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Regência: Paula Costa e Silva Sebenta Direito Processual Civil II – 2017/2018 DNB OBJETO DO PROCESSO ................................................................................................................... 3 Definição do Objeto Processual ................................................................................................. 4 CUMULAÇÃO ............................................................................................................................. 7 Cumulação Objetiva Inicial ........................................................................................................ 7 ART. 554º - PEDIDOS SUBSIDIÁRIOS ....................................................................................... 7 CUMULAÇÃO SUBSIDIÁRIA IMPRÓPRIA ................................................................................ 11 ART. 555º: CUMULAÇÃO OBJETIVA SIMPLES DE PEDIDOS .................................................... 13 ART. 556º: PEDIDOS GENÉRICOS .......................................................................................... 15 ART. 557º: PEDIDO DE PRESTAÇÕES VINCENDAS ................................................................. 15 ART. 553º: PEDIDOS ALTERNATIVOS..................................................................................... 16 Cumulação Objetiva Superveniente/Sucessiva ........................................................................ 17 RECONVENÇÃO .................................................................................................................... 17 Coligação ................................................................................................................................. 25 NEGÓCIOS PROCESSUAIS ........................................................................................................... 30 PROVA.......................................................................................................................................... 38 Direito à Prova ......................................................................................................................... 43 Ónus da Prova .......................................................................................................................... 44 Ónus da Prova Subjetivo ...................................................................................................... 45 Ónus da Prova Objetivo ....................................................................................................... 52 Matriz do Sistema Probatório Português e Natureza do Meio de Prova ............................. 54 Modalidades e Graus de Prova ................................................................................................. 55 Valor dos Meios de Prova ......................................................................................................... 57 Apreciação do Valor das Várias Provas ................................................................................ 59 Ligação entre graus de convicção e força probatória das provas apresentadas.................. 61 Meios de Prova .................................................................................................................... 61 Valor Extraprocessual da Prova ........................................................................................... 72 Provas Insuperáveis ............................................................................................................. 72 Tutela Cautelar ............................................................................................................................. 74 Instrumentalidade Funcional ................................................................................................... 76 Inversão do Contencioso ......................................................................................................... 79 SENTENÇA .................................................................................................................................... 84 Recursos – art. 627º e ss. CPC .................................................................................................. 91 Caso Julgado .......................................................................................................................... 101

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Page 1: Sebenta Direito Processual Civil II 2017/2018 DNB · Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB 6 Destinatário desta regra é o juiz, porque a lei elucida em que factos pode o juiz

Regência: Paula Costa e Silva

Sebenta Direito Processual Civil II – 2017/2018 DNB

OBJETO DO PROCESSO ................................................................................................................... 3

Definição do Objeto Processual ................................................................................................. 4

CUMULAÇÃO ............................................................................................................................. 7

Cumulação Objetiva Inicial ........................................................................................................ 7

ART. 554º - PEDIDOS SUBSIDIÁRIOS ....................................................................................... 7

CUMULAÇÃO SUBSIDIÁRIA IMPRÓPRIA ................................................................................ 11

ART. 555º: CUMULAÇÃO OBJETIVA SIMPLES DE PEDIDOS .................................................... 13

ART. 556º: PEDIDOS GENÉRICOS .......................................................................................... 15

ART. 557º: PEDIDO DE PRESTAÇÕES VINCENDAS ................................................................. 15

ART. 553º: PEDIDOS ALTERNATIVOS ..................................................................................... 16

Cumulação Objetiva Superveniente/Sucessiva ........................................................................ 17

RECONVENÇÃO .................................................................................................................... 17

Coligação ................................................................................................................................. 25

NEGÓCIOS PROCESSUAIS ........................................................................................................... 30

PROVA .......................................................................................................................................... 38

Direito à Prova ......................................................................................................................... 43

Ónus da Prova .......................................................................................................................... 44

Ónus da Prova Subjetivo ...................................................................................................... 45

Ónus da Prova Objetivo ....................................................................................................... 52

Matriz do Sistema Probatório Português e Natureza do Meio de Prova ............................. 54

Modalidades e Graus de Prova ................................................................................................. 55

Valor dos Meios de Prova ......................................................................................................... 57

Apreciação do Valor das Várias Provas ................................................................................ 59

Ligação entre graus de convicção e força probatória das provas apresentadas .................. 61

Meios de Prova .................................................................................................................... 61

Valor Extraprocessual da Prova ........................................................................................... 72

Provas Insuperáveis ............................................................................................................. 72

Tutela Cautelar ............................................................................................................................. 74

Instrumentalidade Funcional ................................................................................................... 76

Inversão do Contencioso ......................................................................................................... 79

SENTENÇA .................................................................................................................................... 84

Recursos – art. 627º e ss. CPC .................................................................................................. 91

Caso Julgado .......................................................................................................................... 101

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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OBJETO DO PROCESSO

Vamos estudar se o modo como o autor configura o Objeto da Ação está de acordo com o Direito.

Art. 20º/4 CRP impõe um processo equitativo e em prazo razoável

• Têm de ser criadas estruturas humanas e procedimentais que produzam uma decisão

em prazo razoável1

o Apenas se pode apreciar a duração de um processo em concreto atendendo a

vários fatores do caso: Complexidade da Causa; Interesses em Jogo;

Contribuição das partes para a demora do processo.

▪ PCS: Há maior dilação temporal entre o que se pede e o Direito dado

quando o objeto é mais complexo.

➢ Essa complexidade depende de vários fatores, nomeadamente

os factos e o direito

Devido a existir este comando do prazo razoável, a nossa ordem jurídica não permite toda e

qualquer configuração do objeto processual,

➢ Parte-se de que o Objeto Processual, em regra, deve ter as seguintes características:

SIMPLICIDADE, UNIDADE, DETERMINAÇÃO2 E LIQUIDEZ

o Um objeto sem estas características é muito mais difícil de apreciar.

É fundamental ter-se em vista o art. 20º/4 pois nem todos os casos que escapam a um objeto

com estas características têm expresso regime legal.

• Nesses casos, para se dizer que o objeto não pode ser configurado dessa forma, tem de

ser passado pelo crivo do art. 20º/4 e se cumpre o “processo justo e equitativo em prazo

razoável”.

O ponto de apoio dos requisitos de admissibilidade do objeto processual é o “processo justo

e equitativo com decisão em prazo razoável” do art. 20º/4 CRP3 – isto abrange a instrução e o

julgamento da causa

Até onde é que a lei permite que o objeto do processo se desvie do padrão de simplicidade,

unidade, determinação e liquidez?

➢ Pois este padrão é o mínimo, assegurando os direitos consagrados no art. 20º/4

A lei vai admitir desvios, mas, admitindo os desvios, ainda que uma situação concreta preencha

todos os requisitos de admissibilidade, se estiver em causa a violação do art. 20º/4, o juiz pode

desmanchar/desfazer a complexidade processual.

1 Se uma decisão não tiver lugar em tempo útil, isso pode equivaler a uma denegação da justiça, pois há uma falta de resposta à pretensão quando ela era necessária.

Conta-se desde a data da propositura da ação até ao termo do processo.

• Desde que se instaura o processo até ao trânsito em julgado

• Não abrange a execução da decisão, mas desde 1997 que se passou a considerar (Hornsby c. Grécia, TEDH)

2 Porque é que a falta de determinação é um problema?

• Para defesa do réu através do contraditório – devido à necessidade de tutela da posição do réu. 3 PCS: Este artigo é a chave da configuração do objeto processual.

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Definição do Objeto Processual O Objeto do Processo é definido de forma Dual4:

• PEDIDO – efeito que se quer obter/provocar com a decisão

o MTS: forma de tutela jurisdicional que é requerida para uma situação jurídica.

▪ Deve referir-se a um efeito jurídico, i.e., uma consequência extraída de

uma norma jurídica.

▪ Deve dizer respeito a um objeto individualizado e determinado.

• CAUSA DE PEDIR – fundamentos de facto e de direito que sustentam a pretensão

o MTS: constituída pelos factos necessários para individualizar a situação jurídica

alegada pelo autor, ou seja, é composta pelos factos constitutivos da situação

jurídica invocada por aquela parte. ▪ Realiza uma função individualizadora.

▪ Coincide necessariamente com um facto juridicamente qualificado (construído

a partir da realidade através do critério de ser elemento de previsão das

normas jurídicas – leva a que factos naturais possam constituir factos jurídicos,

ex: morte de uma pessoa).

▪ Referem-se a determinado momento.

Lebre Freitas: O pedido do autor, conformando o objeto do processo, condiciona o

conteúdo da decisão de mérito com que o tribunal lhe responderá.

O próprio Objeto do Processo é um dos limites do caso julgado – o que estiver abrangido pelo

processo e considerado relevante não pode mais voltar a ser colocado em discussão. ➢ PCS: Matéria importante que define a charneira entre o que já foi e aquilo que ainda pode vir a ser.

Distinção entre Factos Essenciais e Instrumentais – art. 5º CPC

Quanto à formação da matéria de facto

Autor tem de indicar os factos constitutivos da situação jurídica que quer fazer valer ou

negar, ou integrantes do facto cuja existência ou inexistência afirma, os quais constituem

a causa de pedir (art. 581º/4) – corresponde ao núcleo fáctico essencial tipicamente

previsto por uma ou mais normas como causa do efeito de direito material pretendido.

➢ Exerce uma função individualizadora do pedido para o efeito da conformação

do objeto do processo.

ESSENCIAIS

Art. 5º/1 – cabe às partes, e só a elas, alegar os factos essenciais da causa, i.e., aqueles que

integram a causa de pedir e os que fundam as exceções5.

➢ são essenciais porque a causa de pedir é consubstanciada por esses – sem um facto

essencial o efeito produzido pelo tipo não se verifica (ex: art. 483º CC)

o Essa alegação é feita nos articulados6

4 Lebre Freitas: pedido do autor é duplamente determinado

• Autor afirma ou nega uma situação jurídica subjetiva ou um facto jurídico de direito material

• Autor requer ao tribunal a providência processual adequada à tutela do seu interesse 5 MTS: Os factos essenciais realizam uma função constitutiva do direito invocado pelo autor ou da exceção deduzida pelo réu. A falta de alegação determina a ineptidão da petição inicial por inexistência de causa de pedir – Artigo 193º, nº2, alínea a), CPC.

• Permitem individualizar a situação jurídica alegada na ação ou exceção. 6 PCS: Os factos essenciais são essenciais por referência ao tipo legal em que a parte se fundamenta. É sempre por referência à regra em que a parte se fundamenta para retirar a consequência jurídica que eu sei ou não se um facto é essencial. Se o facto puder ser retirado e a ação, mesmo assim, puder ser julgada

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INSTRUMENTAIS

Art. 5º/2/a – factos instrumentais que, por natureza, não carecem de alegação e são

oficiosamente considerados na decisão de facto, como resultantes da instrução da causa –

indiciam os factos essenciais e podem ser utilizados para a prova indiciária destes7.

É um facto que não foi articulado nos articulados.

• Estes factos instrumentais só poderão ser considerados se tiverem sido articulados os

essenciais aos quais esses são instrumentais.

o Só pode haver instrumentais dos essenciais que já tenham sido discutidos pelas

partes.

Não são condicionantes diretas da decisão e a sua função é a de permitir atingir a prova dos

factos principais

Art. 5º/2/b – factos complementares são essenciais ou instrumentais?8

• (Lebre Freitas) São complementares pois: Consideração de factos principais que

complementam ou concretizam os alegados nos articulados. o Tem de ser a parte que beneficia do efeito constitutivo, impeditivo, modificativo ou

extintivo que os tem de invocar e manifestar vontade de deles se aproveitar.

✓ Se complementarem factos essenciais são factos essenciais também;

✓ Se complementarem factos instrumentais, eles terão que estar presentes para

que a ação seja julgada procedente? Não, porque eles serão igualmente

instrumentais.

O juiz não pode considerar um facto, ainda que instrumental, se não tiver respeitado o princípio

do contraditório.

➢ O que eles são dependem do facto que as provas concretizem

➢ PCS: não há 3º categoria como diz MTS

MTS: se os complementares forem essenciais a causa de pedir não existia porque estava

incompleta, faltando um dos factos essenciais.

PCS: mas a causa de pedir tem 2 finalidades

1. Permite ao réu saber do que se está a defender (conjunto de factos de inteligibilidade)

2. Procedibilidade

Porque apareceu este regime para estes factos? Porque não é fácil reduzir a complexidade dos

factos e saber com certeza o que é essência ou não – tempo de julgamento seria mais longo.

➢ Lei não permitia ir buscar factos complementares e teria que se repetir o processo.

➢ Objetivo de evitar a improcedência – regra vem de um princípio de prevalência de

substância sobre a forma.

procedente ou não, o facto não é essencial. Eu terei de perguntar à regra quais os factos que se têm de verificar. 7 MTS: Os factos instrumentais destinam-se a ser utilizados numa função probatória dos factos essenciais ou complementares.

• Aqueles de cuja prova se pode inferir a demonstração dos correspondentes factos principais. 8 PCS: Esta alínea surge pois fala de factos que não são da mesma ordem do que os essenciais ou instrumentais.

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Destinatário desta regra é o juiz, porque a lei elucida em que factos pode o juiz basear a sua

decisão.

➢ Primeira coisa a ter-se em conta no Objeto Processual, pois a essencialidade ou

instrumentalidade dos factos vai condicionar o Princípio do Inquisitório – art. 411º

Comando para o juiz no quadro de instrução – o juiz pode ser um “meio de prova” (Ex: partes

não se entendem sobre o desvio da ponte; o juiz vai lá ver fazendo uma inspeção judicial) e

requerer todas as provas sobre todos os factos que é lícito o juiz conhecer.

→ Esses factos, que juiz pode licitamente conhecer, são aqueles que o art. 5º permite que

o juiz conheça: quanto aos Essenciais os alegados, quanto aos Instrumentais todos9.

o PCS: Dispositivo comprime o instrutório. Ex: partes alegam violação do dever

conjugal de fidelidade, mas testemunha vem dizer que além disso havia

pancadaria – juiz não pode ir verificar essa pancadaria, pois está limitado pelos

factos essenciais que as partes alegaram e como configuraram o processo e as

partes não alegaram a violação desse dever conjugal.

Art. 5º interessa-nos permite perceber os factos que podem ser: Objeto da Instrução; Objeto da

Decisão e Objeto do Caso Julgado

Os factos assumem importância nessas três vertentes/perspetivas devido à definição Dual do

Objeto Processual no Direito Português.

• PCS: Solução Dual é característica do Direito Português que é mais racional face ao

Alemão, em que a causa de pedir apenas interessa para a interpretação do pedido e

estabelecimento de nexos de sentido entre objetos processuais configurados em

processos distintos.

o Direito Alemão dá abriga à Teoria da Individualização – basta ao autor

indicar o pedido, com o que todas as possíveis causas de pedir podiam ser

consideradas no processo.

o Entre nós consagrou-se a Teoria da Substanciação, que vem exigir que a

afirmação jurídica seja fundada em factos alegados pelas partes, pelo que

a matéria fáctica da causa exerce a função de individualizar a pretensão

para o efeito da conformação do objeto do processo.

Relação entre Objetos Processuais A identidade total entre dois ou mais objetos processuais verifica-se quando eles coincidem

completamente na causa de pedir alegada e no pedido formulado.

➢ Acrescida da identidade de partes, essa identidade conforma a exceção de

litispendência (se as ações estiverem pendentes simultaneamente – art. 580º e 581º)

ou de caso julgado (se essa pendência se verificar em momentos distintos – art. 580º e

581º).

Existe uma relação de consumpção quando o objeto de uma ação posterior se inclui no objeto

de uma ação anterior – justifica a arguição das exceções.

9 PCS: e outras situações marginais, como os Factos de Conhecimento Oficioso e outros No Exercício da Função

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Existe uma relação de prejudicialidade quando o julgamento de um objeto processual depende

da apreciação de um outro objeto.

• Homogénea – entre objetos no âmbito do processo civil

• Heterogénea – entre um objeto do domínio do processo civil e um outro de âmbito

diverso

CUMULAÇÃO MTS: Cumulação de Objetos verifica-se, quando, num mesmo processo, são apresentados

vários objetos processuais referidos a distintos efeitos jurídicos.

➢ Diferente do concurso de objetos processuais em que são apresentados vários objetos

num único processo, mas todos eles respeitam a um mesmo efeito jurídico.

Pressupostos processuais devem ser aferidos separadamente em relação a cada um dos objetos

cumulados.

➢ À apreciação autónoma dos pressupostos processuais em relação a cada um dos objetos

constituem exceção aqueles pressupostos que são indexados ao valor da causa.

Cumulação Objetiva Inicial MTS: Desde o começo da instância -> apresentada pelo autor na petição inicial da ação

O art. 552º/e estabelece que na Petição Inicial o Autor deve formular o pedido.

Lebre Freitas: Autor pode deduzir mais de um pedido contra o mesmo réu

• Em subsidiariedade (art. 554º);

• Em cumulação (art. 555º);

• Em pedidos alternativos (art. 553º);

• Em pedido genérico (art. 556º).

ART. 554º - PEDIDOS SUBSIDIÁRIOS A cumulação subsidiária é aquela em que o autor requer a procedência de um objeto (que é o

objeto principal) e subsidariamente, a de um outro (objeto subsidiário). Nesta cumulação, são

apresentados vários objetos (um objeto principal, e pelo menos, um objeto subsidiário), mas o

objeto que é formulado subsidariamente só produz efeitos se o objeto principal for julgado

improcedente10. O valor da causa em que é apresentada uma cumulação subsidiária é apenas por isso,

o correspondente ao objeto principal.

É facultativo – o autor “pode” fazer o que a regra dispõe, há essa facultatividade.

A referência a “pedidos” significa que vamos lidar com cumulações objetivas11

➢ Esta regra só se aplica à pluralidade de pedidos deduzida em regime de

subsidiariedade.

10 MTS: Não é condicional e todos os pedidos estão pendentes desde o começo da instância, pelo que aquela cumulação se verifica igualmente desde este momento – isto mesmo que o objeto subsidiário nunca venha a ser apreciado. 11 PCS: sendo que não passam por esta regra casos em que está em causa mais do que uma causa de pedir, várias defesas do réu e etc. (quando não estão em causa vários pedidos).

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Pedidos feitos pelo Autor

➢ Esta matéria é regulada a propósito da cumulação objetiva subsidiária e

inicial/originária, estando sistematicamente na parte que regula a Petição Inicial.

o Esta matéria precede o entendimento da configuração dos pressupostos de

admissibilidade da cumulação subsidiária superveniente – aquela que o réu

deduz contra o autor, numa mesma ação – cujo problema é sempre a

complexidade do Objeto processual, devido ao comando do julgamento em

prazo razoável

▪ É na Contestação que pode aparecer a complexidade objetiva

superveniente, o que significa imediatamente que o contraditório que

o réu pode exercer face aos pedidos do autor, cumulados na petição

inicial, vai ter de permitir ao autor responder a esses pedidos que o réu

formulou contra ele na Contestação – isto provoca uma complexidade

na estrutura processual.

▪ É mais difícil decidir em vários objetos do que num só.

Pedido subsidiário = aquele que o Tribunal aprecia se o principal for julgado improcedente.

• Tribunal conhece do mérito da causa do primeiro pedido, que não procede, podendo

agora conhecer do mérito da causa do pedido subsidiário.

o Configurado pelo autor devido ao Princípio do Dispositivo – é o autor que

melhor sabe como quer tutelar as suas situações substantivas.

“oposição entre pedidos”

• Se os pedidos são subsidiários significa que os efeitos substantivos de ambos não se

podem provocar simultaneamente na Ordem Jurídica.

o A parte não pede tudo ao mesmo tempo – se houver um pedido em que se quer

tudo ao mesmo tempo, tal é um requisito de inadmissibilidade por falta de

oposição substantiva.

• Se houver uma oposição entre o primeiro pedido e o pedido subsidiário, não há

qualquer problema processual nem substancial, porque a parte não pede tudo ao

mesmo tempo.

“obstam”

É requisito de INADMISSIBILIDADE DOS PEDIDOS SUBSIDIÁRIOS A INADMISSIBILIDADE DA

COLIGAÇÃO de autor e réu (art. 36º e ss.).

➢ O art. 554º remete para os artigos da coligação que nos demonstram um obstáculo.

o Não o art. 36º que nos diz o que é permitido mas sim o ART. 37º.

Da conjugação do art. 37º/1 com o art. 554º/2 extrai-se que a cumulação subsidiária original

não é admissível quando tal ofenda regras de competência (internacional ou em razão da

matéria ou da hierarquia) absoluta.

➢ Isto significa que em relação a cada pedido tem de se verificar o preenchimento de todos

os pressupostos processuais.

Para haver cumulação subsidiária própria, a competência dos tribunais não pode ser

inderrogável, uma vez que não é possível estar simultaneamente em vários sítios.

➢ Tribunal tem de ser absolutamente competente.

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Apesar de o autor deduzir os pedidos em termos subsidiários, só há 1 processo e 1 tramitação

processual, tendo que transitar simultaneamente

➢ Princípio da concentração máxima dos atos jurídicos leva a que os pedidos sejam

conhecidos numa só sequência processual.

Apesar de o autor dizer que quer X, e só se X não proceder é que quer Y, a tramitação processual

para se chegar a uma decisão final é sempre uma só pois só há 1 processo.

Esta foi a opção da nossa lei – pois podia ser diferente e decidir que se verificava a procedência

do pedido principal e se tal não ocorresse então começava tudo de novo para o pedido

subsidiário.

➢ Não é cumulação condicional, i.e, não se verifica apenas quando, atendendo à

improcedência do pedido principal, houver que apreciar o objeto subsidiário – todos os

pedidos (mesmo aqueles que são formulados subsidiariamente) estão pendentes desde

o começo da instância, pelo que aquela cumulação se verifica igualmente desde este

momento.

É por isto que não é possível o Tribunal ser competente para o pedido principal e incompetente

para o pedido subsidiário – a estrutura de conhecimento dos pedidos não permite esta

construção dos pressupostos de admissibilidade.

É na sentença que o juiz verifica qual procede – antes, o réu contesta os dois e faz-se instrução

relativamente aos dois.

No fundo, o requisito de admissibilidade é:

➢ Compatibilidade processual no sentido da competência absoluta do tribunal

para todos os objetos que são cumulados em regime de subsidiariedade

própria.

Do ART. 37º/2 também decorre outro requisito de admissibilidade: FORMAS DE PROCESSO

• Não é possível juntar objetos com sequências/tramitações processuais

completamente díspares.

• Ex: não se pode interpor uma ação de interdição e um pedido de dívidas, em conjunto

pois são muito diferentes (uma implica conselho de família e a outra não).

O juiz tem de conhecer dos objetos em simultâneo, portanto, se as sequências de processo são

díspares, e tal tem de seguir uma sequência única, o juiz não pode conhecer desses objetos

porque um seguirá uma forma de processo e outro seguirá outra.

Além da competência do tribunal em termos absolutos para todos os pedidos, a sequência

processual que leva a decisão de todos os pedidos também tem de ser idêntica.

• PCS: idêntica ≠ igual

• Idêntica porque aquilo que é suscetível de diferir in media res ainda é cumulável.

o Ex: pedido 1 – réu contesta; pedido 2 – réu contesta e deduz pedido. Neste caso,

a tramitação vai ter de ter mais um ato no pedido 2 (réplica) e não no pedido 1

– sequência processual do pedido 1 é diferente da do pedido 2. Não são iguais

mas são suscetíveis de harmonização, pois havendo réplica no pedido 2 (o autor

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só pode responder ao pedido 2) retarda-se o seguimento na tramitação

processual do pedido 1 enquanto há réplica ao pedido 2.

Desde que as estruturas não sejam de tal modo diversas que não possam ser cumuladas, é

racional que haja uma harmonização entre elas.

➢ Criam-se estruturas em benefício do Direito de Ação e do Processo Justo e Equitativo

em Prazo Razoável.

A Racionalidade do autor12 decidir cumular os pedidos Subsidiários é que a alternativa do autor

é ter de recomeçar todo o processo caso o seu pedido não seja procedente – concentração ótima

das várias pretensões sobre as quais quer que o Tribunal se pronuncie.

Princípio da Adequação Processual13 existe para dar racionalidade ao processo.

≠ Gestão Processual14, em que juiz tinha de fazer tudo para chegar a decisão final, removendo

os obstáculos que o impedissem de conhecer do mérito da causa.

O nosso princípio da Adequação Processual equivale ao que na Common Law se chama Teoria

dos Poderes Inerentes dos Tribunais.

➢ PCS: o princípio dos sistemas de Civil Law é muito mais abrangente que o anglo-

americano

Não há necessidade de compatibilidade substantiva na cumulação subsidiária própria inicial,

pois não se quer produção de todos os efeitos em simultâneo na Ordem Jurídica.

➢ Mas, é requisito da cumulação subsidiária própria inicial a compatibilidade processual

em dois aspetos, competência absoluta do Tribunal e compatibilidade das formas de

processo15.

CUMULAÇÃO SUBSIDIÁRIA PRÓPRIA Própria – Improcedência

➢ Apenas pode conhecer do 2º pedido quando o 1º não procede.

Requisitos:

• Incompatibilidade Substantiva dos pedidos

12 Sendo facultativa, do ponto de vista do autor tem de haver alguma vantagem na dedução dos pedidos neste regime – se eu faço aquilo que não sou obrigado a fazer é porque tenho alguma vantagem em fazê-lo 13 Adequação às especificidades do processo, tendo em conta o objeto processual – o juiz pode seguir as diligências que achar mais adequadas, tendo em conta a justa composição do litígio.

➢ Princípio da Adequação Formal que não tem só lugar quando a tramitação legal não se adeque (em absoluto) ao caso concreto, deve ser também quando, embora adequada, haja lugar a uma melhor que se lhe adeque.

14 Além da recolha dos factos e da prova, cabe ao juiz a direção formal do processo, nos seus aspetos técnicos e da estrutura interna (art. 7º/2) – tendo poderes para assegurar a regularidade da instância e o normal andamento do processo. Art. 6º concede ao juiz o poder-dever de promover as diligências que considere necessárias ao processo. Tem também um poder-dever de agilização do processo.

➢ Tudo o que o juiz faz na Tramitação Processual pode ser considerado feito ao abrigo deste princípio.

15 Não é igualdade! Já foi igualdade, mas com a entrada do princípio da adequação processual é compatibilidade.

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• Compatibilidade Processual (competência absoluta do Tribunal + compatibilidade das

formas de processo).

o Competência absoluta do tribunal – coligação não é admissível se tribunal não for

material, hierárquica e internacionalmente competente para apreciar os pedidos

coligados.

o Forma idêntica do processo para os pedidos cumulados – coligação não é

admissível se a um ou alguns dos pedidos corresponder o processo comum e a

outro desses pedidos corresponder processo especial ou se aos pedidos

cumulados corresponderem diferentes processos especiais.

CUMULAÇÃO SUBSIDIÁRIA IMPRÓPRIA Imprópria – Procedência

➢ Cumulação objetiva nos termos da qual o autor pedia que fosse apreciado o pedido

deduzido em regime de cumulação subsidiária, se fosse julgado procedente o pedido

originário.

➢ Conhece-se do 2º pedido quando o 1º proceda – quer-se tudo ao mesmo tempo.

Casos de pedidos subsidiários impróprios pois não estão patentes nem no art. 554º nem no art.

555º.

➢ Ex: autor diz “eu quero que o contrato seja anulado, e para além disso eu quero que o

réu seja obrigado a restituir-me tudo aquilo que em função desse contrato foi

transmitido para a sua esfera jurídica”, o segundo pedido só é possível se o primeiro

pedido for procedente, aqui tem mesmo de haver compatibilidade substantiva devido

à produção dos efeitos jurídicos.

➢ Casos de “se 1, então 2”.

Figura que não tem assento na lei, desviando-se ao comando de Simplicidade do Processo,

portanto tem de passar no crivo do art. 20º/4 para perceber se é admissível.

➢ É possível, pois numa visão sistemática verifica-se que há caso similar no ART. 555º

o Cumulação Subsidiária Imprópria mais não é do que uma cumulação simples

de pedidos deduzidos de forma subsidiária

▪ Portanto, se é possível a cumulação simples, não há razão de ordem de

dificuldade de julgamento que se possa invocar contra a Cumulação

Subsidiária Imprópria

PCS: o que distingue o art. 554º do 555º é o “subsidiariamente” (art. 554º) e o

“cumulativamente” (art. 555º).

• No entanto, também nos casos de pedidos subsidiários há uma cumulação – mas essa

cumulação é para efeitos de tramitação processual, daí terem tais requisitos de

admissibilidade.

Casos em que o autor deduz pedidos que indica ao Tribunal o dever de conhecer dos pedidos

subsidiários nos casos em que o principal proceda.

➢ O que significa que a compatibilidade substantiva, que não era necessária nos

subsidiários, é exigida na cumulação – só se pode querer tudo ao mesmo tempo se tal

for substantivamente compatível entre si.

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12

Requisitos de Admissibilidade:

Compatibilidade Substantiva dos Pedidos – refere-se à concordância prática dos efeitos

decorrentes dos objetos cumulados.

➢ Cumulação não é admissível se os efeitos resultantes de um ou de alguns dos objetos

for incompatível com os efeitos provenientes de outro ou outros desses objetos.

É o direito material que determina a admissibilidade – pressuposto ou requisito?

o PCS: Ambos

▪ Em efeitos materiais é um pressuposto – o efeito do 2º só pode verificar-

se se for compatível com o 1º.

▪ Do ponto de vista processual, como não se sabe como o autor configura

o objeto, esse pressuposto vai aparecer como um requisito de

admissibilidade porque o autor pode configurar de forma patológica o

objeto do processo – portanto serve como crivo de verificação de como

o autor configurou o pedido.

Se faltar a compatibilidade substantiva estamos perante uma exceção dilatória.

➢ Lei exige compatibilidade substantiva pelo que a sua ausência leva a estarmos perante

a falta de um PRESSUPOSTO PROCESSUAL.

o Faltando compatibilidade substantiva, falta um pressuposto processual

específico desta configuração do objeto processual – aquilo que a parte pediu

não é possível ser pedido dessa forma.

➢ Estamos perante uma exceção dilatória nominada: art. 577º/b -> art. 186º/2/c -> art.

186º/1 CPC

o Isto porque a falta de compatibilidade substantiva entre pedidos origina

Ineptidão da Petição Inicial.

Dá origem a que, primeiro, o juiz possa convidar a parte (o autor) a suprir essa falta escolhendo

efetivamente qual o pedido que quer que proceda através do art. 6º/2 (“suprir falta de

pressupostos”) e do princípio da gestão processual16.

➢ PCS: art. 38º pode ser aplicado analogicamente, como base legal, para justificar a

atuação do juiz na tentativa de sanar a falta de compatibilidade e dar ao autor a

escolher.

o Paula Meira Lourenço: juiz tem o dever de sanar esta exceção com a analogia

que se pode fazer a partir do art. 38º - justificação de quem pode o mais pode o

menos e apelando ao princípio do máximo aproveitamento dos negócios

jurídicos e ao da prevalência da substância sobre a forma.

o Se não se aplicar a analogia não é preciso absolver logo da instância pois o art.

186º/4 auxilia esta interpretação – não tem explícito que é insanável, portanto

pode se tentar suprir a exceção.

o Juiz tenta suprir a exceção permitindo ao autor que escolha qual o pedido que

quer.

16 MTS: entende que o Princípio da Cooperação (art. 7º) deriva do Princípio da Gestão Processual (art. 6º/2)

➢ PCS: Princípio da Cooperação é a cúpula do sistema – definição da matriz do decisor do Processo Civil. Gestão é apenas uma adjacência.

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Compatibilidade Processual – comum à Cumulação Subsidiária Própria

• Competência Absoluta do Tribunal – Estado português há de ser competente para

todos os pedidos e, em termos materiais, o Tribunal competente para cada um dos

pedidos há-de ser o Tribunal competente para os demais pedidos com eles cumulados.

o Nos casos de incompetência relativa, tal tem de ser superado.

▪ São casos de competências derrogáveis, uma vez que não estão em

causa interesses de Ordem Pública que justifiquem estar num patamar

em que a regra é inderrogável17.

▪ Sendo assim, através da Extensão da Competência ultrapassa-se a

Incompetência Relativa – estende-se a competência ao Tribunal que

não o era.

▪ Não é problemático porque estão em causa interesses que não têm na

sua matriz razões de Ordem Pública, pelo que não justifica a destruição

da Cumulação.

• Tramitação Única – significa que tem de haver a projeção de efeitos, de um mesmo

modo processual, de todos os objetos processuais que estão sob decisão.

o Aceitam-se cumulações objetivas porque existem certos nexos daquilo que está

em discussão mas que não atrasam a decisão – consegue-se retirar o máximo

de efeitos de uma intervenção.

▪ Radica no art. 20º/4 CRP.

Como é uma categoria doutrinária exige-se a Conexão Objetiva entre os pedidos (MTS).

ART. 555º: CUMULAÇÃO OBJETIVA SIMPLES DE PEDIDOS Lei exige: Compatibilidade Processual + Compatibilidade Substantiva

Autor requer a procedência simultânea de todos os pedidos cumulados e a produção de todos os

seus efeitos. Ex: ação pedido entrega de uma máquina e pagamento de uma indemnização pela

mora.

➢ Art. 297º/2 – cumulando-se na ação vários pedidos, o seu valor é a quantia

correspondente à soma dos valores de todos eles, o que pressupõe que cada um dos

pedidos represente uma diferente utilidade económica.18

O artigo não exige uma conexão entre objetos processuais; essa Conexão Objetiva deve ser

exigida como requisito de admissibilidade?

• MTS: Sim – aplica-se tendencialmente devido a ser exigido no art. 36º

o Não é requerida mas é desejável – a apreciação de pedidos completamente

distintos e autónomos implica uma maior complexidade da instrução, discussão

e julgamento da causa.

17 Atenção que há competências territoriais que são inderrogáveis – como o território de imóvel (art. 63º/a) 18 MTS: Se não suceder uma diferente utilidade económica, estamos perante Cumulação Aparente. Ex: ação

de reivindicação – em que se pede o reconhecimento da propriedade e a restituição da coisa (art. 1311º CC) – não se verifica cumulação objetiva porque os pedidos formulados não possuem uma utilidade económica diferenciada, e por isso, não se soma, para determinação do valor da causa, o valor do pedido de apreciação da propriedade ao do pedido de restituição da coisa.

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▪ Se na Coligação se exige Conexão Objetiva (como é requerida pelo art.

36º), na Cumulação de Pedidos também faria sentido -> conceção de

MTS. o Aplicação analógica do art. 37º/4 às hipóteses em que os objetos cumulados não

apresentam entre si qualquer conexão e em que a sua instrução, discussão e julgamento

conjunto possa comprometer a boa administração da justiça.19

• PCS: Não – a lei não exige o requisito e os pressupostos processuais são elementos

restritivos do modo como se acede aos tribunais e ao exercício da jurisdição, pelo que se

não forem expressamente exigidos não podem ser exigidos.

Então, não existindo Cumulação Objetiva, pode admitir-se cumularem-se objetos muito

distintos?

➢ Sim, pode exercer-se a liberdade até onde se quiser desde que não colida com o art.

20º/4 CRP

o Se juiz verificar que, apesar de reunidos todos os pressupostos processuais da

cumulação objetiva, não vai conseguir proferir a decisão em prazo razoável,

pode desfazer essa cumulação convidando o autor a definir o objeto do

exercício jurisdicional (art. 37º/4).

o Essa impossibilidade de decisão em prazo razoável é obstáculo à coligação.20

E se, há incompatibilidade processual, nos termos do art. 37º?

Se na Coligação houver incompetência absoluta ou falta de compatibilidade das formas

processuais aplica-se o regime da Cumulação Objetiva.

• Se tribunal é absolutamente incompetente para um, sendo competente para os

demais, absolve o réu da instância relativamente àquele para o qual é incompetente.

• Se é incompetente para todos, absolve o réu da instância.

o Exceção não é suscetível de sanação.

• Impossibilidade de articular formas processuais é exceção dilatória inominada cuja

consequência é a absolvição da instância (art. 278º/1/e)

o Não é suscetível de sanação, mas juiz pode perguntar ao autor com qual dos

pedidos quer continuar a ação. ▪ Aplicam-se os art. 37º/2 e 3 CPC, por maioria de razão.

▪ Nos casos em que vão para o mesmo Tribunal, nas Comarcas mais pequenas

há esta possibilidade.

▪ Nas grandes Comarcas isto resolve-se pela incompetência (absoluta devido à

matéria) porque podem ir para tribunais diferentes.

Coligação é cumulação objetiva a que acresce uma cumulação subjetiva.

19 Ex: Banco instaura ação contra mil réus (pois não pagaram o cartão mas assinaram um contrato igual) – não sendo compatível, o art. 37º/4 manda separar. 20 Paula Meira Lourenço: a conexão objetiva resulta da própria compatibilidade substantiva. Se não são compatíveis substantivamente é porque há alguma relação entre elas. Tem é de se compatibilizar com o art. 20º/4 CRP.

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15

ART. 556º: PEDIDOS GENÉRICOS Pedido deduzido contra o réu tem de ser determinado, para que o réu se possa defender.

➢ Exceção a este princípio: art. 556º21

Só nestes casos é que se admite que o autor apresente pedidos genéricos

➢ Aqueles em que, não obstante a indeterminação, não são prejudiciais ao contraditório,

pois esse contraditório é exercido nos mesmos termos que seria caso o pedido fosse

determinado e não genérico.

o PCS: Defesa deduzida pelo réu é defesa que atinge o pedido deduzido pelo autor

independentemente da concretização das coisas a serem atingidas em fase

executiva pela decisão proferenda.

o Ex: restituição de uma biblioteca. Réu não tem de discutir a restituição de cada

livro

Se for um pedido genérico fora dos casos do art. 556º estamos perante uma exceção dilatória

inominada, que não é possível suprir.

• Há convite à determinação.

• Se autor não determinar há absolvição do réu da instância.

ART. 557º: PEDIDO DE PRESTAÇÕES VINCENDAS Permite que o autor tenha condenação do réu, obtendo um título executivo contra ele, ainda

antes do vencimento da obrigação.

MTS: autor formula pedido de condenação do réu numa prestação cujo cumprimento ainda não é

exigível; a parte requer uma condenação in futurum.

Porque existe um interesse processual específico – autor podia ter prejuízo grave.

• O autor consegue obter o efeito útil, obtenção do título executivo, porque demonstra

ter interesse processual agravado (não só tem necessidade de recorrer aos tribunais

como tem necessidade de recorrer aos tribunais antes da exigibilidade da obrigação –

ónus do tempo inverte-se pois autor mostra que ausência de título executivo no

momento em que se podia vencer a obrigação lhe vai causar grande prejuízo).22

21 Pedido certo – objeto é uma prestação individualizada ou determinada (reporta-se a um bem concreto ou definida na sua espécie e quantidade). Pedido genérico – admissível nos termos deste artigo.

• Se for deduzido e ininteligível pode verificar-se a ineptidão da petição inicial, o que pode fundamentar o indeferimento liminar da petição inicial;

• Se inteligível, a petição inicial necessita de concretização ou individualização e o Tribunal pode convidar o autor a concretizar ou individualizar o pedido.

22 O que distingue o art. 557º/2 do art. 610º? Enquanto no art. 610º ele não tem interesse processual e ainda que ganhe a ação paga as custas, no art. 557º/2, ganhando a ação, não paga as custas e aplica-se regime geral do art. 527º.

• Réu é condenado a cumprir no momento oportuno.

• E porque autor conseguiu demonstrar o preenchimento desse pressuposto processual, do interesse de forma agravada, não é penalizado com o pagamento das custas.

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16

Fora deste artigo está-se fora dos limites da natureza presente da obrigação, pelo que há

exceção dilatória.

➢ Não é suscetível de sanação e leva à absolvição do réu na instância.

ART. 553º: PEDIDOS ALTERNATIVOS Só é possível deduzir pedidos com caráter alternativo quando existe alternatividade

substantiva23.

➢ Alternatividade está assegurada no caso das obrigações alternativas e das obrigações

de facultade alternativa – essa relação de alternatividade dispensa a necessidade de

qualquer outra conexão entre os objetos.

MTS: parte requer a procedência de todos os objetos cumulados, mas pretende obter apenas,

deixando ao tribunal a opção, a produção dos efeitos de um desses objetos (aquele que concluir

como procedente).

➢ Deve exigir a compatibilidade processual entre os objetos alegados – analogicamente

aplica-se à cumulação alternativa os pressupostos exigidos para a cumulação simples

(TRP, 16/5/1975).

Não é admissível configurar como alternativo aquilo que se quer configurar como subsidiário.

Ex: não quero Nulidade ou Anulabilidade – está errado porque o que se quer é a Nulidade e,

subsidiariamente, a Anulabilidade.

Exceção dilatória não suprível, mas, juiz pode convular e perguntar à parte se é efetivamente

alternativo ou subsidiário – de acordo com o art. 7º CPC.

23 Art. 543º e ss. – convencionam-se 2 prestações: ou entrega-se uma ou outra (e escolhe-se pelo

interesse ou pelo estipulado pelo contrato);

➢ uma das prestações é concretizável através de uma escolha (que geralmente pertence ao

devedor).

➢ Não se consideram alternativas as obrigações condicionais (em que se realiza uma em caso de se

verificar a condição e outra caso não se verifique)

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Cumulação Objetiva Superveniente/Sucessiva MTS: Constitui-se durante a pendência da causa -> todas as hipóteses em que ao objeto inicial

da causa se cumula, por iniciativa do autor ou do réu, qualquer outro objeto.

Inclui todas as situações em que se constitui, durante a pendência de uma ação, uma pluralidade

de objetos processuais.

Pode ser da iniciativa da parte ativa ou passiva.

1. PARTE ATIVA: Autor pode apresentar, no regime da cumulação simples, alternativa ou

subsidiária, um outro objeto e pode invocar, a par do objeto inicial, um outro objeto

concorrente.

➢ Cumulação sucessiva stricto sensu.

o Pode ser despoletada pela superveniência de factos suscetíveis de integrarem

uma causa de pedir, ie., a ocorrência desses factos após o momento normal da

sua invocação em juízo (superveniência objetiva) ou o conhecimento pela parte,

após esse momento, de factos já ocorridos (superveniência subjetiva) – art.

588º/2.

▪ É sempre admissível até ao encerramento da fase de discussão e

julgamento.

o Se factos não forem supervenientes só é admissível nos termos dos art. 264º e

265º, aplicáveis analogicamente. Para utilizar o art. 265º o réu tem de ter invocado

uma exceção ou deduzido um pedido reconvencional na contestação. ➢ Casos em que autor pode cumular sucessivamente são aqueles em que a lei lhe permite

ampliar o pedido – admitindo-se que dentro do conceito de ampliação esteja a noção

de novas pretensões.

o Causa instabilidade no objeto processual, pois com novo objeto tem de haver

contraditório do réu, o que alonga a instância processual.

2. AMBAS AS PARTES: art. 267º permite a apensação de ações que foram propostas

separadamente. Ex: é admissível a apensação de várias ações em que os lesados num mesmo

acidente de viação pedem às companhias seguradoras a reparação dos respetivos danos (TRP,

25/2/97)

3. PARTE PASSIVA: Quando é por intervenção do réu

RECONVENÇÃO24 Para haver Cumulação Objetiva Superveniente, o ponto de referência é que seja deduzido mais

de um pedido.

➢ PCS: Só na reconvenção é que o réu deduz um pedido autónomo contra o autor.

24 A Reconvenção surge na contestação, como uma forma de defesa do réu. Formas de Defesa do Réu (quando existem todas):

1. Exceção Dilatória – art. 577º (leva a absolvição da instância) 2. Por Impugnação – art. 574º (leva a absolvição do pedido) 3. Exceção Perentória – leva a absolvição do pedido 4. Reconvenção – pedido do réu contra o autor

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

18

Ampliação por Reconvenção é facultativa – se não deduzir pedido reconvencional na

contestação, pode deduzir esse mesmo pedido contra o autor numa instância autónoma a

qualquer instante e momento.

PCS: Apesar de ocorrer uma ampliação objetiva quando o réu deduz exceções dilatórias ou

perentórias, não há cumulação de objetos processuais.

➢ Quando o réu se defende por exceções, ele não deduz nenhum pedido contra o autor

e limita-se a pedir a sua absolvição na instância.

o Não há nenhum pedido que materialmente se distinga do pedido que foi

deduzido pelo autor contra o réu.

➢ MTS: réu invoca facto que obsta à produção dos efeitos decorrentes do objeto definido

pelo autor e determina a absolvição, total ou parcial do pedido; implica cumulação

objetiva sucessiva pois réu delimita objeto distinto daquele que é alegado pelo autor

e cuja procedência impede a produção dos efeitos pretendidos por esta parte – réus

excipiendo fit actor.

o São exceções de direito material que podem decorrer tanto de um direito como de uma

situação jurídica.

o É de conhecimento oficioso pelo que o Tribunal pode decretar a absolvição do pedido,

ainda que não seja requerida pelo réu.

Exceção – subjaz uma ideia de defesa indireta que, sem por em causa a realidade dos factos

alegados como causa de pedir nem o efeito jurídico que o autor deles pretende extrair, consiste

na alegação de factos novos dos quais o réu entende que se retira que o tribunal em que a ação

foi proposta não poderá declarar o efeito pretendido.

• São, em regra, de conhecimento oficioso, sendo vertente do princípio jura novit

curia (art. 5º/3), mas, há casos em que tem de ser o réu a invoca-la.

o Exceções em sentido próprio – estão na disponibilidade da parte e só

relevam quando o réu manifeste vontade de delas se valer.

o Exceções em sentido impróprio / Objeções – aquelas que o tribunal pode,

e deve, conhecer independentemente da vontade da parte a quem

aproveitam.

Exceção Perentória: invocado um facto impeditivo, modificativo ou extintivo da situação

jurídica, i.e., há factos que levam o tribunal, ao apreciar o caso, a julga-lo improcedente. Baseia-

se na invocação pelo réu de um objeto cuja procedência obsta aos efeitos pretendidos pelo autor.

Atendendo aos efeitos sobre o objeto apresentado pelo autor, a exceção perentória pode ser, à

luz do art. 571º/2, 2ª parte:

• Extintivas = aquelas que destroem as consequências jurídicas decorrentes do

preenchimento de determinada previsão legal. Ex: condição resolutiva, prescrição,

caducidade, todas as causas de extinção das obrigações e etc.

• Modificativas = determinam uma modificação do objeto invocado pelo autor. Este objeto,

que originariamente era um, passa a ser outro depois da invocação da exceção. Ex:

condição suspensiva, aceitação da modificação do contrato por alteração anormal das

circunstâncias, direito de retenção, exceção do não cumprimento e etc.

• Impeditivas = impede o nascimento válido do direito na esfera jurídica do autor. Obstam

ao preenchimento de uma previsão legal, impedindo uma cera consequência jurídica.

Apesar de se verificarem todos os factos necessários para realizar uma determinada

previsão legal, existem certos factos que obstam a essa realização. Ex: nulidade do

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negócio jurídico, erro na declaração, erro sobre a pessoa ou objeto do negócio, dolo,

coação moral, incapacidade acidental e etc.

Exceção Dilatória: invocada a falta de um pressuposto processual, i.e., há factos que impedem

o tribunal de apreciar o pedido formulado pelo autor.

Ampliação por Exceção está sujeita ao Princípio da Preclusão25 – se réu não deduzir a exceção

na contestação, não pode mais deduzir.

➢ Devido a isto, não se requer a verificação de pressupostos processuais específicos para

a defesa por exceção – princípio é que tribunal competente para a ação é o tribunal

competente para as exceções deduzidas pelo réu.

o Se porventura o tribunal competente para a ação não for absolutamente

competente para a exceção, concretamente deduzia pelo réu (exceção

perentória), mantém-se a extensão da competência do tribunal da ação para

conhecer da exceção como meio de defesa – art. 91º/1.

Exatamente pela Exceção não constituir na sua natureza um objeto processual autónomo, a

decisão que recai sobre a Exceção não conhece o objeto processual autónomo, portanto,

sobre esse objeto processual não se forma uma decisão com força de caso julgado.

➢ Única possibilidade é que réu requeira que a decisão que recaia sobre a exceção tenha

força de caso julgado – art. 91º/2.

o DECLARAÇÃO INCIDENTAL26, necessária porque o caso julgado tem uma

amplitude relativamente restrita, não atingindo todos os fundamentos da

decisão.

25 Toda a defesa do réu deve ser concentrada na contestação (art. 573º) cujo corolário é preclusão – réu tem ónus de, na contestação, impugnar os factos alegados pelo autor, alegar os factos que sirvam de base a qualquer exceção dilatória ou perentória (excetuadas as que forem supervenientes) e deduzir as exceções não previstas na norma excecional do art. 573º/2.

➢ Se o não fizer, preclude a possibilidade de o fazer. Art. 587º + 574º CPC Autor tem ónus de impugnar os factos novos alegados pelo réu – se não os contestar considera-se os factos admitidos por acordo. Não pode fazê-lo na Réplica, isso é só para matérias veiculadas na Reconvenção.

➢ Aqui estamos a falar de uma defesa por Exceção. o Autor tem de se poder defender das exceções que o réu refere tendo em conta o

princípio do contraditório (do art. 3º/4). o Isto será no início da audiência prévia ou audiência final – nos termos do art. 547º o juiz

pode notificar o autor para ele se pronunciar sem ter de se realizar uma audiência prévia.

o Se não houver uma pronúncia então o juiz pode fazer despacho saneador de mérito (art. 595º/1/b).

26 = MTS: Apreciação Incidental

• destina-se a obter uma decisão com o valor de caso julgado material quanto a uma questão prejudicial ou incidental em relação ao objeto em apreciação.

o permite atribuir força de caso julgado material, i.e., eficácia vinculativa dentro e fora do respetivo processo (art. 496º) a uma decisão que, sem esse pedido, só gozaria da eficácia de caso julgado formal, ou seja, só seria vinculativa no próprio processo.

• previne conflitos ou litígios entre as partes, porque resolve, com uma força vinculativa extensível a outros processos, uma determina questão.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

20

o O efeito de imutabilidade não atinge todos os fundamentos da decisão, o que

significa que não atinge todas as decisões parcelares (sobre objetos parcelares)

que são necessários para explicar a decisão final.

o Declaração incidental vai permitir que sobre os meios de defesa que o réu

invocou, se forme caso julgado.

▪ Se réu não pedir isto, o conhecimento da defesa por exceção não se

confunde com a decisão e, sobre elas, não se forma caso julgado.

▪ Para isso, tribunal tem de ser absolutamente competente.

Conclui-se que a Exceção está sujeita a Preclusão e, por isso, não pode ter requisitos

autónomos e próprios, sob pena de estar a coartar ao réu meios de defesa que só ali ele pode

deduzir.

➢ No entanto, para que as exceções deduzidas pelo réu, como defesa, venham a ter força

de caso julgado, é necessário que o Tribunal seja absolutamente competente.

Tudo isto porque na defesa por exceção, apesar de estar sempre em causa a invocação de factos

novos, a própria exceção tem uma causa de pedir – que são os factos essenciais dos quais

resulta a própria exceção.

➢ Ex: a obrigação foi cumprida defeituosamente – réu deduz esta exceção mas tem de

trazer uma causa de pedir para chegar a essa exceção (o porquê de ter cumprido de

forma defeituoso, o que o leva a alegar isso).

Não há cumulação porque não há pedido autónomo, há apenas um único pedido e, apesar da

novidade dos factos, o réu quer apenas ser absolvido do pedido.

➢ Efeito diverso do que o autor pretende, mas não há pedido diferente desse pedido.

Nada disto acontece na Reconvenção.

Reconvenção apresenta a mesma estrutura formal da petição inicial, contento o indicado

no art. 552ª/e, f (art. 583º/1, 2).

• Há pedido autónomo (constitutivo, declarativo, condenatório) deduzido pelo réu

contra o autor, na contestação.

o Se há novo pedido -> cumulação sucessiva de objetos processuais: significa que

esse pedido ou pedidos deduzidos pelo réu contra o autor em regime de

cumulação (subsidiária própria, imprópria, simples, genéricos, alternativos e etc.) vai ter de

ser deduzidos discriminadamente na Contestação (art. 583º) e relativamente a

cada um deles vão ter de ser observados os requisitos do art. 552º/1/d, e

MTS: formulação pelo réu de um pedido que é distinto do pedido normal de defesa (que é a

absolvição do pedido) e cuja procedência é requerida contra o autor.

➢ Justifica-se pela economia processual devido à sua conexão com o objeto apresentado

pelo autor ou a defesa deduzida pelo réu.

A própria parte pode requerer a apreciação incidental no articulado em que alega o respetivo objeto e a contraparte pode fazê-lo no articulado de resposta. Pode ser requerida por acordo das partes em qualquer momento da tramitação da ação em primeira ou segunda instância (aplica-se analogicamente art. 264º e 265º).

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

21

➢ Réu visa obter um efeito positivo que é a apreciação de um facto ou de um direito que

pode levar a condenação da contraparte na realização de uma prestação ou a

constituição de uma situação jurídica.

➢ A reconvenção tem de ser fundamentada numa causa de pedir própria (TRL, 25/6/1984).

Invertem-se as posições:

• Réu = Autor da reconvenção = Reconvinte

• Autor = Réu da reconvenção = Reconvindo

→ Reconvenção determina o estabelecimento de uma Instância Reconvencional

Dedução do pedido reconvencional pelo Réu afeta o Princípio Fundamental da Estabilidade da

Instância (art. 260º) pois provoca alteração objetiva no Processo.

➢ Poderia colidir com o art. 20º/4 CRP, mas, a lei permite esta solução atendendo a certos

requisitos de admissibilidade.

LF: Para que seja admissível tem de se verificar algum dos elementos de conexão do art. 266º/2

e não poderá verificar-se nenhum dos requisitos negativos de compatibilidade do art. 263º.

Art. 266º “pedidos” – lei admite não apenas 1 pedido mas vários.

• PCS: Por isso, o objeto configurado pelo réu pode ter tantas “anomalias” como as

cumulações que vimos para o autor.

o Isto significa que no caso concreto se vão introduzir várias regras de cumulação

– tem de se articular com o art. 554º, 555º, obstáculos do art. 37º, cumulações

impróprias e etc.27

“é admissível” = Pressuposto Processual

➢ Estamos no campo das decisões processuais e não de mérito

Art. 266º/2

a) Casos em que se vão julgar os mesmos factos, quer no pedido reconvencional quer na

ação – o que significa que não se introduziu complexidade acrescida ao processo, daí a

admissibilidade

➢ Reconvenção é forma de contestação material, daí ter de ter uma conexão com

a matéria da ação principal

b) “cuja entrega lhe é pedida” – reconvenção dependente da procedência da ação, sendo

uma Reconvenção Subsidiária Imprópria (“se sim, então”).

➢ Racionaliza-se a atividade probatória (aproveita-se da prova que vier a ser feita)

e os meios (pois quem julga tudo é o mesmo decisor).

c) Aparentemente é pedido de mera apreciação, mas a lei vai mais longe.

Compensação prevista no art. 847º CC, no capítulo das causas de extinção das obrigações.

➢ Mas, se compensação é uma causa de extinção das obrigações ela é uma Exceção

Perentória e não um pedido reconvencional.

27 1º: Ver se cada pedido autonomamente pode ser formulado na reconvenção 2º: Podendo ser objeto de Pedido de Reconvenção temos de ver se podem ser cumulados

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22

• Direito substantivo aponta-nos para uma solução – extinção do dever de

prestar28, sendo uma exceção perentória. E o Direito processual aponta para

outra. Não sintonia entre o regime substantivo e regime processual 29.

i. Se for exceção não há requisitos de admissibilidade, sendo reconvenção

temos de atender a todos os requisitos que a lei impõe.

ii. Porque é que legislador transformou em Reconvenção, no processo,

aquilo que subjetivamente é uma causa estritamente extintiva (Exceção

Perentória)?

Para o direito material, a Compensação é, à luz do art. 847º/2, até ao valor do crédito da

contraparte e a obrigação extingue-se.

No art. 266º/2/c “obter a compensação” = operar a estrita extinção da obrigação por

identidade objetiva de deveres de prestar

➢ O que excede já não é compensação – extinção recíproca dos créditos dá-se até ao

montante do menor deles, não atingindo o excesso, pelo que o pedido de

condenação do autor se reveste de autonomia em face do pedido constante da

petição inicial.

➢ Até ao montante do crédito é compensação e no que excede é reconvenção?

• Posição doutrinária antes da alteração do CPC.

• Compensação – exceção até ao limite em que os créditos são iguais

• Reconvenção – excesso do pedido do réu relativamente ao pedido do autor i. Particularidade de réu poder abdicar da condenação do autor (pedindo para

ser absolvido do pedido – invocação de exceção perentória) na mesma ação

em que pediu a compensação

Nestes casos, face ao excedente o réu tem a hipótese de:

• Obter condenação do autor no cumprimento do que excede (na medida do que ela se

extingue por compensação) – Tribunal reconhece que, se réu invocar, até à identidade

de montantes há exceção perentória que leva à extinção da obrigação. Mas, no que

excede já não há compensação e a partir daí é reconvenção – pedido verdadeiramente

distinto que réu invoca contra o autor.

o Réu pede apenas o que excede.

PCS: Este seria o enquadramento correto da compatibilidade do direito material com o direito

processual30 – mas não é esta a solução dada pela lei (art. 266º CPC)

28 Existe esta figura pela mesma razão que existe a prescrição: há um dia em que o devedor tem de ficar liberado do dever de prestar 29 MTS: Quanto à dedução da compensação através da reconvenção, há que diferenciar entre a invocação de uma compensação já efetuada num momento anterior à propositura da ação (compensação extrajudicial) e a realização, no próprio processo pendente, da compensação entre créditos (compensação judiciária). 30 LF: Tese da compensação-exceção em que o facto de parte do contracrédito ser apreciado em sede exceção e outra parte em sede de reconvenção não revestia especial complicação, visto que a mesma sentença apreciava normalmente a totalidade. Antes da solução de 2013:

• A tese da Professora Paula Costa e Silva é a da compensação-exceção, esta esteira doutrinária e jurisprudência entende que a reconvenção só deve ser utilizada para obter a condenação do autor quanto ao excesso do crédito do réu relativamente ao crédito do autor (neste sentido também VAZ SERRA E ANSELMO DE CASTRO). Quer dizer: se o contra-crédito do réu for do mesmo montante ou quantitativamente inferior ao crédito do autor, o réu deverá limitar-se a invocar a compensação como exceção perentória.

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23

➢ Ainda que seja deduzida a compensação no seu sentido material estrito, a forma de

dedução da compensação em Portugal é sempre como pedido Reconvencional e nunca

opera como Exceção Dilatória – tem sempre de ser deduzida como pedido

reconvencional.

o Isto tem a consequência de não estar sujeito ao princípio da preclusão e réu

continua livre de exercer este direito contra o autor em qualquer momento que

entenda (o direito não caduca por não ter sido exercido neste processo) – não

prejudica a defesa do réu.

o LF: Compensação é sempre objeto de pedido reconvencional, visto que

vem trazer para o processo, a fim de nele ser apreciada, uma relação

jurídica nova, normalmente inteiramente distinta e autónoma da que dá

causa à ação e para a qual se pede tutela judiciária, não podendo ela

deixar de ser apreciada à luz dos pressupostos processuais (Castro

Mendes).

o PCS: Com alguma entorse consegue explicar-se este artigo – serve para

assegurar a boa decisão relativamente à integralidade do crédito e não só a

parte desse crédito.

▪ Isto tem consequências na Competência do tribunal e no Caso julgado – a competência para julgas as exceções é a mesma; sobre as exceções não se forma

caso julgado a não ser que réu peça. ▪ LF: Literalmente interpretada, a redação do art. 266º/2/c, dada pela

revisão de 2013, nada acrescenta ao que já decorre da norma do art.

91º/2.

❖ Sem a dedução do pedido de reconhecimento do crédito do réu

a compensação não opera -> este regime de 2013 nada mudou,

permanecendo a reconvenção fundada em compensação

meramente facultativa.

d) Mesmo efeito que o autor pretende ter com a ação mas decretado em benefício do

réu. Tenta evitar-se contradições e comprime-se a decisão, pois esta recai sobre factos

análogos dentro do mesmo processo.

➢ Pouca aplicação prática hoje em dia. Caso típico era o divórcio, com declaração

de culpa, que determinava as consequências patrimoniais – autor pedia o

divórcio contra o réu mas o réu, em reconvenção, pedia também o divórcio mas

dado a seu benefício.

➢ Únicas hipóteses em que há aplicação prática são nos casos de impugnação –

um diz que é inválido por x e outro diz que é por y.

À reconvenção deduzida pelo réu não pode o autor opor outra reconvenção (art. 584º/1)

O pedido reconvencional não é afetado pela desistência do pedido formulado pelo autor, exceto

se a reconvenção for dependente da procedência desse pedido (art. 286º/2).

• O Professor Miguel Teixeira de Sousa argumenta que esta tese é incompatível com a admissibilidade da compensação

de créditos ilíquidos – art. 847/3ºCC, dado que não é possível aferir se um deles é quanto ao seu montante, maior ou menor que outro, o Professor refere também que o tratamento da compensação como qualquer outra exceção perentória implica que, não sendo alegada num processo pendente, funciona a preclusão estabelecida no art. 573º/2 CPC, se o réu não alegar o contracrédito sobre o autor nessa ação, fica impossibilitado de o fazer, pelo menos até ao montante em que os créditos são compensáveis, numa ação autónoma.

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Atendendo ao art. 266º

1º Requisito de Admissibilidade: CONEXÃO OBJETIVA (art. 266º/2)

Não está previsto como Exceção Dilatória -> é Inominada

• Não suprível pois não é possível dar conexão a algo que não a tenha – exceção que pela

sua natureza não se consegue suprir.

o A falta daquela conexão resulta da inexistência de uma relação entre o objeto

definido pelo autor e o pedido reconvencional do réu.

• Leva a que autor da ação seja absolvido da instância reconvencional – é absolvido

enquanto reconvindo

2º Requisito de Admissibilidade: COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL (art. 93º)

Art. 93º CPC – incompetências absolutas são obstáculos à Reconvenção.

• Se faltar competência para a reconvenção há absolvição do réu da instância

reconvencional.

• De conhecimento oficioso – regime da incompetência absoluta

3º Requisito de Admissibilidade: COMPATIBILIDADE OBJETO PROCESSUAL (art. 266º/3)

Consequências derivadas da incompatibilidade processual – art. 583º/1:

• Quanto à incompetência absoluta do tribunal da ação: absolvição do réu da instância

reconvencional no despacho saneador: art. 96º + 99 + 278/1/a) + 576/2º + 577/a CPC.

• Inadequação de forma de processo para o pedido reconvencional – é uma exceção

dilatória inominada: que gera absolvição do réu da instância: art 576/2 + ex vi art.

278/1/e) CPC

Cumulação Subjetiva Superveniente A Reconvenção pode levar a uma cumulação subjetiva superveniente – implicando a

constituição de mais reconvindos do que os autores que temos na ação.

➢ Da reconvenção, que implica cumulação objetiva, pode resultar uma alteração

subjetiva da instância (art. 266º/4) – quando o pedido reconvencional implique a

constituição de mais compartes do que as partes que originariamente eram o autor

da ação.

➢ Pode, portanto, aumentar a complexidade subjetiva, levando à constituição de

Litisconsórcios – altera a estabilidade subjetiva.

o Regras de legitimidade também se vão aplicar à instância reconvencional.

Reconvenção pode ser acompanhada da intervenção principal de um terceiro na ação pendente

e que, por isso, está sujeita aos pressupostos desta cumulação subjetiva.

Intervenção de terceiro no processo é provocada por réu reconvinte (art. 316º):

• reconvenção deduzida contra autor da ação mas também contra terceiro;

• reconvenção deduzida conjuntamente pelo réu e por um terceiro;

• reconvenção deduzida contra um terceiro.

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25

Coligação

Hiper-complexidade do Processo: Quando temos casos de pluralidade objetiva e subjetiva (que pode

ocorrer tanto do lado ativo como do lado passivo).

➢ Situações de vários autores com vários pedidos contra vários réus e etc.

Coligação pressupõe uma pluralidade de partes principais e uma pluralidade de pedidos31

que são formulados diferenciadamente por cada um dos autores ou contra cada um dos

réus.

➢ Tem de haver uma distribuição dos vários pedidos por cada um dos autores ou réus. Ex:

autor pede contra um dos réus a anulação dos bens doados, entretanto transmitidos por

aquele a este último.

o Se não houver essa distribuição, apesar de haver cumulação objetiva, existe um

litisconsórcio pois os vários pedidos são formulados por todos os autores ou

contra todos os réus.

Além da pluralidade de parte, têm de existir pedidos que originam de relações materiais

controvertidas diferentes

• Se for uma pluralidade de pedidos que assentem na mesma relação material

controvertida não há coligação e somente cumulação de pedidos – onde a mesma

relação material origina um feixe de pedidos.

• Na coligação, os pedidos originam de relações materiais controvertidas que não são as

mesmas.

Pluralidade de pessoas no polo ativo + passivo existindo vários objetos (pluralidade objetiva).

➢ Estrutura processual muito complexa que implica existirem mais requisitos de

admissibilidade – atendendo ao comando do art. 20º/4 CRP (quanto mais complexo for o

processo mais difícil é a instrução da causa, sendo mais difícil a decisão em prazo razoável), é

necessário justificar de forma acrescida a admissibilidade dessa estrutura, que pode

colidir com esse artigo ao tornar o processo mais complexo.

➢ Tem de se encontrar virtude na complexidade, para a instrução e decisão da causa, sob

pena de não a poder aceitar.

Coligação ativa – cumulação subjetiva entre vários autores

Coligação passiva – cumulação subjetiva entre vários réus

Coligação mista – existe simultaneamente uma pluralidade de autores e réus

Coligação voluntária – por iniciativa de um ou vários autores, sem que a falta de qualquer autor

ou réu implique uma situação de ilegitimidade. Tribunal decide que é preferível as causas serem

instruídas, discutidas e julgadas em processos separados.

Coligação necessária – todos devem ser demandados e se desacompanhado deixa de ter

legitimidade.

31 Não implica entes plurais, mas pode haver. O que se exige é pluralidade de pedidos.

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26

ART. 36º MTS: Coligação requer a compatibilidade processual e substantiva e a conexão objetiva dos

pedidos coligados.

➢ Compatibilidade substantiva não é um requisito específico da coligação, mas da

cumulação objetiva que nela se contém.

“é permitido” – significa que é requisito de admissibilidade

• Pressuposto Processual – qual a lei diz em que casos é possível fazer algo

“conjuntamente” – num só processo

• Há uma demanda conjunta apesar de, apenas numa instância, existirem várias ações.

“por pedidos diferentes” – pedidos não podem ser iguais e têm de assentar em relações

materiais controvertidas distintas.

• Necessariamente a coligação tem de ter uma Cumulação Simples.

o Cumulação Simples com complexidade subjetiva – são diferentes pedidos

contra pessoas distintas.

• Portanto tudo o que for requisito de admissibilidade da Cumulação Simples há de ser

requisito de admissibilidade da Coligação, embora tenha mais requisitos.

Lei mostra-nos então o que é permitido fazer, mas enumera mais requisitos para ser possível:

1) Causa de pedir é a mesma e única – remete para o art. 5º, tendo os mesmos factos

2) Pedidos estejam entre si numa relação de prejudicialidade ou dependência

3) Diferente causa de pedir, mas32:

a. Apreciação essencialmente dos mesmos factos – remete para o art. 5º

• Se factos forem essencialmente os mesmos, a prova que é feita sobre

eles é a mesma, o que torna a instrução e a decisão mais rápida e

possível de ser dada em prazo razoável (art. 20º/4 CRP) – não há

agravamento do esforço que o magistrado judicial tem de fazer na

apreciação do processo

• Por serem essencialmente iguais há uma racionalização da aplicação da

justiça, o que é consonante com o art. 20º/4 CRP

b. Interpretação e aplicação das mesmas regras de direito – significa que há uma

única regra de direito que está em causa na pluralidade de pedidos. É o caso de

uma dúvida interpretativa específica de uma norma de direito33 (em que o juiz

deve analisar os pedidos em conjunto pois a interpretação específica da

primeira é a mesma da segunda – podendo o autor levantar essa dúvida

interpretativa e pedir ao juiz que as analise em conjunto).

c. Interpretação e aplicação de cláusulas de contratos perfeitamente análogas –

casos de processos de julgamento em massa para garantir que a decisão é

32 Art. 36º/2

• PCS: palavra “lícita” está errada – a lei simplesmente continua a estabelecer condições de admissibilidade processual

33 Mas não há conexão objetiva nos casos em que são regras gerais de direito como o “incumprimento”.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

27

equivalente, havendo um conteúdo unitário da decisão quando não há

litisconsórcio necessário.

• Assegura-se que a decisão será equivalente para todos os casos em que

o problema (idêntico) se levante.

4) Pedidos deduzidos quanto a uns baseiam-se na obrigação cartular e quanto a outros

da respetiva relação substantiva – fundamentos são diferentes pois com o portador

mediato invoca-se a obrigação cartular e com o portador imediato invoca-se a obrigação

subjacente.

• Caso que não se resolve pela litispendência, são casos de concurso de títulos de

aquisição da prestação (MTS) a que a lei dá corpo pela figura da coligação. Não

se é pago duplamente e depois na Execução há extinção de uma das relações.

Desrespeitando a regra do art. 36º, não havendo conexão entre os objetos (sem ter a mesma

causa de pedir nem essencialmente os mesmos factos, nem nenhuma outra)

➢ significa que os dois não podem continuar, pelo que o juiz vai permitir ao autor escolher

qual dos pedidos continua no processo – tem de ser o autor, devido ao princípio do

dispositivo.

Se autor não escolher, aplica-se o art. 577º/f

➢ O que está no art. 36º é CONEXÃO OBJETIVA (por se relacionar com os objetos) – em

caso de verificação do não preenchimento falta um requisito de admissibilidade da

conexão objetiva.

o E aí absolve-se o réu (ou os réus) da instância – desencadeia-se a consequência

típica da exceção dilatória pois a inexistência de conexão objetiva corresponde

à falta de um pressuposto processual.

E se estiver em causa um dos obstáculos à Coligação (art. 37º)?

= regime da Cumulação Objetiva

• PCS: Aplica-se o mesmo que vimos para a cumulação objetiva – não há nenhuma

particularidade nem desvios de regime, por isso não há regulação própria.

o Tem é que se verificar a competência absoluta para cada um dos pedidos – para

os vários objetos, cujos pressupostos processuais têm de ser conhecidos.

Salvaguarda do art. 37º/4 é para a Coligação, onde também há uma Cumulação de Pedidos.

Coligação Sucessiva: pode constituir-se por intervenção principal de um terceiro; pode

constituir-se por requerimento de uma das partes de apensação de ações (reunião num único

processo de ações distintas, quando, entre elas, se verificarem os pressupostos da coligação).

Art. 38º CPC Para sanar uma exceção dilatória o juiz NOTIFICA o autor e pede para ele escolher qual o pedido

que quer ver apreciado.

Se não houver conexão objetiva há exceção dilatória do art. 577º/f

• Juiz tenta suprir: art. 38º, 6º/2, 590º/2/a

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• Não suprida, há absolvição dos réuS da instância no despacho saneador: art. 38º, 278º,

595º/1/a34

Art. 39º CPC Tem várias configurações possíveis: subsidiariedade ativa com unidade de pedido;

subsidiariedade passiva com unidade de pedido; subsidiariedade ativa com pluralidade pedido;

subsidiariedade passiva com pluralidade pedido.

➢ Regra permite toda uma complexidade de configurações – que tem de ser

compatibilizada com 1 único processo.

Autores e réus em caráter de suplência – não aqueles que são primários

• Regra exclusiva em Portugal que permite que uma instância seja iniciada com um autor

e contra um réu principal e este réu principal vai defender-se em simultâneo com o

réu que é demandado subsidiariamente.

• Entre as várias coisas a discutir, uma delas será a discussão sobre qual é o réu/devedor

em sentido substantivo.

Situação anómala, com várias pessoas a impugnarem a mesma coisa e várias pessoas a pedirem

a mesma coisa e não sei exatamente o quê de quem.

➢ Total indefinição no arranque.

Critério de admissibilidade deste litisconsórcio é a dúvida.

• Dúvida fundamentada sobre o sujeito da relação material controvertida. Ex: descarga

poluente no rio, não sabe qual das 3 fábricas fez a descarga e o art. 39º permite que

toda a indagação quanto a isto seja feita no processo (bem como quanto à indemnização

e etc.)

No caso de coligação e cumulação de pedidos, onde se instaura a ação? Art. 82º/2 CPC

Tem um critério eletivo – autor pode escolher qualquer um deles desde que não esteja em causa

nenhum dos critérios do art. 104º/1/a

• Se ambos estiverem presentes no art. 104º/1/a, então o critério volta a ser eletivo

• Se um estiver no art. 104º/1/a e outro não, então aplica-se a regra desse artigo

• Ex: ambos no escopo do art. 71º (para onde o art. 104º/1/a remete) – é eletivo; um no

escopo do art. 71º e outro no do 80º - aplica-se o art. 71º (pois é para onde o art.

104º/1/a remete)

34 Aplicação do art. 595º/1/a faz caso julgado formal pelo art. 595º/3

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29

CUMULAÇÃO OBJETIVA INICIAL

CUMULAÇÃO OBJETIVA

SUPERVENIENTE

COLIGAÇÃO – art. 36º

Cumulação Subsidiária Própria – art. 554º

Cumulação Subsidiária Imprópria -

doutrina

Cumulação Simples – art. 555º

Reconvenção – art. 266º

Compatibilidade Substantiva dos

Pedidos

NÃO SIM Se faltar, Exceção Dilatória Nominada: art. 577º -> art. 186º/2/c -> art. 186º/1 CPC

SIM Se faltar, Exceção Dilatória Nominada: art. 577º -> art. 186º/2/c -> art. 186º/1 CPC

--- SIM

Compatibilidade Processual:

Competência Absoluta do

Tribunal

SIM – art. 37º/1 + 554º/2

SIM SIM – art. 37º/1 + 555º/1 Se faltar, Exceção Dilatória

SIM – art. 93º Se faltar, art. 583º/1

SIM

Compatibilidade Processual

Forma idêntica de Processo

para os Pedidos Cumulados

SIM – art. 37º/1 + 554º/2

SIM SIM – art. 37º/1 + 555º/1 Se faltar, Exceção Dilatória

SIM – art. 266º/3 Se faltar, art. 583º/1

SIM

Conexão Objetiva

NÃO MTS: SIM MTS: é desejável PCS: não (apenas tem o limite do art. 20º/4 CRP)

SIM – art. 266º/2

SIM

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30

NEGÓCIOS PROCESSUAIS

1. Introdução

Art. 190º CPC Brasileiro (2015)35 – quando o objeto do processo são situações jurídicas

cujo conteúdo, modo de exercício, constituição, modificação, transformação, cessão e

etc., o processo pode ser regulado pela autonomia privada.

No entanto, processo é Heteronomia

➢ Só existe perante a falência da Autonomia Privada

Essa heterodeterminação só é necessária na medida em que continue a não ser possível o

exercício da autonomia privada.

• Se ainda for possível a Autonomia ela é privilegiada pois é inerente à dignidade da

pessoa humana

o PCS: Não é por a Autonomia Privada ter falhado num momento que significa

que não pode voltar a funcionar; e, nomeadamente, no âmbito do processo.

▪ Ainda que não se consiga pôr termo ao conflito por ato de (duas)

autonomias privadas, eventualmente eu consigo pôr-lhe termo por ato

de uma autonomia privada.

▪ Consigo tambémregular outros aspetos do processo que não a solução

do conflito, através do exercício da autonomia privada. Ex: pactos de

jurisdição – não se consegue regular o conflito mas consegue-se que as

partes façam funcionar a autonomia privada; e funcionou numa zona

tipicamente heterónoma (dos pressupostos processuais).

➢ Autonomia privada tem importância no processo e pode

regular, inclusivamente, pressupostos processuais.

Processo é sequência de atos – atos que integram a sequência são todos aqueles que

resultaram de situações jurídicas processuais que se foram constituindo ao longo da cadeia.

➢ Isto significa que a configuração do ato complexo mais não é do que o resultado do

exercício das situações jurídicas, que leva à integração de atos no ato complexo.

Ao analisar o art. 190º CPC Brasileiro temos que podemos regular:

• Procedimento

• Situações jurídicas processuais

o Há duplicação?

▪ Sim. Procedimento é cadeia ordenada de atos, o que significa que

regular os termos do procedimento ou incidir sobre as situações

jurídicas processuais é exatamente o mesmo.

➢ Estas últimas são as situações jurídicas que, tendo efeitos no

processo, resultam do modo como previamente o ato do

procedimento esteve constituído.

35 Art. 190: Versando o processo sobre direitos que admitam a autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.

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31

No fundo, Negócios Processuais são atos processuais de carácter negocial que

constituem, modicam, ou extinguem uma situação jurídica processual.

• Podem ser Preparatórios (concluídos antes da propositura da ação, ex: pacto de

jurisdição) ou Interlocutórios (realizados durante a pendência da causa).

MTS: Negócios jurídicos que produzem diretamente efeitos processuais, i.e., atos processuais

de caráter negocial que constituem, modificam ou extinguem uma situação

processual. ➢ Requerem uma vontade de ação, uma vontade de declaração e uma vontade de

resultado num processo pendente ou futuro.

➢ São a expressão da autonomia das partes em Processo Civil.

o Eles produzem efeitos de caráter processual mas não são aptos a realizar

somente esses efeitos, podendo ter efeitos obrigacionais.

Não é partir de uma consagração escrita que se admitem Negócios Processuais

• PCS: desde que há processo que há negócios processuais.

• Ex: procuração para representação em processo, que tem eficácia no patrocínio

judiciário; há negócio jurídico que está a regular pressuposto processual. O mesmo com

o pacto de jurisdição que afeta a competência

Mas, este artigo tem levantado um grande problema

➢ O ponto de partida do Direito é que os Negócios Processuais são proibidos.

o PCS: visão errada pois havendo um campo fortemente marcado pela

heteronomia não implica que não haja autonomia (quando ainda é possível,

quer na composição do conflito ou regulação da instância).

o Os Negócios Processuais seguem o princípio do Direito Privado e são de livre

celebração, conhecendo limites.

Quando o CPC Brasileiro se refere a licitude, está, no fundo, a perguntar quais os limites aos

negócios processuais.

➢ O que a lei quer dizer é “válido” – não se quer que o negócio jurídico produza efeitos

fora destes limites da Autonomia Privada.

Quais são esses limites36 (aos Negócios Processuais)?

1. Vulnerabilidade – nesses casos não se pode dispor de nenhuma situação processual,

nem regular o procedimento.

• Autorregulação no campo da heteronomia deixa de funcionar se uma das partes

for vulnerável – aproximamo-nos das situações de desnível que o Direito volta

a nivelar.

2. Há zonas em que regulação não é possível – zonas de conhecimento oficioso, em que o

juiz conhece das questões (materiais ou processuais) pois há valores que ultrapassam os

interesses privados em discussão e, como tal, não podem ser regulados por um ato da

autonomia.

• Os interesses transcendem as partes, portanto elas não os podem regular.

• Autonomia privada não permite provocar esse efeito.

36 Não só da lei brasileira mas na admissão geral de Negócios Processuais.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

32

Este artigo veio permitir que, na Ordem Jurídica Brasileira, se criasse uma cláusula de atipicidade

dos negócios processuais – a partir desta cláusula todos os negócios são possíveis.

➢ PCS: mas não são APENAS possíveis a partir deste artigo.

o Não é o princípio da atipicidade e o consagrar de uma cláusula de atipicidade

que permite afirmar algo que decorre do sistema.

o Não precisamos de uma regra que o indique, a liberdade de estipulação e de

vinculação é tão grande quanto o direito privado, desde que se esteja a dispor

de interesses próprios.

Portanto, o Direito permite Negócios Processuais ➢ Que podem ser Unilaterais ou Bilaterais

MTS: a confissão, a desistência do pedido e a transação não são admissíveis relativamente a

situações jurídicas indisponíveis (art. 289º CPC e 1249º CC), i.e., a situações que não podem

ser constituídas, modificadas ou extintas por vontade das partes.

➢ Como a desistência da instância não produz nenhum desses efeitos sobre o objeto do

processo, a indisponibilidade deste objeto nunca a exclui.

2. Problemática Portuguesa quanto aos Negócios Unilaterais O art. 190º CPC BR romperia, no sistema jurídico português, a limitação do negócio jurídico

unilateral.

➢ Esta regra, que permite regular situações processuais que digam apenas respeito a um

sujeito, tem potencialidade, lida dentro do nosso sistema, pois abre a admissibilidade

dos negócios unilaterais com eficácia/incidência processual.

Doutrina Portuguesa afirma que Negócios Unilaterais só são vinculantes (só têm eficácia

autopoiética) nos casos admitidos pela lei.

➢ Isto porque se entende que toda a eficácia jurídica resulta do consenso.

➢ PCS discorda que tal de aplique ao Processo Civil

PCS: Processo Civil enquadra-se como um ónus

• Situações que se esgotam no próprio sujeito e não requerem a cooperação de outro.

o Portanto, a possibilidade de se admitir negócios unilaterais no processo é

enorme, por oposição daquilo que encontramos no âmbito do direito privado.

o Legislador brasileiro chamou a atenção para a admissibilidade da intervenção

da autonomia privada – apesar de tal já se admitir por derivar de princípios

gerais do sistema.

• Partes podem regular muito dentro do processo.

o Desde o modo como o Tribunal fica vinculado a resolver o conflito: celebrando

negócio que atinja pretensões materiais tal como deduzidas no processo.

Problemática dos Negócios face à Realidade do Processo Processo vai servir para saber se o autor conseguiu demonstrar, com força persuasiva

bastante, de que a sua versão da realidade é a versão correta e da qual resulta o efeito que

ele pretende.

➢ PCS: Presunção de inocência também vigora no Processo Civil

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

33

o O ponto de partida não é de que o réu é culpado – autor tem de provar que é

ele que tem razão

➢ Se autor não provar que tem razão, o réu é absolvido do pedido.

Para dizer que o autor tem razão, ele tem de ter razão em algo que pediu.

Como sabemos que aquilo que o autor pediu e o relato que ele faz da realidade é o correto?

• PCS: os factos e a realidade nunca estão no processo.

o O processo é reconstrução histórica e é relato de uma realidade que o

transcende.

o O processo não atinge a verdade.

• Função do processo é representar a realidade, sendo o erro algo inerente a essa

duplicação.

• Acerta-se a realidade possível atendendo à finitude humana e aos meios de que se

dispõe naquela concreta circunstância.

O NEGÓCIO PROCESSUAL DISPENSA TUDO ISTO – não se pede ao Tribunal que profira decisão

de mérito depois de acertada a realidade (através da produção e valoração da prova) e até se

“proíbe” o Tribunal de o fazer.

• Estamos num âmbito de negócios – que modificam, extinguem situações jurídicas

materiais anteriores.

• Portanto, através de negócio processual institui-se nova situação, no que respeita à

pretensão material que envolve a parte e a contraparte.

o Incide sobre a Pretensão material e não sobre o Direito material.

▪ PCS (em oposição a MTS): negócios não atingem situações jurídicas

materiais, nem o podem fazer, uma vez que não se sabe se elas

existem.

▪ É uma ficção dizer-se que através do negócio processual se regula a

situação jurídica material.

▪ Retira-se a acionabilidade da situação material – não é mais

acionável/discutível.

Tribunal está dispensado de verificar se a realidade descrita coincide ou não com aquela que

é necessária para desencadear os efeitos do tipo legal.

➢ Com o negócio processual, nunca se saberá se direito invocado existe ou não.

3. Que Negócios Processuais se podem celebrar?

Estes negócios incidem sobre o pedido e têm um efeito automático (prevalecendo o Princípio

do Dispositivo). Ex: se houver desistência do pedido, Tribunal não pode condenar o réu no

pedido

Art. 283º permite que a desistência e a confissão do pedido e a transação podem ser realizadas

em qualquer momento da tramitação da ação.

Unilaterais Não há elemento relacional e não depende da contraparte, apesar da eficácia relacional do

negócio, porque a contraparte está a ser beneficiada.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

34

➢ PCS: Não há necessidade de ficção do consentimento enquanto facto gerador de

juridicidade entre privados.

Pedida a condenação do réu no pedido, 2 Negócios Processuais podem ocorrer:

DESISTÊNCIA DO PEDIDO – autor desiste do pedido da pretensão material processualizada

condenatória do réu aquela prestação.

➢ Negócio unilateral através do qual o autor reconhece a falta de fundamento do pedido

formulado.

➢ Declaração de Acertamento: eficácia jurígena de que autor não pode mais discutir se

tem direito a essa prestação.

o Extingue a situação jurídica que o autor pretendia tutelar. 37

CONFISSÃO DO PEDIDO – réu confessa que tem o dever de prestar.

➢ Eficácia jurígena de dispensar o Tribunal da discussão e reconstituição dos factos.

o Proíbe-se o tribunal de discutir essa questão, retirando ao tribunal a jurisdição

sobre a pretensão material tal como processualizada.

o Retira ao Tribunal a instrução de saber se o que é alegado é verdade ou não –

tal já não interessa, pois funcionou a autonomia privada.

Negócio unilateral pelo qual o Réu reconhece o fundamento do pedido formulado pelo

autor38.

➢ Confissão do pedido equivale ao réu dizer “o autor tem direito àquilo que está a pedir”

– a decisão do juiz será a condenação do réu no pedido.

➢ Pode ser Total ou Parcial consoante o âmbito do reconhecimento realizado pelo réu. –

art. 283/1º CPC.

Pode ser:

• Simples – quando reconhece o pedido tal como ele é formulado pelo autor;

• Complexa – quando reconhece o pedido do autor mas opondo-lhe um contra-efeito

(depende de aceitação do autor. Ex: sim eu devo, mas, pagarei quando ele entregar a

coisa – situações de sinalagma)

A confissão do pedido não pode ser submetida a qualquer condição.

➢ Mas quanto à confissão de um pedido subsidiário: art. 554/1º CPC – deve entender-se

que normalmente ela só vale para o caso do pedido principal vir a improceder.

MTS: em termos de interpretação de negócio jurídico devemos entender que a confissão de um

pedido depois da condenação do réu39 – entre a notificação da sentença e o trânsito em julgado

37 Diferentemente da desistência da instância, a desistência do pedido representa o reconhecimento pelo autor de que a situação jurídica alegada não existe ou extinguiu-se. 38 Não se pode confundir com o confessar facto e o facto de se confessar todos os factos não significa que isso conduza à condenação do réu no pedido.

39 E podem haver negócios jurídicos processuais depois do proferimento da decisão sobre o mérito da causa, embora antes do trânsito em julgado?

• NÃO, se esses atos reproduzirem o conteúdo da decisão proferida, repetindo-o – pois a parte não tem interesse processual.

o Estes negócios convertem-se numa renúncia ao recurso que a parte vencida podia interpor.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

35

(art. 638º CPC) – equivale ao próprio réu dizer “eu estou satisfeito com a sentença, não vou

recorrer”.

Outro negócio processual

DESISTÊNCIA DA INSTÂNCIA – negócio através do qual autor renuncia ao exercício da função

jurisdicional (e obtenção de tutela jurisdicional que requereu) naquele preciso momento.

➢ Não é exceção dilatória e é negócio processual com eficácia dilatória.

➢ Para ser possível, situação jurídica em discussão tem de ser disponível e as partes têm

de ter legitimidade para o fazer.

Não marca qualquer posição do autor quanto à situação jurídica por ele alegada em juízo, pois

que apenas significa que essa parte desiste de procurar tutelar essa situação no processo

pendente.

➢ Apenas faz cessar o processo pendente – extingue a instância sem nada definir quanto

à situação jurídica alegada.

Autor dilata no tempo o exercício da função jurisdicional = composição do conflito.

A desistência da instância apenas faz cessar o processo pendente – art. 285/2º CPC: extingue a

instância sem nada definir quanto à situação jurídica tutelada.

• Declarada no processo, faz com que a instância se extinga e réu seja absolvido da

instância.

o Mas sendo o réu meramente absolvido da instância, tal significa que a repetição

do processo é possível.

➢ Se a desistência da instância for livre, o autor a quem a ação está a

correr mal desiste da instância.

➢ Por isso é que tem de haver um instrumento (como Substituição

Processual no caso da legitimidade, que tornava a parte em substituto

processual arcando com os efeitos), para proteger a contraparte que não

vê totalmente resolvida a sua situação jurídica e o autor poderia

manipular este negócio processual, criando a obrigação do Tribunal

absolver o réu da instância e, com isso, poder repetir tudo com uma

melhor estratégia.

▪ O instrumento que dá resposta a este problema é o de fazer

depender os efeitos da desistência da autorização/aceitação

do réu.40

❖ Art. 286º/1 CPC

▪ PCS: Bilateralização de um negócio que é unilateral.

De forma a tutelar os interesses do réu quanto à expetativa de obtenção de mérito favorável, essa

desistência fica dependente de aceitação do réu.

• SIM, se esses atos forem opostos ao conteúdo da decisão proferida

Desistência da instância é inadmissível sempre que a sentença proferida seja desfavorável ao autor, porque, de outra forma, constituiria um meio de o autor impedir a produção dos efeitos dessa decisão. 40 Se o réu não contestou e estivesse em revelia: pode sempre haver desistência da instância mesmo sem consentimento; até à sentença podemos sempre dizer que o autor pode desistir da instância sem consentimento do réu (quando este não contesta), porque se o réu tivesse alguma coisa a dizer, tinha contestado.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

36

MTS: não podemos ler a aceitação do réu da desistência da instância como renúncia ao pedido

reconvencional;

• Só podemos retirar da aceitação do réu uma renuncia ao seu direito reconvencional nos

casos em que o pedido reconvencional está na dependência do pedido principal.

o Ai é óbvio que se o pedido reconvencional depende do pedido principal, o réu

aceitando a desistência está obviamente a renunciar ao pedido reconvencional.

o Sendo os dois pedidos completamente autónomos, não se pode ver na

aceitação da desistência da instância uma desistência do pedido

reconvencional.

• Efeitos da desistência da instância retroagem ao momento da propositura da ação, tudo

se passando como se a ação nunca estivesse estado pendente.

A desistência da instância não cessa o direito do autor de voltar a propor a ação; os efeitos

retroagem até ao início – art. 285/2º CPC

MTS: desistência do pedido e confissão do pedido são negócios processuais em que se atinge o

Direito Material; não é isso que acontece na desistência da instância

• PCS: nestes negócios, que transcendem a realidade, o efeito é o de suprimir a faculdade

da acionabilidade da pretensão, não se podendo confundir a procedência ou a

improcedência.

Bilaterais

TRANSAÇÃO – contrato típico pelo qual as partes previnem ou terminam um litígio mediante

recíprocas concessões (art. 1248º/1 CC).

• Partes previnem o litígio através de recíprocas concessões.

o As concessões podem envolver extinção, modificação dos direitos no direito

controvertido.

• Não é um negócio intraprocessual.

o Regulam a solução do conflito e retiram ao tribunal a possibilidade de intervir.

➢ Se Tribunal fosse obrigado a intervir, tal seria uma ingerência

paternalista do Direito (e se autonomia privada ainda pode funcionar,

decisão heterónoma é sempre de evitar).

Preventiva/Extrajudicial: partes previnem um litígio futuro, não havendo qualquer ação pendente.

Judicial: partes terminam um litígio, pondo termo a um processo pendente.

Quantitativa: aquela em que as concessões recíprocas das partes se traduzem numa modificação

do quantum do objeto da causa. Ex: réu admite pagar uma parte do que o autor pretende e este

desiste de obter condenação do réu quanto à totalidade.

Novatória: aquela em que as concessões mútuas entre as partes implicam a constituição,

modificação ou extinção de direitos diversos do objeto do litígio. Ex: ação de reivindicação com

base na propriedade de um imóvel

Produz efeitos:

➢ materiais (definição da situação substantiva entre as partes);

➢ processuais (pode ser uma modificação do pedido ou na extinção da instância).

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37

4. Qual o resultado de um Negócio Processual? De acordo com a Teoria Geral do Processo, todo o processo termina com uma decisão

• PCS: Aceitamos a imutabilidade da decisão porque o processo que se percorreu foi o

que se considerou mais adequado para se atingir “juízos de certeza” acerca dos fatos

o Nunca é uma certeza e sim verosimilhança.

• No caso de Negócios Processuais, o juiz aceita como verdade aquilo que as partes lhe

apresentam, não indagando através do processo qual a situação mais verosímil dos

factos e que o levaria à justa composição do litígio.

o Apenas dá sentença homologatória

Termina com uma SENTENÇA

➢ Se alguma coisa se pediu ao juiz, tem de ser ele a decidir a instância.41

➢ Serve para assegurar que não foram ultrapassados os limites da Autonomia Privada.42

Decisão final do juiz serve para nos dizer se os pressupostos de validade processual do negócio

estão verificados.

• Juiz controla a licitude do objeto do negócio (art. 280º CC).

• Juiz homologa o negócio que as partes apresentaram, verificando se tal é de acordo com

o Direito.

Sendo atos de natureza negocial, não são declaração de ciência, no âmbito da autonomia

privada, portanto, podem ser atingidos por Vícios na Formação e na Declaração da Vontade.

• Surge um problema se, entretanto, juiz homologar o negócio e a parte vem alegar que

há um erro (dela própria, da parte)

o Quando a parte alega que o está errado é o negócio, pode atacar-se os títulos

em cadeia: ataca-se o negócio e consequentemente a sentença homologatória.

▪ Cassação em sequência de negócio + decisão homologatória.

• E quanto à realidade?

o PCS: não se atinge a realidade tal como ela existe.

o Apenas interfere com a realidade tal como acertada/pressuposta num concreto

procedimento43.

41 Devido a ter havido ato postulativo do autor, que desencadeia o exercício da função jurisdicional cujo objetivo é a resolução de um conflito. Ainda quanto aos atos constitutivos e postulativos (postula, postulatum – peço, rogo, requeiro) postular é sinónimo de pedir – é importante pois o ato de postulação provoca o exercício da função jurisdicional, aquilo que se pretende só é possível com a decisão, é o juiz que nos atribui o direito. “Dá-me os factos que eu dou-te o direito” a parte pede, e põe em marcha o poder jurisdicional, dependendo do conteúdo da decisão , o que significa que após a postulação segue-se o exercício da função jurisdicional, o juiz vai decidir e há sempre decisão.

➢ Nada disso acontece no ato constitutivo: onde se suprime o exercício da função jurisdicional: determinando o juiz a absolver o ato de extinção da ação, absorvendo esse ato da autonomia privada.

42 Historicamente, o Iudex só intervinha após Pretor verificar os atuais pressupostos processuais. Decisão do iudex servia para nos dizer se os pressupostos processuais estavam verificados, decidindo o Direito. 43 PCS: O grande problema é a Falha da Causa dos Negócios de Acertamento.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

38

PROVA

O Processo é uma atividade comunicativa – as partes comunicam factos ao Tribunal, tendo-o de

o convencer sobre esses mesmos factos

➢ A prova é necessária pois os factos, cuja prova está em causa, são aqueles de que

depende a procedência da ação.

A Prova pode ser enquadrada como a atividade que se destina a persuadir o Tribunal

a reconhecer que uma certa versão dos factos que lhe foi submetida corresponde à

realidade.44

➢ Tentativa da parte convencer o Tribunal que as coisas são como ela as descreve.

➢ MTS: Atividade realizada em processo tendente à formação da convicção do

Tribunal sobre a realidade dos factos controvertidos, i.e, a atividade que visa formar

na mente do julgador a convicção que resolve as dúvidas sobre os factos carecidos

de demonstração.

o Os meios de prova são os elementos que fornecem a informação que permite a

formação da convicção do Tribunal sobre a realidade daqueles factos.

Não é por um facto de ter sido alegado que determina o convencimento do Tribunal.

➢ O relato/encadeamento pode ser verosímil mas tal não implica que seja verdadeiro.

A prova é necessária quando aquilo que me revela, independentemente de todos estarem de

acordo, for algo em que não se pode cegamente confiar e se tem de ir indagar.

• Indagação não pode ser feita em Processo Civil, salvo raras exceções.

o Fora essas exceções não se pode indagar numa realidade que é

consensualmente relatada pelas partes (ou aceite por uma, relatada por outra).

• Essa indagação ocorre quando há versões contraditórias – há dois relatos, ambos

igualmente consistentes.

44 Castro Mendes distinguiu a aceção de prova em três sentidos: Atividade; Meio; Resultado.

Lebre Freitas reduziu a dois sentidos: Meio e Resultado.

Enquanto Meio a prova pode ser considerada na:

• Perspetiva estática da fonte de prova – pessoa ou coisa. o Fontes de prova pessoal: parte e a testemunha, enquanto conhecedoras de

factos relevantes para o processo o Fontes de prova real: documentos e monumentos, em que há registo dos factos

ou portadores de indícios naturais do facto relevante. ▪ Contendo registo são fontes de prova representativa. Por oposição às

fontes de prova indiciária que são meras indicadoras, tirando-se ilações delas.

• Perspetiva dinâmica de produção de prova – fator probatório. o Ato de revelação ou manifestação dos factos que resultam das provas.

Capacidade de revelar os factos relevantes para o processo. Enquanto Resultado a prova visa: Demonstrar a realidade dos factos alegados pelas partes (ou demonstrar a verdade da alegação por elas feita).

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

39

A realidade tal como vai sendo descrita no processo é dinâmica.

➢ Tal como é dinâmica a perceção do juiz face a essa descrição.

o Adquire-se conhecimento da realidade à medida que a prova vai sendo

produzida.

o Essa prova é, no fundo uma atividade de persuasão.

▪ A prova traduz-se numa realização de uma série de operações

materiais que configuram uma atividade de persuasão.

Prova leva a juízo de falsidade ou veracidade?

• PCS: Sim, mas num contexto limitado – com os limites epistemológicos e

procedimentais das capacidades humanas.

o Afere-se apenas que o relato realizado neste processo e para os efeitos deste

processo, de acordo com a prova produzida, é um relato verdadeiro.

o O que se diz ser verdade não é acertamento da realidade – que existe extra-

processo e é inalcançável.

• Conseguimos chegar apenas à conclusão que o relato feito pelo autor e a prova que ele

produziu sobre os factos de que depende a produção do efeito pedido ao Tribunal leva a

que tal se desencadeie (procedência), ou não (improcedência).

o O mesmo para o réu quanto às exceções.

O que significa CONVENCER? Processo psicológico e interno do juiz, sendo dinâmico ao longo do processo.

Função da Prova

• MTS: Prova tem por função transformar, através de elementos racionais e

controláveis, a incerteza sobre um facto numa decisão sobre a sua veracidade ou

falsidade.

o Como os factos são alegados em juízo, a função da prova é a demonstração

convincente de uma afirmação de facto.

▪ Dado que a verdade desta afirmação depende da sua correspondência

com a realidade (ou seja, a sua corroboração ou falsificação pelos facto),

a prova de uma afirmação de facto pressupõe a FORMAÇÃO DA

CONVICÇÃO DO JULGADOR SOBRE A CORRESPONDÊNCIA ENTRE O

AFIRMADO E O ACONTECIDO.45

45 Para a demonstração da verdade de um facto pode ser necessário utilizar certas regras ou técnicas científicas – não sendo de conhecimento comum podem as partes e o tribunal socorrer-se da prova pericial, que se destina a realizar a prova através de pessoas com especiais conhecimentos técnicos ou científicos (peritos). Para efeitos de prova considera-se qualquer facto jurídico, i.e., qualquer facto que integra uma previsão legal – factos materiais (suscetíveis de serem determinado no tempo e no espaço), factos hipotéticos e factos psíquicos (estados anímicos relativos à vontade, conhecimento, sentimento e etc.) Objeto de prova pode recair sobre factos positivos ou negativos. Objeto de prova pode recair sobre factos simples ou complexos. Juízos de valor que integram as previsões legais não constituem objeto da prova, porque compete ao tribunal formar esses juízos no momento da decisão.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

40

Juiz é equidistante e após ouvir as partes determina heteronomamente o caso, sobre o qual

não deve ter dúvidas – e em última instância isso é que significa convencer, tirar as dúvidas ao

juiz.

• Juiz tem de perceber a realidade sobre a qual tem de decidir.46

o Competindo-lhe, por isso, fazer todas as perguntas necessárias para que recolha

toda a informação para decidir.

• Tem de se comportar de forma a que recolha as respostas para nunca dizer “não sei”

face ao caso.

o Indaga os factos pertinentes para a resolução do litígio.47

▪ Dentro dos factos importantes para a resolução do litígio, o juiz tem de

atender apenas aos factos alegados pelas partes, devido ao princípio do

dispositivo.48

Juiz tem dever de permitir as partes a persuadi-lo, de forma a que ele não ter dúvidas.

➢ Posição não passiva do juiz que é essencial para uma boa compreensão do Princípio

do Contraditório.

o O contraditório existe para a persuasão do decisor.

Matriz Processual Portuguesa impõe que juiz tente esclarecer as partes sobre aquilo de que ainda

tem dúvidas, que tente esclarecer-se a si próprio através da realização autónoma de atividades

instrutórias e permitir que as partes o convençam.

➢ Para nunca ter de dizer “não sei”.

Matriz Inquisitorial do Processo

Típica dos sistemas de Civil Law

Vs.

Matriz Adversarial do Processo

Típica dos sistemas de Common Law

o Em que a prova também é para convencer o juiz, que não tem poderes tão

intensos de intervenção (quanto os juízes romano-germânicos).

o O juiz passivamente observa o julgamento – visão de neutralidade que chega a

este extremo.

▪ PCS: neutralidade tem como base o dever de imparcialidade.

▪ Mas, o juiz interventor não tem necessariamente de violar a sua

imparcialidade.

• O juiz que viola a imparcialidade é aquele que só ouve

alegações de uma parte; não viola a imparcialidade aquele que

quer acertar, naquele processo, a realidade,

independentemente da parte que beneficia.

46 Ao passo que os advogados tentam destruir a força persuasiva do meio de prova. 47 Só se tenta fazer a prova, demonstrar e criar esta convicção no juiz, sobre factos relevantes para a solução que está a ser alvo de ação em juízo. 48 Ainda assim, conseguimos excluir alguns factos de serem provados, pois só alguns factos precisam de prova.

➢ O que carece de prova são os factos que se enquadram no art. 574º/2 CPC e que não se consideram admitidos por acordo, e também os factos de situações em que há uma revelia inoperante (art. 578º CPC).

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

41

• O que o juiz não pode é desnivelar as partes, no exercício dos

seus deveres assistenciais.

No sistema da Common Law o titular do interrogatório é o advogado.

≠ Matriz Inquisitorial

O juiz é que se dirige à testemunha em primeiro lugar, pedindo que esta se comprometa a dizer

a verdade (ajuramento da testemunha), porque podemos estar perante o preenchimento de um

tipo penal (perjúrio), daí que seja o juiz, o titular do órgão perante o qual a testemunha cometeu

um ilícito penal (se a testemunha incorre em mentira, tal é perante o Tribunal).

Em seguida, Tribunal permite a que os advogados das partes questionem a testemunha.

• Mas tem de ser o juiz a permitir: Juiz reverte o direito, que lhe pertence de origem, para

que o advogado interrogue a testemunha.

• O juiz, querendo, podia interrogar a testemunha do início ao fim sem dar a palavra aos

advogados.

• Juiz defere o exercício do direito de interrogar/esclarecer primeiro ao advogado que

arrolou a testemunha e em seguida ao outro para contra-interrogatório (que são

meros pedidos de esclarecimento à testemunha e não perguntas autónomas, pois a

prova foi indicada por uma das partes. Advogado pode é arrolar a testemunha como

prova desta parte também e aí já pode fazer perguntas autónomas).

O titular do interrogatório é o juiz (ou o Tribunal), sendo o destinatário da prova.

➢ O juiz de Civil Law intervém e faz perguntas de forma a que consiga traduzir

racionalmente, através da fundamentação da decisão, o porquê de ter sido

convencido daquela maneira. o Convencimento tem de ser a tradução racional da prova produzida.

Supremo Tribunal Federal Suíço não reconheceu uma decisão de um tribunal de Common Law

pois o juiz de Common Law nada fez e determinou que muitas das questões não sabia.

• O direito aplicável à causa era o Direito material Suíço, que pressupõe um certo sistema

instrumental de aplicação.

• Ora, se juiz não faz aquilo que o sistema Suíço pressupõe que seja feito quando se aplica

o seu direito, a decisão não é uma boa decisão e portanto não é reconhecida.

• Juiz não quis tudo fazer para ter um convencimento racionalizável através de uma

fundamentação, esclarecendo-se e indagando de modo a poder acertar a realidade.

o Isto é grave pois juiz heterodetermina as situações jurídicas dos sujeitos – e é

para isso que serve a prova e a sua maior consequência.

Portanto, a Prova é atividade que visa demonstrar uma certa visão da realidade.

➢ LF: A produção dos meios de prova no processo visa demonstrar a realidade dos

factos alegados pelas partes ou, noutra perspetiva, demonstrar a verdade da

alegação por elas feita = resultado probatório.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

42

A prova tem como Objeto os Factos. Delimitado pelos factos alegados pelas partes.

Os factos são invocados pelas partes49, em cumprimento de um ónus de alegação, com a

expetativa de que, caso esses factos sejam controvertidos e relevantes para decisão da causa,

elas possam cumprir o ónus da prova quanto a eles, i.e., consigam convencer o tribunal da sua

veracidade.

• A prova tem por objeto os factos pertinentes para o objeto do processo, sendo

excluídos os conceitos de direito.

o A primeira linha de factos a ter em conta são os factos principais da causa –

apesar de serem os factos instrumentais a forma de atingir a prova dos factos

principais, eles são também objeto de prova.50

Apreciação do pedido formulado pela parte depende dos factos que são invocados como causa

de pedir ou como fundamento da exceção e dos respetivos factos complementares.

➢ Essa apreciação não é condicionada pelos factos instrumentais alegados pelas partes,

pois o tribunal pode utilizar outros factos probatórios, mas também porque os factos

principais podem ser provados diretamente, sem a mediação dos factos instrumentais.

➢ Portanto, o objeto da prova só pode ser constituído pelos factos principais alegados

pelas partes.

Há factos principais alegados pelas partes que podem constituir o objeto probatório, mas nem

todos eles necessitam de ser provados – não se integram no objeto da prova, onde se integram

só os factos constantes da base instrutória (factos controvertidos, contestados e etc.).

➢ Factos que foram alegados por uma das partes e não impugnados/contestados pela

outra não necessitam de ser provados.

Objeto da prova está na disponibilidade das partes, pois este é definido em função da conduta

que estas assumem em juízo e não de qualquer posição do tribunal da ação: ainda que este

considere desejável a realização de prova sobre um certo facto, ela está excluída se o facto não

tiver sido impugnado.

Outros factos que não devem ser selecionados para a base instrutória são os factos não

pertinentes: aqueles que não são relevantes para nenhuma das possíveis soluções de direito da

ação.

49 Pais Amaral: O nosso sistema processual é baseado no princípio do dispositivo, o que implica que o juiz só pode julgar com fundamento nos factos alegados e provados pelas partes, não podendo indagar por sua iniciativa, os factos relevantes para a decisão. 50 Juiz deve dar indicação sobre os factos instrumentais sobre os quais a prova deve recair ou só os factos principais?

➢ PCS: esta questão já não se coloca pois não trabalhamos com factos mas com temas de prova Não tem necessariamente de se inquirir factos necessariamente essenciais pois a prova, em si, pode recair sobre factos indiciários (que levam indiretamente à prova do facto).

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

43

Direito à Prova Direito de acesso à justiça e aos tribunais (art. 20º/1 CRP) e o direito ao processo equitativo

(art. 20º/4 CRP) asseguram à partes a produção de prova dos factos favoráveis (direito à prova)

e a contradição da prova realizada pela outra parte (direito à prova contrária51).

O direito à prova cede perante:

1. Provas ilícitas – aquelas que obtidas de forma ilegal ou cuja produção constitui um

ilícito.

• No geral, todas aquelas em que a prova tenha sido obtida com desrespeito da

intimidade e/ou da dignidade da pessoa humana.

• Ex: métodos do art. 32º/8 CRP aplicável analogicamente ao processo civil;

detetive particular desrespeita privacidade; quebra de segredo profissional e

etc.

• São insuscetíveis de serem valoradas pelo tribunal – não podem servir de

fundamento a qualquer decisão.

2. Provas proibidas – aquelas que, apesar de não serem ilícitas, não podem ser

produzidas em processo.

• Ex: prova testemunhal não pode ser admitida para provar um facto contrário

àquele que se encontra plenamente provado por documento (art. 393º/2 CC);

declarações no processo de averiguação de maternidade/paternidade não

podem ser usadas numa posterior ação de reconhecimento de

maternidade/paternidade (art. 1808º, 1811º e 1868º CC).

Todas as pessoas, ainda que não sejam partes na causa, têm o dever de prestar a sua

colaboração para a descoberta da verdade (contingente), em matéria de prova.

➢ Expressão do dever de colaboração com a administração da justiça (art. 202º/3 CRP)

➢ Há interesses superiores que legitimam a recusa de colaboração – provas proibidas –

art. 417º/3

O direito à prova implica um correlativo dever de motivação da decisão de facto através de

argumentos legais e racionais – enquadra-se no dever geral de fundamentação das decisões

judiciais (art. 205º/1 CRP; art. 154º CPC) e constitui um elemento essencial para o controlo da

correção da decisão pelo próprio tribunal, pelas partes e pelo eventual tribunal de recurso.

➢ Nesta motivação, tribunal deve especificar os fundamentos que conduziram á formação

da sua convicção sobre a veracidade de um facto.

Contratos Probatórios Negócios processuais pelos quais as partes regulam os factos carecidos de prova ou a

repartição do ónus da prova de um determinado facto ou indicam os meios de prova

admissíveis para a prova de um certo facto.

Podem, portanto, ser contratos sobre:

A. Objeto da prova – definem quais os factos sobre os quais deve recair a produção de

prova das partes. Normalmente as partes indicam, em simultâneo, os factos que

51 Está sempre garantida a audiência contraditória em matéria probatória – art. 415º CPC

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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admitem por acordo e aqueles que consideram controvertidos (restringindo a prova a

estes últimos).

B. Ónus da prova – art. 345º/1 CC

C. Meios de prova – admitem um meio de prova diferente daqueles que estão legalmente

previstos para a prova do facto ou excluem um desses meios (art. 345º/2 CC). Ex: partes

podem convencionar que para certo facto, apesar de ser admissível prova testemunhal,

só pode ser provado documentalmente.

Estes contratos só podem recair sobre situações jurídicas disponíveis.

➢ E em muitos deles a parte onerada não pode ter uma excessiva dificuldade na prova do

facto, uma vez que tal pode traduzir-se na própria dificuldade de exercer o

correspondente direito.

➢ Não podem contrariar disposições legais e de ordem pública.

o São excluídos os acordos pelos quais as partes definem o valor probatório de

um meio de prova – não podem modificar o valor de prova legal ou de prova

livre fixado pela lei para os vários meios de prova.

Estes contratos são vinculativos para as partes e para o tribunal da causa.

Ónus da Prova Tendo em conta que a Prova é instância de persuasão – para demonstrar que aquela é a

realidade – podem mobilizar-se meios de prova para conseguir uma posição persuasiva de

vantagem na demonstração do acerto da realidade, tal como descrita.

O Ónus da Prova preenche uma função distinta consoante seja entendido em sentido objetivo ou

subjetivo.

• Subjetivo: quem tem de fazer o quê

• Objetivo: sobre o que é que se tem de fazer prova

Regras sobre ónus da prova, seja subjetivo ou objetivo, só vão ser postas em ação pelo juiz.

• O juiz é o destinatário das regras.

• O juiz é que aplica as regras no momento da decisão, quando avalia o resultado de toda

a prova produzida no processo.

Ónus Subjetivo reverte, quando a prova não é feita (por qualquer um), contra aquele que tinha

o ónus de provar.

Ónus Objetivo é quando independentemente de toda a prova produzida, o juiz tem dúvida na

resposta a dar à questão se o facto foi provado ou não.

Tudo isto tem de acontecer após a instrução -> ocorre na decisão.

• Momento da decisão é o momento de intervenção dessas regras.

• Art. 8º/1 CC – Tribunal não pode abster-se de julgar, invocando a falta ou obscuridade

da lei ou alegando dúvida insanável acerca dos factos em litígio.

o Ainda que o juiz tenha dúvidas quanto à ocorrência ou não ocorrência dos

factos, não pode deixar de proferir uma decisão de fundo sobre a questão

suscitada.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

45

o Tem de definir a relação material controvertida como se no seu espírito se

tivesse formado uma verdadeira convicção acerca da prova dos factos.

o Tem, em suma, de dirimir o conflito suscitado entre as partes.

Regras de ónus da prova (e ónus de alegação) são orientações de estratégias processuais.

➢ Tem de se orientar a estratégia para investir esforço probatório das partes na prova de

certos factos, pois sabe que as consequências dessa não-prova serão prejudiciais a essa

parte.

Ónus da Prova Subjetivo

MTS: diz respeito à determinação da parte onerada com a prova do facto, i.e., à repartição do ónus

da prova pelas partes da ação. Essas regras definem a atuação das partes em juízo, sendo

regras de conduta. ➢ Regras que definem a conduta probatória da parte e delimitam o âmbito do

conhecimento do tribunal.

O Ónus da Prova Subjetivo serve para saber quem tem de provar o quê, sob pena de sofrer as

consequências negativas em caso de ausência de prova.

➢ PCS: atenção que não é ausência de prova “por aquele que tem o ónus”, é meramente

“ausência de prova”.

Um pode ter o ónus mas a prova é de qualquer um

➢ LF: Ter o ónus da prova não significa que se tenha o exclusivo da prova.

o Implica apenas a conveniência de ter a iniciativa da prova, a fim de evitar a

consequência desfavorável da sua falta, consistente em não poder ser

considerado, como base da decisão, o facto não provado (art. 414º).

▪ Começa a implementar-se a expressão: ónus de iniciativa da prova

➢ Pais Amaral: Não é indispensável que a prova seja feita pela parte sobre a qual recai o

ónus.

o O que importa é que a prova seja feita, i.e., o juiz fique convencido.

Em Processo Civil, vigora:

• Princípio de Aquisição Processual, em fase instrutória (art. 413º CPC)

o o juiz deve tomar em consideração todas as provas produzidas, tenham ou não

emanado da parte que devia produzi-las, sem prejuízo das disposições que

declarem irrelevante a alegação de um facto, quando não seja feita por certo

interessado.

o Provas produzidas no processo consideram-se como adquiridas para o efeito da

decisão do mérito da causa, sem que interesse averiguar qual das partes as

produziu.

▪ O que importa é que os factos relevantes para a decisão estejam

provados.

▪ O que se pergunta é se o facto em concreto foi provado ou não. Isto é,

se se chegar à conclusão que não foi provado, independentemente do

meio de prova mobilizado para tal, de quem produziu todas as provas,

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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havendo ausência de prova, o ónus reverte contra a parte que devia ter

provado e não provou.

➢ Qualquer um pode provar, só um sofre as consequências

negativas de não ter sido provado.

O ónus da prova subjetivo diz respeito à determinação da parte onerada com a prova do facto,

i.e., à repartição do ónus da prova pelas partes da ação.

• Definem a atuação das partes em juízo – são regras de conduta.

o PCS: Regra do Ónus Subjetivo orienta a estratégia processual – pois sabe-se de

antemão que se não se der esse facto como provado, tal reverte contra quem

não o provou.

▪ Mas não se pode dizer de antemão que é essa parte que tem de fazer

prova, o que se pode dizer é que se o facto não for provado reverte

contra essa parte.

• Define a conduta probatória da parte e delimita o âmbito de conhecimento do

tribunal.

No art. 341º CC temos a função das provas.

➢ PCS: nunca usa a palavra verdade – prova movimenta-se no mundo da ontologia e não

de um juízo.

o Prova nunca alcança a verdade e somente a realidade contingente.

Art. 342º/1 CC “Àquele” – a lei não especifica se é autor e réu

➢ Aplica-se a ambas as partes.

A regra não diz que quem alega o facto tem o ónus de o provar – ónus de alegação e ónus de

prova tipicamente tendem a coincidir, mas, a lei não estabelece essa coincidência como algo

imutável.52

• Não tem necessariamente de ser o autor.

o Pode ser o autor que é confrontado pelo réu com a alegação de um direito.

• O ónus da prova subjetivo não distribuído em função de posições processuais

“invocar um direito”

Precisamos do conceito de causa de pedir para determinar o âmbito das exceções de

litispendência e caso julgado: art. 581º/4 CPC • O que tem a ver o direito alegado do art. 342º CC com a pretensão do art. 581º/4 CPC?

o Relação com a causa de pedir

Tem a ver com os factos essenciais (art. 5º)

Os factos essenciais são a verificação da previsão da norma; estando o pedido na estatuição.

52 PCS: Normalmente lê-se o art. 342º CC como ele não está escrito – não diz que aquele que alega tem de provar. Isto porque muitas vezes, para construir uma narrativa, usam-se factos que cabe à contraparte provar.

➢ Tendencialmente o ónus de prova e o de alegação coincidem mas não sempre.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

47

Princípio do Iure Novit Curia – do direito cuida o tribunal53

• Não se pode dizer que o direito invocado é a regra invocada.

o Ligação do iure novit curia com o princípio do contraditório (eu estou-me a

defender de um tipo e não de outro).

▪ Ainda que o efeito seja idêntico e que os factos sejam os mesmos, o juiz

altera o tipo legal ao abrigo do qual o juiz vai proferir a decisão.

• MTS: defende que é inócua para o exercício do contraditório

• PCS: essa decisão de alterar o tipo legal não é inócua. Tal visão

desconsidera que o processo é estratégico e que a defesa

aduzida não é só do facto nu, mas, do facto reconduzido a um

tipo.

O direito alegado é o efeito em conjugação do facto e o tipo legal concreto.

➢ Tem de se olhar para o tipo legal invocado, para aquilo que a parte retira como efeito,

e perguntar se à luz desse tipo legal, um certo facto tem natureza constitutiva (se se

retirar o facto o efeito não se desencadeia) – se não se desencadear (com a não prova

do facto), o facto é essencial e em princípio integrará a causa de pedir e não a matéria

da exceção.

o Se se retirar o facto, i.e., não se der como provado portanto não existe para o

processo pois tem-se como não verificado. Cai o tipo e o efeito não se

desencadeia. Se assim for, é essencial, integrador da causa de pedir e

constitutivo.

“prova dos factos constitutivos do direito alegado”

Factos Constitutivos devem ser provados pela parte que, com fundamento neles, alega uma

situação jurídica.

➢ Decorre que não é a parte que nega os factos alegados pela contraparte que está

onerada com a prova de que esses factos não são verdadeiros, mas a parte que os alega

tem o ónus de provar que eles são verdadeiros.

A cada uma das partes cabe o ónus de provar os factos que constituem o pressuposto das

normas de cuja aplicação depende o êxito da sua pretensão. Cada uma das partes tem o ónus

de provar os factos que constituem os pressupostos da norma que lhe é favorável.

• Autor – factos que servem de fundamento à ação são os factos constitutivos: autor

propõe a ação para fazer valer certo direito que se arroga contra o réu.

o Esses factos podem ter o efeito de impedir, modificar ou extinguir o direito.

• Réu – por meio de contraprova, vem convencer o juiz de que o facto alegado pelo autor

não é verdadeiro ou, coloca a dúvida no espírito do juiz acerca desse facto, pois, em caso

de dúvida, o juiz terá de decidir contra a parte a quem cabia o ónus de provar o facto.

53 Brocado construído na Idade Média tardia – direito é conhecido do tribunal e não das partes porque tipicamente as partes não sabiam ler nem escrever com proficuidade e havia direito antes de haver impressa; na idade média o juiz era o único que sabia ler e escrever e que tinha acesso ao próprio direito. O Direito não pode desconsiderar a sociedade onde se vai aplicar, portanto, não é possível exigir que as partes soubessem o direito para o exigir ao juiz.

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48

Art. 342º/2 CC “Factos impeditivos, modificativos, extintivos”

➢ Exceções Perentórias

o Factos fundamentadores das exceções perentórias têm de ser alegados pelo réu

– art. 5º/1, 2ª parte.

o Como forma de paralisação da causa de pedir do autor.

A parte que deve provar é aquela que nega a situação subjetiva afirmada pela contraparte.

Isto também por razões de ordem prática. Ex: o mutuante que pede restituição da quantia

mutuada deve provar o respetivo contrato de mútuo, mas não tem de demonstrar que esse

contrato não está inquinado por nenhum vício atinente à capacidade dos outorgantes, à forma

da celebração, emissão das declarações negociais e etc.

Só perante a situação concreta é que se pode determinar a qualificação do facto. Se na previsão

da norma invocada pelo demandante se integra um facto impeditivo, modificativo ou extintivo, esse

facto funciona como facto constitutivo da situação subjetiva decorrente daquela norma. Ex: na

ação de apreciação do pagamento de uma dívida deve ser provado pelo autor esse facto extintivo

da obrigação, que, relativamente à situação alegada, é um facto constitutivo.

Efeito no direito – não na natureza – é algo normativo, valorativo.

• Aqui estamos a dizer que o direito alegado ou não se constituiu, ou se modificou ou se

extinguiu.

Do art. 342º retira-se que a prova dos factos constitutivos do direito compete àquele

que o invoca e que a prova dos factos impeditivos, modificativos ou extintivos desse

direito cabe àquele contra quem a invocação é feita – partindo do pressuposto que o facto

se encontra qualificado.

Art. 342º/3 CC “em caso de dúvida” = non liquet

• Os factos devem ser considerados como constitutivos do direito

o PCS: demonstração cabal de que no processo civil, tal como no processo penal

vigora uma presunção de inocência.

o No caso de dúvida tudo reverte contra aquele que alega o direito, porque

quando não se sabe qual a eficácia do facto, diz-se que ele é um facto essencial

e que desencadeia o efeito que aquele que alega o direito pretende ver

consagrado.

▪ Posição de partida onera mais fortemente o autor que o réu.

Isto tudo se aplica mesmo que seja um facto negativo.

• Muitas vezes essa prova é muito difícil pelo que se pede alguma razoabilidade ao

tribunal na apreciação da provado facto negativo.

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49

Quando o facto negativo constitui o próprio objeto do processo

Art. 343º/1 CC – Casos de Simples Apreciação Negativa

Nestes casos, o réu é a parte onerada com a demonstração dos factos constitutivos, cabendo

ao autor a prova dos factos impeditivos, modificativos ou extintivos da situação jurídica para

a qual é requerida a apreciação negativa.54

• A regra não isenta o autor de provar os factos que invoca como fundamento do seu

pedido de apreciação negativa.

o Esta repartição do ónus da prova compreende-se porque o réu pode utilizar a

reconvenção para pedir, caso o deseje, a apreciação positiva do direito negado

pelo autor.

o Para que o réu obtenha o reconhecimento do direito negado pelo autor, não

basta que impugne o pedido do autor, pois a improcedência de uma ação de

apreciação negativa não implica o reconhecimento de qualquer situação

jurídica, mas apenas o não reconhecimento da inexistência da situação jurídica.

Interesse processual nestes casos é em relação à seriedade da dúvida em que o autor se

encontra, para pedir que seja esclarecida, através de uma decisão judicial essa mesma situação.

• Quanto mais a Tatyana Franchuck falasse mais era o interesse do autor de ver justificado

que o tribunal dissesse se é devida ou uma prestação.

• Alves pediu ao tribunal português uma ação de simples apreciação negativa: exigindo

uma decisão judicial que clarifique que a Tatyana não tem o direito a uma prestação (e

com isto criou exceção de litispendência para impedir que ela colocasse a ação num

tribunal inglês cuja consequência podia ser o pagamento de 130 milhões de libras)

Autor apenas tem de identificar o direito cuja apreciação negativa quer ver reconhecida pelo

tribunal.

• Cabe ao réu mostrar ao tribunal que o direito não existe e mostrar razões para que o

tribunal considera como esse direito existente.

Não é inversão nenhuma pois continua a ser aquele que alega o direito que tem de o vir provar

– só que neste caso é o réu que prova os factos constitutivos do direito, de que se arroga contra

o autor.

• PCS: não é regra de inversão do ónus da prova porque o art. 342º não liga às posições

processuais.

o Os pontos de referência são diferentes.

o O art. 343º é em relação a uma situação jurídica processual e está pensado

para um certo tipo processual, ao passo que o art. 342º independe do tipo

processual.

Ónus da Prova Subjetivo tem a consequência de a parte ser prejudicada se não for feita prova.55

54 Art. 343º não contradiz o art. 342º pois o primeiro observa a posição processual atendendo à estrutura da ação a partir da qual está a ser regulada a matéria do ónus da prova enquanto o segundo observa o direito. 55 Mas não se pode dizer que é prejudicada se não for feita prova da qual tinha ónus. Temos de relacionar com o princípio da aquisição processual (no final da instrução) que intervém antes do funcionamento do ónus da prova (na decisão).

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50

• Regras de distribuição esclarecem como se reverte os efeitos da ausência de prova

(contra quem reverte o facto não provado).

• São as regras do ónus da prova que definem o critério que o juiz deve adotar para

proferir a decisão.

Art. 343º/1 – regra não isenta o autor de provar os factos que invoca como fundamento do seu

pedido de apreciação negativa.

Art. 343º/2 – o prazo de propositura da ação é considerado pela perspetiva do seu decurso e, por

isso, é qualificado como um facto extintivo, pelo que incumbe ao réu provar.

Art. 343º/3 – condição suspensiva e termo inicial são considerados factos constitutivos, mas, a

condição resolutiva e o termo final são qualificados como factos extintivos e, por isso, tratados,

também quanto ao ónus da prova, como exceções perentórias.

Art. 344º CC – Inversão do Ónus da Prova

Ocorre quando não é sobre a parte normalmente onerada com a prova do facto que recai o ónus

de o demonstrar, mas sobre a contraparte que incide o ónus de provar o facto contrário.

• Se o ónus da prova se inverte, este ónus não acompanha o ónus de alegação, pois que

a prova não incumbe à parte favorecida com a demonstração do facto e onerada com a

sua alegação, mas à parte que pode beneficiar do facto contrário.

o Em princípio, quem tem o ónus de alegar (os factos que constituem a causa de

pedir e os que fundam as exceções) tem também o ónus de provar os fatos que

do primeiro são objeto (art. 342º CC).

▪ Mas esta coincidência do âmbito do ónus da prova com o do ónus da

alegação cessa quando a lei ou as partes determinam a inversão

primeiro.

• Esta inversão implica uma modificação do thema probandum, pois a prova exigível a cada

uma das partes é a contrária daquela que pode ser imposta à contraparte. Ex: se a

inversão do ónus da prova recai sobre um facto constitutivo do direito alegado pelo autor

(culpa do réu no incumprimento), incumbe ao réu provar o contrário desse facto

constitutivo (inexistência de culpa ou causa de exclusão da culpa).

A. Presunção legal (art. 344º/1 CC) – consiste na ilação que a lei tira de um facto conhecido para

firmar um facto desconhecido (art. 349º CC).

• Dispensa a prova dos factos presumidos (art. 350º), o que se traduz num benefício para

a parte onerada com a prova do facto presumido.

• A parte que tem a seu favor a presunção legal escusa de provar o facto a que ela conduz

(art. 350º/1 CC).

Basta que seja provado o facto que serve de base à ilação – apela a regras de experiência que,

atendido o elevado grau de probabilidade ou verosimilhança da ligação concreta entre o facto

que constitui a base da presunção e o facto presumido, permitem dar este por assente quando

o primeiro é provado.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

51

À parte só incumbe provar o facto probatório (que constitui a base da presunção), porque da

prova desse facto deduz-se, através da presunção, o facto que constitui o thema probandum.

À contraparte incumbe a elisão da presunção (art. 350º/2), i.e., apesar da prova do facto

probatório, o facto presumido não é verdadeiro.

B. Dispensa ou liberação legal do ónus da prova (art. 344º/1 CC) – obtenção de um resultado

probatório sem a apresentação dum meio de prova ou qualquer atividade probatória: o facto

dispensado de provar é dado por assente por razões diversas duma regra de experiência. Ex: art.

68º

➢ Quando a lei declara um facto como certo até à prova do contrário. Ex: parte que

pretende provar a boa ou má fé da posse pode demonstrar, em sua substituição, o

caráter titulado ou não dessa posse.

C. Dispensa ou liberação convencional do ónus da prova (art. 344º/1 CC) – as partes podem

convencionar a inversão do ónus da prova, dela dispensando a parte de outro modo onerada,

salvo se o direito não for disponível ou tal convenção torne excessivamente difícil a posição da

parte contrária.

D. Impossibilitação culposa da prova pela contraparte do onerado/Frustração da Prova (art.

344º/2 CC) – quando uma das partes tiver culposamente tornado impossível a prova à parte

onerada com ela.

• Exige conduta negligente ou dolosa da parte.

o Impossibilidade culposa da prova exige uma conduta negligente ou dolosa da

parte, que pode verificar-se antes ou durante a pendência do processo onde a

prova devia ser realizada.

▪ Esta é uma consequência da situação objetiva, que é a impossibilidade

de a contraparte usar certo meio de prova – inversão sanciona mais o

resultado causado do que a conduta causadora.

Isto é diferente da situação em que a parte se recusa a prestar informações (art. 357º/2 CC).

• Diferença são as consequências: impossibilidade culposa determina a inversão do ónus

da prova; recusa do depoimento é livremente apreciada pelo tribunal para efeitos

probatórios

o Impossibilidade culposa determina inversão do ónus da prova (art. 344º/2, 1ª

parte CC) e recusa de depoimento é livremente apreciável pelo tribunal (art.

357º/2, in fine CC).

o Ambos têm expressão no art. 417º/2 CPC, pelo que este preceito é aplicável

tanto num caso como no outro.

E. Permissão de julgamento segundo a equidade – situações de prova difícil (ex: art. 496º/2,

1594º/3 CC)

Ónus da prova traduz-se, para a parte a quem compete, no encargo de fornecer a prova do facto

visado, incorrendo nas desvantajosas consequências de se ter como líquido o facto contrário,

quando omitiu ou não logrou realizar essa prova, ou, sofrendo as consequências da ausência

dessa prova.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

52

Se juiz ficar com dúvidas sobre a realidade do facto, deve decidir contra a parte a quem incumbia

o ónus da prova desse facto.

Podem suscitar-se dúvidas a outro nível: dúvidas sobre a prova do facto ou sobre a repartição

do ónus da prova56.

• Resolve-se contra a parte a quem o facto aproveita: art. 414º CPC.

Ónus da Prova Objetivo

MTS: diz respeito às consequências da não realização da prova, i.e., da falta de convicção do juiz

sobre a realidade de um facto (situação de dúvida non liquet).

Apesar de todos os esforços, pode chegar-se ao final do processo e juiz ter dúvidas: a prova,

como critério de desempate, não funcionou.

• Lei tem de dar critério de salvaguarda para desempatar a dúvida contra a parte que

seria beneficiada pela certeza.

o Desempatar a dúvida contra a parte que seria beneficiada pela certeza = ónus

da prova objetivo.

▪ PCS: raramente se aplica

O ónus da prova objetivo só intervém quando não há resolução pelo subjetivo.

• Porque o subjetivo intervém quando juiz considera como não provado e o objetivo

intervém quando o juiz tem dúvida não esclarecida e não sabe se está provado ou não.

Diz respeito às consequências da não realização da prova.

• Falta de convicção do tribunal de um facto.

• Dúvida non liquet

A situação de dúvida insanável sobre a realidade dos factos não isenta o tribunal do dever do

proferimento de uma decisão. 57

• Assim, atendendo a este dever de administração da justiça, mesmo numa hipótese de

non liquet, há que determinar o conteúdo da decisão sobre o facto, sendo essa a

função das regras relativas ao ónus da prova objetivo.

o Não resolvem a dúvida, mas definem a decisão que o tribunal deve tomar

apesar da dúvida sobre a realidade do facto – são regras de decisão.

56 MTS: Condiciona a atividade probatória da parte, pois incumbe-lhe a prova relativamente aos factos cuja subsunção a uma norma jurídica lhe atribui um efeito favorável.

• Factos impeditivos, modificativos ou extintivos devem ser provados pela parte que, com esse fundamento, nega a situação subjetiva afirmada pela contraparte (art. 342º/2 CC).

• Também por razões de ordem prática, uma vez que a parte que invoca a situação jurídica não pode ter o ónus de provar que estão preenchidos todos os elementos constitutivos, mas também que não se verificam nenhum facto impeditivo, modificativo ou extintivo. Ex: deve provar contrato de mútuo mas não tem de provar que esse mútuo não tem vícios da vontade.

É caso a caso que se determina se o facto é constitutivo ou extintivo de uma situação jurídica. 57 MTS: situação de dúvida insanável sobre a realidade dos factos não isenta o tribunal do dever de proferir uma decisão. A função das regras relativas ao ónus da prova objetivo é a de determinar o conteúdo da decisão sobre o facto numa hipótese de non liquet.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

53

▪ Perante a dúvida irredutível sobre a realidade do facto que é

pressuposto da aplicação de uma norma jurídica, o tribunal decide

como se estivesse provado o facto contrário. Ex: autor afima que

entregou x € ao réu; se não houver convicção acerca da veracidade da

afirmação o juiz decide como se tivesse provado que x não entregou

nada ao réu.

▪ Funcionamento do ónus da prova objetivo implica uma ficção jurídica:

perante a falta de prova do facto, o tribunal ficciona que se

encontra provado o facto contrário e toma-o como fundamento

da sua decisão.

Este ónus não é um verdadeiro ónus e serve (ou atua) quando juiz está em dúvida.

• PCS: Os ónus são situações jurídicas híbridas – tem um lado passivo mas o não

cumprimento do dever não desencadeia as consequências típicas do incumprimento; é

uma situação autofágica no sentido de que aquele que tem o dever é que cumpre as

consequências do incumprimento do mesmo.

o O processo vive, então, de ónus e não de deveres porque tem de continuar e

não pode ficar à espera de consequências negativas de não cumprimento de

um dever.

▪ Na realidade, o Ónus Objetivo58 é um critério de decisão – aplicável às

decisões de non liquet, i.e., quando não é possível chegar-se a uma

decisão.

Tudo isto resulta da articulação dos art. 342º CC com o art. 414º CPC, amparado

sistematicamente pelo art. 413º, 411º, in fine (liga-se ao art. 5º)

• Indica-nos quais os factos que o juiz pode instruir para obter a sua decisão, onde se

aplicam as regras.

Lei (art. 414º CPC) dá o critério para o juiz resolver a dúvida insanável

• Dúvidas quanto à realidade – se facto ocorreu ou não

• Dúvidas quanto à repartição – art. 342º

o Casos em que o juiz não sabe qual a natureza do facto que não provado. Juiz

não sabe se é facto constitutivo, impeditivo, modificativo ou extintivo.

Não sabendo a natureza do facto, como se sabe a quem aproveita? Art. 342º/3,

em caso de dúvida é constitutivo.

Fecha-se o circuito do art. 414º CPC passando pelo critério último do art. 342º/3.

No fundo isto retira ao juiz a qualificação do facto quando não há elementos suficientes para

ele o qualificar.

Este artigo vai ao encontro da presunção de inocência do réu

➢ É o último critério de desempate

➢ Tudo reverte contra o autor – porque o autor não derrota as barreiras legais de

convencimento necessário do juiz, para que o juiz possa dar-lhe razão.

o Por isso, todo o processo civil existe para se perguntar se o autor tem razão

58 Apenas se diz que é ónus por tradição.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

54

Matriz do Sistema Probatório Português e Natureza do Meio de Prova Relação entre Ónus da Prova Objetivo e Subjetivo: a decisão de um non liquet, de acordo com

a regra do ónus da prova objetivo, acompanha a repartição determinada pelo ónus da prova

subjetivo, pois que o tribunal, ao ficcionar como provado o facto contrário daquele que devia

ter sido provado, decide contra a parte onerada com a prova.

➢ É sobre a parte sobre a qual recai a prova do facto segundo as regras do ónus da prova

subjetivo que o ónus da prova objetivo faz recair o risco da falta ou insuficiência da sua

prova.

Art. 342º CC – ónus da prova subjetivo

Art. 414º CPC – ónus da prova objetivo

• Aplicam-se no momento da decisão.

Estas regras vão-se compreender num sistema que tem o princípio da aquisição processual (art.

413º), poderes instrutórios fortes do tribunal (art. 411º) limitados (art. 411º, in fine que se

conexiona com o art. 5º).

• Esses poderes instrutórios já resultavam do princípio da cooperação (art. 7º) e do que

está disposto no art. 6º - a positivação é uma afirmação específica em sede probatória.

Qual a relevância da natureza das regras sobre o ónus da prova? Parte-se do princípio que legislador legisla estabelecendo a melhor solução para o problema

apresentado. Dadas as opções do legislador pergunta-se o critério escolhido para a distribuição

do ónus da prova nada tem a ver com as regras de direito material.

PCS: sim, as regras de distribuição de ónus da prova estão sempre acopladas/associadas ao

modo como a lei constrói os tipos materiais.

• Se estas regras de distribuição de encargos probatórios fossem regras de direito

processual, então o direito aplicável num conflito plurilocalizado seria a lei do foro (assim

como aplica as suas regras de competência aplica as suas regras probatórias).

• Se se considerar as regras como direito material, quando juiz aplica direito estrangeiro,

as regras de ónus da prova a aplicar são as regras do sistema jurídico que é chamado a

regular o caso em concreto, ou seja, a lei da matéria (não a do foro).

o Ex: direito alemão é que regula um contrato de fornecimento que está a ser

debatido em Portugal, portanto, as regras de ónus da prova que o juiz português

tem de seguir é as do direito material (de distribuição do ónus) alemão.

• PCS: isto acontece porque as regras de distribuição do ónus da prova acompanham os

tipos materiais, portanto juiz não pode aplicar umas quanto às consequências da falta

de prova e outras quanto aos tipos materiais.

o É direito probatório material.

o Isto é evidente com a recusa de reconhecimento de uma decisão de um tribunal

de Common Law por um Tribunal Suíço – porque o Supremo Tribunal Suíço

justifica que o Tribunal de Common Law aplicou direito material suíço mas com

as regras de ónus e de determinação dos poderes do juiz do direito da Common

Law, o que colide com a coerência do Direito Suíço (que implica que quando se

aplica direito material suíço também tem de se ter em conta as regras de

distribuição do ónus da prova).

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

55

o Isto pode levar a um conflito de soberanias, não sendo uma questão de

somenos.

Lebre Freitas:

Para demonstrar a existência dum direito subjetivo, há que provar o facto de que ele deriva.

Quando a prova não existe, o direito não pode ser reconhecido por terceiros, perdendo

praticamente o seu valor, tudo se passando como se ele próprio não existisse.

• A prova sem a qual não há certeza de que o facto se verificou, condiciona assim o valor

prático do direito subjetivo, sendo íntima a ligação entre ela e o direito.

Natureza substantiva do meio de prova, cuja função não se limita ao processo jurisdicional

• Resulta a inserção no Código Civil de regras que distribuem o ónus da prova e das

normas que estabelecem o quadro geral dos meios de prova e das que regulam a sua

admissibilidade e força probatória.

• Constituem o direito probatório material59.

Modalidades e Graus de Prova A Prova pode ser

Direta – é demonstrado o próprio objeto da prova

Indireta – é demonstrado o objeto da prova através da prova de um outro facto. É uma prova

realizada através de factos instrumentais e apresenta duas modalidades:

• Prova por presunções legais – aquela em que o facto instrumental constitui a base de

uma presunção legal.

o Conduzem à inferência de um facto a partir de um outro facto – parte pode

invocar o facto presumido e provar o facto instrumental, porque deste se infere,

por presunção legal, aquele facto presumido (art. 349º, 350º CC).

o Não são meios de prova, dado que não formam a convicção sobre a realidade

de um facto, antes dispensam a prova do facto presumido (meio de dispensa de

prova).

▪ Fundamento destas presunções é a normalidade das coisas.

• Prova prima facie – MTS coloca como Modalidade de Prova, mas, PCS enquadra como grau de prova

o Aquela prova indiciária em que o facto provado permite deduzir o objeto da

prova através do curso típico dos acontecimentos.

o Baseia-se no curso típico dos acontecimentos e assenta nas presunções naturais

ou judiciais.

o Prova de primeira aparência que assenta nas regras ou máximas de experiência

que permitem um “juízo crítico incidente sobre facto conhecidos”.

o É modalidade utilizada especialmente para a demonstração entre uma causa e

um efeito.

59 MTS:

• Direito probatório material – refere-se à delimitação do objeto da prova, repartição do ónus da prova, admissibilidade dos meios de prova e critérios de avaliação da prova.

• Direito probatório formal – refere-se à apresentação e ao modo de produção da prova em juízo, i.e., ao procedimento probatório. Procedimento regula a utilização dos meios de prova admissíveis para a demonstração da realidade dos factos – o regime está no CPC.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

56

▪ Pressupõe dupla operação: tribunal verifica a adequação causal entre o

facto instrumental e o objeto da prova (ou seja, deve certificar-se da

aptidão daquele facto para a inferência do facto que constitui o thema

probandum); caso admita a adequação, deve apreciar e avaliar, nos

termos gerais, a prova realizada quanto ao facto instrumental.

Finalidade da prova é a formação da convicção do tribunal sobre a realidade de um facto.

• Segundo o grau de convicção exigido ao tribunal, i.e., segundo a exigência respeitante à

fundamentação desta convicção, pode distinguir-se vários graus de prova.

Esse grau de prova não depende dos meios de prova utilizados pelas partes, pois qualquer dos

meios é suscetível de fundamental qualquer convicção do tribunal.

• Estabelece apenas a medida da convicção que é necessária para que o tribunal possa

julgar determinado facto como provado.

1. PROVA EM SENTIDO ESTRITO/STRICTO SENSU – aquela que se fundamenta na convicção da

realidade do facto.

• Exige uma convicção que não é compatível com a admissão de que a realidade pode

ser distinta daquela que se considera provada.

o Não impede que o tribunal forme a sua convicção com base na probabilidade

estatística da realidade do facto. O que é relevante é que o grau de convicção

permita excluir, segundo o padrão que na vida prática é tomado como certeza,

outra configuração da realidade que foi considerada provada.

Grau de prova exigido ao Tribunal numa ação que pode produzir efeito de caso julgado (ou

estabilidade) – juiz tem de ter a certeza.

• PCS: a certeza do juiz é aferida quando ele consegue demonstrar na fundamentação,

através de argumentos, de tal modo convincentes, que a história do processo que ele

apurou não pode ser derrotada por nenhuma das histórias alternativas do processo

(uma versão que naquele processo conseguisse ser construída).

• Diferença das ações principais é que se exige a certeza como contrapartida da

indiscutibilidade.

• Decisão que forma caso julgado não se deve alterar.

o Doutrina exige esta prova nas ações principais porque é tipicamente nessas

ações que as decisões proferidas têm tendência para produzir caso julgado.

o PCS: tem de sempre se acrescentar “desde que as decisões proferidas tenham

tendência a formar caso julgado”.

2. PROVA PRIMA FACIE – aquela em que o grau de convencimento exigido ao juiz, para este

proferir decisão favorável ao autor é quando a história em que o juiz se baseia para decidir é

a mais provável das histórias possíveis.

• Isto porque há casos e que a urgência da decisão não permite que o juiz consiga ter

todos os elementos para ter fatal certeza. Ex: situações de urgência em que se prescinde

dessa certeza fatal.

Pelo contexto em que se insere, não é exigível ao juiz a certeza absoluta (ao passo que na prova

em sentido estrito ele tem de ter a certeza absoluta para decidir).

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

57

• PCS: não ser exigível não quer dizer que ele não a atinja, apenas não é exigível nos

termos da prova stricto sensu (em que tem de ter a certeza para decidir).

• Aqui, para decidir, ele pode basear-se na elevada probabilidade da história em que ele

confia para decidir.

• O facto da lei dizer que ele já deve decidir com a prova de primeira aparência não

significa que o juiz não tenha conseguido formar certezas, apenas não precisa delas

porque já tinha o dever de decidir antes de a atingir.

MTS -> Mera Justificação

Aquela para a qual basta a demonstração que o facto é verosímil ou plausível, ou seja, só

exige que o Tribunal forme a convicção da probabilidade do facto.

• Exige do tribunal não uma convicção sobre a realidade do facto, mas sobre a sua

probabilidade. Enquanto que na prova stricto sensu a probabilidade do facto é um meio

para a formação da convicção do tribunal, na mera justificação essa probabilidade é o

próprio quid sobre o qual incide a convicção do tribunal.

• Como tem grau de prova menos exigente só é admissível nas situações previstas na lei.

3. INDÍCIO DE PROVA/PRINCÍPIO DE PROVA – aquele que por si só não permite dar como

demonstrado um facto, mas que conjugado com outos meios de prova e através da

justificação que se dá permite dar o facto como demonstrado.

• Menor grau de prova que vale apenas como fator corroborante para a prova de um

facto.

• Não é suficiente, por si só, para estabelecer qualquer prova mas pode coadjuvar, em

conjugação com outros elementos, a prova de um facto.

• É neste âmbito que se valoriza a recusa da parte em prestar depoimento ou

esclarecimento (art. 357º/2 CC). Conduta que é livremente apreciada pelo Tribunal mas

não é suficiente para fundamentar, por si mesma, qualquer resultado probatório.

o PCS: Apreciar do valor da recusa é um indício com efeitos probatórios – o

tribunal não pode, a partir da recusa da parte em cooperar, que deve dar como

provado o facto alegado pela contraparte, mas, há uma primeira suspeição

relativamente à parte que não quis cooperar.

• Lei exclui este grau de prova em alguns casos: art. 1603º/1 CC

Valor dos Meios de Prova Quais são os factos, as provas e os meios de investigação que o juiz pode mobilizar para chegar

a qualquer um dos graus de convicção que a lei requer para que ele possa proferir uma certa

decisão?

MTS: Prova, enquanto atividade destinada a efetuar, perante o Tribunal, a demonstração

convincente de certos factos, é realizada através dos meios de prova.

MEIOS DE PROVA – elementos sensíveis ou percetíveis nos quais o tribunal pode alicerçar a

convicção sobre a realidade do facto

• Meio de Prova Atípico: não previsto na lei; as partes podem admitir um meio de prova

diverso dos legais quando o objeto do processo não for um direito indisponível e não haja

violações de razões de ordem pública (art. 345º/2 CC)

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

58

• Meio de Prova Típicos: previstos na lei

O juiz é confrontado no processo com muitas provas e de vários tipos. Na avaliação da

prova realizada deve dar a mesma relevância a todas as provas? • Valor probatório dos meios de prova (como juiz deve valorar a prova) -> não se confunde

com os graus de prova (qual o grau de convencimento do juiz quanto à prova valorada)

o Qual o valor probatório de cada um dos meios de prova que são submetidos à

consideração do juiz.

Até à Revolução Francesa o sistema de prova era tabelado.

• O valor da prova era estabelecido externamente e não pelo convencimento do juiz

quando ao meio de prova apresentado.

Hoje, o que vigora é o Princípio do Livre Convencimento/Livre Convicção Motivado ou

Racionalizado.

• MTS: Aquisição da codificação oitocentista depois de uma longa evolução doutrinária e

legislativa

• PCS: Saiu-se do sistema da prova tabelada para um sistema de prova livre porque os

magistrados no séc. XVIII afetos aos tribunais após a revolução francesa não sabiam

fazer contas, o que tornava extremamente complexa a elaboração das decisões (1

católico e 2 judeus; 1 homem e 7 mulheres e etc.).

Juiz fundamenta a decisão com os meios de prova que foram produzidos.

Como é que ele valora as provas e com base nessa valoração pode dizer que atinge a convicção

exigida?

➢ PCS: temos um sistema híbrido, i.e., há casos em que a força probatória de uma prova pode

ser destruída quando no espirito do decisor se cria uma dúvida e há casos em que esse valor

probatório do meio de prova só se destrói quando se faz prova do contrário daquilo que seria

provado por aquele meio de prova.

O que está em causa quando se questiona qual é o VALOR PROBATÓRIO?

Questiona-se a possibilidade com base na prova produzida do juiz poder dizer que atingiu um

certo grau de convicção para a prova de um facto.

PROVA PLENA – aquela cuja força probatória se destrói somente com a prova do contrário. Ou

perante prova da falsidade do próprio meio de prova.

• Destrói-se a força probatória do meio de prova, afastando a possibilidade do juiz fundar

a decisão naquele meio de prova.

• Força probatória agravada: aquelas provas cujo rasto material é de tal modo sólido que

consegue dizer, por aquilo existir, que as coisas se passaram daquele modo – função do

documento e daí também que a confissão tenha de ser escrita (também requer maior

ponderação sobre o ato que está a praticar, pois a parte está a reconhecer um facto que

lhe é desfavorável).

• Perante a prova feita com estes parâmetros não é preciso mais nada, ou seja, tudo se

torna inequívoco e o facto está provado.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

59

PROVA BASTANTE – aquela cuja força probatória se destrói com base na criação da dúvida no

espírito do decisor. Pode ser afastada ao se instalar a dúvida no espírito do decisor e tal basta

para afastar a prova produzida.

• Cede perante a simples dúvida que o julgador, confrontado com outros

elementos de prova, tenha sobre a realidade do facto por ela em princípio

provado (art. 346º CC).

• Uma faz formas de destruir esta prova produzida e lançar dúvida no espírito do decisor

é através da descredibilização da versão apresentada sobre os factos.

o Isto porque o registo dos factos depende da perceção de cada um sobre a

realidade – avaliação da prova tem a ver como cada um perceciona a realidade

e o que releva nessa perceção de factos (ex: escândalo russo = telefone

estragado).

o PCS: no caso de testemunhas, o decisor percebe que algo é forjado quando

utilizam verbos iguais – juiz percebe e analisa livremente.

• E à medida que há mais sujeitos na cadeia, mais difícil verificar a veracidade – a

interposição de uma pessoa faz desviar da história contada (já não se conta o facto, mas

o relato do facto que alguém fez).

o Por isso é que a prova que se pode produzir é somente aquela que diretamente

se percecionou - não se admitem/não são suscetíveis de valoração Provas de

Ouvir Dizer, em que há interposição/intervenção de outrem.

PCS: a PROVA PLENÍSSIMA não é prova 60

• As presunções inilidíveis não são provas e são qualificações que intervêm em caso de

dúvida.

• Ex: posse adquirida com violência é sempre de má fé – isto não é uma prova, é uma

qualificação da posse adquirida com violência.

• Qualificação operada pela lei a partir de certa situação não é prova, pois não tem

contraditório possível, é meramente qualificação (e a prova tem de estar sempre sujeita

ao princípio do contraditório).

Apreciação do Valor das Várias Provas Regras que se entendem ser de Direito Material

• Regras probatórias materiais estão acopladas e dão sentido aos tipos de Direito

material – só se consegue entender a realização das regras de Direito Material ao

pensar as regras de Direito Probatório pois o sistema é coerente.

• Há ligação umbilical entre dois tipos de regras: as que estão diretamente a resolver o

problema de direito material e as que dizem como se valoram as provas, como se

distribui o ónus da prova e etc.

Relevante para saber qual o direito aplicável – competência de tribunais é questão de soberania

• Acórdão Suíço – tinham de se ter aplicadas as regras processuais suíças pois não é

concebível a aplicação de direito material suíço sem a conexão às suas regras de direito

probatório.

60 Lebre Freitas: Prova Pleníssima é sinónimo de Presunção Inilidível – é prova cujo valor legal é

insuscetível de ser destruído uma vez verificado o facto que serve de base à presunção; não se admite

prova de que o facto presumido não se verificou (art. 350º/2, in fine)

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60

1. PROVA LEGAL: valor da prova realizada através de um dos meios de prova está legalmente

prefixado, pelo que o tribunal está vinculado a atribuir a essa prova o respetivo valor legal.

➢ Lei predetermina o valor da prova produzida por um certo meio de prova.61

POSITIVA – lei impõe que o tribunal atribua à prova realizada um determinado valor;

Pode ser valor tarifado ou fixo – consoante a prova que for suficiente para impugnar aquela prova:

• Prova legal bastante: contraprova é conseguida com a colocação em dúvida da

veracidade do facto (art. 346º CC).

• Prova legal plena: contrariedade da prova é conseguida mediante a prova do contrário

(art. 347º CC).

o Aqui também se enquadram as presunções iuris tantum do art. 350º/2.

• Prova pleníssima: não é admitida nem contraprova nem a prova do contrário.

o Presunções iuris et de iure (inilidíveis) do art. 350º/2, in fine CC

NEGATIVA – lei proíbe a atribuição de qualquer valor à prova produzida (art. 32º/8 CRP, por

analogia).

2. PROVA LIVRE: o valor a conceder à prova realizada através de meios de prova não está

legalmente prefixado e depende da convicção que o julgador formar sobre a atividade

probatória da parte.

➢ Lei não predetermina o valor da prova produzida através de um certo meio de prova,

incumbindo ao tribunal formar a sua convicção sobre a prova produzida.62

➢ Casos: prova pericial (art. 389º CC), inspeção judicial (art. 391º), prova testemunhal (art.

396º).

Livre apreciação está excluída quando a lei exija, para a existência ou prova do facto, qualquer

formalidade especial.

Na impossibilidade de apreciação objetiva da prova, a lei apela à convicção íntima ou subjetiva do

juiz – essa convicção exigida para a demonstração do facto deve respeitar as leis da ciência e do

raciocínio e assenta frequentemente em regras ou máximas de experiência.

• Muitas correspondem ao senso comum e baseiam-se na normalidade das coisas e outras

correspondem a conhecimentos específicos.

• Essas regras de experiência integram o acervo de conhecimentos necessários para a

avaliação da prova, pelo que o tribunal não pode ficar dependente, quanto a elas, das

posições das partes, não relevando a falta de alegação das partes dessas máximas de

experiência.

• A regra de experiência que pode convencer o tribunal da veracidade do facto é a mesma

que pode ser utilizada para a fundamentação da decisão desse órgão sobre a apreciação

da prova.

61 Lebre Freitas: As normas que estabelecem o valor da prova legal exprimem uma ligação entre dois factos, baseada numa regra de experiência que, absorvida pelo direito, impõe que, perante a realidade de um deles (previsão da norma), se conclua pela realidade do outro (efeito da norma probatória). 62 Lebre Freitas: estas normas limitam-se a estatuir a possibilidade de o julgador, com base em regras de experiência e confrontando todas as provas produzidas, formar um juízo sobre a realidade do facto probando. Podem ser afastadas ao criar-se dúvida no espírito do julgador.

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61

Esta prova livre tem necessariamente um valor (embora não predeterminado pela lei).

➢ Se o tribunal formar a convicção sobre a realidade do facto, a prova realizada cede perante

contraprova (art 346º), pelo que a prova livre é sempre uma prova bastante.

➢ Toda a prova que resulta da liberdade de apreciação do tribunal vale como prova

bastante e, por isso, cede perante contraprova.

Ligação entre graus de convicção e força probatória das provas apresentadas Tal é passível de se saber porque o juiz tem de fundamentar a sua decisão.

Não há ligação direta entre o atingir a certeza e os meios de prova para se tal atingir.

➢ Pode adquirir-se certeza com base em prova testemunhal (que tem força probatória

bastante).

Um decisor atento, confrontado com relato insólito de uma testemunha, vai questionar e

perceber se o relato da testemunha é inconsistente ou não. Ex: colar da professora, sei qual era

porque ofereci parecido à minha mãe.

➢ Convicção do juiz é dinâmica e vai-se formando ao longo da produção de prova.

Isto é relevante para a fundamentação que o juiz dá aos temas de prova.

• Depois, advogados tentam destruir a decisão dizendo que o juiz não valorou bem a

prova – ou aquela prova não tinha a consistência que o juiz lhe deu, ou porque juiz não

a confrontou com outra que a derrotava, ou porque juiz não deu relevância a uma prova

que tinha a versão corroborada se lida em conjunto com outro meio de prova.

o Daí que o ponto de referência da estratégia do advogado seja o decisor – dirige

a produção de prova para o juiz a valorar bem e atingir um grau de

convencimento elevado sobre ela.

Meios de Prova Atos próprios de cada meio de prova: Admissão, Produção, Assunção

• PROCEDIMENTO PROBATÓRIO: ato comum aos diversos meios de prova

o Proposição de Prova – oferecida prova pelas partes, juiz pronuncia-se

sobre a sua admissão – tem lugar nos articulados, após a notificação da

contestação e da réplica e nos momentos do art. 598º/1 CPC.

▪ O juiz pode ordenar a todo o tempo, oficiosamente, diligências de

prova (art. 411º), sendo aconselhável que o faça na fase da

condensação.

▪ Quanto a alguns meios de prova, no ato de proposição tem de se

indicar os factos a provar (art. 423º, 429º/1, 432º, 452º/2, 475º/1,

477º, 503º/3).

PROVA CONSTITUENDA

Meio de prova produzido no processo – prova que só se forma no decurso da ação.

• Tem de ser registada (art. 422º) – permite ao tribunal reconstituir o conteúdo do ato

de produção de prova e permite às partes o recurso dessa decisão.

• Também é necessário o juiz aceita ou rejeitar (art. 476º).

• É livremente apreciada pelo tribunal (art. 607º/5). • O art. 552º/2 e 572º/2 d), prevê que tem de se ver se se quer uma perícia, etc.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

62

PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA

Meio de prova extraprocessual – prova que preexiste à sua utilização em processo; chegam ao

processo “já produzidas”.

• Art. 423º prevê que estas devem ser juntas com o articulado63 (petição inicial,

contestação, etc.): se apresento a minha PI, devo juntar-lhe os documentos relevantes para

apreciar nessa ação.

o Necessidade de junção no articulado;

• Necessidade de apreciação da documentação (art. 442º e 443º);

• Avaliação da prova, nos termos dos arts. 371º e ss.

• admitida num processo pode ser proposta também noutro processo.64

Em conexão com os Contratos Probatórios

Art. 345º/2: é nula convenção que exclua algum meio legal de prova ou admita um meio de

prova diverso dos legais, quando isso torne excessivamente difícil a uma das partes o exercício

do direito, se trate de direito indisponível ou a determinação legal quanto à prova tiver por

fundamento razões de ordem pública.

➢ Daqui resulta que, por um lado, o elenco legal das provas não é oficiosamente

alterável pelo tribunal; por outro, que, no campo do direito disponível, é

admissível, com esses limites, a sua restrição ou alargamento pelas partes (ex:

num contrato de seguro contra incêndio convenciona-se que a prova de

existência dos bens no local do sinistro só poderá ser feita por um catálogo

previamente elaborado).

PROVA DOCUMENTAL – ART. 362º e ss. CC

Elementos da definição legal de documento são a autoria humana, um conteúdo

representativo e um nexo teleológico entre uma e outro.

➢ São documentos: registos fotográficos, fonográficos, escritos, desenhados, tecnológicos

ou de qualquer outra espécie que representem ou reproduzem uma pessoa, coisa ou

acontecimento, bem como todo os sinais que patenteiam uma certa realidade ou

exteriorizam uma ideia ou um pensamento.

➢ O objeto do documento, sendo-lhe exterior, é nele representado através de sinais

que ficam constituindo como que o registo de um momento da pessoa ou da

coisa ou da ocorrência do facto.

Documentos Escritos

Corporizam uma declaração de ciência ou vontade. Nos documentos escritos, a autoria e a vontade do conteúdo representativo exprimem-se pela

sua subscrição -> assinatura.

• PCS: Assinatura = imputação, i.e., imputa-se o conteúdo do documento àquele que o

assinou.

Autênticos ou Particulares (art. 363º)

63 Juntas aos articulados (art. 423º) porque ela serve de prova do facto que é alegado pela parte.

➢ E isto serve para que a contraparte se possa pronunciar quanto aos factos. 64 E quanto à Prova Constituenda? Art. 421º: prova testemunhal e pericial podem ser invocados em processo diverso daquele que tenham lugar desde que obedeçam aos requisitos deste artigo.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

63

A. Autênticos – provêm de oficial público provido de fé pública, dentro do círculo de atividades

que lhe é atribuído, ou duma autoridade pública que os exare, com as formalidades legais, nos

limites da sua competência (art. 363º/2).

➢ Art. 369º e ss. CC.

➢ Ao conceito de documento autêntico é essencial a sua formação no exercício da

atividade pública do documentador e, portanto, dentro dos limites que a lei

circunscreve.

B. Particulares – todos aqueles que não reúnam os requisitos de origem respeitantes aos

documentos autênticos (art. 363º/2, in fine CC).

➢ Autenticados (reconhecidos por notário – art. 363º/3)

➢ Simples

Força Probatória do Documento Escrito:

A. AUTÊNTICOS

Força probatória formal – valor probatório do documento como documento, i.e., relativo à

autenticidade ou genuinidade do documento apresentado.

➢ Valor de Prova Plena, pois presume-se que o documento que provém de autoridade ou

oficial público é autêntico (art. 370º/1) – presunção só pode ser ilidida através da prova

do contrário (art. 370º/2), i.e., prova de que o documento não provém da autoridade ou

oficial público a quem é atribuída a sua autoria.

Força probatória material – valor probatório atribuído aos factos praticados ou atestados pela

entidade documentadora. Diz respeito ao valor probatório atribuído aos factos praticados ou

atestados pela entidade documentadora ➢ Valor de Prova Plena (art. 371º).

➢ Força probatória plena do documento autêntico só pode ser ilidida mediante a arguição

e a prova da falsidade, i.e., que um ou mais factos abrangidos pela força probatória do

documento na realidade não se verificaram, não sendo, portanto, quanto a eles,

verdadeira a declaração do documentador – art. 372º/1

o A falsidade é um status do documento cuja causa não releva.

➢ Falsidade material: no documento se considera praticado, pela entidade responsável,

qualquer ato que na realidade não o foi (art. 372º/2, 2ª parte).

o Não pode ser confundida com a falta de autenticidade ou genuinidade do

documento.

➢ Falsidade ideológica: no documento se atesta como tendo sido objeto da perceção da

autoridade ou oficial público um fato que na realidade não se verificou (art. 372º/2, 1ª

parte)

o Diz respeito ao conteúdo da declaração do documentador, sendo uma

falsa atestação contemporânea da formação do documento (só possível

nos documentos autênticos narrativos).

Força probatória plena só abrange os factos praticados ou atestados pela entidade

documentadora – só fica provado que foi praticado ou atestado um determinado facto pela

entidade documentadora, pelo que ela não se estende à veracidade de qualquer desses factos.

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64

• Valor de prova plena limita-se às declarações visus et auditus enunciadas pela entidade

documentadora, mas não à sua sinceridade ou veracidade, porque de tal não pode o

documentador certificar-se com os seus sentidos.

o Documento autêntico faz prova plena dos factos (declarações e outros) que nele

são referidos como praticados pela autoridade pública documentadora, bem

como dos que nele são atestados como objeto da sua perceção direta; mas, não

daqueles que constituem objeto de declarações de ciência perante ela

produzidos, documentos a ela apresentados ou juízos pessoais seus – art.

371º/1

• A falta de uma formalidade legal diversa da assinatura, tal como a de outro requisito

legal, não afasta a autenticidade do documento e apenas afeta a sua força probatória:

art. 366º.

• Ex: Pessoa A diz perante notário que já recebeu o preço. O pagamento do preço não

está provado. Apenas está provado que A o disse perante o notário. O que o notário

certifica é que ele disse aquilo, não que aconteceu.

o Que prova está nessa declaração?

o Uma Confissão – num documento autêntico está uma declaração que tem valor

de confissão. Mas não é uma confissão judicial pois foi feita perante um notário.

Se entidade documentadora refere como praticado um determinado facto que não praticou

(situação de falsidade material) ou atesta um facto que não se verificou perante ela (situação de

falsidade ideológica), o documento é falso e só pode ser atacado mediante arguição de

falsidade (art. 371º/1, 2)

Se a entidade documentadora atesta um certo facto que perante ela foi declarado mas a

declaração não corresponde à verdade, o documento não é falso, mas o seu conteúdo não

corresponde à verdade.

➢ Este conteúdo não está coberto pelo valor de prova plena (exceto art. 358º/2), pelo que

a sua impugnação não só não tem de ser feita através da alegação da falsidade do

documento, como pode ser realizada através de qualquer meio de prova (ex: art.

393º/2).

B. PARTICULARES

Genuinidade carece de ser provada por meios que estão além da apresentação do próprio

documento – essa genuinidade consiste na coincidência entre autor real e autor aparente

relativamente ao facto subscrito.

➢ Isto para a veracidade da subscrição do documento particular pela pessoa a quem é

atribuído (art. 373º e 374º CC).

➢ Sendo genuíno, faz prova plena – art. 376º

Valor probatório distinto consoante sejam autenticados ou não.

• Autenticados – força probatória de documento autêntico, i.e., fazem prova plena

quanto aos factos praticados ou atestados pela entidade documentadora

• Não Autenticados

o Se assinados têm força probatória formal quando a assinatura for reconhecida

pela parte contra a qual o documento for apresentado (art. 374º/1). Desta

retira-se uma força probatória material plena quanto às declarações atribuídas

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65

ao seu autor (art. 376º), que só pode ser impugnada pela prova da falsidade do

documento65.

o Se não assinados são livremente apreciados pelo juiz.

▪ Há exceções, que fazem prova plena: registo e escritos onde alguém

tome nota dos pagamentos se indicar inequivocamente o recebimento

de algum pagamento (art. 380º/1); nota escrita pelo credor à margem

ou no verso faz prova do facto anotado se favorecer a exoneração do

devedor; livros de escrituração comercial.

Os documentos particulares podem ser postos em causa alegando-se alteração do

documento, preenchimento abusivo e quando signatário não sabia ler (no caso de

documentos escritos, à data da subscrição).

➢ É ónus da parte contra quem o documento é apresentado alegar e provar os

vícios que impedem a utilização do documento como meio de prova com força

probatória plena.

Cópia e Outros Documentos:

• Certidões de teor – art. 383º/1

• Público-formas – art. 386º/1

• Fotocópias – art. 387º/1

• Fotocópias particulares

• Reproduções mecânicas – art. 368º

• Documentos tecnológicos – aqueles cuja elaboração, reprodução ou transmissão

resultam do uso de meios tecnológicos.

• Documentos eletrónicos – emitidos por um computador ou por um seu terminal. DL

290-D/99 veio regular a validade, eficácia e valor probatório dos documentos

eletrónicos

Documentos Não Escritos

Nos documentos não escritos, a autoria humana respeita à formação dum conteúdo

representativo de outra natureza, por ato material próprio ou de outrem a quem ele é ordenado

ou por predisposição das condições de natureza técnica necessárias a essa formação. Ex:

fotógrafo que tira a foto ou ordena os seus empregados tirar; quem filma; quem faz desencadear

o mecanismo de gravação e etc.

No caso do art. 368º, que se reporta a todos os Documentos Não Escritos, a lei prescinde da

determinação da autoria:

➢ Uma vez apresentados, a impugnação facultada à parte contrária é, não uma

impugnação de autoria (como é para os Documentos Escritos), mas uma impugnação da

sua exatidão.

➢ O que interessa à lei é a correspondência da representação do documento e a

realidade.

65 Quanto a esta impugnação têm de se distinguir 3 situações: se reconhecidas presencialmente têm-se por verdadeiras e só podem ser impugnadas arguindo a falsidade; se reconhecidas por semelhança para a impugnação basta a contraprova; se não reconhecidas notarialmente, a parte contra quem o documento é apresentado pode limitar-se a impugnar a veracidade da letra ou da assinatura e declarar que não se sabe se são verdadeiras ou não, incumbindo agora à parte que apresenta o documento a prova da sua veracidade (art. 374º/2)

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66

➢ Força probatória dependente da não impugnação da sua veracidade

Documentos apresentados com o articulado em que sejam alegados os factos correspondentes

(art. 423º/1 CPC).

PROVA POR CONFISSÃO – ART. 352º e ss. CC

Art. 352º CC: Reconhecimento de um facto desfavorável ao declarante, i.e., dum facto

constitutivo dum seu dever de sujeição, extintivo ou impeditivo dum seu direito ou modificativo

duma sua situação jurídica em sentido contrário ao seu interesse.

• É com base na regra de experiência que se afirma que ninguém mente contrariamente

ao seu interesse – declaração de ciência da confissão, então, constitui presunção da

realidade do facto (desfavorável ao confitente) ou, ao invés, da inocorrência do facto

(favorável ao confitente) que dela é objeto.

• Esta presunção não opera se o facto for fisicamente impossível ou notoriamente

inexistente (art. 354º CC): a afirmação da sua existência encerra um absurdo que impede

que seja erigida como meio de prova.

Modalidades: art. 355º CC

• Judicial – meio de prova constituenda – quando produzida em processo que corra

perante um Tribunal.

o Se invocada fora do processo, passa a extrajudicial

o Formas da confissão judicial: art. 356º CC

o Pode ser de forma ESPONTÂNEA (se realizada por iniciativa do confitente) ou de

forma PROVOCADA (se realizada em depoimento de parte – art. 455º CPC)

• Extrajudicial – meio de prova preconstituída – quando produzida fora dum processo.

Confissão pode ser:

i. Simples – aquela em que o facto é reconhecido sem qualquer reserva ou condição ou

sem a invocação de qualquer facto suscetível de afetar o seu efeito

ii. Qualificada – aquela em que o facto é reconhecido com outra qualificação ou eficácia

jurídica. Ex: parte reconhece que recebeu quantia que autor alega, mas como doação e

não como mútuo.

iii. Complexa – aquela em que, conjuntamente com o reconhecimento do facto, a parte

alega um outro que destrói o efeito da confissão. Ex: parte reconhece o recebimento da

quantia mutuada, mas invoca que já a restituiu ao credor.

Confissão é:

i. Irretratável – uma vez realizada não pode ser retirada (art. 465º CPC)

• Tanto a que tem força probatória plena como a que tem força de prova livre –

uma vez produzidos, os meios de prova não podem ser retirados (princípio da

aquisição processual – art. 413º).

• Quanto à confissão judicial, a irretratabilidade da mesma torna inadmissível

uma nova declaração de ciência sobre o mesmo facto que possa pôr em causa

os efeitos legais resultantes, ou suscetíveis de resultar, da anterior, sem prejuízo

da possibilidade de impugnação desta. Confissão produz imediatamente o seu

efeito probatório e, consistindo este na prova plena do facto confessado, não

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faria muito sentido admitir posteriores declarações, com conteúdo diverso e

podendo até não ser confessórias, por parte do confitente.

• Caso que pode ser retirada – art. 46º e 465º/2 CPC

ii. Indivisível – a confissão (qualificada ou complexa) só pode ser aceite ou rejeitada na

íntegra (art. 360º).

• O auto ou réu que queira aproveitar-se da parte da confissão que lhe é favorável

tem de aceitar também a parte que lhe é desfavorável, embora possa fazer

prova contra a parte da confissão que lhe é desfavorável (art. 360º).

• Princípio da Indivisibilidade da Confissão

iii. Impugnável (art. 359º) – tendo em conta que a força probatória da confissão só pode

ser destruída nos termos restritos determinados na lei – art. 347º, in fine CC.

Equiparação aos resultados práticos do negócio jurídico, mas, não sendo uma

declaração de vontade, a aplicação dos preceitos tem de ter em conta a natureza

de declaração de ciência da confissão – releva apenas a consciência da

declaração e o seu concreto conteúdo representativo.

• Simulação: não é suscetível de ser simulada, mas pode ter um esquema de

fraude à lei ou de simulação negocial ao afirmar-se a realidade dum facto que

não se verificou.

• Coação física: pode levar a falta de consciência ou de seriedade da declaração

• Erro-vício: pode haver erro sobre o objeto da confissão (sobre a representação

da realidade que constitui o próprio conteúdo da declaração)

• Coação moral: atuam como vícios da vontade de declarar um certo conteúdo

querido como representativo.

Força Probatória

Difere se ela for judicial ou extrajudicialmente feita

JUDICIAL: tem força probatória plena se cumprir os requisitos do art. 358º

• Se for escrita tem o valor de prova plena contra o confitente (art. 358º/1); se não for

escrita tem o valor de prova livre (art. 358º/4).

o Ainda que o depoimento da parte seja prestado na audiência final (art. 604º)

ele deve ser reduzido a escrito para que dele se possa extrair a força probatória

plena.

• Além dos requisitos aqui exigidos, têm também de se verificar os requisitos de

capacidade e de legitimidade do art. 353º CC.

o Capacidade para dispor do direito ou constituir a vinculação – incapazes não

têm confissão com força probatória plena

o Poder de dispor do direito ou de constituir a vinculação – não tem força

probatória plena sobre um bem o reconhecimento por um casado em regime

de comunhão geral sem o consentimento do outro e etc. Sobre direitos

objetivamente indisponíveis deve ser exigido consentimento ou autorização

para conferir eficácia ao facto confessado.

o Contitularidade – depende se poder dispor, sozinho da situação jurídica

(litisconsórcio voluntário)

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68

o Substituição processual – dependência entre a situação jurídica do substituto e

a do substituído, não produzindo confissão eficaz do substituto perante o

substituído

Quando a confissão é feita sem os requisitos exigidos para que tenha eficácia probatória plena,

a declaração de reconhecimento de factos desfavoráveis pode constituir meio de prova sujeito

à livre apreciação do julgador (art. 361º CC).

➢ Esta eficácia de prova livre exige que o juiz confronte a confissão com todos os outros

elementos de prova produzidos sobre o facto confessado para que tire a sua conclusão

sobre se este verificou ou não.

Quando faltem requisitos do art. 353º, requisito de direção à parte contrária do art. 358º/3 e 4

CC ou quando for declaração complexa (art. 360º) e parte contrária não se queira dela

prevalecer como meio de prova plena.

Se for declarada nula ou anulada não pode ser aproveitada com valor de prova livre.

EXTRAJUDICIAL: depende do meio pelo qual é comunicada ao tribunal

• Se exarada em documento autêntico ou particular considera-se provada nos termos

aplicáveis a estes documentos, mas:

o tem força probatória plena se for dirigida à contraparte (art. 358º/2);

o tem força probatória livre se for feita a terceiros ou estiver contida em

testamento (art. 358º/4).

• A confissão extrajudicial não escrita tem o valor de prova livre (art. 358º/4).

• A confissão extrajudicial provada por testemunhas é livremente apreciada pelo tribunal

(art. 358º/3).

PROVA PERICIAL – ART. 388º e ss. CC

É prova utilizada quando seja necessário recorrer a regras de experiência que não são

conhecidas do tribunal ou quando os factos relativos a pessoas não devam ser objeto de

inspeção judicial (art. 490º CPC).

Até 1996 havia 3 modalidades de prova pericial: exame, vistoria e avaliação.

➢ Hoje, o termo exame continua a ser utilizado na aceção anterior de averiguação

de factos por inspeção ocular em coisas móveis ou pessoas (art. 478º/2, 482º/1 e

600º CPC).

Prova pericial tanto pode visar a perceção indiciária de factos por inspeção de pessoas, coisas

(móveis e imóveis), como a determinação do valor de coisas ou direitos, ou ainda a revelação do

conteúdo de documentos ou o reconhecimento de assinatura, letra, data, alteração ou falta de

autenticidade de documento.

Pode ser:

• requerida pelas partes (art. 475º/1 e 487º/1 CPC);

o Quando tem lugar a requerimento da parte, esta indica as questões de facto

que pretende ver esclarecidas (art. 475º/1).

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69

o Como não podia deixar de ser, o objeto da perícia recorta-se sempre no

âmbito dos factos alegados pelas partes (art. 475º/2, aplicável também à

perícia ordenada oficiosamente).

• ordenada oficiosamente pelo tribunal (art. 477º e 487º/2 CPC)

o Quando ordenada oficiosamente, o juiz indica no mesmo despacho as questões

de facto que serão objeto de perícia.

Perito é nomeado pelo juiz (art. 467º/1) ou acordado pelas partes, sem que haja razões para

duvidar da sua idoneidade e competência (art. 467º/2).

Pode ser feita colegialmente (art. 468º/1 CPC).

Art. 389º: força probatória da análise do perito é aquela que o Tribunal entender

➢ Tem uma força probatória que é livremente apreciada pelo tribunal (art. 389º CC e art.

489º CPC).

PROVA TESTEMUNHAL – ART. 392º e ss. CC

Fonte de prova pessoal representativa, a testemunha é um terceiro em face da relação jurídica

processual, ainda que não perante a relação jurídica material ou os interesses que no processo

se discutem.

➢ Consiste no depoimento de uma pessoa que emite uma declaração de ciência relativa

a um ou a vários factos.

Art. 417º/1 CPC indica que a testemunha tem o dever de prestar depoimento, salvo nos casos

do art. 497º/1 em que pode recusar-se a depor e do art. 497º/3 em que deve recusar-se.

Há factos sobre os quais não é admissível depoimento testemunhal (art. 393º CC).

➢ Art. 394º/2 proíbe a prova testemunhal para demonstração, pelos próprios

simuladores, do acordo simulatório e do negócio simulado.

o Admite-se uma interpretação restritiva em que a prova testemunhal pode ser

utilizada para determinar o alcance dos documentos referidos à simulação ou

para completar ou consolidar o começo a prova que neles se possa fundar.

Não se impede o recurso à prova testemunhal para a interpretação do negócio jurídico, prova

de divergência entre a vontade real e a vontade declarada, ilisão, genuinidade ou reforma do

documento (art. 367º).

Valor Probatório

Testemunha narra ao tribunal factos passados de que teve perceção e que, consequentemente,

ficaram registados na sua memória.

➢ Os erros de perceção e falhas de memória podem falsear declarações que produz, não

constituindo meio de prova representativo tão fidedigno como o documento – daí estar

sujeito à livre apreciação do julgador (art. 396º), que o valorá tendo em conta todo os

factos que abonam ou, pelo contrário, abalam a credibilidade do depoimento (quer

por afetarem a razão de ciência invocada pela testemunha, quer por diminuírem a fé

que ela possa merecer).

o Livremente apreciada pelo tribunal – dada a falibilidade do testemunho exige-

se ao tribunal a mais arguta perspicácia na sua apreciação.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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Art. 526º constitui o juiz no dever de ordenar a notificação para depor como testemunha

qualquer pessoa que no decurso da ação lhe dá fortes razões para presumir que tem

conhecimentos de factos importantes para a boa decisão da causa.

➢ Fora desta margem de iniciativa oficiosa, a proposição da prova testemunhal cabe às

partes, que o fazem nos termos gerais.

LF: MEIOS DE PROVA DE ÂMBITO PROCESSUAL

PROVA POR INSPEÇÃO JUDICIAL – ART. 390º e ss. CC

Consiste na perceção direta e imediata pelo juiz dos factos relativos a coisas ou a pessoas.

➢ Quanto às pessoas, esta prova não pode ser utilizada quando haja que salvaguardar a

intimidade privada e familiar e a dignidade da pessoa humana.

Tribunal, oficiosamente, por achar conveniente, confronta-se sem intermediário com fontes de

prova indiciária (pessoal ou real) assim se esclarecendo sobre a realidade de factos que

interessem à decisão da causa (art. 490º/1).

➢ Tribunal pode solicitar acessória técnica para a sua elucidação sobre a averiguação e

interpretação dos factos que se propõe observar (art. 492º CPC).

Pode ser realizada no Tribunal (coisa móvel – art. 416º e 417º) ou o juiz pode deslocar-se (art.

490º/1), incumbindo à parte que tiver requerido a diligência fornecer ao tribunal os meios

adequados para o efeito (art 490º/2).

➢ Partes podem estar presentes (art. 491º)

Resultado da diligência fica a constar num auto que está sujeito à livre apreciação do julgador

(art. 391º CC).

➢ Ordenada oficiosamente ou requerida pelas partes (art. 490º CPC) é livremente

apreciada pelo tribunal (art. 391º CC).

Insuscetível de produzir efeito extraprocessual (reservado ao disposto no art. 421º), circunscreve

ao processo a sua relevância e eficácia.

➢ É um meio de prova de natureza exclusivamente processual.

PCS: Art. 391º estabelece que a força probatória da inspeção é livremente apreciada pelo

Tribunal. Então o tribunal aprecia livremente a sua própria perceção das coisas?

Potencialmente, este meio de prova pode conflituar com os conhecimentos privados do juiz.

• Tribunal está a presenciar diretamente as coisas, deslocando-se a um certo espaço

físico para apreender diretamente a realidade (apreensão direta dos factos relevantes

para a causa – a prova é produzida através da perceção direta do juiz dos factos

probandos).

• Ao utilizar o seu conhecimento, que adquire no processo, a decisão proferida com base

nesta apreensão do juiz pode ser nula. Porque o juiz está proibido de usar na decisão o

seu conhecimento privado.

Como se compreende isto? Pelo art. 5º/2 CPC

• Juiz pode usar na decisão os factos que resultam do exercício de funções. Ex: tenho

ação igual à que já decidi anteriormente e que formou caso julgado. Ao julgar a segunda

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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ação posso não o fazer devido a ter conhecimento de que formou caso julgado. Tive

esse conhecimento no exercício das minhas funções.

Discussão do NY Times e decidido no Supremo Tribunal dos EUA: liberdade de iniciativa privada

quanto ao lançamento no mercado de um videojogo para crianças em que as personagens se

matavam.

• Uma juíza antes de se pronunciar no caso fez uma experiência com ela própria e jogou

o videojogo percebendo quais as emoções que nela suscitavam quando jogava o

videojogo.

• Ela legitima essa sua conduta com base na conduta de outro juiz do Supremo (que se

pronunciou sobre um caso acerca de se a entidade patronal tinha de pagar aos

trabalhadores o tempo de equipamento/desequipamento e mandou vir trabalhadores

com equipamentos e aferiu ele próprio qual o tempo deste procedimento).

• Juiz está a utilizar conhecimento que adquire, sem garantias de contraditório das partes

envolvidas no próprio processo.

A razão que justifica o porquê do juiz poder aferir da realidade contingente ao processo e

poder utilizá-la no processo é porque quando ele anuncia que vai adquirir esse conhecimento

ele vê a prova ser discutida pelas partes.

➢ Há intervenção da parte.

➢ A ausência da parte é o que explica o juiz não poder usar o seu conhecimento privado.

Juiz que não utilize ostensivamente o seu conhecimento privado deixa sempre influenciar-se

pelo seu conhecimento privado e nunca consegue desligar-se do que sabe.

➢ Como se diminui este risco?

1) Contraditório

2) Necessidade de fundamentação da decisão – um dos trechos mais relevantes nem é

tanto a fundamentação jurídica da causa mas sim o da fundamentação das respostas

que se dão à matéria de facto.

Esta explicação garante o resultado que queremos alcançar?

➢ Não. O que fazemos é muito contingente – não há alternativa melhor.

➢ A fundamentação é garantia contingente também, não se retira toda a porosidade

necessária que o processo tem quanto ao mundo exterior.

PROVA POR ADMISSÃO

Natureza exclusivamente processual, porque inteiramente formada no processo – caso da

conduta processual da parte e os decorrentes da sentença penal e da sentença estrangeira não

revista.

1) Conduta processual da parte: art. 417º/2, 430º, 612º CPC e 357º/2 CC.

➢ É livremente valorada para efeitos probatórios.

2) Sentença proferida em processo penal: presunção ilidível da existência dos factos

constitutivos em que se baseou a condenação ou os impeditivos em que se baseou a

absolvição.

➢ Art. 623º e 624º CPC

3) Sentença estrangeira não revista: art. 978º/2 CPC

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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PROVA POR APRESENTAÇÃO DE COISAS

Exibição de coisa móvel ou imóvel (art. 416º CPC)

➢ Livremente apreciada pelo tribunal – art. 607º

Valor Extraprocessual da Prova Prova realizada num processo pode ser, por iniciativa das partes, utilizada num outro processo

pendente entre as mesmas partes: o resultado da prova por confissão (que nesse outro

processo vale como confissão extrajudicial), peritos e por testemunhas pode ser apresentado

noutro processo (art. 421º CPC).

➢ Exclui-se a prova documental (facilmente produzida) e a prova por inspeção judicial

(devido à insusceptibilidade do tribunal que a realizou transmitir a sua perceção para

outro tribunal) .

Valor extraprocessual da prova só é admissível se estiverem preenchidas determinadas

condições.

• As provas produzidas em procedimento cautelar não podem ser utilizadas noutros

processos (art. 364º/4 CPC).

• É necessário que tenha sido observada a audiência contraditória no processo em que

foram produzidas bem como exige que as garantias das partes, no processo em que a

prova foi realizada, não sejam inferiores às do processo em que se pretende fazer valer

a prova produzida (art. 421º CPC).

• Processo em que foi produzida a prova não pode ter sido anulado (art. 421º/2 CPC)

Provas Insuperáveis PROVA DIABÓLICA

Ex: homem encontrado morto à secretária com revólver, resíduos de pólvora na mão e com a

porta da sala de (limpar) armas aberta. Suicídio ou acidente? Se suicídio não há pagamento do

prémio do seguro, se acidente então seguradora paga.

O que se questiona não é se é correto manter a distribuição do ónus da prova como ela está

rigidamente estabelecido na lei ou se se deve alterar e impor-se à parte contrária.

Ex2: prática médica - faz sentido ser o doente a provar que o médico não cumpriu as suas

práticas da arte? É mais difícil ser o doente porque o facto provando está numa esfera de

controlo mais perto do médico do que do doente. Portanto inverte-se o ónus da prova.

Nestes casos, nenhuma das partes está mais próxima da prova a produzir e ela é igualmente

difícil para ambas as partes – significa que inversão do ónus da prova não funciona nestes casos.

O caso é passível de ser resolvido através da redução do grau de certeza que se exige do decisor

– relativamente a certas matérias em que se exige certeza quanto à verificação mas não

exatamente quanto ao quantum da verificação.

• Alívio do grau probatório = probatio levior

o Faz-se esse alívio, na responsabilidade civil, na prova concreta do dano – sabe-

se que daquela conduta tipicamente resulta um dano mas não se sabe se

exatamente aquele dano dali resultava.

o Faz-se um alívio da prova em relação ao dano.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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Ex3: criança epilética morre afogada em piscina que não tinha traçado vermelho a dizer onde

era a zona mais profunda da piscina. Não se descobriu se ela morreu por episódio epilético que

determinou afogamento subsequente ou se simplesmente morreu afogada.

Tribunal pronunciou-se e disse que a prova era diabólica, não permitindo discernir o que

aconteceu. Decidiu que a parte que impossibilitou a produção de prova foi aquela que não

demarcou a zona da piscina mais funda, portanto a essa parte cabe fazer prova que isso não

foi determinante para o afogamento da criança.

O que esteve em causa foi a criação de uma regra lateral que permite resolver um problema

de prova diabólica – não se resolve face ao facto, vai-se à volta do facto.

PROVA POR ESTIMAÇÃO

Outra forma de resolver problemas de prova insuperáveis pela sua dimensão.

Ex: povoação de 25 mil casas, todas construídas por empresa X, têm amianto. Não se vai fazer

prova da existência de amianto em 25 mil casas (indo casa a casa) pelo que se admite que se

basta fazer prova de que os materiais utilizados foram os mesmos e de que num número

significativo de amostras existe amianto, para se chegar à conclusão, por inferência (não se

faz prova direta), de que em todas as casas existe amianto.

Prova por estimação ou amostragem é mais uma forma de se aliviar a prova que tem de ser

produzida.

➢ Não é solução perfeita mas não há forma mais inteligente de se lidar com estes

problemas levantados pela exigência do grau de prova máximo.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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Tutela Cautelar = Tutela de Emergência (art. 362º - 390º CPC)

Porque se relaciona com os graus de prova?

Porque é exatamente na tutela cautelar que o grau de convicção que se exige ao juiz para que

decrete a providência pedida é a prova prima facie.

➢ Prova prima facie é juízo de probabilidade – na linguagem processualista, este grau de

prova nunca chega aos 100% (aí é certeza).

o Se na prova indiciária66 o grau de certeza não permite formular juízo que

permita decisão favorável ao autor, temos de ir ao grau seguinte: prova prima

facie

▪ Em que o juiz, perante as várias histórias possíveis, entende que a

história contada é a melhor história possível – factos permitem compor

vários relatos, mas a composição deste relato específico é a melhor

possível.

Como é possível um juiz decidir favoravelmente em função de alguém quando, apesar de ser a

melhor história possível, a história provada no processo é suscetível de ser derrotada?

➢ No fundo, o juiz não tem a certeza que as coisas se passaram como ele pressupõe na

decisão – sistema não exige essa certeza para ele ter de decidir.

o Solução do caso resulta de ponderação e há conjunto de hipóteses em que se

tem de fazer a seguinte pergunta: não havendo intervenção imediata, os bens

jurídicos atingidos são de valor superior ou inferior àqueles que serão

afetados se se admitir como possível uma intervenção errada?

▪ Urgência na tutela e aquilo que se atinge, por ser uma decisão de

urgência, contrapõe-se à certeza da decisão.

▪ Perante a decisão que se tinha de tomar, tem de se valorar os dados

que já existem.

Tutela cautelar = tutela de urgência no sistema (art. 363º CPC)

Como é que se sabe que se atingiram as probabilidades que os vários sistemas fazem depender

a legalidade da decisão?

➢ Juiz tem de se justificar externamente.

o Tem de fundamentar as razões pelas quais ele entende que a história em que

ele se baseia está dotada de uma probabilidade séria (=elevada probabilidade

da história poder corresponder com a realidade).

o Ao decretar a providência explica às partes porque é que a prova produzida lhe

forneceu a melhor história dentro das várias possíveis.

Resulta do art. 368º/1 CPC ➢ Destinatário da regra: juiz

66 Grau mais baixo de prova era a prova por indícios.

• Partimos do art. 417º/2 CPC – princípio da cooperação

• E as consequências dessa não cooperação: livre apreciação do juiz da falta de cooperação. o Juiz não pode dar como provado o facto, mas havia pista que o facto inverso se

começava a enquadrar como suscetível de ter acontecido.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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O que está em causa é saber o que a lei exige como grau de convencimento ao juiz para que ele

possa produzir uma decisão

• Probabilidade séria do requerente ter razão

o PCS: Não se fala em autor e réu, fala sim em requerente e requerido (e em

decretar) porque a providência cautelar não tem a estrutura duma ação

portanto utilizam-se expressões distintas.

O que significa numa providência cautelar o requerente ter razão?

Art. 362º CPC

• Tutela cautelar existe porque há probabilidade séria de existir um direito lesado – juiz

não sabe, mas perante o que lhe é contado tem os índices críticos para presumir que o

direito existe e que se não for tutelado pode ser lesado, de acordo com a história

(provável) que lhe foi contada.

• É uma intervenção de urgência – tem de corresponder algo mais curto daí não exigir

certeza (porque se exigisse certeza tal não se compatibilizava com um processo mais

curto).

o Se não se consegue atingir os mesmos níveis de certeza quando é possível fazer

prova exauriente (do que quando a estrutura é mais curta e não se consegue fazer prova

exauriente), o máximo que se diz da existência do direito é que aparentemente é

possível a existência desse direito e a sua lesão.

→ Há probabilidade séria de existência da lesão de um direito, num contexto de

urgência, pelo que é possível requerer o decretar de uma providência

adequada67

Providências Cautelares

Nem sempre a regulação dos interesses conflituantes pode aguardar o proferimento da decisão

do tribunal que resolve, de modo definitivo, aquele conflito.

➢ Por vezes, torna-se necessário obter uma composição provisória da situação

controvertida antes do proferimento da decisão definitiva.

➢ Essa composição justifica-se sempre que ela seja necessária para assegurar a utilidade

da decisão e a efetividade da tutela jurisidicional e, na medida em que contribui

decisivamente para o êxito dessa tutela, encontra o seu fundamento constitucional na

garantia do acesso ao direito e aos tribunais.

Art. 362º a 409º

Fundamento é uma justificação de ordem temporal: o proferimento de uma decisão final é

algo que pode demorar bastante tempo e tal origina o risco de um prejuízo para uma das

partes.

➢ Por isso, a lei permite que, através de uma summaria cognitio (art. 365º/1, 3) e

depois de estar demonstrado, quanto ao direito ameaçado pelo atraso na tutela

jurisdicional o fumus boni iuris (art. 368º/1), o tribunal possa decretar uma tutela

provisória que se destina a acautelar o efeito útil da ação, i.e., a fim de evitar uma

composição definitiva inútil.

67 Que depende do caso concreto – direito está na concretização da regra).

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

76

Das características dos procedimentos cautelares resulta que as providências cautelares que

neles são decretadas realizam uma função preventiva: elas destinam-se a prevenir a lesão de

um direito.

• O modo como o fazem é que é característico: elas visam evitar a mudança numa

situação que possa fazer perigar a utilidade da sentença que venha a ser proferida na

ação principal.

o Assim, para o decretamento da providência solicitada, não basta a existência

de um direito suscetível de tutela judiciária, antes é necessário que haja que

assegurar, através da tutela cautelar e provisória, a utilidade da posterior

tutela definitiva.

A função das providências cautelares é a de tutelar, de forma provisória, uma determinada

situação jurídica que se encontra em perigo pela falta de uma tutela imediata.

➢ A iminência da violação da situação jurídica é apenas um dos indícios possíveis da

necessidade da tutela cautelar, dado que nem todas as providências cautelares

pressupõem a iminência dessa violação.

MTS: A JUSTIFICAÇÃO DO ART. 362º/1 PARA AS PROVIDÊNCIAS CAUTELARES TEM DE SER

ENTENDIDA, NÃO EM FUNÇÃO DE QUALQUER POTENCIAL VIOLAÇÃO, MAS EM FUNÇÃO DA

DEMORA NA TUTELA DEFINITIVA DESSE DIREITO.

• As providências cautelares visam assegurar a utilidade dessa ação, pois que estas

providências salvaguardam a utilidade da decisão proferida nessa ação perante

qualquer situação decorrente de factos ocorridos antes do seu proferimento.

• O que se acautela nas providências cautelares não é a violação de um direito mas a

utilidade da decisão de tutela definitiva.

o Muito frequentemente a tutela definitiva seria demasiado tardia, porque só

poderia ser obtida depois de a violação do direito se ter consumado ou mesmo

depois de essa violação se ter tornado irreversível.

o É nesta inutilidade da tutela definitiva que justifica, nesse caso, a tutela cautelar.

Em geral as providências cautelares visam combater o risco da irrealização do direito que é

provocado pela demora da decisão definitiva.

Dois fatores têm de ser tidos em conta:

• Impossibilidade da realização do direito num momento futuro. Ex: se não se proceder ao

arresto de bens do devedor (art. 391º/1 CPC, 619º/1 CC) corre-se o risco de, no momento

do reconhecimento do seu crédito na sentença final o credor já não possuir nenhuma

garantia patrimonial.

• Necessidade da realização imediata de um direito. Ex: art. 384º e alimentos provisórios,

pois pode não ter meios de subsistência até à concessão dos alimentos definitivos.

Instrumentalidade Funcional Tutela cautelar é polimórfica

• É sempre instrumental da tutela principal.

o Há um direito de fundo que está em perigo de ser violado, pelo que se requer

uma providência para impedir essa consequência. 68

68 Característica do receio é tendencial.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

77

o Como os direitos de fundo podem ser todos, as providências cautelares podem

ser de todas (dependendo do direito de fundo), adotando todas as formas de

todos os pedidos possíveis.

A providência cautelar deve ser aquela que seja funcionalmente adequada a acautelar o efeito

útil da ação principal. Procurando concretizar o seu escopo, pode dizer-se que ela pode

prosseguir uma das seguintes finalidades:

• Finalidade de garantia de um direito – providência conservatória do art. 362º/1

o CONSERVATÓRIA – providências são decretadas para conservar património

naquele estado ou manter o conhecimento das coisas num dado momento.

Ex: arresto.

▪ De forma a garantir que se tenha alguma coisa depois no momento da

decisão de final.

• Finalidade de regulação provisória de uma situação – providência conservatória do art.

362º/1

• Finalidade de antecipação da tutela definitiva – providência antecipatória do art.

362º/1.

o A antecipação da tutela definitiva na tutela cautelar só se pode verificar quando

ambas as tutelas tenham o mesmo objeto, ou seja, quando o que pode ser

obtido na tutela cautelar é o mesmo que pode ser conseguido na tutela

definitiva.

o Pode assim afirmar-se que, quando a tutela cautelar antecipa a tutela definitiva,

aquela tutela cumpre uma função satisfativa.

o ANTECIPATÓRIA – “fazer uma coisa antes do tempo devido”69.

▪ Antecipa-se quando se faz algo que só se devia fazer depois – significa conseguir

antes um efeito similar ao efeito que se conseguiria no tempo certo

• Esse efeito seria aquele que se obteria na ação definitiva da

qual a tutela cautelar é instrumental.

• É fazer acontecer antes do tempo da ação, um efeito que em

rigor só deveria ser posto em vigor quando tudo estivesse

exaurientemente esclarecido.

▪ Aceita-se uma antecipação, que pode não coincidir com o que se dirá

depois, porque com a aferição da certeza vai haver um acerto da

decisão (tomada urgentemente) face a essa certeza.

• Devia ter sido feito depois, mas faz-se antes por razões de

urgência. Ex: fotos da prof em biquíni (na altura diz-se que não

se pode publicar e depois na altura da decisão final verifica-se

que afinal pode publicar devido à manifestação pública da

professora de se expor).

Art. 364º/5 – esta regra existe porque a prova produzida no procedimento cautelar é sumária,

por comparação com a prova exauriente que se vai produzir na ação principal.

➢ Lei não diz que não se pode aproveitar prova produzida na tutela cautelar para a ação

principal.

69 PCS: há um tempo para cada coisa e uma coisa para cada tempo

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

78

➢ A lei não impede a utilização de provas, somente impede as conclusões retiradas pelo

juiz face ao julgamento da matéria de facto. Isto porque a prova é sumária, na

providência cautelar, e é exauriente na ação principal.

Tutela cautelar é preventiva – não vai ao encontro das consequências do ilícito e visa impedir o

próprio ilícito.

➢ Visa impedir o dano e a lesão do bem jurídico.

Art. 364º - daqui resulta que se pedir a declaração da providência cautelar tem de se pedir a

ação definitiva (exceção é o art. 369º acautelada pelo art. 364º/1)

Critérios pelos quais se afere a adequação funcional da providência para assegurar o efeito útil

da ação principal:

• APROPRIAÇÃO/ADEQUAÇÃO – adequada para acautelar o efeito útil da ação principal,

i.e., se for concretamente adequada para assegurar a efetividade do direito ameaçado.

o Pode coincidir com o que se pretende obter na ação principal mas também pode

consistir na constituição de uma situação jurídica provisória.

o São admissíveis aquelas que se mostrarem concretamente adequadas a

assegurar a efetividade do direito ameaçado pela demora na tutela definitiva.

• PROPORCIONALIDADE – não pode impor ao requerido um sacrifício desproporcionado

relativamente aos interesses que o requerente deseja acautelar ou tutelar

provisoriamente.

o Desvantagem imposta ao requerido com o decretamento da providência não

pode ser desproporcionada em relação à vantagem que o requerente retira

desse decretamento.

o Exige uma ponderação dos interesses envolvidos e é independente da

probabilidade séria da existência do direito a acautelar – nem aquela

proporcionalidade dispensa a probabilidade do direito a acautelar, nem esta

probabilidade isenta a verificação da proporcionalidade.

o Assegurada a proporcionalidade entre os interesses a acautelar e a afetar, a

providência só é decretada se, além disso, for provável a existência do direito a

acautelar.

Art. 366º - tem dois graus de exceção

1. Casos em que o contraditório antes do decretamento da providência está vedado (só

se vai dar contraditório após o decretamento da providencia cautelar). Ex: art. 378º,

arresto (art. 391º).

• Exceção à regra do contraditório antes do decretamento da providência (ínsito

no art. 366º - devia lá estar escrito mas não está).

• Mas há sempre contraditório do requerido, o que muda é o momento em que

isso vai acontecer.

2. Numa providência em que não está especificada o direito e se enquadra na providência

cautelar comum (ou até mesmo nas especificadas) pode o requerente tentar persuadir

o juiz a não ouvir o requerido pois tal pode por em “risco sério o fim ou a eficácia da

providência”.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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Pode distinguir-se no ordenamento jurídico português:

• Tutela cautelar – tutela provisória ou uma tutela que só se consolida se, tendo havido

inversão do contencioso, o requerido não propuser ação destinada a contrariar a

providência decretada.

• Tutela urgente stricto sensu – tutela definitiva (não é cautelar) que é obtida num

procedimento simples e célere.

Quando se pode requerer providência:

fumus bónus iuri + pericum mora + interesse em agir ➢ (probabilidade séria da existência do direito e receio fundado da lesão + perigo da

demora + interesse em agir)

Inversão do Contencioso O que se deve impor ao juiz que ele faça se ele, no contexto da providência cautelar, tiver a

certeza e não somente uma probabilidade séria? O que é que o sistema impõe a um decisor

quando ele já tem a certeza (mesmo estando no contexto da providência cautelar)? O que fazer

quando, não obstante a sumariedade da estrutura cautelar, o juiz conseguir obter certeza?

➢ PCS: a decisão então não deve ser provisória – o último grau de prova que justifica que

uma decisão deva ser definitiva está alcançado.

Em que condições é que a tutela cautelar pode dispensar a tutela definitiva por aquela tutela

cautelar se convolar nesta tutela definitiva?

Problema diferente é o da antecipação da tutela definitiva pela tutela cautelar, porque esta

antecipação não dispensa a propositura de uma ação principal destinada a obter a tutela definitiva

e a confirmar a tutela que foi antecipada no procedimento cautelar.

➢ Portanto, uma questão é a de saber se a tutela cautelar pode antecipar uma tutela

definitiva que não pode deixar de ser requerida depois da sua antecipação no

procedimento cautelar, outra distinta é a de determinar se a tutela cautelar pode ser

autossuficiente e dispensar a tutela definitiva.

No CPC está consagrado um regime que em vez de permitir a convolação ex officio da tutela

cautelar numa tutela definitiva, propõe-se, em certos casos e verificadas certas condições, a

dispensa do ónus de propositura da ação principal pelo requerente da providência e a

consequente atribuição desse ónus ao requerido que pretenda evitar a consolidação da

providência decretada.

• Sistema assente na inversão do contencioso – em vez de ser o requerente da providência

cautelar a ter o ónus de propor uma ação principal destinada a confirmar ou a consolidar

a tutela cautelar, cabe ao requerido instaurar uma ação de impugnação com a finalidade

de obstar à consolidação da tutela provisória.

o Estas providências consolidam-se como tutela definitiva pela inação do

requerido, deixando de ser um instrumento de uma posterior tutela definitiva

e passando a ser a própria tutela definitiva – a consolidação da providência

cautelar não fica dependente da propositura da ação principal pelo

requerente dessa providência.

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▪ O requerido ou impugna a providência decretada, procurando evitar a

sua consolidação, ou não impugna essa providência, permitindo a

consolidação da providência cautelar como tutela definitiva.

Procedimento: art. 369º/1 CPC

1. Insere-se na decisão que decreta a providência – deixa de fora as decisões que, apreciando as

questões de mérito, não decretam as providências.

➢ Mecanismo pensado apenas e no contexto das decisões de mérito proferidas no

contexto da providência e quando é decretada essa providência – ou seja, quando é

dada razão ao requerente.

“se matéria adquirida no procedimento” – princípio da aquisição processual

2. “formar convicção segura acerca da existência do direito acautelado”

• PCS: convicção segura e certeza são o mesmo grau de prova -> prova stricto sensu.

o É uma manifestação desse grau de prova, daí que juiz pode proferir decisão

definitiva.

• É verdade que lei não fala em “certeza”, daí que isto possa dar aso a várias

interpretações.

o PCS: isto já é prova stricto sensu e não noutro grau de prova intermédio.

▪ Lei não fala em certeza porque não há regras no CPC que falem em

certeza, são construções doutrinárias.

▪ Legislador não escreveu “certeza” porque quando tal existe pode

formar-se caso julgado sobre isso – como o pensamento do legislador

ainda não está amadurecido70 por isso, ele precaveu-se de utilizar essas

expressões.

A definitividade ou transitoriedade de uma decisão estão ligadas umbilicalmente ao grau de

convicção que o juiz tem.

• Aceitamos para a decisão uma coisa que não se aceita para a lei – as decisões não se

substituem e a lei sim. Se houver lei errada, ela substitui-se, se houver decisão errada

ela não se substitui quando forme caso julgado.

• Imutabilidade das decisões parte da premissa que o juiz conseguiu a certeza das coisas

que o juiz acertou na decisão.

o Caso julgado explica-se pela convicção que o juiz atinge, e tal depende da

intensidade do contraditório.

o Aquilo que não se pode rebater em todas as linhas, não pode ser imposto

definitivamente.

o Prova exauriente justifica o efeito de caso julgado – de evitar que o que foi

decidido seja discutido novamente.

3. “natureza da providência decretada for adequada a realizar a composição definitiva do litígio”

➢ Não é possível uma Inversão de Contencioso se a tutela cautelar é distinta da

correspondente tutela definitiva e, devido a tal, não ter a potencialidade de compor o litígio

entre as partes.

70 Ainda há questões como: estabilidade do art. 369º forma caso julgado? Estas palavras são sinónimas?

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

81

➢ Ex: daí não fazer sentido admitir a inversão do contencioso quanto à providência

cautelar de arresto, pois que a garantia da garantia patrimonial que o credor obtém

através dessa providência não resolve o litígio entre ele e o seu devedor (que respeita,

não à garantia do crédito, mas ao próprio crédito).

o A inversão do contencioso só é admissível se a tutela cautelar puder substituir

a tutela definitiva que, se não tivesse havido inversão do contencioso, o

requerente teria o ónus de requerer na subsequente ação principal.

Concluído que a inversão do contencioso não se pode verificar quando a tutela cautelar é

completamente distinta da tutela definitiva e quando, portanto, a consolidação da tutela

cautelar não é suscetível de compor o litígio entre as partes, importa analisar qual a proximidade

que tem de existir entre essas tutelas para que se possa considerar que a inversão do

contencioso é adequada a realizar essa composição.

➢ Indício do art. 376º/4

o Inversão do contencioso só é admissível se a providência cautelar requerida –

de caráter nominado ou inominado – tiver um sentido antecipatório.

▪ Mais em concreto, essa inversão depende da circunstância de a tutela

que é solicitada na providência, em teoria, poder ser obtida como tutela

definitiva numa ação declarativa.

1 + 2 + 371 = Dispensa do requerente do ónus da propositura da ação principal

➢ Isto é o que significa a INVERSÃO DO CONTENCIOSO

A lei atribui à decisão proferida em procedimento cautelar as características que atribui à

decisão que tipicamente seria proferida com uma estrutura mais alargada.

• Deixa requerente descansado pois a providência não caduca ainda que não seja

instaurada ação principal.

o Se a providência não caduca significa que ela se torna estável.

Entre o procedimento cautelar e o processo no qual é requerida a tutela definitiva não se pode constituir

a exceção de litispendência, dado que a solicitação de uma tutela provisória não é idêntica à solicitação

de uma tutela definitiva.

➢ A circunstância de a providência cautelar ter um caráter antecipatório não altera o afirmado: não

se constitui nenhuma exceção de litispendência.

a) Mas, a partir do momento em que o requerente da providência cautelar requer a inversão

do contencioso constitui-se a exceção de litispendência com a ação na qual é pedida a

mesma tutela definitiva.

71 MTS: pressupõe requerimento da parte interessada (no momento definido no art. 369º/2) + define as condições em que a inversão do contencioso pode ser decretada pelo tribunal

➢ É o conjugar de duas condições – e não a consideração isolada de cada uma delas – que faz decorrer as circunstâncias em que o tribunal pode decretar a inversão do contencioso: convicção segura + adequação a regular o litígio.

➢ O tribunal tem de formar a convicção segura sobre o direito acautelado e a natureza da providência decretada tem de ser adequada a realizar a composição definitiva do litígio; isto significa que a decisão sobre a inversão do contencioso não é uma decisão tomada no uso de um poder discricionário: o tribunal não inverte o contencioso segundo um critério de oportunidade e de conveniência, mas de acordo com os referidos critérios legais.

MTS: acrescenta ainda outro pressuposto: Interesse em Agir

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

82

b) A formulação do pedido de inversão do contencioso bloqueia a propositura de uma ação

principal pelo seu requerente, sempre que nesta ação não se possa obter algo de

diferente do que resulta da conversão da tutela provisória em tutela definitiva.

Art. 370º CPC – Recursos Da decisão que juiz decreta e que inverte o contencioso, cabe recurso.72

Recurso serve para por em causa a legalidade da decisão da inversão do contencioso e

questionar a legalidade da decisão do decretamento da providência.

➢ O que a parte está a dizer é que:

a) nem havia indícios probatórios que permitissem levar a um juízo de certeza e

convicção segura (que leva a inverter o contencioso);

b) nem a providência concretamente decretada o podia ter sido (porque não é

adequada, não há probabilidade séria e etc.).

Art. 371º CPC – Propositura da ação principal pelo requerido Nos casos em que se inverteu o contencioso, o requerido pode intentar ação destinada a

impugnar a existência do direito acautelado.

O que tinha levado o Tribunal, na providência cautelar, a decretá-la e a inverter o contencioso?

➢ Por um lado, a convicção do tribunal quanto à existência do direito acautelado – para

isto bastava que existisse uma probabilidade séria de existência do direito (art. 368º/1).

➢ Mas para que houvesse inversão do contencioso tinha de haver convicção segura sobre

o direito acautelado.

o Quando se recorre, impugna-se a legalidade de ambas as decisões (da inversão

e do decretamento da medida tutelada em si) – perante os meios que tinha

não se poderia atingir esse grau de convicção segura.

PCS: sistema é insustentável (forte oposição a MTS) pois a lei diz-nos que a propositura desta

ação pelo requerido acontece após o trânsito em julgado da decisão que, na sequência do

recurso, julga bem proferida a decisão cautelar.

• Houve um tribunal superior a dizer que a providência cautelar era boa e que havia

indícios suficientes para o acautelamento do direito.

Esta ação então é uma ação de desconstrução de duas decisões: 1) decisão de procedimento

cautelar de juiz de primeira instância e 2) decisão de tribunal superior que confirmou que há

indícios que permitem formar convicção segura sobre o direito acautelado.

Não é um sistema sustentável, pois esta é uma ação desconstrutiva de uma decisão transitada

em julgado e que será julgada por um tribunal inferior aquele que se pronunciou pela

existência do direito acautelado.

72 MTS: Indeferimento do pedido de inversão do contencioso é sempre definitivo, não podendo o requerente impugná-la em recurso. O regime também vale quando o requerente tenha interposto recurso do indeferimento da providência requerida, o que tem como consequência que a inversão do contencioso nunca pode ser decretada em recurso.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

83

➢ PCS: é completamente deslocado dos parâmetros do sistema uma vez que há um

tribunal inferior que se vai poder pronunciar, de forma incompatível com um tribunal

superior e vai até controlar a legalidade da decisão desse tribunal superior.

Porque é que se diz que se tem de admitir esta ação posterior?

Porque a providência cautelar, pela sua estrutura, não permite a produção de prova em

termos exaurientes daí que seja claro, para MTS, que tenha de haver ação ulterior em que

requerido na providência possa desconstruir essa decisão ao fazer prova exauriente acerca da

existência do direito acautelado.

➢ PCS: está de acordo e esta é a solução do Direito Processual Brasileiro.

o Só discorda da solução adotada pelo legislador da possibilidade de

interposição de recurso e vir permitir que haja um tribunal inferior que

controle a legalidade dada por um tribunal superior, quando após esse recurso

o requerido propõe a ação principal.

o Isto colide com as regras sobre decisões de tribunais de diferentes hierarquias.

Um juiz que sabe que ainda há prova que pode vir a ser produzida, pode dizer que tem convicção

segura acerca da existência de um direito?

• PCS: resposta tem de ser dada noutro patamar – juiz que verifica que a prova produzida

não esgota o universo probatório possível não pode dizer que tem convicção segura

desse direito.

• Pode dizer que há probabilidade séria, mas ainda falta ver muito mais que pode ainda

ser produzido.

É por isto que a doutrina tem tanta dificuldade, a propósito desta figura, em falar em caso

julgado.

• Refugiando-se na palavra da estabilidade.

o Expressão que doutrina foi buscar para não usar a expressão caso julgado,

porque não a podia usar de forma explícita, uma vez que o caso julgado é

indestrutível salvo algumas exceções.

o Exceção: Recurso de Revisão – art. 696º

▪ No art. 371º não está nenhum dos casos do art. 696º, somente uma

decisão que alguém diz ser errada e que só se poderá saber se é errada

ou não quando for proferida nova decisão que diga que a primeira é

errada, quando esta transite em julgado.

Solução do CPC Brasileiro é mais sustentável daquela que existe no CPC Português.

Procedimentos Cautelares Específicos: art. 377º e ss. CPC Primeiro identifica-se qual o direito que está em causa, pelo art. 368º e se o requerimento da

providência cautelar é Comum ou há algum Especificado.

Quando se acautela o património para cumprir um direito de crédito -> providência cautelar do arresto.

• Mas tem de cumprir os requisitos do art. 391º e ss., em que há um receio fundado. Ex: um arresto

contra um milionário não faz sentido porque ele vai ter sempre património para satisfazer o

direito de crédito. Tem de haver comparação entre o património do requerido e o valor do bem.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

84

SENTENÇA

Ato do juiz que põe termo à causa

• Ato do juiz – por isto, pode ser recorrido.

• Põe termo à causa – por isto, tem de explicar de forma exauriente às partes o porquê

de ter chegado a esta conclusão.

Lebre Freitas: Sentença engloba decisão de facto e decisão de direito.

Julgamento da matéria de facto – tribunal declara quais os factos, dos alegados pelas partes e

dos instrumentais que considere relevantes, que julga provados e quais julga não provados, de

acordo com a sua convicção, formada no confronto dos meios de prova.

• Esta convicção tem de ser fundamentada, procedendo o tribunal à análise crítica das

provas e à especificação das razões que o levaram à decisão tomada sobre a verificação

de cada facto (art. 607º/4, 5).

• A necessidade de fundamentação séria leva, indiretamente, o juiz a melhor confrontar

os vários elementos de prova, não se limitando à sua intuição ou às impressões que foi

tendo ao longo do julgamento.

• A fundamentação exerce dupla função: facilitar o reexame da causa por tribunal

superior e reforçar o autocontrolo da justiça.

o Não são só as partes que persuadem o Tribunal. ▪ Exercício do direito do Contraditório é quando se diz algo de novo e tal vai ser

desfavorável para uma parte (que, por isso, tem de ser ouvida).73

▪ Parte tem de persuadir o tribunal quanto a essa nova evidência.

o O próprio juiz tem de demonstrar às partes que tem razão para dizer o que diz.

o Mais importante que a decisão que profere, é a fundamentação dessa decisão.

Julgamento de direito – pressupõe a delimitação das parcelas da realidade a subsumir na norma

jurídica, i.e., o apuramento de todos os factos da causa que, tidos em conta os pedidos e as

exceções deduzidas, sejam relevantes para o preenchimento das respetivas previsões

normativas, sejam elas normas processuais ou de direito material.

• Aos factos assim assentes, o juiz aplica o direito, sem sujeição ao que as partes tiverem

sobre isso alegado (art. 5º/3), pois jura novit curia, mas com respeito pelo art. 3º/3, que

proíbe as decisões-surpresa.

Estrutura da Sentença – art. 607º CPC Na decisão, juiz tem de identificar corretamente o objeto da ação:

➢ o que o autor pediu e com que fundamentos de facto e de direito + o que o réu contestou

e com que fundamentos de facto e de direito.

o PCS: E perante estes discursos antitéticos, o juiz vai ter de explicita porque dá

prevalência a uma versão e não à outra.

▪ Isto relaciona-se com a matéria da prova pois é na sentença que o juiz

dirá quais os factos, de tudo quanto foi discutido, que considera

provados e o porquê – que meios de prova o convenceram, que

presunções mobilizou e até onde as partes chegaram a acordo (na base

de facto da própria ação).

73 PCS: isto significa que há situações que dispensam contraditório

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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o Sentença é ato de persuasão, juiz tem de mostrar porque dá razão às partes

daquela forma.74

▪ Juiz tem de explicar de forma racional o porquê de ter atingido um certo

nível de convencimento que o levou a decidir desta forma.

Segue a estrutura do art. 607º:

1. Relatório – juiz identifica as partes, enuncia os pedidos deduzidos bem como as questões

relativas à causa de pedir e às exceções (tanto as suscitadas pela parte como aquela que ao

tribunal cumpre oficiosamente conhecer – art. 607º/2)

2. Fundamentação – juiz discrimina os factos que considera provados, determina as normas

jurídicas aplicáveis, interpreta-as e aplica-as (art. 607º/3, obedecendo ao art. 205º/1 CRP)

3. Decisão – juiz, consoante os casos, absolve o réu da instância ou responde ao pedido deduzido

pelo autor, nele condenando o réu ou dele absolvendo (art. 607º/3)

• Pais Amaral: A decisão constitui a resposta que mereceu a pretensão das partes.

o O tribunal, julgando procedente ou improcedente o pedido formulado pelo

autor ou pelo réu, em caso de reconvenção, proferirá sentença de condenação

ou de absolvição da contraparte em relação a esse pedido.

Depois também há a condenação do pagamento das custas segundo o victus victoria (art. 527º

+ 607º/6)

Sem os elementos do art. 607º, a decisão é NULA ou RECORRÍVEL75.

Vícios da Sentença: Além dos vícios respeitantes à formação ou expressão da livre convicção

do juiz no julgamento da matéria de facto, a sentença pode apresentar vícios que geram a sua

nulidade, tornando-a totalmente inaproveitável para a realização da função que lhe compete.

• Falta absoluta de poder jurisdicional de quem a profere

• Falta ou ininteligibilidade (art. 615º/c) da parte decisória, como conteúdo mínimo

essencial da sentença

• Falta de assinatura do juiz, como requisito de forma essencial

• ART. 615º/176

Pode também ter vícios de conteúdo que afetam total ou parcialmente a sentença.

➢ Diz respeito à estrutura, limites ou inteligibilidade da decisão, gerando

anulabilidade (ou erros materiais a retificar).

➢ São errores in procedendo (não errores in judicando – que geram a injustiça da

decisão).

74 Privilégio Paulino do Papa e Carta Psicografada de Médium levantam problemas ao Direito – Tribunais têm de justificar o porquê de aceitarem ou não esta prova. 75 É recorrível quando contraria a legalidade – juiz fez algo que a lei não permite fazer daquela maneira.

Quando no recurso se discute a decisão proferida sobre a matéria de facto, discute-se a força que o juiz deu às provas, o modo como as valorou umas contra às outras e a convicção que julgou alcançar a partir delas.

➢ Daí que regime de inversão do contencioso é estranho pois se se pode discutir o processo em matéria de facto e de direito, ele volte a uma instância inferior para que se inflita o sentido da primeira decisão.

76 Alínea d) não está só balizado pelo princípio do dispositivo. Ex: matéria de direito penal não parte só da livre iniciativa das partes

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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ART. 608º Sentença final deve começar pelo conhecimento das questões processuais que possam conduzir

à absolvição da instância (art. 608º/1 + art. 595º/4).

➢ Não havendo lugar à absolvição da instância, segue-se a apreciação do mérito da causa

– juiz vai responder aos pedidos deduzidos pelo autor e pelo réu.

Questões a resolver na sentença: o que o autor pediu e com que fundamentos de facto e de

direito + o que o réu contestou e com que fundamentos de facto e de direito.

Art. 608º CPC remete para o art. 278º

➢ PCS: Art. 278º/3 – as exceções dilatórias só desencadeiam a sua consequência (de

absolver réu da instância) quando não for possível proferir decisão mais favorável à

parte que seria protegida pelo pressuposto que está em falta e que, porque não está

preenchido, leva a uma exceção dilatória.

nº1

“sem prejuízo do disposto” – se a exceção dilatória, que o juiz identifica na sentença, se destinar

a proteger a parte relativamente à qual o juiz vai produzir uma decisão de mérito favorável,

aplica-se o art. 278º/3.

• No momento da sentença vale o regime da prevalência da substância sobre a forma.

o Mas é possível que só na sentença o juiz se venha pronunciar sobre

pressupostos processuais?

▪ É raro mas acontece – quando a própria verificação do pressuposto

resultar da instrução da causa.

“procedência lógica” – ninguém sabe o que isto significa

• PCS: não há precedência lógica entre os diversos pressupostos processuais, uma vez

que cada um deles tem a sua função e todas as exceções levam ao mesmo resultado.

o Intuitivamente, diz-se que o juiz deve começar por conhecer da sua própria

competência (pois se não for competente o processo acaba ali).

nº2

“O juiz deve resolver todas as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação,

excetuadas aquelas cuja decisão esteja prejudicada pela solução dada a outras”

• Olha-se como problema de direito material e está em causa a cumulação de causas de

pedir ou cumulação de pedidos.

• PCS: também significa que se o juiz der razão por 1 fundamento invocado não tem de

percorrer os outros fundamentos – a decisão é boa e está devidamente fundamentada.

o Esses outros fundamentos não morrem porque podem valer em sede de recurso

– autor pode pedir, em sede de recurso, a repristinação desses outros

fundamentos.

o Também são conhecidos quando houver pedido de julgamento incidental – se

alguma das partes pedir que sobre certo fundamento recaia uma decisão com

força de caso julgado, o juiz tem de apreciar esse fundamento. Parte não quer

apenas que aquele fundamento específico estribe a decisão, ela quer que a

decisão que recaia sobre aquele fundamento forme caso julgado.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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“não pode ocupar-se senão das questões suscitadas pelas partes, salvo se a lei lhe permitir ou

impuser o conhecimento oficioso de outras.”

• Mesmo quando o juiz possa realizar diligências de forma oficiosa, juiz tem de respeitar

o princípio do contraditório – na modalidade de audição prévia das partes

o Situação relevante pois a violação do princípio do contraditório implica nulidade

processual em cadeia (embora somente naquilo em que o exercício do

contraditório poderia ter tido influência decisivo – princípio do aproveitamento

máximo dos negócios jurídicos).

▪ Se produção do contraditório foi apenas aparente e houve violação do

contraditório, mas tal tem de ter impacte na cadeia – senão é violação

inconsequente (nada se destrói)

Limitado pelos pedidos das partes, o juiz não pode, na sentença, deles extravasar: a

decisão, seja condenatória ou absolutória, não pode pronunciar-se sobre mais do que o

que foi pedido ou sobre coisa diversa daquela que foi pedida (art. 609º/1).

Objeto da sentença coincide assim com o objeto do processo, não podendo o juiz ficar

aquém nem ir além do que lhe foi pedido.

Pode acontecer que, devido aos factos provados, há condenação mas que não

concretiza inteiramente a prestação devida – art. 609º/2 impõe a condenação genérica.

Tal como se admite a condenação in futurum

ART. 609º nº1

Principio do dispositivo aplicado aos pedidos (ao passo que o art. 5º é face às partes).

➢ Não pode haver condenação ultra petitum (fora dos pedidos) e aliud (em coisa alheia ao

pedido).

Relação entre art. 609º/1 e art. 5º mostra a Conceção Ampla e Forte do Direito português do

Princípio do Dispositivo – porque este princípio condiciona os factos com base nos quais o juiz

pode proferir decisão e condiciona o conteúdo da própria decisão.

Juiz está vinculado pelos pedidos das partes. ➢ PCS: discussão aberta quanto aos casos do art. 4º CC e de julgamentos segundo a equidade, em que as

partes atribuem ao Tribunal o poder de decidir de acordo com a decisão mais justa para o caso concreto, e

cuja dimensão forte permite que juiz desconsidere elementos de direito positivo e construa

autonomamente a solução para o caso concreto. Estará o tribunal vinculado (nos termos do art. 609º) aos

pedidos concretamente deduzidos? Pode o tribunal decidir um aliud em relação aos pedidos concretamente

aduzidos? Atribuição ao tribunal deste poder liberta-o de aplicar o princípio do dispositivo?

nº2

Como assim não há elementos?

Caso dos pedidos genéricos, nos casos em que são admitidos. Ex: consequências do fato ilícito

-> descriminam-se alguns danos mas não todos.

nº3

Exceção ao princípio do Dispositivo (é limite a este princípio)

Liga-se ao art. 376º/3

• Art. 376º/3, 1ª parte = art. 609º/3, mas numa macro-escala que leva a dizer que não há

Princípio do Dispositivo na Tutela Cautelar

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

88

o Esta é uma tutela de urgência em que não há presunção que o requerente da

providência tem razão.

o Requerente tem de persuadir o juiz para que esta providência seja dada – numa

situação de urgência e em condições difíceis, tendo de ultrapassar várias

barreiras.

o Juiz na sua análise conclui que havendo situação de urgência é possível fazer

algo para evitar o mal (ou para impedir mais consequências), concedendo a

providência.

o Urgência e necessidade de tutela do requerente, quando juiz percebe que tem

como dar razão, levam a que não vigore o princípio do dispositivo.

▪ Mas tem de respeitar o contraditório (art. 366º + 372º) – requerido tem

de se defender e regra é a do contraditório prévio, salvo nos casos em

que ele se defende por referência a uma tutela especificamente

requerida (ora, se juiz entende que tutela que deve ser decretada é

distinta desta, então tem de dar contraditório prévio ao requerido – não

pode decidir por coisa diferente sem ser aquela por referência à qual o

requerido se defendeu).

Efeitos da Sentença Formação de Caso Julgado Quando já não é possível reclamação nem recurso ordinário, quer nenhuma impugnação tenha

tido lugar nos prazos legais quer se tenham esgotado os meios de impugnação efetivamente

utilizados, a sentença transita em julgado (art 628º) e extingue a instância (art. 277º/a).

➢ Forma-se então o caso julgado formal quando a decisão é de absolvição da instância

(com efeitos apenas no processo concreto) ou simultaneamente formal e material

quando a decisão é de mérito (com efeitos dentro e fora do processo).

A força imperativa da sentença não fica dependente de nenhum facto futuro, porque é inerente

ao ato jurisdicional, constituindo uma qualidade intrínseca de toda a decisão judicial.

➢ A sentença tem força imperativa mesmo antes de se tornar imutável.

As decisões transitam em julgado quando não são suscetíveis de recurso ordinário ou, sendo-

o, por a parte (vencida) ter deixado passar o prazo sem que o tivesse interposto, ou ainda

depois de terem sido esgotados os recursos possíveis.

Valor da sentença transitada em julgado – art. 619º, 620º

• Caso julgado material – decisão sobre a relação material controvertida fica a ter força

obrigatória dentro do processo e fora dele.

o Força imperativa da decisão que recaiu sobre certa relação material

controvertida.

• Caso julgado formal – decisão sobre questões de natureza processual. Incide somente

em questão processual e não no mérito da causa.

o Têm força obrigatória dentro do processo, não impedindo que num outro

processo a questão processual seja decidida de modo diferente pelo mesmo ou

por outro tribunal.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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Art. 613º - extinção do poder jurisdicional

PCS: este artigo implica que juiz não possa alterar a decisão que proferiu – poder jurisdicional

está esgotado.

Pais Amaral: Proferida a sentença, está vedado ao juiz proceder a qualquer alteração, não só

na própria decisão, mas também nos fundamentos da mesma.

• O que se esgota é apenas o poder de decidir o litígio e causa, mas a competência do juiz

mantém-se no que toca ao ulterior desenvolvimento do processo.

• É lícito fazer o disposto no art. 613º/2.

Outros efeitos:

• Exequibilidade – art. 703º/1/a

• Direito à constituição de hipoteca judicial – art. 710º/1

• Efeitos reflexos ou laterais de direito material

PODER JURISDICIONAL SÓ SE REABRE/REATRIBUI através de pedidos de retificação, reforma,

reclamação com fundamento em nulidade ou interposição de recurso.

1. Retificação – art. 614º O que acontece nestas situações é que estas normas estão sempre dependentes de haver ou não

recurso.

➢ Recurso vai balizar o momento da retificação (art. 614º/2 e 3)

Na sentença podem ocorrer erros materiais – não só erro de cálculo ou de escrita (art. 249º

CC) mas também omissão do nome das partes ou de outro elemento essencial, mas não

duvidoso.

• A requerimento das partes ou oficiosamente, a correção é feita por simples despacho

o a todo o tempo, se não houver recurso;

o até que que suba ao tribunal superior, se houver recurso

• Correção pode ser feita pelo tribunal superior (quando só perante ele a questão seja

levantada).

o A correção considera-se complemento e parte integrante da sentença.

2. Reforma – art. 616º Opera para custas e multas (nº1) e se não houver recurso é para erros manifestos (nº2 – situação

de caráter excecional).

É permitida nos casos em que se verificou lapso manifesto do juiz na determinação da norma

aplicável ou na qualificação jurídica dos factos.

➢ É o próprio juiz que procede a esta reforma, com fundamento em erro de direito ou

de facto, nos casos em que a decisão não admite recurso.

➢ Qualquer uma das partes pode invocar esse lapso manifesto.

Quando o juiz da causa, ele próprio, sob reclamação da parte, ao verificar que ocorreu lapso

manifesto na determinação da norma aplicável, na qualificação jurídica dos factos ou na

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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omissão de considerar certo meio de prova plena, decide alterar a decisão para uma diversa

da proferida (art. 616º/2).

➢ O despacho que profere é considerado como complemento ou parte integrante

da sentença (Art. 617º/2).

Tem sido entendido que serve só para eliminar lapsos manifestos, erros evidentes, ostensivos,

juridicamente insustentáveis e incontroversos.

➢ Jurisprudência tem assim entendido: STA (2/5/2014), Dulce Neto

PCS: face a elementos concludentes, o juiz entende que devia alterar a decisão que tinha

proferido

3. Reclamação Decisões judiciais uma vez proferidas não são necessariamente irrevogáveis. Elas podem ser

impugnadas (questionadas).

➢ Esta figura, em comum com o Recurso, visa fazer controlo da decisão impugnada e

suprimir as suas eventuais incorreções.

Primeira distinção do recurso:

Reclamação é pedida ao próprio tribunal e o Recurso é pedido a um tribunal superior.

Figura da reclamação também pode ser um meio de reagir contra atos do art. 195º (nulidades

processuais).

➢ Mas, efetivamente, aqui não é pedido de reapreciação e sim omissão de prática de um

ato.

Quando se fala em reclamação é para garantir controlo da decisão e pedido de reapreciação.

➢ No fundo, é pedido de reapreciação da decisão pelo próprio tribunal.

➢ Juiz reaprecia perante reclamação da parte.

OU HÁ NORMA ESPECÍFICA PARA SE RECLAMAR OU NÃO SE PODE RECLAMAR.

• Não é possível reclamar apenas porque se está descontente com a conduta do juiz, tal

só é possível quando haja norma positiva a admitir (devido ao art. 613º/1).

o Quanto ao recurso, há norma geral (art. 627º) que permite o recurso das

decisões judiciais.

Normas que permitem reclamação: art. 652º/3

➢ Reclamação no próprio processo se houver norma habilitante

Ex: art. 596º (despacho saneador) – pode não prosseguir nos termos do art. 595º/3

Art. 596º/2 – partes podem não concordar com a seleção dos temas de prova

Ex2: art. 615º/4

Ajuda a perceber a reclamação pois ela é um pedido de reapreciação da decisão pelo mesmo

órgão judicial e sobre a mesma situação.

Dirige-se ao próprio tribunal que fez a decisão para que ele analise essa sua decisão.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

91

4.

Recursos – art. 627º e ss. CPC

As decisões judiciais podem ser impugnadas através de múltiplos mecanismos.

Meio de impugnação por excelência: Recursos

Surge quando há: ➢ Erro de fundamento, quer respeitante ao apuramento dos factos da causa, quer respeite

à aplicação do direito aos factos apurados, faz-se em recurso de apelação (art. 644º/1/a).

➢ Tem assim lugar a reapreciação da causa pelo tribunal da relação, sob indicação, pelo

recorrente, em alegação, dos fundamentos por que pede a alteração da decisão proferida

(art. 639º/1)

Relaciona-se com o esgotar o poder jurisdicional

• Todos os recursos devolvem jurisdição ao sistema de justiça, porque tal é permitir que

um tribunal se volte a pronunciar sobre uma questão que já foi previamente decidida.

o Todos os recursos têm efeito/poder devolutivo.

• Devolvem jurisdição a órgão superior daquele que proferiu a decisão

requerida/impugnanda.

o Critério da competência em relação da hierarquia – só tem zona de incidência

em saber qual o tribunal para o qual se recorre de uma decisão (qual o tribunal

hierarquicamente submetido aquele que proferiu a decisão).

Reapreciação da questão/decisão pode ser feita de duas formas:

• Tribunal vai reapreciar a questão e re-julga a própria questão

• Tribunal aprecia a legalidade da decisão proferida pelo tribunal a quo

Sistema Português é sistema de controlo da legalidade pelo tribunal ad quem – para onde vai

o recurso do tribunal a quo.

➢ Há sistemas em que há re-julgamento da questão.

Diferença radical entre estes sistemas:

• Se recurso permitir re-julgamento as partes podem trazer novas linhas de ataque, novas

linhas de defesa e novas provas, para que o tribunal superior re-julgue a questão.

o Significa que ela não ficou exaurientemente discutida na primeira instância e é

possível rediscuti-la numa instância superior.

• O objeto do recurso não é a decisão: objeto do recurso é a questão jurídica posta e a má

decisão que sobre ela foi proferida.

• No nosso sistema, o objeto do recurso é a decisão.

Quando tribunal superior verifica a legalidade da decisão, tribunal superior tem de se colocar na

posição do juiz de 1ª instância e dizer: os meios que o juiz convoca para justificar a sua convicção

têm uma relação de coerência, portanto, enquanto tribunal superior, ainda que me não

convencesse da existência do direito, não posso cassar a decisão proferida pelo tribunal inferior

porque ela é compatível com o sistema.

➢ Há relação de coerência naquilo que o juiz diz ter mobilizado para atingir convicção

segura e a convicção que ele diz ter adquirido.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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Se não for um recurso de legalidade, o tribunal superior pode re-julgar a questão e vai

necessariamente deixar de lado a convicção obtida pelo tribunal inferior e colocar em cima da

mesa a sua própria convicção.

Sistema de Re-julgamento (Alemanha)

+ demorado, pois tem de se re-julgar toda a questão; tem de verificar qual a decisão devida

perante os elementos que havia no processo e os que agora existem a mais (tem de se exaurir

todas as possíveis linhas de ataque e defesa).

➢ É mais longo mas tem potencial exaurimento de todas as questões quanto àquela

situação da vida.

Sistema de Controlo da Legalidade (Portugal)

+ rápido, pois objeto do recurso é a própria decisão; só tem de verificar se perante os elementos

existentes no processo a decisão foi boa ou má

➢ Ganho de tempo através do confinamento do recurso à própria decisão e verificação da

sua legalidade mas que pode levar a um retardamento da decisão do caso concreto.

Art. 637º Interpõe-se por meio de requerimento dirigido ao tribunal que proferiu a decisão recorrida,

no qual se indica a espécie, o efeito e o modo de subida do recurso interposto

Pode subir nos próprios autos: recurso de apelação (art. 645º/1)

Pode subir em separado: outras apelações (art. 645º/2)

Efeito dos Recursos (MTS)

INTRAPROCESSUAIS

• Suspensivos – decisão recorrida não transita em julgado e, por isso, não recebe o valor

de caso julgado antes da sua confirmação pelo tribunal de recurso ou de nem sequer vir

a obter esse valor se for revogada por esse tribunal.

o A interposição de recurso protela o caso julgado da decisão recorrida.

• Translativos – transferência de efeitos decorrentes da instância recorrida para a

instância de recurso.

• Devolutivos – atribuição ao tribunal superior (ad quem) do poder de confirmar ou

revogar a decisão recorrida, sendo ele que justifica a chamada expedição ou subida do

recurso.

o Efeito devolutivo só concede ao tribunal ad quem um poder de controlo sobre

a decisão recorrida (e não um poder semelhante à competência da 1ª instância

para julgar a causa), o que justifica que, se essa decisão for confirmada em

recurso, os efeitos desta confirmação devam retroagir ao momento do seu

proferimento na instância recorrida.

EXTRAPROCESSUAIS

• Devolutivo – interposição do recurso não obsta à produção de efeitos da decisão

recorrida fora do processo em que foi proferida.

• Suspensivo – interposição do recurso impede a produção de efeitos da decisão recorrida

fora do processo, nomeadamente a sua exequibilidade (obsta a que se constitua título

executivo enquanto não transitar em julgado ou suspende o andamento do processo).

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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Delimitação Subjetiva do Recurso – art. 635º

Delimitação Objetiva do Recurso – recorrente pode limitar o recurso a qualquer uma das

distintas questões contidas na parte dispositiva da sentença (art. 608º/2).

➢ Na falta de especificação, o recurso abrange tudo o que na parte dispositiva da sentença

for desfavorável ao recorrente (art. 635º/3)

Em consonância com o art. 635º/5, o recorrente não pode perder mais no tribunal ad quem

do que já tinha perdido no tribunal a quo.

➢ Pais Amaral: Está afastada a reformatio in pejus.

Art. 636º - Ampliação do Objeto de Recurso

nº1: no caso de pluralidade de fundamentos

Quando a ação comporta várias causas de pedir, ou a defesa se alicerça em vários fundamentos,

e apenas uma ou algumas dessas causas de pedir, ou fundamentos, foi julgado procedente.

Deste modo, a parte vencedora, prevenindo a procedência do recurso interposto pela parte

vencida, procura obter decisão favorável com base em outra causa de pedir ou noutro

fundamento que tenha sido rejeitado.

• Tendo-lhe sido favorável a decisão, não pode interpor recurso, embora não tenha

conseguido vencimento em algum dos fundamentos por si invocados.

• No caso da contraparte impugnar a decisão, o recorrido corre o risco de passar à

situação de vencido ao ser reapreciado o fundamento em que não tinha obtido

vencimento.

o Por isso, o recorrido tem interesse em que também seja apreciado pelo tribunal

superior o fundamento em que havia decaído, reabrindo-se assim a discussão

sobre todos os fundamentos.

Ex: A propõe contra B ação de anulação de um contrato por incapacidade e por dolo. Sentença

anula o contrato só por incapacidade, rejeitado a arguição do dolo. A não pode recorrer, porque

não ficou vencido. Mas se B o fizer, reabre-se a discussão na totalidade.

nº2: quanto à matéria de facto não provada

Recorrido pode pedir a ampliação, mesmo que a título subsidiário, do âmbito do recurso, por

forma a que se reaprecie também a decisão no que concerne à matéria de facto que a primeira

instância havia julgado não provada.

nº3: Relação pode remeter o processo ao Tribunal a quo para apuramento da matéria de facto

que se revelou necessária após o requerimento de ampliação do objeto do recurso.

Em regra os recursos não podem incidir sobre matéria nova

➢ Os recursos visam modificar as decisões recorridas e não criar decisões sobre matéria

nova, não sendo lícito invocar nos mesmos questões que não tenham sido objeto das

decisões recorridas nem devendo conhecer-se, neles, de questões que as partes não

tenham suscitado perante o tribunal recorrido.

Prazo 30 dias para o Recurso Ordinário – art. 638º/1

➢ Resposta do recorrido – art. 638º/5

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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LEGITIMIDADE PARA RECORRER – art. 631º

Legitimidade para recorrer é da parte principal que tenha ficado vencida77

➢ Parte principal considera-se vencida quando tenha sido prejudicada pela decisão.

➢ Tendo a parte formulado um certo pedido, a decisão não o atendeu ou não o atendeu

integralmente.

o A porção do pedido que não foi atendida denomina-se Sucumbência (porção em

que a parte decaiu).

Parte vencedora teve provimento, portanto não se justifica que ela tenha interesse processual

em recorrer.

Mas, há certos casos em que é a parte inicialmente vencedora, que depois passa a vencida, que

pode recorrer.

• Pode haver legitimidade para ampliar objeto de recurso quando tribunal deu razão ao

autor pela razão x, mas agora em recurso o réu invoca as outras razões das quais o autor

também já se defendeu.

• Parte vencida interpõe recurso, parte vencedora diz que se esse recurso for provido o

tribunal superior tem de apreciar as outras linhas de argumentação – amplia

objetivamente o recurso, num âmbito diferente (art. 636º=

Art. 637º - estrutura dos recursos é idêntica à da reforma (onde o mesmo juiz se pronuncia pelo

sentido da reforma da sua própria decisão)

➢ Isto porque os recursos são dirigidos a tribunal superior mas interpõe-se no tribunal

inferior, ou seja, as razões pelas quais se recorre e as razões da discordância são levadas

ao conhecimento do decisor que proferiu a decisão impugnanda para que ele possa,

querendo, alterar a decisão – reparar a decisão proferida.

o Se juiz alterar, ao abrigo do poder de reforma, a decisão que tinha proferido – a

parte vencida passa a vencedora e a vencedora a vencida, o que significa que da

decisão reformada temos outra vez possibilidade de recurso (agora da parte

originariamente vencedora que, agora sendo vencida, tem legitimidade para

recorrer).

▪ Sempre o mesmo objetivo: garantir que a decisão proferida é a melhor

possível e que aquele que profere uma decisão que não é compatível

com o sistema possa alterá-la.

Renúncia antecipada ao recurso só produz efeitos se provier de ambas as partes – art. 632º/1

77 E entidades que tutelam interesses públicos? Não têm interesses próprios e não são diretamente prejudicadas nos seus interesses. Os interesses dela é o interesse público, que determina que aquela pessoa coletiva tenha determinadas atribuições. Podem recorrer? PCS: elas podem recorrer devido a substituição processual, na modalidade de partes por incumbência. As autoridades administrativas que tenham a atribuição de promover o interesse público, obviamente que tem de poder ter todas as atribuições necessárias à tutela do interesse que lhe está atribuído. Elas são partes por incumbência. Instituto da substituição processual permite explicar a legitimidade processual de pessoas coletivas de direito público para recorrer. TC já se pronunciou sobre isto mas PCS diz que não acertaram no alvo e vai ainda falar de um interesse próprio, percebendo que não pode deixar de dar instrumentos à pessoa coletiva, mas ainda não chega ao nível seguinte da parte por incumbência.

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Pode recorrer-se de todas as decisões? SIM, das que tendencialmente formem caso julgado.

NÃO se pode recorrer das que não têm tendencialmente este efeito. Ex: marcação de audiência

e despachos de mero expediente.

➢ Mas, mesmo dessas decisões pode haver um controlo da decisão quando tal decisão

colidir com garantias fundamentais processuais. Ex: casos em que prazos não são

compatíveis com o processo equitativo pois não há tempo suficiente para fazer um bom

contraditório.

Também não se pode recorrer quando ele atuar segundo poder discricionário – mas podem

atacar-se os pressupostos desse poder discricionário.

DECISÕES QUE ADMITEM RECURSO Temos recursos limitados no exercício da jurisdição – lei tem atenção a isso quando diz quais as

decisões que são recorríveis.

Conjugação dos valores da causa, da alçada e da sucumbência – art. 629º

2 requisitos cumulativos:

➢ valor da causa superior à alçada do tribunal78 de que se recorre (valor da causa) +

decisão seja desfavorável para o recorrente em valor superior a metade da alçada do

mesmo tribunal (valor da sucumbência)

Quanto à 1ª instância: sucumbência > 2500€; valor da ação > 5000€

Quanto à 2ª instância: sucumbência > 15000€; valor da ação > 30000€

Ex: parte pediu 1 milhão 725 mil; tribunal deu 1 milhão 722 mil – desta decisão não cabe recurso

pois, apesar de passar o primeiro critério (alçada do tribunal de primeira instância), não passa o

segundo (sucumbência).

➢ O valor da sucumbência não é superior a metade do valor da alçada do tribunal do qual

se recorre.

➢ Dupla ponderação do interesse e do impacte económico da revisão da decisão.

PCS: Isto significa que em Direito Processual Civil, diferente do Direito Processual Penal, não há

garantia do duplo grau de jurisdição.

• Afirmado pelo Tribunal Constitucional.

• Só há essa garantia para os casos de valor mais alto, porque se assume que tal tem mais

importância na vida das pessoas – faz-se uma ponderação do impacte das decisões na

vida das pessoas.

Há casos em que é impossível determinar o valor da sucumbência. Ex: art. 556º/1/a, c; art.

609º/2

➢ Nesses casos atender-se-á somente ao valor da causa: art. 629º/1, in fine

78 PCS: é o valor até ao qual um tribunal julgava, sem recurso das decisões por si proferidas. O que significa que uma decisão que se contenha no valor da Alçada do tribunal que a profere é, em regra, uma decisão irrecorrível.

➢ É essa a razão de ser do conceito de Alçada.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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No caso da CUMULAÇÃO DE PEDIDOS, o valor da sucumbência deve ser determinado

autonomamente para cada um dos pedidos cumulados.

➢ Portanto, para que o recurso seja admissível em relação a todos eles é necessário que o

valor da sucumbência se verifique quanto a cada um deles.

DECISÕES QUE NÃO ADMITEM RECURSO Art. 630º

DECISÕES QUE ADMITEM SEMPRE RECURSO Casos em que o valor da causa e o da sucumbência não são determinantes para a

admissibilidade dos recursos – art. 629º/2

É sempre possível recorrer quando:

➢ casos em que o valor está em discussão (pois não há certeza sobre um elemento que

determina a recorribilidade) + casos do art. 629º/2

o Art. 629º/2/c – isto significa que há-de haver uma forma de uniformizar a

jurisprudência do STJ

▪ Há sempre recurso dessa uniformização pois o Direito está na decisão.

É no modo como o STJ determina o Direito que ele se deteta.

▪ Uma das funções da jurisprudência é contribuir para uma aplicação do

melhor direito – se se rigidifica a solução isso não contribui para o

avanço do Direito. Tribunais têm de poder alterar a sua própria

jurisprudência.

▪ Só que a alteração da jurisprudência do STJ está sujeita a um

regime/esquema de tal modo complexo que não é fácil provocar-se

essa alteração – isto pois pretende-se evitar a insegurança e

imprevisibilidade jurídica. Portanto, o nosso sistema de alteração é

dificultado para dar previsibilidade à vida das pessoas.

▪ PCS: Processo Civil ainda não aprendeu com a jurisprudência

constitucional dos efeitos da sentença de mudar as coisas “daqui para

diante” e manter como estavam “antes da decisão”. Por isso, ao alterar-

se a jurisprudência do STJ está-se a alterar por completo a linha entre o

ser e o dever-ser que as pessoas tomaram em consideração quando

atuaram.

Decisões que admitem sempre recurso para a relação – art. 629º/3

Espécie de recursos: ART. 627º/2 – Ordinários e Extraordinários

ORDINÁRIOS: Apelação + Revista Interpostos antes do trânsito em julgado

APELAÇÃO – art. 644º

Da 1ª instância para a Relação (2ª instância)

Incide sobre toda a matéria – facto e direito

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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Art. 644º/1/b: para efeitos recursórios equiparam-se as decisões que põe termo ao processo,

sejam estas de decisões de mérito ou de forma.

Modo de subida da apelação: art. 645º

Efeito da apelação: art. 647º

Nº2: Efeito suspensivo do processo – recurso susta o andamento do processo em que

foi proferida a decisão de que se recorre e só pode ocorrer quando haja uma disposição

legal que determine esse efeito.

Nº3: Efeito suspensivo da decisão – recurso susta a execução da decisão recorrida,

obstando a que essa decisão constitua título executivo enquanto não transitar em

julgado.

REVISTA – art. 671º

Da Relação para o STJ

Incide apenas sobre a matéria de direito ➢ Pedro Madeira de Brito: Significa que a decisão do STJ é, em princípio, com um âmbito de

aplicação que não pode ser mais lato.

➢ Não se considera 3ª instância pois estão limitados nas matérias que apreciam – matéria

de direito. Não pode encaixar coisas novas daquelas que foram decididas na relação

➢ A decisão que o STJ toma não faz nenhum controlo da matéria de facto e só o erro de

direito é suscetível de ser julgado.

Dupla Conforme: art. 671º/3 – havendo duas decisões no mesmo sentido, não será admitida

uma terceira decisão.

• Origem no Direito Canónico – o que demonstra que a teoria geral do processo não tem

fronteiras.

• Se duas instâncias já se pronunciaram e estavam de acordo então não se pode ir ao STJ

• PCS: tentativa de coartar os recursos da justiça com um discurso falacioso pois a

estatística revela que no STJ havia muitas revogações

REVISTA EXCECIONAL: art. 672º contém as exceções à regra da Dupla Conforme do art. 671º/3

Fundamentos da revista: art. 674º - a revista é um recurso destinado a submeter ao tribunal

superior a reapreciação da decisão sobre a matéria de direito.

Modo de subida: art. 675º

Recurso per saltum: art. 678º

Salta imediatamente da primeira instância (que proferiu a decisão) para o STJ, sem passar pelo

Tribunal da Relação.

➢ O STJ é um tribunal de revista, pelo que o recurso per saltum só pode ser admitido

quando se verifiquem determinados pressupostos

➢ Partes podem requerer, nas conclusões da alegação, que, se verificadas algumas

condições, haja um recurso per saltum.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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EXTRAORDINÁRIOS: Recurso de Uniformização de Jurisprudência (+ Recurso Ampliado

de Revista) + Revisão Interpostos já depois da decisão ter transitado em julgado.

Se há recursos que são suscetíveis de serem interpostos antes do trânsito em julgado, o que

justifica que haja recursos interponíveis depois do trânsito em julgado?

➢ PCS: Tudo depende de ponderação e em casos de injustiça intolerável, o Direito tem de

permitir a revogação da decisão intoleravelmente injusta – para as quais a lei prevê os

recursos extraordinários.

o A decisão é tão injusta que não se questiona aquela decisão mas toda a justiça

em geral fica afetada.

Pais Amaral: São remédios criados pelo legislador para a correção de vícios das decisões

judiciais que, por já terem transitado em julgado, seriam inalteráveis.

• Procuram reparar vício de uma decisão judicial.

• A necessidade de certeza e segurança das relações jurídicas, que leva a que

normalmente o caso julgado seja intangível, cede perante a necessidade de reparação

de um erro de facto ou de direito verificado na sentença.

UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA – art. 686º

Definição última do Direito para as pessoas organizarem a sua vida.

Assentos foram revogados e eram forma de regulação do Direito.

Eram importantes para definir o que é o Direito – fazia sentido no tempo das Ordenações (de

onde provêm, com origem em institutos da Casa de Suplicação e das Façanhas) pois havia muita gente

sem saber ler nem escrever, incluindo juízes.

Art. 2º CC foi revogado porque Tribunal Constitucional preparava-se para fazer a terceira

declaração de inconstitucionalidade por considerar que este artigo punha em causa o princípio

da separação de poderes, por o poder judicial ter uma função legislativa

➢ Possibilidade de revogação do Assento era muito complexa e mais difícil até que a lei.

Vinculava toda a gente e tinha caráter pétreo/perpétuo, o que invadia a função

legislativa.

➢ Durante um tempo não houve uma figura que permitisse aceder a soluções definitivas

da jurisprudência.

Recurso UJ / AUJ – são assentos mas não têm força obrigatória geral/vinculação universal.

➢ PCS: mas vinculam os tribunais, tal como os assentos, só não se diz que vincula toda a

gente

A par disto, criou-se um instrumento inteligente: RECURSO AMPLIADO DE REVISTA

➢ Dupla Conforme é superada sempre que a decisão proferida contrarie jurisprudência do

Supremo ou jurisprudência de aquela ou outra Relação – abre-se assim caminho para o

supremo.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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Julgamento Ampliado de Revista

Impôs-se que se aquele que vai julgar em recurso perceber que a sua decisão vai contrariar a

jurisprudência uniformizada do STJ (onde nos encontramos), tem de provocar a intervenção

de um novo decisor (que será aquele que tem competência para o AUJ).

Garante-se a uniformização da jurisprudência e a não criação de conflitos de jurisprudência

dentro do STJ impondo, no fundo, que os recursos de uniformização e aqueles de onde pode vir

uma decisão diversa da que está uniformizada têm de provir do mesmo tipo decisor (pleno das

secções cíveis do STJ – deixa de ser um colégio de 3 juízes para passar a ser um colégio de

aproximadamente 60).

➢ É mais fácil manter a posição do que mudá-la (princípio da inércia). Tende a criar-se uma

rigidez pois exige-se 4/5 do pleno das secções cíveis para se alterar.

➢ Acórdão anterior não é vinculante, mas cria-se um sistema que, no seu funcionamento,

tende à rigidez.

Função essencial da jurisprudência é o desenvolvimento do próprio Direito.

Legislador tenta resolver um conjunto de problemas, mas, aquele que em concreto vai perceber

quais os problemas do sistema é o juiz.

➢ Ela concretiza um conjunto de cláusulas gerais e daí vai dando um maior e mais denso

parâmetro do modelo em que operam aquelas cláusulas gerais.

PCS: Trabalho da jurisprudência é essencial para definir a linha entre o bem e o mal.

• Há tanta necessidade de definir o que é o bem e o mal que há 3 caminhos para chegar

à uniformização:

1. revista excecional superando a dupla conforme;

2. recurso de julgamento de revista de forma ampliada;

3. recurso de uniformização de jurisprudência.

REVISÃO – art. 696º Pais Amaral: Admite-se em que casos em que se pressupõe que o caso julgado se formou em

condições anormais, onde ocorreram circunstâncias patológicas suscetíveis de produzir

injustiça clamorosa.

➢ Este recurso visa eliminar o escândalo dessa injustiça, sobrepondo ao interesse da

segurança e da certeza o interesse da justiça.

Recurso Extraordinário após trânsito em julgado – apesar de todos os recursos já estarem

esgotados, há casos em que isto tem de ser possível devido à possibilidade da justiça ter sido

afeta de forma insuportavelmente injusta.

➢ PCS: Regra de Cúpula que, apesar do Processo viver na dicotomia justiça/segurança,

vem afirmar que o Processo se preocupa realmente com a realização da justiça

o Realizar a justiça = conseguir definir bem o direito, ou seja, interpretar

corretamente os parâmetros do sistema jurídico na sua globalidade.

o Tarefa de juiz é hercúlea pois tem de conciliar a regra com todas as regras do

sistema.

Paula Costa e Silva, contra toda a doutrina: tem de haver abertura do recurso de revisão pois

este recurso tem de ser interponível não apenas nos casos previstos na lei, mas, sempre que

seja possível estabelecer uma analogia entre a injustiça intolerável que fundamenta os casos

previstos na lei e o caso concreto que a parte quer expor perante o tribunal.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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Isto não cria muita incerteza?

• PCS: Esse é o contexto em que o jurista se move, num de incerteza.

o O facto de se criar incerteza, porque se permite a reabertura da discussão de

um processo cuja decisão tinha transitado em julgado, não é problemático

numa decisão de tamanha injustiça.

▪ Porque essa certeza só seria tida por pouco tempo porque estes

recursos, ao serem extraordinários, têm uma fase liminar de

controlo/verificação das condições de tal modo graves que se permite

a rutura do caso julgado.

▪ Decisão proferida é-o num contexto tal que as suas consequências não

respeitam o sistema de justiça.

Permite a quebra do caso julgado em:

1) Casos tipificados no art. 696º

2) Casos em que a justiça é afetada insuportavelmente – nos casos análogos aos do art.

696º em que a verificação da injustiça seria insuportável/intolerável.

Há uma variação enorme dos diversos sistemas jurídicos quanto ao que permite a rutura do caso

julgado.

Ordenamento jurídico italiano tem mais cláusulas de rutura do caso julgado do que a Ordem

jurídica portuguesa – isto significa que nós temos de tolerar mais injustiça que eles? Será um

bom sistema de justiça este que tolera mais injustiças que os outros consideram insuportáveis?

➢ PCS: não. Daí que o art. 696º não possa ser completamente taxativo.

o Ele surge aparentemente como tal, devido a uma exigência histórica de

segurança.

o Temos de ter a envergadura de ir mais longe e perceber o que agrega todas

aquelas situações.

Prazo: art. 697º

Devido a admitirem-se estes recursos, a sentença transitada em julgado só pode ser considerada

relativamente inalterável.

Recurso independente e Recurso subordinado

Art. 633º

Ex: A pede que B seja condenado a pagar uma indemnização de 40000€ mas a sentença condena

B a pagar somente 38000€ - ambas as partes estão vencidas. O autor em 2000€ (que é o valor

da sucumbência) e o réu na totalidade da condenação.

➢ Casos em que a ação é julgada só parcialmente procedente

➢ Se autor estava conformado com a decisão de obter apenas 38000€ e, por isso, não

pensava recorrer, passou a poder interpor recurso subordinado se, entretanto, o réu

veio a recorrer.

o Ele nem podia ter interposto recurso independente pois o valor da sucumbência

é inferior a metade da alçada do tribunal de 1ª instância.

Art. 633º/5: se o recurso independente for admissível, o recurso subordinado também o será,

ainda que a decisão impugnada seja desfavorável para o respetivo recorrente em valor igual ou

inferior a metade da alçada do tribunal de que se recorre.

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Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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Caso Julgado

A exceção do caso julgado tem por fim evitar que o tribunal seja colocado na alternativa de

contradizer ou de reproduzir uma decisão anterior – art. 580º/2

➢ Pais Amaral: isto salvaguarda, de certo modo, o prestígio dos tribunais, mas, a principal

razão da existência da exceção prende-se com a necessidade de certeza ou segurança

jurídica – deve evitar-se a instabilidade jurídica e garantir-se que a decisão sobre

determinada relação material controvertida não poderá, em princípio, ser alterada.

o Esta segurança contribui para a paz social, essencial ao bom relacionamento

entre as pessoas.

➢ Paula Meira Lourenço: esta é função do caso julgado

o Define a situação jurídica para as partes e para a restante comunidade jurídica,

no geral, tendo eficácia externa para terceiros.

o Significa que autor e réu, se não recorrem, nunca mais podem recorrer ao tribunal

para discutir o mesmo litígio: mesmo objeto processual, mesmas partes e etc.

o Art. 577º/1 diz-nos que o caso julgado é uma exceção dilatória.

Manuel de Andrade: seria intolerável que cada um nem ao menos pudesse confiar nos direitos

que uma sentença lhe reconheceu

A força do caso julgado material incide sobre a decisão final, i.e., sobre a parte que constitui a

resposta ao pedido formulado.

➢ Essa questão não poderá voltar a ser objeto de decisão pelo mesmo ou por outro

tribunal.

Alcance: art. 621º - na expressão “precisos limites e termos em que julga” enquadram-se todas

as questões solucionadas na sentença, conexas com o direito a que se refere a pretensão do

autor.

• Doutrina maioritária considera que o caso julgado é restrito à parte dispositiva do

julgamento mas alargam a sua força obrigatória à resolução das questões que a

sentença tenha necessidade de resolver como premissa da conclusão formada –

reconhece autoridade à decisão daquelas questões preliminares que forem antecedente

lógico indispensável à emissão da parte dispositiva do julgado.

• Não é de excluir que se possa e deva recorrer à parte motivatória da sentença para

interpretar a decisão (para reconstituir o seu verdadeiro conteúdo).

• As premissas da decisão não adquirem, em regra, força de caso julgado, mas, deve

reconhecer-se-lhes essa natureza quer quando a parte decisória a elas se referir de

modo expresso, quer quando constituírem antecedente lógico necessário e

imprescindível da decisão final – ou seja, a autoridade do caso julgado abrange, além da

componente decisória da sentença, as questões preliminares que constituam

pressupostos lógicos e necessários indispensáveis à emissão da parte dispositiva do

julgamento.

Limites do caso julgado

Subjetivos – caso julgado só tem eficácia entre as partes.

• Princípio da eficácia relativa do caso julgado é entre os sujeitos que litigaram no

processo/entre as partes que intervieram no processo para defender os seus interesses.

Page 102: Sebenta Direito Processual Civil II 2017/2018 DNB · Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB 6 Destinatário desta regra é o juiz, porque a lei elucida em que factos pode o juiz

Sebenta Processo Civil II – 2017/2018 DNB

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• Os sujeitos que são idênticos, sob o ponto de vista da qualidade jurídica, são o primitivo

titular do direito e o seu sucessor.

Objetivos – para que se possa deduzir a exceção do caso julgado é necessário que nas duas

ações se verifique, cumulativamente, identidade de sujeitos, identidade de pedido e identidade

de causa de pedir.