seminários de pesquisa de doutorado 2º/2021

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Seminários de Pesquisa de Doutorado 2º/2021 Linhas de Pesquisa FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO CONCEITO DE JUSTIÇA E SUA APLICAÇÃO NA COMPREENSÃO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO TEORIA DO DIREITO E DA JUSTIÇA Alunos Gisleule Maria Menezes Souto Iara Alves Etti Froes Josué Edson Leite Marcos Vinícius da Silva

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Page 1: Seminários de Pesquisa de Doutorado 2º/2021

Seminários de Pesquisa

de Doutorado – 2º/2021

Linhas de Pesquisa FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO CONCEITO DE JUSTIÇA E SUA APLICAÇÃO NA

COMPREENSÃO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

TEORIA DO DIREITO E DA JUSTIÇA

Alunos

Gisleule Maria Menezes Souto

Iara Alves Etti Froes

Josué Edson Leite

Marcos Vinícius da Silva

Page 2: Seminários de Pesquisa de Doutorado 2º/2021

CORPO, EXISTÊNCIA E RESISTÊNCIA: uma leitura da corporeidade do

transgênero a partir do direito.

Gisleule Maria Menezes Souto

Orientador: Prof. Doutor Lucas de Alvarenga Gontijo

O tema comporta a necessidade de aprofundamento estrutural na pesquisa sobre corpo

principalmente num contexto em que discorra sobre a existência do transgênero em uma

sociedade que exclui o diferente e inclui o igual. Mais que vivenciar uma identidade de

gênero, ser transgênero corresponde a representar uma identidade decolonial pautada

pela desconstrução da crença em papéis de gênero considerados - naturais, construídos

biologicamente. Nesse contínuo flutuar de um não-saber sobre o mundo, que se renova

pela inclusão e exclusão, permanecem excluídos os indivíduos que são constrangidos a

sentir e a viver a própria individualidade através da experiência da própria diferença

(SOUTO; SOUTO, 2020). O corpo transgênero vivencia suas próprias inquietações, sua

invisibilidade e ao tentar buscar seu lugar, numa potencial inclusão percebe o seu não

incluir em uma sociedade que há muito tempo se digladia entre inclusão e exclusão para

assegurar a sua própria manutenção (BECK, 2010). A presente pesquisa intenta buscar

resposta às seguintes indagações, que consubstanciam o seu problema-tema: como o

transgênero “transita” em uma sociedade em que o futuro é provável e improvável e o presente

se apresenta como um risco? As indagações que impulsionam a pesquisa podem se

desdobrar em vários outros questionamentos, tais como: 1) Como transgênero convive

com um corpo que não se reconhece nele? 2) Mais que vivenciar uma identidade de

gênero, ser transgênero corresponde a representar uma identidade social, pautada pela

desconstrução da crença em papéis de gênero considerados - naturais, construídos

biologicamente; e pela visibilização de identidades particulares historicamente

estigmatizadas? 3) É possível por intermédio da decolonialidade ressignificar o corpo?

4) No tocante a inclusão dos transgêneros por que podemos observar que no Brasil a

mesma é permeada pelo preconceito e pela violência? O estudo é de natureza teórica, e

sua metodologia funda se na análise de percepção, linguagem e corporeidade em

Merleau Ponty e da noção de reconhecimento em uma sociedade excludente, tecendo

relações da forma como o transgênero transita nessa sociedade em que o futuro é

Page 3: Seminários de Pesquisa de Doutorado 2º/2021

provável e improvável e o presente se apresenta como um risco. Será buscado, por meio

das noções teóricas, tecer relações com fenômenos atuais da sociedade brasileira ligados

as questões políticas, sociais, econômicas e jurídicas, de forma concatenada e sistêmica,

de modo a alcançar o entendimento das questões propostas. O estudo parte da

construção da categoria de corpo cujo marco teórico é fornecido pela filosofia de

Merleau-Ponty. Adotam-se também como marco teórico a concepção de Axel Honneth

sobre a teoria do reconhecimento, Rafaelli di Giorgi sobre a sociedade de risco, María

Lugones gênero e decolonialidade e Berenice Bento sobre o transgênero. Para o alcance

dos objetivos, será realizada pesquisa de obras de autores nacionais e estrangeiros,

legislação nacional, matérias jornalísticas, teses, dissertações e jurisprudência versando

sobre a temática em pauta. Existe na análise pretendida o propósito de tecer relações

entre a Filosofia e o Direito, o que se insere no âmbito da linha de pesquisa “Teoria do

Direito e da Justiça”, desenvolvida no Programa de Pós Graduação em Direito da PUC-

MINAS.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Page 6: Seminários de Pesquisa de Doutorado 2º/2021

A formação do Conceito de Justiça Restaurativa no Ordenamento Jurídico

Brasileiro

Iara Alves Etti Fróes 1

INTRODUÇÃO: A pesquisa visa formar um conceito de Justiça

Restaurativa com indicações do que ela é e de como ela se distingue da justiça

em outros sentidos, sobretudo em relação ao conceito jurisdicional.

O Conselho Nacional de Justiça - CNJ tem incentivado o seu uso e redigiu

uma resolução para que tal tipo de justiça seja utilizada e implementada pelos

juízes nos Tribunais, Resolução 225/2016. Além disso, na seara educacional, a

Justiça Restaurativa já aparece para sanar conflitos existentes em escolas

públicas. Embora ela já apareça na prática judiciária e da sociedade, não se tem

ainda um conceito jurídico que seja elucidativo o suficiente para se ter clareza

em sua aplicação na prática, e nem formulado através de uma metodologia

científica-jurídica que possa ser replicada e ensinada2.

A tese encontra-se em execução, seguindo o seguinte sumário:

1. Justiça Restaurativa

1. Dois significados clássicos: correção moral e justica jurisdicional 2. Justiça restaurativa: origem e evolução (descrever os autores) 3. Justiça restaurativa: tipo de justiça ou método de solução de conflito? 4. Justiça restaurativa antes da justiça restaurativa? 5. Proposto de um conceito de justiça restaurativa

2. Justiça Restaurativa em Prática no Brasil

1. Origem e evolução 2. As APACs 3. A Resolução do CNJ 4. Justiça Restautrativa no Brasil é Justiça Restaurativa? (comparar o

conceito obtido no capítulo 1 com a prática da justiça restaruativa no Brasil

1 Aluna orientada pelo Prof. Dr. Alexandre Travessoni Gomes Trivisonno, doutor em Direito pela UFMG e Fellow (humboldtianer) do Alexander von Humboldt Stiftung, Alemanha. Professor da graduação em Direito e pós-graduação Stricto Sensu em Direito da PUC/Minas, campus Coração Eucarístico. E-mail: [email protected] 2 Resolução 225/ 2016 CNJ – Conselho Nacional de Justiça. Notícia Justiça Restaurativa nas escolas. https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/noticias/praticas-de-justica-restaurativa-nas-escolas-sera-tema-de-webinario-8A80BCE576728CBF0177CBA06B7E07B1.htm#.YFnY1K9KhPY

Page 7: Seminários de Pesquisa de Doutorado 2º/2021

3. Conclusão

Como marco teórico adotado, tem-se as ideias de Howard Zehr e de

Bellinda Hopkins, que indicam que a discussão subjacente da Justiça

Restaurativa é sobre os seres humanos terem o poder de resolver as suas

próprias demandas e os seus próprios conflitos focados nos princípios basilares

da restauração, da responsabilidade pessoal e da reintegração do vínculo, sendo

esse enfoque trazido tanto pelo autor Zehr quanto por Bellinda Hopkins, em seu

livro Just School: a whole school approach to restorative justice.

As questões teóricas apresentadas para serem abordadas no seminário

de pesquisa são os conceitos de Justiça Restaurativo formulados por Zehr,

Hopkins, Achutti, e o conceito trazido pelo CNJ na resolução n. 225/2016,

fazendo a apresentação do conceito de justiça restaurativa formulado a partir

destas ideias e fazendo a construção de que Justiça Restaurativa é um tipo de

justiça que visa a restauração do vínculo societário que foi perdido por aquele

que sofreu a violência e por aquele que fez a violência e gerou a situação

conflituosa.

Até o presente momento, como resultado parcial alcançado, a hipótese

parece estar em consonância com a ideia dos marcos teóricos e também com o

levantamento bibliográfico inicial.

Bibliografia

ACHUTTI, Daniel. Justiça Restaurativa e abolicionismo penal: contribuições

para um novo modelo de administração de conflitos no Brasil. 1. ed. São

Paulo: Saraiva, 2014.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA; CRUZ, Fabrício Bittencourt da (coord.).

Justiça restaurativa: Resolução CNJ 225. Brasília: CNJ, 2016.

HOPPINKS, Belinda. Just School: a whole school approach to restorative

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SOUZA, DANIEL. Justiça Restaurativa e Sistema Penal: A experiência da

ciade autônoma de Buenos Aires, Críticas e Perspectivas para o Brasil. Londrina:

THOTI, 2021.

ZEHR, Howard. Trocando as lentes. 2 ed. trad. Tônia Van Acker. São Paulo:

Palas Athena, 2015.

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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de pós-graduação em Direito – Doutorado

Resumo de apresentação em Seminário II

Doutorando: Josué Edson Leite

Orientador: Prof. Dr. Alexandre Travessoni

Linha de pesquisa: Fundamentos filosóficos do conceito de justiça e sua aplicação na

compreensão do Estado democrático de Direito.

Tema: A VISÃO CONTEMPORÂNEA DE PODER POLÍTICO E SOCIAL NO BRASIL A

PARTIR DA RELIGIOSIDADE: A POSSÍVEL DICOTOMIA ENTRE A AGENDA

IDEOLÓGICA DOS MOVIMENTOS PENTECOSTAL E NEOPENTECOSTAL E A

EFETIVIDADE DE DIREITOS FUNDAMENTAIS.

Quando da realização do Seminário I o trabalho de elaboração de Tese estava em

andamento e já com a redação do terceiro capítulo de um total de 6. Na data atual já estão

redigidos os 6 capítulos, sendo que este último se encontra em fase de revisão. Os capítulos

apresentam os seguintes títulos: I – Uma compreensão panorâmica da religião; II – O

Cristianismo a partir da Reforma Protestante; III – Breve histórico da Religiosidade brasileira;

IV – Pentecostalismo e Neopentecostalismo; V – Direitos fundamentais e religião VI – Atuação

política dos movimentos Pentecostais e Neopentecostais.

A pesquisa apresenta como problematização significativo crescimento destes

movimentos religiosos no Brasil nas últimas décadas e de atualmente estarem eles participando

não mais como coadjuvantes, mas como definidores de questões relevantes no país a partir da

participação política de seus integrantes, inclusive suas lideranças assumem publicamente os

objetivos. Inúmeros projetos de Lei tramitam no Congresso Nacional e são relacionados a busca

de efetivação de ideologias defendidas por estes movimentos. A pesquisa busca apontar quais

destes pontos ideológicos poderão ser implementados, tanto no sentido de serem acelerados com

aprovação e transformados em lei ou mesmo aqueles que são contrários a estes interesses

ideológicos possam ser obstaculizados. Portanto a pesquisa busca analisar tanto o aspecto

dinâmico quanto estático para a efetivação destes propósitos.

O Marco teórico da pesquisa, resumidamente, parte das afirmações de Gilberto

Freyre de que a formação social e política do povo brasileiro parte de sua religiosidade e que

esta, em tempos primeiros, era proveniente das ideologias do catolicismo que detinha a

hegemonia religiosa da colônia e posteriormente do império. Na atualidade verifica se um

arrefecimento desta influência e surgem os Movimentos Pentecostal e Neopentecostal tentando

assumir esta hegemonia, contrastando com o que Charles Taylor chama de “Uma era secular”,

como consequência de um longo processo de laicização dos Estados.

A pesquisa busca identificar ainda os impactos desta atuação em relação a

terceiros que não são partidários dos movimentos e que não teriam nenhum motivo de adotar

uma postura moral restrita decorrente de possível imposição religiosa.

Para se chegar ao resultado pretendido estará sendo analisado o que existe de

projetos já encaminhados, o que ainda é conjecturado apresentar e também as atuações que tem

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como objetivo obstaculizar outras propostas ou agendas contrárias aos movimentos e que a não

aprovação poderá ser tido como prejudicial ao interesse público.

O trabalho de pesquisa tem transcorrido dentro da normalidade, não tendo sido

encontrados maiores obstáculos até mesmo por que o tema tratado é de grande discussão nos

últimos anos, o que facilitou a organização do trabalho com os apontamentos e coletas de dados

necessários à sua elaboração. Muitos fatos estão ocorrendo durante o transcurso da realização da

pesquisa e isto obriga a uma revisão periódica de algumas informações colacionadas ao texto, o

que deve ocorrer ainda no transcurso do mês de outubro presente em razão do depósito cuja data

expira em 31/10/2021.

No Seminário serão abordadas as questões teóricas que explicam ainda que

resumidamente o Protestantismo de uma forma geral e os Movimentos Pentecostal e

Neopentecostal em particular a fim de que se torne compreensível as motivações das propostas

que os referidos movimentos articulam, bem como os achados mais importantes no transcurso

da pesquisa.

REFERENCIAS

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WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Editora Pioneira,

1999.

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO

Discente: Marcos Vinicius da Silva

Orientador: Marcelo Campos Galuppo

Linha de pesquisa: Teoria do Direito

Título: Direito ao esquecimento e liberdade de expressão: as três escalas dos graus de

legitimação

Seminário II

RESUMO

O desenvolvimento inicial da minha tese, apresentado no Seminário I, se deu

acerca dos marcos teóricos utilizados na elaboração da pesquisa e quais os

principais conceitos que serviriam de base para a sustentação da minha

argumentação ao longo da escrita.

Sendo assim, para o Seminário II, trago como resumo do desenvolvimento da

minha pesquisa, os resultados obtidos na utilização dos conceitos apresentados

no primeiro capítulo e a aplicação dos conceitos de escalas cartográficas como

chave de leitura da liberdade de expressão e do direito ao esquecimento.

Em sentido genérico, pode-se definir a linguagem como um sistema de signos

convencionais que pretende representar a realidade e que é usado na

comunidade humana. Segundo Abbagnano (1990, p. 616), “linguagem é o

sistema através do qual o homem comunica suas ideias e sentimentos, seja

através da fala, da escrita ou de outros signos convencionais.”

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Visto que a linguagem expressa um pensamento e desejo de se

comunicar com outras pessoas por meio do uso de sistemas de símbolos, a

cartografia pode ser legitimamente considerada uma linguagem. Linguagem

universal, no sentido em que utiliza uma gama de símbolos compreensíveis por

todos, com um mínimo de iniciação.

A cartografia é a arte de conceber, de levantar, de redigir e de divulgar os

mapas. Um mapa é uma representação geométrica plana, simplificada e

convencional, do todo ou de parte da superfície terrestre, numa relação de

similitude conveniente denominada escala.

Um mapa dá uma imagem incompleta do terreno. Ele nunca é uma

reprodução tão fiel quanto pode sê-lo, por exemplo, uma fotografia aérea.

Mesmo o mais detalhado dos mapas é uma simplificação da realidade. Ele é

uma construção seletiva e representativa que implica o uso de símbolos e de

sinais apropriados.

Para nós que não somos da área geográfica, a utilização de escalas pode

parecer algo trivial ou mesmo secundário num plano de estudos maior, mas, por

não saber bem de suas aplicações e de sua linguagem, acabamos

negligenciando todo o seu caráter científico e colaborativo que ela pode ter para

a área do Direito. Mas vamos voltar a esse ponto um pouco mais a frente.

A principal importância da escala cartográfica vai muito além da simples

relação matemática com o espaço. A escala é um fato próximo ao solo, cheio de

significados científicos e tecnológicos. Por um lado, em termos de pesquisas e

levantamentos de campo, a escala determina um certo grau de análise em

função do espaço a ser percorrido e dos detalhes a serem implementados. Por

outro lado, na fase de escrita, a escala é condição de precisão, legitimidade, boa

apresentação e eficiência do mapa. O número e o acúmulo de símbolos usados

dependem, na verdade, do espaço disponível: quanto maior a redução na

imagem do solo, menor a escala, mais restrita a seleção e mais abstrato o

sistema de símbolos. Resolver esse problema é o objetivo da generalização, o

que aprimora ainda mais as características esquemáticas e convencionais da

representação cartográfica.

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Segundo a definição adotada pela Associação Cartográfica Internacional,

a cartografia compreende:

O conjunto dos estudos e das operações científicas, artísticas e técnicas que intervêm a partir dos resultados de observações diretas ou da exploração de uma documentação em vista da elaboração e do estabelecimento de mapas, planos e outros modos de expressão, assim como de sua utilização. (UNESCO, 1966)

Sendo assim, a cartografia é ao mesmo tempo uma ciência, uma arte e

uma técnica. A escala formula a relação existente entre o mapa e o terreno,

enquanto por sua vez, a mensagem cartográfica é antes de tudo uma mensagem

de localização e de avaliação das distâncias e das orientações a serem tomadas.

Agora será necessário fazer um salto conceitual para compreendermos a

utilização da linguagem cartográfica e das escalas em nosso trabalho e como

ele será importante para compreendermos a abordagem da liberdade de

expressão e do direito ao esquecimento na prática do Direito.

A ideia chave ligada à ideia de variação das escalas é que não são os

mesmos encadeamentos que são visíveis quando mudamos de escala, mas

conexões que passaram despercebidas na escala aplicada anteriormente. O

pensador Pascal descreve bem essa compreensão em seu aforismo na obra

Pensamentos, que diz:

Diversidade. (...) Uma cidade, um campo, de longe, é uma cidade e um campo; mas, à medida que alguém se aproxima, são casas, árvores, telhas, folhas, ervas, formigas, pernas de formigas, ao infinito. Tudo isso se envolve (s’enveloppe) sob o nome de campo (PASCAL. Pensamentos, 65)

O papel da ideia de escala em cartografia não é indiferente ao nosso

assunto, coloca-se relações de proporções comparáveis, bem como o balanço

entre ganho e perda de informações de acordo com a escala escolhida. Ao

mudar de escala, não vemos as mesmas coisas maiores ou menores, em

caracteres grandes ou pequenos. Vemos coisas diferentes. Não se pode mais

falar de redução de escala, são encadeamentos diferentes em configurações e

causalidade. O balanço entre vantagens e perdas de informação aplica-se a

operações de modelização que envolvem formas diferentes do imaginário.

Segundo o professor Jacyntho Lins Brandão, em seu texto A tradição da

Diversidade Cultural, quando se adota uma visão utilizando da linguagem de

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escala assim como feito no aforismo por Pascal, parte-se de um pressuposto

positivo de que a parte pode conter o todo e o todo pode conter a parte. Não há

uma contradição lógica inerente neles. Pois se sob o nome de campo se oculta,

se engloba, se envolve, s’enveloppe tudo que há nele, então, cabe a pergunta:

ver pernas de formigas não é já ver o campo?

A resposta poderia ser positiva desde que admitíssemos que as pernas de formigas e tudo quanto um campo contém se encontram nele numa relação naturalmente harmônica, o que levaria a que pudéssemos definir a parte pelo todo e o todo pelas partes. Como se vê, um problema hermenêutico (e não da ordem da natureza) dos mais espinhosos, pois a relação das partes com o todo nem sempre é harmônica (ou quase sempre não o é), na medida em que o todo é uma elaboração mental, um recorte, uma experiência do pensamento que busca envelopper sous le nom de – para usar a expressão de Pascal – dados que são, por natureza, diversos. (BRANDÃO, pg.2)

A afirmativa feita por Brandão na citação acima, lida com um problema de

difícil solução, envolvendo as relações das partes com o todo, um todo

compreendido como unidade que oculta a diversidade de seus constituintes. O

que não está distante também de nossa problemática central, pois, ao pensar a

liberdade de expressão e o direito ao esquecimento estamos trabalhando

relações das partes com um todo que aqui se caracteriza pelos direitos

individuais e os direitos pertencentes a toda sociedade.

A liberdade de expressão e o direito ao esquecimento pode ser tanto

pensado no plano individual (parte), como no plano coletivo (todo), dependendo

apenas da escala a ser utilizada e no que se quer ver ao aplicar um ou outro

plano de interpretação.

Para ilustrar melhor a nossa compreensão, vamos retomar as Escrituras

Sagradas da tradição judaico-cristã, que traz em seu arranjo uma junção de livros

que em sua origem não tinham uma conexão necessária entre eles, mas que, a

partir de uma leitura teológica e alguns estreitamentos, eles se tornaram um

único corpo com vários conjuntos de livros. Um dos exemplos mais clássicos

dessa composição é a do livro Cântico dos Cânticos, que sua origem sem dúvida

é um epitalâmio leigo, que ganhou sentido religioso ao ser envelopado pela Bíblia

adquiriu novos significados e foi sobrecarregado de novos sentidos. É o que

pode acontecer com a liberdade de expressão e o direito ao esquecimento,

dependo do envelope que se dá eles podem ser carregados de novos

significados e sentidos.

Page 14: Seminários de Pesquisa de Doutorado 2º/2021

Desta forma, saber usar as escalas corretas no caso concreto para se

observar o que de fato é importante para aquela análise, pode fazer toda a

diferença na percepção dos fatos. Utilizar a escala errada quando se busca

orientar o seu entendimento para uma direção, pode lhe conduzir por caminhos

complemente obscuros ou mesmo conclusões equivocadas.

Posto isto, levo em consideração os seguintes pontos e considerações:

Para a leitura do direito ao esquecimento como sendo um limitador à

liberdade de expressão, utiliza-se a escala pequena de observação. Pois,

segundo a cartografia, quando se usa tal escala nós nos afastamos do objeto

real e começamos a olhar de forma mais ampla e geral, o que é muito útil quando

se quer ter uma noção do todo e não da parte. Desta forma, quando se trabalha

a ideia de comunidade, nação e de memória, pensar o direito ao esquecimento

e a liberdade de expressão na escala pequena pode nos trazer muito mais

benefícios do que em outra escala.

Pensando o direito ao esquecimento como um inibidor à liberdade de

expressão, a escala escolhida para a leitura de campo seria a escala grande. Na

escala grande a gente se aproxima mais do real e do objeto a ser investigado,

sendo assim, conseguimos atribuir mais detalhes e especificações na análise de

campo. Aqui, a subjetividade é apresentada. Pensando na aplicação prática do

Direito, dizer que o direito ao esquecimento é utilizado como inibidor à liberdade

de expressão, busca-se aqui sanar algo na vida de uma pessoa que a acomete

de sofrimento contínuo e a impede de prosseguir na vida com dignidade e

liberdade de construção do ser. Desta forma, o direito ao esquecimento seria

utilizado como um phármakon, um remédio a inibir uma dor que está sendo

causada pela liberdade de expressão e pela contínua memória de um fato. Não

se deve romantizar a memória ou a liberdade de expressão em detrimento da

vida e da dor de uma pessoa. Por isso, a utilização da escala grande nesses

estudos de caso seria a melhor forma de se observar a realidade e de se chegar

a um resultado mais efetivo e eficaz.

Por sua vez, a própria liberdade de expressão pode ser utilizada como

uma forma de esquecimento. A essa forma de leitura vou atribuir a escala

detalhada da cartografia. A escala detalhada é utilizada para dar maiores

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informações de uma área em um curto espaço. Quanto mais detalhado e

específico, mais referências se encontram no mapa. É como ver o mapa abaixo:

Vê-se claramente que é o mapa de Belo Horizonte, mas pelo excesso de

informação contido nele, a nossa mente não é capaz de se lembrar de cada

detalhe apresentado nele. A informação é livre e está dada a todos que queiram

ver. Nesse caso, os detalhes apresentados no mapa contribuíram para que se

esquecesse de ver alguma coisa ou mesmo esquecer que viu por ter tanta coisa

para se ver. A liberdade de expressão aqui é utilizada para o esquecimento.

Por seu turno, há ainda o perdão e a memória não ressentida como

esquecimento. Aqui, ainda não consegui pensar uma escala que se adequasse

a proposta apresentada. Acredito que de fato não há uma escala para se

compreender o perdão e a memória não ressentida, pois, para se utilizar de tais

meios para o esquecimento, faz-se necessário uma transcendência e uma

compreensão do fato que beira o divino. Não é atoa que tal conceito é

Mapa detalhado da cidade de Belo Horizonte

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apresentado primeiramente pela tradição judaico-cristã, onde Deus perdoa o

pecado da humanidade e os esquece. Onde Jesus Cristo pede para que

perdoássemos 70x70 o nosso próximo. Ele não está pedindo para que sejamos

condescendente com o pecado mas que, diante do mal praticado a gente não se

fixe nele ou fique parado no tempo por conta dele. Que a gente consiga seguir

em frente livre do pecado cometido contra nós, livre do sentimento que foi gerado

em nós e livre de uma memória ferida que nos prende ao passado. O perdão e

a memória não ressentida pode nos fazer esquecer e por assim sermos livres

para nos expressar.

Referência bibliográfica

KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Trad. Cássio

Arantes. 1 ed. Rio de Janeiro 2012

MILL. Jhon Stuart. Sobre a liberdade. Trad. Denise Bottmann. Porto Alegre:

L&PM, 2016

NIETZSCHE. Friedrich. Genealogia da moral. Trad. Paulo César. São Paulo.

Companhia das Letras, 1999

PASCAL, Blaise. Pensamentos. Rio de Janeiro: Athenaeum, 1936. 336p.

PLATÃO, Fédon. Diálogos de Platão. Trad. Carlos Alberto Nunes. 3 ed. Belém.

2001

RICCEUR, Paul. Memória, a história e o esquecimento. Trad. Alain François.

Campinas, Unicamp, 2007