sebenta de teoria geral de direito civil

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INTRODUO 1. mbito da Teoria Geral do Direito Civil Vai-se estudar o Direito Civil. Este pertence ao Direito Privado e rege relaes estabelecidas fundamentalmente entre pessoas particulares e o Estado, quando este est destitudo do seu poder de mando (iuris imperi). Caracteriza-se como Direito Privado Comum, porque engloba todas as relaes privadas no sujeitas ao regime especfico de outros ramos de Direito Privado. O Direito Civil, para alm de regular o estabelecimento de relaes privadas, funciona tambm como subsidirio do regime estabelecido no Direito Comercial ou no Direito do Trabalho. Ou seja o sistema recorre s normas do Direito Civil para colmatar essas omisses. O Direito Civil constitui o ncleo fundamental de todo o Direito Privado. Em suma, o Direito Civil engloba todas as normas de Direito Privado, com excepo das do Direito do Trabalho e Comercial. Os princpios gerais do Direito Civil so aqueles que esto contidos na generalidade das normas do Ttulo I do Cdigo Civil portugus. Conclui-se que o Direito Civil um Direito Privado Comum e por sua vez subsidirio de outros ramos de Direitos jurdico-civis. 2. Fontes de Direito Civil Portugus So fontes clssicas de Direito: a) Lei, toda a disposio imperativa e geral de criao estadual que emanada do rgos estaduais competentes segundo a Constituio da Repblica Portuguesa art. 1 CC. b) Assentos, do Tribunal pleno, estes assentos so proferidos em recurso para o mesmo Tribunal, ou seja, quando h dois acrdos do Supremo Tribunal de Justia, que relativamente mesma questo de Direito tenham estabelecido relaes diametralmente opostas e se tais acrdos foram proferidos no domnio da mesma legislao, ento uma das partes que no se conforme pode recorrer para o Tribunal Pleno para que este emita um assento, art. 2 CC. (revogado pelo acrdo do Tribunal Constitucional 810/93 de 7 de Dezembro em que declarou inconstitucional a emisso de doutrina com fora obrigatria geral.). c) Usos, a ele refere o art. 3 CC., s valem quando a Lei o determinar. Por si s no so fonte de Direito Civil. d) Equidade, segundo o art. 4 CC., podem ainda os tribunais decidir os casos que lhe sejam presentes segundo o princpio da equidade (igualdade). A equidade s tambm admitida quando haja uma disposio legal que o permita e quando ainda as partes assim o convencionarem. A Lei fonte exclusiva do Direito Civil portugus.

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Tipos de formulaes legais. A adoptada pelo Cdigo Civil Um Cdigo Civil pode corresponder a modelos diversos, sob o ponto de vista do tipo de formulao legal adoptada. Um autor alemo distingue trs tipos de formulaes legais: o tipo casusta, o tipo dos conceitos gerais e abstractos e o tipo de simples directivas.

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O tipo de formulao casusta, traduz-se na emisso de normas jurdicas que prevem o maior nmero possvel de situaes da vida, descritas com todas as particularidades e tentando fazer corresponder a essa discrio uma regulamentao extremamente minuciosa. O tipo de formulaes, que recorre a conceitos gerais e abstractos, consiste na elaborao de tipos de situaes da vida mediante conceitos claramente definidos, (fixos e determinados) aos quais o juiz deve subsumir as situaes que lhe surgem e deve tambm encontrar neles as situaes respectivas. Este tipo assenta na conscincia da impossibilidade de prever todas as hipteses geradas na vida social e na necessidade ou, pelo menos, convenincia de reconhecer o carcter activo e valorativo no apenas passivo e mecnico de interveno do juiz ao aplicar a lei. As mesmas razes, mais acentuadas ainda, podem levar a optar pelo tipo de formulao que recorre s meras directivas, o legislador limita-se a indicar linhas de orientao, que fornece ao juiz, formulando conceitos extremamente maleveis nos quais no h sequer uma zona segura e portanto consideram-se conceitos indeterminados. O nosso Cdigo Civil, adopta a formulao de conceitos gerais e abstractos. No entanto o legislador introduziu clusulas gerais, ou seja, critrios valorativos de apreciao e por vezes recorreu tambm ele a conceitos indeterminados. 4. Fins do Direito Visa realizar determinados valores: A certeza do Direito; A segurana da vida dos Homens; A razoabilidade das solues. Pode-se dizer que as normas jurdicas civis so um conjunto desordenado ou avulso de preceitos desprovidos em si de uma certa conexo. E so princpios fundamentais do Direito Civil que formam a espinal-medula deste, ostentando todas as normas que vem depois desenvolver esses princpios gerais que tm o valor de fundamentos e sustentam as normas que posteriormente desenvolvem. OS PRINCPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO CIVIL 5. As Normas aplicveis s relaes de Direito Civil. Direito Civil e Direito Constitucional. Aplicao de normas constitucionais s relaes entre particulares As normas de Direito Civil esto fundamentalmente contidas no Cdigo Civil Portugus de 1966, revisto em 1977. Os problemas de Direito Civil podem encontrar a sua soluo numa norma que no de Direito Civil, mas de Direito Constitucional. A Constituio contm, na verdade, uma fora geradora de Direito Privado. As suas normas no so meras directivas programticas de carcter indicativo, mas normas vinculativas que devem ser acatadas pelo legislador, pelo juiz e demais rgos estaduais. O legislador deve emitir normas de Direito Civil no contrrias Constituio; o juiz e os rgos administrativos no devem aplicar normas inconstitucionais.

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As normas constitucionais, designadamente as que reconhecem Direitos Fundamentais, tm tambm, eficcia no domnio das relaes entre particulares, impondo-se, por exemplo, vontade dos sujeitos jurdico-privados nas suas convenes. O reconhecimento e tutela destes direitos fundamentais e princpios valorativos constitucionais no domnio das relaes de Direito Privado processa-se mediante os meios de produo prprios deste ramo de direito, nulidade, por ser contra a ordem pblica (art. 280 CC). A aplicao das normas constitucionais actividade privada faz-se: a) Atravs de normas de Direito Privado que reproduzem o seu contedo, por ex. o art. 72 CC e art. 26 CRP; b) Atravs de clusulas gerais e conceitos indeterminados, cujo o contedo preenchido com valores constitucionalmente consagrados; c) Em casos absolutamente excepcionais, por no existir clusula geral ou conceito indeterminado adequado a uma norma constitucional reconhecedora de um direito fundamental aplica-se independentemente da mediao de uma regra de Direito Privado. Sem esta atenuao a vida juridico-privada, para alm das incertezas derivadas do carcter muito genrico dos preceitos constitucionais, conheceria uma estrema rigidez, inautenticidade e irrealismo, de todo o ponto indesejveis. Os preceitos constitucionais na sua aplicao s relaes de Direito Privado no podem aspirar a uma considerao rgida, devendo, pelo contrrio, conciliar o seu alcance com o de certos princpios fundamentais do Direito Privado eles prprios conforme Constituio. O princpio da igualdade que caracteriza, em termos gerais, a posio dos particulares em face do Estado, no pode, no domnio das convenes entre particulares, sobrepor-se liberdade contratual, salvo se o tratamento desigual implica violao de um direito de personalidade de outrem, como acontece se assenta discriminaes raciais, religiosas, etc. 6. Os princpios fundamentais de Direito Existem nove princpios base para as normas do Direito Civil (sete no manual): 1. Personificao jurdica do Homem; 2. Reconhecimento do Direitos de personalidade; 3. Igualdade dos Homens perante a lei; 4. Reconhecimento da famlia como instrumento fundamental; 5. Personalidade colectiva; 6. Autonomia privada; 7. Responsabilidade civil; 8. Propriedade privada; 9. Reconhecimento do fenmeno sucessrio. 7. Princpio da personificao jurdica do homem O Homem a figura central de todo o direito. No Direito Civil h uma tendncia humanista e a o Homem e os seus direitos constituem o ponto mais importante do tratamento dos conflitos de interesse que so regidos pelo Direito Civil Portugus. Todos os Homens so iguais perante a lei. A Personalidade Jurdica do Homem imposta ao Direito como um conjunto de fundamentos de vria

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ordem, como sendo um valor irrecusvel. O art. 1 da CRP quem reconhece este princpio. No art. 12 CRP tambm frisado. Este princpio ganha mais importncia quando no art. 16/2 CRP diz que os preceitos constitucionais e legais relativos aos direitos fundamentais devem ser interpretados e integrados de harmonia com a Declarao Universal dos Direitos do Homem. O art. 66 CC diz que, a personalidade adquire-se no momento do nascimento completo e com vida. A prpria Personalidade Jurdica indispensvel. No art. 69, ningum pode renunciar, no todo ou em parte, sua Capacidade Jurdica. A Personalidade Jurdica uma qualidade imposta ao Direito e que encontra projeco na dignidade humana. 8. Princpio do reconhecimento dos direitos de personalidade Reconhecimento de um crculo fundamental de direitos de personalidade. Tm um contedo til e de total proteco para o Homem. Personificar o Homem envolve um conjunto mximo de direitos de contedo no patrimonial. 9. Princpio da igualdade dos homens perante a lei O Princpio da Igualdade dos Homens Perante a Lei encontra-se na Constituio no seu art. 13. No se deixa de referir na Constituio o princpio de tratar desigual aquilo que desigual. A Lei Constitucional probe todas as formas de discriminao. 10. Princpio do reconhecimento da famlia como instrumento fundamental A Constituio reconhece a famlia como elemento fundamental da sociedade. Esta qualidade pressuposto da proteco que a sociedade e o Estado devem famlia. O art. 67/1 CRP diz que a Famlia, como elemento fundamental da sociedade, tem direito proteco da sociedade e do Estado e efectivao de todas as condies que permitam a realizao pessoal dos seus membros. Esta tutela assegurada famlia pela Constituio, assente num conjunto de linhas fundamentais: 1. Reconhecimento da famlia como elemento fundamental da sociedade com a inerente consagrao do direito de todos os cidados a contrarem casamento e a constiturem famlia, conforme o art. 36/1 CRP; 2. Afirmao da liberdade de constituir famlia sem dependncia do casamento. Princpio da igualdade de tratamento da famlia constituda deste modo ou por via do casamento; 3. A afirmao do carcter essencialmente laico do casamento e a possibilidade de dissoluo do mesmo por divrcio, independentemente da forma de celebrao (art. 36/2 CRP); 4. A maternidade e paternidade constituem valores sociais imanentes, art. 68/2 CRP; 5. Reconhecimento do carcter insubstituvel dos progenitores em relao pessoa dos seus filhos no que toca sua integral realizao como homens, arts. 68/2, 36/5/6 CRP. 11. Princpio da personalidade colectiva

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As Pessoas Colectivas jurdicas criadas pelo efeito do Direito demarcam-se das pessoas jurdicas singulares, embora funcionem tambm com centros autnomos de imputao de direitos e deveres, art. 12/2 CRP, as Pessoas Colectivas gozam de direitos e esto sujeitas aos deveres compatveis com a sua natureza. Este artigo reconhece uma individualidade prpria s Pessoas Colectivas quando afirma que elas gozam de direitos que so compatveis sua natureza. 12. Princpio da autonomia privada Os efeitos s se produzem na medida em que o Direito os admite ou prev. Isto porque so fenmenos criados pelo Direito. Este princpio est directamente ligado ao princpio da liberdade contratual, segundo o qual, lcito tudo o que no proibido. A este princpio contrapese o princpio da competncia. Segundo este, s lcito aquilo que permitido. 13. Princpio da responsabilidade civil Encontra fundamento no princpio da liberdade do Homem. Esta ideia assentava na imputao psicolgica do acto do agente. Com a evoluo das relaes comerciais passou a surgir um conceito de responsabilidade objectiva. J no tem a ver com o dolo do agente mas sim com o risco que acompanha toda a actividade humana. 14. Princpio da propriedade privada A tutela constitucional da propriedade privada est expressamente consagrada no art. 62/1 CRP, segundo o qual a todos garantido o direito propriedade privada e sua transmisso em vida ou em morte, nos termos da constituio, bem como nos arts. 61 e 88 CRP, relativos tutela da iniciativa e da propriedade privadas. O Cdigo Civil, no define o direito de propriedade, mas o art. 1305 caracteriza-o, dizendo que o proprietrio goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso, fruio e disposio das coisas que lhe pertencem, dentro dos limites da lei e com observncia das restries por ela impostas. Sector Pblico: bens e unidades de produo pertencentes ao Estado ou a outras entidades pblicas, art. 82/2 CRP; Sector Privado: pertencem os meios de produo da propriedade e gesto privada que no se enquadre no sector pblico nem no cooperativo, art. 82/3 CRP; Sector Cooperativo: o sector cooperativo refere-se aos meios de produo possudos e geridos pelas cooperativas, em obedincia aos princpios cooperativos; aos meios de produo comunitrios, possudos e geridos por comunidades locais; aos meios de produo objecto de explorao colectiva por trabalhadores, art. 82/4 CRP. 15. O princpio sucessrio A ordem jurdica portuguesa reconhece o fenmeno da sucesso mortis causa. No nosso sistema jurdico, este princpio decorre do corolrio lgico do reconhecimento da propriedade privada, art. 62/1 CRP. Princpio da transmissibilidade da generalidade dos bens patrimoniais, ex. vi legis: arts. 2024, 2025, 2156 (quota indisponvel).

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Quota indisponvel, o titular dos bens tem uma ampla liberdade para testar. Por este efeito pode afastar da sucesso um conjunto de familiares que no estejam includos no conceito de pequena famlia. A sucesso legitimria, funciona sempre a favor dos herdeiros legitimrios: cnjuge, descendentes ascendentes. RELAO JURDICA 16. O sujeito de Direito. Personalidade e Capacidade Jurdica Os Sujeitos de Direito so os entes susceptveis de serem titulares de direito e obrigaes, de serem titulares de relaes jurdicas. So sujeitos de direito as pessoas, singulares e colectivas. A Personalidade Jurdica traduz-se precisamente na susceptibilidade de ser titular de direitos e se estar adstrito a vinculaes, art. 66/1 CC. Personalidade Jurdica inerente a Capacidade Jurdica ou a Capacidade de Gozo de direitos (art. 67 CC). Fala-se pois, de personalidade para exprimir a qualidade ou condio jurdica do ente em causa ente que pode ter ou no ter personalidade. Falase de Capacidade Jurdica para exprimir a aptido para ser titular de um crculo, com mais ou menos restries, de relaes jurdicas pode por isso ter-se uma medida maior ou menor de capacidade, segundo certas condies ou situaes, sendo-se sempre pessoa, seja qual for a medida da capacidade. 17. Capacidade jurdica a medida de direitos e vinculaes de que uma pessoa susceptvel, art. 67 CC, traduzindo esta inerncia, estabelece que as pessoas podem ser sujeitos de quaisquer relaes jurdicas, salvo disposio legal em contrrio: nisto consiste na sua Capacidade Jurdica. A Capacidade divide-se em Capacidade de Gozo, a medida de direitos e vinculaes de que uma pessoa pode ser titular e a que pode estar adstrita. Capacidade de Exerccio, consiste na medida de direitos e de vinculaes que uma pessoa pode exercer por si s pessoal e livremente. Enquanto na Capacidade de Gozo esta coloca-se no plano abstracto da titularidade de situaes jurdicas, na Capacidade de Exerccio estamos j no plano concreto de averiguar em que medida certa pessoa pode exercer os direitos ou cumprir as obrigaes que na verdade lhe podem caber enquanto sujeito. Pode haver Capacidade de Gozo e no haver Capacidade de Exerccio. A Capacidade Genrica quando a generalidade dos direitos e das vinculaes reconhecidas pela ordem jurdica. (art. 67 CC). A Capacidade Especfica, a capacidade das pessoas num mbito mais restrito de apenas abranger certas categorias e vinculaes de direito, ex. Pessoas Colectivas, art. 160/1 CC. Por oposto existe a Incapacidade Jurdica, que a medida de direitos e vinculaes de que uma pessoa no susceptvel. H pessoas que so titulares da Capacidade de Gozo, mas no de exerccio. Pode-se ter Capacidade de Gozo genrica e no ter uma Capacidade de Exerccio genrica, ex. menores. A Incapacidade de Gozo no admite suprimento, enquanto que a Capacidade de Exerccio suprvel.

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A Incapacidade de Gozo reporta-se titularidade de direitos e vinculaes de que uma pessoa pode gozar. Neste campo no vivel suprir uma incapacidade. Na Incapacidade de Exerccio est em causa a impossibilidade de certa pessoa que titular de um determinado direito, exerc-lo pessoalmente. No entanto, j vivel a outra pessoa que venha a exercer esse mesmo direito em conjunto com o incapaz, ou em substituio deste. A ideia de suprimento sempre inerente ideia de Capacidade de Exerccio.

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Formas de suprimento da incapacidade So os meios de actuao estabelecidos pelo Direito, tendo em vista o efectivo exerccio dos direitos e o cumprimento das obrigaes do incapaz. Implicam sempre a interveno de terceiros. Existem duas formas de suprimento: a representao e a assistncia. A representao, quando o incapaz no admitido a exercer os seus direitos pessoalmente. Para suprir a sua incapacidade tem de aparecer outra pessoa que actue em lugar do incapaz. (art. 258 CC, efeitos de representao). Os actos praticados por esta outra pessoa um acto juridicamente, tido pelo Direito como se fosse um acto praticado pelo incapaz. A assistncia, situaes em que certas pessoas so admitidas a exercer livremente os seus direitos. Nestes casos, o incapaz, pode exigir mas no sozinho. Ou seja, o suprimento da incapacidade impe nica e simplesmente que outra pessoa actue juntamente com o incapaz. Para que os actos sejam vlidos, necessrio que haja um concurso de vontade do incapaz e do assistente. H sempre um fenmeno de conjugao de vontades, isto porque o incapaz pode agir pessoalmente mas no livremente. 19. Modalidades da assistncia Podem revestir de trs modalidades: (1) a autorizao; (2) a comparticipao; (3) a ratificao. Estas modalidades verificam-se quanto ao modo pelo qual se opera essa conjugao de vontades do incapaz e do assistente. A conjugao destas modalidades baseia-se no momento logicamente anterior ao acto do incapaz. A autorizao, quando a vontade do assistente se manifesta no momento logicamente anterior ao acto do incapaz, art. 153/1, o curador actua como assistente e a prtica de actos jurdicos pelo inabilitado est dependente da autorizao deste. O curador, uma entidade a quem cabe apenas, em princpio, autorizar o inabilitado a alienar bens por actos entre vivos, a celebrar convenes antenupciais ou quaisquer outros negcios jurdicos que tenham sido especificados na sentena de inabilitao. A comparticipao, verifica-se se a vontade do assistente se manifesta no prprio acto, no qual o assistente deve tambm participar. A ratificao, diz-se que h ratificao ou aprovao quando a manifestao de vontade do assistente posterior manifestao de vontade do incapaz. O incapaz, a pessoa que sofre de incapacidade genrica ou de incapacidade especfica que abranja um nmero significativo de direitos e vinculaes no campo pessoal ou patrimonial. A legitimidade, a susceptibilidade de certa pessoa exercer um direito ou cumprir uma vinculao,

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resultante de uma relao existente entre essa pessoa e o direito ou vinculao. Para o prof. Castro Mendes, a susceptibilidade ou insusceptibilidade de uma certa pessoa exercer um direito ou cumprir uma vinculao, resultante no das qualidades ou situaes jurdicas da pessoa, mas das relaes entre ela e o direito ou obrigaes em causa. A esfera jurdica, o conjunto de direitos e vinculaes que certa pessoa est adstrita em determinado momento. Comporta dois hemisfrios distintos: o patrimonial e o no patrimonial ou pessoal. 20. Patrimnio tudo aquilo que se mostra susceptvel de ser avaliado em dinheiro. O hemisfrio patrimonial da esfera jurdica, o conjunto de direitos e vinculaes pertencentes a certa pessoa em determinado momento e que susceptvel de avaliao em dinheiro. O hemisfrio no patrimonial da esfera jurdica, constitudo pelos demais direitos e vinculaes do sujeito. 21. Sentidos do patrimnio Pode ser usado no seu sentido jurdico, identifica-se com o hemisfrio patrimonial. o conjunto de direito e obrigaes pertencentes a certa pessoa e que so susceptveis de avaliao em dinheiro. Ex., direito de propriedade sobre um prdio urbano. Em sentido material, entende-se por patrimnio o conjunto de bens pertencentes a certa pessoa em determinado momento avaliveis em dinheiro, ex., prdio urbano em si mesmo. 22. Funes do patrimnio O Patrimnio tem uma funo externa, em que o patrimnio do devedor a garantia comum dos credores do seu titular. Isto porque aparece a actuar em relao a pessoas diversas do seu titular. A garantia comum dos credores fazse pela via judicial e por efeito de uma aco executiva (penhora). O patrimnio a garantia comum dos credores, mas tem dois desvios: Alargamento da garantia, traduz-se numa quebra do princpio da igualdade dos credores, mediante a alguns deles de uma posio mais favorvel em relao ao patrimnio do devedor. Limitao da garantia, pode ser de ordem legal ou convencional. Limitao da garantia legal, os vrios casos de impenhorabilidade previstos na lei. Limitaes de garantia convencional, resultam da vontade dos prprios interessados. 23. Garantias previstas no Cdigo Civil para a conservao do patrimnio Existem quatro garantias e com elas visa-se a manuteno tanto quanto possvel do patrimnio do devedor, que em termos tais possa vir a recair uma aco do credor, sempre que este necessite de obter a satisfao do seu crdito, as quatro garantias so: 1. Declarao de nulidade: possibilita que o credor obtenha a declarao de nulidade de actos praticados pelo devedor quando eles se projectem desfavoravelmente sobre a garantia patrimonial, art. 605 CC; 2. Aco sub-rogatria: s possvel quando seja essencial para satisfao do credor ou para sua garantia, arts. 606 a 609 CC;

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Impugnao pauliana: respeita indistintamente a actos vlidos e invlidos praticados pelo devedor, desde que tenham contedo patrimonial e envolvem diminuio e garantia patrimonial, arts. 610 a 618; 4. Arresto: consiste numa apreenso judicial de bens do devedor para o efeito de conservao da garantia patrimonial, quando o credor tenha um justo receio de ver essa garantia ameaada por um acto do devedor. Trata-se de acautelar a conservao dos bens a que respeita o tal receio do credor, colocando esses bens guarda do Tribunal, para que eles existam e estejam em condies de poder ser penhorados quando o credor esteja em condies de exercer efectivamente o seu crdito, em execuo parcial, arts. 619 e seguintes do CC. 24. Patrimnio colectivo Massa patrimonial que pertena por mais de uma pessoa. Na titularidade de cada uma dessas pessoas, o que existe o direito a um conjunto patrimonial na globalidade. Os titulares do direito no caso do patrimnio colectivo, s tem o direito a uma quota de liquidao desse patrimnio quando ocorrer a diviso do patrimnio colectivo. Este caracteriza-se tambm por encontrar afecto a um determinado fim, que o fim que visa prosseguir. 25. Caractersticas do patrimnio colectivo Os credores deste tipo de patrimnio, s se podem fazer pagar pelo valor dessa massa patrimonial que est em conjunto e s posteriormente que podem chamar os bens pessoais das pessoas contitulares do patrimnio colectivo, caso aquele patrimnio no tivesse suficiente para a satisfao do crdito dos credores. Os credores pessoais dos membros do grupo que so contitulares do patrimnio, no se podem fazer pagar pelo bens deste patrimnio colectivo, e s aps a diviso deste patrimnio que lhes ser possvel incidir o seu direito no sobre o patrimnio colectivo, mas sobre bens desse patrimnio que lhe foram atribudos ao seu devedor na diviso 26. Estado pessoal e estado civil O Estado pessoal, a qualidade da pessoa, quando essa relevante na fixao da capacidade dessa pessoa e da qual decorre a investidura automtica de um conjunto de direitos e vinculaes. tambm uma qualidade fundamental na vida jurdica, relevante na determinao da sua capacidade e que depende de uma massa pr-determinada de direitos e vinculaes. O Estado Civil, so as posies fundamentais da pessoa na vida jurdica, posies essas que dada sua importncia devem ser de fcil conhecimento pela generalidade dos cidados. 27. Individualizao e identificao das pessoas So esquemas expeditos que promovem a identificao da pessoa, atravs do apuramento de um conjunto de caracteres, que so prprios das pessoas e que constituem a identidade. A pessoa aps o nascimento imediatamente inscrita no Registo Civil, este registo obrigatrio (art. 1-a CRC). A individualizao uma operao abstracta que conduz a um resultado concreto, ou seja, fixao da identidade jurdica da pessoa que se trata, o desenhar de um com que retracto jurdico privativo do individualizado, o que assegura a suas mesmncia jurdica.

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Elementos da individualizao Podem ser elementos naturais ou intrnseco, ou elementos circunstncias ou externos. Elementos naturais ou intrnsecos, existem pela natureza da pessoa (ex. sexo); Elementos circunstanciais ou exteriores, so o resultado da aco do homem, ou de circunstanciais relacionadas de modo estvel com a pessoa e a que a lei d relevncia jurdica. Nos elementos circunstanciais encontramos a, Naturalidade, que o vnculo que liga a pessoa ao seu local de nascimento; o Nome Civil, tem a ver com o nascimento da pessoa, o nome dado pela pessoa que faz o registo e a composio do nome : dois nomes prprios, e quatro apelidos. 29. Identificao Esta consiste em apurar qual o indivduo concreto que corresponde aos caracteres determinados pela individualizao. Temos como meio de identificao, o conhecimento da identidade da pessoa pelo seu interlocutor ou por um terceiro; o confronto da pessoa com meios que ele tem, nos quais se encontra descrita a sua identidade. PESSOAS SINGULARES 30. Pessoas singulares e comeo da personalidade A categoria da pessoa singular prpria do homem. No que toca personalidade, o Ordenamento Jurdico portugus, sobretudo a Constituio, no art. 13/2, no admite qualquer desigualdade ou privilgio em razo de nenhum dos aspectos l focados. A personalidade, nos termos do art. 66/1 CC, adquire-se no momento do nascimento completo e com vida. Para o Direito Portugus adquire-se Personalidade Jurdica quando h vida, independentemente do tempo que se est vivo. A durabilidade no tem importncia para a Personalidade Jurdica, geralmente, o ponto de referncia para o comeo da Personalidade Jurdica a constatao da existncia de respirao. Isto porque a respirao vem significar o comeo de vida. 31. Condio jurdica dos nascituros A lei portuguesa parece atribuir direitos a pessoas ainda no nascidas os nascituros. Isto quer para os nascituros j concebidos, como para os ainda no concebidos os concepturos. A lei permite que se faam doaes aos nascituros concebidos ou no concebidos (art. 952 CC) e se defiram sucesses sem qualquer restrio, quanto aos concebidos (art. 2033/1 CC) e apenas testamentria e contratualmente, quando aos no concebidos (art. 2033/2 CC). A lei admite ainda o reconhecimento dos filhos concebidos fora do matrimnio (arts. 1847, 1854, 1855 CC). No entanto, o art. 66/2, estabelece que os direitos reconhecidos por lei aos nascituros dependem do seu nascimento. 32. Termo da personalidade jurdica

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Morte: nos termos do art. 68/1 CC, a personalidade cessa com a morte. No momento da morte, a pessoa perde, assim, os direitos e deveres da sua esfera jurdica, extinguindo-se os de natureza pessoal e transmitindo-se para seus sucessores mortis causa os de natureza patrimonial. Mas, os direitos de personalidade gozam igualmente de proteco depois da morte do respectivo titular (art. 71/1 CC). b) Presuno de comorincia: nos termos do art. 68/2 CC, quando certo efeito jurdico depender da sobrevivncia de uma outra pessoa, presume-se em caso de dvida, que uma e outra falecem ao mesmo tempo. Consagra-se, neste nmero, uma presuno de comorincia (isto , mortes simultneas) susceptvel de prova em contrrio presuno iuris tantum. c) O desaparecimento da pessoa (art. 68/3): tem-se por falecida a pessoa cujo cadver no foi encontrado ou reconhecido, quando o desaparecimento se tiver dado em circunstncias que no permitam duvidar da morte dela. Parece dever-se aplicar as regras de morte presumida (arts. 114 seg. CC). 33. Direitos de personalidade Designa-se por esta frmula um certo nmero de poderes jurdicos pertencentes a todas as pessoas, por fora do seu nascimento. Toda a pessoa jurdica efectivamente, titular de alguns direitos e obrigaes. Mesmo que, no domnio patrimonial lhe no pertenam por hiptese quaisquer direitos o que praticamente inconcebvel sempre a pessoa titular de um certo nmero de direitos absolutos, que se impem ao respeito de todos os outros, incidindo sobre os vrios modos de ser fsicos ou morais da sua personalidade. So chamados direitos de personalidade (art. 70 seg. CC). So direitos gerais, extra patrimoniais e absolutos. So absolutos, porque gizam de proteco perante todos os outros cidados; so no patrimoniais, porque so direitos insusceptveis de avaliao em dinheiro; so indisponveis, porque no se pode renunciar ao direito de personalidade, se fizer essa vontade nula, nos termos do art. 81/1 CC; so intransmissveis, quer por vida, quer por morte, estes direitos constituem o mnimo necessrio e imprescindvel do contedo da personalidade. O prof. Castro Mendes faz uma diviso de direitos de personalidade: direitos referentes a elementos internos, que so inerentes ao prprio titular destes direitos, e so: (a) direitos do prprio corpo; (b) direitos da prpria vida; (c) direitos de liberdade; (d) direito sade; (e) direito educao. Faz tambm referencia a elementos externos do indivduo e que se prendem com a posio do homem em relao sociedade: (a) direito honra; (b) direito intimidade privada; (c) direito imagem; (d)direito ao ambiente; (e) direito ao trabalho. Depois faz referencia a elementos instrumentais, que se encontram conexos com bens de personalidade, o direito habitao. E direitos referentes a elementos perifricos, art. 75 a 78 CC. 34. Posio adoptada Existem trs componentes dos direitos relativos personalidade: 1. Direitos relativos a bens da personalidade fsica do homem, arts. 24, 25 CRP;

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Direitos relativos a bens da personalidade moral do homem, arts. 25, 26/1, 27/1, 34 CRP; arts. 76, 79, 80 CC; 3. Direitos relativos a bens da Personalidade Jurdica, arts 12/1, 26/1 CRP; e art. 72 CC. 35. Capacidade jurdica Personalidade Jurdica inerente a Capacidade Jurdica ou Capacidade de Gozo de direitos. O art. 67 CC, traduzindo esta inerncia, estabelece que as pessoas podem ser sujeitas de quaisquer relaes jurdicas, salvo disposio em contrrio: nisto consiste a sua Capacidade Jurdica. A Capacidade de Exerccio, a idoneidade para actuar juridicamente, exercendo direitos ou cumprindo deveres, adquirindo direitos ou assumindo obrigaes, por acto prprio e exclusivo ou mediante um representante voluntrio ou procurador, isto , um representante escolhido pelo prprio representado. A pessoa, dotada da Capacidade de Exerccio de direitos, age pessoalmente, isto , no carece de ser substituda, na prtica dos actos que movimentam a sua esfera jurdica, por um representante legal, e age autonomamente, isto , no carece de consentimento, anterior ou posterior ao acto, de outra. Quando esta capacidade de actuar pessoalmente e autonomamente falta, estamos perante a Incapacidade de Exerccio de direitos. Esta pode ser especfica ou genrica. A Incapacidade de Exerccio genrica, quando uma pessoa no pode praticar todos os actos. A Incapacidade de Exerccio especfica, quando uma pessoa no pode praticar alguns actos. 36. Capacidade negocial Esta noo reporta-se referncia das noes mais genricas, de Capacidade Jurdica e de capacidade para o exerccio dos direitos no domnio dos negcios jurdicos. no domnio dos negcios jurdicos que assumem particular importncia as noes de capacidade e incapacidade. A incapacidade negocial de gozo, provoca a nulidade dos negcios jurdicos respectivos e insuprvel, isto , os negcios a que se refere no podem ser concludos por outra pessoa em nome do incapaz, nem por este com autorizao de outra entidade. A incapacidade negocial de exerccio, provoca a anulabilidade dos negcios jurdicos respectivos e suprvel, no podendo os negcios a que se refere ser realizados pelo incapaz ou por seu procurador, mas podendo s-lo atravs dos meios destinados justamente ao suprimento da incapacidade. Estes meios destinados justamente ao suprimento da Incapacidade de Exerccio so: o instituto da representao legal (ex. art. 124, 125/2, 139 CC) e o instituto da assistncia (ex. art. 153 CC). 37. a) Determinao da capacidade negocial de exerccio Quanto a Pessoas Colectivas, tem plena capacidade negocial de exerccio. S sofrer restries quando excepcionalmente, estiverem privadas dos seus rgos, agindo outras entidades em seu nome e no

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seu interesse, ou quando, para dados efeitos, seja necessria a autorizao de certas entidades alheias Pessoa Colectiva (art. 160 CC). b) Quanto a pessoas singulares, em princpio todas as pessoas singulares tm Capacidade de Exerccio de direitos. Tal regra resulta, no do art. 67 CC, que se refere Capacidade de Gozo ou Capacidade Jurdica, mas dos arts. 130 (efeitos de menoridade), 133 (efeitos de emancipao) CC. 38. Menoridade A incapacidade dos menores comea com o seu nascimento e cessa aos dezoito anos (sistema genrico). O sistema genrico divide-se em: sistema genrico rgido, em que a idade funciona como uma fronteira inelutvel entre a capacidade e a incapacidade. E o sistema genrico gradativo, em que h uma ideia de evoluo progressiva. Diminuio da incapacidade com a progresso do tempo. A pessoa vai-se tornando mais capaz. O sistema que vigora em Portugal um sistema fixo ou rgido, no entanto o legislador portugus introduziu elementos de atenuao dessa rigidez. rgido porque se atribuiu uma idade (18 anos), no entanto h trs momentos fundamentais que envolvem uma grande modificao jurdica do menor. 1. Momento, aos sete anos: h a partir daqui um termo de presuno de imputabilidade do menor (art. 488/2 CC); 2. Momento, aos quatorze anos: a partir desta idade tende a se intender vontade do menor na resoluo dos assuntos do seu interesse (art. 1901/2 CC). 3. Momento, aos dezasseis anos: verifica-se o alargamento da Capacidade de Gozo e de exerccio do menor (arts. 1850. 1856, 127/1a CC). O alargamento da Capacidade de Exerccio verifica-se, pois a partir do momento em que o menor pode casar. O alargamento da Incapacidade de Exerccio verifica-se no art. 1878/2 CC, os pais tm de ter em considerao os interesses dos menores. Devem ainda ter em conta a maturidade do filho. A maioridade atinge-se aos dezoito anos (art. 122, 130 CC). A incapacidade do menor tambm pode cessar atravs da emancipao, esta faz cessar a incapacidade mas no a condio de menor (arts. 133, 1649 CC). Em Portugal a emancipao s feita atravs do casamento (arts. 132, 1601 CC). 39. Efeitos no plano da incapacidade de gozo e de exerccio O menor tem Capacidade de Gozo genrica (art. 67 CC), mas no entanto sofre algumas limitaes. Limitaes Capacidade de Gozo: (1) at aos 16 anos no lhe so reconhecidos os direitos de casar e de perfilhar; (2) vedado o direito de testar at emancipao; (3) afecta o poder paternal. Limites Incapacidade de Exerccio: (1) art. 123 CC, regime da incapacidade exerccio genrica, no absoluta porque nos termos do art. 127 CC, prev vrias excepes; (2) art. 268 CC, capacidade de entender e querer; (3) pode perfilhar aos 16 anos, pode exercer o poder paternal em tudo

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o que no envolva a representao dos filhos e Administrao de bens dos mesmos (arts. 1850 e 1913 CC - interpretao contrario - arts 1878, 1881 CC). 40. Valores dos actos praticados pelos menores Em conformidade com a ressalva feita no art. 123 CC, existem excepes incapacidade. Assim, os menores podem praticar actos de Administrao ou disposio dos bens que o menor haja adquirido por seu trabalho (art. 127-a CC); so vlidos os negcios jurdicos prprios da vida corrente do menor, que, estando ao alcance da sua capacidade natural, s impliquem despesas, ou disposies de bens, de pequena importncia (art. 127-b CC); so vlidos os negcios relativos profisso, arte ou ofcio que o menor tenha sido autorizado a exercer, ou praticados no exerccio dessa profisso, arte ou ofcio (art. 127-c CC); podem contrair validamente casamento, desde que tenham idade superior a dezasseis anos (art. 1601 CC). Os negcios jurdicos praticados pelo menor contrariamente proibio em que se cifra a incapacidade esto feridos de anulabilidade (art. 125 CC). As pessoas com legitimidade para arguir essa anulabilidade so o representante do menor dentro de um ano a contar do conhecimento do acto impugnado, o prprio menor dentro de um ano a contar da cessao da incapacidade ou qualquer herdeiro igualmente dentro de um ano a contar da morte, se o hereditando morreu antes de ter expirado a prazo em que podia ele prprio requerer a anulao (art. 125 CC). O direito a invocar a anulabilidade precludido pelo comportamento malicioso do menor, no caso de este ter usado de dolo ou m f a fim de se fazer passar por maior ou emancipado (art. 126 CC), entende-se assim que ficam inibidos de invocar a anulabilidade, no s o menor mas tambm os herdeiros ou representantes. 41. Meios de suprimento da incapacidade do menor suprida pelo instituto da representao. Os meios de suprimento so em primeira linha, o poder paternal, e subsidiariamente a tutela (art. 124 CC). claro que s suprvel a incapacidade dos menores, na media em que haja uma mera Incapacidade de Exerccio. Quando se trata de uma Incapacidade de Gozo esta insuprvel. Nos domnios em que reconhecida ao menor Capacidade de Exerccio, este admitido a agir por si mesmo. 42. O poder paternal O contedo est regulado no art. 1878/1 CC. Este direito respeita a diversos planos (pessoal e patrimonial). No plano pessoal (art. 1878 CC) deve zelar pela segurana dos filhos; dirigir a educao dos filhos (arts. 1875, 1876 CC), no plano patrimonial, abrange o poder geral de representao dos filhos (art. 1881 CC), o dever de Administrao geral dos bens dos filhos (arts. 1878/1, 1888 CC), o dever de sustentar os filhos (arts. 1879, 1880 CC). O poder paternal pertence, aos pais, no distinguindo a lei poderes especiais da me ou do pai, em virtude da igualdade (art. 1901 CC). 43. Extino da titularidade de exerccio do poder paternal

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Quando h morte de um dos progenitores, o poder paternal concentra-se no cnjuge sobrevivo. O poder paternal s se extingue com a morte dos dois progenitores (art. 1904 CC). Quando ocorre o divrcio, neste caso a titularidade do poder paternal no afectada, contnua a ser de ambos os cnjuges, o exerccio do poder paternal que regulado, tem de haver regulao do poder paternal. Para o poder paternal ser atribudo que seguir determinadas regras. O poder paternal pode ser regulado por mtuo acordo dos pais, homologado pelo Tribunal. Tem de ser feito tendo em conta os interesses do menor. O menor pode ficar guarda de um dos cnjuges, de uma terceira pessoa ou de uma entidade/instituio de educao ou assistncia. Quando o menor confiado a instituies ou terceiros limitaes no exerccio do poder paternal at ao limite que lhe consignado pelos deveres inerentes ao desempenho da sua funo (arts. 1904; 1908; 1913/1, inibio de pleno direito; 1913/2 inibio legal parcial do CC). O poder paternal cessa quando o menor morre; pela maioridade do filho, sem prejuzo do disposto no art. 131 CC; por morte de ambos os cnjuges. A cessao implica imediatamente a necessidade do Tribunal suprir a incapacidade do menor atravs do instituto da tutela. 44. Tutela o meio subsidirio ou sucedneo de suprir a incapacidade do menor nos casos em que o poder paternal no pode em absoluto ser exercido. Portanto, o meio normal de suprimento do poder paternal. Deve ser instaurado sempre que se verifique algumas das situaes previstas no art. 1921 CC. Esto nela integradas o tutor, protutor, o conselho de famlia e como rgo de controlo e vigilncia, o Tribunal de menores. 45. Quando que a tutela instituda? O art. 1921 regula a instituio da tutela. O menor est obrigatoriamente sujeito tutela nos seguintes casos: a) Se os pais houverem falecido; b) Se estiverem inibidos do poder paternal quanto regncia da pessoa do filho; c) Se estiverem mais de seis meses impedidos de facto de exercer o poder paternal; d) Se forem incgnitos. A instituio de uma tutela, depende sempre da deciso judicial e o Tribunal pode agir oficiosamente ou no, art. 1923/1 CC. Mas a lei estabelece restries aos poderes do tutor (este, o rgo executivo da tutela, tem poderes de representao abrangendo, em princpio, tal como os do pai, a generalidade da esfera jurdica do menor, mas o poder do tutor, todavia, mais reduzido que o poder paternal - arts. 1937 e 1938 CC -, e estabelece medidas destinadas a assegurar uma boa gesto dos interesses e proteco do menor). O mbito da tutela e dos seus rgos a do art. 1935/1 CC. 46. Os rgos da tutela Os rgos vm referidos no art. 1924/1 CC.

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Estes so o tutor e o conselho de famlia, este um rgo consultivo e fiscalizador da tutela, constitudo por dois vogais e presidido pelo Ministrio Pblico, art. 1951 CC; este rene esporadicamente, mas necessrio um rgo carcter permanente o protutor, art. 1955, 1956-a) b) CC. Por fim o rgo com competncia para a fixao do tutor o Tribunal de famlia. 47. A escolha do tutor Esta pode ser feita pelos pais ou pelo Tribunal. Quando o tutor indicado pelos pais, feito por testamento chamada escolha testamentria. Quando feita pelo Tribunal, chama-se escolha dativa. O Tribunal antes de designar o tutor tem de ouvir previamente o conselho de famlia e ouvir o menor caso este j tenha completado 14 anos, art. 1931/2 CC. O juiz tem amplos poderes e deve escolher o tutor de entre os parentes ou afins do menor, art. 1931/1 CC. Este cargo obrigatrio, no podendo ningum recusar-se ao cargo, exceptuando o previsto na lei (art. 1926 CC), o art. 1933 define quem no pode ser tutor, e o art. 1934 define as condies de escusa de tutela. O tutor tambm pode ser removido arts. 1948 e 1949 CC. O tutor tambm pode ser exonerado, por sua iniciativa, por fundamento em escusa. 48. Limitaes aos poderes do tutor A lei probe ao tutor a prtica dos actos que vm enumerados no art. 1937 CC. O tutor carece de autorizao do Tribunal para a prtica de o maior nmero de actos que os pais arts. 1938 e 1889 CC. O art. 1945 CC regula a responsabilidade do tutor pelos danos que da sua actuao, resultem para o menor. Os actos vedados ao tutor so nulos (art. 1939 CC), a nulidade no pode ser invocada pelo tutor, actos por este cometidos sem autorizao judicial, quando esta era necessria. Os actos invocados no art. 1938 e 1940 CC, so anulveis. 49. Administrao de bens A instituio da Administrao de bens, como meio de suprimento da incapacidade do menor ter lugar, coexistindo com a tutela ou com o poder paternal, nos termos do art. 1922 CC: (a) quando os pais, mantendo a regncia da pessoa do filho, foram excludos, inibidos ou suspensos da Administrao de todos os bens do menor ou de alguns deles; (b) quando a entidade competente para designar o tutor confie a outrem, no todo ou em parte, a Administrao dos bens do menor. 50. Interdio A incapacidade resultante de interdio aplicvel apenas a maiores, pois os menores, embora dementes, surdos-mudos ou cegos, esto protegidos pela incapacidade por menoridade. A lei permite, todavia, o requerimento e o decretamento da interdio dentro de um ano anterior maioridade. A interdio resulta sempre de uma deciso judicial, art. 138/2 CC.

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So fundamento da interdio as situaes de anomalia psquica, surdezmudez ou cegueira, quando pela sua gravidade tornem o interditando incapaz de reger a sua pessoa e bens (art. 138 CC). Quando a anomalia psquica no vai ao ponto de tornar o demente inapto para a prtica de todos os negcios jurdicos, ou quando os reflexos de surdez-mudez ou na cegueira sobre o discernimento do surdo-mudo ou do cego no excluem totalmente a sua aptido para gerir os seus interesses, o incapaz ser inabilitado. Para que o Tribunal decrete a interdio por via destas causas, so necessrios os seguintes requisitos: Devem ser incapacitantes; Actuais; Permanentes. necessrio que em cada uma das causas se verifiquem estes trs requisitos. O processo judicial de interdio que conduz a esta deciso, vem regulado do Cdigo de Processo Civil (CPC), art. 944 e seg. 1. Princpio: a aco de interdio s pode ser intentada a maiores, excepto, se uma aco de interdio for intentada contra menores no ano anterior maioridade, podendo a sentena ser proferida durante a menoridade, mas os seus efeitos s se produzem aps ele ter a maioridade. 2. Princpio: o art. 141 CC, enumera as pessoas que podem intentar a aco de interdio: (1) o cnjuge; (2) qualquer parente sucessvel; (3) ministrio pblico. 3. Princpio: a lei regula basicamente o processo de interdio para o caso de anomalia psquica e manda que as demais causas de interdio seja aplicado o mesmo regime, arts. 944 e 958 CPC. 4. Princpio: a interdio e a tutela do interdito ficam sujeitas a registo, fazse a inscrio desse registo no assento de nascimento por averbamento. O regime da incapacidade por interdio idntico ao da incapacidade por menoridade, quer quanto ao valor dos actos praticados em contraveno da proibio em que ela cifra, quer quanto aos meios de suprir a incapacidade, art. 139 CC. 51. Efeitos da interdio na capacidade de gozo As limitaes que decorrem desta interdio podem repartir-se em dois grupos, consoante as causas que esto na origem da interdio: 1. Caso Interdies que resultem de anomalias psquicas, aqui os interditos no podem: (1) casar, art. 1601-b CC; (2) perfilhar, art. 1850/1 CC; (3) testar, art. 2189-b CC; (4) exercer o pleno exerccio do poder paternal, art. 1913/1-b. 2. Caso Quando resultam de quaisquer outras causas: (1) no que toca ao poder paternal a interdio apenas parcial, art. 1913/2 CC; (2) no entanto nenhum interdito, qualquer que seja a causa da sua incapacidade, pode ser tutor, art. 1933/1-a CC; (3) no podem ser vogais do conselho de famlia, art. 1953 CC (1933, 1934 CC); (4) no podem ser administradores, art. 1970 CC. 52. Efeitos da interdio na capacidade de exerccio dos interditos aplicvel ao interdito as disposies que regulam a incapacidade do menor prevista no art. 123 (e art. 139). O regime dos interditos idntico ao

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dos menores, tendo no entanto algumas particularidades em relao a este, o interdito carece de capacidade genrica de exerccio. A causa incapacitante do interdito pode gerar alguns casos de inimputabilidade pelo facto no momento da prtica do acto danoso, o interdito se encontrar incapacitado de entender e querer, como melhor resulta o art. 488/1 CC. 53. Valor dos actos praticados pelo interdito O regime legal, aplicvel generalidade dos negcios jurdicos, obriga-nos a distinguir trs perodos, que vm consagrados nos arts. 148 a 150 CC. a) Valor dos actos praticados pelo interdito no perodo anterior preposio da aco de interdio. O valor destes actos decorre do art. 148 CC que diz que os actos so anulveis, e do art. 150 CC, que manda aplicar o regime da incapacidade acidental (art. 157 CC). b) Na dependncia do processo de interdio. Se o acto foi praticado depois de publicados os anncios da proposio da aco, exigidos no art. 945 CPC, e a interdio vem a ser decretada, haver lugar anulabilidade, desde que se mostre que o negcio jurdico causou prejuzo ao interdito, art. 149 CC. Os negcios jurdicos praticados pelo interdicendo, na dependncia do processo de interdio, s sero anulveis, se forem considerados prejudiciais numa apreciao reportada ao momento da pratica do acto, no se tomando em conta eventualidades ulteriores, que tornariam agora vantajoso no ser realizado. c) Actos praticados pelo interdito posteriormente ao registo da sentena, art. 148 CC, so anulveis. Cabe ao tutor invocar a anulabilidade do acto, quanto ao prazo resulta da remisso para o art. 287 CC, segundo este artigo, o prazo diferente consoante o acto esteja ou no cumprido. Se a anulao depende do prazo, esse prazo de um ano a partir do conhecimento do tutor e nunca comea a correr antes da data do registo da sentena, art. 149/2 CC. O tutor s comea a desempenhar as suas funes depois do registo da sentena. 54. Suprimento da incapacidade dos interditos A incapacidade suprida mediante o instituto da representao legal. Estabelece-se uma tutela regulada pelas mesmas normas que regulam a dos menores, no funcionamento da representao legal dos menores definida, no que se refere incapacidade dos interditos, ao Tribunal Comum, art. 140 CC. A sentena de interdio definitiva deve ser registada, sob pena de no poder ser invocada contra terceiros de boa f, art. 147 CC. 55. Cessao da interdio Quando decretada por durao indeterminada, mas no ilimitada, o interdito pode recuperar da deficincia que o afecta e seria injusto manter a incapacidade. A cessao da interdio pode ser requerida pelo interdito ou pelas pessoas referidas no art. 141 CC. Para lhe pr termo, exige-se uma deciso judicial mediante nova sentena, que substitua o regime da interdio pelo regime da inabilitao, que um regime de incapacidade menos grave.

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Inabilitao Resultam tal como as interdies de uma deciso judicial. Mas menos grave que a interdio. A inabilitao resulta de deficincias de ordem psquica ou fsica e de certos hbitos de vida (arts. 152 a 156 CC). O regime subsidirio tambm o regime da menoridade e isso resulta do combinado dos arts. 156 e 139 CC. As pessoas sujeitas a inabilitao esto indicadas no art. 152 CC, indivduos cuja anomalia psquica, surdez-mudez ou cegueira, embora de carcter permanente, no seja to grave que justifique a interdio; indivduos que se revelem incapazes de reger o seu patrimnio por habitual prodigalidade ou pelo abuso de bebidas alcolicas ou estupefacientes. A primeira categoria, anomalias psquicas, surdez-mudez ou cegueira que provoquem uma mera fraqueza de esprito e no uma total inaptido do incapaz. A segunda categoria habitual prodigalidade abrange os indivduos que praticam habitualmente actos de delapidao patrimonial (por ex. viciados no jogo). A terceira categoria abuso de bebidas alcolicas ou de estupefacientes representa uma inovao do Cdigo Civil, pois anteriormente tais pessoas no podiam ser declaradas incapazes, salvo quando as repercusses psquicas daqueles vcios atingissem os extremos fundamentais da interdio por demncia. Pode-se dizer que a fronteira entre a interdio e a inabilitao consiste na gravidade maior ou menor dessas condutas. O art. 954 CPC, permite ao juiz fixar a interdio ou a inabilitao. 57. Verificao e determinao judicial da inabilitao A incapacidade dos inabilitados no existe pelo simples facto da existncia das circunstncias referidas no art. 152. Torna-se necessria uma sentena de inabilitao, no termo de um processo judicial, tal como acontece com as interdies. A sentena pode determinar uma extenso maior ou menor da incapacidade. A inabilitao abranger os actos de disposio de bens entre vivos e os que forem especficos na sentena, dadas as circunstncias do caso (art. 153 CC). Pode todavia, a prpria Administrao do patrimnio do inabilitado ser-lhe retirada e entregue ao curador (art. 154 CC). 58. Efeitos da inabilitao na capacidade de gozo So muito limitados, mas no entanto: No podem ser nomeados tutores, art. 1933/1-a CC; No podem ser vogais do conselho de famlia, art. 1953/1 CC; No podem ser administradores de bens, art. 1973 CC. Os inabilitados que o sejam sem ser por anomalia psquica, alm das limitaes gerais, sofrem ainda de uma inibio legal parcial do exerccio do poder paternal, art. 1913 CC. Os inabilitados por anomalia psquica, alm das limitaes gerais, sofrem ainda da limitao decorrente do art. 1601-b CC, que os impedem de casar, e esto inibidos do exerccio do poder paternal.

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Os inabilitados por prodigalidade tm o regime mais atenuado da inabilitao. A lei diz que estes podem ser nomeados tutores, mas coloca algumas excepes: Esto impedidos de administrar os bens do pupilo, art. 1933/2 CC; No podem, como protutores, praticar actos abrangidos por esta matria, art. 1956-a), b) CC; No podem ser administradores de bens, art. 1970-a CC. 59. Efeitos da inabilitao da capacidade de exerccio Actos de disposio de bens entre vivos. Os inabilitados s os podem praticar com autorizao do curador, art. 153/1 CC. Pode-se subordinar ao curador todos os actos que em ateno s circunstncias de cada caso forem especificadas na sentena. Neste caso, os actos ficam subordinados ao regime da assistncia. O juiz, pode no entanto, subordinar a prtica dos actos pelo inabilitado no ao regime da assistncia mas da representao (art. 154 CC). 60. Suprimento da incapacidade no caso da inabilitao

A incapacidade dos inabilitados suprida, em princpio, pelo instituto da assistncia, pois esto sujeitos a autorizao do curador os actos de disposio entre vivos, bem como os especificados na sentena (art. 153 CC). Pode todavia, determinar-se que a Administrao do patrimnio do inabilitado seja entregue pelo Tribunal ao curador (art. 154/1 CC). Neste caso funciona, como forma de suprimento da incapacidade, o instituto da representao. A pessoa encarregada de suprir a incapacidade dos inabilitados designada pela lei por curador. Mas a lei no estabelece qual a forma de nomeao do curador, por efeito do art. 156 CC, temos que recorrer figura do regime subsidirio do tutor. Se o curador no der a autorizao para qualquer acto que o inabilitado entenda que deve praticar, o prprio inabilitado pode requerer ao juiz o suprimento judicial do curador nessa situao 61. Cessao da inabilitao A incapacidade s deixa de existir quando for levantada a inabilitao. O art. 153 CC, contm, acerca do levantamento da inabilitao, um regime particular. Estabelece-se que, quando a inabilitao tiver por causa a prodigalidade ou o abuso de bebidas alcolicas ou de estupefacientes, o seu levantamento exige as condies seguintes: a) Prova de cessao daquelas causas de inabilitao; b) Decurso de um prazo de cinco anos sobre o trnsito em julgado da sentena inabilitao ou da sentena que desatendeu um pedido anterior de levantamento. O Cdigo de Processo Civil, no seu art. 968, regula as causa inabilitao por inabilitao psquica, surdez-mudez, cegueira. O art. 963 CPC, regula o cerimonial das situaes no previstas acima. No entanto, se as causas de inabilitao se agravarem, transformam-se em interdio. Caso contrrio, se as causas de inabilitao forem cessando, passase do regime da inabilitao para o da assistncia.

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Incapacidades acidentais O actual cdigo no inclui regulamentao da incapacidade acidental (art. 257 CC) na seco relativa s incapacidades, regula-a conjuntamente com as vrias hipteses de falta ou vcios de vontade na declarao negocial. Qual a hiptese do art. 257 CC? Abrange todos os casos em que a declarao negocial feita por quem, devido a qualquer causa (embriaguez, estado hipntico, intoxicao, delrio, ira, etc.), estiver transitoriamente incapacitado de se representar o sentido dela ou no tenha livre exerccio de vontade. Os actos referidos so anulveis desde que o facto seja notrio ou conhecido do declaratrio. A anulao est sujeita ao regime geral das anulabilidades (arts 287 seg.), pois no se prescreve qualquer regime especial. 63. Valor dos negcios jurdicos indevidamente realizados pelos incapazes Tratando-se de uma Incapacidade Jurdica (ou de gozo de direitos), os negcios so nulos. A lei no diz de uma forma genrica, mas essa a soluo geralmente definida e a que se impe, dada a natureza dos interesses que determinaram as incapacidades de gozo. Poder encontrar-se-lhe fundamento legal no art. 294 CC, do qual resulta ser a anulabilidade uma forma de invalidade excepcional. Tratando-se de incapacidades de exerccio, tem lugar a anulabilidade dos actos praticados pelos incapazes. Na incapacidade dos menores, dos interditos ou dos inabilitados, a anulabilidade tem as caractersticas enumeradas no art. 125 CC, aplicvel por fora dos arts. 139 e 156 CC. 64. Insolvncia e falncia Causas que provocam a incapacidade dos autores de Direito. Estas limitaes, esto relacionadas com a sua situao patrimonial. Impossibilidade dessas pessoas cumprirem as suas obrigaes. Assenta numa certa inaptidade de gesto do patrimnio por parte de uma pessoa. 65. O domiclio das pessoas O conceito de Domiclio voluntrio geral, nos fornecido pelo art. 82 CC, e coincide com o lugar da residncia habitual. No se trata do local onde a pessoa se encontra em cada momento, isto , no coincide com o paradeiro, cuja noo se pode descortinar no art. 82/2 CC. Mas, uma pessoa pode ter mais que uma residncia habitual? O prof. Castro Mendes, discorda. Diz que se houver mais do que um domiclio habitual e voluntrio, ambos contam como um. No entanto, no art. 82/1 CC, diz que a pessoa que residir alternadamente em diversos lugares, tem-se por domiciliada em qualquer deles. Assim uma pessoa pode ter mais de um domiclio, se tem duas ou mais residncias habituais. A residncia pode ser ocasional se a pessoa vive com alguma permanncia, mas temporria, ou ocasionalmente, num certo local. A

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residncia ocasional, no faz surgir um domiclio, embora na falta de domiclio de uma pessoa, funcione como seu equivalente (art. 82/2 CC). Em regra, o estabelecimento do domiclio, bem como o seu termo, resultam de um acto voluntrio. Este acto voluntrio no , porm, um negcio jurdico, mas sim um simples acto jurdico, verificando-se a produo, por fora da lei, dos efeitos jurdicos respectivos, mesmo que a pessoa em causa no os tivesse em mente ou at os quisesse impedir. Ao lado do domiclio voluntrio geral, a lei reconhece um domiclio profissional e um domiclio electivo. 66. Domiclio profissional, domiclio electivo e domiclio legal O domiclio profissional (art. 83 CC), verifica-se para as pessoas que exercem uma profisso e relevante para as relaes que esta se referem, localizando-se no lugar onde a profisso exercida. O domiclio electivo (art. 84 CC), um domiclio particular, estipulado, por escrito, para determinados negcios jurdicos. As partes convencionam que, para todos os efeitos jurdicos, se tm por domiciliadas ou em certo local, diferente do seu domiclio geral ou profissional. O domiclio legal ou necessrio, um domiclio fixado por lei, portanto independentemente da vontade da pessoa. Os critrios de distino entre domiclio voluntrio e o legal ou necessrio, so: (1) a vontade do indivduo; (2) quando ele escolhe voluntrio, quando no escolhe legal ou necessrio.

67.

Domiclio legal dos menores e inabilitados regido pelo art. 85 CC.: Caso os pais sejam casados, o menor tem domiclio no lugar de residncia da famlia (art. 85/1 - art. 1673 CC, residncia de famlia); Caso os pais no sejam casados (juntos), o menor tem domiclio na residncia comum dos pais; Caso no exista residncia de famlia, o menor tem domiclio, o do progenitor a cuja a guarda estiver (art. 85/1 CC); Caso o menor esteja entregue a terceira pessoa ou a estabelecimento de educao ou assistncia, o menor tem como domiclio o do progenitor que exerce o poder paternal (art. 85/2 CC); Caso de tutela, o menor tem como domiclio o do tutor (art. 85/3 CC); No caso de interdito, o domiclio o do tutor (art. 85/3). No art. 85/5 CC, h uma lacuna, pois diz que estas disposies acima expostas s valem para o domiclio no territrio nacional. No entanto no se refere qual o regime para o domiclio no estrangeiro. Por analogia aplica-se o art. 82 CC, Domiclio Geral Voluntrio. 68. Importncia do domiclio Funciona como critrio geral de competncia para a prtica de actos jurdicos; Funciona como ponto legal de contacto no pessoal: Ex. conservatria competente para a prtica de certos actos jurdicos; Ex. cumprimento de obrigaes, arts 772 e 774 CC.

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Fixao do Tribunal competente para a propositura da aco local para a abertura da sucesso, art. 2031 CC.

69.

Instituto da ausncia Utiliza-se o termo ausncia para significar o facto de certa pessoa se no encontrar na sua residncia habitual. O sentido tcnico, rigoroso, de ausncia, traduzido num desaparecimento sem notcias, ou nos termos da lei, do desaparecimento de algum sem que dele de saiba parte (art. 89/1 CC), que o termo ausncia tomado, para o efeito de providenciar pelos bens da pessoa ausente, carecidos de Administrao, em virtude de no ter deixado representante legal ou voluntrio (procurador). Para o Direito este facto s preocupante quando ele determina a impossibilidade ou a dificuldade de actuao jurdica do ausente no seu relacionamento com matrias que exigem a interveno dessa pessoa. Nomeadamente quando essa ausncia determina a impossibilidade do ausente gerir o seu prprio patrimnio, fala-se em ausncia simples ou ausncia qualificada. 70. Consequncias da ausncia A ausncia de um cnjuge, por um perodo no inferior a trs anos, d direito ao outro cnjuge pedir o divrcio litigioso (art. 1781 CC, alterado pelo DL 47/98). A ausncia de um cnjuge, admite ao outro o poder administrar os bens prprios do ausente. A ausncia de um dos progenitores, causa de concentrao do exerccio paternal no outro cnjuge. A ausncia de ambos os cnjuges, pode determinar a aplicao do regime da tutela, se essa ausncia for superior a seis meses. A ausncia de uma pessoa, pode dar lugar a aplicao de medidas cautelares ou conservatoriais dos seus bens. A ausncia dos membros, do rgo de gesto de uma sociedade, pode constituir fundamento para ser requerida falncia de uma empresa. Para que se verifique a ausncia necessria uma deciso judicial.

71. 1. 2. 3.

Elementos que integram o conceito de ausncia qualificada No presena da pessoa; Em determinado lugar, lugar este de residncia habitual; Ignorncia geral do seu paradeiro por parte das pessoas com quem o ausente mantm contactos sociais mais prximos. Esta ignorncia tem como consequncia a impossibilidade de contactar essa pessoa, para obter certas providncias no sentido da gesto dos seus bens. A ideia chave do regime da ausncia, a de estabelecer meios destinados a assegurar a Administrao do ausente, dado que no possvel contactar com ele para providenciar tal respeito. 72. Ausncia presumida ou curadoria provisria Os pressupostos de que a lei faz depender a nomeao de um curador provisrio, so o desaparecimento de algum sem notcia, a necessidade de

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prover acerca da Administrao dos seus bens e a falta de representante legal ou de procurador (art. 89 CC). A presuno da lei, nesta fase, de um possvel regresso do ausente; tanto o Ministrio Pblico como qualquer interessado, tm legitimidade para requerer a curadoria provisria e as providncias cautelares indispensveis (art. 91 CC), a qual deve ser definida a uma das seguintes pessoas: (1) cnjuge; (2) algum ou alguns dos herdeiros presumidos; (3) ou alguns dos interessados na conservao dos bens (art. 92 CC). O curador funciona como um simples administrador (art. 94 CC), devendo prestar cauo (art. 93 CC) e apresentar anualmente ou quando o Tribunal o exigir (art. 95 CC). A curadoria provisria termina quando, nos termos da lei (art. 98 CC): a) Pelo regresso do ausente; b) Se o ausente providenciar acerca da Administrao dos bens; c) Pela comparncia da pessoa que legalmente represente o ausente ou de procurador bastante; d) Pela entrega dos bens aos curadores definitivos ou ao cabea-decasal, nos termos do art. 103 CC. e) Pela certeza do ausente. Para a ausncia presumida a lei prev como forma de suprimento a curadoria provisria. 73. Ausncia justificada ou declarada, ou curadoria definitiva A probabilidade de a pessoa ausente no regressar nessa fase maior, visto que a lei a possibilita o recurso justificao da ausncia no caso de ele ter deixado representante legal ou procurador bastante art. 99 CC). Como requisitos necessrio: a) Ausncia qualificada b) Existncia de bens carecidos de Administrao; c) Certo perodo da ausncia. A legitimidade para o pedido de instaurao da curadoria definitiva pertence tambm aqui ao Ministrio Pblico ou a algum dos interessados, sendo estes, contudo, alm do cnjuge, os herdeiros do ausente e todos os que tiverem sobre os seus bens qualquer direito dependente da sua morte. A curadoria definitiva termina (art. 112 CC). a) Pelo regresso do ausente; b) Pela notcia da sua existncia e do lugar onde reside; c) Pela certeza da sua morte; Para a ausncia justificada. A lei prev como forma de suprimento a curadoria definitiva. 74. Morte presumida Assenta no prolongamento anormal do regime da ausncia. H uma inverso da probabilidade de o ausente estar vivo. Decorridos dez anos sobre a data das ltimas notcias, ou passados cinco anos, se entretanto o ausente completar oitenta anos de idade, os interessados para o efeito do requerimento da curadoria definitiva, tm legitimidade para pedirem a declarao de morte presumida do ausente (art. 114/1 CC). Contudo, se a pessoa ausente for menor, necessrio que decorram cinco anos sobre a data declarada a morte presumida (art. 114/2 CC).

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Com fundamento numa alta probabilidade prtica da morte fsica do ausente, o art. 115 CC, prescreve que a declarao da morte presumida produz os mesmos efeitos que a morte. Mas, por exemplo o casamento no cessa ipso facto (art. 115 CC), embora o art. 116 CC d ao cnjuge do ausente a possibilidade de contrair novo casamento sem necessidade de recorrer ao divrcio. Na esfera patrimonial, em caso de regresso, verifica-se um fenmeno de sub-rogao geral, isto , tem o ausente direito: a) Aos bens directamente adquiridos por troca com os bens prprios do seu patrimnio (sub-rogao directa); b) Aos bens adquiridos com o preo dos alienados, se no documento de aquisio se fez meno da providncia do dinheiro (sub-rogao indirecta); c) Ao preo dos bens alienados (sub-rogao directas). E, obviamente, ser-lhe- devolvido o patrimnio que era seu, no estado em que se encontrar. Havendo, porm, m-f dos sucessores, o ausente tem direito tambm indemnizao do prejuzo sofrido (art. 119 CC).

PESSOAS COLECTIVAS 75. Pessoas colectivas So organizaes constitudas por uma colectividade de pessoas ou por uma massa de bens, dirigidos realizao de interesses comuns ou colectivos, s quais a ordem jurdica atribui a Personalidade Jurdica. um organismo social destinado a um fim lcito que o Direito atribui a susceptibilidade de direitos e vinculaes. Trata-se de organizaes integradas essencialmente por pessoas ou essencialmente por bens, que constituem centros autnomos de relaes jurdicas. H, duas espcies fundamentais de Pessoas Colectivas: as Corporaes e as Fundaes. As Corporaes, tm um substracto integrado por um agrupamento de pessoas singulares que visam um interesse comum, egostico ou altrustico. Essas pessoas ou associados organizam a corporao, do-lhe assistncia e cabe-lhe a sua vida e destino. As Fundaes, tm um substracto integrado por um conjunto de bens adstrito pelo fundador a um escopo ou interesse de natureza social. O fundador pode fixar, com a atribuio patrimonial a favor da nova Fundao, as directivas ou normas de regulamentao do ente fundacional da sua existncia, funcionamento e destino. A funo economico-social do instituto da personalidade colectiva liga-se realizao de interesses comuns ou colectivos, de carcter duradouro. Os interesses respeitantes a uma pluralidade de pessoas, eventualmente a uma comunidade regional, nacional ou a gnero humano, so uma realidade inegvel: so os referidos interesses colectivos ou comuns. Alguns desses interesses so duradouros, excedendo a vida dos homens ou, em todo o caso, justificando a criao de uma organizao estvel.

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Substracto da pessoa colectiva o conjunto de elementos da realidade extra-jurdica, elevado qualidade de sujeito jurdico pelo reconhecimento. O substracto imprescindvel para a existncia da Pessoa Colectiva. a) Elemento Pessoal, verifica-se nas Corporaes. a colectividade de indivduos que se agrupam para a realizao atravs de actividades pessoais e meios materiais de um escopo ou finalidade comum. o conjunto dos associados. O Elemento Patrimonial, intervm nas Fundaes. o complexo de bens que o fundador afectou consecuo do fim fundacional. Tal massa de bens designa-se habitualmente por dotao. Nas Corporaes s o Elemento Pessoal relevante, s ele sendo um componente necessrio do substracto da Pessoa Colectiva. Pode existir a corporao, sem que lhe pertena patrimnio. Por sua vez nas Fundaes s o Elemento Patrimonial assume relevo no interior da Pessoa Colectiva, estando a actividade pessoal necessria prossecuo do escopo fundacional ao servio da afectao patrimonial estando subordinada a esta, em segundo plano ou at, rigorosamente, fora do substracto da Fundao. Parece portanto, que: 1) Nas Corporaes, fundamental apenas o Elemento Pessoal, sendo possvel, embora seja uma hiptese rara, a inexistncia de um patrimnio; este, quando existe, est subordinado ao elemento pessoal. 2) Nas Fundaes, fundamental o Elemento Patrimonial, sendo a actividade pessoal dos administradores subordinada afectao patrimonial feita pelo fundador e estando ao servio dela; beneficirios e fundadores esto, respectivamente, alm e aqum da Fundao. b) Elemento Teleolgico: a Pessoa Colectiva deve prosseguir uma certa finalidade, justamente a fim ou causa determinante da formao da colectividade social ou da dotao fundacional. Torna-se necessrio que o escopo visado pela Pessoa Colectiva satisfaa a certos requisitos, assim: 1) Deve revestir os requisitos gerais do objectivo de qualquer negcio jurdico (art. 280 CC). Assim, deve o escopo da Pessoa Colectiva ser determinvel, fsica ou legalmente, no contrria lei ou ordem pblica, nem ofensivo aos bons costumes (art. 280 CC). 2) Deve se comum ou colectivo. Manifesta-se a sua exigncia quanto s sociedades. Quanto s Associaes que no tenham por fim o lucro econmico dos associados no h preceito expresso, formulando a sua exigncia, mas esta deriva da razo de ser do instituto da personalidade colectiva. Quanto s Fundaes a exigncia deste requisito no oferece dvidas estando excluda a admissibilidade duma Fundao dirigida a um fim privado do fundador ou da sua famlia; com efeito, dos arts. 157 e 188/1 CC, resulta a necessidade de o escopo fundacional de ser de interesse social. 3) Pe-se, por vezes, o problema de saber se o escopo das Pessoas Colectivas deve ser duradouro ou permanente. No legtima a exigncia deste requisito em termos da sua falta impedir forosamente a constituio de uma Pessoa Colectiva.

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c) Elemento Intencional: trata-se do intento de constituir uma nova pessoa jurdica, distinta dos associados, do fundador ou dos beneficirios. A existncia deste elemento radica na circunstncia de a constituio de uma Pessoa Colectiva ter na origem um negcio jurdico: o acto da constituio nas Associaes (art. 167 CC), o contracto de sociedade para as sociedades (art. 980 CC) e o acto de instituio nas Fundaes (art. 186 CC). Ora nos negcios jurdicos os efeitos determinados pela ordem jurdica dependem, em termos que posteriormente sero explicitados, da existncia e do contedo duma vontade correspondente. Falta tambm o elemento intencional nas Fundaes de facto e nas Fundaes fiducirias. Estamos perante a primeira figura (Fundao de facto) quando um indivduo pretende criar ou manter uma obra de utilidade pblica, financiando-a com uma certa parte do seu patrimnio, mas sem contrair um vnculo jurdico correspondente, podendo, em qualquer momento, pr termo afectao desses bens quele fim. Estamos perante a segunda figura (Fundao fiduciria) quando se dispe a favor de uma certa Pessoa Colectiva j existente, para que ela prossiga um certo fim de utilidade pblica, compatvel com o seu prprio escopo. So uma manifestao tpica de liberdades com clusula modal. d) Elemento organizatrio: a Pessoa Colectiva , igualmente, por uma organizao destinada a introduzir na pluralidade de pessoas e de bens existente uma ordenao unificadora. 77. rgos Conjunto de poderes organizados e ordenados com vista prossecuo de um certo fim que se procede formulao e manifestao da vontade da Pessoa Colectiva, sendo assim que a Pessoa Colectiva consegue exteriorizar a sua vontade (colectiva). o instrumento jurdico atravs do qual se organizam as vontades individuais que formam e manifestam a vontade colectiva e final da associao. So o elemento estrutural, no tendo realidade fsica. atravs dos rgos que a Pessoa Colectiva, conhece, pensa e quer (Marcello Caetano). Os actos dos rgos da Pessoa Colectiva tm efeito meramente internos para a satisfao dos fins dessa Pessoa Colectiva. o centro de imputao de poderes funcionais com vista formao e manifestao da vontade juridicamente imputvel Pessoa Colectiva, para o exerccio de direitos e para o cumprimento das obrigaes que lhe cabem. No tem todos os poderes e nem todos os direitos que cabem Pessoa Singular, s tem Capacidade de Exerccio para aquilo que lhe especificamente imposto. A cada rgo so atribudos poderes especficos segundo uma certa organizao interna, que envolve a determinao das pessoas que os vo exercer. Os titulares so os suportes funcionais atribudos a cada rgo, o qual denomina-se competncia do rgo. rgo individual decide; rgo deliberativo delibera.

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78.

Estrutura e competncia do rgo Os rgos podem ser singulares ou colegiais. Esta distino resulta do suporte do rgo ser constitudo por uma (singular) ou vrias (colegial) pessoas. H duas classificaes quanto competncia: 1) rgos Activos: atende-se ao facto de os rgos exprimirem uma vontade juridicamente imputvel Pessoa Colectiva. Que se subdivide em rgos internos e rgos externos. Cabe ao rgo formar a vontade da Pessoa Colectiva ou projectar para o exterior a vontade da Pessoa Colectiva. 2) rgos Consultivos: limita-se a preparar elementos informadores necessrios formao da deliberao ou deciso final. 79. Reconhecimento: modalidades A modalidade de atribuio da Personalidade Jurdica Pessoa Colectiva, varia consoante a categoria da mesma. O reconhecimento pode ser: a) Normativo: a Personalidade Jurdica da Pessoa Colectiva atribuda por uma norma jurdica a todas as entidades que preenchem certos requisitos inseridos nessa norma jurdica. Este pode ainda ser: Incondicionado: quando a atribuio da Personalidade Jurdica s depende da existncia de um substracto completo. No so necessrias mais exigncias. Condicionado: quando a ordem jurdica, j pressupe certos requisitos de personificao. b) Individual, por Concesso ou Especfico: verifica-se quando esse reconhecimento resulta de um certo acto de autoridade, acto esse que da Personalidade Jurdica uma entidade concreta. c) Explcito: quando a norma legal ou o acto de autoridade contm especfica ou directamente a atribuio da personalidade. Art. 158/1 CC, de acordo com este artigo relativamente s Associaes, o princpio do reconhecimento da Personalidade Jurdica por concesso. De acordo com este princpio, s o reconhecimento especial, concedido caso a caso, pelo Governo ou seus representantes, converte o conjunto de pessoas (associadas) ou a massas de bens, num centro autnomo de direitos e obrigaes, elevando-os juridicamente condio de Pessoas Colectivas. O reconhecimento das Fundaes da competncia da autoridade administrativa, sem indicar concretamente qual seja essa autoridade. Haver que recorrer, pois, para este efeito, s leis que delimitam a competncia dos rgos da Administrao estadual. 80. Fim da pessoa colectiva um elemento exterior estrutura desta. O fim, traduz-se na prossecuo dos interesses humanos que so definidos quando se decide da criao da Pessoa Colectiva. O fim tem de: a) Estar determinado: a exigncia desta caracterstica decorre da essncia da sua existncia;

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Ser comum ou colectivo: daqui resulta a possibilidade de se constituir uma Pessoa Colectiva com fins egosticos; c) Ser lcito: o fim da Pessoa Colectiva tem de satisfazer os requisitos legalmente definidos. As Pessoas Colectivas tm de ter uma certa permanncia e um caracter duradouro. possvel perante o sistema jurdico portugus constituir-se uma Pessoa Colectiva para um nico fim, no entanto, tem de ter uma determinada durabilidade. 81. Objecto da pessoa colectiva So os modos de aco atravs dos quais a Pessoa Colectiva prossegue o seu fim. O objecto identifica-se com a actividade dos rgos para que se atinja o escopo da Pessoa Colectiva Reveste algumas caractersticas: a) Actividade lcita; b) Actividade duradoura. 82. Classificao das pessoas colectivas quanto nacionalidade o vnculo pessoal a determinado Estado, tal como nas pessoas singulares. Impem-se restries a determinadas actividades de certas Pessoas Colectivas, por via da nacionalidade das mesmas. A distino da Pessoa Colectiva tem a ver com o modo de reconhecimento da Pessoa Colectiva. Se esta resulta da ordem jurdica interna de certo Estado, a Pessoa Colectiva diz-se interna ou de Direito interno. As Pessoas Colectivas podem ser nacionais e estrangeiras. No Cdigo Civil, no h nenhum preceito, que d resposta h questo, no entanto podemos deduzir atravs do art. 33 e 159 CC. Ser Pessoa Colectiva nacional para a lei portuguesa aquela que tenha em termos efectivos no territrio nacional a sua sede, sendo esta determinada pelo local onde funciona a sua Administrao principal e efectiva Basta mudar o local da sede ou Administrao principal para o estrangeiro, para luz da lei portuguesa deixar de ser portuguesa. 83. Classificaes doutrinais das pessoas colectivas: corporaes e fundaes Tem ela por critrio a composio do substracto quanto ao primeiro dos elementos integradores: as Corporaes so colectividades de pessoas, as Fundaes so massas de bens. As Corporaes so constitudas e governadas por um agrupamento de pessoas (os associados), que subscrevem originariamente os estatutos e outorgam no acto constitutivo ou aderem posteriormente organizao. Os associados dominam atravs dos rgos da corporao, podendo mesmo alterar os estatutos. As Fundaes so institudas por um acto unilateral do fundador de afectao de uma massa de bens a um dado escopo de interesse social. O fundador, alm de indicar no acto da instituio o fim da Fundao e de

b)

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especificar os bens que lhe so destinados, estabelecer de uma vez para sempre as normas disciplinadoras da sua vida e destino. As Corporaes visam um fim prprio dos associados, podendo ser altrustico, e so governadas pela vontade dos associados. So regidas por uma vontade imanente, por uma vontade prpria, que vem de dentro e, por isso, pode dizer-se que tm rgos dominantes. As Fundaes visam um interesse estranho s pessoas que entram na organizao fundacional; viam um interesse do fundador de natureza social e so governadas pela vontade inaltervel do fundador, que deu o impulso inicial Fundao e, desse modo, a animou com a vontade necessria sua vida. So reguladas, pois, por uma vontade transcendente, por uma vontade de outrem, que vem de fora e, por isso, pode dizer-se que tm organizao servientes. 84. Pessoas colectivas de direito pblico e pessoas colectivas de direito privado Para o Prof. Dias Marques, so pessoas de Direito Pblico, aquelas que se encontram vinculadas e cooperam com o Estado num conjunto de funes pblicas especficas. Critrio de integrao, as Pessoas Colectivas podem ser pblicas ou privadas. A integrao, atende-se ao tipo de tutela que est implicada em cada uma das Pessoas Colectivas. H quem defenda a tutela de mrito, a possibilidade de o Estado controlar a legalidade dos actos da Pessoa Colectiva de Direito Pblico, que seria a tutela formal. Mas para alm desta, tambm o Estado deveria controlar a convivncia e actuao da actividade dessa Pessoa Colectiva de Direito Pblico aos interesses da legalidade que o Estado prossegue. Segundo outros autores, bastaria que houvesse por parte do Estado uma mera fiscalizao dos actos dessas Pessoas Colectivas pblicas para se observar o critrio da integrao. So de Direito Pblico as Pessoas Colectivas que desfrutam, em maior ou menor extenso, o chamado ius imperi, correspondendo-lhe portanto quaisquer direitos de poder pblico, quaisquer funes prprias da autoridade estadual; so de Direito Privado todas as outras. Mas em que consiste o imperium, o poder pblico, a autoridade estadual? Grosso modo, na possibilidade de, por via normativa ou atravs de determinaes concretas, emitir comandos vinculativos, executveis pela fora, sendo caso disso, contra aqueles a quem so dirigidos. Pessoas Colectivas pblicas, so pois aquelas s quais couber, segundo o ordenamento jurdico e em maior ou menor grau, uma tal posio de supremacia, uma tal possibilidade de afirmar uma vontade imperante. 85. Aspectos fundamentais do regime da pessoa colectiva de direito pblico 1. Subordinao geral ao Direito Pblico; 2. Competncia dos tribunais, que podem apreciar da legalidade e actividade das Pessoas Colectivas; 3. Regime tributrio especfico das Pessoas Colectivas pblicas;

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Regime jurdico das relaes de trabalho entre trabalhadores e as Pessoas Colectivas de Direito Pblico. No que foca ao seu regime especfico h uma subordinao geral ao Direito Pblico. 86. Classificao das pessoas colectivas pblicas Podem-se distinguir trs categorias: a) Pessoas Colectivas de Populao e Territrio; b) Pessoas Colectivas de Tipo Institucional ou de Tipo Associativo; c) Pessoas Colectivas de Utilidade Pblica, so as que propem um escopo de interesse pblico, ainda que, concretamente, se dirijam satisfao dum interesse dos prprios associados ou do prprio fundador. Existem vrias subcategorias: 1. Pessoas Colectivas de utilidade pblica administrativa: so as Pessoas Colectivas criadas por particulares. No so administradas pelo Estado ou por corpos administrativos, no entanto prosseguem fins com relevncia especial para os habitantes de determinada circunscrio. 2. Pessoas Colectivas de mera utilizao pblica: so as Associaes ou Fundaes que prossigam fins de interesse geral quer a nvel nacional ou regional. Associaes ou Fundaes essas, que colaboram com a Administrao central ou local, para prosseguirem fins prprios nacionais ou locais. 3. Pessoas Colectivas de Direito Privado e utilidade pblica: so aquelas que propem um escopo de interesse pblico, ainda que concorrentemente acabem por satisfazer os interesses dos seus prprios associados. O Prof. Mota Pinto, distingue ainda: I. Pessoas Colectivas de Direito Privado e utilidade pblica, que se subdividem em: Pessoas Colectivas de utilidade pblica de fins altrusticos; Pessoas Colectivas de fins egosticos ou interessados: Pessoas colectiva de fim ideal; Pessoa Colectiva de fim econmico, no lucrativo II. Pessoas Colectivas de Direito Privado e utilidade pblica: Dirigem-se a um fim lucrativo ou especulativo. Pretendem o lucro que vir a ser distribudo entre os scios que as constituem. Tem por fim o lucro (ex. sociedades comerciais). O legislador designou as Pessoas Colectivas em trs modalidades: Associaes; Fundaes; Sociedades. 87. Classificaes legais das pessoas colectivas Esta classificao Associaes, Fundaes, Sociedades no tem um carcter unitrio, porque as Associaes e sociedades so Pessoas Colectivas de tipo corporativo e por isso impem-se as Fundaes. Por outro lado, as Associaes e Fundaes, integram uma mesma categoria oposta s sociedades, porque estas visam fins econmicos e aquelas no.

4.

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A tipificao legal das Associaes, Fundaes e sociedades notria no Cdigo Civil. Este regula a matria das Associaes e Fundaes no cap. II, dedicado s Pessoas Colectivas, arts. 167 seg. - Associaes; arts. 185 seg. - Fundaes. O art. 157 (as disposies do presente captulo so aplicveis s Associaes que no tenham por fim o lucro econmico dos associados, s Fundaes de interesse social, e ainda s sociedades, quando a analogia das situaes o justifique.), o primeiro artigo do Cdigo Civil onde se estabelece o regime das Pessoas Colectivas. Esclarece este artigo, que se aplica directamente s Fundaes sem fim lucrativo; s Fundaes de interesse social e tambm s sociedades sempre que a analogia das situaes o justifique. No art. 157 CC, o legislador entendeu que h trs tipos de Pessoas Colectivas. No ordenamento jurdico portugus, h em termos legais uma separao de Pessoas Colectivas de Direito Pblico em Associaes e Fundaes. Os arts. 167 a 184 CC, visam regular as Associaes em sentido restrito. O legislador faz distines entre Pessoas Colectivas e sociedades (art. 2033/2 CC. Na sucesso testamentria ou contratual tm ainda capacidade: b) As pessoas colectivas e as sociedades). No entanto, quando se fala de Pessoas Colectivas, no se quer excluir as sociedades. A Pessoa Colectiva abrange sempre as sociedades. Na ordem jurdica portuguesa h sociedades comerciais e as sociedades civis sob a forma comercial. O legislador usa palavra Pessoa Colectiva num sentido amplo (encontramse abrangidas as entidades susceptveis de personificao) e restrito (as sociedades). Sociedade, uma associao privada com fim econmico lucrativo. 88. Sociedades Comerciais Nos termos do art. 1/2 do Cdigo das Sociedades Comerciais, a sociedade comercial quando tenha por objecto a prtica de actos de comrcio e adopte um dos diversos tipos regulados nesse cdigo. A sua caracterizao faz-se em, funo do seu objecto e da sua organizao formal. Podem revestir quatro formas: 1. Sociedades em nome colectivo: nestas sociedades cada scio responde individualmente pela sua entrada e responde ainda solidariamente e subsidiariamente pelas organizaes sociais (art. 175/1 CSC). Neste caso, se um dos scios satisfizer do passivo social mais que aquilo que lhe competia, tem direito de regresso sobre os demais scios (art. 175/3 CSC). 2. Sociedade por quotas de responsabilidade limitada: cada scio responde apenas pela realizao da sua quota e solidariamente pela dos demais scios at completa realizao do capital social. No entanto no responde em geral pelas dvidas sociais (art. 197/1/3 CSC). 3. Sociedades annimas: cada scio responde apenas pela realizao das aces que subscreveu. Uma vez realizado o seu capital, o scio no responde nem pela realizao da quota dos demais scios, nem pelas dvidas sociais.

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4.

Sociedades em Comandita: nestas sociedades o regime de responsabilidade dos scios misto: h scios comanditados que so aqueles que respondem como scios das sociedades em nome colectivo e h os scios comanditrios, estes respondem apenas pela sua entrada na sociedade (art. 477 seg. CSC).

89.

Sociedades civis sob forma comercial Caracterizam-se pela circunstncia de no terem por objecto a prtica de actos de comrcio nem o exerccio de quaisquer actividades previstas no Cdigo Comercial. No entanto, a lei comercial portuguesa admite a possibilidade dessas sociedades civis adoptarem as formas comerciais para efeito de estruturao das quatro formas que pode revestir a sociedade comercial. Neste caso, passam a chamar-se sociedades civis sob forma comercial e ficam, sujeitas s disposies do Cdigo das Sociedades Comerciais. No entanto, no ficam sujeitas a um conjunto de obrigaes especficas das sociedades comerciais. So Pessoas Colectivas com Personalidade Jurdica. 90. Sociedades civis simples So aquelas que no tm por objecto a prtica de actos comerciais e esto sujeitas ao regime do Cdigo Civil. Aplicam-se-lhes as disposies do art. 980 seg. CC. Estas sociedades civis simples, distinguem-se das sociedades civis sob forma comercial, dada a forma que revestem, que est relacionada com a sua organizao formal. Tem ainda uma outra caracterstica que o facto de ficarem subordinadas ao regime da lei civil. No que toca responsabilidade dos scios destas sociedades, segue-se o modelo de responsabilidade dos scios das sociedades em nome colectivo. Para alm da responsabilidade dos bens de entrada, diz o art. 997 CC, que eles tambm tm ainda a responsabilidade pessoal e solidariamente pelas dvidas sociais. 91. Constituio das pessoas colectivas O incio da sua personalidade resulta de um acto que geralmente se analisa em, trs momentos distintos: 1. Organizao do substracto da Pessoa Colectiva; 2. Reconhecimento da Pessoa Colectiva; 3. Registo da Pessoa Colectiva. 92. Organizao do substracto da pessoa colectiva Tem de se ter em ateno os requisitos e formalidades comuns constituio da Pessoa Colectiva. A existncia de um conjunto de pessoas ou existncia de um conjunto de bens organizados, por forma a assegurarem a prossecuo de certos fins tutelados pelo Direito (substracto). A personalidade colectiva assenta numa realidade social que implica a reunio de pessoas determinadas, pessoas essas que prosseguem um certo fim que lhes comum e que tambm, criam um patrimnio que determinado realizao de certos objectivos colectivos, que essas pessoas entendem como socialmente relevantes.

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Depois, segue-se o negcio jurdico. Negcio esse que se manifesta numa vontade adequada realizao dos objectivos que nos propusermos e atravs deste regime jurdico do Cdigo das Sociedades Comerciais, adequamos o tal substracto realizao de um fim. formao do substracto das Associaes referem-se os arts. 167 e 168 CC. A primeira destas disposies, no seu n. 1, refere-se ao chamado acto de constituio da associao, enunciando as especificaes que o mesmo deve conter; o n. 2 refere-se aos chamados estatutos. O acto de constituio da associao, os estatutos e as suas alteraes esto sujeitos a exigncias de forma e publicidade. Devem constar de escritura pblica, verificando-se, em casos de inobservncia desta exigncia, a sano correspondente ao vcio de forma: nulidade. Deve-se, alm disso, o acto de constituio e os estatutos ser publicados no Dirio da Repblica, s pena de ineficcia em relao a terceiros, cabendo oficiosamente ao notrio remeter o respectivo extracto para a publicao, bem como autoridade administrativa e ao Ministrio Pblico a constituio e estatutos, bem como a alterao destes (art. 168/2 CC). Note-se que a falta de escritura pblica, p