si mesmo, condição sempre mais determinante do

desenvolvimento econômico. (LOJKINE, 2007).

A cooperação, ou trabalho coletivo, permite aumentar o espaço no qual o trabalho se

estende, porém, de um lado, sempre desenvolvendo a escala da produção que vai permitir

estreitar o espaço onde o processo do trabalho se executa. Isso tem duplo efeito, poderosas

alavancas eliminam falsas despesas pela aglomeração dos trabalhadores e aproximação de

outras operações diversas, mas conexas, e pela concentração dos meios de produção. (MARX,

1867, p. 21).

5 Ao modo de produção capitalista corresponde essencialmente uma relação social entre duas classes uma, a

burguesia, por ter o monopólio dos meios de produção e do dinheiro. A outra, classe trabalhadora explorada pela

primeira, que não é proprietária de nada exceto da sua força de trabalho que se vê forçada a vender.

O objetivo da produção é o objetivo da burguesia, a criação de mais-valia para a acumulação privada de capital,

não a satisfação das necessidades da maioria dos membros da sociedade. (MORAES, 2009).

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A aglomeração da população, para Logkine (2007, p. 159), é um dos instrumentos de

produção do capital dos prazeres e das necessidades. Em outras palavras, a cidade não é, de

modo algum, um fenômeno autônomo sujeito a leis de desenvolvimento totalmente distintas

das leis de acumulação capitalista, portanto, não pode dissociá-la da tendência que o capital

tem a aumentar a produtividade do trabalho pela socialização das condições gerais da

produção das quais a urbanização é componente essencial.

O que explica a aparente autonomia dos fenômenos urbanos é o fato deles

pertencerem à divisão do trabalho na sociedade e não a divisão do trabalho na

unidade de produção, ora a divisão social do trabalho cuja separação cidade e campo

com base fundamental pertencem às formas econômicas das mais diversas

sociedades e não como divisão manufatureira ou fabrica apenas a formação

capitalista, (LOJKINE, 2007, p. 159)

O fenômeno urbano tem prescendido do nascimento do capitalismo e de alguns traços

contemporâneos, não parecendo provir diretamente da acumulação capitalista, sendo, em

particular, a subsistência de pequenas cidades onde a vida econômica e social se aparenta

mais ao modo de produção feudal do que da civilização urbana engendrada pelo maquinismo.

(LOJKINE, 2007, p. 160).

A cidade capitalista é produto de uma dupla sociabilização e das condições gerais de

produção e de espaço, sendo assim possível falar a respeito do impacto global das atividades

urbanas sobre a economia capitalista e a respeito de efeitos de aglomeração urbana: efeitos

produzidos pelos meios de circulação e de consumo na cidade e por outros efeitos de

aglomeração, que são produtos indiretos da justaposição de meios de produção e não estão

ligados com efeitos anteriores. (LOJKINE, 2007, p. 161).

Dessa forma, Lojkine (2007 p. 185) afirma que a cidade desempenha fundamental

papel econômico no desenvolvimento do capitalismo, porém, inversamente, a urbanização é

moldada e modelada de acordo com as necessidades da acumulação capitalista. Todavia a

divisão social do trabalho sob efeito da acumulação capitalista engendra dois fenômenos

espaciais contraditórios, mas que decorrem simultaneamente de uma busca comum pelas

firmas capitalistas, de uma implantação que permitia fazer economia máxima das falsas

despesas de produção tendo por um lado.

O subdesenvolvimento crescente das regiões menos equipadas em infraestruturas

urbanas como meios de circulação materiais e meios de consumo coletivos e por

outro lado o congestionamento urbano a gigantesca aglomeração de megalópoles

onde já estão concentrados os mais variados e densos meios de comunicação e de

consumo coletivo. Aglomeração no interior das quais se reproduzirá o mesmo

processo de diferenciação espacial entre as zonas mais bem equipadas que serão

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cada vez mais centros de negócios, zonas residências das classes dominantes sendo

as zonas mais bem equipadas cuja distancia em relação às primeiras e sempre

crescer. (LOJKINE, 2007, p. 185).

A segregação urbana como fenômeno do processo de desenvolvimento das cidades

pode se distinguir em três tipos: uma posição no centro, onde o preço do solo é mais alto, a

periférica, o papel chave dos efeitos de aglomeração explica a importância da renda de acordo

com a localização, podendo ter uma separação crescente entre as zonas de moradias

reservadas às camadas sociais mais privilegiadas e as zonas de moradia populares, LOJKINE

(2007 p. 189). Zonas geograficamente distintas e cada vez mais especializadas contendo um

esfacelamento generalizado das funções urbanas disseminadas em zonas de escritórios, zonas

industriais, zonas de moradia.

A dimensão planificadora como componente do processo de planejamento tem um

duplo sentido no processo de urbanização, pois, à medida que se decide como e a que

urbanizar, a operacionalidade dessa planificação é incorporada ou estendida ao Estado que

fomenta o desenvolvimento das cidades de acordo com as necessidades do capital. Espaço

urbano, contendo propriamente a urbanística que condensa, materializa e mede os efeitos

sociais no espaço da planificação urbana e operações de urbanismo. (Lojkine, 2007, p. 207).

Essa situação também pode ser identificada no processo de urbanização brasileira

iniciada a partir da segunda metade do século XX. O Brasil apresentou um intenso processo

de urbanização a partir dos anos 60 quando comparado aos anos de 1940, em que a população

demografiacional apresentava aspectos do processo de urbanização vividos no cenário

mundial. A população urbana era de 26,3% do total de 18,8 milhões de habitantes e, em 2000,

a população chega aproximadamente a 138 milhões de habitantes na cidade, o que representa

um gigantesco movimento de construção da cidade, sendo necessário o assentamento

residencial dessa população para o enfrentamento do êxodo rural e a promoção das condições

de abastecimento, transporte, saúde, energia e água, entre outros.

As reformas urbanas realizaram-se em diversas cidades brasileiras entre o final do

século XIX e início do século XX, lançando as bases de um urbanismo moderno á moda da

periferia, realizando-se obras de saneamento básico para eliminação das epidemias, ao mesmo

tempo em que se promovia o embelezamento paisagístico sendo implantadas as bases gerais

para um mercado imobiliário de corte capitalista. (MARICATO, 2001).

[...] Excluída desse processo sendo expulsa para os morros e franjas da cidade, como

Manaus Belém, Porto Alegre, Curitiba, Santos, Recife, São Paulo e especialmente o

Rio de Janeiro são cidades que passaram por mudanças que conjugaram saneamento

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ambiental, embelezamento e segregação territorial, nesse período, (MARICATO,

2001, p. 17).

Entretanto, a partir de 1950, o Brasil tardiamente adota o modelo de produção fordista,

passando a produzir em série e em massa; produz bens duráveis e bens de produção. Tendo o

aprofundamento da dependência, o Brasil amplia a inserção subalterna do país na divisão

internacional do trabalho e, a partir desse modelo fordista, tem alterações e mudanças

profundas no modo de vida da população, nos valores, na cultura, na habitação e nas cidades.

(MARICATO 2001 p. 19).

Somente a partir de 1964 é que as cidades brasileiras passarão a ocupar o centro de

uma politica destinada a mudar seu padrão de produção, ocasionando mudanças no perfil das

grandes cidades com a verticalização promovida pelos edifícios de apartamento. Tendo o

financiamento do Banco Nacional de Habitação (BNH) integrado ao sistema financeiro da

habitação (SFH), os apartamentos tiveram início na década de 1940 em Copacabana, porém a

consolidação deste mercado ocorre a partir de 1964, período este da ditadura militar,

(SANTOS apud MARICATO, 2001, p. 20).

A construção dos conhecidos conjuntos habitacionais populares no Brasil se deram

acompanhados de movimentos de segregação espacial. Enfrentando a questão fundiária

urbana, a população não foi alocada nos vazios urbanos, os quais foram valorizados com

investimento público e privados nos arredores; a população foi colocada em áreas

inadequadas ao desenvolvimento urbano, sem infraestrutura. (SANTOS apud MARICATO,

2001, p. 25).

O crescimento da favelização na proximidade da cidade leva à quebra de paradigmas,

fazendo com que a favela passe a ser reconhecida como lugar de pobreza. Observa-se que, aos

poucos, os programas de urbanização de favelas foram assumindo destaque nas intervenções

urbanas promovidas pelo Estado, considerando-se a alternativa de permanência na área

ocupada, reduzindo-se o custo das obras ao evitar a remoção e reassentamento de todas as

famílias em novas unidades habitacionais, e buscando garantir aos moradores das áreas

urbanizadas o acesso à cidade. (RENATO, 2008).

Diferente do passado recente, em que predominava a implantação de grandes

conjuntos, inaugura-se uma fase em que áreas de ocupação irregular começam a ser

urbanizadas, marcada pelos interesses políticos dos gestores responsáveis, dado que

a favela ainda permanece com o estigma da contravenção e da marginalidade, em

função da apropriação do solo de forma irregular. Além disso, em sua maioria, as

favelas mais antigas e melhor localizadas, com maior resistência às pressões dos

setores imobiliários, tornam-se alvo destas ações. Entretanto, estas características

coincidem com a maior intensidade da ocupação do solo, a maior densidade, a

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presença de famílias conviventes num mesmo lote e a auto-verticalização, trazendo

maior grau de dificuldade para a execução de projetos. (RENATO, 2008, p. 2).

Esta fase intermediária é marcada pela forma pontual e pela presença de projetos

piloto. Todavia, as intervenções vão se acumulando, fazendo da urbanização de favelas um

programa especial associado às questões ambientais urbanas, garantindo a possibilidade de

experimentação em paralelo às tentativas de permanecer com programas de provisão

habitacional para grupos organizados.

Entendida como objeto de intervenção de práticas assistencialistas, as instituições

públicas que lidavam com as áreas de favela tinham no técnico de serviço social a maioria de

seu corpo funcional, responsáveis pela mobilização dos moradores e mediação de conflitos,

restando aos técnicos de engenharia e da arquitetura a elaboração de projetos e execução de

obras de melhorias. (RENATO, 2008, p. 2).

Com isso, esta fase intermediária ficou marcada pela contraposição entre as ações de

caráter físico e as de cunho social, cujos técnicos responsáveis ainda remanesciam com a

lógica da atuação dissociada entre o trabalho físico e o social, em detrimento da necessária

complementaridade. Sem uma simetria no entendimento entre os responsáveis técnicos, a

inserção dos moradores ficava inviabilizada, sobrando espaço para práticas de coronelismo6

urbano que até hoje perduram. (RENATO, 2008, p. 2).

Da mesma forma, a reação tecnocrática das concessionárias de serviços urbanos aos

padrões urbanísticos da favela, recusa-se a intervir em áreas com padrões inferiores àqueles

presentes na cidade formal. Sem dispor da política de elementos jurídicos, poucos avanços

foram obtidos no que se refere à regularização fundiária, entretanto, as primeiras intervenções

passaram a despertar a formulação de instrumentos que garantissem a permanência das

famílias nas áreas ocupadas, vinda a contribuir com a discussão interdisciplinar a respeito da

temática vindo a se constituir em mobilização nacional em defesa da reforma urbana.

(RENATO, 2008, p. 2).

6 O coronelismo é a manifestação do poder privado dos senhores de terra que coexiste com um regime político

de extensa base representativa. Refere-se basicamente á estrutura agrária que fornecia as bases de sustentação do

poder privado no interior do Brasil, um país essencialmente agrícola, definido como um compromisso, uma troca

de proveitos entre o Poder Publico, progressivamente fortalecido, e a decadente influência social dos chefes

locais, notadamente dos senhores de terras. A força dos coronéis provinha dos serviços que prestavam ao chefe

do Executivo, para preparar seu sucessor nas eleições, e aos membros do Legislativo, fornecendo-lhes votos e

assim ensejando sua permanência em novos pleitos, o que tornava fictícia a representação popular, em virtude do

voto manipulado, certas atribuições, tais como eleger o governador e o prefeito, criar certos impostos, foram

retiradas do poder central e transferidas para os estados e municípios. Essa descentralização, introduzida pela

República, fortaleceu o poder local, os grandes fazendeiros interferiam violentamente nas eleições, esses grandes

fazendeiros eram chamados de coronéis e seu sistema de dominação, o coronelismo, cujo papel principal cabia

aos coronéis. (MESTIERI, 2011).

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A partir de 1980, o processo de urbanização no Brasil veio acompanhado de uma

ecologia da desigualdade; a sociedade passa a conviver significativamente com a forte

desigualdade social existente e com a violência urbana, tendo um crescimento no número de

homicídios nunca vistos até então. O crescimento urbano tem relação direta com o aumento

da exclusão social, podendo esta ser caracterizada por indicadores como a informalidade, a

irregularidade, a ilegalidade, a pobreza, a baixa escolaridade, o oficioso, a raça, o sexo, a

origem e, principalmente, a ausência da cidadania. A carência material é a face externa da

exclusão política desde a emergência do trabalho livre quando a cidade ganha uma nova

dimensão e tem início o problema da habitação, de desemprego das relações informais de

trabalho e da pobreza nas áreas urbanas. A urbanização brasileira está relacionada á ausência

de democratização do financiamento imobiliário, não impulsionando este a democratização do

acesso á terra via instituição da função social da propriedade. (SANTOS apud MARICATO,

2001, p. 29).

Entretanto para a maior parte da população que buscava moradia nas cidades o

mercado não se abriu, o acesso das classes média e altas foi priorizado tendo como

resultado a desigualdade social, a partir daí cria-se uma nova classe média urbana e

mantém um grande contingente populacional sem acesso aos direitos sociais e civis

básicos, legislação trabalhista, previdência social, moradia e saneamento, assim

amplia-se a desigualdade social nas décadas conhecidas como perdidas em 1980

com o declínio econômico e em 1990 o impacto social do desemprego, ocorrendo

concentração da pobreza urbana, multidões morando em morros alagados, entre

outros. (SANTOS apud MARICATO, 2001, p. 30).

Segundo os autores não se pode dissociar o urbano e a moradia dessa sociedade e do

seu processo de industrialização e desenvolvimento, sendo que vários trabalhadores

constroem suas casas próprias em áreas irregulares ou invadidas. A industrialização baseada

em baixos salários determina o ambiente onde deve ser construída a cidade ilegal e precária.

Ela e um subproduto dessa complexidade verificada no mercado de trabalho e da forma como

se processou a industrialização.

Deste modo, a tragédia urbana instalada no país não é resultado apenas das décadas

perdidas7, mas tem suas raízes na formação da sociedade brasileira a partir da emergência da

privatização da terra e do trabalho livre. Esse processo de urbanização tem como

característica a concentração e centralização da população e de poder de território. Segundo o

senso demográfico de 2000, em 11 metrópoles (209 municípios) moravam 32% da população

do país, ou seja, aproximadamente 55 milhões de pessoas. (MARICATO, 2001, p. 30).

7 Segundo Maricato, 2001 as décadas perdidas se dão entre os anos de 1980 e 1990 com o aumento de

desemprego, as relações informais de trabalho e a pobreza nas áreas urbanas , levando o país a mergulhar no

desemprego.

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Conforme dados do IBGE, apud Maricato (2005), o processo de urbanização influiu

positivamente em alguns indicadores nacionais no decorrer do século XX. Os principais

exemplos foram a queda da mortalidade infantil que passou da taxa de 150 mortes para cada

mil nascidos vivos em 1940, para 29,6 em 2000; o aumento da expectativa de vida: 40,7 anos

de vida média em 1940, para 70,5 em 2000; a queda da taxa de fertilidade de 6,16 filhos por

mulher em idade fértil em 1940 para 2,38 em 2000; a queda do nível de escolaridade de

55,9% de analfabetos em 1940 para 13,6% em 2000.

A ampliação do saneamento da coleta de lixo domiciliar, a ocupação inadequada do

solo comprometendo áreas ambientais sensíveis como beira de córregos, mangues, dunas,

brejos e matas, o crescimento rápido de favelas e das ocupações ilegais de um modo geral, a

ocorrência frequente de enchentes devido à perda da qualidade exagerada do solo como

desmoronamento com mortes devido á ocupação inadequada de área elevadas com

comprometimento de recursos hídricos e marítimo com esgotos entre outras, (SANTOS apud

MARICATO, 2001, p. 43).

Ainda segundo IBGE, 82% da população brasileira moradora em habitações

subnormais como favelas estavam nestas 11 metrópoles que concentram 33% do

déficit habitacional ou o equivalente a 2.192.296 unidades. São Paulo e Rio de

Janeiro são as maiores metrópoles do país, reúnem mais da metade das chamadas

habitações subnormais nesse conjunto de cidades. (MARICATO, 2001, p. 43).

A cidade não é apenas o espaço de reprodução do processo social, é agente de

aprofundamento da desigualdade especialmente por meio do processo de urbanização. Nela se

deu a modernização conservadora, tendo avanços na industrialização e no consumo de bens

de consumo duráveis e sofisticação dos serviços, em paralelo à expansão da pobreza e da

informalidade e, mais recentemente, a partir de 1980, da violência, constituindo-se uma

sociedade com desigualdade e grande aprofundamento na exclusão social. (SANTOS apud

MARICATO, 2001, p. 44).

As décadas de 1980 e 1990 viram o crescimento do desemprego, as relações informais

de trabalho, a pobreza nas áreas urbanas e o aumento da violência como retrato do processo

de reestruturação produtiva. As áreas mais violentas são aquelas em que predomina uma

conjunção de determinados indicadores tais como baixa renda, baixa taxa de escolaridade,

maior proporção de negros entre os moradores, maior taxa de desemprego, maior número de

moradores de favelas, piores condições de moradia e urbanísticas. (SANTOS, apud

MARICATO, 2001).

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Considera a autora ser impossível separar o território das condições socioeconômicas e

o da violência. Durante o século XX há uma gigantesca construção das cidades, parte dela

feita de forma ilegal, sem a participação dos governos, sem recursos técnicos e financiamento

significativo. Segundo o censo IBGE de 2000, entre os anos de 1991 a 2000 o número de

favelas teria aumentado 22%. O IBGE não contabiliza como favela núcleos que possuem

menos de 50 unidades. (SANTOS, apud MARICATO, 2001, p. 37).

Esse ambiente construído faz parte da riqueza produzida e distribuída na sociedade

segundo determinadas relações social o processo de reestruturação produtiva e a

cobertura de direitos vinculada ao trabalho e ainda o processo de contra reforma do

Estado proposto a partir da década de 1990 demarcam uma situação pontual e

decisiva para o Brasil, no entanto, a desigualdade social não surge simplesmente

destas condições, mas sim se trata do aprofundamento da desigualdade em uma

sociedade histórica e tradicionalmente desigual. (SANTOS, apud MARICATO,

2001, p. 41).

A concentração territorial homogeneamente pobre se dá através da segregação espacial

devido à ociosidade e ausência de atividades culturais e esportivas, ausência de regulação

social e ambiental, precariedade urbanística, mobilidade restrita no bairro. O desemprego é

crescente, há maior incidência de homicídios, tendendo a desorganizar os núcleos familiares,

maior número de mulheres chefes de família, maior incidência de doenças respiratórias em

crianças. (MARICATO, 2001).

O processo de urbanização se apresenta como máquina de produzir favelas e agredir o

meio ambiente, o que resulta, entre outras mazelas, na falta de saneamento. Ha uma

correlação entre lei urbanística e mercado imobiliário capitalista, entretanto, o controle

urbanístico e a fiscalização sobre o uso e a ocupação do solo de competência municipal ocorre

somente na chamada cidade legal. Os assentamentos precários ilegais ocorrem em áreas que

não interessam ao mercado imobiliário. Outra correlação de força é entre mercado e gestão

pública urbana, o mercado controla os investimentos públicos urbanos que são importantes

para a valorização imobiliária. (MARICATO, 2001, p. 43).

Assim sendo, solucionar o problema da moradia no Brasil, ou em qualquer país de

economia capitalista subdesenvolvida, não é uma tarefa fácil, isso porque, no mundo

capitalista, a terra, mesmo não sendo uma mercadoria produzida socialmente, tem um preço e

confere ao seu dono o direito de auferir uma renda por posse. Assim, para se produzir uma

casa para morar, é necessário antes de tudo, que se tenha a propriedade do solo. Não pode ser

ignorado que, em virtude da sua condição de mercadoria, a terra passa a ser monopolizada por

aqueles que têm dinheiro para comprá-la. (GOMES, 2009).

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1.2 SERVIÇO SOCIAL, POLITICA DE HABITAÇÃO E O DIREITO À CIDADE:

CONSIDERAÇOES SOBRE A INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL.

A origem do serviço social como profissão tem seu traço profundo no capitalismo e no

conjunto de variáveis que a ele estão subjacentes: alienação, contradição, antagonismo, pois

foi nesse vasto caudal que ele foi engendrado e desenvolvido. Burguesia, Igreja e Estado

uniram-se em um pacto criando o reacionário bloco político, tentando coibir as manifestações

dos trabalhadores eurocidentais, para impedir suas práticas de classe e abafar sua expressão

politica e social, (MARTINELLI, 2000, p. 66).

Na Inglaterra, o resultado material e concreto dessa união foi o surgimento da

sociedade de organização da caridade, em Londres, em 1869, congregando os reformistas

sociais que passavam a assumir formalmente, diante da sociedade burguesa constituída, a

responsabilidade pela racionalização e pela normatização da prática da assistência. Surgiram

assim no cenário histórico os primeiros assistentes sociais como agentes executores da prática

da assistência social, atividade que se profissionalizou sob a denominação de Serviço Social,

acentuando seu caráter de prática de prestação de serviços. (MARTINELLI, 2000, p. 66).

É uma profissão que nasce articulada com o projeto de hegemonia do poder burguês,

gestada sob o manto de uma grande contradição que impregnou suas entranhas, pois

produzida pelo capitalismo industrial, nela imersa e com ela identificada como a criança no

seio materno (Hegel, 1978, &405:228), buscou afirmar historicamente sua própria trajetória e

revela-se como prática humanitarista, sancionada pelo Estado e protegida pela Igreja, como

uma mistificada ilusão de servir. (MARTINELLI, 2000, p. 66).

Para a autora, as condições peculiares que determinaram o surgimento do serviço

social como fenômeno histórico social e como atividade profissional, em que se produziram

seus primeiros modos de aparecer, marcaram o Serviço Social como uma criação típica do

capitalismo, por ele engendrada, desenvolvida e colocada permanentemente a seu serviço

como importante estratégia de controle social.

Surge o serviço social nesse contexto histórico com uma identidade atribuída que

expressava uma síntese das práticas sociais pré-capitalistas, repressoras e controlista dos

mecanismos e estratégias produzidas pela classe dominante, para garantir a marcha

expansionista e definitiva consolidação do sistema capitalista. Martinelle analisa a identidade

atribuída pelo capitalismo à profissão tomada como referencial persistente da prática do

Serviço Social. Num verdadeiro fetichismo, a identidade atribuída é que é fixada como

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identidade da profissão, abrindo amplos espaços para a produção de um percurso alienado,

alienante e alienador da prática profissional. (MARTINELLE, 2000, p. 67).

Assim o conjunto de expressões que se tem como manifestação específica de sua

prática são exteriorizações de sua identidade atribuída, envolvendo seus agentes na

ilusão de servir e os destinatários de sua prática na ilusão de que eram servidos, a

classe dominante procurava mascarar as reais intensões do sistema capitalista

impedindo que este se tornasse transparente, (MARTINELLI, 2000, p. 67).

No Brasil, o surgimento do Serviço Social se dá na segunda metade dos anos trinta,

como fruto da iniciativa particular de vários setores da burguesia, fortemente respaldados na

Igreja Católica, e tendo como referencial o Serviço Social europeu. Evidentemente não pode

ser entendido como uma simples mudança de modelos ou mera importação de ideias, pois

suas origens estão profundamente relacionadas com o complexo quadro histórico-

conjuntural8 que caracterizava o país naquele momento.

A acumulação capitalista deixava de se fazer através das atividades agrárias e de

exportação, centrando-se no amadurecimento do mercado de trabalho, na consolidação do

monopólio industrial e na vinculação da economia ao mercado mundial. Devido ao processo

revolucionário em curso no Brasil desde a segunda metade da década de 20 que vinha

exigindo uma rápida recomposição do quadro político-social-econômico e nacional, a

repressão policial típica da primeira república, através da qual a burguesia desejava conter o

avanço do movimento operário, já não se mostrava mais eficaz. (MARTINELLI, 2000, p.

122).

O Serviço Social tem na questão social a base de sua fundação como especialização do

trabalho. Questão Social apreendida como o conjunto das expressões das desigualdades da

sociedade capitalista madura que tem uma raiz comum, a produção social e cada vez mais

coletiva; o trabalho torna-se amplamente social enquanto a apropriação dos seus frutos

mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade. (IAMAMOTO, 2001. p. 27).

8 O desenvolvimento do capitalismo, em sua fase mercantil, introduzia significativas alterações na estrutura,

relações e processos sociais. Portanto a história do serviço social está claramente vinculada a mudanças que se

estabeleceram no decorrer de vários séculos relacionados à efervescência de fatos sociais, culturais e econômicos

provindos do capitalismo já citado das revoluções industrial e francesa, lutas de classes, surgimento da

burguesia, dentre outras coisas, o que lhe imprime um movimento contraditório e complexo que se expressa

tanto por momentos de lentidão como por outros de intensa atividade, capazes de determinar uma repentina

mudança na direção do fluxo histórico e, ainda mais, de promover a transição de uma época histórica e sua

estrutura social para outra. Somente a partir dos anos de 1930 e de 1940 é que o Estado assume a regulação das

relações de classe mediante um conjunto de medidas e busca enquadrá-las juridicamente visando à

desmobilização da classe operária e o controle das tensões entre as classes sociais. (SANTOS, 2006).

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Na materialização dos direitos sociais, em especial a política de habitação, o Serviço

Social, em seu início, foi influenciado pela perspectiva franco-belga e norte americana nas

práticas dos assistentes sociais nas invasões e aglomerações urbanas, demarcando o que se

revela a partir dos anos 40 com o aumento da favelização, decorrente da intensificação do

processo de industrialização que atraiu um grande número de migrantes das regiões pobres do

país afetadas pela seca. (MARQUES, 2000, p. 04).

Os assistentes sociais são chamados a participar na solução desse problema

desenvolvendo uma prática de caráter tutelar exercida através da ação educativa e da

viabilização da assistência e de outros serviços concretos. Essas requisições

profissionais tradicionais faziam do assistente social um agente útil no

disciplinamento dos cidadãos, exercendo a tutela ou o paternalismo para que as

pessoas se enquadrassem e se integrassem no circuito constituído. ( MARQUES,

2000, p. 04).

O trabalho educativo realizado pelo Serviço Social e a forma inadequada de utilização

dos recursos da casa justificavam de algum modo, a utilização das ideias do movimento

higienista, ao mesmo tempo em que justificavam a manutenção de certas populações à

margem do parque imobiliário. Assim, essas populações eram consideradas inadaptadas,

incapazes, dependentes, o que exigia uma intervenção social. (MARQUES, 2000, p. 04).

Essa intervenção profissional era fragmentada constituída de ações pontuais e

localizada, fora de um contexto de políticas sociais mais amplas, os direitos de

cidadania que garantissem aos habitantes das favelas o mesmo estatuto de cidadania

dos habitantes da cidade formal. Essa prática tradicional incrementava a

dependência de grupos cada vez maiores da população em relação aos serviços

sociais públicos para o atendimento de suas necessidades, particularmente no que se

refere às condições de vida no espaço urbano. ( MARQUES, 2000, p. 04).

As práticas assistenciais intensificaram a situação dos assistentes sociais nos

programas de remoção de favelas promovidas durante o regime militar, desenvolvidos

sobretudo na segunda metade da década de 60 no Rio de Janeiro. O trabalho dos assistentes

sociais nos programas de remoção de favelas se realizava através da formação de um

consenso em torno de programas que atendia a fortes interesses econômicos, dado que

liberava lotes em áreas valorizadas no centro da cidade para usos mais lucrativos como hotéis

e edifícios de apartamentos. Por outro lado, essa política habitacional estimulava a indústria

privada da construção civil. (MARQUES, 2000, p. 04).

A intervenção do Assistente Social naquele período continha ambiguidades e

contradições, pois a perspectiva modernizadora influenciou o Serviço Social. No trabalho com

a política de habitação, não se tratava de acompanhar pessoas que estavam privadas de uma

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moradia porque seriam incapazes de obter uma habitação ou de utilizá-la. Na realidade, a

favela constitui-se a principal alternativa de sobrevivência das classes populares que, mesmo

quando inseridas no mercado formal de trabalho, recebiam salários insuficientes para

abastecer suas necessidades básicas. Na medida em que foram se multiplicando, perderam sua

marca de anormal urbana e tornaram-se uma alternativa de moradia normal para as

populações de baixa renda, inscritas na lógica do capitalismo dependente. (CABRAL apud

MARQUES, 2000, p. 04).

Ainda que a favela se inscreva na lógica do capitalismo dependente é considerada

como parte informal da cidade informal, pois não se conforma às normas legais de

apropriação do solo urbano referentes à cidade formal, e seus moradores, por

conseguinte, não gozam dos direitos de cidadania garantidos aos habitantes da

cidade formal. (CABRAL apud MARQUES, 2000, p. 05).

As favelas evidenciam as contradições da condição marginal de seus moradores,

destacando o processo de marginalização ao qual essa significativa parcela e acompanhada de

segregação devido a um processo de industrialização tardio e acelerado submetido pela

sociedade. A industrialização atrai as pessoas do meio rural para o meio urbano, condicionam

essa população para incorporarem rapidamente os padrões de conforto urbano da sociedade

moderna. (CABRAL apud MARQUES, 2000, p. 06).

Ao final da década de 50, verifica-se, em face deste contexto, o agravamento da

questão social produzido pelo padrão de desenvolvimento dependente e associado que, na

década de 60, redefine em toda a América Latina o Serviço Social sob a proteção do

movimento de renovação do serviço social: a prática profissional na área de habitação.

(CABRAL apud MARQUES, 2000, p. 06).

“Na década de 50, observou-se um avanço no processo de favelização realizado

fundamentalmente pelo deslocamento dos moradores da cidade formal para essas áreas”.

(CABRAL apud MARQUES, 2000, p. 06).

O movimento de renovação no Brasil compreende três direções: a modernizadora, a de

reatualização do conservadorismo e a de intenção de ruptura. No entanto, muitos trabalhos

foram realizados na perspectiva modernizadora no contexto do Regime Militar; é a

perspectiva de intenção de ruptura que vai gradativamente se colocando como hegemônica no

Movimento de Reconceituação na América Latina, bem como no primeiro momento relativo à

renovação do Serviço Social na perspectiva de ruptura. O Serviço Social contesta a inserção

institucional como um espaço para uma prática transformadora, buscando práticas alternativas

em comunidades. (CABRAL apud MARQUES, 2000, p. 08).

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No segundo momento do processo de renovação o assistente social vai se inserir

nesse processo como mediador, obtendo legitimidade no conjunto de mecanismos

reguladores no âmbito das políticas sócio assistenciais, desenvolvendo atividades e

cumprindo objetivos que lhes são atribuídos socialmente e que ultrapassam sua

vontade e intencionalidade. (CABRAL apud MARQUES, 2000, p. 08).

Ainda que o movimento de renovação comporte diferentes tendências, os assistentes

sociais redimensionam sua prática no sentido de uma atuação mais ampla e, na perspectiva de

intenção de ruptura na segunda metade dos anos 70, há um reconhecimento da prática do

Assistente Social com um sentido político definido na direção de uma transformação social

que atenda aos interesses dos segmentos da classe trabalhadora na sociedade. Sendo assim,

observa-se, na área da habitação e especialmente no trabalho, que os assistentes sociais

desenvolveram em favelas uma inflexão dessa prática que passa a se articular com as lutas dos

movimentos sociais, tendo como referência, em alguns casos, os direitos de cidadania, em

outros, a organização da classe trabalhadora com vista à revolução socialista. (CABRAL apud

MARQUES, 2000, p. 08).

A política de habitação é permeada de significação histórica que se inicia na década

de 30. Passa por uma reduzida interferência estatal no setor habitacional ligada mais a

medidas de cunho sanitarista, objetivadas a diminuir as más condições de higiene das

moradias dos trabalhadores urbanos. Com isso, buscava-se evitar a propagação de epidemias

que constituíam uma ameaça à saúde da população. (SILVA; SILVA, 1991).

A política habitacional brasileira mudou consideravelmente a partir dos anos 30.

Tornou-se acelerada e marcada ao processo de autonomia iniciado no Brasil. Presencia-se um

deslocamento do centro dinâmico da economia para a área urbana, que provocou, entre

outros, um grande problema econômico-social: o crescente descompasso entre a decadência, a

disponibilidade de espaço habitável e a sua elevada demanda. O Estado deu os primeiros

passos intervindo na oferta de moradia com a criação dos Institutos de Aposentadorias e

Pensões (IAPs), dentro do sistema de Previdência Social instituído no país neste período,

(SILVA; SILVA, 1991, p. 4) .

Já na década de 40, aumenta a pressão dos trabalhadores sobre os Estados, exigindo,

dentre outras coisas, o acesso à habitação. Em 1946, no governo de Vargas, criou-se a

Fundação da Casa Popular (FCP) que visava a atender a população que não participava do

mercado formal de trabalho e, por isso, não tinha acesso aos IAPs. Constituía-se a imagem de

um Estado Bem-Feitor responsável pelo bem - estar social. Segundo alguns autores, a FCP

teve sua atuação norteada pelo clientelismo político, sendo utilizada pelas elites dirigentes

como medida político-eleitoreira e como meio para se contrapor à penetração popular do

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Partido Comunista. As condições da FCP para obter o financiamento das moradias eram

obstáculo para grande parte da população de baixa renda. (SILVA; SILVA, 1991, p. 4).

Esse modelo de atenção destinado para a política de habitação estava presente também

na intervenção do Assistente Social. Já na década de 50, Silva e Silva (1991) afirma o início

do declínio destes programas habitacionais devido, em parte, à lei do inquilinato, que

congelava os aluguéis e tornava os conjuntos cada vez mais onerosos aos Institutos e em

especial à FCP, mas também devido à inflação do período e à aplicação indevida de recursos

em outras atividades. Em 1961, surgiu o Plano de Assistência Habitacional, cuja principal

inovação consistia na proporção entre a prestação do financiamento e o salário mínimo; a

prestação não poderia comprometer mais de 20% do salário mínimo. Para a seleção dos

requerentes de moradia, exigia-se estabilidade no emprego e tempo de residência na

localidade. Esses requisitos funcionaram como um mecanismo excludente de grandes

segmentos da população de baixa renda sem moradia.

O período pós-64 corresponde ao novo Estado autoritário, em que houve mudanças

mais intensas do Estado em relação à política habitacional. O regime militar procura,

através do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e do Banco Nacional de

Habitação (BNH), produzir habitação em massa para garantir a expansão do

capitalismo. O surgimento do BNH caracterizou-se pela preocupação de incentivar a

indústria de construção civil, na crença de que seus efeitos refletissem positivamente

nos demais setores da economia, que se encontravam bastante estagnados. Além

disso, o surgimento do BNH visava à conquista da simpatia dos setores populares,

financiando lhes a moradia e absorvendo-lhes a força de trabalho, (SILVA; SILVA,

1991, p. 4).

No entanto, o BNH passou a nortear a política habitacional do país centralizando toda

a ação do setor, agrupando, em um sistema único, todas as instituições públicas e privadas. O

BNH concentrou uma grande soma de capital vinda, principalmente, da arrecadação do

FGTS, criado em 1966. O FGTS destina-se a substituir o antigo sistema de indenização, paga

aos trabalhadores demitidos sem justa causa, e garante o confisco regular de 8% do salário

mensal dos trabalhadores, o qual o governo transforma, administrativamente, em capital

imobiliário mediante repasses do BNH aos agentes financeiros e aos promotores do setor

imobiliário e urbanístico. Posteriormente, foi criado o Sistema Brasileiro de Poupança e

Empréstimo (SBPE) para aumentar a captação de recursos originários da poupança privada.

Coube ainda ao BNB, a responsabilidade de financiar habitação popular e implantar

infraestrutura urbana. No discurso oficial, dava-se atendimento prioritário à população de

baixa renda. (SILVA; SILVA; 1991, p. 4).

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A partir de 1969, os indícios de que a política de habitação popular fracassara eram

evidenciados através de altos índices de inadimplência. O BNH transformou-se em um banco

de 2ª linha, transferindo para seus agentes os recursos financeiros e as cobranças das dívidas

dos financiamentos. O BNH retomou programas voltados para a habitação popular, como as

Companhias Habitacionais (COHABs), o Plano de Habitação Popular (PLANHAP) e o

Sistema Financeiro de Habitação Popular (SIFHAP), que não obtiveram o êxito desejado.

(SILVA; SILVA,1991, p. 4).

O BNH foi extinto em 1986, e esta extinção trouxe progressivamente o agravamento

da situação habitacional, concomitante com a maximização das precárias condições de vida

das classes populares brasileiras. Em 1987, houve novas mudanças quanto á denominação do

Ministério, que passou a ser Ministério da Habitação, Urbanismo e Meio Ambiente (MHU) e

a vinculação da Caixa Econômica Federal a este órgão. (PNH, 2004, p. 10).

Já na década de noventa, a política nacional de habitação não teve alterações

significativas, tentou-se criar um vínculo com a Ação Social com intuito de resolver os

problemas habitacionais, porém não surgiu resultado. Em 1994, o governo colocou como

prioridade a conclusão das obras iniciadas na gestão anterior e lança os programas Habitar

Brasil e Morar Município. No entanto o montante de investimento realizado ficou aquém das

expectativas, como consequência do contingenciamento de recursos imposto pelo plano real,

(PNH, 2004, p. 10).

De 1995 a 2002, a politica nacional de habitação passa por novo processo. É realizada

uma reforma no setor da politica habitacional, com a extinção do Ministério do Bem- Estar

Social e a criação da Secretaria da Politica Urbana (SEPURB) no âmbito do Ministério do

Planejamento e Orçamento (MPO), esfera que ficaria responsável pela formulação e

implementação da Politica Nacional de Habitação. Embora tenha mostrado, de início,

tendências reformadoras, a ação da SEPURB caracterizou-se por uma retração do setor

institucional. (PNH, 2004, p. 11).

Não se verifica nesse período uma vinculação do Serviço Social aos movimentos de

acesso das populações marginalizadas à moradia, pois, nesse contexto, o Serviço Social está

voltado para o seu processo de revisão interna, ou seja, a profissão esta adentrando no auge da

sua renovação se desvinculando dos movimentos sociais mais gerais da sociedade.

A partir de 2003, com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, começa a

implementação de mudanças nesse quadro, com a criação do Ministério das Cidades, que

passa a ser o órgão responsável pela Política de Desenvolvimento Urbano e, dentro dela, pela

Política Setorial de Habitação, Secretaria Nacional de Programa Urbano, a Secretaria

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Nacional de Saneamento Ambiental e Secretaria Nacional de Transporte e Mobilidade

Urbana. (PNH, 2004, p. 12).

A Política de Habitação se inscreve dentro da concepção de desenvolvimento urbano

integrado, no qual a habitação não se restringe á casa, incorpora o direito à

infraestrutura, saneamento, ambienta, mobilidade e transporte coletivo,

equipamentos e serviços urbanos e sociais, buscando garantir direito à cidade,

(PNH,2004, pág. 12).

No entanto, com a criação do Ministério das Cidades em 2003, vincula-se a criação do

Estatuto da Cidade em 2004. O Estatuto da Cidade é a lei federal brasileira que regulamenta

os artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988. O artigo 182 dispõe que

A política urbana é responsabilidade do Município e deve garantir as funções sociais

da cidade e o desenvolvimento dos cidadãos, estabelece, ainda, que o Plano Diretor

Municipal é o instrumento básico do ordenamento territorial urbano, devendo definir

qual deve ser o uso e as características de ocupação de cada porção do território

municipal, fazendo com que todos os imóveis cumpram sua função social.

(BARROS apud BRETAS, 2010, p. 91).

A formulação do estatuto da cidade promoveu a ampliação do mercado de trabalho do

Assistente Social na habitação; o profissional foi requisitado para resguardar o acesso e

garantia do direito à cidade. Tem como desafio da práxis profissional, decifrar

permanentemente como se expressam as contradições postas na realidade e construir práticas

criativas capazes de superar as dificuldades encontradas pela população e presentes nas várias

formas em que se expressa à questão social: na falta de moradia, ineficácia de políticas sociais

e equipamentos/serviços públicos, exposição a áreas de risco e condições ambientais

inadequadas e ausência de participação social na gestão das cidades. (BRAGA apud VASCO,

2001).

Os profissionais atuam de forma a contribuir com a efetivação do acesso do direito à

posse e propriedade do solo urbano; nas estâncias de planejamento, gestão, execução e

avaliação; à frente de ações em programas e projetos sociais monitoramento via conselhos,

órgãos públicos e no trabalho em ong’s e outros vários espaços de lutas, na busca de ações

que visem à superação da vertente proprietária e na ampliação permanente da participação

popular e dos diversos segmentos e atores sociais no processo de discussão democrática de

gestão da cidade. (BRAGA; VASCO, 2001).

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Os órgãos gestores da Política Habitacional têm como objeto de atuação as expressões

da questão social9 que, no âmbito habitacional, se expressa pela acentuação do número de

favelas, invasões urbanas de áreas inadequadas que materializam a crise habitacional, que são

vivenciadas pela precariedade de titulação, infraestruturas inadequadas e falta de moradias.

São responsáveis pela elaboração da Política urbana, de Habitação e Planos Diretores, nos três

níveis de governo, criando mecanismos de controle social através de conselhos de habitação e

conferências. Os assistentes sociais se inserem nos espaços de gestão, formulação, execução,

monitoramento dos projetos técnicos sociais voltados a Política Habitacional, fundados na

concepção de direito à moradia, que vêm ao encontro do compromisso ético-político-

profissional fundamentado nos princípios de justiça social, equidade, democracia e cidadania.

(BRAGA; VASCO, 2001).

Entre os fatores que geram demandas aos profissionais de Serviço Social na esfera

pública, podemos elencar a crise habitacional evidenciada na falta e precariedade das

moradias e condições irregulares de titulação, urbanização, regularização fundiária, situações

emergenciais de alagamentos, incêndios, deslizamentos, remoções em situações de risco físico

e social e de interesse do Poder Público, e assentamentos de famílias inscritas nos municípios.

(BRAGA; VASCO, 2001).

A expansão do mercado de trabalho para assistentes sociais na habitação se deu

através do programa federal de aceleração do crescimento (PAC) que é lançado em 22 de

janeiro de 2007, no segundo mandato do governo Lula, e propõe um conjunto de políticas

econômicas durante o período referenciado, sob a perspectiva de promover o

desenvolvimento econômico através da aceleração da economia e do aumento de empregos,

estimando assim a melhoria das condições de vida da população Brasileira.( ROCHA, p. 4,

2011).

Aprovado pela Portaria nº 411 de 28 de agosto de 2008, o manual de instruções para a

aprovação e execução dos programas e ações do ministério das cidades inseridos no programa

PAC prevê as seguintes ações: apoio à melhoria das condições de habitabilidade de

assentamentos precários; apoio ao poder público para construção habitacional para famílias de

baixa renda; apoio à elaboração de planos habitacionais de interesse social. Além disso, o

PAC, efetivamente, é composto por dois grandes eixos que norteiam sua implantação, um

com obras na área de infraestrutura, como hidrelétricas e estradas, e outro direcionado para a

9 Para Iamamoto a “questão social” não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da

classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por

parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o

proletariado a burguesia. (IAMAMOTO; CARVALHO, 1983, p. 77).

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urbanização de favelas e saneamento, sendo a Caixa Econômica Federal, juntamente com o

Ministério das Cidades, as principais instituições responsáveis pelo financiamento do PAC.

Alguns programas e projetos formulados por estas instituições compreendem as diretrizes

norteadoras para a execução do trabalho social no PAC, especificando, de forma detalhada,

suas atribuições e competências, conforme descrição a seguir. (MCIDADES, 2008, p.04).

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22 HABITAÇÃO SOCIAL NO BRASIL E A ACESSIBILIDADE: A ATUAÇÃO DO

ASSISTENTE SOCIAL NO RESGUARDO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO

ACESSO DO DIREITO Á CIDADE

2.1 A POLITICA DE HABITAÇÃO COMO LÓCUS DE INTERVENÇÃO DO

ASSISTENTE SOCIAL, O CASO DOS PROGRAMAS DE HABITAÇÃO SOCIAL.

A situação habitacional urbana no Brasil, na virada do século XXI, demonstra um

quadro dramático quanto ao problema habitacional brasileiro no período em que se formulou

o Projeto Moradia. Com base no censo de 2000, percebeu-se que a necessidade de novas

moradias em todo o país é de 6,6 milhões, sendo 5,4 milhões nas áreas urbanas e 1,2 milhão

na área rural. Em números absolutos, a maior parte dessa necessidade concentra-se nos

Estados do Sudeste (41%) e do Nordeste (32%), regiões que agregam a maioria da população

urbana do país e dispõem da maior parte dos domicílios urbanos duráveis, sendo que 83,2%

do déficit habitacional urbano está concentrado nas famílias com renda mensal de até três

salários mínimos. (BONDUKI, p. 81).

“O Projeto Moradia, que surgiu no âmbito do Instituto Cidadania como uma proposta

para buscar reduzir a problemática global da questão da habitação no Brasil, desde seu início,

teve suas diretrizes estabelecidas pelos coordenadores dessas ações que estabeleceram, de

forma clara e concisa, que os programas voltados às questões habitacionais não se tratavam de

propostas de governo para a campanha presidencial, mas da montagem de uma estratégia

geral envolvendo todos os níveis de governo, setor privado, ONG’s, Universidades,

movimentos sociais etc, que objetivava transformar a moradia numa prioridade nacional,

visando, num prazo a ser determinado pela proposta, a garantir a todo cidadão brasileiro uma

moradia digna. Este desafio não seria uma tarefa exclusiva de um governo, mas exigiria o

cumprimento de um conjunto de ações de todos os segmentos da sociedade comprometidos

com a proposta”. (BONDUKI, p. 91).

No entanto, a terra urbanizada, provida de serviços, equipamentos e infraestrutura,

tornou-se cada vez mais cara, levando os que não tinham recursos a lugares cada vez mais

distantes, precários e perigosos, e à ocupação irregular. Este crescente processo mostra a

ausência de uma política fundiária articulada com as políticas habitacional e urbana, nos

diferentes níveis de governo no Brasil. Até recentemente esta política foi sempre relegada e

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desconsiderada como parte básica para o início das intervenções em habitação de interesse

social.

Com a aprovação do Estatuto da Cidade em 2001, depois de treze anos de debates no

Congresso Nacional, é criado novos instrumentos urbanísticos para viabilizar a regularização

fundiária e fazer cumprir a função social da propriedade; representou a mais importante

iniciativa para romper este ciclo. (BONDUKI, p. 92).

No entanto, a implementação do Estatuto dependia dos municípios posto que os

instrumentos regulamentados só podem ser utilizados se forem previstos nos planos diretores

a serem elaborados pelas prefeituras e aprovados pelos legislativos. Os entes federados

deveriam conscientizar-se de que uma das mais importantes manifestações das dificuldades de

acesso a terra é o intenso processo de formação de favelas e loteamentos irregulares no país—

o crescimento de favelas é um dos grandes indicadores da gravidade da situação urbana no

Brasil— de que a participação municipal nesse processo é de fundamental importância.

Enquanto a população brasileira cresceu, na última década, a 1,98% ao ano, a

população moradora de favelas cresceu a mais de 7%, segundo os dados do Censo que exclui

as favelas com menos de 50 barracos, o que deixa de fora um grande número de

assentamentos. (BONDUKI, p. 96).

O Brasil terminou o século XX com 3.905 favelas identificadas pelo Censo,

espalhadas por todo país; houve um aumento de 22,5% desde o Censo de 1991, que

apresentava 3.124. O aumento é alarmante em termos percentuais. Cabe ressaltar que ele fica

ainda mais espantoso se for considerado que muitas das favelas já existentes, desde o Censo

de 1991, se depararam com o aumento demográfico interno, seja através da formação de

novas construções, da ampliação familiar ou da transformação de barracos em cortiços.

(BONDUKI, p. 96).

A política nacional de habitação, com o novo plano nacional de habitação, implica em

um novo desenho político institucional, a partir dos princípios da descentralização,

territorialização, intersetorialidade e participação no desenvolvimento institucional e na

elaboração e implementação de um plano Nacional de Habitação que considere as grandes

desigualdades sociais e regionais existentes no país. O plano é o instrumento da articulação

entre o diagnóstico, prioridades, metas a serem atingidas, recursos compatíveis, ações e um

sistema de monitoramento e avaliação. Nele serão apresentadas as propostas de estratégias de

enfrentamento do déficit habitacional e da situação de precariedade e irregularidade das

moradias. (PNH, 2004).

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A PNH deverá articular e potencializar os programas e ações dos três níveis de

governo e as capacidades existentes dos demais agentes sociais afetos ao setor habitacional.

Incorpora recursos de outra natureza que auxiliem nos ganhos de eficiência e efetividade da

intervenção, tais como capacidade organizativa, acessoria técnica, qualidade de projeto. O

processo de elaboração do plano deverá fomentar o debate sobre as condições de moradia e as

prioridades de intervenção, e proporcionar a produção de dados consistentes sobre as

necessidades sociais no campo da habitação. Deverá inserir o planejamento do setor

habitacional na agenda pública municipal, articulando as ações de habitação a política urbana

local, e construir parcerias entre organizações governamentais e organizações da sociedade

civil. Este plano deverá propor ações e programas que atendam ao perfil das necessidades

habitacionais, estabelecer critérios para a alocação regional de recursos e indicar áreas

prioritárias para a execução dos investimentos. (PNH, 2004, p. 57).

Para a implementação dos planos, União, Estados, Distrito Federal e Municípios

deverão regular nos seus orçamentos a renda suficiente, em composição com outras fontes,

como Fundo de Garantia por tempo de serviço (FGTS), o Fundo Nacional de Habitação de

Interesse Social (FNHIS), o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), o Fundo de

Arrendamento Residencial (FAR) e o Fundo de Desenvolvimento Social (FDS), para as

necessidades habitacionais brasileiras, no prazo e nas condições estabelecidas. (PNH, 2004, p,

58).

O cumprimento do plano será de responsabilidade de todos os agentes que estiveram

comprometidos com a formulação da politica nacional de habitação e outros

interessados no desenvolvimento urbano sustentável, ao ministério das cidades

caberá coordenar a elaboração do plano nacional, estimular e apoiar a elaboração de

planos Estaduais, do Distrito Federal e Municipais. (PNH, 2004, p. 59,).

A elaboração dos planos dos Estados, Distrito Federal e municípios é de

responsabilidade dos gestores governamentais, mas devem ser feitos em estreita interlocução

com os sujeitos sociais responsáveis pela sua implementação e com a participação dos

movimentos sociais, organizações não governamentais, universidades, população organizada

e agentes executores das ações. Quanto mais democrático e participativo for o processo de

construção do plano, mais força e apoio somar-se-ão à sua execução. (PNH, 2004, p. 60).

“A criação de uma nova Política Nacional de Habitação se colocava como condição

indispensável para atingir os objetivos traçados, a estratégia proposta para ser criado um

Sistema Nacional de Habitação que possibilite uma ação articulada entre União, estados e

municípios, de modo a evitar a dispersão de recursos e a fragmentação de programas e

projetos, e que se promova a integração entre a política habitacional e as políticas de

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planejamento territorial e fundiária e saneamento, a ser coordenada pelo Ministério das

Cidades, para isso são criados cinco eixos estratégicos necessários para garantir a implantação

da nova Política Nacional de Habitação PNH, há articulação entre as diferentes fontes de

recurso e fortalecimento institucional política fundiária para habitação a modernização da

produção habitacional com estruturação de linhas de financiamento”. (PNH p. 9, 2004).

Considerando o diagnóstico dos programas habitacionais implementados nos governos

anteriores (períodos 1992/2002), as condições habitacionais quantificadas em termos do

déficit quantitativo e qualitativo revelando o crescimento das necessidades habitacionais, nos

últimos dez anos, se apresenta em índices muito superiores ao crescimento da população em

geral e essas necessidades se manifestam cada vez mais concentradas nas faixas de renda mais

baixa, localizadas espacialmente, principalmente, nas regiões metropolitanas. (PNH, 2004, p.

61).

O déficit quantitativo tem se ampliado nas faixas de renda até 2 salários mínimos

fenômeno que se verifica em todas as regiões, inclusive nas regiões metropolitanas,

representando, em 2000, cerca de 4,2 milhões de moradias, enquanto mostra-se com certa

retração nas faixas acima de 5 salários mínimos, isto é, em 1991, o déficit nesta faixa de renda

representava 15,7% do total e, em 2000, passou para 9,5%. Esse fato evidencia o fracasso

dos programas públicos e a incapacidade dos mecanismos de mercado para o enfrentamento

do problema, bem como a absoluta necessidade de se encontrarem mecanismos de

atendimento dirigidos às faixas de menor renda. (PNH, 2004, p. 62).

Embora a concentração do déficit seja sempre elevada na faixa de renda de até 2

salários mínimos, existem significativas diferenças entre regiões e categorias de

municípios no que diz respeito à caracterização do problema habitacional, o número

de domicílios com deficiências urbanas, sanitárias e de infraestrutura é da ordem de

10,2 milhões de moradias situadas em áreas que necessitam de intervenções

integradas de habitação, regularização fundiária e saneamento, a escassa articulação

dos programas habitacionais com os demais componentes das políticas de

desenvolvimento urbano e social demonstra que a questão habitacional precisa ser

enfrentada de forma articulada com as políticas urbana, fundiária e de saneamento.

Este tipo de intervenção requer estratégias e programas coordenados de acesso a

terra urbanizada, ampliação das redes de infraestrutura. (PNH, 2004, p. 12).

No entanto, para mobilizar e articular os recursos necessários para promover o

atendimento à população de baixa renda, foi necessário viabilizar fontes não onerosas dos três

níveis de governo para garantir o subsídio, potencializar a utilização do fundo de garantia por

tempo de serviço (FGTS) e estimular o mercado no atendimento às faixas de renda média,

expandindo o crédito habitacional e ampliando as fontes de recursos existentes. Para tanto, é

necessário implementar as seguintes ações: estruturar o sistema nacional de habitação de

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forma a segregar o atendimento da habitação de interesse social e de habitação de mercado;

viabilizar fontes permanentes de recursos privados e públicos. (PNH, 2004, p. 63).

O governo potencializou a utilização do fundo de garantia por tempo de serviço

(FGTS) o para o financiamento habitacional, focando sua aplicação nos conjuntos

habitacionais para a população de menor renda, onde está concentrado o déficit habitacional,

com a utilização de parcela de recursos para subsidiar famílias cujos rendimentos não lhes

possibilitam assumir integralmente os custos de um financiamento, com o intuito de atingir a

maior parcela da população de baixa renda que não são atendidas pelos programas financiados

pela caixa econômica federal. (PNH, 2004, p. 63).

Outras estratégias governamentais foram estimular a poupança para que se volte para

a habitação; implantar novos mecanismos de captação de recursos no mercado de capitais,

desonerando o poder público do atendimento à classe média; garantir segurança jurídica ao

investido, articular fonte de recursos e produtos habitacionais de modo a oferecer um leque de

alternativas de linhas de financiamento, tais como a bolsa moradia para atender á parcela da

população sem capacidade alguma de arcar com os custos de moradia, identificada como

pertencente à faixa de população abaixo da linha de pobreza. (PNH, 2004, p. 64).

Para que isso ocorresse, era necessário ter uma equipe completa para a execução deste

novo programa na área da habitação, considerando que um dos profissionais de maior

importância no interior do programa é o assistente social, por se tratar de um profissional

capacitado que tem condições teóricas - metodológicas para a elaboração do projeto técnico

social. A construção de unidades habitacionais prescinde do projeto técnico social, sendo

atribuição deste profissional formular e realizar o acompanhamento por dois anos após o

término do conjunto habitacional, repassando informações para a caixa econômica federal. O

profissional de Serviço Social atua nas expressões da questão social formulando e

implementando propostas para seu enfrentamento, por meio de políticas sociais públicas entre

elas o desenvolvimento urbano culminando ao acesso a moradia e a cidade sustentável.

(BRAGA, 2006, p, 3).

Entre os fatores que geram demandas aos profissionais de Serviço Social na esfera da

habitação, pode-se considerar que a falta e precariedade das moradias em condições

irregulares de titulação, urbanização, regularização fundiária, situações emergenciais de

alagamentos incêndios, deslizamentos, remoções em situações de risco físico e social, tem- se

constituído um terreno fértil de intervenção.

Quanto ao interesse do Poder Público no assentamento de famílias inscritas nos

municípios, os fatores apresentados revertem em trabalhos de desenvolvimento social em

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programas de assentamento, regularização fundiária e remoções, sendo que os usuários do

serviço social na área habitacional são sujeitos sociais que não acessam uma moradia regular,

ou seja, uma parcela significativa da classe trabalhadora com renda familiar até 05 (cinco)

salários mínimos, pagadores de aluguel, moradores de áreas de ocupação irregular e grupos

organizados. (BRAGA apud SAUER, 2006, p.4).

No desenvolvimento de suas atividades, os assistentes sociais utilizam-se de meios

teóricos sociais e urbanos, legais e institucionais, participando no planejamento da política de

habitação e elaboração de diagnósticos, pesquisas e projetos de intervenção, trabalhando em

equipe multiprofissional na instituição e também entidades parceiras, realizando trabalho com

as comunidades para o desenvolvimento socioeducativo inclusão social e mediação das

necessidades sociais entre comunidade e órgão público, e representando o segmento

governamental em Conselhos e Políticas Púbicas. (BRAGA apud SAUER, 2006, p, 5).

O assistente social, nos vários espaços de atuação profissional, além de incentivar e

contribuir para ampla participação da sociedade civil nos conselhos de direito, tem buscado

disseminar essas instâncias como importantes canais para a participação coletiva e de criação

de novas relações políticas entre governos e cidadãos, espaços estes que estão sendo

construídos pela ação coletiva de inúmeros sujeitos sociais, especialmente no âmbito dos

municípios. (BRAGA apud SAUER, 2006, p. 6).

O fazer profissional do assistente social no campo habitacional também propõe outras

estratégias não institucionalizadas, como a busca de formação de alianças com os demais

segmentos da sociedade civil organizada, que lutam por cidades mais justas e igualitárias,

para construção de outras formas de participação e gestão da coisa pública.

O serviço social em parceria com movimentos sociais, ong’s, cooperativas, tem por

objetivo conseguir efetivar o processo de direito a moradia pelo viés do direito a

cidade, em uma dimensão mais ampla, de entendimento dos mecanismos legais,

políticas públicas que valorizem os direitos coletivos da população, bem como, o

fortalecimento da comunidade e o entendimento de como estes sujeitos coletivo-

ativos influem diretamente na construção de sua realidade e na transformação da

sociedade. (BRAGA apud SAUER, 2006, p. 8).

Para esta construção coletiva, é necessário o reconhecimento do direito à cidade

enquanto direito social na sua relação com as políticas públicas e direitos econômicos,

culturais e ambientais, com a perspectiva de transformar a realidade social existente,

garantindo a luta pela efetividade dos direitos e a autonomia dos sujeitos sociais na construção

de saberes sobre todos os aspectos concernentes ao direito à cidade e inclusão territorial.

(BRAGA apud SAUER, 2006, p. 7).

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Diante disso há uma urgência de resgatar a importância e necessidade de construir

uma política urbana e territorial que possibilite um real compartilhamento dos

serviços públicos e equipamentos coletivos, que privilegie em suas diretrizes a

elaboração a realização de planos e estratégias que possam assegurar, com justiça e

ética, a distribuição dos espaços urbanos para que os mesmos sejam a cidade, uma

vez que este é um espaço vivido por todos os sujeitos sociais. (BRAGA apud

SAUER, 2006, p. 8,).

Nota-se que a atuação do assistente social nos programas habitacionais entre outros

tem por objetivo a mobilização da comunidade para a participação ativa nos problemas

decorrentes das complexas dimensões que perpassam pela questão urbana na

contemporaneidade. Isso requer competências e atribuições previstas para o trabalho social no

PAC, por exemplo10

. Trata especificamente do desenvolvimento do trabalho social nos

projetos de habitação de interesse social incluídos no PAC.

Nas diretrizes do PAC, encontram-se a definição de trabalho social utilizada pelo

ministério, seus objetivos e diretrizes principais, a metodologia de desenvolvimento do

trabalho através das suas fases, temas e conteúdos principais, os itens constitutivos para a

elaboração de projetos de trabalho social e indica os elementos para o monitoramento e

avaliação dos projetos ou programas (PAZ apud TABOADA, 2009, p. 3).

De forma remunerada, o profissional é empregado para atuar na formulação,

planejamento e execução de políticas públicas no âmbito das mais variadas

manifestações da questão social, principalmente na forma como esta se expressa na

vida dos indivíduos sociais constituintes da classe subalterna. Para tanto, as referidas

situações exigem dos profissionais uma postura ética e criativa que ultrapasse as

rotinas institucionais e que busque apreender o movimento da realidade nas suas

mais diversas configurações, para que sejam possíveis de serem transformadas em

projetos e frentes de trabalho. (IAMAMOTO, 2009).

“A partir disso, o assistente social desenvolve uma ação de cunho socioeducativo,

através da prestação de serviços, por meio das políticas sociais que o empregam, e viabiliza a

ampliação e a garantia de direitos dos segmentos marginalizados pela sociedade, em

conformidade com as condições impostas pelo sistema capitalista”. (ROCHA, 2011, p. 7).

“Nesses espaços ocupacionais, os assistentes sociais assumem o compromisso pela

compreensão das políticas públicas enquanto formas democráticas de enfrentamento à

pobreza, de lutar contra o desmonte de direitos e construir parâmetros capazes de deter a

privatização do público, sob a perspectiva de construir a hegemonia das classes trabalhadoras”

(YASBEK, 2009, p. 118).

10

Em 26 de março de 2009, o Ministério das Cidades, sob autorização do Governo Federal, lançou a instrução

normativa nº 8 que regulamenta o trabalho social nas ações e programas geridos pelo ministério das cidades no

PAC, em todo Brasil (NI, n. 8, 2009). Tal normativa, segundo o MCIDADES.

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Tais características compreendem o resultado de inúmeros espaços de discussão e

construção coletiva da categoria na busca por sua legitimidade a partir de seu

amadurecimento intelectual e político4 que o diferencia enquanto profissional

categoricamente reconhecido no mercado de trabalho. Concepções estas que vem se

modificando das bases do conservadorismo à esfera da concepção crítica e dialética

na prática profissional, voltada aos interesses da classe trabalhadora e aos anseios da

transformação social. (ROCHA, 2012, p. 7 ).

O assistente social detêm uma profissão que dispõe de atribuições e competências

singulares, e a necessidade de sua intervenção deve ser referenciada com exclusividade, de

modo a diferenciar sobre o que dispõe cada categoria profissional no âmbito da execução de

projetos sociais. Nesse sentido, para que as ações previstas nos Planos Habitacionais de

Interesse Social sejam efetivamente implementadas com qualidade, todos os profissionais

responsáveis por viabilizar e materializar as diretrizes do PAC devem atuar de forma

multidisciplinar na busca por condições sociais mais justas no espaço urbano. (ROCHA 2011,

p.7).

A ação do assistente social precisa se efetivar no contexto de elaboração, proposição e

intervenção, pactuada com a ação de profissionais de outras áreas do conhecimento e na

articulação com movimentos sociais e espaços de luta, a fim de garantir a complementação de

saberes e atingir a almejada reforma urbana. Nesse sentido, a ação do assistente social, deve

ser destacada a partir das estratégias metodológicas de sua abordagem, na qual o processo de

mobilização e a participação popular possam ser tomados, de fato, como um elemento

fundamental para o processo de planejamento urbano para ser legitimada a superação da

exclusão socioterritorial atingido. (BRAGAR, 2006, p. 8).

O assistente social, nos conjuntos habitacionais, atende uma numerosa demanda de

pessoas com deficiência, e intervém na colocação de cinco por cento das mesmas em cada

novo conjunto habitacional que surgir. E necessário que o profissional resguarde que os

cidadãos com deficiência tenham acessibilidade para realizar suas atividades e deslocamentos.

A acessibilidade urbana é condicionada pela interação entre o uso do solo e o transporte, e se

constitui como um importante indicador de exclusão social, entre outros, a mobilidade, a

habitação, a educação e a renda. Nesse sentido, a acessibilidade, ao ser parte integrante e

fundamental da dinâmica e do funcionamento das cidades, passa a ser um elemento que

contribui para a qualidade de vida urbana, na medida em que facilita o acesso da população

aos serviços e equipamentos urbanos, além de viabilizar sua aproximação com as atividades

econômicas. Não se trata de eliminar barreiras para um grupo específico de pessoas, mas de

incluir as especificidades do universo de pessoas no desenho urbano e de produtos. (ALVES

apud JUNIOR, 2005, p. 4).

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2.2 O DIREITO À CIDADE E À ACESSIBILIDADE

2.2.1 Os Programas de Habitação Social e a Atenção às Pessoas com Deficiência

O direito à cidade está ligado a diversos movimentos sociais que se organizam para

reivindicar direitos considerados fundamentais para o livre desenvolvimento das

potencialidades humanas. Tais direitos, porém, são sistematicamente negados às classes

subalternas, postas à margem da cidade, de seus serviços e dos bens sociais que produz, em

nome dos interesses de pequenos grupos de uma elite privilegiada, historicamente detentora

do poder político. (MAZURA, 2012, p. 1).

“Nas últimas décadas, antigas reivindicações da classe trabalhadora vêm ganhando

relevo sob moldes de novas bandeiras e novas formas de luta social, mais complexas e ao

mesmo tempo resultantes do processo histórico de luta política preconizada por movimentos

populares das mais variadas espécies, e basicamente identificadas enquanto carentes de um

dado bem social. Cidadãos sem terra, sem moradia, sem educação, sem renda, sem

alimentação, sem reconhecimento, enfim, sem direitos, buscam, ainda que sob grandes

dificuldades, organizar-se para que, coletivamente, concretizem materialmente o direito que

lhes fora negado”. (MAZURA, 2012, p. 1).

Nesse sentido, o direito à cidade também é considerado inacessível a uma parcela

considerável da população que nela vive, que, marginalizada do acesso aos bens

sociais produzidos no contexto urbano, passa a lutar pela democratização da cidade

trata-se, portanto, de um direito de caráter amplo, que abrange o direito à moradia,

mas não se restringe a materialização de todas as necessidades humanas, desde as

mais elementares até aquelas consideradas mais sofisticadas. (MAZURA, 2012 p.

1).

O direito à cidade é um direito social que vem sendo perseguido pelos segmentos

vulnerabilizados da população e reivindicado por diversos movimentos sociais e organizações

da sociedade civil, mobilizados pela concretização de direitos como moradia, saúde,

educação, cultura, lazer. Com isso, reivindicações que antes pareciam absolutamente

segmentadas e isoladas na sociedade passam a serem vistas conectadas com outras demandas

e outros direitos igualmente negados pela cidade.

Esse fenômeno urbano tem como pano de fundo e está amarado aos contextos das

lutas por direitos por parte daqueles e daquelas que vivem na cidade. A rede de ligações entre

estas diferentes realidades observadas dentro da cidade exige, por parte de cada sujeito, a

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compreensão acerca dos elementos que influenciam o modo de funcionamento das cidades

contemporâneas, tornando mais consciente e organizada a atuação dos coletivos e

organizações que lutam pela efetivação do direito à cidade. (MAZURA, 2012, p. 2).

Segundo a Carta Mundial,11

o direito à cidade é compreendido como o direito ao

usufruto equitativo das cidades, dentro dos princípios de sustentabilidade e justiça social, e

compreendido como um direito coletivo dos habitantes das cidades, em especial dos grupos

vulneráveis e desfavorecidos que lhes confere a legitimidade de ação e de organização, com

base nos seus usos e costumes, com o objetivo de alcançarem o pleno exercício do direito a

um padrão de vida adequado. Trata-se de um direito interligado e interdependente de todos os

direitos humanos internacionalmente reconhecidos, concebidos integralmente. De acordo com

a carta, todas as pessoas devem ter direito a uma cidade sem discriminação de gênero, idade,

raça, etnia e orientação política e religiosa, preservando a memória e a identidade cultural.

(JÚNIOR, 2005, p. 2).

O desenvolvimento urbano equitativo sustentável das cidades deve comprometer-se a

regular e controlar o desenvolvimento urbano através da proposição de políticas territoriais

que priorizem a produção de habitação de interesse social e o cumprimento da função social

da propriedade pública e privada, em observância aos interesses sociais, culturais e ambientais

coletivos sobre os individuais. Para tanto, as cidades obrigam-se a adotar medidas de

desenvolvimento urbano, em especial a reabilitação das habitações degradadas e marginais,

promovendo uma cidade integrada justa. (JÚNIOR, 2005, p. 3).

A carta mundial denomina toda cidade vila, aldeia, capital, localidade, subúrbio,

município, povoado organizado institucionalmente como uma unidade local de

governo de caráter municipal ou metropolitano, seja urbano, semi-rural ou rural, a

cidade é compreendida como um espaço coletivo culturalmente rico e diversificado,

que pertence a todos os seus habitantes, a carta considera como cidadãos (ãs) todas

as pessoas que habitam de forma permanente ou transitória as cidades. (JÚNIOR,

2005, p. 3).

No Brasil, a busca pelo reconhecimento institucional do direito à cidade parte de uma

ação política em defesa da implantação da plataforma da reforma urbana, e contribuiu para ser

introduzido, gradativamente, nos Fóruns Internacionais Urbanos: o direito à cidade, na pauta

dos processos globais voltados a tratar dos assentamentos humanos. Cabe destacar que o

11

A carta mundial do direito à cidade é um instrumento dirigido a contribuir com as lutas urbanas e com o

processo de reconhecimento no sistema internacional dos direitos humanos do direito à cidade, convida a todas

as pessoas, organizações da sociedade civil, governos locais e nacionais, organismos internacionais a participar

deste processo no âmbito local, nacional, regional e global, contribuindo com a construção, difusão e

implementação da carta mundial pelo direito à cidade como um paradigma deste milênio de que um mundo

melhor é possível. (ASSOCIAÇÃO FRUTOS DA TERRA BRASIL, 2007).

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tratado sobre a questão urbana, denominado por cidades, vilas e povoados, justos,

democráticos e sustentáveis, foi elaborado na Conferência da Sociedade Civil Sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento, durante a Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio

Ambiente e Desenvolvimento, (ECO-92), na cidade do Rio de Janeiro (JUNIOR, 2005, p. 5).

O Tratado do direito à cidade é concebido como o direito à cidadania, direito dos

habitantes das cidades e povoados a participarem na condução de seus destinos. Inclui o

direito à terra, aos meios de subsistência, à moradia, ao saneamento, à saúde, à educação, ao

transporte público, à alimentação, ao trabalho, ao lazer, à informação. Inclui também o direito

à liberdade de organização, o respeito às minorias das múltiplas influências sexual e cultural,

o respeito aos imigrantes e o reconhecimento de sua plena cidadania, a preservação da

herança histórica e cultural e o usufruto de um espaço culturalmente rico e diversificado, sem

distinções de gênero, nação, raça, linguagem e crenças. (JUNIOR 2005, p. 6).

O Tratado compreende a gestão democrática da cidade, como a forma de planejar,

produzir, operar e governar as cidades e povoados, submetida ao controle e participação da

sociedade civil, destacando-se como prioritários o fortalecimento e autonomia dos poderes

públicos locais e a participação popular. A função social da cidade no Brasil passou a ser

princípio constitucional da política urbana, tendo a seguinte compreensão neste tratado: o uso

socialmente justo do espaço urbano para que os cidadãos apropriem-se do território,

democratizando seus espaços de poder, de produção e de cultura, dentro de parâmetros de

justiça social e da criação de condições ambientalmente sustentáveis. (JUNIOR, 2005, p. 7).

Outro importante evento global na área da habitação foi à conferência global que

introduziu um diálogo sobre o direito à cidade e a reforma urbana, sobre os Assentamentos

Humanos das Nações Unidas, Habitat II, realizada na cidade de Istambul, em 1996. Nesta

Conferência, o tema que gerou maiores atenções e polêmicas foi o reconhecimento do direito

à moradia como um direito humano, pelos organismos internacionais como a Agência Habitat

das Nações Unidas e os Governos dos Estados Nacionais. O reconhecimento do direito à

moradia na Agenda Habitat, que é o documento oficial da Conferência contendo um conjunto

de compromissos para os países promoverem medidas que modifiquem as condições de

desigualdade e de violações de direitos nos assentamentos humanos, foi um passo

embrionário para a construção do direito à cidade na esfera internacional. (JUNIOR, 2005, p.

9).

Na passagem para o novo milênio, o Fórum Social Mundial tornou-se palco

privilegiado para a internacionalização do direito à cidade. A estratégia estabelecida por um

conjunto de organizações da sociedade atuantes com as questões urbanas foi de elaborar uma

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Carta Mundial do Direito à Cidade, na sua primeira versão, tendo como ponta de partida os

subsídios e fundamentos da carta Europeia dos Direitos Humanos na Cidade, elaborada pelo

Fórum de Autoridades Locais, em Saint Dennis, em maio de 2000, e o tratado por cidades,

vilas e povoados, justos, democráticos e sustentáveis, plataforma brasileira do direito à cidade

e a reforma urbana. 12

(JUNIOR, 2005, p. 3,).

Este processo se desencadeou no Fórum Social Mundial com a construção da Carta

Mundial do Direito à Cidade, tendo como objetivo a concepção do direito à cidade como um

novo direito humano, com base numa plataforma de reforma urbana para ser implementada

pelos países, visando a modificar a realidade urbana mundial mediante a construção de

cidades justas, humanas, democráticas e sustentáveis. Buscou o reconhecimento institucional

nas nações unidas e na agência habitat, junto a comissão de direitos humanos, bem como nos

organismos regionais e a organização dos estados americanos. Esta ação visou a influenciar as

formas de governança das políticas globais, regionais e nacionais urbanas, de modo que sejam

democráticas e revertam o quadro de desigualdade social nas cidades. (JUNIOR, 2005, p. 9).

A partir do ano de 2004, no Fórum Social das Américas, na cidade de Quito, a Carta

Mundial do Direito à Cidade foi fruto de um processo de revisão, de modo a tratar de assuntos

estratégicos para as cidades, como o tema da governança urbana democrática, da

implementação dos direitos econômicos, sociais e culturais dos habitantes das cidades, da

adoção de uma economia mais justa e solidária, que promova o desenvolvimento humano de

forma sustentável. (JUNIOR, 2005, p. 10).

Reitera-se que, dos compromissos a serem assumidos pelos diversos segmentos da

comunidade internacional para o cumprimento e ações necessárias para o reconhecimento

internacional do direito à cidade como um direito humano, com a crença e esperança de que

outra cidade é possível, o Fórum Social Mundial de 2005, em Porto Alegre, foi um momento

12

A articulação da Carta Mundial do Direito à Cidade no Fórum Social Mundial, contou com a participação das

seguintes organizações, no âmbito nacional, o Fórum Nacional de Reforma Urbana, a Frente Nacional de

Prefeitos, o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), o Fórum Permanente das Pessoas com Deficiências, o

Conselho Federal de Arquitetura, Engenharia e Agronomia (Confea), a Frente Nacional de Saneamento, o Fórum

Nacional de Participação Popular, Associação Nacional de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional

(Anpur), Confederação Nacional dos Profissionais Liberais e o Fórum Intermunicipal de Cultura – Plataforma

Brasileira de Direitos Humanos Econômicos, Sociais e Culturais no âmbito internacional: Cohre, Centro de

Proteção do Direito à Moradia, Habitat International Coalition, Fecoc, Secretaria Latino Americana de La

Vivienda Popular, International Research Group on Law and Urban Space (Irggus), PGU, Programa de Gestão

Urbana das Nações Unidas (UN/HABITAT), United Nations Human Settlements Programme, Rede

Latinoamericana de Megacidades, Comissão de Huairou, Rede Mulher e Habitat, Rede Mundial de Artistas em

Aliança, Anistia Internacional, Coordenação SUD/ABONG (Eixo Urbano), Plataforma Interamericana de

Direitos Humanos Econômicos, Sociais e Culturais, Aliança Internacional dos Habitantes, Fórum de Autoridades

Locais de Porto Alegre. (JUNIOR,2005, p. 4,).

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privilegiado para a continuidade do caminho que ainda precisa ser percorrido para a

internacionalização do direito à cidade. (JUNIOR, 2005, p. 11).

Segundo Junior (2005), a carta mundial ao direito à cidade tem princípios que devem

ser cumpridos: a gestão democrática da cidade; função social da cidade; função social da

propriedade; exercício pleno da cidadania; igualdade; não discriminação; proteção especial de

grupos e pessoas vulneráveis; compromisso social do setor privado; impulso à economia

solidária e a políticas impositivas e progressivas.

O Brasil é um país com dimensões continentais e, com características regionais

extremamente marcantes, contando com 5.567 municípios que possuem grandes populações

diversificadas, culturas muito próprias e singulares. Independentemente dessas diferenças,

cada uma das cidades é obrigada, pela legislação federal de 1988, a encontrar caminhos para a

implantação de programas de acessibilidade que garantam o direito de ir e vir, com autonomia

e segurança, às pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. (PROGRAMA

BRASILEIRO DE ACESSIBILIDADE URBANA, 2004).

A união, de acordo com o artigo 21, XIX, da Constituição Federal, tem competência

privativa para instituir as diretrizes gerais para o desenvolvimento urbano no país, o que

inclui, entre outras, as diretrizes para as políticas de habitação, saneamento básico e

transportes urbanos. Com base no artigo 24, inciso I, a União, no âmbito da competência

concorrente ao direito urbanístico, tem como atribuição estabelecer as normas gerais de

direito urbanístico por meio de lei federal de desenvolvimento urbano, que deve conter as

diretrizes do desenvolvimento urbano e regional. Tais proposituras devem figurar na política

urbana nacional, conjuntamente com a regulamentação dos artigos 182 e 183 da Constituição.

Assim, o Estatuto da Cidade (Lei 10.257, de 10.07.2001) é a lei federal de desenvolvimento

urbano, exigida constitucionalmente, que regulamenta os instrumentos de política urbana que

devem ser aplicados, tanto pela União, como pelos Estados e Municípios. (OLIVEIRA, 2004,

p. 5).

O Município, com base no artigo 182 da Constituição Federal e no princípio da

preponderância de interesse é o ente federado principal na execução da política

urbana, de modo a ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade,

de acordo com os critérios estabelecidos no Plano Diretor, definido este como o

instrumento básico da política urbana. (OLIVEIRA, 2004, p.6).

A identificação das normas do Estatuto da Cidade, como regras gerais, tem por base a

adequação destas normas aos princípios da Constituição Federal, pois estas normas são,

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especialmente em relação aos municípios, indutoras da aplicação dos instrumentos

constitucionais da política urbana.

A aplicação pelos Municípios de instrumentos como o Plano Diretor e de outros

previstos no Estatuto da Cidade, tem como objetivo a efetivação de princípios constitucionais

como os da gestão democrática da cidade, da participação popular, da função social da

propriedade, do direito à moradia, à saúde e à regularização. Acrescenta o ordenamento

jurídico a obrigação ao administrador público de dar efetividade a estes princípios e diretrizes.

A possibilidade do uso indevido ou da não aplicação desses instrumentos pelos Municípios

poderá ser questionada até mesmo pela via judicial, em desrespeito à lei federal e às normas

constitucionais da política urbana, com base no próprio Estatuto da Cidade. Poderá esta

prática ser considerada uma lesão à ordem urbanística nos termos do artigo 5313

. (OLIVEIRA

2004).

O ministério das cidades pontua que as primeiras décadas do século XX, apenas

20% da população do país habitavam em cidades e a grande maioria estava

distribuída em áreas rurais. Hoje, 80% da população se encontram distribuídas pelos

5.567 municípios do país, concentrando-se principalmente nas grandes regiões

metropolitana, esse fenômeno acabou resultando no crescimento desordenado das

cidades e a realidade dos loteamentos clandestinos, periferias e favelas são comuns

na maioria das cidades. (BRASIL ACESSIVEL, caderno 4).

“Associada a essas questões, os baixos investimentos em transportes públicos e a falta

de orientação e fiscalização eficientes para as obras de edificações e calçadas fecham um

cenário não muito positivo para a qualidade de vida das pessoas que nelas habitam”

(PROGRAMA BRASILEIRO DE ACESSIBILIDADE URBANA, 2004).

A realidade pontuada pelo Brasil Acessível (caderno 4) mostra que, ao longo dos

anos, as cidades foram sendo construídas sem considerar inclusive a diversidade humana e se

perpetuaram inacessíveis, física e sensorialmente, a todos àqueles que vivenciam alguma

forma de incapacidade de locomoção ou comunicação, sejam elas temporárias ou

permanentes. Com a assinatura do decreto federal nº5. 296/04 em 02 de dezembro de 2004,

regulamentando as leis nº 10.048/00 e nº 10.098/00 que dispõem sobre os critérios básicos

para a promoção de acessibilidade às edificações, vias públicas, mobiliário urbano e

transportes, o governo federal, os estaduais e municipais ficaram obrigados, desde então, a

garantir o cumprimento das demandas estabelecida nos textos legais.

13

O art. 53 do Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, introduziu um novo inciso no art. 1º da

Lei da Ação Civil Pública, Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, de número III. Por força daquele dispositivo, a

ação civil pública passou a ter como objeto também a proteção da “ordem urbanística”.

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É preciso que os governos instituam, urgentemente, políticas públicas para a

construção de cidades acessíveis a todas as pessoas, independentemente de suas

características sociais e econômicas, e que estabeleçam o mínimo de planejamento

para o uso democrático das cidades, por meio da implantação de programas

deliminação de barreiras arquitetônicas e sensoriais dos sistemas consolidados, da

aplicação do conceito do Desenho Universal e adoção das normas da Associação

Brasileira de Normas Técnica ABNT como referência técnica na elaboração e

execução de novos projetos e serviços, os municípios poderão caminhar no sentido

de garantir equiparação de oportunidades a seus cidadãos, principalmente àqueles

com deficiência ou com mobilidade reduzida. (PROGRAMA BRASILEIRO DE

ACESSIBILIDADE URBANA, 2004).

“O caderno (2) do Programa Brasil Acessível Construindo a Cidade Acessível trata da

implementação destes elementos, sendo uma importante ferramenta para os profissionais da

área de arquitetura, urbanismo e engenharia. O respeito à legislação citada e o emprego das

orientações expressas no Estatuto das Cidades na condução dos planos diretores, são fatores

determinantes para o crescimento sustentável das cidades e para o fortalecimento social,

político e econômico de todos os brasileiros”. (PROGRAMA BRASILEIRO DE

ACESSIBILIDADE URBANA, 2004, p. 15,).

“A deficiência é entendida quando há redução, limitação ou inexistência das condições

de percepção das características do ambiente ou de mobilidade e de utilização de edificações,

espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos, em caráter temporário ou permanente, a

pessoa com deficiência e quem possui limitação ou incapacidade para o desempenho de

atividade e se enquadra nas seguintes categorias”. (DECRETO FEDERAL nº5. 296/04).

Deficiência visual, Deficiência física, Deficiência auditiva, Deficiência mental,

Deficiência múltipla, no caso da pessoa com deficiência física e entendida toda

pessoa com alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo

humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a

forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia,

triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de

membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou

adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para

o desempenho de funções. (PROGRAMA BRASILEIRO DE ACESSIBILIDADE

URBANA, 2004, p. 19,).

“Para que a pessoa com deficiência tenha possibilidade e condição de alcance e

necessário ter percepção e entendimento no momento de pensar em fazer novas edificações

nos espaços mobiliários, os equipamentos urbanos implantados são elementos fundamentais

na possibilidade de alcance para pessoa com deficiência. O transporte coletivo e o sistema de

meio de comunicação devem respeitar as determinações que a pessoas com deficiências e

mobilidade reduzida tem garantida por lei”. (LEI FEDERAL 10.098/00).

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Roy (2000) evidencia que as políticas sociais para pessoas com deficiência advêm dos

direitos comuns a todo cidadão, de todos os direitos constitucionais e de leis ordinárias

federais, estaduais e municipais decorrentes, comuns a todos, são também direitos das pessoas

com deficiência. Os direitos específicos, longe de serem privilégios ou beneficências

(benesses), são condições primordiais para alcançar o direito fundamental de todos os

cidadãos, neste sentido pode-se afirmar que essas políticas têm razão de existir.

“Estes direitos são preconizados na lei nº 7.853\89 e reeditados no decreto nº914\93.

Apontam para a responsabilidade do Poder Público e seus órgãos nas áreas da educação,

saúde, formação profissional e do trabalho, recursos humanos e edificações, encarregando-se

o Ministério Público de sua defesa”. (ROY, 2000).

A legislação é específica e bastante ampla, entretanto, muitas vezes, faltam à

divulgação e a implementação de políticas sociais decorrentes. As diretrizes federais ou

estaduais quase sempre são precisas, todavia elas precisam chegar aos municípios e ás

instituições especializadas, às pessoas com deficiência, suas famílias e comunidades sob

forma de programas, projetos e serviços. Cabe rastreá-las para torná-las acessíveis aos

deficientes, ou ainda mobilizar as populações referidas para sua aplicação ou reivindicação

nas esferas municipais ou estaduais. (ROY, 2000)

“De acordo com a Constituição Federal de 1988, no capítulo III das diretrizes, consta-

se a inclusão da pessoa com deficiência, sendo respeitadas as suas peculiaridades em todas as

iniciativas governamentais relacionadas à educação, à saúde, ao trabalho, à edificação pública,

à previdência social, à assistência social, ao transporte, à habitação, à cultura, ao esporte e ao

lazer”.

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3 A MUNICIPALIZAÇÃO DOS PROGRAMAS HABITACIONAIS DE INTERESSE

SOCIAL: O CASO DO INSTITUTO DE HABITAÇAO DE FOZ DO IGUAÇU.

3.1 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE HABITAÇÃO DE FOZ DO IGUAÇU

No início do século XX, devido à rápida industrialização, as cidades atraíram grande

parte da população, porém, inexistiam políticas habitacionais que impedissem a formação de

áreas urbanas irregulares e ilegais. As áreas ocupadas ilegalmente eram expressões diretas da

ausência de políticas de habitação social. As políticas habitacionais propostas foram, em sua

maioria, ineficazes devido a diversos fatores políticos, sociais, econômicos e culturais. O

resultado desse processo é que, atualmente, mais de 82% da população brasileira é urbana.

(HOLZ, 2008, p. 3).

Para Siqueira (1997), a função econômica exigiu modificações do espaço urbano de

modo que as cidades passaram a apresentar um novo formato. A urbanização se fez presente

transformando os modos de utilizar, social e economicamente, os espaços. A divisão social da

cidade trouxe no seu bojo, entre outros fatores a separação de bairros de acordo com a renda

dos seus moradores, a instalação de uma infraestrutura e de equipamentos comunitários14

.

Para Holz (2008), as ocupações ilegais e irregulares estão presentes na maioria dos

municípios brasileiros, escancarando uma triste realidade social, a da falta de moradia. Porém,

o problema não é apenas a falta de imóveis para morar, mas também a ausência da segurança

de posse, que, por sua vez, favorece a baixa qualidade com que são construídos os bairros que

existem, em especial nas áreas ilegais. O acesso informal ao solo, e consequentemente à

moradia, é um dos maiores problemas das últimas décadas, fortemente agravado pela falta

(intencional) de políticas habitacionais adequadas para atender à população mais carente.

Para Funes (2005), o principal agente da exclusão territorial e da degradação

ambiental é a segregação espacial, que traz consigo uma lista interminável de problemas

sociais e econômicos, tendo como consequência a exclusão e a desigualdade sociais que

propicia a discriminação, o que gera menores oportunidades de emprego, dentre outros

problemas, ocasionando assim uma perpetuação da pobreza e da ausência do exercício da

cidadania.

14

Como escolas, igrejas, hospitais, postos policiais e outros, a criação de uma rede viária, visando facilitar a

comunicação entre os diversos setores da cidade (indústria e comercio, zona residencial e outros).

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Os dados estatísticos do Banco Mundial informam que, de 1 milhão de moradias

produzidas no Brasil, cerca de 700 mil são ilegais, o que comprova que a maior parte da

produção habitacional no país é informal. Os dados destacados demonstram a tolerância do

setor público com essa ilegalidade, porque, na legislação brasileira, o registro do imóvel é

constitutivo de propriedade, valendo a máxima “quem não registra não é dono”. Assim, uma

das maiores implicações desse processo refere-se à insegurança jurídica perante a moradia,

que deixa a população residente dessas áreas numa situação de vulnerabilidade. Holz (2008).

Frente à realidade social evidenciada no Brasil em 2004, iniciam as primeiras medidas

de enfrentamento de déficit habitacional. Assim, em 2004, ocorre a descentralização da

Política Nacional de Habitação no território brasileiro, tendo como enfoque os investimentos

numa ação conjunta entre os três níveis de governo, a iniciativa privada e a sociedade civil.

Nesse processo, as cidades assumiram um papel mais importante na execução da Política de

Habitação do município, cabendo a ele a implementação e execução por meio dos planos

locais de Habitação de Interesse Social (PLHIS), com recursos do FNHIS.

Ocorre, assim, uma progressiva transferência de atribuições para os Estados e

Municípios, tendo-se como marco a Constituição de 1988, que tornou a habitação

uma atribuição concorrente dos três níveis de governo. O crescimento da

mobilização dos movimentos de moradias ampliou a pressão por maior participação

dos municípios na questão da habitação, pois a consolidação da democracia tornou o

poder local o principal interlocutor das organizações populares e o responsável pelo

equacionamento das demandas sociais, estando em contato direto com os problemas

da população carente. Assim, acentuou-se a tendência de descentralização dos

programas habitacionais. Neste quadro, emerge um amplo conjunto de experiências

municipais. (BONDUKI, 2007, p. 07).

Diante do supracitado pode-se dizer que o município de Foz do Iguaçu15

, situada na

região Sul do Brasil, a Oeste do Estado do Paraná, fronteira tri- nacional, têm um déficit

habitacional de seis milhões de moradias, a demanda é demasiadamente significativa. No

município de Foz do Iguaçu, ainda a muito que ser feito em relação à política de habitação,

diante da crescente manifestação da “questão social”, na cidade os principais problemas que

surgiram foram no decorrer da medida que a cidade se desenvolveu e se desenvolve, tanto nos

aspectos econômicos, quanto nos culturais e sociais.

Assim, para Lima (2001), o município de Foz do Iguaçu vem enfrentando a questão do

déficit habitacional desde a década de 1975 com a construção da Itaipu Binacional, nos três

15

Conforme o Censo Demográfico 2010, “realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

e divulgado no dia 29 de abril, revelou um perfil muito diferente do que os moradores de Foz do Iguaçu

imaginavam”. A estimativa realizada em 2007 previa uma população de 325 mil habitantes em 2010. Porém o

censo revelou que a população total de Foz do Iguaçu soma 256.088 habitantes. Segundo o coordenador do

Censo em Foz, José Carlos Koeche.

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primeiros anos da construção de Itaipu, a cidade recebeu um grande contingente de operários

vindos à procura de empregos e atraídos pelo sonho eldorado de Itaipu. Quando a obra

terminou, obra muitos voltaram, e os que ficaram foram impossibilitados de utilizar a

estrutura habitacional existente por ser restrita e cara.

Os operários que ficaram se fixaram principalmente ao longo do Rio Paraná criando

grandes aglomerações de favelas. Em 1978, através de pesquisa sócio - econômica elaborada

pelo Governo Municipal, somente em um núcleo favelado denominado Monjolo, existia mais

de 2.000 famílias. (LIMA, 2001).

O município de Foz do Iguaçu teve alguns programas na área da habitação. Garcia

(2010) pontua as primeiras políticas de habitação foram implantadas em Foz do Iguaçu, como

segue.

As primeiras políticas de habitação implantadas no município de Foz do Iguaçu

foram através do COHAFOZ (Companhia de Habitação de Foz do Iguaçu). Em

seguida foi o HABITAFOZ, e o atual FOZHABITA, Instituto de Habitação de Foz

do Iguaçu, órgão responsável por efetivar a Política de Habitação no município de

Foz do Iguaçu. Este Instituto foi criado, ao dia 10 de janeiro de 2001, através do

decreto Nº. 13.413. Neste momento nasce o primeiro Conselho Deliberativo do

Fundo de Desenvolvimento Municipal da Habitação.

Para Garcia (2010), o Instituto Foz Habita foi criado com o objetivo geral de

proporcionar o acesso à moradia para as famílias de baixa renda em condições de

vulnerabilidade de risco social e pessoal, propiciando o direito à moradias. O Instituto tem por

objetivo planejar, organizar, dirigir, coordenar, executar, delegar e controlar a prestação dos

serviços públicos relacionados à habitação popular. Também executa programas de

desfavelamento. Programas estes vinculados ao projeto de extensão da Faculdade Uniamérica,

criado em 2005, para possibilitar, aos acadêmicos do curso de Serviço Social, estágio

obrigatório e não obrigatório, dando oportunidade de crescimento e aprendizado para os

estagiários que ali passaram e para os que estão atuando hoje no estágio através de

acompanhamento direto da intervenção das profissionais do Serviço Social.

Segundo o decreto Nº 3.298, de 20 de dezembro de 199, a Instituição Foz Habita tem

por responsabilidade respeitar as leis conforme decretadas, e, segundo a seção III do artigo 28

da acessibilidade na Habitação de Interesse Social fazendo assim cumprir com o que esta

estabelecido assegurando as condições de acessibilidade dos empreendimentos de projetos de

adoção de tipologias construtivas livres de barreiras arquitetônicas e urbanísticas, no artigo 29

cabe ao ministério da cidades, no âmbito da coordenação da politica habitacional, compete

adotar as providencias necessárias para o cumprimento do disposto no art.28. Divulgar junto

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aos agentes interessados e orientar a clientela alvo da politica habitacional sobre as iniciativas

que promover em razão das legislações federal, estaduais, distrital e municipais relativas à

acessibilidade.

3.2 SERVIÇO SOCIAL E ACESSIBLIDADE

3.2.1 Reflexões sobre o resguardo do direito às diferenças

Para a realização deste item, foram utilizados os dados empíricos coletados mediante

pesquisa, realizada no mês de outubro no conjunto habitacional Lagoa Dourada, com sujeitos

que, de alguma forma, têm vinculação com a categoria acessibilidade. O universo da pesquisa

foram trezentas e cinquenta famílias e destas foram selecionadas como amostra onze famílias

nas quais existia ao menos uma pessoa com deficiência e, dessa amostra, foram entrevistadas

seis.

Na realização desta pesquisa no conjunto habitacional Lagoa Dourada em Foz do

Iguaçu, primeiro foi realizada uma pesquisa documental nos arquivos e relatórios sociais do

departamento de serviço social na instituição do Foz Habita. Tornou-se conhecimento de que

os onze cadeirantes são atendidos pelo departamento do serviço social da instituição onde foi

realizado um perfil dos mesmos. Posteriormente, foi realizada uma pesquisa estruturada com

cinco perguntas fechadas. São quinze cadeirante moradores do conjunto Habitacional Lagoa

Dourada e optou-se por entrevistar onze deles, no entanto apenas seis responderam. Os

demais sujeitos não responderam, por, estarem ausente do conjunto habitacional, três deles

viajando para tratamento medico, dois visitando parentes em outra cidade, e um estava em

casa de parentes na Vila C.

Para a coleta de dados, as perguntas foram aplicadas diretamente para um cadeirante e

cinco mães de cadeirantes, sendo que as respostas foram anotadas na mesma hora. A

identidade dos entrevistados será preservada, assim as respostas de cada um são identificadas

como sujeito (AI, BII, CIII, DIV, EV, FVI respectivamente).

Identificamos, através do levantamento dos relatórios dos onze cadeirantes, que a

média de idade deles entre seis a quarenta anos. A renda dessas famílias provém do benefício

de transferência de renda do governo federal, o BPC16

. Dos onze cadeirantes, cinco são do

16

E um benefício individual, não vitalício e intransferível, que integra a Proteção Social Básica no âmbito do

Sistema Único de Assistência Social (SUAS). É um direito de cidadania assegurado pela proteção social não

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sexo masculino e seis do sexo feminino. As famílias dos cadeirantes encontravam-se

residindo em favelas no território Sul, Leste, Norte, Nordeste e Central em Foz do Iguaçu.

No que se refere à questão de moradia, essas famílias se encontravam em casas em

péssimas condições, situadas em áreas irregulares. Muitas eram consideradas barracos sem

nenhuma infraestrutura, com ligações clandestinas de energia elétrica e água, a beira de

córregos com esgoto a céu aberto que, em períodos de chuva alagaram, deixando as famílias

em situação de risco.

Ao serem indagados sobre o conhecimento de que as unidades habitacionais do Lagoa

Dourada foram construídas e adaptadas para pessoa com deficiência, cinco respondeu que

tinha conhecimento e um respondeu que não.

(AI) “O Foz Habita informou que a casa seria adaptada mais não adaptou”;

(BII) “Tinha conhecimento, nas reuniões que o Foz Habita fazia no centro de

convivências Leonel Brizola em Três Lagoas diziam que se tivesse cadeirante a casa seria

adaptada”;

(CIII) “No momento do cadastro na casa na favela do bambu, o Foz Habita tinha

conhecimento que a filha era cadeirante, mais no momento da mudança a casa não era

adaptada”;

(DIV) “Quando eu morava no copo sujo e o pessoal do Foz Habita engenheiro e a

pessoa responsável pela mudança me visitaram para a mudança do copo sujo para o Lagoa,

disseram que a casa seria adaptada. Quando mudei a casa não era adaptada”;

(EV) “O esposo, quando ia às reuniões antes da mudança no centro de convivências

Leonel Brizola em Três Lagoas, perguntaram se tinha cadeirante o esposo disse que sim e foi

informado que as portas seriam maiores e a do banheiro de correr, o restante da casa tudo

normal”;

(FVI) “Não tinha conhecimento nunca foi informada e entrou pelo serviço social”.

Diante das respostas apresentadas, identificamos que os cadeirantes não estão usufruindo o

direito à acessibilidade. Roy (2000) evidencia que as políticas sociais para pessoas com

deficiência advêm dos direitos comuns a todo cidadão, todos os direitos constitucionais e leis

ordinárias federais, estaduais e municipais. Os direitos específicos, longe de serem privilégios

contributiva da Seguridade Social. No caso da pessoa com deficiência para requerer o BPC e necessário ter laudo

medico com cid. da doença e todos os documentos exigidos para comprovar sua doença, neste caso o sujeito

passa por pericia medica e recebe visita domiciliar do Assistente Social vinculado ao INSS, cabendo ao

profissional elabora parecer social sendo favorável ou não da pessoa receber o beneficio.(PNAS, 2004,).

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ou beneficências (benesses), são condições primordiais para alcançar o direito fundamental de

todos os cidadãos. Neste sentido, pode-se afirmar que essas politicas têm razão de existir.

“Estes direitos são preconizados na lei nº 7.853\89 e reeditados no decreto nº914\93.

Onde apontam para a responsabilidade do Poder Público e seus órgãos nas áreas da educação,

saúde, formação profissional e do trabalho, recursos humanos, edificações, encarregando-se o

Ministério Publico de sua defesa”. (ROY, 2000).

A legislação específica é bastante ampla, entretanto, muitas vezes, faltam a divulgação

e implementação de políticas sociais decorrentes. As diretrizes federais ou estaduais quase

sempre são precisas, todavia elas precisam chegar aos municípios, ás instituições

especializadas, ás pessoas com deficiência e suas famílias e comunidades sob forma de

programas, projetos e serviços. Cabe rastreá-las para torná-las acessíveis aos deficientes, ou

ainda mobilizar as populações referidas para sua aplicação ou reivindicação nas esferas

municipais ou estaduais. (ROY, 2000).

Para esses esclarecimentos supracitados e o papel do técnico do serviço social, de

levar informações as pessoas que residem nos conjuntos habitacionais, onde e desenvolvido o

trabalho social, deve-se informar e resguardar os direitos dos cidadãos envolvidos no processo

de mudanças e readaptações em novos ambientes.

Em seguida, perguntou-se sobre os equipamentos públicos construídos na unidade

habitacional que permitem a inserção e participação ativa de pessoa com deficiência na

comunidade. Obtivemos a seguintes respostas: cinco sujeitos responderam que não tem e um

disse que têm mais ainda falta.

(AI) “não tem, o filho frequenta AACD”.

(BII) “a filha participa do centro de convivências, porém não tem atividades para ela

participar, além de do xadrez, da piscina, da aula, de informática. Na quadra ela só olha os

colegas fazerem as atividades. Na escola somente, o banheiro é adaptado”.

(CIII) “não tem, a filha não estuda e só fica em casa”.

(DIV) “não tem, o sujeito DIV, não se locomove sozinho”.

(EV) “no conjunto habitacional Lagoa Dourada não tem, o filho participa da AACD”.

(FVI) “tem o centro de convivências, mais o filho não participa”.

Diante das respostas, identificou-se que não existem equipamentos públicos destinados

para esse segmento populacional no conjunto habitacional e nos seus arredores, que há muito

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a ser feito e que, principalmente, há uma grande falta de equipamentos públicos para a

inserção das pessoas com deficiência física, no caso, os cadeirantes.

Para que a pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida tenha possibilidade e

condição de alcance, e necessário ter percepção e entendimento para a utilização com

segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamentos urbanos e das

edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação. (LEI FEDERAL

10.098/00).

O direito à cidade está ligado há diversos movimentos sociais que se organizam para

reivindicar direito fundamentais para o livre desenvolvimento das potencialidades humanas.

Tais direitos, porém, são sistematicamente negados às classes subalternas, postas à margem da

cidade, de seus serviços e dos bens sociais que produz, em nome dos interesses de pequenos

grupos de uma elite privilegiada, historicamente detentora do poder político. (MAZURA,

2002, p. 1).

O serviço social na área da habitação têm entre suas atribuições a organização e a

sensibilização comunitária para tencionar e resguardar direitos. A mobilização da rede

sociassistencial, se apresente com caráter de desenvolvimento sócio econômico e sustentável

das famílias acompanhadas, o fator potencial para o alcance dos objetivos propostos no

projeto está na maneira em que o serviço social se apresenta para sua demanda, ou seja, de

forma a desvencilhar as barreiras impostas, principalmente às que se referem a relações de

gênero, atuando com a possibilidade de resgatar vínculos familiares e a participação efetiva de

cada cidadão, promovendo estratégias para o desenvolvimento dos laços de vizinhança,

organização comunitária e a participação política. (OLIVEIRA apud CASSAB p. 84, 2010).

“Nas últimas décadas, antigas reivindicações da classe trabalhadora vêm ganhando

relevo sob moldes de novas bandeiras e novas formas de luta social mais complexas e, ao

mesmo tempo, resultantes do processo histórico de luta política preconizada por movimentos

populares das mais variadas espécies, e basicamente identificadas enquanto carentes de um

dado bem social. Cidadãos sem terra, sem moradia, sem educação, sem renda, sem

alimentação, sem reconhecimento, enfim, sem direitos, buscam, ainda que sob grandes

dificuldades, organizar-se para que, coletivamente, concretizem materialmente o direito que

lhes fora negado”. (MAZURA, 2002, p. 1).

Ao serem questionados sobre a implantação de canais de acesso que permitem a

acessibilidade e livre trânsito da pessoa com deficiência na construção do Conjunto

Habitacional Lagoa Dourada, os sujeitos evidenciaram as seguintes manifestações:

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(AI) “não implantou”.

(BII) “tem acesso ao ônibus, passa próximo de sua casa, mais tem dificuldades em

levar a filha no centro de convivências e escola; o calçamento é ruim e não tem

calçadas”.

(CIII) “não tem, falta calçada”.

(DIV) “não tem”.

(EV) “não tem acessibilidade e mobilidade para cadeirante”.

(FVI) “não, se a mãe não tivesse arcado com a construção da calçada, o filho não tinha

acesso à rua”.

É preciso que os governos instituam, urgentemente, políticas públicas para a

construção de cidades acessíveis a todas as pessoas, independentemente de suas

características sociais e econômicas, e que estabeleçam o mínimo de planejamento para o uso

democrático das cidades. Isso pode ser feito por meio da implantação de programas de

eliminação de barreiras arquitetônicas e sensoriais dos sistemas consolidados; da aplicação do

conceito do Desenho Universal e da adoção das normas da Associação Brasileira de Normas

Técnica ABNT como referência técnica na elaboração e execução de novos projetos e

serviços. A regulamentação, conjuntamente com as determinações legais dos municípios,

poderá caminhar no sentido de garantir equiparação de oportunidades a seus cidadãos,

principalmente àqueles com deficiência ou com mobilidade reduzida. (PROGRAMA

BRASILEIRO DE ACESSIBILIDADE URBANA, 2004).

As repostas dadas apontam que, mesmo com a implantação do Estatuto da cidade e a

reorganização da política nacional de habitação, os programas habitacionais deixam a desejar

no momento da construção. O Brasil é um país com dimensões continentais e, com

características regionais muito marcantes, contando com 5.567 municípios, que possuem

imensas populações diversificadas e culturas muito próprias e singulares. Independentemente

dessas diferenças, cada uma das cidades é obrigada pela legislação federal de 1988 a

encontrar caminhos para a implantação de programas de acessibilidade que garantam o direito

de ir e vir, com autonomia e segurança, às pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.

(PROGRAMA BRASILEIRO DE ACESSIBILIDADE URBANA, 2004).

Essa realidade nos mostra que, ao longo dos anos, as cidades foram sendo construídas

sem considerar, inclusive, a diversidade humana, e se perpetuaram inacessíveis, física e

sensorialmente, a todos aqueles que vivenciam alguma forma de incapacidade de locomoção

ou comunicação, sejam elas temporárias ou permanentes. (MAZURA, 2002, p. 2).

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Com a assinatura do decreto federal nº 5.296/04 em 02 de dezembro de 2004,

regulamentando as leis nº 10.048/00 e nº 10.098/00 que dispõem sobre os critérios básicos

para a promoção de acessibilidade às edificações, vias públicas, mobiliário urbano e

transportes, o governo federal e os estaduais e municipais ficaram obrigados, desde então, a

garantir o cumprimento das demandas estabelecidas nos textos legais.

A união, de acordo com o artigo 21, XIX, da Constituição Federal, tem competência

privativa para instituir as diretrizes gerais para o desenvolvimento urbano no país, o que

inclui, entre outras, as diretrizes para as políticas de habitação, saneamento básico e

transportes urbanos. O Estatuto da Cidade (Lei 10.257, de 10.07.2001) é a lei federal de

desenvolvimento urbano exigida constitucionalmente, que regulamenta os instrumentos de

política urbana que devem ser aplicados, tanto pela União, como pelos Estados e Municípios.

(OLIVEIRA, 2004).

A aplicação pelos Municípios de instrumentos como o Plano Diretor, e de outros

previstos no Estatuto da Cidade, tem como objetivo a efetivação de princípios constitucionais

como os da gestão democrática da cidade, da participação popular, da função social da

propriedade, do direito à moradia, à saúde e à regularização. (MAZURA, 2002, pag, 3).

Acrescenta o ordenamento jurídico a obrigação ao administrador público de dar

efetividade a estes princípios e diretrizes. A possibilidade do uso indevido ou da não aplicação

desses instrumentos pelos Municípios poderá ser questionada até mesmo pela via judicial, em

desrespeito à lei federal e às normas constitucionais da política urbana, com base no próprio

Estatuto da Cidade, podendo esta prática ser considerada uma lesão à ordem urbanística, nos

termos do artigo 5317

. O caderno 2 do Programa Brasil Acessível Construindo a Cidade

Acessível trata da implementação destes elementos, sendo uma importante ferramenta para os

profissionais da área de arquitetura, urbanismo e engenharia. (OLIVEIRA, 2004).

A respeito à legislação citada e o emprego das orientações expressas no Estatuto das

Cidades na condução dos planos diretores são fatores determinantes para o crescimento

sustentável das cidades e para o fortalecimento social, político e econômico de todos os

brasileiros. (PROGRAMA BRASILEIRO DE ACESSIBILIDADE URBANA, 2004, p. 15,).

No município de Foz do Iguaçu, o assistente social têm ações de fundamental

importância realizadas no instituto de habitação Foz Habita, sendo o desenvolvimento do

trabalho técnico social junto à população participante dos projetos habitacionais. Esse é um

17

O art. 53 do Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, introduziu um novo inciso no art. 1º

da Lei da Ação Civil Pública, Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, de número III. Por força daquele dispositivo,

a ação civil pública passou a ter como objeto também a proteção da “ordem urbanística”.

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fator indispensável para a implantação de programas habitacionais financiados pelo governo

federal. Nele são projetadas ações que visam, não somente o acesso ao direito à moradia, mas

que objetivem a melhoria da qualidade de vida da população atendida. (GARCIA, 2010).

Quando perguntados sobre as dificuldades de acesso que as pessoas com deficiência

encontram no Lagoa Dourada , as respostas foram as seguintes: seis sujeitos responderam que

há várias dificuldades:

(AI) “acesso ao ônibus e o calçamento é ruim”.

(BII) “locomoção de um lugar para outro”.

(CIII) “difícil de sair, ir a lugar como posto de saúde no ponto de ônibus. Não tem

como sair, falta calçada para transitar com a cadeira”.

(DIV) “Falta de calçamento, falta de posto de saúde, falta de calçada e, na opinião do

sujeito DIV, deveria ter asfalto”.

(EV) “o calçamento é ruim e não tem rampa no ponto de ônibus e falta de calçada”.

(FVI) “a rua, o calçamento é ruim, falta de calçada, o ponto de ônibus é distante”.

As respostas demostram que, no momento da elaboração do projeto arquitetônico feito

pelo arquiteto e engenheiro não se levou muito em conta o que está estabelecido pela politica

de habitação e suas reformulações para que os conjuntos habitacionais tenham o mínimo de

acessibilidade e mobilidade possível. “De acordo com a Constituição Federal de 1988, no

capítulo III das diretrizes, consta a inclusão da pessoa com deficiência, sendo respeitadas as

suas peculiaridades em todas as iniciativas governamentais relacionadas à educação, à saúde,

ao trabalho, à edificação pública, à previdência social, à assistência social, ao transporte, à

habitação, à cultura, ao esporte e ao lazer”.

Com a globalização e a reestruturação do capital em nível mundial, produziu novas

questões e acirrou-se, em algumas partes do mundo, os problemas já existentes, sobretudo os

de ordem socioeconômicas. O Brasil, em particular, é um país marcado pela desigualdade,

falta de planejamento, crescimento desordenado, pouco investimento no combate à falta de

infraestrutura, formando um quadro de problemas; a desigualdade urbana, a pobreza e a

exclusão no Brasil são faces da mesma moeda. (NASCIMENTO, 2007, p. 11).

A desigualdade social, econômica e política na sociedade brasileira chegou a tal grau

que se torna incompatível com a democratização da sociedade. Por decorrência, tem

se falado na existência da apartação social. No Brasil a discriminação econômica,

cultural e política, além de étnica. Este processo deve ser entendido como exclusão,

isto é, uma impossibilidade de poder partilhar o que leva a vivência da privação, da

recusa, do abandono e da exclusão. (SPOSATTI, 1987, p. 17).

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“Ao adentrar o campo das desigualdades sociais, nos deparamos com a

desigualdade de gênero como processo histórico posto na maior parte das relações familiares

brasileiras”. (YASBEK, 2003),

Atualmente, este processo tem sido abordado amplamente pelos programas de

inclusão social, destinados às famílias em condições de riscos sociais, conforme define a

Política Nacional de Assistência Social (PNAS/SUAS), bem como os Programas voltados à

habitação de interesse social, conforme define o Ministério das Cidades. (BRASIL, 2004).

Por sua vez, o Ministério das Cidades tem desenvolvido um papel fundamental na

elaboração de programas habitacionais direcionados ao público de baixa renda. Isto tem sido

essencial para o atendimento às famílias que vivem em condições de vulnerabilidade

habitacional, permitindo ao trabalho social empenhar ações direcionadas à mulher chefe de

família, da pessoa com deficiência, ao idoso e as pessoas que vivem em áreas vulneráveis.

(OLIVEIRA apud CASSAB, p. 82, 2010).

No entanto, os gestores habitacionais não devem simplesmente desenvolver um

programa ou um projeto, é necessária a adoção de medidas contributivas para mobilização e

organização comunitária e para geração de emprego e renda. Observa-se a importância do

trabalho social para promover ações que contribuam com a equalização das dificuldades que

quais chefes de família do sexo feminino têm enfrentado na luta efetiva pela solução dos

problemas da moradia. (OLIVEIRA apud CASSAB, 2010, p. 82,).

Com esta concepção, a Caixa Econômica Federal, através de seu quadro técnico

social, incorporou o termo equidade de gênero nos programas de habitação, voltados para um

segmento social menos favorecido. Neste processo, enquanto órgão gestor, a instituição tem

atuado na operacionalização dos recursos e no acompanhamento dos trabalhos sociais,

viabilizando a garantia do atendimento, propiciando ações com foco central na família, e

tendo a mulher chefe de família, pessoa com deficiência e idosa e pessoas vulneráveis como

referência da participação e permanência no local de moradia. (OLIVEIRA apud CASSAB,

2010, p. 83,).

Considera-se que o papel do serviço social na elaboração do projeto técnico social nos

programas habitacionais e de ressaltar as necessidades que a população a ser atendida

necessita, seja no âmbito da acessibilidade, mobilidade, entre outros, e necessário que este

plano que orienta estas ações sejam respeitada no Projeto do Trabalho Técnico Social, do

assistente social. (GARCIA, 2010).

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Na quinta pergunta, ao serem questionados sobre se as casas construídas no conjunto

habitacional permitiam a locomoção da pessoa com deficiência sem obstáculos, as respectivas

respostas dos sujeitos foram:

(AI) “não porque não é adaptada”.

(BII) “não tem acesso, a casa não é adaptada, precisa carregar no colo para se

locomove”.

(CIII) “nem um pouco, pois a casa não é adaptada”.

(DIV) “não tem locomoção, pois a casa não e adaptada”.

(EV) “não tem espaço para haver locomoção, é necessário tira os móveis do lugar para

ter passagem”.

(FVI) “não, só depois de dois anos e oito meses colocaram a porta de entrada mais

larga, o restante não é adaptada”.

O direito das pessoas com deficiência aparece nas respostas como não resguardados e

nem respeitados. Embora garantidos por lei, são violados e, muitas vezes, as pessoas nem têm

conhecimento destes direitos.

A deficiência é entendida quando há redução, limitação ou inexistência das condições

de percepção das características do ambiente ou de mobilidade e de utilização de edificações,

espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos, em caráter temporário ou permanente, a

pessoa com deficiência é quem possui limitação ou incapacidade para o desempenho de

atividade e se enquadra nas seguintes categoria. (Decreto Federal nº5. 296/04), deficiência

visual, deficiência física, deficiência auditiva, deficiência mental e deficiência múltipla, por

pessoa com deficiência física e entendida toda pessoa com alteração completa ou parcial de

um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física,

apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia,

tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou

ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou

adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o

desempenho de funções. (PROGRAMA BRASILEIRO DE ACESSIBILIDADE URBANA,

2004, p. 19,).

Neste caso o trabalho social se apresenta com caráter de desenvolvimento sócio

econômico e sustentável das famílias acompanhadas. O fator potencial para o alcance dos

objetivos propostos no projeto está na maneira como o serviço social se apresenta para sua

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demanda, ou seja, de forma a desvencilhar as barreiras impostas, principalmente às que se

referem a relações de gênero, atuando com a possibilidade de resgatar vínculos familiares e a

participação efetiva de cada cidadão, promovendo estratégias para o desenvolvimento dos

laços de vizinhança, organização comunitária e participação política. (OLIVEIRA apud

CASSAB, 2010, p. 84).

Existem parâmetros que possuem o caráter de interlocução dos usuários com os

demais segmentos, bem como com as diversas políticas públicas. Portanto, neste cenário, se

visualiza a mulher, o idoso e a pessoa com deficiência como os sujeitos que mais se

mobilizam e participam das ações de interesses coletivos. Desta maneira, as ações

desenvolvidas pelo assistente social, como agente executor de projetos habitacionais, nas

atividades de geração de trabalho e renda e de mobilização e organização comunitária, para

famílias de baixa renda. (OLIVEIRA apud CASSAB p. 84, 2010).

A participação da mulher chefe de família, da pessoa com deficiência e idoso, nas

reuniões executadas, nas atividades dos grupos de geração de trabalho e renda, no processo de

mobilização e organização comunitária, desperta a conquista da sua própria autonomia.

Presume-se que tais condições as fortalecem contra a própria opressão que persiste, muitas

vezes, nos papéis familiares estabelecidos pela sociedade, ou seja, o de ser simples

mantenedora e mantenedor do lar nos afazeres domésticos, e apaziguadora de conflitos entre

os filhos. (OLIVEIRA apud CASSAB, 2010, p. 85).

A atuação do assistente social neste processo de inclusão da mulher chefe de família,

pessoa com deficiência e idoso frente à participação política e cidadã, apresenta-se com o

instrumento de combate à exclusão social entre gêneros, nos diversos espaços de decisões.

Deste modo, na perspectiva feminista de cidadania, eis o grande papel para que o assistente

social possa desempenhar ações transformadoras, de justiça social, igualdade, liberdade e de

encorajamento para as conquistas de direitos às diversas políticas públicas. Em outras

palavras, a concepção de gênero deve ser tratada na política pública habitacional como parte

de estratégias que possibilitem, às mulheres chefes de família, idosos e pessoas com

deficiência, a capacidade de produzir mudanças na posição que ocupam na sociedade, bem

como na condução das relações familiares e comunitárias. (OLIVEIRA apud CASSAB, 2010,

p. 85).

O trabalho técnico social desenvolvido pelo assistente social, através de uma política

de habitação do estado, possibilita que uma parcela significativa da população brasileira tenha

não somente o acesso a uma moradia, mas que se envolvam com outras condições inerentes

ao exercício da cidadania. O enfoque na condição de gênero, em específico à mulher chefe de

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família, pessoa com deficiência e idoso, tem contribuído para a superação das concepções

impostas pelo patriarcalismo da sociedade, ao atribuir à mulher, ao idoso e a pessoa com

deficiência o dever de apenas cuidar da moradia e dos afazeres domésticos. (OLIVEIRA apud

CASSAB, 2010, p. 87).

Assim, os programas habitacionais referenciando a mulher chefe de família, pessoa

com deficiência e idoso oferece não apenas o acesso à moradia, mas oportuniza, através das

ações de apoio à mobilização, organização comunitária, capacitação profissional e geração de

trabalho e renda, além de inúmeras outras possibilidades. Ainda, intermedeia a interlocução

dos usuários com demais segmentos sociais, bem como, com as diversas políticas públicas.

Portanto, neste cenário, se visualiza a mulher chefe de família, pessoa com deficiência e idoso

como sujeitos que se mobilizam e participam das ações de interesses coletivos. (OLIVEIRA

apud CASSAB, 2010, p. 87).

O processo de mobilização e participação comunitária, bem como as ações de geração

de trabalho e renda, evidenciam a importância do trabalho do assistente social no

fortalecimento do princípio de justiça social, equidade de gênero e cidadania, formação de

lideranças, capacitação da mão de obra e inserção no mercado de trabalho, e deve contribuir

no processo de tomada de consciência dos beneficiários quanto aos direitos e deveres na

sustentabilidade da nova moradia. (OLIVEIRA apud CASSAB, 2010, p. 88).

Neste o serviço social, na política de habitação no município de Foz e de garantir e

resguardar o acesso às condições de acessibilidade e mobilidade como direito da pessoa com

deficiência, esse trabalho e desenvolvido de acordo com as condições de trabalho que os

profissionais têm enfrentado ao longo dos anos, na instituição, a prática do profissional é

constantemente questionada pelas demais áreas, o senso comum dita uma prática simplista,

arcaica e assistencialista, espera-se pouco do profissional, que este não tenha postura ativa e

crítica. O maior limite evidenciado do assistente social é trabalhar a questão da

universalização dos direitos sociais, uma vez que, a efetivação dos direitos depende de

políticas sociais e públicas e essas não atendem a população necessitada na sua totalidade.

Consoante a isso, em alguns casos, o profissional se vê impossibilitado de atender princípios

fundamentais de equidade e justiça social. Outro fator limitante evidenciado é a visão arcaica

e conservadora da profissão por colegas de trabalho e da própria sociedade, assim com a

tendência em analisar superficialmente alguns casos adotando discursos moralistas e fazendo

julgamento de valores. (GARCIA 2010).

Identificamos também, nessas respostas, a desproteção das pessoas com deficiência e a

falta de informação diante de seus direitos conquistados por lei. E cabe ressaltar que eles não

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têm por onde começar a busca pelos direitos adquiridos através da constituição federal, entre

outros que foram supracitados.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao findar esse trabalho de conclusão de curso considera-se que a reflexão realizada

permitiu aprofundar o conhecimento sobre a realidade das pessoas com deficiências

moradoras do conjunto habitacional Lagoa Dourada, sendo eles atendidos pelo Projeto Social

de Desfavelamento Urbano do Município de Foz do Iguaçu.

Para trilhar esse caminho, optamos por tomar como guia os objetivos específicos

delimitados incialmente, os quais nos auxiliaram no desvelar do problema de pesquisa.

- Categorizar e caracterizar as pessoas com deficiência contempladas no Projeto de

Desfavelamento Lagoa Dourada;

- Apontar qual o papel do serviço social no resguardo do acesso as condições de

mobilidade, e acessibilidade das pessoas com deficiência nos conjuntos habitacionais;

- Identificar e descrever se a moradia corresponde às necessidades das pessoas com

deficiência;

- Estabelecer os nexos existentes entre a acessibilidade e a mobilidade no

desenvolvimento da autonomia na superação das limitações incapacitantes que obstaculizam a

inserção e participação da pessoa com deficiência na vida comunitária.

Quanto às pessoas e aos tipos de deficiências contempladas na concessão das moradias

na Unidade Habitacional Lagoa Dourada observou que as mesmas não têm acessibilidade e

mobilidade, sendo que as características das deficiências exigem medidas de acessibilidade.

Mediadas estas que não foram respeitadas, mesmo sendo garantidas pela “Constituição

Federal de 1988, no capitulo III das diretrizes na qual a inclusão da pessoa com deficiência,

deve ser respeitada e suas peculiaridades em todas as iniciativas governamentais relacionadas

à educação, à saúde, ao trabalho, à edificação pública, à previdência social, à assistência

social, ao transporte, à habitação, à cultura e ao esporte e ao lazer”.

Diante do exposto cabe ao assistente social, resguardar e promover ações

socioeducativas com as famílias beneficiadas, fomentar a participação popular e sua

organização, incentivar novas formas de geração de empregos e renda, estimular o

envolvimento das famílias na busca de soluções para os problemas apresentados, fomentar a

criação de formas alternativas de enfrentamento à pobreza, desenvolver ações de interface

com políticas públicas. E para a defesa dos usuários da politica de habitação o assistente

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social têm respaldo no caderno de orientação técnico- social, política nacional de habitação,

no plano local de habitação de interesse social (PLHIS), no fundo nacional de habitação de

interesse social na constituição federal de 1988, no estatuto do idoso, no estatuto da criança e

do adolescente (Eca), na lei da pessoa com deficiência e no código de ética profissional, entre

outros, para garantia dos direitos dos usuários destas politicas. (GARCIA, 2010).

Quanto à qualidade e infraestrutura das moradias elas não atendem as necessidades de

acessibilidade da pessoa com deficiência, os moradores têm dificuldades para se locomover,

as moradias não foram adaptadas, e o acesso para o transporte, posto de saúde, escolas, e de

difícil acesso para os cadeirantes, pois não foram criados mecanismo para que existisse

infraestrutura no conjunto habitacional. Essa ausência de mobilidade e acessibilidade tende à

piora as condições de vida das pessoas com deficiência, sendo que os moradores com

deficiências na maioria das vezes são privados de conhecer o próprio conjunto habitacional e

são privados de qualquer ação comunitária entres outros. Isto ocasiona, nos moradores com

deficiência, revolta contra a Instituição do Foz Habita.

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12 out. 2011 às 10h00minh

SILVA, Maria Ozanira da Silva e. Política Habitacional Brasileira: Verso e Reverso. São

Paulo: Cortez Editora, 1989. Disponível em: http///E:/trabalhohabitacaopronto.html.>. Acesso

em 15 out. 2012 as 09h30min

SILVA, Maria Ozanira da Silva. Política Habitacional Brasileira: Verso e Reverso. São

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YAZBEK, Maria Carmelita. Classes subalternas e assistência social. 3. ed. São Paulo:

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APÊNDICES

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APÊNDICE I

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA PESQUISA

Nome da Pesquisa: Serviço Social e a Questão Urbana: um estudo sobre a acessibilidade e mobilidade

da pessoa com deficiência no Conjunto Habitacional Lagoa Dourada em Foz do Iguaçu.

Acadêmico: Zenaide da Silva dos Santos

Orientador da Pesquisa: Profª: Maria Geusina da Silva

A presente pesquisa trata de Desvelar e Caracterizar se existe e quais são as condições de

acessibilidade e mobilidade da pessoa com deficiência moradoras do Conjunto Habitacional Lagoa

Dourada em Foz do Iguaçu. A pesquisa pretende contribuir para a instituição do Foz Habita rever

a forma de planejamento arquitetônico no momento de construção de novos conjuntos habitacionais

para que não aconteça a mesma falha como no conjunto habitacional Lagoa Dourada, falta de

acessibilidade e mobilidade para pessoas com deficiência ou não.

Tendo o Mutuário recebido todas às informações necessárias em relação à pesquisa e ao

questionário e esclarecido dos seus direitos relacionados a seguir, declaro estar ciente do exposto e

aceitar participar da pesquisa.

Direitos dos sujeitos da pesquisa:

1. A garantia de receber resposta a qualquer pergunta ou esclarecimentos a dúvidas sobre os

procedimentos, riscos, benefícios e outros relacionados com a pesquisa;

2. A liberdade de retirar o consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo;

3. A segurança de não ser identificado e que será mantido o caráter confidencial das

informações relacionadas com a privacidade;

4. Para esclarecimentos de dúvidas, ficam à disposição os telefones para contato do orientador

(45) 2105-9090, ou (45) 9962-9431.

Desta forma, estando ciente assino o consentimento para o uso das informações contidas no questionário.

Foz do Iguaçu, ____ de _____________de 2012.

Zenaide da Silva dos Santos Nome:________________

Pesquisador

Rubrica do entrevistado

Maria Geusina da Silva

Profª Orientadora da pesquisa

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APÊNDICE II

QUESTIONÁRIO DE COLETA DE DADOS NO CONJUNTO HABITACIONAL

LAGOA DOURADA EM FOZ DO IGUAÇU

1º Você tem conhecimento que as unidades habitacionais do Lagoa Dourada foram

construídas e adaptadas para pessoa com deficiência.

2º Quais são os equipamentos públicos construídos na unidade habitacional que permitem a

inserção e participação ativa de pessoa com deficiência na comunidade.

3º Em sua opinião o conjunto habitacional lagoa dourada na sua construção implantou canais

de acesso que permitem a acessibilidade e livre transito da pessoa com deficiência.

4º Quais são as dificuldades de acesso que as pessoas com deficiência encontram no Lagoa

Dourada.

5º Em sua opinião as casas construídas no conjunto habitacional permitem a locomoção da

pessoa com deficiência sem obstáculos.