semiárido brasileiro e baiano_dimensão territorial e estratégia de desenvolvimento

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    Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010,Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

    SEMIÁRIDO BRASILEIRO E BAIANO: DIMENSÃO TERRITORIAL EESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO [email protected]

    APRESENTACAO ORAL-Desenvolvimento Rural, Territorial e regional HUMBERTO MIRANDA DO NASCIMENTO.

    UNIVERSIDADE ESATADUAL DE CAMPINAS, INSTITUTO DE ECONOMIA, CAMPINAS- SP - BRASIL.

    Semiárido Brasileiro e Baiano: dimensão territorial e estratégia dedesenvolvimento

    The strategy territorial development of the Semi-arid region of the State ofBahia/Brazil

    Grupo de Pesquisa: Desenvolvimento Rural, Territorial e regional

    Resumo:A noçãoConvivência com o Semiárido baseia-se no sucesso das experiências produtivas dedesenvolvimento local na Região do Semiárido da Região do Nordeste do Brasil. Estasexperiências, por várias razões, não são generalizáveis a todo território semiárido nordestino e,na maioria dos casos, restringem-se a programas emergenciais limitados a uma determinadaatividade econômica em áreas rurais pobres. O objetivo deste artigo é discutir odesenvolvimento da região do semiárido baiano com ênfase no enfoque territorial.Palavras-chave: Convivência com o Semiárido; Desenvolvimento territorial; Práticassocioespaciais.

    Abstract:In general, the experience productive adapted to environmental conditions in semi-aridregions are succeeding, but their multiple effects are limited in terms of economicdevelopment in Northeastern Brazil. These experiences, for various reasons, cannot begeneralized to the entire Semi-arid Region Northeastern, in most cases. The public assistanceprograms are also very limited, because they are exclusive to the economic activities of therural poor. The purpose of this article is to examine the limits of territorial approach ofrurality in Semi-arid Brazilian. The purpose of this article is to discuss the territorialdevelopment of the Semi-arid region of the State of Bahia.Key words: Semi-arid Region, Territorial Development, Social-Spatial Practices.

    Introdução

    O objetivo deste artigo é discutir o desenvolvimento da região do SemiáridoBrasileiro e do Semiárido Baiano em particular, com base no enfoque territorial. Dado queessa imensa sub-área da Região Nordeste tem muitas particularidades e o Semiárido Baianoter a maior dimensão em área por km², população rural e presença marcante da agriculturafamiliar, torna-se imperativo discutir não apenas os limites, mas possibilidades de seu

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    desenvolvimento. As mudanças que atualmente ocorrerem na Região do Semiárido Brasileiro(RSAB) carece de aprimoramento constante, tendo em vista que as perspectivas de soluçãoapontadas por iniciativas de desenvolvimento local estão mais próximas a uma coleção decasos, dado o tamanho empirismo, do que de um enfoque amplo que levem em conta aarticulação das escalas espaciais e a articulação entre as esferas do rural e do urbano.

    Recentemente, em 2003, o Governo Federal, por intermédio da Secretaria doDesenvolvimento Territorial, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário(SDT/MDA), implementa o Programa Nacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentáveldos Territórios Rurais. O mencionado Programa estimula a formação de territórios rurais, apartir de articulações intermunicipais e da constituição de colegiados territoriais, espaços deplanejamento e gestão do desenvolvimento rural e da aplicação dos recursos públicostransferidos aos Municípios. Foram, ao todo, 120 territórios apoiados pela SDT/MDA emtodo o país. Na Bahia, especialmente, foram criados 26 Territórios de Identidade no ano de2007, pelo governo estadual, tornando-se o primeiro estado do país a delimitar integralmentea totalidade do seu território em Territórios de Identidade, tratando-os desde então comounidades de planejamento. Que desafios se impõem ao mundo rural a partir desse viésterritorial do planejamento?Em termos metodológicos, vai privilegiar neste texto um maior discernimento acercado que se compreende porConvivência com o Semiárido, sem, todavia, ser exaustivo quanto àliteratura. O esforço de análise, nesse particular, precisa ser mais efetivo e expor mais emelhores alternativas para a região. A abordagem pela ótica daConvivência com o Semiárido tem a vantagem de buscar reunir uma série de agentes que atuam em distintas esferas sociaisnaquele espaço interregional, renovando velhas soluções e construindo novas através deprática socioespaciais específicas. Nesse sentido, a noçaõ deConvivência com o Semiárido passou a ser usada e difundida por órgãos públicos de planejamento, pesquisa e extensão ruralem suas diferentes esferas de governo e por organizações sociais vinculadas ou não àagricultura familiar em praticamente todo o Nordeste. Genericamente, o que se pode dizer éque se trata de uma prática social dos segmentos organizados da sociedade civil que atuam noSemiárido Brasileiro. Uma atuação importante na promoção de um fazer-saber (conhecimentopróprio) oriundo da ação de organizações sociais junto a agricultores familiares e na justificação de umsaber-fazer (conhecimento apropriado) oriundo de novas concepções depolíticas públicas visando superar diferenças inter e intra-regionais.

    O Nordeste e a Bahia em particular podem estar diante de um fenômeno novo.Fenômeno este que se expressa por meio de uma série de experiências socioeconômicasinovadoras, ainda que persistam velhas as questões a resolver, tais como a pobreza rural e adesigualdade. Entidades civis e órgãos públicos como o Fórum Articulação no SemiáridoBrasileiro (ASA), Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA),

    Movimento de Organização Comunitária (MOC), Associação de DesenvolvimentoSustentável e Solidário da Região Sisaleira (APAEB/Valente), Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária do Semi-Árido (EMBRAPA Semiárido), Companhia deDesenvolvimento e Ação Regional (CAR), Empresa Baiana de Desenvolvimento AgrícolaS/A (EBDA), entre outras, atuam, cada uma a seu modo, tratando de um mesmo fenômeno: oda inserção do Semiárido como, digamos, área de soluções e não apenas como “área-problema”1.

    Todavia, para serem mais bem aproveitadas em todo seu potencial, tais experiênciasprecisam ser analisadas levando-se em consideração elementos estruturais que vão além do

    1 A discussão do Nordeste como “área-problema” é dos anos de 1960 e 1970, em referencia à desarticulação

    entre o crescimento econômico nacional e o regional. Ver Cohn (1978).

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    empirismo, por mais rico que seja, a fim de constituir ‘pontes epistemológicas’ mais claras oupontos de vista mais consistentes em relação ao fenômeno observado no espaço regional. Paradar conta dos seus aspectos mais descritivos, propõe-se, de forma ainda preliminar, reunir umconjunto de informações sobre os Territórios de Identidade da Bahia (TIB). Utiliza-se oÍndice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), do IPEA-PNUD2, com o intuinto

    de qualificar a relação entre espaço regional e desenvolvimento territorial no semiárido.O artigo está dividido em duas seções. A primeira seção apresenta os novos desafiosà análise territorial do desenvolvimento, discutindo as dimensões espaciais envolvidas. Nasegunda, discute-se o desenvolvimento do Semiárido Baiano considerando a conexão entre aperspectiva territorial com a regional da análise. Na conclusão, apresentamos uma síntese dadiscussão, reforçando a noção deConvivência com o Semiárido como estratégia dedesenvolvimento territorial.

    1. Desenvolvimento do Semiárido: velhos desafios sob novas perspectivas

    A crítica sobre a existência de um Semiárido em estreita identidade com a exclusão

    social, como lugar de carência e de ausência de dinâmica socioeconômica relevante, tornou-sebastante comum. Seria necessário agir na contramão dessa identidade tão marcante,construída ao longo do tempo, para que a noção deConvivência com o Semiárido passasse aser não mais expressa pelos baixos níveis de subsistência da população, mas traduzindo uma prática socioespacial nova. O que se quer superar é justamente uma condição territorialsegregadora no semiárido, identificada apenas com o combate ao drama social da exclusão,como se esta decorresse, puramente, do agravamento dos efeitos da seca. O sujeito seria aseca; o objeto, o homem em sua passividade diante dela. Por mais que surjam inúmeraspropostas pontuais de alívio dos tais efeitos da seca, nenhuma se basta a si mesma para mudartrajetórias de vidas, processos sociais e, sobretudo, para criar as condições necessárias paraconsecução de estratégias de desenvolvimento.

    Desde a criação da Inspetoria de Obras Contra as Secas (1909), transformada emDiretoria Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS) em 1945, prosseguindo com as políticasde combate às secas do Nordeste (Constituição de 1946), com a criação da Comissão do Valedo São Francisco (discussão da política de desenvolvimento) e da Companhia Hidroelétricado São Francisco (CHESF) para a produção de energia, em 1948, passando pela criação doBanco do Nordeste em 1952 e, finalmente, pela criação da Superintendência doDesenvolvimento do Nordeste (SUDENE), em 1959, as políticas públicas voltadas para oSemiárido Brasileiro atentaram quase que exclusivamente para o combate aos efeitos dasgrandes secas. Isso tudo resultou numa prática baseada na premissa segundo a qual caberia aoEstado amenizar os efeitos perversos das secas para que o sertão prosperasse. Isso não ocorrede forma diferente, ao menos no discurso, com o atual “Projeto de Transposição das águas doRio São Francisco”, conduzido pelo Ministério da Integração Regional, e que reitera a velha“solução hidráulica” para o Nordeste anterior aos anos de 1950.

    Pois bem, se as soluções antigas e a que está em curso não parecem sugerir, tal comoforam planejadas, mudança real de estratégia, observa-se que uma das razões é porque aprópria estratégia adotada obedeceu à lógica como o Estado brasileiro vai perpetrando suaação acomodando frações de poder presentes na sociedade, perpetuando as alianças com opoder político local e reforçando o clientelismo, em detrimento da democratização rural e dainclusão socioeconômica. O que, no entanto, chama a atenção é o fato de que a estratégia

    2 Novo Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2002), IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas

    Aplicadas, PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Fundação João Pinheiro.

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    geral adotada, a partir dos anos de 1960, após o Golpe Militar de 1964, criou mais problemasque resolveu ao acentuar o desequilíbrio territorial entre os espaços urbano e rural, sem queisso representasse acesso a cidadania e serviços, gerasse empregos e melhorasse o nível derenda da população Semiárida do Nordeste Brasileiro.

    Carvalho e Egler (2003) fazem uma boa síntese do ocorrido. Segundo eles,

    Há meio século, pensava-se em promover o desenvolvimento do NordesteSemiárido, “esvaziando-o” de boa parte de seus contingentes demográficos, porintermédio de estratégias de reorganização de sua economia, como foi pensadopelo Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN) e pelaSuperintendência do Desenvolvimento do Nordeste – Sudene. Essa oportunidadefoi, em parte, perdida, pois as estratégias adotadas a partir dos anos de 1960privilegiaram a “fixação do homem ao campo”. Os programas subjacentes àsnovas estratégias não criaram as condições necessárias para essa fixação.Prestaram-se muito mais para intensificar as migrações do campo para as cidades.O resultado foi o deslocamento acentuado da população rural em direção às

    capitais do Nordeste e às cidades de todos os portes do Semiárido. (CARVALHOe EGLER, 2003, p.10)

    Os autores ressaltam, porém, que, apesar de uma estrutura social herdada aindacontinuar impedindo mudanças mais significativas na questão do desenvolvimentonordestino, há algo de novo no momento atual que nos impede de traçar painéis sempre maispessimistas relativos ao futuro da região semiárida. Para Carvalho e Egler, “há fortes indíciosda presença de agentes sociais importantes nos sertões nordestinos, que hoje contribuem parao desmonte das velhas estruturas econômicas da região” (p.12), situação bem diferentedaquela encontrada por Celso Furtado quando estava à frente da SUDENE. Aliás, reitere-se,para Furtado, não haveria desenvolvimento econômico verdadeiro sem transformação social,

    devendo esta ser “a expressão da capacidade para criar soluções originais aos problemasespecíficos de uma sociedade” (FURTADO, 2008, p.110). A pergunta é: dada a novacorrelação de forças, a ascensão dos movimentos sociais rurais e o fortalecimentoinstitucional das reivindicações da agricultura familiar, é possível recompor estratégias?Enfim, podemos ser mais originais do antes ao propor novas soluções?

    Antes é preciso verificar o novo quadro institucional e da realidade regional. Eis quesomente no início do século XXI começou-se a incorporar novas diretivas para revitalizarcertas iniciativas em prol do desenvolvimento no Semiárido Brasileiro, no âmbitogovernamental. Uma delas diz respeito à própria delimitação espacial. A re-delimitação doSemiárido foi um bom recomeço para entender as exigências das formas de intervenção:propor novas estratégias, sem esquecer as lições das mais antigas e favorecer um ambiente de

    maiores vínculos com os agentes sociais que vivenciam aquela realidade.A atualização da área geográfica correspondente à Região do Semiárido Brasileiro(RSAB) incluiu 102 novos municípios, os quais foram enquadrados em pelo menos um dostrês critérios utilizados: precipitação pluviométrica, índice de aridez e risco de seca. Com anova delimitação3, o número de municípios da RSAB aumentou de 1.042 para 1.133 e a áreaoficial do Semiárido brasileiro aumentou de 895.254,4 km² para 980.056,7 km², um acréscimode 9,5%, aproximadamente. Minas Gerais teve o maior número de inclusões na nova lista,passou de 41 para 85 municípios. Dos nove Estados que estão nesta nova delimitação,

    3 Cabe lembrar que a delimitação da SUDENE incluía uma área de atuação mais ampla, as áreas do Maranhão e

    do Espírito Santo.

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    ganharam mais municípios os de Minas Gerais, Piauí, Bahia, Rio Grande do Norte e Ceará;perderam, os de Sergipe, Pernambuco e Alagoas; e continuou como estava, o da Paraíba.

    Na Tabela 01 da nova delimitação do Semiárido Brasileiro, apresentada peloMinistério da Integração Nacional em 2005, encontra-se, além do atual número demunicípios, população e densidade demográfica, o percentual do número e área dos

    estabelecimentos agropecuários dos respectivos Estados.

    Tabela 01 - Semiárido Brasileiro: características gerais de acordo com sua novadelimitação

    EstadoMunicípios Área PopulaçãoUrbana

    PopulaçãoRural

    PopulaçãoTotal

    Estab.Agro (%)

    Densid.Demog.

    Nº km² % hab hab hab Nº Área hab/km²Bahia 265 390.549,4 39,8 3.394.849 3.046.692 6.441.541 73,6 62,5 16,5Piauí 127 150.454,3 15,4 420.767 527.791 948.558 51,7 51,7 6,3Ceara 150 126.514,9 12,9 2.454.260 1.761.475 4.215.735 76,5 85,2 33,3Minas Gerais 85 103.590,0 10,6 640.314 548.899 1.189.213 16,4 14,7 11,5Pernambuco 122 86.710,4 8,8 1.898.648 1.341.515 3.240.163 78,9 79,3 37,4Rio Grandedo Norte 147 49.589,9 5,1 1.063.138 540.460 1.603.598 88,7 82,9 32,3

    Paraíba 170 48.785,3 5,0 1.247.013 746.481 1.993.494 73,0 83,7 40,9Alagoas 38 12.686,9 1,3 431.501 408.858 840.359 56,7 40,9 66,2Sergipe 29 11.175,6 1,1 210.558 186.801 397.359 40,0 53,3 35,6Total 1.133 980.056,7 100,0 11.761.048 9.108.972 20.870.020 59,4 48,8 21,3

    Fonte: Ministério da Integração Nacional (2005) e Censo Agropecuário (IBGE, 2006) – elaboração própria.

    A Bahia logo se destaca por possuir, percentualmente, o maior número de municípiosinseridos no semiárido, 23,4% (265 de 1.133), a maior área (40%), pouco mais de 390 km², amaior população (30,9%), cerca de 6,4 milhões, e uma densidade demográfica de 16,4hab/km², que é relativamente baixa em comparação com a da RSAB, de 21,20 hab/km². Umadensidade demográfica relativamente baixa demonstra uma importância nada desprezível domeio rural e uma importante dispersão urbana. Quanto à participação percentual do número eárea dos estabelecimentos agropecuários no Semiárido Brasileiro, esta é expressiva, de 59,4%,com destaque para a participação percentual da área dos estabelecimentos, de 48,8%.

    Em termos da participação percentual do número de estabelecimentos agropecuários,conforme a Tabela 01, a exceção é Minas Gerais, com menos de 20%; já os estados deSergipe, Alagoas e Piauí apresentam um percentual entre 40 e 57%; e, com uma participaçãopercentual acima de 70%, os Estados da Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte eParaíba. No que se refere à participação percentual das áreas dos estabelecimentos, temos:Minas Gerais com isolados 14,7%; os mesmos Sergipe, Alagoas e Piauí apresentam umpercentual entre 40 e 54%; Bahia e Pernambuco como 62,5 e 79,3%, respectivamente; eCeará, Rio Grande do Norte e Paraíba com mais de 80%. Considerando o maior peso da áreaem km², de 39,8%, do número e área dos estabelecimentos agropecuários da Bahia, de 73,6 e62,5%, pode-se considerar que há uma população que se distribui de forma mais dispersa nafaixa semiárida e com um forte equilíbrio populacional entre o urbano e o rural, apresentandoo maior peso relativo da população rural no Semiárido Brasileiro.

    Tomando-se a participação percentual das três principais atividades agropecuárias naRSAB _ lavoura temporária, lavoura permanente e criação animal _, na Tabela 02, constata-se

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    de imediato a maior presença da pecuária em relação às lavouras temporária e permanente,tanto em número de estabelecimentos (30,1%) quanto em área (31,1%) no total agropecuáriodo Semiárido Brasileiro.

    Tabela 02 - Semiárido Brasileiro: nº e área dos estabelecimentos por grupos de área,segundo a atividade econômica e a participação percentual no total da agropecuária

    Grupos deárea (ha)

    Temporária (a) Permanente (b) Criação animal (c) (a+b+c)/AgroTotalEstab Área Estab Área Estab Área Estab Área

    0 < 2 276.475 246.320 28.190 23.328 187.198 244.70166,2% 83,9%2 < 5 177.391 524.942 27.832 82.437 130.846 398.68065,2% 64,3%5 < 10 87.949 590.692 20.007 131.430 101.563 694.70361,7% 60,8%10 < 20 70.530 949.898 14.395 187.959 108.868 1.482.36060,9% 60,1%20 < 50 63.741 1.900.039 12.749 372.535 131.402 4.005.76459,3% 58,4%

    50 < 100 22.241 1.465.065 5.672 337.506 57.958 3.900.22455,8% 54,6%100 < 200 9.509 1.206.604 2.363 260.749 29.981 3.995.15751,3% 49,7%200 < 500 5.414 1.463.790 1.470 330.488 19.405 5.718.68149,3% 47,0%500 acima 2.482 2.230.109 647 304.783 9.321 9.158.77647,6% 30,6%Total 715.732 10.577.459 113.325 2.031.215 776.542 29.599.046 62,2% 44,3%Total (%) 27,7% 11,1% 4,4% 2,1% 30,1% 31,1%

    Fonte: Censo Agropecuário (IBGE, 2006) – elaboração própria.

    As lavouras permanentes têm a menor participação percentual, 4,4% em número deestabelecimentos e 2,1% em área dos estabelecimentos. Já as lavouras temporárias têm uma

    participação percentual mais desequilibrada em número de estabelecimentos (27,7%) e área(11,1%). Embora o conjunto das atividades econômicas consideradas apresente umadistribuição relativamente equilibrada em número e área dos estabelecimentos por grupo deárea no total agropecuário do Semiárido, dentro dos limites da região, os grupos de áreamaiores concentram historicamente as maiores diferenças em termos de área em hectare enúmero de estabelecimentos. Entretanto, as diferenças apontadas pelos dados ficam maisclaras quando consideramos uma caracterização mais próxima do nível territorial que serequer para a análise do desenvolvimento rural. Daí a síntese apresentada no Quadro 01 com acombinação das informações dos estabelecimentos agropecuários.

    QUADRO 01: Tipologia econômico-espacial do rural no Semiárido Brasileiro

    Tipo Estabelecimentos Valores Área dosestabelecimentos ValoresÁrea média(Estab/ha)

    Rural disperso¹% dos estabelecimentos 76,7% % da área dos estab. 13,2%

    4,5Nº de estabelecimentos 1.231.244 área em ha dos estab. 5.557.450

    Rural menosconcentrado²

    % dos estabelecimentos 18,3% % da área dos estab. 28,4%40,8

    Nº de estabelecimentos 293.763 área em ha dos estab. 11.981.133

    Rural muitoconcentrado³

    % dos estabelecimentos 5,0% % da área dos estab. 58,4%306,1

    Nº de estabelecimentos 80.592 área em ha dos estab. 24.669.137

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    Fonte: Censo Agropecuário (IBGE, 2006) – elaboração própria¹ Estabelecimentos agropecuários situados no grupo de área até 20ha.² Estabelecimentos agropecuários situados no grupo de área entre 20ha e 100ha.³ Estabelecimentos agropecuários situados no grupo de área acima de 100ha.

    A tipologia apresentada no Quadro 01 está ainda bastante simplificada4, mas, combase nos variáveis número e área dos estabelecimentos agropecuários e o indicador de áreamédia, pode-se falar num: (i) Rural disperso: com área média de 4,5 ha/nº estabelecimento, écaracterizado por elevado grau de munifundização, ou seja, quanto menor a área dosestabelecimentos agropecuários mais pulverizados espacialmente eles se tornam, o quedificulta ações coordenadas sobre o território; (ii) Rural menos concentrado: com área médiade 40,8 ha/nº estabelecimento, é caracterizado por um melhor equilíbrio entre número e áreado estabelecimento, mas como o percentual de estabelecimentos é inferior a 20%, a açãocoordenada no território tem alcance limitado; e (iii) Rural muito concentrado, com áreamédia de 306,1 ha/nº estabelecimento, é caracterizado por poucos estabelecimentoscomandando uma grande proporção da área semiárida, o que distorce a correlação de forçascausando prejuízo às ações coordenadas sobre o território (excesso de poder territorial).

    Para a abordagem territorial, entretanto, há que se considerar a tipologia que,potencialmente, pode ser mais atrativa para dar conta dos contrastes sociais e incorporar o queparece ser exceção em termos de dinâmica econômica, isto é, a nosso ver, uma combinaçãomais equilibrada entre atividades de lavoura e pecuária, especialmente a caprino-ovinocultura,e principalmente entre o número de estabelecimentos e área ou a redução do grau deminifundização. No caso da tipologia exposta no Quadro 01, orural menos concentrado teriaa dinâmica econômico-espacial mais permeável à articulação entre os três tipos de utilizaçãode terras, entre lavouras temporária, permanente e a pecuária, devendo equilibrar mais astendências pulverizadoras voltadas á subsistência (rural disperso) e concentradoras em termos

    fundiários (rural muito concentrado), apesar do número restrito de estabelecimentosagropecuários que percentualmente ele representa.Outro aspecto a destacar é o peso percentual da agricultura familiar no semiárido

    brasileiro, conforme a Tabela 03. No Semiárido brasileiro encontra-se o maior percentual deestabelecimentos da agricultura familiar, seguido pelas Regiões Nordeste e Sul,respectivamente. E é principalmente no Semiárido Brasileiro que se concentra, em termosrelativos, a maior área da agricultura familiar, de quase o dobro da média nacional ou 1,8vezes desta. Por Estados, os de Pernambuco, Paraíba, Bahia e Alagoas que apresentam,respectiva, relativa e simultaneamente, o maior percentual em número de estabelecimentosagropecuários (acima de 63%) e maior percentual em hectares de área (acima de 70%). Porregião geográfica, chama atenção o fato de o Centro-Oeste apresentar a menor expressão em

    termos do percentual de número de estabelecimentos e de hectares de área da agriculturafamiliar que as demais regiões, inclusive, menos que no Sudeste. Em âmbito nacional, aagricultura familiar apresenta um percentual de expressivos 84,4% do número deestabelecimentos, mas de decepcionantes 24,3% em área dos estabelecimentos. Apenas asregiões Nordeste, Norte e Sul, nessa ordem, superam a o percentual nacional tanto em termosde número de estabelecimentos como de hectares de área. É o Semiárido Brasileiro, com89,2% do número de estabelecimentos da agricultura familiar e os expressivos 43,5% em

    4 Há que se considerar a relação entre o rural e o urbano de forma mais ampla e não restringir a tipologia os

    estabelecimentos agropecuários.

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    hectares de área, que concentra o público preferencial das políticas públicas voltadas para odesenvolvimento territorial, apesar das restrições para coordenar ações nessa direção.

    Tabela 03 - Peso percentual da Agricultura Familiar no Semiárido, por estado,região geográfica e no Brasil

    Semiárido, Regiões eBrasil

    Número de estabelecimentosagropecuários (Unidades)

    Área dos estabelecimentosagropecuários (Hectares)

    Total NãofamiliarAgricultura

    familiar TotalNão

    familiarAgricultura

    familiarPiauí Semiárido 55,3% 5,2% 50,0% 57,3% 31,1% 26,2%Ceará Semiárido 84,6% 8,7% 75,9% 89,3% 48,6% 40,7%R. G. Norte Semiárido 93,4% 13,0% 80,4% 94,5% 62,4% 32,1%Paraíba Semiárido 76,5% 80,9% 76,0% 87,4% 86,1% 89,1%Pernambuco Semiárido 83,9% 79,9% 84,3% 84,0% 75,5% 93,5%Alagoas Semiárido 62,5% 56,8% 63,1% 44,0% 31,1% 71,1%Sergipe Semiárido 41,1% 41,5% 41,0% 57,6% 48,5% 67,5%Bahia Semiárido 75,8% 67,2% 77,0% 64,9% 56,4% 81,5%M. Gerais Semiárido 17,2% 12,2% 18,5% 15,4% 13,9% 19,6%Semiárido Brasileiro 100,0% 10,8% 89,2% 100,0% 56,5% 43,5%Nordeste 100,0% 10,9% 89,1% 100,0% 62,5% 37,5%Norte 100,0% 13,2% 86,8% 100,0% 69,6% 30,4%Sudeste 100,0% 24,1% 75,9% 100,0% 76,4% 23,6%Sul 100,0% 15,5% 84,5% 100,0% 68,5% 31,5%Centro-Oeste 100,0% 31,5% 68,5% 100,0% 90,9% 9,1%Brasil 100,0% 15,6% 84,4% 100,0% 75,7% 24,3%Fonte: Censo Agropecuário (IBGE, 2006) – elaboração própria

    As políticas públicas territoriais passam a contemplar a convivência socioeconômicae ambiental nas suas faces, urbana e rural, enquanto complexidades, não se contentandoapenas com suas espacialidades específicas ou especialidades econômicas exclusivas de umdeterminado território em detrimento de outros. Deve-se atentar, pois, para as dimensõesespaciais que envolvem as ações territoriais sobre os territórios. A noção deConvivência como Semiárido, nessa perspectiva, é entendida como uma ação transformadora e re-significadorade uma relação socioespacial, que só poderá ser mais bem empreendida se adquirir maiorinteligibilidade por intermédio do processo de desenvolvimento. Nesse sentido, é precisoconsiderar as insuficiências e limites da dimensão territorial do desenvolvimento estão sendoreforçados na dinâmica regional do Semiárido.

    Uma conexão promissora nessa sentido — qual seja, de que a análise regional podeconter uma abordagem territorial — foi discutida por Brandão (2007) em seu livroTerritórioe Desenvolvimento, que faz uma crítica consistente a respeitos dos fundamentos, ou faltadestes, nas abordagens do desenvolvimento local ou “localismos” como panacéia para osproblemas do desenvolvimento nacional. Para este autor, o grande desafio é saber como tratar,ao mesmo tempo, numa perspectiva multiescalar, as heterogeneidades estruturais de um país

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    subdesenvolvido e as diversas alternativas de avanço social, político e produtivo. O autorobserva que

    Nunca as diversidades produtivas, sociais, culturais, espaciais (regionais, urbanase rurais) foram usadas no sentido positivo. Foram tratadas sempre comodesequilíbrios, assimetrias e problemas. A equação político-econômica imposta aopaís pelo pacto de dominação oligárquico das elites, cuja lógica aponto muitosinteticamente neste texto, travou o exercício da criatividade “dos de baixo”,procurando impedir sua politização. (BRANDÃO, 2007, p. 205).

    Brandão enfatiza a necessidade de construção democrática de estratégias dedesenvolvimento e aponta os limites teóricos que desafiam a noção de desenvolvimentoterritorial, sujeita que é, segundo ele, a deslumbramentos nas novas abordagens em curso,como as teses “localistas”.

    A necessidade de territorialização das intervenções públicas é tomada comopanacéia para todos os problemas do desenvolvimento. Assevera-se, de forma

    velada ou explícita, que todos os atores sociais, econômicos e políticos estão cadavez mais plasmados, diluídos (subsumidos), em um determinado recorteterritorial. (...) Propugnam-se receitas genéricas, descurando, por exemplo, dasespecificidades de um contexto de país subdesenvolvido, continental, periférico ecom uma formação histórica da escala local bastante peculiar. Lança-se mão derepertórios de boas práticas bem catalogadas, fruto de um esforço de pesquisa decriação de inventários de experiências de desenvolvimento territorial.(BRANDÃO, 2007, p.49).

    Considerando pertinente a direção desse debate, o que se propõe como estratégia dedesenvolvimento territorial não pode ser levada a bom termo quando é um somatório deexperiências locais bem sucedidas do que se fala. A questão é bem mais ampla e, diga-se, nãoé tão trivial assim quando se trata da noção deConvivência com o Semiárido, por mais que elasintetize uma idéia deespaço relacional, que se transforma e se re-significa por meio de redessocioespaciais. Nesta noção, o que é importante enfatizar é a prática de planejamentoterritorial como uma prática socioespacial levada a cabo pelas organizações, agentes públicose atores sociais em geral, dando um caráter democrático à perspectiva multiescalar da análise.

    Os caminhos do planejamento territorial, para Brandão, estão colocados nosseguintes termos:

    Qualquer diagnóstico de natureza territorial deveria explicitar os conflitos ecompromissos postos; posicionar recorrentemente a região ou a cidade no

    contexto: mesorregional, estadual, nacional etc.; identificar seus nexos decomplementaridade econômica. Estudar sua inserção frente aos ritmosdiferenciados dos processos econômicos dos diversos territórios com os quais serelaciona conjuntural e estruturalmente. Não se pode negligenciar a natureza dashierarquias imputadas. O pesquisador da dimensão territorial do desenvolvimentodeve ser um apanhador de sinais e um caçador de hierarquias. (BRANDÃO, 2007,p.53).

    Neste texto, o que se “apanham”, digamos assim, são as estratégias de convivênciacom o semi-árido, como “sinais”. Sua análise seria uma espécie de “caçada” às hierarquiasestruturantes do rural na relação com o urbano, o social e o ambiental. Em função disso, o

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    fortalecimento das redes socioespaciais seria requisito fundamental por se tratar da capacidadede articulação entre organização social e o próprio Estado na consolidação das estratégias quedêem sustentabilidade dinâmica às regiões rurais no Semiárido Brasileiro. Em resumo, adimensão territorial são as redes socioespaciais; já a regional, as condições sócio-estruturaisdo Semiárido. Com base nessa perspectiva de análise, organiza-se um novo quadro de

    desafios para o entendimento da realidade territorial do Semiárido Baiano, como se discutirána próxima seção.

    2. Semiárido baiano, uma análise território-regional

    A perspectiva de análise aqui adotada é não reduzir a noção deConvivência com oSemiárido a uma única dimensão, ora social ou ora econômica. Seu entendimento requer umdiscernimento condizente com a perspectiva socioespacial e com a dimensão econômico-territorial, ou seja, por um lado, uma perspectiva de interação entre homem e naturezaqualitativamente melhor, que reduza as vulnerabilidades sociais (pobreza) e ambientais(degradação) e, por outro lado, uma perspectiva de transformação produtiva mais ampla, que

    promova um novo “campo econômico”, na acepção de Bourdieu:Para romper con el paradigma dominante, hay que tratar, levantando acta en unaperspectiva racionalista ampliada de la historicidad constitutiva de los agentes yde su espacio de acción, de establecer una definición realista de la razóneconómica como encuentro entre unas disposiciones socialmente constituidas (enrelación a un campo) y las estructuras, a su vez socialmente constituidas, de estecampo. (BOURDIEU, 2000, p.237).

    Tem em vista que aConvivência-com-Semi-Árido é fruto da difusão de um conjuntode técnicas ou tecnologias específicas adaptadas ás condições edafoclimáticas próprias doSemiárido Brasileiro, considera-se que tal conjunto não terá maior impacto se as ações etécnicas não estiverem embasadas numa estratégia de desenvolvimento que leve em conta o“campo econômico”, tal como o define: um encontro entre disposições sociais em relação aocampo e estruturas do campo. Para que isso ocorra, a noção deve refletir um conjunto devalores, auto-aprendizados e interconhecimentos mais ou menos ordenados que se legitime, sedifunde e se sustente por meio deredes socioespaciais.Redes estas constituídas por pontos noespaço, feixes de ações e de iniciativas conduzidas por atores organizados. Os pontos sãoidentificados pelas experiências existentes, produtivas ou não, oriundas dos programas eprojetos governamentais e não-governamentais, os quais, assim entende-se, dão um sentidocomum ao território entretecido e/ou revitalizado por elas. Isso é algo mais que do que insinuaa noção de pertenciamento, é o compromisso solidário com a vivência, ou melhor,

    convivência.Se, por um lado, as experiências de Convivência com o Semi-Árido espraiam-se emforma deredes socioespaciais, por outro, somente o maior enraizamento delas, através dacriação, articulação e sustentação de dinâmicas socioambientais, socioespaciais esocioeconômicas específicas, é com o que se pode dar um caráter transformador e re-significador da relação socioeconômica e espacial. Nessa abordagem, o planejamentoterritorial pressupõe a necessidade de formar vínculos entre atores sociais, suas organizações eos governos, de compreendê-los regionalmente, por meio da consecução de estratégias dedesenvolvimento que articulem, ao mesmo tempo, as dinâmicas espaciais rurais e urbanas. Oterritório tem, nesse aspecto, um forte componenterelacionalque deve ser levado em contaquando se lida com os projetos de interesse de cada ator ou agente no território. Como o

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    problema é prático, a área de planejamento ganha complexidade e também novas atribuições.Segundo Steinberger,

    O planejamento de agora não pode mais ser aquele, normativo e tecnocrático, emque alguns planejavam para muitos e justificavam necessidades criadas a priori.As políticas públicas de agora não podem mais ser aquelas que definiamautoritariamente metas e recursos para sujeitos tomados como público-alvo, comose não tivessem projetos próprios. (STEINBERGER, 2006, p.30)

    Dentro do que a autora chama acima de projetos próprios é que cabe boa parte dasações governamentais e das organizações sociais no semi-árido baiano, como experiênciasintegradas de Convivência com o Semiárido. Experiências que contemplam “pactos ecompromissos” em torno de interesses de agentes municipais, comunitários, públicos eprivados que se valorizam e se projetam a partir das várias dimensões envolvidas nestasiniciativas. Não são setores isolados, mas vetores que captam compromissos e coordenamações, que vão desde o combate à pobreza, passando pela educação de jovens e adultos, pelofortalecimento da cidadania, até à organização produtiva e comunitária. Desse modo, aquestão das políticas públicas territoriais explicita a necessidade do planejamento comoproblema prático e não como um receituário de “boas práticas”.

    Como vetores de desenvolvimento territorial, as experiências socioprodutivas deConvivência com o Semiáridodão significação real ao território enquanto espaço usado,como se refere Milton Santos. Há aí uma conexão promissora entre a atuação dessasexperiências num determinado contexto espacial (nível empírico) e a noção deespaço usado,de Milton Santos, ou formação socioespacial (nível teórico). O espaço considerado é oespaço enquanto relação, mediado pela prática socioespacialao longo do tempo, dandosentido às concepções de paisagem, região, lugar e território. Embora Milton Santos não tenhavisto sentido no conceito de território como categoria de análise — que, segundo ele, poderia

    ser confundida com a categoria que realmente importava, a de espaço — sua noção de“configuração territorial” preenche satisfatoriamente, a nosso ver, os requisitos necessários auma abordagem territorial do desenvolvimento.

    As configurações territoriais são o conjunto dos sistemas naturais, herdados poruma determinada sociedade, e dos sistemas de engenharia, isto é, objetos técnicose culturais historicamente estabelecidos. As configurações territoriais são apenascondições. Sua atualidade, isto é, sua significação real, advém das açõesrealizadas sobre elas. (SANTOS e SILVEIRA, 2008, p.248 – grifo nosso).

    Pode-se, então, considerar os atuais Territórios de Identidade da Bahia comocondições, mas teremos que discernir sobre as ações que se realizam concretamente. Comefeito, nessa acepção, o Território de Identidade, tal como foi definido, não passa de umaabstração; aquilo que é factual enquanto configuração territorial é o Semiárido Brasileiro eBaiano, ou seja, o campo concreto de intervenção. As experiências socioprodutivas deConvivência com o Semiáridoé que darão, reitere-se, significação real ao território, entendidocomo espaço usado.

    Considerando o peso relativo considerável da região do Semiárido Baiano dentrodessa Nova Delimitação do Semiárido Brasileiro, utiliza-se através o IDH-M (Índice deDesenvolvimento Humano Municipal) para pontuar alguns aspectos que podem servir dereferência para se pensar em novas estratégias de desenvolvimento.

    Lembramos que o IDH-M considera três dimensões em sua avaliação, educação,longevidade e renda, sendo um indicador mais adequado para avaliar as condições de núcleos

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    sociais menores, de acordo com a metodologia amplamente divulgada pelo Programa dasNações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O IDH Municipal é a média aritméticasimples de três sub-índices: o IDH-M Educação, o IDH-M Longevidade e o IDH-M Renda. Oíndice varia de 0 (zero) a 1 (um) e quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimentohumano. De acordo com o Novo Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2002), a

    classificação dos Municípios é feita seguindo a metodologia original e de acordo as três faixasde IDH-M convencionadas: a primeira vai de 0,000 até 0,499, para os municípiosconsiderados de baixo desenvolvimento humano; a segunda varia entre 0,500 e 0,799, para osmunicípios considerados de médio desenvolvimento humano; a terceira varia de 0,800 acima,para os municípios considerados de alto desenvolvimento humano.

    Para este artigo, re-classificamos as faixas do IDH-M dos Municípios do SemiáridoBaiano para enfatizar as diferenças mais marcantes em termos de área (em km²) e a situaçãoespacial da população residente (urbana e rural). Criaram-se assim três classes, IDH-MSuperior, Intermediário e Inferior. O procedimento permitiu simplificar na exposição daanálise, mostrando diferenciações mais marcantes em termos da distribuição populacionalurbana e rural e da área correspondente ao número de municípios agrupados em cada classe,conforme mostra a Tabela 04.Tomando-se cada classe isoladamente, pode-se verificar uma área média municipalmuito similar em cada uma delas, dando equilíbrio à distribuição amostral em cada classe, emtorno da área média municipal geral para os 265 municípios do Semiárido Baiano, de 1.473,8km²/município.

    Tabela 04 – Semiárido Baiano: área média municipal, população e nº de municípios,segundo a classe do IDH-M

    ClassesNº de

    Municípios

    (A)

    PopulaçãoUrbana

    (hab)

    PopulaçãoRural

    (hab)

    PopulaçãoTotal (hab)

    Área km²(B)

    Área MédiaMunicipal

    (B/A)IDH-M superior 6 855.811 130.977 986.788 9.517,4 1.586,2IDH-M intermediário 168 1.941.665 1.794.207 3.735.872 255.404,3 1.520,3IDH-M inferior 91 597.373 1.121.508 1.718.881 125.627,7 1.380,5

    265 3.394.849 3.046.692 6.441.541 390.549,4 1.473,8Fonte: IPEA (2002) - Elaboração própria.

    Na Tabela 03, as três classes de IDH-M apresentam-se de forma bem sintética,fornecendo as características espaciais e populacionais do Semiárido Baiano. Constatamosque apenas 06 (seis) dos 265 municípios ali inseridos pela Nova Delimitação apresentam

    IDH-M médio mais relevante. Claro, isso se deve em grande medida ao peso da renda nosmunicípios maiores em termos econômicos e populacionais principalmente, tais como Feirade Santana e Vitória da Conquista.

    O agrupamento por classes de IDH-M _ Superior, Intermediário e Inferior _ ajuda arevelar mais claramente contrastes espaciais e populacionais presentes. O índice continua avariar de 0 (zero) a 1 (um), mas, de acordo com esta re-classificação, a distribuição dosmunicípios em termos de classes de IDH-M obedeceu o seguinte critério: na primeira classe,IDH-Superior, estão distribuídos os municípios com o IDH-M médio mais alto no SemiáridoBaiano, de 0,700 acima; a segunda classe, IDH-Intermediário, estão distribuídos osmunicípios com o IDH-M médio intermediário no Semiárido Baiano, variando entre 0,600 e0,699; a terceira classe, IDH-Inferior, estão distribuídos os municípios com o IDH-M médio

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    GR FICO 01 - Semi- rido Baiano: Proporção da rea (em km²) do conjunto dosMunicípios classificados com IDH-M superior, intermediário e inferior

    IDH-M inferior: 32,2%

    IDH-M superior: 2,4%

    IDH-M intermediário:65,4%

    Fonte: Dados do IPEA (2003) - Elaboração própria.

    GR FICO 02 - Semi- rido Baiano: Proporção da População Urbana do conjuntodos Municípios classificados com IDH-M superior, intermediário e inferior

    86,7%

    52,0%

    34,8%

    IDH-M superior IDH-M intermediário IDH-M inferior

    Fonte: Dados do IPEA (2003) - Elaboração própria.

    mais baixo no Semiárido Baiano, de 0,599 abaixo. Isso demonstra que houve uma melhora noIDH-M do Semiárido Baiano, conforme os dados oficiais. Uma tendência que pode serconfirmada no próximo levantamento censitário, que ocorrerá em 2010.

    A razão da re-classificação não está, todavia, em mostrar que o IDH-M do SemiáridoBaiano melhorou em relação a qualquer um dos demais estados do Semiárido Brasileiro, mas

    associar o desempenho das condições socioeconômicas dos municípios ao peso espacial decada grupo e da população urbana dos municípios em cada classe. Os Gráficos 01 e 02, aseguir, ilustram mais claramente esta associação.

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    Pode-se perceber que os 168 municípios agrupados na classe de IDH-MIntermediário distribuem-se espacialmente em 65,4% da área total do Semiárido baiano, comcerca de 255,4 mil km² em 390,5 mil km² no total. Os 91 municípios agrupados na classe deIDH-M Inferior distribuem-se espacialmente em 32,2% da área total do Semiárido baiano,com cerca de 125,6 mil km² em 390,5 mil km² no total. Já os 06 municípios agrupados na

    classe de IDH-M Superior distribuem-se espacialmente em 2,4% da área total do Semiáridobaiano, com cerca de 9,5 mil km² em 390,5 mil km² no total.Podemos verificar também que, com base no Gráfico 02 e nos dados da Tabela 2, a

    população urbana do Semiárido Baiano está concentrada nos 06 municípios agrupados naclasse de IDH-M Superior, compreendendo 86,7% da população total dos municípios dentrodesta classe. Nos municípios agrupados na classe de IDH-M Intermediário, a populaçãourbana total é de 52,0% e a dos municípios agrupados na classe de IDH-M Inferior, de 34,8%da população total das duas respectivas classes. Na região do Semiárido Baiano, como umtodo, a população urbana de cada classe em comparação com o total da população urbana dos265 municípios, representa: 25,2% nos municípios agrupados na classe de IDH-M Superior,57,2%, nos da classe de IDH-M Intermediário e 17,6%, nos da na classe de IDH-M Inferior,respectivamente. Olhando pelos dois ângulos, podemos concluir que há uma importânciarelativa dos municípios classificados no IDH-M Intermediário em termos de melhordistribuição populacional entre os espaços urbano e rural e em termos da área em km², já quecobre, descontinuamente, cerca de 63% do Semiárido Baiano.

    Isso não quer dizer que os demais não tenham importância. Pelo contrário, o queestamos pretendendo qualificar é a importância de vincular estratégias de desenvolvimentovoltadas para multi-escalas, as quais devem salientar o papel dos municípios agrupados naclasse de IDH-M Intermediário como elo entre os demais. Tanto os municípios agrupados naclasse de IDH-M Superior, relativamente urbanos5, quanto os municípios agrupados na classede IDH-M Inferior, essencialmente rurais, devem jogar papéis muito diferenciados naquiloque denominamos de busca de maiores articulações urbano-rurais. Essa busca parece ser maisclara, e de mão dupla, nos municípios classificados como intermediários, onde a coexistênciarural-urbana e a busca de maior articulação urbano-rural poderão ser mais efetivas.

    Considerando a presença destes grupos de municípios na classe de IDH-MIntermediário por Território de Identidade, pelas Tabelas 05 e 06, podemos constatar que o osmunicípios do Semiárido Baiano (SAB), além de representarem 63,5% dos municípios doestado (265 de 417), de acordo com dados da SEI (2007), eles estão inseridos em 22 dos 26Territórios de Identidade da Bahia (TIB), sendo que, em onze deles, os municípios do SABintegram totalmente, de modo majoritário ou minoritariamente, os outros onze.

    Os municípios de IDH-M Intermediário estão em oito dos 22 TIB que contam communicípios inseridos no Semiárido braiano. Os Territórios de Identidade da Chapada

    Diamantina, Sertão Produtivo, Vitória da Conquista, Vale do Jiquiriçá, Velho Chico, Bacia doJacuípe, Irecê e Sisal, respectivamente, são os que apresentam melhor distribuiçãopopulacional entre os espaços urbano e rural e, potencialmente, os que mais podem articularuma dinâmica de desenvolvimento territorial baseada em estratégias deConvivência com oSemiárido.

    5 Dizer que são relativamente urbanos é importante por considerar as imprecisões estatísticas da amostra, tendoem vista que o Município de Feira de Santana, por exemplo, possui população urbana mais significativa que os

    cinco outros classificados na condição de IDH-M Superior.

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    Tabela 05 - Nº de Municípios dos 11 Territórios de Identidade que integram o Semi-Árido Baiano (SAB), segundo a classe do IDH-M

    Território deIdentidade da Bahia

    (TIB)

    Nº deMunicí-pios nos

    TIB

    Nº Municípiosde IDH-M

    Intermediário

    NºMunicípiosde IDH-MInferior

    NºMunicípiosde IDH-MSuperior

    Nº deMunicípiosdo SAB nos

    TIB

    Participa-ção no TIB

    (%)

    Vitória da Conquista 24 13 10 1 24 100,0%Chapada Diamantina 23 18 5 23 100,0%Sertão Produtivo 19 17 1 1 19 100,0%Semiárido Nordeste II 18 3 15 18 100,0%Velho Chico 16 12 4 16 100,0%Bacia do Jacuípe 14 12 2 14 100,0%

    Piemonte Paraguaçu 14 9 5 14 100,0%Sertão do S. Francisco 10 7 3 10 100,0%Bacia do Paramirim 9 8 1 9 100,0%Piemonte Norte doItapicuru 9 4 4 1 9 100,0%

    Itaparica 6 2 3 1 6 100,0%TOTAL 162 105 53 4 162

    Fonte: SEI (2007) – Elaboração própria.

    Tabela 06 - Nº de Municípios dos 11 Territórios de Identidade que integram o Semi-Árido

    Baiano (SAB) parcialmente, majoritária e minoritariamente, segundo a classe do IDH-MTerritório de

    Identidade da Bahia(TIB)

    Nº deMunicí-pios nos

    TIB

    Nº Municípiosde IDH-M

    Intermediário

    NºMunicípiosde IDH-MInferior

    NºMunicípiosde IDH-MSuperior

    Nº deMunicípiosdo SAB nos

    TIB

    Participa-ção no TIB

    (%)

    Irecê 20 12 7 19 95,0%Sisal 20 11 8 19 95,0%Vale do Jiquiriçá 21 13 4 17 81,0%Itapetinga 13 8 1 1 10 76,9%Portal do Sertão 17 6 2 1 9 52,9%Piemonte daDiamantina

    9 3 5 8 88,9%

    Bacia do Rio Corrente 11 6 1 7 63,6%Agreste Alagoinhas /Litoral Norte 22 5 5 22,7%

    Médio Rio de Contas 16 1 3 4 25,0%Recôncavo 20 2 1 3 15,0%Oeste Baiano 14 1 1 2 14,3%TOTAL 183 63 38 2 103Fonte: SEI (2007) – Elaboração própria.

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    Todavia, a dimensão territorial do desenvolvimento encerra insuficiências elimitações que necessitam serem tratadas teoricamente para serem praticadas, isto é, precisamser explicadas e esclarecidas para ganharem sentido operacional. Abramovay (2007) salientaum aspecto em particular dessas insuficiências e limitações, a ausência de uma teoria dasinterações sociais. Observa que

    Parte significativa da literatura contemporânea sobre local ou territorial (...) émarcada pela ausência de uma teoria a respeito da interação social que possainspirar hipóteses sobre a situação diferenciada das regiões abordadas. Em seulugar aparecem descrições pouco fundamentadas teoricamente ou, com maisfreqüência, recomendações de política cuja base em realidades locais é, muitasvezes, tênue. (ABRAMOVAY, 2007, p. 28).

    Se a abordagem territorial, simplificadamente, permite superar enfoquesexclusivamente setoriais (indústria, agricultura, serviços, por exemplo), ela precisa por algono lugar que realmente importe para diferenciar as regiões ditas mais dinâmicas das menosdinâmicas. É duvidoso que o desenvolvimento local consiga essa proeza. É preciso saberquem articula o quê e quais vínculos são fundamentais para que as interações sociais seproduzam e reproduzam em diferentes escalas. As redes sociais são consideradas como parteessencial desse processo pelo seu suposto poder de coordenação.

    Cabe salientar, todavia, que esta é uma análise ainda preliminar cujo intuito éidentificar parâmetros mais gerais para a análise da dinâmica territorial do desenvolvimento,sem necessariamente perder de vista sua conexão imprescindível com dinâmica regional.

    Considerações Finais

    Do debate atual sobre desenvolvimento territorial emergem contradições queprecisam ser analisadas mais profundamente, sob pena de continuarmos a prescrever as“receitas de sucesso” que, a rigor, não terão nada de original. A principal delas é a contradiçãoentre a territorialização de experiências produtivas locais bem sucedidas e a estratégia dedesenvolvimento territorial propriamente dita. Esta contradição quase sempre não éconfrontada e vem sendo suprida ou contornada por argumentos muitas vezes retóricos àdisposição dos planejadores em face da ausência, faz algum tempo, de uma política dedesenvolvimento nacional. A construção do desenvolvimento territorial no SemiáridoBrasileiro deve enfrentar esta nova realidade, teórica e praticamente.

    Neste artigo, considerou-se que nenhuma perspectiva de desenvolvimento calcadaem intervenções de natureza pontual poderá levar à superação de causas estruturais dosubdesenvolvimento, por mais que as experiências de desenvolvimento local — tão comuns

    hoje em dia como teoria — animem as populações locais. A “animação desenvolvimentista”das propostas “localistas” dá importância demasiada aos vínculos comunitários, semobservarem vínculos maiores que possam ajudar a implementar, consolidar e difundirestratégias de desenvolvimento. Muitas delas acabam perdendo de vista a dimensão maior doplanejamento, qual seja, a de encarar continuamente os problemas reais a serem superados eos que, derivados da própria busca em superá-los, surgem. Eis que a questão é comoimplementar uma estratégia de desenvolvimento para região do semiárido como um todo eisto não se faz isoladamente, através de “boas práticas” locais em cada Território deIdentidade, pois estas, por melhores que sejam, não respondem a problemas estruturais demaior complexidade.

  • 8/19/2019 Semiárido Brasileiro e Baiano_dimensão Territorial e Estratégia de Desenvolvimento

    17/17

    17Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010,

    Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

    É fundamental, portanto, atentar para as diferentes escalas socioespaciais e contextosterritoriais através dos quais a questão regional nordestina pode possibilitar estratégiasdinâmicas de desenvolvimento, baseadas na noçãoConvivência com o Semiárido, seja pelamaior coexistência rural-urbana, pela maior interação Sociedade-Natureza ou pela melhoriaqualitativa da articulação rural-urbana no território.

    Referências

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