sandro da costa mattos - o livro basico dos ogans

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Sandra da Costa Mattos ; LIJ!RO BAS/CO "' OOSOGAS

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Page 1: Sandro Da Costa Mattos - O Livro Basico Dos Ogans

Sandra da Costa Mattos

;

LIJ!RO BAS/CO "'

OOSOGAS

Page 2: Sandro Da Costa Mattos - O Livro Basico Dos Ogans

o LIVRO BÁSICO DOS ÜGÃS

Page 3: Sandro Da Costa Mattos - O Livro Basico Dos Ogans

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câtnara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Mattos, Sandro da Costa O livro b8sico dos Ogãs I Sanch-o da Costa

/

Mattns. - São Paulo : lcone, 2005.

Bibliografia. ISBN 85~274~0840~6

1. Atabaque 2. Instrurnentos musicais , Aspectos religiosos 3. Ogãs (Umb<:1nda) 4. Religiosidade S. Urnbanda (Culto) 1. Título.

CDD~299.672

~

lndices para catálogo s isten1ático: I. Ogãs : Cerimônias litCtrgicns : Umbanda :

religião 299.672

Page 4: Sandro Da Costa Mattos - O Livro Basico Dos Ogans

Sandra da Costa Mattos

o LIVRO BÁSICO

DOS ÜGÃS

~

I cone e d i tora

Page 5: Sandro Da Costa Mattos - O Livro Basico Dos Ogans

© Copyright 2005. Ícone Edi tora LtdCl.

Ilustração Capa Sanclro da Costa Mattos

Capa lv1e1ian e Moraes

Diagramação Andréa Magalhães da Silva

Revisão gramatical e lingüística Silvio Ferreira da Costa Mattos

Revisão Ros;,l M;-uia Cury Cardoso

Proibida a reprodução rotai ou parcial desta obra, de qualquer f'órma ou meio eletrônico, mecânico,

inclusive através de processos xerográficos, sem penniss8o expressa do editor

(LeL n° 9.610/98) .

T odos os direitos reservados pela

ÍCONE EDJTORA LTDA.

Rua Anhnnguera, 56 - O 1135;000 Barra Funcb- S8o Paulo- SP

T el./Fax.: (11) 3392; 7770 ww\v.iconelivraria.com.br

e,mail: iconcvendC!s(fÇyahoo.com.br

editora(fi'!editorél icone. com .br

Page 6: Sandro Da Costa Mattos - O Livro Basico Dos Ogans

-----. ···------ -------- --- ---

Agradecitnentos

Acima de tudo, a Deus (Zambi, Tupã, Olorum ... ), o Criador do Universo e o Gerador da V~da.

A N osso Senhor Jesus Cristo, o Pai Oxalá - Mestre Maior da Umbanda.

Ao meu Orixá, Senhor Obaluaê, com respeito e ad1niração. Ao Caboclo Ubatuba, Mentor Espiritual da APEU,

pelas mensagens de amor e fé que nos ensinam a cmninhar na trilha da evoluç8.o espiritual.

À Cabocla Indirn, peb doçura e afeto. Ao Caboclo Boiadciro da J urema, Entidade respons8vel

pelos Ogãs da casa, que sempre nos traz novos conhecin1entos sobre a força dos instrumentos sagrados e da magia umbandista.

Ao meu padrinho espiritual, o Preto~Velho de Xangô: P8i Sete Quedas da Cachoeira.

Aos Exus de Lei, em especial ao Exu das Sete Portas e ao Exu dH lv1aré, pela guarda e proteção.

E a todos os Orix<1s, Guias e Protetores que atuam. nas Linhe1s de Umbm1da.

Meu sincero Saravá! O autor

Page 7: Sandro Da Costa Mattos - O Livro Basico Dos Ogans

Dedico esta obra

À nlinha espos;:t, Viviane Schiavino da C osta Mactos,

pelo amor c con1panheirismo .

Aos meus pais e dirigentes espirituais da APEU: S ilvio Ferreir<:1 da Costa Matt:os c Cleide Cunha da C osta M attos, pelo carinho, educação e incen tivo, e ainda por terem mostra ­

elo desde '' minhn tenr<1 idade a ilnportância en1 seguir um canünho rel ig ioso p~1ra ê\ pnítica da fé e d a caridade.

Ao meu "Pai-de-C ouro", hoje dirigente d o Templo de U rnbanda Branca do C aboclo G irassol, Dcrmeval Marques

Saturnino. Aos Ü g;1s ela APEU: Cristiano M. Roch<.l, S idney C .

Mattos 1 Rogério da Silv<l, Willian da Silva, \'{!anderlci Cun ha,

Luis Marcelo G . Nascimento e André Luis G. N ascimetHo. À minh8 avó, Carmélia Decorni C unha, a Adag?i da

cnsa, sernpre fiel 8 U mbanda, servindo de exemplo aos rnais JOVens.

A o Ü g8-0b<í de Oxalc1: Hevanir de Souza Mattos,

.~rande Ta ta de Umbanda da cidade do Rio de Janeiro e pa­trono ela APEU.

Page 8: Sandro Da Costa Mattos - O Livro Basico Dos Ogans

Ao me u avt> e do utrin ador, Francisco P. R. Conce ição, pelas palavras de e levação espiritual.

Aos tne us irnü 'tos de fé da APEU - Associação de Pesq uisas Espirituais UbCi tuba.

A todos os Ogãs, os qu~i s tive o prazer de acotnpan har en1 um toque ou ponto cantado.

E a todo o povo urnband ista.

Que Oxalá os ilurninc!

Axé!

Page 9: Sandro Da Costa Mattos - O Livro Basico Dos Ogans

/

Indice

Prefácio, 1 1

A m.úsica e a religiosidade, 15 Tambores, 1 7 Religiões afro~brasileiras que utilizam tan1bores, 21 O atabaque, 27 Instrumentos auxiliares, 31 Os Ogãs, 33 Títulos e cargos dos Ogãs, 35 Outras denominações dos Ogãs, encontradas

n ::ts diversas N ações Africanas, 39 O Ogã e sua mediunidade, 41 Iniciação do Ogi'i, 4 5 Comportamento e disciplina, 49 Saudações aos Orixás c Unhas, 53 S<1udações especiais, 55 Pon tos cantados, 57 Tc)ques c ri tmos, 63 Cobertura dos atabaques, 67

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Obrigações ritualísticas, 69 Firmeza dos atabaques, 71 Cruzamento do couro, 7 3 Energizaçfto, 7 5 Ali1nentar os atabaqucs, 77 Descarregar o couro, 79 Troca ele couro, 81 Trabalhos junto ~l natureza, 83

Guias e cobres, 87 Demanda cn tre Ogfts, 89 Paga de Ügft, 91 Mulheres nos atabaques, 93 Casos verídicos, 95 O Hino da UmbandC~, 107 Letras de pontos cantados, 109 Regulamento dos Ogã.s (modelo), 123 Manutencão dos instrumentos, 125

~

Um pouco de história, 12 7 Monte seu próprio instrumento, 129 Epílogo, 133 Referências Bibliográficas, 135

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Page 11: Sandro Da Costa Mattos - O Livro Basico Dos Ogans

Prefácio

Foi com imensa alegria que recebi do autor desta obra intitulada- O livro bc.ísico dos Ogãs - , coincidentemente, meu filho, a incumbência de prefaciar este que é seu prin1ciro

trabalho literário, particularmente de cunho religioso, no qual busca passar ao leitor u1n pouco da experiência reunida ao longo dos se us vinte anos no cargo de Ogã, c uja evolução no aprendizado c no aperfeiçoamento lhe permitiu galgar os pos tos hierárquicos dessa representação sacerdotal, pautado no comprometimento corn a hmnildade, com a seriedade e a fé, até atingir os patamares que o levaram à posição de A labê.

D esde m uito cedo, tivemos a surpreendente e gratifi; cante satisf~1ção de tes temunhar o despertar de suas habili; dadcs para lidar com instrumentos de percussão. Sabíamos

que se tn1tava de urn8 dádiva do Criador, que lhe permitiu vir ao mundo dotado de tão maravilhosa medíunidadc.

Seu trein8mento inicial aconteceu sobre uma antigrt pen teadeira que compunha os móveis de nosso quarto. Ali, cu e 1ninha esposa, pasmos, presenciávamos sua dedicação e f(;rça de vo ntade ao vê; lo repetir incontáveis vezes as seqüên~

1 1

···,:,·; ., j j;;;. ,; .

Page 12: Sandro Da Costa Mattos - O Livro Basico Dos Ogans

cias dos toques, procurando as alternâncias sonoras e cmnpo~ sição dos ten1pos tnusicais de forn1a que os tornasse graciosos e suaves aos ouvidos daqueles que o prestigiavan1 con1o

expectadores. Observávamos que, no transcurso dos trabalhos litúr~

gicos que, já naquele ten1po dirigímnos na Associação de Pes~ quisas Espirituais Ubatuba- APEU -,no bairro do ]ardin1 Catarina, na zona leste da cidade de São Paulo, sentado nun1

banco de n1adcira dos que con1punhan1 as acon1odações dos assistentes, suas mãos não paravan1, tentando acon1panhar as batidas dos tambores tiradas pelos Ogãs mais antigos.

Seus olhos apresentavan1 un1 brilho especial e certo en~ canta1nento quando presenciavam a ação do então Ogã Inte~

rino que colaborava com o Ten1plo do Caboclo Ubatuba. Era ele que se responsabilizava pelas chan1adas e pela n1arcação rínnica dos pontos ou cânticos, nosso irn1ão de fé, Antonio Carlos Pahneira, mais conhecido corno Toninha, un1 alto co~

nheccdor dos segredos e das tnodalidades utilizadas para fazer ressoar grande parte do cabedal n1usical integrante dos cultos oriundos dos povos africanos e indígenas, nos quais já se acha n1esclada uma grande pnrcela de influências brasileiras, de outras religiões e até da própria universalidade htm1ana, harmo~ nízando~se par8 louvar as sacrossantas forças de Aruanda.

O senso de observação, a sensibilidade aos efeitos da percussão, a perseverança e os dons- natural e n1ediúnico -,

colaboraram para que o n1enino Sandro, posteriormente sub o comando do Ogã Alabê Dermeval Marques Saturnino, viesse a fazer parte integrante do grupo de instrumentistas da referida Instituição.

Nesse período, devido à sua pequena estatura en1 fun~ ção da idade, foi necessário que o acon1odássen1os sobre un1

pedaço de tora de árvore, do tipo usado pelos açougueiros, onde se faz o corte elas carnes, de tnodo que pudesse alcançar o couro do atabaquc a ele destinado.

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Page 13: Sandro Da Costa Mattos - O Livro Basico Dos Ogans

O tempo passou dcspercebidmnente e , quc:mdo n1enos. se esperava, ei-lo adulto, casado, con1 formação superior en1 Ciências Biológicas c com a fé preservada, nuli to embora tivesse passado por duras provações em sua vida. Nada foi capaz de abalá-lo. Ao contrário, seguindo Lml dos ensina­mentos passados, certo dia , pelo C aboclo Ubatuba, retirou de seus caminhos todas as pedras pequenas e contorn ou ou transpôs aquelas de dimensões 1naiores .

. Diante desse mérito, intuitivamente foi-lhe dada a mis­são de transcrever, de forma respeitosa e singela, sen1 a pre­tensão de se assenhorear da verdade, este con1pêndio, no qual aborda um te1na ainda pouco explorado ou divulgado no meio das religiões umbandista, candomblecista e outras congêneres.

Fruto de estudos e pesquisas feitos tanto in-loco quanto através de narrativas históricas o u da elucidação obtida por intermédio do Caboclo Boiadeiro da] urema, os regisrros de O livro básico dos Ogas procuram obedecer a un1a cronologia que passa por cerin1ônias da tadas da A ntigüidade, chegando à era conten1porânea. O texto realça a importância dos instru­mentos m usicais no estabelecimento de elos de ligação entre os homens em seu mundo terreno e os seres das incontáveis esfer8s do plano extrafísico, quer sejan1 dos estratos mais refi­n ados, quer sejam dos mais densos - pois é de conhecimento geral que em todos os ritos de que se tem informação vemo­los presentes, seja no retininte badalar de un1 sino, nos ac(!rJes de uma lira, no soprar de un1 oboé, seja no son1 grave o u agudo dos tambores.

Aqui nos deparamo~ com o preenchimen to de lllna lacuna, h <:'l muito esquecida ou ignorada e que, certamente , irá elucidar ou ·suprirnir muitas dúvidas nas respostas não obtidas dos líderes acomodados à simples prática da mediu­nidade ou de liturgias herdadas e repetidas sen1 questiona­Inento, ou, pior ainda, cbqudes que não reúnen1 a mínüna condição de fazê-lo por tarnbén1 desconhecer as verdades.

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Page 14: Sandro Da Costa Mattos - O Livro Basico Dos Ogans

Nada resulta do acaso. Os que acreditan1 nesse acaso

são somente aqueles que não buscam se aprofundar nas raízes dos acontecin1entos, pois se o fizessen1 poderiam ver que tudo obedece às Leis hnutáveis geradas pelo Onipotente, Onis~ ciente e Onipresente Arquiteto do Universo. É por isso que vemos surgir obras encantadoras no seio da literatura mnban~

dista, as quais tên1 tmnado vulto com o aparecin1ento de

maravilhosos romances, con1pilados con1 esclarecin1entos sobre os métodos a serem en1pregados na convivência sociofa~ miliar que nos elevam no plano da espiritualidade e nos imuni­zam da não~aceitação da realidade que nos é in1posta. For tale~

cendo tais narrativas, vemos vicejar, também, urn sern~núlne­ro de obras voltadas para a doutrina em si, algumas, inclusive, preocupadas com a depuração e a exclusão de detenninados hábitos causadores de repúdio e criadores de contendas.

Se você é Ogã na verdadeira acepção da palavra, não fique limitado ao conhecin1ento dos toques de atabaque. Vá em frente! Não pare no n1eio do carninho. Aprofunde~se no saber, pois foi para isso que Deus nos dotou da racionalidade e da n1obilidade. Você est<-Í. de posse do livro certo. Mais un1a vez lhe afirmo: N(ula resulta do acaso. Faça con1o os bons profissionais: especialize~se, busque o crescimento e a atuali­

zação e, corn certeza, estará contribuindo para o seu próprio aprin1oramento, para a prosperidade da casa a que ·se dedica e para o engrandecimento da sua religião!

Axé! Silvio F. ela Costa Mattos

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Page 15: Sandro Da Costa Mattos - O Livro Basico Dos Ogans

A Música e a Religiosidade

Em todos os ternpos e povos encontrarnos o uso da músi-ca a fim de se man ter un1 cm-n ato com o Divino. Nas mais diversas crenças poden1os observar sua presença.

Vejan1 que na Igreja Católica entoan1~se hinos, ladai~ nhas, cantos gregorianos. Os evangélicos também têm através do ccmto uma forma de agradar a D eus com suas bandas e conjuntos GosjJcl. As seitas orien tais utilizam.~se muito dos mantras (combinações de letras q ue vibrmn no Astral). Na U1nbanda c cul tos africanos, temos os pontos cantados , e até n o espiritisrno tradicional já existem canções que servem para difundir o Evangelho e os ensinarnentos de Kardec.

Na própria Bíbli(l existem várias menções sobre a u tili~

zação musical, seja por meio de instnnnen tos seja por meio do canto.

Apenas parél exemplifi c:n~ no Antigo Testamento te~ mos: "Logo após a travessia do Mar Vermelho, 1v1iriã e as m ulheres de Israel adoraram a Deus com cânticos acompa~ nhados de danças e tamborins'' . (Livro do Êxodo, 15: 20~2 1) "Os profetas dos tempos de Samuel usavam saltérios, télm~

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.. .......... ,..,, _, ··········-------.. - -

Page 16: Sandro Da Costa Mattos - O Livro Basico Dos Ogans

bores, flautas e harpas". (1, San1uel, 10:5) Como disse Isaías: "O Senhor veio salvar,Ine, pelo que, tangendo os instru, n1entos de cordas, nós o louvaren1os todos os dias de nossa vida, na Casa do Senhor". (Isaías, 38: 20)

O Saltério (Salrnos) era o cancioneiro de Israel. Os salinos d~o n1uito destaque ao uso de instnnnentos 1nusicais na adoração a Deus: '<Celebrai o Senhor con1 harpa, louvai, o con1 cânticos no saltério de dez cordas. Entoai,lhe novo cântico, tangei, C0111 arte e C0111 júbilo". (Saln10 33: 2,3)

No Novo Testan1ento, observan1os os seguintes textos: ~<Por volta da n1eia-noite, Paulo e Silas oravan1 e cantavan1 louvores a Deus, e os demais cmnpanheiros de prisão escuta, van1". (A tos, 16: 25) "Está alguén1 entre vós sofrendo? Faça oração. Está alguén1 alegre? Cante louvores". (Tiago, 5: 13) '<Habite, ricatnente, en1 vós a palavra de Cristo; instruí,vos e aconselhai,vos n1utumnente en1 toda a sabedoria, louvando a Deus co1n sahnos e hinos e cânticos espirituais, con1 gratidão en1 vosso coração". (Colossenses, 3: 16)

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Page 17: Sandro Da Costa Mattos - O Livro Basico Dos Ogans

Tatnbores

De forma genérica, podemos afinnar que tan1bores são ins­tnnnentos musicais de percussão, fon11ados por mna armação oca, tendo, sobre essa, uma pele esticada, produzindo o son1 quando percutido, sendo esse originado pela vibração da me1nbrana, ou seja, da pele, classificando-o assim con1o um membranofone.

Os prüneiros tambores foran1 encontrados em escava­ções arqueológicas no Período N eolítico. Na Morávia, um desses achados foi datado de 6.000 anos a.C .. Em artefatos egípcios, outros foram localizados, com peles esticadas, data­dos de 4.000 anos a.C. Na Mesopotâmia e na antiga S~1méria, alguns tambores de 3 .000 anos a.C. ainda têm sido desco ­bertos, conforme registro anotados por pesquisadores que estudmn os hábitos culturais de antigas civilizações.

Características dos primeiros tambores

Consistiam de troncos ocos, cobertos pelas bordas con1 peles de répteis ou couro de peixes, sendo percutidos com as

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n1ãos. Son1ente n1ais tarde surgiu o uso de baque tas e tatnbén1 de peles 1nais resistentes.

Cmn o desenvolvünento n1usical do ser hmnano, a grande variedade de tan1anhos, formas, tipos de peles e de tnétodos de fixação dessas foran1 surgindo. Ntnn tan1bor de urna pele, ermn usados n1ateriais con1o pregos, grarnpos, cola etc. Já nos de duas peles, fazimn~se furos atravessando,as, pelos quais passavan1 cordas a filn de esticá, las. Os tan1borcs tnais 1nodernos, usando aros que pressionan1 a pele, surgiran1 na Europa.

Tambores sagrados

Os tmnbores se1npre tivenun funções diversas, con1o a de transtnitir alegria ezn festas populares, transtnitir tncnsa, gens à distância e principaln1ente a função religiosa. Tidos con1o objetos sagrados, con1 poderes znágicos, znesn1o atual~ n1ente, en1 certas sociedades, sua confecção envolve un1 certo ritual.

Ezn todo o mundo encontran1os religiões ou seitas que os urilizan1 en1 seus cultos divinos.

Na China, há tnais de 2.000 anos, usa~se tais instru, 1nentos, feitos de bronze, cn1 rituais sagrados e cerünônias de casmnento.

No Japão, um gigantesco tan1bor chan1ado o~tail<.o é percutido no ritual "Bate o Coração da Mãe,Terra". Alén1 disso, consideran1,no diretatnente ligado à história sagrada do Japfio e ao culto original elo xintoísn1o. Encontran1os ainda os de tnenor tan1anho, con1o os pequenos shime-tail<o, que emitern un1 alto diapasão. A n1anipulação desses instrun1entos japoneses in1plica uma sintonia perfeita de n1ãos e pés, onde gestos coreografados não são sin1ples espetáculos, znas sin1 a evocação ritual dos kamis (espíritos universais), invocando,

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os para a boa colheita, pr1ra a chegada da primavera e a identi~

ficação dos homens com a terra. N ativos norte~americanos tam bén1 associmn os toques

às batidas do coração da Mãe~Terra e ao som do útero, pois dá acesso à forca vital através de seu ritmo. Para os Xamãs, é ., veículo para invocação de espíritos, para curas e para afastar a força do mnl. É o instrumento de comunicação en tre o Céu e a Tcrni.

No Vodu haitiano, cmpregmn~se alguns outros n1odelos como: o boula, o sccond e o manrrum, também chamado de assotor.

Existem também os Damarus (instrumentos d e Shiva),

·t umbadoras cubanas, tablas indianas, além dos usados no Tantra e no Budismo Tibetano.

Nos cultos africanos, como o Candomblé e a Um banda, religião de terras brasileiras, entre m uitas derivações, o 1nais comum é o conhecido atabaque.

Há ainda outros instrumentos considerados de grande

poder, como os marac::ís e chocalhos, m uito ut ilizados na A mérica do Sul, principalmente pelos indígenas, feitos de cabaça, cascos de tartaruga ou chifres de gado, contendo, em seu interior, sementes ou pedras. São utilizados para que, brar a energia estagn3l-b , para abertura de rituais, exorcisn1os e trabalhos de cura, além de seren1 ótin1os para a marc;:~ção

dos ritmos.

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Religiões Afro, Brasileiras que U tilizafll Talllbores

No Brasil, existem diversas seitas e religiões que utilizam esse tipo de instnm1ento de percussão em seus rituais sagra­dos. Entre elas, destac:un~se aquelas que se originaram dos

povos indígenas e africJ.nos, corno as que seguem:

Umbanda

É uma religião universalista, com diversos detalhes en­contrados nas mais variad as religiôes e seitas d o rnundo. Porérn, não é difícil identificar que n a U mbJ.nd a, três bases

religiosas têm pape l fundamental em sua form a de atuar: o espiri tismo, o catolicismo e os cultos africanos. A tudo isso, somamos ainda o conhecimento e a cultura indígena.

Semelhant e ao espiritismo, possui co municação entre médiuns e espíri tos desencarnados, baseando-se n a doutrin8 de Karcl cc, com re lação aos estudos dos fe nô-

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Page 21: Sandro Da Costa Mattos - O Livro Basico Dos Ogans

menos m ediún icos e n a crença d a ree n carn ação e na evo~ lução do espírito .

Do cato licismo, herdou principalmente o sincretismo com os Santos, po is, a todo o mon1ento, os umbandistas reve ~

ren ciam tanto os Orixe:ís quanto esses Espíritos d e altíssima

_elevação, que m uito auxiliam ern seus t rabalhos.

Já dos cultos africanos, é no tório que a Umbanda rece­beu grande influên cia, principalmente a través dos espír itos de negros escravos, os Pretos~ Velh os, que trouxeram, en1 suas manifcstaçücs, mui tos ensinamentos que serviram para incor~ porar, ao ritual, ele me n tos que a té então eram típicos, princi­palmente, do C;;mdom blé .

Os indígenas (Caboclos) contribuíram com seu conhe~

cimento sobre os vegetais sobre a manipulação de energias através da pajehmça, usadas prin cipalmente no cornbatc às forças inferiores, na prMica da cura etc.

Qucmto à sua origem, a versão 1nais aceita entre os adeptos é a da n1anífestaçf:lo do C aboclo Se-te Encruzilhadas, em 15 de novctnbro de 1908, qm1ndo incorporado no ainda muito jovem Zélio Fern<indino de M oraes, na sede d a Fede­

ração Espírita do Rio ele Janeiro. Porém, essa história não é uma unanimidade , pois existern aurores que defendem que a Umbanda nasceu há muito tempo a trás, n a lendária A tlân­ticla, ou, aind8, que ela seja um a ramificação direta ele c ultos african os que d avarn abertura à m anifestação dos espíritos dos seus antepassados. Pa rticularmen te, a credito que, como form a de cu lto oficial, essa m aravilhosa religião nasceu siln com o Caboclo das Sete Encruzilhadas, mas que, como força d e atuação, d esde dos primórdios da hmnanidade, até porque e la trabalha com as en ergias que regem a n atureza.

E se a Un1banda, cmno culto oficia l, p assou a ser aceita con1o religifio a partir do evento corn Zé lio de M oraes, n ão podem os esquecer das pabvras do Caboclo, declarando que se iniciava, naquele momen to, um novo culto em q ue estavam

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presentes os espíritos de velhos africanos, que haviam servido como escravos e q ue, desencarnados, não encontravam cam , po de ação nas seitas negras, jc.í. deturpadas e voltadas muitas vezes para os trabc:dhos de feitiçarias, e de índios, nativos de nossa terra, q ue por el a poderiam trabalhar cm benefício dos encarnados, independendo da sua raça, credo ou condição social. Disse também que a prática da caridade, r1o sentido do amor fraterno, seria a característica principal desse culto, que teria, por base, o Evangelho de Cris to, e, com.o M estre Supremo, Jesus . Entre 8S normas estabelecidas, seus pe~rtici~ pantes deveriam estar uniformizados de branco e o atendi~ 1nento seria totalmente gratuito.

Aproximadamente na década de 50, um novo segmen~ to, denominado Umbanclct Esotérica c Iniciática, foi difundido principalmente por '.::J./ W da Mata e Silva e seus discípulos, muito embora, anteriormente a isso, 1nensagens enviadas pelo Caboclo M irim através do médium Benjamün Figueiredo, já falavam sobre essa escola umbandista.

O mais importante não é a nmnenclatura utilizada, se Utnbanda Bran ca, Mista, Esotérica, Iniciática ou Popular, mas, sim, seguir as méÍxín1as ensinadas pelo Mestre Jesus, Nosso Pai Oxaló: "Amai-vos uns aos outros" e "Fora da cnri~

dade não h8 salvac8o" . .>

Candomblé

Religião de culto aos Orixás, praticada pelos negros africanos, que sobreviveu e ainda cresce nos díe~s atuais.

Nasceu da mescla das diversas culturas encontradas entre os povos trazidos ao Bra.sil, para servir de 1não~de~obra escrava no período colonial. Essa mistura fez com que, aproxin1adamente, quinhentos Orixás cultuados no início fossen1 absorvidos em aproximadamente dezesscis O rixás, louvados nos tempos a tua is.

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Un1 f8tor irnport8nte para 8 sobrevivência do culto às proibições vindas da Coroa Portuguesa, onde, assim como ern toda a Europa, o cristianismo imperava, foi a adoção do sincretisn1o, no qual os negros relacionaran1 seus deuses aos

Santos Católicos. As principais Nações encontradas são: Ketu, Jeje (ou

Gege), e Angola, com ztlgumas características próprias, con1o o díaleto, a hierarquia, e até a nmnenclatura dos Orixás.

Xangô

Muito próximo ao Candomblé, é cmnun1 principal~ mente no Estado de Pernambuco, sendo tambén1 chamado ele Xangu ele Recife ou do Nordeste.

Batuque

Religião de culto aos Orixás, praticada principalmente no Estado do Rio Grande do Sul, fruto dos povos da Costet da Guiné e d8 Nigéria, con1 suas naçôes Gege, !fexá, Oyô e Nagô. Surgiu no período de 1895 a 1935 e o principal respon~ sável por sua difusão foi o príncipe africano Manoel Custódio de Almeida que, na África, tinha outro nome. Já pode ser encon~ trada em países vizinhos cm no o Uruguai e a Argentina. Entre os instrumentos utilizados, existe Lll11 tambor chamado lnhã.

Tambor--de--Mina

Difundida no Maranhão e na Amazônia. A palavra L!Tambor" derivc:t da importância do instrumento nos seus rituais. Já 11Min<1" vem_ do negro da Costa de lv1ína, denomi,

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nação cbcb <:tos escravos procedentes da 'c costa situada à leste do Castelo ele São Jorge de Mina,, conhecidos principahn ente como negros mina -jejes e 1.nin a-nagôs.

Atualrnente, embon1 pouco cultuada, essa Nação ainda vive ativa n D região de O linda, no Estado de Pernambuco.

Omolocô

Difundido pelo Ti1ta Ti Inkice Tancredo da Silva Pinto, é parecido com o Candomblé tradicion a l, mas com rituais próprios. Com base nos Orixás, tem feitura de santo, sacrifício animal e ca1narinha (roncó), porém tmnbérn ten1 a incorpo­ração de espíritos de caboclos , pretos-velhos e outras entida­des da Umbanda tradicional. Alguns o classificam con1o U m-­banda Primitiva ou de N ação.

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O Atabaque

Constitui~se de um tambor cilíndrico, ligeiramente cônico e comprido, onde apenas a abertura tnaior é coberta por couro animal (de bode, carneiro ou boi) .

Instrumento musical de percussão que pode ser tocado somente cmn as mãos ou ainda com baquetas (varinhas) espe~ ciais feitas de galhos de goiabeiras ou araçazeiros, chamadas

ag~âdavis. Seu nome tem o rigem árabe, at.-tabaq, que signific8

(( " prato . Descendentes africanos ínformarn que os primeiros

atabaques eram feitos de cerâmica. Depois passaram a usar troncos ocos de coqueiros e palmeiras, e só após algum tempo vieram a construí~ los com a madeira da gameleira (árvore sagrada do Candomblé).

Pelos materiais u tilizados em sua confecção, podemos notar sua importância nas religiões afro~brasi leiras, pois temos, na madeira, o Axé de Xangô, nos aros de metal, a forçrt de Ogum e Exu, e nc1 pele de origem animal, a influência do Oríxá caçador, Senhor Oxóssi.

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Denom.inação e utilização dos atabaques

São classificados pelo tamanho, chamando~se Run, Rumpi e Lé. Existe também o Contra,Run, porém, esse é

pouco utilizado: Run: o n1aior deles, de tom grave. Seu nome ?ignifica,

em iorub:cí., voz (ohún) oq rugido (hün). Rutnpí: menor que o Run e tnaior que o Lé, de tom

mediano. O nome, tatnbém em iorubá, ten1 o "hün" (rugido) mais o a pi" (imedi8tan1ente), ou seja, indica a sua posição na

orquestra de atabaques. Lé: é o menor do trio e ten1 o som mais agudo. O nome

na língua Ewe faz alus·Jo ao seu tamanho, pois significa j)cqueno (Iee).

Nos terreiros, etn especial no Candomblé, o Run é res~ pons:ível pelo solo music:1l e variações melódicas. O Rumpí e oLé possuem a função de dar o suporte musical e a numu~ tenção constante do ritmo. Na Umbanda, nem sempre isso ocorre, pois normalmente os ata baques são tocados ao mestno tempo, de forn1a tnuito parecida pelos instrum.entistas, mudando, às vezes, de pessoa para pessoa, a forma de fazê~ lo· e a ordem das passagens (repiques) durante o toque, com igual êxito junto às divindades.

. Os atabaques, também chamados de Ilus, Angombas ou EngonlaS na Nação Angola, como instrume:1tOS sagrados que são, Í1ão devem s<1ir do recinto do terreiro a menos que seja pam

uma obrigação religiosa, como, por exetnplo, os trabalhos nas matas, nas praias e nas cachoeiras, ou, ainda, por algo que faça pmte da tradiç8o, como <1S visitas entre tendas conhecidas. Também não devem ser per cu tidos por pessoas não preparada.s par<1 esse fim, pois isso poderia acarretar numa ((quebra de

energia.s" existentes no instrumento ou ainda na transmissão de vibr8ções que n8o seriam benéficas à pessoa despreparada.

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Seu som é condu tor do Axé do Orixá. A vibração do couro e da madeira interagindo geram forças capazes de rela, cionar,nos diretamentc com os mais altos (ou baixos) campos vibratórios, de acordo com a necessidade ou vontade daqueles que os fazem soar.

A afinação destes t<:1mbores tem como aspecto primor, dial: a diferença de ton<.11idades entre eles, vindo da grave (1nais baixa) à aguda (mais alta) . Para um bom equilíbrio, é importante que haja harmonia sonora, ajustando , os de acor, do com as exigências d <l acústica locaL

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Instrumentos Auxiliares

Adjá: é uma sineta de metal, usada em especial nos Candom blés e nos Xangôs (Recife) de origem iorubá, cuja finalidade é chamar os filhos,de,san to para reverenciar os Orixás .

Agogô: significa :üno e1:n íorub:i É formado por mna cam p8nula simples ou dupla de ferro, dotada de cabo, tocada por urna b8queta de nl<.H.:I.eira ou ferro. Existem tatnbén1 os de três ou q uatro c8nlpânulas. O ritn1o padrão norrnalmente é 1nantido, n1as ilnprovisações de variações poden1 ocorrer de· acordo com os outros instrumentos.

Campa: sineta. Em alguns casos, é confundida com o adjá.

Ganzá: chocalho e laborado por mn pequeno tubo fechado cmn sernen tes em seu interior. Tmnbém conhecido con1o amelê. Existem outros formados por pequenos cestos entrelaçados, fe itos à m ão, en1 cujo in terior trazen1 areia ou pequenas pedras.

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Caxixi: chocalho composto de fios de junco trançados com setnentes ou conchas en1 seu interior, cujo fundo é feito de couro ou por um pedaço de cabaça.

Afoxé: é constituído por un1.a cabaça redonda que se afunila para formar o cabo. Tem contas de plástico trançadas em sua volta amarradas por fios.

Xequerê: também feito por uma cabaça, porérn tnaior que o afoxé, daí transmitir um smn mais forte, sendo que o lado maior da cabaça produz um tom grave. Posso citar três maneiras de tocar esse instrumento (assin1 cmno os afoxés): segurar a cabaça reta e sacudi-la para frente e para trás, o que produzirá sons agudos e curtos; con1 o cabo em un1a nü1o, girá-la, e, com a outra, pressionar as contas, friccionará as mesn1as contra o corpo da cabaça; ou ainda, sacudir r~

cabaça e tocá-la con1 a nutra 1não no corpo do instrun1ento.

Na orquestra ritualística, ainda podetn ser encontrados o pandeiro, o berünbau e o reco-reco (estes praticamente não são utilizados).

Devo letnbrar que tudo o que for usado nos rituais deve, prin1.eiramente, ser preparado e firmado para que possa real­mente ter sua força divina ativada. Qualquer instrmnento (inclusive os auxiliares) sem o devido preparo rninistrado dentro do ritual do Candomblé, ou por uma Entidade na Utnbanda, não passa de um simples instrun1.ento musical como muitos encontrados em bandas, orquestras, rodas de capoeira e grupos de afoxé.

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Os Ogãs

Os ogãs têm um cargo hierárquico de a lto esca lão d en­tro de urn terreiro, pois cs t~o logo abaixo dos sacerdotes prin­

cipais (Babalaô, Babá, P<Klrinho, iv1adrinha ou dirigente espi­

ritual, bem con1o ao P<-li ou Mãe-Pequena), sendo assim, por

excelê ncia, autoridades na casa, fazendo, de certa forma, parte

do corpo sacerdot<1l. Não é qu<llqucr um que pode ser O g5. N8 Umbancb,

normalmente silo indicados pelas Entidades. No C andomblé,

o Orix<1 é quem o indicn, ou num termo mais utilizado , o lcvcmta, passando esse <"1 ser chamado d e Ogã AfJonwclo ou Susf)enso. Sacerdotes <J e amb8s as rdigiôcs, <lt.r ~nrés da intuiçil.o, tarnbém podcn1 determinar se urna pessoa será Og5.

O s Og~s tamhérn s;1o elementos de extrema irnpor­tâncicl e confia nça elo líd er espiritual. Possuem a capacidade de <·Hivar energias, sendc) entRo muito ilnport c:m tes pa ra <l

força vibrat:ória elo terreiro, pois devem ser conhecedores de

rcws c fund anlentos de cada Orixá, alérn de saber a hora

exnta de cntot1r cí1d<1 canto e toque, d e Clcordo com a neces­sidade do trabalho.

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Sacerdotes especialistas no louvo r aos O rixás, guias e 1nentores, são respons<1veis também pela alegria e vibração positiva do te rreiro.

A Um banda possui ensinmnentos e fundamen tos espe~ cíficos para a formação e o fortalecin1ento dos Ogãs, confir~ mando assiln o que De us já consagrou, 1nuito en1bora perce~ bamos que, diferentemente do Candomblé, talvez por falta de conhecimento dos adeptos ou até mesmo do dirigente, en1 algumas casas, seu cargo tem um sentido de menor valor en1 relação aos demais membros da comun idade, o que não é verdade. Como di to anteriormente, são sacerdotes e assin1 devem ser tratados.

Existem diferentes denominações para esses "esco ~ lhidos'' do astraC como Ogãs-de-couro ou instrumentistas, Ogãs~de-canto e Ogãs honoríficos.

N o Candon1blé, onde o cargo pertence somente a ini­ciados do sexo masculino, ainda encontraremos o Ogã~Axo~ gum ou Mao-de-faca, q ue é o responsável pelos sacrifícios dos anin1ais oferecidos aos Orixás, Ogã~de-Ofá ou Mão~clc­Ofú (aquele que colhe as ervas pare:~ os rituais sagrados) nor­malmen te são ligados ao O ríx::1 Ossaim), Ogâ Lejo e LeTe (res­pon sáveis por un1a parte elo ''padên) e Ogã-de~entrega (leva 8S oferendas nos locais de assentamen tos determinados pelos O rixc:ls).

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Títulos e Cargos dos Ogãs

lvfesmo entre os Ogãs, existem denmninações próprias de acordo com a função de cada um no terreiro, muitas vezes

determinada pelo tempo de iniciação, ou, ainda, por ordetn do n1entor espiritual. São elas:

Ogã Alabê (ou Alabé): é o comandante dos Ogãs, responsável direto pelos atabaques e instrun1e_ntos auxiliares dentro dét casa. Na Un1banda, norn1alrn.ente é escolhido pelo

guia chefe da tenda paw essa função. Na hierarquia, é o ter­ceiro sacerdote, ficando diretan1ente abaixo dos dirigentes.

Deve ser grande conhecedor da religião, suas açôes e mirongas, além de tmnbém saber tocar todos os instrurnen tos musicais consagrados para os diversos rituais do terreiro.

Te1n o dever de ensinar os O gãs 1nais novos os toques e cânticos apropriados a cada sessão. O termo deriva do iorubá e significa ala (dono) ap:bc (tarnbor), ou seja, "dono dos tan1-bores". Algumas casas subdividem esse cargo en1 duas catego­rias: Otun-Alabê (mais velho en1 iniciação e conhecimento) e o Ossi.-Alabê (mais jovem), sendo que essa disposição só

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pode ser alterada pela morte de um dos representantes ou através da interseção dircta do guia chefe do terreiro (ou do guia responsável pelos Ogãs) .

O Alahê deve conhecer a magia dos pontos can tados} além dos toques corretos, sabendo utilizá-los no momento tn ais apropriado. Normalmente os A labês possue1n a facili­dade de receber intuitivamente várias cantigas que deverão ser adoradas dentro das necessidades dos trabC!lhos espirituais.

A ele cabe a responsabilidade de preparar os instru­mentos antes do in ício dos trabalhos religiosos, ben1 como o de fazer certas obrigações de reenergização dos mesmos, sendo que algumas delas são feiws cm conjunto com os outros Ogãs.

Em m uitos terreiros, o A labê deve tocar o Run; porém essa não é uma Lei dentro elo ritual umbC!ndis ta. Se um Ogã que integra o terreiro for destinado à função de Alabê c j;1 estiver acostutnado a outro a tabaque (Rmnpí ou Lé), não será necessário proceder a troca de instrumento pelo fa to de adquirir a função de chefia entre os Ogãs da tenda.

Na Nação Jeje o chefe dos Ügãs cha1na-se Pegigã (Se­n hor que zela pelo A lt;H Sagrado), e na Nação Angola, Ta ta .

Ogã Calofé (ou Kolofé): nome dado ao O gã tocador de atabaq ues. Deve conhecer os toques c c8nticos utilizados nos trabalhos, sua fonna corre ta de aplicação e, tan1bém, dentro do possível, saber tocar os instrun1entos auxiliares e cantar os pon tos de acordo com as necessidades do terreiro.

Na hierarquia, est<'1 logo abaixo do A labê e, n a sua au­sência, atua como seu substitu to clírcto.

N a Nação Angolc1 é denominado Xincarangon1a c na Jeje cmno Runtó.

Os Calofés são muito importantes para o terreiro, pois fazem a marcação rítrnica adequada a todos os cânticos ritualísticos.

Entre eles, a ordem hien-.1rquica será de terminada pelo tempo de inicinç5o de cada Ogã, o u, ainda, o ten1po na cas:1.

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Ogã Berê: em fclse de iniciação e aprendizado. V<li, aos

poucos, dentro de urn certo período e de acordo con1 a confi<lnça conquistad<l junto ao corpo de Og5s, em especial ao /\la bê, <1dquiríndo conhecimentos como os toques, cantos, fundamentos e obrig<1Çl-)CS. Híerarquicmnente está abaixo dos

Calofés, <lO lado elos Ogãs a uxilíares.

Ogãs auxiliares: sii.o aqueles que tocam os outros ins~ trumcntos que acompanham os atabaques, como o ganz<:1 e o agogô. Devem ser tão respons<l.veis quanto os Ogãs-de-couro, pois seus instnnnentos Lllnbém são preparados e, por isso,

t5.o consagrz~t.-los quanto os t::~mbores.

Ogã~de,canto (ou Curin1beiro): é o responsc'lvel pelos pontos cantados no terreiro. Deve ser um exímio conhecedor cb magia dos pontos c seu uso correto, pois um ponto puxado de fon11e1 errada poder<1 acarretar sérios problemas num traba­

lho espírítual. Nccess::n-ian1ente não precisa saber tocar instru­mento algum. Urn Ogi'i de canto bem preparado, que conhece aquilo que fJz, cst<~ num p;;.tamar hierárquico equivalente ao

dos Og~s Calofés.

Ogã honorífico: este título pode ser concedido :-1 uma pessoa que n;l.o p<trticipe e(ctiv<.lmente da casa, rnas que tenha importância na sociccbcle como um todo. É um cargo que não implica cm nenhum tipo de iniciação.

Algumas casas têm o Ogã~Obá (ou Ogã~Rci), que

é um<l alt<1 dignidade dentro do corpo de Ogi'is. É um título honorífico, pois nem sempre pnrticip<1 do dia-<1-di<l da casa. Normalmente a pessoa recebe o termo acres­cido ao nome do orix<) correspondente ao guie1 mentor da tenda. Exemplo: Üg<1-0b<:1 de ÜxJlcí, Og5-0b,í de Ogurn, e assim por diante.

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N o Candotnblé e dem.ais cultos de origem africana, onde a uti lização de sacrifício animal faz parte da maioria das obrigações, h á um indivíduo que ten1 um papel funda~ mental: o O gã,Axogunl, popularmen te conhecido como ''Mão,de~faca''.

Seu conhecirnento é de extrema ünportâncía, pois deve saber qual o animal a ser sacrificado para cada Orixá, alén1 de algumas das suas características, que sã_o n1uitas vezes índis~

pensáveis, como: a cor, o sexo, o núrnero de patas, e assim por diante. A fon11a co rreta en1 que processa a matança tam~ bém deve ser levada em conta, pois se o O rixá recusar a oferta, poderá cobrá~la em dobro.

Para cun1prir com essa missão, antes de tudo deverá receber o j)receito de /(Miio~cle~faca", dentro de mna cerimônia especial.

É imprescindível que fique claro que o Axogum é un1 cargo que não deve fazer parte na hierarquia de Umbanda, até porque essa não é adepta ao sacrifício de animais, u tili ~

zando, ern suas ofertas, outro tipo de matéria con1o, por exen1~ plo, flo res e frutos.

hnportantc: a ascensão dos Ogãs dependerá principal~

n1en te do seu conhecimento relacion ado ao ritual e à liturgia urnbandist::1 (ou dos cultos afros) . O rnaís irnportante é o Og5 ter amor, dedicaç8o e buscar sempre o conhecimento. Lembre ~sc de que , humildemente , é o O gã que deve pedir aos Orixás p8ra que escutem nosso chamado e que tenham 8

n1iserícôrdia de respondê~lo, pois nada é 1nais prazeroso do que a vinda dos Orixás, guias e n1cntores à Terra p::trél nos abençoar, trazendo o axé e o conforto de que tanto precisarnos.

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Outras Denominações dos Ogãs, Encontradas nas

Diversas Nações Africanas

M esmo entre as Nações de Candon1blés provenientes da mesn1a regiào africzm<.-1, a diferença entre a classificação de seus rnembros pode ser n otada. .

Aqui , apresento algumas maneiras com que os Ogãs s8o chamados nestas Naçôcs:

Nação Angola--Con go (termos usados n o Brasil)

Kam.bondo poko (Angola) - sacrificador de anilnais Kivonda (Congo) -quem sacrifica os anitnais M uxikí (Angola) - tocn.dor de atabaque Kuxíka ia ngombc (Congo) - tocador de atabaque Njimbidi - cantador, curimbeiro

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Nação Bantu (inclui,se Angola e C ongo)

Kambondos - Ogãs em geral Kambondos Kisaba ou Ta ta Kisaba - responsável pelas folhas '"Iua N Ganga :._umbido- guard ião das chaves do barraccio Ta ta Kívanda - responsável pelo sacrifício dos anünaís Tata Muloji - prepméldor de encantamen tos, usando folhas e cabaças Tata Mavumbu - aquele que cuida da Casa de Exu

N ação Jeje

Além do Pegig8 c do Runtó, outras denominações usadas são: Gaipé, Gaitô, Arrow e Runsó.

Nação Ketu

lyan1o r<J- responsável pelo Padê de Exu O lôgun- despacha os ebós das obrigações Babt:1lossayn- respons;1vel pela colheita das folhas (Kosí Ewé, Kosí Orixá)

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O Ogã e Sua Mediunidade

Eis uma frase mui to con1un1 nos terreiros: "Não sou médium, sou Og~t, ou então ... "Ele não é médium, é só Ogã".

Pois bem, aqueles que assim pensam, con1 certeza fica~

rão surpresos, pois posso afirmar que o Ogã ten1 n1ediunidade. O que lhe difere da maioria dos m.édiuns é que a tnediunidade se manifesta através do "Dorn Musical".

Quem nunca viu uma criança que, mesn1o sern nunca ter assistido a uma aula de n1Üsica ou percussão, sabe tocar vários ritmos, dos mais variados encontrados num terreiro, mesmo que inconscientemente ela não saiba o que está fazcn~

do? Este é um fato até certo ponto comun1 entre famílias que s8o da religião.

Classificada como Mediunidade de Lucidez Artística~ Musicista, age em especial nas mãos e braços (chakra bn1 ~

quial) em Ogãs~dc~couro, ou nas pregas vocais (chakn1larín~

,E;eo) nos Ogãs~de-canto. Qmmdo preparadas pelas Entidades, estas regiões são irradiadas e iluminadas pelas forças astrais.

Como qualquer médium, veio a este orbe con1 uma Iniss5o predeterminada pelas forças superiores (Senhores do

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Kanna), para que nesta enGlrnação pudesse auxiliar no Ex é r~ cito de O xalá, nosso Mestre Jesus Cris to, e dentro da magni~

tucle de Deus, foi~lhe indicada a fu nção de tocar e cantar para os O rixás Sagrados c part1 as En tidades que auxiliam na Umb;:mda.

Todo Ogã tem a obrigação de cuidar e de buscar o apri~ moramento de seu dom, que é nlllito importante dentro de um terrei ro , pois é ele o responsável pdo toque ou canto que vibrará nn Aruanda, como un1 elo de ligação entre os 1nen1~ bros da gin1 e as Entidades de Luz.

Seu desenvolvimento e crescin1ento mecliún ico depen~ dcrão exclusivamente de si próprio, pela disciplina, força de vontade, fé e respeito para com as obrigações. Dessa form8, podení, com o ternpo, obter maior facilidade no aprendizado de novos toques, bem como terá aumentada a sua recepção in tuitiva, usada pelos G uias na transmissão de novos po ntos cantados a serem adotndos nos trabalhos espirituais. A ssim, já deixo claro que os Og5s também podem manifestar mais de um tipo de mediunidade.

No Candomblé, nenhum O gã pode 1nanifestar Orixá, ou, numa linguagem mais cornum ao povorde~santo, não ((bola no santo", bem como as Ekédis, que são as n1ulhcres que cuidarn do terreiro e de tudo relacionado aos O rixás. Se, por acaso, passam a desenvolver esta cmnunicação, rnudam de cargo na hierarquia. Esta talvez seja a principal difcrençCI entre o Ogã de Umbanda e o de Candomblé.

Na Umbanda, de cer ta forma, é natural encontrarmos O gãs que, além do dom musical, possuen1 a medi unidade de incorporação. Lógico que fazem parte de uma n1inoria, porém é possível, pois a.s pesso8s podem desenvolver vários pontos receptivos ao mundo da espiritualidade (chakras), muito em~

hora, normalmente, desenvolvam un1 tipo de medi unidade mais marcante e outras de menor intensidade, além de algu~

mas manifestaçf)es rnediúnicas que pcxlem ocorrer esJX>radicamente.

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É importante salientar que, q uando cmneçmn a sentir a irrad iação de seus Guias, deven1 pedir autorização para dei~

xar o atabaque e incorporm-,se aos outros n1embros da gira, prevenindo assün acidentes ou outros proble1nas durante a sessão.

Muitas vezes, este pode ser o início de uma nova missão enviad a do Astral, pois não é nada incmnUin encon trarmos dirigentes que un1 dia for8m Ogãs~de~terreiro . ·

Outros tipos de mediunidade também podem. se desen~

volver (como ele cura, ü1tuição, vidência etc.), pois para Deus tudo é possível, mas é bom saber que não é a quantidade de dons que a pessoa possui q ue a fará n1elhor ou pior d o que as outras. O mais itnportante é cmnprir seu dever da forn1a mais correta possível, com amor no coração. Às vezes, un1 n1édiLm1 que ainda não descobriu o tipo de tnediunidade que vibra com maior intensidade sobre si tem 1nais força q ue aquele

cheio de dons, que não sabe usá,los, o u pior ainda, que não tem disciplina ou respeito por seus deveres espirituais.

Todo médium tem sua utilidade dentro do terreiro, desde os dirigentes, os cambonos e 1nédiuns de incorporação

aos outros au xiliares que ajudan1 na curimba ou ainda segu­rando alguém que poderia cair. Assim digo aos Ogãs parCJ que lev8n tem suas mãos aos céus e agradeçan1 a Zambi pelo dom divino que têm, pois é através de suas tnãos e canto que os sons sagrados fluem na Aruanda dos Orixás.

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Iniciação do Ogã

Existe uma grande diferença entre a iniciação do Can~ d01nblé e da U1nbanda. Ambas são ceriinônias n1uito especiais dentro do terreiro, com suas magias e uüro ngas, próprias de cada segmento.

No Candomblé, antes da iniciação, cmno foi dito ante~ riormente, o Ogã será escolhido pelo Ortxá, sendo então cha~ tTtado de Ogã Levantado, pois nesta ocasião ele senta nun1a cadeira especial e é erguido para que todos o veja·m como {(o

indicado". No dia da iniciação, recolhe-se·o iniciando peia manhã

n a cmnarinha, com corpo lilnpo e vestes brancas, após un1 banho de Abô.

Prüneiro despacha ~se Exu e ele senta numa cadeira de costas para a rua. Cantando para o Orixá do iniciado, sacrifi­ca-se mna ave para seu Olorí e o ejé (sangue) do anünal deve gotejar na coroa (cabeça), na pedra de cada Orixá e nas mãos (pahna e costa). Depois sacrifica-se outra ave, agora para seu Eledá e repete- se o ri tual. Feito isso, sai do Ron cô, sob um A lá seguro por quatro filhos do terreiro, e 1.nna volta

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completa em torno do Abaçá é percorrida. Logo após, as pedras dos Orixás são levadas para o salão e o iniciado prestJ o juramento de servir à religião, ao Orixt:1, ao sacerdote e ao terreiro. Um obí é triturado e levado, um pouco, à boca do filho c o restante, com água, é despejado em suas mãos. Assim está feito o jurarnento e às expensas do Ogã é servido o rrwjé jé um (alimento), na folha de papel e sem talher, numa grande festa que ele assistirá, sentado na cadeira de braços.

A partir daí, todos terão a obrigação de lhe ton1ar a bênção. Este ritual podem udar de acordo cmn a Nação de cada

terreiro ou Ilê. Já na Umbanda, normahnente ele é informado por um

Guia de sua missão. Se o indivíduo ainda não foi 11111 Ogã de outro terreiro, deverá, antes de tudo, aprender os toques e as cantigas com os Ogãs mais antigos, en1 especial, con1 o Alabê.

Un1 Ogã portador de dom natural terá grande facilidade p8ra aprender o n1ínitno necessário antes do dia de sua integração do grupo ele afins da casa.

A pessoa então deve se preparar para a cerimônia de

cruzan1ento na pemba, onde, somente a partir daí, estará apta a participar da engira. Essa preparação é passada pelo

Guia Mentor da casa, incluindo banhos, novenas, ou outras obrigações, de acordo com o fundan1ento do terreiro.

No dia estipulado, o iniciando, depois de cumprir as obriga­çôes que lhe foram passadas, vai ao tetTeiro, cmn sua roupa branca e as guias (colares, fio-de-contas) referentes aos Orixás da casa. O Guia Mentor é quem faz toda a cerimônia. Cruza-se com a pemba a testa, o coração, as mãos, os pés e a coroa da pessoa. Tudo ocorre ao som de um ponto cantado próprio para o momento.

Ilun1inado com um8 vela, o iniciando prestará o jura­mento de fidelidade a Oxalá e ao terreiro e de respeitar ao Pai ou Mãe-de-Santo, :1o Pai ou Mãe-Pequena, ao Alabê, aos Og3s e a todos os outros participantes da engira. Essa parte é igual para todos os outros 1nédiuns.

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A segu nda parte, própria da iniciação do Ogã, pode

ser feita pelo M en tor ou ainda por mna Entidade especialista

que é responsável pda in iciação, fi rmeza e axé dos O gãs. O Alabê é chan1ado , bem como os outros instrun1entistas que

compõem a orquestra da tenda. Todos elevam as mãos, forne~ cendo energias, enqu i=lnto a Entidade fc.tz a preparação cbs

m ãos do noviço com pó de pemba, ao 1n esn1o tempo em que

p rofere urn engorossi (prece) sagrado, em sua língua n a tiva.

O A labê colocc1 suas mãos sobre as do iniciando, e o Guia Espiritual celebrante envolve~as com o pô de pemba,

unindo~as energe ticamente . D epois o Guia (o u às vezes o A labê) escolhe qual dos

atabaques que o novo O gã u tilizaní. . O instn nnento é levado

ao cen tro da gira e prepan1do para q ue o recém~admitido tatnbém possa toccí-Io. iv1ais uma vez o pó de pen1ba é usado.

Ele toca no tambor escolhido, seguido depois pelo Alabê, e finalmente é acompan hado pelos outros Ogãs do terreiro .

A Entidtlde o abraç<:l, seguida no gesto pelo A labê e pelos demais Ogãs . A seguir todos os outros participantes da c asa tan1bém o saúd arn, dando~ lhe boas~vindas.

N ão existe a obrigatoriedade de tomar sua bênção, n1as o respeito a ele deve ser cumprido, por tudo que já foi passado

anteriormente nesta obra. O s rituais podem mudar de terreiro para terreiro, pois

sabemos que a U mbanda não é uma religião q ue segue uma

cochficaç5o, um modo de ::1gir igual em todas as tendas , a té po rque t raba lham com m entores que possuem conheci~ m entos e fundan1entos diferentes; porém, na Umbanda, não

existe o recolhimento na camarinha ou Roncó e por ser um3

religião cristã, muito men os deve~se sacrificar animais na

iniciação de qu alquer fí lho-de~santo, n ão sendo diferente qu anto 80S Ogãs.

D epois de preparados c cruzados, rituais de confinnaç5o

e fortalecimento s8o realizados pelo Guia Mentor dos couros,

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como, por exemplo, o Bori de Ogã, que só acontece tempos depois de a pessoa estar no cargo, demo nstrando sua capaci­dade e lealdade tanto 8 religião quanto ao terreiro. Por ser uma obrigaç~o secreta , nfí.o tenho permissão para passar a maneira em que el<1 é feita; porém deixo claro que, diferen te­mente elo Bori feito no C <1ndomblé, neste não existe sacrifício animal.

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Cotnportatnento e Disciplina

Conforme já foi citado, o Ogã é mn médium com cargo sacerdotal dentro do ritual umbandista. Sendo assim, qual deve ser a sua postura?

Sua conduta precisa pautar-se na lisura e na retidão. Lógico que os Ogãs1 bem como todos os outros médiuns, possucn1 uma vida própria e têm o direito de aproveitar as coisas boas que ela lhes oferece. Porém é sempre bom le1nbrar que, certas atitudes e principalmente, alguns ambientes, não são condizentes com pessoas que possuem uma abertura à

recepção e trans1nissão de energias. Médiuns de modo geral obrigam-se a evitar o uso cons­

tante de palclvras de haixo calão, bem como freqüentar locais como bares, casas de jogo, prostíbulos, pontos de drogas e tantos outros lugares afins, já que, neles, as vibrações negati­vas são constantes devido à presença de espíritos atrasados, verdadeiros "vampiros <1strais, que estarão se1npre prontos a sorver o máximo de energia dos que lá estivere1n.

Um Ogã que freqüenta esses locais "pesados" poderá trazer uma carga negativa para dentro do terreiro. Sen1 contar

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o perigo que seria e le tocar o atabaque , pois suas mãos, que são os elos de ligação con1 o Mundo Espiritual, poderi<nn irradiar energias desastrosas, abrindo uma entrad e1 para seres

dos mais baixos Planos dos Urnbrais. Dentro da casa, ele eleve dar o bom exemplo disciplinm. Corno certas obrigações devem ser feitas antes do início

dos trabalhos, é aconselhc-1vel que, dentro do possível, ele também se antecipe à cheg8da dos ou tros n1édiuns, para quP h aj8 total concentração e tranqüilidade neste momento tão importante ao bom andamento da sessão. O in verso deve ocorrer nas obrigações realizadas depois do ritual litúrgico, onde os outros 1nédiuns saem do recinto sagrado para que os Ogãs possam ficar a sós. Tod a obrigação deve ser realizada sem pressa, co1n m uito cuidado e respeito.

Nas dependêncíets da engira, o Ogã deve estar concen~ trado n aquilo que faz, evitando conversas alheias aos traba~ lhos reali;::;ldos.

O respeito às En tidades é primordial. Quando uma delas estiver passando un1a rnensagern aos n1e mbros da casa, os atabaques devem ser silenciados, de n1odo q ue se facilite a compreensão de todos. Os Guias têm 1nuito a nos ensin Cir; por isso, ouça e aprenda.

Deve ser PROIBIDO o uso dos couros po r pessoas embriagadas, pois estas n ?ío estarão aptas a mna boa concen~ tração, sem contar q ue, muitas vezes, sequer vão conseguir tocar o ritmo correto.

Tam bém não deve ser permitido q ue os Ogãs toque m tambores de outros terreiros sen1 wna a utorização prévia do Mentor da casa, do G uia responsável por eles, ou ainda do Ala bê e do dirigente espiritual. Sair por aí tocando um couro aqui e outro ali, poderá acarret:u num grande problema, pois, cmno já foi fa lado, cada terreiro tem s~u fundan1ento e su8 form a de trabalhar. Não custa nada avisar previmnente da pretens<l visita e solicitar ao seu responsável que lhe explique

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que n1edidas devem ser tomadas para sua proteção antes e depois de tocar em outro terreiro. Agindo de acordo com as instruções recebidas, aí sitn estará apto a fazer seu toque de forma que não traga quizilas nem para si próprio e nem para o instnm1ento de sua C8sa. Se você já conhece a casa visitada e sabe que se trata de um lugar sério, onde não estaria cor­rendo nenhum risco de envolvimento con1 cargas negativas, e se não houver jeito de permanecer como un1 tnero expec­tador, caso seja convidado a assumir un1 dos instnm1entos, solicite ao seu Mentor (em pensamento) para que lhe dê pro­teção e depois faça um banho de descarrego para se livrar de possíveis cargas ou miasmas que possam vir a se in1pregnar em sua aura.

A hierarquia funcional deve ser respeitada, sendo que, entre aqueles que possuem o mesmo cargo, o mais novo na função dever<Í sempre respeitar e acatar as orientações do n1ais antigo, pois ele já reúne maior experiência e se encontra n1elhor adaptado e integrado aos fundan1entos do terreiro.

Além do regulamento interno, norn1almente encon; trado nas tendas e que deve ser obedecido, pode também existir um outro exclusivo para o corpo de Ogãs. Este deve ser elaborado pelo Abhê, incluindo das mais simples obriga­ções até deveres quanto ~l n1anutenção dos instnnnentos.

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Saudações aos Orixás e Linhas

É dever de todo Ogã saber as saudações corretas aos Orixás e o utras Linhas que atuam na Umbanda. Elas podem diferenciar de terreiro para terreiro porque existe mais de uma para cada Corrente, de forma específica.

Segue abaixo 8 list<-l dos Orixás e povos com suas respec­tivas s<1udaçôes:

• ZAMBI: Zambi~iê! • TUPA: Tupã-iê!

• OXALÁ: Exê-B<lh<-1!, Epa~B8h:1 !, Exê-uê-Babá! • OXÓSSI: Okê~Caboclo!, Okê~Arô !, Okê-Barnbi~o~ clíme !,

Okê-Oclé! • YORIMÁ ou IOFÁ: Adorei as Ahnas!, É pras Almas! • OGUJvf: Ogunhê!, Ogunhê meu Pai!, Ogum-iê!, Batacorê

(Patacori) Ogurn ! • IEMANJ Á: Odt>-si ~í!, C1dô~si8~b8 !, Oclô~i<í!, Od6-fê- i<1br1! • OXU.iv1: A iciet) Mami1e Oxum!, O raie -iê~ô!

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• IANSÃ: Eparrei!, Eparrei~Oiá! • NANÃ: Saluba Nan ã! • XANGÔ: Caô~Cabiecilê !, Kawo~Kabyeci lé! • IBEJI ou YORÍ: Amin-Ibejí!, Ori-Ibejí!, A mim-Bejada!,

Salve os A njos! • OBALUAÊ ou OMULU: Atotô! • BOIADEIROS: Jetruá!, Xetuá!, Xetrm'í !, Xêto-Marornba~Xêto !

• BAIANOS: Keodé a Bahia!, É pra Bahia! , Odê-o-dé Bahia ! • MARINHEIROS: Marí-Bahá! • ORIENTAIS: Ori-Bab,'l ! • ALMAS: Adorei as Aln1as!, É pras Aln1as!

/

• EXU: Laroiê !, Exú é Mojubá! Exu-ê! • POMBA-GIRA: Laroiê Bombo -Gira !, Ta la Talaia !

Outros Orixás

• OSSAIM: Eu~eô! • OXUMARÉ: Arô-Boboi!, Arô-Moboi!, A ô-Bobo i! • TEMPO: Te1npo-iô! • OBÁ: Obá~xireê ! • LOGUNEDÉ: Logun!, Ou~oriki!

O termo SARA VÁ, ou SALVE, poderá substituir todas as saudações, e ainda deve ser usado quando for saudar a Um~ banda, o Divino Espírito Santo, a abertura e encerrmnento dos trabalhos etc. Assim, quando houver necessidade de saudar alguém, algum ritual ou uma linha qualquer, e não se souber a fonna correta, deve-se fazer uso desses termos que estarão

plenamente de acordo com a exígêncía, pois un1a saudação fun­ciona con1o urna espécie de mantra sagrado que nos comunica diretamente com o Astral; daí a importância de não inven­tarmos termos c louvações. Sendo o SAM VÁ ou SALVE genéricos, vibram direto na Aruanda, pennitindo que as Enti­dades das n1ais divers8.s linh<ls possatn ouvir o nosso chan1ado.

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Saudações Especiais

Alérn das saudaçôes às Entidades e seus respectivos Orixás, existem outras especiais que seguem abaixo:

• CONGÁ: Adubalê~Pcji! (para bater cabeça no Congá) • DEFUMAÇÃO: Cheirou na Un1banda! • BABALAÔ ou YALORIXA: Auê~Bab,-1! • PJ\J,PEQUENO: Auê~Miri~Babá! • MÃE~PEQUENA: Auê~Miri-Cy! • OGÃ: Og8~nilu! • A UMA GRAÇ;\ RECEBIDA: Adobá! • PEDIDO DE PERDAO: ~v1aleüne! • PEDIDO DE LICENÇA: Agô! • LICENÇA CONCEDIDA: Agô-iê! • AO CHEGAR E:tv1 Urv1A CASA: Okê-Olorurn! • AC) SAIR DE U1vfA CASA: Olorum~Didê!

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Pontos Cantados

Tudo no Universo vibrél e evidentemente possui um

som próprio.

Verlbdeiros mantr<lS, os pon tos cantados pôetn em

movimen to ond as v ibratórias, produzindo assim uma m a ior afinidade en tre os plan os da matéric1 e do espírito .

Atnwés de pesquisas científicas , j~1 ficou provado q ue

os sons possuernurna freq liência peculim, têm cor e ernit.cm,

a tn1em ou dissipam cert~IS energias . Assim, podemos ~• firmar que os pontos ou "curimh:1S

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são verdaclei r<ls preces C8n tada.s que mostr<l.m a fé e <.l rnagi ;.l

da Umbanda, bem com() despertam a harmon ü1. vibratôria de um<1 gim, dinamizand o forças da natureza e fazendo~nos

e ntrar cm contato com as Forças Celestiais que nos regem. São, sem nenhuma d úvida, importan tíssimos para a hannoni­zaç8o e a efic'icia dos tr~l balhos dentro do terreiro.

Esses c~nticos ni'ío devern ser entoados a pen<ls d a l r . ":i _,E; . )OCa pr::1 10ra, m;.1s stm , com a voz c o coraçao . prectso,

antes de t udo, sentir c m s u a A lma aq uilo que está se.ndo.

e n to~1clo.

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Existen1 curimbas com as mais diversas finalidades: de abertura e encerratnento dos trabalhos , para defmnação, para bater cabeça (saudar o altar), para louvar linhas e Orixás, para quebrar demanda, para cruzamento de um médium na Lei ,de,Pemba, para coroação (confirmação), para cura, para o ri tua I do An1acf (banho de ervas para revitalização da mediunidade) e tantos outros conforme for a necessidade.

Assim, segue uma breve explicação de alguns tipos de pontos usados durante uma sessão mnbandista:

• Pontos de louvação: cantados em homenagem aos Orixás, Guias e Mentores espirituais.

• Pontos de saudação: para hmnenagear a religião, o Pegí (Altar, Congá) ou ainda em. homenagem aos sacerdotes, Ogãs ou outros convidados do terreiro.

• Pontos de firmeza: solicitan1 as energias provenientes do Astral Superior.

• Pontos de descarrego: cantados durante as d.efu, mações, os passes, os descarregas da casa ou ainda nas limpezas fluídicas através de tra balho com fundanga (pólvora). Este último utilizado para quebra de e nergias n egativas ou a destruição de larvas as trais que às vezes se Impregnam no corpo áurico de determinados in­divíduos.

• Pontos de chamada: entoados para a evocação das Enti­dades de Luz que deverão se 1nanifestar nos trabalhos espi, rituais por meio de incorporações mediúnicas, ou sin1ples­mente pelo espargimcnto de suas energias sobre os campos vibratórios dos terreiros .

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• Pontos d e dcn1anda: usad os pa ra ((q uebrar, u n1 <1 força nega t iva que q ueira <1gir sobre o terreiro. Mui tos d esses pontos s5o d e raiz, pois as Entidades saben1, mais d o que ·n inguém , o que é necessá rio para se a nu lar as ener~

gias d o mal.

• Ponto sotaque: é um d esRfio, ou um alerta que in dica que cilguém (encarnado ou n8o) n1al~intencionado est<~ presente nos t rabalhos (pod e ser um visitante ou, pior ainda, um adepto dn casa). M uitos destes pontos, de form8 indireta (ou não), d eixam claro q ue <I pessoa (ou espíri to maligno) deve se re t írar do local.

• Pontos cruzados: são can tigas q ue irradimn energias de du 8.s o u mais linhas diferentes ao rnesmo tempo.

• Pontos de subida: entoados JXlra que as en tidades desin~ corporem de seus médiuns, indo ao Oló (embora), ou seja,

fazendo se u A chiTê de forma han n on iosa .

• Pontos de encerratnento : cantados n o fin al cb sessão .

• Pontos especiais: para visitar uma casa, para agradecer uma visi ta, para um A mací etc.

• Cantigas das folhas: objetivam agilizar o axé con tido n as espécies vegetais. Mrt is usado no Candom blé .

Q uan to aos pon tos do povo da esquen.:la, principa l ~

mente quando a tmm1os com Exus d e Lei, é importante evitZlr aqueles que têm muito m ais o obje tivo de impressionar ou assustar o público do q ue uma re8.I função espiri tual. Aliás, muit~\.s destas Glntigc-:~s , e:10 invés de vibrarem boas energias, contribuem para a a trnção de impurezas astrais, chamando

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os Quiúm bas (espíritos malévolos) para o a m biente d o

terreiro e não verdadeiros Exus, que ali estarian1 se os pontos

adequados fossem e ntoados. Q uando pronunciamos algo que fala de "forças do Inferno, morto qu e geme, Exu que

rnat<-1" etc., ou a inda utilizamos palavras de baixo calão ou duplo sentido volta do ~ sexualidade, não podemos trazer

boas energias . Cabe especialmente ao O gâ u sar a c urimba corre ta para que se alcance a per feita firmeza dos tr8balhos ao qua l es t;1 se propondo.

De acordo com as linhas, as freqüências sonoras mudan1

no plano espiritual , conf(n·mc destacado abaixo:

• Linha de OxaL1: prcdisp(>em 8 paz e coisas do espírito.

• Linha de Oxc'>ssi: harmo nia da natureza.

• Linha de O gurn: vibrações fortes.

• Linh<.1 de Yorim8: dolentes, 8s vezes melancólicos. • Linhé1 de Xangô: gr~1vcs e baixos. • Linh e:1 de l emanj ;~: suaves, renovando o emocional. • Linh<:l de Ibejís: a legres) predispõem ao born. ânimo .

N<-l Umhancb, os pontos são cantados en1 português,

o u numa mescla deste com dialctos indígenas ou africanos.

Jô. n o C<mdomblé sfio pronuncíc-H.ios de acordo com a Nação base do Barrac8o, sendo as rnais conhecidas a do Ke tu ou a de Angola, ressalvando q ue, nesta últim8, cncontrcnnos tam, bém alguns cânticos cnto<Klns na língua portugues(l, em espe­

cial mls ch amadas Roças de C8boclos, onde trabalham os C aboclos Boiadciros e alguns Caboclos de Oxóssi.

N o ri tua l do Candon1blé, para c(lda n1omento ou ritual

existe uma cantiga correspondente . Aí então terernos pontos

para Padê de Exu, JX\ra raspagem de cabeça de uma inô, para

a catu lagcrn, JXl.ra os sacrifícios! para a saída da C<11ll8rinha, e

p8ra muitos outros tantos cultos ou tradições existentes :1essas organizações religiosel.s.

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Terminando este capítulo, espero ter deixado claro que o ponto cantado é sagrado e deve ser usado no n101nento correto, transmitindo as energias certas de acordo com o motivo do trabalho e que se for entoado na hora errada poderá acarretar sérios problemas para un1 bom desempenho da sessão religiosa.

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Toques e Ritmos

Existe uma grande variedade rítmica encontrada num terreiro. Na U1nbanda e no Candmnblé de Angola os ataba~ ques são tocados smnen te com as n1ãos, enquanto que no Candomblé Ketu em muitos ri tmos utiliza~se o aguidavi, que é um.a baqueta (varinha) especíal para o uso litúrgico.

No Candomblé, normaln1entc, cada toque corresponde a um O rixc'i ern especial, a té porque está diretmnente ligado 8 sua d ança; porétn, na Um banda, essa diversificação cost urila ser usada pam todas as linhas vibratórié\s, n1udando conforme a necessidade do pon to cantado.

Os m8is cornuns s5o:

• Adabi o u Ego: ritn1o sincopado dedícado a Exu. Significa "l !) )a ter para nascer .

• Adarrum: invocatório de todos os O rixás, porén1 n1aís usa­do para Ogum. É um ritmo apressado, forte e con tínuo c pode ser usado sen1 canto. M uito bmn para propicíar o transe medi{Jnico.

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• Aguerê: em iorubá significa ((lentidão". Cadenciado quando dedicado a Oxóssi e mais rápido para Iansã.

• Alujá: toque rápido de característ icas guerreiws. Dedicado a Xangô, também utilizado para que uma en tidade desincorpore do médium. Significa "orifício)) ou "perfuração" e1n iorubá.

• Batá: tocado com as mãos, é atribuído a Xangô, embora também possa ser dedicado a outros Orix<:'is. Pode ser Batá len to ou rápido, de c.1cordo com as cc.1racterísticas da dança executad<l.

• Bravum: não é atribuído a nenhum Orixá em especial. Relativamente rá pido, bern dobrado e reiJicado.

• Igbitn: execução len ta com ba tidas fortes. D escreve a via, gem de um ancião. É o toque de Oxalufã (Oxalá Velho) no Candomblé.

• ljex4:í: cadenciado e tocado somen te com as mãos. Caim(\ balanceado e envolvente, é re lacionado a Oxurn.

• Ilu ou Daró: atrihuído a Ians5, é rápido e de cad ência marcada. Sempre é percuLido com aguidavis.

• Opanijé: ritmo pesado, quebrado por pausas e relativa­mente lento. Lembr~l a circunspeção do Orixá das epide­mias, ligad o à terra, Obaluaê.

• R u fo: repiques graves e constantes. Pode iniciar un1 outro toque e t<.lmbém serve pan1 produzir uma irradiação cons, tan te no terreiro.

• Ru ntó: de origem Fon, executado com r.;lnticos a Obalm1ê, Xangô c principalmente Oxumaré.

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• Sató: vagaroso e pesado, é tocado para Nanã, a senhora das iabás (Orixás Fetnininos).

• Vamunha; tocado para todos os Orixás. Rápido, é execu~ tado em situações particulares como a entrada e saída de filhos-de-santo no barracão (Candmnblé) e para a retirada do Orixá.

Alguns desses toques citados são encontrados nun1 ter­reiro de Umb8nda, que ainda possuetn outros cmno: barra-­vento, cabula, congo, e satnba .... angola. Todos são tocados com as mãos. São ritmos n1pidos, ben1 "dobrados'', repicados e que possuem variantes. De Inodo geral s8o usados parr1. n interacão com todas as divindades .

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T::1nto no Candomblé de Angola quanto na Umbanda, poderemos ainda encontrar outros toques con1o: angoba, congo de caboclo, congo de ouro, samba cabula, "quebra-­prato", umbanda angola, ika, São Bento Grande, olodutn e qüenda.

Os atabaques e os instrumentos auxiliares deve1n estar integrados, na Inais perfeita sincronia n1usicc1l.

Os Og5s obrigam, se a aprender o maior núrnero possí­

vel de ritmos, hKilitandD a harn1onização entre canto c toque, pois é terrível ouvirrnos uma melodia en1 que as palavras não se ajustam corretamen te aos sons produzidos pelos instru~ n1entos, sem contar que clS vibrações a que elas se destinmn sempre acnbe:m1 sofrendo <llterações que redundan1 etn sérios problen1as na lig:1ç8o com os Seres de Luz. Para evitar esse tipo de contratempo, um bom conselho é o treinamento, ou

scj<.l, o ensaio hnbitual entre aqueles que fazen1 parte da curinl­ba da casa .

. O som produzido pelo bater das palmas tambén1 ajuda na Inarcação c produz urna forte irradiação no local. Assitn, o bonl senso determina que os integrantes da engirc1 aprendmn

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a ncompanhar cada toque do Ogã, criando uma harmonia geral entre canto, instrumentos e palmas, con1pletando o con~ junto ele sons que vibram cmn as forças dos Orixás.

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_......._ ..... ---·- --

Cobertura dos Atabaques

Quando n ão estão sendo empregados nos cultos, os tambores devem P..~r~1r cobertos pelo Dossel de Oxalá. Esse tecido deve ser na cor branca, pois é a que traz as energias divin as representativas de Oxalá, o Mestre Supren1o.

O ato de cobri~los é, acima de tudo, um sinal de respeito aos instrumentos de maior vibração do terreiro, que só devem ser descobertos no momento cm que _for iniciado seu uso no ritual litúrgico ou em certas obrigações.

Un1 a tabaque dan ificado (c01n a pele rasgada, por exemplo), também deve ficar cober to até que o problema seja sanado.

Antes de abrir qw1lqucr couro, os Ogãs deve1n ter a confirrnc:J.çi'ío de que a firmeza já foi preparada pelo Alabê (ou outra pessoa autorizacb) .

O Dossel pode ficar junto ao tarnbor do Ogã~chefe, ou ainda ser guardado cuidadosamente d urante todo o período da sessão.

Ao término dos trabalhos, os instrumentos voitam. a ser cobertos, ao som de um ponto cantado próprio para a ocasi8o.

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Outras coberturas s?ío os chamCldos Laços elos Orixús. Estes e n volvem cada atêlbaque ~devem ser nas cores corres ­pondentes do Orixá que comanda cada tambor. Assim, o couro de Oxossi te r;:) seu laço n a cor verde, o d e O gum é vermelho, ele Oxalá é branco c assim segue de acordo com os fundamentos de cad~1 casa.

Exjstem tendas cujos tambores são destinados a um único Orix<.\ ficando assim todos os laços na mesma cor.

Além de indicar qual é a f<xça que o rege, o pano adon1a e esconde certos amule tos, firmas e outras proteções que não deven1 ficar expostos.

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Obrigações Ritualísticas

A partir deste capítulo, seguiremos com algun1as das

muitas ohrigaçôes realizadas pelos Ogãs. Estas são extren1a-1nente importantes para o equilíbrio vibratório dentro do

terreiro. Em sua grande maioria, são simples, mas envolvem em

torno de si umil m<tgiil maravilhosa que recai sobre os ins tru­lnentos sagrados.

D iferem-se nos rituais, pois possuen1 finalidades prô­prias. Existem obrígaçôes para trocar un1 couro, para energízar um instrumento, para dar proteção, para realizar un1 trabalho na tnata, e assim de 0cordo com as mais diversas necessidades encontracbs.

Mais um <t vez q uero deixar claro que só estarei passando aq uilo que me foi permitido, mas que, além destes aqui ensi­nados, outros wntos modos são utilizados nos diversos tem­p los umbandistas encontrados por esse mundo afora, cada um com seu fundamento próprio, com seu sistema de acordo com os ensinamentos de seus mentores espirituais.

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Firmeza dos Atabaques

Esta obrigação muitíssimo simples deve ser feita pelo A labê, o u, na ausência deste, por um outro O gã au torizado,

o u aind a pelo dirigente espiritual. Sua realização precisa se dar antes que outros 1nédiuns

adentrem ao recinto da gira, principalmente porque, o fato de estar sozin ho e não sofrer interrupções n o n1on1ento da tarefa, facilita bas tante a sua concentração.

O único ma terial necessário é mn d efmnador e m tabletc.

Defumam~se os atabaques, saudando, em cada um deles, seu Orixá correspondente . O defun1ador aceso deverá ser colocado e1nbaixo do Run (o maior) de n1odo que a fun1Zt~ ça possa en trar no atabaque. Normaln1ente esse instrumento refe re ,se <1 0 Orixá ligado ao Guia Mentor espiritual da casa, por isso a firn1eza é fei ta n ele, independente de ser ou não o couro do A labê.

Tenninada esta etapa, reza~se un1 Pai, Nosso e un1a Ave~

1v1aria (ou outra oração de sua preferêncía) , pedindo a Oxalá

e às Forças Superiores como os O rixás, Guias e Mentores,

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para que envolvam esses instrumentos corn m uita luz, a fim de criar um elo de ligaç8o en tre nós (médiuns) e as rnais

Altas Esferas C e lestiais. Solicita~se também forças para que possam quebrar as demanc-las, protegendo a casa d as correntes negativas.

/

E muito importante q ue, no momento em q ue estiver fazendo seus pedidos, o Og5 se entregue totalmente, pois

falando com o cor8ç5o aberto, as palavras sairão d e forma natural, mostrando q ue neste momen to já está ocorre ndo todo um envolvimento com as energias divinas.

Para o próximo trabalh o, as cinzas devem ser despa~

chadas na rm1, antes d e preparar o novo defumador.

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Cruzatnento do Couro

Quando un1 Ogã for cruzado no terreiro e um ataba, que for a ele destin ado, exis tirá, a partir daí, uma troca de energia en tre arnbos, o u seja, é como se um fosse uma extensão do ou tro.

Porém, isso não lhe dá o direito de chegar e ir tocando o tambor sem n enhuma preparação anterior. Em primeiro lugar, deverá estar limpo de corpo e mente para poder usar

um instrumen to sagrado. Depois, j á caracterizado corn sua roupa branca, deve, antes de tudo, dirígir-se ao Congá e bater cabeça, solicitand o aos O rixás e en1 especial a Oxalá para que lhe dê muita força, permitin do assün que cLnnpra sua missão. Só então irá de encontro ao seu instrumento.

Se o couro estiver coberto pelo Dossel, deve pedir li­cença ao Orixá para descobri-lo. Quando for o último ataba, que a ser aberto , entregar o Dossel para o Alabê.

Usando três folhas de guiné (ou outra planta qualquer, ele acordo com o fu ndamento do terreiro), cruzará o couro e suas mãos, pedindo aos Orixás forças para que smnente boas energias vibrem durante os trabalhos Litúrgicos.

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C om isso, o O gã estará a tivando essa energia e refor; çando justamente esse elo de ligação entre eles, fazendo com que, n o n1omcn to d o toque , essa luz única se torne uma gran, de fonte de vibrações positivas, trazendo as forças necessárias para uma me lhor atuaç~o das Entidades que vêm de Aruanda para atuar na nossa Umbanda.

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Energização

Assim como existe o Amací (banho de infusão de ervas), que serve para equilibrar e energizar a coroa dos 1né~ diun s, existem também outras forn1as de trazer n1ais forças aos instrumentos e às 1nãos dos Ogãs.

Essas obrigações podem ser feitas 1nensalmente, a cada três 1neses, ou a critério de cada Alabê; poré1n, é n1uito ünpor~ tante que sejam realizadas.

Fora do horário da sessão (pode ser logo no término dessa), fechmn~ se as cortinas e ocorre o ritual onde somente os Ogãs devem estar presentes. Se a casa n ão usa cortinas ou se essas permiten1 a visão in terna da gira, a obrigação deve ser realizada em outro dia.

Cada um dos elementos, n a posse de seus devidos ins~ trurnentos, deverá, em frente ao Congá, elevá~ lo n1ais ou n1e~ nos à altura da imagem de Oxalá, solicitando para que qual ~

quer carga negativa ainda presente no couro seja dissipac-b e

levada para o fundo do mar de nossa Mãe len1anjá, e que as forças positivas possam envolvê~lo trazendo as energias de todos os Orix<:'í.s, em especial daquele que o cmnanda.

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A pós essa parte, com os tambores n os lugares de cos­

tume , coloca~se pó de pemba nas mãos de seus respec tivos

responsáveis e também sobre o couro de cada atabaque, dei­

xando que ali pennane ç<1 a té a próxima sessão espiritual.

Uma outra forma é a captação de energias dos A s tros. Os

a tab<=tques c o utros instrumentos, quando colocados sob a luz do Sol c da Lua, recebem as forças universais, que produzem

um perfeito equil íbrio. Essa pnitica funciona tal qual os pôlos positivo c negativo q ue, juntos, v8o gerar a "Luz Divina" emitida

por esses quando utilizados com fins litúrgicos. Para isso, coloque

os instrum entos num local aberto (não pode estar chovendo), ou onde incida [uz d íret8 destes Astros. Acenda uma vela branca

ou da cor vibratória do Orixá dono do couro, e peça-lhe com

fervor que o descarregue e reenergize a firn de que seja útil para

o templo e principalmente q ue se equilibre com as luzes de Deus (Zambi, Tupã, Olorum ... ), criador de todo o Universo.

Irnportante: não realize este trabalho n o período da Lua Minguante, po is essa, ao invés de enviar, vai sim, retirar energia

do instrumenro. Dê preferência à Lua Crescente ou C h eia.

Todas ess<1S obrigações pod em ser fei tas também COlYl

os instrumentos 8uxilia rcs, de forma que possam reter e pre~

servar as boas vibrações ca.pwdas do Plano Universal.

Para energízaç5o d <:tS m ãos, é muito bom co locá-las

sobre o altar, com as p alm as voltadas para cima , e pedir a

O xalá que as iluminem, permitindo que sua mediunidade se

desenvolva melhor a cada dia, e que tenha sempre uma bo<:l intuiç ão, finne e segura pma o bmn cumprimen to de sua mis~ são. O Congá de um terreiro bem firmado pelos Orix::ís possuí

uma energia própria, reforçada pelas forças celes tiais e é essa energia que devemos absorver.

Lavá~las com a seiva pura de certas plantas tam bém faz com que elas se renovem. As ervas mais usadas são: arruela,

guiné , espada~dc - são-jorge , mangueira ou outros vegetais

relacionados aos Ü rixcí.s.

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Alin1entar os Atabaques

Dentro do Candotnblé, os atabaques, alén1 de instru~ mentos sagrados, são considerados como a própria represen~ tação do Orixá, e significam, muitas vezes, o Olorí e o Eledá (Anjos da Guarda) do chefe do terreiro.

Assim, os couros têm tratamento especial como se fos~ sem verdadeiros Orixás e precisam ser purificados e alímen~ tados, conforme mostra a velha tradição, nmn ritual que deve ser renovado todo ano.

Dentro do Aliaxé, os tambores em pé são lavados con1 água benta ou da chuva. Depois, unta~se con1 apô (azei.te~ de-dendê), com mel e finalmente deixa~se cair mn pouco de ejé (sangue) de uma ave sacrificada no ritual.

Terminada esta parte, deita-se cada um deles numa esteira nova ou em folhas de coqueiro.

A Yabassê (cozinheira) podere) então tirar os axés (ca~ beça, asas, patas, cauda, fíg<1do, coração, moela e rins), prepa­r;í-los sem sal e scrvi~los crn tigelas aos Orixás donos dos atabaques. Se existir algum destinado a Exu, este deverc'i comer na casa de Exu.

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Permanecem assim por doze horas no Roncó do Aliaxé. Depois, são levantcH:los para o toque geral cha1nado

Xirf\ onde cm1ta~se nu ma grande festa a todos os O rixás. Sabedores que somos de que, devido à sua base cristã,

a Umbanda não deve utilizar em seus rituais o sacrifício anin1al, apenas a parte da purificação dos couros, com água~ benta ou da chuva, poderá ser feita pelos seus Ogãs. O ((refor~

ço" ou o "alimen to, dos tambores usados na Umbanda pode ser feito atr:1vés das obrigações já mencionadas.

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Descarregar o Cot.tro

Para retirar as energias que poss::un ficar inu1ntadas no tambor, além dos ensinamentos anteriores, ainda podemos lavar o couro com ;:1gua do mar, pois sabemos que esta tem un1 grande poder de "quebrar" forças negativas .

Após a lavagem, o a tabaque deverá ficar sob a luz do Sol, secando. J ::í. a água dever<:Í. ser despacbada.

Outra form a é deixnr de urna noite para outra, -ou 1ne~ lhor ainda, de um trabalho para o o utro, um. vasilhame (copo ou quartinha) com <Ígwl (de preferência da cachoeir~1, 1nas pode~ se usar a água tratada que recebemos e1n casn), con1

um pedaço de carvão. A água é grande condu tora e o carvão (mineral ou vegetal) ten1 mui ta facilidade em absorver energias.

Antes do início da outra sessão, despache todo o con, teúdo do vasilhame e l ave ~o em água corrente, antes de pre~ parar novamente ::1 defesa.

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Troca de CoUro

Un1 atabaque, ou qualquer outro tmnbor cmn o couro rasgado, não deve ser utilizado de fonna algun1a·, pois não produz bons sons e, conseqüente1nente, atrapalha as vibra~ ções do terreiro.

Porém, trocar un1 couro de um instrumento sagrado requer todo un1 ritual. Deve~se pedir Agô (licença) ao Orixá dono do instrumento, acendendo~se mna vela en1 seu nmne.

Essa pele rasgada deverá ser despachada junto à natu~

reza, de preferência den tro de uma mata (recinto natural do Senhor Oxóssi).

Coloca~se o couro coberto co1n pó de pemba ao pé de uma árvore. Acende-se uma vela ao Guia Mentor dos Ogãs da casa, solicitando sua proteção. Un1a segunda vela deve ser acesa a Oxóssi, pedindo licença para despachá~ lo en1 seu território sagrado, e finalmente mna terceira, ao Orixá dono do couro, pedindo que todas as energias nele contidas possam ser dissipadas.

A pele nov8, depois de colocada no atabaque, deverá ficar coberta por pó de pemba durante três dias, antes de

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novamente ser firmada pela Entidade responsável, e somente depois disso é que o tambor poderá ser novmn en te percutido nas sessões li túrgicas. Lembre,se: um couro não preparado não terá força alguma junto às Esferas Positivas do Astral.

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Trabalhos Junto à Natureza

São muito cornuns na Urnbanda os trabalhos externos en1 locais cmnandados pelos Orixás, colno as rnatas, praias, cachoeiras e pedreiras.

Para podennos atuar nesses cmnpos sagrados, certas saudações deven1 ser feitas antes de adentrá-los e cabe aos Ogãs entoá-las, con1 caráter de obrigação, pois alén1 de louva­retn, deverão também pedir a proteção durante todo o tempo

que lá estiverem. Muitas são as formas de solicitar essa permissão e prote­

ção; porén1 o importante é não esquecer de fazê-las antes de penetrar num território que não nos pertence, 1nas sitn aos Orixás e seus falangeiros que lá têm seu ponto de vibração.

Nas matas e cachoeiras

Os terreiros costummn ir às matas a fin1 realizar ostra­balhos dedicados ao grande Orixá Oxóssi e seus n1aravilhosos Caboclos. Para entrar, deve-se agir da seguinte forma:

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N a "boca da mata", ou seja, na entrada, todos os 1né,

diun s do terreiro, reunidos, devem saudar e pedir licença ao Ex:..t da Mata, conhecido também como Exu da Boca da Mata, pois ele é o guardião e sentinela que cuida desse local (Ma, caia) . Ten11inada a primeira e tapa, os médiuns do terreiro seguem na frente, permanecendo, então, os Ogãs, na reta, guarda, pois cabe a eles a conclusão de mais algumas obrigações.

Estando a sós, cantarn agora para os C aboclos Boi3,

deiros, que são Entidades muito ligadas a esses médiuns e que também atuam sob o cornando do Orixá da fauna e da flora. A cada cantiga peden1 forças, segurança e boas energias para os instrumentos, assiin como para aqueles que os farão vibrar (os Ogãs), durante todo o tempo que ali permaneceren1.

Por fín1, canta, sc ao Orixá O xóssi, solicitando suas energias e sua bênção a todos do terreiro.

Nas cachoeiras, as louvações são entoadas para a Corrente do Povo das Á guas, P.n1 especial à Ma1nãe Oxun1, dona da água doce, dos rios e das casca tas, e a Xangô, que é o Orixá d as pedreiras, mas que também atua nas cachoeiras.

Trabalhos na praia

Outra festa muito cmnmn é a que se dedica à Ien1anjá. Realizada n a praia, denmninada pelos Umbandistas de "Ca, lunga,Grande", reúne milhares de adeptos en1 todo o litoral brasileiro (e a té de ou tros países).

Porém, tal como a n1ata é moradia de muitos espíri tos e a eles pedün os licença para a tu ar e1n seu ca1npo vibratório, também nas praias isso n ão se dá de n1odo diferente.

Essa é uma obrigação que deve ser feita smnente pelo grupo de O gãs, sem a necessidade da participação de outros médiuns. Pode~se fazê-la no momento em que as pessoas esti~

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verem atarefadas , preparando o local onde acontecerão os trabalhos espirituais.

Visualizando, a partir da área à beira da rua, até o n1ar, divide~se , imaginariamente, a areia em três partes.

Na prirneíra fração, correspondente à parte mais seca do areal, e nterram-se os três atabaques até a altura do pri~ m eiro C\ ro. Feito isso, os Ogãs cantam em louvor a Ogum Beira-Mar, peclindo~lhe que dê tnuita força, tanto aos instn.I­mentos quanto para todo o terreiro.

Retirados os tambores, segue-se tnais à frente, até os Iin1ites d a segunda áre<l. Repete~se o procedin1ento, porém agora, direcionando os cânticos ao Exu Maré, de modo que, com swYfala.nge, possa protegê-los, livrando~os da ação das forças tnalignas que possam se dispor a causar perturbações. Lembrem-se que, para cada campo de vibração natural, há

sempre uma legião de Guardiões incun1bidos de resguardá­los; portanto, assim como o Exu da Mata vigia a n1acáia de Oxóssi, o Exu lvfaré é sentinela do "Reino das Águas Salgadas".

Finalmente termina-se o ritual, na parcela tnais próxi,

m::1 ao local onde as ondas chegam. E con1 o bojo menor d os atabaques soterrados junto às águas, canta-se para Iemanjá,

Rainha dos Mares, solicitando permissão para a realiz::1ção dos trabalhos nos limites de seu reino, e pedindo que envie suas irradiações positivas, envolvendo a todos com as en1ana, çôes salutares ex istentes em seu campo vibrató:-io.

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Guias e Colares

Como já saben1os, os instrmnentos consagrados traba, lham numa troca constan te de energias con1 o Astral. Porétn, nen1 sen1pre apenas as boas vibrações recaen1 sobre eles.

Muitas vezes o tatnbor funciona cmno un1a espécie de párél,raios, atraindo forças que certan1ente atrapalhariam o terreiro, c apesar de toda a preparação, firn1eza e proteção que neles possan1 existir, ainda assim, seus operadores poderão · sofrer certas influências.

E aí é que se verifica o verdadeiro sentido da necess1, dade das guias (colares). Assim co1no o dirigente espiritual tern uma guia especial, preparada de acordo cmn sua posição hierárquica, os Ogãs também deverão tê,Ias, devidmnente firmadas e 1noldaclas de fonna a identificá,los conforme o grau ou função ocupados na casa.

Procure saber com seu Mentor Espiritual a maneira correta de preparar esses 'cfios,de,contas" . 1v1uit.as vezes, quando os montamos tendo con1o material de preparo n1içan­gas de cristal, louça o u simplesmen te plásticas (estas últilnas n1enos recomendáveis), a Guia de Ogã deverá ter as cores

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correspondentes aos Orixás que vibram nos três couros da casa. Por exemplo: se os t.an1bores são dedicados a Oxalá, Ogum e Oxóssi, os colares terão contas brancas, vennelhas e verdes. Se forem de Oxaic1, Xangô e Ie1nanjá, elas serão nas cores branca, n1arrom e azul, e assiln de acordo com o funda­n1ento de cada couro.

Dê preferência aos produtos naturais (sementes, pedras, conchas); porén1, na impossibilidade, não há nenhum proble­n1a se você usar as miçangas, pois todas as guias deverão ser irradiadas e preparadas pelas Entidades antes de serem utili­zadas, caso contrário, terão o mesmo poder de un1a bijutcrb qualquer, ou seja, nenhum.

Deve ficar cruzada na altura do tórax, cmn um colar de Exu, para que o Ogã esteja guardado dos dois lados, ou seja, na direita e na esquerda, prmnovendo o equilíbrio neces­sário para a segurança da casa e dele próprio.

Importante: na Umbanda, a guia de Exu não deve ser colocada passando-a pela cabeça, ou seja, pela coroa do mé­diwn, mas de baixo parrt cima, ou seja, pelos pés. Isso serve para qualquer médium, pois Exu não cuida da coroa, deixan­do essa responsabilidade pclra os Guias de Luz dirigidos pelos Orixás, ou seja, as Entidades con1umente denominadas pelos umbandistas como "de direita". Não que os Exus, especial­mente os de Lei, não possuam luz própria, mas apenas porque esses sf.ío auxiliares diretos das outras Linhas e não donos de coroa de médiuns umbandistas.

Alén1 dessas duas guias em especial, os Ogãs deverão usar .outras conforme as orientações dadas pelas Entidades Espirituais, tendo en1 mente que a função por elas exercida é exclusivamente de imunização e proteção aos que delas fazen1 uso e jamais para sua orna1nentação.

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Den1anda Entre Ogãs

Demanda é a ação contra algo ou aiguén1 . . Graças a Deus é cada vez 1nais raro se encontrar alguém

que saiba, realn1ente, fazer aquela ((de1nanda forte", que antí; I! d " A 1 gan1ente era con1um ocorrer entre o povo~ e~santo . tua~

rnente, existem mais aqueles que, Inovidos pela vaidade e pela inveja, "demandatn" contra os outros, valendo-se da emissão de fluidos negativos forn1ados por ondas mentais e sentimentos inferiores, do que realn1ente usando a combi~ nação de segredos mágicos, cujas forças se encontrmn no Astral Inferior. Por isso, devemos tmnar o n1áxin1o cuidado con1 essas pessoas, pois a inveja e o mau~olhado são males tão nocivos que, por vezes, podetn exercer uma ação muito mais eficaz que qualquer feitiçaria ou influência de espíritos vingativos e obsessores.

Note que eu disse C:]ue é n1ais raro, porém ainda existem aqueles que têm o conhecimento da "n1ironga" en1pregado para o mal.

E onde entrmn os Ogãs neste ponto? Por serem sacer­dotes, eles precismn adquirir diversos conhecünentos; porérn,

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infelizn1ente , n1uitos del es os a proveitcun não só para se defender cbs forças negativas, n1as tmnbén1 para ativá~las .

Un1 tocador n1al~intencionado é capaz de "derrubar" un1a casa, ou seja, de fonnar tan1anha confusão (quizila) den~ tro de un1 terreiro que certas vezes consegue fazer com que algumas velas ton1bc1n, causando até um princípio de incên..­

dio (daí nasceu a expressão: "botar fogo no Congá"). E de q ue jeito ele consegue isso? Ora, os tan1bores tanto são capazes de chan1ar as Entidades de Luz quanto os espíritos n1ais atra, sados. Tudo depende da forma con1o e le toca o co uro e de sua vontade.

E existe proteção para tais inconveniências? Lógico! É aí que os Ogãs da casa, quando firn1es no

pcnsan1ento, preparados e protegidos por aqueles que fazen1 11 • • ,

sua segurança, atuan1 contra esse serviço SUJO .

Daí ven1 a itnportância d a finneza, das obrigações, das proteçõcs e de urna boa intuição dos "n1ãos~de..-couro" da casa. Q uando o atabaq ue está ben1 vibrado pelas forças dos Orixás, dos l\.1entores de Luz, normahnente quen1 se dá mal é aque le que está querendo demandar, pois as energias nega~

tiv::1s recaem sobre ele. É a farnosa Lei elo Retorno, que no caS(\ invariavdn1en te é imediata .

Ent3o, irn1ãos, não C(1ian1 nessa an11adilha, gera ln1ente prep~1rada por Quiún1bas, q ue vendo despertar a vaidade c a pre po tência no n1édium, e reconhecendo.-lhe certa fragili. ~

dade, o utiliza, abusando de seus cana is de vibrações afins, t ransforn1anclo;o en1 n1ais Lll11 infeliz escravo de sua legião.

A dquirir conhccin1ento é fundan1ental para todos, cm especi al ao Ogã. Porén1 sCiber direcionar esse conhecimento e1n prol do an1or e da caridade, atuando contra o mal, é o grande objetívo das Forças da Un1banda.

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Paga de Ogã

Existe em alguns terre iros, especialrnente nos Ilês d e

Candomblé, a chamada Cerimônia de Felebê. Essa caracte , riza ,se pela arrecadação de dinheiro dos adeptos e visitantes, num pano branco colocado diante dos atabaques, ao son1 de uma cantiga apropriada .

Todo o dinheiro é repartido entre os Ogãs q ue a tu aram naquele trabalho, sejam eles da casa ou convidados.

Às vezes, um Ogã vai a un1a Festa de Santo já com

"cachê" cobrado. H á ainda os que fican1 c'correndo-gira"; são os famosos "goteiras", o u seja, aqueles que vão de um terreiro ao ou tro (pingando aqui e ali), sen1 que venhan1 a se firmar ou se comprmne ter com. nenhmna casa, visando apen~=!S a obtenção do lucro finan ceiro.

Particularmente, discordo d essa atitude. Se ele, pela 1nisericórdia de Deus, adquiriu graciosa,

m ente sua faculdade mediúnica, não se justifica tirar proveito material através de seus préstimos numa cerin1ônia litúrgica. Aquele que assim agir, mais dia, menos dia, poderá ter seu Dom suprünido em função desse abuso.

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Lernhrc -se das p c-1lavras de Jesus, o Mestre O xalá, con ­forme descrito no N ovo Testamento: (Mateus, 1 0.15- 15) " ... de graça recebeste, de graça dai" e Lucas (6.27-36) que reco­menda: " ... fazei o bern e en1prestai sem esperar nenhuma paga; será esse o vosso galardão ... ".

A lém de estar errado, q uem assim age está correndo um grande perigo, pois levado pela ganância e pelo intuito de ganhar dinheiro, não leva em conta o local, o fundamento e o tipo de trabalho q ue está prestando. Um dia toca numa tenda de Umbanda, ou tro num Ilê de Candomblé, o u ainda num terreiro de Quiumbanda, servindo sua medi unidade para tudo o quanto é tipo de trabalho, e para as mais dívers8s finalidades. Convém refletirmos sobre a infalível Lei elo Re­torno , e do envolvimento com energias negativas, que pode rtí atrair para si, pois a intenção escusa cria bloqueios contra a proteção que lhe seria ofertada pelos Espíritos de Luz.

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·-

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Mulheres nos Atabaques

Existe uma ·grande discordância entre os adeptos, com relação ao uso dos tambores pelas Inulheres.

Muitos alegam que elas não poderimn usar os instru~ n1entos sagrados por ficarem de "bajé" (termo que significa Ynenstruada) .

Pois bem, no Candomblé isso faz parte da tradição e ven1 sendo respeitado através dos tetnpos, por isso não en~ trarei neste m éri to. Apenas respeito.

Porém, na U rnbanda, ~1m indivíduo do sexo feminino ten1 totais condições para ser urna atabaqueira, sem problen1a algmn. Se considerarmos q ue os Ogãs têm um Don1 Divino, un1a faculdade medi única musical, esta não vem com o gêne~ ro, mas sim com o espírito e este por ter origen1 na essência Divina, não tem sexo.

É óbv io q ue certos cuidados precisam ser tomados. Quando a mulhe r est<:1 n1enstruada, não deve tocar o ataba ... que. A liás, nf.ío convém sequer participar da engira, ficando do lado de fora, na assistência. Isso inclusive se aplica a todas as mulheres que participam da casa. E por quê? A n1ulher no

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período menstrual poderá sofrer con1 a dismenorréía (cólicas e dores abdmninais}. Além disso, en1 alguns casos, as diversas atterações hormonais influenciam diretatnente no seu estado en1ocional, sendo que tnuitas tnulheres apresentan1 transtor~

n os antes mesmo do início do ciclo - a chan1ada TPM -(Tensão Pré~ Menstrual). O utro fator in1portante é que, algu~

mas n1édiuns, devido à perda constante de sangue, senten1 Ulna ligeira fraqueza, associada, às vezes, a un1 quadro de anenlia. Somando~se a tudo isso, existe ainda a preocupaçâo con1 sua higiene (a troca constante de absorventes hígiêni~ cos), que conseqüen temente provocam desconcentração (total ou parcial), interferindo direta1nente no seu desen1, penho na fu nção.

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Casos Verídicos

Descreverei alguns acontecimentos ocorridos corn O gãs que, de certa formal poden1 ilustrar boa parte do que foi passado nesta obra . Por questão çle ética religiosa, em alguns casos, os nomes dos personagens serão 1nudados o u mz.mtidos sob sigilo.

1 º ) Uma belíssima provação

Este fato ocorreu com um Ogã de nossa casa, chamado Rogério.

Convidado por uma amiga a assistir mna festa nun1 terreiro de Candmnblé aqui en1 São Paulo, ele aceitou, até por se tratar de utna homenagen1 aos Caboclos.

Lc1 chegcmdo, pelo fato de não conhecer nínguén1 da casa, sentou -se quieto num canto, de onde poderia ter uma melh or visão dos acontecimentos.

O toque "corria solto" c incorporado no Babalorixá do Ilê, o Caboclo Boiadeiro, Seu Gen tilciro, fazia seu "pé-de-

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dança''. D e vez em quando, dirigia o olhar ao n osso O gã, que , meio sem jeito, não compreendia os 1notivos, quando, de repente, a Entidade pára na sua frente, e pergunta se ele estava assustado. De pronto, Rogério respondeu que não e que, pelo contrário, se sentia muito bem, pois a festa estava excelen te.

O Caboclo então perguntou se ele n ão queria se sentar ao lado d os a tabaq ues , já que ele também era Ogã~ de ~ couro . Impressionado com a afinnação, o jovem Og5 agradeceu e salientou que estava sa tisfe ito em observar os trabalhos a li 1nesmo onde estava, permanecendo n o mesmo I ugar.

Foi aí que veio a surpresa. Seu Gentileíro , com um belo sorriso e de forma taxativa falou: "Seiquen1 manda em você! Ele também trabalha comigo! O Caboclo Boiadeiro da J uren1a está aqui ao meu lado e permite que você entre e sente junto

,, aos nossos couros .

Ele mal podia acreditar no que estava ouvindo, pois realmente quem cuida dos O gãs de nossa casa é essa Entidade, que inclusive j á havia dito que trabalhava tanto na Umbanda quanto nas Roças de Candomblé. Além disso, outro detalhe chamou a atenção: sabedor de que o fundamento de nossa casa é n1uito diferente, o Boiadeiro o convidou a estar junto aos de1nais Ogãs, porén1 sem que viesse a tocar um instru~ mento, de 1nodo a não provocar um choque energético em suas mãos, visto tratar~ se de um inician te na 1nissão de Ogã~

de~couro.

Foi uma grande prova para ele e para todos nós da APEU, a té potque o Rogério jamais havia estado lá e ninguén1 sabia sequer que ele era Og8.

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Salve o Caboclo Boiadeiro da Jurema! Mentor Espiritual dos Ogãs da APEU. Xêto~Marromba~Xêto

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2º) Belo cxe1nplo!

Numa lind a noite, dois Ogãs de nossa casa, o Sidney c o Rogério, foram visitar um terreiro de Umbanda, pois h;1vian1 sido convid ados por urn mnigo, q ue naquela casa tambérn

(C - l )} era mao~c.: e,co uro .

N wn de terrninado momento, foi chamada a Linhe1 dos Prctos,Velhos, e como visitantes ele uma tenda umbandista, foram encaminhados ~ Vovó, que se achava incorporada na

dirigente . Ela a plicou ,{hes os passes e pergun tou se não ir iam tocar

um pouco, deixando os a tabaques à disposição. Eles agrade, ceram ao convite, e justificaram a recusa, alegando que, infe , lizmcn te, a inda n ão h aviam sido au torizados a manipular in~,

trumen tos em outras casas. Fo i aí que a sábia Entidade sorriu e vo!tanclo , se par8

seus O g5.s, bem como para os den1ais n1édiuns de sua gira,

disse: "Parabéns! A 'nêga véia' j:c1 sabia, mas queria que vocês servissem d e exemplo<~ tod os. Qu ando uma Entidade d e sua casa lhe dá ume1 ordem, ela deve ser respeitada. Sejan1 sempre bem,vindos 8 esta Tend<1 e saibam que, quando tíveren1 a

permissão, nossos couros estar8o à sua disposição, pois vocês são vcrcbdeíros filhos de fé e den1onstram respeitar as Le is Sagradas ch1 Umband cl".

3º) Efeitos físicos

Entre as v;iriDs manifestações espirituais, exis te un1a categoria classificad a como de Efeitos Físicos. Tal categoria se

define no fn to de os espíri tos, utilizando-se do ectoplasn1a , que é uma energia densa, e liminada principalmente por mé, diuns, poderem promover certos fenô menos dire tos sob re objetos inanimados, como rnovün entar o u prod uzir sons.

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Este caso ocorre u há muitos anos, na sede da APEU. Ao término da sessão, estávmnos todos conversando

n8 área externa do ten-eiro, quando, de repen te, ouvimos bem alto, o son1 dos atabaques.

Nosso dirigente pediu então para verificannos que1n estava tocando, pois os trabalhos já havimn encerrado e ninguétn tinha Butorização para tocá,los após o fechamento

da engira. Grande foi nossa surpresa quando, ao abrirmos as cm·ti,

nas q ue separam a assistência d o setor de trabalhos n1ediú, nicas, percebemos que n ão havia ninguém (materiahn ente) 1nexendo nos instnnnentos, e que, e1nbora ainda estivessem cobertos, todos ainda ouviam un1 toque maravilhoso sendo entoado , cujo som, dib'110 de um Ogã de "rnão,feita", de um

antigo Alahê, e ra originado em seu interior. Porém, quando outras pessoas, pasmas pelo aconteci,

mento, começaram a chegar para testenlunhar de perto que

o tambor estava tocando sozinho , ele silenciou. Na sessão seguinte ficamos sabendo pelo Mentor da

casa que se tratava de urn espírito trazendo n1a is axé e n1ais forças para nossos ins trumentos.

'Tr'll manifestação, vez por ou tra, ocorre cm nosso ter, reiro e ficamos m uito felizes e1n saber que estamos resguar­dados por Entidades que nos auxiliam com sua luz c sue~s boas energias, fazendo<ts vibrar sobre os tambores consagra, dos é:tos Orixás.

4 2 ) O Ogã que queria den1andar

Essa história ocorre u na praia, h á aproximad mnente vinte anos.

Duran te um bom tempo, um Ogã, cujo nome n ão será revelado, como convid<ldo, tocou os couros d e nossa casa,

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muito embora não fizesse parte efetiva da corrente medi única da tenda. Como ele tinha uma boa relação, em especiaC com o dirigente do terreiro, e realmente era um grande conhecedor "da arte", deixando~se à disposição da casa, às vezes lá compa­recia para cwnprir sua rnissão e louvar aos Orixás.

Certa noite, todo o grupo da APEU foi à Praia Grande, no Litoral Paulista, a fim de realizar o festejo em Louvor a lemanjá. Nessa época, a casa já contava com seus próprios Ogãs; entretanto, ele insistiu en1 participar, pois também queria aproveitar o evento para agradecer à grande Rainba do Mar.

Nosso dirigente, em acordo com o Alabê, deu~lhe a autorização; porém, S<1bedores de que tal Ogã gostava de bebida alcoólica, alertaran1~no de que, naquele dia, deveria abster~se do seu vício, visto que, se o fizesse, não poderia

tocar nos nossos atabaqucs, até porque não adoramos o uso de bebidas alcoólicas em nossos rituais.

Após concordar com a norma, o infeliz, ao perceber

que ninguém o estava vigiando (visto que se tratava de um adulto), foi a um bar próximo e rapidamente tmnou sua "ca~ chacinha''. Tudo teria dado certo se nosso "Chefe-dos-Cou~

, - . 1' 1 H dI, ros nao t1vesse percc Jruo sua escapa e a .

Quando o Ogã rebelde voltou, foi informado de que, por haver infringido o regulamento, não poderia participar tocando o couro naqueles trabalhos. O hmne1n, então, ficou furioso. Queria brigar, xingou, esperneou, mas, ao perceber

que aquela atitude não o ajudaria a conseguir a pern1iss8o, passou a chorar corno se fosse uma criança inconformad<J, pois, de qualquer maneira, se dispunha a tocar para a Orixá,

ainda que fosse necess::.1rio pedir maleime para a Santa e para o Mentor do terreiro, o Caboclo Ubatuba.

Mais uma vez, tanto o dirigente quanto o Alabê, piedo­sos e compreensivos, pcrrnitiram-no fazê-lo, sob a condiç8o de limitar~sc a (' tirar o som" no Rumpí (tambor central).

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Aí ele esbravejou, alegando que não era Ogã para fi car

entre dois novatos (nosso Alahê ainda era m ui to jovem e o o utro era justam ente cu, ainda menino). Percebendo que não seria aberta mBis nenhuma cxceção, acabou concorcbndo com a ordem e os traba lhos foram iniciados. Logo a seguir,

movido pelo inconformisrno, este Ogã c01neçou a demand8r contra o n osso terreiro, puxando pontos, sotaq ue e outras coisas mais.

Só que ele n ão contava que, através das Entidades Ins­tru toras elo n osso grupo, S<1bían1os n os defender e , como a ten­

tos sentinelas, resguardnr o terreiro contra nossos desafiantes. Valendo-nos das ''mirongas" por n ós aprendidas, como

se fosse um passe de m ágica, por m ais que d e forçasse, se u couro foi ficando com um som c R da vez m ais baixo, c::1usando ­

lhe muita irritação, pois gostava de fazer o "couro fa lar" c soar m ais al to que todos os dernais. O m ais intrigante é que , quando ele reclamou, tanto eu quanto o A labê, sem n.enhum esforço, tocamos o instrumento e, para sua surpresa, o so m

saiu lindo, a lto e maravi lhoso.

Percebendo seu erro, coube a ele apenas pedir maleime (perdão) e resignar~ se n o posto enquanto via transcorrer as h o menélgens à lvfãe Sereia, sem se sa tisfazer e poder mos trar todos os seus dotes de um "Og5 de mão~fcita" , dos quais m uito se enví1idecia.

5º ) Desrespeito e castigo

Este caso também aconteceu com o Ogã da história anterior.

M esmo depois d as contrariedades ocorridas n a praia, esse indivíduo , que era um típico "goteira", foi conosco a u m trabalho n as matas. De certa forma, apesar de ser um t~mto empolgado, e le era m ui to respeitado , inclusive por nosso

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·----......... . ... ___ , , ·--- - - - - .... ..... , ___ , ·-- - .. ·-

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Mentor, pois, como dito anteriormente, an tes da casa ter seus próprios atabaqueiros, ernprestou~nos seus dons, muito embo~

ra ele soubesse , pelo próprio 1v1entor, que não se incorporaria de forma efe tiva ao grupo de Ogãs do terreiro caso não n1u­d asse sua 1naneira de se conduzir e de cuidar da própria

Inediunidade. Voltemos então às matas. Estávcunos arrumando o terreiro: uns apanhavan1 folhas

para forragem do chão, ou tros adornavam o congá , feito cmn troncos d e árvores, ou ainda faziam suas obrigações ou oferen~ das aos Orixás d aquele ambiente. O ún ico que não aj udav<-1 era justa1nen te ele, que preferiu ficar batucando, con1 inten~ ção de mostrar, nào sabemos a quern, os diversos toques que sabia executar (todos já o conheciam).

As pessoas j á estavam irritadas com o seu procedi­men to. Assim nosso dirigente, com muita paciên cia e respei~

to, solicitou-lhe que silenciasse os atabaques e se dispusesse

a ajudar os outros médiuns, uma vez que o ten1po corria e q uanto mais gen te cooperasse, m ais rápido seriam iniciados os trabalhos espiri tua is.

Indiferente, com su<.""l conhecida indisciplina, continuou tocando , agora mais alto ainda. .

O Babalaô mais uma vez pediu silên cio, e alertou~ o de que, caso e le continuasse com aquela insubordinação) coni certeza seria repreendido por un1a Força Maior- a do próprio Orixá elas Matas, Senhor Oxóssi.

Foi q uando o ouvilnos dar o últin1o toque, seguindo~se

do silêncio. Não porque o Ogã decidira acatar o pedido do dirigente , mas, sim, pelo fato de o couro haver se ron1piclo , ele tal fonna que ficou imprestável, in utilizado por cmnpleto , forçando~o a parar de imediato com sua teimosia .

Embora tivesse ficado abismado ao verificar que a pele d o ínstrurnento h avia rasgado, furioso tentou assumir o tan1,

hor que c u tocava, <ité porque eu ainda era simplesmente

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un11nenino, o que o fez imaginar que poderia levar vantagem sobre a n1inha fragilidade. Entretanto, teve seu intento im~

pedido pelo dirigente e pelo Alabê e, assin1, pennaneceu o resto do dia ern n1eio à mata, ouvindo os toques tirados pelos demais Ogãs espalhando-se por entre os arvoredos, sendo aconselhado a refletir a respeito da atitude tmnada por ele e sobre a ação imedia ta do "Dono da M acaia", ao mostrar~lhc

que não se brinca com a Un1banda, nem com o Poder e a Força de qualquer Orix~1.

Lembrem,se de que: tudo tem o mmnento certo c mo~

tivo justo para acontecer. O respeito ao Sagrado deve estar acilna da nossa vontade.

6º) Mulher "tnão--de.-couro''

Um.:1 moça, visitando uma vidente, foi infonnada de que tinha n1issão para tocar atabaque num terreiro.

Surpresa co m o comunicado, não con cordou , até por~ que sempre ouvira dizer que tal cargo era exclusivamen te n1asculino, mas, mesmo a~sim, resolveu confirmar sua veraci, dade nun1 terreiro de Umbanda.

Conversando corn o Caboclo que comandava a casa, obteve a confirmação.

Depois dos trabalhos, foi então conversar com o dirigente que, intrigado, pois também n5o sabia que n1ulher poderia ter "m§o,de,og?i", resolveu levcí-la a três Hês diferentes, para que os búzios "falassem" a respeito, o que foi prontamente confin11ado, mesmo sem que os Babalorix<ís soubessen1 o motivo de sua visita.

Hoje ela é un1a grande Ogã, ou, para aqueles q ue nã.o aceitam essa denominação para mu lheres, Ulna 1naravilhosa atab8q ueíra de Ogurn, que com sua bela medi unidade é capaz de cham<:u- os Ü rixás a través dos diversos toques aprendidos c tem adminivel zelo pelos couros consagrados.

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7º ) Larvas astrais

H á alguns m1os, urn grande mistério começou J acon~

tecer com as guias dos médiuns de nosso terreiro. Elas con1e­çaram a se romper de forma inexplicável, ou seja, eram corta~

d as , porém JS sementes q ue 8S compunban1 não se solt8.V8.m do fio . Parecia até um;:t incisão cirúrgica, con1 um leve toque de objeto cort8.n te (informo que pelo regünento in terno d<1 APEU, os colares dos médiuns utilizados nos trabalhos espiri~ tuais n ão silo levados pma casa, o u seja, ficam pendurados n a parede da engira da tendJ, e1n cabides individuais, a fin1 de se m anter em campo vibratório) .

Pois bem, depois q ue várias guias j á havimn sido pa rtí­d8s, minha guia d e Alabê começou a ser atingida. Eu chegav<.l na sexta-feira, n<~ hora dos trabalhos, e tive a triste surpresa. Depois de remontá-la Vé1rias vezes, nosso Mentor Espiritual pedíu que eu a colocasse em torno do me u atabaque. Porém, na sessão segu inte , lá estava ela, "quebrad a" e com as contas

penduradas. Mais uma vez repus seus elementos no lugar e entre­

guei-a ao Caboclo Ubatuba, n osso Mentor, para que fosse

novarnente fírm8da. N essa ocasião, a Entidade recomendou­me que a colocasse junto ao axé de pro teção do Caboclo Boiudeiro da Jurem a (Mentor dos Ogãs), o que foi feito na mesma hora.

Na seman<i seguinte, qmmdo fui fazer as obrigações para firmeza dos couros, tive uma visão n ada agradável: cente­nas de larvas estavam saindo de dentro elas sementes e dos búzios que fo rmarn minha gui<1 de Alabê.

Deixei tudo do jei to que estav8 e esperei pelo Caboclo

Ubatub<-l q ue , ao se manifestar no terrei ro, nos deu a seguinte explicação: as gu ias danificavam-se devido a uma dem8nda que <1tuava contra nossa casa e os espíritos que ::1s afetavam, como gra ndes conhecedores ela magia, sabiam q ue anu lando

iOJ

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a proteção do Alabê, seria bem mais fácil "derrubar}! os outros Ogãs, o que fatalmente destruiria um dos principais pontos de segurança e evocação das Forças elos Orixás, facilitando­lhes o objctivo malévolo de fechar, definitivan1ente, as portas de n1ais um Templo de Luz e pregação da caridade.

As larvas eram exatamente essas forças negativas, 1na~ terializadas a fim de que conhecêssemos a verdade e obtivéssc­mos o aprendizado de o quanto é importante a n1anutenção

dos canais vibratórios que servem de sustent8culo a uma

tenda umbandista. Depois de qucbracb a demanda e feita a purificação do

ambiente, com mais alguns cuidados ensinados aos Ügãs, nunca mais tivemos nenhurn problema semelhm1te.

8º) Nunca e1npreste um instrumento sagrado

Esta história passou há mais de 40 anos. Um Babalaô, hoje dcscncarnado, embora trabalhasse

com ótimos Guias e fosse um exímio benzedor, na prática como dirigente urnbandista, ainda não de1nonstrava um gran­

de conhecimento. Aproveitando-se ele sua boa-fé, um Ogã que já havia

participado ele seu terreiro c, no momento, atuava en1 outra tenda, naquele! ocasião tomou emprestado seu atabaquc par3 tocar na nova casa durante urna comemoração ele Orixá que l;l aconteceri8, comprometendo-se a devolvê-lo no dia seguinte.

Entretanto, o dirigente da tenda ern questão apropriou­

se do instrumento, e nlll1G! mais o devolveu. Depois de um longo período de espera e de verificcu

que nenhuma mnnifcswç:io ocorria no sentido de receber novamente o que lhe pertencia, o Babalaô, na companhia de meu pai (que então era médi1..nn de gira e Ogã~de-canto) resolveu visitar o tal terreiro para pedir o atabaque de volta.

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Recebidos pelo 11pai-de-santoa desonesto, forarn avisa­dos de que poderiarn pegar o couro, tnas iriam levá-lo "quizi­

lado11 e que certamente acabariam se dando muito mal. Meu pai, não temendo as ameaças por confiar que, se

realmente h ouvesse algum problema, as Entidades de Luz destruiriam a negatividade, concordou en1 retirá-lo 1nesmo

assim. Porém o inexpe riente chefe-de-terreiro, receoso e

inseguro, reso lveu deixft- lo por lá mesmo, uma vez qu e o

ou tro ''balxda<Y' tinha m ui to m ais tempo de comando e a

fan1a de, usu <:.1 lmente, praticar fei tiçarias e m detrimento de

outras pessoas.

9º) O emprego

Este último caso Jqui colocado aconteceu recente­

n1entc con1igo, mais precisamente em agosto de 2003. Eu

estava desempregado há um ano e três meses, quando tiven1os em nosso terreiro uma gira com os boiadeiros .

1bdas as vezes ern que essas Entidades são chamadas, uma grande euforia toma conta dos Ogãs, pois somos todos "filhos comandados" do Caboclo Boiadeiro da Jurema, cuj<:1 respo nsabilicbde, além ele recair sobre n ós, se estende aos

instrumentos sagrados d a casa. Porém, naq uela noite, o C 8boclo esperado não compa­

receu. Em seu lugar, mm1ifestou-se o Boiade iro Juvêncio dos

Cafunclós, um sertanejo brincalh ão que gosta muito de contar

seus "causos", embora saibamos que, por tr8s de suas brinc:l­

deiril.S, muit;1 "mirongil" está sendo feita e muit:1 demand<l sendo clestruídn, por sua luz e competên ci e:1 .

Depois de rnuitas cantorias e risadas, o sertanejo parou

diante dos <ltabaqucs e corn austeridade falou: "Agora vamos

tn1balhar sério. Recebi uma ordem e vou cumprir m inha mis­

s8.o com a ajuda de todos vocês. Peç.o à Virgern de Nazrm2 e a

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Nossa Senhora cb Abadia para que ajudem a este hun1ilde boiadeiro, dando- me forças parL1 fazer o que foi n1andado.".

Foi qu8ndo ele me chamou e perguntou há quanto ternpo eu estava sem trabalhar. Informei~o e fiquei sabendo que rneus caminhos estavam fechados, visto que, mesmo con1 todo o cuidado q ue tomo, algumas energias negativas termi­naram recaindo sobre mim por ocupar a função de Alabê, daí a necessidade de uma vigil5.ncia m aior de minha parte, e, corno Ogã, era necess8rio que uma Entidade do Povo Boü1~ deiro viesse fazer o trabalho de limpeza e revitalização de tninha aura. Somado a isso, ainda existia a ação de resgate cánn ico, mas que daquele rnomento em diante, sobre o poder da fé e com a autorização d os Senhores do Astral, tudo iria melhorar.

Com a particípação de todos os mernbros do terreiro, numa grande doaç8o ele energias positivas, Seu J uvêncio fez ''abrir as porte iras da minha vida" e, logo na próxüna semana, eu j á me encontrava empregado, e para n1inha felicidade, numa empresa onde o pessoal responsável tam.bém é umban­dis ta. Seria coincidência?

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Salve todo o povo Boiadeiro ! Salve Seu Juvêncio dos Cafundós Xêto-Maromba~Xêto!

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O Hino da Utnbanda

Sua composição data do início da década de 1960. Tudo ocorreu quando o Caboclo das Sete Encruzi -­

lhadas, incorporado no médium Zélío Fernandino de Moraes, atendeu a um cego chamado ]. M. Alves que, apesar de não conseguir sua cura, ficou sabendo que a mestna se t ra tava de ''resgate cármico''. O hom.em então se apaixonou de tal forma pela dou trina que fez c apresentou a música ao Caboclo, o qual se mostrou muito gratificado .

Finalmente, em 196 1, durante o 2° Congresso de Un1~

banda realizado na cidade do Rio de Janeiro, foi oficializado em todo o território nacional como o Hino da Umbanda.

Hino Oficial da U mbanda (Letra/música; J. M. Alves)

Refle tiu R Luz Divina Ccnn todo seu esplendor É do reino de Oxah1

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Onde há p8z e amor Luz que refle tiu na terra Luz que refle tiu no ma r Luz que veio de Aruanda Para tudo iluminar A Un1banda é paz e amor É um mundo cheio de luz É a força que nos dá vida E à grandeza nos conduz Avante filhos de fé Como a nossa Lei não h8 Levando ao mundo inteiro A bandeíra de Oxalá!

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Letras de Pontos Cantados

Geralmente, apen<:ts pela letra, podemos notar a função

de um ponto can tado. Para exemplific a r, seguem as letras de algumas das

dive rsas c.1n tigas aclot8das na APEU, lembrando que as classi~

ficadas como "de raiz" nfio podem ser alteradas en1 hip6tesc a lgu1n;1:

Ponto de abertura

Os pre tos-velhos e os caboclos Vamos todos s:-1r<1Vi:1 ! Varnos pedir licença <l Deus, nosso Senhor! Pm nossa gir~1 começ<H Senhor do 1v1 unclo, Üx<lLí meu Pai Bnix;1i, b<lÍX<li na Umb~1 ncla oh ! M eu Senhor E a nossa Terra ilum inai

Eu abro a nossa gir;·l com Deus c Nossa Senhora Eu abro a nossa gin1, SC:lmborê, Pcmba d e Angola.

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Pon to de O xalá

ÜxL~lá, meu Pai! H asteie a bandeira branca, bem lá no alto da serra Ü xCJ hí., meu Pai! A bençoe e pe rdoe seus fi lhos, aqui na Terra Dai~nos a graça, 1'v1eu Pai! D8 sua bênção Do seu perdão, do seu amor E não permita que entre os fi lhos de Umbanda Possa existir, meu Pai, Um desertor.

Ponto do Divino Espírito Santo

Pon1binho Branco, rnensageiro de O xalá - (bis) Leve esta mensagem, de todo coração, a té Jesus v~1 dizer que somos soldados de Umbanda E que marchando até o calvário C arregamos nossa cruz V ::1 d izer que sotnos soldados de Umbanda E que marchando até o calvário Carregamos nossa cruz.

Ponto de irradiação

Eu vou pedir a OxaL_í E 8 Estrela dn Guia Que aumente a nossa luz Que nós possamos alcançar A doce vibraç8o deste Cong8 Que aumente a nossa luz Q ue nós possamos alcançar A doce vibração deste Congá.

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Ponto de defumação

A casa de Seu Ubatuba cheira À alecrim e 8 guiné (bis) Vou quein1ar 1nais alfazema Defumar n1inha J urema pra salvar filhos de fé Vou quein1ar tnais alfazema Defumar minha Juretna pra salvar filhos de fé, Okê~Odé!

Ponto de saudação aos Dirigentes Espirituais

Auê Babá! Babá é de Orixá- (bis) Auê Babalaô! Babalaô é de Orixá- (bis)

Ponto de saudação aos Ogãs

Oh! Meu Ogã, Ogã de Lei- bis A estrela que brilha lá no céu, senhor Ogã É de Jesus de Nazaré A estrela.que brilha lá no céu, senhor Ogã

É de Jesus de Nazaré.

Ponto para saudar o Congá

Quando ele vem lá da cidade da Jurema Ele vem, ele vem pra trabalhar (bis) Bate cabeça, 1neu filho, no Congá E pede forças ao Pai Oxalá. (bis)

Ponto para cruzamento na Lei de Pemba

Encruza, encruza

Ern nome de Deus encruza- (repetir várias vezes durante o ritual) Cruzou, cruzou

Em nome de Deus cruzou- (no térn1ino do cnlzatnento).

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Ponto para receber alguém com carinho

Um abraço dado de bom coração É mais do que uma bênção U b " - > LI b - )) ma ençao e uma ençao .

Pedido de licença de un1 templo visitante

Quem disse, camarada, que eu n ão vinha Na sua aldeia trabalhar um dia? Peço licença para entrar Banda com banda, faz a Umbanda tnelhorar.

Para receber o terreiro visitante

Abra a porteira cambonc, deixe o terreiro passar, Que e le veio de longe, pra visitar o Congá Aí vem (mentor visitante) que tmnbém é nosso guia Veio saudar (mentor d a casa) trazendo a sua rmnaria Sejam bem~vindos meus irmãos À casa de Oxal::1 Vamos unir nossas m5os Que a Umbanda vai melhorar Deixa a Umbanda rnclhorar, deixa a Urnbanda melhorar O i deixí.l a Umbanda melhorar, meu Deus do céu Deixa a Um bandlJ. melhorar.

Ponto para agradecer a utna boa recepção

O i Deus lhe pague, ...... (babá, pai~de~santo,)

Oí Deus lhe pague O i Deus lhe pague pela hospitalidade Oi Deus lhe pague, ...... (pai~pequeno, ogã, cambone, casa santa) Oi D eus lhe pague Oi Deus lhe pague pela hospitalidade.

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Ponto de proteção a alguém que vai embora

A Estrela~da~Guia guiou nosso Pai Guiai esse filho ao can1inho que vai A Estrela-da~Guia gu iou nosso Pai Guiai esse filho ao carninho que vai Ora viva Jesus, nosso Pai Redentor Que na Santa Cruz, seu sangue derra1nou Ora viva Jesus, nosso Pai Redentor Que na Santa Cruz, seu sangue derran1ou.

Ponto para cobrir os atabaques

Já deu a hora no relógio de Xangô - (bis) "Tabaqueiro" fecha o couro Foi Oxalá quen1 n1andou "Tabaqueiro" fecha o couro Foi Oxalá quem 1nandou.

Ponto de encerramento

Auê, auê Babá, Eu vou fechar meu Caicó Eu vou pedir licença a Zambi E vou fechar meu Caicó Mas é na fé de Seu Ubatuba Que eu vou fechar meu Caicó.

Ponto das sete linhas

Q uem está de ronda é Ogum Megê Quen1 rola a pedra é Xangô Caô Flecha de Oxóssi é certeira, é É, é, é, Oxalá é protetor, ôôô, ôô

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Sete linhas de Umband8, sete linhas pra vencer N a Fé ele Pai O xalá, ninguérn pode perecer Mãe Oxum na cachoeira, Iemanjá nas ondas do mar Iansã pra defender, pai O gum pra demandar, ôôô, ôô.

Ponto de raiz do Caboclo Ubatuba

Eu vi Seu U batuba saindo da m ata ] á era madrugada, era Lua cheia Trazendo 8 caça nos seus braços fortes Para alimentar todos os índios da aldeia Ele é caçador, ele é caçador Neste terreiro é q uem n os ualumeia"

Ele é caçador, ele é caçador Seu Uba tuba é o nosso pro tetor.

Ponto para todos os Caboclos

É índio, é índio, é índ io Mas ele é índio aonde o Sol nascer A sua flecha é É de caboclo é Mas ele é índio aonde o Sol nascer.

Ponto de raiz da Cabocla lndira

Quando eu entrei na mata, vi uma moça morena Era a cabocla Indira, companheira da J urema Vi a cabocla Indira, tod é1 vestida de penas Sair da sua A ruancla e veio trabalhar na nossa U mbanda A cabocla já chegou, vamos todos saravá Con1o a sua flecha brilha, no terreiro de O xalá.

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Ponto de Oxóssi

O h, Lua, oh, Lua ! Olha o seu andar, oh Lua! Olha o seu andar Oh, Lua, oh, Lua! O lha o seu andar, oh, Lua! Olha o seu andar Oi por detrás daquela serra Onde canta o sabiá Seu Oxóssi no terreiro Ele vem prá trabalhar.

Ponto para quebrar demanda na força dos caboclos

Apanha folha, caboclo, que eu quero ver Arranca toco pra essa árvore não crescer Eu quero ver caboclinho de Aruanda Trabalhando na U1n banda Pra Quin1banda não vencer.

Ponto a todos os Pretos--Velhos

O i, Luanda, Oi, Luanda Terra da macmnba, do batuque e do cangerê Eu vou bater tmnbor, eu vou bater tmnbor Fazer o meu batuque pra chan1ar 1neu protetor

Ponto de raiz do Pai João de Aruanda

Eu vi Pai João chorando, c fui lhe perguntar por quê Ele disse que lá n a senzala, preto não con1e e não pode beber Eu vi Pai João chorando, e fui lhe perguntar por quê Ele d isse que o carrasco é forte e tetn u1n chicote para lhe bater

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Ponto de raiz do Pai Domingos

Pai Domingos tem coroa de rei Mas ele é o rei, ele é o rei da Guiné Saravando meu pai na Aruanda Os soldados do seu reino vêm salvar filhos--de--fé

Ponto de cura na força de Preto.-Velho

Preto--Velho cura, Preto--Velho vai curar N a fé de Zatnbi, São Benedito e Ox~lá

Ponto aos Ibejis

Se eu pedir, você tne dá (bis) Um balancinho papai, pra eu brincar (bis)

Ponto prá lbejada

O anel de pedra branca Q ue eu perdi no mar azul Quem achou foi Doum O anel de pedra verde Q ue eu perdi pelo caminho Quem achou foi Cosminho O meu Dnel prateado Que eu deixei cair no chão Quem achou foi Damião

Ponto de Ogum

Ogun1 Dilê, n ão me deixe sofrer tanto assitn 1neu Pai {bis) Quando eu morrer vou passar lá na Aruanda Saravá! Ogum,

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Saravá! Seu Sete Ondas Quando eu morrer vou passar lá na Aruanda Sarav<:í.! Ogum, Saravá! Seu Sete O ndas.

Ponto para quebrar demanda na Força de Ogum

Ogun1 venceu demanda, nos campos do HUinaitá (bis) Cruzou sua espada na areia, lavou seu escudo no mar. (bis)

Ponto de subida de Ogutn

Ô, ô , ôrá, Adeus Ogum! (bis) Adeus cavaleiro de Um banda, adeus Ogum! Adeus cavaleiro de Aruanda, adeus Ogmn!- Ogum, Ogun1!

Ponto de N anã

Saluba! ê, Saluba! ê Nanã Saluba! ê Nanã, oi Nanã Buruquê.

Ponto de Iemanjá

Vamos Saravá! Mãe Iemanjá Vatn os todos juntos jogar flores no m ar É do mar, é do mar, é do mar É do mar n1inha mãe sereia Papai risca ponto n a pedra, Matnãe risca ponto na areia .

Ponto de Oxun1

Eu vi Mamãe Oxurn n<~ cachoeira Sentada na be ira elo rio (bis) Colhendo lírio , lírio, ê

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Page 109: Sandro Da Costa Mattos - O Livro Basico Dos Ogans

Co1hendo lírio, lírio, á Colhendo lírio pra enfeitar nosso Congá. (bis)

Ponto Cruzado de l ansã e Xangô

Iansã, O rixá de Umbanda Rainha do nosso Cong<1 Saravá! Iansã lá n a Aruanda E ., E ., parrer., parre1. Ians8 ven ceu demandn Iansã, saravou pai Xangô E lá n o céu, o trovão roncou E lá na mata, o leão bradou Saravá! Iansã, Saravá! Xangô.

Ponto de Xangô

Enquanto João Batista for Xangô E guiar o meu destino a té o fim Se u n1 dia minha fé se acabar, Xangô Que role esta pedreira sobre mim.

Ponto aos Pretos~Velhos de Xangô

Qucnguelê, Q uenguelê Xangô Ele é filho da cobrrl, com! Q uenguelê, Q uenguelê Xangô Ele é filho da cobra,cor<11 O lha preto está trabc:dhando Olha branco só está olhando Olha preto está trabalhando O lha branco só estt:1 olhando.

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Ponto de cura na força de Obaluaê

Obaluaê, Obaluaê, êêê Meu Pai, Obaluaê Ouve o meu pedido, neste descarrego Pipoca na casa, no canto um sossego Despache as doenças, trazendo a saúde Sob seu filá, venha me amparar Meu Pai Obaluaê É filho de Nanã Buruquê.

Ponto às Santas Almas

Oi lá no Cruzeiro das Almas Lá onde as Almas vão rezar As Almas choram de alegria Quando seus filhos combinam Também choram de tristeza Quando não ((quer, cmnbinar.

Ponto de raiz do Caboclo Boiadeiro da Jurema

Eu vi a mata se abrir E um grande guerreiro passar E ele veio com um lindo diaden1a Xetuá! Para o Caboclo Boiadeiro da Jurema

Ponto de detnanda na força de Boiadeiro (usado tambén1 em outras linhas -serve como ponto sotaque)

I áiá! Eu não sei ler láiá! Quero aprender, Me etnpreste sua cartilhe:1 Que cu também quero aprender

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Page 111: Sandro Da Costa Mattos - O Livro Basico Dos Ogans

;

E "A'' / UB" um , e um E/ "A" HB" ((C" um , un1 , um

Me empreste sua cartilhCl que eu também quero aprender.

Ponto de raiz do Boiadeiro Juvêncio

Feche a porteira boiadeiro,

Pra esse boi não desgarrar Mas se esse boi fugir eu jogo o laço e vou buscar Vou chamar seu boiadeiro J uvêncío dos Cafundós Xetuá pra boiadeiro que ten1 laço de cipó.

Ponto de Raiz do Marinheiro do Egito

Eu sou Marinheiro do Egito, eu tenho Bom Jesus para lhe dar Solte meu barco no mar Santa Bárbara, Eu tenho Bom Jesus par8 lhe dar

Ponto de Baianos

Tô na Bahia, tô na Bahia, te\ tô, tô- ( 4 vezes) É na Bahia que o baiano é rei- (4 vezes).

Ponto pra quebrar den1anda na força dos baianos

Vamos baiana, pisar no Catimbó Amarrar o inimigo na pontinha do cipó.

Ponto do Seu Zé Pilintra para quebrar demanda

Oi meu limão, oi 1neu limoeíro Oi meu limão, oi n1eu l(limoá"

Eu sou Zé Pilintra, Zé Pilintra eu sou Joguei meu punhal no ponto

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Page 112: Sandro Da Costa Mattos - O Livro Basico Dos Ogans

Para meu ponto afirmar Chamei rneus camamdas para vir me ajudar

Joguei meu punhal no ponto Para meu ponto afirmar Chamei meus camaradas pra demanda vir quebrar.

Ponto de raiz do Exu das Sete Portas

Lá no fim daquela estrada tem uma figueira torta É lá que fica a morada do Exu das Sete Portas Chama por ele, não tenha medo Seu Sete Portas guarda segredo Laroiê! Exu

Salve! Exu das Sete Portas

Ponto de raiz do Exu Maré

Olha que lindo o clarão da Lua Que refletia nas ondas do mar

Vi um h omem senta do na areia Er8 Exu Maré saudando Icmanjá Exu Maré, saravá sua banda Exu Maré, saravá sua ba nda Oi dá licença que eu vim trabalhar Saravá Exu! Salve Mãe Iemanjá! L:c1roiê Ex u! Sal v e todas as forças do n1ar!

Ponto prá quebrar demanda na força dos Guardiões Exus

Quanms vezes eu já disse que não Na minha cabeça ninguém põe a mão Você vem d e lá falando besteira

Jogando poeira no meu Congá Não adianta fazer demnnda

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Page 113: Sandro Da Costa Mattos - O Livro Basico Dos Ogans

O lha! Quimbanda com Umbancla não dá Mas acontece que por sin al Você se deu mal, eu tambétn sou de lá Oim, dim, dirn , eu tmnbém sou de lá Dím, dim, dim, eu também sou de lá .

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Regulatnento dos Ogãs (Modelo)

1 º-Todos os Ogãs deverão efetuar as obrigações necessárias antes e após os trabalhos litúrgicos.

2º- Na ausência do Alabê, o prilneiro Ogã que chegar ao terreiro deverá preparar as obrigações de proteção e firmeza dos atabaques.

3º- Os tmnbores e instrumentos auxiliares deven1 ser respei­tados, pois são os responsáveis pela hannonia musical e, principaln1ente, pela vibração do tetnplo.

4º-O silêncio deve ser mantido quando alguma Entidade estiver orientando ou passando mensagens aos presentes no local, ou quando n1édiuns estiverem rezando perante o Congá.

5º- Cada Ogã deverá, dentro do possível, afinar seu atabaquc antes do início dos trabalhos.

6º- Os instrumentos consagrados só poderão ser utilizados para fins litúrgicos.

7º- Não é permitido passar entre os atabaques, uma vez que há um8 lig8ção fluídica e vibratória entre eles, além de

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ser um a to de desrespeito aos instnnnentos de maior vibração da G1S8.

8º- O "mão~de-cm..1ro, que ainda não conhece plenamente um toque deverá percuti~ lo 1nais baixo do que os outros instrumentistas, de 1nodo que possa acompanhar sem atrapalhar o ritmo e a harmonia musical.

9º- Com orientação do Alabê, todos deverão fazer as obriga~ çôes necess<1rias para os trabalhos especiais ou externos.

1 Oº- O Ügã deverá zelar pelo seu instrun1ento , cabendo a ele repor ou consertar qualq uer peça ou parte danifi~ cada, exceto nos casos etn que outra pessoa seja respon­sável pelo dano;

1 Iº- Os Ogãs não devem tocar instrumentos e1n outro ter­reiro, sem autorização prévia do A iabê ou do Dirigente Espiritual.

12º- N ão deve existir conversas alheias durante os trabalhos litúrgicos.

13º- Os Ogãs têm a obrigação de auxiliar nos pontos cantados. I 4º - Ao término dos trabalhos, os atabaques devem ser co~

bertos pelo Dossel de Oxalá.

Observação: o verdadeiro Ogã deve ter responsabili­dade com seu instrumento, assim como com sua tnediuni­dade, le1nbrando que e la é de extretna importância para si

na sua carninhada espirituallllnbandista, ben1 como para um bom desempenho dos trabalhos do seu terreiro.

O Alabê

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Manutenção dos lnstrun1entos

A boa conservação dos ínstrun1entos sagrados de um terreiro, além de promover um melhor desempenho dos mes~ mos, pode evitar custos indesejáveis, devido a peças danificadas. Para isso, é necessário que o Ogã tenha zelo e desejo em preservá~ los, através de ::tçôes muito simples, como as que seguem:

Atabaques

• Couro: para preservá~l.o sempre seco, basta colocar o ataba, que sob a luz do Sol, pois o calor vai evaporar qualquer sinal de umidade, evit<.mdo assim a ação dos fungos. Nesse mmnento, se desejar arnaciá,lo, aplique uma pequena ca, mada de azeite ~de~dendê, espalhando por toda a pele. Um detalhe importante é afrouxar o couro ao final dos trabalhos (principalmente nos dias mais frtos), pois a lllnídade, agindo no couro es ticado, facilita o seu ron1pünento.

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• Madeira: passar un1 produto q ue proteja a n1adeira da umi~ dade e da ação dos fungos.

• Tarraxas e tirantes: deven1 ser untados con1 óleo antifer, rugem. Quando apresentaren1 defeitos ou, ainda, se as roscas ficarem "cegas", deven1 ser trocados com o n1áxilno

de urgência.

• Ganzás e agogô: por serem instrUinentos metálicos, para uma boa conservação, devem ser pintados co rn tinta espe , cial, se possível com ClÇão antiferrugem.

• Caxixi: para evitar fungos e insetos (cupins), coloque~o

sob a luz solar c, se necessário, aplique un1 produto corn ação inseticida.

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Un1 Pouco de História

No início do século XX, por volta de 191 O, Ogãs pro te­

tores de suas Casas-de-Santo, insatisfeitos com a rigidez litúr­gica dos Candomblés da época (longo tempo de iniciação, utilização de roupas e atributos caros e sujeição ao tradiciona­lismo africano), rebelaram-se e resolveram então nacionalizar

os rituais. Este movimento denonlinado "A Luta dos Ogãs" intro­

duziu certos ritu8ÍS africanos dentro da Umbanda, e de alguma forma teve influência nos chan1ados Candomblés de Caboclo e Candomblés de Angola que, devido à presença de negros bantos, índios e mu1<1tos brasileiros, possuem Lm1a liturgia mui to mais ((abrasileirada'', diferente de outros cultos trazidos da África.

A história nos cont<l que a Umbanda, nascida em 1908, por ordem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, através da manifestação medi única no n1édium Zélio Fernandino de Mo­raes, nfío usava tambores en1 seus trabalhos litúrgicos. Porén1, anos depois (em I 936), por determinação da mesn1a Enti~ dade, foi fundada a Tenda Espírita São Jorge, que até hoje

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utiliza atabrlques; deixando claro que a participação dos Ogãs e seus instrumentos foi bem aceita pelo Caboclo e pelos Espíritos de Luz que atuam na religião.

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Monte Seu Próprio lnstrutnento

De modo geral, os instrumentos utilizados numa casa wnbandista são confeccionados em fábricas especializadas. Porém, se dcscj<11~ qualquer pessoa poderá construí~los artesa~ nalmente. Para isso, segue a explicação passo a passo, de corno proceder para montar um awbaquc de tarrax21s e um belo caxixi:

Atabaquc

• Escolh3 uma madeim bern consistente, como maçarandub8 ou sucupna.

• Corte as mcldeiras em ripas de mais ou menos 6 cm de largura. • Com a plaina ajuste as ripas. • Para fazer um atabaque grande você vai precisar de mais

ou menos 22 ripas. • Coloque <1S rip3s bdo a bdo c feche-as com um arco de

ferro para segurcí.~las. • Coloque um segundo arco de ferro.

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• Vire o atabaque de cabeça para baixo e coloque o terceiro e o quarto arcos de ferro. O bojo do a tabaque influencia o som; quanto rnais estreito, tnais agudo.

• Quando o atabaque estiver com todos os arcos, coloque fogo no seu interior.

• Deixe o atabaque vinte 1ninutos com a brasa do fogo para ficar na forma.

• Destnanche a parte de baixo e passe cola nas ripas. • Coloque os aros de ferro que substituirão os primeiros aros. • Chegou a hora de encourar o ê:tabaque. Utilize couro de

bo i ou de bode. • Deixe o couro de molho na água. • N a hora de encourar, use aros de fe rro e dê mna "folga" da

carcaça para conseguir uma boa afinação. • Aperte as tarraxas aos poucos, uma por vez, como se esti­

vesse formando uma cruz. • Depois que o couro secar, afine o atabaque.

Caxixi

• O caxixi começ21 a ser feito pelo fundo, que pode ser de madeira, cabaça ou coíté. Nosso exemplo será com cabaça.

• Lixe a cabaçn até ficar limpa e, com un1n faca, vá cortando e arredondando até a t ingir o trun anho aproximado de 1 O cm de diâme tro .

• Lixe as bordas. A parte interna dR cabaça será a externa do caxixi.

• Com uma chave de fenda, faça furos que devem ser ern nún1eros ímpares: 7, 9 , 11 ...

• Cozinhe o junco em un1a solução de água e soda cáustica para que ele fique m :-:ds n1aleável.

• Depois de seco, separe algumas tiras de junco e coloque nLml balde com água.

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• Pegue um fio de junco e passe por un1a das pontas por um furo e a outra pelo furo do lado. Faça isso até que todos os furos estej:::lm preenchidos.

• Pegue mn fio de junco e amétrre todos os outros no a lto. • Com unw r.íra de junco, passe por cin1a de un1 fio e por

baixo do outro, assin1 sucessivan1ente até entrelaçar todo o fio. Ao tenninar un1 fio, pegue outro e proceda da mes1na tnanetra.

• É preciso cautela para não deixar o caxíxi torto. O fio entre~ laçado deve ser bem puxe:1do para o "ponto " não fica r largo.

• Depois de trançado até a metade, coloque a haste de junco

que serve para segurar o instnnnento.

• Corte os fios de junco na altura da haste. • Continue trançando, usando agora tmnbém a haste. • Com un1a faca, acerte as rebarbas e deixe um fio solto. • Co loque as se1nentes (lágrimas~de~nossa~senhora, olho~

de~cabra), ou búzios, de acordo com sorn desejado. • Entrelace na haste o fio que deixou solto. • Pegue um fio de junco e "costure" o caxixi. • Depois de fechado, queime todas as rebarbas e passe verniz.

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Epílogo

Ao ténnino desta obra, espero ter contribuído para un1 melho r entendimento sobre a função do Ogã, tão importante dentro de uma casa umbandista ou de outros cultos afro~brasileiros.

Tenho a humildade de reconhecer que muitas interro ~

gações ainda ficaram sem respostas, até porque, como sen1pre diz nosso dirigente espiritual: "A Umbanda é tomo tnn funil ao contd.rio, onde comcçmnos pela parte estreita e quanto mais a estudmnos, 1n:clior será a quantidade de informações a serem :1hsorvidas". Outro detalhe ünportante é que n em tudo o que diz respeito ao cargo poderá ser revelado num livro. Muitos ensinamentos s6 podem ser passados diretan1ente pela Entidade !v1entora, pelo Pai o u Mãe~de~Santo ou ainda pelo Abbê aos Ogi1s de cc.1(b t.encb., até porque, como foi frisado ainda nos primeiros capítulos, cada terreiro ten1 seu próprio fundamento.

Assim, meu maior objetivo ao escrever não foi o de ser o dono de uma verdade absoluta, pois essa somente a Zambi, o Deus Todo,Poderoso, pertence, mas, sim, passar un1 pouco do conhecimento adquirido ao longo dos anos, procurando,

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assim, ser um legítimo soldado de Oxalá, que luta bravamente em prol de un1 crescimento evolutivo e doutrinário daqueles que p8rticipam dessa religião tão linda, aceita por poucos, mc.1s procurada e, infelizmente, incompreendida por muitos: a UMBANDA!

Sara vá!

O Autor

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Fruto de estudos e pesquisas leitos tanto in-loco quanto através de narrativas históricas ou da

elucidação obtida por intermédio do Caboclo Boiadeiro da Jurema, os registres de "O livro básico dos Ogãs" procuram obedecer a uma cronologia que passa por cerimônias datadas da Antigüidade, chegando à era

contemporânea. O texto realça a importância dos instrumentos musicais no estabelecimento de elos de ligação entre os homens em seu mundo terreno e os seres da.s incontáveis esferas do plano extralísico, quer sejam dos estratos mais refinados, quer sejam

dos mais densos - pois é de conhecimento geral que em todos os ritos de que se tem informação vemo-los presentes·, seja no retininte badalar de um sino, nos

acordes de uma lira, no soprar de um oboé, seja no som grave ou agudo dos tambores.

Aqui nos deparamos com o preenchimento de uma lacuna, há muito esquecida ou ignorada e que, certamente, irá elucidar ou suprimir muitas dúvidas nas respostas não obtidas dos líderes acomodados à simples prática da mediunidade ou de liturgias herdadas e repetidas sem questionamento, ou, pior ainda, daqueles que não reúnem a mínima condiç:ão de fazê-lo por também desconhecer as verdades .

.. I cone editora

ISI~ S5-2i4-0S41J. (,