seminário gestão hídrica e a indústria química · hídricos da industria química está...

4
Seminário Gestão Hídric a e a Indústria Química Abiquim lança modelo de plano de contingência para crise hídrica e debate soluções da química para otimizar gestão da água Em 6 de julho de 2015, aconteceu na sede da Abiquim, em São Paulo, o Seminário “Gestão Hídrica e a Indústria Química”, que contou com a presença do deputado federal Evair de Melo (PV/ES), coordenador da Frente Parlamentar Mista da Química e presidente da Frente Parlamentar Mista da Água; Vicente Andreu Guillo, dire- tor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), dentre outras autoridades no assunto. Durante o evento, foi lançado o Guia para Elaboração de Plano de Contingência para a Crise Hídrica, baseado no segmento químico industrial. A diretora de Assuntos Técnicos da Abiquim, Andrea Carla Barreto Cunha, abriu o evento lembrando que as indústrias químicas que têm plantas instaladas no País já vêm dando há décadas a sua con- tribuição ao reduzir a captação de água e a quantidade de efluentes lançados, além de aumentar a porcentagem de efluentes reciclados. O aprimoramento contínuo da gestão dos recursos hídricos pela indústria química faz parte do Sistema de Gestão do Programa Atu- ação Responsável®. O Programa é uma iniciativa voluntária da in- dústria química mundial, gerida no Brasil pela Abiquim, destinada a demonstrar seu comprometimento na constante melhoria de seu desempenho em saúde, segurança, meio ambiente e sustentabili- dade. O deputado Evair de Melo deu sequência à abertura do seminário destacando a importância de se investir em pesquisa e desenvolvi- mento tecnológico e de se planejar investimentos em infraestrutura de distribuição de água no País. “Acho que é possível sempre dar um passo à frente com a ciência e a tecnologia. Os investimentos têm de ser planejados, transformando problemas em oportunida- des, e a nossa lógica de desenvolvimento e ocupação tem também que considerar as bacias hidrográficas como elemento integrador”, afirmou o parlamentar. De acordo com o relatório dos Indicadores do Atuação Responsável, entre 2006 e 2013, a indústria química reduziu 37,5% do volume de água consumi- da em processos e produtos. Nesse mesmo período, o volume de água captada pelo setor caiu 34,8%. Atendendo aos requisitos do Programa Atuação Responsável®, a Abiquim incentiva, ainda, por meio da Comissão Setorial de Saneamento e Tratamento de Água, o reúso dos recursos hídricos pela indústria química, que tem se mostrado uma prática extrema- mente vantajosa, pois, além de reduzir o impacto ao meio ambiente, diminui os custos de produção. 1 Evento reúne cerca de 70 pessoas na sede da Abiquim, em São Paulo. Abiquim/ Divulgação

Upload: vulien

Post on 14-Dec-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Seminário Gestão Hídrica e a Indústria Química · hídricos da industria química está associada a três fatores: captação de água para resfriamento, consumo em processos

Seminário Gestão Hídrica

e a Indústria Química

Abiquim lança modelo de plano de contingência para crise hídrica e debate soluções da química para otimizar gestão da água

Em 6 de julho de 2015, aconteceu na sede da Abiquim, em São Paulo, o Seminário “Gestão Hídrica e a Indústria Química”, que contou com a presença do deputado federal Evair de Melo (PV/ES), coordenador da Frente Parlamentar Mista da Química e presidente da Frente Parlamentar Mista da Água; Vicente Andreu Guillo, dire-tor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), dentre outras autoridades no assunto. Durante o evento, foi lançado o Guia para Elaboração de Plano de Contingência para a Crise Hídrica, baseado no segmento químico industrial.A diretora de Assuntos Técnicos da Abiquim, Andrea Carla Barreto Cunha, abriu o evento lembrando que as indústrias químicas que têm plantas instaladas no País já vêm dando há décadas a sua con-tribuição ao reduzir a captação de água e a quantidade de efluentes lançados, além de aumentar a porcentagem de efluentes reciclados. O aprimoramento contínuo da gestão dos recursos hídricos pela

indústria química faz parte do Sistema de Gestão do Programa Atu-ação Responsável®. O Programa é uma iniciativa voluntária da in-dústria química mundial, gerida no Brasil pela Abiquim, destinada a demonstrar seu comprometimento na constante melhoria de seu desempenho em saúde, segurança, meio ambiente e sustentabili-dade.

O deputado Evair de Melo deu sequência à abertura do seminário destacando a importância de se investir em pesquisa e desenvolvi-mento tecnológico e de se planejar investimentos em infraestrutura de distribuição de água no País. “Acho que é possível sempre dar um passo à frente com a ciência e a tecnologia. Os investimentos têm de ser planejados, transformando problemas em oportunida-des, e a nossa lógica de desenvolvimento e ocupação tem também que considerar as bacias hidrográficas como elemento integrador”, afirmou o parlamentar.

De acordo com o relatório dos Indicadores do Atuação Responsável, entre 2006 e 2013, a indústria química reduziu 37,5% do volume de água consumi-da em processos e produtos. Nesse mesmo período,

o volume de água captada pelo setor caiu 34,8%.

Atendendo aos requisitos do Programa Atuação Responsável®, a Abiquim incentiva, ainda, por meio da Comissão Setorial de Saneamento e Tratamento

de Água, o reúso dos recursos hídricos pela indústria química, que tem se mostrado uma prática extrema-mente vantajosa, pois, além de reduzir o impacto ao

meio ambiente, diminui os custos de produção.

1

Evento reúne cerca de 70 pessoas na sede da Abiquim, em São Paulo.

Abiquim/ Divulgação

Page 2: Seminário Gestão Hídrica e a Indústria Química · hídricos da industria química está associada a três fatores: captação de água para resfriamento, consumo em processos

“Devemos tirar lições da crise”, afirma diretor-presidente da ANA

Para o diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu Guillo, a análise da crise de abastecimento de água precisa ser feita sob três aspectos: de que forma e por qual motivo chegamos ao estado de crise, quais as tendências para os próximos meses e que lições podem ser extraídas.Na opinião de Guillo, a crise é resultado de uma somatória de quatro fatores: a seca inédita que atingiu o território brasileiro; a ausência de planejamento para enfrentar o cenário de falta de chuvas, principalmente na região Sudeste; a ausência de uma cultura de preparação da população para uma seca nessa intensidade; e a regulação, que se mostrou insuficiente. Para o diretor-presidente da ANA, caso a redução do consumo do Sistema Cantareira houvesse começado antes de a crise atingir os níveis críticos a que chegou, teríamos garantia de abastecimento até o período chuvoso de 2016. Ele explica que as medidas de restrição poderiam ter sido tomadas em níveis mais brandos, porém desde fevereiro de 2014, para que enfrentássemos a crise hídrica com maior segurança.A tendência para os próximos meses, segundo o diretor-presidente da ANA, é de manutenção da seca no Nordeste do País e de chuvas acima da média nas regiões Norte e Sul, devido à passagem do fenômeno climático El Niño. Já na região Sudeste, o clima pode tanto ser afetado pelo avanço das chuvas do Norte e Sul, quanto da seca do Nordeste, o que torna as previsões indefinidas.

Quanto às lições que devemos tirar dessa crise, de acordo com Guillo, em primeiro lugar é preciso tomar consciência sobre a fragilidade do sistema de recursos hídricos do Brasil, que mostrou não estar preparado para dois anos de seca. “Não podemos trabalhar nos limites da segurança, temos de ter redundância, precisamos retomar a discussão sobre a construção de novos reservatórios”, observou. Para o diretor-presidente da ANA, também é importante que aconteça uma mudança no padrão de consumo dos brasileiros, pois, embora haja reduções consideráveis na indústria, ainda temos padrões muito elevados de consumo por habitante. Outra

questão que precisa de solução é a burocratização gerada pelo duplo domínio das águas. O especialista explicou que as águas superficiais são hora do Estado, hora da União e não há mecanismos que permitam tomar as decisões rápidas que as situações de crise exigem. Guillo levantou ainda a necessidade de redefinir os usos múltiplos da água. A legislação diz que o uso prioritário em casos de restrição hídrica é humano e animal, interpretado como ‘uso urbano’. Entretanto, enquanto o ato de encher uma piscina se enquadra no uso urbano, a restrição total à indústria pode levar ao desemprego. “É preciso haver uma revisão dos usos múltiplos. A condição dada pela Lei é genérica e criminaliza os usos da agricultura e da indústria”, afirma. Vicente Guillo lembra também que a regulação brasileira é insuficiente, pois não aponta níveis de criticidade para o planejamento de ações. O diretor-presidente da ANA usou como exemplo de boa prática a divisão dos níveis de contingência do plano para a crise hídrica da Abiquim, lançado durante o evento. “Com a regulação atual, não se toma medidas até que a crise chegue. Devem existir faixas intermediárias para proteção social”, sugere Guillo.Ainda dentre as lições tiradas da crise, o diretor-presidente da ANA acredita que devem ser aproveitadas alternativas inovadoras para aumentar o fornecimento de água. Além de práticas de reúso, Guillo vê a dessalinização como opção. De acordo com o especialista, o avanço tecnológico pode viabilizar economicamente essa prática principalmente em cidades localizadas no litoral do Brasil.

“Com a regulação atual, não se toma medidas até que a crise chegue. Devem existir faixas intermediárias

para proteção social.”

Vicente Andreu Guillo, diretor-presidente da ANA

2

Vicente A. Guillo vê possibilidade de aumentar fornecimento de água por meio de inovações tecnológicas.

Abiq

uim

/ Divu

lgaç

ão

Page 3: Seminário Gestão Hídrica e a Indústria Química · hídricos da industria química está associada a três fatores: captação de água para resfriamento, consumo em processos

Representantes das indústrias de SP, RJ, BA e RS apresentam panorama da crise hídrica pelo País

Abiquim lança Guia para Elaboração de Plano de Contingência para a Crise Hídrica

Mauro Machado Jr., especialista de Meio Ambiente Corporativo da Braskem, moderou o primeiro painel do evento, que foi aberto por Nelson Pereira dos Reis, diretor de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Reis destacou a severidade do quadro hidrológico do País, principalmente nas regiões Sudeste e Nordeste, e a importância da participação da indústria nos comitês de discussão, para levar ao conhecimento das autoridades as demandas locais, a fim de construir uma agenda de ações. O diretor da Fiesp também comentou sobre a necessidade de comunicar à população o que a indústria tem feito para reduzir o consumo e o desperdício de água. “Temos que mostrar a proatividade da indústria, nossa participação no esforço coletivo para preservar a água. A indústria faz muita coisa e mostra muito pouco”, lamenta. Jorge Peron, especialista de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), apresentou as ações para enfrentamento da crise hídrica, destacando a dependência do estado em relação à Bacia do Paraíba do Sul. “A indústria já vem fazendo sua parte há muito tempo. Uma pesquisa da Firjan do

final de 2014, com 487 indústrias, já mostrava que 57% delas já realizavam algum tipo de redução, reúso, recirculação de água em seus processos. Houve uma redução nos últimos dois anos maior do que 26%. Fazemos parte da solução do problema, não somos

o problema”, afirma.Sérgio Bastos, presidente do Comitê de Bacias Hidrográficas do Recôncavo Norte e Inhambupe/BA (CBHRNI), falou sobre a gestão de recursos hídricos no Polo Industrial de Camaçari (BA).

Bastos contou que, mesmo em condições favoráveis, o polo trabalha com a hipótese da crise. O presidente do CBHRNI explicou a colaboração da indústria na elaboração do plano diretor da Região Metropolitana de Salvador.Tiago Pereira, especialista em Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), apresentou a situação das bacias do estado, que, em relação ao restante do País, estão em níveis mais seguros de abastecimento. De acordo com Pereira, a grande preocupação no Rio Grande do Sul é com a qualidade da água.

O coordenador do Grupo de Trabalho (GT) Técnico sobre Água e líder América Latina de Conformidade Operacional da Dow, Luiz Oliveira, apresentou o guia desenvolvido pelo GT. O material serve de base para o desenvolvimento de um Plano de Contingência com ações mitigatórias em casos de restrição hídrica para a indústria química.O guia foi estruturado em ações sugeridas para quatro níveis de contingência – verde, amarelo, laranja e vermelho – que devem ser definidos por cada unidade produtiva, ou seja, com

base no perfil hidrológico atual da bacia hidrográfica onde a unidade produtiva esteja instalada. As medidas de mitigação recomendadas para cada nível possibilitam às empresas avaliar

as ações propostas e moldá-las de acordo com sua realidade. No nível verde, a empresa está no uso pleno dos recursos hídricos e, no nível mais crítico (vermelho), o volume de água das fontes hídricas é insuficiente para atender a fábrica.Oliveira destacou a importância de as empresas basearem-se em redes de informações formadas por representantes de bacias e secretarias de Meio Ambiente estaduais e municipais para definir o nível em que se encontra. A ideia é que as empresas possam incorporar o plano ao seu sistema de gestão.

“Fazemos parte da solução do problema, não somos o problema”

Jorge Peron - Firjan

3

Guia para elaboração de

Plano de Contingência para a Crise Hídrica

SANEAMENTOE TRATAMENTODE ÁGUAS

COMISSÃO SETORIAL

IntroduçãoA Lei n° 9.433, de 8 de Janeiro de 1997, instituiu a Política Nacional de

Recursos Hídricos (PNRH), que, por sua vez, criou o Sistema Nacional

de Gerenciamento de Recursos Hídricos e estabeleceu, como um dos

instrumentos de gestão, o PNRH, definindo, dentre outras prioridades,

metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da

qualidade dos recursos hídricos. Desta forma, a gestão dos recursos

hídricos da industria química está associada a três fatores: captação de

água para resfriamento, consumo em processos e produtos e descarte de

efluentes. Em decorrência da escassez deste recurso, o Guia apresentado

a seguir serve de base para o desenvolvimento de um Plano de

Contingência com ações mitigatórias para a Indústria Química em geral.

Av. Chedid Jafet, 222 • Bloco C • 4º andar CEP 04551-065 • São Paulo • SP • Brasil Tel.: (11) 2148-4700 • Fax: (11) 2148-4760

abiquim.org.br

Elaboração: GT Água – Comissão de Meio Ambiente e SustentabilidadeVerde

Escassez do Recurso Hídrico

Amarelo Laranja Vermelho

Os níveis de contigências devem ser definidos por cada unidade produtiva, ou seja, com base no perfil hidrológico atual da bacia hidrográfica onde a unidade esteja instalada.

Page 4: Seminário Gestão Hídrica e a Indústria Química · hídricos da industria química está associada a três fatores: captação de água para resfriamento, consumo em processos

O Seminário “Gestão Hídrica e a Indústria Química” aconteceu por uma iniciativa do GT Água, grupo técnico de trabalho ligado à Comissão de Meio Ambiente e

Sustentabilidade da Abiquim, que tem o objetivo de realizar discussões e análises a respeito da utilização dos recursos hídricos na indústria química e propor ações de melhoria, visando tanto o uso racional do recurso, quanto a sustentabilidade dos negócios. O GT é coordenado pelo Líder América Latina de Conformidade

Operacional da Dow, Luiz Oliveira.

Indústria química apresenta tecnologias para a gestão da águaNo último painel do evento, moderado por Maria Luiza Couto, pesquisadora da Rhodia, foram apresentadas as tecnologias usadas pela indústria química que possibilitam o reúso e reduzem o consumo de água nos processos. Max Araújo, gerente de Operações da Cabot, apresentou o esquema do sistema de gestão da empresa, que recupera 100% dos efluentes (domésticos e industriais), e o processo de produção do negro de fumo. Fábio Pereira de Carvalho, especialista Técnico da Dow, detalhou tratamentos avançados baseados em membranas, como a ultrafiltração, a nanofiltração e a osmose reversa. Kleber Martins, gerente de soluções América Latina da Nalco, mostrou tecnologias de redução do consumo de água em processos de tratamento do recurso hídrico e de efluentes com o uso do ParetoTM, ferramenta que otimiza a injeção de produtos químicos no material a ser tratado. Finalmente, Renato Ferreira, gerente de Utilidades e Energia da Solvay, falou sobre o projeto da empresa de destinação do lodo da água tratada, que possibilita o reaproveitamento de cerca de 20% da água consumida, a partir da coleta do resíduo

Expediente:Uma publicação Abiquim - Comunicação AbiquimProdução: Adriana NakamuraImagens: Fernando TavaresCoordenação: Camila MatosEditoração: Thaylla Ferreira (Fábrica C Comunicação)

4

Mauro Machado Jr., especialista de Meio Ambiente Corporativo da Braskem, Luiz Gustavo Esteves Pereira, vice-presidente e gerente geral da Ecolab Brasil, e Hilton Carvalho, líder de Atendimento Técnico da Unipar Carbocloro, apresentaram cases de gestão hídrica de suas respectivas empresas. Machado, da Braskem, destacou o Aquapolo como case de sucesso na prática de reúso de água. Pereira, da Ecolab Brasil, apresentou a Water Risk Monetizer, ferramenta de modelagem financeira para empresas incorporarem o risco de escassez de água em suas decisões

de negócios. Carvalho, da Unipar Carbocloro, falou sobre o tratamento de água em momentos de crise hídrica e os impactos da redução da produção de água para a indústria de insumos para o tratamento do recurso.

Acesse o Guia para Elaboração de Plano de Contingência para a Crise Hídrica em abiquim.org.br