sentença da ação civil pública do lixão de campo grande/ms

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Autos 0038391-94.2012.8.12.0001 Autor(es): Thiago Verrone de Souza Réu(s) Município de Campo Grande/MS Vistos, etc. Trata-se de ação popular em que se declarou conexa a outra, nos termos do art. 103, do CPC. Por tal motivo profiro a presente sentença simultânea referente aos processos n. 0038391-94.2012 e n. 0038382-35.2012. Passo a relatar cada um dos processos e depois a decidir ambos, conjuntamente. Autos n. 0038391-94.2012 Vistos, etc. THIAGO VERRONE DE SOUZA, brasileiro, casado, empresário, domiciliado nesta Capital, na Rua Arthur Jorge, n. 174, sala 2, inscrito no CPF n. 947.234.781-91, cidadão comprovadamente no exercício de seus direitos, conforme Título de Eleitor apresentado nos autos, propôs a presente AÇÃO POPULAR COM PEDIDO DE LIMINAR em face do MUNICÍPIO DE CAMPO GRANDE/MS, pessoa jurídica de direito público, sediada no Paço Municipal, nesta Capital, representado na época pelo Prefeito Nelson Trad Filho, hoje por Alcides Bernal, com fundamento no artigo 5º, inciso LXXIII, da Constituição Federal e na Lei da Ação Popular, objetivando a nulidade da licitação que foi levada a efeito por meio do Edital de Concorrência n. 066/2012, publicado no dia 23 de maio de 2012, na modalidade Parceria Público-Privada (PPP), que tem por objeto a contratação de serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, consistindo em coleta, transporte, destinação, tratamento e disposição final ambientalmente adequada: a) dos resíduos sólidos domiciliares e comerciais; b) dos resíduos sólidos dos serviços de saúde; c) do originário da varrição e limpeza urbana; bem como a operação dos aterros sanitários Dom Antônio Barbosa I e II, e a construção de um novo aterro sanitário, a ser denominado de “Erêguaçu”, a ser apresentado pela contratante. Formulou pedido de liminar para que fosse suspensa a abertura das propostas para a fase de habilitação, apontando uma série de irregularidades, dentre outras: 1) a audiência pública, ainda dentro das fases internas da licitação, foi realizada no dia 28 de dezembro de 2011 (entre o natal e o ano novo), o que Estado de Mato Grosso do Sul Poder Judiciário Campo Grande 1ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos 1 Modelo 1072040 - Endereço: Rua da Paz, 14, 3º andar - Bloco III, Jardim dos Estados - 3º andar - Bloco III - CEP 79020-040, Fone: 3317-3524, Campo Grande-MS - E-mail: [email protected] - autos 0038391-94.2012.8.12.0001

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Processo nº 0038391 94.2012.8.12.0001.

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Page 1: Sentença da Ação Civil Pública do Lixão de Campo Grande/MS

Autos 0038391-94.2012.8.12.0001Autor(es): Thiago Verrone de SouzaRéu(s) Município de Campo Grande/MS

Vistos, etc.

Trata-se de ação popular em que se declarou conexa a outra, nos termos doart. 103, do CPC. Por tal motivo profiro a presente sentença simultânea referente aosprocessos n. 0038391-94.2012 e n. 0038382-35.2012.

Passo a relatar cada um dos processos e depois a decidir ambos,conjuntamente.

Autos n. 0038391-94.2012

Vistos, etc.

THIAGO VERRONE DE SOUZA, brasileiro, casado, empresário,domiciliado nesta Capital, na Rua Arthur Jorge, n. 174, sala 2, inscrito no CPF n.947.234.781-91, cidadão comprovadamente no exercício de seus direitos, conformeTítulo de Eleitor apresentado nos autos, propôs a presente AÇÃO POPULAR COMPEDIDO DE LIMINAR em face do MUNICÍPIO DE CAMPO GRANDE/MS,pessoa jurídica de direito público, sediada no Paço Municipal, nesta Capital,representado na época pelo Prefeito Nelson Trad Filho, hoje por Alcides Bernal, comfundamento no artigo 5º, inciso LXXIII, da Constituição Federal e na Lei da AçãoPopular, objetivando a nulidade da licitação que foi levada a efeito por meio do Editalde Concorrência n. 066/2012, publicado no dia 23 de maio de 2012, na modalidadeParceria Público-Privada (PPP), que tem por objeto a contratação de serviços públicosde limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, consistindo em coleta, transporte,destinação, tratamento e disposição final ambientalmente adequada: a) dos resíduossólidos domiciliares e comerciais; b) dos resíduos sólidos dos serviços de saúde; c) dooriginário da varrição e limpeza urbana; bem como a operação dos aterros sanitáriosDom Antônio Barbosa I e II, e a construção de um novo aterro sanitário, a serdenominado de “Erêguaçu”, a ser apresentado pela contratante.

Formulou pedido de liminar para que fosse suspensa a abertura das propostaspara a fase de habilitação, apontando uma série de irregularidades, dentre outras:

1) a audiência pública, ainda dentro das fases internas da licitação, foirealizada no dia 28 de dezembro de 2011 (entre o natal e o ano novo), o que

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notoriamente míngua a participação popular, ferindo a Lei da transparência e a deacesso a informação;

2) em mandado de segurança promovido pela empresa VerroneEmpreendimentos Consultoria e Representações Ltda. (autos n. 0018947-75.2012)contra a Secretaria Municipal de Infraestrutura, Transporte e Habitação - SEINTHRA,embora obtida a segurança, a impetrada dificultou o acesso aos documentos relativos àConcorrência n. 026/2006 que visava a implantação do aterro sanitário no anelrodoviário entre o entroncamento - BR 163 (SP) e entroncamento BR 060 (Sidrolândia),obra esta paralisada desde 2008/2009, mas que foi retomada, conforme constatação inloco no dia 19.6.2012;

3) não poderia estar sendo objeto desta licitação, o mesmo que já foi objetoda licitação n. 026/2006, por estar inacabada e com a concessionária vencedora daépoca (Anfer Construções e Comércio Ltda.) com a idoneidade questionável, além deseu quadro societário compor outra empresa (Financial), investigada na operaçãoUragano;

4) a área que os pretensos licitantes devem apresentar já está direcionada auma área de propriedade dessa mesma empresa (pelas coordenadas, é bem próxima aárea do aterro Dom Antônio Barbosa II), com licença ambiental inclusive, já concedida,evidenciando o direcionamento da licitação;

5) o edital não exigiu a apresentação da Certidão Negativa de DébitosTrabalhistas;

6) limitação ao número de empresas para formação dos consórcios, bemcomo cumulatividade de garantias vedada pela lei de licitações;

7) exigência de especificações técnicas das máquinas "moinho MEC-20" e"carregador hidráulico MEC-4000" para aparelhamento da UTR que só são fabricadaspor uma única indústria (Iguaçumec Eletromecânica Ltda.), sem justificativasplausíveis.

Argumentou que a concessão terá duração de 25 anos, prorrogáveis por mais10 anos e no valor de R$ 1.827.414.324,87.

Pede, ao final, a declaração de nulidade do Edital ParceriaPúblico-Privada-Concessão Administrativa-Concorrência n. 066/2012 econsequentemente de todos os atos dele decorrentes, condenando os réus, corréus eeventuais beneficiários ao ressarcimento dos prejuízos decorrentes dos atos ilícitos,custas e honorários.

A inicial veio acompanhada dos documentos de fls. 28/86 e 89/96.

A liminar não foi concedida, uma vez que a abertura das propostasinauguraria a fase da habilitação, fase subjetiva que avalia a empresa proponenteenvolvendo sua habilitação jurídica, a regularidade fiscal e trabalhista, e sua

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qualificação técnica e econômico-financeira (fls. 97/98), e iria paralisar importanteprocedimento ligado à saúde pública.

O Município apresentou contestação nas fls. 105/114, alegando empreliminar a ilegitimidade ativa do autor popular, por não comprovar de plano suasituação de pleno gozo de exercício de seus direitos políticos quando do ajuizamento daação, e ausência de interesse processual pela falta de prova da ilegalidade e dalesividade.

No mérito, reforçou a legalidade do procedimento licitatório esclarecendoque foi publicada lei específica, haja vista a publicação das leis municipais n. 5.008 e5.010, ambas de 2011.

Informa, quanto à consulta pública, que embora inicialmente o prazo paraparticipação tenha sido do dia 29 de dezembro de 2011 ao dia 29 de janeiro de 2012,houve prorrogação até o dia 13 de fevereiro de 2012, ficando disponibilizadas no siteoficial do Município (www.capital.ms.gov.br/consultapublica), as minutas do edital e docontrato. E que toda a documentação, necessária para apresentação da proposta, eradisponibilizada com a aquisição do edital, cuja cobrança de R$ 1.000,00 (mil reais)correspondia ao valor de custo da reprodução gráfica da documentação fornecida.

Defende que a irregularidade de falta de exigência de certidão negativa dedébitos trabalhistas foi sanada (seis dias antes do certame), por meio de expedição deofício-circular, e que o edital não limitou o número de consórcios participantes docertame, enquanto limitou o número de empresas a compor os consórcios, visandopreservar o princípio da isonomia entre os participantes.

Quanto à cumulação das garantias, assim procedeu por previsão na Lei n.11.079/2004 (Lei das Parcerias Público-Privadas).

Pediu também a reunião destes autos com a ação popular n.0038391-94.2012.8.12.0001 por tratar do mesmo objeto desta e, ao final, pugnou pelacondenação do autor em litigância de má fé.

Entregou os documentos informados às fls. 118/120 (treze volumes, numtotal de 3.048 folhas).

O autor impugnou a contestação, com documentos, às fls. 124/233,defendendo em resumo que:

"(...) além da empresa ser obrigada a celebrar compromisso de compra evenda de uma área para a instalação futura de um lixão, a qual deveráter condições futuras de ser licenciada ambientalmente para o devidofim (destacamos que isso tudo em exíguo prazo conferido pelo edital);adquirir caminhões sem uso, investindo e empatando enorme capitalsem rentabilidade; adivinhar a real situação do Aterro Dom AntônioBarbosa II para oferecer preços competitivos para sua execução; Oconsórcio concorrente deverá caucionar os referidos Cinco Milhões deReais, ISSO TUDO PARA PODER PARTICIPAR DO CERTAME".

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O Ministério Público, às fls. 235/240, requereu a citação da empresaFinancial Construtora Industrial Ltda., por ter sido indicada como beneficiária dos atoscombatidos, integrando o polo passivo da ação.

O autor pediu, com documentos, às fls. 247/287 a paralisação do processolicitatório.

Ambos os pedidos foram decididos por meio da decisão de fl. 289 e verso.

O autor apresentou novos documentos às fls. 294/366.

Em nova vista (fls. 368/388), o Ministério Público opinou pelo afastamentodas preliminares arguidas pelo Município, exceto em relação à conexão, pedindotambém a reunião dos autos, e como preliminar própria pugnou pela necessidade deintegração do polo passivo da ação com a citação do Consórcio CG Solurb, vencedor daconcorrência, por se tratar de beneficiário direto do ato, com fundamento nos artigos 6º,caput, da Lei n. 4.717/65 e art. 47, do CPC (litisconsórcio passivo necessário), e nomérito, embora não entenda ter ocorrido algumas irregularidades apontadas pelo autor,concluiu pela procedência do pedido do autor popular, em razão do edital haverlimitado o número de empresas para formação dos consórcios, uma vez que a lei não fazessa restrição, não cabendo ao administrar fazê-lo, bem como agressão ao princípio dacompetitividade, por existência de cláusulas excessivamente amplas ao tratar da coleta,transporte e destinação final dos resíduos sólidos dos serviços de saúde, inclusive tendorecebido denúncia a esse respeito e, muito embora o Município tenha recebidorecomendação para retificação do edital, publicou-o sem fazer qualquer alteração, sendoque o fato de constar em um anexo (projeto básico) que somente seriam coletados dosestabelecimentos mantidos pelo Município, não é suficiente, pois deveria constarclaramente no edital.

Por meio da decisão de fl. 393 e verso saneou-se o processo, afastando eacolhendo as preliminares, declarando-se a conexão das ações e a citação do consórciovencedor.

O autor apresenta mais documentos às fls. 398/572.

O consórcio vencedor da licitação CG Solurb Soluções Ambientais SPELtda. Apresentou contestação às fls. 608/634, aduzindo:

1) que não houve qualquer irregularidade no edital, uma vez que a fixação dadata para realização da audiência pública é ato discricionário da administração,conforme conveniência e oportunidade, insuscetíveis de controle pelo Poder Judiciário,porquanto foi respeitado o prazo mínimo estabelecido pela lei para sua realização (art.39 da Lei de Licitações), atendido portanto o princípio da legalidade;

2) que o edital n. 026/2006 nada tem a ver com o edital n. 066/2012 porpossuírem objetos distintos (olvidou-se que uma das finalidades deste é a implantação eoperação do dab II), não havendo qualquer ilegalidade no fato de um dos sócios de uma

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empresa consorciada ser também sócio de outra empresa que teria prestado serviços nolocal, concluindo que as alegações envolvendo ambos os procedimentos não importamviolação ao princípio da isonomia, tampouco acarretam direcionamento do certame.Muito menos, o fato de funcionários trabalhando no local pertencerem a empresa AnferConstruções e Comércio Ltda. ou à empresa Financial;

3) que a área apresentada pela vencedora preencheu as condições exigidaspelo edital (que o autor, pelo dom da vidência, previu sua indicação antes da aberturadas propostas), que nada mencionou sobre o local ou região em que deveria serconstruído;

4) que a limitação do número de empresas a comporem o(s) consórcio(s)participante(s) da licitação, também é ato discricionário do administrador público, poisa este é facultado admitir ou não a formação de consórcios para participarem docertame, portanto, muito mais é possível limitar o número de empresas a seconsorciarem, pois não há previsão legal para a vedação dessa restrição imposta àAdministração Pública;

5) que a falta de exigência da certidão negativa de débitos trabalhistas foimera irregularidade formal contida no edital e que foi sanada mediante expedição deofício-circular a todos os adquirentes do edital;

6) que a exigência das garantias constantes do edital se deve à magnitude docontrato, visando garantir a mínima segurança ao Município, e embora os critérios aserem utilizados sejam taxativos, a escolha de adotá-los concomitantemente ou não ficaa critério de conveniência e oportunidade da Administração Pública.

Afirma que a lide deve se limitar aos pedidos iniciais e que portanto osdocumentos apresentados posteriormente devem ser desentranhados dos autos, e quedevem estar presentes os requisitos da ilegalidade ou ilegitimidade do ato a invalidar,bem como a lesividade do ato impugnado, não estando de qualquer forma presente orequisito da lesão ao erário.

Manifestou-se o autor às fls. 637/638 ratificando suas alegações, e por meioda petição de fls. 643/645 alegou a suspeição do magistrado, atual titular da vara poronde tramita o feito.

É o relatório necessário.

Autos n. 0038382-35.2012

Vistos, etc.

ATHAYDE NERY DE FREITAS JR., brasileiro, casado, vereador,

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domiciliado nesta Capital, residente na Rua Tinhorão, n. 696, bairro Cidade Jardim,inscrito no CPF n. 313.298.611-91, cidadão comprovadamente no exercício de seusdireitos, conforme Título de Eleitor apresentado nos autos, advogando em causaprópria, propôs a presente AÇÃO POPULAR COM PEDIDO DE LIMINAR em facedo MUNICÍPIO DE CAMPO GRANDE/MS, pessoa jurídica de direito público,sediada no Paço Municipal, nesta Capital, representado na época pelo Prefeito NelsonTrad Filho, hoje por Alcides Bernal, com fundamento no artigo 5º, inciso LXXIII, daConstituição Federal e na Lei da Ação Popular, objetivando a nulidade da licitação quefoi levada a efeito por meio do Edital de Concorrência n. 066/2012, publicado no dia 23de maio de 2012, na modalidade Parceria Público-Privada (PPP), que tem por objeto acontratação de serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos,consistindo em coleta, transporte, destinação, tratamento e disposição finalambientalmente adequada: a) dos resíduos sólidos domiciliares e comerciais; b) dosresíduos sólidos dos serviços de saúde; c) do originário da varrição e limpeza urbana;bem como a operação dos aterros sanitários Dom Antônio Barbosa I e II, e a construçãode um novo aterro sanitário, a ser denominado de “Erêguaçu”, a ser apresentado pelacontratante.

Apontou uma série de irregularidades, a começar pela cobrança de R$1.000,00 (mil reais) para obtenção da documentação contendo as especificações e basesda licitação, dificultando o acesso à consulta pelo público, violando a necessidade datransparência do ato.

Argumenta que a concessão terá duração de 25 anos, prorrogáveis por mais10 anos e no valor de R$ 1.827.414.324,87, exigindo da empresa concessionáriacandidata um capital de R$ 53.000.000,00 (cinquenta e três milhões de reais) e outorgade fiança em dinheiro ou bancária de apenas R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais),além das notícias com relação ao caso informarem que a coleta seletiva não atingirámais do que 13% do lixo da capital, portanto, o Município pagará por todo o serviço,enquanto teremos apenas parte dele, em evidente prejuízo ao erário público.

Igualmente, que a Lei autorizativa para a contratação dessa concessão, LeiMunicipal n. 5.010, de 25 de novembro de 2011, não tratou especificamente daconcessão que está sendo levada a efeito (se parceria público-privada na modalidadepatrocinada ou administrativa). Além de não existir Lei específica para o caso, uma vezque em se tratando de parceria patrocinada em que a Administração Pública pague maisde 70% da remuneração, a Lei assim exige e não há previsão alguma de cobrança detaxa ou tarifa do usuário decorrente do recolhimento do lixo.

Requereu a concessão de liminar para suspensão da abertura das propostasem razão de todo o exposto, e pelo fato de que a realização da "Rio+20" foi posterior àelaboração do Edital o que já justificaria a suspensão da licitação nos moldes em queestá sendo realizada, em evidente prejuízo à população campograndense.

A inicial veio acompanhada dos documentos de fls. 21/71.

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A liminar não foi concedida, uma vez que a abertura das propostasinauguraria a fase da habilitação, fase subjetiva que avalia a empresa proponenteenvolvendo sua habilitação jurídica, a regularidade fiscal e trabalhista, e suaqualificação técnica e econômico-financeira, e iria paralisar importante procedimentoligado à saúde pública.

O Município de Campo Grande apresentou contestação às fls. 81/90,alegando preliminarmente, a ausência de legitimidade ativa do autor, por não apresentarcertidão de quitação eleitoral atualizada que demonstrasse a atual situação de cidadão,bem como ausência de interesse processual pela falta de prova da ilegalidade e dalesividade.

No mérito, reforçou a legalidade do procedimento licitatório esclarecendoque foi publicada lei específica, haja vista a publicação das leis municipais n. 5.008 e5.010, ambas de 2011, e que a concessão é administrativa, não havendo a fixação detarifa ao usuário.

Informa, quanto à consulta pública, que embora inicialmente o prazo paraparticipação tenha sido do dia 29 de dezembro de 2011 ao dia 29 de janeiro de 2012,houve prorrogação até o dia 13 de fevereiro de 2012, ficando disponibilizadas no siteoficial do Município (www.capital.ms.gov.br/consultapublica), as minutas do edital e docontrato. E que toda a documentação, necessária para apresentação da proposta, eradisponibilizada com a aquisição do edital, cuja cobrança de R$ 1.000,00 (mil reais)correspondia ao valor de custo da reprodução gráfica da documentação fornecida.

Pediu também a reunião destes autos com a ação popular n.0038391-94.2012.8.12.0001 por tratar do mesmo objeto desta e, ao final, pugnou pelacondenação do autor em litigância de má fé.

O Ministério Público, às fls. 100/108, opinou pelo afastamento daspreliminares arguidas pelo requerido, com exceção da declaração de existência deconexão com os autos 0038391-94.2012.8.12.0001 e, não se manifestou sobre o mérito,requerendo nova intimação do autor popular para impugnação da contestação, sob penade aplicação do art. 9º, da Lei de Ação Popular.

Por meio da decisão de fls. 116, esclareceu-se as implicações da falta deimpugnação à contestação e determinou-se a intimação do requerido para juntada dadocumentação referente às demais fases da licitação na modalidade concorrência n.066/2012, o que foi atendido conforme informado no termo de fl. 117, composto de 27(vinte e sete volumes).

Em nova manifestação (fls. 122/140), o Ministério Público reiterou seuparecer de fls. 100/108 pelo afastamento das preliminares levantadas pelo Município,exceto em relação à conexão, pedindo também a reunião dos autos, e como preliminarprópria pugnou pela necessidade de integração do polo passivo da ação com a citaçãodo Consórcio CG Solurb, vencedor da concorrência, por se tratar de beneficiário direto

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do ato, com fundamento nos artigos 6º, caput, da Lei n. 4.717/65 e art. 47, do CPC(litisconsórcio passivo necessário), e no mérito, entendeu não ter ocorrido algumasirregularidades apontadas pelo autor.

Entretanto, concluiu pela procedência do pedido do autor popular, em razãodo edital haver limitado o número de empresas para formação dos consórcios, uma vezque a lei não faz essa restrição, não cabendo ao administrar fazê-lo, bem como agressãoao princípio da competitividade, por existência de cláusulas excessivamente amplas aotratar da coleta, transporte e destinação final dos resíduos sólidos dos serviços de saúde,inclusive tendo recebido denúncia a esse respeito e, muito embora o Município tenharecebido recomendação para retificação do edital, publicou-o sem fazer qualqueralteração, sendo que o fato de constar em um anexo (projeto básico) que somenteseriam coletados dos estabelecimentos mantidos pelo Município, não é suficiente, poisdeveria constar claramente no edital.

Por meio da decisão de fl. 148 e verso saneou-se o processo, afastando eacolhendo as preliminares, declarando-se a conexão das ações e a citação do consórciovencedor.

O consórcio vencedor da licitação CG Solurb Soluções Ambientais SPELtda. apresentou contestação às fls. 159/182, aduzindo:

1) que foram realizados estudos que atestam não estar havendo investimentode recursos públicos desproporcionais aos serviços que serão prestados ao longo dostrinta e cinco anos de concessão, como atesta o laudo técnico que precedeu o certame,anexado às fls. 506/557, atestando sua viabilidade econômica e financeira;

2) que o evento chamado Rio +20 foi realizado em data posterior àpublicação do edital e em nada interferiria na licitação, pois não foram tratados assuntosespecíficos sobre o lixo produzido nos Municípios, e sim, foram discutidas soluçõespara dirimir problemas globais, como insegurança alimentar, oceanos, acesso a energiae àgua potável, criação de empregos sustentáveis, dentre outros;

3) que a modalidade de Parceria Público-Privada adotada foi a administrativacomo restou esclarecido, não havendo necessidade de se estabelecer a contrapartidanecessária (se fosse patrocinada);

4) que a lei que autorizou a realização do certame foi a Lei Municipal n.5.010, de 24/11/2011, que alterou a Lei Municipal n. 4.050, de 25/06/2003 (que regulasobre a concessão para exploração de serviço relativo à coleta e destinação final deresíduos sólidos domiciliares, comerciais e resíduos de serviço de saúde), e a Lei n.5.008, de 24/11/2011, que regulamentou o programa municipal de parceriaspúblico-privadas do Município, bem como a Lei 4.864, de 07/07/2010, que regulou agestão dos resíduos da construção civil, conforme regras ambientais;

5) que o meio adequado à publicidade é a publicação do edital, o que foicumprido, bem como a realização da audiência pública, que atendeu ao disposto na

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norma inserta no art. 39 da Lei de Licitações;

6) que as questões levantadas pelo Ministério Público não são objeto dopresente litígio, haja vista porque em relação aos resíduos sólidos de saúde estão sendodiscutidos em processo distinto (ação civil pública ajuizada pelo Parquet), enquanto alimitação de empresas componentes de consórcios participantes sequer faz parte dacausa de pedir formulada pelo autor, e é ato discricionário do administrador público,pois a este é facultado admitir ou não a formação de consórcios para participarem docertame, portanto, muito mais é possível limitar o número de empresas a seconsorciarem, pois não há previsão legal para a vedação dessa restrição imposta àAdministração Pública.

Por fim, alega não estar presente um dos requisitos para a procedência daação popular, qual seja a lesividade do ato impugnado, ainda que estivesse presente ooutro requisito, o da ilegalidade ou ilegitimidade do ato a invalidar.

É o relatório necessário. DECIDO.

As preliminares levantadas pelo requerido e pelo Ministério Público já foramapreciadas e decididas em ambos os feitos por meio de decisão saneadora, razão pelaqual passo a decidir o mérito de ambas as ações.

A área de Disposição de Resíduos Sólidos – Lixão (Dom Antônio I),pertence à Prefeitura Municipal de Campo Grande por força de desapropriação, e obtevea Licença Prévia em 1991, e a Licença de Instalação em 1992, expedidas por SecretariaEstadual, e operou sem essa licença desde o seu vencimento em meados de 1992 até1998, quando obteve a renovação, e até outubro de 2008 não possuía licença deoperação (conforme perícia realizada nos autos 001.99.026238-7 – fls. 405/465).

Quando criado em 1992, teria vida útil de 4,7 anos, mas reavaliado em 1994,concedeu-se mais 7,5 anos de vida ao lixão. Portanto, já atingiu sua vida útil em 2002.

As atividades de coleta e transporte dos resíduos até o local de disposiçãoeram terceirizadas pelo Município para a empresa Financial Ambiental S/A, mas talserviço já foi prestado também pela Vega Sopave (transporte) e/ou Santo AndréMontagem e Terraplanagem (administração e cobertura do lixão).

No ano de 2000 foi elaborado novo EIA/RIMA para aprovação de nova áreade disposição de resíduos sólidos e remediação da área atual (lixão), sugerindo autilização de área contígua a atual de disposição. Para esta área foi expedida LicençaPrévia em 2001, prorrogada até 2005, e Licença de Instalação em 2006, prorrogada até2008.

Muito embora na perícia realizada em 2008 (nos autos 0026238-83.1999),

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conste que a área onde se encontra o lixão tenha sido desapropriada (conforme escrituralá contida), uma das obrigações assumida pelo Município seria a regularização datitulação da área, que estaria em nome da Empresa Municipal de Habitação – EMHA.

O empreendimento começou a operar sem cumprir as condicionantes daLicença de Instalação e sem licença de operação, situações que persistiram pelo menosaté 2008, e quiçá, até hoje.

Tais áreas pertencem à bacia hidrográfica do Rio Anhanduí, fazendo divisacom o Córrego Formiga por cerca de 450 metros, desaguando a 1.600 metros no RioAnhanduí.

Não há cortina arbórea no entorno da área a fim de amenizar a dissipação deodor desagradável para áreas além do lixão e poluição visual causada pelo maciço.

As águas pluviais se juntam ao chorume e escoam para lagoas de contenção(escavações no solo SEM IMPERMEABILIZAÇÃO), infiltrando-se e contaminando osolo e o lençol freático, constatação confirmada por meio de análises das águassubterrâneas, causando, sem dúvida, evidentes danos e prejuízos à população, aosanimais e à flora.

Os drenos de gases (metano e sulfídrico) encontram-se destruídos esoterrados pelo trânsito de máquinas e disposição sem controle dos resíduos sólidos.

Os resíduos dispostos sem cobertura se tornam agentes proliferadores devetores, acarretando riscos de doenças (dengue, tétano, febre tifóide e leptospirose) àpopulação e aos catadores. Além disso, a área recebe resíduos de todo o Município,inclusive animais mortos e hospitalares sem o devido tratamento.

Até hoje não existe uma central de incineração de lixo hospitalar. Enquantoisso, o lixão continua recebendo lixo hospitalar, inclusive como se doméstico fosse, hajavista a falta de treinamento e fiscalização dos geradores desse tipo de resíduos.

Estamos há vinte anos sem a devida solução a ser dada aos resíduos sólidos.A alteração de governos dá continuidade apenas à herança das mazelas, sem empenhoalgum para que uma solução seja dada, CORRETA E DEFINITIVAMENTE ao caso,ou quando assim feito ou se tentando fazer, o procedimento está repleto deirregularidades.

Muito se tem falado, nada se tem feito. Muito se tem denunciado, soluçõesnão tem sido apresentadas.

De fato, o problema não é de fácil solução. Entretanto, tempo suficiente já sepassou para que as autoridades, se realmente tivessem vontade, resolvessem oproblema, ou ao menos minimizassem os efeitos da ausência de solução definitiva.

Há questões sociais a serem solucionadas como a situação dos catadores delixo.

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Desde 1999 se tenta dar uma solução definitiva ao problema do lixão. ODecreto Municipal n. 7.870, de 19 de julho de 1999 instituiu um grupo de trabalho paraapontar solução para a destinação final do lixo no Município de Campo Grandecomposto por mais de 13 pessoas (13 + 1 representante de cada bancada da CâmaraMunicipal da época). Nesse mesmo ano, um consórcio (Consórcio EnergéticoAmbiental de Campo Grande – CENAGRAN) que seria formado pelas empresas Seatondo Brasil S/A, STR Engineering Consult SRL (Italiana), e a empresa pública municipalEmpresa de Limpeza Urbana de Campo Grande - GRANLURB, seria contratado semlicitação, com fundamento em inexigibilidade, para construir a usina de processamentode lixo e uma termelétrica, quando se constatou que o italiano Moreno Gori,vice-presidente da Seaton, que também era procurador da STR e seria presidente doconsórcio, havia falsificado o recibo de depósito obrigatório para registro do consórcio,bem como sua carteira de identidade e passaporte.

O modelo proposto há dezesseis anos, abortado por ausência das condiçõesmais óbvias de licitude (em virtude do escândalo) envolvia uma usina geradora deenergia elétrica, e, portanto, era mais moderna do que o modelo proposto atualmente.

Lamentavelmente até hoje, todas as tentativas de sanar o problema sãoacompanhadas de notícias e constatações de irregularidades e ilegalidades, envolvendodenúncias de tentativas de ganhos espúrios com a exploração de tal serviço e,infelizmente, nenhum governo têm fugido a essa "regra".

Talvez porquê o lixo não dê muitos votos, ocorra o descaso dos governantesem remediar a situação de maneira eficaz e definitiva, afinal somente se lembram doscatadores de lixo na época das campanhas eleitoreiras.

O despreparo administrativo, infelizmente é tão grande que, não importandoqual seja o governo, despendem valores altíssimos em propagandas políticas, mas sãoincapazes de usar proporcional e razoavelmente as verbas públicas na melhoria daqualidade de vida ambiental de toda a coletividade.

Obras que não "aparecem" não são prioridade. No entanto, talvez sejam asmais importantes a serem executadas por uma administração política-pública séria ecomprometida com o bem estar da população.

Sequer medidas paliativas mas eficazes foram adotadas para minimizar oimpacto já produzido, como por exemplo, a drenagem do líquido produzido pelo lixo eque está penetrando no solo, atingindo o lençol freático, e consequentemente, as águaspotáveis subterrâneas, a plantação de árvores no entorno de toda a área (cortinaarbórea), o que poderia já ter sido feito há mais de dez anos (hoje as árvores já estariamcrescidas, formando uma cortina "respiratória" ao redor de toda a área), ou ainda, otreinamento dos agentes de saúde para orientar a população a separar o lixo e levar todoo lixo doméstico reciclável aos locais de entrega voluntária (LEV), encontrados hoje,por exemplo, nos estacionamentos da rede de supermercados Comper.

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Afinal se a maioria do lixo reciclável já fosse separado na origem e levadospara os ecopontos (é uma das obrigações assumida pelo Município, a criação de quatroecopontos de captação e processamento do material reciclável nos bairros Bálsamo,Estrela Dalva, São Conrado e Vida Nova, que absorveriam mão-de-obra dos catadoresde lixo), ou para um dos 60 (sessenta) entrepostos de compra e venda de materialreciclável espalhados pelo Município (existência noticiada no TAC), ou para a Usina,que ainda não existe, não haveriam catadores de lixo no lixão ou em qualquer aterrosanitário. Mas sequer, campanhas educativas de peso foram implementadas ao longodestes longos e passados anos, visando a mudança de comportamento da sociedade emgeral, que infelizmente, ainda caminha a passos longínquos de uma almejada"civilização ambiental" ideal.

Se não bastasse a falta da Usina de Triagem dos Resíduos - UTR, a ausênciade educação e conscientização ambiental é tamanha que em 1996 uma empresa queoperava no setor de reciclagem de plástico faliu por falta de matéria-prima (a Plastil)que ao invés de produzir 100 toneladas de mangueira, produzia apenas e meramente 20toneladas.

Não se tem notícias de que a Secretaria de Saúde conta com profissionais(programa) que treinam o pessoal dos estabelecimentos de saúde para realizar a corretadisposição dos resíduos de saúde ali gerados (acondicionamento e armazenamento) paraque tenham a posterior destinação final correta no aterro sanitário (ou, no aindaexistente lixão), o que também já poderia estar sendo feito há anos.

Além disso, não são todos os estabelecimentos que são atendidos pela coletadiferenciada de resíduos de saúde (caminhão de lixo hospitalar), ainda ocorrendo adestinação final destes resíduos como se domésticos fossem, conforme se referem asações de n. 0059569-02.2012.8.12.0001 e 0820306-27.2012.8.12.0001. O que é umabsurdo!

Igualmente, até hoje, no Município, não é dada a devida destinaçãoambientalmente correta, aos resíduos de saúde, aos resíduos perigosos ou danosos (ex.:lâmpadas de mercúrio, pilhas, baterias de qualquer natureza, aparelhos eletrônicos e deinformática, pneus, óleo comestível e óleo lubrificante automotivo), nem aos gasespoluidores produzidos no lixão (ausência de instalação da Central de Captação eQueima de Gases – biogás), que viabilizaria a captação de recursos oriundos do créditode carbono mediante Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL.

Nos idos de 1996, haviam cinco pontos para onde eram destinados osresíduos de varrição e conservação de vias públicas: Lixão Itamaracá, Lixão Morumbi(saída para Rochedo), Lixão do CEASA, Lixão da saída de Três Lagoas e Lixão doNova Lima.

No entanto, a destinação final dos entulhos, dos restos de podas e demateriais de construção, e de pneus (que não são recolhidos pela coleta domiciliar),ficam a cargo do gerador desses resíduos, e como não há uma área adequada, acabam

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sendo descartados em áreas já previamente degradadas ou abandonadas, acarretandomais custos e problemas para o Município.

De sorte que seria menos custoso ao Município adquirir uma área para osresíduos de entulhos (restos de reformas, demolições, obras de construção civil, etc.),podas, materiais de jardins e pneus, que poderiam ser triturados e utilizados paraencascalhamento de ruas na periferia e estradas municipais (ou até estaduais), ou ainda(dependendo da qualidade), poderia servir para recuperar áreas degradadas (por erosão,por exemplo), ou como material de cobertura do lixo no próprio lixão, conformesugestão apontada por alunos do curso de Engenharia de Saúde Pública da UFMS (noInquérito Civil n. 12/97).

Nesse inquérito, vemos exemplos de como NÃO deveria ser a disposiçãofinal ambientalmente adequada de pneus (despejadas no depósito de entulhos daprefeitura, conforme notícias de 1996).

Atualmente, não se tem notícias de onde são levados tais resíduos,sabendo-se que há um depósito de entulho no Jardim Noroeste, mas não se sabe em quecondições, e com certeza não é suficiente, pois diariamente são noticiadas situaçõesdeploráveis de descarregamento de entulhos pelas ruas ou terrenos, em bairros dacapital.

Em abril de 2009, dez anos após o ajuizamento da ação civil pública n.001.99.026238-7, o Município de Campo Grande foi condenado a construir um novoaterro sanitário, de acordo com as normas sanitárias e ambientais, ou encontrar outraforma de disposição final correta dos lixos urbanos, a desativar o "lixão", bem comorecuperar a área degradada, no prazo de seis meses, contados do trânsito em julgado dasentença, além é claro, de concluir a Usina de Triagem dos Resíduos – UTR, queinclusive deveria estar pronta antes da operação do novo aterro.

Ao invés de minimizar os impactos ambientais já praticados ao longodaqueles dez anos, o Município além de pouco ter feito, somente se preocupou emapelar da sentença proferida na ocasião.

Lixo ocupa espaço, demora para se decompor, poderia gerar energiareaproveitável, e ao que se vê, a conta está ficando alta. A natureza vai cobrar a faturade tantos anos de descaso. E muito embora, a questão também exija colaboração dasociedade (principalmente, aliás), cabe à administração fazer a sua parte, pois pra isso éque está lá, na qualidade de representante do povo, para gerir os negócios públicos.

Não se tem dados da coleta seletiva em Campo Grande, simplesmenteporque não existe, a população não é informada de que não deve misturar as sobras dealimentos com resíduos potencialmente recicláveis como plásticos, vidros, papéis, latas,etc. (o que poderia ser feito, como já aventado, por agentes de saúde treinados tambémpara tal finalidade), bem como de que pode levar para os locais de entrega voluntária -LEV.

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Ainda que a população separe em casa, se colocar na rua para ser recolhido,não haverá coleta diferenciada desse material que foi separado na origem (ex.: outrocaminhão que recolhesse o lixo reciclável, separado do lixo doméstico orgânico, e queobviamente não despejasse o lixo coletado junto com o lixo orgânico), pois salvoengano, nem mesmo o lixo arrecadado nos locais de entrega voluntária (LEV) temdestinação diferenciada (tudo é despejado no lixão, misturando-se com todo e qualquerresíduo).

Nos Estados Unidos e países da Europa o índice de reciclagem chega aaproximadamente 40%, e de fato, de tudo que é jogado no lixo, ao menos 35% poderiaser reciclado ou reutilizado e outro tanto ainda poderia ser transformado em adubo, esomente o restante disso tudo é que chegaria aos aterros sanitários para uma devidadestinação (incineração, pirólise, plasma, autoclave, desinfecção química, desativaçãoeletrotérmica, microondas, radiação ionizante, tratamento químico, co-processamento,compostagem, etc.)

Necessário esclarecer que a área onde funciona o despejo dos resíduossólidos gerados no Município é um lixão.

A diferença entre um lixão, aterro controlado e aterro sanitário é a seguinte(conforme fonte: www.lixo.com.br):

Um lixão é uma área de disposição final de resíduos sólidos semnenhuma preparação anterior do solo. Não tem nenhum sistema detratamento de efluentes líquidos - o chorume (líquido preto que escorredo lixo). Este penetra pela terra levando substancias contaminantes parao solo e para o lençol freático. Moscas, pássaros e ratos convivem como lixo livremente no lixão a céu aberto, e pior ainda, crianças,adolescentes e adultos catam comida e materiais recicláveis paravender. No lixão o lixo fica exposto sem nenhum procedimento queevite as conseqüências ambientais e sociais negativas

Já o aterro controlado é uma fase intermediária entre o lixão e o aterrosanitário. Normalmente é uma célula adjacente ao lixão que foiremediado, ou seja, que recebeu cobertura de argila, e grama(idealmente selado com manta impermeável para proteger a pilha daágua de chuva) e captação de chorume e gás. Esta célula adjacente épreparada para receber resíduos com uma impermeabilização commanta e tem uma operação que procura dar conta dos impactosnegativos tais como a cobertura diária da pilha de lixo com terra ououtro material disponível como forração ou saibro. Tem tambémrecirculação do chorume que é coletado e levado para cima da pilha delixo, diminuindo a sua absorção pela terra ou eventuamente outro tipode tratamento para o chorume como uma estação de tratamento paraeste efluente

Mas a disposição adequada dos resíduos sólidos urbanos é o aterrosanitário que antes de iniciar a disposição do lixo teve o terrenopreparado previamente com o nivelamento de terra e com o selamentoda base com argila e mantas de PVC, esta extremamente resistente.Desta forma, com essa impermeabilização do solo, o lençol freático não

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será contaminado pelo chorume. Este é coletado através de drenos dePEAD, encaminhados para o poço de acumulação de onde, nos seisprimeiros meses de operação é recirculado sobre a massa de lixoaterrada. Depois desses seis meses, quando a vazão e os parâmetros jásão adequados para tratamento, o chorume acumulado seráencaminhado para a estação de tratamento de efluentes. A operação doaterro sanitário, assim como a do aterro controlado prevê a coberturadiária do lixo, não ocorrendo a proliferação de vetores, mau cheiro epoluição visual.

No entanto, para ser considerado um aterro sanitário, há uma série deexigências a serem seguidas, a começar o tipo de solo, que tem ser de baixapermeabilidade, longe de núcleos populacionais (distância mínima de 500 metros),rodovias e estradas (distância mínima de 100 metros), e cursos d'água (distância mínimade 300 metros).

O aterro sanitário deve operar de modo a fornecer proteção ao meioambiente, evitando a contaminação das águas subterrâneas pelochorume (líquido de elevado potencial poluidor, de cor escura e de odordesagradável, resultado da decomposição da matéria orgânica),evitando o acúmulo do biogás resultante da decomposição anaeróbia dolixo no interior do aterro. O biogas pode sair do interior do aterro deforma descontrolada ou infiltrar pelo solo e atingir redes de esgotos,fossas e poços rasos podendo causar explosões.

A seguir são listadas algumas das principais caractrísticas do aterro:

- Impermeabilização da base do aterro: evita o contato do chorume comas águas subterrâneas. A impermeabilização pode ser feita com argilaou geomenbranas sintéticas;

- Instalação de drenos de gás: canal de saída do gás do interior doaterro. Os drenos podem ser construídos de concreto ou de PEAD,podendo receber uma conexão final de aço-inox quando a célula forfechada. O biogás pode ser recolhido para o aproveitamento energéticoatravés da ligação de todos os drenos verticais com um ramal central

- Sistema de coleta de chorume: a coleta de chorume deve ser feita pelabase do aterro. O chorume coletado é enviado a lagoas previamentepreparadas com impermeabilização do seu contorno ou enviados paratanques de armazenamento fechados;

- Sistema de tratamento de chorume: após coletado, o chorume deve sertratado antes de ser descartado no curso de um rio ou em uma lagoa. Otratamento pode ser feito no próprio local ou o chorume coletado podeser transportado para um local apropriado (geralmente uma Estação deTratamento de Esgotos). Os tipos de tratamento mais convencionais sãoo tratamento biológico (lagoas anaeróbias, aeróbias e lagoas deestabilização), tratamento por oxidação (evaporação e queima) outratamento químico (adição de substâncias químicas ao chorume);

- Sistema de drenagem de águas pluviais: o sistema de captação edrenagem de águas de chuva visa escorrer a água por locais apropriados

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1 Art. 8o A execução das obras e dos serviços deve programar-se, sempre, em sua totalidade, previstos seuscustos atual e final e considerados os prazos de sua execução.Parágrafo único. É proibido o retardamento imotivado da execução de obra ou serviço, ou de suas parcelas,se existente previsão orçamentária para sua execução total, salvo insuficiência financeira ou comprovadomotivo de ordem técnica, justificados em despacho circunstanciado da autoridade a que se refere o art. 26desta Lei.

para evitar a infiltração que gera o chorume). (fonte:www.cetesb.sp.gov.br).

A concessão anterior (para transporte e destinação de lixo no lixão – DomAntônio Barbosa I), realizada por meio da concorrência Pública n. 032/2005, autorizadapela Lei n. 4.050, de 25 de junho de 2003, previa sua exploração pelo prazo de 20 anos(segundo a lei). No entanto, não se tem notícias do tempo de vigência do contratoresultante desta licitação, considerando que a empresa Financial Construtora IndustrialLtda. foi contratada emergencialmente em março de 2012, que até então teria vigoradopor apenas sete anos.

Em 2006 foi realizada a licitação (edital de concorrência n. 26/2006) paraobras de instalação do aterro sanitário, que hoje corresponde ao Dom Antônio BarbosaII, que teve por vencedora a empresa Anfer Construções e Comércio Ltda., cujorepresentante legal é Antônio Fernando de Araújo Garcia, que por coincidência tambémé o representante legal da empresa Financial uma das componentes do atual consórcioSolurb vencedor da licitação em análise, e que também era a empresa vencedora daConcorrência n. 032/2005 para transporte e destinação final do lixo em Campo Grande,pelo menos até 2012, quando foi contratada emergencialmente, conforme já exposto.

A licitação na modalidade concorrência n. 26/2006 resultou no Contrato n.246/2006, tendo por objeto a instalação dos setores 1, 2, 3 e 4 e recuperação do lixão, eobteve licença de instalação com validade até 20 de janeiro de 2008. Entretanto, foramsuspensas essas obras a partir de março de 2008, e retomadas em maio de 2012 (mês depublicação da concorrência 66/2012, objeto destaação), fato que inclusive, ofendeu a legislação1.

Dentre as especificações desse contrato estava previsto a impermeabilizaçãodo solo por meio de manta de polietileno de alta densidade - PEAD de 2 mm deespessura.

Ocorre que sem qualquer justificativa, tal especificação foi alterada pormanta PEAD de 1,5 mm de espessura, sem qualquer penalização para a empresa (AnferConstruções e Comércio Ltda.).

Frise-se que foi firmado um Convênio entre a Fundação Nacional da Saúde –FUNASA e o Município de Campo Grande/MS, a quem seriam destinados três milhõesde reais para a implantação do aterro sanitário neste Município. Ocorre que, ao menos a

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princípio, o numerário sequer foi repassado ao Município por este não ter cumprido asmetas necessárias e previstas no Convênio n. 2376/2005.

Em 2011 após edital de concorrência também foi firmado o Contrato n. 104,de 02 de março de 2011 com a vencedora da licitação, a empresa Sotef SociedadeTécnica de Engenharia e Fundações Ltda., cujo representante legal é AlvorindoRavagnani Junior, tendo por objeto a implantação de Usina de Triagem no aterrosanitário de Campo Grande/MS, sendo: implantação de usina de processamento de lixo- UPL, implantação de tratamento de lixo hospitalar, construção de guarita, degalpão, dissorção térmica e administração na usina de triagem, no valor de R$2.259.882,54 (dois milhões, duzentos e cinquenta e nove mil e oitocentos e oitenta edois reais e cinquenta e quatro centavos).

Portanto, em sete anos, o Município não executou as obrigações que lhecabia, paralisou as obras e somente seis anos depois licitou a implantação da Usina, quesequer foi pra frente, pois como se sabe, é público e notório que se algo foi feito nolocal, corresponde a meros 15% (quinze por cento), no máximo, da obra prevista.

Aqui, abre-se um parêntesis, para esclarecer que realmente o objeto daconcorrência n. 26/2006 não é exatamente o mesmo da concorrência n. 66/2012 (cujanulidade se pleiteia), pois neste não se dará seguimento à implantação do aterrosanitário Dom Antônio Barbosa II, mas sim à sua operação. Porém, inegavelmente hápontos de contato, como por exemplo a recuperação do "Lixão" (Dom Antônio BarbosaI), bem como envolve os objetos das concorrências 032/2005 (transporte e destinaçãofinal) e da concorrência que levou à contratação da empresa Sotef Sociedade Técnica deEngenharia e Fundações Ltda., na medida em que a novel licitação dará sequência àimplantação de Usina de Triagem (usina de processamento de lixo – UPL),olvidando-se o Município da questão do tratamento final dos resíduos sólidos de saúde.

Os compromissos assumidos pelo Município na época também previam aconstrução de 300 (trezentas) unidades habitacionais, a ser destinadas aos catadores delixo.

Foi realizada a concorrência n. 69/2009 que culminou na celebração docontrato n. 01/2010, tendo por objeto a construção de 225 (duzentos e vinte e cinco)unidades habitacionais, no valor total de R$ 4.267.568,33 (quatro milhões, duzentos esessenta e sete mil, quinhentos e sessenta e oito reais e trinta e três centavos). E, estaárea ainda depende de regularização fundiária (obrigação assumida pelo Município).

Ocorre que nos autos 001.06.011520-4 restou comprovado apenas a entregade 125 (cento e vinte e cinco) unidades habitacionais, não se tendo notícias se foramentregues as demais cem casas.

Pois bem, tecidas estas considerações, ao núcleo processual.

Trata-se de ação popular em que se visa a anulação do procedimentolicitatório.

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Inicialmente esclareça-se que a concessão na modalidade público-privadaestá prevista na Lei n. 11.079, de 30.12.2004, enquanto a concessão comum, na Lei n.8.987, de 13.02.1995.

O autor popular Athayde Nery de Freitas Jr. questionou a observância daforma jurídica adequada por ausência de lei específica a regular o processo licitatóriomencionando o art. 7º, § 3º, da Lei Federal n. 11.079/2004.

Entretanto, tal parágrafo não existe no artigo 7º, mas da leitura dos fatostrazidos pelo autor extrai-se que se referiu ao parágrafo 3º do art. 10 (e não art. 7º): "§3o As concessões patrocinadas em que mais de 70% (setenta por cento) daremuneração do parceiro privado for paga pela Administração Pública dependerão deautorização legislativa específica”.

Ocorre que a modalidade eleita pela Administração Pública Municipal nãofoi a concessão patrocinada (embora o Conselho de Regulação tenha sido favorável aesta modalidade, conforme documentos apresentados - Ata da 52ª sessão ordinária - ,em parecer do dia 17 de abril de 2012 no processo administrativo n. 106897/2011-00),mas a administrativa (contraprestação de recursos públicos do parceiro público para oparceiro privado), prevista no art. 2º, § 2º da mesma lei: “Concessão administrativa é ocontrato de prestação de serviços de que a Administração Pública seja a usuária diretaou indireta, ainda que envolva execução de obra ou fornecimento e instalação debens”, ou seja, sem contrapartida dos usuários, pois não será cobrada qualquer tarifareferente ao serviço de coleta de lixo, muito embora atualmente a coleta de lixo sejaprevista como base de cálculo do ISS, segundo o Código Tributário Municipal, que é de1973, art. 155, diferentemente dos Códigos anteriores que previam a ocorrência paraincidência do IPTU.

Esse tipo de concessão (administrativa) rege-se, conforme art. 3º da Lei11.079, pelo disposto nos artigos 21, 23, 25 e 27 a 39 da Lei n. 8.987, de 13.02.1995 eno art. 31 da Lei n. 9.074, de 07.07.1995, além de estar regulamentada pelo Decreto n.5.977, de 1º de dezembro de 2006.

No entanto, em se tratando de ação popular e cabendo ao juiz a aplicação dalei, razão de ser da expressão latina: “da mihi factum, dabo tibi jus” (dá-me o fato,dar-te-ei o direito), os fatos trazidos pelo autor subsumem-se a vários dispositivos daLei da Ação Popular:

Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulaçãoou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União,do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de entidadesautárquicas, de sociedades de economia mista , de sociedades mútuas deseguro nas quais a União represente os segurados ausentes, de empresaspúblicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou fundaçõespara cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ouconcorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receitaânua, de empresas incorporadas ao patrimônio da União, do DistritoFederal, dos Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas

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ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos.Considerando o alto valor que sairá dos cofres públicos (quase dois bilhões

de reais, em 25 anos, o que corresponde a 300 meses, e portanto, a mais de seis milhõespor mês) para realização da coleta, que não abrangerá 100% do lixo produzido nacapital, também é fundamento:

Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidadesmencionadas no artigo anterior, nos casos de:a) incompetência;b) vício de forma;c) ilegalidade do objeto;d) inexistência dos motivos;e) desvio de finalidade.Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidadeobservar-se-ão as seguintes normas:a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nasatribuições legais do agente que o praticou;b) o vício de forma consiste na omissão ou na observânciaincompleta ou irregular de formalidades indispensáveis à existênciaou seriedade do ato;c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa emviolação de lei, regulamento ou outro ato normativo;d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou dedireito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente oujuridicamente inadequada ao resultado obtido;e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o atovisando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, naregra de competência.

Haja vista que não foram obedecidas certas disposições da Lei de Licitações,importando observância incompleta ou irregular de formalidades indispensáveis àexistência ou seriedade do ato, incluindo-se aqui a restrição ao caráter competitivo quedeve existir nos procedimentos licitatórios, violado foi as seguintes disposições:

Art. 4º São também nulos os seguintes atos ou contratos, praticados oucelebrados por quaisquer das pessoas ou entidades referidas no art. 1º.(...)III - A empreitada, a tarefa e a concessão do serviço público, quando:(...)b) no edital de concorrência forem incluídas cláusulas ou condições,que comprometam o seu caráter competitivo;”c) a concorrência administrativa for processada em condições queimpliquem na limitação das possibilidades normais de competição.

Os fundamentos apresentados pelo autor popular Athayde Nery de FreitasJunior restaram superados. Primeiro, porque esclarecida a modalidade eleita pelaAdministração (administrativa, e não, patrocinada), segundo, porque há lei específicapermitindo a realização do certame na modalidade escolhida.

O evento Rio +20, realizada em junho de 2012, embora utilizado comoargumento para a tutela, foi realizado após a consulta pública (dezembro de 2011 afevereiro de 2012) e publicação do edital (maio de 2012), não havendo exigência legal

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alguma a esse respeito.

Quanto a questão da audiência pública e demais alegações apresentadas nosautos em referência, passam a ser analisadas com o exame de mérito da ação popular deThiago Verrone de Souza.

Analisando detidamente todas as alegações trazidas por ambos os autorespopulares, entendo que as apresentadas pelo autor popular Athayde Nery de Freitas Jr.,não procedem, e algumas trazidas pelo autor Thiago Verrone de Souza, procedem.

A alegada ausência de lei específica já foi superada, bem como oesclarecimento quanto à modalidade de parceria público-privada.

No mais, é de notar que a licitação ora em exame, juntamente com a dostransportes, dentre outras questões, foram todas realizadas ao apagar das luzes deadministração longeva (oito anos), optando-se ainda por um modelo de descarte de lixoque não é dos mais modernos, que não gera energia, seja por gás, seja por queimadireta, muito embora aleguem que muitos e profundos estudos foram efetuados nesselapso de tempo.

Aliás, diga-se de passagem que é geralmente nessa época do ano (entre natale ano-novo) que o legislativo aprova leis polêmicas, como por exemplo, a de aumentode seus vencimentos, outras que afetam direitos e garantias fundamentais (gerandoinconstitucionalidades, por se tratar de cláusulas pétreas), etc., e recebem mais por isso(sessões extraordinárias), em razão de não o terem feito nas sessões ordinárias. Pelo quese constata, com o executivo não é diferente.

Entretanto, segundo a Lei de Licitações (art. 39), a realização da audiênciapública respeitou os ditames legais, como facilmente se extrai da leitura do dispositivo:

Art. 39. Sempre que o valor estimado para uma licitação ou para umconjunto de licitações simultâneas ou sucessivas for superior a 100(cem) vezes o limite previsto no art. 23, inciso I, alínea "c" desta Lei, oprocesso licitatório será iniciado, obrigatoriamente, com umaaudiência pública concedida pela autoridade responsável comantecedência mínima de 15 (quinze) dias úteis da data prevista paraa publicação do edital, e divulgada, com a antecedência mínima de10 (dez) dias úteis de sua realização, pelos mesmos meios previstospara a publicidade da licitação, à qual terão acesso e direito a todas asinformações pertinentes e a se manifestar todos os interessados.

Igualmente, a alegada ausência de publicação dos projetos técnicos paraconsulta pública, haja vista que são requisitos do edital, os previstos no art. 40 da Lei deLicitações, de onde se extrai que não é obrigatória a publicação do projeto com o edital,mas a indicação de onde pode ser examinado/adquirido, muito embora dele (do edital)faça parte:

Art. 40. O edital conterá no preâmbulo o número de ordem em sérieanual, o nome da repartição interessada e de seu setor, a modalidade, o

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regime de execução e o tipo da licitação, a menção de que será regidapor esta Lei, o local, dia e hora para recebimento da documentação eproposta, bem como para início da abertura dos envelopes, e indicará,obrigatoriamente, o seguinte:

I - objeto da licitação, em descrição sucinta e clara;II - prazo e condições para assinatura do contrato ou retirada dosinstrumentos, como previsto no art. 64 desta Lei, para execução docontrato e para entrega do objeto da licitação;III - sanções para o caso de inadimplemento;IV - local onde poderá ser examinado e adquirido o projeto básico;V - se há projeto executivo disponível na data da publicação doedital de licitação e o local onde possa ser examinado e adquirido;VI - condições para participação na licitação, em conformidade com osarts. 27 a 31 desta Lei, e forma de apresentação das propostas;VII - critério para julgamento, com disposições claras e parâmetrosobjetivos;VIII - locais, horários e códigos de acesso dos meios de comunicaçãoà distância em que serão fornecidos elementos, informações eesclarecimentos relativos à licitação e às condições paraatendimento das obrigações necessárias ao cumprimento de seuobjeto;IX - condições equivalentes de pagamento entre empresas brasileiras eestrangeiras, no caso de licitações internacionais;X - o critério de aceitabilidade dos preços unitário e global, conforme ocaso, permitida a fixação de preços máximos e vedados a fixação depreços mínimos, critérios estatísticos ou faixas de variação em relação apreços de referência, ressalvado o dispostos nos parágrafos 1º e 2º doart. 48;XI - critério de reajuste, que deverá retratar a variação efetiva do custode produção, admitida a adoção de índices específicos ou setoriais,desde a data prevista para apresentação da proposta, ou do orçamento aque essa proposta se referir, até a data do adimplemento de cadaparcela;XII – Vetado;XIII - limites para pagamento de instalação e mobilização paraexecução de obras ou serviços que serão obrigatoriamente previstos emseparado das demais parcelas, etapas ou tarefas;XIV - condições de pagamento, prevendo:a) prazo de pagamento não superior a trinta dias, contado a partir dadata final do período de adimplemento de cada parcela;b) cronograma de desembolso máximo por período, em conformidadecom a disponibilidade de recursos financeiros;c) critério de atualização financeira dos valores a serem pagos, desde adata final do período de adimplemento de cada parcela até a data doefetivo pagamento;d) compensações financeiras e penalizações, por eventuais atrasos, edescontos, por eventuais antecipações de pagamentos;e) exigência de seguros, quando for o caso;XV - instruções e normas para os recursos previstos nesta Lei;XVI - condições de recebimento do objeto da licitação;XVII - outras indicações específicas ou peculiares da licitação.

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(...)§ 2o Constituem anexos do edital, dele fazendo parte integrante:I - o projeto básico e/ou executivo, com todas as suas partes,desenhos, especificações e outros complementos;II - orçamento estimado em planilhas de quantitativos e preçosunitários;III - a minuta do contrato a ser firmado entre a Administração e olicitante vencedor;IV - as especificações complementares e as normas de execuçãopertinentes à licitação.

Da mesma forma, a comunicação posterior à publicação do edital danecessidade da certidão negativa de débitos trabalhistas não afetou a formulação daspropostas, de forma que não houve violação ao art. 21, § 4º, da Lei n. 8.666/93:

Qualquer modificação no edital exige divulgação pela mesma formaque se deu o texto original, reabrindo-se o prazo inicialmenteestabelecido, exceto quando, inqüestionavelmente, a alteração nãoafetar a formulação das propostas.

Em derradeiro, embora a cobrança do valor de R$ 1.000,00 (mil reais) nãoseja suficiente para anular o certame, pois se tratava de despesa com a extração dascópias dos documentos, é oportuno destacar o quanto a Administração PúblicaMunicipal não avançou no quesito sustentabilidade ambiental, sequer na forma comorealiza suas licitações (que se dirá em outras áreas), sendo lamentável esta constataçãoda (ainda) realidade (atual).

Já estamos vivendo na Era Digital, e a Administração Pública ainda se dá aotrabalho, em prejuízo ao meio ambiente, de extrair cópias para vender aos interessadosparticipantes de um certame. Ora, ainda que o procedimento tenha que, de fato, ficarregistrado documentalmente, isso pode ficar limitado ao expediente interno dostrabalhos da administração pública, sendo possível digitalizar todo o procedimento, oquê garantiria maior participação e publicidade ao certame, princípios mais importantes(maiores) do que a arrecadação aos cofres públicos com tais aquisições.

Por tais motivos, a ação popular movida pelo autor popular Athayde Nery deFreitas Jr. resta improcedente.

Com relação à ação popular de Thiago Verrone de Souza, restam superadasas alegações coincidentes do outro autor, bem como as já expostas. Contudo, merecemprocedência as demais alegações.

Com relação à dupla garantia exigida no edital, eis o teor da norma inserta noart. 31 da Lei de Licitações:

A documentação relativa à qualificação econômico-financeiralimitar-se-á a:I - balanço patrimonial e demonstrações contábeis do último exercíciosocial, já exigíveis e apresentados na forma da lei, que comprovem aboa situação financeira da empresa, vedada a sua substituição porbalancetes ou balanços provisórios, podendo ser atualizados por índices

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oficiais quando encerrado há mais de 3 (três) meses da data deapresentação da proposta;II - certidão negativa de falência ou concordata expedida pelodistribuidor da sede da pessoa jurídica, ou de execução patrimonial,expedida no domicílio da pessoa física;III - garantia, nas mesmas modalidades e critérios previstos no"caput" e § 1o do art. 56 desta Lei, limitada a 1% (um por cento) dovalor estimado do objeto da contratação.§ 1o A exigência de índices limitar-se-á à demonstração da capacidadefinanceira do licitante com vistas aos compromissos que terá queassumir caso lhe seja adjudicado o contrato, vedada a exigência devalores mínimos de faturamento anterior, índices de rentabilidade oulucratividade.§ 2o A Administração, nas compras para entrega futura e na execuçãode obras e serviços, poderá estabelecer, no instrumento convocatório dalicitação, a exigência de capital mínimo ou de patrimônio líquidomínimo, ou ainda as garantias previstas no § 1o do art. 56 desta Lei,como dado objetivo de comprovação da qualificaçãoeconômico-financeira dos licitantes e para efeito de garantia aoadimplemento do contrato a ser ulteriormente celebrado.§ 3o O capital mínimo ou o valor do patrimônio líquido a que serefere o parágrafo anterior não poderá exceder a 10% (dez porcento) do valor estimado da contratação, devendo a comprovação serfeita relativamente à data da apresentação da proposta, na forma da lei,admitida a atualização para esta data através de índices oficiais.§ 4o Poderá ser exigida, ainda, a relação dos compromissos assumidospelo licitante que importem diminuição da capacidade operativa ouabsorção de disponibilidade financeira, calculada esta em função dopatrimônio líquido atualizado e sua capacidade de rotação.§ 5o A comprovação de boa situação financeira da empresa será feita deforma objetiva, através do cálculo de índices contábeis previstos noedital e devidamente justificados no processo administrativo dalicitação que tenha dado início ao certame licitatório, vedada aexigência de índices e valores não usualmente adotados para corretaavaliação de situação financeira suficiente ao cumprimento dasobrigações decorrentes da licitação.

O art. 56, por sua vez, expressa:Art. 56. A critério da autoridade competente, em cada caso, e desde queprevista no instrumento convocatório, poderá ser exigida prestação degarantia nas contratações de obras, serviços e compras.§ 1o Caberá ao contratado optar por uma das seguintes modalidades degarantia:I - caução em dinheiro ou em títulos da dívida pública, devendo estester sido emitidos sob a forma escritural, mediante registro em sistemacentralizado de liquidação e de custódia autorizado pelo Banco Centraldo Brasil e avaliados pelos seus valores econômicos, conforme definidopelo Ministério da Fazenda;II - seguro-garantia;III - fiança bancária.§ 2o A garantia a que se refere o caput deste artigo não excederá acinco por cento do valor do contrato e terá seu valor atualizado nas

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mesmas condições daquele, ressalvado o previsto no parágrafo 3o desteartigo.§ 3o Para obras, serviços e fornecimentos de grande vultoenvolvendo alta complexidade técnica e riscos financeirosconsideráveis, demonstrados através de parecer tecnicamenteaprovado pela autoridade competente, o limite de garantia previstono parágrafo anterior poderá ser elevado para até dez por cento dovalor do contrato.§ 4o A garantia prestada pelo contratado será liberada ou restituída apósa execução do contrato e, quando em dinheiro, atualizadamonetariamente.§ 5o Nos casos de contratos que importem na entrega de bens pelaAdministração, dos quais o contratado ficará depositário, ao valor dagarantia deverá ser acrescido o valor desses bens.

Da simples leitura do dispositivo extrai-se que não é possível a presençasimultânea em um único edital de licitação, de capital mínimo ou de patrimônio líquidomínimo e a denominada "garantia de participação" (limitada a 1% do valor estimadopara o contrato). Portanto, tais hipóteses permitem de fato uma atuação discricionária dogestor na escolha da melhor forma, dentre as três alternativas disponibilizadas pela lei,de comprovar a qualificação econômico-financeira dos licitantes, mas não podem serutilizadas de forma concomitante.

Esse inclusive é o entendimento jurisprudencial, cujas manifestaçõesrepetitivas se converteram na Súmula n. 275 do TCU: "Para fins de qualificaçãoeconômico-financeira, a Administração pode exigir das licitantes, DE FORMA NÃOCUMULATIVA, capital social mínimo, patrimônio líquido mínimo ou garantias queassegurem o adimplemento do contrato a ser celebrado, no caso de compras paraentrega futura e de execução de obras e serviços".

No presente caso a Administração exigiu capital social mínimo de R$53.000.000,00 (cinquenta e três milhões de reais) e garantia de manutenção da propostano valor de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais), podendo esta ser prestadamediante caução em dinheiro, títulos da dívida pública, fiança bancária ouseguro-garantia.

Embora o Município alegue ter feito a dupla exigência em razão damagnitude da licitação, pelos valores que se menciona não se constata a devidacorrespondência do valor do contrato e das garantias (ainda que cumuladas), nãohavendo magnitude alguma nestas, talvez porque estivesse intuindo que a empresavencedora não conseguiria garantir o contrato com as garantias impostas isoladamente,haja vista os bilhões envolvidos.

Logo, razão assiste ao autor popular (também) nesse tópico.

A licitação é o procedimento que precede o contrato administrativo, dandopublicidade à intenção de contratar do poder público, tendo por objeto bem obra ouserviço, convocando assim os interessados e deve desenvolver-se por meio de uma

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sucessão ordenada de atos vinculantes para a Administração e para os licitantes, emrazão de critérios objetivos previamente estabelecidos, propiciando igual oportunidade atodos os interessados, atuando como fator de eficiência, impessoalidade e moralidadenos negócio administrativos.

Necessário esclarecer que o Brasil é uma República Federativa. A origem dapalavra "República" vem da composição das palavras em latim: "res" e "publica", quesignifica COISA PÚBLICA (do povo, da população, da coletividade), indicando que agestão deve conter os atributos previstos na Carta Constitucional, a saber: publicidade(oportunizando chances iguais), impessoalidade (sem favoritismos), e demais conceitoscontidos no art. 37 da Constituição, e outros, explícitos e/ou implícitos, que vedam demodo geral o favorecimento, a indicação, o benefício, a terceiros, pessoas físicas oujurídicas.

Nessas condições, perde sempre a coletividade, por ausência decompetitividade, preço e condições.

Sabe-se que possibilitar a competição entre os licitantes interessados emcontratar com a Administração Pública é a principal meta perseguida pela Lei n.8.666/93, por isso são licitáveis unicamente objetos que possam ser fornecidos por maisde uma pessoa, uma vez que a licitação supõe DISPUTA, concorrência, ao menospotencial, entre os ofertantes. Essa é a regra.

Como toda regra tem sua exceção, e por esta é confirmada, quando isso não épossível ou em casos que comprometam o interesse público, a licitação será dispensada(alienação de bens por ato vinculado, nos casos previstos na lei), dispensável (juízo deconveniência e oportunidade, nos casos previstos na lei) ou inexigível (quando háinviabilidade de competição - fática, lógica ou jurídica).

A descrição sucinta e CLARA do objeto é condição de legalidade do edital e,por via de consequência, da licitação e do contrato superveniente, e isso deve estarprevisto no edital, e não em seus anexos.

A licitação está sujeita a determinados princípios que norteiam toda aatividade administrativa, que se não observados descaracteriza o instituto e invalida seuresultado seletivo, dentre eles se encontram os princípios da legalidade, publicidade,igualdade, moralidade, impessoalidade, julgamento objetivo, etc.

A igualdade entre os licitantes é princípio impeditivo da discriminação entreos participantes do certame, quer através de cláusulas que, no edital ou convite,favoreçam uns em detrimento de outros, quer mediante julgamento parcial. Odesatendimento a esse princípio constitui desvio de poder.

O princípio da impessoalidade aparece, na licitação, intimamente ligado aosprincípios da isonomia e do julgamento objetivo: todos os licitantes devem ser tratadosigualmente, em termos de direitos e obrigações, devendo a Administração, em suasdecisões, pautar-se por critérios objetivos, sem levar em consideração as condições

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pessoais do licitante ou as vantagens por ele oferecidas, salvo as expressamenteprevistas na lei ou no instrumento convocatório.

De maneira que é evidente que houve restrição ao caráter competitivo quedeve existir nos procedimentos licitatórios.

E isso está facilmente constatado com a exigência de aquisição por parte daempresa candidata a concessionária da área a ser instalado o aterro sanitário a serdenominado de Ereguaçu, e indicação de mais duas áreas, bem como com a exigênciade compra de apenas um modelo de moinho e carregador hidráulico de determinadofabricante, e ainda, com a limitação do número de empresas para formação dosconsórcios.

Ainda que não configure atentado ao princípio da igualdade oestabelecimento de requisitos mínimos de participação, tais exigências notoriamentefrustram o caráter competitivo que deve haver na licitação.

Como se sabe, frustra-se o caráter competitivo da licitação quando, porexemplo, ajusta-se no edital exigência que poucos podem satisfazer, quando se fixaprazo exíguo para apresentação de propostas e restringe-se as características, de modo apossibilitar a habilitação de uma única empresa, além de outras manobras utilizadaspara tanto.

Considerando esta premissa, importa destacar o fato de deixar a cargo doproponente a escolha do local onde será aceito ou não a instalação de um novo aterrosanitário, bem como a exigência de máquinas de marca delimitada.

Por isso a Lei de Licitações estabeleceu no art. 3º, § 1º e art. 7º, § 5º:Art. 3o A licitação destina-se a garantir a observância do princípioconstitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para aadministração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável eserá processada e julgada em estrita conformidade com os princípiosbásicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade,da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação aoinstrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes sãocorrelatos.§ 1º É vedado aos agentes públicos:I - admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação,cláusulas ou condições que comprometam, restrinjam ou frustremo seu caráter competitivo, inclusive nos casos de sociedadescooperativas, e estabeleçam preferências ou distinções em razão danaturalidade, da sede ou domicílio dos licitantes ou de qualqueroutra circunstância impertinente ou irrelevante para o específicoobjeto do contrato, ressalvado o disposto nos §§ 5o a 12 deste artigo eno art. 3o da Lei no 8.248, de 23 de outubro de 1991;

§ 5o É vedada a realização de licitação cujo objeto inclua bens eserviços sem similaridade ou de marcas, características e especificaçõesexclusivas, salvo nos casos em que for tecnicamente justificável, ou

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ainda quando o fornecimento de tais materiais e serviços for feito sob oregime de administração contratada, previsto e discriminado no atoconvocatório.§ 6o A infringência do disposto neste artigo implica a nulidade dos atosou contratos realizados e a responsabilidade de quem lhes tenha dadocausa.

Até seria possível que a Administração Pública exigisse determinadomodelo, desde que fundamentasse os motivos que a levaram a isso, seria porquê aIguaçumec Eletromecânica Ltda. é a única a fabricar equipamentos de reciclagem- AsEmpresas participantes não poderiam trazer outros equipamentos inclusive maismodernos-

Em consulta a indústrias de reciclagem na internet também encontramos aempresa Vantec Máquinas Ltda., que possui em sua linha de fabricação trituradores,moinhos, prensas e compostagem, nenhum modelo desta empresa prestaria para oobjeto da licitação (implantação da UTR)-

Aliás, indiretamente, essa questão está violando o art. 15, § 7º, inciso I, daLegislação (utilizando-se da empresa vencedora), que impõe à Administração observarnas compras, a especificação completa do bem a ser adquirido SEM INDICAÇÃO DEMARCA.

Igual razão assiste ao autor popular.

No item 2.1.15 do edital, que trata da “implantação, operação e manutençãodo novo aterro sanitário a ser denominado de “Ereguaçu”, numa área que permita ofuncionamento para recepção resíduos sólidos domiciliares urbanos, durante operíodo de vigência da concessão, os subitens estão assim nomeados:

2.1.15.2.1. Serviços de Topografia;2.1.15.2.2. Controle das Tecnologias Aplicadas;2.1.15.2.3. Considerações sobre a Movimentação de Terra;2.1.15.2.4. Implantação dos Caminhos de Serviço;2.1.15.2.5. Revestimento Vegetal;2.1.15.2.6. Sistema de Impermeabilização das Células e da Bacia deChorume;2.1.15.2.7. O sistema de impermeabilização da Bacia de Acumulação deChorume deverá ser constituído do seguinte;2.1.15.2.8. Os requisitos mínimos para fabricação, inspeção,fornecimento e instalação da manta de proteção, são os seguintes;2.1.15.2.9. A drenagem interna de chorume deverá ser constituída dedrenos cegos de brita que se desenvolvem ao longo do pé dos taludesinternos e transversalmente a base da célula interligando-se com odreno central;2.1.15.2.10. O dreno central com elevada capacidade de vazão seráconstituído de um tubo de polietileno de alta densidade, ranhurado, comadequado, envolvido por camadas de transição constituídas de brita(8-16 mm) e de petriscos (4-8 mm);2.1.15.2.11. Especificação do Sistema de Tratamento de Líquidos;2.1.15.2.12. Controle de Vetores;

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2.1.15.2.13. Engenharia Consultiva;2.1.15.2.14. Controles Gerenciais;2.1.15.2.15. Cercamento do Empreendimento;2.1.15.2.16. Vigilância do Empreendimento;2.1.15.2.17. Acessos e Pátios de Descarga de Resíduos;2.1.15.2.18. Descarga, Espalhamento, Compactação e Cobertura dosRejeitos a serem Aterrados;2.1.15.2.19. Implantação do Sistema de Drenagem de Gases;2.1.15.2.20. Implantação do Sistema de Drenagem de Percolados noInterior do Maciço;2.1.15.2.21. Implantação da Drenagem de Percolado no Perímetro daCélula;2.1.15.2.22. Implantação de Sistema de Drenagem de ÁguasSuperficiais;2.1.15.2.23. Drenos;2.1.15.2.24. Monitoramento;2.1.15.2.25. Manutenção Geral e das Instalações Existentes;2.1.15.2.26. Tickets de Pesagem;2.1.15.2.27. Sobre a Área a ser Adquirida para Implantação doAterro Sanitário “EREGUAÇU”;

2.1.15.2.28. Ações complementares e Ratificação de Ações.

O subitem 2.1.15.2.27 contém mais seis subitens, mas seu texto integral estáassim redigido:

Descrição geral do Aterro Sanitário, incluindo localização da zona dedisposição de obras em função das especificidades do terreno, altitudemáxima a ser atingida, altura das células, volume disponibilizado edescrição dos parâmetros considerados para a definição dessamorfologia;

A área mínima exigida para a implantação do Aterro Sanitário é de 50(cinquenta) hectares;Locação da Área número 01 (um), em planta (visão geral e detalhe) domunicípio, levantamento planialtimétrico, demonstração decompatibilidade de requisitos relacionados no termo de referênciada SEMAC/IMASUL, para o licenciamento deste tipo deempreendimento, compromisso de compra e venda da área caso dolicitante seja o vencedor do certame e justificativa da escolha da área,comparativamente com as fases do licenciamento (LP, LI e LO).Indicação de outras duas áreas alternativas, com as respectivas locaçõesem planta (visão geral e detalhe) do município, com as respectivasjustificativas da escolha das áreas, comparativamente com as fases dolicenciamento (LP, LI e LO), para atendimento ao objeto da licitação,caso a área número 01 (um) for reprovada em qualquer fase dolicenciamento.Cronograma da construção e da operação das diversas fases do Aterro,incluindo a obtenção das diversas licenças necessárias.Demonstrar, através de uma conclusão sucinta, as premissas da escolhada área número 01 (um), a fim de minimizar o risco de impacto sobre omeio ambiente, incluindo comentários resumidos sobre as interferênciascom o ecossistema local, recursos hídricos, solo, vegetação, meio

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antrópico e fauna.

O plano diretor do município de Campo Grande deve prever as áreas em queé possível a instalação de um aterro sanitário, uma vez que um aterro sanitário que iráoperar, possivelmente, por 35 (trinta e cinco) anos, não pode ser instalado em qualquerlugar da cidade à escolha do concorrente à licitação.

Em nenhum local do edital foi sequer citada a Lei Complementar n. 94, de 6de outubro de 2006 que institui a Política de Desenvolvimento e o Plano Diretor deCampo Grande/MS, a Lei n. 2.567, de 8 de dezembro de 1988, que criou a Guia deDiretrizes Urbanísticas – GDU, o Decreto n. 9.817, de 11 de janeiro de 2007, queregulamenta a emissão de Guias de Diretrizes Urbanísticas para EmpreendimentosGeradores de Impacto de Vizinhança – GUIV, ou a Lei Complementar n. 74, de 6 desetembro de 2005, que dispõe sobre o ordenamento do uso e da ocupação do solo noMunicípio de Campo Grande, de onde se extrai que a atividade de aterro sanitário éatividade ou empreendimento enquadrada como de uso especial previsto no Anexo IV,tabela 6, item E-16, que segundo o Anexo III, só podem operar nas zonas 2, 6 e rural.

Art. 22. A administração municipal, por meio do Instituto Municipal dePlanejamento Urbano - PLANURB fornecerá diretrizes urbanísticas,como etapa precedente para: I - parcelamentos nas modalidades dedesmembramento de área superior a 2 (duas)hectares, loteamento emárea urbana e rural, urbanização integrada, urbanização integrada deinteresse social e regularização fundiária; II -atividades enquadradas nacategoria de uso especial, exceto para a categoria de uso E1;

VII - empreendimentos ou atividades geradoras de impacto navizinhança.

Art. 24. Quando o empreendimento ou atividade gerar impacto quecause alteração significativa nas características urbanas do entorno,deverão apresentar o Estudo de Impacto de Vizinhança - EIV, comoetapa precedente à expedição das diretrizes urbanísticas, necessária paraemissão das licenças ou alvarás de funcionamento, construção ouampliação, em conformidade com o Estatuto da Cidade, Lei Federal n.10.257/2001.

§ 1º. São considerados empreendimentos ou atividades geradoras deimpacto na vizinhança:

I - com área construída superior a 20.000 (vinte mil) metros quadrados;

II - com vagas de estacionamento superior a 200 (duzentas) unidades;

III - capacidade de lotação superior a 600 (seiscentas) pessoas;

IV - empreendimentos residenciais com mais de 100 (cem) unidades;

V - atividades geradoras de tráfego intenso e/ou pesado, tais como:

a) comércio com área construída superior a 5.000 (cinco mil) metrosquadrados;

b) serviço público com área construída superior a 10.000 (dez mil)metros quadrados;

c) serviços de saúde, complexos esportivos e locais de reunião com áreaconstruída superior a 5.000 (cinco mil) metros quadrados;

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d) espaço para eventos, boate e igreja com capacidade superior a 300(trezentas) pessoas;

VI - empreendimentos resultantes da aplicação dos instrumentosurbanísticos como transferência do direito de construir, outorga onerosado direito de construir e operação urbana consorciada,previstas noPlano Diretor;

VII - os seguintes empreendimentos e similares: a) aterro sanitário;

Embora o edital não tenha delimitado área alguma para implantação de aterrosanitário, como explicar que a empresa vencedora além de possuir área no localescolhido, também possuía as licenças ambientais prévias expedidas há anos para ainstalação de um aterro sanitário---

Mesmo que o Município delimitasse a região onde a área pudesse seradquirida, isso abriria margem à especulação por parte dos proprietários da região, queobviamente elevariam o valor venal dos imóveis a cifras maiores que as normalmentepraticadas no mercado imobiliário naquele local.

Eis que uma das empresas que compõem o consórcio vencedor previu quenuma área, num futuro não muito distante, seria instalado um aterro sanitário, pois jápossuía até as licenças ambientais necessárias para tal desiderato, conforme consulta aoedital realizada pela Financial.

Na situação como foi posta a questão da implantação do aterro Ereguaçu,deixando a cargo da temerária escolha das empresas candidatas a área a ser instalado,não há como defender que houve igualdade de tratamento entre os participantes.

Ainda que não fosse necessário ser o proprietário, é sabido que o contrato depromessa de compra e venda é um contrato sinalagmático, ou seja, que prevê direitos eobrigações recíprocos entre as partes, portanto, o promitente comprador é sujeito aobrigações que se não cumpridas, geram penalidades, como por exemplo a perda dosinal negociado.

Então seria possível, uma empresa se aventurar a perder esse valor em casode não ser vencedora na licitação- Pois, dificilmente, pra não dizer impossível, alguémse compromete a vender uma área a outra pessoa, somente se ela vencer uma licitação(evento futuro e incerto), que vantagem haveria, considerando que esse tipo de contratonão é aleatório-

Nos moldes como o edital foi confeccionado, óbvio que as empresas locaisseriam beneficiadas, pra não dizer as que já possuíam licenças ambientais previamenteexpedidas pelas Secretarias (seja do Município – SEMADUR - Secretaria Municipal deMeio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), seja do Estado - SEMAC - Secretaria deEstado de Meio Ambiente, do Planejamento, da Ciência e Tecnologia) ou autarquias(IMASUL - Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) competentes.

Quando da encampação todos os investimentos realizados pela empresa

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concessionária virão para o patrimônio do Município, e o Município ainda pagará aindenização devida por isso, nos termos estabelecidos no edital.

Ora, se a encampação está prevista no final do contrato, porque o Municípiode Campo Grande já não disponibilizou essa área assim como fez com os Aterros DomAntônio Barbosa I e II, que inclusive sequer preenchem os requisitos para estarem aliinstalados (sem guardar as distâncias mínimas das águas próximas).

Em caso de anulação por culpa da concedente a empresa do mesmo jeitoreceberá indenização nos moldes da encampação do que já tiver feito até o momento,muito embora não tenha feito muita coisa (a exemplo da UTR), e ainda existirdenúncias de não estar cumprindo o contrato (a exemplo dos carros que deveriam serzero quilômetros, com placas deste Município, e vem sendo constatado que algunsveículos além de não serem novos, são alugados, embora tais fatos ainda não estejamconfirmados).

Com certeza, se o Município já disponibilizasse a área onde teria que serimplantado o aterro sanitário Ereguaçu, a exemplo do que está fazendo com o DomAntônio Barbosa I e II, o valor a ser pago pelo erário seria menor que o a ser pago nofuturo quando da encampação.

Veja-se a exemplo, o expediente de desapropriações por interesse público tãobem adotado pelo Município, levadas a efeito para recebimento das verbas pararealização das obras do PAC (Plano de Aceleração das Cidades), que levaram oMunicípio a pedir liminares na justiça para a imediata imissão provisória na posse dosimóveis desapropriados, sem prazo razoável para que os moradores saíssem de suascasas, uma vez que o depósito era efetuado concomitantemente com o ajuizamento daação com pedido da liminar, que uma vez concedida já autorizava o Município a limparas propriedades para a abertura da avenida que hoje integra a saída para Aquidauana(Aeroporto) com a saída para Sidrolândia. Se centenas de famílias foram envolvidas emprol do interesse público, o que dizer de uma única área para funcionamento de umfuturo aterro sanitário da cidade-

Esclareça-se inclusive, que a área apresentada pela outra (única) concorrentetambém envolvia a pessoa de David Haddad, que também é um dos proprietários daárea aceita no certame para ser o futuro aterro sanitário, cujas licenças já estavam atéautorizadas ao funcionamento de um aterro sanitário .

Ora, não é necessário ter vidência alguma para concluir que o certame estavarealmente direcionado, pois a empresa não só possuía a área, como até as licenças paratal finalidade. E com maior razão ainda, quando afirme que as licenças foram obtidasapós profundos estudos de possíveis impactos ambientais, embora a concessão daslicenças do lixão estejam sendo questionadas judicialmente, tanto na Justiça Federalcomo na Ação Civil Pública n. 0812603-11.2013.8.12.0001 promovida pelo MinistérioPúblico.

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Talvez isso explique o fato alarmante de o edital ter sido retirado por mais devinte empresas, as informações detalhadas (vendidas) para onze, e que o certame tenhaocorrido apenas entre duas empresas, com uma delas logo desclassificada. Indício deque o certame não era sério, como de fato não foi.

Com efeito, cabendo ao Poder Judiciário fiscalizar a legalidade e aregularidade do procedimento, com respeito à observância aos princípiosconstitucionais que regem a licitação, a começar pelo Princípio da Igualdade quejustamente visa potencializar a participação do maior número possível de competidores,obviamente com vistas ao melhor atendimento do interesse público em jogo, não restadúvida que os quesitos não foram atendidos, configurado está a nulidade do certame.

Verificou-se que o instrumento convocatório possibilita a participação deconsórcios no certame, formados cada um, por no máximo, três empresas.

Ocorre que tal limitação não está prevista em lei (n. 8.666/93):

Art. 33. Quando permitida na licitação a participação de empresas emconsórcio, observar-se-ão as seguintes normas:

I - comprovação do compromisso público ou particular de constituiçãode consórcio, subscrito pelos consorciados;II - indicação da empresa responsável pelo consórcio que deveráatender às condições de liderança, obrigatoriamente fixadas no edital;III - apresentação dos documentos exigidos nos arts. 28 a 31 desta Leipor parte de cada consorciado, admitindo-se, para efeito de qualificaçãotécnica, o somatório dos quantitativos de cada consorciado, e, paraefeito de qualificação econômico-financeira, o somatório dos valores decada consorciado, na proporção de sua respectiva participação, podendoa Administração estabelecer, para o consórcio, um acréscimo de até30% (trinta por cento) dos valores exigidos para licitante individual,inexigível este acréscimo para os consórcios compostos, em suatotalidade, por micro e pequenas empresas assim definidas em lei;IV - impedimento de participação de empresa consorciada, na mesmalicitação, através de mais de um consórcio ou isoladamente;

V - responsabilidade solidária dos integrantes pelos atos praticados emconsórcio, tanto na fase de licitação quanto na de execução do contrato.

Embora a admissão de consórcios nas licitações realmente seja umadiscricionariedade da Administração, não cabe a esta impor condições não previstas nalei, como limitar o número de seus integrantes, uma vez que à Administração só épermitido fazer ou deixar de fazer alguma coisa, se prevista em lei.

Ainda que admitida a limitação, esta deveria ser justificada quanto à suaEXCEPCIONALIDADE para cada caso concreto em que o expediente fosse praticado,e esse exatamente é que tem sido o entendimento do Tribunal de Contas da União,conforme precedentes (Acórdão 718/2011-Plenário, TC-000.658/2011-1, rel. Min.Valmir Campelo, 23.03.2011).

Por tudo que foi examinado nos autos, não resta dúvidas de que houve

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ilegalidade no ato licitatório, por não haver sido preservado o caráter competitivo doprocedimento, e obviamente, por consequência lógica, é patente a lesividade ocorrida,em razão da violação a vários princípios que devem nortear a Administração Pública.

Assim, é de se considerar que durante o procedimento licitatório aAdministração deveria ter primado pela ampla competição entre os interessados emcontratar com o Poder Público, mediante o atendimento às regras e princípiosespraiados na constituição e na legislação infraconstitucional.

Em acórdão da lavra do Ministro José Delgado, cita o autor o seguinte:

“NATUREZA E FUNÇÃO DA AÇÃO POPULAR. A ação popular éum típico exemplo da expansão do princípio constitucional damoralidade administrativa pelo ordenamento jurídico. A ação popular éa moralidade administrativa em movimento, com a particularidade deser entregue nas mãos dos próprios cidadãos, que busca a tutela dos atosimorais da Administração Pública, ainda que não-lesivos ao erário”(STJ, REsp 614.254/RS, DJe 13/09/2004).

Com efeito, a lesividade não abarca somente o patrimônio material do PoderPúblico, mas também o patrimônio MORAL, cultural, histórico, ético, ambiental, equantos outros que forem violados por se ter a Administração Pública desviado-se dosprincípios que a norteiam, contrariando normas específicas que regem a sua conduta,dispensando-se a demonstração de prejuízo material aos cofres públicos.

Esse inclusive, é o entendimento dos Tribunais Superiores:

PROCESSUAL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO POPULAR.PRESSUPOSTOS. ILEGALIDADE. LESIVIDADE. 1. A ação popularé meio processual constitucional adequado para impor a obediência aopostulado da moralidade na prática dos atos administrativos. 2. Amoralidade administrativa é valor de natureza absoluta que se insere nospressupostos exigidos para a efetivação do regime democrático. 3.Contrato de risco sem autorização legislativa e sem estudosaprofundados de viabilidade do êxito que foi assumido poradministrador público para pesquisar petróleo em área nãotradicionalmente vocacionada para produzir esse combustível. 4.Ilegalidade do ato administrativo que, por si só, conduz a se tercomo ocorrente profunda lesão patrimonial aos cofres públicos. 5.A lei não autoriza o administrador público a atuar, no exercício de suagestão, com espírito aventureiro, acrescido de excessiva promoçãopessoal e precipitada iniciação contratual sem comprovação, pelomenos razoável, de êxito. 6. Os contratos de risco para pesquisarpetróleo devem ser assumidos pelo Estado em níveis de razoabilidade eproporcionalidade, após aprofundados estudos técnicos da suaviabilidade e autorização legislativa. 7. A moralidade administrativa épatrimônio moral da sociedade. Os Poderes Executivo, Legislativo eJudiciário devem proteger esse patrimônio de modo incondicional,punindo, por mínima que seja, a sua violação. 8. "Na maioria dasvezes, a lesividade ao erário público decorre da própria ilegalidadedo ato impugnado" (STF, RE 160381/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ

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12.08.94, p. 20052). 9. "O entendimento sufragado pelo acórdãorecorrido no sentido de que, para cabimento da ação popular, basta ailegalidade do ato administrativo a invalidar, por contrariar normasespecíficas que regem a sua prática ou por se desviar dos princípios quenorteiam a administração pública, dispensável a demonstração deprejuízo material aos cofres públicos, não é ofensivo ao inciso LXXIIIdo art. 5º da Constituição Federal, norma que abarca não só opatrimônio material do Poder Público, como também o patrimôniomoral, o cultural e histórico" (STF, RE 120.768/SP, Rel. Min. IlmarGalvão, DJU de 13.08.99, p. 16). 10. "... o entendimento de que, para ocabimento da ação popular, basta a demonstração da nulidade do atoadministrativo não viola o disposto no artigo 153, parágrafo 31, daConstituição, nem nega vigência aos arts. 1º e 2º da Lei 4.717/65, comojá decidiu esta Corte ao julgar caso análogo (RE 105.520)" (RE113.729/RJ, Rel. Min. Moreira Alves, DJ de 25.08.89, pg. 13558). 11."Antes mesmo de promulgada a vigente Carta, o STF orientou-seno sentido de que para cabimento da ação popular basta ademonstração da nulidade do ato, dispensada a da lesividade, quese presume (RTJ 118, p. 17 e 129, p. 1.339" (Milton Flaks, in"Instrumentos Processuais de Defesa Coletiva", RF 320, p. 34). 12. "...ultimamente a jurisprudência têm se orientado no sentido de quebasta a demonstração da ilegalidade, dispensada a da lesividade,que se presume" (Luis Roberto Barroso, "Cadernos de DireitoConstitucional e Ciência Política - Ação Popular e Ação Civil Pública.Aspectos comuns e distintivos". Jul - set. 1993, nº 4, p. 236). 13.Invalidação do contrato firmado em 11.09.79, entre a PETROBRÁS e aPAULIPETRO. Ilegalidade reconhecida. Lesividade presumida. 14.Embargos de divergência conhecidos, porém, rejeitados. (EREsp14.868/RJ, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, Primeira Seção, julgadoem 09/03/2005, DJ 18/04/2005)

Quanto a aventada suspeição deste magistrado, necessário esclarecer que anatureza do direito envolvido é PÚBLICO, e embora necessite de um autor, iniciada aação existe previsão de substituição, nas ações populares, do autor – pessoa física peloMinistério Público. Nestas condições, o que menos importa em ações desta natureza é oautor, que sequer está pleiteando direitos individuais, mas sim altruísticos, quebeneficiam toda a coletividade (ao menos, em tese, assim deveria ser).

Isto posto, julgo improcedente a ação popular n. 0038382-35.2012.8.12.0001movida por Athayde Nery de Freitas Junior, em razão da superação dos seusfundamentos, mas julgo procedente a ação popular n. 0038391-94.2012.8.12.0001movida por Thiago Verrone de Souza, anulando a licitação ocorrida por meio daconcorrência pública n. 066/2012, e consequentemente o contrato administrativo deladecorrente2, devendo o Município proceder a nova licitação obedecendo aos trâmiteslegais que não foram respeitados, dado o óbvio direcionamento.

Em razão do princípio que garante a continuidade da prestação do serviçoessencial, a vencedora do certame anulado deverá continuar prestando os serviços deacordo com o estabelecido no contrato administrativo pelo prazo de 10 (dez) meses, apartir da intimação desta sentença, tempo que se considera suficiente para que a

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2 Art. 49. A autoridade competente para a aprovação do procedimento somente poderá revogar a licitação porrazões de interesse público decorrente de fato superveniente devidamente comprovado, pertinente e suficiente parajustificar tal conduta, devendo anulá-la por ilegalidade, de ofício ou por provocação de terceiros, mediante parecerescrito e devidamente fundamentado.§ 1o A anulação do procedimento licitatório por motivo de ilegalidade não gera obrigação de indenizar, ressalvadoo disposto no parágrafo único do art. 59 desta Lei.§ 2o A nulidade do procedimento licitatório induz à do contrato, ressalvado o disposto no parágrafo único do art.59 desta Lei.Art. 59. A declaração de nulidade do contrato administrativo opera retroativamente impedindo os efeitos jurídicosque ele, ordinariamente, deveria produzir, além de desconstituir os já produzidos.Parágrafo único. A nulidade não exonera a Administração do dever de indenizar o contratado pelo que este houverexecutado até a data em que ela for declarada e por outros prejuízos regularmente comprovados, contanto que nãolhe seja imputável, promovendo-se a responsabilidade de quem lhe deu causa.3 LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimôniopúblico ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimôniohistórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus dasucumbência;

Administração Pública Municipal tome as medidas cabíveis, podendo aproveitar grandeparte dos estudos feitos para a licitação anulada, mas sem restringir desta vez, seucaráter competitivo, e espera-se, adotando um perfil mais moderno para solução dosdejetos municipais, inclusive os de saúde.

Devem ser respeitados os valores pactuados sob pena de enriquecimentoilícito do Município.

Eventual discussão acerca dos valores pagos deverão ser objeto de açãoprópria.

Nos autos n. 0038382-35.2012.8.12.0001 deixo de condenar o autor nascustas e honorários, com fundamento no art. 5º, inciso LXXIII, da Constituição3.

Nos autos n. 0038391-94.2012.8.12.0001 condeno os requeridos,solidariamente, ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, que fixoem R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais), com fundamento no art. 20, § 3º, do CPC.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Decorrido o prazo para recurso voluntário, encaminhe-se ao EgrégioTribunal de Justiça, para reexame necessário, nos termos do artigo 19 da Lei de AçãoPopular.

Após, arquivem-se.

Campo Grande, 18 de outubro de 2013.

Estado de Mato Grosso do SulPoder JudiciárioCampo Grande1ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos

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Modelo 1072040 - Endereço: Rua da Paz, 14, 3º andar - Bloco III, Jardim dos Estados - 3º andar - Bloco III - CEP 79020-040,Fone: 3317-3524, Campo Grande-MS - E-mail: [email protected] - autos 0038391-94.2012.8.12.0001

Page 36: Sentença da Ação Civil Pública do Lixão de Campo Grande/MS

Amaury da Silva KuklinskiJuiz(a) de Direito

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