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sários, homens de propaganda, ve-ículos que, volta e meia, afirma:"Temos que preparar empreende-dores. Os jovens devem sair daquiprontos para montar seus própri-os negócios". Não sei se isso é vi-ável e, acima de tudo, plausível.São coisas que gostaria de ver dis-cutidas, não só em benefício daESPM, mas da maioria das facul-dades, do Brasil, pelo menos deAdministração e Comunicação, ede muitos cursos de pós-gradua-ção. O que dissermos será lidocom atenção por centenas de edu-cadores pelo Brasil afora.

SÉRGIO - Acho que a questão doestágio no Brasil está sendo bastantepolemizada, porque aumenta o nú-mero de estágios e diminui o núme-

ro de empregos. Grande parte dasempresas tem utilizado estagiárioscomo empregados. A lei é muito an-tiga - de l977, depois 82 -, e muitoelástica. Há razões que poderiamexplicar isso. Primeiro, a questão dosencargos. O estagiário não tem,necessariamente, fundo de garan-tia, 13" salário e ganha menos.Também proliferam as agências deintegração. Só no estado de SãoPaulo, hoje, são mais de 65. AESPM é até privilegiada, nesse par-ticular, porque as empresas comquem temos convénios têm bonsprogramas. Posso citar o Citibank,a Multibrás, Coca-Cola, GeneralMotors, Volkswagen, Bank Boston.

FÁTIMA - Você citou só multi-nacionais.

SÉRGIO - Elas predominam.

FÁTIMA - Mas a Natura é uma em-presa nacional e tem um programade estágio muito bem cuidado, CMcorrido e valorizado. São 800 milcandidatos, às vezes, para 10 vagas

SERGIO - Temos que separarjoio do trigo. A ESPM é privilegiada porque fazemos uma triagemde empresas com as quais temosinteresse em fazer convênio. Oestágio- por definição -é de en-sino e aprendizagem para habili-dades e competências. Nesse seutido, podemos levantar algumas hipóteses para o aumento de estágio. O que poderíamos fazer ain-da melhor é a aproximação ea empresa e a universidade.

JRWP - Gostaria de ouvir alguém so-bre mercado de trabalho.

MARIACA - Nós trabalhamos nor-malmente com empresas de grande

porte - de 500 empresas-clientes,mais ou menos 250 são ativas, e sãobrasileiras ou multinacionais em to-dos campos. Acredito, por obser-

var nossos clientes - e até por ser pro-fessor da Business School São Paulo-eu lido com alunos que vêm deempresas e sinto claramente que nãohá antagonismo entre emprego eempreendedorismo. Não se exluem.Na maioria das empresas modernas,

'o funcionário precisa ser mais em-preendedor. Não por razões teóricas,mas é para ter sucesso. O que querdizer empreendedor? É ser maisautónomo e habilitado a gerenciar

sua própria carreira, mesmo dentroda empresa. Embora nossa empresalide com a mudança-principalmen-te de executivos mudando de empre-go -, eu prego aos meus alunos quedevem crescer na mesma empresa,porque estamos num mundo que fi-cou muito perigoso...

JRWP- Um parêntese: vocês ten-dem a falar de empresa como aempresa grande.

MARIACA- Não. Pode ser pequenaou média. A mensagem que eu tentopassar aos alunos, e aos funcionáriosdas empresas-clientes é que é possí-vel gerenciar a própria carreira naempresa. E é mais seguro permane-cer na mesma empresa, porque, nes-sa era de constantes reinvenções emquase todos os ramos de comércio,indústria, com todas as fusões e aqui-sições, mudar de emprego é muitoperigoso. Especialmente no Brasilonde você tende a formar um certopatrimónio se for demitido um certonúmero de vezes. A auto-demissãono Brasil é abrir mão de umpatrimónio que, depois de 5, 6 anos,

EMPREGO S EMPREGABILIDADE

Mesa redonda

torna-se importante. A mudança deuma empresa para outra tornou-seainda mais perigosa. Novas pessoas,novas políticas, novos produtos, no-vos fantasmas, nova cultura. Muitasvezes, meus alunos se espantam edizem; "Prof., já estou há 7 anos noBanco de Boston. Será que não é horade mudar?" Eu pergunto: "quem en-fiou isso na sua cabeça?" "Osheadhunters vão achar que eu souacomodado." Pois nós somos umadas principais empresas de talentos- somos headhunters - e nunca tiveque explicar ao presidente de umaempresa quando chega a hora deanalisar cinco finalistas por que al-guém ficou muito tempo no Bancode Boston, Citibank ou na Johnson& Johnson.

MARIA TERESA - Concordo com o

Mariaca. Essa questão de em-preendedorismo é uma atitude notrabalho e não algo que exclui oemprego. Ser empreendedor é umaatitude em relação ao que você temque fazer, as suas responsabilidades,o resultado que você deseja.Empreendedorismo não é apenascriar um negócio próprio e ser donodo próprio nariz.

GRACIOSO -- E, como tal, é útilpara todos.

MARIA TERESA - Outra coisa queacho importante é a pequena X a gran-de. Acho bom lembrar que as peque-nas empresas oferecem mais de 50%dos empregos formais existentes.

JRWP- Esse era o ponto que ques-tionei quando o Mariaca falava.

MARIA TERESA - Mais importanteque isso são, de longe, as pequenasempresas que mais estão criandonovos empregos no Brasil. Enquantoas grandes corporações estão enxu-gando, diminuindo, são as pequenasque estão gerando novas vagas. A ideiade que o bom emprego está na grandecorporação precisa ser revista.

JRWP - Queria passar a palavra aoNelson que, afinal, é o único que re-presenta a categoria de funcionáriograduado de multinacional. Comovocê vê essas questões?

NELSON Sobre empreende-dorismo, meu enfoque é um poucodiferente. Não que eu discorde doque disseram, mas para acrescentar.Recentemente, coordenei um fórumde jovens, onde havia estudantes de

tendo colocar a minha marca?" Nonosso pós-graduação, há uma maté-ria chamada "Fator humano corno di-ferencial competitivo", onde um dosaspectos importantes é discutir comos alunos quais são os seus objetivos.O que eles querem, para que que-rem. Aí discute-se o que se entendepor sucesso. Sucesso é ter dinheiro,é ter coisas ou é ser? Tudo isso é im-portante porque cabe à universida-de discutir qual o significado de cadacoisa, de cada cargo. O porquê deele ser gerente, de ser um diretor, o

porquê de ele querer ser um presi-dente, ou ser um técnico. Às vezes,o conteúdo é passado sem que o sig-nificado de cada coisa seja clarea-do. Uma discussão importante é dis-cutir a missão de vida das pessoas.Fica simples falar em carreiras, pen-sando na carreira que meu pai fez.Acaba acontecendo o "vou seguir acarreira do meu pai" ou, então, "voufazer aquilo que meus pais esperamque eu faça". É uma pena, pois aca-bo encontrando, no curso de pós-gra-duação, gente que chega aos 40anos, dizendo: "Estou fazendo algoque odeio. Mas estou numa carreirae como dá para voltar?"

SÉRGIO - O empregado deve serempreendedor, também porque gran-de parte das pequenas empresas são

as que mais geram empregos. E aí sefalou da questão da autonomia. Egrande parte desta inovação fica porconta do próprio empregado. Sãopoucas as empresas que têm um tipode programa de inovação.

MARÍACA - Por isso, nós, educado-res ou executivos, temos que ensinara responsabilidade de gerenciar aprópria carreira. Antigamente, davapara olhar para cima e perguntar: "Oque a empresa vai fazer para mim?"Mas só cargos empresariais, porqueo médico nunca fez isso, o dentistanunca fez isso. São as profissõesautónomas. Por que há tantos diplo-mas na parede do consultório domédico? Porque ele sempre estevenuma profissão de mudança muitorápida de tecnologia e ele tinha quese manter atualizado. Isso está come-çando a acontecer conosco, funcio-nários de empresas, com nossos cli-entes e nossos alunos. Antigamente,você se formava, guardava o diplo-ma (os norte-americanos penduramna parede; aqui se enrola e guarda.Diferença cultural). Mas, com essediploma, a empresa boa cuidava dasnossas carreiras. Empresas boas ain-da fazem isso, porém, o próprio alu-no precisa aprender a gerenciar a suacarreira. Se a empresa não tem, porhábito, ou chefe não gosta de fazeruma avaliação de desempenho, elepode e deve pedir. Deve dizer: "Che-fe, faça-me um favor? Gostaria de re-visar as minhas principais responsa-bilidades desde que entrei. Estou aquihá 13 meses; não tenho um feedbackmuito exato. Dê-me quinze minu-tos?" E fazer anotações, mandar e-mail, confirmando.

JRWP - O subordinado é que devepropor isso ao seu superior?

MARIACA-Sim. Uma boa empresadeveria ter umas duas horas por ano

34 diferentes universidades, cursan-do 22 diferentes tipos de graduação.É um trabalho voluntário que faço,com outros executivos, para a Asso-ciação Brasileira de Recursos Huma-nos. O tema que escolhemos paraesses jovens - que vieram de 6 esta-dos diferentes-foi a inclusão do jo-vem no mundo de trabalho. Uma dascoisas que foi discutida foi justamenteo empreendedorismo. Esses jovenstendem a pensar em emprego, emquerer uma oportunidade na empre-sa. Como vejo o fenómeno doempreendedorismo? Creio que podehaver melhoria, mudando o enfoque.Em vez de dizer a ele: "Vai lá, sejaum bom aluno que estarão à sua pro-cura", uma alternativa é dizer ao jo-vem que seja empreendedor da suamarca pessoal. Nada nesse mundo émais importante do que a minhamarca "Nelson Junque". Se eu nãocuidar dessa marca que recebi aonascer, ela morrerá, antes que eumorra, fisicamente. E isso, normal-mente, não é enfatizado, porque osobjetivos estão voltados para "con-seguir um emprego". Se eu fosse umeducador, tentaria ensinar as pessoasa preservar a sua marca, a cuidaremdela, constantemente.

GRACIOSO - Talvez, o que oMariaca chama de gerenciar a pró-

pria carreira.

FÁTIMA -- Muitas vezes, os alunosquerem trabalhar numa empresa,

sem parar para pensar - e questionar-os reais objetivos de vida que têm.Quando o Nelson fala de marca,

acho fundamental, mas há urna per-gunta anterior, que é "Quais são osmeus objetivos de vida? Como vou

poder fazer diferença nesse mundo? Que significado encontro a cada si- tuação em que eu me colocar? Vou ser estagiário de Administração ou Comunicação para quê? Como pre-

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para cada pessoa.

JRWF - Não é isso o "coaching"?

MARIACA - Não. É um processo deavaliação de desempenho. Ao invésde se queixar de que a empresa, ouo chefe, não avaliam o desempenho,de não saber exatamente o que seespera, ou existir num limbo: se ochefe sorrir, tem futuro; se não sorrir,é melhor não comprar aquele auto-móvel. Temos o direito de sabercomo estamos e podemos pedir. Nãohá nada errado em dizer ao chefe:"Um dia, quero ter o cargo do Nel-son. Tenho 24 anos e, daqui 15 anos,quero ser vice-presidente de RH. Oque preciso fazer para tornar issopossível?" t um exemplo bobo, mas

muitas empresas respondem. "Vocêteria que ser promovido três níveis,morar pelo menos 3 a 4 anos namatriz". E começa o chefe a dar omapa da mina. Em empresas peque-nas, isso é ainda mais necessário,porque a probabilidade vertical émenor. Então, as pessoas têm queenriquecer-se e podem se auto-gerenciar horizontalmente.

GRACIOSO - O Mariaca mostra oponto de vista da empresa. Como eladeve ajudar os funcionários nesseproblema. Mas, e as escolas? O queestão fazendo e o que deveriam fa-zer? O módulo que você, Fátima,citou - "Fator humano como diferen-cial competitivo"-foi planejado sobo ponto de vista da empresa. Como

a empresa utiliza o seu RH - seu fatorhumano- para ganhar diferenciaçãocompetitiva. Em momento algum,pensamos no aluno, no funcionário;pensamos mais no que ele poderiafazer pela empresa. Ousaria dizerque, ainda hoje, a tônica é esta. Namaioria dos cursos de graduação epós-graduação, naqueles semináriosespeciais do último ano, um dos tó-picos sempre é a carreira. Como vocêvai se portar, o que deve fazer. Mas éum tópico de 20 horas-aula num pro-grama que tem 3.200. No pós-gra-duação, há um consultor que ajudao candidato a montar o seu currícu-lo, mas nós ainda não pensamos se-riamente neste problema, que pare-ce estar na cabeça de todos vocês.Planejar a própria carreira e, de cer-

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ta forma, considerá-la mais importan-te do que as empresas para as quaistrabalhamos. Creio que nós, da aca-demia, deveríamos também revernossos conceitos.

NELSON -Queria continuar nessatrilha que o Prof. Gracioso abriu,porque sou um apaixonado poresse tema e procuro analisar o pro-cesso como um todo. Por exem-plo, vamos falar da inclusão dojovem no mundo do trabalho. Essaplataforma é constituída poralguns pilares: o dos jovens, o domundo académico, o dasempresas, dos prestadores deserviços ou dos facilitadores daentrada dos jovens no mundo dotrabalho. O mundo globalizado

pede e incentiva interação. Há di-ficuldades de diálogo entre osdiferentes grupos que estamosanalisando. Se analisarmos ascompetências que estão aí - téc-nicas e comportamentais que oaluno é o principal cliente, que vaiabsorver o conhecimento geradopela academia - fica menos difícilfazer alguma coisa. E as competênci-as preponderantes, no processo de es-colha, são as que vocês menciona-ram - as comportamentais. Namedida em que me fortaleço - saben-do quais são as minhas fortalezas efraquezas -, eu irei para o merca-do de trabalho levando o nome daentidade académica que me pre-parou e sabendo como vouparticipar deste processo.

MARIA TERESA -Acho que muitaspessoas escolhem o emprego pelonome da empresa. Claro que estamosfalando de profissionais qualificadose bem treinados aqui na ESPM. E,muitas vezes, a empresa não satis-faz, não tem a cultura com a qualvocê se identifica, ou o cargo em quevocê quer se desenvolver, ou que lheoferece as oportunidades de carrei-ra, ou o projeto de vida que vocêquer. Então, trabalhar no Bank ofBoston é diferente de trabalhar noBradesco. São do mercado financei-ro, mas têm culturas diferentes. E tudotem que casar, como disse a Fátima:você tem um projeto de vida, sabe oque quer fazer, aonde quer chegar,mas tudo tem que casar com a cul-tura de uma organização.

FÁTIMA - Esse é um ponto impor-tante. Quando eu, como profissio-nal, sei e vou buscar o que quero,com certeza, darei para a empresao melhor. Torno-me um fator huma-no com diferencial competitivo, nasempresas, quanto mais apropriar-me daquilo que realmente quero edas minhas competências, das mi-nhas forças, fraquezas.

GRACIOSO - Portanto, você não vêcontradição.

FÁTÍMA - Não. Eles são comple-mentares. A partir do momento emque defino o que quero e vou bus-car, vou-me colocar na empresa comtodo o vigor, com toda a minha for-ça porque estarei vendo significadono que estou fazendo. Se simples-mente procuro o nome de uma em-presa e não alguma coisa em que,de fato, eu possa fazer diferença, es-tarei sempre pela metade, procuran-do o salário adicional, o bónus, e te-rei dificuldades para verificar qual oreal valor daquilo que eu faço. Vejoisso claramente, tanto nos clientesquanto nos estagiários, que os me-lhores são aqueles que estão fazen-

do o que fazem por escolha, por seruma escolha verdadeira.

MARIA TERESA - Publiquei, no anopassado, na Você S/A, urna capa,"Sucesso, a paixão faz a diferença",e citei uma pesquisa feita nos Esta-dos Unidos, que incluiu 1.500 ex-alunos de MBA das melhores esco-las e perguntou a eles: "Há vinteanos, por que você escolheu o pri-meiro emprego, depois do MBA?". E1.245 disseram: "Escolhi porque eraa melhor oferta financeira". Os ou-tros duzentos e poucos escolheramporque era o que queriam fazer navida. O que aconteceu, vinte anosdepois, com essas pessoas? Nessegrupo de 1.500, havia 101 "milioná-rios", gente que tinha ganho mais deum milhão de dólares. E, desses 101,somente um vinha do grupo dos1.245 que tinham feito a primeiraopção de emprego por causa de sa-lário. Então, se o que a Fátima diz éque se você escolher pelo que vocêquer, terá mais chance de sucesso -há uma pesquisa que comprova isso.

SÉRGIO - Será que o sonho das pes-soas é se alocar na empresa e a ques-

tão da paixão no trabalho é a ques-tão do sujeito? Na verdade, os alu-nos não se vêem como sujeitos; mascomo objetos de que a empresa vaise apropriar. O estudante que se co-loca como sujeito tem muito maisprobabilidade de ser um desses mili-onários do que aquele que optoupela melhor empresa. Percebo issona prática quando oriento os traba-lhos de conclusão de curso e pergun-to ao aluno o que ele gosta defazer.Uma vez, um aluno respondeu:"Gosto de passear em shopping". Eaí perguntei se ele tinha alguma coi-sa com varejo. Esse aluno fez o TCCsobre shopping e hoje trabalha naProvar. Exatamente o que você colo-cou. Primeiro, nós temos que darautonomia para o aluno. Fazer comque, na aprendizagem, ele seja o su-jeito do processo; e não objeto. Em salade aula, ele deve ser colocado comoalguém que vai buscar conhecimentoe não só informação. O que eu achoque a escola poderia fazer - e já temfeito, mas poderia otimizar - é: pri-meiro esta questão do ensino-apren-dizagem. No Brasil, também é maisdifícil fazer pesquisas como essa,porque a nossa cultura não está aber-

ta para que a academia esteja pre-sente dentro das empresas. A partici-pação dos professores em pesquisaé fundamental para que os cursos te-nham as empresas como objeto deestudo e não como algo irreal.

GRACIOSO -Talvez, haja nas pró-prias escolas material de pesquisaque está esperando para ser utiliza-do. Por exemplo, sabemos que, noano passado, 69% dos formandos donosso curso de Administração con-seguiram o primeiro emprego emempresas multinacionais. Aqui entrenós- isso é uma aberração, num paísonde as pequenas e médias empre-sas - vocês acabam de dizer - ofere-cem mais empregos do que as gran-des, A área de serviços está totalmen-te esquecida pela maioria dos nos-sos alunos, que procuram o quê? Nãosei bem, talvez a segurança, a ima-gem fabulosa que tem a multina-cional. Talvez devêssemos - daqui acinco anos - tentar descobrir o queaconteceu com esses alunos que fo-ram para as multinacionais, e os queforam para pequenas empresas. Nun-ca nos preocupamos muito com isso- a empregabilidade. Porque, atéagora, nas boas escolas, como anossa, pelo menos, não era tão di-fícil para os alunos conseguir bonsempregos. E está ficando cada vezmais difícil. Mas, fale um poucomais da pós-graduação, Fátima. O queacontece com os executivos de 30anos que querem - não o primeiroemprego-mas melhorar na carreira?

FÁTIMA - Na pós-graduação, tenhoprofissionais que estão em grandesempresas multinacionais e estão fe-lizes e outros infelizes. E há profis-sionais em empresas nacionais mui-to felizes. Encontro pessoas felizes einfelizes dos dois lados, e encontrotambém muitas pessoas desemprega-

das, nos cursos de pós-graduação,

tentando conseguir mais competên-cias para se empregar. Porque hoje,ter um curso de MBA já é comum;não é mais um diferencial. Mais umavez, o que diferencia não é a forma-ção da pessoa, mas o comportamen-to que ela tem, Muitos profissionaiscomeçam a pensar em ter o seu pró-prio negócio, porque começam aperceber que nas empresas sãodescartáveis - porque não desenvol-veram as competências que deve-riam ter desenvolvido. Então, fazerum MBA, um pós-graduação, sem terum planejamento claro da própriacarreira, não adianta. É mais um títu-lo, mais letrinhas no currículo masque não têm significado. A questão,hoje, que devemos discutir, e discu-tiremos muito mais, é: "Por que vocêestá fazendo isso? Qual a compe-tência que você quer acrescentar?"E não só em termos de conhecimen-to, mas de sabedoria, onde você uneconhecimento e compreensão -para fazer diferença.

NELSON - Uma alternativa que nós,de fora da academia, percebemos éestabelecer gols realmente men-suráveis. Se sou professor e dou aulasno pós-graduação, tenho que atingiralguns objetivos e não só atender àshoras que me foram concedidas, parafalar as coisas que tenho que passare concluir o curso. Tem que existiruma medida de valor agregado, nãosó para o estudante como para aempresa que está por trás doestudante. Se trabalho na Escola erecebo alunos que querem partici-par do pós-graduação, antes deinscrevê-los, devo entrarem contatocom a empresa e verificar qual é oprocesso de gestão de talentos e osplanos que a empresa tem paragerenciar aquela pessoa. Às vezes,cria-se ilusão, fantasia. A empresa, defato, não sabe o que fazer com aque-le indivíduo. Como não houve con-

versa, a pessoa fica frustrada e, depois,vai criticar a academia e vai voltar paraa empresa sem produzir aquilo queera esperado. O que está faltando émais entendimento, porque compe-tências, nós temos.

MARIACA - Concordo, mas, quan-do falei sobre a necessidade de ensi-narmos os nossos jovens a serem maisautónomos e gerenciar a própria car-reira, é porque acho que empre-gabilidade precisa significar renda efelicidade. Empregabilidade não éapenas ser empregados de algumaempresa; é ter renda para cobrir asdespesas, até o último dia de umavida, que está cada dia mais longa.Há 100 mil norte-americanos commais de 100 anos de idade, e o nú-mero está crescendo a 9% ao ano etodos os fundos de pensão - privadosou públicos - estão quebrando porcausa disso. Então, empregabilidadequer dizer renda para cobrir nossasdespesas, a felicidade merecida etranquilidade, que pode vir da apo-sentadoria e/ou de um salário, e/oude uma segunda carreira, e/ou de umnegócio próprio que precisa ser pro-tegido. Podemos herdar, podemoscasar com alguém rico, mas tem queser protegido - o mundo está cheiode ricos ex-casados. Podemos pedirapoio a nossos filhos, podemos fazerbicos e trabalhar como assessores,consultores, free-lancers. A misturadisso envolve para muitos - especial-mente os formandos de uma excelen-te escola como esta - uma longa fasecom salário, salário e benefícios atéem boas empresas. Porém, acho im-portante ensinar que renda e felicida-de não são somente oriundas do sa-lário, mesmo porque está mudandoo m/x. Se olharmos um dado do de-partamento eleitoral dos Estados Uni-dos, como exemplo: é assustador verque, em 1 900, 50% dos norte-ameri-canos "empregáveis" eram autôno-

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mós. Caiu drasticamente, até o pontomais baixo em 1977 - apenas 7% dosnorte-americanos eram autónomos. Omeu sonho, quando me formei em1969, era ser presidente da Du Pont.Entrei na Du Pont para ser presidente.A partir dos anos 60, isso começou amudar com terceirizações, temporá-rios, produtividade, menos camadasgerenciais etc. Chegou o ano 2000, e26% dos norte-americanos empregáveiseram autónomos - e acredito que vaiestacionar em 2010, em 41%. Querdizer, quase que um ciclo de 50 até 7e voltando a 40%. Isso está aconte-cendo porque estão sumindo os em-pregos? Não, necessariamente.Mas as empresas estão se reestru-turando para el iminar averticalização - porque não é corebusiness - estão terceirizando e, aí,entra uma série de fatores: casais po-dem ter filhos, porque a mulher podeser a vice-presidente financeira e o ho-mem pode sair e, através da Internet,ter um negócio próprio em casa, aju-

opção: carreira como empregado oucarreira como empresário.

GRACIOSO - Minha dúvida é de queisto seja realmente significativo, noBrasil. Esta situação não será mais tí-pica de economias mais avançadascomo a norte-americana? Será queestamos mesmo caminhando paraesse paraíso, aqui no Brasil?

MARIACA- Não é um paraíso. Temmuitos pontos negativos, incertezas,inseguranças. Mas, se olharmos parao Brasil-como a Maria Teresa-paraver que 50% do emprego está nasempresas pequenas - às vezes, bempequenas - e 62% da criação da ri-queza nacional é no setor de servi-ços... Se isto está acontecendo, é re-flexo do que acontece no mundo. Asempresas grandes continuam, aJohnson & Johnson vai continuar sen-do um diamante, só que boas carrei-ras existem dentro e fora de diaman-tes e até para fornecedores autônomos

dando a criar os filhos ou vice-versa.Existe um mundo de inter-conectividade que facilita muito umtrabalho autônomo.

GRACIOSO - isso é real ou équimera?

MARIACA - É absolutamente real.

JRWP - Nesta Revista, temos sem-pre uma mesa-redonda e uma entre-vista. A dessa edição foi justamentenuma grande empresa de RH e im-pressionou-me o que disseram sobreessa mudança, no mercado de tra-balho, que você está descrevendo.Há uma tendência "maniqueísta" deachar que as pessoas ou são empre-gados ou são autónomos. E, no en-tanto, as pessoas, hoje, são empre-gadas, são autónomas, têm umaatividade familiar e cria-se umaplural idade na intervenção individualno mercado de trabalho. Não deve-mos ficar tão presos a uma única

de diamantes. E há muitos diaman-tes. Nós temos duas atividades há ca-torze anos. Somos uma das principaisempresas de headhunters, e somossócios da Lee Hecht Harrison, que éa maior empresa global que ajuda nasaída de executivos - o outplacemente coaching. Muitos dos executivosque saem das grandes empresas sereempregam e muito bem. Outrosformam negócios próprios, outrosenfrentam situações interessantes. Vi-mos, por exemplo, um diretor de umafundação de renome passar a ocuparo cargo três dias por semana, porquea empresa quer ter essa pessoa comodiretor estatutário com essa bagagem,mas não quer e não precisa dele cin-co dias por semana. Então, os outros40% do seu tempo ele dedica a ou-tras atividades- uma carreira parale-la ou não. Ternos que preparar os jo-vens para que gerenciem a sua pró-pria carreira dentro ou fora de umaempresa grande, ou dentro ou forade uma empresa ou até dentro da

própria empresa. Porque lidar comincerteza e ambiguidade é urna dascompetências técnicas mais im-portantes hoje; não só as com-portamentais.

FÁTIMA - O autônomo tende a cres-cer muito, no Brasil. Não precisamos-e não devemos-entrar nessa ques-tão dos custos trabalhistas, mas comoas empresas estão procurando alter-nativas ao custo trabalhista isso tam-bém gera crescimento para osautónomos. Conheço uma empresaque está na lista das 100 melhorespara se trabalhar no Brasil, e 90% doseu pessoal são pessoas jurídicas; nãotêm carteira assinada. O vínculo des-sas pessoas não é formal; é afetuoso.Eles gostam de trabalhar naquela em-presa, mas não têm carteira assina-da, e nem os benefícios garantidos.Mas é uma alternativa que se está cri-ando, no Brasil, ao emprego formal.E algo com que vamos aprender aconviver. E, também, esquecer a

questão da carteira assinada ser oúnico ponto de estabilidade; a esta-bilidade nada tem a ver com umacarteira assinada.

JRWP - Embora seja um símbolo po-deroso, que ambos os candidatos àpresidência usaram nas suas campa-nhas eleitorais.

NELSON-Esse processo de migra-ção das pessoas, do ambiente em-presarial para a prestação de servi-ços, também tem a ver com a mu-dança global que estamos vivendo.Quando você avalia o processo pro-dutivo da sua organização e verificaque o seu coração de negócios estácheio de outras atividades que po-deriam ser desempenhadas por pes-soas mais especializadas, você fazcom que essas pessoas saiam desseambiente e coloca foco no seu ne-gócio. Porque o seu concorrente tam-bém está fazendo isso, e, se é comer-cialização, vamos nos especializar

EMPREGO S EMPREGABILIDADE

em comercial ização. As atividades fi-nanceiras, jurídicas, de RH, infor-mática - que são as mais tradicionaise que poderão passar por processosde terceirização ou de prestação deserviços - se elas tiverem pessoas quefazem aconselhamentos e orientamesses indivíduos, pois o mundo dotrabalho não está restrito à empresa,a vida vai ser melhor,

GRACIOSO - Curiosamente, Nel-son, nossas leis trabalhistas estão to-talmente em desacordo com essa ten-dência. Como é que no mundo real,na prática brasileira estão conseguin-do conciliar as duas coisas? Porqueo INSS, o FGTS e outros organismosque se julgam com direito às suaspartes estão atentos, para entrar emcena sempre que há alguma coisadiferente acontecendo.

JRWP-Até considerando, ilegal,essas estruturas como a que vocêdescreveu.

FÁTIMA - É ilegal. Qualquer pessoaque trabalha lá pode sair e processar.

GRACIOSO -- Como uma empre-sa pode enfrentar a lei se 90% deseus funcionários não têm vínculotrabalhista?

MARIACA - Eu me orgulho de serparte de uma empresa de 50 funcio-nários e ter 50 registrados com todosos impostos e carteiras assinadas.Mas, acredito, que somos uma aber-ração e quero...

MARIA TERESA - A Abril tambémestá nessa situação.

MARIACA- A Abril é muito grande.Estou falando de empresa com 50.pessoas que fazem isso, é uma aber-ração. Certamente, muitas outrasempresas de consultoria têm bicos,

informais, contato, por fora etc. O"como" no Brasil grande é absoluta-mente conhecido e palpável: é bur-lando a lei. É como nos anos da proi-bição no Estados Unidos. Era ilegal,mas todos bebiam.

JRWP - O Jefferson disse que: "seuma lei é injusta, os cidadãos devemderrubá-la". Foi lá que nasceu a de-sobediência civil.

MARIACA - Acho que é uma ques-

tão de tempo. E vai acontecer de for-ma natural. Há exceções e novosadendos, até porque, para criar 10milhões de empregos, facilmente,hoje bastaria admitir 10 milhões depessoas que trabalham para os go-vernos federal e estadual "por fora".

JRWP Gostaria de propor maisum tema. Há algum tempo, vive-mos a "sociedade do conhecimen-to". A escola é fonte de conheci-mento. Como é que vocês vêem opapel da educação continuada?Será que nós, escolas, estamos fa-zendo a nossa parte?

GRACIOSO - Sabemos que háuma polêmica, não só no Brasil,como no mundo, em que sequestiona o papel dos MBAs, doscursos de pós-graduação...

JRWP - Todo mundo já tem MBA, maso conhecimento continua evoluindo, há

novos conhecimentos. Como ensiná-los?

MARIACA -Acho que a escola pre-cisa ensinar urna série de práticas e,às vezes, isso não acontece. Porexemplo, um engenheiro estudandono MBA; dei aula - a convite do prof.Júlio - no MBA que vocês têm, emparceria com o ITA, e acho uma mis-tura maravilhosa. Foi uma das me-lhores aulas das quais participei navida. Um engenheiro com um MBA,há muito anos, é considerado umamistura ideal porque o engenheiroaprende a aprender - é uma peneirade inteligência académica muito boa- e o MBA lhe dá, em um ano e meio,dois anos, de maneira concentrada,tudo o que acontece dentro de urnaempresa. E engenheiros não perma-necem engenheirando. Possoprepará-los para serem cientistas,gerentes ou donos de empresas.

JRWP Isso não seria verdade, hoje,em todas as profissões?

MARIACA - O que estou dizendo éque isto é altamente prático. Um MBA não deveria admitir formandos recen-tes. Um MBA de Harvard, Wharton,só aceita profissionais que tenhamtido, pelo menos, cinco anos de su-cesso, chegando a um cargo quaseque de direção para ser aceito. Por-que essa é uma maneira de garantir que vai haver um comportamentoprático e vai atualizar um desafio.

JRWP - Mas quando você fala deWharton, está falando de um pe-queno percentual e, hoje, a socie-dade do conhecimento está em to-dos os níveis,

FÁTIMA -- Acredito que nós, comoprofessores, deveríamos, cada vezmais, incentivar os alunos a pensar,pequisar e fazer o que o Nelson fa-lou, que acho importante. Hoje em

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dia, não são só as escolas que traba-lham com conhecimento; nas empre-sas, há uma grande produção de co-nhecimento também. Então, essainteração é importante. O que aca-ba acontecendo, por vezes, com osalunos, é que querem receber pratosprontos, receitas e, aí, a produção deconhecimento pára. Também porparte dos professores, acho que hánecessidade de mais pesquisas,contatos entre escolas e empresas.

JRWP - Você está falando de con-teúdo, teoria...

FÁTIMA - A partir do momento emque as pessoas aprendem a pensar,elas estão produzindo conhecimen-to, apropriando-se do conhecimento.

RACIOSO - Ou, pelo menos, Fá-tima, conceituando o conhecimentoproduzido nas empresas. Comovocê, não acredito que o conheci-

mento seja criado só na academia.

NELSON - Conhecimento, paramim, é como um cartão de crédito.Todos têm. O banco nos dá o car-tão, a gente usa e se chega no fimdo mês e não se paga a conta -pode até dar uma "enrolada" maisum mês, mas depois, perde ocartão. E o conhecimento éexatamente isso. Precisa serrecarregado. Por isso, que há um"buraco"-para não ficarmos usan-do palavras dos gringos-gente vaipara a escola, faz o curso de for-mação, o MBA, vai para outros lu-gares, para aprender mais algumacoisa. Mas, essa geração é, mais oumenos, perdida. E a vida é cíclica.Se analisarmos o que acontece comum jovem de vinte e poucos anosque se forma aqui, e comigo, quejá decidi qual é a próxima carreiraque vou ter, são desejos e aspiraçõestotalmente diferentes. E - na ponte

que existe entre esse jovem que vai mesuceder e eu que estou saindo do mer-cado - a escola não está aproveitandoesse nicho. O cara que tem entre 30 e40 anos é um outro indivíduo, que queroutras coisas.

JRWP - Não vamos esquecer os quetêm entre 50 e 65.

MARIA TERESA - Agora não se falamais em múltiplos empregos como sefalava antigamente, mas em carreiras.Quantas carreiras você vai ter ao lon-go da sua vida, porque a vida útil estáaumentando. O Nelson já estápensando na segunda, depois ele vaipensar na terceira.

JRWP Ou simultâneas. Eu me lem-bro que quem dava aula à noite eramuns caras esquisitos, que durante o diaeram executivos e, à noite, eram pro-fessores. E, hoje, isso é até uma van-tagem curricular.

EMPREGO & EMPREGABILIDADE

GRACIOSO - Desculpe o meu com-portamento, um pouco anárquico.Mas, na semana passada, li no Esta-do de S. Paulo um artigo curioso emque se analisava o fosso que se estáaprofundando, entre as gerações -jovens e velhos - justamente porqueos velhos estão ficando mais tempodo que deveriam, e os jovens estãoinquietos, não vêem a hora de tomaraqueles lugares que deveriam serdeles e ainda não são. Como vocêsencaram isso?

NELSON - Quando eu falei sobreminha próxima carreira, o que esco-lhi ainda não existe no Brasil e preci-sei aprender nos Estados Unidos.Hoje, sou um coach executivo pro-fissional, para orientar pessoas jo-vens, de meia idade e pessoas queestão com idade mais avançada, ori-entar empresas e entidades. E vejoisso como uma possibilidade deminimizar toda essa polémica. Tenhotrabalhado com as duas pontas - osjovens e as pessoas que já estão com-pletando o seu ciclo. O maior pro-blema não é com os jovens porqueeles têm a vantagem que esses nãotêm. Eles podem fazer alguma coisaerrada, tentar novamente. Os maisvelhos entram, enveredam na carrei-ra de dedicação total à empresa ondeestão trabalhando-isso não quer di-zer que eu não despenda de lealda-de com a minha empresa, mas é ex-cessiva. As pessoas colocam 901%do seu esforço, dedicação naqueleobjetivo. E o mundo não é mais as-sim. O mundo está se transforman-do. Então, a pessoa precisaria teralgum suporte, que viria daquelespilares que eu mencionei, na talplataforma. E, através dessainteração, haveria contribuição vo-luntária de pessoas que têm algu-ma experiência e querem passar essaexperiência da academia fazendopesquisas.

JRWP - Gostaria de propor uma ro-dada, para que cada um de vocês ten-tasse conceituar quais são as condi-ções, agora, de empregabilidade.

MARIACA - Depende de como sedefine empregabilidade. Se empre-gabilidade é renda até o último diacom o máximo de felicidade, achoque nossos jovens têm urna luta durapela frente, porque, no mundoglobalizado, muitos deles vão con-correr com a índia, o Paquistão, por-que planos de engenharia podem serfeitos e transmitidos pela Internet. Ea capacitaçao é baixa, Brasil grande...Porque nós, ESPM, somos Whartonpara o Brasil. Dentro dessa realidade,temos que liderar uma situação deuma economia que os jovens,mesmo saídos da Wharton para o

Brasil, têm competência de entrada decarreira menores e custos maiores, im-postos agravando. E esse é um proble-ma muito sério.

JRWP - E empregabilidade? Quaissão as condições?

SÉRGIO - É a técnica emocional e acapacidade de inovação. Como oProf. Gracioso disse, acho que de-pende das condições e de qual reali-dade estamos falando. Se falarmosdos alunos da ESPM, acho que tra-balhamos bem com isso. Eles têm

essa capacitação, são pessoas queviajam, participam de programas so-ciais, têm a parte artística - são aschamadas habilidades. E essa ques-tão da técnica é uma questão de vocêbuscar uma informação que tenhaembasamento teórico. Porque há adiscussão sobre qual é o papel dauniversidade. Ela é muito mais do queadestrar as pessoas para o mundo dotrabalho. As empresas começaram ater suas universidades corporativas,Como as universidades não faziamseu papel, de aproximar, as empresascomeçaram a formar suas universi-dades corporativas. Então, acho queo papel das universidades vai alémdo adestramento para o mundo dotrabalho. E as condições de empre-gabilidade passam pela questão darenda. Um curso de inglês, informática,espanhol têm custo. Estamos falandodesse pequeno universo que poderá terum efeito multiplicador. Hoje, temosestudantes que se preocupam com asolidariedade, com a ONGs.

JRWP - Mas, eles não precisam tra-balhar de graça nas ONGs.

SÉRGIO - Não, necessariamente.Isso é uma profissão. Esse pequenogrupo tem habilidade e competên-cia, e a parte emocional, que é mui-to forte hoje, porque o estudanteentra na faculdade muito jovem. Es-sas três questões: técnica, emocio-nal e a capacidade de inovação, sãoas condições básicas para aempregabilidade.

NELSON - Penso que a empre-gabilidade está associada ao preparoconstante e contínuo da pessoa. Seum indivíduo tem consciência de quea renda é consequência do nível deconhecimento que uma pessoa vaiter... Isso é difícil porque a gente temque começar a plantar isso não nauniversidade; mas nos cursos médios,

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É em casa que ternos que dizer: "Meu

filho, a vida é difícil, não é feita demilagre. Você quer ter sucesso, renda,mas há um caminho difícil a ser trilha-

do". Nada cai do céu. Há as pontas:

os muito pobres e os muito ricos. Masas pessoas que fazem parte da norma-

lidade têm que desafiar e serem desa-fiadas e têm que procurar. E só há umcaminho: o conhecimento. Existem

alguns indicadores. Por exemplo, se a

pessoa, além de ter o conhecimentoformal, for boa na competência

comportamental, alguém vai olhar paraela e dizer: "Acho que essa pessoa se

adapta a esse grupo".

MARIA TERESA - Quero acrescen-tar algo. Empregabilidade tem a ver

com tudo isso que vocês falaram, mastem a ver também com fazer tudo ao

mesmo tempo. Ou seja, trabalhar,estudar e ter lazer, prazer em tudo

que se faz, porque você não pode

mais dissociar seu tempo de lazer do

seu tempo de trabalho, senão vocêenlouquece. A maior parte do nossotempo acordado é passado dentro do

trabalho. Então, o trabalho tem que

ser uma fonte de lazer, uma fonte deestudo e uma fonte de inspiração e

felicidade. E a Internet ainda leva otrabalho para a nossa casa. Então, sevocê estiver fazendo um trabalho que

não lhe dá felicidade e não lhe ensina,

você está perdendo empregabilidade.

FÁTIMA Acho necessário falar em

ampliar a consciência. Quer dizer, aempregabilidade está associada a

quanto de consciência nós temos emrelação às nossas escolhas, ao que o

mercado quer, para onde vai, ao queme dá prazer, às minhas competên-

cias, onde vou investir meu tempo,meu dinheiro, para estar ampliandoas minhas competências. E, a partir

daí, empregabilidade é algo com queo jovem tem que se preocupar, o

adulto tem que se preocupar até a

morte porque eu quero ter a minhamarca até quando eu morrer. Quero

que a minha marca fique no univer-so também depois da minha morte.

Para isso é preciso ter uma consciên-cia ampliada. Qual é o seu papel

no universo? Ser empregável é in-vestir nas competências que sãoduráveis, permanentes e, ao mesmo

tempo, vão sendo flexibilizadas nodecorrer dos anos.

JRWP- Passo a palavra ao Graciosopara tentar a difícil missão de somar.

GRACIOSO - Não seria nem neces-sária essa súmula, porque vocês fo-

ram muito claros. Com palavras di-ferentes, todos disseram algo mais ou

menos assim: empregabilidade é a

capacidade de nos mantermos atuais.E isto, portanto, tem mais a ver com

a gerência da carreira pelo próprio

indivíduo do que qualquer outra coi-

sa. O Mariaca pôs a mão no pontocerto. Vocês foram também precisos

e objetivos, ao identificar falhas no

desempenho tanto das empresasquanto das escolas, admitindo-se que

o ideal seria ajudarmos o indivíduoa caminhar nessa direção. Nem a

empresa, nem a escola ainda com-

preenderam bem do que se trata emuito menos se decidiram a atuar

seriamente nisso. É um desafio duplo,

EMPREGO & EMPREGABILIDADE

portanto. Conversando com o Prof,Eduardo Najjar - que também parti-cipou desse fórum que você descre-

véu, Nelson - ele me disse que um

dos temas discutidos foi o quê fazercom os trainees, em muitas empre-

sas. Naturalmente, não em todas, poisdeve haver muitas empresas com ex-

celentes programas, que não desper-diçam o talento que têm nas mãos.

Mas, outras perdem-se, desvirtuam osprogramas de trainees e perdem ex-

celentes oportunidades de burilar osdiamantes brutos que têm nas mãos.As escolas também ainda não com-

preenderam bem duas coisas. Primei-ro, temos que ajudar os jovens - e isso

vale também para os executivos de

pós-graduação - a planejar e respon-der pela sua carreira, e não culpar

ninguém a não ser eles próprios. E,segundo, temos de prestar mais

atenção aos aspectos comportamen-tais, que não sei até que ponto po-

demos ajudar. Porque a pergunta queo Nelson fez, com outras palavras, é:

"Será que a universidade pode influirno comportamento do indivíduo, ou

ele já vem com vícios e virtudes deformação que o tornam imune a tudo

aquilo que tentarmos fazer?" Enfim, éuma pergunta, não é nenhuma afir-

mação. As universidades e as escolas

de modo geral, e as escolas de van-guarda teriam de compreender me-

lhor esse fenómeno, teriam depesquisar mais, com a mesma serie-

dade que pesquisamos as vantagens

competitivas das empresas e outrascoisas desse tipo.

JRWP - Acho que as palavras fi-nais do Gracioso foram muito ade-

quadas, já que um bom debate -corno uma boa aula - não deve

criar certezas, mas sim levantar

boas perguntas. Vamos encerrar,certos de que todos continuarão

procurando a resposta a essa e a

outras perguntas,

J U L H O / A G O S T O D E 2 0 0 3 - R E V I S T A D A E S P M

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MOTTA, Fatima; Et al. Emprego & empregabilidade. Revista da ESPM, São Paulo, v.10, n. 4, p. 84-99, jul./ago. 2003.