segredo profissional Ética, deontologia e direito médicos ano lectivo 2007-2008

SEGREDO SEGREDO PROFISSIONALPROFISSIONAL

Ética, Deontologia e Direito MédicosÉtica, Deontologia e Direito Médicos

Ano Lectivo 2007-2008Ano Lectivo 2007-2008

SEGREDO MÉDICOSEGREDO MÉDICO

““Guardarei segredoGuardarei segredo acerca de tudo o que acerca de tudo o que ouça ou veja ... e não seja preciso que se ouça ou veja ... e não seja preciso que se divulgue, seja ou não do domínio da divulgue, seja ou não do domínio da minha profissão, considerando um dever o minha profissão, considerando um dever o ser discreto ...”ser discreto ...”

““Juramento de HipócratesJuramento de Hipócrates, 9º Mandamento”, 9º Mandamento”


Reporta-se não só à Reporta-se não só à confidênciaconfidência ... ...

mas também a mas também a “tudo o que ouça ou “tudo o que ouça ou veja”;veja”;

É É “dever”“dever” do médico respeitar um do médico respeitar um “direito”“direito” do Outro – o do Outro – o “segredo do “segredo do doente”doente”


...”e ...”e não seja preciso que se divulguenão seja preciso que se divulgue”...”...

O O dever de confidencialidadedever de confidencialidade do médico do médico e o e o direito à confidencialidadedireito à confidencialidade do do doente doente não são absolutosnão são absolutos


““Segredo Médico”Segredo Médico” – reporta-se ao – reporta-se ao exercício da actividade médica e não exercício da actividade médica e não ao médicoao médico

Designação legal - Designação legal - “Segredo Profis-“Segredo Profis-sional”sional”

Código Deontológico da Ordem Código Deontológico da Ordem dos Médicos – dos Médicos – Artº 68Artº 68

1.1. O O segredo profissionalsegredo profissional abrangeabrange todos os todos os factos que tenham chegado ao conhecimento factos que tenham chegado ao conhecimento do médico, no exercício do seu mister ou por do médico, no exercício do seu mister ou por causa dele...causa dele...

2.2. A A obrigação de segredoobrigação de segredo existeexiste quer o quer o serviço solicitado tenha ou não sido prestado e serviço solicitado tenha ou não sido prestado e quer seja ou não remunerado.quer seja ou não remunerado.

Código Deontológico da Ordem Código Deontológico da Ordem dos Médicos – dos Médicos – Artº 68Artº 68

3.3. O O segredosegredo é extensivoé extensivo a todas as a todas as categorias de doentes …categorias de doentes …

4.4. É É expressamente proibidoexpressamente proibido ao médico ao médico enviarenviar doentes para fins de diagnóstico ou doentes para fins de diagnóstico ou terapêutica a qualquer entidade não terapêutica a qualquer entidade não vinculada a segredo profissional médico, a vinculada a segredo profissional médico, a menos que para tal obtenha o seu menos que para tal obtenha o seu consentimento expresso ou que o envio consentimento expresso ou que o envio não implique revelação do segredo.não implique revelação do segredo.


Obrigação de guardar segredoObrigação de guardar segredo MédicosMédicos EnfermeirosEnfermeiros Técnicos de saúdeTécnicos de saúde AuxiliaresAuxiliares Estudantes Estudantes de Medicina e Enfermagemde Medicina e Enfermagem

Casos da prática clínica 1Casos da prática clínica 1 Ficha clínicaFicha clínica

A quem pertence a A quem pertence a “ficha clínica do “ficha clínica do doente”?doente”?

Pode o doente ter acesso Pode o doente ter acesso à ficha à ficha clínica?clínica?

Casos da prática clínica 1Casos da prática clínica 1

Ficha clínicaFicha clínica

““Os directores, chefes de serviços e Os directores, chefes de serviços e médicos assistentes estão obrigados … a médicos assistentes estão obrigados … a guardar segredo profissional quanto às guardar segredo profissional quanto às informações clínicas que, constituindo informações clínicas que, constituindo objecto de segredo profissional, constem objecto de segredo profissional, constem do do processo individual do doenteprocesso individual do doente…”…”

CDOM, Art. 69º, 1.CDOM, Art. 69º, 1.



““A A ficha clínicaficha clínica do doente, que constitui a do doente, que constitui a memória escrita do médico, pertence a memória escrita do médico, pertence a este e não àquele…”este e não àquele…”




““Os Os exames complementares de dia-exames complementares de dia-gnóstico e terapêuticagnóstico e terapêutica, que constituem a , que constituem a parte objectiva do processo do doente, parte objectiva do processo do doente, poderão ser-lhe facultados quando este o poderão ser-lhe facultados quando este o solicite, aceitando-se …cópias …”solicite, aceitando-se …cópias …”




Ética e legalmenteÉtica e legalmente, os doentes têm o direito de , os doentes têm o direito de conhecer a sua ficha clínicaconhecer a sua ficha clínica

LegalmenteLegalmente, a ficha clínica , a ficha clínica objectoobjecto é é propriedade do médico ou da Instituição propriedade do médico ou da Instituição HospitalarHospitalar

EticamenteEticamente, a informação aí contida pertence , a informação aí contida pertence ao doente ao doente



Se não houver regulamentação em contrário, Se não houver regulamentação em contrário, o médico ou a Instituição podem ficar com os o médico ou a Instituição podem ficar com os originais da ficha clínica, mas terão de originais da ficha clínica, mas terão de fornecer fornecer cópia ou informação acerca do cópia ou informação acerca do seu conteúdoseu conteúdo ao doente ao doente



Não o devem fazer sem uma Não o devem fazer sem uma requisição requisição escritaescrita

““As informações de carácter médico só são As informações de carácter médico só são comunicadas ao interessado comunicadas ao interessado por intermédio por intermédio de um médicode um médico por si designado” por si designado”

inin DR – I série A, Lei nº 65/93 de 26/8 DR – I série A, Lei nº 65/93 de 26/8

Casos da prática clínica 2Casos da prática clínica 2 Discussão/publicação de casos Discussão/publicação de casos

clínicosclínicos

Há quebra da confidencialidade quando a Há quebra da confidencialidade quando a história clínicahistória clínica do doente é do doente é partilhada /partilhada / discutidadiscutida entre médicos? entre médicos?

… … é é publicadapublicada sob a forma de caso clínico? sob a forma de caso clínico?

… … é é discutida publicamentediscutida publicamente em provas orais em provas orais de alunos de medicina?de alunos de medicina?

Casos da prática clínica 2Casos da prática clínica 2 Discussão/publicação de casos Discussão/publicação de casos

clínicosclínicos

““O Médico pode servir-se das suas O Médico pode servir-se das suas observações clínicas para as suas observações clínicas para as suas publicações, mas deve proceder de modo publicações, mas deve proceder de modo a que não seja possível a identificação a que não seja possível a identificação dos doentes, a menos que previamente dos doentes, a menos que previamente autorizado a tal.”autorizado a tal.”

CDOM, Art. 79ºCDOM, Art. 79º


Discussão/publicação de casos Discussão/publicação de casos clínicosclínicos

É de condenar:É de condenar: Situações em que o objectivo último é a Situações em que o objectivo último é a exibição exibição

pessoalpessoal e e promoção profissionalpromoção profissional

Projecção e publicação de Projecção e publicação de fotografias que fotografias que permitam a identificação do doentepermitam a identificação do doente

Discussão em públicoDiscussão em público dos casos clínicos dos casos clínicos



““a a partilha de informaçõespartilha de informações entre médicos entre médicos não pode processar-se sem não pode processar-se sem reservasreservas e sem e sem limitaçõeslimitações ......

... deve ser reduzida ... deve ser reduzida “ao que é “ao que é necessário, necessário, pertinente e não excessivo”pertinente e não excessivo”

Bernard Hoerni, in “Decisões terapêuticas e segredo médico”, 1999Bernard Hoerni, in “Decisões terapêuticas e segredo médico”, 1999



Eticamente, Eticamente, o doenteo doente::

deve participardeve participar na partilha de informações na partilha de informações ou ou dar o seu consentimentodar o seu consentimento

deve deve ter conhecimentoter conhecimento que o seu caso que o seu caso clínico vai ser discutido ou publicadoclínico vai ser discutido ou publicado

Casos da prática clínica 3Casos da prática clínica 3 Revelação do segredo profissionalRevelação do segredo profissional

Quando pode formalmente Quando pode formalmente revelarrevelar-se o -se o segredo profissionalsegredo profissional??


Revelação do segredo profissionalRevelação do segredo profissional

A A revelação revelação do segredo profissional só do segredo profissional só é é permitidapermitida quando: quando: imposta por leiimposta por lei autorizada pelo interessado esclarecidoautorizada pelo interessado esclarecido pedida pelos representantes legaispedida pelos representantes legais por “justa causa”por “justa causa”



Imperativo legalImperativo legal1.1. “O “O médicomédico que nessa qualidade seja que nessa qualidade seja

devidamente intimado como devidamente intimado como testemunhatestemunha ou ou peritoperito, deverá comparecer em , deverá comparecer em tribunal, mas não poderá prestar tribunal, mas não poderá prestar declarações ou produzir depoimentos declarações ou produzir depoimentos sobre matéria de segredo profissional.”sobre matéria de segredo profissional.”




Imperativo legalImperativo legal2. 2. “Quando um médico “Quando um médico alegue segredo alegue segredo

profissionalprofissional para não prestar escla- para não prestar escla-recimentos pedidos por entidade pública, recimentos pedidos por entidade pública, pode solicitar à pode solicitar à O.M. declaraçãoO.M. declaração que que ateste a natureza inviolável do segredo ateste a natureza inviolável do segredo em causa.”em causa.”




Escusa de segredoEscusa de segredo ““Excluem o dever de segredo profis-Excluem o dever de segredo profis-sionalsional::

a)a) O O consentimentoconsentimento do do doentedoente ou seu ou seu representante, quando a revelação não representante, quando a revelação não prejudique terceiras pessoas com prejudique terceiras pessoas com interesse na manutenção do segredo;”interesse na manutenção do segredo;”



Revelação do segredo profissionalRevelação do segredo profissionalEscusa de segredoEscusa de segredo

““Excluem o dever de segredo profissional:Excluem o dever de segredo profissional:

b) O que for absolutamente necessário à b) O que for absolutamente necessário à defesa da dignidadedefesa da dignidade, da honra e dos , da honra e dos legítimos interesses legítimos interesses do médico e do do médico e do doentedoente, não podendo em qualquer destes , não podendo em qualquer destes casos o médico revelar mais do que o casos o médico revelar mais do que o necessário e sem prévia necessário e sem prévia consulta ao consulta ao Presidente da Ordem.Presidente da Ordem.””




Escusa de segredoEscusa de segredo – casos em que se – casos em que se presumepresume ou fica ou fica explícitoexplícito o o consen-consen-timento do doente:timento do doente: Atestado Médico ou DeclaraçãoAtestado Médico ou Declaração Relatório clínicoRelatório clínico



Autorização pedida pelos represen-Autorização pedida pelos represen-tantes legaistantes legais – põem-se o problema da – põem-se o problema da confidencialidade a confidencialidade a três níveistrês níveis::1.Quando, no entender do médico, os dados 1.Quando, no entender do médico, os dados

objecto de segredo profissional não devem objecto de segredo profissional não devem ser transmitidos porque a ser transmitidos porque a dignidade do dignidade do doentedoente assim o impõe e a sua assim o impõe e a sua transmissão é inútiltransmissão é inútil



Autorização pedida pelos represen-Autorização pedida pelos represen-tantes legaistantes legais2.Quando os dados patológicos são 2.Quando os dados patológicos são

desconhecidos da desconhecidos da famíliafamília, mas interessa , mas interessa que aquela os conheça e que aquela os conheça e partilhepartilhe com o com o médico a procura das melhores soluçõesmédico a procura das melhores soluções



Autorização pedida pelos represen-Autorização pedida pelos represen-tantes legaistantes legais3. O familiar ou representante legal já 3. O familiar ou representante legal já

conhece ou suspeita dos problemas e conhece ou suspeita dos problemas e solicita ao médico a solicita ao médico a explicaçãoexplicação da da situação clínica em moldes que podem situação clínica em moldes que podem colidircolidir com os com os direitos do doente à direitos do doente à confidencialidadeconfidencialidade



Revelação “por justa causa”Revelação “por justa causa”- “A obrigação do segredo profissional não - “A obrigação do segredo profissional não

impede que o médico tome as precauções impede que o médico tome as precauções necessárias, promova ou participe em medida necessárias, promova ou participe em medida de defesa sanitária, indispensável à de defesa sanitária, indispensável à salvaguarda da vida e da saúde das salvaguarda da vida e da saúde das pessoaspessoas, nomeadamente dos membros da , nomeadamente dos membros da família e outros que residam ou se encontrem família e outros que residam ou se encontrem no local onde estiver o doente.”no local onde estiver o doente.”

Vaz Serra, 2002Vaz Serra, 2002



Revelação “por justa causa”Revelação “por justa causa”- Há situações de - Há situações de “justa causa”“justa causa” que podem que podem

justificarjustificar atitudes médicas que, embora atitudes médicas que, embora condicionando condicionando partilha de dados confi-partilha de dados confi-denciaisdenciais, não podem ser consideradas como , não podem ser consideradas como “quebra de confidencialidade”, em termos “quebra de confidencialidade”, em termos éticos, deontológicos e até legais.éticos, deontológicos e até legais.



Revelação “por justa causa”Revelação “por justa causa”- Implicam - Implicam diálogodiálogo e e esforço de conven-esforço de conven-

cimentocimento para que seja o doente a partilhar para que seja o doente a partilhar o seu segredoo seu segredo


““Quem, sem consentimento, revelar Quem, sem consentimento, revelar segredo alheio que tenha tomado segredo alheio que tenha tomado conhecimento em razão do seu estado, conhecimento em razão do seu estado, ofício, emprego, profissão ou arte, é ofício, emprego, profissão ou arte, é punido com pena de prisão até 1 ano punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 240 dias.”ou com pena de multa até 240 dias.”

CP, Art. 195ºCP, Art. 195º


“… “… o procedimento criminal pelos o procedimento criminal pelos crimes previstos … depende de queixa crimes previstos … depende de queixa ou de participação.”ou de participação.”

CP, Art. 198ºCP, Art. 198º


Não haverá que considerar o segredo Não haverá que considerar o segredo médico quando é o médico quando é o doentedoente quem, quem, invocando uma falta profissional do invocando uma falta profissional do médico que o tratou, médico que o tratou, o leva aos o leva aos tribunais.tribunais.


Confidencialidade em riscoConfidencialidade em risco por: por:

Telemedicina Telemedicina

Comunicação SocialComunicação Social


O O segredo médicosegredo médico tem duas tem duas basesbases

O O interesse interesse privado do privado do doentedoente O interesse social e O interesse social e colectivo


Por vezes umPor vezes um DILEMA DILEMA entre entre

O O dever dever básico de básico de guardar sigiloguardar sigilo A obrigação de A obrigação de falarfalar

segredo profissional Ética, deontologia e direito médicos ano lectivo 2007-2008

Documents