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Actualização para Hong Kong O Centro Internacional para o Comércio e Desenvolvimento Sustentável (ICTSD) Vol. 4 Novembro de 2005 SÉRIE DE BRIEFING DA RODADA DE DOHA CONTEÚDO p. 2 No. 1 Questões e Preocupações Relacionadas à Implementação p. 4 No. 2 Agricultura p. 11 No. 3 Comércio de Serviços p. 17 No. 4 Acesso ao Mercado para Produtos não Agrícolas p. 22 No. 5 Direitos de Propriedade Intelectual p. 27 No. 6 Facilitação do Comércio p. 30 No. 7 Negociações sobre Normas da OMC p. 35 No. 8 Revisão do Entendimento Sobre Solução de Controvér- sias p. 39 No. 9 Ambiente de Comércio p. 43 No. 10 Comércio, Dívi- da e Finança p. 46 No. 11 Comércio e Transferência De Tecnologia p. 49 No. 12 Assistência Téc- nica e Capacita- ção p. 52 No. 13 Tratamento Especial e Dife- renciado Nos fins de Novembro os Membros da OMC concordaram que as suas posições sobre questões chaves permanecram muito distantes uns dos outros para ir ao encontro dos objectivos originais da Conferência Ministerial de Hong Kong. Quando esta edição dos Briefings de Doha foi à imprensa a atenção estava virando para formas de assegurar que não se perderia o momentum no pós Hong Kong e que um resultado ‘ambicioso’poderia ainda ser alcançado até o fim de 2006 ou no início de 2007. Levantaram-se as esperanças em meados de Outubro, quando Membros chaves da OMC e agrupamentos colocaram na mesa as suas primeiras propostas concretas sobre a agri- cultura. Apesar de grandes divergências nas suas ambições, parecia haver suficiente concordância para eventualmente emergir a convergência sobre o âmbito da redução dos subsídios domésticos e o desfazeamento do apoio à exportação. Contudo, refle- tindo um impasse de longa data em Genebra, o distanciamento entre as posições dos Membros em relação ao acesso ao mercado mostrou sinais de estreitamento. A União Européia foi alvo de severas críticas nesta área, particularmente à medida em que o seu nível de ambição – ou a falta de ambição – foi tida como estabelecendo o marco para outros liberalizadores relutantes da agricultura. Três semanas depois a maioria dos Membros da OMC rejeitou também a proposta revi- sada da UE sobre a agricultura devido às consideráveis concessões que exigia dos par- ceiros comerciais a troco de reduções tarifárias ligeiramente mais generosas. Os países em desenvolvimento em particular ficaram furiosos pelo fato da UE ter ligado a sua oferta a reduções muito significativas nas suas tarifas sobre produtos industrializados, para além de exigir compromissos obrigatórios de abertura de mercado em aproxima- damente cem setores de serviços. Um vasto número de Membros levantou também objeções ao elevado número de produtos ‘sensíveis’ que a UE se propôs moldar a partir de cortes tarifários totais. Se essa é realmente a ‘linha de fundo’ que as entidades Eu- ropéias insistem que é, as conversações sobre a agricultura provavelmente falharão. Tal desfecho resultaria inevitavelmente numa redução generalizada e paralela de am- bição. Embora a Mesa do grupo de acesso ao mercado não agrícola (NAMA) tivesse avisado repetidamente que está a esgotar-se o tempo para a resolução de numerosas questões que devem ser esclarecidas antes que se possa chegar a acordo sobre as mo- dalidades finais de negociação, muitos Membros da OMC continuam não desejosos de entrar em sérias negociações antes que se esclareça melhor o âmbito de um eventual acordo sobre a agricultura. Tendo em conta o número de questões não resolvidas, mesmo um compromisso de última hora sobre a agricultura em Hong Kong chegaria provavelmente muito tarde para permitir um acordo sobre o NAMA. O mesmo se pode dizer em relação aos serviços, o terceiro elemento central da ‘grande realização’ da Rodada de Doha. Embora se tenha feito muito do desenvolvimento e da dimensão da redução da po- breza dessas negociações, um resultado medíocre – ou pior – em agricultura afeta- ria severamente esse potencial. Caso Hong Kong falhe, poder-se-á também perder a possibilidade de avanços em outras áreas, incluindo o acesso a preços razoáveis em medicamentos, algodão, e o reforço do tratamento especial e diferenciado para os pa- íses em desenvolvimento, assim como nas disciplinas anti-dumping. A Rodada de Doha também representa uma oportunidade sem precedentes para se elaborar normas sobre subsídios às pescas e se estabelecer o relacionamento entre as disciplinas da OMC e os acordos multilaterais sobre o ambiente. Os treze documentos sobre as questões, recolhidos neste volume, proporcionam uma revisão abrangente do ponto da situação das negociações e de outras discussões em curso sob a umbrella de Doha. Será complementado por um esboço dos últimos de- senvolvimentos na primeira parte de Dezembro, e a reportagem diária do ICTSD no decurso da Conferência Ministerial de Hong Kong.

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Actualização para Hong Kong

O Centro Internacional para o Comércio e Desenvolvimento Sustentável (ICTSD)

Vol. 4 Novembro de 2005

SÉRIE DE BRIEFING DA RODADA DE DOHA

CONTEÚDO

p. 2 No. 1 Questões e Preocupações Relacionadas à Implementação

p. 4 No. 2 Agricultura

p. 11 No. 3 Comércio de Serviços

p. 17 No. 4 Acesso ao Mercado para Produtos não Agrícolas

p. 22 No. 5 Direitos de Propriedade Intelectual

p. 27 No. 6 Facilitação do Comércio

p. 30 No. 7 Negociações sobre Normas da OMC

p. 35 No. 8 Revisão do Entendimento Sobre Solução de Controvér-sias

p. 39 No. 9 Ambiente de Comércio

p. 43 No. 10 Comércio, Dívi-da e Finança

p. 46 No. 11 Comércio e Transferência De Tecnologia

p. 49 No. 12 Assistência Téc-nica e Capacita-ção

p. 52 No. 13 Tratamento Especial e Dife-renciado

Nos fins de Novembro os Membros da OMC concordaram que as suas posições sobre questões chaves permanecram muito distantes uns dos outros para ir ao encontro dos objectivos originais da Conferência Ministerial de Hong Kong. Quando esta edição dos Briefings de Doha foi à imprensa a atenção estava virando para formas de assegurar que não se perderia o momentum no pós Hong Kong e que um resultado ‘ambicioso’poderia ainda ser alcançado até o fim de 2006 ou no início de 2007.

Levantaram-se as esperanças em meados de Outubro, quando Membros chaves da OMC e agrupamentos colocaram na mesa as suas primeiras propostas concretas sobre a agri-cultura. Apesar de grandes divergências nas suas ambições, parecia haver suficiente concordância para eventualmente emergir a convergência sobre o âmbito da redução dos subsídios domésticos e o desfazeamento do apoio à exportação. Contudo, refle-tindo um impasse de longa data em Genebra, o distanciamento entre as posições dos Membros em relação ao acesso ao mercado mostrou sinais de estreitamento. A União Européia foi alvo de severas críticas nesta área, particularmente à medida em que o seu nível de ambição – ou a falta de ambição – foi tida como estabelecendo o marco para outros liberalizadores relutantes da agricultura.

Três semanas depois a maioria dos Membros da OMC rejeitou também a proposta revi-sada da UE sobre a agricultura devido às consideráveis concessões que exigia dos par-ceiros comerciais a troco de reduções tarifárias ligeiramente mais generosas. Os países em desenvolvimento em particular ficaram furiosos pelo fato da UE ter ligado a sua oferta a reduções muito significativas nas suas tarifas sobre produtos industrializados, para além de exigir compromissos obrigatórios de abertura de mercado em aproxima-damente cem setores de serviços. Um vasto número de Membros levantou também objeções ao elevado número de produtos ‘sensíveis’ que a UE se propôs moldar a partir de cortes tarifários totais. Se essa é realmente a ‘linha de fundo’ que as entidades Eu-ropéias insistem que é, as conversações sobre a agricultura provavelmente falharão.

Tal desfecho resultaria inevitavelmente numa redução generalizada e paralela de am-bição. Embora a Mesa do grupo de acesso ao mercado não agrícola (NAMA) tivesse avisado repetidamente que está a esgotar-se o tempo para a resolução de numerosas questões que devem ser esclarecidas antes que se possa chegar a acordo sobre as mo-dalidades finais de negociação, muitos Membros da OMC continuam não desejosos de entrar em sérias negociações antes que se esclareça melhor o âmbito de um eventual acordo sobre a agricultura. Tendo em conta o número de questões não resolvidas, mesmo um compromisso de última hora sobre a agricultura em Hong Kong chegaria provavelmente muito tarde para permitir um acordo sobre o NAMA. O mesmo se pode dizer em relação aos serviços, o terceiro elemento central da ‘grande realização’ da Rodada de Doha.

Embora se tenha feito muito do desenvolvimento e da dimensão da redução da po-breza dessas negociações, um resultado medíocre – ou pior – em agricultura afeta-ria severamente esse potencial. Caso Hong Kong falhe, poder-se-á também perder a possibilidade de avanços em outras áreas, incluindo o acesso a preços razoáveis em medicamentos, algodão, e o reforço do tratamento especial e diferenciado para os pa-íses em desenvolvimento, assim como nas disciplinas anti-dumping. A Rodada de Doha também representa uma oportunidade sem precedentes para se elaborar normas sobre subsídios às pescas e se estabelecer o relacionamento entre as disciplinas da OMC e os acordos multilaterais sobre o ambiente.

Os treze documentos sobre as questões, recolhidos neste volume, proporcionam uma revisão abrangente do ponto da situação das negociações e de outras discussões em curso sob a umbrella de Doha. Será complementado por um esboço dos últimos de-senvolvimentos na primeira parte de Dezembro, e a reportagem diária do ICTSD no decurso da Conferência Ministerial de Hong Kong.

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Questões e Preocupações Relacionadas à Implementação

� CopyrightiCtSD,NovembroDe�005

O Mandato de Doha:

“Atribuímos importância máxi-ma a questões e preocupações relativas à aplicação levanta-das pelos Membros e estamos determinados a encontrar so-luções apropriadas para elas. Neste sentido, e considerando as Decisões do Conselho Geral de 3 de maio e 15 de dezembro de 2000, também adotamos a Decisão sobre as questões e preocupações relativas à aplicação que encontra-se no documento WT/MIN(01)/17 para abordar alguns problemas de aplicação enfrentados pelos Membros. Concordamos que as negociações sobre questões pendentes relativas à aplica-ção serão parte integral do programa de trabalho que estamos estabelecendo, e que os acordos alcançados em uma etapa inicial dessas negociações serão tratados de acordo com as disposições do parágrafo 47 infra. Para isto, procederemos da seguinte maneira: a) nos casos em que estabelecemos um mandato de negociação específico na pre-sente Declaração, as questões de aplicação pertinentes serão tratadas sob aquele mandato; b) as demais questões penden-tes relativas à aplicação serão tratadas com caráter priori-tário pelos órgãos competen-tes da OMC, que, no máximo ao final de 2002, apresentarão um relatório ao Comitê de Ne-gociações Comerciais, estabe-lecido pelo parágrafo 46 infra, visando uma ação apropriada”.

(Parágrafo 12 da Declaração Ministerial de Doha)

SérieDebrieFiNgDaroDaDaDeDoha

A ambiguidade do parágrafo 12 da Declaração Ministerial de Doha sobre questões e preocupações relacionadas à implementação, juntamente com os diferentes órgãos envolvidos em sua apreciação, tem resultado em um processo fragmentado que solu-cionou apenas algumas das preocupações. O fracasso dos Membros em abordar muitas das exigências de implementação reflete a maior prioridade dada a outras áreas de negociação durante os preparativos finais para a Conferência Ministerial de Hong Kong, em dezembro de 2005. Assim que se vislumbre um pacote final, as questões e preocu-pações relacionadas à implementação devem começar a alterar a agenda da OMC.

Histórico Antes da Conferência Ministerial de Seattle em 1999, a “implementação” era geralmen-te compreendida como a conformidade com as obrigações da OMC. Contudo, durante as negociações pré-Seattle, os países em desenvolvimento expandiram o conceito para incluir a implementação de disposições de soft law a seu favor e abordar os desequilí-brios existentes nos acordos da OMC que lhes impediam de beneficiarem-se totalmente do sistema multilateral de comércio.

A Conferência Ministerial de Doha de 2001 abordou questões de implementação na própria Declaração Ministerial, em uma Decisão à parte sobre Questões e Preocupações Relacionadas à Implementação (WT/MIN(01)/17) e em uma Compilação de Questões de Implementação Pendentes levantadas por Membros (JOB(01)/ 152/Rev.1).

No ‘Pacote de Julho’ de 2004, os Membros foram encorajados a debater questões de implementação pendentes. O Conselho Geral solicitou que o Diretor Geral da OMC desse prosseguimento às consultas previstas no Parágrafo 12b, enfatizando a extensão da proteção de Indicações Geográficas (IGs) a outros produtos que não vinhos e bebidas espirituosas, prevista no artigo 23 do Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Proprie-dade Intelectual relacionados ao Comércio (TRIPS, sigla em inglês). Depois de julho de 2004, as negociações sobre o parágrafo 12b deram-se em duas frentes. Primeiro, o então Diretor-Geral Supachai Panitchpakdi, solicitou que os Presidentes das Mesas de órgãos relevantes da OMC atuassem como “amigos”, efetuando consultas em seu nome sobre o progresso das questões e preocupações relativas à implementação em suas respectivas áreas de negociação. A segunda frente abordava diretamente a extensão das IGs. Alguns Membros temiam que discussões subsequentes sobre a extensão de IGs enfraquecessem outras questões relacionadas à implementação.

Estado atual das negociaçõesO mandato do Diretor Geral foi renovado pelo Conselho Geral em julho de 2005. A tarefa foi dada ao novo Diretor Geral, Pascal Lamy. Em sua declaração de outubro de 2005 ao Comitê de Negociações Comerciais, Lamy informou que a denominação de “amigos”, dada aos Presidentes das Mesas, continuaria. Ele também nomeou dois de seus Diretores Gerais Adjuntos para examinarem questões específicas relacionadas à implementação. Valentine Rugwabiza (Ruanda) é o responsável por questões pertinen-tes ao Acordo sobre Medidas de Investimento Relacionadas ao Comércio (TRIMs, sigla em inglês) e Rufus Yerxa (EUA) é o responsável pelas IGs no âmbito do Acordo TRIPs e pela relação entre o Acordo TRIPS e a Convenção de Diversidade Biológica (CDB).

O quadro a seguir evidencia algumas das mais importantes preocupações relacionadas à implementação e o progresso que tem sido feito – ou melhor, que não tem sido feito – para solucionar essas questões desde a Conferência Ministerial de Cancun, em 2003.

Questões de implementação relacionadas a negociações em agricultura, serviços e di-reitos de propriedade intelectual serão abordados no Vol. 4 da série Doha Briefings, números 2, 3 e 5, respectivamente.

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Área da Questão Acordo Rele-vante da OMC

Preocupação relacionadas à Implementação abordadas em

O que diz o texto relacionado à implementação Estágio Atual

Regras de Origem Acordo sobre Re-gras de Origem

Decisão de Doha sobre questões e preocupações relacionadas à Im-plementação (do-ravante “Decisão”, parágrafo 9)

Comitê sobre Regras de Origem é encorajado a concluir o programa de trabalho de harmonização até o fim de 2001

Nenhuma decisão foi tomada; nego-ciações intensas continuam. Prazo para 94 questões políticas trnsferido para julho de 2006; trabalho técnico deve ser concluído no final de 2006.

Valoração Adua-neira

GATT 1994, artigo VII

Decisão, parágrafo 8.3

Comitê sobre valoração aduaneira ainda vai abordar as “preocupações legítimas” de autoridades aduaneiras relativas à declaração de valores de importação

Nenhuma decisão foi tomada

Subsídios e Medidas Compen-satórias

Acordo sobre Subsídios e Me-didas Compensa-tórias (SCM)

Decisão, parágrafo 10.3

Comitê sobre Subsídios continuar a revisar as disposições do Acordo sobre investigação de medidas compensatórias

Nenhuma decisão foi tomada

Subsídios e Medidas Compen-satórias

Acordo SCM, artigo 27.4

Decisão, parágrafo 10.6

Extensão do período de transição para certos subsídios à exportação concedi-dos a uma categoria ligeiramente redefi-nida de países em desenvolvimento

27 de Outubro de 2005: Membros concedem prorrogação de um ano (até o final de 2006) para 19 PEDs. O que reflete o novos critérios de elegibilidade

Anti-dumping Acordo Anti-dum-ping, artigo 15

Decisão, parágrafo 7.2

Membros devem esclarecer como países desenvolvidos devem ter “cuidado especial” com a situação dos PEDs as considerar medidas anti-dumping

Nenhuma decisão foi tomada; discussões continuam no Grupo de Negociações sobre regras.

SalvaguardasAcordo sobre Salvaguardas, artigo 9.1

Tiret 84 da Compi-lação

Considerando alterar níveis mínimos para que medidas de salvaguarda não sejam aplicadas a países em desenvolvi-mento responsáveis por menos de 7 % da importação total e 15 % coletivamente

Nenhuma decisão foi tomada; Comissão de Salvaguardas continua a negociar, e.g. JOB 9(04)158 da Malásia e G/SG/M25 e 26

Acesso a Merca-dos

GATT 1994, artigo XIII, Parágrafo 2(d)

Decisão, parágrafo 1.2

Membros devem definir até o fim de 2002 o significado do termo “interesse substancial” para a determinação da atribuição de cotas

Nenhuma decisão foi tomada; as discussões continuam no Comitê de Acesso a Mercados.

Medidas de Investimento Relacionadas ao Comércio

Acordo sobre Medidas de Investimento Relacionado ao Comércio (TRIMS)

TireT 40 da Compi-lação

Devem ser incluídas no Acordo dispo-sições que permitam que PEDs façam uso das flexibilidades necessárias à implementação de políticas de desen-volvimento

Nenhuma decisão foi tomada; negociações intensas continuam em anadamento.

Têxteis e Ves-tuários

Acordo Anti-dum-ping

Decisão, parágrafo 4.2

Membros concordam em seriamente considerar o uso de medidas anti-dum-ping contra países em desenvolvimento

A Turquia impôs sete taxas anti-dum-ping sobre têxteis Chineses; os UEA e a UE optaram por salvaguardas

Comércio e De-senvolvimento

GATT 1994, artigo XVIII

Declaração de Doha, Parágrafo 12 (b), Tiret 3 da Compilação de questões sobre implementação levantadas pelos Membros

Membros devem garantir que o artigo XVIII do GATT permita que PEDs imple-mentem programas de desenvolvimento econômico cujos objetivos sejam a elevação do padrão de vida da popula-ção em geral

18 de agosto: Membros concor-dam em instruir o Conselho sobre Comércio de Bens a desenvolver e adotar procedimentos para recorrer ao artigo XVIIIC; Novembro de 2002: o Comitê sobre Balança de Pagamen-tos apresentou um relatório sobre a linguagem do draft referente à seção B; consultas informais continuam em andamento

Balança de Paga-mentos

GATT 1994, artigo XVIII, Seção B

Declaração de Doha, Parágrafo 12(b) Tiret 1 da Compilação

Somente o Comitê sobre Balança de Pagamentos terá autoridade para avaliar a justificação de medidas BoP

Nenhuma decisão foi tomada; consultas continuam em andamento.

Medidas Sani-tárias e Fitossa-nitárias

Acordo sobre Me-didas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS)

Decisão, Parágrafo 3.3

Apontando para uma decisão anterior sobre equivalência de diferentes medi-das de segurança de alimento, saúde, animais e plantas, a instrução é para implementação imediata

Março de 2004: o Comitê sobre SPS conclui seu plano de trabalho sobre equivalência adotando três esclare-cimentos à sua Decisão de outubro de 2001 sobre Equivalência

Medidas Sani-tárias e Fitossa-nitárias

Acordo sobre Me-didas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS)

Parágrafo 3 da Compilação

Quando a adoção de medidas SPS ten-ham efeito significativo sobre o comér-cio de produtos que interessam PEDs, os Membros informarão a OMC e o Membro em questão.

27-28 de outubro de 2004: o Comitê sobre SPS adotou um procedimento para notificação transparente de SPS e de consultas bilaterais, caso solicitadas.

Agricultura

O Mandato de Doha:

“Acrescentando ao tra-balho feito até esta e sem prejuízo para o resultado das negociações compro-metemo-nos a negocia-ções abrangentes visando: melhoramentos substanciais no acesso ao mercado; redução de, com o fim de terminar, todas as formas de subsídios à exportação; e reduções substanciais ao apoio interno distorcedor do comércio. Consordamos que tratamento especial e diferenciado para países em desenvolvimento constituirá parte integrante de todos os elementos de negocia-ções e será integrado nos Calendários de concessóes e compromissos e conforme for apropriado, nas regras e disciplinas a serem nego-ciadas, de forma a serem operacionalmente eficazes e a permitir os países em desenvolvimentoa efetiva-mente assumirem as suas necessidades de desenvolvi-mento, incluindo segurança alimentar e desenvolvimen-to rural. Anotamos as preo-cupações não referentes ao comércio refletidos nas propostas de negociações submetidos pelos Membros e confirmamos que questões não relacionadas ao comé-rcio serão tidas em conta nas negociações conforme previsto no Acordo sobre a Agricultura”

(Parágrafo 13 da Declara-ção Ministerial de Doha)

SérieDebrieFiNgDaroDaDaDeDoha

� CopyrightiCtSD,NovembroDe�005

As negociações sobre agricultura – chave da Rodada de Doha como um todo – têm sido marcadas durante as preparações finais para a Conferência Ministerial de Hong Kong, em Dezembro de 2005, por uma urgente necessidade de liderança por parte dos “principais jogadores”, e também pela necessidade concomitante de um processo inclusivo que acolha as preocupações de todos os países e operacionalize a dimensão “desenvolvimentista” da rodada.

Os Membros esperavam uma “primeira aproximação” de modalidades de agricul-tura até o final de julho de 2005, sendo que as atuais modalidades - percentagens tarifárias e cortes de subsídios, fórmulas de redução, critérios para apoio do-méstico, prazos e períodos de transição –seriam concluídas durante a ministerial. Contudo, as negociações foram severamente atrasadas durante os primeiros cinco meses do ano devido a dificuldades relacionadas ao processo de conversão de tari-fas agrícolas “específicas” baseadas em quantidades importadas em equivalentes ‘ad valorem’ (EAVs) - i.e., tarifas baseadas no preço do produto. A conversão em EAV constitui um exercício de transparência que classifica as tarifas dos Membros em diferentes níveis, definidos para diferentes requisitos de redução de acordo com a fórmula escalonada para cortes tarifários. Alguns “Membros-chave” final-mente concordaram com o processo de conversão em EAV em maio, durante uma “mini-ministerial” que acontecia paralelamente à reunião anual da OECD em Pa-ris, após a qual negociações sérias sobre a fórmula de redução tarifária tiveram início. Durante uma mini-ministerial de julho, em Dalian, China, o G-20 (grupo que reúne os principais países em desenvolvimento (PEDs), incluindo Brasil e Índia) apresentou uma proposta de acesso a mercados que os Membros concordaram em utilizar como base para negociações futuras.

No entanto, divergências quanto ao EAV, juntamente com constantes diferenças políticas e a falta de engajamento de elementos-chave, contribuiu para que os delegados não conseguissem chegar a um acordo sobre “primeiras aproximações” ao final de julho, apesar do processo intensivo de reuniões entre pequenos grupos de países-chave e a presença de última hora de ministros do comércio em Gene-bra. Tim Groser, antigo embaixador da Nova Zelândia que presidiu as conversa-ções sobre agricultura, apresentou uma avaliação do status das negociações sobre agricultura no Conselho Geral. De acordo com Groser, as negociações pré-Hong Kong estariam firmemente ancoradas na própria Declaração de Doha, bem como no “Pacote de Julho” de 2004, já que havia concordância quanto ao novo texto. Negociações sobre acesso a mercados continuaram a ser o “pilar” mais desafiador das conversações, muito atrás do progresso alcançado quanto a apoio doméstico e concorrência de exportação.

As negociações foram reiniciadas após o recesso de agosto da OMC, quando então Groser foi substituído por seu compatriota, Crawford Falconer, como presidente das conversações sobre agricultura. Falconer deu início a um processo que fo-cava diretamente em modalidades de negociação baseadas em uma aproximação “abrangente”, que considerava os trade-offs nos três pilares agrícolas, bem como as ligações com outras áreas de negociações. Essas negociações sedeadas em Ge-nebra, às quais os delegados eram continuamente chamados entre as “semanas agrícolas” oficiais, foram intercaladas por reuniões de âmbito ministerial entre os Membros-chave.

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CopyrightiCtSD,NovembroDe�0055

No dia 10 de outubro, em uma reunião entre os ministros das Cinco Partes inte-ressadas (FIPs, sigla em inglês), que incluíam Austrália, Brasil, UE e EUA, os EUA apresentaram novas propostas sobre apoio doméstico – mostrando, pela primeira vez, vontade de reduzir seus próprios subsídios comerciais distorcivos – e acesso a mercados. A UE e o G-20 apresentaram contrapropostas sobre acesso a mercados, com o G-20 querendo cortes mais profundos que a UE, mas ainda permanecendo menos ambiciosos do que os EUA. A UE aproximou-se dos EUA em relação ao apoio doméstico, apesar dos EUA terem proposto uma abordagem de acordo com a qual a UE faria as maiores reduções – cortes de 70% a subsídios comerciais distorcivos. O corte para os EUA seria de 60%. Contudo, é difícil estimar os efeitos desses cortes, já que os países já aplicam tarifas mais baixas que o máximo permitido em tarifas “consolidadas”.

Novas conversações de nível ministerial entre os FIPs fracassaram no dia 19 de outubro, em Genebra. Isso aconteceu porque, devido a tensões internas, a UE foi incapaz de apresentar uma oferta revista sobre acesso a mercados.

Enquanto os EUA, a Austrália e o G-20 exerciam imensa pressão sobre a UE para que esta concordasse com reduções tarifárias mais profundas, o grupo África, Ca-ribe e Pacífico (ACP, sigla em inglês) temia que o conceito emergente de “mid-dle-ground” migrasse em direção às posições dos EUA e do grupo Cairns, em vez de considerar as posições do G-10 (rede de importadores de alimentos, formada principalmente por países desenvolvidos, como Suíça e Japão) e dos países ACP. O grupo notou que vários PEDs – incluindo os 79 Membros da OMC – eram favoráveis a uma abordagem mais cautelosa para a redução de tarifas agrícolas. O grupo tam-bém pediu um processo de negociação mais transparente e inclusivo.

Grupos que haviam se mobilizado em torno de questões específicas também par-ticiparam ativamente das negociações. Os países do G-33 – uma aliança a favor da designação de “Produtos Especiais” (SP, sigla em inglês) utilizados a favor de cortes tarifários mais baixos para países em desenvolvimento e por um “Meca-nismo Especial de Salvaguarda” (SSM, sigla em inglês) para proteger esses países contra aumentos desmedidos de importação – fizeram propostas sobre SPs e SSMs. O G-11 (grupo de países da América Latina que procura assegurar a mais ampla liberalização possível de produtos tropicais) também apresentou seus pontos de vista nas negociações, focando particularmente no acesso a mercados de países desenvolvidos.

No dia 28 de outubro, a UE apresentou uma proposta “nova e melhorada”, enfa-tizando que esta seria uma oferta final, relacionada a questões como: discipli-nas mais severas em relação a ferramentas de exportação competitiva além dos subsídios diretos à exportação; normas mais severas sobre apoio doméstico par-cial à Caixa Azul1; indicações geográficas (uma espécie de marca registrada para proteger globalmente produtos tipicamente Europeus, como o presunto Parma); e o acesso a mercados e serviços industrializados. Os PEDs rejeitaram o nível de concessões buscado pela UE nas duas últimas áreas por serem totalmente despro-porcionais.

Depois que uma nova rodada de negociações intensas de nível-ministerial (reali-zada na segunda metade de novembro) falhou em solucionar essas diferenças, os Membros reconheceram que não havia mais tempo para um acordo sobre moda-lidades completas para as negociações de agricultura em Hong Kong. A atenção estava voltada para como as expectativas reduzidas seriam refletidasno draft da declaração ministerial, assegurando, ao mesmo tempo, que era possível haver progresso nos próximos meses. Os Membros da OMC declararam que se mantinham fiéis ao compromisso de alcançar o ambicioso resultado da Rodada de Doha, mas que era preciso mais tempo para se chegar a um acordo sobre acesso a mercados agrícolas, bem como em relação aos níveis de ambição nas diferentes áreas de negociação, incluindo redução de tarifas industriais e de serviços.

1 �m inglês, blue box.�m inglês, blue box.

Falconer e os Membros concorda-ram que ele prepararia um draft de um texto “não-negociado” até a terceira semana de novembro, para que os Membros tivessem a oportuni-dade de fazer comentários ao texto antes que ele fosse submetido ao Comitê de Negociações Comerciais (TNC, sigla em inglês), que fiscaliza a Rodada de Doha e que é presidido pelo Diretor-Geral da OMC. De acor-do com Falconer, o texto não seria apenas de “interesse histórico”, mas também orientaria o trabalho dos ministros em Hong Kong. O TNC de-cidiria como enquadrar o texto sobre a agricultura no draft da declaração ministerial. Os ministros de alguns países-chave ainda poderiam reunir-se em Genebra para tentar avançar nas conversações.

As negociações tiveram como pano de fundo dois grandes casos: os subsídios dos EUA ao algodão e da UE ao açúcar. Uma antiga disputa entre a UE e os produtores de bananas da América Latina também voltou para assombrar o sistema. No início de 2006, a UE deve substituir seu atual regime de importação, que inclui quotas e preferências tarifárias para países ACP, por um único regime de tarifa (tariff-only). A UE e os Latino-Americanos não conseguem chegar a um acordo sobre uma tarifa adequa-da e os Latino-Americanos acreditam que, para que a ministerial seja bem sucedida, um acordo deve ser alcan-çado até Hong Kong. Por outro lado, os países por trás da “iniciativa al-godão” prevêem que uma concessão nessa área decidirá o sucesso ou o fracasso de Hong Kong.

Prazos• Conclusão das negociações como parte do “pacote único” acordado na Conferência Ministerial de Doha, em 2001.

HistóricoAgricultura e serviços são as únicas áreas nas quais as negociações sobre maior liberalização comercial esta-vam sob mandato dos próprios acor-dos da OMC. Conversações dentro desses limites foram iniciadas em

� CopyrightiCtSD,NovembroDe�005

SérieDebrieFiNgDaroDaDaDeDoha

2000, mas não houve progresso an-tes do lançamento de negociações mais amplas em novembro de 2001, na Conferência Ministerial de Doha. Em Doha, os ministros esforçaram-se para alcançar um compromisso aceitável para todos os Membros da OMC, que se encontravam absoluta-mente divididos quanto à direção a ser tomada no processo de reforma da agricultura. Durante a Conferên-cia Ministerial de Cancun, em 2003, as negociações falharam em parte devido à percepção de que países desenvolvidos chave haviam exer-cido muita influência sobre o texto de agricultura que estava sendo ne-gociado (ver Série Doha Briefings, Vol. 2).

Depois de Cancun, foram precisos mais dez meses de negociação para que o Conselho Geral da OMC che-gasse a um acordo sobre o “Pacote de Julho” de 2004 (W/L/579), que finalmente permitiu que o processo avançasse. O Anexo A daquele do-cumento contém as “linhas-mestre para o estabelecimento de modali-dades em agricultura”, que apresen-tam parâmetros mais amplos para negociações adicionais, suficiente-mente vagos para permitir que todas as questões-chave sejam trabalha-das mais adiante. Depois de terem concordado sobre o pacote de julho, os delegados concluíram a “primeira leitura” do texto completo em março de 2005, sendo que discussões mais detalhadas sobre certos elementos se desenrolavam paralelamente em pequenos grupos.

Cancun alterou permanentemente a dinâmica das negociações. A fase na qual o Quad constituído por UE, EUA, Canadá e Japão tomava todas as decisões está ultrapassada. Em vez disso, o “novo Quad” é consti-tuído por Brasil, UE, Índia e EUA. Juntamente com a Austrália, esses países constituem as “Cinco Partes Interessadas” (FIP) e encontram-se agora no centro do processo de to-mada de decisão. O G-20 (grupo de países em desenvolvimento formado pouco antes de Cancun e constituído por poderosos como Brasil, China, Índia e África do Sul) passou a ser um importante jogador nas negociações

e tem produzido propostas específicas que objetivam preparar o terreno para as negociações.

Acesso a MercadosOs pilares das negociações de acesso a mercados continuam a constituir um dos maiores desafios e as negociações de modo geral sofreram atrasos severos durante a primeira metade de 2005 devido a dificuldades técnicas relacionadas aos EAVs.

Conversão em EAVEm casos diretos, os Membros baseiam as conversões em EAV em volumes de importação e em valores importados notificados submetidos à Base de Dados In-tegrados (IDB, sigla em inglês) da OMC. Contudo, complicações vêm à tona com alguns produtos refinados, como o açúcar e o queijo, ou nos casos envolvendo preferências ou cotas tarifárias. Em muitos desses casos, os preços de impor-tação diferem significativamente dos preços mundiais compilados nas estatísti-cas de commodities comerciais da base de dados da ONU (ComTrade). Casos em que os dois conjuntos de dados produzem preços particularmente divergentes (e conseqüentemente, taxas ad valorem) são “filtrados” com base em comparações entre os dados da OMC e da ONU e as conversões em EAV são subseqüentemente feitas com base nos dados da IDB e da ComTrade.

A conversão em EAV posicionou a UE e o G-10 contra os EUA, o grupo dos Cairns e o G-20. Os primeiros utilizam um número elevado de tarifas específicas e que-riam que a conversão se baseasse nos dados da IDB, enquanto os exportadores de produtos agrícolas queriam que a conversão fosse baseada nos mais baixos preços mundiais, o que levaria a EAVs mais elevados e, eventualmente, cortes tarifários maiores. Após tensas negociações durante a mini-ministerial, em maio, os par-ticipantes concordaram quanto a números específicos para avaliar as estimativa médias de preços da IDB e da ComTrade. Os preços de produtos básicos serão melhor avaliados na direção dos preços mais baixos da ComTrade, enquanto os bens processados estarão relativamente mais próximos aos níveis mais elevados da IDB.

Fórmula para a Redução Tarifária Após o compromisso sobre conversão em EAV, os Membros finalmente conseguiram produzir EAVs para as suas várias linhas tarifárias e avançar nas discussões sobre fórmula de redução tarifária. Em discussões iniciais, os Membros mantiveram seus antigos posicionamentos, sendo que os EUA, o grupo dos Cairns e o G-20 preferiram a fórmula com um forte efeito harmonizador – tarifas mais elevadas serão proporcionalmente mais reduzidas do que tarifas menos elevadas – quanto à fórmula da Rodada Uruguai, que permite que os Membros tenham mais flexibili-dade em relação a tarifas mais altas. A UE e os G-10 preferem a última. Algumas idéias de compromissos foram apresentadas, mas o verdadeiro avanço aconteceu quando o G-20 apresentou uma proposta na mini-ministerial de Dalian, em julho, que serviu como base para as negociações.

De acordo com a fórmula do G-20, as linhas tarifárias de países desenvolvidos e PEDs estariam divididas em diferentes grupos de bandas tarifárias, de acordo com o nível de obrigações presentemente atribuídas, com cada banda sujeita a dife-rentes cortes percentuais. Para países desenvolvidos, cinco bandas diferentes es-tariam disponíveis, sendo que a primeira seria constituída por tarifas de até 20% e a quinta por todas as tarifas superiores a 80%. As tarifas dentro de cada banda es-tariam sujeitas a cortes lineares de percentagem progressivamente maiores para cada banda. As tarifas dos PEDs, por outro lado, seriam enquadradas em quatro bandas diferentes: de zero a 30%, de 30 a 80%, de 80 a 130% e acima de 130%.

Além das linhas gerais da fórmula, o G-20 também sugeriu que tarifas individuais fossem limitadas a 100% para países desenvolvidos e 150% para PEDs. Essa abor-dagem resolveria a questão dos picos tarifários. O G-10 e os países da ACP opose-

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ram-se fortemente. O G-10 argumentou que tarifas elevadas não necessariamente significam que o acesso a mercados esteja bloqueado e que o peso da abertura comercial não deveria recair desproporcionalmente sobre um pequeno número de países com tarifas elevadas que atualmente importam uma porção significativa do seu próprio alimento.

Após Dalian, a UE sugeriu uma abordagem alternativa baseada em três bandas tarifárias aplicáveis igualmente a PEDs e a países desenvolvidos, com os PEDs fazendo cortes equivalentes a dois terços dos cortes permitidos aos países desen-volvidos para segmentos comparáveis. À medida que as discussões passaram para a fase seguinte, a UE abandonou essa proposta e apresentou quatro “cenários” diferentes para reduções tarifárias, baseados na proposta do G-20. Cada cenário dividiria as tarifas dos países em quatro bandas e permitiria que PEDs fizessem cortes equivalentes a dois terços daqueles permitidos a países desenvolvidos. Os quatro cenários variavam em ambição: a média das reduções variava de 24,5 a 36,4%, com tarifas nas bandas mais elevadas sofrendo cortes maiores. Além disso, a UE propôs a introdução de flexibilidades diretas na fórmula, na forma de “pi-vots”. De acordo com essa abordagem, um pivot de 10% em uma banda com um requisito de redução de 50% permitiria que os Membros optassem por reduzir tarifas de alguns produtos em 40%, desde que as outras tarifas sofressem cortes maiores para manter a média dos cortes na banda dentro do nível desejado. A UE disse que incorporar maior flexibilidade na fórmula por meio de pivots reduziria a necessidade de recorrer a “produtos sensíveis”, que seriam excluídos da fórmula e sofreriam reduções menores. Os EUA e o Brasil expressaram ceticismo quanto ao conceito de pivot.

Em 10 de outubro, os EUA apresentaram uma fórmula que estabelecia quatro fai-xas diferentes para PEDs e países desenvolvidos, constituídas por tarifas abaixo de 20, de 20 a 40, de 40 a 60 e acima de 60%. A proposta permitiria cortes tarifários progressivos dentro de cada faixa, com os países desenvolvidos fazendo reduções de 55-65, 65-75, 75-85 e 85-90%, respectivamente, em cada uma das quatro fai-xas. Os EUA não especificaram o nível dos cortes que esperavam dos PEDs, mas disseram que estes seriam ligeiramente inferiores aos cortes feitos pelos países desenvolvidos. Eles também sugeriram limitar as tarifas de países desenvolvidos a 75% e as tarifas de PEDs a 100%.

Uma proposta do G-10, também datada de 10 de outubro, delineou duas opções para acesso a mercados e pediu que os países escolhessem entre uma fórmula mais flexível ou a designação de mais produtos como sensíveis. A proposta não apresen-tou percentagens específicas para reduções tarifárias. Países que optassem pela fórmula flexível poderiam fazer desvios constrangidos do corte médio para pro-dutos dentro de cada faixa, mas também teriam que reduzir produtos sensíveis em relação a países que escolhessem a fórmula menos flexível. O grupo rejeitou a noção de limites tarifários.

O G-20 apresentou uma proposta revista de acesso a mercados no dia 12 de ou-tubro, desta vez inserindo números para os cortes tarifários para as bandas que haviam delineado no documento apresentado em Dalian. O grupo pedia uma mé-dia mínima de redução tarifária de 54% para países desenvolvidos e uma média máxima de cortes tarifários de 36% para PEDs. Isso permitiria que PEDs fizessem cortes de 25, 30, 35 e 40% nas respectivas bandas de menos de 30%, 30-80 %, 80-130% e acima de 130%. Nas faixas (revistas) de menos de 20%, 20-50%, 50-75% e acima de 75%, os países desenvolvidos deveriam fazer cortes acima de 45, 55, 65 e 75%, respectivamente.

A proposta do G-20 alegava que diferentes limiares e reduções tarifárias são ne-cessários para garantir que PEDs não fiquem sobrecarregados com compromissos. A proposta do G-20 propunha limitar as tarifas dos países desenvolvidos em 150%, enquanto delimitaria as tarifas dos PEDs em 100%.

Os países da ACP apresentaram uma proposta de acesso a mercados em 21 de outubro, que acentuou a vul-nerabilidade de muitos PEDs em abrir seus mercados sem restrições. Sua fórmula classificaria as tarifas em quatro faixas de redução: para PEDs, produtos com tarifas de 0-50, 50-100, 100-150 e acima de 150%; enquanto as faixas correspondentes para países desenvolvidos seriam 0-20, 20-50, 50-80 e acima de 80%. Os PEDs efetuariam cortes tarifários compreendidos entre 15 e 30%. Os cortes requeridos de países desen-volvidos não foram especificados.

A proposta dos países da ACP tam-bém forneceu considerações espe-ciais para PEDs que consolidaram suas tarifas a uma taxa uniforme ele-vada durante a Rodada Uruguai – de outro modo, as tarifas desses países seriam enquadradas dentro das pro-postas correntes de acesso a merca-dos, onde seriam indicadas para ele-vadas percentagens de redução.

No que diz respeito à erosão de an-tigas preferências – uma das princi-pais preocupações dos países da ACP – o grupo prometeu apresentar uma proposta mais detalhada. O grupo já teria declarado que PEDs deve-riam incluir produtos preferenciais em suas listas de produtos sensíveis indicados para menores reduções tarifárias, considerando que isso os protegeria contra a erosão de prefe-rências.

A UE apresentou sua “nova e melho-rada” oferta de acesso a mercados no dia 28 de outubro. De acordo com essa abordagem, as tarifas dos paí-ses desenvolvidos seriam divididas em quatro faixas contendo tarifas de 0-30, 30-60, 60-90 e acima de 90%, indicadas para cortes de 35, 45, 50 e 60%, respectivamente. Para PEDs, as faixas seriam para produtos com ta-rifas de 0-30, 30-80, 80-130 e acima de 130% e os correspondentes cortes tarifários seriam de 25, 30, 35 e 40%. Embora a UE tivesse abandonado o conceito de pivot, sua proposta su-geria que flexibilidade adicional se-ria permitida para cortes tarifários nas bandas mais baixas, tanto para países desenvolvidos quanto para

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PEDs. 8% dos produtos poderiam ser designados como sensíveis. A UE aceitou a abordagem do G-20 em re-lação aos limites tarifários.

Produtos Especiais (SPs, sigla em in-glês), Mecanismos Especiais de Sal-vaguarda (SSMs, sigla em inglês) e Produtos Sensíveis

O G-33, demandantes de SPs e de SSMs, enfatizarou sua posição du-rante uma reunião ministerial em junho. Eles pediram que os países utilizassem “máxima flexibilidade” ao designar SPs, considerando que um conjunto comum de indicadores não pode refletir as amplas e va-riadas circunstâncias do mundo em desenvolvimento, mesmo dentro de PEDs. Os SPs não deveriam estar su-jeitos à redução tarifária e deveriam qualificar SSMs. Os SSMs deveriam aplicar-se a todos os produtos agrí-colas – em vez de se prender a baixos níveis tarifários ou a compromissos de grandes reduções tarifárias – e deveriam ser iniciados com base em súbitos aumentos de volume e em redução de preços. O G-33 também disse que questões relativas a SPs e SSMs deveriam ser resolvidas pela Ministerial de Hong Kong.

As discussões na OMC sobre os pos-síveis efeitos da designação de SPs no comércio Sul-Sul geraram contro-vérsias. Alguns países da América Latina disseram que produtos de exportação não deviam ser elegíveis como SPs porque eles não estão de acordo com os critérios de segu-rança alimentar e sugeriram que os indicadores deveriam assegurar que o reconhecimento de SPs fosse limitado a produtos não comer-ciais. Contudo, o G-33 foi contrário a essas limitações, alegando que os critérios de segurança alimen-tar, subsistência rural e desenvolvi-mento não impediam esses produtos de serem comerciais. A Malásia e a Tailândia disseram que a exportação para outros PEDs constituía um im-portante instrumento para alcançar objetivos de desenvolvimento e que não deveriam ser indevidamente im-pedidos. O Peru disse que produtos tropicais não deveriam ser designa-dos como SPs; o Chile lembrou que

existem muitas formas de tratamento especial e diferenciado aos quais os países podem recorrer além das isenções de SP, incluindo SSMs. China, Nicarágua e Cuba disseram que os SPs deveriam limitar-se a certas percentagens de linhas tarifárias.

No que diz respeito aos SSMs, os EUA disseram que esse mecanismo duplicaria a designação de SPs, alegando que ambos os instrumentos eram utilizados para o mesmo propósito. O G-33 contra-argumentou que os SPs constituíam uma isenção de longo prazo, enquanto os SSMs eram um mecanismo de curto prazo para ajudar PEDs a lidar com flutuações nos preços de produtos e com o conseqüente aumento da importação.

Considerando que os três critérios para SPs encontram-se detalhados no pacote de julho (segurança alimentar, segurança de subsistência e desenvolvimento ru-ral), o G-33 foi pressionado a produzir indicadores que operacionalizassem esses critérios. O grupo apresentou um documento no dia 12 de outubro sobre como identificar SPs. Em relação à segurança alimentar, as preocupações no âmbito nacional incluíam acesso a alimentos em todas as regiões e em habitações indi-viduais, bem como o compartilhamento de um produto na média da absorção ca-lórica. Preocupações internacionais incluíam a vulnerabilidade dos países de ter seu fornecimento interrompido. Para avaliar a importância de produtos quanto à segur0ança de subsistência, o documento focou-se fortemente no papel de pe-quenos agricultures e agricultures com escassos recursos na produção de colheitas específicas que podem ser deslocadas por importações. O documento dizia ainda que as necessidades de grupos especiais, como comunidades tribais ou de mulhe-res, ou então produtos provenientes de regiões geograficamente desvantajosas, poderiam ser consideradas. No que tange o desenvolvimento rural, o documento apontou para a necessidade de opções para melhorar as condições de vida das populações rurais, baseado tanto em produtos existentes como no potencial para valor agregado em zonas rurais. O G-33 destacou que os países deveriam dispor de flexibilidade para designar novos SPs para substituir SPs existentes conforme as mudanças de circunstâncias. O documento do G-33 também defendeu que produtos cujos preços no mercado global são distorcidos por subsídios de países ricos deveriam ser automaticamente elegíveis como SPs.

O G-33 também apresentou uma proposta sobre como operacionalizar SSMs. De acordo com o documento, PEDs poderiam impor taxas mais altas que o nível máximo para importações agrícolas caso o volume daquela importação aumen-tasse além da média de três anos, ou se os preços de importação caíssem abaixo do nível médio para os três anos que precedem o ano no qual a taxa estava sendo imposta. Essas taxas teriam uma duração máxima de 12 meses. O G-33 esboçou previsões para quatro bandas de níveis de aumento de importação e tarifas adi-cionais máximas que poderiam ser impostas. Esses números seriam negociáveis. Medidas de salvaguarda impostas em resposta a uma queda do preço de importa-ção seriam medidas de duas formas: baseadas em carregamentos ou baseadas em percentagem ad valorem. Em prol da transparência, PEDs deveriam notificar o Comitê de Agricultura sobre quaisquer medidas tomadas de acordo com o SSM.

Quanto a produtos sensíveis, que são disponíveis a todos os países e indicados para redução tarifária mais baixa, os EUA e o G-20 propuseram o limite de 1% nas linhas tarifárias. Os EUA mostraram-se favoráveis ao direito de designar até 8% das linhas tarifárias como sendo sensíveis; o G-10 entre 10 e 15%, dependendo da fórmula de redução tarifária escolhida pelo país. Todas as partes apresentaram soluções diferentes sobre como equilibrar a flexibilidade para desviar a redução tarifária padrão com o aumento das cotas das taxas tarifárias (TRQs, sigla em in-glês). A Austrália propôs uma abordagem simples, com flexibilidade para produtos sensíveis incorporados diretamente na fórmula de acesso a mercados por faixas. Para cada faixa, seria aplicada uma combinação padrão de redução tarifária e expansão do TRQ; quanto mais alta a faixa, maior a combinação de corte tarifário e expansão do TRQ requeridos para um produto sensível.

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Os EUA planejam proteger seus pa-gamentos contra-cíclicos – subsídios a agricultores que aumentam confor-me a queda do valor da média dos preços de mercado para commodi-ties – na caixa azul e vinculam crité-rios mais severos a concessões feitas por terceiros no pilar de acesso a mercados. Em sua proposta de 28 de outubro, a UE enfatizou a necessi-dade de disciplinas eficazes para a Caixa Azul.

Caixa Verde Ao passo que a UE e o G-10 vêem a revisão da Caixa Verde (subsídios desvinculados, minimamente dis-torcivos) como um mero check up, outros desejam assegurar que os critérios para subsídios possam ir ao encontro dos objetivo daquela Cai-xa. O Canadá sugeriu medidas para simplificar os cálculos das linhas de base e períodos de referência para pagamentos, para aumentar a cla-reza e assegurar que os períodos de referência sejam representativos, fixos e notificados. Em relação aos pagamentos de ajuste estrutural para a aposentadoria de produtores e recursos, o Canadá queria assegu-rar-se de que os mesmos encontra-vam-se temporalmente limitados, e não indefinidamente em curso. Para pagamentos ambientais, o Ca-nadá procurou assegurar que estes fossem independentes do volume de produção e relacionados apenas a custos adicionais de adequação às condições impostas pelo governo.

O G-20 apresentou um documento enfatizando a necessidade de as-segurar que pagamentos diretos feitos a produtores não estariam vinculados a níveis de produção. O documento também continha várias emendas prevendo tratamento es-pecial e diferenciado para PEDs, incluindo: apoio de receita para produtores com baixos rendimen-tos; subsídios para reforma agrária em PEDs; flexibilidade para que os PEDs decidam que tipo de seguro ou apoio a receitas devem ser isentos após desastres naturais; e isenções para PEDs quanto aos critérios de pagamentos de programas de assis-tência regional.

Um pedido dos países ACP para que “produtos relacionados a preferências de longa-data sejam designados como SPs” – o que permitiria que PEDs mitigas-sesm a extensão da erosão das preferências – opunha-se à sugestão do G-20 de que os países desenvolvidos ficassem proibidos de listar produtos tropicais como sensíveis. O recém-formado G-11 (Costa Rica, Equador e outros países exportado-res da América Latina), que era a favor da expansão do acesso a mercados para produtos tropicais e alternativas a colheitas ilícitas, havia originalmente proposto essa proibição.

Apoio DomésticoCaixa AmarelaNa área de suporte doméstico, os principais subsidiadores têm discordado há muito tempo quanto à estrutura da fórmula em faixa para efetuar cortes ao su-porte comercial distorcivo (AMS, sigla em inglês – Medida Agregada de Suporte; o nível do limite consolidado sobre apoio doméstico agregado distorcivo ao co-mércio). A UE apoiou uma fórmula de três-faixas que a obrigava a fazer os três maiores cortes de forma percentual, com os EUA e Japão enquadrados na segunda categoria. Os EUA preferiram a fórmula na qual o Japão seria enquadrado em uma faixa superior a sua.

Em uma proposta de 10 de outubro, os EUA expressaram seu desejo de reduzir o volume de sua Caixa Amarela em 60% durante um período de cinco anos, desde que a UE e o Japão também reduzissem suas Caixas Amarelas em 83%. Como resposta, a UE ofereceu fazer cortes de 70% no apoio à sua Caixa Amarela, um aumento em relação à oferta anterior de 65%, contingente em reduções propor-cionais dos EUA e do Japão.

Uma proposta do G-20 apresentada no dia 12 de outubro classificava os limites de apoio doméstico comercialmente distorcivos por parte de países desenvolvidos em três faixas: abaixo de US$ 10 billiões, entre US$ 10-60 bilhões e acima de USD 60 bilhões, identificando-as para cortes de 70, 75 e 80% respectivamente. Isto faria com que a UE reduzisse seu limite para apoio à soma das Caixas Amarelas, Azul e de minimis em 80%, ao passo que os EUA fariam o mesmo por 75%. Não ficou claro em qual dessas faixas o Japão se enquadraria.

Além disso, uma proposta do G-20 sobre acesso a mercados sugeria que PEDs de-veriam ter acesso a ações de “remédio”(o que poderia potencialmente assumir a forma de medidas anti-dumping ou medidas compensatórias) contra importações subsidiadas originárias de países desenvolvidos. No entanto, a proposta não es-pecificou como esse mecanismo funcionaria.

Em relação a um enquadramento temporal, o G-20 sugeriu cortes frontais, de forma a alcançar reduções reais em subsídios, já que muitos países têm o direito de fornecer subsídios maiores do que os subsídios atualmente existentes – seus níveis consolidados de AMS são maiores que seus níveis aplicados. O G-20 também enfatizou a necessidade de evitar “mudança de caixas” e de haver níveis de base exatos, o que implicaria em pequenas alterações de subsídios comerciais distor-civos, de forma a transferi-los para a Caixa Azul ou Caixa Verde.

Caixa AzulO G-20 apresentou uma proposta sobre a Caixa Azul (pagamentos parcialmente desvinculados de agricultores de acordo com programas de limitação de produ-ção), que buscava evitar “mudança de caixas”. O grupo disse que qualquer apoio para commodities da Caixa Amarela deveria ser completamente revisto antes que pudesse ser transferido para a Caixa Azul, já que esta foi criada para auxiliar a transição dos países quanto aos subsídios comerciais distorcivos. Além disso, o grupo pediu que houvesse controle do apoio a preços se os mesmos fossem consi-derados medidas de apoio da Caixa Azul.

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Concluindo, no final de julho o Pre-sidente Groser indicou que os países que mais têm usado a Caixa Verde precisariam considerar seriamente as propostas apresentadas por outros Membros no sentido de restringir os critérios. Enquanto isso, algumas novas disposições centradas nas ne-cessidades de PEDs precisariam ser incluídas. Em sua submissão de ou-tubro, os EUA e a UE confirmaram a necessidade da Caixa Verde.

Concorrência na Exportação Em relação à concorrência na ex-portação, os Membros da OMC concordam com as alterações neces-sárias para gradualmente eliminar subsídios à exportação (embora ain-da não tenham estabelecido o prazo para o término) e créditos à expor-tação. Contudo, eles ainda precisam concordar com as novas disciplinas sobre empresas comerciais estatais e sobre assistência alimentar. A UE – maior utilizador de subsídios dire-tos à exportação – insiste que essas disciplinas devem ser reformadas pa-ralelamente. A UE e outros exporta-dores de produtos agrícolas alegam que a assistência alimentar deveria ser amplamente restrita a doações pecuniárias, exceto em casos de

emergência. Eles questionam aquilo que vêem como exportações estadunidenses de excedentes de produtos subsidiados disfarçados como programas bilaterais de assistência. Os EUA negam essa acusação. A proposta de doações pecuniárias é apoiada por alguns países beneficiários, como a Uganda, que tem testemunhado agricultores pobres perderem lugar no mercado local para excedentes agrícolas subsidiados que entraram no país como assistência alimentar. Já outros recipien-tes de doações discordam e o chefe do Programa Alimentar Mundial (WPF, sigla em inglês) da ONU teme a limitação da assistência alimentar a doaçõe pecuniárias.

O G-20 pediu “um compromisso para que se pare imediatamente com todas as formas de subsídios à exportação” e sugeriu que todos os subsídios à exportação deveriam terminar dentro de cinco anos, com reduções significativas o mais cedo possível.

Algodão O sub-comitê de algodão reuniu-se pela primeira vez em fevereiro e desde en-tão tem realizado reuniões freqüentes. Os Membros concordam que o enfoque do trabalho da sub-comissão deveria ser a avaliação do progresso das negociações sobre agricultura, bem como atualizações freqüentes das implicações em matéria de desenvolvimento relacionados ao algodão. Não foi possível concordar sobre se deveriam ou não abordar “outros” assuntos, como havia sido proposto pelos EUA, incluindo questões mais amplas relacionadas a têxteis, relevantes ao acesso a mercados industrializados e a facilitação do comércio.

Logo cedo o grupo de Membros Africanos da OMC apresentou uma proposta pe-dindo reformas radicais no comércio de algodão e de produtos derivados do al-godão, incluindo os têxteis. Contudo, outros Membros alegaram que qualquer reforma deveria ser abordada no contexto mais amplo das negociações em curso sobre agricultura, e não na sub-comisssão. Os EUA disseram que reduções em áreas específicas das conversações em geral, tais como o apoio interno, afetariam os programas estadunidenses de algodão. Os países Africanos frustraram-se com a falta de respostas escritas a suas propostas. Eles avisaram que os países Africanos produtores de algodão garantiriam que a questão não passaria despercebida na Conferência Ministerial de Hong Kong.

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O Mandato de Doha:

“As negociações sobre o comércio de serviços serão conduzidas com vista a promover o crescimento económico de todos os parceiros do comércio e o desenvolvimento dos países em desenvolvimento e dos países menos desenvolvidos. Reconhecemos que o tra-balho já empreendido nas negociações, iniciadas em Janeiro de 2000 sob o Artigo XIX do Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços, e o número elevado de pro-postas apresentadas pelos Membros numa vasta gama de setores e várias questões horizontais, assim como no movimento de pessoas físicas. Reafirmamos as Di-retrizes e Procedimentos de Negociações adotado pelo Conselho de Comércio de Serviços de 28 de Março de 2001 como base para conti-nuar as negociações, com vista a alcançar os objetivos do Acordo Geral do Comé-rcio de Serviços, conforme estipulado no Preâmbulo, Artigo IV e Artigo XIX da-quele Acordo. Os Partici-pantes submeterão pedidos iniciais para compromissos específicos até 30 de Junho de 2002 e ofertas iniciais até 31 de Março de 2003.

(Parágrafo 15 da Declaração Ministerial de Doha)

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O mais significativo – e controverso - avanço nas negociações de serviços da Rodada de Doha foi um forte “empurrão” por parte de certos Membros da OMC no sentido de estabelecer compromissos mínimos de acesso a mercados (benchmarks). Essas iniciativas fundamentam-se na visão de que tanto os compromissos iniciais como os revisados oferecidos até agora deixam muito a desejar, e que a existente mo-dalidade de negociações bilaterais de ‘pedidos e ofertas’ não é suficiente para alcançar a profundidade e âmbito de compromissos de liberalização desejados por esses Membros.

Os proponentes dos benchmarks sugerem a complementarização da abordagem bi-lateral de pedidos-e-ofertas por meio de modalidades multilaterais e plurilaterais, o que reflete o ‘nível coletivo de ambição’ para as negociações. A abordagem mul-tilateral busca ampliar o âmbito dos compromissos de liberalização, o que implica no estabelecimento de alvos numéricos para os setores ou sub-setores de serviços aos quais os Membros devem comprometer-se a liberalizar, já que os alvos serão diferenciados entre países desenvolvidos, países em desenvolvimento (PEDs) e paí-ses de menor desenvolvimento relativo (LDCs, sigla em inglês). A abordagem plu-rilateral visa aprimorar a seriedade dos compromissos sugerindo que os países que formam a ‘massa crítica’ do mercado ou comércio total em um setor ou sub-setor de serviços sejam guiados por uma agenda ‘ideal’ ou ‘modelo’ de compromissos desenvolvidos para eles.

Os principais proponentes da abordagem benchmark estão decididos a melhorar o acesso a mercados para seus serviços transfronteiriços (Modo 1) por meio de pre-sença comercial (Modo 3). Por outro lado, vários PEDs continuam desapontados com a falta de ofertas comercialmente significativas em serviços prestados por meio do movimento temporário de pessoas físicas (Modo 4). À exceção da Índia, esses países opõem-se de modo geral à noção de benchmarks, alegando que compromis-sos obrigatórios de abertura de mercado vão contra a própria natureza do Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços (GATS, sigla em inglês), que explicitamente reconhece o direito de países de liberalizar conforme suas situações individuais de desenvolvimento. Além disso, em vez de complementares, esses paises acreditam que os benchmarks suplantam a abordagem de pedido-e-oferta como o método principal para negociar concessões.

Enquanto isso, os trabalhos de preparação das regras mostram um progresso de-sequilibrado. As negociações sobre uma proposta de um mecanismo salvaguardas emergenciais (ESM, sigla em inglês), que proporcionaria tempo às indústrias nacio-nais para se ajustarem ao aumento da concorrência que resulta da liberalização de serviços, continuam emperradas em questões sobre sua viabilidade técnica e sobre se são ou não desejadas. Discussões sobre possíveis disciplinas de subsídios em co-mércio de serviços sofrem com a relutância de alguns Membros em se engajarem na troca de informações que é supostamente o alicerce para o desenvolvimento de tais disciplinas. Conversações sobre compras governamentais estão bloqueadas devido a desentendimentos sobre o âmbito do mandato das negociações, i.e., se as negociações devem limitar-se ao estabelecimento de normas sobre transparência em compras governamentais ou, se conforme insistência da UE, também devem incluir acesso a mercados. A única área que tem avançado significativamente desde a última conferência ministerial tem sido as negociações sobre regulamentação.

HistóricoO GATS incorpora uma agenda que requer que os Membros entrem em rodadas sucessivas de negociações visando uma liberalização progressiva, a primeira das

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quais teve seu mandato no início de 2000. Em março de 2001 os Membros adotaram as modalidades de nego-ciações de comércio de serviços, conhecidas como ‘Linhas Mestras e Procedimentos de Negociação’ (“Di-retrizes”, S/L/93), que estipulam a abordagem de pedidos e ofertas como o principal método para ne-gociação de ‘novos compromissos específicos’ de acesso a mercados, tratamento nacional e compromissos adicionais. O mandato das diretri-zes também pede que os Membros continuem as negociações sobre ‘questões excepcionais’, i.e. o es-tabelecimento de um mecanismo de salvaguardas emergenciais no âmbi-to dos serviços, possíveis disciplinas sobre regulamentação doméstica, e disciplinas sobre compras governa-mentais e subsídios.

A Declaração Ministerial de Doha re-feriu-se a essas diretrizes como “as bases para a continuidade das nego-ciações”, buscando alcançar os obje-tivos do GATS. Entre os objetivos re-levantes deste mandato encontra-se o estabelecimento de um enquadra-mento de princípios e normas para o comércio de serviços, a realização de níveis progressivamente mais ele-vados de liberalização e a facilitação do aumento da participação de PEDs no comércio de serviços, bem como a expansão de sua exportação de serviços. Quanto ao ultimo objetivo, o GATS especificamente prevê que o acesso a setores e modos de forne-cimento que interessem as exporta-ções de PEDs deve ser liberalizado.

Para que os níveis cada vez mais al-tos de liberalização do comércio de serviços avancem, as negociações serão direcionadas para a redução ou eliminação de medidas que impe-çam acesso eficaz a mercados (como as condições para o estabelecimento de presença comercial e restrições à entrada de trabalhadores estran-geiros) e discriminem fornecedores estrangeiros de serviços (como as proibições contra a titularidade de terrenos por estrangeiros), o que faz com que seja mais difícil que for-necedores estrangeiros de serviços tenham acesso ao mercado.

O GATS reconhece que o processo de liberalização deve acontecer res-peitando os objetivos de política na-cional e o nível de desenvolvimento

dos Membros individuais, tanto globalmente como em setores individuais. Assim, ele prevê que deverá haver flexibilidade apropriada para que PEDs possam abrir menos setores, liberalizando um menor número de transações, progressivamente ampliando o acesso ao mercado de acordo com sua situação de desenvolvimento e, quando abrirem seus mercados a fornecedores estrangeiros de serviços, possam estabelecer condições de acesso que lhes permitam fortalecer a capacidade de seus serviços nacionais, bem como a eficiência e competitividade dos mesmos para suportarem as conseqüências da entrada de fornecedores estrangeiros de serviços.

PrazosAcesso a Mercados• Negociações sobre acesso a mercados de serviços serão concluídas como

parte do ‘pacote único1’ quando as negociações da Rodada de Doha foram concluídas.

• O ‘Pacote de Julho’ prevê maio de 2005 como prazo para submissão de uma nova rodada de ofertas.

Mecanismo de Salvaguardas Emergenciais• Negociações sobre ESM deverão ser concluídas quando terminarem as negocia-

ções sobre acesso a mercados.

Outras Questões Extraordinárias• Antes da finalização das negociações de acesso a mercados os Membros “de-

vem buscar a conclusão” das negociações sobre os artigos VI:4 (regulamento interno), XIII (aquisições pelo governo) e XV (subsídios) do GATS.

• Uma avaliação “deverá ser conduzida” sobre a implementação do artigo IV (aumento da participação de PEDs no comércio global de serviços) do GATS. Não houve nenhuma avaliação até a presente data.

Estado Atual das NegociaçõesAcesso a Mercados – Benchmarks Os que mais fortemente apóiam a abordagem de benchmarks são a Austrália, os EUA e a UE. De fato, a UE vinculou sua oferta de redução de tarifas em agricultura à aceitação pelos Membros de compromissos obrigatórios de abertura do mercado de serviços. Por outro lado, a grande maioria dos PEDs permanece seriamente contrária a qualquer tipo de benchmarks.

1 �m inglês, single undertaking�m inglês, single undertaking

O draft de 3 de novembro de 2005 do texto sobre serviços da Ministerial de Hong Kong – proposto pela Mesa da Sessão Especial do Comitê sobre Comércio de Serviços (CTS-SS, sigla em inglês) sob a sua própria responsabilidade (JOB (05)/262/Rev.1) – incorpora as abordagens multilaterais e plurilaterais para aprimorar a liberalização. A abordagem multilateral está centrada em duas mo-dalidades: (i) utilizando alvos e indicadores numéricos, e (ii) incentivando os Membros a consolidar os níveis existentes de liberalização nos Modos 1 e 2 e a aumentar o nível atualmente permitido de participação estrangeira, bem como permitir maior flexibilidade nos tipos de entidades legais previstos no Modo 3, e melhorar compromissos do Modo 4, particularmente nas categorias de trabalha-dores desvinculados do estabelecimento de presença comercial.

A abordagem plurilateral sugerida pelo texto também busca centrar-se em duas modalidades: (i) um procedimento para a submissão por qualquer Membro ou grupo de Membros de pedidos ou pedidos coletivos sobre outros Membros para iniciarem negociações plurilaterais, e (ii) objetivos setoriais e modais conforme expresso pelos Membros e resumido pelo Presidente da CTS-SS em um Anexo ao texto, que busca orientar as negociações.

A mais recente versão do texto não fornece detalhes sobre o quê ou como os alvos e indicadores numéricos serão utilizados nas negociações em serviços, nem traz detalhes sobre como as diretrizes serão disponibilizadas pelos obje-tivos setoriais e de modos contidos no Anexo. Essas disposições propostas no texto continuam a ser extremamente controversas. A Argentina e o Brasil estão entre os mais fortes oponentes à inclusão de benchmarks no draft do texto da ministerial.

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Negociações Bilaterais de Acesso as Mercados: Virtualmente todos os Membros da OMC receberam pedidos iniciais de aproximadamente 90 países desenvolvidos e PEDs. Pelo menos 69 Membros da OMC (contando todos os membros da União Europeia como um) submeteram suas ofertas iniciais. À medida que se aprofun-dam as negociações na fase de ofertas revistas, pelo menos outras 40 ofertas (além das 26 já submetidas) deverão ser preparadas e apresentadas por Mem-bros da OMC. Embora alguns PEDs tenham atrasado a submissão de suas ofertas iniciais e revistas por razões táticas, outros realmente não possuem a necessária capacidade técnica e institucional para identificar seus interesses ofensivos e defensivos, ou para analisar como a liberalização do comércio em certos setores prejudica ou facilita um desenvolvimento nacional sustentado.

De modo geral, os Membros parecem frustrados com os resultados alcançados até agora. Em seu relatório ao Comitê de Negociações sobre Comércio em julho de 2005, o Presidente da CTS-SS declarou que “independentemente do número de ofertas ter melhorado desde meu último relatório, o fato é que a qualidade global das ofertas iniciais e revistas não é satisfatória. A maioria dos Membros acha que as negociações não estão progredindo como deviam. Está claro que será necessário um trabalho muito maior a fim de elevar a qualidade do pacote a um nível que possibilitaria um acordo”. Esta declaração passou a ser a base para a abordagem alternativa de benchmarks, previamente discutida.

Que Aconteceu com o Modo 4?: Para muitos PEDs, o ‘movimento de pessoas fí-sicas’ (Modo 4) representa uma das poucas áreas que oferece benefícios concre-tos para a liberalização de serviços.

A Índia liderou um grupo de 18 PEDs – incluindo Brasil, China e outros países da América Latina e da Ásia – defendendo modalidades para refletir sobre o aprimoramento dos compromissos nas agendas dos Membros. Apesar de inicia-tivas como essa, uma análise de abril de 2004 das ofertas iniciais de parceiros comerciais levou o grupo a afirmar que não teria havido “qualquer melhora-mento real” nos compromissos do Modo 4 por parte dos países desenvolvidos. Este grupo também realçou que a maior parte das novas ofertas de Modo 4 continuaram vinculadas à presença comercial (Modo 3), permitindo ape-nas o movimento de pessoal inter-corporativo e de trabalhadores altamente qualificados. Nesta, assim como em submissões subseqüentes, foram exigidas ofertas desvinculadas do Modo 4, acompanhadas da eliminação de condições de pré-emprego, testes de necessidade econômica, restrições de cotas em vistos, tratamento fiscal discriminatório e restrições indevidas à duração da estadia para efeitos de prestação de serviços, bem como o reconhecimento de qualificações.

Em fevereiro de 2005, a Índia liderou um grupo de PEDsa que propunha uma classificação comum de fornecedores de serviços do Modo 4, baseada em como alguns Membros haviam agendado compromissos durante a Rodada Uruguai. Isso coincide com uma submissão semelhante apresentada pela UE, Bulgária, Canadá e Romênia, usando as mesmas ‘categorias comuns’. As categorias são:

• Fornecedores de serviços contratuais;• Profissionais independentes;• Transferências inter-corporativas;• Visitantes de negócios; e• outros.

Embora essa classificação comum, juntamente com uma melhor transparência em relação aos regulamentos que afetam a entrada e a permanência de for-necedores de serviços do Modo 4, seja vista como um possível resultado para certos países receptores, permanece a questão de corresponderem ou não ao tipo de movimento do Modo 4 em que muitos PEDs e LDCs estão engajados.

Em junho de 2005, os LDCs subme-teram propostas informais de ne-gociações sobre o Modo 4, identifi-cando categorias de trabalhadores (mais detalhadas que as ‘categorias comuns’ apresentadas pela UE e pelo grupo liderado pela Índia) para as quais desejavam ver condições melhoradas de acesso a mercados. Pelo visto, as reações de importan-tes parceiros comerciais durante os encontros bilaterais não foram en-corajadoras. Isso reforça as dúvidas de muitos LDCs se podem ou não se beneficiarem dessas negociações bi-laterais.

O draft do texto ministerial de 3 de novembro instrui os Mem-bros a agendar compromissos do Modo 4 conforme as ‘cate-gorias comuns’. O Parágrafo 4 do texto pede que os Membros se “esforcem para garantir” ofertas novas e melhoradas de compromissos nas categorias de: (i) fornecedores de serviços contratuais; (ii) profissionais independentes, desligados de presença comercial; (iii) trans-ferências inter-corporativas; e (iv) visitantes de negócios.

O texto também pede a retira-da ou substancial redução dos testes de necessidade econô-mica, a indicação de duração da estadia prescrita e a possi-bilidade de renovação, se hou-ver.

Se essas categorias de fato fo-rem o modelo de classificação utilizado para agendar com-promissos do Modo 4, alguns PEDs, especialmente os LDCs, disseram que o critério utili-zado para determinar ‘forne-cedores contratuais de servi-ços’ deveria ser ampliado para acomodar o tipo de movimento que defendem, i.e. fornecedo-res de serviços que não sejam altamente qualificados.

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Questões ‘Horizontais’Avaliação do Comércio de Servi-ços: Como um pré-requisito para as negociações, o GATS manda que os Membros conduzam uma avaliação do comércio de serviços em termos globais e setoriais no que tange os objetivos do acordo (ver histórico acima). Cuba, Quénia, Nigéria, Pa-quistão, Senegal e Tailândia subse-qüentemente apelaram à Comissão de Comércio de Serviços (CTS, sigla em inglês) para conduzir e concluir a avaliação multilateral antes que as negociações de acesso a mercados fossem iniciadas, conforme reque-rido pelo GATS, enquanto países de-senvolvidos, como EUA, Canadá, UE, Suíça, e Japão, alegaram que cabia a cada Membro conduzir a avaliação nacional que, por sua vez, serviria de base para um exercício mais amplo de avaliação. Eles também defende-ram que os dados sobre o comércio de serviços no âmbito internacional eram insuficientes para a avaliação global desejada. Embora o exercício de avaliação tenha eventualmente sido iniciado, com documentos volu-mosos preparados pelo Secretariado da OMC, os PEDs concordaram – como uma concessão política e prática quando as diretrizes estavam sendo esboçadas em 2001 – em conduzir a avaliação do comércio de serviços continuadamente durante as nego-ciações e que as “negociações deve-riam ser ajustadas à luz dos resulta-dos da avaliação”.

Embora os Membros estejam desde então centrados na condução de avaliações nacionais de comércio de serviços, a fim de prepararem suas ofertas e seus pedidos, mesmo este exercício tem sido constrangido pela falta de recursos e de capacidade técnica por parte dos PEDs. Alguns observadores enfatizam a ligação direta entre este constrangimento, a não condução de avaliações mul-tilaterais e a qualidade das ofertas, notando que sem informação e sem o possível impacto de compromissos de liberalização, muitos PEDs optam por uma abordagem mais cautelosa e deliberada.

Modalidades para LDCs: O GATS prevê tratamento especial e dife-

renciado (SDT, sigla em inglês) para países Membros em desenvolvimento, com particular prioridade para LDCs. O Artigo XIX.3 especificamente manda que sejam estabelecidas modalidades de SDT para LDCs, e em setembro de 2003, o Conselho de Comércio e Serviços adotou essas modalidades. Elas têm sido vistas como uma forma de traduzir o SDT em um atual compromisso de acesso a mercados, e estão resumidas a seguir:

• Os Membros devem considerar as dificuldades dos LDCs para empreender com-promissos específicos, e serão cautelosos na busca de compromissos por parte dos LDCs;

• Os Membros ajudarão os LDCs a aumentar sua participação no comércio de serviços, possibilitando acesso efetivo a mercados em setores de seu interesse, incluindo categorias de pessoas físicas identificadas por LDCs no Modo 4 de pedidos de serviços;

• Os LDCs não estão obrigados a oferecer tratamento nacional, poderão abrir menos setores, e não se espera que assumam compromissos adicionais em questões que transcendam sua capacidade institucional, reguladora e adminis-trativa;

Vários pontos levantados pela Zâmbia em nome do grupo dos LDC (TN/S/W/13) fo-ram considerados durante as negociações dessas modalidades. Não obstante esse fato, alguns observadores temem que, tal como ocorreu com as modalidades de liberalização autônomas, a modalidade dos LDC não será adequadamente refletida em pedidos e ofertas bilaterais.

Órgãos Subsidiários – Questões Excepcionais – Criação de NormasMecanismos de Salvaguarda Emergenciais: Vários PEDs liderados pela Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN, sigla em inglês) têm, desde a conclusão da Rodada do Uruguai, defendido o estabelecimento de um ESM para o comércio de serviços. Eles argumentam que esses mecanismos permitiriam uma simetria com o comércio de bens, onde existe uma cláusula de salvaguardas. Além disso, proporcionaria aos Membros a necessária rede de segurança para embarcar em novos compromissos de liberalização, o que dessa forma poderia incentivar novos compromissos de acesso a mercados.

Em março de 2004, a ASEAN reviu seu modelo de EMSb – amplamente baseado no acordo de salvaguardas de bens, embora ajustado de forma a considerar as carac-terísticas do comércio de serviços – para incluir, inter alia, aplicações prospectivas para novos compromissos, proteção de ‘direitos adquiridos’, período mais curto para a aplicação de salvaguardas e enquadramento temporal limitado, no qual um Membro possa utilizar o mecanismo, com aplicação a partir do momento em que seus compromissos para o setor relevante entram totalmente em vigor e passam a ter efeito.

A maioria dos países desenvolvidos e alguns PEDs da América Latina mantêm-se céticos, e a UE e os EUA questionam se os mecanismos são ou não desejáveis e confiáveis. A ASEAN indicou que alguns países podem não concordar com o resul-tado de nenhuma oferta / pedido final de serviços sem a negociação antecipada de um ESM. Em todo o caso, os Membros da OMC concordaram no início de 2004 em prorrogar o prazo (originalmente estabelecido para 1998!) a fim de alcançar resultados nesta área por meio da conclusão de negociações atuais de acesso a mercados.

O Brasil tem argumentado a favor da ligação do ESM ao ‘teste de necessidade’ nas agendas de compromissos dos Membros. Esses testes permitem que os governos mantenham um setor fechado à liberalização se decidirem que ele é adequada-mente suprido pelos fornecedores existentes, constituindo, assim, um mecanismo efetivo de salvaguarda para certos países. Conseqüentemente, o Brasil propôs duas opções: criar um ESM que possa ser utilizado por todos ou abandonar o uso de testes de necessidade e do ESM.

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Subsídios em Serviços: De acordo com as diretrizes, os Membros da OMC deverão “buscar a conclusão” das negociações nas necessárias disciplinas multilaterais para subsídios em serviços antes da conclusão das negociações de acesso a mercados.

No entanto, as discussões no âmbito do Grupo de Trabalho sobre as Normas do GATS (WPGR, sigla em inglês) mantêm-se hesitantes. Apenas alguns Membros têm, até a presente data, respondido ao questionário do WPGR sobre seus programas de apoio interno a serviços. Como resultado, tem havido pouco debate sobre ques-tões como: definição de subsídios na área de serviços; o papel dos subsídios na busca dos objetivos de políticas públicas; a necessidade do SDT para PEDs; e se os mecanismos de medidas compensatórias são ou não apropriados.

Taiwan apresentou recentemente uma lista de casos hipotéticos de programas de subsídios governamentais destinados a servir como base para a identificação de alguns dos elementos de uma definição funcional para um subsídio de serviços (JOB(04)78). Os elementos identificados incluíam a existência de contribuição fi-nanceira, o benefício a um fornecedor de serviços, a capacidade de distorção do programa, e a existência de um recipiente específico (‘especificidade’). A maioria destes combinam com a definição atual de ‘subsídios’ no Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias. Muitos acreditam que a ausência de uma definição específica de subsídios em serviços não deveria impedir discussões para o estabe-lecimento de disciplinas multilaterais.

A ausência de uma definição multilateral e de disciplinas sobre subsídios em servi-ços tem começado a prejudicar os parceiros mais fracos no processo de pedidos-ofertas. Muitos PEDs encontram-se em clara desvantagem, incapazes de avaliar a competitividade ou as perspectivas de mercado de fornecedores domésticos vis-à-vis fornecedores estrangeiros potencialmente subsidiados.

Compras Governamentais: O âmbito das negociações do mandato continua a ser uma questão preeminente nas discussões. A maior parte dos PEDs acredita que o artigo XIII.1 do GATS exclui compras governamentais das disciplinas do GATS sobre não-discriminação, tratamento nacional e acesso a mercados, e que apenas ques-tões ligadas à transparência e devido processo deveriam ser abordadas no WPGR. Alguns países desenvolvidos, mais particularmente a UE, discordam, alegando que o artigo XIII.2 do GATS prevê negociações sobre compras governamentais, incluin-do acesso a mercados e tratamento nacional.

Disciplinas sobre Regulamentação Doméstica: O debate sobre discipli-nas de regulamentação doméstica parece ter sido o que mais avançou, e muitos antecipam resultados concre-tos ao final desta rodada de negocia-ções sobre serviços. Alguns sugerem que os resultados da Ministerial de Hong Kong poderiam constituir uma lista de elementos que sirva de base para trabalhos futuros, ou ao menos uma diretriz específica dos ministros para a conclusão de um acordo sobre disciplinas de regulamentação do-méstica até uma data específica.

Em todo o caso, várias questões continuam a apresentar desafios si-gnificativos à totalidade dos Mem-bros. Os mais importantes desses desafios continuam a ser: a falta de suficiente entendimento por parte de muitos Membros quanto a várias questões técnicas substantivas e as potenciais repercussões da escolha de uma opção em particular.

A questão mais fundamental - e po-liticamente contenciosa –é se, e até que ponto, novas disciplinas sobre regulamentação doméstica qualifi-cariam direitos dos Membros como reguladores. Se o direito de regu-lar é reconhecido no Preâmbulo do GATS, e é geralmente tido como um direito soberano, alguns sugerem que esse direito não pode ser diluído por novas disciplinas. Outros alegam que as normas que disciplinam os re-quisitos de licenciamento e qualifi-cação, bem como os procedimentos e padrões técnicos impostos pelas autoridades reguladoras de um país determinam, por sua própria nature-za, normas que devem ser cumpridas como uma obrigação legal interna-cional e necessariamente limitam o âmbito do que autoridades nacionais podem fazer.

Em todo o caso, muitos Membros acreditam que o benefício de faci-litação comercial por meio de tais disciplinas supera quaisquer pos-síveis qualidades de imposição. Os benefícios óbvios e inquestionáveis se acumulam em benefício dos for-necedores de serviços regulados na base de um critério transparente e objetivo, e têm a garantia de que

O draft de 3 de novembro do texto ministerial não fornece diretrizes suficien-tes nem o ímpeto necessário para que se concluam os aspectos relacionados à produção de normas nas negociações como parte do pacote único. Por exemplo, a diretriz proposta para um ESM meramente instrui os Membros a se engajarem em discussões mais centradas em questões técnicas e em procedimentos rela-cionadas ao funcionamento e à aplicação de um possível ESM. Alguns observa-dores notam, contudo, que isso é exatamente o que os Membros vêm fazendo nos últimos cinco anos.

A diretiva do draft do texto sobre subsídios obriga os Membros a intensificarem os esforços para agilizar a troca de informações e o engajamento em discussões mais focadas em propostas de Membros, incluindo o desenvolvimento de uma possível definição para subsídios. Mais uma vez, além de acolher o mandato sobre trocas de informações, a referência a discussões focadas parece refletir o que o vêm acontecendo no âmbito do WPGR.

Por outro lado, a África do Sul tem criticado o mandato de compras governa-mentais no draft do texto por acomodar a proposta de compromissos específi-cos de acesso a mercados como compras governamentais, em vez de reconhecer as diferenças existentes no âmbito do mandato do GATS.

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esses regulamentos não impõem di-ficuldades desnecessárias para ga-rantir a qualidade de um serviço. Contudo, os Membros têm tido que lutar para que esses elementos se-jam operacionalizados com maior especificidade, de forma legalmente vinculante.

Além disso, existe uma dinâmica de negociação na qual os Membros tentam enquadrar o resultado nos setores ou modos de prestação que mais lhes interessam. Por exemplo, a UE propôs disciplinas sobre pro-cedimentos de licenciamento que são amplamente vistas como o tipo de regulamento que mais impede a prestação de serviços por meio do estabelecimento de presença comer-cial (Modo 3), o principal modo pelo qual a UE e outros países desenvol-vidos prestam serviços à economia mundial. Índia, Chile, Paquistão e Tailândia, por outro lado, só propu-seram disciplinas sobre requisitos de qualificações, que são vistos como medidas reguladoras que mais fre-quentemente impedem a habilidade de prestar serviços profissionais, seja por meio do movimento temporário de pessoas físicas (Modo 4), seja por meio de comércio transfronteiriço (Modo 1).

Outra difícil questão tem a ver com a aplicação horizontal ou não das disciplinas, ou seja, por todos os se-tores de serviços ou baseado em se-tores específicos. Todas as propostas em discussão no Grupo de Trabalho sobre Regulamento Interno buscam a aplicação horizontal. Contudo, alguns Membros da OMC estão de-cididos em relação às disciplinas de setores específicos. A Austrália, por exemplo, recentemente apresentou uma proposta de disciplinas sobre serviços legais. Embora haja nisso a óbvia vantagem de uma correlação

específica com os tipos de medidas reguladoras existentes nos setores alvos, para a grande maioria dos PEDs isso levanta preocupações sobre a proliferação de dis-ciplinas específicas.

Dentro das próprias disciplinas, a questão substantiva mais controversa é a noção do ‘teste de necessidade’, ou mais especificamente, até onde qualquer disci-plina deveria requerer que as medidas reguladoras não constituíam dificuldade desnecessária ‘para garantir a qualidade de um serviço’. Alguns Membros da OMC questionam se ‘garantir a qualidade do serviço’ constitui o limite dentro do qual a necessidade de uma medida reguladora poderia ser justificada. Neste caso, a proposta feita pelo Brasil, Colômbia, e Filipinas, entre outros, procura ampliar o ‘teste de necessidade’ previsto no artigo VI do GATS, sugerindo que os regu-lamentos internos ‘não deveriam constituir dificuldades desnecessárias para dar prosseguimento aos objetivos de política nacional’. As disciplinas propostas por esse grupo teriam que necessariamente deferir a favor de um âmbito mais amplo de medidas reguladoras, e como tal responder às preocupações expressas sobre o potencial impacto do teste de necessidade sobre o espaço de políticas governa-mentais necessárias.

Os principais proponentes das disciplinas de regulamentação interna na OMC, in-cluindo Hong Kong, Japão, Suíça, Índia, México, UE, Filipinas, Colômbia e Brasil, entre outros, iniciaram negociações intensivas para encontrar os fios de conver-gência entre as várias propostas. Em um momento crucial, o WPDR estava prestes a negociar o draft do texto ministerial relacionado à regulamentação doméstica (deixado em branco no draft de 3 de novembro da Mesa).

Linguagem do Draft da Declaração Ministerial O draft do texto ministerial esboça o seguinte cronograma, visando à conclusão das negociações até o fim de 2006:

• Qualquer oferta inicial pendente será submetida assim que possível;• Grupos de Membros apresentando pedidos plurilaterais a outros Membros

devem submeter esses pedidos até [fevereiro de 2006], ou assim que pos-sível após essa data;

• Os Membros notificarão a Sessão Especial do Conselho de Comércio em Ser-viços até [data] do setor no qual pretendem engajar-se em pluraliidade de negociações;

• Uma segunda rodada de ofertas melhoradas revisadas será submetidas até [data];

• Drafts finais de agendas de compromissos serão submetidos até [data];Espera-se que as datas entre colchetes sejam preenchidas na revisão do draft do texto, ou durante a própria conferência ministerial de Hong Kong.

Endnotes

a Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Índia, México, Paquistão, Peru, Filipinas, Tailândia e Uruguai.

b Documento continua restrito, baixar no seguinte endereço eletrônico: <http://www.ictsd.org/issarea/stsd/Resources/Docs/AS�AN_�SM.pdf>. A nova proposta é comparável à proposta anterior da AS�AN �SM apresentada em 2000 no documento de número S/WPGR/W/30.

Acesso ao Mercado para Produtos não Agrícolas

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O Mandato de Doha:

“Concordamos com nego-ciações que visarão, pela via de modalidades a serem acordadas reduzir ou, conforme for apropriado, eliminar tarifas, incluindo a redução ou eliminação de picos tarifários, tari-fas elevadas, e aumentos tarifários, assim como barreiras não tarifárias, em particular sobre produtos de interesse para a exporta-ção para países em desen-volvimento. A cobertura de produtos será abrangente e sem exclusões prévias. As negociações terão total-mente em conta as necessi-dades especiais e interesses dos países em desenvolvi-mento e dos países menos desenvolvidos participantes, incluindo através de menos do que reciprocidade total na redução de compro-missos, de acordo com as disposições relevantes do Artigo XXVIII bis do GATT 1994 e as disposições cita-das no parágrafo 50, abaixo [sobre tratamento especial e diferenciado para países em desenvolvimento e paí-ses menos desenvolvidos]. Para tanto, as modalidades a serem acordadas inclui-rão estudos apropriados e medidas de capacitação para assistir os países em desenvolvimento e os países menos desenvolvidos a participar efetivamente nas negociações.

(Parágrafo 16 da Declaração Ministerial de Doha)

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As negociações para acesso a mercados de bens não-agrícolas (NAMA) encontram-se em um impasse. Isso se deve em grande medida à insistência de muitos Mem-bros em conhecer a provável extensão da reforma do comércio agrícola antes de determinar seu nível de ambição em relação a outros elementos-chave da Rodada de Doha. No entanto, o progresso nessa área – que segundo a previsão de alguns poderá tornar-se um desafio maior que a agricultura – é crucial para que a Confe-rência Ministerial de Hong Kong consiga produzir um pacote aceitável por todos os Membros em dezembro de 2005.

Prazos Como parte do “pacote único”, as negociações do NAMA serão concluídas junta-mente com a Rodada de Doha.

Histórico O Grupo de Negociações sobre o NAMA foi estabelecido pelo Comitê de Negocia-ções Comerciais no dia 1 de fevereiro de 2002.

A redução de barreiras tarifárias (TB, sigla em inglês) e barreiras não-tarifárias (NTBs, sigla em inglês) sobre bens industrializados foi o tema central das nego-ciações comerciais do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT, sigla em inglês), e continua a ser o centro das negociações acordadas em Doha. A maioria dos países apoia esse mandato, embora muitos países em desenvolvimento, mais particularmente as pequenas economias, temem perder receitas tarifárias, ter sua competitividade enfraquecida e suas margens preferenciais de acesso prejudica-das em relação a outros concorrentes (países em desenvolvimento). Além disso, os países em desenvolvimento acreditam que a redução de barreiras tarifárias e não tarifárias irá beneficia os países desenvolvidos de modo desproporcional, tendo em vista a atual organização de produção, fornecimento e cadeias de mercado do comércio internacional.

Estágio Atual das Negociações Atualmente, a base para as negociações do NAMA é o Anexo B do “Pacote de Julho” de 2004. Embora o anexo tenha impulsionado discussões que se encontravam tra-vadas, ele foi muito menos específico do que o texto sobre agricultura. O anexo apenas introduziu um parágrafo adicional que esboçava as preocupações dos paí-ses em desenvolvimento frente ao texto do NAMA de Cancun. O novo parágrafo estipulou que “são necessárias novas negociações para que se possa chegar a um acordo sobre as especificidades de alguns elementos (iniciais)”. Esses elementos iniciais referem-se à fórmula de redução de tarifas, à flexibilidade para países em desenvolvimento, ao tratamento de linhas tarifárias não consolidadas, à participa-ção em iniciativas setoriais e preferências.

Até o final de outubro de 2005, os Membros ainda não haviam conseguido chegar a um acordo sobre nenhum desses elementos, o que levou alguns comentaristas a sugerir que as verdadeiras negociações do NAMA ainda estavam por vir. Uma vez iniciadas as discussões, um importante fator que afetará as posições negociadoras dos países será a extensão dos efeitos sentidos por esses paises com a eliminação

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das cotas comerciais para têxteis e vestuários. A liberalização desse se-tor ameaça dividir os países em de-senvolvimento entre beneficiados e prejudicados (ver seção sobre ‘Têx-teis e Vestuários’).

O Presidente do Grupo de Negocia-ções, o embaixador Stefan Johan-nesson, da Islândia, solicitou que os Membros centrassem as discussões em três elementos-chave nas nego-ciações preparatórias para a Confe-rência Ministerial de Hong Kong: a fórmula, as flexibilidades e as tarifas não consolidadas.

Fórmula de Redução de TarifasOs Membros não podem chegar a um acordo sobre as modalidades de ne-gociação do NAMA sem antes concor-dar com a fórmula que será utilizada para a redução de tarifas após a conclusão da Rodada.

O Pacote de Julho estipula que redu-ções de tarifas para produtos indus-trializados devem basear-se em uma fórmula não-linear aplicada a tarifas consolidadas na base de “linha por linha”; e que a base para a redução de tarifas não-consolidadas deve ser estabelecida como o dobro da tarifa aplicada à “Nação Mais Favorecida” (MFN, sigla em inglês). O pacote tam-bém estipula que todas as obrigações específicas (baseados em volumes de importação, e.g., US$ 10/tonelada) sejam convertidas em “equivalentes ad valorem” (AVEs, sigla em inglês), i.e., tarifas expressas em percenta-gem do valor dos bens, antes que a fórmula seja aplicada.

Todas as propostas para redução de tarifas baseiam-se em uma aborda-gem ‘Suíça’ da fórmula, ou variações da mesma. Essa metodologia per-mite cortes mais acentuados nas ta-rifas mais elevadas (em oposição às tarifas mais baixas), e “harmoniza” as tarifas ao aproximá-las a um nível que corresponde ao coeficiente asso-ciado à fórmula.

Um grande obstáculo às negociações tem sido se os países em desenvol-vimento devem adotar flexibilidades comerciais para a estruturação de

uma fórmula que lhes permitam fazer reduções menores em relação a países ricos por meio do uso de coeficientes diferentes. De acordo com o parágrafo 4 do man-dato do NAMA (estabelecido no Anexo B do Pacote de Julho de 2004), a fórmula para redução de tarifas deve considerar as necessidades dos países em desenvolvi-mento (PEDs) e dos países de menor desenvolvimento relativo (LDCs, sigla em in-glês), “incluindo reciprocidade parcial em compromissos de redução”. O parágrafo 8 prevê flexibilidades adicionais que permitiriam que países em desenvolvimento e países de menor desenvolvimento relativo retivessem algumas tarifas não consoli-dadas e aplicassem reduções tarifárias a alguns produtos, menores do que aquelas requeridas pela fórmula.

São oito as propostas para a fórmula de redução tarifária que se encontram em pauta:

• A UE propôs uma fórmula Suíça simples com um coeficiente que poderia variar para países em desenvolvimento, dependendo do uso que eles fizessem das flexibilidades previstas no parágrafo 8. Membros que optassem por fazer maior uso das flexibilidades teriam um coeficiente menor, e consequentemente se-riam forçados a fazer cortes tarifários maiores.

• A Noruega propõe dois coeficientes: um para países desenvolvidos e outro para países em desenvolvimento, ambos associados a um sistema de “créditos” que beneficiaria os países em desenvolvimento que fizessem menor uso das flexibi-lidades. Isso seria possível por meio do aumento do valor de seus coeficientes, o que reduziria os cortes tarifários.

• Os EUA também propõem dois coeficientes, mas sugerem que o coeficiente mais elevado para países em desenvolvimento substitua todas as outras flexibi-lidades.

• Chile, Colômbia e México apresentaram uma proposta que estabelece um menu de flexibilidades, no qual cada opção encontra-se ligada a um número limitado de coeficientes. Isso permitiria que países em desenvolvimento encontrassem um equilíbrio entre a consolidação de suas tarifas, a habilidade de excluir alguns dos seus produtos da fórmula de redução tarifária, o período de imple-mentação para as reduções de tarifas e a profundidade das mesmas (TN/MA/W/50).

• Dois grupos de países apresentaram propostas que vinculam a redução poste-rior dos níveis tarifários dos Membros aos níveis tarifários médios já existen-tes. Além do nível tarifário médio, Argentina, Brasil e Índia (TN/MA/W/54) sugerem que os coeficientes dos Membros incluam componente(s) comum(ns) baseado(s) nos níveis de ambição em outras áreas de negociação. Com base nessa idéia, uma proposta oriunda de um grupo de países Caribenhos acres-centa um elemento novo para atribuição de “crédito” aos Membros. A proposta baseia-se em uma lista de considerações ligadas ao desenvolvimento, incluindo a dependência dos Membros em relação a receitas tarifárias, grau de abertura comercial e vulnerabilidade econômica.

• A proposta do Paquistão utiliza uma fórmula Suíça simples, com um coeficiente de 6% para países desenvolvidos e 30% para países em desenvolvimento – o que corresponde ao nível da média tarifária de cada grupo. Os países desenvolvidos declararam que a diferença entre os dois coeficientes é muito grande e deve ser reduzida substancialmente.

Em uma tentativa de avançar nas discussões e fornecer diretrizes mais claras para Hong Kong, o Presidente Johannesson propôs que os Membros comecem a apli-car números às diferentes fórmulas. No entanto, vários países têm se mostrado reticentes a isso até que se chegue a um acordo sobre a fórmula final que será utilizada. Por outro lado, a UE e os EUA sugeriram recentemente que os países de-senvolvidos reduzam sua tarifa industrial máxima para 10%. Essas propostas ainda não foram discutidas pelo Grupo Negociador do NAMA, mas muitos países em de-senvolvimento – incluindo Brasil e Índia – rejeitaram categoricamente a tarifa de 15% para países em desenvolvimento, alegando que ela seria demasiadamente pesada para eles.

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dagem da questão (ver Doha Round Briefing, Vol. 4, No.8, sobre Comér-cio e Meio Ambiente).

Têxteis e VestuáriosQuase meio século de cotas comer-ciais voluntárias e formais chegaram ao fim no dia 1 de janeiro de 2005, quando têxteis e vestuários foram totalmente integrados às disposições da OMC sobre bens industrializados, marcando o fim do Acordo da OMC sobre Têxteis e Vestuários (ATC, sigla em inglês). O ATC havia sido criado em 1995 como um mecanismo de transição para o eliminar o sistema de cotas conhecido como Acordo Multifibras (MFA, sigla em inglês), que permitia que países desenvolvi-dos impusessem restrições quantita-tivas sobre importações oriundas de países em desenvolvimento. Em que pese o calendário de eliminação de cotas, no dia 1 de janeiro de 2005 as restrições ainda eram equivalentes a aproximadamente metade das lin-has tarifárias do Canadá, Noruega, Estados Unidos e União Européia em 1990. Desde a liberalização do setor, tanto os países desenvolvidos como os países em desenvolvimento têm tentado avaliar o novo ambiente comercial e facilitar o processo de ajuste.

Os países em desenvolvimento são responsáveis por metade das exporta-ções têxteis e quase três quartos das exportações mundiais de vestuários. A liberalização do setor têxtil e de vestuários foi considerada uma das principais vitórias para os países em desenvolvimento na Rodada Uruguai, enquadrada durante as negociações como uma concessão dos países de-senvolvidos aos países em desenvol-vimento em troca dos acordos sobre Direitos de Propriedade Intelectual (TRIPs, sigla em inglês) e Serviços (GATS, sigla em inglês). De fato, o Bureau Internacional de Têxteis e Vestuários chegou a ponto de esti-mar que a liberalização comercial de têxteis e vestuários responderia por até um terço dos benefícios que os países em desenvolvimento alcança-riam na Rodada (G/C/W/495).

No entanto, tem ficado cada vez mais claro que nem todos os países em

Os países em desenvolvimento temem que reduções tarifárias mais acentuadas possam piorar suas balanças comerciais, já que os cortes em suas taxas (geral-mente mais elevadas) não se equiparariam aos cortes feitos por países industria-lizados. Alguns governos temem os efeitos que cortes tarifários profundos possam causar sobre suas receitas totais – de acordo com dados do FMI, o que se arrecada com tarifas de importação representou 15% da receita de governos de países em desenvolvimento entre 1999 e 2001; e 34% em países de menor desenvolvimento relativo, como é o caso da África.

Os países em desenvolvimento também têm defendido maior enfoque na redução dos picos tarifários (tarifas excepcionalmente elevadas para certos produtos, ge-ralmente produtos de interesse crítico para eles), bem como o aumento tarifário para produtos de alto valor agregado. Além disso, aqueles que se beneficiam de acesso preferencial aos mercados de países ricos temem que reduções tarifárias adicionais tenham um impacto negativo sobre o valor de suas preferências.

Aproximação Setorial O Pacote de Julho estipula que é necessário trabalhar mais para a liberaliza-ção setorial, que visa alcançar um acordo sobre reduções/eliminações tarifárias acentuadas para certos setores, incluindo produtos de exportação de interesse especial para países em desenvolvimento.

Após vários meses de desentendimento quanto à natureza e seqüência da proposta de liberalização tarifária setorial, as discussões têm avançado de modo informal, paralelamente às negociações sobre fórmula. Alguns países, no entanto, como é o caso do Brasil e da Índia, têm se mostrado relutantes quanto a qualquer forma de participação. Ainda não existe acordo sobre se a abordagem deveria ser volun-tária, obrigatória ou baseada em uma “massa crítica” de acordo com a qual os Membros poderiam acordar quanto a reduções / eliminações tarifárias para bens específicos, ativados pelo consentimento de uma percentagem alvo dos países que comercializam estes bens.

As propostas para liberalização setorial têm sido apresentadas para setores como pedras preciosas e joalharia, bicicletas e outros produtos desportivos, bem como para alguns produtos da tecnologia de informação.

Conversão AVEDe modo geral, os Membros têm concordado em seguir o modelo utilizado nas ne-gociações de agricultura para a conversão de tarifas específicas em equivalentes ad valorem baseados em preço – um exercício de matemática necessário para que se possa aplicar a fórmula de redução a essas tarifas. As tarifas são determinadas em termos percentuais baseados em seus volumes de importação e em valores submetidos à Base de Dados Integrada (IDB, sigla em inglês) da OMC. A maior parte dos Membros tem poucas linhas tarifárias para bens industrializados que não sejam ad valorem – menos do que 7% – e encontram-se realizando esses cálculos.

Barreiras Não-Tarifárias As discussões sobre NTBs encontram-se atrasadas em relação às discussões sobre fórmula de redução tarifária e parecem seguir a tendência de dois temas: a com-pilação e avaliação de notificações sobre NTBs e as possíveis formas de categori-zação das mesmas.

Bens AmbientaisEm março de 2002, os Membros decidiram que negociações sobre “redução ou, conforme for apropriado, eliminação de barreiras tarifárias e não tarifárias para bens ambientais” (Parágrafo 31(iii) da Declaração de Doha) dar-se-iam no Grupo de Negociação do NAMA, monitorado pelo Comitê sobre Comércio e Meio Ambiente (CTE, sigla em inglês). O CTE tenta estabelecer uma definição daquilo que se pode qualificar como um bem ambiental. Uma vez concluído esse trabalho, o Grupo de Negociações do NAMA estará em posição mais privilegiada para determinar a abor-

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desenvolvimento foram beneficiados com a liberalização. O acesso garan-tido a mercados proporcionado pelo sistema de cotas permitiu que muitas pequenas economias e países de me-nor desenvolvimento relativo tives-sem acesso a uma maior cota-parte no comércio internacional de têxteis do que teria acontecido sob um regi-me competitivo livre. Nesses países, muitos postos de trabalho essenciais para a diminuição da pobreza e va-lorização das mulheres dependeram diretamente desse acesso, e alguns foram grandemente afetados pela ausência de cotas. Por outro lado, grandes países em desenvolvimento, como a China e o Paquistão (cujas exportações foram restringidas por cotas nas importações), têm tirado proveito da eliminação do ATC. Esses países têm mostrado relutância em apoiar os esforços de países vulne-ráveis (como Turquia e Uganda) em criar mecanismos de ajuste para suavizar o impacto do livre comér-cio. Assim, a liberalização do setor ameaça dividir os países em desen-volvimento entre os que esperam sair ganhando e os prejudicados.

Ajustes de Custos discutidos na OMCDurante o processo de liberalização do setor, países que esperavam ser afetados negativamente pela grada-tiva eliminação das cotas começa-ram a levantar a questão na OMC. Alguns Membros, incluindo Bangla-desh, República Dominicana, Fiji, Jamaica, Madagáscar, Maurícias, Mongólia, Nepal, Sri Lanka, Turquia e Uganda, pediram que a Secretaria da OMC considerasse a utilização de mecanismos de ajuste para minimi-zar os impactos negativos da tran-sição. Muitos países acreditam que a OMC deveria se preocupar com os problemas enfrentados por peque-nos países em desenvolvimento no processo de liberalização comercial, incluindo preços globais mais baixos, a feroz concorrência da China e da Índia e o risco de perda de mercados nos EUA e na UE. Em 2005, a questão foi discutida pelo Conselho de Bens e Comércio e pela Subcomissão dos países de menor desenvolvimento relativo.

Em outubro de 2004, Bangladesh, Maurícias, República Dominicana, Fiji, Mada-gáscar, Sri Lanka e Uganda (subsequentemente apoiados pela Jamaica, Nepal e Mongólia) apresentaram uma submissão (G/C/W/496) ao Conselho de Bens. Eles solicitaram que a Secretaria da OMC preparasse um estudo sobre questões re-lacionadas ao ajuste e aos custos resultantes da eliminação das cotas, além do estabelecimento de um cronograma de trabalho da OMC para discutir possíveis soluções para os problemas identificados no estudo. A Turquia propôs uma gama de soluções para os problemas relacionados ao ajuste, incluindo mecanismos de monitoramento e de salvaguardas (G/C/W/497).

Na seqüência, encontram-se a submissão da Tunísia, em maio de 2005 (JOB(05)/31) e um novo documento Turco de julho (G/C/W/522), instando os Membros da OMC a analisar possíveis modos de estabilização de preços de mercado para alimentos, têxteis, e vestuários, bem como a trabalhar juntamente com instituições financei-ras internacionais em prol do estabelecimento de mecanismos de financiamento para assistir os países a se ajustarem à nova realidade. A Turquia também propôs que questões relacionadas a ajustes têxteis deveriam ser itens permanentes na agenda do Conselho de Bens.

Durante o debate, China e Índia continuaram a opor-se à idéia de trabalhar os têx-teis no Conselho de Bens, insistindo que a liberalização total do comércio de têx-teis e vestuários era uma das maiores realizações da OMC em prol dos países em desenvolvimento. Esses dois países alegam que medidas como: aumento de inves-timento privado, aprimoramento das regras de origem preferenciais em grandes países importadores, e melhor assistência técnica por parte do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial poderiam ajudar nesse período de transição para o comércio livre. Aqueles contrários a um programa de trabalho sobre têxteis no Conselho de Bens preferiam que a questão fosse discutida na Subcomissão dos paí-ses de menor desenvolvimento relativo, enquanto os países em desenvolvimento “não-LDCs”, como Turquia e Sri Lanka, contra-argumentavam que questões de ajuste afetavam todos os países em desenvolvimento.

Em julho de 2005, a Subcomissão dos países de menor desenvolvimento relativo recebeu um relatório do Secretariado da OMC intitulado "Opções para que Países de menor Desenvolvimento Relativo melhorem sua competitividade no negócio de têxteis e vestuários". O relatório sugeria que as exportações dos países de menor desenvolvimento relativo poderiam aumentar com a redução de tarifas de importação sobre produtos têxteis e vestuários por parte países em desenvol-vimento, fosse por meio de preferências não-recíprocas ou por meio de acordos comerciais regionais. Contudo, vários países em desenvolvimento mostraram-se reticentes quanto à liberalização de seus setores têxteis e de vestuários. Os Mem-bros concluíram que os países de menor desenvolvimento relativo precisavam de assistência técnica para melhorar sua competitividade.

Tentativas de ajuste em outras áreasOs países têm adotado medidas específicas para proteger seus mercados e in-dústrias nacionais de importações recém-liberalizadas, mais especificamente da China. No dia 10 de junho de 2005, a UE e a China assinaram um acordo bilateral – subsequentemente ajustado para permitir importações superiores às previstas para a UE durante o verão de 2005 – que limitava a exportação chinesa para a UE em dez categorias de têxteis e vestuários a um crescimento de 8 a 12,5% até o final de 2007. Em outubro de 2005, os EUA já haviam imposto restrições à importação de nove tipos de têxteis chineses, de acordo com a salvaguarda específica para têxteis prevista no parágrafo 242 do Acordo de Adesão da China à OMC, que per-mite que os Membros limitem suas importações de produtos têxteis e vestuários chineses até um aumento de 7,5% acima dos níveis de importação do ano anterior, caso haja constatação de prejuízo para o mercado. A Turquia invocou essa mesma cláusula para impor salvaguardas sobre 42 produtos e implementou medidas anti-dumping contra a China para sete categorias diferentes. O Brasil está buscando um entendimento bilateral com a China para restringir as importações chinesas de

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têxteis e calçados, e também considera o uso da cláusula da salvaguarda especí-fica para têxteis.

Os efeitos começam a ser sentidosÀ medida que as estatísticas são recolhidas para a primeira metade de 2005, fica cada vez mais claro que o efeito da liberalização poderá não ter sido totalmente como previsto. Os avisos sobre o colapso do setor em Bangladesh, por exemplo, estavam incorretos: de modo geral, a indústria está consolidando sua capacidade e várias fábricas e setores encontram-se em expansão. As exportações para os EUA aumentaram e a exportação global de vestuários em Bangladesh sofreu um aumento dramático em fevereiro e março de 2005 se comparadas ao ano ante-rior. O Camboja tem mantido sua fatia do comércio global de têxteis, haja vista que sua reputação de boas condições de trabalho ajuda a atrair e reter investi-mentos. O Paquistão tem se beneficiado da eliminação de restrições de cotas. A Turquia encontra-se ligeiramente melhor do que se temia, mas a exportação de vestuários da Índia caiu 24% nos primeiros três meses de 2005, muito abaixo das expectativas. Contudo, os principais prejudicados são os países da África Sub-Saariana. Eles haviam se beneficiado em relação a postos de trabalho, cres-cimento e investimentos por força da Lei Africana para o Crescimento e Oportu-nidadesde 2000. Hoje, a África Sub-Saariana sofre com o fechamento de fábricas e com o conseqüente desemprego. Em Lesoto, um dos países mais pobres do

mundo, inúmeras fábricas foram fe-chadas ou reduziram drasticamente suas operações no setor que era o único empregador significativo do país, e que representava mais de 90% da exportação nacional. O Quê-nia relatou queda de 13% nas expor-tações de têxteis e vestuários entre janeiro e março de 2005, compa-rado com os dados de 2004 para o mesmo período. Experiências simi-lares têm acontecido em Madagás-car, Marrocos, Nigéria, Suazilândia e Tunísia. O México também parece estar lutando nesse ambiente de mercado “pós-cota”, e muitos paí-ses da América Central esperam que a implementação do acordo CAFTA-DR possa melhorar o acesso ao lu-crativo mercado dos EUA.

Direitos de Propriedade Intelectual

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O Mandato de Doha:

Saúde Pública“Reconhecemos que os Mem-bros da OMC com insuficiente ou nenhuma capacidade de produção no setor farmacêu-tico poderão enfrentar difi-culdades em fazer uso eficaz de licensiamento obrigatório sob o Acordo de TRIPS. Ins-truímos o Conselho de TRIPS no sentido de encontrar uma solução expedita para este problema apresentar um relatório ao Conselho Geral antes do fim do ano 2002.”

(Parágrafo 6 da Declaração de Doha sobre o Acordo de TRIPS

e a Saúde Pública)

Indicações Geográficas“Com vista a concluir o trabalho iniciado no Conselho de Aspectos de Comércio Relacionados com os Direitos de Propriedade Intelectual sobre a implementação do Artigo 23.4, concordamos a negociar o estabelecimento de um sistema multilateral de notificação e registo de indicações geográficas para vinhos e bebidas espirituosas, até a quinta Sessão da Confe-rência Ministerial. Anotamos que questões relacionadas à extensão da proteção de in-dicações geográficas prevista no Artigo 23 a produtos que não sejam vinhos e bebidas espirituosas será abordada no Conselho de TRIPS em confor-midade com o parágrafo 12 desta Declaração”

(Parágrafo 18 da Declaração Ministerial de Doha)

Durante os primeiros 10 meses de 2005, não houve muito progresso nas negocia-ções sobre questões relacionadas à saúde pública, indicações geográficas e diver-sidade biológica no Conselho de TRIPS. Contudo, tentando encontrar uma solução para o atual impasse, as discussões sobre saúde pública e acesso a medicamentos continuam durante a preparação para a Conferência Ministerial de Hong Kong, que acontece em dezembro.

O mais importante passo do Conselho de TRIPS desde o lançamento da Rodada de Doha foi a adoção, em 30 de Agosto de 2003, de uma decisão do Conselho Geral sobre a Implementação do Parágrafo 6 da Declaração de Doha sobre o Acordo TRIPS e Saúde Pública (WT/L/540). A decisão, também conhecida como ‘waiver’ (uma exceção), descreve detalhadamente as condições sob as quais países sem ca-pacidade para produzir medicamentos podem fazer uso de licenças compulsórias para importar versões genéricas de drogas ainda sob a proteção de patentes. Em-bora vários países (potenciais exportadores) tenham começado a adaptar suas leis nacionais para adequarem-se à Decisão, os possíveis países importadores ainda precisam fazer uso do sistema. O Grupo Africano de Membros da OMC propôs uma emenda permanente (IP/C/W/437) ao Acordo TRIPS (IP/C/W/437), mas vários Membros (em sua maioria países em desenvolvimento – PEDs, sigla em inglês) ale-gam que essa emenda não condiz com o waiver de 30 de agosto.

Também se encontram paradas as negociações sobre o estabelecimento de um sistema multilateral de notificação e registro de indicações geográficas (IGs) para vinhos e bebidas espirituosas, bem como as negociações sobre a extensão da pro-teção que o Acordo TRIPS hoje confere a esses produtos, majoritariamente agríco-las. A dificuldade do tema acentuou-se no final de outubro de 2005, quando a UE vinculou sua última oferta de redução de tarifas agrícolas ao fortalecimento do Acordo TRIPs para todas IGs. A UE também exigiu que todas as IGs fossem cobertas por um futuro sistema multilateral de registro – que gerasse efeitos legais para Membros participantes e não-participantes. Além disso, a UE disse que buscaria a proibição do uso de terceiros de um “número limitado” de conhecidas IGs euro-péias. (ver o Briefing da Rodada de Doha, Vol. 4, No. 2, sobre agricultura).

Apesar da apresentação de várias novas submissões ainda mais específicas, as dis-cussões sobre a relação entre o Acordo TRIPS, conhecimento tradicional (TK, sigla em inglês) e questões relacionadas à biodiversidade não têm evoluído. Isto reflete os diferentes pontos de vista dos Membros quanto às modalidades que Impulsiona-riam o processo. O foco tem sido a necessidade de revelar o requisito de origem, mecanismos de acesso, partilha de benefícios e prévio consentimento informado. No âmbito das reuniões ministeriais que ocorreram no início de novembro, o mi-nistro do comércio da Índia enfatizou que três temas relacionados ao Acordo TRIPs são cruciais para que se chegue a um acordo em Hong Kong: o parágrafo 6 da De-claração de Doha sobre TRIPs e Saúde Pública; a revelação de origem de recursos genéticos; e a relação entre a Convenção sobre Diversidade Biológica e o Acordo TRIPs.

Prazos • Final de março de 2005: Relatório encaminhado ao Conselho Geral sobre uma

solução à questão das licenças compulsórias e falta de capacidade de produção

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Queixas de Não Violação“O Conselho de TRIPS foi ins-truído no sentido a continuar a sua análise do âmbito e mo-dalidades de queixas do tipo previsto sob o parágrafo 1(b) e 1(c) do Artigo XXIII do GATT 1994 e fazer recomendações à Quinta Sessão da Conferên-cia Ministerial. Concordou-se que, no entretanto, os Mem-bros não iniciarão queixas sob o Acordo TRIPS.”

(Parágrafo 11.1 da Implemen-tação da Decisão relacionada

a Questões e Preocupações)

Outras Questões de Imple-mentação Pendentes“Instruimos o Conselho de TRIPS, no proseguimento do seu programa de trabalho incluindo sob a revisão do Artigo 27.3(b), a rever a im-plementação do Acordo TRIPS sob o Artigo 71.1 e o trabalho previsto em seguimento do parágrafo 12 desta decla-ração, para examinar inter alia, o relacionamento entre o Acordo TRIPS e a Convenção sobre a Diversidade Biológica, a proteção do conhecimento tradicional e folclore, e outros novos desenvolvimen-tos levantados pelos Membros em conformidade com o Artigo 71.1. Ao empreender este trabalho, o Conselho de TRIPS será guiado pelos obje-tivos e pricípios estabelecidos nos Artigos 7 e 8 do Acordo TRIPS e levará totalmente em conta a dimensão desenvolvi-mento.”

(Parágrafo 28 da Declaração Ministerial de Doha)

de medicamentos, parcialmente implementada no dia 30 de agosto de 2003. OO prazo para o desenvolvimento de uma emenda permanente ao Acordo TRIPS foi estendido até o dia 31 de março de 2005, mas não foi cumprido. As discussões ocorridas no último Conselho de TRIPS, em outubro de 2005, não conseguiram chegar a um consenso. O Conselho de TRIPS deve se reunir em breve, antes de Hong Kong, em uma tentativa de desenvolver uma solução que possa ser apre-sentada ao Conselho Geral. Separadamente, consultas informais entre o Grupo Africano, os EUA e a UE continuam.

• Dezembro de 2005 (VI Conferência Ministerial): O prazo para que Conselho se apresente ao Comitê de Negociações Comerciais (TNC, sigla em inglês) em rela-ção a ações de implementação (de acordo com o parágrafo 12(b) da Declaração de Doha) foi estendido até a VI Conferência Ministerial de Hong Kong. Isso vale para todas as questões, exceto a extensão da proteção de IGs a produtos que não sejam vinhos e bebidas espirituosas. Para a extensão de IGs, o PresidentePara a extensão de IGs, o Presidente da reunião do TNC (que aconteceu em setembro de 2005) indicou que, por insis-tência de vários países, a questão entraria na agenda de Hong Kong.

• Dezembro de 2005 (VI Conferência Ministerial): A conclusão das negociações sobre o sistema multilateral de notificação / registro de IGs para vinhos e bebi-das espirituosas teve seu prazo estendido até a Sexta Conferência Ministerial.

O Acordo TRIPS e Saúde PúblicaA pedido do Grupo Africano (apoiado por vários PEDs), a relação entre as regras da OMC sobre direitos de patentes e acesso a medicamentos essenciais foi abordada no Conselho de TRIPS pela primeira vez em junho de 2001. As discussões que se seguiram culminaram na Declaração de Doha sobre o Acordo TRIPS e Saúde Pública, de 14 de novembro de 2001 (WT/MIN(01)/DEC/2), que enfatizou que o Acordo não impede e tampouco deve impedir que os Membros tomem medidas para proteger a saúde pública.

No entanto, uma questão não ficou resolvida em Doha: como abordar o proble-ma enfrentado por países com insuficiente ou nenhuma capacidade de produção farmacêutica que desejam usar a licença compulsória (parágrafo 6 da Declaração sobre TRIPS e Saúde Pública). A licença compulsória refere-se à prática pela qual autoridades governamentais permitem que terceiros ou que uma agência governa-mental use uma invenção sem o consentimento do titular da patente, embora este tenha o direito a uma “remuneração adequada”, de acordo com as circunstâncias de cada caso. Muitos Membros acreditam que o artigo 31(f) do Acordo TRIPS, que requer que essa produção (baseada em uma licença compulsória) destine-se ao abastecimento do mercado doméstico, poderia limitar severamente a possibilidade de acesso a medicamentos economicamente viáveis para aqueles países (PEDs e Países de Menor Desenvolvimento Relativo – LDCs, sigla em inglês) que não possuem capacidade de produção de versões genéricas de drogas patenteadas.

A Decisão de 30 de agosto e a Declaração do Presidente do Conselho GeralUm compromisso foi finalmente alcançado com a adoção da Decisão de 30 de agos-to de 2003, que temporariamente “renunciou” as obrigações dos Membros estabe-lecidas pelo artigo 31(f), que dispõe sobre a exportação de produtos farmacêuticos produzidos por meio de licença compulsória. Teoricamente, esse waiver oferece uma solução temporária a países que não possuem capacidade de produção deque não possuem capacidade de produção de versões genéricas de drogas patenteadas, mas muitos consideram suas disposições mas muitos consideram suas disposições muito complexas e politicamente carregadas para serem efetivamente utilizadas por esses países. Muitas de suas inúmeras e detalhadas notificações, entre outras obrigações, visam garantir que os produtos farmacêuticos produzidos por meio de licença compulsória e importados por um país não sejam re-exportados (para deta-lhes, ver Briefing da Rodada de Doha, Vol. 3, No.5). Esse waiver continua em vigorcontinua em vigor até que o Acordo TRIPS seja permanentemente emendado.

A Decisão foi acompanhada de uma declaração (JOB (02)/217) do Presidente do Conselho Geral da OMC, Carlos Pérez del Castillo, que disse que o sistema esta-

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belecido pela Decisão seria utilizado “em boa fé para proteger a saúde pú-blica” e não como “um instrumento para alcançar objetivos de política industrial ou comercial”. A declara-ção também detalhou medidas adi-cionais, visando controlar desvios de comércio, e listou vários Membros, países desenvolvidos e em avança-do estágio de desenvolvimento, que haviam concordado em nunca utili-zar o sistema como importadores, ou então que haviam declarado que somente utilizariam o sistema em ca-sos de emergência nacional ou outra circunstância de extrema urgência. As discussões mais recentes relacio-nadas ao waiver têm sido quanto ao status legal da declaração e como ela deveria refletir uma emenda perma-nente ao Acordo TRIPS.

Estado Atual das Negociações As discussões sobre uma emenda permaneceram em um impasse até dezembro de 2004, quando então o Grupo Africano propôs um texto ela-borado a partir da decisão de 30 de agosto. No entanto, este não oferecia detalhes sobre questões relacionadas a “desvios de comércio”, com exce-ção de um parágrafo sobre embala-gens diferenciadas. O Grupo Africano defendeu a proposta como uma ten-tativa de simplificar o uso do meca-nismo, visando torná-lo mais opera-cional e mais “simpático”, como uma solução às dificuldades relacionadas às complexas disposições do waiver.

EUA, UE, Canadá, Japão e Suíça, en-tre outros, continuam a insistir que qualquer emenda deve ser uma sim-ples “tradução técnica” da Decisão. Esses países foram contrários à pro-posta Africana, alegando que ela ha-via omitido as seções do waiver sobre obrigações de notificação – como, por exemplo, especificar antecipadamen-te não só o nome, mas a quantidade exata da droga que o Membro deseja importar por meio de licença com-pulsória. Muitos também criticaram a ausência de qualquer menção à de-claração do Presidente do Conselho Geral na proposta. A Nigéria e o Quê-nia argumentaram que todas as ale-gadas omissões eram “supérfluas”, já que todas elas estavam contempladas no Acordo TRIPS.

Muitos PEDs, incluindo Brasil e Índia, têm se mostrado receptivos à mudança de rumo do debate, que passou de procedimentos à substância, e apóiam o ponto de vista africano de que uma emenda permanente deveria ser mais simples do que o waiver, que hoje representa um considerável problema administrativo para os governos de PEDs. Mais recentemente, por iniciativa da UE e orientados pelo Pre-sidente do Conselho, o Grupo Africano, os EUA e a UE iniciaram consultas informais quanto à proposta da UE, que mantém intacta a linguagem original do waiver, mas omite qualquer referência à Declaração do Presidente do Conselho Geral. Vários Membros – incluindo a Suíça e a Malásia –apoiaram o processo e a iniciativa desses países. Brasil e Índia, no entanto, têm solicitado sua inclusão, alegando que consul-tas organizadas pelo Presidente do Conselho deveriam incluir todas as partes. Como não se chegou a um acordo sobre o waiver ao final da sessão de outubro de 2005 do Conselho de TRIPS, este deve reunir-se novamente em Hong Kong para tentar criar uma solução permanente ou temporária. Nenhum prazo foi estabelecido.

Na realidade, o waiver já foi incorporado à legislação nacional do Canadá, da Índia, da Noruega, da Suíça e da UE. As alterações à lei nacional de Propriedade IntelectualAs alterações à lei nacional de Propriedade Intelectual da Koréia passam a gerar efeitos a partir de janeiro de 2006. Os países importado-res também precisam adaptar suas leis para que possam utilizar a Decisão, mas até agora isto não aconteceu. No mesmo sentido, nenhum país elegível notificou a OMC que pretende utilizar o sistema como importador, ou que sofre com a ausência de alguma droga específica.

Indicações Geográficas Conforme definido no artigo 22 do Acordo TRIPS, Indicações Geográficas são indica-onforme definido no artigo 22 do Acordo TRIPS, Indicações Geográficas são indica-ções da origem nacional, local ou regional de um produto ao qual “uma determinada qualidade, reputação ou outra característica seja essencialmente atribuída à sua origem geográfica”. As discussões no Conselho de TRIPS seguem duas linhas que se inter-relacionam: (i) negociações formais sobre um registro para IGs, mais especifi-(i) negociações formais sobre um registro para IGs, mais especifi-camente vinhos e bebidas espirituosas; e (ii) discussões relacionadas à implementa-ção de maior proteção para IGs que identifiquem outros produtos.

Registro Multilateral O parágrafo 18 da Declaração de Doha requer que Membros da OMC “negociem o estabelecimento de um sistema multilateral de notificação e registro de indica-ções geográficas para vinhos e bebidas espirituosas”. No entanto, essas negocia-ções não têm evoluído de forma significativa devido a profundas discordâncias sobre duas questões. A primeira é o “efeito legal” , i.e., se termos registrados devem ser automaticamente protegidos ou se essa proteção é voluntária. A segunda refer-se à “participação”, i.e., se os efeitos legais se aplicam apenas àqueles que optam por participar do sistema, ou se todos os Membros da OMC devem ser obrigados a proteger IGs registradas. Em setembro de 2005, o presidente das negociações sobre registro multilateral concluiu que “as diferenças pareciam, como sempre, muito amplas. Não parece ter havido nenhuma melhora desde Cancun”.

Argentina, Austrália, Canadá, Chile, El Salvador, Nova Zelândia e EUA (apoiados pelo Equador) têm argumentado a favor de um registro de IGs que funcionaria essencial-mente como uma base de dados. Essa base seria acessível e constantemente consul-tada por órgãos nacionais de propriedade intelectual no processo de concessão (ou não) de proteção a determinadas IGs para vinhos e bebidas espirituosas. O registro seria voluntário, i.e., os Membros teriam liberdade para escolher se querem ou não registrar suas IGs. A cumprimento da proteção das IGs continuaria vinculado à lei nacional.

Em contrapartida, a UE e outros países Europeus pediram que os termos registrados fossem protegidos em todos os países Membros da OMC, incluindo Membros não participantes. A última oferta da UE em corte tarifários em agricultura confirma essa posição, acrescentando que o registro deveria compreender todas as IGs (não apenas para vinhos e bebidas espirituosas) e produzir efeitos legais tanto para Mem-

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bros participantes como para os não-participantes que não tenham feito reservas ao registro de IGs. A submissão também sugeriu que o uso de terceiros de um “número limitado” de reconhecidas IGs Européias deveria ser proibido.

Alguns países têm expressado o cauteloso desejo de que o impasse quanto ao regis-tro pudesse ser superado com o acordo bilateral de 15 de setembro de 2005 entre a UE e os EUA, que mutuamente reconhece “nomes de origem” e nomes “semi-gené-ricos” para vinhos. No entanto, produtores de vinho franceses e italianos continuam a fazer lobby para a rejeição do acordo, porque ele permite que certos produtores estadunidenses continuem a usar nomes como Champagne. Mais importante ainda, ao vincular o registro à maior proteção para todas IGs, a UE poderá endurecer sua posição.

Para maiores detalhes sobre a extensão das IGs, ver seção sobre implementação.

Biodiversidade, Conhecimento Tradicional e Folclore O parágrafo 19 da Declaração de Doha instrui o Conselho de TRIPS – como parte da revisão dos artigos 27.3(b) e 71.1 – a considerar a relação entre o Acordo TRIPS e a Convenção sobre Diversidade Biologica (CBD); a proteção do conhecimento tradicio-nal (TK, sigla em inglês) e do folclore. O artigo 27.3(b) dispõe que os Membros da OMC devem conceder proteção patentária a micro-organismos e processos micro-biológicos (tais como aqueles utilizados na biotecnologia hoje), mas permite que os países excluam plantas e animais de suas leis de patentes. O artigo 71.1 pede uma revisão geral do Acordo.

Essas discussões têm sido amplamente centradas na seguinte questão: o Acordo TRIPS deve obrigar o requerente de uma patente a revelar o país de origem e as fontes de qualquer material genético / TK utilizado em processos de P&D relaciona-dos a uma invenção? Isso inclui o fornecimento de evidências de: (a) consentimento prévio informado (PIC, sigla em inglês) do país / comunidade de origem; e (b) como se pretende compartilhar os benefícios resultantes da comercialização da invenção com o país / comunidade de origem. Os PEDs que apoiam essa emenda são: Brasil, Bolívia, Cuba, República Dominicana, Equador, Índia, Tailândia, Peru e Venezuela, bem como o Grupo Africano. Além de requerer revelação de origem e evidência de PIC e de compartilhamento de benefícios, os Membros Africanos da OMC também propuseram a revisão do artigo 27.3(b) do TRIPS de modo a proibir o patenteamentoproibir o patenteamento de plantas, animais e micro-organismos, bem como a classificação de TK como uma categoria de direitos de propriedade intelectual.

Ao passo que alguns países desenvolvidos (como a UE, Noruega e Suíça) têm demons-trado boa vontade para abordar essas questões na OMC ou na Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), outros, incluindo os EUA e a Austrália, permane-cem firmemente opostos a isso. Esses países não acreditam que haja conflito algum entre a CDB e o Acordo TRIPS, e alegam que requisitos de revelação da patente seriam ineficazes em relação ao PIC, a objetivos de acesso e ao compartilhamento de benefícios, além de acrescentar mais um peso ao sistema de patente.

Esses pontos de vista fundamentalmente opostos levaram a um impassse no Con-selho de TRIPS. Em 2005, Brasil e Índia, juntamente com vários outros PEDs, apre-sentaram várias submissões relacionadas a revelação, PIC e compartilhamento de benefícios (IP/C/W/442, IP/C/W/438 and IP/C/W/429). O Peru também foi favo-rável a requisitos de revelação – incluindo sanções para descumprimentos – como parte do sistema de patentes do Acordo TRIPS ou de tratados administrados pela OMPI (IP/C/W/441 and IP/C/W/447), citando vários casos nos quais patentes foram erroneamente concedidas a recursos genéticos e TK peruanos. Em resposta, os EUA alegaram (IP/C/W/449 and IP/C/W/434) que leis nacionais fora do sistema de pa-tentes são a forma mais eficaz de assegurar PIC e compartilhamento eqüitativo de benefícios, o que poderia ser conseguido por meio de contratos entre o fornecedor e

o utilizador do material genético e / ou conhecimento. Os EUA indicaramOs EUA indicaram que os requisitos adicionais sugeridos representariam um peso ao sistema de patentes e desestimulariam os incentivos ao desenvolvimento tec-nológico. Nos casos em que paten-tes foram erroneamente concedidas, os EUA sugeriram que os Membros se preocupassem com as soluções, incluindo o uso de bases de dados organizadas, informações sobre cri-térios de patentabilidade, oposição ou sistemas de reavaliação como uma alternativa ao litígio.

Nas reuniões do Conselho de TRIPS de 26 e 28 de outubro de 2005, o Peru apresentou um documento (IP/C/W/457) analisando os benefícios que o requisito de revelação poderiam ter trazido ao caso da “biopirataria” da planta Camu Camu. Índia, Brasil, Bo-Índia, Brasil, Bo-lívia, Cuba e Paquistão (IP/C/W/458) forneceram observações técnicas sobre a submissão dos EUA (IP/C/W/449), alegando que uma abor-dagem baseada em contratos para acesso e compartilhamento de bene-fícios não é suficiente. Índia e Bra-sil elogiaram o nível de maturidade das discussões e enfatizaram o fato de que muitas delegações acreditam que a revelação seria uma solução eficiente e viável à biopirataria, que poderia ser complementada com a solução proposta pelos EUA (baseada em contratos). Índia e Brasil também ressaltaram que o Conselho de TRIPS, em seu trabalho sob o Parágrafo 19 da Declaração de Doha, deveria ser guiada pelos objetivos estabelecidos nos artigos 7 e 8 do Acordo TRIPS, considerando plenamente a dimen-são do desenvolvimento. EmboraEmbora essas reuniões não tenham produzido nenhum consenso, muitas delegações de PEDs parecem determinadas a avançar nas questões relacionadas à biodiversidade.

No dia 26 de outubro, a Índia propôs um parágrafo para a Declaração Minis-terial de Hong Kong sugerindo que “as negociações sobre o relacionamento entre o Acordo TRIPS e a CBD devem avançar”, o que cobriria, inter alia, “os detalhes dos requisitos obrigató-rios que os requerentes de patentes devem revelar”, bem como o PIC e o

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compartilhamento de benefícios. OsOs parágrafos propostos receberam for-te apoio dos PEDs, mas objeções por parte dos EUA e do Japão.

Questões de Implementação Queixas de não-violação (parágrafo 11.1 da Decisão de Implementação de Doha). Queixas de “não-violação” são ações legais previstas nos artigos XXIII (b) e (c) do GATT de 1994 que permitem que os Membros tragam uma disputa à OMC baseados na per-da de um benefício esperado causado por ações de outro Membro, mesmo que essas ações não violem as regras da OMC. O propósito de permitir es-sas queixas foi dissuadir os países de alterar o “equilíbrio de benefícios” negociados por meio da instituição de medidas comerciais restritivas, mas formalmente consistentes com o GATT. Os críticos alegam que permi-tir um litígio contra medidas que não violam as normas da OMC destrói a previsibilidade do sistema comercial fundamentado em regras. O artigo 64.3 do Acordo TRIPS requer o exame do âmbito e das modalidades para tais queixas no contexto do Acordo TRIPS.

A potencial aplicação desse tipo de ação legal na área de direitos de propriedade intelectual é particular-mente controverso. O Acordo TRIPS foi criado para estabelecer padrões de proteção à propriedade intelec-tual, e não para proteger o acesso a mercados, que era o principal objeti-vo por trás dos artigos XXIII (b) e (c) do GATT. Além disso, alguns Membros temem que os países possam utilizá-lo para bilateralmente pressionar pa-íses mais fracos e, deste modo, gerar efeitos perniciosos em questões de alta importância socio-econômica, como saúde, transferência de tecno-logia ou nutrição.

Em Doha, os Membros concordaram em não propor queixas de não-viola-ção por mais dois anos (o artigo 64.2 do próprio Acordo TRIPS havia esta-

belecido um período inicial de não aplicação de cinco anos). Os EUA são o principalOs EUA são o principal defensor das queixas de não-violação no contexto do Acordo TRIPS, ao passo que muitos outros países sugerem a exclusão das queixas de não-violação do âmbito do Acordo. O “Pacote de Julho” explicitamente estendeu a moratória até a Sexta Con-ferência Ministerial, em dezembro de 2005. Como não tem havido progresso sobre uma solução mais permanente, é possível que a moratória também seja estendido em Hong Kong.

Proteção adicional para Indicações Geográficas (tiret 87 da Compilação de Questões �xcepcionais de Implementação; JOB(01)/152/Rev.1). O Parágrafo 18 da Declaração de Doha prevê que o Conselho de TRIPS aborde a controversa questão da extensão da proteção de IGs a outros produtos, prevista no artigo 23 para vinhos e bebidas espirituosas. A Bulgária levantou a questão no Conselho de TRIPS em abril de 2003 eA Bulgária levantou a questão no Conselho de TRIPS em abril de 2003 e foi também o primeiro país a levantar a questão no contexto das negociações sobre agricultura. As discussões sobre a extensão de IGs têm efetivamente bloqueado o progresso de outras questões de implementação, previstas no artigo 12(b) da Decla-o artigo 12(b) da Decla-ração de Doha, i.e., aquelas para as quais a Ministerial de Doha não havia previsto um mandato específico de negociações.

A UE e a Suíça são os principais demandantes pela extensão das IGs. Juntaram-se a eles vários PEDs (incluindo Índia, Quênia, Sri Lanka e Tailândia), que pedem negociações sobre essa questão, embora esse último grupo não defenda a inclusão de IGs nas ne-gociações sobre agricultura. A extensão das IGs encontra forte oposição por parte dos EUA, Austrália e outros países do “Novo Mundo” que exportam produtos agrícolas e que freqüentemente utilizam IGs do “Velho Mundo” em seus próprios produtos agrícolas (como os nomes de presuntos e queijos). A oferta da UE de tarifas agrícolas (de 28 de outubro) vinculou formalmente a proteção de IGs (incluindo extensão) às negociações sobre agricultura, marcando assim a já controversa questão como uma prioridade-chave e potencial fomentadora ou inibidora de acordos em Hong Kong.

Desenvolvimentos ParalelosOs direitops de propriedade intelectual sempre estiveram, e continuam a estar, entre os capítulos mais controversos dos acordos comerciais bilateral e regional, particu-larmente entre os EUA e os PEDs. Até agora, os EUA têm convencido seus eventuais parceiros de acordos de livre comércio a aceitar váriasde disposições “TRIPS-plus”, incluindo maior proteção para dados de ensaios farmacêuticos, o que provavelmente atrasará a introdução de versões genéricas de medicamentos no mercado. Seus acordos de livre comércio também contêm cláusulas rotineiras que oferecem maior proteção a marcas registradas do que a IGs, bem como maior proteção para variedades de plantas. Por outro lado, em recentes acordos de livre comércio, os EUA receberam da Tailândia e da Comunidade Andina o primeiro pedido TRIPS-plus, sugerindo que a revelação de recusros genéticos / TK seja parte do critério para requisição de patentes. Apesar do desafio das negociações, isso indica a crescente determinação dos PEDs em exigir o requisito de revelação em níveis nacionais, bilaterais, regionais e multilaterais.

A OMPI foi recentemente convidada a integrar uma abordagem mais “amigável” ao desenvolvimento da elaboração e implementação de tratados de propriedade intelectual. Baseada em uma sugestão originalmente apresentada por 14 PEDsBaseada em uma sugestão originalmente apresentada por 14 PEDs - incluindo Argentina e Brasil (WO/GA/31/12), a Assembléia Geral da OMPI esta-beleceu um mecanismo para considerar os vários aspectos da proposta. O Comitê Intergovernamental de Propriedade Intelectual, Recursos Genéticos, Conhecimen-to Tradicional e Folclore (IGC, sigla em inglês) também contribuiu para o reco-nhecimento da importância do conhecimento tradicional, além de proporcionar um fórum de discussão sobre algumas das limitações do sistema de propriedade intelectual quanto a essa questão. Alguns ganhos substantivos também foram possíveis por meio do ICG. Um exemplo é uma emenda feita ao Tratado de Coo-peração de Patente (PCT, sigla em inglês) no que tange a lista de documentação mínima, exigindo que os escritórios de patentes considerem outras fontes além da literatura científica, incluindo publicações sobre TK.

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O Mandato de Doha

“Reconhecendo o caso para acelerar ainda mais o movimento, entrega e saída de bens das alfândegas, incluindo bens em trânsito, e a necessidade de melho-ria da assistência técnica e capacitação nesta área, concordamos que negocia-ções tenham lugar após a Quinta Sessão da Conferên-cia Ministerial na base de decisão a ser tomada por consenso explícito nessa sessão sobre a modalidade de negociações. No pe-ríodo atè a Quinta Sessão, o Conselho de Comércio de Bens reverá, conforme for apropriado, clarificará e melhorará espetos relevan-tes dos Artigos V, VIII e X do GATT 1994 e identificará as necessidades de facilitação de comércio e prioridade dos Membros, em particular países em desenvolvimento e países menos desenvolvi-dos. Comprometemo-nos a assegurar assistência téc-nica adequada e apoio para capacitação nesta área.

(Parágrafo 27 da Declaração Ministerial de Doha)

A Declaração Ministerial de Doha também previu mandatos idênticos para investimentos, política de concorrência, transparência em aquisições pelo governo e facilitação do comércio.

(Parágrafo 20, 23 e 26 da Declaração Ministerial de

Doha)

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O Pacote de Julho de 2004 representou o primeiro acordo concreto sobre o status das chamadas questões de Singapura da Rodada de Doha desde o fracasso das conversações durante a Ministerial de Cancun, em setembro de 2003. Os Mem-bros da OMC concordaram por meio de ‘consenso explícito’ no Conselho Geral a formalmente lançar negociações sobre a facilitação do comércio, ao passo que abandonavam as questões mais contenciosas do programa de trabalho de Doha, nomeadamente: investimento, política de concorrência e transparência em com-pras governamentais.

O Anexo D do Pacote de Julho afirma que as negociações “devem esclarecer e aprimorar aspectos relevantes dos artigos V, VIII e X do GATT de 1994, buscando acelerar o movimento, a quitação e a remoção de mercadorias, incluindo aquelas em trânsito.” O artigo V trata da liberdade de trânsito de mercadorias de outro Membro, e declara que todas as tarifas impostas a mercadorias em trânsito de-vem ser ‘razoáveis’. O artigo VIII declara que as taxas e formalidades ligadas à importação e exportação devem ser equivalentes ao custo dos serviços prestados, de modo a não constituírem proteção indireta. O artigo também pede a reduções do número e da diversidade dessas taxas. O artigo X do GATT requer que todas os regulamentações comerciais sejam claramente publicadas e justamente admi-nistradas.

As modalidades de negociação contêm uma série de disposições para tratamento especial e diferenciado (S&D) para países em desenvolvimento (PEDs) e países de menor desenvolvimento relativo (LDCs, sigla em inglês), como a ligação entre a extensão de suas obrigações sob o acordo final e sua capacidade de implementá-las. Disposições sobre assistência técnica e capacitação também são mais vincu-lantes que em outros lugares: se PEDs e LDCs não recebem o apoio e a assistência adicionais que necessitam para desenvolver a infra-estrutura necessária para im-plementar seus compromissos, eles simplesmente não terão a obrigação.

Prazo do MandatoComo o acordo de 2004 que inicia as negociações sobre facilitação de comércio torna a questão parte do ‘pacote único’ de Doha, as negociações serão concluídas juntamente com a Rodada de Doha.

HistóricoA Declaração Ministerial de Singapura de 1996 estabeleceu grupos de trabalho para analisar questões relacionadas a investimentos, políticas de concorrência e trans-parência em compras governamentais. A Declaração também instruiu o Conselho sobre Comércio de Bens a “empreender um trabalho investigativo e analítico […] sobre a simplificação dos procedimentos comerciais de modo a avaliar o âmbito das normas da OMC nesta área”. (Para uma visão mais geral dos preparativos finais para a Ministerial de Cancún, ver ICTSD-IISD Série de Briefings da Rodada de Doha, Volume 2).

O parágrafo 27 da Declaração de Doha dispõe sobre o mandato do Grupo de Tra-balho sobre a Facilitação do Comércio (WGTF, sigla em inglês). O programa de trabalho “pós-Doha” do WGTF está organizado de acordo com os três principais ítens da agenda, a saber: (i) artigos V, VIII e X do GATT, cada um deles sendo

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abordado em reuniões consecutivas; (ii) necessidades e prioridades dos Membros em relação à facilitação do comércio, particularmente de PEDs e LDCs; e (iii) assistência técnica e capacitação.

Durante a Conferência Ministerial de Cancun, a UE mostrou uma “boa-vontade de última-hora” para retirar o tema investimentos e concorrên-cia da mesa de negociações, mas a reunião acabou abruptamente antes que qualquer decisão fosse toma-da. Conseqüentemente, a sorte das quatro questões de Singapura não ficou clara até que consultas infor-mais foram iniciadas um ano depois.

Em dezembro de 2003, a discussão sobre facilitação do comércio emer-giu novamente. Em nome do grupo de LDCs, Bangladesh, apoiado por 15 outros PEDs (incluindo China e Índia), apresentou uma comunicação sobre as questões de Singapura (WT/GC/W/522), solicitando que inves-timentos, concorrência e transpa-rência em compras governamentais fossem retirados da pauta. Em abril de 2004, vários PEDs e LDCs declara-ram que estavam dispostos a discutir facilitação do comércio, mas apenas para efeitos de esclarecimento de modalidades substantivas para ne-gociações. Além de insistirem que as negociações deveriam basear-se em ‘consenso explícito’, eles suge-riram que o restante das questões de Singapura fosse definitivamente retirado do programa de trabalho da OMC, e expressaram desejo de ver um movimento prévio em questões como agricultura antes de que dis-cussões sobre facilitação do comér-cio tivessem início.

A aceitação de negociações por par-te de PEDS de acordo com o Pacote de Julho deveu-se principalmente ao que um delegado descreveu como “linguagem de desenvolvimento sem precedentes na história de negocia-ções da OMC”, assim à percepção amplamente aceita de progresso na questão crítica da agricultura desde Cancun. Isto também seriviu para aliviar o medo dos países mais po-bres em relação ao custo associado à implementação.

Estado Atual das NegociaçõesNas negociações “pós-julho”, os Membros da OMC concordaram em lidar pri-meiramente com o esclarecimento e aprimoramento dos artigos relacionados à facilitação do comércio mencionados no Pacote de Julho. Algumas organi-zações internacionais já haviam apresentaram aos Membros seus trabalhos e conclusões sobre facilitação do comércio, e serão convidados a assistir futu-ras reuniões de modo “ad hoc”. O processo de negociação tem sido descrito como ‘flexível’, ‘evolutivo’ e ‘impulsionado por Membros’. Muitos Membros acreditam que os esforços para facilitação do comércio levarão à melhoria da transparência, certeza, segurança legal e eficiência em procedimentos adua-neiros. Os benefícios para pequenas e médias empresas (SMEs, sigla em inglês) têm sido realçados em muitas submissões. PEDs sem fronteiras marítimas es-peram que as negociações abordem suas preocupações em relação a atrasos fronteiriços e custos mais elevados de trânsito para seus produtos. Contudo, tem havido dificuldades em relação ao timing e extensão dos compromissos de assistência técnica e financeira para ajudar PEDs / LDCs a implementar disposições de facilitação do comércio.

Desde Fevereiro de 2005, discussões interativas sobre questões substanciais do mandato de negociação têm sido fomentadas pelo elevado número de submis-sões apresentadas tanto por países desenvolvidos como por PEDs. Essas discus-sões também têm sido assistidas por peritos técnicos e entidades oficiais de capitais. Um aspecto interessante destas negociações tem sido as submissões conjuntas de países desenvolvidos e PEDs de diferentes agrupamentos regio-nais, que, em outras situações se encontrariam em lados opostos da mesa.

Por exemplo, Paraguai, Ruanda e Suíça proposeram conjuntamente que os Membros examinem formas de melhorar e esclarecer as disposições do artigo V do GATT sobre liberdade de trânsito, buscando encontrar soluções para pro-blemas específicos que afetam PEDs que não possuem saída marítima (TN/TF/W/39). Dez% - ou cerca de 350 milhões de pessoas – da população total de PEDs vive nesses países. As exportações, fretes e custos de seguros em LDCs representam pelo menos 13%, subindo para mais de 50% em alguns países Afri-canos (as médias são de 8.1% em PEDs e 5.8% em países desenvolvidos). Esses custos têm implicação direta para a competitividade das SMEs, e para sua sus-tentabilidade em países mais pobres que não possuem fronteiras marítimas. A submissão enfatizou que, considerando que os arranjos internacionais se confrontam com imensos problemas de implementação, o estabelecimento de normas da OMC sobre o trânsito “proporcionaria aos países que não possuem fronteiras marítimas um instrumento eficaz [..] para fazer que tais arranjos funcionem”. A proposta também realçou que seria necessário assistência té-cnica e financeira nos casos em que PEDs e LDCs não possuíssem tecnologia de informação, ou um sistema bancário suficientemente desenvolvido para permitir que a alfândega requeira que as remessas de mercadorias tenham a cobertura de garantias bancárias.

Esta proposta é uma resposta, inter alia, às prioridades de facilitação de comércio identificadas pelo Grupo Africano, i.e. redução de custos de comu-nicação e transporte, melhoramento das capacidades administrativas e adua-neiras, e a integração de empresas / economias Africanas no sistema interna-cional de pagamentos e seguros (TN/TF/W/33).

A Índia e os EUA proposeram o estabelecimento de um mecanismo multilateral para facilitar troca de informação (TN/TF/W/57), e Paquistão e Suíça apresen-taram uma proposta sobre um mecanismo de assistência técnica e capacitação previsível e transparente (TN/TF/W/63). O uso de padrões internacionais como base de documentação e requisitos de dados foi levantado por Nova Zelândia, Noruega e Suiça (TN/TF/W/36), bem como Bolívia, Mongólia e Paraguai (TN/TFW/28). As submissões também têm levantado questões como: corrupção, não-discriminação relativamente a modos e rotas de transporte e segurança.

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Apoio e Assistência

Os temas operacionalização da assistência técnica, capacitação e tratamento especial e diferenciado têm estado no centro das propostas de muitos PEDs, incluindo o Grupo Africano (TN/TF/W/56) e vários países da América Latina (TN/TF/W/41). O Grupo Africano fez uma forte declaração em abril relativa à grande importância que atribui a tratamento especial e diferenciado melhora-do, assistência técnica, apoio para capacitação e assistência de implementação, acrescentando que “o direito de selecionar opções de políticas e o exercício da flexibilidade política concedidos a PEDs e LDCs deve permanecer intocado” (TN/TF/W/33). A UE tem dado vários exemplos de iniciativas de facilitação de comércio em curso, incluindo um projeto de 60 milhões de euros para refazer a administração aduaneira no Egito (TN/TF/W/37), bem como a importância da assistência técnica relacionada à facilitação do comércio nas negociações da área de comércio-livre entre a UE e o Mercosul e países da ACP. A UE também disse que aumentaria a assistência direta para melhorar a infra-estrutura em países Africanos.

No entanto, alguma tensão fica evidente nesta área. Vários delegados da OMC têm enfatizado a importância de minimizar o medo dos PEDs de que a assistência técnica será ‘one-off’ (“um a menos”) ou de curta-duração, em vez de ser ‘di-nâmica’ e de longo prazo. Outros têm levantado o problema da falta de clareza sobre seqüenciamento, i.e., se ele deve resolver primeiro a a avaliação de ne-cessidades, seguido por assistência técnica e depois por compromissos na OMC, ou se ele deve primeiro abordar os compromissos da OMC antes da avaliação de necessidades, seguida pela assistência técnica.

Em 11 de novembro, as conversações fracassaram devido ao draft do relatório preparado pelo presidente das negociações, o Embaixador Muhamad Noor Yacob, da Malásia. Ele sugeriu que era preciso ”iniciar a preparação do draft de forma focalizada o mais cedo possível em 2006, de modo a permitir a conclusão das ne-gociações textuais sobre todos os aspetos do mandato”. Países Africanos e menos desenvolvidos já haviam dito que queriam compromissos mais detalhados sobre assistência técnica e financeira, bem como capacitação, antes de iniciarem ne-gociações textuais sobre disciplinas de facilitação. Os países desenvolvidos, por sua vez, alegaram que os detalhes sobre assistência técnica / capacitação só po-deriam ser resolvidos quando as próprias disposições fossem esclarecidas. Em 11 de novembro, a UE disse que não poderia aceitar as últimas propostas apresen-tadas pelo relatório da Mesa. Os EUA e Canadá também sugeriram que emendas acabariam com ‘delicado equilíbrio’ do relatório. Assim, ficou programado que o grupo de negociação se reuniiria no dia 18 de novembro na esperança de chegar a um compromisso.

Embora os Membros já tenham dis-cutido o documento do Secretariado (TN/TF/W43/Rev 2) que consolida em um único texto as propostas exis-tentes sobre o mandato mais amplo das negociações de facilitção do comércio, até agora parece impro-vável que um único texto traçando as bases para negociações substan-ciais adicionais seja elaborado até a Ministerial de Hong Kong. Embora isso seja uma grande frustração para alguns Membros, outros ficariam sa-tisfeitos com um exercício de auto-avaliação da ministerial.

Outras Questões de SingapuraO parágrafo 1(g) do Pacote de Julho afirma que outras questões de Singa-pura “não farão parte do Programa de Trabalho estabelecido na Declara-ção [de Doha] e, portanto, nenhum trabalho direcionado para negocia-ções terá lugar na OMC durante a Rodada de Doha”. Na verdade, todo o trabalho de esclarecimento das questões de Singapura, com exceção da facilitação do comércio, foi sus-penso. Além disso, o Plano de As-sistência Técnica da OMC para 2005 afirma que as três questões de Singa-pura restantes não serão cobertas em seminários regionais, embora a assis-tência possa ser solicitada nacional-mente. Elas também continuarão em destaque em cursos apresentados em Genebra e em cursos regionais sobre Políticas de Comércio (Ver Briefing da Rodada de Doha, No. 12).

Negociações Sobre as Regras da OMC

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O Mandato de Doha:

À luz da experiência e do aumento de aplicação destes instrumentos pelos Membros, concordamos com negocia-ções visando a clarificação e o melhoramento de disci-plinas dos Acordos sobre a Implementação do Artigo VI do GATT 1994 [i.e. o Acordo Anti-Dumping] e sobre Subsídios e Medidas Compen-satórias, ao mesmo tempo preservando os conceitos básicos, princípios e eficácia desses Acordos e seus instru-mentos e objetivos, e tendo em conta as necessidades dos participantes em desenvolvi-mento e participantes menos desenvolvidos. Durante a fase inicial das negociações, os participantes indicarão as disposições, incluindo as discplinas sobre práticas dis-torcedoras de comércio, que procuram clarificar e melho-rar numa fase subsequente. No contexto dessas negocia-ções, os participantes visarão também clarificar e melhorar as disciplinas da OMC sobre subsídios às pescas, tendo em conta a importância deste setor aos países em desenvol-vimento.”

(Parágrafo 28 da Declaração Ministerial de Doha)

“Concodamos também com negociações visando a clarificação e melhoria de disciplinas e procedimentos sobre disposições existentes da OMC aplicáveis a acordos regionais de comércio. As ne-gociações terão em conta os aspetos relacionados com o desenvolvimento dos acordos regionais sobre o comércio.

(Parágrafo 29 da Declaração Ministerial de Doha)

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Em 2005, o Grupo de Negociações Sobre Regras – responsável pelo aprimoramen-to e clarificação das disposições da OMC que governam medidas anti-dumping, subsídios e medidas compensatórias,bem como os acordos sobre comércio regional – reuniu-se principalmente em sessões informais de natureza altamente técnica e discutiu possíveis emendas a certas partes dos acordos anti-dumping e sobre subsídios. Os interesses e posições dos Membros mantiveram-se altamente diver-gentes sobre uma vasta gama de questões complexas, e muitos acreditam que as conversações sobre regras somente serão concluídas depois que os resultados em outras áreas da Rodada de Doha estejam mais claros.

Os Membros divergiram quanto à forma como eles queriam que as negociações progredissem No início do ano, os ‘Amigos das Negociações Anti-Dumping’ (FAN, sigla em inglês), um grupo constituído por 14 PEDs com um interesse comum em tornar as normas que governam investigações e medidas anti-dumping mais res-tritas, solicitou que as negociações e a preparação de um texto que poderia abrir caminho para a fase final das negociações fossem acelerados. Contudo, os EUA dis-seram que ainda não estavam preparados para passar à fase textual das negocia-ções, e Índia e Egito salientaram a necessidade dar maior importância a questões de PEDs, como tratamento especial e diferenciado.

Em seu relatório ao Comitê de Negociações Comerciais, em julho de 2005, a Presi-dência da Mesa, o Embaixador Guillermo Valles Galmés, do Uruguai, concluiu que para que as negociações sejam completadas a tempo, as negociações em 2006 de-vem basear-se em um texto. O draft de seu texto para as declarações ministeriais de Hong Kong, emitido no dia 15 de novembro, previa que os ministros instruíssem a Mesa a preparar textos consolidados de emendas aos acordos anti-dumping e de subsídios, o que constituiria a base para a fase final das negociações. Em dis-cussões que se seguiram à circulação desse draft, China, Brasil, Egito, Suiça e Venezuela disseram que seria prematuro estabelecer prazos nessa etapa.

No seio das negociações sobre regras, os subsídios à pesca têm sido apontados como uma categoria específica de subsídios para discussões adicionais. Desde Can-cun, não tem havido progresso substancial nesta área, e a discussão passou de se deve ou não haver disciplinas específicas em matéria de subsídios à pesca para qual seria a natureza e extensão dessas disciplinas. Em 2005, os Membros apresen-taram várias novas submissões com forte enfoque na dimensão desenvolvimentista das negociações.

Os Membros também reuniram-se regularmente para debater acordos comerciais regionais, incluindo discussões informais abertas sobre transparência e questões sistêmicas.

Prazos do Mandato • 1 de Janeiro de 2005: conclusão das negociações como parte de um pacote único

acordado em Doha. Esse prazo está agora de facto prorrogado até a conclusão da Rodada.

HistóricoA inclusão de regras sobre remédios comércio e subsídios na Rodada de Doha foi uma vitória para os PEDs. Como alvos freqüentes de investigações anti-dumping e

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de medidas compensatórias - e subseqüentes direitos de importação – sobre bens industrializados, eles haviam pressionado para tornar as disciplinas sobre o uso de remédios mais restritas, antes mesmo da OMC ter fracassado na Conferência Ministerial de Seattle. Para assegurar um mandato de negociações em Doha, o FAN tinha vencido a dura resistência dos EUA, que consideram os remédios comerciais uma ferramenta essencial de sua política comercial. Embora não seja um ‘Amigo’, a UE concordou que, para alcançar um mandato de negociações aceitável a todos os Membros, questões sobre acordos de remédios comerciais deveriam ser discu-tidas, apesar da sensibilidade política da questão. Este ponto de vista finalmente prevaleceu em Doha, embora com reservas potencialmente significativas sobre se as negociações deviam “preservar os conceitos, princípios e eficácia básicos des-tes acordos”. A menção explícita dos subsídios à pesca no mandato de Doha para as regras de negociação deveu-se aos esforços concertados do grupo ‘Amigos do Peixe’ (FoF, sigla em inglês), que inclui Austrália, Argentina, Chile, Equador, Nova Zelândia, Filipinas, Peru, Noruega, Islândia e EUA.

Na primeira fase das negociações, entre Doha (2001) e Cancun (2003), os Membros apresentaram 141 submissões, majoritariamente de natureza geral, que foram discutidas nas reuniões formais do Grupo de Negociação. Após o colapso das nego-ciações em Cancun, as conversações sobre regras ficaram paradas durante vários meses. Durante a primeira reunião do Grupo de Negociações sobre Regras, em março de 2004, os Membros decidiram iniciar um novo processo informal focado em detalhes técnicos das numerosas propostas apresentadas. Iniciar negociações informais implicaria no avanço da identificação da primeira fase do programa de trabalho para negociações sobre compromissos. Os Membros submeteram 55 pro-postas durante esta segunda fase. Todos, com exceção de 10, relacionam-se a remédios comerciais, i.e. anti-dumping e – em menor escala – medidas compen-satórias.

Durante a terceira fase, que teve início na primavera de 2005, a Mesa implenetou este processo com consultas bilaterais e multilaterais para discutir submissões propondo mudanças específicas ao acordo anti-dumping. O número e composição dos Membros consultados variou de questão para questão.

Acordos comerciais regionais (RTAs, sigla em inglês) têm estado presentes na OMC desde a criação da organização, mas até agora os Membros não conseguiram che-gar a quaisquer conclusões relativas à compatibilidade da OMC com qualquer acor-do em particular, nem chegar a um entendimento comum de definições-chave. Em Doha, os Membros reconheceram pela primeira vez a necessidade de convivência entre o regionalismo e o multilateralismo. O desafio das negociações da Rodada de Doha é conceber uma abordagem que equilibre a proliferação dos RTAs através de iniciativas da OMC.

Anti-dumping, Subsídios e Medidas Compensatórias Mais propostas e questões / comentários sobre anti-dumping têm sido apresenta-das do que qualquer outra questão no Grupo de Negociação. Em fevereiro de 2005, o FAN avançou em cinco objectivos de negociação: mitigar os ‘efeitos excessivos’ de medidas anti-dumping; prevenir essas medidas de se tornarem permanentes; fortalecer o devido processo e a transparência de procedimentos de dumping; reduzir o custo dos casos anti-dumping (muitas vezes proibitivos para pequenas empresas); assegurar um rápido fim a investigações injustificadas; e finalmente, melhorar e esclarecer normas sobre o que constitui ‘dumping’ e ‘danos’.

Para tanto, submissões do FAN e de outros países têm confrontado a questão de como melhorar a definição de termos técnicos no acordo anti-dumping de forma a evitar que indústrias doméstica consigam proteção e que seus governos abusem do sistema. Nesse contexto, as submissões têm focado em definições mais preci-sas para termos como “dumped imports” e “indústria nacional”; e na determi-

nação de ‘valor normal’; ‘preço de exportação construído’, ‘produtos idênticos’, ‘causas’ e ‘produtos sob consideração’.

Outras propostas abordam os pro-cedimentos que regem a iniciação, condução e conclusão de investiga-ções anti-dumping. Elas procuram resolver as dificuldades enfrentadas por exportadores envolvidos nes-sas investigações (i.e. a obrigação de fornecer dados financeiros so-bre ‘partes filiadas’) e de tornar as normas que dão direito à iniciação de uma investigação mais restritas, incluindo o requisito que prevê que as indústrias nacionais que solicitam uma investigação devem representar uma certa percentagem mínima da produção nacional. Cláusulas de ‘in-teresse público’ buscam dar a expor-tadores ou outros grupos que possam ser afetados por medidas anti-dum-ping a oportunidade de comentar os pedidos de investigações antes que os procedimentos sejam iniciados, ou enquanto ainda estiverem na fase inicial. Submissões sobre ‘fatos dis-poníveis’ visam dar a exportadores envolvidos em uma investigação a flexibilidade de submeterem infor-mações suplementares. As propostas também buscam melhorar as regras sobre o nível, âmbito e duração de medidas, como as cláusulas ‘sunset’ (cláusulas “pôr de sol”), que prevêm a terminação automática de uma me-dida anti-dumping cinco anos após ela ter sido imposta ou uma ‘lesser duty rule’ (norma de “direitos me-nores”), que estipula que o montan-te de direitos recolhidos não pode exceder a margem do dumping.

Os EUA focaram-se na introdução de normas que dificultariam que exportadores de bens “dumped” se esquivassem dos direitos anti-dum-ping ou medidas compensatórias. No passado, os exportadores tenta-ram evitar o pagamento dos direitos modificando o produto identificado para medidas anti-dumping ou insta-lando fábricas de montagem no país que impôs os direitos ou em um ter-ceiro país, não afetado pela medida. Contudo, os EUA avisaram em sua proposta que bloqueariam outras ini-ciativas nas negociações sobre regras

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caso as medidas anti-impedimento fossem retiradas da declaração mi-nisterial de Hong Kong. Quando foi redigido, o draft do texto explicita-mente mencionava que normas rela-tivas a procedimentos anti-impedi-mento deveriam ser esclarecidas e aprimoradas.

Entre as propostas / comentários apresentadas em relação ao acordo de subsídios, cerca de metade delas foca no aprimoramento e esclareci-mento das respectivas disposições (i.e. compensatórias) de remédios comerciais, ao passo que que a outra metade relaciona-se a subsídios, co-brindo questões como a definição de subsídio, exportação e subsídios de conteúdo local, créditos de exporta-ção, remédios para subsídios proibi-dos, sérios prejuízos, subsídios não-acionáveis, notificações de subsídios, tratamento especial e diferenciado, recursos naturais e atribuição de preços a energia, imposto e o cál-culo do montante de subsídios.

Subsídios à PescaAlegando que os subsídios à pesca são parcialmente responsáveis pelo alarmante desgaste de muitos es-toques de peixe, vários Membros tem buscado sua eliminação como possivelmente a maior contribuição que o sistema de comércio multila-teral podia dar ao desenvolvimento sustentável. Os FoF – um grupo de países que inclui Austrália, Argen-tina, Chile, Ecuador, Nova Zelândia, Filipinas, Peru, Noruega, Islândia e EUA – têm apontado para a natu-reza ‘win-win-win’ de tal ação: bom para o ambiente, bom para o desen-volvimento e bom para o comércio. O grupo alega que os subsídios são parcialmente responsáveis pela alar-mante redução de muitos estoques de peixes e contribuem para a dis-torção do comércio internacional de peixes ao reduzir o custo e aumentar o volume de produção.

Outros, notavelmente Japão e Co-réia, inicialmente foram contrários a este posicionamento, alegando que a principal causa da redução do estoque era a gestão inadequada dos recursos pesqueiros (e não os

subsídios) e que os efeitos comerciais distorsivos deveriam ser discutidos como parte de negociações mais amplas sobre subsídios. Contudo, em uma submissão de grande dsetaque, o Japão reconheceu a necessidade de disciplinas que abor-dassem os subsídios à pesca, transformando o debate de se disciplinas específicas deveriam ser estabelecidas em como elas deveriam ser abordadas. A proposta japonesa foi apoiada pela Coréia e por Taiwan.

As propostas de subsídios à pesca baseiam-se em uma abordagem ‘semáforo’, que inclui três categorias: uma ‘caixa verde’ de subsídios não acionáveis; uma ‘caixa vermelha’ de subsídios proibidos; e possivelmente uma ‘caixa amarela de subsídios sujeitos a disciplinas se ‘efeitos adversos’ específicos puderem ser demonstrados. Contudo, duas propostas alternativos estão em competição nas negociações. Os FoF propuseram uma abordagem ‘top-down’ (lista positiva ou ampla) que busca a proibição geral de subsídios à pesca que beneficia a indústria pesqueira com isen-ções específicas (ver e.g. TN/RL/W/3, TN/RL/W/58, TN/RL/W/166). Acredita-se que essa abordagem melhoraria também a transparência de subsídios à pesca pro-porcionando aos Membros um incentivo para notificar os programas que desejam manter.

Japão, Coréia e Taiwan apoiam uma abordagem ‘bottom-up’, que requer que os Membros identifiquem os subsídios proibidos caso-a-caso (TN/RL/W/172). Esses países alegam que uma banição generalizada de subsídios por meio da limitação de flexibilidades no uso de ferramentas de políticas e por meio da eliminação do ‘efeito-teste’, diferenciaria as pescas de outros setores que são disciplinados com base em seu impacto comercial. Eles propuseram que todos os subsídios consi-derados causadores de sérios danos aos recursos pesqueiros deveriam ser proibi-dos, incluindo subsídios para capacitação das embarcações de pesca, e subsídios relacionados à pesca ilegal, não-relatada e não regulada (IUU, sigla em inglês). Subsídios da ‘caixa verde’ deveriam incluir aqueles com efeitos positivos sobre a recuperação do estoque de peixe, segurança social, bem-estar e pesquisa e de-senvolvimento.

Tratamento especial e diferenciado Submissões apresentadas pelo Brasil (TN/RL/W/174 e TN/RL/GEN/56) sobre preo-cupações especiais de PEDs incluíram uma lista detalhada de disposições para tratamento especial e diferenciado (S&DT, sigla em inglês). O Brasil sugeriu que os países desenvolvidos assumissem o ônus resultante de disciplinas de subsídios à pesca mais restritas, e também sugeriu que os países desenvolvidos permitissem subsídios para o melhoramento da capacitação de PED, sob certas condições. As sugestões de subsídios da ‘caixa verde’ incluíam: contribuições financeiras a ser-viços de gestão; suporte para a adoção de equipamentos de pesca favoráveis ao ambiente e em conformidade com os padrões de segurança que não tenham efei-tos comerciais ou de produção distorsivos; taxas pagas por outros governos para terem acesso à Zona Econômica Exclusiva (EEZ, sigla em inglês) dos PEDs; assistên-cia a regiões menos em desvantagem que dependam de zonas pesqueiras; e, sob condições específicas, subsídios à pesca de baixo nível e redução de capacidade. Todos os subsídios não incluídos na ‘caixa verde’ seriam considerados subsídios da ‘caixa vermelha’. No caso dos LDCs, esses seriam acionáveis por dez anos, e contestáveis somente se fossem comercialmente distorsivos. Além disso, os PEDs que fossem membros de organizações regionais de gestão de zonas pesqueiras (RFMOs, sigla em inglês) deveriam ter permissão para manter certos subsídios para o aprimoramento da capacitação dentro dos limites de “níveis sustentáveis de exploração estabelecidos de acordo com a RFMO”. Como medida para aprimorar a transparência, o Brasil sugeriu um requisito de notificação que presumiria que qualquer subsídio não notificado fosse proibido. No que tange a preocupação do Japão sobre a pesca IUU, a proposta sugeria que todos os subsídios de ‘caixa ver-de’ de um país Membro deveriam tornar-se contestáveis sob as normas da OMC se uma única embarcação registrada naquele país se engajasse em atividades por um RFMO. O Japão respondeu que essa abordagem prejudicaria os PEDs que tivessem

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menor capacidade de implementar uma gestão eficiente. Vários PEDs apoiaram a proposta do Brasil e o Sri-Lanka foi muito favorável à seção sobre desastres natu-rais, que previa apoio financeiro a pescadores vítimas de catástrofes naturais. A UE, China e os FoF também acolheram bem o documento, ao passo que o Japão, Coréia e China-Taipei o criticaram.

Oito estados costeiros vulneráveis, incluindo Antígua e Barbuda, Belize, Fiji, Guia-na, Maldivas, Papua Nova Guiné, Ilhas Salomão e St Kit e Nevis, haviam previa-mente submetido propostas que realçavam a relativamente elevada dependência de sua população a zonas pesqueiras e pediram que os Membros analisassem as preocupações de desenvolvimento sustentável de pequenos países costeiros vulne-ráveis nesta área (TN/RL/W/136). Eles gostariam que os seguintes temas fossem excluído da definição de subsídio: taxas de acesso e assistência ao desenvolvimen-to; incentivos fiscais à domesticação e ao desenvolvimento de zonas pesqueiras e assistência à pesca artesanal.

Em Setembro de 2005, o grupo (excluindo Belize e Maldivas, mas com a adição da República Dominicana, Granada, Jamaica, Sta Lucia, e Trinidade e Tobago) reiterarou essa posição (TN/RL/GEN/57). Eles questionaram também se a OMC seria o fórum adequado para gerir a questão dos subsídios que se relacionavam apenas à produção e que não provocavam distorção ao comércio, bem como o uso da abordagem ‘semáforo’ na resolução de questões relacionadas à conservação do estoque de peixes. As reações à proposta foram mistas. Brasil, Chile, China e Peru mostraram-se reticentes quanto à implícita diferenciação apresentada na proposta entre pequenos estados costeiros vulneráveis e outros PEDs.

Questões específicasVárias submissões dispunham sobre categorias específicas de subsídios. Os EUA submeteu esclarecimentos sobre o descomissionamento de embarcações como candidatos para a ‘caixa verde’ TN/RL/W/41. Alguns Membros notaram que a uti-lidade de esquemas de descomissionamento dependia dos critérios e condições a ele atribuídos. Eles sugeriram que subsídio à pesca para serviços de gestão de-veriam ser permitidos de acordo com as regras da OMC, mas reconheceram que seria necessário um acordo sobre uma definição para ‘serviços de gestão’ (TN/RL/GEN/36). A Nova Zelândia também evidenciou questões relacionadas a subsídios a infra-estrutura, alegando que subsídios específicos a infra-estrutura de pesca poderiam afetar a “sobrepesca” e a “sobrecapacidade”, devendo assim serem proibidos em novas disciplinas (TN/RL/GEN/70). Japão, Coréia e Taiwan mostra-ram-se relutantes em distinguir entre zonas pesqueiras e outras infra-estruturas, o que disseram ser impossível fazer na prática. Em outra submissão, o Japão vin-culou a pesca IUU aos subsídios, alegando que subsídios para a transferência de embarcações para fora de um país poderiam levar à pesca IUU (TN/TR/GEN47). Os membros do FoF interpretaram isso como um argumento para barrar os subsídios à pesca em geral, em vez de tentar identificar aqueles que poderiam levar à pesca IUU, caso a caso.

Em uma submissão conjunta, Austrália, Equador e Nova Zelândia levantaram ques-tões gerais sobre subsídios a aquacultura (TN/RL/GEN/54). Contudo, a UE e a Índia questionaram se esses subsídios estavam incluídos no mandato de subsídios à pesca. A China foi contrária à aplicação de novas regras a zonas pesqueiras em terra firme e aquacultura. Após a segunda discussão sobre a questão, que ocorreu em setembro de 2005, aquacultura foi retirada da agenda.

A UE introduziu questões de aplicação no debate, propondo um sistema duplo de notificação para subsídios à pesca (TN/RL/W/178 TN/RL/GEN/39). Os Mem-bros poderiam escolher entre os sistemas nacionais de controle, que endossavam subsídios à pesca na lei nacional depois destes terem sido concedidos, ou um sistema multilateral de controle, requerendo notificação à OMC antes de fornecer subsídios à pesca. Uma ‘regra de minimis’ impunha requisitos menos restritos de

notificação para pequenos subsídios. Informações sobre os subsídios de-veriam ser disponibilizadas imedia-tamente aos Membros da OMC, via Internet. Os Membros mostraram-se relutantes a discutir a aplicação de disciplinas sem conhecimento dos re-sultados das várias categorias e tam-bém mostraram-se céticos quanto à eficácia da solução nacional de sua aplicação. O Brasil achou a proposta insuficiente para resolver as necessi-dades dos PEDs, apesar da inclusão de longos períodos de introdução e assistência técnica.

Acordos Regionais de Comércio (RTAs, sigla em inglês)Em meados de Novembro de 2005, o draft do texto da Mesa para a de-claração ministerial de Hong Kong propôs os seguintes elementos para um ‘mecanismo de transparência’ em RTAs: anúncio antecipado, no-tificação, processo consultivo/de revisão, notificação subsequente e apresentação de relatório, dissemi-nação de informação sobre o RTA, apoio técnico, disposições de tran-sição e avaliação da implementação do mecanismo de transparência. O texto também trazia dois anexos relacionados à transparência: um so-bre a ‘submissão de dados pelas par-tes no RTA’ e outro sobre ‘esboço do relatório do Secretariado’.

Vários Membros, incluindo EUA, Chile, Austrália e UE, apoiaram o texto da Mesa, embora a Austrália e a UE gostariam de ver mais movi-mento em ‘questões sistémicas’, i.e. classificação e melhoramento das normas da OMC sobre RTAs.’’

Por exemplo, enquanto o GATT, ar-tigo XXIV:8(b) requer que ‘direitos e outros regulamentos restritivos ao comércio’ sejam eliminados em ‘substancialmente todo o comércio’ entre as partes do RTA, até agora os Membros da OMC não têm conseguido concordar sobre: (i) o que constitui ‘substancialmente todo o comércio’; e (ii) como definir ‘outros regula-mentos restritivos ao comércio’ que deveriam ser eliminados.

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UE e China propuseram limitar as discussões sobre ‘substancialmente todo o comércio’ para um marco quantitativo, que poderia ser basea-do em uma percentagem de linhas tarifárias, no volume de comércio em um dado produto, ou na combi-nação dos dois. O Japão indicou sua preferência por um teste de volume de comércio, enquanto a Austrália propôs a eliminação de todos os di-reitos sobre um mínimo muito levado de 95% das linhas tarifárias (nível de seis dígitos do Sistema Harmonizado ao final de cada período de transi-ção). A Austrália também propôs que pelo menos 70% dos produtos ‘alta-mente comercializados’ deveriam ser liberalizados quando um RTA en-trasse em vigor.

Os Membros têm apresentado várias propostas sobre períodos de tran-sição para RTAs de implementação

total (o artigo XXIV:5(e) do GATT requer que isso aconteça ‘dentro de um período de tempo razoável’). Parece que existe certa convergência quanto a um período de 10 anos, mas os países mostram-se flexíveis em relação a períodos de tempo maiores (a UE em circunstâncias limitadas e o Japão para certos ‘tipos de produtos’). O grupo ACP propôs que a liberalização se torne operacional apenas após a expiração do período de transição de 18 anos, e que ela deveria estar ligada à situação financeira dos PEDs.

Não houve consenso quanto a inclusão e/ou forma de tratamento especial e diferenciado (S&DT, sigla em inglês) em RTAs, especialmente aqueles entre países desenvolvidos e PEDs. Em abril de 2004, os estados da ACP submete-ram uma proposta que requeria que S&DT fosse explicitamente incorporado em qualquer regra da OMC sobre acordos RTAs. A China é o único Membro a propor que normas da OMC sobre RTAs explicitamente permitam que S&DT seja atribuído a PEDs.

A inclusão dessa Cláusula de Capacitação1 como uma questão para negociação sobre disposições de transparência tem colocado países desenvolvidos contra PEDs. Países ACP, Brasil, China, Egito e Índia são contrários a ela, ao passo que todos os países desenvolvidos – apoiados por alguns PEDs, como é o caso do Chile – são a afvor de sua inclusão.

1 Decisão do GATT sobre Tratamento Diferenciado e Mais Favorecido, Reciproci-Decisão do GATT sobre Tratamento Diferenciado e Mais Favorecido, Reciproci-dade e Participação Total de P�Ds - 23 de Novembro de 1979 (L/4903).

Revisão do Entendimento Sobre Solução de

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O Mandato de Doha:

“Atribuímos a maior importância a questões e preocupações ligadas à implementação levantadas pelos Membros e estamos determinados a encontrar soluções apropriadas a elas. Nesse contexto, e respeitando as decisões do Conselho Geral de 3 de Maio e 15 de Dezembro de 2000, adotamos também a Decisão sobre Questões e Preocupa-ções ligadas à Implementa-ção no documento WT/MIN(01)/W/17 para abordar um número de problemas de implementação que os Membros confrontam. Concordamos que negocia-ções sobre a implementação de questões pendentes constituirão parte integran-te do Programa de Trabalho que estamos estabelecendo, e que acordos alcançados cedo nessas negociações serão abordados de acordo com as disposições do parágrafo 47 abaixo. A respeito disso, procedere-mos da seguinte forma: (a) onde proporcionamos um mandato específico de nego-ciações nesta Declaração, as relevantes questões de implementação serão abor-dadas em conformidade com esse mandato; (b) as outras questões de implementação pendentes serão abordadas como prioridades pelos órgãos relevantes da OMC, que responderão perante a Comissão de Negociações de Comércio, estabelecido de acordo com a parágrafo 46 baixo, até o fim de 2002, para que posam agir em conformidade”

(Parágrafo 12 da Declaração Ministerial de Doha)

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Embora a intensidade das discussões tenha aumentado em 2005, a revisão do Entendimento sobre Solução de Controvérsias (ESC) da OMC continua a avançar lentamente. Isso resulta em grande medida da falta de boa vonta-de dos Membros enquanto não existir progresso concreto nas áreas-chave que mais lhes interessam na Rodada de Doha, muito embora exista uma desvinculação entre essa análise e o “Pacote Único” de negociações. Além disso, embora reconheçam que o ESC ainda precisa ser aprimorado, muitos Membros acreditam que ele funciona suficientemente bem no momento. Assim, o esclarecimento e/ou emenda das regras de solução de controvér-sias não é questão prioritária na agenda da maioria dos Membros.

Muitos delegados têm elogiado a qualidade das propostas que foram apre-sentadas nas sessões de negociação do ESC em 2005, bem como durante as reuniões informais organizadas pelo Presidente da Mesa, o Embaixador da Austrália David Spencer. As discussões esclareceram várias questões e também permitiram que os Membros apresentassem diferentes opiniões. Os delegados também enfatizaram a abordagem “bottom-up”– de acordo com a qual o âmbito das revisões fica à critério dos Membros individuais –, que facilitou as discussões caso-a-caso sobre as propostas apresentadas, mais particularmente à luz do fracasso de tentativas passadas de definir o âmbito de revisão do ESC.

No início de 2005, Spencer pediu que as delegações acelerassem as nego-ciações. Para facilitar as discussões e lograr um consenso, ele iniciou uma série de reuniões informais nas quais os delegados buscavam esclarecer as propostas apresentadas. Embora a mesa sugerisse questões potenciais para discussão antes de cada reunião, os delegados tinham liberdade para levantar outras questões que também lhes interessavam. Ao final do re-cesso de verão, Spencer pediu que as discussões fossem além dos esclare-cimentos e passassem a considerar os textos legais em sessões formais de negociação.

Embora as negociações sobre o ESC tenham acelerado entre fevereiro e outubro de 2005, ainda não há nenhum sinal de consenso. Muitos dele-gados não acreditam que qualquer acordo ou texto substantivo seja sub-metido aos ministros em Hong Kong. O resultado mais provável da confe-rência parece ser um parágrafo na Declaração Ministerial, encorajando as delegações a acelerar as negociações, sem nenhuma menção a questões específicas do ESC. Os negociadores aguardam um aumento de atividade no período pós-Hong Kong. Embora pareça haver vontade de que se chegue a um acordo, a tarefa é dificultada por sensibilidades políticas relaciona-das a questões específicas.

Com um bom número de propostas já apresentadas para negociação, mui-tas delegações esperam um “pacote” de acordos, já que isso melhoraria as chance de consenso. Elas reconhecem, no entanto, que esse pacote pode não tratar da questão mais sensível nessa área, nomeadamente a implementação das decisões da OMC. De fato, é possível que um acordo sobre implementação no âmbito do ESC seja adiado para revisão futura, ou então abordado em uma negociação à parte.

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resses das delegações e as discussões aconteceram caso-a-caso. Embora não tenha havido consenso quanto a nenhuma das propostas apresentadas, alguns delegados mostraram interesse em trabalhar as bases para um futuro acordo.

Direitos de TerceirosA submissão de um Grupo de sete Membros, intitulado G-7 – Argentina, Brasil, Canadá, Índia, México, Nova Zelândia e Noruega – abordou a questão da ne-cessidade de encontrar um equilíbrio entre os direitos de terceiros em todos os níveis do processo de solução de controvérsias, preservando os interesses das principais partes envolvidas na disputa (Job (05)/19).

O texto revisado contém quatro elementos principais. O primeiro refere-se ao direito de terceiros de ter acesso às consultas. De acordo com o Artigo 4.11 do ESC, os Membros devem provar que possuem “interesse comercial subs-tancial” em um processo em questão, o que confere ao Membro demandado considerável liberdade para rejeitar os pedidos de terceiros interessados. Contrariando tradicionais práticas do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT, sigla em inglês) e da OMC, o G-7 questionou o sentido efetivo da de-finição de “interesse comercial substancial”, e sugeriu em sua proposta que o demandado só possa rejeitar um pedido de terceiros se todos os pedidos similares também forem negados. O segundo elemento relaciona-se ao direito de terceiros de assistir às audiências dos painéis e ter acesso a documentos. O terceiro elemento propõe que, sob certas condições, direitos de terceiros de-vem ser concedidos durante a etapa de apelação sem que haja a necessidade de sua participação na etapa do painel. Finalmente, para assegurar o direito de terceiros de assistir a todas as reuniões, o G-7 apresentou uma emenda ao Apêndice 3 (Procedimentos de Trabalho), já que o parágrafo 7 refere-se apenas a “partes” e não a “terceiros”. Isso obrigaria o painel a convidar terceiros a assistir à segunda reunião e às reuniões subsequentes, realizadas durante os procedimentos mas antes que o relatório seja enviado às partes na controvérsia. A proposta foi bem recebida por várias delegações, que também consideram direitos de terceiros uma questão-chave.

Conceder um direito de facto a todos os Membros de serem aceitos como ter-ceiros em qualquer controvérsia, incluindo acesso a todas as reuniões e sub-missões, permitiria que países em desenvolvimento participassem do processo de solução de controvérsias da OMC, apesar da falta de capacidade legal e fi-nanceira enfrentadas por esses países para iniciar um processo próprio ou até mesmo para preparar documentos que demonstrem “interesse comercial subs-tancial”. Sob uma ótica mais ampla, isso permitiria que os Membros da OMC que ainda não participaram de procedimentos de solução de controvérsias adquirissem experiência sobre o sistema em primeira-mão, sem ter que cum-prir com os requisitos cada vez mais complexos exigidos da parte demandada e da parte demandante. Essa experiência também permitiria que países em desenvolvimento se capacitassem para a defesa de seus interesses comerciais em controvérsias futuras, bem como para as próprias negociações do ESC.

Sequenciamento Um Grupo de seis Membros (G-6) – Argentina, Brasil, Canadá, Índia, Nova Ze-lândia e Noruega – propôs esclarecimento ao chamado “problema de sequen-ciamento”, previsto no Artigo 21.5 e no Artigo 22 (Job(05)/52). A incoerên-cia temporal entre a finalização das regras sobre adequação e os pedidos de sanções comerciais veio à tona durante a disputa das bananas. Desde então, tanto os Membros demandados quanto os demandantes têm frequentemente recorrido a arranjos bilaterais similares aos proposto pelo G-6.

No entanto, a questão do sequenciamento passou a gerar mais controvérsia recentemente, com uma submissão conjunta da UE e do Japão (Job(05)/47) sugerindo um procedimento a ser seguido quando um Membro sujeito a san-ções comerciais notifica a OMC de que se adequou à decisão do OSC. Os dois

Prazos estabelecidos pelo MandatoDe acordo com o Mandato de Doha, os Membros deveriam negociar aprimoramentos e esclarecimen-tos ao ESC até o final de maio de 2003. Em julho desse mesmo ano, um novo prazo foi adotado, maio de 2004, mas esse também não foi cumprido. O pacote de julho de 2004 simplesmente endossou a continuação das negociações sobre o ESC.

Embora atualmente não exista prazo estabelecido para a revisão do ESC, alguns delegados enxer-gam meados de 2007 como o prazo final para a conclusão da revisão. Isso deve-se à especulação de que a Trade Promotion Authorithy pro-vavelmente não será renovada, o que significa que aprovar um paco-te de emendas ao ESC no Congresso Norte-Americano depois dessa data será muito difícil. Assim, os dele-gados esperam chegar a um acordo até o final de 2006 ou início de 2007.

Histórico Durante a Rodada Uruguai, os mi-nistros decidiram concluir uma re-visão completa do ESC no limite de quatro anos do estabelecimento da OMC, i.e. até 1 de janeiro de 1999. Quando esse prazo não foi cumpri-do, ele foi prorrogado até julho de 1999. Na Conferência Ministerial de Doha, em 2001, concordou-se em “aprimorar e esclarecer” o ESC, e ele tem sido negociado em Sessões Especiais do Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) desde março de 2002.

Questões-Chave levantadas nas Sessões Especiais Durante os primeiros nove meses de 2005, as submissões dos Mem-bros cobriram uma vasta gama de temas. Por meio da abordagem “bottom-up”, os temas foram le-vantados de acordo com os inte-

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proponentes sugerem que se o Membro que aplica as sanções não solicitar um painel para verificar essa adequação dentro de 60 dias a contar da data da notificação, o OSC deve, mediante solicitação, retirar a autorização de reta-liação.

Essa proposta é reflexo do caso dos hormônios, no qual a UE notificou me-didas de adequação à OMC em 2003, mas EUA e Canadá argumentaram que essas medidas não constituíam adequação, recusando-se, portanto, a retirar as sanções comerciais aplicadas desde 1999. Como EUA e Canadá também se recusaram a solicitar um painel para determinar se a UE havia realmente se adequado à decisão da OMC, a UE iniciou um novo processo contra aquilo que considerou ser uma “determinação unilateral de não adequação”. A causa para a relutância de ambas as partes em requerer um painel sobre a substân-cia das medidas da UE parece ter sido o fato de que a parte que inicia esse procedimento carrega o ônus da prova.

Reenvio O G-6 também propôs que o Órgão de Apelação (OA) remeta qualquer questão para revisão de volta ao painel original, caso ele não chegue a uma decisão com base nas conclusões do painel (Job(04)/52). O estabelecimento desse procedimento de “reenvio” no ESC seria uma resposta ao anseio de muitos Membros de que o sistema de solução de controvérsias decida todas as ques-tões levantadas em uma demanda, incluindo aquelas que hoje continuam sem solução, sob a alegação de que o relatório do painel não contém base fatual suficiente para que o OA possa concluir sua avaliação.

De acordo com os proponentes, nesses casos o OA deveria oferecer uma descri-ção detalhada da natureza das conclusões que seriam necessárias para concluir a análise. Após a adoção de um relatório do OA, as questões enfatizadas no mesmo poderiam, mediante solicitação, ser trazidas perante o painel original, que tiraria suas conclusões de acordo com as orientações do OA. Assim, todas as questões apresentadas perante um painel da OMC e perante o OA seriam resolvidas dessa forma, a não ser que se decidisse aplicar o princípio da eco-nomia judicial.

Composição do Painel A UE reiterou seu pedido pelo estabelecimento de uma lista permanente de painelistas e apresentou um documento de discussão para fomentar o debate (Job (05)/48). Além de economizar o tempo e os recursos necessários a um processo complexo de seleção de painelistas, uma lista permanente garantiria um painel mais experiente, tanto no que diz respeito à apuração dos fatos quanto ao processo de tomada de decisão. Essa última consideração é particu-larmente importante, pois os painéis continuam a enfrentar uma complexida-de fatual e legal cada vez maior em seus procedimentos. Tal como aconteceu no passado, as delegações continuam divididas quanto às vantagens de se ter uma lista permanente de painelistas. Os que se opõe à lista expressam certa temeridade quanto à estruturação dos painéis e quanto à potencialidade de participação muito restrita. Os delegados de alguns países em desenvolvi-mento lembraram que, comparado a questões como direitos de terceiros, se-quenciamento e transparência, o debate sobre uma lista de painelistas é mera “lapidação” do debate sobre o ESC. Eles defendem a busca de um equilíbrio maior entre os dois níveis de discussão.

Transparência Um dos temas há muito tempo defendidos pelos EUA, a transparência, conti-nuou em pauta nas discussãoes. Em uma submissão de julho de 2005 (TN/DS/W/79), os EUA elaboraram duas propostas prévias (TN/DS/W/13 e TN/DS/W/46). Uma versava sobre a abertura dos painéis e das audiências do OA e a outra tratava do acesso às submissões e aos relatórios finais. Dois meses após essa proposta, representantes de todos os Membros, bem como o público em

geral, tiveram permissão para as-sistir uma audiência de solução de controvérsia pela primeira vez na história da OMC. A audiência abor-dava o caso dos hormônios (ver o tópico “sequenciamento”, logo acima), e as partes da controvérsia – UE, Canadá e EUA – concordaram em abrir os procedimentos ao pú-blico por meio de um circuito fe-chado de televisão. No entanto, a sessão envolvendo argumentos de terceiros não foi ao ar, o que refle-tiu a falta de entendimento entre os Membros sobre a propriedade de se tornar públicos os procedi-mentos de solução de controvér-sias. Apesar disso, um precedente foi estabelecido para casos em que todas as partes concordem em tor-nar as audiências acessíveis ao pú-blico.

Por outro lado, acredita-se que o “status quo” provavelmente pre-valecerá em relação a outras gran-des questões sobre transparência durante a revisão do ESC, i.e. o tratamento dado a documentos não solicitados apresentados por “amicus” (submetidos por orga-nismos ou indivíduos de interesse público). Esse assunto ainda não foi abordado nas recentes reuniões de revisão do ESC, e a maioria dos delegados prevê que os painéis e o OA provavelmente manterão seu atual direito de examinar essas submissões, ou de as rejeitar sem maiores explicações.

Orientações Adicionais para os Órgãos Adjudicatórios da OMC Os EUA apresentaram um conjunto de questões (TN/DS/W/74) sobre o desenvolvimento de modalidades de painéis e do OA, fundamentados em uma antiga discordância com alguns métodos interpretativos uti-lizados. O documento centrou-se na função, âmbito e limitações do processo de tomada de decisões, mas também foram abordadas questões como: o que se entende pelo termo “economia judicial”, o uso do direito internacional pú-blico na OMC e o âmbito interpre-tativo dos painéis e do OA.

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Embora partes do documento ten-ham sido bem recebidas, os EUA não obtiveram muito apoio quanto ao pedido de maior orientação aos Órgãos Adjudicatórios no que tange a interpretação dos acordos da OMC e sua relação com o direito interna-cional público. A proposta foi reflexo da visão dos EUA de que o “ativis-mo judicial” exercido pelos painéis e pelo OA tem sido responsável por uma série de decisões contraditórias ao longo dos anos, especialmente em casos de anti-dumping. Em sua proposta, os EUA sugeriram que os Membros discutissem, inter alia, “que significado deve ser atribuído a disposições imprecisas dos acordos, ou então àquelas passíveis de mais de uma interpretação”, bem como

se é ou não apropriado que um painel ou o OA “preencha as lacunas” do texto do acordo se o mesmo “não dispuser sobre determinada questão”.

Aceleração do enquadramento temporal dos procedimentos de solução de controvérsias Durante a revisão do ESC, vários Membros solicitaram melhor enquadramento temporal do processo de solução de controvérsias. A submissão da Austrália em 2002 (TN/DS/W/8) propôs mecanismos que visavam poupar tempo em áreas como: controvérsias de salvaguarda, arranjos de compensação, direitos de terceiros, se-quenciamento e fiscalização de medidas de retaliação. Um texto da Austrália, revisado em 2005, fomentou uma nova discussão. Embora em princípio procedi-mentos de economia temporal recebam muito apoio das delegações, o texto com-pleto da proposta australiana não foi bem recebido. Mais especificamente, a ideia de procedimentos rápidos para controvérsias de salvaguarda não agradou algumas delegações, que acharam que essa era uma questão mais indicada para discussão no Grupo de Negociação sobre Regras. Por outro lado, a proposta da Austrália de reduzir o tempo para a primeira submissão escrita foi amplamente apoiada. Hoje, esse espaço de tempo é quase o dobro daquele atribuído à parte demandada. O texto revisado sugeria uma emenda para que a primeira submissão escrita do de-mandante fosse apresentada juntamente com a primeira solicitação do painel.

Comércio e Meio Ambiente

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O Mandato de Doha:

“Com vista a melhorar o apoio mútuo entre o comércio e o ambiente, concordamos com negocia-ções sem julgamentoprévio dos seus resultados, em: (I) O relacionamento entre normas existentes da OMC e obrigações específicas do comércio estabelecidos em acordos ambientais multi-laterais (M�As). As nego-ciações serão limitadas em âmbito e aplicabilidade de tais normas existentes da OMC como se fossem entre partes do M�A em questão. As negociações não prejudi-carão os direitos de nenhum Membro na OMC que não seja parte do M�A em ques-tão; (II) procedimentos para trocas regulares de infor-mações entre os Secretaria-dos dos M�A e as Comissões relevantes da OMC, e o critério para a concessão do estatuto de observador; (III) a redução, ou conforme for apropriado, a eliminação de barreiras tarifárias e não-tarifárias a bens e serviços ambientais.”

(Declaração Ministerial de Doha parágrafo 31)

Instruções adicionais para a Comissão do Comércio e Ambiente estão incluídos

nos parágrafos 33 e 51; ver a secção do Mandato de

Doha sobre a não-Negocia-ção.

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As negociações sobre a relação entre as regras da OMC e os Acordos Multilaterais de Meio Ambiente (MEAs, sigla em inglês), mandato estabelecido pelo parágrafo 31(i) da Declaração de Doha, têm sido barradas por questões procedimentais. Dis-cussões como medidas ambientais, acesso a mercados, rotulagem e o parágrafo 51 (que dispõe sobre a integração do desenvolvimento sustentável na rodada como um todo) também se encontram praticamente estagnadas. Somente as negocia-ções sobre os chamados “bens ambientais”, sob o parágrafo 31(iii), tiveram algum progresso.

PrazosNenhum prazo específico foi estabelecido para as negociações nesse ínterim. As 31 negociações, que incorporam o mandato ambiental específico serão concluídas como parte do “Pacote Único” acordado em Doha.

Histórico A União Européia (principal demandante nas negociações da OMC sobre questões ambientais), apoiada pelo Japão, Noruega e Suíça, empenhou-se para que as ques-tões ambientais fossem incluídas na Declaração Ministerial de Doha. De modo geral, os demais Membros da OMC opuseram-se a essas negociações. As objeções dos países em desenvolvimento deviam-se, em sua grande maioria, ao desejo de direcionar a agenda para questões prioritariamente ligadas ao desenvolvimento. Esses países também temiam que as negociações sobre meio ambiente pudessem potencializar o uso de medidas ambientais para restringir o acesso a mercados, o que prejudicaria seus próprios produtos. Por sua vez, os EUA, juntamente com alguns Membros do grupo Cairns de países exportadores de produtos agrícolas, temiam o potencial da União Européia de utilizar um mandato de meio ambiente para travar o avanço das reformas sobre subsídios agrícolas, ou então para res-tringir ainda mais a entrada de produtos agrícolas – incluindo organismos geneti-camente modificados – por meio de rotulagem ou então invocando a necessidade de medidas de precaução.

Situação AtualParágrafo 31(i): Relação entre os Acordos Multilaterais de Meio Ambiente (MEAs) e a OMCAs discussões sobre a relação entre as regras da OMC e obrigações comerciais es-pecíficas (STOs, sigla em inglês) em MEAs ainda encontram-se centralizadas em questões procedimentais. Um grupo de países, que inclui os EUA, Canadá, Aus-trália, Argentina, Índia e Malásia, gostaria de manter o mandato o mais restrito possível, centralizando a discussão em um número limitado de MEAs e em suas obrigações comerciais específicas, obrigatórias e explícitas. Esse mesmo grupo também é favorável a uma abordagem analítica do tema, com discussões centrali-zadas em experiências nacionais de negociação e implementação de MEAs.

Os principais demandantes nas negociações sobre comércio e meio ambiente pre-feriam uma abordagem conceitual mais ampla, que além de discutir MEAs especí-ficos, também abordasse os princípios básicos que norteiam a relação entre MEAs e a OMC. Em vez de limitar as discussões a obrigações comerciais específicas de

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determinado MEA, esse grupo suge-riu que a discussão incluísse todas as medidas necessárias para alcançar o objetivo geral do tratado.

Em julho de 2005, os EUA apresen-taram um documento (TN/TE/W/53) delineando os contornos de sua polí-tica interna de coordenação, desen-volvimento e processos para a rela-ção entre MEAs e a OMC. A Suíça, em um documento mais audaz (TN/TE/W/58), sugeriu ser “útil e ne-cessário” considerar três princípios para essa relação, nomeadamente: a “inexistência de hierarquia” entre o sistema ambiental e o sistema legal de comércio; o “apoio mútuo” dos dois regimes; e a “deferência” em relação ao enquadramento, o que inclui questões específicas dentro de sua principal área de competência. Mediante pedido de esclarecimento por parte da Nova Zelândia e de outros Membros, a Suíça apresentou outro documento que teve por ob-jetivo explicar o significado desses termos (TN/TE/W/58). Fazendo am-pla referência a princípios gerais de direito internacional, a Suíça alegou que as disposições de MEAs e da OMC devem ser interpretadas de forma a manter a compatibilidade de ambos os conjuntos de normas, a fim de assegurar a integridade de cada um deles. Não houve discussão quanto a essa submissão.

Os EUA, juntamente com vários paí-ses em desenvolvimento, preferiram focar-se nas experiências nacionais dos Membros em vez de repetir o de-bate sobre princípios. Embora não enxergassem muita contradição en-tre os dois regimes, alguns países em desenvolvimento apontaram para uma tensão clara em certas áreas, in-cluindo aquela entre o Acordo sobre Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPS, sigla em inglês) e as disposições da Convenção sobre Diversidade Bioló-gica (CBD, sigla em inglês).

Parágrafo 31(ii): Troca de Informações e Status de Observador Embora nenhuma decisão concreta tenha sido tomada quanto à troca de informações entre os Secretariados

da OMC e dos MEAs, nem quanto aos critérios para status de observador, algumas sugestões foram feitas. Elas incluem: a regularização / institucionalização das informações existentes sobre as sessões dos MEAs focadas em tópicos específicos; a realização de projetos conjuntos de capacitação entre a OMC, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP, sigla em inglês) e a assistência técnica dos MEAs; a organização mais sistemática de eventos paralelos à OMC nas Confe-rências das Partes dos MEAs; e finalmente, melhor cooperação em nível nacional entre entidades de comércio e de meio ambiente, e em nível internacional melhor cooperação entre os secretariados dos MEAs e da OMC (TN/TE/7).

A ausência de normas claras para os observadores das negociações dos MEAs (atual-mente travadas no Conselho Geral) continua a conturbar as negociações. Vários secretariados dos MEAs, o UNEP, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, sigla em inglês) e a Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OECD, sigla em inglês) estiveram presentes em algumas das sessões como convidados ad hoc informais.

Parágrafo 31(iii): Bens & Serviços Ambientais No início de 2002, os Membros concordaram em transferir o mandato do parágrafo 31(iii) sobre a liberalização de Bens e Serviços Ambientais (EGS, sigla em inglês) para o Grupo de Negociação sobre Acesso a Mercados de Bens Não-Agrícolas (NAMA, sigla em inglês) e para o Conselho de Sessões Especiais sobre Comércio em Servi-ços, respectivamente. Contudo, como não existe definição clara sobre o que se-jam “bens ambientais”, o Comitê sobre Comércio e Meio Ambiente (CTE, sigla em inglês) continuou examinando o âmbito e os aspectos de definição desse mandato. No que diz respeito a serviços ambientais, as negociações encontram-se na etapa bilateral de pedidos e ofertas, parte das negociações globais sobre serviços.

Bens As discussões sobre bens ambientais têm dominado a agenda do CTE para 2005. Alguns Membros, incluindo o Japão, Taiwan e EUA, sugerem o uso de listas da OECD e da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) como pontos de partida. Essas listas focam-se principalmente em tecnologias “end-of-pipe” utilizadas na abor-dagem de problemas ambientais. Alguns países em desenvolvimento temem que as listas da OECD e da APEC possam constituir uma definição emergente nas ne-gociações da OMC, centradas sobremaneira em bens que interessam os países de-senvolvidos. Já que as negociações sobre esse tema encontram-se sob o mandato de acesso a mercados, os países em desenvolvimento alegam que as negociações deveriam centrar-se mais em produtos que interessam à exportação de países em desenvolvimento. Eles alegam também que é preciso considerar as necessidades e interesses dos países mais pobres, incluindo a reciprocidade em compromissos de redução tarifária.

Vários Membros, incluindo a UE, Suíça, Brasil, Nova Zelândia e Índia, levantaram a possibilidade de estender a definição de modo a incluir produtos preferíveis do ponto de vista Ambiental (EPPs, sigla em inglês) i.e., produtos de alto desem-penho e/ou baixo impacto ambiental. Essa categoria poderia incluir produtos agrícolas orgânicos, madeira sustentável, produtos oriundos de zonas pesqueiras sustentáveis, ou produtos feitos de fibras naturais, como o cânhamo da Índia e o “coir”.

Em submissão de março de 2005 (TN/TE/W/47), a UE reconheceu que alguns des-ses produtos poderiam necessitar uma definição baseada em padrões que exigem certificação e propôs o uso de esquemas da existente Rede Global de Rotulagem Ecológica. No entanto, os países em desenvolvimento temem a inclusão de EPPs em uma possível lista se houver a necessidade de distinguir esses produtos por meio dos Processos e Métodos de Produção (PPMs, sigla em inglês) utilizados. Eles temem que a distinção possa ser indevidamente utilizada em prol do chamado “protecionismo verde”, abrindo precedente para a introdução de outros crité-rios baseados em PPM (como padrões laborais, na OMC. Esses países também são

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contrários ao uso de rotulagem ecológica para distinguir EPPs. Em resposta a es-sas preocupações, a UE enfatizou que nem todos os EPPs seriam necessariamente distinguidos com base em PPMs.

Em junho de 2005, a Índia sugeriu uma alternativa às abordagens baseadas em listas ou critérios. Ela propôs uma gama potencialmente ampla de bens e serviços que poderiam ser temporariamente liberalizados enquanto durasse um projeto que busca alcançar um objetivo ambiental específico, aprovado por uma “autori-dade nacional designada” (TN/TE/W/51, TN/TE/54 e TN/TE/60). De acordo com a Índia, essa abordagem resolveria vários problemas relacionados à abordagem baseada em listas: o fato de que muitos dos itens passíveis de aparecer em tais listas poderiam ser de uso duplo ou múltiplo; o impacto negativo de uma conces-são irrestrita de acesso a mercados para bens ambientais relacionados à inovação indígena e à competitividade de indústrias locais; e a separação entre bens e serviços ambientais (EGSs, sigla em inglês). Os EGSs elegíveis para concessões específicas enquanto durasse o projeto ambiental poderiam incluir, entre outros: controle da poluição do ar, instalações baseadas em energias renováveis ou EPPs. A autoridade nacional fundamentaria sua avaliação em critérios desenvolvidos pelo CTE. Em sua segunda submissão, a Índia alegou que essas operações feitas por meio de autoridades nacionais designadas dariam aos países espaço para políticas, ao passo que a determinação de critérios pelo CTE asseguraria a transparência do processo. Além disso, a abordagem desse projeto asseguraria que EGSs aprovados fossem utilizados apenas para fins ambientais.

Os países desenvolvidos questionaram se essa abordagem, quando aplicada caso-a-caso em determinado período de tempo, teria um efeito tão amplo quanto o desejado sob o parágrafo 31(iii) do mandato sobre EGS. Alguns países ressaltaram que os benefícios poderiam ser limitados a corporações multinacionais, dada a es-cala necessária para a realização de projetos ambientais. Mesmo após a terceira submissão da Índia sobre aspectos técnicos e de implementação da abordagem, a proposta foi criticada por falta de clareza, viabilidade ou por não ser suficiente-mente prática, bem como por não proporcionar suficiente previsibilidade e acesso a mercados para exportadores. Outras preocupações diziam respeito à transferên-cia de autoridade ao nível nacional e ao tempo (demasiadamente longo) que o CTE levaria para desenvolver os critérios aqui mencionados.

Muitos países em desenvolvimento acolheram bem a nova abordagem como base para novas discussões. Eles temiam que a abordagem das listas não lhes pro-porcionaria qualquer benefício e resistiram, portanto, às pressões para que uma lista fosse finalizada antes da Conferência Ministerial da OMC em Hong Kong, em dezembro de 2005. Uma proposta apresentada pelo Brasil (TN/TE/W/59) arti-culou essas preocupações, enfatizando o fato de que as negociações até então haviam privilegiado uma definição de bens ambientais, discussão essa centrada em produtos de alta tecnologia de pouco interesse para países em desenvolvimento. Além de solicitar acesso melhorado a mercados para produtos de baixo impacto ambiental, bem como produtos derivados ou que incorporassem tecnologias mais limpas, o Brasil propôs que a abordagem da UNCTAD sobre EPPs fosse adotada como base para negociações. O Brasil insistiu na necessidade de considerar os critérios de identificação de bens ambientais como um modo de fazer com que os países em desenvolvimento sintam-se confiantes para desenvolver suas listas. Cuba também apresentou um documento (TN/TE/W/55) que questionava os bene-fícios dos países em desenvolvimento em utilizar listas da OECD e da APEC. Além das preocupações levantadas pela Índia, Cuba enfatizou o problema das barrei-ras não tarifárias, como os requisitos de certificação e rotulagem ecológica, por exemplo.

A Argentina tentou equilibrar a abordagem da Índia e a abordagem por listas, incor-porando os méritos de ambas propostas no que chamou de “abordagem integral” (TN/TE/W/62). De acordo com essa proposta, as autoridades nacionais decidiriam se deveriam eliminar temporariamente as tarifas para produtos ambientais utiliza-

dos em projetos ambientais especí-ficos. Os Membros pré-identificariam multilateralmente as categorias de projetos e bens ambientais que po-deriam ser utilizados. Contudo, os Membros que se opuseram à aborda-gem desse projeto, particularmente os EUA e Hong Kong, alegaram que a proposta da Argentina era uma mera variação das submissões prévias da Índia.

A Nova Zelândia sugeriu o uso de cer-tos “pontos de referência” –como as listas da OECD ou da APEC, ou então relevantes Acordos de Livre Comér-cio (FTAs, sigla em inglês), bilaterais ou regionais – para identificar pos-síveis bens ambientais (TN/TE/W/47 e TN/TE/W/49). Ela também apoiou a proposta dos EUA para a criação de uma “core list”, que conteria bens sobre os quais todos os Membros houvessem acordado e também uma lista complementar, cujos bens fica-riam sujeitos a diferentes compro-missos de liberalização. Essas listas deveriam ser atualizadas em uma etapa posterior, como resposta à natureza dinâmica dos bens ambien-tais. Vários Membros solicitaram esclarecimentos adicionais sobre como essa lista funcionaria. Outros se mantiveram céticos quanto ao uso de FTAs para o estabelecimento de listas. Em sua segunda submissão, que foi bem recebida de modo geral, a Nova Zelândia acrescentou EPPs, tecnologias e produtos mais limpos e mais eficientes em recursos e a utilização de novas categorias, como waste e scrap, por exemplo.

Novas listas também foram propos-tas pela Suíça, UE, EUA, Canadá e República da Coréia. Tanto a sub-missão da UE (TN/TE/W/57) como a da Suíça (TN/TE/W/56) incluía EPPs com”elevado desempenho ambien-tal e/ou reduzido impacto ambien-tal” em suas listas, selecionados de acordo com seu uso final ou carac-terísticas de disposição, seleção essa também defendida pela proposta da Nova Zelândia. Embora a nova sub-missão dos EUA (TN/TE/W/52) não reconheça explicitamente os EPPs, ela inclui sete EPPs identificados pela UNCTAD em uma lista de 158 pro-dutos.A lista do Canadá (TN/TE/W/50)

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contém bens ambientais identificados principalmente com base nas listas da OECD e da APEC. A submissão da Coréia (TN/TE/W/48) enfatiza a necessidade de um critério “prático e simples” para a identificação de bens ambientais. Ela propõe a elaboração de uma lista baseada em critérios que incluam a ga-rantia de que o uso final dos bens seja prioritariamente para fins ambientais; que os produtos sejam identificados de acordo com o código do sistema HS; e que os EPPs e bens definidos de acordo com seu Processo e Métodos de Produção sejam excluídos “por ra-zões práticas”. O documento sugere uma lista de 89 produtos relacionados principalmente à gestão da poluição. A submissão da Coréia obteve apoio significativo.

A lista da Suíça foi criticada por al-gumas delegações por conter poucos produtos de interesse dos países em desenvolvimento e outros produtos – tais como bicicletas e acessórios rodo-viários – de valor ambiental duvidoso. Os EUA e a Nova Zelândia responderam às críticas anteriores (de que as suas listas somente incluíam produtos que interessam a exportação de países de-senvolvidos) citando estatísticas que mostravam que eles haviam importa-ram percentagens significativas – 40% no caso dos EUA – de produtos listados por países em desenvolvimento.

Em setembro de 2005, os EUA convo-caram uma reunião na qual foram apresentados estudos de caso sobre os benefícios ambientais e desenvolvi-mentistas dos bens ambientais propos-tos. Esse exercício foi visto por muitas delegações como uma oportunidade de testar a credibilidade das listas, re-duzindo-as ao essencial e analisando o potencial de um cenário win-win-win para o comércio, meio ambiente e desenvolvimento. O Canadá propôs a estruturação das discussões de acordo com as categorias, como uma forma de limpar as listas existentes e apoiar os países em desenvolvimento na pre-paração das suas próprias listas, abor-dando notadamente: saneamento, gestão de águas residuais e energias renováveis como três possibilidades. De modo geral, essa proposta foi bem recebida.

ServiçosAs negociações sobre serviços ambientais continuam sem resultados significati-vos em termos de abrangência ou cobertura. Alguns Membros têm apresentado propostas na área de serviços ambientais como parte das suas ofertas gerais de serviços. Contudo, essas ofertas têm se mostrado limitadas, particularmente en-tre países em desenvolvimento, com compromissos assumidos em apenas alguns setores, como é o caso da consultoria ambiental. Não se tem verificado ofertas em relação ao setor da água, um dos mais sensíveis.

As questões de classificação terão maior impacto no tipo de serviços ambientais que serão incluídos nos compromissos de liberalização. Um sistema de classi-ficação multilateralmente aceito só pode ser elaborado no seio da Comissão da OMC de Compromissos Específicos. No entanto, as discussões nesse fórum en-contram-se paradas. Enquanto isso, os Membros tem liberdade para utilizar suas próprias classificações de serviços ambientais. Outro fator que poderia afetar a qualidade dos compromissos dos Membros de acesso a mercados de serviços será a conclusão das negociações para disciplinas sobre regulamentos internos (Artigo VI:4), subsídios (Artigo XV) e compras governamentais (XVIII:2), (ver Doha Briefing Vol. 4, No. 3, sobre serviços).

Mandatos de Doha Não NegociadosParágrafo 32

Na sessão regular do CTE, a Mesa propôs a estruturação do debate sob o parágrafo 32(i), que dispõe sobre medidas ambientais e acesso a mercados, de acordo com as quatro questões principais levantadas pelas delegações durante as discussões: o uso de uma abordagem setorial para analisar o efeito de medidas ambientais sobre o acesso a mercados por meio da identificação de requisitos ambientais para setores específicos que tenham impacto no desempenho das exportações; ques-tões procedimentais nas áreas de transparência, procedimentos de notificação e consulta quando da preparação de regulamentos ambientais; assistência técnica para facilitar a conformidade dos novos requisitos ambientais por parte dos paí-ses em desenvolvimento; e finalmente, questões relacionadas à preparação das medidas ambientais. Contudo, resta ainda haver progresso na estruturação das negociações sobre medidas ambientais e acesso a mercados.

Discussões sobre a relação entre o Acordo TRIPS e a CBD (parágrafo 32(ii)) ocorre-ram no Conselho TRIPS (ver Doha Briefing ,Vol. 4, No. 5, sobre direitos de proprie-dade intelectual). As discussões sobre rotulagem para fins ambientais (parágrafo 32(iii)) não têm evoluído.

Parágrafo 51 – Reflexões sobre desenvolvimento sustentável durante as negociações.As discussões quanto ao parágrafo 51 da Declaração de Doha, que instrui o CTE e o Comitê de Comércio e Desenvolvimento (CTD, sigla em inglês) a “atuar como um fórum para identificação e debate dos aspectos ambientais e de desenvolvimento das negociações, a fim de alcançar o objetivo de reflexão sobre o desenvolvimento sustentável”, têm avançado lentamente. De modo geral, não tem havido progres-so quanto à implementação do mandato, e tanto o CTE quanto o CTD continuam a lutar para a determinação da sua abordagem.

Os Membros realizaram um workshop sobre o parágrafo 51 de 10 a 11 de outubro, que incluiu sessões sobre: comércio e desenvolvimento; agricultura; subsídios à pesca; liberalização de bens ambientais e serviços; aspectos relevantes dos direi-tos de propriedade intelectual; e capacitação para países em desenvolvimento. Em seu discurso de abertura, o Secretário-Geral da OMC, Pascal Lamy convocou os Membros a dar maior significado ao parágrafo 51, enfatizando o importante papel das “políticas de acompanhamento” para que os benefícios sociais do crescimento econômico que resultam da liberalização do comércio sejam alcançados.

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Comércio, Dívida e Finanças

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O Mandato de Doha:

“Concordamos com uma avaliação , num Grupo de Trabalho sob os auspícios do Conselho Geral, do rela-cionamento entre comér-cio, dívida e finança e de queisquer recomendações possíveis sobre medidas que poderão ser tomadas no contexto do mandato e competência da OMC para melhorar a capacidade do sistema de comércio multilateral de contribuir para uma solução durável do problema de individa-mento externo de países em desenvolvimento e países menos desenvolvidos, e para fortalecer a coerência do comércio internacional e políticas financeiras, visando salvaguardar o sistema de comércio multi-lateral contra os efeitos da instabilidade financeira e monetária. O Conselho Ge-ral apresentará relatará à Quinta Sessão da Conferên-cia Ministerial o progresso alcançado na avaliação.

(Declaração Ministerial de Doha, parágrafo 36)

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Vários países em desenvolvimento (PEDs) têm enfatizado a importância de exami-nar os vínculos entre comércio, dívida e finanças, uma iniciativa para encontrar soluções sustentáveis a desafios resultantes de sua interação no contexto do sis-tema multilateral de comércio.

Embora essa questão não tenha sido priorizada para a maioria dos Membros nos úl-timos dois anos, desentendimentos recentes quanto à futura direção dos trabalhos do Grupo de Trabalho sobre Comércio, Dívida e Finança (WGTDF, sigla em inglês) têm impedido os Membros de concordar com as “recomendações sobre os passaos que poderão ser tomados no contexto do mandato e competência da OMC”, como requer a Declaração de Doha. O grupo de países da África, Caribe e Pacífico (ACP, sigla em inglês) e a Argentina pediram a transformação do Grupo de Trabalho em uma comissão permanente da OMC, com um mandato específico, proposta esta a que os países desenvolvidos, incluindo os EUA, opuseram-se. Prevaleceu a posição dos EUA, e em outubro de 2005 os Membros concordaram em solicitar que a Confe-rência Ministerial de Hong Kong simplesmente renovasse o Mandato de Doha para o Grupo de Trabalho.

O ‘Pacote de Julho’ para o programa de trabalho de Doha adotado pelos Membros no dia 1 de agosto de 2004 não continha diretrizes específicas sobre áreas que não envolvessem mandatos específicos de negociação. Para outras questões, o pa-cote simplesmente declarou que o Conselho [Geral] enfatiza seu compromisso de executar o madato emitido pelos Ministros em todas essas áreas”, e juntamente com outros órgãos relevantes, “deve apresentar seu relatório... à Sexta Sessão da Conferência Ministerial”, agendado para os dias 3-17 de dezembro de 2005, em Hong Kong.

HistóricoA Declaração de Doha introduziu um mandato vinculante para que os Membros da OMC examinassem a relação entre comércio, dívida e finanças e estabeleceu o WGTDF como um fórum permanente para tratar dessas questões. Os ministros de comércio reconheceram que “os desafios que os Membros enfrentam em um ambiente internacional em rápida mudança não podem ser abordados por meio de medidas tomadas apenas no campo comercial”. Eles concordaram, assim, em “continuar a trabalhar com as instituições de Bretton Woods para que haja maior coerência na elaboração de políticas econômicas globais”.

Os que demandam esse processo são PEDs que procurando formas de reduzir o peso de suas dívidas externas no contexto do sistema multilateral de comércio, e países que têm vivenciado crises financeiras. Muitos países desenvolvidos consideram o exercício de pouco ou nenhum uso devido às limitações do sistema comercial em abordar dívida internacional e problemas de finanças. Alguns observadores sugerem que a questão só surgiu na agenda da OMC como moeda de troca pelo assentimento de PEDs em iniciar as negociações sobre comércio e meio ambiente. O WGTDF reuniu-se pela primeira vez em abril de 2002, e em sua grande parte, as discussões têm sido analíticas e teóricas.

A agenda do WGTDF consiste em três grupos de questões: a relação entre comércio e finanças; a relação entre comércio e dívida; e maior coerência de políticas en-

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tre instituições relevantes. Reuniões ocorridas em dezembro de 2004 e abril e julho de 2005 fundamenta-ram-se principalmente em notas pre-paradas pelo Secretariado da OMC e em dois documentos dos países da ACP que propunham recomenda-ções potenciais a serem submetidas à Conferência Ministerial. A reunião de outubro de 2005, complementada por encontros informais, teve como foco a produção de um texto acor-dado para o Conselho Geral. O re-latório (WT/WGTDF/4) foi adotado pelos Membros nesse mês.

Prazos do MandatoConforme o mandato da Declaração de Doha, o Conselho Geral transmitiu à Conferência Ministerial de Cancun, reunida em setembro de 2003, o re-latório dos grupos de trabalho sobre o progresso da análise das relações entre comércio, dívida e finanças (WT/WGTDF/2). A segunda revisão do draft do Texto da Ministerial de Cancun (JOB(03)/150/Rev.2 - que nunca foi adotado) aceitou esse rela-tório e determinou que as conversa-ções “devem continuar com base no mandato contido no parágrafo 36 da Declaração Ministerial de Doha e no progresso feito pelo grupo de trabal-ho até a presente data.” O ‘Pacote de Julho’ requer que o Conselho Ge-ral e outras entidades se apresentem à Conferência Ministerial de Hong Kong em dezembro de 2005.

Estado Atual das NegociaçõesInstituições com status de observa-dor, como o Fundo Monetário Inter-nacional (FMI), o Banco Mundial e a OECD, têm realizado várias apresen-tações nas reuniões do WGDTF. O Secretariado da OMC fornece dados sobre liberalização comercial e sua relação com reformas internas (WT/WGTDF/W/29), crescimento econô-mico, financiamento externo, preços de commodities, e diversificação da exportação. (WT/WGTDF/W/31).

Em 2005, os países da ACP (WT/WGTDF/W/30, W/32 e W/35), apoia-dos pela Argentina (W/33), apresen-taram propostas solicitando que o

WGTDF recomendasse a criação, pela Conferência Ministerial, de um Comitê per-manente da OMC sobre Comércio, Dívidas e Finanças. Eles enfatizaram a relação entre essas três áreas e pediram que elas fossem analisadas mais a fundo. Além disso, as apresentações dos países da ACP sobre essa matéria estabeleceram uma agenda específica para o Comitê que incluía a revisão de normas da OMC que pudessem afetar as dívidas e posições das balanças de pagamento dos países, apoiando diversificação econômica em PEDs dependentes de commodities, promo-vendo maior acesso ao mercado de exportação de PEDs e LDCs; encorajando paí-ses ricos a cancelar dívidas bilaterais, incluindo aquelas resultantes de créditos à exportação; e alterando a revisão de políticas comerciais da OMC para incluir uma avaliação do impacto da assistência para o desenvolvimento fornecida por países desenvolvidos, dívida, e políticas de crédito à exportação de PEDs e LDCs.

Os países da ACP e a Argentina queriam que o WGTDF abordasse essas questões no programa de trabalho pós-Hong Kong, mesmo no caso dos Membros não concorda-rem com o estabelecimento de uma comissão permanente.

Vários países desenvolvidos, incluindo os EUA, foram contrários às idéias apresen-tadas pelos países da ACP e pela Argentina. Acreditando que os Membros não havia chegado a um acordo quanto a essas propostas, eles alegaram que as recomenda-ções do WGTDF deveriam referir-se apenas ao mandato de Doha sobre comércio, dívida e finanças delineado no parágrafo 36 da Declaração de Doha. Um Membro sugeriu que as propostas dos países da ACP haviam ignorado o papel de políticas macro-econômicas e estruturais dos governos no que tange à relação entre comé-rcio e dívida. Outras delegações sugeriram que o relatório deveria mencionar a ‘Declaração de Coerência’, um documento da Rodada de Uruguai que sugeria que a OMC devia prosseguir e desenvolver cooperação com as organizações internacio-nais responsáveis por questões monetárias e financeiras.

A posição apoiada pelos EUA realmente venceu o debate. O relatório do WGTDF (WT/WGTDF/4) ao Conselho Geral repete, palavra por palavra, o mandato confe-rido ao grupo quando o mesmo foi criado em Doha: "a relação entre comércio, dívida e finanças, e de quaisquer possíveis recomendações sobre medidas que possam ser tomados no âmbito do mandato e competência da OMC para melhorar a capacidade do sistema multilateral de comércio de contribuir para uma solução duradoura ao problema de endividamento externo dos países em desenvolvimento e dos países de menor desenvolvimento relativo, e para reforçar a coerência do comércio internacional e políticas financeiras, visando salvaguardar o sistema mul-tilateral de comércio contra os efeitos da instabilidade financeira e monetária".

Rumo a uma Maior CoerênciaA coerência entre reformas financeiras e o sistema comercial foi questão primor-dial nas reuniões que ocorreram em dezembro de 2004 e abril e junho de 2005. De modo geral, os Membros parecem reconhecer que os países precisam integrar ques-tões comerciais a suas estratégias de redução de pobreza e de desenvolvimento; que as estratégias devem complementar reformas econômicas mais amplas para melhorar a regulamentação nesses países, os investimento, as infra-estruturas de transporte e procedimentos aduaneiros.

Um documento da UNCTAD intitulado ‘Desafios da Política Econômica: Coerên-cia Entre Comércio e Finanças Econômicas’ (WT/WGTDF/W/27), comenta que as taxas de câmbio têm um papel maior na determinação da competitividade das exportações de um país, mas são grandemente influenciadas pelo fluxo financeiro – uma instância maior de incoerência entre comércio e finanças. Na realidade, o estudo alega que, embora haja um sistema internacional de comércio, não existe um sistema financeiro multilateral. Além disso, o documento também argumenta que o nível das taxas de câmbio, e não a volatilidade, são o que determinam os fluxos de comércio. Notando que as uniões monetárias exerciam um efeito positivo no comércio e que alguns PEDs estão considerando essa idéia, o estudo

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conclui que a liberalização comercial, reforma econômica interna e capacidade melhorada de abastecimento não bastam: um país precisa também de um sistema adequado de taxas de câmbio.

Liberalização Externa, Reformas Internas e Crescimento EconômicoA relação entre liberalização comercial, reformas econômicas internas e cresci-mento econômico foi analisada nas reuniões do WGTDF em abril e julho de 2005. As discussões envolveram muitas das mesmas questões que foram abordadas no de-bate sobre coerência. Um documento preparado pelo Secretariado (WT/WGTDF/W/29) notou que a liberalização externa pode servir como catalisador de reformas internas em um país onde a liberalização estimula o crescimento se for acompan-hada de políticas que atraem investimentos a um país. Uma delegação comentou que constrangimentos relacionados a fornecimento que incluíssem ajuste estru-tural e seus efeitos, deveriam ser considerados juntamente com a liberalização para que PEDs pudessem se beneficiar da abertura de seus mercados. A Iniciativa do Banco Mundial para a Rodada de Doha e o Mecanismo de Integração Comercial (TIM, sigla em inglês) do FMI foram realçados como novas ferramentas importantes para proporcionar ajustes temporários de assistência.

Muitos Membros notaram que o acesso a mercados constituía fator importante para garantir que a li-beralização comercial e reformas internas contribuam para o cres-cimento. Se os mercados estran-geiros fossem fechados, então a liberalização nacional ou o melho-ramento das capacidades de infra-estrutura não produziriam os bene-fícios potenciais. Esses Membros também notaram que o aumento da redução tarifária – a prática de atribuir tarifas mais altas a pro-dutos de valor agregado – ajudaria a aliviar os problemas crônicos de dívidas de países que dependem em grande medida de exportação de commodities.

Comércio e Transferência de Tecnologia

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O Mandato de Doha:

“Concordamos com uma avaliação , num Grupo de Trabalho sob os auspícios do Conselho Geral, do rela-cionamento entre o comé-rcio e a transferência de tecnologia , e de quaisquer recomendações possíveis sobre medidas que poderão ser tomadas no contexto do mandato e competência da OMC para aumentar o fluxo de tecnologia para países em desenvolvimento e países menos desenvolvidos. O Conselho Geral relatará à Quinta Sessão da Conferên-cia Ministerial o progresso alcançado na avaliação.

(Parágrafo 37 da Declaração Ministerial de Doha.)

Reafirmando que as dis-posições do Artigo 66.1 do Acordo TRIPS sejam obriga-tórias, concorda-se que o Conselho de TRIPS imple-mentará um mecanismo para assegurar a monitora-ção e total implementação das obrigações em questão. Para tanto, os países-Mem-bros em desenvolvimento submeterão, antes do final de 2002, relatórios detalha-dos sobre o funcionamento em uso sobre os incentivos proporcionados às suas empresas para a transfe-rência de tecnologia em conformidade com os seus compromissos sob o Artigo 66.2. �ssas submissões ees-tarão sujeitas a uma revisão pelo Conselho de TRIPS e a informação será atualizada anualmente pelos Mem-bros.

(Parágrafo 11.2 da Decisão sobre Questões e Preocupa-ções relacionadas à Imple-

mentação)

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Em 2005, os Membros deram prosseguimento às discussões sobre medidas para promover Transferência de Tecnologia (ToT, sigla em inglês) no Grupo de Trabalho sobre a relação entre Comércio e Transferência de Tecnologia. Embora não tenha sido possível chegar a um consenso quanto às recomendações que seriam apresen-tados durante a Conferência Ministerial de Hong Kong em dezembro, as propostas de três países em desenvolvimento (PEDs) impulsionaram o avanço das discussões objetivando resultados práticos. Contudo, é muito provável que a única atitude dos ministros em Hong Kong seja prorrogar o mandato do grupo de trabalho.

Histórico Pela primeira vez na OMC, o parágrafo 37 de Declaração Ministerial de Doha in-troduziu um mandato para examinar a relação entre comércio e transferência de tecnologia. Para executar essa tarefa, foi estabelecido um Grupo de Trabalho sobre a Relação entre Comércio e Transferência de Tecnologia (WGTTT, sigla em inglês), aberto a todos os Membros.

Os principais demandantes na OMC em questões relacionadas a esse tema são PEDs que buscam implementar totalmente as cláusulas sobre ToT existentes em todos os acordos da OMC, e possivelmente desenvolver um novo acordo para facilitar a ToT. No entanto, alguns países desenvolvidos parecem enxergar o WGTTT como um mero exercício acadêmico e relutam em avançar nas discussões que podem gerar negociações substanciais.

Assim, chegar a um consenso quanto à agenda e o processo a serem seguidos não foi tarefa fácil. Os PEDs optaram por focar a discussão nas disposições relaciona-das à ToT no âmbito dos seguintes acordos: Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPS, sigla em inglês), AcordoAcordo sobre Medidas de Investimento Relacionadas ao Comércio (TRIMS, sigla em inglês),(TRIMS, sigla em inglês), Acordo Geral sobre Comércio de Serviços (GATS, sigla em inglês), artigo 10.1 do Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS, sigla em inglês) e o artigo 12.3 do Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio (TBT, sigla em inglês). Por outro lado, a UE e outros países desenvolvidos procuraram esclarecer algumas questões de definição antes de entrarem em discussões mais substanciais.

Para conciliar essas diferenças, os Membros concordaram com a seguinte agenda:

• análise da relação entre comércio e ToT; • trabalho realizado por outras organizações intergovernamentais (IGOs, sigla

em inglês) e pela academia; • compartilhamento de experiências entre países; • identificação das disposições relacionadas à ToT nos acordos da OMC; e • qualquer recomendação possível sobre medidas que possam ser tomadas nos

limites do mandato da OMC para aumentar fluxos de tecnologia para PEDs e países de menor desenvolvimento relativo (LDCs, sigla em inglês).

Prazos • Durante a Conferência Ministerial de Cancún em 2003, o Conselho Geral deveria

ter relatado “quaisquer recomendações possíveis sobre medidas que poderiam ser tomadas nos limites do mandato da OMC para aumentar fluxos de tecno-

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logia para PEDs”. Como as negociações em Cancun não conseguiram produzir nem uma Declaração Ministerial nem uma decisão específica sobre a questão, o WGTTT deve apresentar suas recomendações na Conferência Ministerial de Hong Kong em Dezembro de 2005.

• O parágrafo 11.2 da Decisão de Doha sobre questões e preocupações relaciona-das à implementação solicitou que o Conselho de TRIPS criasse um mecanismo para monitorar o cumprimento (por parte dos países desenvolvidos) de suas obrigações referentes a ToT para com LDCs, de acordo com o artigo 66.2 do Acordo TRIPS. No dia 19 de fevereiro de 2003, o Conselho de TRIPS tomou uma decisão (IP/C/28) que requeria que PEDs submetessem relatórios anuais sobre as ações tomadas ou planejadas no que tange seus compromissos, de acordo com o artigo 66.2. O Conselho de TRIPS revê os relatórios anualmente (ver se-ção sobre Questões de Implementação).

Estado Atual das NegociaçõesEm 2005, os Membros continuaram suas análises quanto ao relacionamento en-tre comércio e ToT, e também discutiram possíveis recomendações sobre medidas para aumentar os fluxos de tecnologia para PEDs. Cuba apresentou uma comuni-cação em junho, em uma tentativa de acelerar as discussões durante a preparação para Hong Kong. O Foco foi a avaliação de diferentes disposições de ToT contidas nos acordos da OMC, visando torná-las operacionais e significativas desde uma perspectiva de PEDs e LDCs. Em outubro, uma proposta mais abrangente sobre os mesmos tópicos foi apresentada pela Índia, Paquistão e Filipinas, co-patrocinados pelo Egito, Brasil, Barbados e Nigéria.

Relação entre Comércio e Transferência de Tecnologia

Os Membros e as organizações com status de observador identificaram várias bar-reiras à ToT, bem como estratégias que poderiam facilitar medidas para superá-las. Medidas do país de origem poderiam incluir: políticas de financiamento para ToT; incentivos de estímulo a investimento direto estrangeiro com algum componente de ToT; incentivos a pequenas e médias empresas que procurem parceiros em PEDs; simplificação das regras de origem; e o estabelecimento de uma base de da-dos para assegurar o fluxo de todas as informações relevantes sobre tecnologia.

Nesse contexto, a UNCTAD apresentou vários documentos ao grupo de trabalho. O primeiro deles, sobre Transferência de Tecnologia para uma Integração Bem Sucedida na �conomia Global (UNCTAD/ITE/IPC/2003/6) fornece uma visão geral das principais descobertas e conclusões de casos de sucesso relacionados à ToT, bem como uma análise desses casos à luz das regras multilaterais para identificar políticas de ToT e capacitação. O segundo documento, intitulado Pesquisa sobre Medidas de Países de Origem (UNCTAD/ITE/IPC/2004/5) evidencia medidas como incentivos, o papel dos governos do país de origem e do setor privado, bem como outras iniciativas que poderiam ser tomadas para facilitar ToT. O �studo de Caso da Indústria �letrônica na Tailândia (UNCTAD/ITE/IPC/2005/6), apresentado em abril de 2005, foca-se na contribuição do setor manufatureiro da Tailândia para o rápido desenvolvimento econômico do país nos últimos anos, particularmente em relação ao crescimento da exportação de produtos eletrônicos e manufaturados, e o papel do investimento direto estrangeiro no desenvolvimento da indústria ele-trônica. O documento também enfatiza o papel das medidas tomadas pelo país anfitrião, e discute algumas das políticas pró-ativas tomadas pelo governo tailan-dês. Os Membros acolheram bem todos os três documentos e ressaltaram a impor-tância de parcerias em ToT para que todos alcancem uma situação win-win-win.

Possíveis Recomendações Em 2003, Cuba, Índia, Indonésia, Jamaica, Quênia, Nigéria, Paquistão, Tanzânia, Venezuela e Zimbabwe apresentaram uma proposta sobre Possíveis Recomenda-ções sobre Medidas que Podem Ser Tomadas de Acordo com o Mandato da OMC para Aumentar Fluxos de Tecnologia para Países em Desenvolvimento (WT/WGTTT/

W/6 e adendum 1 - para detalhes ver Briefing da Rodada de Doha, Vol.3, No.11). Esses países sugeriram que o WGTTT examinasse, inter alia: prá-ticas restritivas adotadas por empre-sas multinacionais na área de ToT e como preveni-las; o impacto de pi-cos tarifários e elevações de tarifas sobre ToT; as dificuldades enfrenta-das por PEDs ao tentar adequar-se aos padrões da OMC quando eles não possuem a tecnologia necessária; a necessidade de maior boa vontade quanto a disciplinas acordadas no âmbito internacional para promover o desenvolvimento; e finalmente, meios de ajudar PEDs a fortalecer suas bases tecnológicas. Em reuniões subseqüentes, os Membros concor-daram em avaliar as disposições do Acordo da OMC relacionadas à ToT e determinar quais disposições pode-riam dificultar ToT para PEDs.

No dia 23 de junho de 2005, Cuba apresentou uma comunicação reite-rando a urgente necessidade de que, na Conferência Ministerial de Hong Kong, o WGTTT chegue a um consenso para a adoção das bases de propostas já apresentadas por vários PEDs em 2003. Essas recomendações pedem que os ministros instruam o WGTTT a:

• Avaliar detalhadamente as di-ferentes disposições sobre ToT contidas nos vários acordos da OMC, visando torná-las operacio-nais e significativas do ponto de vista de P�Ds; e

• Rever as disposições contidas em vários acordos da OMC que po-derão dificultar ToT para PEDs e apresentar recomendações sobre como mitigar os efeitos negati-vos dessas disposições.

Durante a sessão do grupo de tra-balho de julho de 2005, vários PEDs apoiaram a submissão de Cuba. No entanto, muitos países desenvolvi-dos, incluindo os EUA, alegaram que, como os elos entre comércio e ToT ainda estão sendo definidos, um im-pulso rumo a essas recomendações poderia destruir o processo de for-mação de consenso.

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Em outubro de 2005, os Membros exa-minaram uma proposta apresentada pela Índia, Paquistão e Filipinas, co-patrocinados polo Brasil, Egito, Bar-bados e Nigéria (WT/WGTTT/W/10). A proposta fez várias recomendações para serem discutidas durante a Mi-nisterial de Hong Kong, incluindo:

• Expansão da assistência técnica prevista no Acordo TRIPS, rela-cionando o artigo 67 (sobre coo-peração técnica e financeira) ao artigo 66.2 (que encoraja ToT para LDCs) e ao artigo 7 (que de-clara que a proteção / aplicação dos direitos de propriedade inte-lectual devem contribuir para a promoção da inovação tecnoló-gica e ToT);

• Adoção formal de linhas de orien-tação voluntárias, como as da OECD sobre incentivos a empre-sas multinacionais para ToT;

• Assistência para que PEDs imple-mentem ou aprimorem políticas de concorrência capazes de mo-nitorar e desencorajar o uso de práticas comerciais restritivas por parte dos titulares de tecno-logia;

• Estabelecimento de mecanismos para ajudar as autoridades de PEDs a monitorar a aquisição de tecnologias necessárias para ele-var padrões de saúde e de quali-dade ambiental;

• Encorajamento de mobilidade de peritos técnicos por meio do Acordo Geral sobre Comércio de Serviços;

• Troca de informações adicionais sobre incentivos relacionados a investimentos e tecnologia, for-necidos a firmas; e

• Encorajamento de compartilha-mento de padrões regulatórios entre escritórios de patentes, em termos de operações de pedidos de patentes e base de dados de patentes, para facilitar o uso da troca de informação técnica.

A submissão foi bem recebida por ser útil e pragmática, embora tivesse havido alguma discussão sobre se o WGTTT era o fórum apropriado para discutir políticas de concorrência. Notavelmente, o Brasil defendeu que o mandato do grupo de tra-balho era suficientemente abrangente para discutir essas questões horizontais.

Um estudo da UNCTAD sobre potenciais medidas relacionadas a impostos para facilitação da transferência de tecnologia também foi brevemente discutido em outubro (Impostos e Transferência de Tecnologia, UNCTAD/ITE/IPC/2005/9). O es-tudo enfatiza a necessidade de políticas de incentivo (no contexto dos impostos) que fomentem investimentos diretos estrangeiros, como: a adoção de créditos que isentem o pagamento de impostos; a concessão de créditos referentes ao valor que seria pago em impostos ao país estrangeiro se este não houvesse fornecido subsídios; ou a isenção de impostos para investimentos em PEDs – mais particu-larmente na África sub-Saariana. Entre outras possíveis medidas encontra-se a extensão de incentivos em P&D para a inclusão de atividades realizadas em outros países.

Uma sessão informal adicional foi programada para novembro de 2005. Espera-se haver breves discussões sobre ToT na Conferência Ministerial de Hong Kong.

Questões de Implementação O Conselho de TRIPS tem trabalhado na questão de ToT em relação ao artigo 66.2 do Acordo TRIPS, que obriga países desenvolvidos a “fornecer incentivos para empresas e instituições em seus territórios para a promoção de transferência de tecnologia” a Membros LDCs. A Decisão de Doha sobre Questões e Preocupações relacionadas à Implementação pedia que o Conselho desenvolvesse um mecanismo que monitorasse a adequação de países desenvolvidos a suas obrigações de ToT. No dia 19 de fevereiro de 2003, o Conselho adotou uma decisão (IP/C/28) exigindo que os Membros desenvolvidos apresentem relatórios anuais das ações tomadas ou planejadas neste sentido. O objetivo dos relatórios é proporcionar uma visão geral do regime de estabelecido, do tipo de incentivos oferecidos a firmas, da agência ou entidade governamental que os disponibiliza, de empresas e outras instituições elegíveis, e de qualquer informação disponível sobre o atual funcionamento dos incentivos. O Conselho de TRIPS revê esses relatórios em reunião ao final de cada ano, quando então os Membros têm a oportunidade de levantar questões e discutir a eficácia dos incentivos.

Ao final de outubro de 2005, Austrália, Canadá, Japão, Nova Zelândia, Noruega a Suíça haviam apresentado informações atualizadas sobre seus recentes incentivos a ToT. No passado, a UE e alguns de seus estados membros, bem como os EUA, apresentaram relatórios sobre suas atividades relacionadas a ToT. Os PEDs, incluin-do LDCs, continuam a rever esses relatórios, mas até agora não tem havido muita discussão nas reuniões do Conselho de TRIPS.

Alguns críticos defendem que essa disposição é falha porque obriga países desen-volvidos a proporcionar incentivos, em vez de mirar diretamente nas empresas estabelecidas naqueles países para assegurar uma ToT eficaz. Até a presente data, grandes empresas em muitos países desenvolvidos têm se mostrado relutantes em aceitar esses incentivos, o que deixa os PEDs – particularmente os LDCs – cada vez mais impacientes com o processo.

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Assistência Técnica e Capacitação

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O Mandato de Doha:Os Parágrafos 38-41 da Declaração Ministerial de Doha lida exclusivamente com assistência técnica e capacitação globais. Os Parágrafos 42-43 focalizam-se mais signficativamente na assistência aos países menos desenvolvidos.

O Parágrafo 38 instrui o Secretariado no sentido de “apoiar iniciativas nacionais no sentido de centralizar o comércio nos planos nacio-nais para o desenvolvimento e estratégias para a redução da pobreza. A entrega da as-sistência técnica da OMC será feita no sentido de assistir países em desenvolvimento e países menos desenvolvi-dos e países em transição, com baixo rendimento, a se ajustarem às normas e disci-plinas da OMC, implementar obrigações e se aplicarem no exercício dos seus direitos de Membros, incluindo tirar proveito dos benefícios de um sistema multilateral de comércio aberto, baseado em normas. Prioridade será tam-bém atribuída às economias pequenas e vulneráveis e em transição, assim como aos Membros e Observadores sem representação em Genebra.”

O Parágrafo 39 sublinha a importância da entrega coor-denada de assistência técnica com relevante instituições bilaterais, regionais e multi-laterais, e apela a consultas com agências, doadores bila-terais e beneficiários no senti-do de encontrarem formas de melhorarem e racionalizarem o �nquadramento Integrado para Assistência Relacionada ao Comércio a Países Menos Desenvolvidos e ao Programa Conjunto de Assistência Téc-nica Integrada (JITAP)-

O Comitê da OMC sobre Comércio e Desenvolvimento adotou o Plano de Assistência Técnica e Formação (TATP, sigla em inglês) para 2006 sem a demora habitual cau-sada por desentendimentos quanto a seu conteúdo. Os delegados mostraram-se favoráveis ao enfoque do plano no que tange a qualidade da assistência técnica, bem como sua ênfase em necessidades nacionais.

Histórico Vários Membros vêem a Assistência Técnica e Capacitação (TACB, sigla em in-glês) fornecida pelo Secretariado da OMC como um importante componente da dimensão ‘desenvolvimentista’ da Rodada de Doha. O comprometimento finan-ceiro, a atenção e o esforço investidos na TACB aumentaram significativamente nos últimos anos, em grande medida como resposta às exigências das delegações de PEDs por um programa mais coerente e melhor coordenado para abordar suas necessidades.

As críticas ao programa de TACB – de que ele priorizou quantidade em detrimento da qualidade; de que não forneceu capacitação de longo-prazo; de que era desti-tuído de titularidade nacional; e de que não considerou as necessidades dos países beneficiados – têm sido reconhecidas por meio de um processo de monitoramento e avaliação. Os esforços feitos para abordar essas questões têm figurado nos TATPs da OMC nos últimos anos. Essas iniciativas fazem parte de um processo em curso, chamado "plano para execução de treinamento e assistência técnica”, que expli-citamente objetiva aprimorar as capacidades institucionais de paíse em desenvol-vimento (PEDs, sigla em inglês).

Estado atual das NegociaçõesO TATP de 2006 (TATP, WT/COMTD/W/142), adotado pelo Comitê da OMC sobre Comércio e Desenvolvimento em outubro de 2005, foca-se na qualidade de ‘pro-dutos’ específicos de assistência técnica – i.e., cursos, parcerias, apoio financeiro e infra-estrutura – e no estabelecimento de processos e programas específicos como formas de canalizar sua execução. De acordo com o plano, “espera-se que ele facilite o desenvolvimento de uma abordagem pluri-anual para a execução de assistência técnica relacionada ao comércio (TRTA, sigla em inglês), levando assim a uma capacitação sustentável e cumulativa”.

Os cursos que serão fornecidos pelo Secretariado da OMC irão variar em duração e grau de especialização, indo desde cursos de curta duração (uma semana) que cobrirão informações básicas até programas mais abrangentes (12 semanas). Além disso, haverá cursos especializados sobre solução de controvérsias, medidas sani-tárias e fitossanitárias e negociações comerciais.

São planejados seminários regionais para virtualmente todas as áreas cobertas pelos acordos da OMC. No entanto, a lista de tópicos para esses seminários poderá ser modificada dependendo do resultado da Conferência Ministerial de Hong Kong. A maioria dos cursos é conduzida pelo Instituto de Formação e Cooperação Técnica (ITTC, sigla em inglês) da OMC, muitas vezes em parceria com organizações inter-nacionais ou regionais, como a Comissão Econômica das Nações Unidas para África (UNECA, sigla em inglês), o Banco Asiático de Desenvolvimento, e o Instituto do

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O Parágrafo 40 instrui a Comis-são do Orçamento, Finanças e Administração a desenvolver um plano a ser adotado pelo Conselho Geral em Dezem-bro de 2001 que assegurará a dotação a longo prazo para a assistência técnica pela OMC.

O Parágrafo 41 intrui o Dire-tor-Geral a relatar à Quinta Sessão da Conferência Ministe-rial, com um relatório interino ao Conselho-Geral em Dezem-bro de 2002, sobre a imple-mentação e a viabilidade dos compromissos de assistência técnica e capacitação identifi-cados em diferentes parágra-fos da Declaração.

O Parágrafo 42 alista acessos significativos ao mercado, apoio à diversificação da sua produção e base de exporta-ção, e assistência técnica e capacitação relacionados com o comércio como essenciais para integrar países menos desenvolvidos (LDCs) num sistema multilateral de comé-rcio. O Parágrafo 42 também instrui a Sub-Comissão dos LDCs a desenhar um programa de trabalho tendo em conta os elementos relacionados ao comércio da Declaração de Bruxelas e Programas de Ação adotados na LDC-III.1.

O Parágrafo 43 endossa o �nquadramento integrado para Assistência Técnica Relacionada ao Comércio aos Países Menos Desenvolvidos (IF)como modelo viável para o desenvolvimento comercial dos LDCs. Solicita também ao Director-Geral que propor-cione um relatório interino ao Diretor-Geral em Dezembro de 2002 e um relatório completo à Quinta Sessão da Conferên-cia Ministerial sobre todas as questões afetando os LDCs.

A Declaração contém disposi-ções específicas de assistência técnica e capacitação para vários mandatos de negocia-ção.

Disposições ainda mais especí-ficas de assistência técnica serão encontradas na Decisão sobre Questões e Preocupações relacionadas à Implementação (WT/MIN/(01)/W/10) também adotadas em Doha.

Banco Latino Americano de Desenvolvimento para a Integração da América Latina e do Caribe. No total, o Secretariado da OMC assinou memorandos de entendi-mento com 20 organizações internacionais para fornecer assistência técnica aos Membros.

Existe previsão de 250 “atividades nacionais” – em média, cerca de duas por país elegível – que serão de responsabilidade do Secretariado, em resposta a pedi-dos de governos nacionais por assistência técnica relativa a questões específicas. O Secretariado irá priorizar questões não cobertas por outros cursos, bem como questões que são importantes para a formulação de políticas nacionais ou para negociações em geral.

Algumas atividades de assistência técnica estarão especificamente voltadas para trabalhos sediados em Genebra. Vários Membros e o Secretariado têm pedido simpósios sobre tópicos específicos, para os quais tanto agentes oficiais sediados em Genebra quanto os sediados em capitais seriam convidados. Também se preveu assistência técnica de assessoria a missões sediadas em Genebra, duas “Sema-nas de Genebra” para as quais agentes oficiais de Membros não residentes serão convidados, e uma variedade de estágios e programas de treinamento. Formação eletrônica1 e outras ferramentas de aprendizagem à distância também serão utili-zadas para auxiliar agentes governamentais, entre outros, a acessar informações a partir de locais remotos.

O TATP para 2006 descreve as responsabilidades do Secretariado da OMC e dos países beneficiados em relação à assitência técnica. Mais significativamente, o Secretariado deve assegurar que os objetivos e resultados de uma atividade es-pecífica, bem como as necessárias qualificações dos participantes, estejam bem claras. Para os países beneficiados, o ônus está em verificar que os candidatos sejam os mais apropriados. O plano nota que a “demanda” por assistência técnica não precisa estar relacionada à “necessidade”, e enfatiza a importância de exami-nar os requisitos dos Membros. Também são realçadas as orientações preparadas pelo Secretariado, criadas para auxiliar os países a avaliar suas necessidades em relação à TRTA (JOB(04)/113).

O ITTC continuará a promover parcerias entre o Secretariado da OMC e a comuni-dade acadêmica relacionada a políticas comerciais em PEDs por meio de coope-ração institucional, workshops para professores universitários e assistência finan-ceira para estudantes em programas de doutorado. O TATP também prevê algumas atividades com parlamentares e com a sociedade civil.

Os dois principais programas que aproximam a OMC de outros países “doadores e recipientes” para coordenar o financiamento e a execução da TRTA são: o Pro-grama Integrado Conjunto de Assistência Técnica (JITAP, sigla em inglês) e o En-quadramento Integrado da TRTA para LDCs. O TATP para 2006 detalha o trabalho planejado em ambos programas para esse ano.

O resultado das atividades de assistência técnica de 2006 será avaliado por seus fornecedores, pelos participantes e pela Auditoria de Cooperação Técnica. Os resultados serão eventualmente utilizados no trabalho geral do Secretariado.

O Trust Fund da Agenda Global para o Desenvolvimento de Doha (GTF, sigla em inglês) foi criado em 2001 para "proporcionar uma base financeira sólida e estável para a TACB da OMC”. De acordo com os termos de referência do GTF, o TATP de 2006 foi recomendado ao Comitê sobre Orçamento, Finanças e Administração, que por sua vez recomendará ao Conselho Geral um montante alvo para o GTF, o que equivale ao custo de implementação do plano – aproximadamente US$ 18.7 mil-hões. A implementação do alcance desejado das atividades de assistência técnica a partir de de 2006 requer a disponibilidade de US$ 4.7 milhões até o fim de 2005, e financiamento total para o ano todo até o final de junho de 2006. Até a presente data, as promessas dos Membros parecem ir ao encontro desses requisitos.

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Ajuda ao Comércio2

Embora venha sendo discutida durante muito tempo em outros foros, foi muito recentemente que a questão do aumento de “ajuda ao comércio” – i.e. assistência que visa o melhoramento da capacidade de PEDs de tirar proveito das oportunida-des criadas pela liberalização do comércio – emergiu como um dos tema da pauta de discussões da OMC. Em seu discurso de apresentação como Diretor-Geral da OMC, em setembro, Pascal Lamy fez questão de mencionar a ajuda ao comércio como parte do pacote de desenvolvimento da Rodada de Doha. O G-8 (grupo de oito países industrializados) também prometeu investir mais em assistência externa relacionada ao comércio durante sua reunião de julho em Gleneagles, Escócia.

Esses clamores foram concretizados em um documento de setembro intitulado “Rodada do Desenvolvimento de Doha e Ajuda ao Comércio”, do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI)3. De acordo com o documento, “requer-se aumento de assistência internacional para ajudar países a superar dificuldades de fornecimento, a fim de que possam tirar proveito das novas oportunidades comerciais da Rodada de Doha, ou para abordar a questão dos custos transicionais de ajuste à liberalização. Essa ‘ajuda ao comércio’ constitui um dos elementos essenciais de um pacote bem sucedido a favor do desenvolvimento de Doha”. No entanto, embora as duas instituições advoguem a expansão do Enquadramento Integrado para fornecer assistência comercial a LDCs no valor de US$200-400 milhões nos próximops cinco anos, sugeriu-se que a criação de um fundo geral

2 �m inglês, aid-for-trade. �m inglês, aid-for-trade.3 http://sitesources.worldbank.org/D�VCOMMINT/Documentation/20651864/DC2005-0016(�)-Trade.pdf

multilateral para resolver questões de ajuste, como muitos países em desenvlvimento haviam requerido, não seria uma forma eficaz de utili-zar esses fundos.

O Ministro do Comércio da Zâmbia, Dipak Patel, que coordena o trabalho dos LDC na OMC, chamou o aumento proposto de um “cheque pré-datado com fundos insuficientes”. Ele cha-mou atenção para o fato de que gas-tar US$200-400 milhões em 40 países durante cinco anos resulta em não mais que US$1-2 milhões por país, por ano, o que, disse ele, não pode “ser realmente chamado um melho-ramento significativo”. Apesar disto, a oferta condicional da UE de cortes tarifários mais profundos ao final de outubro instava os países desenvolvi-dos a concordar, em Hong Kong, com um pacote de ajuda ao comércio que ia ao encontro da proposta do Banco Mundial / FMI.

Tratamento Especial e Diferenciado

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O Mandato de Doha:

“Reafirmamos que dispo-sições para tratamento especial e diferenciado constituem parte integrante dos Acordos da OMC. Ano-tamos que as preocupações expressas relativamente ao seu funcionamento em abordar constrangimentos específicos confrontados por países em desenvolvi-mento, particularmente países menos desenvolvidos. Nesse contexto anota-mos que alguns Membros propuseram um Acordo de �nquadramento Sobre o Tratamento �special e Dife-renciado (WT/GC/W/442). Concordamos portanto que todas as disposições de tratamento especial e diferenciado serão revis-tos visando reforçá-los e torná-los mais precisos, eficazes e operacionais. Ligado a isto, endossamos o programa de trabalho sobre o tratamento especial e diferenciado estabelecido na Decisão sobre questões e preocupações relacionadas à implementação.”

(Parágrafo 44 da Declaração Ministerial de Doha)

O tratamento especial e diferenciado (SDT, sigla em inglês) já foi considerado a pedra angular do desenvolvimento na Rodada de Doha. A expectativa era de que as negociações da “Agenda do Desenvolvimento” de Doha permitissem que os países em desenvolvimento (PEDs) tirassem mais proveito do fato de serem Membros da OMC e pudessem melhor integrar as regras da OMC a suas políticas nacionais. Para isso, o SDT deveria ser mais “preciso, eficaz e operacional”, por meio de melhor implementação, assistência técnica e capacitação. Os Membros também concordaram em buscar novas soluções para os desafios sui generis en-frentados por países de menor desenvolvimento relativo (LDCs, sigla em inglês) e pequenas economias.

Contudo, às vésperas da Conferência Ministerial de Cancun, em 2003, muitas das questões relativas ao desenvolvimento foram adiadas. Alguns delegados su-gerem que essa estagnação coloca em risco o espírito das negociações de Doha como uma “rodada do desenvolvimento”. Outros argumentam que as negocia-ções sobre agricultura, acesso a mercados de bens não-agrícolas (NAMA) e servi-ços sobrepuseram-se às negociações sobre SDT no âmbito da Sessão especial da Comissão de Comércio e Desenvolvimento –(CTD-SS, sigla em inglês). O desafio agora consiste em assegurar que a Rodada de Doha como um todo traga benefí-cios para PEDs – incluindo as negociações da CTD-SS sobre as disposições de SDT e os resultados do acesso a mercados agrícolas, NAMA e serviços, fortalecendo o sistema de comércio multilateral.

Tratamento Especial e DiferenciadoEm 2005, as negociações na CTD-SS afastaram-se dos debates anteriores sobre a prioridade relativa de propostas de acordos específicos versus questões horizon-tais. Nos primeiros meses do ano, os Membros esforçaram-se para definir uma abordagem que tratasse de ambos os temas. Vários Membros, incluindo alguns países desenvolvidos (PDs), alegaram que as questões horizontais deveriam ser uma prioridade. Por outro lado, vários outros Membros sugeriram que as dis-cussões prolongadas sobre a prioridade relativa de acordos específicos versus questões horizontais – que aconteceram de abril de 2004 até a primavera de 2005 – haviam desviado a atenção da revisão do SDT, que encontrava-se sob o Mandato de Doha e apoiava-se no Pacote de Julho de 2004. A abordagem sugerida em de-zembro de 2004 pelo Presidente da Mesa da CTD-SS, Faizel Ismail, da África do Sul, tentou tratar ambas questões, mas em maio de 2005 os Membros decidiram centrar as discussões nas propostas de acordos específicos, esperando fazer pro-gressos concretos durante as preparações para a Ministerial de Hong Kong.

Em maio de 2005 os Membros começaram a examinar cinco propostas de acor-dos específicos apresentadas por LDCs e pelo Grupo Africano. No entanto, as negociações têm sido difíceis. Entre julho e setembro de 2005 os Membros não conseguiram chegar a um acordo quanto às propostas de emenda provenientes dos LDC e do Grupo Africano, e muitos exigiram que as propostas fossem redi-gidas novamente para melhor abordar as necessidades de seus proponentes. O impasse em relação aos textos propostos explica-se em parte pelo fato de muitos Membros acreditarem que os documentos não refletiam e tampouco abordavam as necessidades subjacentes de seus proponentes, contrariando os pilares não-discriminatórios do sistema multilateral de comércio. Isso levou alguns Membros

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a concluir que abordagens comuns a questões horizontais seria a melhor solução para a acomodação de diferentes níveis de desenvolvimento e necessidades exis-tentes sem comprometer as bases do sistema.

HistóricoA relação entre políticas de comércio internacional, regras, objetivos e estraté-gias nacionais de desenvolvimento é o centro das negociações da OMC sobre SDT. A origem do conceito de tratamento mais favorável para PEDs no sistema multi-lateral de comércio encontra-se nos primeiros anos do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT, sigla em inglês), mas a forma que esse tratamento assumiu no âmbito das regras de comércio tem mudado com o tempo. Os acordos da OMC contêm aproximadamente 155 disposições sobre SDT, que visam capacitar os participantes da OMC a tirarem proveito das regras ao mesmo tempo em que respeitam suas obrigações. Essas disposições resultam de um consenso quanto à necessidade de integrar Membros com capacidades diversas, especificamente aqueles que apresentam mais desvantagens como participantes integrais do sis-tema multilateral de comércio.

Durante a Rodada Uruguai, o conceito de SDT mudou. De provedor de uma gama de flexibilidades e “espaços para políticas de desenvolvimento” com base em critérios econômicos, o conceito passou a relacionar-se com a derrogação de normas temporalmente limitadas, tratamento mais favorável no que tange com-promissos tarifários de redução de subsídios e limites mais generosos quanto à aplicação de medidas de defesa de mercado (i.e.medidas compensatórias e direitos antidumping).

Os Acordos da OMC também cobrem um número muito maior de áreas que o GATT, muitas das quais ultrapassam fronteiras para regular aspectos centrais de políticas estatais econômicas. As disposições sobre SDT criadas para enfrentar os desafios que essa mudança de âmbito representou para países em desenvolvi-mento introduziram uma nova forma de SDT, que se traduz em declarações mais abrangentes a favor do desenvolvimento, mas que em sua grande maioria são impossíveis de serem aplicadas.

Assim, pode-se dizer que o SDT evoluiu. Ele deixou de ser um instrumento de apoio ao desenvolvimento no contexto da liberalização comercial (no GATT) e passou a ser (na OMC) um instrumento que auxilia os países em desenvolvimento a criar capacidade legal e institucional para cumprir com suas obrigações de liberalização comercial.

Essa transformação da natureza do SDT é reflexo de uma mudança do entendi-mento geral quanto à relação entre comércio e desenvolvimento. De acordo com a ortodoxia prevalecente, o aumento da liberalização comercial é tido como um elemento necessário à política do desenvolvimento. Essa escola de pensamento argumenta que o SDT é, na melhor das hipóteses, uma lenta forma de integra-ção dos países em desenvolvimento à OMC e, na pior das hipóteses, causador de danos.

Os PEDs concordaram com essa mudança na Rodada Uruguai – juntamente com os novos compromissos assumidos em propriedade intelectual, serviços e inves-timentos – pois esperavam beneficiar-se do maior acesso a mercados agrícolas, têxteis e vestuários. Esses países também esperavam que se criasse uma sensi-bilidade significativa em relação ao desenvolvimento a partir da implementação das disposições do SDT. No entanto, esses benefícios não se materializaram, e essas novas disciplinas foram vistas como “camisas de força”, limitando o uso de instrumentos econômicos em prol de avanços estratégicos de regiões e setores, e do estabelecimento ou aplicação de redes de segurança social e econômica. Assim, a frustração dos PEDs em relação a declarações de aspiração desenvol-vimentista tem levado esses países a redirecionar o mandato da Declaração de

Doha, de modo a tornar as disposi-ções de SDT em acordos específicos da OMC mais “precisas, eficazes e operacionais”.

Contudo, alguns países desenvolvi-dos questionam a extensão e eficá-cia do SDT. Para eles, existe uma li-mitação, já que todos os países “em desenvolvimento”, com exceção dos LDCs, devem ser tratados da mesma forma. Isso, dizem eles, limita a ex-tensão do tratamento preferencial que pode ser direcionado para os Membros em diversas etapas de inte-gração à economia global, exibindo capacidades diversas, condições se-toriais e sub-nacionais heterogêneas e dimensões de mercado altamente diferenciadas. Os PDs alegam que o debate sobre questões horizontais, como princípios e objetivos do SDT, elegibilidade, benchmarking (pa-tamares mínimos), mecanismos de monitoramento e tratamento dife-renciado melhorado, entre outros temas, permitiria que os Membros aplicassem o tratamento especial acordado a PEDs de modo diferen-ciado.

Prazos De acordo com o mandato original de Doha, o CTD ficou incumbido de reportar-se ao Conselho Geral até 31 de julho de 2002 “com claras recomendações para uma decisão” no que tange o mandato do SDT, contido no parágrafo 44. Esse prazo foi prorrogado e não cumprido três vezes: dezembro de 2002, fevereiro de 2003 e julho de 2005.

Estado Atual das NegociaçõesO Comitê de Negociações Comer-ciais (TNC, sigla em inglês) atribuiu originalmente o mandato sobre SDT à CTD-SS em 2001. Em maio de 2003, o Presidente do Conselho Geral cir-culou uma lista categorizando as 88 propostas de acordos específicos sugeridas por PEDs. Na Categoria I havia 38 propostas, sobre as quais acreditava-se ser possível chegar a um acordo antes de Cancun, de-vido ao apoio já existente ou à sua urgência. A Categoria II continha

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outras 38 propostas que foram en-viadas a órgãos relevantes da OMC ao final de maio de 2003. A Cate-goria III incluía 15 propostas sobre as quais os delegados tiveram maior dificuldade em chegar a um consen-so. Vinte e oito recomendações de acordos específicos foram incluídas no anexo C do Draft da Conferência Ministerial de Cancún. No entanto, o fracasso da Conferência trouxe como conseqüência a não-adoção de 28 recomendações.

Como resultado do enfoque pós-Cancún em agricultura, NAMA, al-godão e as questões de Singapura ao final de 2003 e início de 2004, as discussões sobre SDT não recome-çaram até abril de 2004, quando os Membros então iniciaram uma ten-tativa (que duraria um ano) para esclarecer como priorizar questões relacionadas a acordos específicos e horizontais. O Presidente da Mesa, Ismail, perguntou aos Membros o que eles desejavam fazer com as propostas sobre as quais, em prin-cípio, já havia consenso; como a discussão atual sobre SDT poderia ser mais produtiva e quais eram as sugestões para o futuro. As respos-tas refletiram as mais diversas preo-cupações: desde um lento progresso sobre como proceder até o desafio por parte dos PEDs da América Lati-na e do Leste Asiático relacionado à barreiras lingüísticas (o que, temia-se, poderia criar uma nova catego-ria de fato de PEDs, incorporando o difícil tema da diferenciação). O resultado foi o Pacote de Julho de 2004, que simplesmente instruiu a CTD-SS a “concluir a revisão rapida-mente” até julho de 2005.

Em uma reunião de outubro de 2004, a CTD-SS continuou a discutir o processo a ser adotado e o equilí-brio entre questões horizontais e acordos específicos. A Suíça propôs um novo agrupamento de propostas em torno de temas específicos sub-jacentes, como restrições à capa-cidade e assistência técnica. Além disso, a Mesa concordou em pres-sionar os outros órgãos da OMC que examinavam as propostas da Cate-goria II a apresentar seus relatórios à CTD, e também foi mencionada

a possibilidade de adoção de todas as 28 recomendações, juntamente com as propostas da Categoria I, até o fim de 2005. No entanto, em uma reunião de dezembro de 2004, o Presidente Ismail apresentou uma nova abordagem para as negociações, uma tentativa de superar os desentendimentos sobre a impor-tância relativa das questões relacionadas a acordos específicos e horizontais. A abordagem “flexibilizada” do Presidente pede que os negociadores agrupem suas propostas de acordos específicos de SDT baseados em suas motivações e questões subjacentes. Vários PEDs temiam que a abordagem daria ênfase indevido a ques-tões horizontais e poderia levar a um tratamento diferenciado entre os PEDs.

Em reunião que aconteceu em fevereiro de 2005, os Membros decidiram conti-nuar a negociar propostas de acordos específicos, tendo a abordagem proposta pelo Presidente da Mesa como ponto de referência. Nessa ocasião, os Membros expressaram um certo receio quanto à formalização do processo, já que a reunião de abril da CTD-SS desintegrou-se logo após os Membros não terem conseguido chegar a um acordo quanto a uma agenda que atribuía um dia inteiro à discussão de questões horizontais. Ao que tudo indica, a agenda sugerida dividiu todas as propostas horizontais e de acordos específicos em duas categorias mais amplas: “flexibilização” e “capacitação”. A reunião de abril centralizou as discussões na categoria de flexibilização, examinando as propostas de acordos específicos no primeiro dia e as propostas horizontais no segundo, com uma reunião em maio voltada para as propostas de capacitação. Vários PEDs, incluindo Índia, Malá-sia, México, Camboja e Peru, reclamaram que não haviam sido adequadamente consultados sobre essa classificação. Eles temiam que a estruturação do trabal-ho ao longo dessas linhas mudaria a direção das negociações a favor das questões horizontais, em vez de assegurar que os Membros centrassem sua atenção em propostas de acordos específicos. O argumento era que o mandato da Declaração de Doha era muito mais forte, e possibilitaria que se alcançassem resultados es-pecíficos dentro do tempo previsto para as negociações. Como resultado, esses países recusaram-se a aceitar a agenda e a reunião foi encerrada mais cedo.

Depois de exaustivas consultas, as reuniões de maio de 2005 progrediram ao ana-lisar cinco propostas de acordos específicos sugeridas por LDCs. Conforme fosse apropriado, os Membros poderiam levantar questões horizontais como possíveis soluções para essas propostas. Essa foi a primeira vez em dois anos (desde Can-cun) que propostas de acordos específicos foram examinadas com seriedade pelo grupo. Os Membros sugeriram que havia necessidade de nova redação para atua-lização, tendo me vista o Pacote de Julho e outros acontecimentos. Alguns PDs argumentaram que os LDCs teriam que assumir pelo menos alguns compromissos e não poderiam esperar receber isenções para sempre, já que o objetivo da OMC é integrar países, incluindo LDCs, em um único sistema multilateral de comércio. Os LDCs responderam que a intenção de sua proposta era encontrar soluções para os custos de implementação das disciplinas da OMC. O resultado foi a solicitação aos LDCs para que redigissem novas submissões e nelas abordassem melhor suas necessidades subjacentes. As novas versões foram apresentadas em junho de 2005. Novamente, os Membros criticaram os textos, alegando que as alterações feitas eram “cosméticas” e que as propostas poderiam beneficiar-se-iam de uma nova redação, que esclarecesse e assegurasse a abordagem de to-das as necessidades dos proponentes. Os Membros também expressaram receio quanto à “automaticidade” de algumas isenções contidas nas propostas. Apesar das negociações terem durado mais de onze horas, os Membros não conseguiram chegar a um acordo e elaborar um texto dentro do prazo estabelecido no ano anterior, 31 de julho de 2005.

Desde julho de 2005, os LDCs vêm solicitando mais tempo para reconsiderar suas propostas, reunirem-se bilateralmente com os países que sugeriram mudanças e redigir novas submissões, mais adequadas. Enquanto isso, em consultas in-formais durante o mês de setembro e em uma reunião formal em outubro, os Membros revisaram as propostas africanas e depararam-se com as dificuldades similares no que tange esclarecimentos de linguagem e as intenções por trás das

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submissões. Assim, os PEDs têm sido constantemente questionado quanto aos objetivos de suas propostas e sobre os desafios específicos que impulsionaram a implementação dos acordos da OMC que esses países buscavam emendar. Atual-mente, os LDCs e os países Africanos esforçam-se para converter seus textos atuais (que alguns descrevem como vagos) em propostas que proponham altera-ções concretas aos acordos da OMC. Com a aproximação da Conferência Ministe-rial de Hong Kong, reuniões intensivas sobre tópicos cruciais, como agricultura, NAMA e serviços, têm guiado as limitadas capacidades de negociação desses paí-ses. Ao decidir se devem melhor esclarecer a linguagem das propostas de SDT ou se devem priorizar negociações sobre questões high profile, muitos países têm preferido centrar-se em negociações que gerem resultados imediatos em outros órgãos, muitas das quais apresentam importantes implicações do ponto de vista do desenvolvimento.

Perspectivas para o Futuro. No momento, parece que o debate sobre questões horizontais “esfriou”, bem como o debate sobre princípios e objetivos do SDT, eligibilidade e tratamento diferenciado, que fazem parte do mandato de Doha. Embora os PEDs tivessem desejado que o novo enfoque fosse dado a propostas de acordos específicos, uma real revisão do texto revela que as propostas abordam muitos problemas hori-zontais. Deste modo, pode valer a pena considerar se pequenas alterações no texto de acordos específicos da OMC podem resolver as grandes necessidades do desenvolvimento que motivaram PEDs a desenvolver um novo texto. Se as pro-postas visam tornar o SDT mais operacional, elas devem abordar as necessidades de PEDs de modo mais direcionado e efetivo. Isso pode estreitar o âmbito e nível de sua ambição. Contudo, poderá também implicar que questões sistêmicas que abrangem vários acordos representam um problema para o tratamento eficaz de PEDs na OMC. Nesse caso, essas questões deveriam ser abordadas juntamente com alterações textuais específicas.

A maioria das propostas “mais fáceis” da Categoria I já foi abordada por meio de uma inclusão nos 28 textos que foram acordados pré-Cancún. As 38 propostas da Categoria II continuam nos respectivos órgãos de negociação. Como resultado, a maioria das propostas que estão sendo examinadas pela CTD-SS pertence à cate-goria III, denominada “difícil”, e não existe vontade política para que se chegue a um acordo quanto as vastas aspirações expressas nas propostas dos LDCs e do Grupo Africano. No entanto, pode haver incentivo para renegociação e nova redação dos textos caso seja possível alcançar bons resultados nas negociações sobre agricultura, NAMA e serviços.

LDCs e Pequenas Economias Embora recebam menos atenção, os programas de trabalho para LDCs e peque-nas e vulneráveis economias também são áreas ativas de negociação na OMC. Desde a reunião de Cancun, questões-chave nos Sub-Comitês da OMC para LDCs têm incluído: assistência técnica para LDCs que encontram-se em processo de adesão e com problemas de abastecimento; acesso a mercados (particularmente em relação à Austrália e Canadá); questões relacionadas à integração temporal; e, mais recentemente, a eliminação gradual de cotas para têxteis e vestuários (ver Briefing Número 4 da Rodada de Doha).

Na Sessão dedicada a pequenas economias do CTD, os Membros têm lutado para encontrar soluções para as necessidades das pequenas e vulneráveis economias. O mandato da Declaração de Doha para “encontrar respostas para questões re-lacionadas ao comércio em prol da integração de pequenas e vulneráveis eco-nomias ao sistema multilateral de comércio” mostrou-se dificultado pela ordem da Declaração de “não se criar uma sub-categoria de Membros da OMC”. Em fevereiro de 2005, os Membros concordaram em adotar uma estratégia trifásica, sugerida pelo Presidente da Mesa, o Embaixador Trevor Clarke, de Barbados. A

primeira fase considera as caracte-rísticas para identificar o que pode ser aceito como “pequenas e vulne-ráveis economias”. A segunda fase, que foi eventualmente integrada à primeira, envolve as considerações dos problemas relacionados ao co-mércio que poderiam ser razoavel-mente atribuídas àquelas caracte-rísticas. A terceira fase enquadra as respostas aos problemas identi-ficados. Os proponentes do plano de trabalho para pequenas e vulne-ráveis economias – incluindo cator-ze países da ACP – apresentaram um documento (WT/COMTD/SE/W/12) em fevereiro de 2005 que delineava 17 características e problemas que, como sugerido, permitiria que os Membros compreendessem as defi-ciências estruturais que impedem pequenas e vulneráveis economias de desfrutar os plenos benefícios do sistema multilateral de comércio. Em maio de 2005, os proponentes apresentaram outra proposta (WT/COMTD/SE/W/13) que tinha como objetivo impulsionar as negociações sobre solução de problemas.

Em resposta às reações à proposta de maio de 2005, os 21 proponentes do plano de trabalho para pequenas e vulneráveis economias apresenta-ram uma proposta adicional (WT/COMTD/SE/W/14) durante reunião que aconteceu no dia 17 de outubro de 2005. O texto sugeria uma abor-dagem dupla, na qual os proponen-tes apresentariam submissões sobre como seus problemas particulares poderiam ser levados diretamente aos órgãos relevantes da OMC, en-quanto a Sessão dedicada a peque-nas economias do CTD continuaria a monitorar o progresso dessas pro-postas. O documento também cita submissões apresentadas por países que patrocinam os grupos de nego-ciação da OMC sobre agricultura, NAMA e regras (TN/RL/GEN/57/Rev.2). Outros Membros mostra-ram-se favoráveis à abordagem du-pla, defendida por PDs na Sessão dedicada a pequenas economias do CTD. Contudo, durante negociações informais que buscavam esboçar um texto preliminar para a Conferência Ministerial de Hong Kong, os Mem-bros continuaram a discordar so-

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bre como apresentar um conteúdo substantivo que promovesse os in-teresses de pequenas e vulneráveis economias sem introduzir uma dife-

renciação entre PEDs. O que determinará quanto desse trabalho será integrado aos resultados da Conferência Ministerial é até onde a sessão dedicada a pequenas economias do CTD conseguirá concordar sobre o texto e como as submissões dos proponentes serão tratadas nos órgãos de negociação.

A Série de Briefings da Rodada de Doha é publicada pelo Centro Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (ICTSD) em colaboração com o Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IISD). Os Directores de Séries são Ricardo Meléndez-Ortiz e Mark Halle. A Série completa, assim como atualizações futuras podem ser encontradas na www.ictsd.org e na www.iisd.org. Direitos de Autor: ICTSD e IISD, 2005.

The Centro Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (ICTSD - http://www.ictsd.org) é uma organização não lucrativa independente sedeada em Genebra. Fundada em 1997, a missão do ICTSD é de avançar o objetivo do desenvolvimento sustentável capacitando os intervenientes no sentido de influenciarem a feitura de políticas de comércio através da informação, networking, diálogo, pesquisa bem direcionada e capacitação.

O ICTSD é a editora de PONT�S Revita Mensal © e PONT�S Semanário de Notícias sobre o Comércio©. É co-editora de PASS�R�LL�S entre le commerce et le développement durable© (com �NDA Tiers-Monde); PU�NT�S entre el Comercio y el Desarrollo Sostenible© (com o Centro Internacional de Política �conómica para el Desarrollo Sostenible - CINP�); e PONT�S entro o Comércio e o Desenvol-vimento Sustentável© (com a Fundação Getulio Vargas). Os principais fundadores do ICTSD em 2005 incluem agêncies de cooperação sobre o desenvolvimento dos Governos da Suécia, os Países Baixos, o Reino Unido, a Suiça, Luxemburgo e Dinamarca, assim como a Agência Intragovernamental da Francofonia, a Fundação Rockefeller, a Fundação William e Flora Hewlett, Novib, Christian Aid, Oxfam e a Coligação Suiça de Organizações para o Desenvolvimento.

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Fundada em 1990, o Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentado (IISD) dedica-se a promover mudanças para um de-senvolvimento sustentado. Através da nossa pesquisa e através de comunicação eficaz das nossas conclusões, engajamos responsáveis por decisões no governo, em negócios, ONGs e outros setores para desenvolver e implementar políticas que são simultaneamente benéficas à economia global, ambiente global e bem-estar social. Acreditamos também fervorosamente na importância de fazer crescer a nossa capacidade institucional ao mesmo tempo que ajudamos as nossas organizações-parceiras a se distinguirem no mundo em desenvolvimento.