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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018 Regência: Paula Costa e Silva O que é o Direito Processual Civil? .............................................................................................. 3 Características do Direito Processual Civil ................................................................................ 3 Tipos de Ações – art. 10º ...................................................................................................... 3 Função do Processo Civil ........................................................................................................... 4 TRAMITAÇÃO PROCESSUAL ......................................................................................................... 4 1ª FASE DOS ARTICULADOS...................................................................................................... 5 Petição Inicial ........................................................................................................................ 5 Citação .................................................................................................................................. 8 Contestação .......................................................................................................................... 9 Reconvenção ....................................................................................................................... 11 Réplica ................................................................................................................................. 11 2ª FASE DA CONDENSAÇÃO ................................................................................................... 12 Despacho Pré-Saneador ..................................................................................................... 12 Audiência Prévia ................................................................................................................. 13 Despacho Saneador ............................................................................................................ 13 3ª FASE DA INSTRUÇÃO.......................................................................................................... 16 4ª FASE DA DISCUSSÃO E JULGAMENTO ............................................................................... 16 Princípios do Direito Processual Civil ......................................................................................... 17 Princípio da Equidade.............................................................................................................. 17 A. Princípio do Contraditório ............................................................................................. 17 B. Princípio da Igualdade de Armas ................................................................................... 18 A. Princípio da Publicidade................................................................................................. 18 6. PRAZO RAZOÁVEL ........................................................................................................... 18 Princípio da Legalidade do Conteúdo da Decisão ................................................................... 19 Princípio do Dispositivo ........................................................................................................... 19 Disponibilidade da Instância .............................................................................................. 19 Disponibilidade da Conformação da Instância .................................................................. 19 Formação da Matéria de Facto: Factos Principais, Instrumentais e etc. .......................... 19 Princípio da Controvérsia ................................................................................................... 21 Princípio do Inquisitório .......................................................................................................... 21 Princípio da Cooperação ......................................................................................................... 21 Princípios da Imediação, Oralidade e Concentração e da Livre Apreciação da Prova ............ 21 Princípio da Economia Processual ........................................................................................... 21 Princípio da Gestão Processual ............................................................................................... 22 Princípio da Prevalência da Substância sobre a Forma ........................................................... 23 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS ................................................................................................... 25

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Page 1: Sebenta Processo Civil I DNB 2017/2018Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018 6 Princípio do Dispositivo – iniciativa do autor é insubstituível, pois só a ele cabe solicitar

Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

Regência: Paula Costa e Silva

O que é o Direito Processual Civil? .............................................................................................. 3

Características do Direito Processual Civil ................................................................................ 3

Tipos de Ações – art. 10º ...................................................................................................... 3

Função do Processo Civil ........................................................................................................... 4

TRAMITAÇÃO PROCESSUAL ......................................................................................................... 4

1ª FASE DOS ARTICULADOS ...................................................................................................... 5

Petição Inicial ........................................................................................................................ 5

Citação .................................................................................................................................. 8

Contestação .......................................................................................................................... 9

Reconvenção ....................................................................................................................... 11

Réplica ................................................................................................................................. 11

2ª FASE DA CONDENSAÇÃO ................................................................................................... 12

Despacho Pré-Saneador ..................................................................................................... 12

Audiência Prévia ................................................................................................................. 13

Despacho Saneador ............................................................................................................ 13

3ª FASE DA INSTRUÇÃO .......................................................................................................... 16

4ª FASE DA DISCUSSÃO E JULGAMENTO ............................................................................... 16

Princípios do Direito Processual Civil ......................................................................................... 17

Princípio da Equidade .............................................................................................................. 17

A. Princípio do Contraditório ............................................................................................. 17

B. Princípio da Igualdade de Armas ................................................................................... 18

A. Princípio da Publicidade ................................................................................................. 18

6. PRAZO RAZOÁVEL ........................................................................................................... 18

Princípio da Legalidade do Conteúdo da Decisão ................................................................... 19

Princípio do Dispositivo ........................................................................................................... 19

Disponibilidade da Instância .............................................................................................. 19

Disponibilidade da Conformação da Instância .................................................................. 19

Formação da Matéria de Facto: Factos Principais, Instrumentais e etc. .......................... 19

Princípio da Controvérsia ................................................................................................... 21

Princípio do Inquisitório .......................................................................................................... 21

Princípio da Cooperação ......................................................................................................... 21

Princípios da Imediação, Oralidade e Concentração e da Livre Apreciação da Prova ............ 21

Princípio da Economia Processual ........................................................................................... 21

Princípio da Gestão Processual ............................................................................................... 22

Princípio da Prevalência da Substância sobre a Forma ........................................................... 23

PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS ................................................................................................... 25

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

2

1. COMPETÊNCIA .................................................................................................................... 27

Competência Interna ........................................................................................................... 28

Competência Internacional ................................................................................................. 30

Incompetência ..................................................................................................................... 36

Casos Práticos ...................................................................................................................... 37

2. CAPACIDADE JUDICIÁRIA ................................................................................................... 37

3. PATROCÍNIO JUDICIÁRIO .................................................................................................... 38

4. PERSONALIDADE JUDICIÁRIA ............................................................................................. 39

Partes Processuais ............................................................................................................... 39

Caso da transmissão da coisa ou direito em litígio – art. 263º ........................................... 40

Parte e Personalidade Judiciária ......................................................................................... 42

5. LEGITIMIDADE DAS PARTES ............................................................................................... 43

Litisconsórcio ....................................................................................................................... 44

Esquemas de Legitimidade .................................................................................................. 47

6. INTERESSE PROCESSUAL ..................................................................................................... 49

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

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O que é o Direito Processual Civil?

As 3 bases que sustentam o Estado de Direito Democrático são: Liberdade, Autonomia Privada,

Responsabilidade

➢ Não há Liberdade sem Autonomia, mas também não há liberdade e autonomia sem

Responsabilidade. E a Responsabilidade pressupõe a autonomia e a liberdade.

o Sem isto, é um sistema totalmente arbitrário ou totalmente totalitário.

O Processo Civil surge numa situação de conflito, quando há uma falha na autonomia privada.

➢ Paula Costa e Silva: processo é heteronomia, quando falha a autonomia e serve para

perceber como se realiza a justiça.

Pais Amaral: O conflito de interesses1, i.e., o litígio surge quando as normas jurídicas não são

respeitadas – desrespeito ou violação dos direitos de outrem desencadeiam a necessidade

de proceder à reintegração do direito violado.

➢ Essa reintegração é feita pelo juízo e não pela autotutela, que é proibida no art. 1º CPC.

Processo é a realização contínua e prolongada de uma atividade, traduzindo uma sequência

contínua de factos ou operações com um certo andamento/desenvolvimento que levam a certo

resultado.

➢ Juridicamente é uma sequência de atos destinados à justa composição de um litígio,

por um órgão imparcial de autoridade.

o É o conjunto de peças apresentadas por uma e outra parte para servir à

instrução e julgamento de uma questão.

o O resultado para que tende é a sentença.

O acesso aos Tribunais tem de ser garantido, conforme dispõe o art. 2º CPC que radica num valor

constitucional de tutela jurisdicional efetiva, presente no art. 20º CRP.

Características do Direito Processual Civil • Direito Instrumental/Adjetivo – normas contêm os trâmites para se alcançar a

resolução do conflito2, que é obtido pela aplicação das normas substantivas de direito

civil.

o É um instrumento ao serviço da solução do conflito de interesses – apenas indica

os meios para se obter a decisão, atendendo a regras substantivas, naquele caso

concreto.

• Norma de Direito Público – regula o exercício da função jurisdicional do Estado.

Tipos de Ações – art. 10º • Ações Declarativas – art. 10º/2: Autor procura que o Tribunal declare a solução para

um determinado caso.

1 O processo é Civil pois diz respeito a interesses privados, cujas normas que se aplicam são as de Direito Civil, pois são estas que regulam as relações jurídicas entre os particulares. 2 Lebre Freitas: Tutela de situações jurídicas postula a aplicação de normas instrumentais

(adjetivas) que regulem as atuações dos sujeitos de direito privado e dos tribunais tendentes à concretização jurisdicional do direito substantivo.

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

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o Tribunal proferirá decisão com base no direito civil em que declara, naquele

caso concreto, a existência ou inexistência do direito invocado ou de certo facto.

▪ PCS: Tribunal, através da sua decisão, vinculará as partes, tal e qual a

lei, só que o Tribunal decide com base em factos concretos e com base

numa “história” que antecede o julgamento.

o Podem ser de simples apreciação, de condenação ou constitutivas – art. 10º/3

• Ações Executivas – art. 10º/4: Têm por finalidade a realização coerciva das providencias

destinadas à efetiva reparação do direito violado.

Função do Processo Civil Lebre de Freitas: Função do processo civil é a tutela do direito material – quer no sentido

objetivo de sistema de normas de conduta que cabe ao tribunal impor a observação e

reprimir a violação; quer no sentido subjetivo de direito radicado num sujeito jurídico

carecido de ajuda dos tribunais para o exercer; quer no duplo sentido de direito objetivo

e subjetivo, tidos como os dois lados da mesma medalha.

➢ Vem do art. 202º/2 CRP

PCS: PROCESSO QUE SERVE PARA SABER SE O AUTOR OU O RÉU TÊM RAZÃO

• Não se admitem atos inúteis no processo – art. 130º CPC que remete para o art. 6º/1

o Art. 6º/1 – o que é impertinente ou dilatório é por referência ao objetivo do

processo que é saber se o autor tem razão

Art. 7º/1 CPC3 estipula a JUSTA COMPOSIÇÃO DO LITÍGIO como o objetivo do processo.

• É o ponto de referência para se saber o que vai ser inútil, impertinente e dilatório para

se chegar à conclusão, de se o autor tem ou não razão.

o Para chegarmos a este resultado final, respeitando o art. 6º/1 e o art. 130º,

temos de ver qual a sequência de atos que temos de encadear -> Tramitação

Processual

▪ Para se saber a justa composição do litígio, que nos dará o resultado

final de saber se o autor tem ou não razão, tem de se saber qual a

composição/cadeia de atos que são necessários, no caso concreto, para

o resultado.

TRAMITAÇÃO PROCESSUAL

Só se pode dizer que o processo terá tipicamente numa determinada sequência de atos, pois no

caso concreto a sequência dos atos será aquela que for estritamente necessária para se saber

qual será a justa composição do litígio.

A cadeia de acontecimentos para a justa composição do litígio é um ato complexo que só é

válida para o nosso ordenamento jurídico.

3 Além de qualificar o sistema português como um dos mais modernos do mundo devido ao princípio da cooperação que tem sido imitado pelo ordenamento jurídico brasileiro.

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

5

➢ No entanto, a observância de uma série de atos para se chegar à necessária solução

tendo em conta o respeito por princípios fundamentais é algo universal,

independentemente de qual a cadeia de acontecimentos.

➢ Paula Costa e Silva: Só há 2 princípios fundamentais no processo: Princípio da

Igualdade e o Princípio do Contraditório

o Isto significa que a estrutura/cadeia vai ter de ser, necessariamente,

integrada por atos que sendo necessários à prossecução do resultado final

(do art. 7º/1) permitem ainda observar os 2 princípios fundamentais.

Sequência típica no Processo Civil é altamente valorativa.

FASES DO PROCESSO COMUM Atos da sequência processual ordenam-se em fases sucessivas, findas as quais pode precludir4

a possibilidade de praticar atos que, nelas se integrando, não hajam sido praticados.

1ª FASE DOS ARTICULADOS Partes alegam a matéria de facto e de direito relevante para a decisão e requerem os meios de

prova (art 147º).

• Através dos articulados, autor e réu introduzem no processo os factos principais da

causa (fundamentos de facto) aplicando normas jurídicas aos factos alegados

(fundamentos de direito), de onde extraem a conclusão sobre o que deve ser a

sentença, deduzindo pedidos ou dizendo da improcedência dos pedidos contra si

deduzidos ou, entendendo não ser possível o conhecimento de mérito (verificando-se

uma exceção dilatória).

• Forma estabelecida no art. 144º e ss. CPC

Articulados Normais

Petição Inicial Ato que inicia o processo, considerando-se a ação proposta logo que o ato é ou se tem por

praticado – art. 259º/1.

➢ Constitui a instância – relação entre o autor (solicitante da tutela jurisdicional) e o

tribunal (a quem a solicitação é dirigida).

o Ato processual (postulativo) praticado pelo autor postulando ao Tribunal

que lhe atribua alguma coisa.

o Pede ao Tribunal que dite uma decisão para saber como fica a sua situação

e a do réu, neste momento em que a autonomia privada falhou.

▪ Efeitos da decisão não se repercutem na esfera do Tribunal e sim na

esfera das partes.

➢ Ato postulativo através do qual o autor requer ao Tribunal que este profira uma

decisão, cujos efeitos jurídicos vão-se repercutir na sua esfera jurídica e na esfera

jurídica da contraparte.

4 Perda de determinada faculdade processual civil, pelo não exercício dela na ordem legal, ou por se haver realizado uma atividade incompatível com tal exercício, ou, ainda, por já ter sido ela validamente exercitada.

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

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Princípio do Dispositivo – iniciativa do autor é insubstituível, pois só a ele cabe solicitar a tutela

jurisdicional, que não pode ser oficiosamente concedida (art. 3º/1).

• Autor formula um pedido (art. 552º/1/e) duplamente determinado:

afirmando/negando uma situação jurídica subjetiva (ou facto jurídico de direito

material); requerendo ao tribunal a providência processual adequada à tutela do seu

interesse.

o Pedido conforma o objeto do processo, condicionando o conteúdo da decisão

de mérito – pois Tribunal só pode resolver as questões que as partes tenham

submetido à sua apreciação e não pode ocupar-se de outras (art. 608º/2)

havendo limitações do art. 609º/1 sob pena de nulidade do art. 615º/1/d,e.

Pode haver mais do que um pedido contra o mesmo réu – cumulação (art. 555º)

Pode haver relação de subsidiariedade – art. 554º

Pode haver pedidos alternativos – art. 553º

Pode haver pedidos genéricos – art. 556º

Pode haver pedidos de prestações vincendas – art. 557º

O pedido tem de ser fundamentado (art. 552º/1/d) indicando os factos constitutivos da

situação jurídica que quer fazer valer (que constituem a causa de pedir5 – art. 581º/4 – núcleo

fáctico essencial tipicamente previsto por uma ou mais normas como causa do efeito do direito

material pretendido) e substanciando com razões de direito o porquê de entender que o seu

pedido merece acolhimento.

• Trata-se de aplicar o Direito aos factos que constituem a causa de pedir, de modo que

permita a conclusão constante do pedido.

• Juiz não está condicionado pelas alegações de direito (como está pelo conteúdo

fáctico da causa de pedir) e permanece livre na indagação, interpretação e aplicação

do Direito (art. 5º/3) – não tem função individualizadora da pretensão mas é ónus para

o autor que se não indicar normas jurídicas não pode depois arguir a nulidade da

sentença, fundamentada juridicamente com argumentos que elas não tenham

anteriormente considerado.

Quais os factos que se colocam na Petição Inicial? Os necessários para se perceber o que se

discute na ação? Ou necessários para a justa composição do litígio?

Paula Costa e Silva: o autor vai basear-se num tipo legal, numa regra, portanto tem de dar ao

juiz os factos que permitam preencher a previsão da regra, da qual decorre a convocação do

efeito que o autor requer que seja convocado (a estatuição que o autor requer que o Tribunal

conclua).

Art. 552º/1 diz os elementos que a Petição Inicial deve conter.

Vícios da Petição Inicial

• INEPTIDÃO – falta de indicação no pedido na causa de pedir origina uma falta do objeto

do processo, constituindo nulidade de todo o processo.

5 Função individualizadora do pedido para o efeito da conformação do objeto do processo – limita a sentença de mérito do tribunal à causa de pedir invocada pelo autor. PCS: Na petição inicial o autor dá os factos para o Tribunal dar o Direito – da mihi factum, dabo tibi jus.

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

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o Também há nulidade por ineptidão da petição inicial quando o pedido ou causa

de pedir é referido de modo tão obscuro que não se entende qual seja a causa

de pedir, ou ela é referida em termos tão genéricos que não constituem a

alegação de factos concretos (art. 186º/1, 2/a).

o O mesmo para os casos de contradição (art. 186º/1, 2/b) em que está em causa

uma inconcludência jurídica – situação em que é alegada causa de pedir da qual

não se pode tirar, por não preenchimento de qualquer previsão normativa, o

efeito jurídico pretendido.

o O mesmo para os casos de incompatibilidade material (art. 186º/1, 2/c) entre

os pedidos ou causas de pedir dos vários pedidos em cumulação. O tribunal

pode convidar o autor a aperfeiçoar a petição inicial (art. 6º/2) e escolher qual

o pedido que pretende ver apreciado ou retirar a incompatibilidade.

▪ Cabe ao juiz verificar este vício de conteúdo.

• VÍCIO DE FORMA – casos em que a secretaria se recusa a receber a petição inicial,

devendo sempre fundamentar por escrito essa rejeição (art. 558º)

o Quando falta elementos do art. 552º/1/a, b, c, f

o Quando é apresentada em tribunal diferente ao qual foi endereçada

o Não esteja em língua portuguesa (art. 133º/1)

o Não se mostre efetuado pagamento prévio da taxa de justiça ou provada a

concessão de apoio judiciário.

o É possível reclamação para o juiz (art. 157º/5 e 559º/1).

▪ Cabe à secretaria o controlo formal externo da petição inicial.

• ERRO NA FORMA DO PROCESSO – quando o autor indica uma forma de processo

diferente da que resulta da lei e afere-se face ao pedido deduzido e não perante a

natureza objetiva da relação jurídica material ou da situação jurídica que serve de base

à ação, sem prejuízo da forma de processo (art. 547º).

o Conhecido oficiosamente pelo juiz (art. 196º) tendo lugar no despacho saneador

(art. 200º/2)

Atos Subsequentes

DISTRIBUIÇÃO – após o recebimento na secretaria, a petição inicial é distribuída por uma das

secções e juízes do tribunal, repartindo-se o serviço entre juízes e funcionários (art. 203º).

DESPACHO LIMINAR – casos excecionais em que após a distribuição o processo é apresentado

ao juiz para este despacho.

• Casos de citação edital (art. 226º/4/c); Urgência (art. 226º/4/f, 561º); Quando autor

tenha requerido intervenção principal de terceiro para com ele constituir litisconsórcio

necessário; Secretaria considera manifesto um indeferimento liminar por manifesta

improcedência do pedido ou falta insanável dum pressuposto processual de

conhecimento oficioso (art. 590º/1).

o Juiz pode indeferir liminarmente a petição inicial quando o pedido seja

manifestamente improcedente e quando ocorra uma exceção dilatória (art.

278º/1) e a falta do pressuposto não seja suscetível de sanação.

▪ Na falta de despacho liminar, o momento para atuar e suprimir os

pressupostos processuais é o despacho pré-saneador (art. 590º/2),

mas, nos casos de exceção dilatória e de petição irregular, não há razão

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

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para não permitir, tendo em conta a economia processual, um ato

judicial que o juiz já não deixaria de praticar ulteriormente.

▪ Exceção dilatória com pressuposto insuscetível de sanação pode ser

conhecida no Despacho Liminar.

• É suscetível de recurso até à Relação (art. 629º/3/c)

Registo da ação – algumas ações estão sujeitas a registo predial e outras a registo comercial

Citação Ato de comunicação entre o Tribunal e o Réu (art. 219º) que tem uma tripla função:

1. dar conhecimento efetivo de um processo instalado contra o réu;

2. convite para a defesa;

3. constituição do réu como parte.

Difere da Notificação, que o tribunal utiliza sempre em face de terceiros e de intervenientes no

processo nele não interessados (testemunhas, peritos).

Tem que ter os elementos do art. 227º e há regras para as pessoas coletivas (art. 246º).

• Pode ser por via postal (art. 228º/1);

• Pode ser por agente de execução ou funcionário judicial (art. 231º);

• Pode ser edital (art. 225º/1, 6; 228º/8);

• Pode ser promovida por mandatário judicial (art. 237º);

• Pode ser no estrangeiro (art. 239º)

Um dos efeitos da Citação é tornar a instância numa relação triangular (e não apenas bilateral

entre autor e tribunal).

➢ Instância toma uma ideia de relação, com natureza dinâmica, existente entre cada uma

das partes e o tribunal, bem como entre as próprias partes, na pendência da causa.

Outro efeito é inibir o réu de propor contra o autor ação destinada à apreciação do mesmo

objeto processual (art. 564º/c) – se o fizer, há litispendência e a segunda ação não poderá

prosseguir (art. 580º/1, 581º/1, 582º).

Efeitos substantivos de interrupção da prescrição ou da usucapião e etc.

FALTA DE CITAÇÃO – art. 188º/1. Gera nulidade do próprio ato e de tudo o que depois dele se

tiver processado (art. 187º6)

NULIDADE DA CITAÇÃO – quando o ato se realiza com falta de alguma formalidade7 prescrita

na lei (art. 191º/1).

6 Tendo em conta que os atos anteriores (distribuição e despacho liminar) à citação não têm de ser abrangidos 7 Que deve ser entendida como qualquer elemento, de forma ou de conteúdo

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

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Contestação Sentido Material: peça escrita com que o réu responde à petição inicial, deduzindo os meios de

defesa que tenha contra a pretensão do autor.

➢ Postulação da absolvição do Réu

Sentido Formal: estrutura semelhante à da petição inicial (art. 572º)

➢ Começa com um introito em que o réu identifica a ação; segue-se a narração em que

se expõem os factos e as razões de direito; terminando na conclusão em que o réu

remata dizendo se deve ser absolvido da instância (por proceder exceção dilatória) ou

do pedido (por improceder a ação).

Prazo de 30 dias, após citação para contestar – art. 569º

O réu tem o ónus de contestar – se não for observado, não apresentando o réu qualquer defesa,

constitui-se em situação de REVELIA.

• Revelia Absoluta: réu não intervém de modo algum no processo (art. 566º);

• Revelia Relativa: réu ainda intervém no processo, nem que seja apenas constituindo,

por procuração, mandatário judicial (art. 567º).

Revelia produz, em regra, efeito probatório – os factos alegados pelo autor consideram-se

provados por admissão (art. 567º/1), sendo que o réu não pode vir posteriormente negar os

factos sobre os quais se manteve silencioso

Esse efeito de prova nem sempre se produz e há exceções no art. 568º (Revelia Inoperante8)

a) A contestação de um aproveita aos demais – aplica-se a qualquer situação de

litisconsórcio

A defesa do réu é um ato de persuasão/convencimento – só e com função se o Tribunal ainda

não estivesse convencido. Ex: Tribunal recebe petição inicial em que vê que o Autor nunca

poderá ter razão, será inútil ouvir o Réu, uma vez que o Tribunal já fez conclusões – seria então

inútil o ato, não sendo admitido pelos art. 130º, 6º/1 e 7º/1.

A defesa do réu, na Contestação pode ser Por Impugnação ou Por Exceção (art. 571º).

IMPUGNAÇÃO

• De Facto – réu opõe-se à versão da realidade apresentada pelo autor, negando factos

alegados na petição inicial;

o Direta: quando o réu nega frontalmente os factos, dizendo que não se

verificaram

o Indireta: quando o réu admite parte dos factos alegados mas afirma outros

incompatíveis com a parte não admitida; quando o réu alega factos

instrumentais (art. 5º/2) probatórios incompatíveis com factos alegados, como

causa de pedir, pelo autor; quando o réu alega factos incompatíveis com os

alegados pelo autor.

• De Direito – réu contradiz o efeito jurídico (normalmente o direito subjetivo material

por eles constituído) que o autor deles pretende extrair, pondo em causa a

determinação, interpretação ou aplicação da norma de direito feita pelo autor na

petição inicial.

8 vs. Revelia Operante

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

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Não impugnado um facto, considera-se admitido, produzindo-se, quanto a ele, um efeito

cominatório idêntico àquele que, em caso de revelia, se produz quanto à generalidade dos factos

alegados na petição inicial. Não se produz esse efeito cominatório nos termos do art. 574º/2 e

574º/4.

EXCEÇÃO Subjaz uma ideia de defesa indireta que, sem por em causa a realidade dos factos alegados

como causa de pedir nem o efeito jurídico que o autor deles pretende extrair, consiste na

alegação de factos novos dos quais o réu entende que se retira que o tribunal em que a ação

foi proposta não poderá declarar o efeito pretendido.

• São, em regra, de conhecimento oficioso, sendo vertente do princípio jura novit curia

(art. 5º/3), mas, há casos em que tem de ser o réu a invoca-la.

o Exceções em sentido próprio – estão na disponibilidade da parte e só relevam

quando o réu manifeste vontade de delas se valer.

o Exceções em sentido impróprio / Objeções – aquelas que o tribunal pode, e

deve, conhecer independentemente da vontade da parte a quem aproveitam.

Constituem questões prejudiciais, relativamente ao objeto do processo, definido pelo

pedido deduzido pelo autor, e devem ser examinadas antes do pedido, propriamente

dito.

Exceção Perentória Quando é invocado um facto impeditivo, modificativo ou extintivo da situação jurídica que o

autor se arroga ou, na ação de mera apreciação de factos, um facto impeditivo da existência do

facto jurídico que o autor pretende que seja declarada, i.e., há factos que levam o tribunal, ao

apreciar o caso, a julga-lo improcedente.

• Art. 576º/3 – busca o seu fundamento no direito material, sendo um problema de

interpretação das normas de direito substantivo e individualização dos respetivos tipos.

• Art. 571º/2, in fine – leva à absolvição do pedido, constituindo uma decisão de mérito9.

Exceção Dilatória Quando é invocada a falta de um pressuposto processual, i.e., há factos que impedem o tribunal

de apreciar o pedido formulado pelo autor.

➢ Mesmo não sendo invocada, a exceção dilatória é, em regra, de conhecimento oficioso

(art. 578º).

Se a falta do pressuposto não for sanada (art. 6º/2 e 278º/2), o juiz deverá proferir uma

sentença de absolvição do réu da instância (art. 278º/1 e 576º/2), salvo e o processo deva ser

remetido para outro tribunal (art. 99º/2, 105º/3, 278º/2 e 576º/2) ou ocorrer outra situação (do

art. 278º/3)

➢ Quando é proferida absolvição da instância, o resultado atingido não representa o

atingir do fim do processo, podendo, porém, ainda, para que este fim seja atingido, o

autor mover nova ação contra o mesmo réu, com o mesmo pedido e a mesma causa de

pedir, i.e., repetir a causa (art. 581º/1), para nela conseguir uma decisão de mérito de

que a anterior ação não chegou a ocupar-se.

9 Sentença de mérito é quando há uma resposta ao pedido formulado pelo autor.

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

11

Art. 577º tem elenco não exaustivo de Exceções Dilatórias:

a) Incompetência do tribunal – resulta da inobservância, pelo autor, das normas legais das

quais resulta a falta de competência para a causa do tribunal onde foi proposta a ação.

b) Nulidade do processo – resulta da ineptidão da petição inicial, irregularidade não

sanada, erro na forma do processo ou da simulação do litígio pelas partes, em simulação

ou fraude processual.

c) Falta de personalidade judiciária ou capacidade judiciária do autor ou réu

d) Falta de autorização ou deliberação que o autor devesse obter – resulta de exigência,

para a propositura da ação, de autorização alheia ou deliberação de um órgão.

e) Ilegitimidade do autor ou do réu

f) Coligação ilegal de autores ou réus

g) Pluralidade subjetiva subsidiária ilegal

h) Falta de constituição de advogado pelo autor quando o patrocínio é obrigatório ou

falta da procuração passada ao advogado

i) Litispendência ou o caso julgado

Toda a defesa do réu deve ser concentrada na contestação (art. 573º) cujo corolário é

preclusão – réu tem ónus de, na contestação, impugnar os factos alegados pelo autor, alegar os

factos que sirvam de base a qualquer exceção dilatória ou perentória (excetuadas as que forem

supervenientes) e deduzir as exceções não previstas na norma excecional do art. 573º/2.

➢ Se o não fizer, preclude a possibilidade de o fazer.

Reconvenção Quando na contestação o réu deduz pedidos contra o autor, exercendo o direito (facultativo)

de ação e ampliação do processo – art. 266º/1.

• Reconvenção = pedido

• Reconvinte = réu

• Reconvindo = autor

É deduzida separadamente e deve obedecer aos trâmites do art. 583º

Para que seja admissível, tem de ser reconduzida a algum dos elementos de conexão do art.

266º/2 e não e poderá verificar nenhum dos requisitos negativos de compatibilidade do art.

266º/3

Articulado Eventual

Réplica Articulado que o autor utiliza para responder ao réu que deduziu reconvenção (art. 584º/1).

➢ Tem o mesmo papel que a contestação (defesa) do réu em face da petição inicial e é,

por natureza, uma contestação da reconvenção, inteiramente sujeita, ressalvadas as

devidas adaptações, ao regime da contestação.

➢ Há revelia do reconvindo quando não há réplica.

Tem também lugar quando, em ações de simples apreciação negativa, o réu tenha alegado, na

contestação, os factos constitutivos do direito, ou os elementos constitutivos do facto negado

pelo autor na petição inicial (art. 584º/2).

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

12

Articulados Supervenientes

São se caráter eventual em que qualquer uma das partes alega factos supervenientes, os que,

a convite do juiz, completam os articulados deficientes e os de resposta às exceções deduzidas

no último articulado apresentado.

Terminada a fase dos articulados, ainda é admissível a apresentação, pelas partes, de peças com

a função de articulado:

• Deduzida exceção no último articulado a parte pode responder-lhe na audiência

preliminar ou na audiência final (art. 3º/4) – garantia do direito ao contraditório;

• Havendo insuficiências ou imprecisões na alegação da matéria de facto (articulado ou

articulados deficientes), o juiz pode convidar a parte a supri-las e isso dá direito de

resposta à parte contrária (art. 590º/2/b; 590º/4; 591º/1/c) – o convite do juiz é feito

no despacho pré-saneador (art. 590º/2/a e 4) tendo em conta os deveres de gestão

processual (art. 6º/2):

• Ocorrendo factos supervenientes, a parte a quem aproveitam pode alegá-los em

articulado superveniente, com direito a resposta da parte contrária (art. 588º) – factos

modificativos ou extintivos da situação jurídica do autor (superveniência objetiva) ou

factos desse estilo mas que ocorreram anteriormente e só agora o autor ou réu têm

conhecimento (superveniência subjetiva)

2ª FASE DA CONDENSAÇÃO Visa verificar e garantir a regularidade do processo, identificando as questões de facto e de

direto relevantes (com possibilidade de serem suprimidas as insuficiências e imprecisões na

alegação da matéria de facto), decidir o que já pode ser decidido, enunciais os temas da prova

a efetuar subsequentemente e preparar as diligências probatórias

Fase em que o juiz tem papel importante, pois toma conhecimento do que se passou na fase

anterior e, assumindo a direção do processo, vai, em diálogo com as partes, controlar a

regularidade da instância, convidar autor e réu a colmatar deficiências dos articulados e passar

pelo seu crivo as posições das partes, decidindo aquilo que já pode ser decidido, definindo as

grandes questões que vão ser objeto de prova e julgamento e tomando as medidas que se

imponham para que, adequada a forma processual abstrata ao caso concreto, a justa

composição do litígio tenha lugar em prazo razoável.

Despacho Pré-Saneador Finalidade de regularização da instância processual e das irregularidades dos articulados – juiz

vai providenciar para sanar a falta dos pressupostos processuais e convidar as partes ao

aperfeiçoamento dos articulados (art. 590º/2).

➢ Poderes do juiz são vinculados – ele tem o dever de os exercer

O juiz, mesmo que veja que a matéria de direito/o mérito da causa não é procedente (para o

autor), pode pedir ao autor para aperfeiçoar a petição inicial para que depois possa analisar o

mérito da causa e não descartar a ação por uma formalidade – economia processual (impede

que o autor volte depois a colocar uma ação).

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

13

Tem quádrupla função:

1. Sanação da Falta de Pressupostos Processuais (art. 590º/2/a)

• O juiz deve determinar a realização dos atos necessários à regularização da

instância e, quando não o posa fazer oficiosamente, por estar no campo da

exclusiva disponibilidade das partes, convidar estas a praticá-lo (art. 6º/2).

i. Art. 6º/2 abrange todos os pressupostos processuais cuja falta possa,

por sua natureza, ser sanada, sem que tal necessariamente implique a

inutilidade de tudo o que se tiver processado, pois a ideia que a ela

preside é que devem ser removidos todos os impedimentos da decisão

de mérito que possam sê-lo.

2. Correção das Irregularidades dos Articulados (art. 590º/2/b, 3)

3. Junção de Documento que permita imediata apreciação da exceção dilatória ou

Imediato conhecimento do pedido (art. 590º/2/c)

4. Complemente dos articulados deficientes (art. 590º/2/b, 4)

Audiência Prévia Após os atos praticados em execução do Despacho Pré-Saneador, ou não tendo este lugar, o juiz

designa dia para a Audiência Prévia (art. 151º/1-3 + art. 591º/2).

As finalidades principais são as do art. 591º/1 CPC

Despacho Saneador É ditado ou escrito para a ata da Audiência Prévia – art. 595º/2

É no Saneamento que o juiz vai conhecer das partes principais10

➢ verifica se os pressupostos estão preenchidos;

➢ não estando, manda diligenciar pelo preenchimento;

➢ olha para o que o autor pediu e vê se os factos essenciais estão todos alegados ou não;

➢ permite também que se realize o ónus do art. 5º/1.

Neste momento processual, o juiz pode entender que já tem tudo reunido para conhecer do

mérito da causa, não há instrução (que é fase autónoma para produzir mais prova para a decisão

do juiz, se ele precisar de mais provas, se a contradição das partes determinar que assim seja ou

se a atitude das partes o exigir).

➢ Se ele já tiver certeza do juízo de mérito, não faria sentido estar a prolongar e ele pode

conhecer logo do mérito, mesmo que falte um pressuposto processual.

Tem uma dupla finalidade:

1. Verificação da regularidade da instância (art. 595º/1)

Função normal, razão de ser desta fase processual.

Quando se verifica que ocorre uma exceção dilatória, quando a falta de um pressuposto

processual não possa ou não tenha sido sanada, o juiz profere a absolvição do réu da instância

– art. 278º

10 Isto na estrutura típica apenas, uma vez que não há princípio de tipicidade das formas do processo.

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

14

Casos de Absolvição da Instância – art. 278º Nº1: alternativa quanto ao conteúdo possível da decisão

• Ou conhecer do Pedido

o Condenar o réu no pedido – favorável ao Autor

o Absolver o réu no pedido – favorável ao Réu

▪ Tem que se dizer sempre “no pedido” pois nunca se pode condenar em

qualquer outra coisa.

▪ É sempre no pedido, devido ao princípio do dispositivo.

• Ou absolve o Réu da Instância (abstendo-se de conhecer o pedido)

a) Exceção é inversão da estatuição da regra-geral; pode aplicar-se a contrario e não

podem ser expandidas por analogias, sem cuidados.

• Exceção é coisa nova que impede o juiz de conhecer.

• Exceção é quando se traz factos novos – facto novo assume a natureza de

exceção, matéria estritamente processual (pois o juiz está proibido de conhecer

do mérito da causa).

b) Vício que incide sobre o procedimento, o rito

c) Vício processual – não tem possibilidade de se constituir como parte processual.

d) Não é legitimidade material, porque o juiz não pode conhecer do pedido – é vício

processual.

e) Exceção dilatória processual posterga no tempo a possibilidade do Tribunal conhecer do

pedido e proferir decisão de mérito

Juiz só pode dizer 3 coisas: absolve instância, absolve pedido e condena no pedido

O art. 278º só pode ter em contas vícios ser processuais, não conhecendo do mérito da causa

e sendo a consequência a absolvição do réu na instância.

Aparentemente Favorável ao Réu – porque há uma absolvição. Mas essa absolvição é com base

numa exceção dilatória, sendo transitória, pois se se der uma absolvição na instância ele ainda

tem outra chance de conseguir a condenação.

➢ Decisão é favorável ou desfavorável consoante a outra alternativa que com ela possa

chocar. Esta decisão é favorável ou desfavorável consoante a outra decisão que com ela

concorra, e que possa ser proferida no mesmo momento processual, e tendo em atenção

o mérito da causa.11

o Só é favorável ao Réu se, porventura, a alternativa fosse a condenação no

pedido

o Favorável ao Autor quando a decisão fosse a absolvição do Réu no pedido.

Nº3: se a falta ou irregularidade for sanada, estão reunidos os pressupostos processuais para o

juiz avançar para a fase seguinte, do conhecimento do pedido/mérito da causa (não absolvendo

na instância).

11 PCS: Contraponto entre a decisão de mérito que viria a ser proferida, perante os elementos que o juiz tem, e a decisão que é proferida de absolvição na instância – sempre em comparação com a outra alternativa.

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

15

➢ Deixa de haver obstáculo processual ao conhecimento do mérito da causa – sanou-se

a exceção dilatória com preenchimento de pressuposto processual.

Se a exceção dilatória permanece, e não foi sanada – ou porque não foi no momento certo, ou

porque é insuscetível de sanação – ela subsiste, pelo que se continua, pelo art. 278º/1, a

proibição de conhecer do mérito da causa e absolver o réu na instância.

Equilíbrio de valores subjacente ao artigo 278º.

O que se tem perguntar é “que pressuposto em falta”? quem é protegido por ele? Qual o

conteúdo da decisão de mérito que o juiz podia proferir quando vai conhecer da verificação dos

pressupostos processuais?

➢ O art. 278º/3 permite que o juiz conheça do mérito da causa, ele não pode é proferir

uma decisão de mérito – salvo se ela for absolutamente favorável à parte processual

em causa, que é protegida pelo pressuposto processual em falta.

Origem do regime do art. 278º CPC é o regime do processo civil romano

Contrapunha as competências atribuídas ao Iudex e as competências atribuídas ao Pretor.

• Pretor era funcionário público eleito – que era escolhido pelas pessoas em função dos

direitos que lhes conferia (pelas actios).

• Cada pretor a eleição tinha ações específicas, que se fosse eleito as reconheceria para

os cidadãos. Ex: um reconhecia ação para o esbulho das cabras e outro para o esbulho

dos bois, pessoas votavam conforme aquelas ações que mais lhes interessassem.

• O pretor apresentava essas ações no seu Editum (programa eleitoral do pretor).

Era o pretor que verificava os pressupostos processuais antes de conceder as actios.

• Portanto, o cidadão dirigia-se ao pretor e pedia a actio (quer que certo direito lhe seja

reconhecido) e o pretor ouvia a contraparte.

• Mas ele não julgava a ação, quem julgava era o Iudex.

• O pretor deixava de exercer a jurisdição, que era do iudex.

Iudex julgava a ação, seguindo as instruções do pretor.

• Se porventura se verificar A e B então condamnarem debit (deve ser condenado)

exceptio (uma exceção material). Ex: condeno a devolver as cabras, excepto se tenha

firmado acordo com o outro que ela as podia usar.

• Apareciam as exceptio, mas eram exceptio materiais. E porquê materiais?

o Porque a montante o pretor só concedia à actio, dando a ordem para o iudex

julgar, se os pressupostos processuais estivessem todos preenchidos – a ação

chegava às “mãos” do iudex totalmente sanada de ausência de pressupostos

processuais.

▪ Disjunção pessoal e temporal (fases distintas) em que se podia conhecer

dos pressupostos e outra que se podia conhecer do mérito da causa.

Nos sistemas processuais, muitos ainda têm esta influência – sistema italiano replica isto, não

tendo integrado de que quem decide de uma coisa é quem decide da outra12; e havia fases

sequenciais em que primeiro era decidido uma coisa e só depois era decidido outra.

12 PCS: “Explique, à luz do que sabe das competências pretor e iudex, os artigos tal e tal do Código de Processo Civil Italiano”

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16

• Este regime deixou de fazer sentido quando passou a haver coincidência temporal e

coincidência funcional – doutrina alemã dos anos 70 que só 40 anos depois chegou ao

CPC português, sendo hoje um sistema extremamente moderno. Maior parte dos

sistemas processuais civis ainda não absorveu esta evolução.

2. Conhecimento imediato do mérito da causa

Função eventual, destinada a evitar o retardamento da decisão de mérito quando ela é, com

segurança, já possível na fase da condensação.

➢ Caso do conhecimento das exceções perentórias, por exemplo.

No CPC de 1961, o despacho saneador era imediatamente seguido pela seleção dos factos

assentes.

• Seleção feita de entre os factos articulados pelas partes, pois, de acordo com o princípio

do dispositivo, na vertente do princípio da controvérsia, só esses factos (e

excecionalmente os introduzidos pelo juiz por serem notórios ou de conhecimento do

tribunal) e os complementares resultantes da instrução é que podem (e devem) ser tidos

em consideração nas fases seguintes do processo.

Facto principais (art. 5º/1) são os factos que integram a causa de pedir e os que fundam

as exceções. Deles deduzem-se os factos probatórios bem como os factos acessórios, que

permitem ou impedem que a dedução se faça.

Há ainda uma identificação do objeto do litígio e enumeração dos temas da prova, bem como

a preparação das fases seguintes.

3ª FASE DA INSTRUÇÃO Repartida por atos de produção de cada meio de prova, tendencialmente concentrados na

audiência final (art. 604º/3/a-d; 607º/1), mas podendo ter lugar antes dela.

4ª FASE DA DISCUSSÃO E JULGAMENTO Partes expressam os seus pontos de vista sobre as decisões, de facto e de direito, a proferir. O

tribunal depois decide e notifica as partes.

Termina o processo em 1ª instância e pode abrir-se instância de recurso ordinário dirigido à

Relação (art. 638º).

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17

Princípios do Direito Processual Civil

Princípio da Equidade O direito à jurisdição não pode ser entendido em sentido meramente formal: ele não implica

apenas o direito de aceder aos tribunais, propondo ações e contraditando as ações alheias,

mas também o direito efetivo a uma jurisdição que a todos seja acessível em termos

equitativos e conduza a resultados individual e socialmente justos.13

➢ Art. 20º/4 CRP14 – “Processo Equitativo” postula a necessidade de se observar um

conjunto de regras fundamentais ao longo de todo o processo, nos vários planos em

que este se desenvolve.

o Aceção internacional, visível em vários instrumentos – art. 10º DUDH, 6º CEDH,

14º do Pacto dos Direitos Civis e Políticos, 47º CDFUE.

➢ Processo não é só conjunto de atos, da tramitação clássica (que pode ser alterada pelo

dever de gestão processual), e visa uma justa composição do litígio.

Miguel Teixeira de Sousa: garantias de processo equitativo elencam uma série de

princípios/características do processo equitativo.

Paula Costa e Silva: garantias que se chegue à decisão justa, sem elas nem há processo

• Igualdade e Contraditório – Tribunal não pode favorecer uma das partes em detrimento

de outra (igualdade do contraditório) – o resultado de um processo só pode considerar-

se justamente obtido se eu conferir às partes igualdade de armas quer para atacar, quer

para defender e em que não é proferida nenhuma decisão antes de todas as matérias

relevantes tenham sido submetidas a discussão entre as partes;

• Independência e Imparcialidade – garantias do decisor; garante que o juiz não penderá

para uma das partes e há uma isenção.

o Art. 216º CRP e Estatuto dos Juízes

o Garantias de imparcialidade: art. 115º e ss. – conjunto de circunstâncias em que

o juiz não pode intervir nas matérias.

o Pode haver suspeição: art. 120º CPC.

Lebre Freitas: Jurisprudência no âmbito do art. 6º CEDH decompõe este Princípio da Equidade

em várias vertentes15:

1. IGUALDADE DAS PARTES

A. Princípio do Contraditório Garantia de participação efetiva das partes no desenvolvimento de todo o litígio, mediante a

possibilidade de, em plena igualdade influírem em todos os elementos que se encontrem em

ligação com o objeto da causa e que em qualquer fase do processo apareçam como

potencialmente relevantes para a decisão.

13 O desrespeito pelo processo equitativo – omitido ato devido ou praticado ato proibido – leva à nulidade do processo.

➢ Pode ser fundamento de revisão (de recurso de revisão) caso haja outras situações. 14 Direito infraconstitucional: Art. 6º/1/parte final CPC (afloramento do processo equitativo); Art. 547º CPC; 630º/2 CPC; art. 26º/3 da Lei 62/2013 15 Além de se garantir, obviamente, o acesso a um Tribunal determinado pela lei – não pode ser arbitrário, aleatório, ex lege – tem que ser a lei. O que garante a imparcialidade e a isenção do sistema.

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

18

• Escopo deste princípio deixou de ser a defesa, no sentido negativo de oposição ou

resistência à atuação alheia, para passar a ser a influência, no sentido positivo de direito

de incidir ativamente no desenvolvimento e êxito do processo.

• No plano da alegação, exige-se que os factos alegados por uma das partes possam ser

contraditados pela outra, tendo ambas, em igualdade, a faculdade de se pronunciarem

B. Princípio da Igualdade de Armas Impõe o equilíbrio entre as partes ao longo de todo o processo, na perspetiva dos meios

processuais de que dispõem para apresentar e fazer vingar as respetivas teses.

• Não implica identidade formal absoluta de todos os meios (que a diversidade das

posições das partes impossibilita), mas, exige-se a identidade de faculdades e meios de

defesa processuais das partes e a sua sujeição a ónus e cominações idênticos, sempre

que a sua posição no processo seja equiparável.

• Art. 4º CPC

2. COMPARÊNCIA PESSOAL DAS PARTES EM CERTOS CASOS OU CIRCUNSTÂNCIAS

3. LICITUDE DA PROVA

4. FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO Decorre do art. 205º/1 CRP – julgador deve analisar criticamente as provas e especificar

motivadamente as que considera decisivas para a sua convicção, indicando a interpretação e

aplicação das normas jurídicas (art. 607º/3).

➢ PCS: Partes devem poder confiar naquela decisão e estar à espera da mesma

5. TRANSPARÊNCIA DO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO JURISDICIONAL

A. Princípio da Publicidade Art. 606º/1 CPC que decorre do art. 206º CRP

• Tem o fim de evitar o arbítrio e o secretismo, permitindo o controlo público da boa

administração da justiça.

• Pode ter exceções, em que tribunal afasta a publicidade da audiência, de forma

fundamentada, para salvaguardar a dignidade das pessoas e da moral pública ou para

garantir o seu normal funcionamento.

• TEDH tem entendido que este princípio tem caráter absoluto.

• Manifesta-se também no Direito de Acesso ao Processo.

6. PRAZO RAZOÁVEL Se uma decisão não tiver lugar em tempo útil, isso pode equivaler a uma denegação da justiça,

pois há uma falta de resposta à pretensão quando ela era necessária.

Conta-se desde a data da propositura da ação até ao termo do processo.

• Desde que se instaura o processo até ao trânsito em julgado

• Não abrange a execução da decisão, mas desde 1997 que se passou a considerar

(Hornsby c. Grécia, TEDH)

Apenas se pode apreciar a duração de um processo em concreto, atendendo a vários fatores do

caso:

• Complexidade da causa;

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

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• Interesses em jogo;

• Contribuição das partes para a demora do processo.

Se o Estado excedeu o prazo, quer através dos tribunais, quer através do poder legislativo ou

administrativo, tem o dever de indemnizar.

Princípio da Legalidade do Conteúdo da Decisão Juízes julgam segundo o Direito – art. 203º, 204º CRP + art. 5º/3 CPC

Princípio do Dispositivo Liberdade de decisão sobre a instauração do processo, sobre a conformação do seu objeto e das

partes em causa e sobre o termo do processo, assim como, muito mitigadamente, sobre a sua

suspensão.

➢ Disponibilidade da tutela jurisdicional: disponibilidade da instância (início, termo e

suspensão do processo) + disponibilidade da conformação da instância (disponibilidade

do objeto e das partes).

Disponibilidade da Instância Ao autor cabe solicitar a tutela jurisdicional – tem o impulso processual inicial (art. 3º/1)

• Com esta propositura de uma ação, constitui-se a instância (art. 259º/1).

• Cabe também ao autor a desistência da instância.

Disponibilidade da Conformação da Instância Ao propor a ação, autor formula o pedido, determinado formalmente pela providência

requerida e materialmente pela afirmação duma situação jurídica, dum efeito querido ou dum

facto jurídico, e fundado, de acordo com a imposição de substanciação, numa causa de pedir,

assim conformando o objeto do processo.

➢ Objeto este que pode ser ampliado (art. 266º e 264º), reduzido (art. 283º/1 e etc. – mas

cabe apenas às partes a conformação da instância, nos seus elementos objetivos e

subjetivos, podendo o juiz apenas convidar as partes à prática de atos necessários para

uma modificação da instância (art. 6º/2).

Formação da Matéria de Facto: Factos Principais, Instrumentais e etc. ESSENCIAIS

Art. 5º/1 – cabe às partes, e só a elas, alegar os factos essenciais da causa, i.e., aqueles que

integram a causa de pedir e os que fundam as exceções.

➢ são essenciais porque a causa de pedir é consubstanciada por esses

o Essa alegação é feita nos articulados16

16 PCS: Os factos essenciais são essenciais por referência ao tipo legal em que a parte se fundamenta. É sempre por referência à regra em que a parte se fundamenta para retirar a consequência jurídica que eu sei ou não se um facto é essencial. Se o facto puder ser retirado e a ação, mesmo assim, puder ser julgada procedente ou não, o facto não é essencial. Eu terei de perguntar à regra quais os factos que se têm de verificar.

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

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DE CONHECIMENTO OFICIOSO

Art. 5º/2/c – factos de conhecimento oficioso (remete para o art. 412º)

• Factos notórios: do conhecimento geral, facilmente cognoscível pela generalidade das

pessoas de determinada esfera social17, de tal modo que não haja razão para duvidar da

sua ocorrência.

• Factos que o tribunal tem conhecimento por exercício das suas funções: conhecimento

funcional.

INSTRUMENTAIS

Art. 5º/2/a – factos instrumentais que, por natureza, não carecem de alegação e são

oficiosamente considerados na decisão de facto, como resultantes da instrução da causa.

É um facto que não foi articulado nos articulados.

• Estes factos instrumentais só poderão ser considerados se tiverem sido articulados os

essenciais aos quais esses são instrumentais.

o Só pode haver instrumentais dos essenciais que já tenham sido discutidos pelas

partes.

Não são condicionantes diretas da decisão e a sua função é a de permitir atingir a prova dos

factos principais

Art. 5º/2/b – factos complementares são essenciais ou instrumentais?18

• (Lebre Freitas) São complementares pois: Consideração de factos principais que

complementam ou concretizam os alegados nos articulados.

o Tem de ser a parte que beneficia do efeito constitutivo, impeditivo, modificativo

ou extintivo que os tem de invocar e manifestar vontade de deles se aproveitar.

✓ Se complementarem factos essenciais são factos essenciais também;

✓ Se complementarem factos instrumentais, eles terão que estar presentes para

que a ação seja julgada procedente? Não, porque eles serão igualmente

instrumentais.

O juiz não pode considerar um facto, ainda que instrumental, se não tiver respeitado o princípio

do contraditório.

➢ O que eles são dependem do facto que as provas concretizem

➢ PCS: não há 3º categoria como diz MTS

MTS: se os complementares forem essenciais a causa de pedir não existia porque estava

incompleta, faltando um dos factos essenciais.

PCS: mas a causa de pedir tem 2 finalidades

1. Permite ao réu saber do que se está a defender (conjunto de factos de inteligibilidade)

2. Procedibilidade

Porque apareceu este regime para estes factos? Porque não é fácil reduzir a complexidade dos

factos e saber com certeza o que é essência ou não – tempo de julgamento seria mais longo.

17 Que tem de abranger obrigatoriamente as partes e o juiz da causa. 18 PCS: Esta alínea surge pois fala de factos que não são da mesma ordem do que os essenciais ou instrumentais.

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

21

Lei não permitia ir buscar factos complementares e teria que se repetir o processo. Objetivo de

evitar a improcedência – regra vem de um princípio de prevalência de substância sobre a forma.

Princípio da Controvérsia Liberdade de alegar os factos destinados a constituir fundamento da decisão, na de acordar em

dá-los por assentes e, em certa medida, na iniciativa da prova dos que forem controvertidos.

• Ideia de responsabilidade pelo material fáctico da causa.

• Pode ter um âmbito de aplicação processual mais vasto e levar ao: Princípio da Preclusão

e Princípio da Autorresponsabilidade das Partes.

Princípio do Inquisitório Tido como o contrário do Princípio da Controvérsia.

Art. 411º - juiz tem o dever de realizar ou ordenar oficiosamente as diligências necessárias ao

apuramento da verdade.

➢ PCS: o juiz deve ajudar na justa composição do litígio, tendo de conhecer e alcançar a

verdade material

Juiz tem, no campo da instrução do processo, a iniciativa e às partes incumbe o dever de

colaborar na descoberta da verdade, respondendo ao que lhes for perguntado, submetendo-se

às inspeções necessárias, facultando o que for requisitado e praticando os atos que forem

determinados (art. 417º/1).

Princípio da Cooperação Art. 7º/1 – o apelo à realização da função processual aponta para a cooperação dos

intervenientes no processo no sentido de nele se apurar a verdade sobre a matéria de facto e,

com base nela, se obter a adequada decisão de direito.

➢ Apelo ao prazo razoável aponta que não deve haver dilações inúteis e as partes devem

proporcionar as condições para uma decisão proferida no menor período de tempo

possível.

Cooperação material: art. 7º/2 e 3 + art. 417º

Cooperação formal: art. 7º/4 + art. 151º

Princípios da Imediação, Oralidade e Concentração e da Livre Apreciação da Prova

Princípio da Economia Processual O resultado processual deve ser atingido com a maior economia de meios:

ECONOMIA DE PROCESSOS – resolução do maior número possível de litígios

• Explica as disposições que permitem litisconsórcio inicial, a cumulação de pedidos (art.

555º), o pedido subsidiário (art. 554º), a ampliação do pedido e da causa de pedir (art.

264º), a reconvenção e os incidentes de intervenção de terceiros (art. 266º, 316º).

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

22

ECONOMIA DE ATOS E FORMALIDADES – corolário do Princípio da Adequação Formal

• Explica a simplificação das formalidades dos atos praticados no processo, adequação da

tramitação processual às especificidades da causa (art. 547º, 37º/2 e 3)19, proibição da

prática de atos processuais inúteis (art. 130º) e redução da forma dos atos úteis à sua

expressão mais simples (art. 131º/1)20.

Princípio da Gestão Processual O Princípio do Inquisitório já aponta uma conceção do processo civil em que a investigação da

verdade está a cargo do juiz.

➢ Isto não é assim em todos os sistemas democráticos de tipo ocidental, em que domina

o Princípio da Controvérsia.

Além da recolha dos factos e da prova, cabe ao juiz a direção formal do processo, nos seus

aspetos técnicos e da estrutura interna (art. 7º/2) – tendo poderes para assegurar a

regularidade da instância e o normal andamento do processo.

Art. 6º concede ao juiz o poder-dever de promover as diligências que considere necessárias ao

processo. Tem também um poder-dever de agilização do processo.

➢ Tudo o que o juiz faz na Tramitação Processual pode ser considerado feito ao abrigo

deste princípio.

A direção formal do processo pelo juiz radica nos deveres de cooperação do juiz para com as

partes.

• O juiz pode até pedir a correção da matéria de facto.

• Art. 590º/3, 4, 5

Art. 547º: juiz pode adaptar a tramitação legal como melhor se adaptar às especificidades do

caso concreto – adequação às especificidades do processo, tendo em conta o objeto processual

– o juiz pode seguir as diligências que achar mais adequadas, tendo em conta a justa composição

do litígio.

➢ Princípio da Adequação Formal que não tem só lugar quando a tramitação legal não se

adeque (em absoluto) ao caso concreto, deve ser também quando, embora adequada,

haja lugar a uma melhor que se lhe adeque.

A concessão ao juiz de amplos poderes de gestão processual constitui-o no dever de o exercer,

não se tratando de um poder discricionário, embora o seu exercício envolva juízos técnicos de

conveniência e oportunidade.

➢ Daí decorre a impugnabilidade das decisões de gestão processual que o juiz venha a

tomar (art. 630º, 195º/1 e etc.)

19 Não obstante a determinação abstrata dos atos da sequência processual pela lei, a possibilidade de determinação concreta duma sequência dela divergente pelo juiz e exigência genérica da prática dos atos indispensáveis ao respeito pelos princípios processuais, o processo consente, mesmo fora do âmbito dos incidentes, a prática de atos anómalos úteis para a realização da função processual, designadamente por via da ocorrência de factos com relevância para a instância processual constituída ou para a decisão de mérito a proferir. 20 PCS: Atos Úteis vs. Inúteis

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

23

Princípio da Prevalência da Substância sobre a Forma Autor esqueceu-se de colocar pormenores essenciais na causa de pedir, pelo que não está

completa e o juiz descarta a ação por esse motivo.

Para evitar decisões de mérito injustas, na opinião do próprio juiz, por um requisito da lei

processual, a lei em 2013 flexibilizou a forma como pode chegar ao juiz factos que ainda relevam

para julgar procedente a ação. Por um lado evita-se as decisões formais, por falta de factos

essenciais, por outro lado evito as decisões de improcedência por falta de articulação de factos

complementares concretizadores – regra integrada no principio da prevalência da substância

sobre a forma.

Este princípio evita que o juiz, chegando ao fim do processo vá conhecer do preenchimento dos

pressupostos processuais e chegue à conclusão que o Tribunal não tinha competência, por

exemplo. Não podia ter dito mais cedo porque não tinha instância processual para o fazer, com

este princípio já pode.

Significa que nós deixamos de dar relevância às consequências do não preenchimento de

pressupostos processuais permitindo que o juiz profira decisões de mérito e, por outro lado,

atribuímos ao juiz poderes assistenciais fortes, de modo que ele exorte as partes ao

preenchimento da causa de pedir, da causa de pedir ou das exceções da defesa do réu, para

que ele consiga chegar à decisão de mérito que é a mais justa para o litígio. Juiz colabora com

as partes para a justa composição do litígio. Palavra justa está associada aos poderes

assistenciais do juiz para que ele consiga ter tudo o que é necessário para uma decisão boa e

seja proferida no processo.

Os pressupostos processuais são como os pressupostos do NJ. A falta dos mesmos destrói o título. Os

pressupostos processuais não são arbitrários (art. 18.º + 20.º CRP não permitem barreiras

desproporcionadas ao exercício da ação). Se o pressuposto em falta se destina a proteger o réu, o mesmo

não pode ser condenado no pedido, porque falta uma condição para que aquela seja a melhor decisão de

mérito possível.

E se proteger o autor? O réu pode ser condenado no pedido? Claro que sim, visto que o pressuposto em

falta não prejudicou a possibilidade de uma decisão integralmente favorável ao autor. Esta decisão vai ser

sempre aquela que é proferida tipicamente quando faltam pressupostos processuais, mas que é, contudo,

ultrapassada por uma decisão de mérito: absolvição do pedido ou condenação do pedido – sempre que a

decisão de mérito seja a mais favorável possível para a parte protegida pelo pressuposto em causa.

A tudo isto chamamos prevalência do mérito sobre a forma. A decisão de forma apenas existe quando é

necessária, na medida em que tenho que proteger a parte que é protegida pelo pressuposto em falta. Se

o pressuposto proteger eu avanço então para uma decisão de mérito. Há uma prevalência do mérito sobre

a forma, porque é a decisão de mérito que determina se o autor tem ou não razão (objetivo do processo).

“Descreva a relevância do princípio da prevalência da substância sobre a forma e identifique as suas

manifestações mais relevantes no direito positivo português.”

A reforma do Código de Processo Civil (CPC), feita em 2013, visou tornar os litígios menos

demorados, de forma a que mais rapidamente se chegue à justa composição do litígio, cumprindo-se

assim a função do Processo de realizar a justiça e de se chegar ao resultado final, ao saber-se se o autor

tem ou não razão, como aponta PAULA COSTA E SILVA.

Nestas mudanças legislativas consagrou-se, nomeadamente no artigo 6º do CPC, um poder-dever

de gestão processual para o juiz, que promove a celeridade do processo tendo poderes inquisitórios e de

direção processual mais reforçados.

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Aliado a este reforço de poderes, motivado pela agilização e simplificação do processo civil, surge

no Direito Processual Civil o princípio da prevalência da substância sobre a forma. Este princípio surge,

como refere CARLOS BATALHÃO, numa modelação do processo civil em termos mais flexíveis, simples e

sem formalismos adjetivos, centrando-se “na análise e resolução das questões essenciais ligadas ao

mérito da causa”.

Portanto, o primado da substância sobre a forma implica que, desde 2013, se obedece à ideia de

que todos os impedimentos da decisão de mérito devem ser removidos, se tal for possível. PAULA COSTA

E SILVA entende que atender a este princípio significa, por um lado, não dar relevância às consequências

do não preenchimento de pressupostos processuais – permitindo que o juiz profira decisões de mérito –

e, noutra vertente, atribuir ao juiz poderes assistenciais fortes – de modo a que ele exorte as partes ao

preenchimento da causa de pedir ou da defesa do réu, para que o julgador consiga chegar à decisão de

mérito que é a mais justa para o litígio, aflorando o princípio da cooperação patente no artigo 7º/1 CPC.

O juiz afigura-se como aquele que providencia pela sanação da falta de pressupostos processuais, como

indica LEBRE DE FREITAS, e que colabora com as partes para a justa composição do litígio.

A construção doutrinária em torno deste princípio processual tem a sua base em inúmeros

preceitos de direito positivo. Como manifestações importantes deste princípio, a título de exemplo,

tomemos as seguintes disposições do CPC: artigo 5º/2, al. b – dá permissão ao Tribunal para ter em conta

factos que as partes não utilizaram, desde que estas sejam ouvidas sobre eles, suprindo a inércia de uma

das partes21; artigo 5º/2, al. c – flexibiliza a forma como podem chegar ao conhecimento do juiz factos

relevantes para considerar procedente a ação; artigo 146º, artigo 193º/3, artigo 590º/3 e 4 – permite

que o juiz corrija (ou dê espaço a corrigir) erros nos atos processuais; artigo 411º – princípio do

inquisitório.

É a observância do princípio da prevalência do mérito sobre a forma que, no entender de ARTUR

CORDEIRO, tem justificado a maior atribuição de novos poderes de gestão processual ao juiz, que o

obrigam a uma atuação mais exigente – para identificar omissões e/ou lapsos dos restantes intervenientes

processuais e solicitando a respetiva supressão – e mais responsável pelo fracasso ou sucesso na justa

composição do litigio.

O princípio da prevalência da substância sobre a forma surge, assim, no Direito Processual Civil

português, conjugado com o reforço dos poderes de agilização, direção e adequação da tramitação

processual pelo juiz. Esta conjugação torna evidente que toda a atividade processual, nos Tribunais

portugueses, deve ser orientada para favorecer a obtenção de decisões sobre a substância do caso e não

sobre a forma, possibilitando a supressão de erros pela parte e evitando irregularidades puramente

adjetivas que não permitam a composição do litígio, ou, a justa22 composição do litígio, distorcendo-se o

conteúdo da sentença de mérito, condicionada por questões processuais.

21 Cf. MOREIRA, Rui – “Os princípios estruturantes do processo civil português e o projecto de uma nova Reforma do Processo Civil” in Caderno I – O Novo Processo Civil – Contributos da doutrina para a compreensão do Novo Código de Processo Civil, pp. 73, 2ª Edição, Centro de Estudos Judiciários, 2013. Disponível em: http://www.cej.mj.pt/cej/recursos/ebooks/ProcessoCivil/Caderno_I_Novo%20_Processo_Civil.pdf, consultado a 15/10/2017 O autor apelida esta situação como uma “intervenção paternalista do juiz, em homenagem à prevalência dos Princípios do Inquisitório e da Oficialidade”, o que “determina o recuo do princípio do dispositivo”, uma vez que o juiz toma como responsabilidade algo que antes era apenas, “deixando estas de ser por isso responsáveis, já que a ele sempre competirá determinar aquilo que tiver por necessário à realização do fim do processo, ainda que elas o não tenham querido.”

22 De acordo com a preleção oral de PAULA COSTA E SILVA, em sede de aula teórica, ao associar a palavra “justa” aos poderes assistenciais do juiz, para que ele consiga ter tudo o que é necessário para uma decisão boa proferida no processo substancial.

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

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PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

Juiz, antes de se preocupar com a pretensão formulada pelo autor, terá de primeiramente

averiguar da existência dos pressupostos processuais.

➢ Requisitos necessários cuja verificação depende para a procedência da ação e

apreciação do mérito da causa – questões prévias ao conhecimento de fundo e

condicionam esse conhecimento.

o A falta de pressupostos processuais pode determinar que o juiz se abstenha de

conhecer do mérito do pedido e absolva o réu da instância.

Os Pressupostos Processuais destinam-se a acautelar que a decisão de mérito que pode vir a

ser dada é a melhor decisão que se pode ter (essa é a sua finalidade).

Quando os pressupostos não estão verificados há exceções dilatórias – protegem a decisão do

mérito da causa.

• Mas Tribunais não podem estar a postergar a decisão do mérito da causa, eles têm de

decidir em tempo razoável se o autor tem razão – criação de regimes que dilatam no

tempo o não conhecimento do mérito pode conflituar com o art. 20º CRP.

o Só pode haver conformidade constitucional se houver uma razão substantiva

que justifique a possibilidade do Tribunal não se pronunciar do mérito da

causa, dilatando essa decisão no tempo.

▪ Os pressupostos processuais justificam-se para que a decisão de

mérito a proferir seja a melhor decisão possível (havendo exceções

dilatórias quando não está verificada essa condição).

▪ Protege certos valores: protegem que seja o melhor tribunal possível a

resolver essa questão23 + o facto das partes terem as melhores

condições para discutir esse problema.

Exceções dilatórias são atípicas24 – além das que estão na lei, existirão todas aquelas que e

justifiquem.

• São tipicamente de conhecimento oficioso e não há necessidade de impulso da parte –

entra em conflito com o princípio do dispositivo.

• É matéria que o juiz conhece sem as partes pedirem – não viola o princípio do

contraditório pois o juiz só pode conhecer da exceção após ouvir as partes.

23 Pode salvar-se a ação se for possível o Tribunal reenviar a questão para o Tribunal competente – coerente com o princípio do aproveitamento máximo dos atos jurídicos manifesta-se na remessa do processo para os tribunais competentes. Sem isto, tem de haver absolvição do réu na instância. 24 Figura da mediação pré-processual em discussão nos tribunais ingleses e alemães, como pressuposto processual ou não.

• Diretrizes da UE vêm dizendo que a maioria dos litígios (da conflitualidade) não podem ser resolvidos nos tribunais estaduais mas sim em instâncias prévias em que as partes se conciliam e resolvem os seus conflitos.

• Alemães criaram mediação pré-processual obrigatória como pressuposto processual.

• Ingleses dizem que isso viola os Tratados e a CEDH pois retardam o acesso aos Tribunais – não se pode ter a mediação pré-processual como pressuposto processual.

• Há atualmente uma zona do sistema em que há instâncias de mediação: Direito Penal com a justiça restaurativa.

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

26

Matéria das exceções, no fundo, permite aferir que quem está a fazer atos está nas

melhores condições possíveis e quem as decide é o melhor que as pode decidir.

Exceção dilatória é tipicamente sanável – o que leva ao seu surgimento25 pode superar-se

através da regularização.

➢ Sempre que possível, o juiz deve providenciar para que a exceção dilatória seja sanada

– princípio da prevalência da substância sobre a forma.

➢ O processo não existe para si, mas sim para que se chegue a uma justa composição do

litígio.

Condições relativa às partes, ao tribunal, ao objeto do processo ou à relação entre as

partes e o objeto exigidas para que o tribunal se possa ocupar do mérito da causa,

respondendo ao pedido formulado pelo autor.

Quais os pressupostos que a lei conhece:

• Tribunal – o Tribunal tem que se aquele que, dentro da estrutura do Estado, o Estado

considera o melhor e mais adequado para julgar o litígio.

o Isto de um ponto de vista de proximidade física, mas não só.

• Partes – que têm de estar nas melhores condições para se poderem defender (não só

defender mas também atacar).

o Pressupostos Processuais Subjetivos: visam finalidades muito distintas, portanto

as consequências do não preenchimento são diferentes. Vários pressupostos,

conforme o lado ativo ou passivo que qualifiquem, visam realidades distintas.

▪ PCS: o regime dos pressupostos é inteligente.

i. Antes tinham consequência única, da actio non data – pretor

não concedia a actio, ao fazer um controlo prévio

ii. Agora, os regimes dos pressupostos e sua aplicação em

concreto dependem das tramitações processuais típicas,

previstas por lei. Uma tramitação que tenha o que a lei estatui,

permite, desde logo, num momento liminar, conhecer

pressupostos que, se o processo é liminar, não permite

conhecer.

iii. A estrutura das intervenções processuais marca o regime dos

próprios pressupostos – marca as possibilidades dos

momentos de conhecimento possíveis dos pressupostos. As

estruturas atuais são distintas, o que significa que os momentos

de conhecimento dos pressupostos pelo juiz são distintos.

iv. E o regime dos pressupostos é influenciado por isto – não há

consequência única e o regime vai depender das finalidades

que aquele pressuposto visa acautelar.

• Objeto – quanto mais difícil é um objeto processual mais difícil é o julgamento; tem que

se atender à complexidade do objeto para se apurar o prazo razoável (art. 20º/4 CRP).

o Mas não pode ser tão complexo que a expressão “prazo razoável” seja conceito

indeterminado e vago – lei cria pressupostos para a relação de vários objetos

processuais, que podem ser conhecidos num só processo, de modo a que essa

25 PCS: Falha um pressuposto quando a ontologia não corresponde à deontologia.

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complexidade processual não se repercuta na impossibilidade de cumprir

temporalmente o comando de “prazo razoável”.

Pressupostos Processuais Positivos – aqueles cuja verificação é essencial para que o juiz

conheça do mérito da causa. ➢ Personalidade judiciária, capacidade, legitimidade, interesse processual, competência do tribunal

e patrocínio judiciário.

Pressupostos Processuais Negativos – aqueles cuja verificação obsta a que o juiz aprecie o

mérito da ação.

➢ Litispendência, caso julgado, existência de compromisso arbitral.

1. COMPETÊNCIA É pressuposto processual objetivo – não existe para proteger nenhuma das partes; serve para

organizar a ordem jurídica interna.

➢ Para os outros todos, os pressupostos são subjetivos, existem para proteger as partes –

art. 11º e ss., pelo que se aplica o art. 278º/3 CPC.

A jurisdição, abstratamente, compete a todos os órgãos jurisdicionais, considerados no seu

conjunto, sendo o poder de julgar cometido pelo art. 202º CRP.

➢ Em concreto, porém, encontra-se fracionada.

Competência é a parcela de jurisdição atribuída a cada um dos órgãos jurisdicionais – é a

fração do poder jurisdicional que cabe a cada tribunal. ➢ Esse poder está repartido pelos diversos tribunais, segundo determinados critérios –

Regras de Competência que determinam a repartição do poder pelos diversos tribunais.

Conflitos de jurisdição – art. 109º/1 – duas autoridades pertencentes a ordens

jurisdicionais diferentes arrogam-se (conflito positivo) ou declinam (conflito negativo) o

poder de conhecer da mesma questão. Ex: entre Estados diferentes; entre tribunais

administrativos e judiciais e etc.

o São resolvidos pelo STJ ou pelo Tribunal dos Conflitos – art. 110º/1

Conflitos de competência – art. 109º/2 – surge entre dois ou mais tribunais da mesma

ordem jurisdicional.

o São resolvidos pelo presidente do tribunal de menor categoria que exerça

jurisdição sobre as autoridades em conflito – art. 110º/2. Ex: conflito entre dois

tribunais pertencentes ao mesmo distrito judicial é resolvido pelo presidente da

Relação que tenha jurisdição sobre os mesmos; se forem de distritos diferentes,

só o presidente do STJ é que pode resolver.

Competência é a medida de jurisdição de um Tribunal para fazer 2 coisas:

1. Conhecer da sua própria competência – princípio é que cada tribunal é competente

para se pronunciar sobre a sua própria competência;

2. Conhecer do conflito submetido à sua apreciação.

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28

Nunca se pode perguntar em abstrato qual é o tribunal competente – tem é que se perguntar

se o Tribunal perante o qual pende a ação é competente26

A competência apura-se tendo em conta elementos de conexão.

➢ Facto juridicamente relevante entre o litígio ao critério de aferição da competência.

➢ Elementos de ligação das partes a uma determinada ordem jurídica – ou porque mora lá,

porque nasceu lá, porque tem lá casas: nacionalidade; domicílio/residente em; objeto a que diz

respeito o litígio

o Quando se olha para o litígio, o primeiro passo é perceber se há apenas conexão

com a ordem jurídica portuguesa ou se há conexão com ordens jurídicas

estrangeiras.

Competência Interna A competência dos tribunais judiciais portugueses é regulada pela Lei de Organização do

Sistema Judiciário (Lei 62/2013) e pelo CPC.

Para Tribunal ser competente ele tem que ser competente em função de todos os critérios

que a lei exige para ele ter competência.

➢ Critérios têm de ser conjugados e sobrepostos.

Repartição, entre os diversos tribunais portugueses, do poder de julgar e subdivide-se nas

categorias do art. 60º/2 CPC (art. 37º/1 LOSJ):

1. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA – assenta no princípio da especialização.

➢ É vantajoso fracionar a competência dos tribunais em função da matéria devido à

especificidade das normas que integram os diversos ramos do Direito e dada a

complexidade das questões que se colocam a quem tem de decidir.

➢ Há tribunais de competência especializada, em função do critério da competência em

relação da matéria.

Nos tribunais judiciais ficam as causas que não sejam atribuídas a outra ordem jurisdicional

(art. 64º). Se a lei nada disser, o Tribunal tem competência genérica.

➢ É a LOSJ que determina quais as causas que, em razão da matéria, são da competência

dos tribunais e das secções dotadas de competência especializada (art. 65º).

Tribunal de competência especializada pode ter jurisdição, de um ponto de vista territorial,

construída em termos tais que vai consumir competências especializadas a tribunais de outras

jurisdições – alarga-se a outras zonas do território e exerce competência na área de várias

circunscrições.

➢ Jurisdição é tendencialmente exercida em todo o território nacional, em primeira

instância.

26 Uma coisa é a determinação da competência ex ante – onde os advogados vão por a ação

➢ Outra coisa é a aferição da competência concreta do Tribunal o Plano do pressuposto processual é a realidade do processo – pergunta-se para aferir a

competência perante os elementos que temos e não segundo a lógica de como devia ter sido

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29

o Se houver pouca conflitualidade, 1 Tribunal só pode chegar para absorver a

demanda toda.

2. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO VALOR DA CAUSA27 – a LOSJ determina quais as causas que,

pelo seu valor, se inserem na competência da instância central e da instância local (art. 66º).

➢ Art. 117º/1/a28

Não obstante o critério da hierarquia, a competência em relação ao critério do valor da causa

cria Tribunais de Competência Específica.

➢ O que está em causa é uma distribuição da jurisdição por Tribunais aos quais afetam-se

juízes com posições distintas na carreira.

3. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA HIERARQUIA JUDICIÁRIA – hierarquia traduz-se apenas29 no poder conferido aos tribunais superiores de, pela via de recurso, revogarem ou alterarem as decisões dos tribunais inferiores30. Tribunais de 1ª instância são tribunais de plena jurisdição.

➢ O STJ e as Relações só conhecem de 1ª instância em termos muito excecional31, pois são em regras tribunais de recursos.

4. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO TERRITÓRIO – resulta do facto de cada tribunal pertencer a

uma circunscrição territorial.

Tem dois parâmetros: circunscrição territorial correspondente ao tribunal e elemento de

conexão de ações com a circunscrição32.

Definido pela LOSJ, que é lei muito fácil de manipular politicamente.

27 Lebre Freitas: Valor da Causa - expresso monetariamente e representa a utilidade económica do pedido (art. 296º/1), atendendo o momento em que o pedido é deduzido (art. 299º/1 e 2). Se o pedido for uma quantia pecuniária líquida, esse é o valor da causa (art. 297º/1).

28 Lebre Freitas: Alçada do Tribunal - valor fixado pela LOSJ até ao qual um tribunal de instância julga definitivamente as causas da sua competência.

➢ Conceito releva para os recursos pois a decisão proferida por valor contido na alçada do tribunal que a proferiu não é, em regra suscetível de recurso ordinário, ao passo que a proferida em causa de valor superior a essa alçada é-o em regra (art. 629º/1).

➢ Tem funções de distribuir competência do tribunal de comarca entre as secções cíveis da sua instância central.

➢ Valores das alçadas estão no art. 44º/1 LOSJ.

29 Apenas serve para a determinação do Tribunal para o qual se recorre de uma decisão (apenas interessa no processo de recurso). 30 Tendo em conta a Lei Organização Sistema Judiciário

• STJ – art. 55º/c

• Relações – art. 73º/b

• 1ª Instância – art. 33º; Comarca – art. 79º

STJ (que não é Tribunal de instância, pois não tem alçada = valor até ao qual um Tribunal julga sem recurso das suas decisões) > Tribunais Relação > 1ª instância (tem plenitude de jurisdição)

31 Há ações que se podem iniciar na Relação, como o reconhecimento das sentenças estrangeiras 32 Sendo os mais relevantes o foro do réu (regra geral – art. 80º e 81º), fora real ou da situação dos bens, foro obrigacional, o foro do autor e o foro sucessório

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

30

➢ Problema político relevante por detrás da lei: Tribunais prestam serviços à

comunidade, aqueles serviços em concreto que são procurados pela população, pelo

que as leis de organização deviam ser dúcteis pois a natureza da conflitualidade não é

estável.

o Os conflitos são diferentes conforma a zona do país e deveria de haver uma

racionalidade na alocação de recursos para se dar resposta aos conflitos

específicos das comunidades (e dar vazão à demanda).

o Há conflitualidade que é relativamente escassa (ex: não há muita procura de

Tribunais Marítimos no interior do país; e no geral há menos) pelo que a

dispersão territorial dos Tribunais deve ser feita de forma a serem alocados

respondendo à efetiva demanda que sobre eles, em concreto, é exercida.

o Entende-se que a ligação territorial é relevante pelo que há demarcação

territorial para o exercício da competência do tribunal = circunscrição

Competência Internacional Atribuição do poder de julgar aos tribunais portugueses, no seu conjunto, em face dos

tribunais estrangeiros.

• Surgem questões de competência internacional quando a causa revela alguma conexão

com outra ordem jurídica estrangeira – se não houver qualquer conexão a ordem

jurídica estrangeira tudo se passa no âmbito da competência interna.

MTS: competência internacional dos tribunais portugueses é, assim, a competência dos

tribunais da ordem jurídica portuguesa para conhecer das situações que, apesar de possuírem,

na perspetiva do ordenamento português, uma relação com ordens jurídicas estrangeiras,

apresentam igualmente uma conexão relevante com a ordem jurídica portuguesa.

Regulamento 1215/2012 UE

“Serve para simplificar harmonizando” – simplificam-se as regras de competência secundária

harmonizando as regras de competência primária

• Regras de competência primária uniformizadas são necessárias para assegurar o rápido

reconhecimento de decisões no espaço da UE.

• Objetivo é o de simplificar o exercício da competência secundária – i.e., a competência

para reconhecer uma decisão proferida por um Estado estrangeiro – a parte só pode

prevalecer-se da decisão se o Estado reconhecer essa jurisdição (reconhecer decisão

estrangeira para no seu Estado valer com os mesmos efeitos que as suas decisões)

o Mas só é possível esta simplificação se:

1) Estado confia que outros Tribunais proferem decisões com as mesmas

garantias que os nacionais (senão teria de haver controlo de fundo

quando às decisões);

2) Respeitar o exercício da jurisdição (que é emanação de soberania) pelos

outros Estados com os quais o Estado Português se vincula a aceitar

certos critérios como critérios distributivos da jurisdição

harmonização (presunção da aplicação do Regulamento).

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

31

• É porque se harmonizam as regras de competência primária que se permite uma rápida

circulação33.

Âmbito material – art. 1º/1 com as exclusões do art. 1º/2 – aplica-se a matéria civil e comercial

Âmbito temporal – está em vigor de 2015

Antes deste regulamento existia o Regulamento 44/2001

O atual foi copiado do anterior e as inovações prometidas caíram à última da hora devido a

conflito entre Ingleses e Alemães.

• Ingleses têm instituto que permite adaptar a regra fundamental de os Tribunais

conhecerem da sua própria competência, de modo a inibir a parte de instaurar onde ela

entender que deve ser instaurada – anti suit injunctions.

o Regulamento previa a inadmissibilidade das anti suit injuctions – não permitindo

que fosse o Tribunal a dar uma ordem à parte para a proibir de instaurar a ação

onde ela entendesse.

o Estas anti suit injuctions têm relevância pois no Direito Inglês se a parte não

cumprir a ordem do Tribunal vai presa por crime de incumprimento de uma

ordem judicial.

• Outra regra que não foi possível passar para o novo regulamento era aquela que

concebia uma aplicação extra-territorial do DUE.

o Prescindia-se do critério central da aferição da competência internacional do

domicilio, dizendo que se aplicava sempre o regulamento havendo qualquer

outro elemento de conexão à UE.

O domicílio é quase como um ius cogens na aferição da competência internacional pois a

pessoa está mais próxima dos tribunais do local onde reside.34

33 Uma vez que o tempo que demora o reconhecimento não é compatível com a vida das pessoas

➢ PCS: maior consequência prejudicial para os britânicos com o Brexit 34 Conceito de domicílio no Regulamento – art. 62º e 63º Reg 1215/2012

➢ Tentativa de ter critérios uniformes para toda a UE mas vão na linha de conta com os critérios tidos em conta pela legislação dos Estados-membros.

Como provamos que o domicilio é efetivamente aquele que uma das partes indica? E se no momento da propositura da ação vive num certo sítio mas entretanto muda-se?

➢ Pressupostos processuais, e a competência não foge a isso, são sempre aferidos à data da propositura da ação (mesmo sendo aferidos pelo juiz na fase da saneação).

Mudança fáctica na situação jurídica do réu que aproveita ao processo.

➢ Ex: critério é domicílio do réu. Réu vive em Lisboa e autor no Porto. Instaura ação no Porto que remete para Lisboa e sana a incompetência.

➢ Se entretanto Réu mudar-se para o Porto, na mesma o Tribunal do Porto remete para Lisboa? Não – o juiz atende ao princípio da gestão processual, princípio da prevalência da substância sobre a forma.

o Já não há elementos de conexão a Lisboa. Réu ao mudar de domicílio mudou em favor do processo portanto pode usar-se.

E se o Tribunal desaparecer, por reforma do mapa judiciário e etc.?

➢ Direito tem que ceder à realidade e vai ser competente o Tribunal que, de acordo com a reorganização judiciária, for competente nessa altura.

o E pode acontecer várias vezes ao longo da vida do processo.

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

32

• Quando não há melhor conexão, esta é a conexão necessária, tendo em conta que a lei

atenta às situações da vida e escolhe o melhor critério (o elemento relevante para a

partir de aí determinar a jurisdição).

o Uma melhor conexão afastaria a conexão do domicílio – casos de competência

exclusiva

o Uma tão boa conexão também afastaria a conexão do domicílio – casos de

competência concorrente.

CASOS DE COMPETÊNCIA EXCLUSIVA – art. 24º

Critério que tem de ser explicado com uma intensidade tal que afasta a pertinência de qualquer

outro critério.

➢ Se o objeto da ação se reconduzir aos casos de competência exclusiva, então o Tribunal

tem que verificar a sua competência e declarar a sua competência/incompetência.

➢ MTS: os casos deste artigo prevalecem sobre a competência determinada por quaisquer

outros critérios, gerais ou especiais – prevalece sobre o art. 8º

CASOS DE COMPETÊNCIA CONCORRENTE – art. 7º35

Critério do domicilio do réu concorre com outro critério que é identicamente bom –

competência alternativa

• Atribui-se a autor a prerrogativa de escolher qual o Tribunal ele pretende instalar a ação,

sem que nenhum deles se possa declarar incompetente.

• Nestes casos, e a ação não for instaurada no domicílio do réu, o Tribunal tem de verificar

se há outra conexão igualmente boa que lhe dê competência.

o Se não houver tem de se declarar incompetente.

o Tribunal tem de verificar se garantias do réu estão asseguradas

COMPETÊNCIA CONVENCIONAL – ART. 25º

Prevalece sobre a competência de Origem Legal

➢ O pressuposto processual da competência (tanto externa como interna) pode ser

modelado por lei ou por convenção36.

35 Numa ótica ampla (MTS) tem-se entendido que o “cumprimento da obrigação” envolve as várias prestações da obrigação, o que envolve o pagamento do preço e entrega dos bens. Doutrina tem preenchido o lugar da entrega atendendo a práticas comunitárias e etc. 36 Competência regulada por convenção:

• Pactos de Competência – regula a jurisdição mas apenas no espaço interno de um Estado. Ex: escolho o Tribunal competente como o Tribunal de Lisboa

• Pactos de Jurisdição – regulam a competência no domínio das ordens jurisdicionais de vários Estados.

• Convenção de Arbitragem – indiferente se é competência interna ou internacional – é transversal.

o Difere dos pactos pois atribuem jurisdição a tribunais não integrados na Ordem Jurisdicional dum Estado.

o Pode dizer respeito a uma situação plurilocalizada (que seria de competência internacional) ou não plurilocalizada (que seria de competência interna – apenas relacionada a uma Ordem Jurídica).

o Não há hierarquia entre os Tribunais estaduais e os Tribunais arbitrais. Competência regulada com base em regras dispostas por lei – são regras jurídicas que regulam a competência.

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33

Autonomia privada prevalece sempre face à aplicação de uma regra, que é supletiva.

• 1ª barreira: há matérias em que o Estado não permite a autonomia privada, não

permite pactos de jurisdição.

• 2ª barreira: se não for invocada a violação do pacto de jurisdição, então isso não é de

conhecimento oficioso, pois o Tribunal não reconhece causas que tutelam interesses de

pessoas e sim aquelas que tutelam interesses de ordem pública e etc.

o Art. 578º CPC

Portanto, a competência convencional prejudica a competência de qualquer outro tribunal,

mas tem de ser suscitada pela parte – se for invocado o Tribunal tem de se declarar

incompetente.

➢ Se não for suscitada pela parte:

o Há derrogação tácita do pacto de jurisdição (MTS)

o Não há derrogação do pacto de jurisdição (PCS) – há uma não invocação da

exceção neste caso concreto, permanecendo o pacto válido.

▪ A exceção de preterição, feita no pacto, não foi invocada neste caso,

mas pode ser noutros.

Consolida-se sempre a competência de um Tribunal, atribuindo competência internacional, ao

Tribunal perante o qual o Réu comparece sem invocar a incompetência desse Tribunal.

• O Réu pode dizer que o Tribunal é incompetente mas mesmo assim aceitar ser julgado

por ele, fazendo com que se consolide a competência do Tribunal da ação.

o É também sempre competente no plano internacional o Tribunal perante o qual

o Réu comparece, sem invocar a incompetência desse mesmo Tribunal.

o Último critério de todos na atribuição de competência internacional – Art. 26º:

Pacto de Jurisdição Tácito 37

Regulamento 2201/2003 CE Âmbito Material – aplica-se a matéria matrimonial e responsabilidades parentais (instrumento

de aplicação interno entre Tribunais da UE).

➢ Tem que ser conjugado com o Regulamento 4/2009 relativo às obrigações alimentares

Regulamento 2201 tem duas partes:

1. Separação e anulação do casamento – fixa como critério geral atributivo de

competência o Tribunal de residência do requerente, quer seja (ainda) residência

comum, quer seja apenas residência do requerente

• Inversão da regra – já não é o domicílio do réu e sim área de residência da

requerente – pois a parte que requer o divórcio está normalmente numa

posição mais fragilizada38

• A lei pode ser de origem Convencional (direito convencional) – Tratados e etc.

• A lei pode ser de origem Estritamente Interna o As regras reguladoras da competência internacional emanadas de direito

convencional prevalecem sobre as mesmas regras reguladoras da competência emanadas do direito interno – art. 8º CRP

37 Domicílio > Competências Especiais > Competências Excecionais > Competências Convencionais > Comparência do Réu 38 Regra do tipo-padrão e que depois comporta exceções

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

34

• Art. 3º dá relevância ao critério da nacionalidade – que não tinha relevância no

Regulamento 1215

2. Responsabilidades parentais – cujas disposições devem ser conjugadas com a

Convenção Internacional de Rapto de Menores.

• Este Regulamento apenas harmoniza as competências acerca das

responsabilidades parentais de menores (cujo conceito é deixado em aberto39)

• Matéria de guarda e visita + atribuição do menor a famílias ou instituições de

acolhimento + rege competência da gestão patrimonial do menor (e quanto à

intervenção dos pais no património do menor)

• Não intervém nas obrigações alimentares – esse é o Regulamento 4/2009

Nos casos práticos podem estar em causa os 4 regulamentos e nas várias situações que eles

regulam.

Este Regulamento foi aplicado no Processo C-168/08, Hadadi c. Mesko (TJUE)

REGRAS DE RECONHECIMENTO

Seja qual for o regulamento, os Estados não podem controlar o mérito da decisão do Tribunal

de origem, mas podem parar o reconhecimento se a decisão ofender a sua ordem pública.

Doutrina discute se isto não é um reconhecimento do mérito.

PCS: no fundo é controlar o mérito, pois vai verificar do conteúdo da decisão e ver se ela vai

contra a ordem pública. Isto não implica que haja possibilidade de se substituir (dizer que o

Tribunal de destino não se pode substituir no julgamento da causa é argumento falacioso40 –

são problemas completamente distintos: um é saber o que se controla e o outro é após

controlado e destruído, há ou não há poderes de substituição).

Ex: vinculação perpétua de um advogado a pagar indemnização. STJ não reconheceu esta

decisão porque na nossa ordem jurídica não cabe

Regras relevantes em matéria de competência:

1) Ao abrigo do respeito recíproco entre Tribunais, Regulamentos dão sempre relevância

à litispendência – exceção que se verifica sempre que pende perante 2 ou mais

Tribunais uma ação com tripla identidade (os mesmos sujeitos, a mesma causa de pedir

e o mesmo pedido)

• Há diretrizes quanto à suspensão da ação quando há conexão entre objetos.

Aquele que é demandado em 2º lugar deve parar e esperar.

2) Ao invés do Direito Interno, saber qual a ação instaurada em 1º lugar não é quanto à

citação do réu, e sim com a propositura da ação.

3) Regra de salvaguarda – espécie de ius cogens na competência internacional – princípio

da necessidade da jurisdição internacional.

• Regra de ultima ratio – exerce-se quando a parte, se não vir a sua ação julgada

perante o Tribunal no qual instaurou, vê perecer o seu direito.

39 Na Convenção de Bruxelas-I eram todos os menores de 18 anos. Mas há casos de emancipação, que já não são menores e portanto não se aplica o Regulamento 40 O controlo de mérito pode ter efeito meramente cassatório ou substitutivo

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

35

i. A parte precisa em absoluto de uma decisão naquele espaço e por

aquele tribunal, sob pena de ver perder o direito.

ii. Quando o tribunal se declara incompetente, nestes casos há uma

dificuldade incomensurável. Ex: empresas brasileiras e portuguesas

fazem estradas na Líbia e dão competência exclusiva ao Estado Líbio;

explodindo a guerra, lá não é possível exercer direitos, pelo que a ação

pode decorrer em Portugal.

Tribunais na UE não fazem concorrência uns aos outros

Direito Interno Caso não se aplique à competência internacional nenhum instrumento internacional

(Regulamentos). Se não for aplicável nenhum dos Regulamentos, realiza-se a competência pelo

CPC.

Natureza da própria competência internacional é soberania e concorrência entre Estados, pelo

que Portugal tem de afirmar as regras pelas quais ou a partir das quais permite o exercício da

sua própria jurisdição – critério de repartição em termos internos ainda não quer dizer que esse

critério é relevante para os elementos de conexão entre o Estado Português e um conflito

plurilocalizado; uns visam apenas distribuir competência no plano interno e outros visam afetar

jurisdição ao Estado português.

Art. 62º determina quando os tribunais portugueses podem ser internacionalmente

competentes

a) Princípio da Coincidência – coincidência entre a competência internacional e a

competência interna territorial, em que os tribunais portugueses têm competência

internacional para julgar essa ação, mesmo que existam elementos de conexão com

ordens jurídicas estrangeiras. Quando os tribunais portugueses se consideram

competentes por aplicação das regras de competência territorial interna.

• PCS: Art. 62º/a deve ser conjugado com art. 70º e ss.

➢ Os critérios e fatores de conexão a que Portugal dá relevância

são estes. E dão relevância a estes critérios por força do art.

62º/a

o Art. 70º e ss. escolhem um elemento de conexão e a partir dele

concretizam a competência.

o Regra geral: art. 80º e 81º -> só se recorrem a estas regras quando não

é aplicável nenhuma regra especial

➢ ≠ Lebre Freitas (que entende que o Tribunal da ação pode, se

falir a concretização da sua competência por regra especial, que

seja internacional ou interna, pode ainda ir buscar os critérios

da regra geral).

o PCS: se estamos perante objeto para o qual a lei escolheu melhor

elemento de conexão, não pode o Tribunal concretizar a sua

competência com recurso a conexões alternativas41. Prejudica o tribunal

41 PCS: o mesmo para

• Não posso aplicar direito interno (face a litígios internacionais) se falir a competência internacional do Estado português, por aplicação do regulamento competente.

• Não posso aplicar regras gerais do CPC quando ao caso concreto é aplicável uma regra especial.

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

36

que seria competente para dirimir o litígio e cujo o elemento de

conexão a lei relevou. Não se pode aplicar regras de competência

territorial gerais se falir a concretização da competência do Tribunal da

ação, por aplicação da regra especial que, no caso concreto, é chamada

a regular.

b) Princípio da Causalidade – quando o facto que serve de causa de pedir (ou algum dos

que a integram) tiver sido praticado em Portugal.

c) Princípio da Necessidade – quando o direito invocado pelo autor só possa tornar-se

efetivo por meio de ação nos tribunais portugueses. Estado português aceita exercer

jurisdição e como ultima ratio apenas nos casos em que a situação da vida / objeto da

ação tenha algum elemento de conexão com a Ordem Jurídica portuguesa.

Art. 63º é quase igual ao art. 24º Regulamento 1215/2012 e determina os casos em que os

tribunais portugueses são exclusivamente competentes. Antes do art. 25º do Regulamento 1215/2012 havia o

Art. 94º - Pactos de Jurisdição

• Os tribunais portugueses também são competentes para julgar internacionalmente se as partes

convencionarem que é Portugal a jurisdição competente para dirimir esses litígios.

• Por acordo das partes o pacto de jurisdição pode ser:

o Atributivo – concede competência a um tribunal português

o Privativo – retira competência a um tribunal português e atribui exclusivamente a um

tribunal estrangeiro.

Chegando ao final,

Tribunais Portugueses são competentes. Mas que Tribunal?

Atende-se à Lei 62/2013, de 26 de Agosto (LOSJ)

Incompetência INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA

• Violação de normas de interesse e ordem pública.

• Art. 96º

o Arguida pelo art. 97º

Consequência é a absolvição do réu da instância – art. 99º

INCOMPETÊNCIA RELATIVA

• Violação de meras normas de interesse e ordem particular – infração de regras fundadas

no valor da causa, na divisão judicial do território ou decorrentes do estipulado na

convenção prevista no art. 95º

• Art. 102º

o Depende da arguição do réu – art. 103º (exceções do art. 104º, de

conhecimento oficioso)

Consequência é a remessa para tribunal competente onde continua os seus termos – art.

105º/3.

➢ Tribunal ao receber o processo fica vinculado à decisão do juiz que para ele remeteu,

i.e., ao receber o processo não poderá declarar-se incompetente.

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

37

➢ Mas se for por violação de pacto privativo de jurisdição, terá de se absolver o réu da

instância, visto que a sua jurisdição não vai além fronteiras para remeter para outro

tribunal estrangeiro.

Casos Práticos Quando o autor vai intentar a ação tem de ver qual é o Tribunal competente:

• Conexão com ordem jurídica exterior? SIM

o Ver Regulamento – art. 1º

▪ É Estado-membro? NÃO -> ver se cabe nas exceções do art. 6º/1, se não

remete para art. 62º42 e 63º CPC

▪ É Estado-membro? SIM -> art. 4º; ver depois se podia ser demandado

especificamente

• Art. 5º – aplica-se a regra geral excepto se houver disposições

sobre competências especiais. É extensão do art. 4º.

• Conexão com ordem jurídica exterior? NÃO

o Então ver Matéria, Valor, Hierarquia e Território – art. 37º Lei 62/2013

MTS: há disposições do regulamento que têm uma dupla finalidade -> diz-nos o Estado-membro

onde se instaura a ação e o local -> art. 7º

2. CAPACIDADE JUDICIÁRIA Aptidão para adquirir direitos e para os exercer.

• Art. 15º/1 CPC: “suscetibilidade de estar, por si, em juízo”

o Pretende acautelar-se que a pessoa pode decidir por si, livremente, a situação

em que é parte no processo.

• Art. 15º/2 – capacidade judiciária tem por base e por medida a capacidade de exercício

de direitos. Quem tem total capacidade de exercício de direitos possui plena capacidade

judiciária. o Incapacidade das pessoas singulares mede-se pelo art. 15º/2 – unidade de

medida é desde o momento do facto da causa de pedir ou da possibilidade dos

efeitos se repercutirem na esfera jurídica da pessoa?

▪ Avalia-se pela potencialidade dos efeitos se repercutirem na esfera

jurídica do interessado.

Quem não tiver capacidade judiciária só pode estar em juízo através dos seus representantes

legais – com a finalidade de proteger certas pessoas contra a sua inexperiência ou incompleta

formação ou contra o seu deficiente estado mental, a lei determina que não podem exercer, por

si próprias, um direito cuja titularidade lhes é reconhecida, havendo fenómenos de

representação.

• Menores – suprimento da incapacidade pelo art. 16º/2 e 3

o Tendo em conta que há atos que o menor pode praticar livremente, sendo ele

pessoalmente que vai estar em juízo e tendo, então, capacidade judiciária.

42 Alíneas deste artigo não são cumulativas – são é para serem vistas sequencialmente; só se conclui que não cabe no artigo após verificar todas as alíneas.

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

38

• Interditos – equiparado ao menor (sendo incapaz de governar a sua pessoa e bens)

suprimindo-se pelo art. 16º/1 e 17º

• Inabilitados – incapazes de reger convenientemente o seu património, podem intervir

nas ações em que são partes mas essa intervenção está subordinada à orientação de

um curador (que prevalece no caso de divergência), pelo art. 19º

• Representação Orgânica – depende muito dos estatutos e supletivamente do que a lei

disser, tendo em conta art. 24º, 25º e 26º (com a ideia de quem realmente exerce

poderes)

Do lado ativo há 2 mecanismos de sanação:

A. Representação para quem não pode celebrar negócios jurídicos afere-se pela regra de

celebração de negócios jurídicos;

B. Assistência quando se pode praticar alguns atos processuais mas não livremente.

Consequências da incapacidade é que se não for sanada43 leva à absolvição do réu na instância,

se for pressuposto de prática de ato processual (ex: autor põe ação por si próprio e é interdito

– pode não ser irregularidade processual mas o ato em concreto seria; se o menor por si próprio

replica ou recorre – pratica ato por si próprio do processo, pelo qual o ato é nulo pois há

inadmissibilidade do ato processual).

Ónus da prova da capacidade judiciaria:

• incapacidade do autor pertence ao réu;

• incapacidade do réu pertence ao autor.

3. PATROCÍNIO JUDICIÁRIO Assistência técnica prestada às partes por profissionais do foro – exercício por advogados,

advogados estagiários e solicitadores.

Em todas as causas é admitida a intervenção de advogados em representação das partes,

porém, há causa em que, pela importância ou devido à sua natureza, essa intervenção torna-

se obrigatória – art. 40º/1 CPC44

Poderes de representação em juízo são conferidos ao advogado (mandatário) pela parte

(mandante ou constituinte) por meio de mandato judicial, nos termos do art. 43º, 44º e ss.

A sanação da falta deste pressuposto processual pode ser feita pelo art. 41º

43 Sanação ≠ Cessação da incapacidade, quando o incapaz o deixa de o ser, no processo 44 Isto significa que nas outras causas a constituição de advogado é apenas facultativa, podendo as partes litigar por si – art. 42º

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39

4. PERSONALIDADE JUDICIÁRIA Art. 11º/1 CPC: “suscetibilidade de ser parte”45

Partes Processuais No processo intervêm vários sujeitos, mas, não se atribui a todos as situações jurídicas das

partes. Ex: testemunhas – são sujeitos processuais mas não têm os deveres, direitos e ónus das

partes.

Quem é parte? Quem é sujeito processual ao qual se devem atribuir certas situações jurídicas?

➢ Problema de exercício de situações jurídicas.

Parte pode ter ou não interesse – tem que se atender à construção da teoria dos pressupostos

processuais.

➢ Pode ser-se parte e não preencher os todos pressupostos processuais de que a lei faz

depender o proferimento da decisão de mérito. Ex: PCS em concurso de misses. Alguém

terá que dizer à Profª, que é parte, que não poderá “desfilar”... O juiz verificará os

pressupostos processuais e terá que decidir.

Parte é aquela que no mundo da realidade faz alguma coisa em nome próprio (e por isso se

distingue do representante, que atua em nome do representado).

➢ Partes processuais são sujeitos que pedem em nome próprio ou contra os quais

é pedido um quid no processo46

O conceito material de parte alterou-se para o conceito formal de parte.

➢ Deixou um espaço livre que foi preenchido pelo pressuposto da legitimidade – conceito

que vai complementar e estabelece a ligação entre a situação que é e quem pode

exercer, a partir da situação que é.

Parte deixou de ser aquele em cuja esfera se produzem os efeitos da decisão de mérito e, a

partir do séc. XIX, no conceito de parte deixou de haver qualquer ligação entre as pessoas que

pedem em nome próprio e a situação da vida que se está a discutir.

45 Art. 12º - estende a personalidade judiciária atendendo ao Critério da Diferenciação

Processual

Art. 13º - estende a personalidade judiciária atendendo ao Critério da Afetação do Ato

Nos casos de ações indevidamente propostas contra sucursais, o art. 14º prevê a sanação da

falta deste pressuposto processual através da ratificação ou repetição do processado pela

administração principal.

➢ O juiz, antes de proferir despacho de absolvição do réu da instância deve providenciar

(art. 6º/2) para que a administração principal intervenha no processo e sane os atos.

A falta de personalidade judiciária não sanada constitui uma exceção dilatória (art. 577º/c) e

é de conhecimento oficioso (art. 578º), levando à absolvição do réu da instância (art.

278º/1/c). 46 Ainda que o não pudessem ter sido.

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

40

No Processo Civil Romano:

• o Pretor dá actio àquele que demonstra, perante ele, que é sujeito da actio que o pretor

pode dar – implica que quem recebesse a actio fosse o titular do direito subjetivo em

causa (tinha de haver essa ligação umbilical pois só se atribuía actio a quem era parte

legítima = a quem preenchia os índices nomeadamente subjetivos do tipo legal que era

a actio).

• Direito romano explica na sua origem a dispensa da legitimidade – hoje em dia já não

é assim

Abandonou-se o processo do pretor e depois o iudex pois havia muitas imunidades e muita

gente não podia ser demandada em nome próprio – como o Rex.

• Por este motivo, demandava-se outra pessoa em nome próprio por situação jurídica

alheia.

• Doutrina percebeu que este conceito material de parte não servia e que aquele que

exercia em nome próprio situações jurídicas alheias o fazia por incumbência de

outrem (ou desempenho de uma função).

E isto levou a que nos primórdios do séc. XIX levou a que se construísse conceito intermédio

de parte: PARTE POR INCUMBÊNCIA (é parte por desempenhar certas funções)

➢ Ainda existe hoje em dia: caso do Administrador da Insolvência – a ser representação

legal, o insolvente era considerado incapaz, e isso não é assim. Representante tem de

atuar no interesse do representado e o Administrador da insolvência tem de coordenar

os interesses dos insolventes e dos credores (não pode representar uma).

o Ele é parte por incumbência pois atua nas situações jurídicas em nome próprio

porque o insolvente não pode atuar, mas, atua nas situações jurídicas alheias

porque recebeu do tribunal a incumbência de o fazer.

Estes casos não eram explicados pelo conceito material de parte, pelo que teve de se

abandonar esse entendimento

Caso da transmissão da coisa ou direito em litígio – art. 263º Está nas modificações subjetivas e vem ao encontro do princípio da estabilidade em que se

determina que, uma vez citado o réu, a ação se deve manter a mesma quanto às partes e quanto

ao objeto (estabilidade em sentido forte), sendo apenas admitidas as exceções permitidas pela

lei nos artigos subsequentes.

• Importante para a instância da ação e na instância de recurso – como o recurso faz parte

da instância, tem de se aplicar esse princípio e a ação tem de se manter a mesma quanto

às partes (mantém-se a identidade, não a posição pois a parte passiva passou a ativa e

a ativa passou a passiva) e quanto ao objeto, mesmo no recurso (não pode mudar).

• Caracteriza o sistema processual.

• Pode haver casos de substituição quando há transmissão da coia ou direito litigioso por ato entre

vivos (art. 263º) ou por substituição da pessoa falecida (art. 351º).

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

41

Transmitente, perde conexão com o que está em causa mas continua a ser parte, devido a

adotar-se o conceito formal de parte que explica o art. 263º.

➢ Perpetuação da legitimidade do transmitente justifica-se pela tutela da parte

estranha à transmissão, pois se isto não se mantivesse, o processo extinguir-se-

ia a instância (por ilegitimidade superveniente) e instaurava-se outro – isto

permitia fáceis manipulações e sempre que uma parte quisesse destruir o processo que

lhe estava a correr mal bastava transmitir o litígio.

Um terceiro é aquele que não é parte: não demanda nem é demandado em nome próprio.

Tribunal Constitucional tem uma decisão com base no problema do TGV em que se discutiu

“quem é parte e quem podia ter sido parte”.

➢ Caso julgado é delimitado pelas partes, mas pelas partes que o são, não por aquelas que

poderiam ter sido (discutiu-se isso no caso do TGV).

PCS: Quanto às partes, ou se é Principal ou Acessória, não há 3ª categoria

• Partes Principais – autor e réu

• Partes Acessórias – assumem no processo uma posição subordinada.

o Assistente: é uma pessoa que tem interesse jurídico em que a decisão do pleito

seja favorável a uma das partes, intervindo no processo como seu auxiliar (art.

326º)

• Art. 328º cruza com o art. 321º - o que interessa aqui é saber qual o sujeito de

imputação das situações jurídicas processuais previstas pelo sistema para perceber

como a parte acessória se comporta (pois tem direitos equiparados)

• Art. 328º/2 explica que se houver conflito entre aquilo que diz o assistente e aquilo que

diz a parte principal prevalece o que é dito pela parte principal -> esse é o significado de

subordinação.

Art. 263º fala em substituir, o que está tecnicamente errado, porque o transmitente, tal como

o assistente são substitutos, ou seja, litigam em nome próprio por direito alheio.

• No caso do assistente, enquanto a parte principal se manter em revelia; no caso do

transmissário, enquanto este não for aceite por lei a trocar no pólo processual com o

transmitente.

• A parte processual formal do art. 263º é exatamente aquela do art. 329º, é o substituto

processual, aquele que sendo parte principal, litiga em nome próprio mas por direito

alheio.

As partes são classificadas como principais ou acessórias através de conceitos desconectados

com a situação material controvertida, mas há uma distinção, apesar da formalização do

conceito de parte, entre:

• aqueles que litigam em nome próprio e por direito próprio (PARTES PRINCIPAIS

FORMAIS DIRETAS);

• aqueles que litigam em nome próprio por direito alheio (PARTES PRINCIPAIS FORMAIS

SUBSTITUTOS PROCESSUAIS).

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

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Parte pode ter configuração singular ou plural.

• Sempre que num dos polos da instância esteja mais de 1 sujeito há uma situação de

pluralidade de sujeitos, que pode conviver com pluralidade de objetos.

• Quando a situação da vida tem vários sujeitos, a pluralidade pode repercutir-se, ou não,

na configuração da parte processual.

• Parte plural = litisconsortes (que é diferente de compartes = resultam da pluralidade de

objetos)

Os pressupostos processuais que as partes têm de reunir são aqueles necessários para que seja

proferida uma decisão de mérito.

➢ Não são pressupostos para ser parte, porque elas são partes, são é pressupostos para

terem possibilidade de ver julgado o mérito da causa.

Substituição processual é na pendência da ação e não se dá se uma comparte ceder

anteriormente à propositura da ação – para haver transmissão, tem de ser na pendência da

ação.

Parte e Personalidade Judiciária Partes têm possibilidade de ser parte porque são pessoas para o direito.

• Podem haver casos em que não existe personalidade jurídica mas há personalidade

judiciária e podem haver casos em que não há possibilidade jurídica ou judiciária e são

partes (PCS: surgindo um problema no direito português porque se separou esse

pressuposto da capacidade).

Parte é limite dos efeitos do caso julgado – as partes ficam vinculadas pela decisão do caso.

Pressuposto da personalidade judiciária não fazia parte dos pressupostos – criou-se um

problema complexo.

• Antes, o pretor dava actios às pessoas que lhas pediam e não às coisas – era simples

Mas e se houver um processo com ausência de parte? Tem de ser considerado existente e ter

um resultado.

• MTS: há absolvição do réu na instância

• PCS: não é possível absolver o réu na instancia por ele nem foi parte – não há uma

resolução dogmática e tem de se recorrer à lógica jurídica.

Parte, ao evoluir do conceito material para formal, perde-se a alusão ao impacte da decisão

no sujeito.

Vai-se buscar essa ligação ao pressuposto da Legitimidade – art. 30º CPC

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5. LEGITIMIDADE DAS PARTES Legitimidade é o pressuposto que estabelece a relação entre a parte e a situação material

controvertida (estabelece a ligação entre a parte o objeto da ação).

➢ É pressuposto processual que relaciona autor e réu.

➢ Para que o juiz possa conhecer do mérito da causa, torna-se necessário que as partes,

além de possuírem personalidade e capacidade judiciárias, tenham legitimidade para a

ação.

o Legitimidade consiste na posição das partes numa determinada ação – parte

será legítima se for a pessoa cuja esfera jurídica é diretamente atingida pela

providência requerida, se a ação vier a proceder.

Tem um conceito formal – art. 30º/3

• Partes são legítimas na medida em que o autor diga que são e não pela relação com o

objeto da causa (relação material controvertida tal como ela existe).

o Se assim não fosse, a determinação de algo que é um pressuposto confundir-se-

ia com o mérito da causa – para verificar a legitimidade da parte tinha que se

conhecer do mérito da causa, esperando então pela sentença final, após toda a

prova, conhecia-se da legitimidade e não havia decisão de mérito e sim uma

absolvição do réu na instância.

Art. 30º/1 CPC: o autor é parte legítima quando tem interesse direto em demandar e o réu é

parte legítima quando tem interesse direto em contradizer.

➢ Esse interesse tem de ser jurídico (i.e., protegido pelo direito) e pessoal ou direto.

Art. 30º/2 CPC: interesse significa utilidade para o autor e prejuízo para o réu

Art. 30º/3 CPC: subsidiariamente, é parte legítima os sujeitos da relação controvertida tal como

configurados pelo autor;

➢ o réu do processo é o que o autor quer demandar47;

➢ a parte é sempre legítima se for tida como titular da relação jurídica tal como é

configurada pelo autor na petição inicial.

Conceito de legitimidade serve essencialmente para 2 casos:

A. Quando o autor se engana – configura como parte alguém que não figura nos factos;

B. Quando a legitimidade é indireta (art. 30º/3) – casos em que a parte alegadamente não

é titular da relação material controvertida, tal como configurada pelo autor.

• Caso de ausência de conexão entre a situação litigada e a parte que está a litigar

-> isso pode acontecer quando a lei, atendendo a certos interesses perpetua a

legitimidade ou atribui legitimidade substitutiva48 a uma concreta parte. (Ex:

transmissão da coisa em litígio49).

47 A ilegitimidade surgirá naqueles casos em que se verificar divergência entre as pessoas identificadas pelo autor e a que realmente foram chamadas a juízo, i.e., quando estas pessoas não são os sujeitos da relação controvertida delineada pelo autor.

48 = legitimidade indireta 49 Transmissão da coisa ou direito em litigio faz perceber que o art. 40º está errado, pois está construído em pirâmide e acaba por não valer sempre: transmitente e transmissário podem acordar numa renúncia à responsabilidade por vícios redibitórios (vício oculto de que não poderia ter havido conhecimento) – o

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44

• Esta regra serve de parâmetro para se explicar as situações de legitimidade

indireta, em que a parte explicitamente não é o titular da situação material

controvertida -> para a parte ter legitimidade o autor tem de indicar a regra ao

abrigo da qual ele pode configurar aquele sujeito como parte, não sendo titular

da relação material controvertida

Também explica os casos de legitimidade plural – casos mais complexos de configuração da

legitimidade processual.

Direito Processual Civil olha para o Direito Material e configura legitimidade processual na

configuração que têm as situações materiais. Começa-se sempre pelo Direito Material que está

em causa na ação.

Há pluralidade de compartes no processo quando a situação material atinja diferentes

pessoas que compõe, não obstante a pluralidade, uma só parte. 50

• A parte material plural, tende a ser acompanhada por uma parte plural processual – a

parte pode ser composta por várias pessoas quando elas são afetadas e estão na

situação jurídica material. Ex: art. 1691º -> “ambos os cônjuges”

• Mas, se se estiver a atingir bens próprios de um dos cônjuges, pode-se atuar sozinho no

processo – legitimidade singular

• No entanto, se esse bem próprio estiver sujeito a certo regime de administração e

alienação dos bens (ex: casa de morada de família) já terão de ser ambos os cônjuges a

atuar. Se se repercutir sobre bens comuns também não se pode atuar sozinha –

legitimidade plural

Não foi direito processual, foi o regime substantivo da responsabilidade que ditou como é que a

parte tem de ser processualmente considerada.

Litisconsórcio Pluralidade de compartes, quando várias compartes são uma parte.

Lebre Freitas: Litisconsórcio é o que acontece quando o mesmo pedido é formulado por

ou contra várias partes, dando lugar, respetivamente, ao litisconsórcio ativo e/ou

litisconsórcio passivo.51

➢ Todos são membros da mesma parte.

o Pais Amaral: tem que ser pluralidade de partes principais, pois não se formará

litisconsórcio no caso da assistência (visto que o assistente é parte acessória, art. 326º).

➢ O conceito de parte é relevante para se saber quem exerce os deveres e os

direitos processuais – como se coordena o exercício das situações jurídicas

processuais quando uma parte é plural.

transmitente continua a figurar na ação como parte principal mas não tem nenhum interesse em demandar ou em contradizer, pois, para ele, nenhum efeito se retira daquela ação. 50 Pode haver uma pluralidade partes quando a ação é proposta por vários autores ou contra vários réus.

• Coligação – pluralidade de partes e diversidade de relações materiais controvertidas.

• Litisconsórcio – pluralidade de partes, mas unidade quanto à relação material controvertida. 51 Pais Amaral: várias pessoas, no mesmo processo civil, correm a mesma sorte, associadas que estão no lado do

ataque ou no lado da defesa.

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45

LITISCONSÓRCIO VOLUNTÁRIO – ART. 32º

Pluralidade de compartes não é obrigatória e o efeito resultante de não intervenção dos diversos

interessados traduz-se apenas na perda dos benefícios que podiam ser colhidos.

Quando a lei deixa na disponibilidade das partes a sua constituição, de tal modo que, se não se

constituir e apenas um ou alguns dos interessados na procedência ou improcedência do pedido

for parte na ação, o tribunal conhece apenas “a respetiva quota-parte do interesse ou da

responsabilidade” (art. 32º/1).

Ponto de referência é a realidade substantiva.

Regra é de que ainda que haja pluralidade substantiva, não há pluralidade processual

necessária – pode haver ou não, o autor é que escolhe, pelo princípio do dispositivo, como

configura a parte.

LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO – ART. 33º

Art. 33º é desvio à regra do art. 32º

➢ Sendo vários os intervenientes numa relação material substantiva, não tem

necessariamente de corresponder a pluralidade processual, exceto nos casos do art. 33º

- pluralidade substantiva que tem de corresponder a pluralidade processual.

Pluralidade de compartes é exigida, levando a uma situação de ilegitimidade se não intervirem

no processo todos os interessados.

➢ Os intervenientes na ação não têm legitimidade se estiverem desacompanhados dos

restantes que nela devam figurar.

Art. 33º/1: litisconsórcio legal ou convencional, se resulta da lei ou do negócio jurídico.

Art. 33º/2: litisconsórcio natural, se resulta da natureza (indivisível) da relação jurídica, tendo

esta de ser resolvida de modo unitário para todos os interessados.

➢ Se a decisão não fosse proferida sem a presença de todos os interessados não produziria

um efeito útil normal, i.e., não vincularia definitivamente a situação concreta das partes

relativamente ao pedido formulado.

Art. 33º/3 – “restantes interessados” são aqueles que não figuram como parte mas figuram na

relação material controvertida.

➢ Isto acontece pois há casos em que, não sendo parte, fica-se vinculado pela decisão do

caso julgado (ex: como art. 61º CSC)

➢ Tendo factos que envolvam pluralidade de pessoas, tem de se olhar para a decisão sobre

certo pedido e verificar se ela consegue regular definitivamente a situação jurídica das

partes processuais. Se não conseguir -> há situação de ilegitimidade.

o Não se pode confundir com a coerência ou harmonia das diferentes soluções

possíveis para as diversas partes processuais.

As regras do litisconsórcio visam a harmonia da decisão ou a definitividade das decisões?

MTS: ainda que harmonia das decisões seja um valor necessário ao sistema jurídico, não é o

valor acolhido pelas regras do litisconsórcio necessário. Ainda que esse seja um valor a alcançar

através de outros institutos, não é através do litisconsórcio, que visa a definitividade.

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46

Ex: A contrata com B e C. Não pode vir demandar B por vícios no contrato sem demandar C.

A. MTS: entre uma parte e uma das compartes o contrato é inválido e entre uma parte e

outra das compartes o contrato é válido.

B. PCS: Problema é que se se conseguir regular ali definitivamente não se conseguia

executar as decisões, pois a execução implica restituição de tudo o que as partes

reciprocamente houverem prestado, ou seja, há prestações que para serem restituídas

não conseguem ser cindidas – não se regula definitivamente a situação entre aquelas

partes naquela ação pois, os efeitos que não se conseguem obter em fase executiva

impedem de dizer que não faz parte desta definitividade a harmonia no sentido da

possibilidade de executar as decisões, quando sejam contraditórias.

• Não se pode ver a regra como confinada à resolução de um conflito na ação

declarativa.

• Intrínseco nesta regra está a possibilidade do cumprimento do comando judicial

– que pode ser apenas obtido quando há uma decisão que é harmónica para

todos.

• Valor da autonomia não é autónomo mas está implícito na resolução do

conflito.

MTS diverge com toda a doutrina portuguesa e decanta LITISCONSÓRCIO UNITÁRIO VS.

SIMPLES, para solucionar

• Unitário – remonta do CPC alemão (que resulta de uma síntese feita de um Estado que não era

unificado) – descreve os casos em que a decisão tem de ser igual para todos os

intervenientes na ação, independentemente de quantos sejam na relação material

controvertida.52

o PCS: É uma regra que não tem nada a ver com a legitimidade e configuração

da parte – estamos a falar de qual o conteúdo da decisão e não se resolve com

absolvição do réu na instância pois é problema de correção do conteúdo da

decisão e o que pode estar em causa é a legalidade da decisão tal como

proferida.

▪ Casos de arbitragem societária – quem se juntar à sociedade vai ter uma

decisão igual para todos eles e que a todos vincula – no entanto, não

têm de ser todos constituídos como compartes na ação, apenas se

quiserem, gozando duma extensão do princípio de aplicação do caso

julgado a terceiros.

▪ Não viola princípio do contraditório porque os que estão de fora, são

terceiros porque não quiseram estar dentro, mas, eles tiveram essa

possibilidade.

o Isto não se confunde com o litisconsórcio necessário – em que todos os que

figuram na relação material controvertida têm de ser compartes na

configuração da ação, para que haja legitimidade processual.

▪ Tendencialmente o litisconsórcio necessário é também unitário, mas

pode não ser e ser um litisconsórcio voluntário e unitário (como os

casos de arbitragem em sociedade)

52 Se título for unitário, não se pode invocar que há vício contra um e não contra outro (ex: A contrata com B e C. Não pode vir demandar B por vícios no contrato sem demandar C).

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47

Ilegitimidade das partes constitui uma exceção dilatória (art. 576º e 577º/e) devendo o juiz

abster-se de conhecer do pedido e absolver o réu da instância (art. 278º/1/d).

➢ Ilegitimidade é sanável mediante a intervenção espontânea ou provocada da parte

cuja falta gera esse vício (art. 261º que remete para os art. 311º e 316º)

ART. 34º - CÔNJUGES

Se estiver só um a litigar – parte singular.

• Mas, o cônjuge sozinho está a litigar por coisas comuns, portanto não está a litigar

apenas por direito próprio mas também por direitos alheios – ele é SUBSTITUTO

PROCESSUAL.

o Ele litiga por direitos próprios (legitimidade direta) e por direitos alheios

(legitimidade substitutiva).

Configuração da parte ativa (art. 34º/1) é diferente da configuração da parte passiva (art.

34º/3).

• Ativa – alternância entre litisconsórcio necessário (ambos os cônjuges como autores da

ação) ou situação de legitimidade direta acompanhada de legitimidade indireta

(cônjuge litiga em seu nome e em nome do casal)

• Passiva – impõe litisconsórcio necessário

ART. 35ª

• no litisconsórcio necessário há uma só ação e duas partes, das quais uma, pelo menos,

plural;

• no litisconsórcio voluntário há várias ações e várias partes, que ocupam o mesmo lado

da relação jurídica processual.

Esquemas de Legitimidade DIRETA vs. INDIRETA

• Direta – alguém tem interesse em discutir e visa assegurar que estão em juízos os

sujeitos que são titulares da situação subjetiva litigiosa.

• Indireta – define-se os termos em que não sendo titular, pode estar em juízo.

SUBSTITUIÇÃO LEGAL vs. SUBSTITUIÇÃO VOLUNTÁRIA

• Legal – por força da lei, o transmitente ou cedente continua a ter legitimidade para a

ação, agora como substituto processual do transmissário ou cessionário.

o Art. 81º CIRE, art. 263º CPC, art. 512º/1 e 1405º CC.

• Voluntária – assenta num ato de caráter negocial.

o Art. 34º/1 (um dos cônjuges autoriza o outro a colocar ação relativa a bens

comuns de ambos), art. 1437º/1 CC (assembleia de condomínio pode autorizar

administrador).

SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL REPRESENTATIVA vs. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL NÃO

REPRESENTATIVA

• Representativa – defende interesses alheios primordialmente.

o Art. 1437º/1, 1818º, 1873º CC

• Não Representativa – age na defesa de interesses próprios.

o Art. 976º/3, 1639º/1, 1807º, 1859º/2

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48

SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL PRÓPRIA vs. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL IMPRÓPRIA

• Própria – pode estar em juízo sem a presença do outro titular.

• Imprópria – exige-se a presença do outro.

LEGITIMIDADE PLURAL

• Voluntário – a lei permite-o

• Necessário – a lei obriga-o

o Legal ou Natural

LEGITIMIDADE DOS CÔNJUGES

Art. 34º é exemplo de litisconsórcio necessário dado pela lei – não é classificação autónoma e

tem de se conjugar com o art. 33º/1.

Lado Ativo – enquanto AUTOR

• Bens Próprios (art. 1678º/1, 1682º/2 CC): cônjuge tem legitimidade para propor,

sozinho, as ações referentes a esse bem.

o Exceção: art. 1682º/3/a, art. 1682º/3/b, art. 1682º-A/1/b, art. 1682º-A/2

• Bens Comuns

o Se só administrado por um cônjuge = regime dos bens próprios (art. 1678º/2/b-

e)

o Se administrados por ambos cônjuges

▪ Disposição ou Oneração: ambos os cônjuges em litígio

▪ Administração extraordinária: ambos os cônjuges em litígio

▪ Administração ordinária: pode apenas ser um cônjuge em litígio

Lado Passivo – enquanto RÉU

• Bens Próprios (art. 1678º/1, 1682º/2 CC): cônjuge tem legitimidade para contra ele,

sozinho, serem propostas as ações referentes a esse bem.

• Dívidas incomunicáveis: são da exclusiva responsabilidade do cônjuge devedor (art.

1692º)

• Dívidas comunicáveis: só pode haver ação contra ambos os cônjuges (art. 1691º)

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49

6. INTERESSE PROCESSUAL O nosso sistema regula o acesso e há a intervenção da lei naquilo que se admite que chega aos

Tribunais, configurando quando pode um cidadão, legitimamente ter acesso aos Tribunais.

Todo o acesso aos Tribunais se justifica? Não obstante o art. 20º e 18º CRP, pode admitir-se um

crivo no acesso à justiça?

PCS: só se justifica interposição do sujeito e decisão de mérito se tal tutelar interesses de tal

modo relevantes que sem isso não se faça justiça. Isto porque o acesso aos Tribunais não é

gratuito e há custas processuais com a justiça.

CPC dá algumas orientações que sustentam o facto do interesse processual ser um pressuposto

autónomo.

No nosso sistema, quem paga os encargos processuais é a parte vencida – regra do victus

victoria53

• Paga quem dá causa = parte vencida.

o Regra pragmática que não funciona para ponderar desvalores éticos da conduta

dos sujeitos processuais – não obriga a parte vencida a verificar que a parte

vencida agiu diligentemente e etc.

▪ Responsabilidade processual simples em que não se pondera a conduta

diligente das partes.

Parte pode ser vencedora e pagar os custos, quando não tinha necessidade de recorrer aos

Tribunais.

➢ Lei preocupa-se com a contenção do acesso, querendo apenas que ele aconteça quando

for necessário.

o Se há acesso e ele não era necessário, a consequência é alocação dos custos na

ação – é pressuposto54 mas tem consequência diferente da normal.

Art. 535º refere-se ao autor e art. 527º pode aplicar-se ao autor e ao réu.

• O art. 535º só tem sentido como regra se o seu conteúdo for diferente do conteúdo do

art. 527º - ele inverte a regra e é o autor que paga as custas apesar de ganhar.

o Estes casos são explicados pelo interesse processual – a partir destes casos pode

dizer-se que, porque não há interesse, o autor paga, mas, ainda que não haja

interesse, há uma decisão que declara o autor vencedor (de mérito).

o PCS: interesse processual é pressuposto processual mas tem consequência

atípica curiosa – não absolve o réu da instância e obriga o autor a pagar as

custas porque, apesar de ter razão, ele não tinha necessidade de recorrer aos

tribunais.

▪ Esse é o conteúdo deste pressuposto -> a necessidade da tutela, uma

vez que os meios da justiça são limitados e os Tribunais não se

autofinanciam, portanto, se o autor não tinha necessidade de lá ir, a

53 Que não vigora noutros sistemas em que cada parte ficava com os custos. Em Inglaterra havia essa regra, mas, mudaram para a victus victoria tendo a imposição de se ponderar o comportamento das partes. 54 “admite” – já tem valoração, portanto, é um pressuposto processual mas tem uma consequência atípica – não obstante haver uma decisão de mérito, paga o autor as custas.

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50

regra inverte-se e ele tem de pagar as custas processuais (penalização

financeira).

Art. 535º/1 - não é só dar causa, também é réu não contestar

• Se réu não contesta, ou Tribunal pode conhecer oficiosamente a falta de interesse

processual, ou tribunal não pode conhecer oficiosamente.

o MTS: não pode conhecer oficiosamente

o PCS: mas se não pode conhecer oficiosamente, não pode aplicar o regime de

absolver o réu na instância

Art. 535º/2/a: se é direito potestativo, a contraparte tem uma sujeição.

➢ Portanto, o autor já terá a sua posição validada e o réu vai sofrer os efeitos jurídicos a

partir do momento em que o autor exerça a posição potestativa – autor não precisa de

ir a tribunal para que se produzam na esfera do reu os efeitos da posição potestativa em

que o direito o encabeçou.

Art. 535º/2/b: aplica-se a obrigações em que o devedor/réu só entra em incumprimento

quando é interpelado (que não tem de ser judicialmente – art. 805º CC); ou quando réu não

oferece resistência à pretensão do autor não há necessidade de tutela pelo Tribunal.

Art. 535º/2/c: se autor tem título executivo que lhe permite agredir património do devedor, não

faz sentido ele recorrer ao processo declarativo para ter um mesmo título executivo para fazer

o mesmo.

Art. 535º/2/d: se autor pode cassar uma decisão por um processo de revisão, não faz sentido o

autor iniciar um processo de declaração

Este é um pressuposto processual com uma consequência anómala – não leva à absolvição do

réu na instância mas sim à inversão do pagamento das custas processuais (deixa de ser victus

victoria e passa a ser o autor).

Art. 610º - lei direciona para conteúdo especifico da decisão e modela-o

• Casos em que não há perda de benefício do prazo – obrigação não é exigível no

momento da propositura nem se torna exigível com a propositura (≠art. 535º/2/b)

• Se o réu contesta a existência da obrigação, ele sempre a contesta (antes e depois do

vencimento) -> esta regra consagra o princípio do aproveitamento máximo dos atos

jurídicos, sendo o processo um ato complexo.

• Mesmo que ele seja condenado, ele não perde o benefício do prazo

Art. 610º/2 – se não houver litígio, o réu reconhece a obrigação e que é devedor. O réu não deu

causa nem contesta (paralelo à regra do art. 535º)

Não se pode dizer à partida que não interesse processual, pois não sabemos se o autor veio

desafiar a existência da obrigação.

➢ Enquanto art. 535º faz juízo de prognose, aqui estamos na fase da sentença e é juízo ex

post e sabemos o que o réu já argumentou.

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Sebenta Processo Civil I – DNB 2017/2018

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Art. 557º/2 – pede-se agora a condenação de algo que ainda não é exigível.

• O autor consegue obter o efeito útil, obtenção do título executivo, porque demonstra

ter interesse processual agravado (não só tem necessidade de recorrer aos tribunais

como tem necessidade de recorrer aos tribunais antes da exigibilidade da obrigação –

ónus do tempo inverte-se pois autor mostra que ausência de título executivo no

momento em que se podia vencer a obrigação lhe vai causar grande prejuízo).

“condenação” é emanação dum comando através do qual o Tribunal exige que o réu cumpra –

decisão não era inovatória e enuncia algo que resulta de certos factos -> condenar refere-se a

dever de prestar que já se encontra em incumprimento.

➢ Neste caso está a condenar-se em algo que ainda não é exigível.

O mesmo acontecia no art. 610º que dava corpo ao princípio do aproveitamento máximo dos

atos jurídicos, sendo o ato o processo em si.

➢ Correspondia a esse princípio pois se réu contestava a existência, oferecia resistência

face à existência, significa que vai sempre resistir.

➢ Se não resistir, também não vai resistir depois, portanto condena-se sem perda de

benefício do prazo.

O que distingue o art. 557º/2 do art. 610º?

Enquanto no art. 610º ele não tem interesse processual e ainda que ganhe a ação paga as

custas, no art. 557º/2, ganhando a ação, não paga as custas e aplica-se regime geral do art.

527º.

• Réu é condenado a cumprir no momento oportuno.

• E porque autor conseguiu demonstrar o preenchimento desse pressuposto processual,

do interesse de forma agravada, não é penalizado com o pagamento das custas.

Art. 564º/2 CC

Previsibilidade antecipa o momento da indemnização, sendo regra mais radical que o art. 610º

e 557º/2 CPC.

• Distribui ónus do tempo do processo – que normalmente corre pelo autor, quando tem

razão – e inverte-o.

• É solução pragmática pois o dano futuro pelo qual se condena é previsível -> o que é

algo que se avalia recorrendo às regras de experiência das quais se infere um curso típico

de acontecimentos.

• Réu teve conduta desvaliosa e é condenado – Tribunal já efetuou juízo de

censurabilidade e fez essa avaliação, tendo prova e elementos para tal juízo da conduta

do próprio réu. Inverte-se ónus do tempo pois já se provou que a conduta do réu merece

especial censura.

A decisão que recai sobre coisas, factos, estados, situações que vão acontecer no futuro é tão

estável quanto aquela decisão que recai sobre coisas, factos, estados, situações que já

aconteceram? Pode fazer-se juízos de prognose, mas a estabilidade e indiscutibilidade de uma

decisão é aceitável quando o juízo que é feito é um de previsibilidade?

➢ PCS: grande problema que não é problema de caso julgado.

o Antes achava que era problema de caso julgado, formado sobre uma decisão

que se reporta ao futuro, é caso julgado mais frágil/fraco e suscetível de

modificação.

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o Agora crê não é regra de caso julgado pois a decisão que pressupõe

circunstâncias no futuro não forma caso julgado, pois o caso julgado implica a

permissão de formular juízos de certeza e relativamente ao futuro nunca se

pode emitir juízos de certeza, apenas de prognose. Prognose e caso julgado

são incompatíveis.

Estas consequências últimas do interesse processual levam a desafiar o instituto do caso julgado.

“O Interesse Processual como Pressuposto Processual (ou não): o caso da propositura de ação para

reconhecimento de propriedade quando esta não está a ser contestada”

Seguindo o ensino de PAULA COSTA E SILVA, os pressupostos processuais são as condições de

que dependem a possibilidade de admissão da causa, destinando-se a acautelar que a decisão de mérito

que pode vir a ser dada é a melhor decisão que se pode ter. Estas condições de admissibilidade da causa

têm em vista a proteção de determinados valores como o de se discutir o litigio no melhor Tribunal

possível (pressuposto processual da competência – regulado nos art. 59º e ss. CPC) e o de garantir que as

partes têm as melhores condições para discutir esse tal litígio (pressupostos processuais subjetivos –

regulados nos art. 11º e ss. CPC). O que a doutrina tem vindo a discutir, é se o interesse processual, cujos

valores radicam no art. 20º CRP, a cujo a lei não faz referência, se pode classificar como pressuposto

processual.

Mais importante que discutir os fundamentos dogmáticos desta figura, interessa indagar a sua

aplicação prática e efetiva. Tendo isto como linha orientadora, perguntamo-nos em que medida o

interesse processual releva para resolver a seguinte questão: quid iuris se um autor intenta uma ação em

Tribunal para que lhe seja reconhecida uma sua propriedade que não está, de modo algum, a ser

contestada?

De forma resumida, e antes de abordarmos o problema concreto, temos de enquadrar a

orientação doutrinária, atendendo à obra publicada e ao ensino ministrado, quanto ao que se tem

encarado e classificado como Interesse Processual.

Para ANTUNES VARELA e MANUEL DE ANDRADE, o interesse processual mais não é do que uma

condição de ação, sendo tal o facto material que torna possível o nascimento da ação, i.e., o que configura

a existência de um direito material e a possibilidade legal para alguém ir a juízo. Portanto, resolvendo o

nosso caso em apreço, se a propriedade não estava a ser contestada, não havia nenhum facto material

que tornava possível a propositura da ação, não havendo interesse processual. Tendo sido proposta a

ação, não é claro no pensamento dos autores como se resolveria a situação.

Na conceção de CASTRO MENDES, o interesse processual restringe-se ao campo das custas

judiciais, atribuindo-se ao autor a responsabilidade pelas custas judiciais, apesar de ter ganho a causa

(conforme o disposto no art. 535º CPC, que inverte a regra geral de victus victoria, no dizer de PAULA

COSTA E SILVA, do art. 527º CPC) e nega a qualificação como pressuposto processual. Quanto ao caso em

concreto, este autor entende que a causa seria procedente, embora tivesse de ser o autor, parte

vencedora, a pagar as custas processuais.

Já para a doutrina dominante, encabeçada por MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA e com a aderência

de JORGE PAIS DE AMARAL, o interesse processual configura-se como um pressuposto processual em que

há interesse da parte ativa em obter a tutela judicial de um direito subjetivo através de determinado meio

processual. Este entendimento evita que as partes sejam chamadas a juízo sem que a atuação da parte

contrária o justifique, o que evita, por sua vez, que os tribunais sejam sobrecarregados, já que a situação

específica tem de necessitar de tutela judicial. Aplicando esta explicação ao caso sub judice, o autor não

teria interesse processual, pois a ação judicial não traria vantagens para esta parte ativa (e

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consequentemente não traria desvantagens à parte passiva), e, não estando preenchido um pressuposto

processual, tal daria origem a uma exceção dilatória que levava a uma absolvição do réu na instância,

tendo em conta os art. 578º e 278º/1/e CPC.

Que pensar destas soluções? Qual a melhor solução para este caso em concreto?

Atendendo à factualidade da hipótese verificamos que temos uma ação declarativa de simples

apreciação positiva, nos termos do art. 10º/2 e 10º/3/a CPC, para reconhecimento do direito de

propriedade, atendendo ao art. 1311º CC. No entanto, esse direito de propriedade não está a ser

contestado, pelo que, de facto, o autor não tem necessidade de recorrer à tutela judicial por parte dos

Tribunais.

Tendo isto em conta, não se pode recusar liminarmente o acesso aos Tribunais, uma vez que isso

é uma das garantias dadas pelo Estado de Direito Democrático e consagrado no art. 20º da Constituição

da República Portuguesa. Mas, como aponta PAULA COSTA E SILVA, a tutela judicial dos direitos envolve

uma alocação de recursos financeiros por parte do Estado, que têm de ser geridos de forma eficiente e

dirigida para onde for necessária, uma vez que os meios da justiça são limitados.

Com a inversão da regra do victus victoria (i.e., quem perde paga as custas judiciais – conforme

o disposto no art. 527º) do art. 535º CPC, o autor, interpondo ação, mesmo que haja uma decisão de

mérito que o declare vencedor, vai ter de pagar as custas judiciais. Este mecanismo que o CPC prevê

dissuade, portanto, a propositura de ações desnecessárias, uma vez que o autor é “penalizado

financeiramente” com o pagamento das custas, conforme colocado por PAULA COSTA E SILVA – sendo

essa a lei, os Tribunais não vão estar atolados pois os cidadãos não estão dispostos a pagar essas custas

para questões que não são necessárias.

Aderimos, assim, à posição de PAULA COSTA E SILVA, exposta recentemente, que, vindo na senda

de CASTRO MENDES, se afasta dele concluindo que o interesse processual é um pressuposto processual,

indo numa primeira abordagem ao encontro de MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, mas cujas consequências

são atípicas e não envolvem a absolvição do réu na instância, afastando-se, portanto, da posição de

TEIXEIRA DE SOUSA.

Temos este entendimento pois, conforme expõe PAULA COSTA E SILVA, o art. 535º/1 CPC

responsabiliza o autor pelas custas judiciais não só quando réu não deu causa mas também quando o réu

não contesta. Não contestando o réu, ou o Tribunal pode conhecer oficiosamente a falta de interesse

processual, ou o Tribunal não pode conhecer oficiosamente, como afirma MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA,

tendo a concordância de COSTA E SILVA. Isto leva a que, não podendo conhecer oficiosamente, o Tribunal

nunca poderá aplicar o regime de absolvição do réu na instância, como incoerentemente, na nossa

humilde opinião, conclui TEIXEIRA DE SOUSA. Portanto, a única solução viável para o não preenchimento

destas condições de admissibilidade de uma causa a juízo é a consequência anómala de ser o autor a

pagar as custas, apesar de ter uma decisão de mérito que lhe é favorável.

Em jeito de conclusão, resolvemos o quid iuris inicial da seguinte forma: o autor que coloque

uma ação em Tribunal, pedindo a tutela de um direito conforme reconhecido pelo art. 20º CRP,

invocando o reconhecimento da sua propriedade, nos termos do art. 10º/2 e 10º/3/a CPC e conforme

permitido pelo art. 311º CC, que, no caso concreto, não está a ser questionada, não preenche o

pressuposto processual do interesse processual, o que leva à inversão geral da regra do art. 527º pelo

disposto no art. 535º CPC, sendo obrigado a pagar as custas judiciais mesmo tendo uma decisão de

mérito que lhe é favorável, pois, apesar de ter razão, não tinha necessidade de recorrer aos Tribunais.

Jurisprudência entende o Interesse Processual como pressuposto.

• Aderindo à posição MTS: STJ 15-03-2012, «O interesse processual tem duas facetas: o interesse

em demandar e o interesse em contradizer. Aquele é aferido pelas vantagens na obtenção de

tutela judicial para o impetrante, sendo que o de contradizer é a não concessão daquela tutela o

que é avaliado pelas desvantagens impostas ao réu quando o interesse da contraparte é

defendido.»

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• TRL 12-03-2014: desnecessidade no prosseguimento da ação, caso exista desde momento

anterior à propositura da ação, reconduz-se à falta de um pressuposto processual, que é a falta

de interesse em agir, o qual constitui uma excepção dilatória inominada, de conhecimento

oficioso (artigos 577.º e 578.º do CPC), conducente à absolvição da instância.