safra de r$ 300 -...

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ALGODãO SOJA FEIJãO ARROZ MANDIOCA MILHO TRIGO FRANGOS/OVOS CAPRINOS/OVINOS SUíNOS PECUáRIA LEITE AGROENERGIA SUCO DE LARANJA FRUTICULTURA COCO HORTALIçAS CACAU FLORESTAS PLANTADAS/PAPEL E CELULOSE BORRACHA CAFé ARMAZENAGEM DEFENSIVOS FERTILIZANTES MáQUINAS SEMENTES PRODUTOS VETERINáRIOS/RAçãO TERRAS SAFRA DE R$ 300 BILHÕES

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Algodão SojA Feijão Arroz MAndiocA Milho Trigo FrAngoS/ovoS cAprinoS/ovinoS

SuínoS pecuáriA leiTe AgroenergiA Suco de lArAnjA FruTiculTurA coco horTAliçAS

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FerTilizAnTeS MáquinAS SeMenTeS produToS veTerinárioS/rAção TerrAS

SAFRA DE R$ 300bilhõES

26 Globo RuRAl | janeiro 2013

TendênciAS

2013

Dados preliminares da companhia nacional de Abastecimento (conab) mostram que a safra brasileira 2012/2013 deve ren-der 180 milhões de toneladas de grãos, com destaque para a

soja e o milho, que juntos podem superar os 150 milhões de toneladas. confirmado esse volume, a estimativa é que o valor Bruto da produção (vBp) das principais lavouras em 2013 seja próximo a r$ 300 bilhões, 27% superior ao obtido em 2012. “o aumento acentuado é graças ao tamanho da safra esperada de milho e soja e reflete também o nível elevado dos preços agrícolas”, diz o ministro da Agricultura, pecuária e Abas-tecimento, Mendes ribeiro Filho. As duas oleaginosas serão os produtos que mais afetarão os resultados do faturamento da agricultura previsto para 2013, período em que a lucratividade das lavouras de milho deve se situar em r$ 600 por hectare e a da soja em r$ 1.425.

Se dentro da fazenda as projeções são otimistas, da porteira para fora muitos per-calços podem comprometer a rentabilidade do agricultor. plantada a nova safra, é hora de pensar em medidas para atenuar as sé-rias consequências da crônica deficiência de infraestrutura logística do país para o escoamento de tamanha produção. “Temos urgência numa solução de curto prazo pa-ra a situação, que é insustentável, sobretu-do por afetar o agronegócio, segmento que tem garantido o equilíbrio no comércio ex-terno brasileiro”, avalia luiz carlos corrêa carvalho, presidente da Associação Brasi-leira do Agronegócio (Abag).

de acordo com ele, com o aumento da produção, haverá uma grande disputa pelos espaços rodoviários, hidroviários e portuários, e a nova lei 12.619/12 (que dis-ciplina a jornada de trabalho dos caminho-neiros) trará uma pressão terrível sobre o sistema rodoviário este ano. A lei está sus-pensa até março, mas, antes que ela seja posta em prática, a Associação Brasileira das indústrias de Óleos vegetais (Abiove) e a Abag solicitam ao governo soluções

AgriculToreS vão colher uMA SAFrA recorde, vender BeM A produção, MAS pAgAr uM FreTe cAro

janeiro 2013 | Globo RuRAl 27

para que se evite a instalação de um ca-os no Brasil.

isso porque a aplicação da nova legisla-ção para os caminhoneiros provocará per-das de 30% na produtividade das empresas de transporte, segundo estudo comparati-vo feito pela Associação do Transporte ro-doviário de carga do Brasil (ATr). “o ano de 2013 será um dos piores em termos de lo-gística para o agronegócio brasileiro”, diz carlo lovatelli, presidente da Abiove.

A perspectiva pessimista se deve, se-gundo ele, à queda nas vendas de cami-nhões no Brasil em 2012. “em um mode-lo logístico baseado no modal rodoviário, como é o brasileiro, é essencial que tenha-mos uma oferta crescente de caminhões para que a produção agrícola chegue aos portos”, diz.

em 2012, o licenciamento de veículos pesados e semipesados foi reduzido em 20 mil unidades. em 2011, foram licencia-dos 90 mil caminhões. já no ano passado, os licenciamentos não ultrapassaram 70 mil unidades. “Além da redução da ofer-ta, os veículos que estão disponíveis se-

rão forçados a reduzir sua produtividade de acordo com a nova lei”, diz lovatelli.

A preocupação do setor é buscar solu-ções para o curto prazo, uma vez que em dezembro as filas de caminhões no por-to de paranaguá para transportar fertili-zantes já eram extensas. para a Abiove, as ações de correção de curto prazo por parte do governo federal não estão sendo eficientes. “Teremos cerca de 14 milhões de toneladas de soja a mais para trans-portar este ano e não sabemos como is-so será feito.”

existem ainda 50.000 quilômetros de estradas que necessitam de manuten-ção no país. o Ministério dos Transpor-tes anunciou em 2012 um plano de inves-timentos de r$ 42 bilhões em 7.500 novos quilômetros de rodovias e de r$ 91 bilhões em 10.000 quilômetros de ferrovias nos próximos 25 anos. “Até lá, vamos tentar ti-rar o máximo dos ativos que temos dispo-níveis, mas isso vai encarecer ainda mais o custo Brasil”, diz carvalho.

Luciana Franco

AgriculToreS vão colher uMA SAFrA recorde, vender BeM A produção, MAS pAgAr uM FreTe cAro

28 Globo RuRal | janeiro 2013

tendências

2013soja

Vendas externas em altaSupersafra é estimada em 82,6 milhões de toneladas e pode superar a americana, mas logística preocupa

aárea cultiva-da com soja na safra 2012/2013 vai crescer em todas as regi-ões produtoras

do Brasil, com destaque para os estados de Mato Grosso, Rio Gran-de do sul e Goiás. O aumento refle-te os excelentes preços praticados pelo mercado na safra 2011/2012. “em 2012, registramos pelo sexto ano seguido resultados positivos no Brasil”, diz Flávio França Junior, analista da empresa de consulto-ria safras & Mercado.

em função do cenário positivo, a área plantada no país deve osci-lar entre 25,4 milhões e 27,3 mi-lhões de hectares, podendo gerar uma colheita de 82,6 milhões de toneladas, segundo projeções da companhia nacional de abaste-cimento (conab). caso seja confir-mada, a produção será 20% maior

tendências

2013

em relação à safra passada e pode superar a americana. apesar da expectativa de aumento da ofer-ta, a tendência é que os preços se mantenham firmes, sustentados ainda pela demanda aquecida. “O consumo mundial vai crescer me-

nos que o normal, mas será posi-tivo, em alta de 1% ou 2% no ano, devido à crise que atinge a euro-pa”, diz Junior.

a demanda aquecida, associa-da aos estoques apertados – que caíram 14 milhões de toneladas em comparação à safra anterior –, de-ve garantir mais um ano de renda boa para os sojicultores. Projeções da agroconsult indicam que a ren-da média da safra 2012/2013 de-ve se situar em R$ 1.425 por hec-tare, em comparação com os R$ 1.154 apurados na safra 2011/2012. em 2012, a seca que atingiu as re-giões produtoras dos estados Uni-dos deu suporte para a alta das co-tações no mercado internacional, que atingiram Us$ 17 por bushel. em 2013, no entanto, a expecta-

fique de olho

alta do frete, por conta

da supersafra, vai reduzir

a rentabilidade

Embarque de soja em grão no Porto de Santos (SP)

Clima dará o tomSem peRSpectivaS de adversidades climáticas para a américa do sul, que pode colher uma safra recorde, os preços recuaram ligeiramente no final do ano passado, mas qualquer ameaça climática ainda durante o desenvolvimento das plantações pode mudar o comportamento do mercado. sem previsão de registro de el niño ou la niña, em 2013 a expectativa é de clima neutro durante o desenvolvimento das lavouras, o que significa que as chuvas serão em bons volumes, mas que pode haver veranicos. ”situação que já deixa de ser um prognóstico tranquilo”, diz Flávio França Junior.

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janeiro 2013 | Globo RuRal 29

algodão

InCerteza pela Frente Setor enxuga produção para elevar preço, mas teme ações da China

oano de 2013 promete ser um período di-fícil para os cotonicultores. Isso porque, depois de enfrentarem queda de 40% nas cotações ao longo de 2012 e reduzirem

drasticamente a área de cultivo no país, ainda temem a movimentação da China, gigante que vem formando estoques da fibra. “ninguém sabe o que a China vai fazer. se ela continuar comprando, será um alívio para o setor, mas, se resolver desovar os estoques que formou, haverá uma grande oferta no cenário mundial e os preços podem cair ainda mais”, diz sérgio de marco, ex-presidente da associação Brasileira dos produtores de al-godão (abrapa).

de acordo com dados do departamento de agricultura dos estados unidos (usda), os estoques finais da safra 2012/2013 na China devem superar os 37 milhões de fardos de 480 libras, em comparação com os 30 milhões de fardos da safra 2012/2012 e com os estoques finais de 10 milhões da safra 2010/2011.

a queda de preços registrada no mercado internacional em 2012 forçou as principais regiões produtoras do mundo a reduzir a área de cultivo. “no Brasil, a área plantada, que somou 1,4 milhão de hectares na safra 2011/2012, não deve passar de 1 milhão de hectares na safra atual”, diz de marco. a redução se deve tanto aos bons preços da soja e do milho, uma vez que os produtores vão optar por essas culturas, como aos baixos preços do algo-dão. “o custo está mais alto que o preço pago ao produtor”, diz o ex-presidente da abrapa.

de acordo com projeções da Companhia na-cional de abastecimento (Conab), mantida a produtividade média de 1.400 quilos por hecta-re registrada na safra passada, a produção em 2012/2013 deve somar 1,48 milhão de toneladas de algodão em pluma, em retração de 21%. “a única coisa que poderia vir a ajudar o setor em 2013 seria uma valorização cambial, que torna-ria a indústria têxtil brasileira mais competitiva e com isso ela voltaria a adquirir mais volumes de algodão, em detrimento do fio sintético, que tem sido a opção atual”, diz de marco.

produção

produção

tiva é que os preços oscilem en-tre Us$ 13 e Us$ 14,50. “apesar de serem inferiores aos de 2012, ainda estão acima da média his-tórica dos últimos cinco anos, de Us$ 12”, avalia Junior.

Para Glauber silveira, presi-dente da associação Brasileira dos Produtores de soja (aproso-ja), a logística deve ser o grande problema para o Brasil no período. “temos o frete mais caro do mun-do, uma vez que o preço médio pa-go no Brasil é de Us$ 85 por tonelada, en-quanto na argenti-na é de Us$ 20 e nos eUa de Us$ 23. Fica evidente que, para sermos competiti-vos na exportação, o primeiro passo é in-vestir em logística”, alerta silveira.

ainda assim, o Brasil conquista o primeiro lugar do ranking dos maio-res exportadores mundiais, com ven-das projetadas em 37,4 milhões de toneladas pelo departamento de agricultura dos estados Unidos (Usda) para o período 2012/2013, enquanto as exportações ameri-canas devem somar 36,6 milhões de toneladas. “com uma quebra de 10 milhões na safra, os eUa re-duziram suas vendas externas e o ano de 2012 foi um melhores do agronegócio brasileiro”, diz Mar-cos Rubin, analista da agrocon-sult. em 2013, parte da renda está garantida, visto que 50% da safra brasileira, que começa a ser colhi-da neste mês, foi vendida anteci-padamente e a bons preços.

fique de olhoCusto de

produção está mais alto do

que o preço da fibra

(milhões de toneladas de pluma)

20102011

20112012

20122013

1,96 1,881,48*

Fonte: Conab e abrapa*estimativa

20102011

20112012

20122013

75,3066,50

81,00*

Fonte: usda *projeção

(milhões de toneladas)

30 Globo RuRal | janeiro 2013

tendências

2013Feijão

reVIraVolta no ConsumoProdução estável e aumento da demanda devem dar suporte aos preços do grão

no ano passado, os preços do feijão subiram 30% no mercado internacional em relação à média dos últi-mos dez anos, em resposta à decisão de produtores de diversas regiões do mundo que deixaram de plantar o grão para cultivar soja. no Brasil não foi diferente, e o ano encerrou com a menor safra em dez anos e boa

remuneração para os produtores de todo o país. “O que aconteceu no mercado externo pode significar uma oportunidade de negócio para o Brasil se os produtores locais começarem a investir com mais afinco na produção de variedades que possam ser exportadas”, diz Marcelo eduard Lüders, diretor da correpar corretora de Mercadorias.

Um exemplo que o Brasil pode seguir é o da china, país que se abas-tece de feijão preto. “anos atrás, a china produzia e exportava diversas variedades, mas hoje só exporta feijão preto. se investirmos nessa va-riedade, por exemplo, podemos, em dez anos, em vez de importar, estar exportando para a china”, avalia Lüders.

enquanto isso não acontece, a instabilidade persiste no mercado inter-no, que deve iniciar o ano com preços em bons patamares. “a reposição do varejo, que terminou em meados de dezembro, é retomada agora em janeiro, mas, para saber se os preços vão se sustentar, é preciso analisar a expectativa de cultivo da safra a ser semeada entre fevereiro e mar-

ço”, diz Lüders. Projeções da conab apontam para uma produção total no Brasil – somando-se primeira, segunda e terceira safras – ligeira-mente menor no Brasil neste ano.

Para eduardo Medeiros Gomes, vice-presidente do sindicato Rural de castro (PR), será difícil que os bons preços pagos ao produtor em 2012 se repitam em 2013. “Mas a tendência ainda é que os produto-res destinem parte de suas áreas ao milho e à soja, o que deve ajudar nos preços do feijão”, diz.

a boa notícia para o setor é que, ao contrário do que muita gente imagina, o consumo per capita de feijão tem aumentado no Brasil. “a partir de 1995, percebe-se uma mudança na tendência de queda no consumo nacional”, diz Lüders. com isso, o consumo, que se situ-ava em 13 quilos por habitante na década de 1990, hoje já oscila em torno de 18 quilos por habitante ao ano, com projeções de atingir 22 quilos em 2020. além da extensiva oferta de feijão nos restaurantes por quilo, a faci-lidade do preparo tem ajuda-do a elevar o consumo. Hoje, as beneficiadoras testam o produto adquirido, cozinham para ver o rendimento do cal-do e já escolhem os melho-res grãos para ser embalados. “nenhuma dona de casa es-colhe mais o feijão antes de cozinhar”, diz Lüders.

fique de olho

Consumo per capita, hoje de 18 quilos,

pode alcançar 20 quilos em

2020

preço

2010 2011 2012

6575

120

Fonte: sindicato rural de Castro

Média anual (R$/saca)

janeiro 2013 | Globo RuRal 31

arroz Mandioca

estaBIlIdade e preços Bons

raIz maIs Cara

Estratégia de não elevar produção e ampliar exportações favorece setor

Seca no Norte e Nordeste aumenta pressão sobre os preços no mercado interno

depois de enfrentar o excesso de oferta e a queda de preços na safra 2010/2011, os produtores de arroz conseguiram melho-

rar a rentabilidade da atividade no período 2011/2012 e estimam que 2013 será um ano ainda melhor. “Conversamos com nossos associados e sugerimos que eles optassem por outras culturas, diversificando a produ-ção, e, dessa maneira, reduzindo a produção de arroz”, diz renato rocha, presidente da Federação das associações de arrozeiros do estado do rio Grande do sul (Federarroz). a estratégia funcionou e, no ano passado, a produção brasileira de arroz foi encolhi-da em 2 milhões de toneladas. “além dis-so, elevamos as exportações, que devem alcançar 1,5 milhão de toneladas até o fim da safra, em fevereiro de 2013”, diz rocha.

para este ano, prevalece a orientação de diversificar a produção. “e 250 mil hectares que antes eram destinados ao arroz, devem ser ocu-pados pela soja”, avalia o presidente da Federarrroz. estimativas da Conab apontam para uma produção entre 11,5 milhões e 11,7 milhões de toneladas para o período. “não há expectativa de crescimento da produção em relação ao ano passado. os estoques estão justos, es-timamos que em cerca de 1,5 milhão de toneladas, o que deve ajudar a manter as cotações em bons patamares”, diz rocha. Com isso, os preços médios, que oscilaram em r$ 30 por saca em 2012, podem alcançar r$ 35 por saca no primeiro semestre de 2013. “no segundo semestre, é possível que superem esse valor”, estima. para que isso aconteça, o setor está focado na manutenção da safra nacional em

11,6 milhões de toneladas e no aumento das exportações. “Hoje, o Brasil exporta arroz para mais de 60 países. também estamos estudando a elaboração de uma campanha de estímulo ao consumo no mercado inter-no, que atualmente se situa em 45 quilos per capita ao ano”, afirma rocha.

atendência é que os preços da mandioca se mante-nham firmes neste início de ano. devido à forte estiagem

registrada no norte e nordeste no ano passado, a produção de mandioca des-pencou em 70% nessas regiões. “com isso, o consumo de farinha está sendo suprido no sul”, diz antonio donizetti Fa-del, presidente da associação Brasileira dos Produtores de amido de Mandioca (abam). soma-se à situação proble-mática registrada no norte e nordeste o ocorrido em parte das lavouras do sul, que tiveram de ser replantadas no final do calendário e devem, portanto, ser colhidas mais tarde este ano. com isso, os preços da farinha devem permane-cer cotados em patamares superiores a R$ 330 por tonelada, em alta de 40% em relação aos valores praticados em igual período do ano passado. de acordo com Fábio isaías Felipe, pesquisador do ce-pea, em 2012 muitas colheitas que deve-riam ter sido feitas em maio acontece-ram em outubro. com isso, houve perda tanto na produtividade como na qualidade do amido. “Quanto mais amadurecida, mais amido a planta produz, e as fecularias remu-neram pela quantidade de amido”, diz Felipe. O Brasil produz cerca de 26 milhões de tonela-das de mandioca por ano, das quais 10% se transformam em ami-do e 40% em farinha.

fique de olho

setor estuda campanha

de estímulo ao consumo

interno

preço Média (R$/saca – mercado in-terno)

2011 2012 2013*

23

30

35

Fonte: Federarroz*estimativa

preçoMédia mensal (R$ por tonelada)

out/10 out/11 out/12

273,03233,97

275,30

Fonte: Cepea

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32 Globo RuRal | janeiro 2013

tendências

2013Milho

rentaBIlIdade em rIsCoDemanda mundial aquecida deve manter preços do cereal em bons patamares, mas safra americana cheia é ameaça

Ofuturo da pro-dução de milho no Brasil deve ser analisado num contexto mais amplo do

que o da ocasionalidade da seca registrada nos estados Unidos. a afirmação é de alysson Pau-linelli, presidente executivo da associação Brasileira dos Pro-dutores de Milho (abramilho). de acordo com ele, o Brasil vai, na próxima década, assumir o papel de grande fornecedor mundial de milho. “Projetamos um aumen-to de 40 milhões de toneladas na produção nacional nos próximos dez anos”, diz. com isso, a safra nacional do grão pode saltar pa-ra 110 milhões de toneladas em 2023. “O milho é o cereal mais demandado do mundo”, comen-ta. Para Paulinelli, há limitações para a expansão da produção em diversas regiões do mundo. “nos países de clima temperado, só é possível plantar milho uma vez por ano e em momentos bem específicos. no Brasil, podemos plantar o ano inteiro”, comenta.

no cenário mundial de oferta e demanda, Paulinelli destaca que nos eUa, país que produz quase a metade do consumo mundial do grão, o governo decidiu des-tinar cerca de 150 milhões de toneladas à produção de etanol, “reduzindo a oferta do produto

e fazendo com que o maior pro-dutor mundial precise importar o grão”, diz. além disso, a chi-na, que até 2010 se posicionava como exportadora de milho, vai importar 2 milhões de toneladas na safra 2012/2013. na europa, a produção também caiu, ao passo que as compras externas cresce-ram; e, na argentina, o cenário político complicado tem inibido os investimentos nas lavouras. “O aspecto positivo em relação à produção brasileira é a tecnologia aplicada ao milho, que melhora a cada ano, principalmente depois da chegada da transgenia. Os ní-veis de produtividade são cres-centes e demonstram que o Bra-sil poderá dispor de excedentes acentuados nos próximos anos”, avalia Paulo Molinari, analista da safras & Mercado.

Para Molinari, vários fatores

surpreenderam o mercado de milho este ano. O primeiro foi a supersafra brasileira no período 2012/2013, estimada em 73 mi-lhões de toneladas, que revelou o grande potencial produtivo bra-sileiro. O segundo foi a surpresa de uma forte quebra de safra nos eUa – de cerca de 100 milhões de toneladas –, o que modificou radicalmente as condições de preços internacionais e levou o Brasil a novo recorde de expor-tação, de 20 milhões de toneladas em 2012, segundo projeções da safras & Mercado.

de fato, sem o quadro climáti-co nos eUa, o Brasil teria imen-sas dificuldades para escoar os seus excedentes neste ano. Uma safra de 72 milhões de toneladas para um consumo projetado em 52 milhões de toneladas gera-ria um excedente difícil de ser

fique de olho

eua investem 150 milhões

de t do cereal na produção

de etanol

excedente de 10 milhões? aS expoRtaçõeS bRaSileiRaS podem cair no segundo semestre de 2013 se a safra dos eua for em volume normal. “pode haver um excedente superior a 10 milhões de toneladas, que pode encalhar no mercado interno e tornar-se um grande ponto negativo para os preços domésticos”, avalia molinari. o grande desafio para o produtor será aproveitar a curva atual de preços al-tos, que vai propiciar boas liquidações pelo menos até setembro de 2013. “o agricultor também não deve acreditar que o quadro de 2012 ocorrerá todos os anos. em 2013 poderá ser muito diferente, posto que a previsão é de uma safra mundial recorde”, diz molinari

janeiro 2013 | Globo RuRal 33

absorvido pelo mercado inter-nacional em caso de uma safra americana normal. com isso, os preços na Bolsa de chicago atin-giram patamares recordes e os estoques dos eUa foram os mais baixos da história.

O Brasil rapidamente ocupou o espaço deixado pelo maior ex-portador mundial. Outra novida-de é que os produtores começam a observar mais o mercado inter-nacional do milho como um in-dicador de preço interno, o que possibilita melhoria nos instru-mentos de comercialização.

O ponto negativo é a logística brasileira. em 2012, devido à que-bra da safra de soja, foi possível

A produção brasileira pode crescer 40 milhões de toneladas em dez anos

encontrar espaço nos portos para o milho. Mas, para este ano, a si-tuação piorou e é apontada como gravíssima por representantes da cadeia do milho. “Os preços dos fretes explodem a cada ano, e a

margem de lucro dos produtores é reduzida, devido ao altíssimo custo da logística”, diz Molinari.

de acordo com Marcos Ru-bin, analista da agroconsult, a lucratividade do produtor, que chegou a R$ 820 por hectare no ano passado, deve cair um pou-co, podendo ficar em R$ 600 por hectare em 2013. “O grande risco para os produtores brasileiros é o registro de uma safra americana em patamares normais em 2013 (cerca de 370 milhões de tone-ladas), o que poderia gerar uma queda de preços acentuada no mercado internacional, e, so-mado a isso, os altos custos da logística interna.

57,40

73,00 70,00*

*previsão

20102011

20112012

20122013*

produçãoSafra brasileira (milhões de toneladas)

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34 Globo RuRal | janeiro 2013

tendências

2013

Trigo

ValorIzação à VIstaRedução da produção e dos estoques deve melhorar liquidez em 2013

Oano de 2013 deve ser um período de venda tranquila, com maior liquidez e bons preços para os produtores de trigo. no mercado internacional, a produção, as exportações, as importações e os estoques finais serão menores na safra 2012/2013 quando comparados ao período an-terior. “alguns importantes produtores como canadá,

austrália e Ucrânia estão com problemas”, diz João donizete Garcia, di-retor da correpar corretora de Mercadorias. no mercado interno, a safra do Rio Grande do sul, que em 2012 plantou a maior área do país, atrasou, porque foi cultivada mais tarde, e, como sofreu intempéries climáticas como geada e excesso de chuva, pode ter sua qualidade comprometida. “a produção do Rio Grande do sul com certeza será a maior do país, mas há dúvidas quanto à sua qualidade, o que está fazendo as tradings ir para o Paraná atrás de trigo melhor”, diz Garcia.

no Paraná, a área cultivada caiu 27% na safra 2012. Já no Rio Grande do sul, houve aumento de 4,7%. Projeções da companhia nacional de abastecimento (conab) apontam para uma safra de 4,46 milhões de toneladas no Brasil em 2012, volume 22,9% menor que o do período an-terior. com isso, o país terá de importar 7 milhões de toneladas de trigo durante a temporada 2012/2013.

O produto virá dos estados Unidos, canadá, Paraguai e argentina. esta última, que já foi importante fornecedora do Brasil, segue este ano com problemas de qualidade e de produtividade e não deve produzir mais de 10,5 milhões de toneladas no período 2012/2013, o que pode gerar um excedente de 5,5 milhões de toneladas.

a mudança nas regras de comercialização, que aconteceu em julho de 2012 e elevou a exigência de qualidade do trigo, pode reduzir a classifica-ção de grande parte da produção brasileira. no Paraná, os novos parâme-

tros desestimularam a produção e devem rebaixar a classificação de 35% da safra, segundo analisou a Organização das cooperativas do estado do Paraná (Ocepar). dos 2,2 milhões de toneladas que devem ser produzidas na região, 770.000 toneladas podem ser classifica-das como inferior. O trigo da cate-goria pão, que antes devia ter fator W (nível de glúten) acima de 180 unidades, por exemplo, a partir de 1º de julho passou a ter índices superiores a 220 unidades. ape-sar disso, quem tiver o produto neste início de ano deve realizar boas vendas. isso porque no primeiro trimestre acontece a colheita do milho e da soja e pouca gente olha para o trigo. “O Paraguai tem ex-pandido bem sua área de cultivo e está se tornando grande for-necedor de trigo para o Brasil”, diz Garcia.

fique de olhoBrasil vai

importar 7 milhões de toneladas

produção(milhões de toneladas - Brasil)

5,035,88 5,78

4,46*

Fonte: Conab*estimativa

20092010

20102011

20112012*

20122013*

36 Globo RuRal | janeiro 2013

tendências

2013Frangos/ovos

exportações aliviam criseDesempenho fora do Brasil continuará sendo destaque este ano

adespeito de o setor avícola brasileiro ser considerado um caso exitoso no cenário interna-

cional, com o país posicionando-se em primeiro lugar no ranking dos maiores exportadores globais, detentor da expressiva fatia de 40,5% do mercado mundial, dentro do Brasil ele carece de cuidados. “em 2012, conseguimos manter as vendas externas, apesar da crise que tomou conta do setor, mas a produção caiu”, diz Francisco tur-ra, presidente da União Brasileira de avicultura (Ubabef). de acordo com ele, o ano de 2012 foi marcado por grandes desafios para a avi-cultura brasileira. a estiagem no sul do país no início do ano pro-vocou escassez de farelo de soja, insumo que representa 30% do to-tal da ração que alimenta o plan-

tendências

2013

tel. depois, a situação agravou-se ainda mais com a quebra da safra americana de milho, que rebaixou em mais de 100 milhões de tone-ladas a expectativa da colheita mundial do cereal.

“a consequência foi a elevação de mais de 100% no preço do fare-lo de soja e de 40% nas cotações do milho em plena safra, já que as negociações no mercado interno brasileiro seguem os valores pra-ticados pela Bolsa de chicago, que foi drasticamente afetada pela es-tiagem do estados Unidos”, diz.

Francisco Turra O custo da ração foi o grande entrave à rentabilidade do setor avícola ovo para a europa

Globo rural Como será o ano para o segmento de ovos?Francisco Turra estamos otimistas, visto que podemos abrir o mercado da União europeia, o que vai ajudar a alavancar ainda mais as exportações.Gr A produção nacional deve crescer?Turra a Ubabef estima um aumento de 10%, com a produção podendo alcançar 35 bilhões de unidades neste ano.Gr Estão exportando mais ovos?Turra sim, no ano passado as vendas externas cresceram 10.500 toneladas, para 26.100 toneladas. o movimento de alta deve persistir este ano.

Fique de olho

alta do milho eleva em 40%

o custo de produção

janeiro 2013 | Globo RuRal 37

Caprinos/ovinos

Franca expansãoexportações aliviam criseProdutores têm boa margem de lucro e são beneficiados pelo aumento do consumo no mercado interno

aBahia, que detém o maior rebanho de capri-nos do Brasil, enfrentou problemas no ano passado por conta da seca que assolou a região. “entre perdas e abates, estima-se

uma redução de 20% a 30% do rebanho baiano”, diz anderson pedrosa, diretor da associação dos criado-res de caprinos e ovinos do estado da Bahia. apesar da queda do rebanho, o segmento de elite continua firme. “Há agora uma grande procura para recompor os rebanhos”, diz pedreira, que aposta em um 2013 muito bom para o setor. ”as raças de caprinos com dupla aptidão estão sendo bastante procuradas para atender ao aumento que se deu tanto no consumo de leite como de carne”, diz.

o consumo e a produção de carne de ovinos também devem perma-necer aquecidos em 2013, apesar da estagnação do rebanho. “se com-pararmos com 40 anos atrás, o rebanho nacional está no mesmo nível, de 16 milhões de cabeças, sendo que a maior parte se concentra no sul do Brasil”, diz paulo afonso schwab, presidente da associação Brasileira de criadores de ovinos (arco). apesar disso, o setor tem um material genético reconhecido por sua qualidade. “são 28 raças de genética ex-celente, e isso reflete o trabalho de extensão no campo para melhoria da produção de carne, lã e leite”, afirma. com um consumo estimado em 86.000 toneladas de carne por ano – sendo 80.000 toneladas produzidas no Brasil e 6.000 importadas –, o mercado nacional ainda sofre com o grande índice de informalidade, que atin-ge 90% do abate nacional.

“o consumo cresce de maneira acelerada e o grande desafio para 2013 é melhorar a for-malidade e ampliar o rebanho”, diz. os preços tendem a permanecer em alta, com o quilo do animal vivo negociado a r$ 6 em são paulo, maior mercado consumidor do país. convertida em carcaça, a cotação salta para r$ 12,50 por quilo. o custo de produção responde por me-tade desse valor. por esse motivo, o segmento não sofreu com a alta dos custos da ração. “a margem da atividade é boa e a remuneração da ovinocultura hoje é o dobro daquela da pecuá-ria”, diz pedrosa.

no Brasil, o custo de produ-ção deu um salto e aumentou mais de 40%. “Mas o repasse ao consumidor ficou em torno de 20%”, comenta o executivo, acrescentando que 2012 foi tão difícil que gerou uma das maio-res crises pelas quais já passou o setor. “empresas pediram recu-peração judicial. Outras simples-mente suspenderam as linhas de produção em decorrência da falta de crédito e do excesso de restri-ções impostas pelas instituições financeiras. Mais de 10 mil empre-gos foram perdidos e houve redu-ção da produção”, contabiliza.

estimativas da Ubabef apon-tam que a pro-dução de carne de frango deve cair 550.000 to-neladas em 2012, situando-se em 12,5 milhões de toneladas. em 2013, não deve haver aumento em relação ao período anterior. Já as exporta-ções foram mantidas em volume, mas tiveram os preços retraídos. em 2013, apesar da estabilidade na produção, as exportações de-vem crescer. “Houve a abertura do mercado russo, estamos libe-rando 13 novas plantas de expor-tação para a china. além disso, vamos abrir os mercados da in-donésia, Paquistão e Malásia, que, juntos, somarão 500 milhões de clientes”, diz turra. em 2012, as vendas para a china cresceram 21,7% e para o egito aumentaram 141%. “a política cambial favore-ceu a sobrevivência das empre-sas em plena crise”, diz o execu-tivo da Ubabef.

consUmoEvolução da deman-da por carne de ovinos (gramas/pessoa/ano)

400

500

700

Fonte: mercado

2010 2011 2012

proDUçãoCarne (milhões de toneladas)13,058 12,5 12,5

Fonte: Ubabef*estimativa

2011 2012 2013

Fique de olho

rentabilidade é o dobro da obtida

na pecuária bovina

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38 Globo RuRal | janeiro 2013

tendências

2013

consUmo

2011 2012 2013

14 15 15

Fonte: aBcs*estimativa

(Kg/per capita - Brasil)

suínos

ano mais tranqUilo?Depois de um período turbulento, a calmaria pode retornar à suinocultura se Rússia e Japão ajudarem

a dificuldade enfrentada pela suinocultura brasileira em 2012 deve ser amenizada este ano. “trabalhamos por oito meses com prejuízo, mas a partir de setembro os preços voltaram a reagir e nos estados

do sudeste superaram os custos de produção, mas na região sul a situação ainda inspira cuidados”, diz marcelo lopes, presidente da associação Brasileira dos criadores de suínos (aBcs). segundo ele, no sudeste o produtor é mais independente e por isso as cotações reagem mais rapidamente ao desempenho positivo do mercado, diferentemente do que acontece no sul, onde a relação é de maior dependência do integrado da em-

presa que compra o animal. De qualquer maneira, há

expectativa de melhoria dos preços para este ano, e ela está calcada na previsão de aumento das exportações brasileiras. o setor espera a reabertura do mercado russo e a entrada do produto bra-sileiro no mercado japonês a partir do início deste ano, o que, se acontecer, deve ajudar a elevar os preços do merca-do interno. a produção brasi-leira de carne está projetada

em 3,5 milhões de toneladas para 2012, apenas um pouco acima do volume de 2011, já que o aumento do rebanho foi pequeno, por conta da crise. Já as exporta-ções serão em patamares inferiores aos registrados em 2011 e não devem ultrapassar as 530.000 toneladas. “mas com o Japão, que é o maior consumidor de carne suína do mundo, iniciando suas compras no Brasil, o cenário interno deve melhorar”, diz lopes. estima-tivas da associação dos produtores e exportadores de suínos (abipecs) indicam que o Brasil pode vir a fornecer até 100.000 toneladas por ano para o Japão, que anualmente compra 1 milhão de toneladas de car-

Fique de olhoconsumo per capita

cresce

ne no mercado internacional. o aumento do consumo no mercado interno também deve ajudar a amenizar a crise provocada pelas altas das cotações do milho e do farelo de soja. “o consumo per capita cresceu 3 quilos nos últimos anos”, diz lopes. segundo ele, os 14 quilos por pessoa ao ano consumidos em 2011 devem alcançar 18 quilos em 2015. “Há uma desmistificação da carne suína no Brasil”, afirma. para 2013, as projeções apontam também para um aumento de 4% do rebanho. “vamos trabalhar o incremento da produtividade. Hoje, a média nacional é de 25 leitões por porca ao ano, mas há produtores que conseguem 33,5 leitões”, comenta.

Produção de suínos em granja de Chapecó, em Santa Catarina ©

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40 Globo RuRal | janeiro 2013

tendências

2013peCuária

ano para exportarDestaque da pecuária de corte será desempenho no mercado internacional

em 2012, a margem de lucro do pecu-arista continuou apertada. de acor-do com José Vicen-te Ferraz, diretor da

informa economics FnP, levando-se em conta que a rentabilidade da atividade pecuária é historica-mente baixa, oscilando entre 1,5% e 2% ao ano, em 2012 o setor ob-teve bons indicadores. “Registrou uma taxa média de retorno entre 3% e 4%, que poderia até ter sido melhor, não fosse a pressão sobre os custos devido à alta dos preços do milho e da soja”, diz.

Para Ferraz, o esforço dos pe-cuaristas, a médio e longo pra-zos, será no sentido de melhorar a rentabilidade da atividade. “Já é possível reduzir custos com ga-

nho de produtividade, mas ainda assim será necessário aumentar o preço.” em geral, os preços pagos ao produtor em 2012 se situaram em patamares ligeiramente infe-riores aos praticados em 2011, com queda de R$ 3. a tendência é que a mesma queda seja verificada também em 2013, “a não ser que a conjuntura internacional modi-fique essa situação”, avalia. Mas, segundo Ferraz, o mais provável é que as economias dos estados Unidos, da europa e do Japão con-tinuem em recessão. além disso, haverá pressão sobre os custos de ração e de mão de obra, podendo levar a rentabilidade da atividade a oscilar entre 1,5% e 3% ao longo de 2013. Para alcides torres, da scot consultoria, o ano de 2013 será bom para as exportações de

carne porque os grandes concor-rentes do Brasil estão em situação desconfortável. “na argentina, há um enorme desestímulo à produ-ção. nos eUa, uma forte alta dos custos e retração do rebanho.

“na europa, a crise persiste, então será um ano bom para o Brasil exportar”, analisa torres, que alerta para a atuação da Ín-dia como grande concorrente do Brasil nas vendas de carne para a Ásia. “em 2012, as vendas da Índia cresceram substancialmente pa-ra a Ásia e para África, mercados menos exigentes”, diz.

no mercado interno, na avalia-ção de torres, o consumo foi bom. “com a alta dos preços dos grãos, o frango e o suíno ficaram mais caros e as pessoas optaram pelas carnes vermelhas”, diz. de acor-do com ele, o brasileiro é um dos maiores consumidores de pro-teínas do mundo. “com as facili-

o champanhe foi aberto Às véspeRas de pecuaRistas e frigoríficos exportadores abrirem o cham-panhe, veio o susto. na tranquila sertanópolis (pr), o agente causador da vaca louca é detectado numa rês de 13 anos morta em 2010. em efeito dominó, vá-rios países “intempestivamente” embargam a carne brasileira, mesmo tendo a organização mundial de saúde declarado o país como de “risco insignificante”. a opinião unânime do setor é que o embargo foi econômico, por conta de o Brasil ser um gigante do agro, mas admite que o caso foi divulgado tardia e erroneamente e que as condições sanitárias continuam devendo. no final, o champanhe espocou.

Fique de olhopreço da

arroba pode cair r$ 3

no ano

janeiro 2013 | Globo RuRal 41

dades do governo federal, como o cartão alimentação, a mulher transforma o salário em comida”, comenta.

na avaliação de Fernando Gal-letti Queiroz, presidente do Mi-nerva Foods, um dos líderes na américa do sul na produção e comercialização de carne bovina e vencedor do Anuário do Agro-negócio 2012 de Globo Rural na categoria abate de animais, a me-lhoria do poder de compra do bra-sileiro e o consequente aumento no consumo de carne levaram o Minerva a abrir dois centros de distribuição e a reforçar a presen-ça junto ao pequeno e médio vare-jos das regiões metropolitanas.

Outro ponto positivo é o que se refere à tecnologia. “enquanto os grãos já atingiram o teto de ado-ção tecnológica, a pecuária ain-da tem um grande espaço para crescer”, diz.

O avanço da genética e das técnicas de criação garante maior produtividade

com 209 milhões de cabeças, o Brasil deve manter o confinamen-to entre 3 milhões e 4 milhões de animais a fim de atender aos ex-portadores. a produção de 7,9 mi-lhões de toneladas em 2012 pode registrar ligeira alta em 2013.

Já as exportações, que soma-ram 1,6 milhão de toneladas no ano passado, poderão crescer substancialmente, estimam os analistas.

Já as exportações somaram 1,134 milhão de toneladas de ja-neiro a novembro do ano passado. segundo a associação Brasileira das indústrias exportadoras de carne (abiec), esse volume su-pera em 12% o de igual período de 2011. Já a receita cambial, que atingiu Us$ 5,273 bilhões, apre-sentou um incremento de 6,35%.

importante: as exportações de carne bovina in natura lidera-ram a receita cambial, com Us$ 4,103 bilhões, aumento de 6,49%. em volume, as vendas atingiram 861,372 mil toneladas, crescimen-to de quase 14%.

Os principais mercados consu-midores, de janeiro a novembro, em volume, foram Rússia (21%), Hong Kong (17%), egito (11%), União europeia (9%), Venezuela (7%), irã (6%), chile (6%), arábia saudita (3%), angola (1%) e esta-dos Unidos (1%).

preço(média em R$ por @ – praça São Paulo)

86,50100,40 96,20

Fonte: informa economics Fnp

2010 2011 2012

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42 Globo RuRal | janeiro 2013

tendências

2013

Leite

consUmo em altaAumento das compras da classe C ajuda a manter a demanda aquecida no mercado interno

em 2012, os preços do leite subiram 17% no mercado interno. a notícia seria ex-celente para os produtores, não fosse o aumento de 20% nos custos de pro-dução. “em função disso, o produtor de leite, que não vive só da venda de

leite, teve de ampliar a oferta de animais para aju-dar a pagar as contas”, diz Jorge Rubez, presidente da Leite Brasil, entidade que reúne os produtores. O aumento nos custos de produção comprometerá o desempenho do setor em 2012. “se registrarmos um aumento de 2%, será muito”, avalia Rubez. nos anos

de 2010 e 2011, o segmento re-gistrou crescimento entre 4,5% e 5% ao ano.

Para 2013, a sinalização é de mercado aquecido. O aumento do consumo da nova classe c

vai ajudar a manter a demanda aquecida no mercado interno e a elevar o consumo per capita, de 170 pa-ra 175 litros por pessoa ao ano. “desde que a renda continue crescendo, o ano deve ser excelente para o setor leiteiro”, avalia. com isso, a pro-dução deve recuperar o crescimento tradicional entre 4 % e 5% no ano.

na avaliação de Rubez, o Brasil ca-minha para ser um grande produtor mundial de leite. “Mas, para isso, a produtividade ainda tem muito o que crescer”, diz. no Brasil, 80% da produ-ção de leite está nas mãos de peque-nos produtores que tiram, em média, 20 litros de leite por vaca ao dia. “Já os pequenos, que respondem por 20% da produção, conseguem cerca de 4 litros por animal por dia”, comenta.

consUmo(litros per capita)

163 165 170 175*

Fonte: leite Brasil *estimativa

2010 2011 2012 2013*

Produção de leite tipo A na Fazenda Bela Vista

Fique aTendocusto de produção

pode crescer

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44 Globo RuRal | janeiro 2013

tendências

2013agroenergia

recUperaçãono canavialApós crise, segmento volta a registrar aumento dos indicadores agrícolas e reduz custo de produção

Oano de 2012 foi um período de superação para a cadeia sucro-energética do Brasil. após um

período de produtividade péssi-ma na safra 2011/2012, as pers-pectivas iniciais eram de um ano apenas um pouco melhor, com a safra do centro-sul do país po-dendo alcançar, no máximo, 509 milhões de toneladas de cana no ciclo 2012/2013, mas a moagem surpreendeu e, apesar das chuvas

tendências

2013

anteriores. com tal volume de cana, a produção de açúcar de-ve somar 34,05 milhões de tone-ladas e a de álcool 21,33 bilhões de litros, sendo 12,48 bilhões de litros de álcool hidratado e 8,85 bilhões de litros de anidro, 6,63% a mais em relação às projeções de setembro. a evolução das proje-ções durante o ano reflete, além da melhoria da qualidade da cana, os investimentos agrícolas feitos na adubação e na renovação dos canaviais. a renovação no campo, que na safra 2008/2009 era de 2% das lavouras existentes, em 2012 chegou a 18%, patamar que deve se repetir na safra 2013/2014. se-gundo cálculos da agroconsult, a idade média dos canaviais brasi-leiros se situou em 3,55 anos na

erasmo BaTTisTella

registradas no início da colheita, que derrubaram a qualidade da produção, houve ganho de pro-dutividade. nos últimos meses do ano, as condições climáti-cas voltaram a favorecer tanto a qualidade das lavouras quanto os trabalhos de colheita, e a sa-fra 2012/2013 ganhou projeções mais otimistas, devendo alcan-çar 532 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, segundo pro-jeções da União da indústria de cana-de-açúcar (Unica), alta de 4,52% em relação às previsões

renovaçãoMédia dos canaviais (em anos)

3,69 3,55 3,48*

*estimativa Fonte: agroconsult

20112012

20122013

20132014*

conquistas para o biodieselGlobo rural Como foi 2012 para o setor de biodiesel?erasmo Battistella Foi um ano em que avançamos na forma de comerciali-zação e de especificação do produto, mas não conseguimos o marco regu-latório do setor.Gr Quais são as perspectivas para 2013?Battistella inicialmente, estimamos ampliar a produção em 7%, para 3,2 bi-lhões de litros, mas, se o governo elevar a mistura ao diesel de 5% para 7%, podemos alcançar 4 bilhões de litros no ano. Gr Como o senhor avalia o Programa de Biodiesel do Brasil?Battistella é um dos mais desenvolvidos do mundo e garante a compra de 30% da matéria-prima da agricultura familiar, o que ajuda a valorizar o trabalho de mais de 110 mil famílias que residem no campo.

janeiro 2013 | Globo RuRal 45

safra 2012/2013. “a idade ideal é de 3,2 anos e talvez consigamos atingir esse patamar no período 2014/2015”, avalia Fábio Mene-ghin, analista da agroconsult. se no campo os investimentos acon-teceram, na indústria não. ainda há capacidade ociosa de cerca de 130 milhões de toneladas no Brasil. “É bem possível que essa capacidade seja suprida na safra 2013/2014”, diz Meneghin.

Projeções iniciais da agrocon-sult apontam para uma safra de 582,70 milhões de toneladas de cana em 2013/2014. “serão pro-duzidos 50 milhões de toneladas a mais, ou seja, crescimento de uma austrália”, diz. O aumento refleti-rá a expansão de área plantada, de cerca de 280.000 hectares, e a re-

Fique de olhomelhora na

idade média dos canaviais

crescimento médio mundial, de 2% ao ano”, diz Luis Roberto Pogetti, presidente do conselho de admi-nistração da copersucar. Para o etanol, no entanto, as perspecti-vas são melhores. “com o aumen-to da produção, o preço deve ceder e o produto ficará mais competi-tivo”, diz Meneghin. O governo já acordou o aumento de 20% para 25% na adição de etanol anidro à gasolina, o que deve acontecer entre maio e junho, e as expor-tações estão em alta. as vendas no mercado externo, inicialmente projetadas em 2,5 bilhões de litros, alcançaram 2,8 bilhões de litros em 2012 e devem situar-se em 3,7 bilhões na safra 2013/2014. “O ano será de recuperação da produção e do consumo”, conclui.

cuperação da produção. com isso, o volume de açúcar produzido deve somar 34,9 milhões de toneladas e o de etanol 27,2 bilhões de litros.

O ano de 2013 deve ser bai-xista para o açúcar, pois grandes produtores mundiais vão colher bem. contudo, companhias com tradição na exportação devem manter as estratégias para o mercado externo. É o caso da co-persucar – vencedora do prêmio Melhores do agronegócio 2012 nas categorias açúcar e álcool e comércio exterior –, que vai abrir escritório em Hong Kong para ampliar o atendimento na Ásia. “a taxa de crescimento do mer-cado de açúcar nesse continente é de 7% ao ano e justifica nossa estratégia, pois supera em 5% o

Transporte de cana para a indústria pela hidrovia do Tietê

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46 Globo RuRal | janeiro 2013

tendências

2013suCo de Laranja

mais DesaFiosIndústria precisa driblar a queda no consumo e criar novos destinos para a produção de laranja

acadeia de suco de laranja, que ini-ciou 2012 com a proibição de ex-portar suco concentrado para os estados Unidos devido ao uso do fungicida carbendazim no país, en-tra em 2013 ciente de que este será

mais um ano difícil para o segmento. com o consumo em queda nos eUa e em importantes países que são tradicionais consumidores, a exemplo da alemanha e do Japão, e a produção em alta, o setor enfrentou no Brasil um excedente de produção de 80 milhões de caixas de 40,8 quilos de laranja, que estavam predes-tinados a apodrecer no pé. “tivemos uma safra muito boa, de 364 milhões de caixas, mas, com o consumo em queda e os estoques internos em alta, a indústria não conseguiu comprar toda a produção disponível”, diz christian Lohbauer, presidente executivo da as-sociação nacional dos exportadores de sucos cítricos (citrus BR). Às custas de muita negociação, o setor

conseguiu prorrogar no meio do ano uma linha de financiamen-to para estocagem do produto e, com isso, a indústria adquiriu 40 milhões de caixas a mais do que previa no início da safra, re-duzindo o prejuízo do setor para 40 milhões de caixas que deixarão de ser colhidas até abril deste ano.

no período 2013/2014, é muito provável que a si-tuação se repita, já que as floradas da próxima safra estão em excelentes condições. a situação é tão pe-culiar que pela primeira vez na história do setor, que exporta 98% de sua produção, as indústrias de suco de laranja estão olhando para o mercado interno. “a ideia é que seja feito um consórcio entre as indústrias para processar a laranja excedente nas fábricas que estão com capacidade ociosa e comercializar esse suco no mercado interno”, diz Lohbauer.

além disso, a citrus BR terá em mãos este ano o diagnóstico sobre o posicionamento do marke-ting internacional que encomendou no ano passa-do. “Queremos descobrir por que o mundo não está tomando suco e fazer uma campanha para reverter o quadro de queda”, diz Lohbauer. todas as estraté-gias visam evitar a queda no preço do suco. em 2013, as vendas externas devem se situar entre 1 milhão e 1,2 milhão de toneladas, dentro dos patamares registrados nos últimos anos, mas os preços devem cair cerca de 10%. O Brasil se posiciona co-mo o maior produtor mundial de suco de laranja do mun-do, seguido pelos eUa, cujo principal estado produtor é a Flórida, que tem sua safra estabilizada em 150 milhões de caixas por ano.

Safra cheia e queda nas vendas deixam excedente na indústria

venDas Exportações de suco (milhões de toneladas)

1,20 1,181,05*

Fonte: citrus Br*estimativa

2011 2012 2013*

Fique de olho

indústria de suco mira

o mercado interno

janeiro 2013 | Globo RuRal 47

FrutiCuLtura

consUmo aqUeciDoAno será de aumento da demanda interna e recuperação das exportações

aprodução brasileira de frutas deve somar 43 milhões de toneladas em 2013, com ligeiro aumento, de 1,65%, em comparação ao volume produzido no ano passado, que somou 42,3 milhões de toneladas. com uma safra des-

se porte, o Brasil deve permanecer no terceiro lugar no ranking dos maiores produtores mundiais de frutas, atrás somente da china, que produz 63 milhões de toneladas, e da Índia, com safra projetada em 56 milhões de toneladas.

segundo moacyr saraiva Fernandes, diretor presidente do ins-tituto Brasileiro de Frutas (ibraf), 60% da produção nacional se re-fere a duas frutas: banana e laranja. “mas também somos grandes produtores de mamão, melão, melancia, tangerina, limão, abacaxi e

manga”, diz. a maioria delas é expor-tada. para 2013, as projeções indicam aumento tanto para as vendas exter-nas como para as vendas internas. “o mercado interno, que vem crescendo nos últimos dois anos, deve registrar aumento de 5% no consumo de 2013”, diz saraiva. o consumo aparente de frutas no Brasil já se equipara ao dos países desenvolvidos – 67 quilos por habitante por ano (incluindo frutas in natura, desidratadas, congeladas e sob a forma de suco). o grande problema do setor são as perdas. “Um estudo realizado pela Universidade de lavras

entre 2005 e 2010 mostra perda de 31% do volume comercializado. precisamos reduzir esse número para poder elevar as exportações”, diz o diretor presidente do ibraf.

as vendas para fora do Brasil também devem ser em média 10% maiores em valores e 6% em volume. “as exportações estão se recuperando depois da queda a partir de 2008, por conta da cri-se no mercado internacional”, diz. o maior comprador das frutas

brasileiras é a europa, que ainda está em re-cessão. “o Brasil busca mercados emergen-tes, mas a retração das vendas nos países avançados ainda é maior que o aumento das nossas exportações para os emergentes”, avalia saraiva.

exportaçõesFrutas (bilhões de US$)

1,00 1,05 1,10*

Fonte: ibraf*estimativa

2011 2012 2013*

CoCo

ÁgUa em altaEnvase cresce 14% ao ano e supera desempenho do produto ralado

Omercado brasileiro de coco vive um excelente momento no que diz respeito à produção de água. O segmento do produto ralado, no

entanto, não dispõe das mesmas condições, apesar de crescer 5% ao ano. com a queda da salvaguarda – que limitava as importa-ções – em setembro de 2012, houve consi-derável aumento da entrada de coco asiá-tico no Brasil. “É um produto de baixíssima qualidade, que entra no país a preço muito menor que o praticado no mercado interno e sem as mesmas condições fitossanitárias”, diz Francisco de Paula domingues Porto, pre-sidente do sindicato nacional dos Produtores de coco (sindcoco). “Mesmo com o aumento da tarifa externa comum (tec) de 10% pa-ra 50%, o coco ralado importado chega ao Brasil a preços inferiores aos do produzido no mercado interno”. O sindcoco pediu ao governo federal maior rigidez para os itens importados. “solicitamos que as empresas que exportam para o Brasil sejam cadastra-das e sigam as mesmas regras impostas às indústrias nacionais”, diz.

Já o segmento de água de coco tem cres-cido à taxa de 14% nos últimos cinco anos, com produção nacional de cerca de 1 bilhão de cocos em 2012. com vendas cres-centes tanto no mercado in-terno quanto fora do Brasil, as indústrias que envasam água de coco têm planos ambiciosos para o futuro. É o caso da sococo, que envasa 57% da água de coco produ-zida no país e estima alcan-çar em 2015/2016 a marca de 70 milhões de litros de água envasada por ano.

importaçãoCoco ralado (mil toneladas)

2011 2012 2013*

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1213

*estimativa

Fique de olhoconsumo

interno cresce 5% este ano

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48 Globo RuRal | janeiro 2013

tendências

2013Hortaliças

Atenção Ao climAPressão do consumo e produção menor sustentam os preços do segmento

Oano de 2012 re-gistrou condi-ção climática bastante atípica, o que influen-ciou a oferta e a

rentabilidade do produtor. O ve-rão menos chuvoso no sul e su-deste no primeiro quadrimestre de 2012 contribuiu para a maior oferta e uma expressiva queda nos preços desse grupo, desca-pitalizando os produtores.

Por outro lado, o volume de chuva elevado no mês de junho (uma situação atípica) atrapalhou o plantio e a produtividade da co-lheita no segundo semestre, es-pecialmente em são Paulo, o que fez reduzir a produtividade e ele-var consideravelmente os preços.

tendências

2013

também houve queda na produ-ção de legumes, verduras e fru-tas no nordeste, por conta da forte estiagem em 2012, especialmente no segundo semestre, valorizando substancialmente os produtos.

somada à queda da oferta, há o aumento do consumo per capita no Brasil. nos domicílios, segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar do iBGe de 2008/2009, o consumo de frutas e hortaliças do brasileiro foi próximo a 200 gramas. a me-lhor distribuição de renda da po-pulação permitiu o acesso da clas-

se c às frutas e legumes nos últi-mos anos, mas o consumo ainda está aquém do potencial produtivo do setor. “atualmente, o nordeste e o centro-Oeste vêm se desta-cando no aumento do consumo de hortifrútis e fortalecendo regiões produtoras que antes não tinham expressão em termos de produ-ção e hoje atendem a esses mer-cados”, diz Margarete Boteon, pes-quisadora do cepea. ainda assim, o consumo brasileiro está abaixo do recomendável pela Organiza-ção Mundial da saúde (OMs), que sugere 400 gramas diárias, o que equivale a cinco porções.

O setor hortifrúti é muito sen-sível a vários fatores, entre eles a questão climática e a capacida-de de investimento do produtor. Quanto ao clima, o enfraqueci-mento do fenômeno el niño no verão de 2013 pode manter as con-dições dentro do padrão normal. assim, é esperado que a estiagem no nordeste não seja tão forte co-mo a de 2012 e que não ocorram

O consumo vem crescendo na classe C, mas ainda é menor que o recomendado

o desafio da variedadeo setoR hoRtifRutícola é composto de um variado número de produtos e de regiões bastante heterogêneas em termos de produção. Resumir o pa-norama do setor é um grande desafio. o Projeto Hortifrúti, do cepea, estuda os 12 produtos mais cultivados no Brasil (batata, tomate, cebola, cenoura, fo-lhosas, manga, melão, mamão, maçã, banana, laranja e uva) e agrega a análise em grupos. tomate, cebola, cenoura, batata e folhosas estão agregados em um grupo – o dos tubérculos e verduras.

fique de olhoconsumo cresce no

nordeste e centro-oeste

janeiro 2013 | Globo RuRal 49

CaCau

PRodução RecoRdeBrasil colhe maior safra em 18 anos, mas produtividade ainda é baixa no maior Estado produtor

os preços futuros do cacau, que osci-laram entre uS$ 2.400 e uS$ 2.500, em média, por tonelada em 2012, devem se manter nesses patama-

res ao longo de 2013, em resposta à situação de maior equilíbrio entre a oferta e a demanda no cenário internacional. A safra mundial, encer-rada em setembro passado, deve somar 4 milhões de toneladas em 2012, com expectativa de um pequeno deficit de 150.000 toneladas. A tendência para 2013 é que o clima seja favorável ao desenvolvimento das lavouras de cacau em diversas regiões do mundo. com isso, a ex-pectativa é que a produção se mantenha estável, enquanto o consumo deve registrar leve aumento – de 1,5% –, garantindo a manutenção dos preços em bons patamares.

no Brasil, é possível que haja redução nos tratos culturais das la-vouras, principalmente na Bahia, uma vez que os preços praticados no mercado interno estão próximos dos custos de produção. “no fim do ano passado, os preços de venda oscilavam entre R$ 65 e R$ 70 por arroba de 15 quilos no mercado interno, com os custos projetados em R$ 70 por arroba”, avalia Thomas Hartmann, produtor brasileiro e ana-lista da tH consultoria. em 2012, o Brasil colheu a maior safra de cacau dos últimos 18 anos, de 220.000 toneladas, entre outubro de 2011 e setembro de 2012 (calendário internacional). Ainda assim, produtores baianos enfrentam problemas de rentabilidade por conta da baixa produtividade das lavouras, que oscila em 300 gramas por árvore. A Bahia destaca-se como o maior produtor de cacau do Brasil, com 70% da produção mundial, mas ainda sofre as consequências da dissemina-ção do fungo causador da doença vassoura de bruxa no estado, na década de 1980. Já o Pará se posiciona como segundo maior produtor do país, com grande potencial de expansão pa-ra a cultura. “É no Pará onde a produção mais cresce no Brasil”, avalia Hartmann. no estado, a produtividade também é melhor e chega a 1 quilo por árvore.

chuvas acima da média históri-ca no inverno. “Podemos ter uma ideia para o grupo batata, tomate, cebola e cenoura, que devem ter um preço mais elevado em relação ao mesmo trimestre do ano pas-sado, por conta da menor área de plantio”, diz Margarete.

Para 2013, as metas do setor são a melhoria da qualidade e a segu-rança alimentar (usar como base o nível de resíduos recomendado pela anvisa) das frutas e horta-liças, redução das perdas na comercia-lização, ampliação da disponibilidade de material genéti-co no setor, melho-ria da produtividade, aumento do pacote tecnológico e ges-tão das proprieda-des rurais, além do avanço no processo de modernização da comercialização dos hortifrútis.

200 220 224*

Fonte: cepea (salada longa vida AA - ataca-do, em R$/caixa de 22 quilos)

10/10 10/11 10/12

21,4

34,241,4

20102011

20112012

20122013

Fonte: tH consultoria *estimativa

PReçoMédia mensal do tomate da Ceagesp

fique de olhoAumento

mundial no consumo da

amêndoa

PRodução(mil toneladas - Brasil)

© m

An

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50 Globo RuRal | janeiro 2013

tendências

2013Florestas plantadas

um SetoR à eSPeRA dA leiA legislação que proíbe a venda de terra para estrangeiros pode ser modificada e beneficiar o segmento de madeira

Oano passado foi estático para o segmento de florestas plantadas, com o grande acontecimento agendado para o ultimo mês de 2012: a inauguração da fábrica da empresa eldorado celulose Papel, que consolida o polo florestal de Mato Grosso do sul. trata-se da maior fábrica de celulose do mundo, que terá capacidade de

produção de 1,5 milhão de toneladas por ano de celulose branqueada. a unidade deve chegar a 5 milhões de toneladas ao ano até 2020.

“a indústria utilizará como matéria-prima a madeira das florestas de eucalipto plantadas na região”, diz cesar Reis, diretor da associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (abraflor). segundo ele, a restrição de vendas de terras para estrangeiros inibiu consideravel-mente os investimentos no setor. “a área de plantio de eucalipto e pinus está estabilizada em 6,5 milhões de hectares, sem registro de aumento nos últimos dois anos”, avalia Reis. a restrição na venda de terras repre-sa investimentos estimados em R$ 53 bilhões de empresas nacionais de capital estrangeiro, que não estão sendo aplicados no setor.

“estamos conversando com o governo federal, que nos prometeu uma modificação dessa medida em 2013. se isso acontecer, a expecta-tiva é de um ano bom para o setor, uma vez que podem ser cultivados 1 milhão de hectares de florestas no país”, comenta Reis. a indústria de papel e celulose, no entanto, tem um período difícil pela frente. execu-tivos que representam as maiores indústrias do país diagnosticaram que em cinco anos o Brasil terá problemas no fornecimento de papéis para embalagem.

O grande alerta é para a falta de investimentos em projetos que con-templem a produção de celulose de fibra longa, uti-lizada nos papéis para embalagens, uma vez que a atual capacidade só será suficiente para atender à demanda nos próximos cinco anos. as exporta-ções brasileiras de celulose e papel também es-tão em queda, influenciadas pelos efeitos da crise internacional, que provocou o desaquecimento do mercado. Para melhorar a competitividade da indústria nacional, empresas estão investindo na pesquisa e no desenvolvimento de novos produtos e em novas aplicações a partir da base florestal que permitirão reduzir o impacto de crises futuras que possam afetar o mercado de celulose. até 2020, es-

tão previstos investimentos de Us$ 22 bilhões na expansão da capaci-dade produtiva do Brasil, tanto para ampliar o fornecimento da celulose como para diversificar os usos da madeira. “É foco para o Brasil, no curto e médio prazos, sair da cai-xa de celulose e papel, investir em inovação e biotecnologia e partir para os múltiplos usos da madei-ra”, afirmou elizabeth carvalhaes, presidente da Bracelpa. a cenibra é uma das empresas que vêm in-vestindo em inovação tecnológica, pesquisa, desenvolvimento e ini-ciativas para ampliar a produtivi-dade. a companhia, que se destaca entre as maiores do mundo, com produção de 1,14 milhão de tone-ladas de celulose, apesar da retra-ção do segmento, tem conseguido manter a saúde financeira.

Falta de investimentos ameaça o fornecimento de papéis para embalagem

2010 2011 2012

14,16 13,9212,00*

Fonte: Bracelpa e mercado*estimativa

fique de olho

expectativa de mudança na restrição de venda de

terras

PRoduçãoCelulose (milhões de toneladas)

janeiro 2013 | Globo RuRal 51

BorraCHa

cReScimento contínuo, mAS lentoProdução brasileira avança em ritmo inferior ao da demanda interna

A produção brasileira de borracha natural alcan-çou 171.000 toneladas em 2012, aumento de

2,4% na comparação com o ano anterior. Apesar da alta, o volu-me foi insuficiente para atender à demanda interna, projetada em 360.000 toneladas no período. o desequilíbrio entre oferta e de-manda, comum no setor, reflete a lenta expansão da heveicultura no país quando comparada ao cresci-mento das compras internas.

de acordo com dados do iB-Ge, atualmente o Brasil possui 135.800 hectares cultivados – eram 108.900 hectares em 2006. os destaques vão para São Pau-lo, que registrou alta de 42,2% em cinco anos e hoje se posiciona co-mo maior produtor nacional, com 55% da safra, e para minas Gerais, que ampliou a área de cultivo em 155,5% e responde atualmente por 6,1% da produção brasileira. ou-tros estados produtores também ampliaram a área plantada, co-

situem em 230.000 toneladas.os preços também devem ser

melhores, e a expectativa é que a cotação volte a subir este ano, podendo oscilar entre uS$ 2.900 e uS$ 3 mil por tonelada até o final de 2013. A alta ocorrerá em virtu-de da menor oferta por parte da tailândia, maior produtor e expor-tador mundial, reduzindo assim a disponibilidade da matéria-prima no mercado internacional.

Além da redução da oferta, tam-bém nota-se desaquecimento da demanda mundial, especialmente em mercados como o europeu e americano. “A crise tem causado efeitos duradouros na economia mundial”, diz Rossmann.

A china, maior consumidor mundial de borracha natural – 35% do consumo total –, que crescia mesmo em tempos de crise, mos-tra agora o que pode ser um sinal de fraqueza: importou nos últi-mos meses de 2012 volumes 10% menores do que os registrados no mesmo período de 2011.

Mesmo aumentando a área plantada, Brasil ainda depende de importação

mo Bahia (13,5%), espírito Santo (19,8%) e Goiás (33,5%), mas ain-da assim o volume de produção é inferior ao consumo.

A necessidade do mercado do-méstico é completada com impor-tação do Sudeste Asiático, princi-palmente da tailândia, indonésia e malásia. os três países são os maiores produtores e exportado-res de borracha e também a origem de 89,7% do volume importado pe-la indústria brasileira em 2012.

“Foram adquiridas 190.000 toneladas fora em 2012, volume 19,1% inferior ao registrado no ano anterior”, diz Heiko Rossmann, diretor executivo da Associação Paulista de Produtores e Benefi-ciadores de Borracha (Apabor).

Para 2013, Rossmann projeta produção nacional da ordem de 173.000 toneladas, volume ape-nas 1% superior ao estimado para 2012. com aumento tão pequeno, as importações devem crescer: se-gundo o executivo, espera-se que as compras no mercado externo se

2010 2011 2012

5,908,06

6,68

Fonte: Apabor(granulado escuro bra-sileiro, GeB, pago às usinas de beneficia-mento – referência mês de setembro)

fique de olhodemanda

permanece maior que a

oferta

PReço (média em R$/kg)

© e

Rn

eSto

de

Sou

ZA

52 Globo RuRal | janeiro 2013

tendências

2013CaFé

RetomAdA dAS cotAçõeSAno de safra menor e consumo em alta favorecem a cafeicultura brasileira

Para a cafeicultura, o ano de 2012 foi de grandes con-quistas. “Mas fal-tou renda para o produtor”, diz si-

las Brasileiro, presidente do con-selho nacional do café (cnc). sob o ponto de vista político, o retorno de um brasileiro à presidência da Organização internacional do café (Oic) – Robério silva – e a retoma-da, no mercado interno, das reuni-ões do conselho deliberativo da Política do café, que contam com representantes de todos os elos da

cadeira produtiva, foram impor-tantes avanços, mas a melhoria dos preços pagos ao produtor é um desafio que ficará para 2013.

“defendemos que não inte-ressa para o setor preços altos a ponto de estimular novos plantios no Brasil ou ampliar em demasia o custo para o consumidor final, mas buscamos uma remuneração adequada para garantir a qualida-de da produção”, avalia Brasileiro. após uma década no vermelho, a cafeicultura viu os preços me-lhorarem em 2010 e 2011, mas, por conta da colheita da maior safra da

história do setor, de 50,83 milhões de sacas, as cotações voltaram a se acomodar em 2012. a saca, que chegou a ser cotada acima dos R$ 500 em 2011, se situou, em média, em R$ 360 ao longo do ano.

Historicamente, quando há queda nos preços do café, os pro-dutores abandonam os cuidados das lavouras, o que pode compro-meter a qualidade da safra seguin-te. “a grande preocupação para este ano é justamente a qualida-de da safra, que será entre 15% e 20% menor, devido à redução dos tratos nos cafezais”, diz Brasileiro. na ponta do consumo, ainda que o Brasil permaneça na liderança do ranking dos maiores exportado-res de café, as vendas para a eu-ropa, maior comprador, estão mais lentas. “ela não está fazendo esto-ques, as compras são apenas para o consumo diário”, diz.

ainda assim, as vendas exter-nas devem se situar entre 28 milhões e 29 milhões de sa-cas, enquanto o mercado in-terno deve consumir 18 mi-lhões de sacas. “O consumo de café no Brasil dobrou na ul-tima década e hoje as empre-sas estão muito atentas a es-se cliente, que está com maior poder de compra. Há várias ações sendo elaboradas asso-ciando o café à saúde e apro-veitando a copa do Mundo”, diz o presidente da cnc.

2011 2012 2013*

430360

400

Fonte: cnc*estimativa

fique de olho

europa não faz mais

estoques

PReço (média anual em R$/saca de 60 quilos)

janeiro 2013 | Globo RuRal 53

armazenagem

coRRidA contRA o PReJuíZoLongo caminho a percorrer para melhorar a capacidade interna

Asituação da arma-zenagem é críti-ca no Brasil. com a previsão de uma

produção de 180 milhões de toneladas para 2012/2013 – associada a um modes-to crescimento da capacida-de dos armazéns nos últimos anos –, a falta de silos chega a ser dramática. “Seriam ne-cessários mais 16 mil silos com capacidade média de 3.000 toneladas cada para suprir a demanda interna”, avalia eri-co Weber, especialista na área de armazenagem.

Para ele, o país precisa ain-da melhorar a qualidade do produto nacional, pois os si-los de chapa ondulada e pa-rafusada atualmente usados não contam com boa indica-ção dos especialistas do se-tor. “Já a tecnologia que es-tamos trazendo do exterior, que armazena de forma se-gura em silos 100% herméti-cos, tem sido muito bem ava-liada”, diz. “Precisamos cor-rer contra o prejuízo e contra o tempo para construir silos o mais rápido possível”, diz.

com a redução do orça-mento da companhia na-cional de Abastecimento (conab), de R$ 132 milhões, em 2012, para R$ 100 mi-lhões, em 2013, a constru-

ção de novos armazéns se-rá afetada, o que abre espaço para a atuação de empresas estrangeiras nesse setor. A ipesa, companhia argentina que comercializa silos-bol-sa que podem ser instalados nas próprias propriedades, registra desde 2004 deman-da crescente no Brasil. entre as vantagens do silo-bolsa destacam-se o custo menor de armazenamento, quando comparado às instalações fi-xas, e a possibilidade de se-gregar a produção de grãos convencionais da genetica-mente modificada.

no Brasil, apenas 4% da armazenagem de grãos é feita em silos. Há um enorme potencial no mercado brasi-leiro e parte desse segmento será atendido pelas empre-sas estrangeiras.

deFensivos

BoA RelAção de tRocAProdutores continuarão a investir em aumento da produtividade

Osetor está otimista para 2013.” É com es-ta frase que amaury sartori, vice-presi-

dente do sindicato nacional da indústria de Produtos para a de-fesa agrícola (sindag), sinaliza como deve ser o ano para o seg-mento de defensivos, cujas ven-das são sustentadas pelos bons preços das commodities e pela alta remuneração do agricultor. “O agronegócio está com retor-no atrativo e estimula os produ-tores a investimentos importantes”, diz sartori.

em 2012, o clima foi decisivo para o desempenho do setor, que cresceu 9%. a expectativa é que os pre-ços do milho e da soja se mantenham aquecidos tam-bém em 2013, dando impulso para um crescimen-to do setor em linha com o que ocorreu em 2012. “O produtor rural está mais consciente de que, para au-mentar a produtividade, precisa investir em tecno-logia”, avalia o diretor de marketing José Gonçalves do amaral, da ihara.

a soja responde por 45% do mercado de defensi-vos, seguida pelo algodão, com 14%; cana, com 13%; e milho, com 10%. apesar de ter 80% do custo in-fluenciado pela variação cambial, uma vez que boa parte da matéria-prima é importada, a relação de troca tem sido cada vez mais favorável ao agricultor. segundo dados do sindag, em 2012 foram necessá-rias 3,5 sacas de soja para a aquisição de uma cesta de defensivos (referência no setor), em comparação com as 8 sacas necessárias em 2010. entre os desa-fios para 2013, sartori destaca a redução no tempo de registro de uma nova molécula, que deveria levar 180 dias, mas está acontecendo em mais de 30 meses. “É o agricultor brasileiro que fica prejudicado com tamanha lentidão”, diz.

2009 2010 2011

134 134 138

Fonte: conab

2010 2011 2012

7,48,5

9,4

Fonte: Sindag

vendASMercado interno (US$ bilhões)

volumeCapacidade estática de armazenamento(milhões de toneladas)

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54 Globo RuRal | janeiro 2013

tendências

2013Fertilizantes

Mais independênciaSetor cresce e quer reduzir suas compras no mercado externo

para o segmento de fertilizantes, o ano de 2013 será muito pa-recido com o de 2012, quando as vendas

cresceram 5% no mercado interno, alcançando 29,7 milhões de tonela-das. “a tendência é que o agricultor se mantenha capitalizado, uma vez que os preços devem permanecer estáveis e a demanda por commo-dities continuará aquecida”, diz car-los eduardo Florence, diretor exe-cutivo da associação dos Mistura-

3% e 5% em 2013. a movimentação de fertilizantes alcançou patamar recorde em 2012. “Houve aumen-to de consumo em todas as regi-ões brasileiras, mas principalmen-te nos estados do centro-Oeste e nordeste. esses aumentos são pu-xados pelas lavouras de grãos e pela cana-de-açúcar”, diz andré pessôa, diretor da agroconsult. a colheita de uma safra recorde de grãos no período 2012/2013 e a recupera-ção da produção de cana-de-açú-car ajudarão a manter a demanda por fertilizantes aquecida no mer-cado interno.

a região conhecida como Mato-piba, que inclui os estados do Mara-nhão, Tocantins, piauí e Bahia, regis-tra desempenho agrícola acima da média. segundo cálculos da asso-ciação nacional para a difusão de adubos (anda), esses estados ti-veram, no período de 1989 a 2011, um crescimento geométrico médio anual superior a dois dígitos no con-sumo de fertilizantes.

O mercado inter-no aquecido colocou o Brasil no posto de quarto maior mercado consumidor mundial de fertilizantes, embora essa posição represen-te apenas 6% do con-sumo mundial do insu-mo. china (33%), Índia (17%) e estados Uni-dos (12%) juntos con-somem 62% de todo o fertilizante mundial.

China33%

Fonte: anda

dores de adubo do Brasil (ama). O grande problema do setor, segun-do ele, é a logística. “no pico da sa-fra, há atrasos de até 60 dias para descarregar um caminhão. isso é muito complicado. no ano passa-do, muitas pessoas armazenaram o milho no campo, sem infraestru-tura adequada”, comenta.

além da projeção de uma boa sa-fra no Brasil, a produção de inverno (safrinha) também deve correr bem, o que deve garantir ao segmento de fertilizantes um crescimento entre

fique de olho

novos projetos

vão elevar produção nacional

outros 32%

Brasil6%

euA12%

Índia17%

MercadOParticipação dos principais países consumidores

janeiro 2013 | Globo RuRal 55

Máquinas

indúsTria BUsca cOMpeTiTividadeCâmbio e custo Brasil dificultam a concorrência com produtos importados

segundo projeções iniciais da asso-ciação nacional dos Fabricantes de veículos automotores (anfavea), as vendas de máquinas agrícolas no atacado nacional devem encer-

rar 2012 em mais de 68 mil unidades, alta de 5% em relação a 2011. O destaque do ano ficará pa-ra o segmento de colheitadeiras, cujas vendas devem registrar alta de 13%. “dois terços das vendas de colheitadeiras acontecem entre de-zembro e março, e essa é uma decisão que não dá para ser adiada por conta da colheita. por isso, o aumento desse segmento será acima daquele da indústria”, diz Milton rego, vice-presidente da anfavea. Já as exportações podem cair até 12%, por conta da retração do mercado argentino, comprador que responde por 50% das vendas externas do país. para 2013, a tendência é que o mercado se mantenha aquecido, uma vez que a perspectiva é de um ano bom para as commodities agrícolas. “O único setor que havia desaquecido era o da cana-de-açúcar, mas ele já voltou a crescer”, diz rego. a estimativa é vender cerca de 72 mil unidades, com crescimento entre 4% e 5% em comparação a 2012.

para celso casale, da associação Brasileira de Máquinas e equipamen-tos (abimaq), o desempenho do setor em 2012 foi muito bom porque o produtor, que estava com renda boa, quis reduzir custos e investiu em equipamentos para aumentar a produtividade das lavouras. ele destaca o programa Mais alimentos como uma importante linha de financiamento que contribuiu para o desempenho positivo em 2012, que deve se situar entre 10% e 13%. para 2013, espera-se crescimento de 10% para o setor. Máquinas e implementos para o plantio são os grandes destaques do segmento, bem como implementos de preparo de solo. as exportações não acompanharam esse movimento nos últimos anos, devido à redução da competitividade do Brasil no mercado mundial. “O câmbio e o custo Brasil – o aço, por exemplo, é mais caro que na europa e nos estados Unidos – são os fatores que mais compro-metem nossa competitividade”, diz casale. “com isso, as importações são crescentes.”

Fonte: anfavea

com um volume de importação que equivale a 75% do que conso-me, o Brasil se esforça para reduzir a dependência das compras exter-nas. para isso, as empresas ligadas à produção de nutrientes para ferti-lizantes planejam investir Us$ 18,9 bilhões até 2017. somente a vale Fertilizantes – empresa que ven-ceu o prêmio Melhores do agro-negócio da Globo rural na ca-tegoria – planeja investir Us$ 8,8 bilhões até 2017 para ampliar sua produção para 30 milhões de to-neladas por ano.

somados, os novos projetos de-verão elevar a produção nacional de nitrogênio, potássio e fósforo dos atuais 3,427 milhões de toneladas para 9,353 milhões de toneladas ao ano em 2017. no mesmo período, a demanda interna por nutrientes passará de 12,19 milhões para 14,73 milhões de toneladas. Hoje, a rela-ção entre demanda e produção é de 28,1%. com os novos investimentos, o Brasil passará a produzir 63,5% da demanda interna.

Há também perspectivas de au-mento na produção de fertilizantes agrominerais. a empresa Geociclo, da área de biotecnologia, iniciou em setembro a produção em larga es-cala do fertilizante organomineral (composto por fertilizantes mine-rais e orgânicos) Geofert. a planta industrial, localizada em Uberlândia (MG), recebeu investimentos totais de r$ 25 milhões. O Geofert será produzido a partir dos resíduos da criação de aves, como o esterco in natura ou a cama de aviários e a torta de filtro, um subproduto da produção de etanol. “estamos oferecendo uma solução alternati-va e eficiente para o setor e nossa expectativa é responder por 3,5% do mercado nacional até 2020”, afirma ernani Judice, presidente da Geociclo.

2010 2011 2012*

19,2 18,316,1

fique de olho

previsão da anfavea é

vender 72 mil unidades em

2013

expOrTações(mil unidades)

© s

HU

TTer

sTO

cK

56 Globo RuRal | janeiro 2013

tendências

2013

seMentes

anO prOMissOrBom desempenho das culturas de soja, milho e trigo deve sustentar crescimento do setor, que também aposta no feijão

depois de fechar o ano de 2012 com cresci-mento de 8% em relação a 2011, o setor de sementes estima um período igualmente promissor em 2013. “registramos grandes

avanços em 2012, como o aumento de 2 milhões de hectares no plantio de semente de soja certificada”, diz narciso Barison neto, presidente da associação Brasileira de sementes e Mudas (abrasem).

com a renda do agricultor em bons patamares, o setor de sementes no Brasil cresce tão rapidamente quanto o agronegócio e deve se manter aquecido nos próximos anos. “semente não é apenas um insumo, é um ativo com importância crescente no agrone-gócio brasileiro”, diz neto. segundo ele, conforme aumenta a renda do produtor, cresce a procura por materiais certificados, que são mais seguros para a atividade agrícola.

em 2012, as vendas de sementes certificadas atin-giram 72% do plantio de soja do país, o que equivale a 27 milhões de hectares. Já no caso do milho, alcançaram 90% do plantio, enquanto no trigo somaram 70%. para 2013, um dos objetivos do setor é elevar o percentual

tendências

2013

de sementes certificadas de soja e de feijão. “a soja tem um expressivo potencial a ser explorado, o que não acontece, por exemplo, com o trigo, cuja produção é estável ou cai. Já o feijão, cuja área de sementes certi-ficadas é de apenas 13% do total cultivado no país, pode crescer muito”, diz neto. as culturas que mais usam sementes certificadas no Brasil – trigo, milho e soja – estão com sinalização positiva de preços no mercado internacional, o que deve favorecer os investimentos por parte do produtor em tecnologias mais seguras.

O fortalecimento econômico do mercado interno movimentou também as culturas de frutas, legumes e hortaliças numa velocidade nunca antes vista no país. a syngenta seeds, uma das empresas que atu-am no segmento, vencedora do prêmio Melhores do agronegócio da Globo rural na categoria frutas e sementes, fez vultosos investimentos tanto em infra-estrutura como em tecnologia em 2012. as aplicações visam acompanhar a expansão tanto do segmento de sementes de milho e soja como das culturas de toma-te, milho doce, melão, melancia, repolho, couve-flor, brócolis e pimentão.

Plantadeira sendo abastecida para o cultivo de verão

Fonte: abrasem

Soja Milho Trigo

27

15

2,3

fique de olho

Área de semente

certificada de feijão deve

crescer este ano

Área planTada(milhões de hectares com semente certificada)

janeiro 2013 | Globo RuRal 57

Produtos Veterinários/ração

revisãO esTraTéGicaSetor, que cresceu menos que o projetado em 2012, tem metas modestas para este ano

Osegmento de produtos veterinários cresceu menos que o estimado pelas indústrias para

2012. a alta dos preços dos grãos, que pressionou os custos da pecu-ária, avicultura e suinocultura, im-pactou negativamente sobre o co-mércio de produtos veterinários e a estimativa de aumento de 10% para o ano não foi concretizada, tendo o setor registrado crescimento de apenas 3% ao final do período. no segmento de ruminantes – que responde por 60% das vendas –, as perdas foram ainda maiores e hou-ve queda de 2% em relação a 2011. apesar disso, a Msd animal Health conseguiu crescimento de 20% no mercado de aves e de 14% no seg-mento de suínos. “acreditamos que, como nossos produtos colaboram para o aumento da produtividade e melhoria da sanidade, o produ-tor fez um esforço para mantê-los, apesar da alta de custos”, diz vil-son antonio dos santos, líder global de operações comerciais da Merck animal Health/ Msd animal Health. no segmento de ruminantes, que responde por 56% das vendas da companhia, o crescimento foi de

2%. “além da alta dos preços dos grãos, a seca registrada no rio Grande do sul e depois

fique de olho

pressão sobre os

custos deve continuar

Preço dos grãos reduziu o desempenho do setor de rações

ta, acredito que podemos crescer 3%”, diz Zani. segundo ele, este ainda será um ano de dificuldades na europa, de recessão nos eUa e de incertezas no Oriente Médio. “além disso, no fim do ano pas-sado a agência de proteção am-biental dos estados Unidos man-teve o mandato para o etanol, que consumiu 40% da safra americana de milho em 2011/2012. isso deve manter a pressão sobre as cota-ções do grão, importante insumo para a ração animal”, avalia.

a alta dos custos de produção da ração deve persistir em 2013, uma vez que os estoques de soja estão nos mais baixos níveis da história, os preços do farelo vão continuar altos e o índice de preços de alimen-tos continuará subindo.

no centro-Oeste e no nordeste prejudicou muito a pecuária, que reduziu o confinamento”, comenta santos. para 2013, as perspectivas são mais modestas e o crescimen-to do mercado não deve ultrapas-sar 5%. “Há uma grande expectati-va de melhoria das exportações de carnes com a abertura do mercado russo e da maior demanda da chi-na, mas ainda assim sabemos que a pressão sobre os custos vai con-tinuar”, avalia santos, que acredita que o ano será uma grande opor-tunidade para que o pecuarista amplie a adoção de tecnologia em suas propriedades.

Já para o setor de ração, o ano de 2012 ficou aquém das expec-tativas do sindicato nacional da indústria de alimentação animal (sindirações). “Houve esfriamen-to na demanda em função da con-juntura de instabilidade na europa e no Oriente Médio”, diz arioval-do Zani, vice-presidente do sin-dirações. com isso, a previsão de crescimento de 3% para o setor em 2012 deve ser revertida em queda de 2,5%. a forte alta dos preços do milho comprometeu em especial as compras do maior cliente do setor: a avicultura de corte, que respon-de por 48% das vendas no Brasil. em um cenário de precaução para a avicultura de corte e de pressão sobre os preços do milho no mer-cado externo, é difícil apontar pro-jeções para 2013. “sendo otimis-

Fonte: sindirações

Suíno23%

Gado leiteiro8%

Poedeiras7%

frango48%

Cães e gatos3%

Aquáticos1%

Gado de corte4%

outros5%

cOnsUMOPor segmento de rações

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58 Globo RuRal | janeiro 2013

tendências

2013

terras

preçOs elevadOsBoas perspectivas para as commodities aquecem o comércio

Os bons preços pagos às commodities agrícolas impac-tam diretamente na valorização das terras brasileiras. até mais que o recomendado. “Os preços da soja su-biram tanto em 2012 que criaram uma valorização irre-al sobre as áreas produtoras”, diz alex lopes da silva, analista do mercado de terras da scot consultoria. e es-

sa valorização não se estende apenas às regiões de grãos. no centro-sul do Brasil, a valorização é também cada vez maior nas áreas de cana-de-açúcar, o que tem encarecido o valor do hectare útil na região.

Mas a grande pressão em 2012 se deu sobre as novas fronteiras agrí-colas, que estão sendo abertas nos estados do Maranhão, Tocantins, piauí e Bahia, região conhecida como Matopiba. “as fronteiras de Mato Grosso e Mato Grosso do sul já estão consolidadas. agora, o maior interesse tem sido por terras nessas novas fronteiras, que estão registrando constan-te aumento de rebanho de bovinos, de plantio agrícola e também da pre-sença de agroindústrias”, diz silva. Os bons preços devem se manter tam-

bém em 2013. “O cenário para este ano é positivo, uma vez que o mercado de commodities agrícolas vai permanecer aquecido, o que é um requisito bá-sico para o bom desempenho do segmento de ter-ras”, diz. além disso, a crise na europa, que também está atingindo os produtores agrícolas, e o menor crescimento previsto para a china devem aumen-

tar a pressão sobre o agronegócio brasileiro, informa o analista.

dois problemas que poderiam ter sido resolvidos em 2012 ainda estarão na pauta do setor este ano: a proibição da venda de terras para estrangeiros e o código Florestal. “O código foi aprovado, mas ainda não foi assimilado. é neste ano que os novos negócios com o comércio de terras vão levar em con-ta as novas regras”, diz. Já a venda de terras para es-trangeiros continua proibi-da sob o argumento de que o agronegócio é estratégi-co para o país, mas o se-tor espera mudanças pa-ra 2013. “Há negociações com o governo federal, que deve flexibilizar o comércio este ano”, diz silva.

Fonte: scot consultoria

Terras próprias para exploração agrícola tiveram valorização irreal

Tocantins (araguaína)

5.200

Piauí (sul do estado)

3.800

Bahia (oeste do estado)

6.300

Maranhão (oeste do estado)

2.900

preçO (R$/hectare - novembro de 2012)

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