trabalho final - deontologia

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  • FUNDAO BISSAYA BARRETO

    INSTITUTO SUPERIOR BISSAYA BARRETO

    INCOMPATIBILIDADES E IMPEDIMENTOS

    PARA O EXERCCIO DA ADVOCACIA:

    BREVE ABORDAGEM

    Daniel Willyam da Silva Cordeiro, n. 2557

    Trabalho escrito final realizado no mbito da

    unidade curricular de Deontologia das

    Profisses Forenses, sob docncia da Prof.

    Dr. Sara Moreira.

    Coimbra,

    Julho de 2013

  • 2

    Daniel Willyam da Silva Cordeiro

    - Discente no Mestrado em Direito,

    especializao em Cincias Jurdico-Forenses -

    INCOMPATIBILIDADES E IMPEDIMENTOS

    PARA O EXERCCIO DA ADVOCACIA:

    BREVE ABORDAGEM

    Trabalho escrito final realizado no mbito da unidade

    curricular de Deontologia das Profisses Forenses, sob

    docncia da Prof. Dr. Sara Moreira, referente ao ano

    lectivo de 2012/2013.

  • 3

    Procuram o advogado em vez do confessor,

    porque sabem que ele no lhes impe a

    penitncia cannica, e antes os acolhe com

    uma palavra de solidria compreenso,

    ajudando-os a carregar a pedra pela encosta

    empinada da sua emergncia..

    Antnio Arnaut In Ossos do Ofcio

  • 4

    ndice

    Resumo... Pgina 5

    Abreviaturas Pgina 6

    Introduo Pgina 7

    Parte I As incompatibilidades para o exerccio da advocacia...... Pgina 10

    Parte II Os impedimentos para o exerccio da advocacia. Pgina 21

    Concluso..... Pgina 25

    Bibliografia ....... Pgina 26

    Referncias Electrnicas... Pgina 27

    Nota.. Pgina 28

  • 5

    Resumo

    O presente trabalho versa sobre a matria das incompatibilidades e impedimentos para

    o exerccio da advocacia.

    Em jeito de introduo, feita uma pequena mostra da evoluo da figura do

    advogado ao longo dos tempos e da criao da Ordem dos Advogados que hoje em dia regula

    o acesso a esta profisso.

    Numa primeira parte do trabalho, trata-se exclusivamente da temtica das

    incompatibilidades para o exerccio da advocacia, onde se esboa o seu conceito e princpios

    deontolgicos que esto na sua gnese; define-se quais os rgos da Ordem dos Advogados

    competentes para aferir uma situao de incompatibilidade e quais as consequncias a nvel

    deontolgico que da advm. Analisa-se (de forma no exaustiva) todo o art. 77. do Estatuto

    da Ordem dos Advogados (EOA), fazendo aluso s leis orgnicas e estatutos dos cargos

    incompatveis com a advocacia, e referenciando os pareceres da Ordem dos Advogados que

    reforam ou afastam algumas incompatibilidades.

    Numa segunda parte acerca dos impedimentos para o exerccio da advocacia,

    conceptualiza-se impedimento e delineia-se os princpios deontolgicos que esto por detrs

    desta figura; bem como quais os rgos competentes para aferi-la.

    Da anlise do art. 78. do EOA resulta serem impedimentos as situaes de conflito de

    interesses (previstas no art. 94. do EOA), aludindo-se a alguns pareceres que reforam ou

    refutam casos de impedimento.

  • 6

    Abreviaturas

    a.C Antes de Cristo

    Art. Artigo

    CDAE Cdigo de Deontologia dos Advogados Europeus (aprovado na sesso plenria do

    Conseil des Barreaux europens de 28 de Outubro de 1998, transposto para a ordem interna

    pela Deliberao do Conselho Geral das Ordem dos Advogados n. 2511/2007, publicado no

    Dirio da Repblica, II Srie, n. 249., de 27 de Dezembro de 2007).

    d. C Depois de Cristo

    DL Decreto-Lei

    EOA Estatuto da Ordem dos Advogados (Lei n. 15/2005, de 26 de Janeiro)

    N. Nmero

    P. Pgina

    PP. Pginas

    ROC Revisor Oficial de Contas

    Sc. Sculo

    TOC Tcnico Oficial de Contas

  • 7

    Introduo

    presente trabalho foi realizado no mbito da unidade curricular de Deontologia das

    Profisses Forenses, constituindo desta forma, um elemento de avaliao nesta

    disciplina.

    O mesmo versar sobre as incompatibilidades e impedimentos para o exerccio da

    advocacia, analisando-as de forma exemplificativa e tecendo algumas consideraes acerca

    das situaes que esto expressamente consagradas nos artigos 77. e 78. do EOA e

    indicando outras que estaro excludas do regime das incompatibilidades e impedimentos para

    o exerccio da advocacia.

    A escolha do tema prende-se, no geral, com o facto de a advocacia ter sido, desde

    sempre, a nossa meta a nvel profissional e, em especial, por termos simpatizado com a

    matria das incompatibilidades e impedimentos na formao dada pela Ordem dos

    Advogados. J a escolha do ttulo Incompatibilidades e impedimentos para o exerccio da

    advocacia: breve abordagem deve-se ao facto do trabalho no ser exaustivo tambm pelo

    pouco tempo que temos para realiz-lo e, por isso, mostra-se como um breve estudo acerca

    deste tema.

    O mtodo utilizado para a realizao deste estudo foi a recolha de dados secundrios,

    ou seja, foi desenvolvida a recolha e anlise de fontes de informao jurdica, e s

    posteriormente, desenvolvemos algumas ideias/consideraes acerca deste tema.

    O trabalho est fragmentado em duas grandes partes: uma parte relativa s

    incompatibilidades e outra parte relativa aos impedimentos, ambas no mbito do exerccio da

    advocacia.

    Estas so, portanto, as linhas gerais deste trabalho.

    * * *

    Cabe-nos agora explanar, ainda em jeito de introduo, de forma breve, a evoluo da

    profisso de advogado e a criao da Ordem dos Advogados1.

    O Cdigo de Hammurabi (sc. XVIII a.C), uma compilao de leis escritas, oriundo

    da Mesopotmia, demonstra-nos que, pela tcnica utilizada, muito provavelmente a sua

    1 In COSTA, Orlando Guedes da Direito Profissional do Advogado: Noes elementares; inclui a previdncia dos advogados; Coimbra: Almedina Editora; 7 Edio, 2010, pp. 15 a 50.

    O

  • 8

    feitura exigiu ao(s) seu(s) autor(es) uma grande preparao na rea jurdica; o que nos faz

    pensar se a mesma no ter sido elaborada por advogados2.

    Na civilizao grega, prezavam-se os oradores pblicos da gora, cuja arma era a

    retrica; esta figura transmutou-se na figura dos corgrafos, defensores que detinham j uma

    remunerao pelo servio prestado.

    Em Roma e em todo o seu vasto imprio, a actividade do advogado aparece j ligada

    defesa em juzo, como um profisso organizada e delimitada j por certas regras

    deontolgicas, o que muito contribuiu para a honra desta profisso.

    de notar que a elaborao do Corpus Iuris Civilis denota tambm alguma preparao

    acadmica a nvel jurdico, desde logo pela compilao do ius romanum em 4 grandes livros:

    Institutiones (manual escolar para estudantes; trata-se de uma introduo ao Digesto),

    Digesto/Pandecta (compndio de leis e obras de jurisconsultos clssicos), Novelae (conjunto

    de constituies imperiais promulgadas por Justiniano aps 535 d.C) e Codex (compilao de

    leges). Triboniano, Ministro da Justia do Imperador Justiniano, foi a pessoa incumbida de

    organizar a Comisso que elaboraria o Corpus Iuris Civilis, juntamente com juristas,

    advogados e professores.

    Na Idade Mdia, a figura do advogado no se alterou muito face funo

    desempenhada no Imprio Romano e, desde o sc. IX, a advocacia comea a entrar em

    declnio, deixando de ser considerada uma profisso marcadamente liberal. Por contraposio

    a este declnio, no direito cannico emergiram juristas e advogados eclesisticos, que

    actuavam com meios processuais primitivos tal como os ordlios ou juzos de Deus e o livre

    arbtrio de juzes no juristas.

    A partir do sc. XI, comearam a surgir os chamados vozeyros, cuja funo era a de

    dar voz ou defender os litigantes; e surgem tambm princpios respeitantes actividade

    processual do advogado3, verbis gratia, todas as partes tm direito a ser patrocinadas por

    advogado; para garantir a honra e dignidade do prncipe, este no admitiria a advogar homens

    mudos, surdos, cegos, loucos, servos, hereges, menores de dezassete anos e clrigos; no

    proibia expressamente o pacto de quota-litis, mas os honorrios estavam limitados

    quantitativamente vigsima parte; era proibido o advogado cobrar honorrios s duas partes,

    instaurar processos de m-f e advogar causas injustas; este profissional teria de fazer as suas

    alegaes de p e era proibido o uso de palavras torpes ou desadequadas; e era proibido falar

    em segredo com o seu patrocinado, quando este estivesse prestando o seu depoimento.

    2 No no sentido da palavra nos dias de hoje, mas como meros estudiosos e conhecedores da rea jurdica. 3 In BEXIGA, Valrio O advogado e a histria. Faro: Edio do autor. 2000; pp. 30 e 31.

  • 9

    No reinado de D. Afonso III, qualquer homem poderia ser advogado, desde que no se

    encontrasse em situao de inibio: ser judeu ou mouro nas causas de cristos; os clrigos

    no poderiam advogar a no ser em causa prpria; os Sobrejuzes e Ouvidores tinham

    actividade incompatvel com o exerccio da advocacia, bem como o cargo de cavaleiro da

    corte, escrivo judicial, as pessoas grandes (os nobres), entre outros.

    Dando agora um salto temporal para a Lei da Boa Razo, datada de 18 de Agosto de

    1769,importa referir que este diploma veio reformular a matria das fontes de direito,

    conduzindo a uma divergncia entre os advogados quanto interpretao as normas de tal

    forma que os juzes eram obrigados a levar a aco Relao para que l se fixasse a

    interpretao mais correcta.

    Posteriormente, como refere ORLANDO GUEDES DA COSTA, seguiu-se um perodo de

    certa estagnao na evoluo da profisso de Advogado at criao da Ordem dos

    Advogados pelo Decreto n. 11715 de 12 de Junho de 1926.4.

    Um importante antecedente da Ordem dos Advogados foi a Associao dos

    Advogados de Lisboa, cujos Estatutos foram aprovados por uma portaria de 23 de Maro de

    1838. Inspirado nos Estatutos da Associao dos Advogados de Lisboa e, consequentemente

    nos Estatutos do Instituto dos Advogados Brasileiros (que tinham na sua gnese os Estatutos

    da Associao dos Advogados de Lisboa), e por iniciativa do Dr. Manuel Rodrigues, cria-se

    ento a Ordem dos Advogados pelo Decreto n. 11715, de 12 de Junho de 1926, decreto este

    que viria a ser revogado e substitudo pelo Decreto n. 12334, de 18 de Setembro de 1926, que

    criou o Tribunal Supremo da Ordem dos Advogados, mais tarde denominado pelo Estatuto

    Judicirio de 1927, de Conselho Superior Disciplinar. Em 16 de Maro de 1984, foi aprovado

    pelo DL n. 84/84, um novo Estatuto da Ordem dos Advogados que, vigorou at 2005, ano em

    que, pela Lei n. 15/2005, de 26 de Janeiro, se aprovou um novo Estatuto da Ordem dos

    Advogados, pela qual ainda nos pautamos hoje em dia.

    Importa referir, em jeito de desfecho, que a Advocacia uma profisso colegiada e,

    como tal, para se ter acesso profisso no basta a simples licenciatura, necessrio estar

    inscrito na Ordem dos Advogados, como resulta, desde logo, do art. 61. do EOA que

    estabelece que s os licenciados em Direito com inscrio em vigor na Ordem dos

    Advogados podem () praticar actos prprios da advocacia.

    4 In COSTA, Orlando Guedes da Direito Profissional do Advogado. Noes Elementares; inclui a previdncia dos Advogados. Coimbra: Almedina Editora; 7 Edio, 2010; p. 37.

  • 10

    Parte I As incompatibilidades para o exerccio da advocacia

    Ligado intimamente com a questo da integridade, dignidade e independncia para o

    exerccio da advocacia, est o problema da incompatibilidade.

    Por incompatibilidade entende-se a qualidade daquele ou daquilo que

    incompatvel; a antipatia de caracteres; a diferena essencial que faz com que duas coisas

    no possam estar juntas; e a impossibilidade legal de exercer conjuntamente certas

    funes5.

    Assim, podemos conceptualiz-la no campo da deontologia como uma proibio total

    ou absoluta de executar uma outra actividade, funo ou cargo quando se exerce a profisso

    de advogado. Por outras palavras, a inconciliabilidade de advocacia e outras funes.

    facilmente perceptvel a incompatibilidade se visualizarmos a passagem bblica do Evangelho

    So Lucas captulo 16, versculo 13: nenhum servo pode servir dois senhores; porque ou h

    de aborrecer um e amar o outro, ou se h de chegar a um e desprezar o outro. No podeis

    servir a Deus e a Mamom6.

    A advocacia, vocacionada para a defesa dos direitos e interesses que lhe sejam

    confiados, deve ser exercida com plena autonomia tcnica, de forma isenta, independente e

    responsvel, conforme dispe o art. 76. n. 1 do EOA. Por isso, o art. 181. n. 1 alnea d) do

    EOA restringe o direito inscrio aos que estejam em situao de incompatibilidade ou

    inibio do exerccio da advocacia.

    Desta forma, consideram-se nulas quaisquer orientaes ou instrues resultantes de

    estipulaes contratuais que limitem a iseno e a independncia da advocacia e que violem

    os princpios deontolgicos desta profisso, segundo o art. 76. n. 4 do EOA.

    Reza o n. 5 do mesmo artigo que as incompatibilidades so aferidas e aplicadas

    repartidamente pelo Conselho Geral7 (conforme o art. 45. n. 1 alnea d) do EOA) ou pelo

    Conselho Distrital8 (tal como estatui o art. 50. n. 1 alnea f) do EOA).

    Estes dois rgos da Ordem dos Advogados podem solicitar s entidades com quem os

    advogados tenham estabelecido relaes profissionais, nos termos do art. 79. n. 1 do EOA,

    as informaes que considerem necessrias para se aferir a existncia da incompatibilidade

    5 Segundo o Dicionrio Priberam da Lngua Portuguesa, disponvel na URL: http://www.priberam.pt/dlpo/. 6 In BBLIA SAGRADA (Novo Testamento), traduzida em portugus por Joo Ferreira de Almeida. Braslia: Sociedade Bblica

    do Brasil, 1969, p. 104. 7 Compete ao Conselho Geral: () d) Deliberar sobre todos os assuntos que respeitem ao exerccio da profisso. 8 Compete ao Conselho Distrital, no mbito da sua competncia territorial: () f) Pronunciar-se sobre as questes de carcter profissional.

  • 11

    para o exerccio da advocacia. Em caso de inexistncia de resposta por parte do advogado nos

    trinta dias subsequentes ao pedido, o Conselho Geral da Ordem dos Advogados poder de

    imediato deliberar a suspenso da inscrio do advogado. A pena de suspenso considerada

    das mais graves, conforme o art. 125. n. 1 alnea e) do EOA; segundo o n. 5 do mesmo

    artigo, a suspenso consiste no afastamento total do exerccio da advocacia durante o

    perodo de aplicao da pena. O seu n. 6 estatui que a suspenso por perodo superior a trs

    anos s poder ser aplicada por infraco disciplinar que afecte gravemente a dignidade e o

    prestgio profissional, ora, a incompatibilidade dever ser considerada uma infraco

    disciplinar pois constitui uma no observao das regras deontolgicas e que,

    consequentemente interferiro com a dignidade, independncia e integridade da profisso.

    Constitui um dever do advogado9, aquando da sua inscrio como tal, declarar

    qualquer cargo ou actividade profissional que exera, para que se verifiquem quaisquer

    incompatibilidades existentes (pois constitui uma restrio ao direito de inscrio a situao

    de incompatibilidade para o exerccio da advocacia, segundo o art. 181. n. 1 alnea d) do

    EOA). Em caso de incompetncia superveniente, deve o advogado, suspender imediatamente

    o exerccio da advocacia no prazo mximo de trinta dias e, requerer a suspenso da sua

    inscrio na Ordem dos Advogados.

    A questo das incompatibilidades tratada, a nvel interno, no art. 77. do EOA, e a

    nvel europeu, no ponto 2.5 do Cdigo de Deontologia dos Advogados Europeus10

    . Neste

    ltimo pode ler-se: Para permitir ao advogado exercer a sua funo com a independncia

    necessria e em conformidade com o seu dever de colaborar na administrao da justia, o

    exerccio de certas profisses ou funes poder ser declarado incompatvel com a profisso

    de advogado..

    Analisemos agora o regime das incompatibilidades vertido no art. 77. do EOA. O

    sistema legal-deontolgico11

    utilizado foi o da enumerao exemplificativa (at porque foi

    utilizado o vocbulo designadamente), cabendo neste artigo no s as actividades, funes

    ou cargos literalmente consagrados mas tambm todas as outras que diminuam a amplitude da

    iseno, independncia e dignidade da profisso; cabendo Ordem dos Advogados definir,

    caso a caso, a existncia ou inexistncia de incompatibilidades.

    9 Conforme o art. 86. n. 1 alnea c) e d) do EOA. 10 Deliberao n. 2511/2007 do Conselho Geral da Ordem dos Advogados, publicado no Dirio da Repblica, II Srie, n.

    249, em 27 de Dezembro de 2007. 11 In ARNAUT, Antnio Iniciao advocacia. Histria Deontologia. Questes prticas. Coimbra: Coimbra Editora, Grupo Wolters Kluwer; 11 Edio (revista); 2011, p. 128.

  • 12

    Nesta esteira de pensamento, urge referir a questo suscitada pelo Dr. PAULO SOUSA

    PINHEIRO: ter mesmo o legislador querido esgotar de forma exaustiva o elenco das

    incompatibilidades para o exerccio da advocacia, ou, pelo contrrio, ter querido avanar,

    mas somente a ttulo meramente exemplificativo, com um elenco de profisses onde a

    incompatibilidade com o exerccio da advocacia era por demais evidente?12

    Dispe o n 1 deste artigo que so, designadamente, incompatveis com o exerccio

    da advocacia os seguintes cargos, funes e actividades: a) Titular ou membro de rgo de

    soberania, os representantes da Repblica para as regies autnomas, os membros de

    governo regional das regies autnomas, os presidentes de cmara municipal e, bem assim,

    os respectivos adjuntos, assessores, secretrios, funcionrios, agentes ou outros contratados

    dos respectivos gabinetes ou servios; b) Membro do Tribunal Constitucional e os respectivos

    funcionrios, agentes ou contratados; c) Membro do Tribunal de Contas e os respectivos

    funcionrios, agentes ou contratados; d) Provedor de Justia e os funcionrios, agentes ou

    contratados do respectivo servio; e) Magistrado, ainda que no integrado em rgo ou

    funo jurisdicional; f) Governador Civil, Vice-Governador Civil e os funcionrios, agentes

    ou contratados do respectivo servio; g) Assessor, administrador, funcionrio, agente ou

    contratado de qualquer tribunal; h) Notrio ou conservador de registos e os funcionrios,

    agentes ou contratados do respectivo servio; i) Gestor pblico; j) Funcionrio, agente ou

    contratado de quaisquer servios ou entidades que possuam natureza pblica ou prossigam

    finalidades de interesse pblico, de natureza central, regional ou local; l) Membro de rgo

    de administrao, executivo ou director com poderes de representao orgnica das

    entidades indicadas na alnea anterior; m) Membro das Foras Armadas ou militarizadas; n)

    Revisor oficial de contas ou tcnico oficial de contas e os funcionrios, agentes ou

    contratados do respectivo servio; o) Gestor judicial ou liquidatrio judicial ou pessoa que

    exera idnticas funes; p) Mediador mobilirio ou imobilirio, leiloeiro e os funcionrios,

    agentes ou contratados do respectivo servio; q) Quaisquer outros cargos, funes e

    actividades que por lei sejam consideradas incompatveis com o exerccio da advocacia..

    Relativamente alnea a) do n. 1, quanto aos membros de rgos de soberania, ser

    incompatvel com a advocacia a funo de Presidente da Repblica, Primeiro-Ministro e

    Magistrados Judiciais de qualquer categoria de tribunal (embora esta incompatibilidade

    advenha tambm das alneas b) e c) do art. 77. n. 1 do EOA). Tambm ser incompatvel o

    12 In PINHEIRO, Paulo Sousa (Incompatibilidades para o Exerccio da Advocacia) apud Joo Loff Barreto (voto de vencido);

    disponvel online na URL: http://www.oa.pt/Conteudos/Artigos/detalhe_artigo.aspx?idc=31623&idsc=31626&ida=103720.

  • 13

    cargo de representante da Repblica para as Regies Autnomas, membros do Governo

    Regional das Regies Autnomas e Presidentes de Cmara Municipal, alargando-se a

    incompatibilidade tambm ao cargo de Vereador da Cmara13

    e Vice-Presidente de Cmara

    Municipal, desde logo, conforme o Parecer do Conselho Distrital do Porto que refere que

    uma vez que os vereadores em regime de tempo inteiro congregam, por inerncia do cargo,

    o desempenho de funes polticas e o exerccio do poder administrativo prprios do

    presidente da cmara, o mesmo sucedendo relativamente ao vice-presidente de cmara

    municipal, e, estando expressamente prevista na alnea a) do n 1 do art. 77 do novo EOA a

    incompatibilidade dos presidentes de cmara para o exerccio da advocacia, a concluso s

    pode ser a de que existe incompatibilidade para o exerccio da advocacia relativamente a

    vereador em regime de tempo inteiro, bem como relativamente ao vice-presidente de cmara

    municipal. 14.

    Os deputados da Assembleia da Repblica, como membros de um rgo de soberania

    que so, deveriam tambm estar abrangidos pela incompatibilidade para o exerccio da

    advocacia, mas o n. 2 do art. 77. prev expressamente a sua excepcionalidade. Desta forma,

    poder um deputado da Assembleia da Repblica exercer a advocacia sem que isso constitua

    incompatibilidade, mas sempre com a ressalva do art. 76. n. 2, ou seja, desde que no afecte

    a sua iseno, independncia e dignidade na profisso. Na nossa opinio, a soluo estatutria

    no a mais correcta, porque o exerccio de um cargo pblico, nomeadamente num rgo de

    soberania, deveria ser exercido em regime de total exclusividade e, desta forma, assim que

    integrassem o cargo de deputados, deveriam, nos termos do art. 86. n. 1 alnea d) do EOA,

    suspender o exerccio da advocacia durante o perodo do seu mandato. esta, desde logo, a

    posio adoptada tambm pelo Bastonrio da Ordem dos Advogados, DR. ANTNIO MARINHO

    E PINTO que refere que "se um presidente de Cmara e um membro do governo, quando

    assumem funes, suspendem o exerccio da advocacia, o mesmo deve acontecer com um

    deputado"; e ainda d o exemplo de que "um deputado que tenha, como advogado, um cliente

    com problemas de dvidas fiscais, pode favorec-lo quando estiver a propor alteraes Lei

    Geral Tributria"15

    . VALRIO BEXIGA ainda vai mais longe, os advogados membros deste

    rgo de soberania, pela sua funo de legislar, dispem de conjuntura adequada para

    aperfeioar o Direito aos interesses particulares dos seus clientes. Alem disso, dispem,

    13 Embora exista um Parecer do Conselho Distrital do Porto (Parecer n. 15/PP/2012-P, relatado pela Vogal Conselheira

    Catarina Pinto de Rezende) que desconsidera haver incompatibilidade entre o exerccio da advocacia e a funo de Vereador

    sem competncias delegadas; mas disto, trataremos posteriormente quando analisarmos a alnea l) do art. 77. n. 1 do EOA. 14 A este propsito ver o Parecer do Conselho Distrital do Porto de 09 de Fevereiro de 2006, relatado pelo Vogal Carlos

    Mateus; disponvel online na URL: http://www.oa.pt/upl/%7B2ed2b63a-745a-4d1a-b1b2-a8e28d558d0f%7D.pdf 15 In VALE, Adriana Antnio Marinho Pinto quer ver advogados fora do parlamento. Jornal i (20 de Julho de 2011); disponvel online na URL: http://www.ionline.pt/artigos/antonio-marinho-pinto-quer-ver-advogados-fora-parlamento.

  • 14

    reflexamente, de boas condies para granjear clientela ao arrimo desta virtualidade

    legislativa.16. Neste seguimento, contra-alega o ex-Presidente da RTP e ex-Deputado do

    Partido Socialista, JOO CARLOS SILVA que "se os advogados no devem ser deputados

    porque podem votar uma lei que lhes favorvel, os mdicos tambm no deviam ser

    membros do parlamento quando est em discusso uma lei que possa ter consequncias na

    sua vida profissional"17

    .

    Resulta das alneas b) e c) do art. 77. n. 1 do EOA a incompatibilidade do exerccio a

    advocacia com a funo de membro do Tribunal Constitucional (tendo por base o art. 27. da

    Lei de Organizao, funcionamento e processo do Tribunal Constitucional, Lei n. 28/82, de

    15 de Novembro) e do Tribunal de Contas (conforme o art. 13. n. 2 da Lei de Organizao,

    funcionamento e processo do Tribunal de Contas - Lei n. 98/97, de 26 de Agosto-, que

    manda aplicar o mesmo regime de incompatibilidades aplicado aos Juzes do Supremo

    Tribunal de Justia ou o Estatuto dos Magistrados Judiciais).

    Tambm a alnea e) do art. 77. n. 1 do EOA incompatibiliza a funo de magistrado

    com o exerccio da advocacia, quer o magistrado esteja ou no integrado num rgo ou

    funo jurisdicional. , esta a incompatibilidade resultante do art. 13. n. 1 do Estatuto dos

    Magistrados Judiciais (a Lei n. 21/85, de 30 de Julho) que estabelece que os magistrados

    judiciais, excepto os aposentados e os que se encontrem na situao de licena sem

    vencimento de longa durao, no podem desempenhar qualquer outra funo pblica ou

    privada de natureza profissional ().. Ressalva-se apenas a possibilidade dos magistrados

    judiciais e dos magistrados do Ministrio Pblico poderem advogar em causa prpria, do seu

    cnjuge ou descendente, como resulta do art. 19. do Estatuto dos Magistrados Judiciais e do

    art. 93. do Estatuto do Ministrio Pblico (Lei n. 47/86, de 15 de Outubro). Dispe o art.

    77. n. 1 alnea g) do EOA a incompatibilidade com o exerccio da advocacia com o cargo ou

    funo de assessor e administrador de qualquer tribunal; entende-se que assim seja, visto que

    estes cargos podem vir a ter acesso a informao privilegiada que posteriormente poder ser

    utilizada de forma ilcita. No caso concreto dos Tcnicos de Atendimento dos Julgados de

    Paz, o Parecer do Conselho Superior da Ordem dos Advogados (processo n. PAR-01/05,

    aprovado em 17 de Junho de 2005, relatado por Fernando Cabrita) refletiu acerca da natureza

    dos Julgados de Paz, como verdadeiros tribunais que so, o que conduziria

    incompatibilidade prevista no art. 77. n. 1 alnea g) do EOA mas acabou concluindo que

    16 In BEXIGA, Valrio Lies de Deontologia Forense; Faro: Unio, Folha do Domingo, Lda. 2005, p. 82. 17 In VALE, Adriana Antnio Marinho Pinto quer ver advogados fora do parlamento. Jornal i (20 de Julho de 2011); disponvel online na URL: http://www.ionline.pt/artigos/antonio-marinho-pinto-quer-ver-advogados-fora-parlamento.

  • 15

    esta restrio configurar antes uma situao com a natureza de impedimento e no de

    incompatibilidade18.

    igualmente incompatvel com o exerccio da advocacia a funo de Provedor de

    Justia, segundo o art. 77. n. 1 alnea d) do EOA. esta a soluo contemplada no Regime

    Jurdico das incompatibilidades e impedimentos dos titulares de cargos polticos e altos

    cargos pblicos (Lei n. 64/93, de 26 de Agosto), nomeadamente no seu art. 1. n. 2 alnea c)

    e art. 4. n. 1 e 219

    .

    A mesma lei, no seu art. 1. n. 2 alnea e), conjugada com o art. 77. n. 1 alnea f) do

    EOA, exprimem a incompatibilidade de o Governador Civil e Vice-governador Civil virem a

    exercer a advocacia.

    tambm incompatvel com o exerccio da advocacia a funo de notrio ou

    conservador de registos, como resulta do art. 77. n. 1 alnea h) do EOA. esta a soluo j

    adoptada no art. 31. n. 1 do Estatuto da Ordem dos Notrios (DL n. 27/2004, de 4 de

    Fevereiro) que estabelece que o exerccio das funes de notrio incompatvel com

    quaisquer outras funes remuneradas, pblico ou privadas; bem como no art. 27. n. 1

    alnea c) do DL n. 519-F2/79, de 29 de Dezembro (Lei orgnica dos servios dos registos e

    notariado) que dispe que o exerccio do cargo de conservador ou notrio incompatvel: c)

    Com o exerccio da advocacia, excepto quanto aos conservadores e notrios de 3. classe

    providos em lugares da mesma classe situados na sede da comarca.; e no n. 3 e 4 do

    mesmo diploma, com a nova redaco dada pelo art. 1. do DL n. 71/80 de 15 de Abril: 3 -

    A incompatibilidade estabelecida na alnea c) do n. 1 do presente artigo no ter aplicao

    aos conservadores e notrios que data da publicao do presente diploma possam advogar,

    independentemente da sua classe pessoal, enquanto no forem transferidos para lugar de que

    lhes resulte essa incompatibilidade; 4 - O exerccio da advocacia, nos casos em que

    permitido, pode ser proibido pelo Ministro da Justia aos conservadores e notrios que, por

    causa dele, descuidem os servios a seu cargo ou deste se utilizem em proveito da sua

    clientela de advogado, mediante instaurao do competente processo disciplinar..

    Segundo o art. 77. n. 1 alnea i) do EOA incompatvel com o exerccio da

    advocacia a funo de gestor pblico. O art. 1. do DL n. 71/2007, de 27 de Maro (Estatuto

    do Gestor Pblico) define o gestor pblico como o rgo de gesto ou administrao das

    18 In ORDEM DOS ADVOGADOS Jurisprudncia do Conselho Superior. Trinio 2005-2007, pp. 75 a 79. 19 Artigo 4. - Exclusividade:

    1- Os titulares dos cargos previstos nos artigos 1. e 2. exercem as suas funes em regime de exclusividade (); 2- A titularidade dos cargos a que se refere o nmero anterior incompatvel com quaisquer outras funes

    profissionais remuneradas ou no, bem como com a integrao em corpos sociais de quaisquer pessoas colectivas de fins

    lucrativos.

  • 16

    empresas pblicas abrangidas pelo DL n 558/99, de 17 de Dezembro. e o art. 2. estende o

    conceito de gestor pblico aos titulares de rgo de gesto de empresa participada pelo

    Estado, quando designados pelo Estado, aos titulares dos rgos de gesto das empresas

    integrantes dos sectores empresariais regionais e locais e aos membros de rgos

    directivos de institutos pblicos de regime especial, bem como s autoridades reguladoras

    independentes. O Estatuto do Gestor Pblico consagra no seu art. 22. as incompatibilidades

    e impedimentos do exerccio da funo de gestor pblico, mas no faz qualquer aluso

    incompatibilidade com actividades privadas remuneradas ou no, o que, per si, possibilitaria a

    este cargo o exerccio da advocacia; mas claramente esto limitados pelo EOA.

    A alnea j) do art. 77. n. 1 do EOA incompatibiliza a funo de funcionrio, agente

    ou contratado de quaisquer servios ou entidades que possuam natureza pblica ou prossigam

    finalidades de interesse pblico, de natureza central, regional ou local. o caso dos

    funcionrios, agentes e contratados em empresas de fornecimento de energia elctrica, gua,

    gs natural e petrleo liquefeito canalizados, comunicaes electrnicas, correios, recolha e

    tratamento de guas residuais e de gesto de resduos slidos urbanos, como resulta da Lei n.

    23/96, de 26 de Julho com as subsequentes alteraes20

    ; bem como os servios pblicos de

    educao, sade e policiamento, transportes pblicos, planeamento urbano e habitao social.

    Includos no elenco de incompatibilidade, esto os membros de rgo de

    administrao, executivo ou director com poderes de representao orgnica das entidades

    indicadas de natureza pblica ou que prossigam finalidades de interesse pblico, de natureza

    central, regional ou local, conforme resulta do art. 77. n. 1 alnea l) do EOA. Embora

    tenhamos anteriormente dito que se pode incluir os Vereadores das Cmaras Municipais nas

    incompatibilidades do art. 77. n. 1 alnea a) do EOA, resulta do Parecer n. 15/PP/2012-P

    que o cargo de vereador de uma Cmara Municipal sem competncias delegadas no

    incompatvel com o exerccio da advocacia, uma vez que, no tendo poderes de

    representao orgnica, no se enquadra na previso da norma da al. l) do n 1 do artigo 77

    do E.O.A.21.

    Relativamente alnea m) do art. 77. n. 1 do EOA, incompatvel o exerccio da

    advocacia aos membros das Foras Armadas ou militarizadas, desde logo resultante tambm

    do art. 16. n. 2, parte final do Estatuto dos Militares das Foras Armadas (DL n. 236/99, de

    25 de Junho, com respectivas alteraes posteriores) que prescreve que o militar no pode

    20 In MATEUS, Carlos Deontologia Forense: Limites ao exerccio da profisso de advogado. Compilaes doutrinais; Verbo Jurdico, 2011, pp. 9 a 10; disponvel online, na URL:

    http://www.verbojuridico.com/doutrina/2011/carlosmateus_limitesexercicioprofissao.pdf. 21 Parecer do Conselho Distrital do Porto n. 15/PP/2012-P, relatado pela Vogal Conselheira Catarina Pinto de Rezende;

    disponvel online na URL: http://www.oa.pt/upl/%7Ba6848d3a-f422-4b5e-9a81-74b1ce80ca6b%7D.pdf.

  • 17

    exercer actividades incompatveis () que o coloquem em dependncia susceptvel de afectar

    a sua respeitabilidade e dignidade perante as Foras Armadas ou a sociedade..

    Tambm incompatvel a funo de Revisor Oficial de Contas e de Tcnico Oficial de

    Contas, com o exerccio da advocacia, como resulta do art. 77. n. 1 alnea n) do EOA.

    Confirma esta incompatibilidade o Parecer do Conselho Superior da Ordem dos Advogados

    (Processo n. R-67/05, aprovado em 27 de Janeiro de 2006, relatado por Lus Telles de Abreu)

    quando expe que , de facto, impossvel exercer as duas profisses [advogado e ROC]

    simultaneamente, uma vez que ambas tm obrigaes em parte incompatveis e

    inconciliveis22 e, relativamente aos TOC, o Parecer do Conselho Superior da Ordem dos

    Advogados (Processo n. R-139/0723

    , aprovado em 28 de Setembro de 2007, relatado por

    Carlos Guimares).

    Quanto alnea o) do art. 77. n. 1 do EOA, consagra a incompatibilidade da funo

    de Gestor judicial, liquidatrio judicial ou pessoa que exera funo semelhante, com o

    exerccio da advocacia. A funo de gestor judicial bem como a de liquidatrio judicial

    surgiram com o Cdigo dos Processos Especiais e Recuperao da Empresa e de Falncia

    (aprovado pelo DL n. 132/93, de 23 de Abril), mais tarde, com a entrada em vigor do Cdigo

    de Insolvncia e Recuperao de Empresas (DL n. 53/2004, de 18 de Maro), estas duas

    figuras foram substitudas pelo Administrador de Insolvncia. Com o novo Estatuto do

    Administrador Judicial (Lei n. 22/2013, de 26 de Fevereiro), nomeadamente no seu art. 2.

    n. 2, veio-se criar a figura do Administrador Judicial que congrega o administrador judicial

    provisrio, o administrador da insolvncia ou fiducirio. Assim, deve entender-se que os

    administradores judiciais esto abrangidos pela incompatibilidade ditada no art. 77. n. 1

    alnea o) do EOA, sendo portanto proibido o exerccio da advocacia e a realizao da funo

    de administrador judicial conjuntamente; a nica excepo a esta incompatibilidade poder

    advir do art. 81. do EOA, isto , do facto de as regras definidas no estatuto no poderem

    prejudicar os direitos legalmente adquiridos luz do estatuto anterior. Neste sentido, veio o

    Parecer 14/PP/2010-G a 36/PP/2010-G (datado de 30 de Setembro de 2010, relatado por

    Costa Amorim) arguir que pensa-se ser mais consentnea interpretao, consagrar o

    citado artigo 81 do EOA um regime de salvaguarda dos direitos legalmente adquiridos,

    tambm a todos os que at a exerciam, em simultneo, as referidas funes de advogado e

    Liquidatrio e Gestor Judicial/Administrador de Insolvncia, () [mas] sendo aquele

    suporte excepcional, se no pode nem deve tambm eximir ao cumprimento preciso dos

    22 In ORDEM DOS ADVOGADOS Jurisprudncia do Conselho Superior. Trinio 2005-2007, pp. 146 a 150. 23 In ORDEM DOS ADVOGADOS Jurisprudncia do Conselho Superior. Trinio 2005-2007, pp. 566 a 568.

  • 18

    princpios normativos consagrados no respectivo EOA sobre as matrias da deontologia

    profissional e os deveres impostos a quem assim prefere actuar, () mormente nas questes

    de sigilo profissional.24.

    ainda incompatvel com o exerccio da advocacia, segundo o art. 77. n. 1 alnea p)

    do EOA, a funo de mediador mobilirio ou imobilirio e leiloeiro por decorrncia da

    natureza jurdica dos contratos que lhe so subjacentes, no mbito dos quais o mediador e o

    leiloeiro intervm depositando na celebrao do negcio mediado um interesse directo e

    pessoal e por agirem no interesse de ambas as partes, o que inconcilivel com o mandato e

    representao de parte desenvolvido pelos Advogados e com o dever deontolgico previsto

    na alnea d) do n. 1 do artigo 95. do EOA.25.

    No menos importante a incompatibilidade, prevista na alnea q) do art. 77. n. 1 do

    EOA, com quaisquer outros cargos, funes e actividades que por lei sejam considerados

    incompatveis com o exerccio da advocacia onde se poder incluir a proibio dos

    advogados e advogados estagirios poderem ser jurados, conforme resulta do art. 4. alnea i)

    do DL n. 387-A/87, de 29 de Dezembro. Caber ainda nesta alnea a proibio do advogado

    ser testemunha relativamente a factos que teve acesso no exerccio da sua profisso e que

    constituam factos sujeitos a segredo profissional, nos termos do art. 87. do EOA; este o

    entendimento do Parecer do Conselho Distrital de Lisboa (Processo n. 56/08, de 27 de

    Maro, relatado por Sandra Barroso) que refere que pois em nome dum princpio geral do

    processo que o depoimento como testemunha do Advogado de qualquer das partes

    processuais no deve ser admitido. () No parece compatvel a funo da testemunha no

    processo com a do Advogado de alguma das partes. Com efeito, a testemunha tem como

    funo e como dever a comunicao ao tribunal de todos os factos sobre que seja

    interrogada e de comunic-los em termos totalmente isentos e objectivos.26. Com este efeito,

    escreve o DR. ANTNIO ARNAUT de forma graciosa que o Dr. Navarro tem conhecimento de

    factos importantes. Talvez possa ser testemunha insistiu o Meirinho/ Testemunha?! Voc

    est doido! Onde que se viu o advogado ser testemunha do cliente!27.

    Para no cair em repetio ao analisar cada alnea do art. 77. n. 1 do EOA, importa

    agora referir que da observao da alnea b), c), d), f), g), h), n), e p), a incompatibilidade

    abrange tambm todos os funcionrios, agentes ou contratados, com excepo dos

    24 Disponvel online na URL:http://www.oa.pt/Conteudos/Artigos/detalhe_artigo.aspx?idc=31623&idsc=31626&ida=103718 25 In MAGALHES, Fernando Sousa Estatuto da Ordem dos Advogados Anotado e comentado. Coimbra: Almedina Editora; 2013, 8 Edio, p. 102. 26 Disponvel online na URL: http://www.oa.pt/Conteudos/Pareceres/detalhe_parecer.aspx?idc=5&idsc=42945&ida=70149. 27 In ARNAUT, Antnio Ossos do Ofcio. Coimbra: Fora do Texto Cooperativa Editorial de Coimbra, C.R.L.; 1990, p. 53.

  • 19

    contratados em regime de prestao de servio (como resulta do art. 77. n. 2 alnea d) do

    EOA).

    Fora do art. 77. n. 1 do EOA, ou seja, fora do elenco (no taxativo) das

    incompatibilidades, encontramos no art. 80. n. 1 do EOA a incompatibilidade entre a funo

    de solicitador e o exerccio da advocacia; o que resulta tambm do art. 114. n. 1 alnea p) do

    Estatuto da Cmara dos Solicitadores (DL n. 88/2003, de 26 de Abril) e da leitura ad

    contrario do art. 80. n. 3 do EOA. Veio, neste sentido, reforar esta incompatibilidade o

    Parecer do Conselho Geral da Ordem dos Advogados n. 33-PP/2011-G (de 15 de Dezembro

    de 2011, relatado por Manuel Henriques). Contudo, ressalva-se a compatibilidade entre a

    funo de agente de execuo e o exerccio da advocacia, nos termos do art. 80. n. 3 do

    EOA e do art. 117. n. 1 alnea c)28

    do Estatuto da Cmara dos Solicitadores. No caso de

    cumulao de funes (advogado e agente de execuo) estabelece o art. 120. do Estatuto da

    Cmara dos Solicitadores que incompatvel com o exerccio da funo de agente e execuo

    o mandato em qualquer execuo, ou seja, apesar de cumular funes, no poder exercer a

    advocacia e a funo de agente de execuo no mesmo processo.

    Relativamente s excepes das incompatibilidades, permite, o n 2 do art. 77., aos

    membros da Assembleia da Repblica bem comos aos respectivos adjuntos, assessores,

    secretrios, funcionrios, agentes e outros contratados dos respectivos gabinetes ou servios, o

    exerccio da advocacia; cabe aqui a possibilidade dos deputados exercerem a advocacia, como

    j havamos referido aquando da anlise da alnea a) do art. 77. n. 1 do EOA.

    Tambm concilivel com a advocacia a docncia (neste sentido, vide o Acrdo do

    Tribunal Constitucional29

    que consentiu ao advogado a funo de docncia quer sejam ou no

    docentes de disciplinas no jurdicas; e o Parecer n. 13/PP/2009-P30

    onde pode ler-se que o

    desempenho de funes de docente no implica, por si mesmo, uma diminuio de

    independncia no exerccio da profisso de advogado, pelo que a cumulao com o exerccio

    da advocacia no gera qualquer incompatibilidade.) e os cargos para os quais estejam

    contratados em regime de prestao de servios; estendendo-se ainda aos aposentados,

    reformados, inactivos, com licena ilimitada ou na reserva.

    Quanto ao n. 3 e 4 do art. 77. do EOA, permite-se o exerccio da advocacia ao

    funcionrio, agente ou contratado de quaisquer servios ou entidades que possuam natureza

    28 1 - S pode exercer as funes de agente de execuo o solicitador ou o advogado que: () c) Sendo advogado, no esteja abrangido por qualquer das restries previstas no artigo 181. do Estatuto da Ordem dos Advogados. 29 In Acrdo do Tribunal Constitucional n. 143/85, de 30 de Julho (Processo n. 139/84, relatado por Vital Moreira),

    disponvel online na URL: http://digestoconvidados.dre.pt/digesto//pdf/LEX/167/43425.PDF. 30 In Parecer do Conselho Distrital do Porto da Ordem dos Advogados n. 13/PP/2009-P, de 26 de Maro, relatado por

    Elisabete Grangeia; disponvel online na URL: http://www.oa.pt/upl/%7Bb7eeed2b-54d9-4baf-b383-e8dca33cf274%7D.pdf.

  • 20

    pblica ou prossigam finalidades de interesse pblico, de natureza central, regional ou local

    e ao membro de rgo de administrao, executivo ou director com poderes de

    representao orgnica desde que a advocacia seja prestada em regime de subordinao e

    em exclusividade, ao servio destas entidades (n. 3 do art. 77.) ou quando as funes acima

    discriminadas tenham carcter temporrio (n. 4 do art. 77.).

    de salientar, a ttulo de curiosidade, que permitido aos jornalistas, comerciantes e

    ministros religiosos o exerccio da advocacia. Esta uma vexata quaestio, nomeadamente

    quanto aos jornalistas e ministros religiosos que j remonta ao perodo anterior ao EOA que

    hoje temos em vigor, isto porque os ministros de culto podero ter acesso a informaes

    privilegiadas no servio de confisso e podero servir-se delas; tambm o exerccio da

    advocacia por um jornalista poder no acautelar um princpio geral da deontologia do

    advogado que o de no pronunciar-se publicamente, na imprensa ou noutros meios de

    comunicao social, sobre questes profissionais pendentes, nos termos do art. 88. n. 1 do

    EOA.

    Com a entrada em vigor da Lei n. 2/2013, de 10 de Janeiro, tornou-se necessrio rever

    e alterar o prprio EOA. Da anlise da proposta de alterao ao EOA31

    , verifica-se que foi

    retirado do elenco de incompatibilidades o cargo de Governador civil, vice-governador civil

    e funcionrios, agentes ou contratados do respectivo servio previsto na alnea f) do art. 77.

    n. 1 do EOA; eliminou-se a alnea a) do art. 77. n. 2 do EOA que permitia aos deputados o

    exerccio da advocacia bem como o n. 4 do art. 77. que possibilitava ao funcionrio, agente

    ou contratado de quaisquer servios ou entidades que possuam natureza pblica ou

    prossigam finalidades de interesse pblico, de natureza central, regional ou local e ao

    membro de rgo de administrao, executivo ou director com poderes de representao

    orgnica, o exerccio da advocacia, desde que estes cargos tivessem carcter temporrio.

    31 Ainda no aprovado pela Assembleia da Repblica, encontrando-se a mesma em mora.

  • 21

    Parte II Os impedimentos para o exerccio da advocacia

    Tambm conexionado com os princpios gerais da deontologia do advogado,

    nomeadamente com a integridade (art. 83. do EOA e ponto 2.2. do CDAE), independncia

    (art. 84. do EOA e ponto 2.1. do CDAE) e a prpria dignidade da profisso, esto os

    impedimentos. Como estatui o art. 76. n. 1 do EOA, a advocacia deve ser exercida com

    plena autonomia tcnica, de forma isenta, independente e responsvel; sendo que o art. 181.

    n. 1 alnea d) do mesmo estatuto, restringe a inscrio na Ordem dos Advogados aos que

    estejam em situao de inibio do exerccio da advocacia.

    Impedimento (do latim impedimentum) entendido como o acto ou efeito de impedir;

    obstculo, embarao; proibio32. Como resulta do prprio art. 78. do EOA, trata-se de

    uma incompatibilidade relativa que apenas diminui a amplitude do exerccio da advocacia.

    Conforme o estipulado no art. 76. n. 5 do EOA, os impedimentos so aferidos e

    aplicados (de forma repartida) pelo Conselho Geral33

    (conforme o art. 45. n. 1 alnea d) do

    EOA) ou pelo Conselho Distrital34

    (tal como estatui o art. 50. n. 1 alnea f) do EOA).

    Nos termos do art. 79. do EOA, estes dois rgos da Ordem dos Advogados podem

    solicitar s entidades com quem os advogados tenham estabelecido relaes profissionais, as

    informaes que considerem necessrias para aferirem a existncia do impedimento para o

    exerccio da advocacia. Caso no haja resposta por parte do advogado nos trinta dias

    subsequentes ao pedido, o Conselho Geral da Ordem dos Advogados poder deliberar a

    suspenso da inscrio do advogado, uma das penas mais graves, conforme resulta do art.

    125. n. 1 alnea e) do EOA; e que consiste, segundo o n. 5 do mesmo artigo, no

    afastamento total do exerccio da advocacia durante o perodo de aplicao da pena. O n. 6

    deste artigo, estabelece que a suspenso em perodo superior a trs anos s poder ser

    aplicada por infraco disciplinar que afecte gravemente a dignidade e o prestgio

    profissional; recaindo, por isso, sobre os impedimentos, visto tratar-se de uma diminuio da

    amplitude do exerccio da advocacia e que, consequentemente, afecta a dignidade,

    independncia e integridade da profisso.

    32 Segundo o Dicionrio Priberam da Lngua Portuguesa, disponvel online na URL:

    http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=impedimentos. 33 Compete ao Conselho Geral: () d) Deliberar sobre todos os assuntos que respeitem ao exerccio da profisso. 34 Compete ao Conselho Distrital, no mbito da sua competncia territorial: () f) Pronunciar-se sobre as questes de carcter profissional.

  • 22

    Cabe-nos agora analisar o art. 78. do EOA, onde se encontra vertida a matria dos

    impedimentos. Segundo o n. 1 deste preceito, os impedimentos so incompatibilidades

    relativas do mandato forense e da consulta jurdica, tendo em vista determinada relao com

    o cliente, com os assuntos em causa ou por inconcilivel disponibilidade para a profisso..

    Ora, os impedimento resultam de circunstncias concretas que impedem o advogado de

    exercer o mandato forense e/ou prestar as suas funes quer por existncia de um conflito de

    interesses ou mesmo por limitao honra na profisso. Desta forma, caber na situao de

    impedimento, previsto no n. 1 do art. 78. do EOA, o conflito de interesses, consagrado no

    art. 94. do EOA. Estaremos perante uma situao de conflito de interesses quando se

    patrocine uma questo onde j tenha intervindo em qualquer outra qualidade ou esta seja

    conexa com outra em que represente, ou tenha representado, a parte contrria; no caso de

    patrocnio contra quem, noutra causa pendente, seja por si patrocinado; quando o advogado

    aconselhe, represente ou actue por conta de dois ou mais clientes, no mesmo assunto ou em

    assunto conexo, se existir conflito entre os interesses desses clientes35

    (verbis gratia, o

    advogado que representa ambos cnjuges num divrcio por litigioso); em caso de risco de

    violao do segredo profissional ou de diminuio da sua independncia; quando aceite um

    novo cliente que ponha em risco o cumprimento do dever de guardar sigilo profissional

    relativamente aos assuntos de um anterior cliente, ou se do conhecimento destes assuntos

    resultarem vantagens ilegtimas ou injustificadas para o novo cliente; e ainda quando o

    advogado exera a sua actividade em associao, sob a forma de sociedade ou no, e ponha

    em risco o dever de guardar sigilo profissional. Caber ainda neste nmero todas as situaes

    de parentesco, afinidade ou unio de facto entre o advogado e o magistrado judicial

    escalonado para uma aco ou mesmo com o advogado da parte contrria, podendo esta

    circunstncia afectar a sua integridade e p-lo em situao de dependncia, por exemplo.

    Outro impedimento, decorrente do n. 2 do art. 78. do EOA, aquele que resulta da

    prtica de actos profissionais e da movimentao de qualquer influncia junto de entidades

    (pblicas ou privadas) onde desempenhe ou tenha desempenhado funes, se aqueles actos ou

    influncias colidirem com as regras deontolgicas do EOA, nomeadamente com os princpios

    gerais consagrados no art. 76. n. 1 e 2.

    Tambm esto impedidos, conforme resulta do n. 3 do art. 78. do EOA, os membros

    da Assembleia da Repblica, bem como os respectivos adjuntos, assessores, secretrios,

    35 Ainda se pode ir mais longe, extrapolando a fronteira da deontologia, se pensarmos no art. 370. n. 2 do Cdigo Penal

    onde o advogado incorre no crime de prevaricao quando na mesma causa, advogar relativamente a pessoas cujos interesses

    estejam em conflito, com inteno de actuar em benefcio ou em prejuzo de alguma delas; cuja pena aplicvel a pena de

    priso at trs anos ou pena de multa.

  • 23

    funcionrios, agentes ou outros contratados dos respectivos gabinetes ou servios (funo

    compatvel com a advocacia, nos termos do art. 77. n. 2 alnea a) do EOA) que advoguem

    em qualquer foro, patrocinando aces pecunirias contra o Estado.

    Relativamente ao n 4 do art. 78. do EOA, este consagra, a nosso ver, uma clusula

    aberta, onde se d ao Conselho Distrital a competncia de aferir a existncia de impedimento,

    em caso de dvida. Nesta esteira de pensamento, surgiram vrias situaes na qual o

    Conselho Distrital se pronunciou acerca de possveis impedimentos: o Parecer do Conselho

    Distrital do Porto da Ordem dos Advogados n. 67/PP/2011-P36

    (relatado por Rui Silva) na

    qual se concluiu que a) admitido o exerccio da advocacia em prtica isolada, de uma

    advogada que partilha espaos distintos da mesma fraco com outra advogada que

    igualmente exerce funes de agente de execuo. b) Contudo, no devem existir servios

    comuns entre ambas, designadamente aparelho de fax. c) Existe uma situao de

    impedimento se, num caso concreto, a consulente for mandatria de clientes que sejam parte

    ou tenham interesses em processos executivos em que a advogada com quem partilha o

    escritrio seja igualmente agente de execuo.; o Parecer do Conselho Distrital do Porto da

    Ordem dos Advogados n. 75/PP/2011-P37

    (relatado por Rui Silva) onde pode ler-se que a)

    permitido o exerccio da advocacia numa sala in dependente, dentro da mesma fraco

    autnoma, ocupada por um agente de seguros. b) a advogada no pode ter servios em

    comum com o agente de seguros.; segundo o Parecer do Conselho Distrital do Porto da

    Ordem dos Advogados n. 9/PP/2013-P38

    (relatado pela Vogal Conselheira Catarina Pinto de

    Rezende) a declarao de insolvncia de um advogado no configura, por si s, um

    impedimento para o exerccio da advocacia.; e ainda o Parecer do Conselho Distrital do

    Porto da Ordem dos Advogados n. 18/PP/2012-P39

    (de 12 de Abril de 2012, relatado por Rui

    Silva) cuja concluso foi a de que a) O exerccio da advocacia, em geral, no incompatvel

    com a actividade de perita averiguadora; b) Enquanto exercer a actividade de perita

    averiguadora, a consulente no deve assumir o patrocnio em processos de acidente de

    viao, por afectar o seu exerccio da defesa dos direitos e interesses que lhe foram confiados

    e os seus deveres para com a comunidade, consubstanciando uma situao de impedimento..

    semelhana das incompatibilidades, tambm os impedimentos podem vir a sofrer

    algumas alteraes fruto da Lei n. 2/2013, de 10 de Janeiro que tornou necessrio alterar o

    actual EOA. Salta vista, desde logo, a alterao do n. 3 do art. 78. do EOA que, caso venha

    36 Disponvel online na URL: http://www.oa.pt/upl/%7B6f9b70ff-bedb-4fcd-a3b3-4a2934e344f9%7D.pdf. 37 Disponvel online na URL: http://www.oa.pt/upl/%7B96d92300-7863-4cde-85ea-d5a7479fe74b%7D.pdf. 38 Disponvel online na URL: http://www.oa.pt/upl/%7Bbb6e304a-df0d-4eda-9211-ff72963429fc%7D.pdf. 39 Disponvel online na URL: https://www.oa.pt/upl/%7B62df1bdb-7f1e-4c5d-8f18-c98c809a16e1%7D.pdf.

  • 24

    a ser aprovada, passa a ter a seguinte redaco: 3. Os advogados que sejam membros das

    assembleias representativas das autarquias locais, bem como os respectivos adjuntos,

    assessores, secretrios, funcionrios, agentes ou outros contratados dos respectivos

    gabinetes ou servios, esto impedidos, em qualquer foro, de patrocinar, directamente ou por

    intermdio de sociedade de que sejam scios, aces em favor ou contra as respectivas

    autarquias locais, bem como de intervir em qualquer actividade da assembleia a que

    pertenam sobre assuntos em que tenham interesse profissional directamente ou por

    intermdio de sociedade de advogados a que pertenam.; tambm importa referir que foi

    aditado a este artigo um n. 5 que estabelece que 5. Constitui infraco disciplinar o

    incumprimento por parte dos advogados das obrigaes de declarao de interesses nos

    rgos polticos a que pertenam..

  • 25

    Concluso

    indiscutvel que a matria das incompatibilidades e impedimentos esteja ligada com

    os princpios deontolgicos da integridade, independncia e dignidade da profisso. Desta

    forma, todas as actividades, funes ou cargos que anulem (as incompatibilidades) ou

    diminuam a amplitude (os impedimentos) destes princpios, devero interditar aquele

    indivduo de exercer a advocacia.

    A nosso ver, a tcnica legislativa usada na norma que pauta as incompatibilidades (no

    art. 77. do EOA) que a da mera exemplificao, no ser a mais correcta. Deveria esta

    norma contemplar a tcnica da taxatividade (uma tarefa rdua, admitimos!), o que, desde

    logo, proporcionaria aos advogados e advogados estagirios uma maior segurana (aqui no

    sentido de previsibilidade) pois estes saberiam, logo partida, todos os cargos, actividades ou

    funes que so proibidos a nvel deontolgico. J relativamente tcnica legislativa do art.

    78. do EOA, no restam dvidas de que funciona bem, visto que os impedimentos devem ser

    aferidos casuisticamente e que, mesmo que num certo momento, o advogado esteja impedido

    de cumular uma qualquer funo com a advocacia, isso no quer dizer que, noutro caso, no

    possa j cumul-los.

    No percebemos bem a inteno do legislador em permitir que os deputados da

    Assembleia da Repblica possam exercer a advocacia, porque a nosso ver trata-se de um

    cargo pblico de enorme importncia e, como tal, deveria ser exercido com a mxima

    exclusividade. Esperemos que a proposta de alterao ao EOA, fruto da Lei n. 2/2013, de 10

    de Janeiro, venha a ser aprovada, o que incompatibilizar e impedir o cargo de deputado com

    o exerccio da advocacia.

    Tambm no se entende a incompatibilidade da funo de solicitador com o exerccio

    da advocacia (segundo o art. 80. n. 1 do EOA), se se permite ao advogado estagirio com

    cdula profissional que este pratique todos os actos da competncia dos solicitadores,

    conforme o art. 189. n. 1 alnea a) do EOA.

    Cremos que este trabalho foi bastante intuitivo pois permitiu-nos analisar mais

    pormenorizadamente (embora no de forma exaustiva) este tema e at depararmo-nos com

    casos na qual no tnhamos pensado que se subsumissem a uma incompatibilidade e

    impedimento, como o caso do advogado que partilha escritrio com agente de execuo ou

    com psiclogo e que, pela utilizao conjunta do aparelho de fax, poria em causa o dever

    deontolgico de segredo profissional.

  • 26

    Bibliografia

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    previdncia dos Advogados. Coimbra: Almedina Editora; 7 Edio, 2010;

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    Coimbra: Almedina Editora; 2013, 8 Edio;

    ORDEM DOS ADVOGADOS Jurisprudncia do Conselho Superior. Trinio 2005-2007;

  • 27

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    http://www.verbojuridico.com/doutrina/2011/carlosmateus_limitesexercicioprofissao

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    [Acedido a 24 de Julho de 2013, pelas 21h08m];

    https://www.oa.pt/upl/%7B62df1bdb-7f1e-4c5d-8f18-c98c809a16e1%7D.pdf

    [Acedido a 24 de Julho de 2013, pelas 21h22m];

  • 28

    Nota:

    - O presente trabalho foi redigido em lngua portuguesa anterior ao novo acordo

    ortogrfico