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NEAD Núcleo de Educação à Distância Deontologia Jurídica Unidade I - Aspectos Gerais da Deontologia

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Deontologia JurídicaUnidade I - Aspectos Gerais da Deontologia

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Unidade I - tema máximo duas linhas

Deontologia JurídicaDeontologia Jurídica

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Unidade I - Aspectos Gerais da Deontologia

Olá, seja bem-vindo à Deontologia Jurídica! Nossa disciplina está dividida em 5 unidades, nas quais iremos abordar as principais regras que regem a prestação de serviços advocatícios e temas afins.

Objetivo

Analisar os aspectos gerais da Deontologia, através de seu conceito e de algumas teorias que lhe dão suporte.

Metas

Conceituar Deontologia e apresentar sua evolução; ̊

Compreender a Deontologia como uma teoria de valor das profissões; ̊

Diferenciar o “mundo do ser” e o “mundo do dever ser”; ̊

Distinguir os conceitos de realidade e valor; ̊

Analisar a Deontologia como uma lógica dedutiva dos deveres profissionais. ̊

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Deontologia Jurídica Unidade I - Aspectos Gerais da Deontologia

1 Introdução

Além de conhecer os objetivos e metas para esta unidade, observe as atividades que ainda estaremos desenvolvendo:

Faremos uma explanação sobre a Epistemologia da Ética: ̊Sujeitos e objeto da Ética;

Exporemos a diferenciação e encontro da Ética e da Moral; ̊

Estudaremos o conceito e evolução da Deontologia a partir ̊de suas origens fulcrada no sinônimo de ética, que já era estudada na Grécia clássica, bem como o marco inicial do termo no século XIX;

Estudaremos ainda a Deontologia em relação aos valores e ̊deveres profissionais.

2 Epistemologia, Sujeito e Objeto da ÉticaAo iniciar o estudo da Deontologia Jurídica, é necessário ter em mente quem

são os sujeitos e entender qual é o objeto da Ética.

David Lyons, autor utilitarista, parte do pressuposto de que a Lei é moralmente falível e de que os julgamentos morais são passíveis de correção.

Curiosidade

A palavra utilitarismo indica uma tradição moderna de reflexão filosófica que teria se tornado expressiva no desenvolvimento do pensamento europeu insular a partir de um conjunto de autores que se conheciam e referiam-se mutuamente, comungavam um certo conjunto de teses fundamentais, discutindo problemas comuns, e que atuavam politicamente em favor da implementação, pelo poder público, de um acervo de soluções e faziam proselitismo em favor de determinadas reformas no contexto social. Isso significa que os utilitaristas constituíam a primeira escola filosófica, em sentido moderno, que teria surgido no mundo anglo-americano. Saiba mais sobre o assunto no link: http://limiteseticosdacienciaedatecnologia.blogspot.com/2010/05/9-utilitarismo-etica-teleologica_25.html

O objeto da Ética reside no bem e no mal. Ora, uma lei será mais efetiva quando possibilitar um bem maior à comunidade, que, por sua vez, só é possível pela satisfação individual daqueles que fazem parte da coletividade.

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Sujeitos éticos são aqueles que buscam justificação às suas ações, poispossuem consciência do significado de suas atitudes e levam em consideração valores morais para chegarem às decisões de seus atos. Além do sujeito e dos valores morais, a ética engloba ainda os meios para que o sujeito realize os fins.

Evidentemente, no caso da ética, nem todos os meios são justificáveis, mas apenas aqueles que estão de acordo com os fins da própria ação. Em outras palavras, fins éticos exigem meios éticos. Podemos, então, entender a ética como a capacidade humana de ordenar suas relações em função do bom e do justo.

3 Diferenciação e Encontro da Ética e da MoralA priori os termos “ética” e “moral” já nos remetem a pontos divergentes e convergentes.

Reflexão

Analise os aspectos gerais da Deontologia através de seu conceito e de algumas teorias que lhe dão suporte.

A partir dos estudos da fenomenologia e do pragmatismo, Varela1 nos propõe o seguinte: “Por que haveria de se confundir o comportamento ético com o juízo moral?”

A resposta ocidental é de que haveria a separação estanque, quando na realidade, explica Varela (1995, p. 32), os nossos comportamentos são sempre baseados por nossos valores morais. Nas situações corriqueiras, o nosso primeiro reflexo é sempre guiado pela ética. Para Varela, na visão cartesiana, objetivista e racionalista, há sempre uma tendência para separação entre ética e moral, quando, na verdade, as ciências cognitivas nos levam a crer que tal visão entrou em colapso e, por isso, está se desenvolvendo rapidamente em uma radical transformação paradigmática ou epistêmica.

Varela (1995, p. 33) afirma ainda que no centro deste ponto de vista emergente reside a convicção de que as unidades apropriadas de conhecimento são, antes de mais nada, concretas, corporificadas e vívidas, já que o conhecimento é contextualizado e a sua unicidade não pode ser afastada por completo.

Almeida e Christmann conceituam ética como sendo a ciência ou filosofia que fará a eleição das melhores ações tendo como horizonte o interesse coletivo e universal. Já a moral, prosseguem os autores, não se baseia numa reflexão, mas nos costumes de determinada sociedade em específico lugar, em um certo tempo histórico. É, portanto, costumeiro, tradicional e não filosófico.

1 Sobre o autor, Francisco Varela, você poderá obter mais sugestões em http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt-BR&u=http:/www.enolagaia.com/Varela.html&prev=/search%3Fq%3Dfrancisco%2Bvarela%26hl%3Dpt-BR%26biw%3D1259%26bih%3D633%26prmd%3Divnsbo) .

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Pesquisa

Resumo

Os referidos autores dizem que a Moral baseia-se no comportamento da sociedade, e que a ética, com a reflexão desse comportamento, criará normas universais com a finalidade de estabelecer as melhores condições.

4 Tábua de Deveres versus Julgamentos Morais

A Tábua de Deveres, preconizada por Rui Barbosa2 em sua famosa Oração aos moços3, deve ser considerada premissa ao Código de Ética.

Legalidade e liberdade, para Rui Barbosa, representam pedras bases para a conduta do advogado, o qual há de conciliar estes deveres com a moralidade, pois já estão imbricados nos princípios do advogado. Os julgamentos morais, ressalta Lyons (1990, p. 56) , podem ser usados para avaliar não apenas a conduta individual, mas também as normas sociais, as leis e as instituições. Afinal, existe pouca dúvida de que a Lei interage com as opiniões morais.

Rodrigues (2007, p. 89) leciona que a semântica do juízo moral envolve dois elementos:Em primeiro lugar, é necessário que se compreenda o que é exigido pelo juízo, ̊ou seja, é exatamente aquele estado de coisas que é afirmado como vigente nas respectivas asserções que consistem em juízos morais não modalizados.

Exemplo

Ao juízo moral “João não deve mentir”, por exemplo, corresponde a asserção “João não mente” e é exatamente esse estado de coisas, o fato de João não mentir, que é exigido pelo juízo moral.

2 Para aprofundamento das obras deste grande advogado, você pode acessar http://www.casaruibarbosa.gov.br/ DOC/artigos/rui_barbosa/FCRB_RuiBarbosa_Oracao_aos_mocos.pdf

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Dica

Em segundo lugar, é necessário que se compreenda o sentido de exortação presente ̊no juízo moral. Para Rodrigues (2007, p. 89), é exatamente em compreender esse sentido que consiste entender de onde o juízo moral retira a sua força, ou seja, em que se valida o caráter de exigência presente nos juízos morais. A validação do operador “deve”, independe do cumprimento do juízo moral.

O fato de João mentir ou não mentir não contribui nem prejudica a validade do juízo moral correspondente.

Para uma melhor compreensão do tema, leia A estrutura dos juízos morais, de Fernando Rodrigues4.

5 Conceito e Evolução

Ao iniciarmos o estudo da Deontologia Jurídica como disciplina do curso de Direito, faremos uma análise mais apurada de suas origens e sua evolução.

Segundo Bizatto (2000, p. 15), a palavra Deontologia deriva do grego deóntos (dever, necessidade) e logos (tratado, estudo), assim, Deontologia significa algo como: a ciência dos deveres no âmbito de cada classe profissional.

De acordo com Langaro (2008, p. 3), o filósofo Jeremias Bentham (1748-1832), autor de obras ligadas à moral do indivíduo, escreveu a intitulada Deonthologie or science of the morality, datada de 1834, ou seja, uma obra póstuma, que em nosso português pode ser traduzida como “Deontologia ou ciência da moral”.

Curiosidade

Esta foi, segundo o autor, a primeira vez que o termo Deontologia foi utilizado.

3 RODRIGUES. Fernando. A estrutura dos juízos morais. in: BRITO, Adriano Naves de. (Org.) Ética: Questões de funda-mentação. Brasília: Universidade de Brasília, 2007.

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Entretanto, muito antes deste pensador inglês, a Deontologia como ciência dos deveres era vista como “Ética”, também de origem grega (êthos) que significa “comportamento”.

Pode-se dizer, na esteira de Langaro (2008, p. 3), que etimologicamente o conceito de Deontologia é a “ciência dos deveres” ou “tratado dos deveres”. Consequentemente, Deontologia Jurídica, segundo o autor, é a disciplina que trata dos deveres e dos direitos dos agentes do direito, tais como advogados, promotores, juízes etc.

Hodiernamente, a Deontologia passou a ser um vocábulo mais utilizado e adequado para o estudo da ética, do comportamento dos indivíduos de um modo geral, mas com uma importância muito superior no campo profissional. Para Bizatto, Deontologia se refere a normas de uma profissão, já a ética diz respeito aos valores.

6 A Deontologia como uma Teoria de Valores das Profissões Da origem de seu termo, donde se extrai que a Deontologia é a ciência dos deveres,

cada atividade profissional possui sua “deontologia”. Existe, portanto, uma deontologia do psicólogo, do médico, do engenheiro, do profissional de Direito etc. Nesse último caso, tratamos da Deontologia Jurídica, ou seja, do estudo dos valores éticos relacionados aos operadores do Direito, como advogados, juízes e promotores de justiça.

Na área jurídica, Bizatto (2000, p.17) enumera os assuntos que devem ser tratados num Código de Ética Profissional:

Dos deveres fundamentais; ̊

Das relações com o cliente; ̊

Da aceitação ou rejeição da causa; ̊

Do exercício da advocacia; ̊

Das relações pessoais com o cliente; ̊

Das relações em juízo; ̊

Do exercício de cargos públicos; ̊

Das relações com a administração pública; ̊

Da desistência do mandato; ̊

Do substabelecimento do mandato; ̊

Dos honorários profissionais; ̊

Das relações com a seção ou a subsseção. ̊

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Atenção

Como ficará demonstrado nas aulas seguintes, o operador do Direito deverá observar os Códigos de Processo Penal e Civil.

Todo profissional possui uma ética no desempenho de suas atividades. Os Códigos de Ética e Disciplina estabelecem regras norteadoras das condutas a serem seguidas, com o objetivo de que as mesmas sejam sempre pautadas nos padrões de moralidade e legalidade da conjuntura em que vivem.

7 O “Mundo do Ser” e o “Mundo do Dever Ser”Sob o prisma científico podemos dividir as Ciências em duas partes que, dada

a sua amplitude, preferimos qualificar de “mundo”. Assim, temos:

Mundo do ser ̊ ̶ ligado às Ciências exatas como a Matemática e a Física.

Mundo do dever ser ̊ ̶ ligado à outras Ciências, como o Direito, por exemplo.

Almeida e Christmann (2002, p. 23) apresentam um exemplo para diferenciar o “plano do ser” do “plano do dever ser”, com a dicotomia entre a realidade brasileira e o disposto no art. 3º da Constituição de 1988, o qual elenca como objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

construir uma sociedade livre, justa e solidária;I.

garantir o desenvolvimento nacional;II.

erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades III. sociais e regionais.

Atenção

Esses objetivos não são nossa realidade.

Desse modo, enumera Almeida e Christmann que:

O Brasil não é uma sociedade livre, nem justa, nem solidária; ̊

Nosso desenvolvimento social não está garantido; ̊

A pobreza e a marginalização contribuem para o agravamento das ̊desigualdades sociais e regionais.

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Os autores apontam que o único caminho possível para uma aproximação entre o “ser” e o “dever ser” é a ação individual, o que exige um comportamento ético profissional.

No mundo do ser, quando indagamos a soma de dois mais dois, o resultado é quatro, algo exato, definido. Da mesma forma, podemos afirmar que a água, obedecendo as condições de altitude (nível do mar) e pressão, entra em ebulição a 100º C. Diante de tais afirmações, podemos chegar a um resultado exato, previsto em relação ao que fora proposto.

De outro lado, temos o mundo do dever ser, onde se busca um resultado não exato, mas apenas previsível de uma indagação ou de uma preposição. Como aqui tratamos da disciplina de Deontologia Jurídica, podemos citar a Ciência do Direito como uma das que melhor exemplificam o universo do “dever ser”.

Exemplo

Diante da afirmação de que João matou Paulo, não podemos afirmar que João será preso, ou mesmo condenado pelo crime que praticou. Existem inúmeras circunstâncias na prática desse ato, como a legítima defesa, ou mesmo a prescrição penal que o isentariam de uma condenação. Além disso, mesmo tendo cometido tal ato de forma dolosa, talvez a autoria deste crime não seja descoberta e, portanto, João sequer seria processado.

É imperioso salientar que as normas jurídicas, por sua natureza, possibilitam à pessoa a prática ou não de uma conduta (seria a prestação e a não prestação), sendo que nesse último caso existem as sanções no ordenamento àqueles que não cumprirem com seus atos na forma que cada ordenamento jurídico determina como sendo a correta.

Lembrando

Cabe-nos ainda, nesta unidade, fazer um breve comentário a respeito da questão da realidade e dos valores. Quando falamos sobre realidade, fazemos menção a algo que existe, algo concreto; uma vez que tomamos por base algo real, certo, justo. Os fatos, sejam eles fenômenos da natureza ou mesmo jurídicos (negócios jurídicos), quando efetivamente ocorrem são acontecimentos reais, concretos, de existência comprovada.

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No campo do Direito também existe a prática de atos, como o casamento, a assinatura de um contrato ou a prática de um ato ilícito (homicídio, lesão corporal etc.). Contudo, esses atos passam a ser valorados por todos, onde cada um opina ou confere maior ou menor relevância àquele ato praticado. Essa análise feita pelas pessoas sobre fatos, ou mesmo sobre coisas e pessoas, possui uma carga valorativa onde há uma oscilação maior ou menor, dependendo dos critérios morais de formação do indivíduo, associados a fatores religiosos, culturais, dentre outros, de forma que as pessoas passam a formar um “juízo de valor” sobre coisas, outras pessoas e fatos.

8 Deontologia como uma Lógica Dedutiva dos Deveres Profissionais

Conforme já salientado, todas as profissões possuem suas regras éticas, muitas delas já codificadas e inseridas até mesmo nos currículos universitários, como no caso do curso de Direito.

Mesmo possuindo um Código de Ética e Disciplina, suas regras não são suficientes para resolver todas as situações dos profissionais, não importando em qual área atuem.Se confrontarmos critérios éticos estabelecidos nos códigos com critérios valorativos de caráter pessoal, mesmo que estes estejam amparados pela Lei.

Bizatto (2000, p. 59) esclarece que os deveres do profissional são básicos para o exercício da advocacia. O conhecimento e exercício dos mesmos proporciona desenvolvimento pessoal e econômico.

O advogado, para Bizatto (2000, p. 59), deve ser um agente de transformação no meio social e um elo entre o cliente e o Poder Judiciário. O advogado tem deveres para consigo, para com a clientela, para com os colegas, para com o Poder Judiciário e em relação ao Estado.

Bizatto (2000, p. 59) especifica a natureza de cada um desses deveres:

Em relação a si próprio: honestidade, veracidade, dedicação à causa e educação; ̊

Em relação aos clientes: atender com abnegação todas as causas da assistência ̊judiciária, analisar todos os aspectos da demanda antes de aceitá-la, não se intitular invencível, não criticar causas já confiadas a outros advogados, não financiar a causa do cliente, não mentir para o cliente, nunca pedir dinheiro ao cliente alegando ter que pagar custos extras, fornecer sempre informações aos clientes, não entregar o processo ao cliente, não dar consulta nas horas de lazer;

Com os colegas: ser atencioso para com os colegas, nunca criticar um colega, ̊atender aos pedidos dos colegas em casos urgentes, não tirar a clientela dos colegas, manter lealdade nos debates orais ou memoriais;

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Com o magistrados: tratar os juízes com urbanidade, nunca consultar o juiz ̊para saber com que tipo de ação entrar em juízo, não discutir com o juiz sobre o mérito das decisões, comparecer às audiências, nunca pedir para assinar termos posteriormente, não criticar as sentenças, usar linguagem moderada em recursos e peças, evitar representar o juiz, conversando antes com ele na solução de um problema;

Em relação ao Estado: prestar o serviço militar, atender convocação do ̊Tribunal do Júri, votar nas eleições, pagar os impostos, atender convocação para trabalhar nas eleições, pagar a anuidade da OAB;

Do sigilo profissional: nunca comentar sobre processos, não emitir juízo de ̊valor sobre processos, quando perguntado fingir não se lembrar dos autos, ao deixar o escritório, esquecer o que lá aconteceu.

No campo do Direito, isso também ocorre de forma mais ou menos equivalente. Em determinados casos, alguns profissionais do Direito, como advogados e juízes, lidam com atos praticados por pessoas que, independente de sua culpabilidade, possuem o direito, também constitucional, de ampla defesa (muito embora a conduta praticada por elas seja reprovável pela grande maioria da sociedade).

A título exemplificativo, temos, nos advogados e juízes que lidam mais especificamente na esfera criminal, como principais “vítimas” desta problemática.

Para finalizar esta unidade, leia a seguir dois casos imprescindíveis para embasamento do conteúdo.

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Reflexão 1

Para exemplificar o assunto de nossa aula, imaginemos o caso de uma criança que chega a um hospital necessitando de uma transfusão de sangue para sobreviver. Os pais da criança, por convicções religiosas, não permitem a transfusão de sangue em seu filho. Como resolver o impasse?

A Constituição Federal em seu art. 5º, VI, garante liberdade de culto e de crença. Por outro lado, temos o médico que, por sua postura ético-médica, assume, inclusive por juramento, a missão de “salvar vidas”.

Vejam o dilema desse profissional que tenta salvar a vida de um paciente agindo conforme seu dever prescreve enquanto garante o direito da família de autorizar ou não a transfusão de sangue do filho, tendo o respaldo não somente na Constituição Federal, como já salientado, mas também no próprio Código Civil, no capítulo que se refere aos Direitos da Personalidade.

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Reflexão 2

Se João estupra uma menor e contrata determinado advogado para atuar em sua defesa, este profissional é, mesmo que inconscientemente, taxado pela sociedade como advogado que “luta em defesa dos criminosos, dos marginais”. Um juiz que concede liberdade provisória ou defere o relaxamento de prisão de um acusado, também é citado nos meios de comunicação e visto com reprovação pelos leigos. Tais profissionais acima citados podem estar agindo com toda ética possível, sempre pautados nos dados e informações constantes em cada caso específico sem utilizarem de qualquer meio ardiloso ou antiético para praticarem tais atos.

Estamos diante do impasse dos valores pessoais e morais da sociedade e dos valores éticos profissionais, onde um grupo pode passar a reprovar a conduta de uns, mesmo que esta conduta esteja pautada na mais absoluta ética profissional.

O professor Luiz Lima Langaro (1996, p. 21), em sua obra Curso de Deontologia Jurídica, faz as seguintes indagações: “Mas afinal, que valor tem essa consciência moral para a vida do homem? São procedentes ou verdadeiros os juízos que formulam ou o julgamento que realizam nas várias situações particulares e circunstâncias concretas em que pode se encontrar?”

Diante de ambos os questionamentos do Prof. Luiz Lima Langaro, percebe-se que, muito embora haja uma padronização do dever ético no campo profissional, muitas vezes esses deveres contidos nos textos normativos dos códigos de conduta não combinam com o resultado pretendido, em virtude do aspecto moral. A moral e a ética possuem o mesmo objetivo, ou seja, uma estabilidade no comportamento da sociedade, mas ambas não se confundem. Conforme diz Guilherme Assis Almeida, “a moral tem como fundamento o comportamento social e a ética uma reflexão sobre ele”.

Daí ser de suma importância o estudo da Deontologia no campo profissional. Em se tratando da Deontologia Jurídica, sua relevância configura-se ainda maior, pois temos nas figuras do advogado, do promotor de justiça e do magistrado as aplicações concretas dos estudos e reflexões advindos dos currículos acadêmicos, uma vez que a universidade não é o locus de aprendizado somente das lições doutrinárias e das legislações aplicáveis, mas é um espaço de construção de profissionais éticos e competentes.

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CréditosUNIVERSIDADE DE FORTALEZANúcleo de Educação a Distância

Coordenação Geral:Carlos Alberto Batista

Coordenação Administrativa:Graziella Batista de Moura

Produção de Conteúdo Didático:Ana Paula Araujo de Holanda Vanessa Batista Oliveira

Projeto Instrucional:Andréa Lopes de Freitas

Roteiro de Áudio e Vídeo:Saulo Rego da Silva

Revisão Gramatical:Elane Pereira

Produção de Áudio e Vídeo:Natália Magalhães RodriguesVaneuda Almeida de Paula

Identidade Visual:Viviane Cláudia Paiva Ramos

Arte:João José Barros Marreiro Sérgio Oliveira E. de Souza

Programação:Francisco Oliveira Capistrano

Diagramação de Material Didático:Sávio Félix Mota

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