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Revista Estudos Amazônicos • vol. X, nº 1 (2014), pp. 118-158
Sai! Em nome de Jesus: reflexão sobre técnicas corporais na Igreja Universal do
Reino de Deus
Samuel Marques Campos
Resumo: Baseado na teoria das “técnicas corporais” de Marcel Mauss, este
artigo analisa algumas técnicas corporais observadas em cultos de
cura, de uma comunidade de Belém-PA, da Igreja Universal do
Reino de Deus (IURD). Para realizar tal tarefa lançamos mão,
como metodologia principal, da etnografia desses cultos, ao utilizar
a observação participante, bem como verificando os relatos sobre
os efeitos dos gestos e das orações sobre os doentes, considerando,
para isso, os depoimentos (testemunhos), as expressões corporais
e outros aspectos observados durante a pesquisa de campo. Como
complementação às observações foi feita entrevista com uma
participante que frequenta a IURD por mais de vinte anos, para
maiores esclarecimentos sobre as observações realizadas.
Palavras-chave: Igreja Universal do Reino de Deus; Técnicas Corporais; Cura.
Abstract: Based on the theory of “body techniques” by Marcel Mauss, this
article examines some techniques of the body observed in the cults
of healing of a community of Belém-PA Universal Church of the
Kingdom of God (IURD). To accomplish this task, we used as
main methodological approach the ethnography of these cults with
participant observation, checking the effects of gestures and
prayers over the sick. For this, testimony and other bodily
expressions features were observed during the field survey. As a
complement to the observations, we made an interview with a
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participant who attends the Universal Church for over twenty
years, for further clarification on the comments.
Keywords: Universal Church of the Kingdom of God; Body Techniques; Healing.
Introdução
Este artigo objetiva fazer uma descrição e análise (ainda que preliminar)
de algumas técnicas corporais observadas em reuniões da Igreja Universal
do Reino de Deus (IURD) e suas relações com as curas. Para isso foi feito
um estudo etnográfico no primeiro semestre de 2012.1 A razão da escolha
da etnografia, para a realização deste trabalho baseia-se no fato de a IURD,
conforme observação de Leonildo Silveira Campos2 e da minha
informante, Dona Joana Conceição da Silva (o nome é fictício), passarem
a imagem desta Instituição perseguida pela mídia e por adversários; desta
forma, entendo que a obtenção “eficaz” de informações ficaria difícil
através de outros métodos como de entrevistas ou de questionários. Tais
metodologias podem ser usadas, na minha compreensão, para
complementar as informações advindas da observação.3
Trabalho com a concepção de Marcel Mauss sobre as técnicas
corporais, as quais definiu como sendo “as maneiras como os homens,
sociedade por sociedade e de maneira tradicional, sabem servir-se de seus
corpos”.4 Ao esclarecer melhor esse conceito, Mauss prossegue
fornecendo maiores detalhes a este respeito:
Chamo de técnica um ato tradicional eficaz (e vejam
que, nisto, não difere do ato mágico, religioso, simbólico).
É preciso que seja tradicional e eficaz. Não há técnica
e tampouco transmissão se não há tradição [...]. Mas,
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qual é a diferença entre o ato tradicional eficaz da
religião, o ato tradicional, eficaz, simbólico, jurídico,
os atos da vida em comum, os atos morais, por um
lado, e o ato tradicional das técnicas, por outro? É
que este é sentido pelo autor como um ato de ordem
mecânica, física ou físico-química, e é seguido com tal
fim. Nessas condições, é preciso dizer muito
simplesmente: devemos lidar com técnicas corporais. O
corpo é o primeiro e o mais natural instrumento do
homem. Ou mais exatamente, sem falar de
instrumento, o primeiro e mais natural objeto
técnico, e ao mesmo tempo meio técnico do
homem é seu corpo.5
Neste sentido, observo que a IURD como sendo a principal igreja
representante do movimento neopentecostal brasileiro, a qual, além de
enfatizar a prosperidade financeira e o exorcismo, também focaliza as
curas. Desse modo, para analisar as técnicas corporais relacionadas aos
rituais mágico-religiosos de curas em uma IURD, em Belém-PA, trabalho
com a conceituação maussiana sobre as técnicas corporais, ao considerar
também, a observação feita por Heraldo Maués6 sobre a aplicação das
técnicas corporais, da Renovação Carismática Católica (RCC).
Esta igreja realiza diariamente várias reuniões. Cada dia com um tema
específico. Há reuniões da prosperidade, de fortalecimento espiritual,
terapia do amor e etc. Dentre esses encontros, os rituais de cura acontecem
às terças-feiras e são denominados de “Sessão do Descarrego” ou, mais
recentemente, estão sendo chamadas também de “Sessão de Limpeza
Espiritual”. Para fazer este artigo, escolhi observar os cultos das terças-
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feiras. A razão dessa escolha foi a descrição enfática desses cultos existente
no site oficial da igreja, a qual revela a natureza dos mesmos:
Cada vez mais pessoas têm sido atormentadas com
problemas de ordem espiritual. Visão de vultos,
audição de vozes, doenças, vícios, inveja, entre
outros males, vêm fazendo muitas vítimas. Se você
está passando por situação semelhante, saiba que
Deus tem o poder dar um fim ao seu sofrimento. A
Sessão do Descarrego, que acontece às terças-feiras
na Igreja Universal do Reino de Deus, foi criada
com o objetivo de lutar contra as forças espirituais
do mal. Nestas reuniões, são feitas orações fortes
para a quebra da maldição e, com isso, milagres
ocorrem constantemente a cada encontro. Dê um
ponto final ao seu sofrimento. Busque ao Deus vivo
que é capaz de libertar, curar e fazer de você uma
pessoa completamente feliz. Participe das sessões
de oração em uma IURD perto de você!7
O segundo motivo deve-se ao fato de um dos obreiros da igreja ter
ratificado, por telefone, que a reunião realizada as terças-feiras destinava-
se à cura de doenças. E, finalmente a terceira razão dessa escolha
concentrou-se na afirmação de minha informante, Dona Joana – fiel da
IURD há cerca de 20 anos – de que o mencionado culto era adequado
para se obter a cura divina. Além de Mauss,8 trabalho também com a
importância das cosmovisões sobre as doenças e as curas em diversas
comunidades, como as examinadas por Lévi-Strauss,9 Edward MacRAE,10
Heraldo Maués11 e (Nome) Wawzyniak.12 À luz das descrições realizadas
por estes estudiosos, procuro a importância das concepções sobre as
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doenças e as curas da IURD. Para compreender a cosmovisão iurdiana,
lanço mão de bibliografia produzida pela própria liderança da igreja, bem
como por pesquisadores que estudam a IURD.
Obtive as informações a partir das observações dos cultos da IURD
nas terças-feiras, durante os meses de junho e julho de 2012. Neste estudo,
entendo a observação como sendo a técnica para se “obter [dados] a
respeito de objetivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência,
mas que [podem orientar] o seu comportamento”.13 Assim como
compreendo a etnografia empreendida, ancorada nas contribuições de
Bronislaw Malinowski14 e, especialmente, nos estudos de Roberto
Cardoso de Oliveira15 que considera a importância do olhar e do ouvir, os
quais devem ser treinados para a percepção do fenômeno no trabalho de
campo, e a relevância do ato de escrever como mecanismo importante de
reflexão que dá a configuração final ao trabalho antropológico.
Adicionalmente e como complementação à etnografia, realizei uma
entrevista com Dona Joana para obtenção de sua visão sobre doenças e
curas a fim de esclarecer e detalhar melhor os aspectos e as expressões
corporais que observei durante os cultos. Quanto à estruturação deste
texto, o fiz em quatro partes. A primeira trata da concepção iurdiana de
doenças. O segundo tópico apresenta a descrição de um ritual de cura. A
terceira parte retrata as técnicas corporais observadas. Na última, foram
feitas as comparações entre as concepções de doenças iurdianas com a
visão de ribeirinhos da região amazônica e a dos indígenas.
Concepção Iurdiana: teologia e visão sobre as doenças
Ao trabalhar como a cosmovisão dos ribeirinhos do rio Tapajós, no
Pará, afetam o seu cotidiano, Wawzyniak reflete sobre as crenças dessas
populações e como se relacionam com a natureza e com as suas atividades
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de subsistência, como a caça e a pesca. O pesquisador considera
basicamente o “[...] modo como eles concebem o ambiente da floresta e
do rio”, indicando “[...] a forte presença das concepções locais no
cotidiano da população ribeirinha [...] nas esferas da saúde, da economia e
da política”.16 Ao seguir essa trilha, é importante conhecer a cosmovisão
iurdiana que orienta sua visão sobre as doenças e as formas de se obter a
cura. Suas crenças têm estreita relação com a teologia da confissão positiva
e, mais especificamente, com a teologia da prosperidade que é uma das
marcas do neopentecostalismo brasileiro, tendo como seu representante
principal a IURD.
A confissão positiva
A expressão “Confissão Positiva” pode ser definida como a ação de
“trazer à existência o que declaramos com nossa boca, uma vez que a fé é
uma confissão”.17 Ela também é conhecida como o “evangelho da saúde
e da prosperidade”, como a “palavra da fé” e como o “movimento da fé”.
Para Alan Pieratt a confissão positiva envolve o conhecimento que o
crente deve ter dos seus direitos, ou seja, deve-se ter ciência das leis
espirituais que Deus estabeleceu para os cristãos na Bíblia e usá-las para se
conseguir as bênçãos de que se precisa. Essa confissão deve ser feita com
a firmeza de fé.18 Isto significa que conhecendo as leis espirituais, se pode
exigir e determinar a bênção, e nunca duvidar de que a cura e a
prosperidade certamente se cumprirão. Bem como se deve usar o nome
de Jesus para se conquistar a bênção, tendo a certeza de que Cristo
cumprirá as suas promessas. E por último, deve-se pronunciar o que se
deseja em voz alta, sem duvidar, mesmo que a petição pareça não ter se
cumprido. Então, ao realizar esses passos, se pode mover o mundo
espiritual para se conseguir as bênçãos no mundo material.
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Essa crença ensina que a marca de um cristão de fé é a plena saúde e a
prosperidade financeira. De acordo com Pieratt “a teologia da
prosperidade não se cansa de repetir que nem doenças nem problemas
financeiros são da vontade de Deus para o cristão”.19 Paulo Romeiro
acrescenta que essa perspectiva enxerga a “pobreza e [a] doença [como]
resultados visíveis do fracasso do cristão que vive em pecado ou possui fé
insuficiente”. Assim, essa corrente doutrinária ensina que a doença é fruto
de maldições, de fracassos, da vida de pecado, da fé insuficiente, ou até
mesmo da incredulidade.20
Dentre os vários representantes da Confissão Positiva, o norte-
americano Kenneth Hagin (1917-2003) é emblemático. Ele é um dos
referenciais de R. R. Soares, tanto que a sua editora, Graça Editorial, é a
responsável pela tradução e publicação dos seus livros em português.
Hagin pregava o poder da palavra proferida e da fé para a cura de doenças
e para a prosperidade financeira. Diferentemente dos pentecostais, cuja
ênfase recai no batismo, no Espírito Santo e na glossolalia, a Teologia da
Prosperidade, no Brasil, encontrou grande acolhida entre os
neopentecostais. De acordo com Romeiro a IURD “possui alguns
respingos do Movimento da Fé”, sendo que o seu carro-chefe é a
acentuada ênfase na prosperidade financeira.21 Esse destaque é encontrado
na entrevista concedida pelo pesquisador Ricardo Mariano a Tavolaro e
Lemos quando ele ressalta que desde o início da igreja, “Edir Macedo
implantou com agressividade discursos que estimulavam os fiéis a não se
acomodarem com a pobreza, o desemprego e as más condições de vida
em geral”, como as doenças.22
A Teologia da Prosperidade
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A partir da observação de práticas da “prosperidade” da IURD,
disponibilizadas pela mídia as quais foram reconhecidas através de
conversas com pessoas ligadas à igreja, bem como a partir da análise de
obras da própria liderança do movimento, percebi que há uma ênfase na
doação de ofertas, assim como há uma relação de causa e efeito na
associação entre uma vida próspera financeiramente e o volume de
recursos que se entrega, ou seja, constatei que a teologia da prosperidade
é a impulsionadora dessas práticas. Desse modo, é relevante compreender
a racionalidade da prosperidade na cosmovisão iurdiana, a fim de se
elucidar a forma como este movimento entende a recepção das bênçãos.
Para Romualdo Panceiro, o sucessor natural de Edir Macedo, a vida cristã
possui o seguinte tripé: a fé, a obediência e o sacrifício.23
A fé pode ser classificada como natural e sobrenatural. A natural é
aquela inata a todas as pessoas, trata-se de uma espécie de “sexto sentido”;
é uma confiança baseada em evidências e é racional. Já a fé sobrenatural,
no dizer de Macedo “é uma certeza absoluta, independente da razão, vem
da parte de Deus [...] e torna possível o milagre”.24 Essa fé sobrenatural é
uma confiança muito grande de que Deus certamente irá abençoar, mas
deve estar pautada na obediência à Bíblia, sendo necessário saber que “as
promessas de Deus [como as de prosperidade] existem” e para consegui-
las é necessária “a [...] fé perseverante” que consiste em “exercitar [a]
crença na Sua Palavra”.25
Esse exercício prático da fé é chamado de sacrifício. Os sacrifícios de
animais descritos no Primeiro Testamento26 da Bíblia não são mais
necessários nos dias de hoje, pois apontavam para o sacrifício único e
vicário de Jesus na cruz. Ao refletir sobre o significado dos sacrifícios de
seres humanos e de animais para as religiões, Portella pondera que o
sacrifício também “[...] pode ser interpretado como uma forma de
consagração, isto é, de se introduzir o profano na esfera sagrada, seja este
profano uma pessoa, um alimento, lugar ou objeto”.27
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Na visão da IURD, as ofertas em dinheiro correspondem a esse
sacrifício para a divindade. Não é mais necessário derramar sangue de
animais, pois a “oferta é o instrumento pelo qual o ser humano se
aproxima de Deus”,28 cumprindo o papel que o sacrifício de animais tinha
outrora. Atualmente, “o dinheiro [...] é o sangue da Igreja” e corresponde
a essa consagração do fiel a Deus.29 No dizer de Edir Macedo, essa fé que
se materializa através das ofertas “é sempre acompanhada pelo sacrifício”.
A “qualidade de oferta determina a qualidade da fé” e a “oferta de
sacrifício é a mais alta expressão da fé sobrenatural, a fé com qualidade”.30
Para a IURD há uma espécie de lei espiritual do retorno, ou da doutrina
da reciprocidade, ou seja, se alguém crer nas promessas de Deus e exerce
uma fé sobrenatural, sacrificando ofertas de qualidade à divindade,
certamente obterá retorno. Nesse sentido, É preciso crer que “Deus é
muito grande” entregando-se totalmente a ele sem “[...] ficar rateando,
tentar negociar”, pois “é tudo ou nada”.31
A partir dessa compreensão, Deus espera que o indivíduo se consagre
totalmente a ele, entregando-se sem reservas e demonstrando através das
suas ofertas essa completa consagração. Inclusive, ao falar sobre a
importância dos dízimos, Macedo revela que esse valor “é um
compromisso que revela a fé prática”. Ao dizimar, “Deus fica obrigado a
esse compromisso com a pessoa que deu o dízimo, fica obrigado a cumprir
a promessa que está na Bíblia: ‘Trazei o dízimo e eu abrirei as janelas do
céu’”.32
Desse modo, percebe-se que a fé sobrenatural demonstrada pelo
sacrifício das ofertas é uma espécie de interruptor que ativa a bênção e a
cura. Assim sendo, as palavras de Pieratt resumem a lógica da prosperidade
encontrada na IURD:
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Concluímos o resumo das promessas do evangelho
da prosperidade na área de saúde e riquezas, fazendo
uma observação sobre sua coerência. Uma vez que
se afirma que a vontade do Senhor para o cristão
envolve todas as coisas boas da vida, não há
imposição de condições nem se volta atrás naquilo
que é prometido, mas apenas a promessa clara de
que qualquer um que recorrer a Cristo receberá o
que pede. As promessas têm uma amplitude
maravilhosa e uma extensão sem limites.33
Doença e cura na concepção iurdiana
Assim como Lévi-Strauss, Maués, MacRAE, Wawzyniak, por exemplo,
constataram as concepções de doenças e de obtenção de curas entre os
ribeirinhos do Tapajós, vegetalistas, na comunidade amazônica de
pescadores e de indígenas, a IURD, no espaço urbano, também possui
explicações para as doenças e as suas causas. Na concepção de Edir
Macedo as doenças têm origem demoníaca, mesmo que “[...] nem todas
sejam provenientes de possessão demoníaca, convém lembrar que elas não
são de Deus”. Para ele “tudo o que existe de ruim neste mundo tem sua
origem em Satanás e seus demônios”, é por isso que “os hospitais vivem
lotados, os cárceres apinhados, os manicômios cheios e a miséria, a dor e
o caos pairam sobre a face da Terra”.34 Nesse sentido, os demônios “são
espíritos sem corpos, anjos decaídos, rebeldes, que atuam na humanidade
desde o princípio, com a finalidade de destruí-la e afastá-la de Deus”.35
Seguindo a tradição cristã conservadora de interpretação de textos bíblicos
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do Primeiro Testamento, como Isaías 14.12-15 e Ezequiel 28, Macedo
acredita que Lúcifer era um anjo de Deus, mas que se rebelou ao querer
ser igual ao seu Criador. Vários anjos o seguiram e, por isso, foram
expulsos do céu e transformaram-se em demônios. Atualmente vivem
errantes e são inimigos de Deus, almejando enganar e destruir os seres
humanos. Para de alguma forma afetar a Deus, esses espíritos atingem as
pessoas através de doenças, misérias, desastres financeiros, fazendo-se
passar por entidades enganadoras as quais, na visão iurdiana, se
manifestam em religiões afro-brasileiras. A propósito das divindades das
religiões afros, Macedo informa que os exus, os orixás, os caboclos, os
preto-velhos e os guias são, na verdade, “espíritos malignos sem corpo,
ansiando por achar um meio para se expressarem neste mundo, não
podendo fazê-lo antes de possuírem um corpo”.36
Portanto, os demônios precisam de um indivíduo para se manifestar,
pois eles “[...] não têm corpo, tamanho ou sexo, entretanto, se alojam em
um corpo humano e ali fazem miséria”.37 Para o líder da igreja, as forças
demoníacas agem até nos micro-organismos microscópicos:
Toda doença tem uma vida; isto é, algo que a faz
aumentar e continuar a sobreviver [...] [a] doença é
provocada por um micro-organismo, que só é visto
por intermédio do microscópio, mas está vivo. Há
uma força que o faz viver e essa força tem vida. É o
espírito de enfermidade. Quando se toma um
remédio eficaz, ele morre; o espírito de enfermidade
deixa o corpo daquele micro-organismo germe e a
doença, naturalmente, acaba.38
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Ao considerar esta afirmativa podemos inferir que os demônios ao
tomarem o corpo de uma pessoa se tornam os responsáveis pelas doenças,
posto que se apoderem também dos germes causadores das mesmas, desta
forma, para Macedo: “Quando um remédio mata o germe que causa a
enfermidade, o corpo [em que residia o germe] morre e o seu espírito [de
enfermidade] o deixa, ficando a pessoa curada”.39 Perguntei para Dona
Joana se para cada enfermidade havia um mau espírito correspondente.
Ela respondeu afirmativamente, dizendo que “eles são tão organizados
que você não pode imaginar. Eles têm classificação e hierarquia [...] um
manda no outro”.40 Para tanto, citou várias entidades das religiões afro-
brasileiras, nomeando como demônios, ao mesmo tempo em que deu um
exemplo de como disseminavam as doenças: “[...] [eles] colocam doença
[por exemplo] em comida quando é preparada na umbanda”.41 Segundo o
seu entendimento, os espíritos malignos podiam lançar doenças sobre as
pessoas através de refeições enfeitiçadas, ou ainda a partir de uma palavra
de maldição rogada por um inimigo.
Ao considerar a concepção de Macedo a este respeito, contando uma
de suas experiências em um culto público, o mesmo relatou que uma
mulher, após uma oração, caiu possessa. Ele então perguntou o nome da
entidade, ao que ela afirmou ser a “pomba-gira” e desta maneira
prosseguiu a narrativa:
“[...] com voz estranha, o demônio afirmou [...] que
estava naquele corpo havia cinco anos, provocando
feridas no seu útero [...] Logo após a expulsão do
espírito demoníaco, ela saiu radiante da reunião e,
poucos dias depois, reapareceu confessando sua
libertação e conseqüentemente sua cura”.42
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Neste sentido, consequentemente, as pessoas ficaram curadas quando
os demônios, causadores de doenças, foram expulsos. Além dos relatos
sobre a origem demoníaca das doenças Edir Macedo reconheceu que nem
todas apresentavam a mesma procedência. E para estes casos,
recomendou: “[...] que se deve ter uma alimentação sadia e todo o cuidado
com a saúde, evitando se expor a doenças transmissíveis e não exagerar
no beber ou no comer, pois muitas vezes as enfermidades são causadas
por tais abusos”.43 Ao observar esta prescrição, percebi a semelhança com
a visão de uma comunidade de pescadores sobre as “doenças naturais”
que para eles possuem “causas de ordem natural ou normal”, apesar de
suas explicações estarem baseadas na medicina hipocrática dos antigos
gregos a respeito dos humores (quente-frio).44
Da mesma forma que, ao responder à pergunta sobre se “todo doente
é endemoninhado?” Macedo expressou de forma enérgica : “É claro que
não!”, pois para ele havia uma grande diferença “entre estar com um
espírito de enfermidade e estar possesso”, ao fazer a seguinte assertiva:45
Somos seres humanos e estamos sujeitos às
variações climáticas ou orgânicas, que podem
provocar desequilíbrio físico, nos deixando
vulneráveis às doenças. Não devemos nunca
esquecer que nosso corpo não é invulnerável; ele é
o templo do Espírito Santo, devendo ser cuidado e
nutrido, para estar fortalecido contra os ataques das
enfermidades de Satanás.46
Neste sentido, para Macedo, quem está doente não necessariamente
está tomado por demônios, mas possui algum espírito de enfermidade que
está alojado na parte do corpo que dá origem à moléstia. Mas quem está
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possesso, está tomado por demônios e essa pessoa, com certeza, tem
doenças de origem maligna. Consequentemente, “quando alguém está
com esse espírito [de enfermidade], está doente e não possesso”.47
Constatei que para Macedo além das doenças que se manifestam
fisicamente, há as doenças espirituais. O que segundo a sua compreensão
“[...] são aquelas que apresentam sintomas de enfermidades sem que os
médicos consigam localizar ou diagnosticar as suas causas”.48 Ele explicou
que toda pessoa endemoninhada “possui doenças que não encontram
explicações médicas ou naturais”.49
Essa descrição macediana sobre as causas das enfermidades humanas
encontra paralelo na descrição das concepções caboclas relatadas por
Maués. Para estas comunidades, as “doenças não-naturais [...] anormais
[...] que não podem” ser curadas pela “medicina ocidental”.50 Quando não
se consegue curar tais doenças de forma tradicional, pelo uso de
medicamentos, então, semelhantemente à visão iurdiana, trata-se de uma
espécie de doença espiritual. Tais doenças são “[...] mágicas: quando uma
doença natural não pode ser resolvida pelos métodos da medicina oficial,
suspeita-se que seja causada por razões sobrenaturais”.51 Dessa maneira,
podem ser provocadas por pessoas que, movidas por inveja, lançam mão
de feitiçaria para atingir seu adversário. Assim como os demônios são a
causa de todos os males e doenças, é necessário expulsá-los para que a
doença, seja física ou espiritual, saia e ocorra a cura. E essa cura será
imediata através da libertação, a qual consiste em participar dos cultos em
que o pastor faz orações “em nome de Jesus”. Desta forma, “quando [o
demônio] é expulso da vida dessa pessoa, com a libertação, a cura é
instantânea”.52
Enfim, a causa das doenças assim como de todos os males como a
prostituição, o adultério, os assassinatos são de origem maligna, sendo
necessário passar pelo processo de libertação para expulsar os espíritos
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malignos causadores de tais males para que a pessoa se desvencilhe dos
problemas.
Um ritual iurdiano de cura
Em uma reunião de terça-feira, um jovem obreiro, aparentando ter
entre 18 e 20 anos de idade, estava recepcionando as pessoas na entrada
do templo. Ele trajava uma camisa social azul, uma calça preta e uma
gravata listrada (detalhes na cor preta e vermelha). Nas mãos carregava um
pote transparente com óleo e um conta-gotas. Mediante as pessoas que
entravam no templo com uma garrafinha plástica de água mineral, tirava a
tampa e colocava uma gota do óleo na água. Parecia que estava “ungindo”
a água, ou seja, de alguma forma estava abençoando aquele líquido.53 Antes
de chegar ao templo, nas suas proximidades, observei que havia vários
ambulantes vendendo garrafas de água mineral. Comprei uma e, na
entrada, o obreiro colocou duas gotas de óleo em minha garrafa. Prossegui
e verifiquei que no corredor havia vários obreiros que conduziam as
pessoas, recepcionando-as de forma muito educada. Neste dia, segundo o
direcionamento dos obreiros, sentei-me na sexta fileira da frente, do lado
direito do púlpito (da perspectiva do fiel). O culto ainda não havia
começado.
Poucos minutos depois, o pastor Fernando (o nome é fictício),
dirigente do culto, entrou. Ele vestia uma camisa polo, uma calça social,
um cinto e um par de sapatos brancos. Parecia um médico. Ao falar e
gesticular, percebi que estava com um anel grosso, brilhante (pareceu-me
de ouro), no dedo anelar da mão esquerda. Vários/as obreiros/as (cerca
de vinte) estavam à frente do púlpito, na parte de baixo, com trajes
totalmente brancos. Alguns, no entanto, não estavam totalmente com
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roupas brancas, vi alguns com camisas sociais azuis claras e calças sociais
pretas, bem como vi poucas obreiras trajando vestidos sociais azuis
escuros.
Observações sobre o templo
Em cada lateral do templo há seis grandes vitrais com os nomes das
doze tribos de Israel, conforme registro bíblico do Primeiro Testamento.54
Na parte central atrás do púlpito (que o pastor chama de “altar”) tem um
grande vitral. Na sua base há um símbolo da IURD. Há, desenhado, um
grande candelabro com sete lâmpadas. Na parte superior esquerda do
candelabro há um símbolo semelhante à letra “A” e na sua parte superior
direita há o símbolo grego do Ômega.55 Na parte superior do candelabro,
na região central, há uma Bíblia com os seguintes dizeres: “Eu sou o
caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim”,
trata-se de uma citação do texto bíblico do Evangelho de São João 14.6.
Em cima do púlpito estava uma construção de tijolos com aparência de
pedras que parecia um altar de aproximadamente 1,5 m. Atrás do púlpito,
cobrindo o vitral com o candelabro, estava uma grande faixa com a
inscrição no topo: “Porque não neguei nada a Deus, Ele me abençoou em
tudo”. Na base da faixa estava um monte, lembrando o monte do sacrifício
em que o personagem bíblico Abraão foi chamado para sacrificar o seu
filho. Aliás, o tema do sacrifício era constantemente falado na reunião.56
A reunião em si
O pastor entrou no templo e disse: “boa tarde pessoal” e em seguida
falou “bem forte pra Jesus”. Após proferir estas palavras, as pessoas
começaram a bater palmas. Em seguida perguntou se alguém estava com
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alguma dor. Várias pessoas levantaram as mãos indicando positivamente.
Então, pediu que os doentes fossem à frente “em nome de Jesus”.
Posteriormente, o pastor instou aos obreiros que entregassem para cada
um o envelope da oferta, do sacrifício da Fogueira Santa de Israel.57 Após
a entrega, solicitou que cada um levantasse o envelope. Fez uma breve
oração invocando que o poder de Deus emanasse sobre o envelope, contra
todo o mal. Após essa oração, o pastor pediu que o envelope fosse
colocado no lugar da dor. Observei as pessoas alocando sobre as costas,
outras na cabeça, no peito (talvez representando o coração), etc. Em
seguida, o religioso pediu para que as pessoas repetissem as seguintes
palavras de ordem “eu ordeno que toda a dor, todo o mal e toda a doença
saiam em nome de Jesus”.
Em seguida, às pessoas que não foram à frente foi solicitado que
levantassem as mãos em direção ao grupo que estava lá estavam. O pastor
orou para que o mal saísse. Durante as orações duas doenças foram
enfatizadas: a AIDS e o câncer. Nos cultos em que participei não observei
nenhum testemunho de cura acerca delas, posteriormente, ao indicar o
final da oração, o pastor gritou bem alto: “sai!”. Após a oração, pediu para
aqueles que estavam na frente que respirassem fundo e, segundos depois,
procurar a dor. Várias pessoas levantaram as mãos informando o sumiço
da dor. Na hora houve vários testemunhos de cura instantânea. Um dos
relatos foi o de uma senhora que à frente, no altar, disse que a dor do seu
ombro havia desaparecido. Após os testemunhos, sendo que a maioria se
constituía de relatos sobre o sumiço de dores em diversas partes do corpo,
membro religioso pediu às pessoas que levassem para casa o envelope e
fizessem uma oferta em dinheiro como um sacrifício para Deus, em sinal
de agradecimento pela cura recebida.
Em seguida todos retornaram para os seus lugares e o pastor perguntou
se havia pessoas com problemas. Várias levantaram as mãos. Então pediu
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aos presentes que fizessem duas filas indianas no corredor, para que ele
impusesse as mãos sobre as suas cabeças. Isso feito informou que se
houvesse algum demônio escondido, ele iria se manifestar para ser
expulso. Ao impor as mãos, orava para que o espírito do mal saísse. Entrei
na fila e participei do ritual. As pessoas ao serem tocadas na cabeça,
recebiam uma brevíssima oração e retornavam para os seus lugares.
Enquanto tocava nas cabeças dos participantes, ouvi o religioso proclamar
bem alto as seguintes expressões: “em nome de Jesus seja liberto; sai todo
demônio [...] todo espírito da amarração; onde você estiver desgraçado,
saia em nome de Jesus; sai daí praga [...] saia agora [...] sai espírito do
inferno [...] eu determino que saia agora... [etc.].”58 Retornei ao meu lugar
e fechei meus olhos. Nesse momento ouvi gritos, como se fossem, na
cosmovisão iurdiana, de pessoas possessas. Ao abrir meus olhos percebi
que uma jovem senhora, a qual aparentava ter entre 28 a 30 anos de idade,
ao meu lado, estava recebendo uma oração com a imposição de mãos feita
por um obreiro, todavia, o grito parecia não vir dela.
A seguir, após a imposição das mãos sobre os presentes, o pastor pediu
para que pegássemos a garrafinha com água ungida que havíamos trazido.
A água havia sido ungida no início da reunião com gotas de óleo chamadas
de “gotas do milagre”. Ao nos solicitar que levantássemos a garrafinha
com a mão, fez uma oração pedindo que o Espírito Santo consagrasse
aquela água, a fim de que se transformasse em fogo e ao ser bebida pudesse
expulsar, o “demônio desgraçado” e o mal de dentro da pessoa. Depois,
ele pediu que bebêssemos um gole de água. Nesse momento, percebi um
homem supostamente endemoninhado que estava se contorcendo com as
mãos para trás, um obreiro orava sobre ele enquanto o pastor fazia a prece
sobre os participantes. Após a consagração da água, o pastor se dirigiu ao
senhor possesso que aparentava ter uns 50 anos de idade e lhe ordenou ao
perguntar qual era o nome do demônio. O homem respondeu com voz
grave e embargada: “exu da morte”. E, ao dizê-lo o demônio informou
136 • Revista Estudos Amazônicos
que havia sido contratado por muito dinheiro para matar o homem que
estava possuído. O religioso explicou que o “exu da morte” era o nome
do “encosto” – um demônio preparado para destruir. O líder dos pastores
que estava presente àquela possessão, informou que se tratava de um
trabalho de “macumba”.59 Em seguida, o pastor disse que as pessoas ali
presentes tinham de estar dispostas a manifestarem a sua fé, para se
livrarem dos demônios que traziam problemas e doenças.
Durante a sessão de exorcismo, enquanto o homem estava de joelhos
e com as mãos para trás, o pastor declarou que muitos entregavam grandes
quantias de dinheiro aos demônios para terem seus problemas resolvidos,
enquanto que outros muitos na igreja não têm coragem de chegar ao altar
(o nome do púlpito) e fazer uma oferta de sacrifício. Reforçou que várias
pessoas têm coragem de gastar “rios de dinheiro” com remédios, mas não
apresentam a mesma coragem de depositar o seu dinheiro sobre o altar.
Em seguida, com o homem ainda em estado de transe, falou sobre a
fogueira santa que ocorreria sobre o monte Moriá, em Jerusalém, Israel.
Nesse ínterim, com o senhor ainda possesso e sob o controle de um
obreiro, o pastor perguntou se alguém da plateia tinha algum pedido para
fazer a Deus. Vários levantaram as mãos. Então, ele recomendou que se
fizesse o pedido e colocasse uma oferta de sacrifício para que este pedido
fosse levado a Israel, ao mesmo tempo em que ressaltou a coragem de
fazer o sacrifício. Nesse sentido, inferia que não se devia colocar uma
oferta qualquer, mas sim o seu sacrifício. Em seguida ele deu o exemplo
de uma pessoa da “nação dos 318”60 que depositou no altar R$ 60.000,00,
no dia anterior. Essa pessoa disse ao pastor: “esse é o sacrifício que eu
ofereço ao meu Deus”.61 Outro exemplo mencionado foi o de um rapaz
que entregou uma motocicleta. Outro relato feito pelo pastor foi o de um
senhor que deu um carro que valia R$ 100.000,00.
Revista Estudos Amazônicos • 137
Após citar estes três exemplos, declarou que o Diabo tem medo do
sacrifício, pois a bênção com certeza será entregue, o que contraria os
interesses diabólicos para com o ser humano. Depois o pastor pediu que
um obreiro trouxesse um envelope do sacrifício e o colocou sobre a testa
do homem endemoninhado. Ao fazê-lo, o senhor possesso gritava: “tá
ardendo! tá pegando fogo!”.62 O pastor disse que era o fogo da fogueira
santa de Israel que estava queimando a entidade. Em seguida, pareceu que
o homem foi libertado do espírito mal. Nesse momento, a esposa do
homem possesso foi à frente, depois da libertação e informou que o seu
marido aos 15 anos de idade procurou a “macumba” e foi consagrado em
uma religião afro desde a adolescência. Disse também, que recentemente
o seu esposo tentou matá-la várias vezes.
Após estas narrativas, o pastor chamou o casal e ao impor as mãos
sobre eles, orou para que todos os demônios se manifestassem e
novamente, o homem ficou possesso. Mediante esta situação o pastor
ordenou que o demônio maioral se manifestasse. E, ao término da
contagem de um até três o homem possesso disse que o seu nome era
“Lúcifer”. Então o pastor orou libertando a ele de todos os demônios que
o possuíam. Depois da oração, o pastor solicitou que olhassem para uma
réplica de um altar construído em cima do púlpito. Então, ao mesmo
tempo em que apontava para o altar, dirigiu-se à plateia, e disse ser o
sacrifício a chave da vitória e da libertação do senhor que havia sido
possuído pelos demônios. Em seguida ao relato do processo de libertação
do homem possuído por demônios, foi mostrado um vídeo de uma
praticante de uma religião afro (não dava para ver o seu rosto, pois estava
embaçado), no qual a praticante parecia uma cartomante que dizia ao seu
cliente o quanto deveria ofertar, cerca de R$ 3.000,00, para que o trabalho
fosse feito e os seus problemas fossem solucionados. Ele deveria se
sacrificar. Na consulta, o cliente deixaria sinal de R$ 50,00 e colocar um
cheque com o valor restante, correspondente ao serviço, para que este
138 • Revista Estudos Amazônicos
fosse realizado. Após o vídeo, o qual durou aproximadamente cinco
minutos, o pastor disse que assim como a feitiçaria exigia sacrifícios para
o Diabo, da mesma forma era necessário que as pessoas se sacrificassem
ao Deus verdadeiro para genuinamente serem abençoadas e libertadas.
Para alcançar a bênção, o pastor enfatizava a necessidade de se estar
com a disposição de dar tudo. Para tanto, citou um texto bíblico atribuído
ao personagem Davi que dizia “eu não vou dar um sacrifício que não me
custe nada”.63 Ao citar o episódio bíblico, informou à congregação que
não sabia de quanto seria o sacrifício de cada pessoa da plateia, o quanto
ela iria ofertar, mas que deveria ser algo pessoal, entre a pessoa e Deus,
entretanto, à semelhança de Davi, deveria custar algo; deveria ser um
verdadeiro sacrifício. O pastor pediu às pessoas que já tivessem o envelope
da fogueira santa que subissem a escada ao lado do púlpito, aquela que lhe
dava acesso, para passar com fé, pela réplica do altar. Orientou aos que
pretendiam sacrificar em outros dias, que também podiam subir, mas que
deveriam pegar o envelope. Alguns tocavam no altar, para demonstrar a
fé que acreditavam ser necessária para alcançar os seus pedidos.
Depois de as pessoas retornarem aos seus lugares, o religioso pediu
para que levantássemos um objeto trazido de casa, aquele que
representaria o nosso pedido. Vi pessoas levantarem fotos, chaves,
documentos etc. Em seguida, o pastor fez uma oração e solicitou às
pessoas que pronunciassem as seguintes palavras: “eu determino a minha
vitória e toda a obra do inferno seja desfeita”. Após essa oração feita em
louvor dos pedidos das pessoas, representadas pelos objetos, o pastor
chamou vários obreiros os quais levavam sacolas para um momento de
ofertas. Percebi que também levavam livros. E, em seguida, fez três
momentos de ofertas. Aqueles que iriam ofertar valores de R$ 10,00
poderiam depositar as quantias na frente do altar e receber o livro “Orixás,
caboclos e guias” ou “Nos passos de Jesus”, ambos da autoria de Edir
Revista Estudos Amazônicos • 139
Macedo. A seguir deveriam ser aqueles que ofertassem valores de R$ 5,00
e estes receberiam um CD de músicas que são entoadas nas reuniões. Por
último, aqueles que ofertariam de R$ 1,00 a 3,00 poderia levar os valores
à frente, mas estes não receberiam nada em troca. Quase todos os
presentes foram à frente, depositar as suas ofertas.
No final da reunião, que durou cerca de uma hora, o pastor convidou
a todos os presentes para irem à frente e receber uma unção com óleo.
Um grupo de obreiros com cálices dourados, repletos de óleo, estava à
frente. Então deveríamos receber a unção. Fui e o obreiro colocou um
dedo, untado com óleo, sobre minha testa, orando para que eu recebesse
a bênção de Deus. Percebi, ao longo das observações que realizei, algumas
técnicas corporais em rituais de cura da IURD tais como: imposição de mãos;
palmas e aplausos como expressão de alegria a Deus pela cura realizada; gestos
variados dos fiéis com as mãos, as quais eram acompanhadas de vários tipos de
gestos, principalmente, durante os momentos de orações; gestos produzidos
por pessoas endemoninhadas que demonstravam sinal de submissão da pessoa
possessa, ao poder de Deus; e gestos variados e espontâneos dos fiéis como
pequenas danças ou gestos, durante os momentos de louvor e de oração,
os quais expressavam vitória sobre os problemas enfrentados.
Breve descrição de algumas técnicas corporais da IURD
Imposição de mãos
Percebi a imposição de mãos em várias ocasiões das celebrações. Em
geral, na entrada do templo, antes do início de uma reunião, quando havia
pelo menos um obreiro recebendo os participantes. Ele costumava impor
as mãos sobre os participantes, ou sobre objetos trazidos por fiéis, ou, até
140 • Revista Estudos Amazônicos
mesmo, ungia tais objetos com as suas mãos. Em determinados
momentos, também foi percebida a técnica corporal quando o pastor
chamava pessoas à frente do púlpito para receberem orações de obreiros
e/ou dele mesmo, neste momento costumavam colocar a mão direita, ou
as duas sobre a cabeça do participante. Em períodos de orações, com os
fiéis posicionados em seus lugares, o líder religioso orientava os
participantes a fazerem autoimposição de mãos. Nesses momentos as
pessoas colocavam as mãos ora sobre a cabeça, ora sobre o coração, ou
ainda, as impunham sobre alguma parte do corpo onde estava localizada a
dor. Observei também, que as pessoas dirigiam-se aos obreiros, ou ao
próprio pastor, após o término das reuniões de cura, para receberem
orações com a imposição das mãos.
Sobre essa técnica corporal, ressalto uma ocasião de autoimposição de
mãos quando o religioso, referindo-se ao conceito espírita kardecista de
“passe”, falou que iria realizar um passe aos presentes.64 Ele explicou que
o elemento era a transferência de energia dele e dos obreiros para a plateia.
Essa energia era uma espécie de “bênção”. Em seguida pediu que todos
levantassem as mãos com as palmas para fora, conforme a atitude de
alguém que pede ou vai ganhar algo, a fim de receber essa energia. Depois
da oração, solicitou que colocássemos as mãos em nossas cabeças a fim
de realizar uma transferência de energia e em seguida orou para que todo
o mal, os espíritos malignos e as doenças fossem expulsos. Posteriormente
a oração, pediu que tirássemos as mãos da cabeça e fizéssemos gestos
rápidos com as mãos, como se enxotássemos e expulsássemos o mal com
as palavras de ordem: “sai! Sai!”.
Ao observar a imposição das mãos do pastor, pude constatar também
a provável transferência de energia. Quando ele rogou para todos irem à
frente e receber o “Espírito de luz”. À medida que nos dirigíamos à frente,
pois todos os obreiros e o próprio pastor (na parte central) estavam com
Revista Estudos Amazônicos • 141
as mãos levantadas. Deveríamos nos dirigir a um deles. Ele colocou as
mãos em minha cabeça e disse “recebe o Espírito de luz” e depois colocou
as suas mãos em meus ombros. Em seguida saí para que outros pudessem
receber a possível bênção.65 Ao indagar à Dona Joana sobre alguns gestos
presenciados nas reuniões da IURD, em especial a imposição de mãos, ela
me falou de uma experiência pessoal; relatou que sentiu uma espécie de
imposição de mãos feitas diretamente por Jesus, em uma reunião de busca
do Espírito Santo, que ocorre nas quartas-feiras. Mesmo não sendo um
culto dedicado especificamente as curas, achei relevante colocar outra
expressão corporal que, conforme o seu relato, está relacionado com a
renovação e a cura espiritual. Ao narrar sua experiência, que ela chamou
de “batismo no Espírito Santo”, assim proferiu:
Eu tive esse privilégio, pois é Jesus que batiza com
o Espírito Santo [...] Eu tive a experiência da mão
sobre a minha cabeça [...] Quando terminou a
reunião eu perguntei para a Ana [filha de Dona
Joana] que estava do meu lado na época e então eu
perguntei: “você viu se algum obreiro ou algum
pastor passou por aqui” [...] olha que eu tirei a prova
[...] e [essa pessoa] colocou a mão sobre minha
cabeça [por trás] [...] uma mão suave [...] ela [a mão]
não apertou [a sua cabeça], mas ela ficou em cima”
[...] aí ela [Ana] disse: “não, não passou ninguém por
aqui”. Aí eu tive a certeza.66
Após esse relato no qual se observa uma profunda experiência com
uma divindade, perguntei a quem atribuía a imposição da mão espiritual?
E ela respondeu: “foi de Jesus [...] pois é Jesus quem batiza com o Espírito
Santo [...] pra você receber o Espírito Santo você tem que se entregar sem
142 • Revista Estudos Amazônicos
reservas”.67 Ao prosseguir em seu relato, os detalhes dessa experiência
foram expressos da seguinte forma: “é como se você ficasse acima do chão
[...] é uma alegria [...] eu tenho certeza que foi algo especial porque existia
uma câmera de televisão filmando o culto [...] e quando eu voltei, assim, a
ter consciência perfeita [...]”.68 Nesse momento, ao mencionar que voltou
“a ter consciência perfeita”, perguntei se ficou inconsciente e ela disse não,
mas que havia experimentado uma alegria indizível. Dona Joana enfatizou
que esteve consciente durante toda a experiência que acabou de relatar.
Na ocasião uma repórter que avistava o seu comportamento,
perguntou-lhe sobre o que sentiu acerca da experiência vivenciada e a
resposta foi: “é maravilhoso, é maravilhoso”. Em sua opinião a diferença
em relação à imposição das mãos feitas por obreiros e pastores, segundo
o seu relato, está na suavidade, mas, ao mesmo tempo, dona Joana voltou
a ressaltar a plena certeza que tem de que uma mão foi imposta sobre sua
cabeça para sua renovação espiritual.
Nesse sentido, compreendo que diferentemente da prática das igrejas
pentecostais e do movimento de RCC, não há ênfase nas igrejas
neopentecostais à glossolalia, e esse fenômeno não foi observado por mim
nos cultos visitados, tão pouco foi relatado por Dona Joana.69 Para minha
informante, o batismo no Espírito Santo foi uma experiência profunda.
Foi como se uma espécie de “selo” que produz uma confiança muito
grande na pessoa batizada fosse colocada sobre ela, ao ponto dela se sentir
como se pertencesse a Deus, ou ainda como se tivesse um relacionamento
muito grande com Ele.
Em todas as variações de imposição das mãos que foram observadas e
relatadas, percebi que majoritariamente predominava o toque direto das
mãos sobre a pessoa e/ou sobre o objeto. Perguntei à Dona Joana a razão
disso e ela me disse que o pastor e/ou obreiros são homens de Deus e o
toque é importante para se transferir as bênçãos que estão neles para as
Revista Estudos Amazônicos • 143
pessoas. A transferência de energia ocorreu sem o contato das mãos
apenas quando as pessoas estavam em seus lugares e o pastor e os obreiros
impunham as mãos sobre os fiéis. Neste momento não houve a
necessidade do toque físico.
Palmas e aplausos
Em várias ocasiões percebi o emprego de palmas. No início das
reuniões, por exemplo, quando o pastor Fernando começava, costumava
dizer: “bem forte pra Jesus”. Após essas palavras toda a plateia dava fortes
aplausos. Porém, estes ocorriam também em outros momentos: quando
alguém dava um testemunho de cura, tanto sob o comando do pastor
quanto voluntariamente, as pessoas aplaudiam. Perguntei à minha
informante a razão dessas manifestações, ela disse que era “para mostrar
pra Deus que [você] concorda com Ele e com as suas bênçãos”.70 As
palmas mostram que se aplaude a Deus, o autor das bênçãos e, também,
mostram que se está satisfeito com Ele, porque foi bondoso em dar aquela
graça.
Percebi em vários momentos que, quando o pastor proferia alguma
palavra de incentivo como: “você vai vencer”, “você será um milionário”,
“você ficará livre de doenças”, os participantes voluntariamente batiam
palmas (uma única vez e em direção para o alto) e falavam “tá ligado”.
Observei esse gesto quando o próprio pastor falava a expressão “tá
ligado”, e imediatamente as pessoas de maneira automática reproduziam
aquelas palmas. Segundo Dona Joana, essas manifestações rápidas
juntamente com a expressão “tá ligado” quer dizer que se concordava com
a benção proferida pelo “homem de Deus”, que é o pastor. Ela afirmou
que essa expressão é oriunda do evangelho de Mateus 16.19 que diz: “[...]
o que você ligar na terra terá sido ligado nos céus, e o que você desligar na
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terra terá sido desligado nos céus”. Assim, da mesma forma como Jesus
falou para o apóstolo Pedro, também nós temos o poder de ligar a bênção
na terra através da expressão “tá ligado”, confirmando a bênção no céu.
Percebi também, palmas serem realizadas nos momentos de
cânticos que se faziam no período de recolhimento de ofertas, para
marcarem o ritmo da música, já que o único instrumento utilizado em
todas as reuniões era um piano. No geral, as palmas sempre se seguiam
após algum testemunho ou afirmação enfática do pastor pronunciando a
vitória. Elas, assim, representariam aprovação das bênçãos proferidas.
Gestos variados dos fieis com as mãos
Ocorreram vários gestos e variações feitas com as mãos pelos fieis em
diversas ocasiões. Quando o pastor orava por cura de alguma enfermidade,
ele pedia que as pessoas colocassem as mãos sobre a cabeça, sobre a
enfermidade, ou sobre o coração. Algumas vezes quando o pastor dizia:
“sai!”. Após essa ordem, as pessoas estendiam as mãos com as palmas
apontadas para trás e gesticulavam como se estivessem expulsando ou
enxotando o mal para trás. Às vezes, as mãos eram rapidamente colocadas
para cima para sinalizar que o mal estava saindo da pessoa. Nas expressões
“sai” e “tá amarrado”, segundo Dona Joana, está subtendido o “nome de
Jesus”. A primeira fórmula indicava que se discordava do mal que foi
lançado, ou proferido contra a vida de uma pessoa; era pronunciado para
que houvesse proteção, para que os demônios saíssem e o mal não se
concretizasse. Já a expressão “tá amarrado” indicava que os problemas e
os demônios deveriam ser imobilizados para não fazerem o mal.
Além de se declarar audivelmente que o mal estava amarrado,
presenciei em uma ocasião, pessoas trazendo um papel para registrar os
Revista Estudos Amazônicos • 145
problemas e as doenças que deveriam ser superados. Várias personagens
traziam esse papel amarrado com um barbante e, em determinado
momento de culto, sob o comando do pastor, desamarravam o nó
simbolizando que o mal seria desfeito e resolvido. O pastor pedia que as
pessoas levantassem as mãos para o alto, mas também havia momentos
em que o ministro não solicitava, porém espontaneamente os membros
levantavam as mãos para o céu ou as colocavam sobre o peito como se
estivessem clamando a Deus ou pedindo socorro à divindade.
Outra expressão corporal demonstrou ter relação com o envelope da
oferta do sacrifício. Em uma ocasião, o pastor orientou as pessoas para
que colocassem o envelope sobre o local onde estava o problema ou a dor.
Vi envelopes colocados no peito, sobre a cabeça, em direção à coluna etc.
Em outro momento colocava-se sobre uma pessoa tomada por espíritos
ditos malignos que, ao entrar em contato com o envelope, gritava: “tá
queimando”. Esses gestos com os envelopes, segundo o pastor,
demonstravam a eficácia da oferta do sacrifício para a solução de
problemas e para a libertação de demônios. A respeito do sacrifício, uma
jovem senhora acompanhada de seu filho, de aproximadamente três anos
de idade, relatou que fez uma oferta de sacrifício para que o ente querido
fosse curado de um problema pulmonar, então, ela sacrificou, ofertando
uma quantia em dinheiro para ser levada à fogueira santa de Israel. Antes
de chegar o período de os pastores partirem para Israel levar o seu pedido,
o filho foi curado. O pastor disse que a cura estava associada ao sacrifício
e como Deus viu o propósito daquela mulher, curou o menino mesmo
antes da ida dos líderes à “Terra Santa”.
Ainda outra expressão corporal notada especialmente nos momentos
de orações, foi quando as pessoas levantavam os seus objetos pessoais,
tais como: camisas, envelope de ofertas etc. para se receber a bênção de
Deus. Aquele objeto representava um familiar ou amigo que precisava de
146 • Revista Estudos Amazônicos
ajuda. A este respeito, em certa reunião observei uma senhora que estava
ao meu lado e percebi quando vestiu uma camisa de um parente. O vestir
da roupa masculina, por cima de sua roupa, almejava que seu parente fosse
alcançado com a graça divina. Em outra ocasião, o pastor pediu para que
levantássemos a foto de alguém, uma chave, ou algum objeto que
representasse a pessoa necessitada da intercessão de Deus; quando
levantamos, os obreiros passavam entre as pessoas e sobre os objetos
espirravam um líquido verde que o pastor chamou de “banho do
descarrego”, alusivo ao nome do culto “Sessão do Descarrego”. Este
líquido era perfumado e possuía o poder de expelir o mal que impedia a
bênção divina de se colocar sobre nós.
Gestos produzidos por pessoas endemoninhadas
Dentro dos rituais de cura era comum presenciar sessões de libertação
de pessoas tomadas por espíritos maus. Nesses momentos contemplei
vários gestos produzidos pelas pessoas possessas. Vi pessoas com as mãos
para trás ou cabisbaixas, sob a ordem do obreiro ou do pastor. Parecia que
tais gestos eram para demonstrar submissão do demônio ao poder de
Deus. Em um ritual de cura foi observado um homem endemoninhado
completamente deitado de bruços e com as mãos para trás. Após sua
libertação, o pastor pediu para ele levantar, olhar para uma réplica de altar
construído em cima do púlpito, pois o sacrifício que o altar representava
iria libertá-lo completamente e livrá-lo de ser possuído por espíritos
malignos.
Assim, apesar de as orações realizadas terem o efeito de libertar as
pessoas dos demônios, percebi constantemente que elas eram estimuladas
a sacrificarem uma oferta, a fim de manterem a libertação e de se
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prevenirem contra a entrada de espíritos maus, causadores de todos os
males e doenças.
Gestos variados e espontâneos dos fieis: orações e danças
Observei gestos variados, um deles ocorria com frequência no
momento dos cânticos, quando uma música que falava de “vitória” ou de
“Abraão”, era entoada. Em geral, tais músicas eram marcadas em ritmo
nordestino de forró e tocadas no momento de recolhimento de ofertas.
Então, presenciei pessoas com as mãos levantadas e uma senhora me
chamou a atenção: estava marchando e com as mãos e os punhos
fechados, como se quisesse indicar o recebimento de uma vitória. Vi
gestos de dança no momento dos cânticos. Observei com frequência as
mãos serem levantadas ou erguidas, ao mesmo tempo em que eram
balançadas para a direita e para a esquerda, procurando acompanhar o
ritmo da canção. Quando a música falava de vitória sobre os problemas,
as mãos eram erguidas de forma enfática, como se a pessoa tivesse
pleiteando algo com Deus. Observei tais gestos também em momentos de
orações.
Mauss observou que a oração é um “rito [...] mas ao mesmo tempo,
toda prece é sempre, em algum grau, um credo [...] [pois] na prece o crente
age e pensa”.71 Trata-se, então de um rito oral, uma linguagem que procura
ter efeito e fazer a divindade agir em seu favor. Maués informa que a
oração pode ser considerada como uma técnica corporal “na medida em
que é expressa em voz alta e/ou através de um gestual característico [...]
constitui[ndo] uma forma de o corpo se expressar, através da emissão de
sons (compreensíveis ou não), de maneira tradicional e eficaz”.72
Em geral, após as orações de cura, com a imposição das mãos do pastor
e dos obreiros sobre a plateia, era solicitado às pessoas para que
148 • Revista Estudos Amazônicos
colocassem as mãos no coração. Mas, em uma ocasião, o religioso pediu
para que todos ficassem com as mãos livres e paradas, em completo
repouso. Ao fazer este pedido, inqueriu àquelas pessoas que estivessem se
sentindo mal, ou com tonturas, que indicassem essa situação com as mãos,
para que os obreiros pudessem orar e expulsar os demônios. Ao contrário
da experiência da RCC do “repouso no Espírito”, descrito por Maués,73
no caso da IURD, o repouso das mãos indicava a necessidade de expulsar
os espíritos demoníacos, após a sua manifestação.
As orações acompanhadas de gestos, conforme foram relatadas acima
são encontradas no início das reuniões e durante os rituais, nas quais, em
geral, pede-se que o mal seja extirpado ou que a bênção de Deus seja
derramada. Segundo Mauss, a prece “não é apenas a efusão de uma alma,
o grito de um sentimento. É um fragmento de uma religião”.74 Assim, a
forma como as orações foram realizadas na IURD nitidamente
demonstravam a teologia da prosperidade e confissão positiva.
Considerações finais: semelhanças das concepções de
doenças da IURD com outras cosmovisões
Lévi-Strauss observou que basicamente não há diferença entre o
pensamento dos considerados “selvagens” e os “civilizados”.75 Este autor
constatou que existem estruturas linguísticas e de organização da vida tão
ou mais complexas, entre os “não civilizados”, ao inferir que na essência,
os pensamentos e as estruturas de simbolização são basicamente as
mesmas, independente do grau de civilização. Os seres humanos, na
verdade, são os únicos animais que apresentam uma grande capacidade de
simbolização. Antônio Magalhães constata que “a religião é coexistente
com a própria vida humana”. Este estudioso trabalha com a hipótese de
que a religião deve ser vista como parte intrínseca da trajetória da
Revista Estudos Amazônicos • 149
humanidade, porquanto historicamente o ser humano sempre foi religioso
desde os primórdios. Nesse sentido, asseverou que “a religião é a
experiência fundamental que constitui a rede de significados mais antiga
sobre a condição humana”, ou seja, o indivíduo é caracterizado como “ser
humano” pela sua linguagem e a sua necessidade/tarefa constante de
interpretar o mundo. De acordo com as evidências oriundas de
descobertas arqueológicas, antropológicas e historiográficas, a religião
sempre fez parte da constituição humana, nela podem ser observadas as
primeiras interpretações do sentido da vida, bem como as primeiras
constituições religiosas.76
O Brasil é marcado pela mistura étnica e, portanto, apresenta culturas
distintas. Alguns povos são oriundos da Europa, outros da África, bem
como temos os Ameríndios. Por isso, a cultura brasileira é bem
diversificada e plural, assim como tem se preocupado em conservar muitas
de nossas crenças e magias nativas, em especial na Amazônia. A esse
respeito Charles Wagley inferiu que “pode-se facilmente atribuir uma
determinada série de crenças a uma dessas três culturas”. Por exemplo, os
conceitos e práticas dos “feiticeiro[s] [...] [e] pajé[s]” são nitidamente
ameríndios.77 Desta forma, podemos ver intercessões entre as concepções
sobre doenças, curas e técnicas corporais nas cosmovisões caboclas
amazônicas e indígenas e a visão urbana da IURD.
Na cosmovisão indígena, conforme a observação de Lévi-Strauss, o
útero é “inteiramente povoado de monstros fantásticos e de animais
ferozes”, os quais são os responsáveis pelas “próprias dores
personificadas”, por exemplo, quando a mulher sente dores durante o
parto.78 De forma similar, a IURD tem a concepção genérica de que o
mundo é povoado por demônios, sendo estes os responsáveis pelas
doenças. Por isso, tanto na visão indígena como na iurdiana, tais seres
espirituais devem ser vencidos e expulsos. No primeiro caso, rituais
executados com cânticos procuram simular uma batalha, em viagens
150 • Revista Estudos Amazônicos
xamanísticas, nas quais o xamã é descrito como aquele que vence os
obstáculos e monstros que fazem a mulher sofrer. Na IURD, o pastor, de
certa forma, assume a postura de um xamã, não no sentido de fazer uma
viagem espiritual, mas sim no de ter o poder de, ao impor as mãos sobre
os doentes, vencer os espíritos causadores das enfermidades e expulsá-los
em “nome de Jesus”.
Ao analisar o universo ribeirinho também foi possível constatar certas
semelhanças com a concepção iurdiana. Neste sentido, para Wawzyniak
os ribeirinhos do Tapajós, Pará, possuem uma “[...] cosmologia [que]
postula o reconhecimento da existência de seres com o poder de
transformar sua aparência”. Ao se transfigurarem “[...] suas aparências e
comportamentos, regulam e afetam o corpo e a vida cotidiana individual e
coletiva”, ou seja, para se viver adequadamente com tais seres, os “bichos”,
são necessários; é preciso que haja respeito para com a natureza na qual
tais seres se escondem.79 Caso se desrespeite as entidades, há a
possibilidade de se ficar doente, nesta situação é necessária a presença do
pajé para a cura da enfermidade.
No caso da IURD, se o fiel estava doente era porque alguma entidade
ou “espírito de enfermidade” havia se apossado dessa pessoa. E a cura
ocorreria quando a entidade maléfica fosse expulsa através das orações ou
do sacrifício de ofertas. Se para os vegetalistas e ribeirinhos “[...] o que
interessa é saber por que alguém foi acometido por determinado mal”,80 no
contexto iurdiano, não havia um diagnóstico minucioso feito pelo pastor
para proposição da solução do problema. Toda a origem da doença era
demoníaca e o malefício deveria ser expulso para que houvesse a cura.
Porém, quando havia uma possessão, o pastor perguntava o nome da
entidade para saber o que o espírito estava causando na pessoa. Se fosse
“pomba-gira” era um demônio da prostituição; o “exu da morte” era o
responsável por toda e qualquer destruição; já o “tranca-rua” fechava
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todos os caminhos financeiros e etc. As doenças eram colocadas no
mesmo patamar dos problemas financeiros e morais. Mas a causa comum
era uma só: espíritos malignos. E a solução viria com a libertação das
pessoas, desses espíritos maus.
À semelhança dos indígenas retratados por Lévi-Strauss, percebi que a
IURD lança mão de simbolização.81 Parte do ritual indígena para a cura se
constituía em canções que simulavam uma batalha contra as entidades
malignas. Como em um culto iurdiano, quando o pastor recomendou que
no dia, do culto de quarta-feira (“reunião dos filhos de Deus”), todos
deveriam levar uma peça de roupa branca para representar os filhos de
Deus. Na reunião de sexta-feira (“Corrente de Libertação”), todos foram
orientados a levarem uma peça de roupa vermelha, pois simbolizava os
guerreiros de Deus. Ou seja, há a utilização de objetos, de fotografias, de
roupas e etc. na representação da luta da pessoa para conseguir a sua
bênção. Desta forma, a IURD lança mão de objetos e ações simbólicas
que simulam a vitória dos fieis em suas batalhas cotidianas e expressam a
certeza da conquista.
Encontrei em reuniões de cura iurdiana, um paralelo com rituais
vegetalistas da ayahuasca. Desse modo, Assim como no ritual
ayahuasqueiro houve a utilização desta bebida com o objetivo de “[...] ‘pôr
para fora’ as doenças, estados de espíritos negativos e outras fontes de
problemas e infortúnios”,82 na IURD a água ungida com óleo tem o
objetivo de, ao ser abençoada e transformada em “fogo dentro da pessoa”,
de fazer com que o “demônio desgraçado” e o mal queimassem e fossem
expulsos do corpo do possesso.
Outras semelhanças poderiam ser encontradas, não apenas
comparando a IURD com os ribeirinhos, os vegetalistas, ou com os
indígenas, bem como com as religiões afro-brasileiras, mas também com
o espiritismo kardecista e com as várias outras religiões ocidentais e
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orientais.83 Neste estudo, conforme já mencionei. Percebi cosmovisões e
técnicas corporais similares às encontradas em tais expressões religiosas.
Uma possível explicação da IURD utilizar as técnicas de outras
expressões religiosas, além da universalidade dessas técnicas, conforme
proposto por Maués,84 pode ser encontrada na visão de Antonio Pierucci,
quando inferiu que no contexto hodierno da globalização há expressões
religiosas que demonstram que “a lógica da esfera econômica colonizou a
lógica da esfera religiosa”.85 A IURD parece ter facilmente assimilado a
lógica capitalista em suas práticas, ao se adaptar às necessidades dos
consumidores religiosos. Para Campos esta igreja:
[...] se propaga numa sociedade pluralista cujo
campo religioso concorrencial e turbulento facilita
o surgimento de entidades ágeis, sintonizadas com
as necessidades e desejos de um público
devidamente segmentado, formando assim seu
próprio mercado, empregando para isso estratégias
de marketing e de propaganda, que tomam corpo
em uma retórica e teologia adaptáveis aos interesses
de uma sociedade capitalista em processo de
globalização.86
Neste sentido, o capitalismo adentrou nas estruturas, nas práticas e na
teologia iurdianas, conforme parecem demonstrar as teologias da
prosperidade e da confissão positiva. Essa Igreja parece ter se
contextualizado na época atual, a qual se apresenta marcada pela
pluralidade de valores. Daí, talvez, a razão para a flexibilização das crenças
e o sincretismo de práticas, ao considerar as de seus concorrentes, isso
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tudo com o objetivo de apresentar novas opções no exercício religioso e
dessa maneira sobreviver e crescer no mercado místico.87
Sobre a eficácia das curas relatadas, não há como dizer de forma
objetiva e científica se houve, de fato, a cura pela fé. Tenho subsídios
apenas das observações que realizei, dos relatos que presenciei e da
entrevista concedida por Dona Joana. Como o objetivo primário deste
artigo foi o de observar técnicas corporais em rituais de cura, foge então
dos seus propósitos constatar se houve “realmente” eficácia nas curas
relatadas. No entanto, estou ciente de que seria interessante acompanhar
tais testemunhos de cura, ficando, portanto, tal proposta para trabalhos
futuros.
Artigo recebido em setembro de 2014.
Aprovado em dezembro de 2014.
NOTAS
Professor da Faculdade Teológica Batista Equatorial (FATEBE). É Mestre em Ciências da Religião pela Universidade do Estado do Pará e atualmente é Doutorando em Ciências Sociais, concentração em Antropologia, pelo Programa de Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Pará. E-mail: [email protected] 1 Este artigo foi produzido para a disciplina de “Antropologia da Saúde e da Doença”,
ministrada pelos Professores Doutores Raimundo Heraldo Maués e Samuel Maria de Amorim Sá no Mestrado em Ciências da Religião da Universidade do Estado do Pará (UEPA). Agradeço aos revisores anônimos que leram a proposta inicial e fizeram sugestões e críticas ao texto. No entanto, permaneço como único responsável por erros, ambiguidades e omissões.
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2 CAMPOS, Leonildo Silveira. “A Igreja Universal do Reino de Deus: um empreendimento religioso atual e seus modos de expansão (Brasil, África e Europa)”. Bordeaux: Lusotopie, 1999, p. 364. 3 Consegui essa entrevista, pois conheço a sua filha. Mesmo assim, tive de esperar algumas semanas para que a filha a convencesse de que queria conversar apenas para fins acadêmicos. Também ressaltei à srª Joana que, por razões éticas, não revelaria o seu nome. 4 MAUSS, Marcel. “As técnicas corporais”. In: Sociologia e antropologia. São Paulo: EPU, 1974, p. 211. 5 Ibidem, p. 217. Os grifos foram do autor exceto na expressão “ato mágico, religioso,
simbólico”, em que fiz as ênfases. 6 MAUÉS, Heraldo. “Algumas técnicas corporais na Renovação Carismática Católica”. Ciencias Sociales y Religión/Ciências Sociais e Religião, Porto Alegre, ano 2, nº 2, set./2000, pp. 119-151. 7 Sessão do descarrego. Arca Universal. Disponível em: <http://www.arcauniversal.com/ iurd/reunioes-ter.html>. Acesso em: 24/jun./2012, grifo meu. 8 MAUSS. “Técnicas corporais”. In: Sociologia. Op., cit. 9 LÉVI-STRAUSS, Claude. “Eficácia simbólica”. In: Antropologia Estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1970b, pp. 215-236. 10 MacRAE, Edward. Concepções caboclas de doença e o uso da ayahuasca. Guiado pela lua: xamanismo e uso ritualizado no culto do Santo Daime. São Paulo: Brasiliense, 1992, pp. 47-58. 11 MAUÉS, Raimundo Heraldo. “Doenças naturais e não-naturais: causas”. In: A ilha encantada: medicina e xamanismo numa comunidade de pescadores. Belém: UFPA, 1990, pp. 35-64. 12 WAWZYNIAK, João Valentin. “Humanos e não-humanos no universo transformacional dos ribeirinhos do rio Tapajós – Pará”. In: 27ª Reunião Brasileira de Antropologia, Anais, Belém, 2012. Disponível em: <http://www.abant.org.br/conteudo/ANAIS/CD_Virtual_27_RBA/arquivos/grupos_trabalho/gt24/jvw.pdf>. Acesso em: 10/mar./2012. 13 MARCONI, Marina de Andrade & LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas e pesquisa e elaboração, análise e interpretação de dados. São Paulo: Atlas, 2008, p. 76. 14 MALINOVSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1978. 15 CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. São Paulo: UNESP/Paralelo 15, 2000. 16 WAWZYNIAK. Op., cit., pp. 02-04. 17 BURGES, Stanley & MCGEE, Gary B. Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements. Michigan/USA: Zondervan, 1988, p. 718. Apud ROMEIRO, Paulo. Supercrentes: o evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os profetas da prosperidade. 2ª ed. rev. São Paulo: Mundo Cristão, 2007, p. 21.
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18 PIERATT, Alan. O Evangelho da prosperidade. São Paulo: Vida Nova, 1993, pp. 65-85. 19 Idem. P. 51. 20 ROMEIRO. Supercrentes. Op., cit., p. 19. 21 Idem. P. 39. 22 TAVOLARO, Douglas; LEMOS, Christina. O Bispo: A História Revelada de Edir Macedo. São Paulo: Larousse do Brasil, 2007, pp. 122-123. 23 PANCEIRO, Romualdo. Segredos do Altar. Rio de Janeiro: Universal Produções, 2002, p. 9. 24 MACEDO, Edir. Doutrinas da Igreja Universal do Reino de Deus. Vol. 1. Rio de Janeiro: Universal Produções, 1998, p. 90. 25 PANCEIRO. Op., cit., pp. 17-22. 26 Emprego a expressão “Primeiro Testamento” em vez de “Antigo Testamento” para
as Escrituras Hebraicas que correspondem à primeira parte dos livros sagrados do Cristianismo. Evito a última nomenclatura por conter um caráter pejorativo aos escritos do cânon judaico. 27 PORTELLA, Rodrigo. “O sagrado e suas expressões: aproximações”. In: MAGALHÃES, Antônio & PORTELLA, Rodrigo. Expressões do Sagrado. Aparecida: Santuário, 2008a, p. 82. 28 MACEDO, Edir. Doutrinas da Igreja Universal do Reino de Deus. Vol. 2. Rio de Janeiro: Universal Produções, 1999, p. 37. 29 MACEDO, Edir. Nos passos de Jesus. Rio de Janeiro: Universal Produções, 2001, p. 71. 30 MACEDO, Edir. Doutrinas da Igreja Universal do Reino de Deus. Vol. 1. Rio de Janeiro: Universal Produções, 1998, p. 90-91. 31 TAVOLARO. Op., cit., p. 215. 32 Ibidem, p. 210. Macedo faz alusão ao livro bíblico do Primeiro Testamento do profeta Malaquias, capítulo 3, versículo 10. 33 PIERATT. Op., cit., p. 63. 34 MACEDO, Edir. Orixás, caboclos e guias: deuses ou demônios? Rio de Janeiro: Unipro, 2012, pp. 123-124. 35 Idem. P. 20. 36 Idem. P. 23. 37 Idem. P. 63. 38 Idem. P. 79. 39 Idem. P. 79. 40 Entrevista concedida ao autor em 24 de junho de 2012 em sua residência localizada, à época, no bairro Castanheira, em Belém, Pará. 41 Idem. 42 MACEDO. Orixás, caboclos e guias. Op., cit., pp. 124-125. 43 Idem. P. 126. 44 MAUÉS. Doenças naturais e não-naturais: causas. Op., cit., p. 41. 45 MACEDO. Orixás, caboclos e guias. Op., cit., p. 126.
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46 Idem. P. 127. 47 Idem. 48 Idem. P. 130. 49 Idem. P. 126. 50 MAUÉS. Doenças naturais e não-naturais: causas. Op., cit., p. 41. 51 MacRAE. Op., cit., p. 47. 52 MACEDO. Orixás, caboclos e guias. Op., cit., p. 131. 53 Há dois textos bíblicos referindo-se à unção com óleo para a cura. No Evangelho segundo São Marcos 6.13 diz: “[os doze apóstolos] expulsavam muitos demônios e ungiam muitos doentes com óleo, e os curavam”. A Carta de São Tiago 5.14 relata: “Entre vocês há alguém que está doente? Que ele mande chamar os presbíteros da igreja, para que estes orem sobre ele e o untam com óleo, em nome do Senhor”. Diferentemente destes relatos, a IURD costuma ungir, além de pessoas, objetos, líquidos, automóveis, casas etc. 54 As doze tribos de Israel são: Manassés, Aser, Nafitali, Zebulom, Issacar, Gade, Efraim, Dã, Benjamin, Rúben, Simeão e Judá. A tribo de Levi não possuía terreno porque era composta de sacerdotes e eles viviam, no contexto bíblico veterotestamentário, espalhados pelos territórios das demais tribos. 55 A letra “A” parece ser o Alfa. Provavelmente, há alusão a Jesus que é chamado de
“Alfa e o Ômega” no livro bíblico do Novo Testamento em Apocalipse 1.8. 56 Conforme o relato bíblico do livro de Gênesis 22 em que o personagem Abraão é ordenado a sacrificar seu filho Isaque sobre o monte Moriá. O relato informa que, quando ele estava prestes a imolar seu filho, um anjo de Deus o impediu, pois viu a sua total confiança em Deus. Então lhe apareceu um carneiro e Abraão sacrificou o animal sobre um altar no lugar de seu filho. 57 A Fogueira Santa de Israel é uma campanha da IURD realizada duas vezes ao ano: uma no meio do ano e outra no final do ano. Conforme o relato bíblico do capítulo 22 do livro de Gênesis 22, o registro informa que acontece a maior prova da vida do patriarca: Deus pede que ele sacrifique seu único filho, Isaque, para Deus. Apesar de parecer absurda, a ordem é acatada. Abraão sobre no monte “Moriá” e vai sacrificar seu filho. No momento em que levanta o cutelo para sacrificá-lo, um anjo aparece, o impede de completar o ato e afirma que Deus está satisfeito com a sua obediência. Assim, o fiel é estimulado a sacrificar através de ofertas, seguindo o exemplo do personagem bíblico Abraão, cf. Fogueira santa. Arca Universal. Disponível em: <http://www.arcauniversal.com/iurd/fogueirasanta/2012/julho/sobre-a-fogueira.html>. Acesso em: 16/ago./2012. 58 Essas palavras foram feitas pelo pastor Fernando e fazem parte das observações feitas no culto de terça-feira, da Sessão do Descarrego, do dia 03 de julho de 2012. 59 A palavra “macumba” é designada, nos arraiais iurdianos, como sinônimo das
religiões afro-brasileiras. 60 A “nação dos 318” é uma reunião que acontece às segundas-feiras para se alcançar as bênçãos de Deus para superação de crises financeiras e obtenção de prosperidade financeira. Essa expressão faz alusão ao relato bíblico de Gênesis 14.1-16 em que Abraão recebeu a notícia de que seu sobrinho Ló havia sido sequestrado por quatro
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reis poderosos. Ao saber da notícia, Abraão resolveu enfrentar os inimigos, tomando 318 homens nascidos em sua própria casa, treinados para a guerra. Desta forma, ele conseguiu resgatar seu sobrinho Ló, sua família e todos os seus bens. 61 Essas palavras foram feitas pelo pastor Fernando e fazem parte das observações feitas no culto de terça-feira, da Sessão do Descarrego, do dia 03 de julho de 2012. 62 Essas palavras foram feitas pelo pastor Fernando e fazem parte das observações feitas no culto de terça-feira, da Sessão do Descarrego, do dia 03 de julho de 2012. 63 Trata-se do texto bíblico de 1º Crônicas 21.24 em que Davi, para apaziguar a ira de Deus sobre ele e o povo de Israel, decide comprar um terreno para fazer um altar e oferecer animais à divindade. No entanto, o seu dono, Araúna, deseja dar o terreno de graça ao rei Davi. O rei se nega a ter o terreno gratuitamente e responde: “Não! Faço questão de pagar o preço justo. Não darei ao SENHOR aquilo que pertence a você, nem oferecerei um holocausto que não me custe nada”. O holocausto era um tipo de sacrifício de animais totalmente queimados. 64 De acordo com a forma como pastor usou a palavra “passe”, FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda (Ed.). “Passe”. In: FERREIRA. O Novo Dicionário Eletrônico Aurélio da Língua Portuguesa versão 5.0. 3ª ed. Edição revista e atualizada do Aurélio Século XXI. São Paulo: Positivo, 2004. 1 CD-ROM a define, em contexto religioso, como: “no espiritismo, movimento de mãos, ou sopro, sobre alguém, e que se supõe transmitir energia”. 65 Transcrevi a palavra “Espírito” com a primeira letra em maiúscula, pois se referia ao Espírito de Deus que estava nos pastores e nos obreiros e que seria transferido aos participantes. 66 Entrevista concedida ao autor em 24 de junho de 2012 em sua residência localizada, à época, no bairro Castanheira, em Belém, Pará. 67 As expressões “batismo no Espírito” e “batismo com o Espírito” são usadas intercambiavelmente. 68 Entrevista concedida ao autor em 24 de junho de 2012 em sua residência localizada, à época, no bairro Castanheira, em Belém, Pará. 69 Para maiores detalhes sobre a glossolalia em um ritual de cura na Renovação
Carismática Católica, consultar MAUÉS, “Algumas técnicas corporais na Renovação Carismática Católica”. 70 Entrevista concedida ao autor em 24 de junho de 2012 em sua residência localizada, à época, no bairro Castanheira, em Belém, Pará. 71 MAUSS, Marcel. “A Prece”. In: Antropologia. São Paulo: Ática, 1979, p. 103. 72 MAUÉS, “Algumas técnicas corporais na Renovação Carismática Católica”, p. 131, grifos do autor. 73 Idem. pp. 133-135. 74 MAUSS. “A prece”. Op., cit., p. 117. 75 LÉVI-STRAUSS, Claude. “A ciência do concreto”. In: Pensamento Selvagem. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1970a, pp. 19-55. 76 MAGALHÃES, Antônio. “Contexto dos Estudos da Religião”. In: MAGALHÃES, Antônio & PORTELLA, Rodrigo. (Orgs.). Expressões do Sagrado. Aparecida: Santuário, 2008, p. 26.
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77 WAGLEY, Charles. “Da magia à ciência”. In: Uma Comunidade Amazônica: estudo do homem nos trópicos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1977, p. 215. 78 LÉVI-STRAUSS. Eficácia simbólica. Op., cit., p. 225. 79 WAWZYNIAK. Humanos e não-humanos no universo transformacional dos ribeirinhos do rio Tapajós – Pará. Op., cit., pp. 01-02. Grifos nossos. 80 MacRAE. Op., cit., p. 47. Grifo do autor. 81 LÉVI-STRAUSS. Eficácia simbólica. Op., cit. 82 MacRAE, Concepções caboclas de doença e o uso da ayahuasca. Op., cit., p. 54. Grifos do autor. 83 MAUÉS. Algumas técnicas corporais na Renovação Carismática Católica. Op., cit., p. 137. 84 Idem. 85 PIERUCCI, Antônio Flávio. “O fiel é Deus: notas sobre o mercado religioso”.
Folha de São Paulo. São Paulo, 17 jun./2012. Ilustríssima. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ fsp/ilustrissima/49211-o-fiel-e-deus.shtml>. Acesso em: 21/jun./2012. 86 CAMPOS. Op., cit., p. 357. 87 Fiz tais reflexões em CAMPOS, Samuel Marques. “Arca líquida universal: uma leitura da Igreja Universal do Reino de Deus como um movimento ‘líquido’ fruto dos desafios da globalização”. In: Congresso Internacional da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião. In: Resumo. Belo Horizonte: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, 2012, p. 59.