s u m Á r i o ficha técnica - ordem dos médicos · todos nós por certo estamos solidários com...

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S U M Á R I O Ficha Técnica Ano 22 – N.º 64 – Janeiro 2006 PROPRIEDADE: Centro Editor Livreiro da Ordem dos Médicos, Sociedade Unipessoal, Lda. SEDE: Av. Almirante Gago Coutinho, 151 1749-084 Lisboa Tel.: 218 427 100 Redacção, Produção e Serviços de Publicidade: Av. Almirante Reis, 242 - 2.º Esq.º 1000-057 LISBOA E-mail: [email protected] Tel.: 218 437 750 – Fax: 218 437 751 Director: Pedro Nunes Directores-Adjuntos: José Moreira da Silva José Manuel Silva Isabel Caixeiro Directora Executiva: Paula Fortunato Redactores Principais: Miguel Guimarães, José Ávila Costa, João de Deus e Paula Fortunato Secretariado: Miguel Reis Dep. Comercial: Helena Pereira Dep. Financeiro: Maria João Pacheco Dep. Gráfico: CELOM Impressão: SOGAPAL, Sociedade Gráfica da Paiã, S.A. Av.ª dos Cavaleiros 35-35A – Carnaxide Inscrição no ICS: 108374 Depósito Legal: 7421/85 Preço Avulso: 1,6 Euros Periodicidade: Mensal Tiragem: 32.000 exemplares (11 números anuais) Ficha Técnica Médicos REVISTA Ordem dos Nota da redacção: Os artigos de opinião e outros artigos assinados são da inteira responsabilidade dos autores, não representando qualquer tomada de posição por parte da Revista da Ordem dos Médicos. 4 EDIT EDIT EDIT EDIT EDITORIAL ORIAL ORIAL ORIAL ORIAL 6 EDIT EDIT EDIT EDIT EDITORIAL ORIAL ORIAL ORIAL ORIAL Na Ordem do Dia 10 INFORMAÇÃO INFORMAÇÃO INFORMAÇÃO INFORMAÇÃO INFORMAÇÃO Procriação medicamente assistida 14 Eleições para a secção da sub-especialidade de Medicina Intensiva 16 DISCIPLINA DISCIPLINA DISCIPLINA DISCIPLINA DISCIPLINA Pena de censura 18 ACTU CTU CTU CTU CTUALID ALID ALID ALID ALIDADE ADE ADE ADE ADE Pedro Nunes de visita ao distrito de Bragança 37 Medicina Interna - Existimos e Seremos por João Sá 38 OPINIÃO OPINIÃO OPINIÃO OPINIÃO OPINIÃO Competências em Medicina Interna ou competências na Medicina Interna por Luis Cunha Miranda 40 “Aspectos Éticos na Prática Médica - visão sintética” por Manuel Mendes Silva 48 HISTÓRIAS D HISTÓRIAS D HISTÓRIAS D HISTÓRIAS D HISTÓRIAS DA HISTÓRIA A HISTÓRIA A HISTÓRIA A HISTÓRIA A HISTÓRIA A oferta em busca da procura - acto médico condicionado por H. Carmona da Mota 50 CONT CONT CONT CONT CONTOS OS OS OS OS ... O Castela! por Raul de Amaral-Marques 52 CONSUL CONSUL CONSUL CONSUL CONSULTÓRIO TÓRIO TÓRIO TÓRIO TÓRIO JÚRIDICO JÚRIDICO JÚRIDICO JÚRIDICO JÚRIDICO Direito à informação de saúde - Comunicação de informações entre colegas 54 CONSUL CONSUL CONSUL CONSUL CONSULTADORIA FISCAL ADORIA FISCAL ADORIA FISCAL ADORIA FISCAL ADORIA FISCAL Entrega da declaração de IRS 56 LEGISLAÇÃO LEGISLAÇÃO LEGISLAÇÃO LEGISLAÇÃO LEGISLAÇÃO Resumo da Legislação publicada em Novembro e Dezembro 58 AGEND GEND GEND GEND GENDA

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S U M Á R I OFicha Técnica

Ano 22 – N.º 64 – Janeiro 2006

PROPRIEDADE:

Centro Editor Livreiro da Ordemdos Médicos, Sociedade Unipessoal, Lda.

SEDE: Av. Almirante Gago Coutinho, 1511749-084 Lisboa • Tel.: 218 427 100

Redacção, Produçãoe Serviços de Publicidade:

Av. Almirante Reis, 242 - 2.º Esq.º1000-057 LISBOA

E-mail: [email protected].: 218 437 750 – Fax: 218 437 751

Director:Pedro Nunes

Directores-Adjuntos:José Moreira da Silva

José Manuel SilvaIsabel Caixeiro

Directora Executiva:Paula Fortunato

Redactores Principais:Miguel Guimarães, José Ávila Costa,

João de Deus e Paula Fortunato

Secretariado:Miguel Reis

Dep. Comercial:Helena Pereira

Dep. Financeiro:Maria João Pacheco

Dep. Gráfico:CELOM

Impressão: SOGAPAL, Sociedade Gráfica da Paiã, S. A.Av.ª dos Cavaleiros 35-35A – Carnaxide

Inscrição no ICS: 108374Depósito Legal: 7421/85Preço Avulso: 1,6 EurosPeriodicidade: Mensal

Tiragem: 32.000 exemplares(11 números anuais)

Ficha Técnica

MédicosREV

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Ordem dos

Nota da redacção: Os artigos de opinião e outros artigos assinados são dainteira responsabilidade dos autores, não representando qualquer tomada deposição por parte da Revista da Ordem dos Médicos.

4 EDITEDITEDITEDITEDITORIALORIALORIALORIALORIAL

6 EDITEDITEDITEDITEDITORIALORIALORIALORIALORIAL

Na Ordem do Dia

10 INFORMAÇÃOINFORMAÇÃOINFORMAÇÃOINFORMAÇÃOINFORMAÇÃO

Procriação medicamenteassistida

14 Eleições para a secção dasub-especialidade deMedicina Intensiva

16 DISCIPLINADISCIPLINADISCIPLINADISCIPLINADISCIPLINA

Pena de censura

18 AAAAACTUCTUCTUCTUCTUALIDALIDALIDALIDALIDADEADEADEADEADE

Pedro Nunes de visita aodistrito de Bragança

37 Medicina Interna -Existimos e Seremospor João Sá

38 OPINIÃOOPINIÃOOPINIÃOOPINIÃOOPINIÃO

Competências em MedicinaInterna ou competênciasna Medicina Internapor Luis Cunha Miranda

40 “Aspectos Éticos naPrática Médica- visão sintética”por Manuel Mendes Silva

48 HISTÓRIAS DHISTÓRIAS DHISTÓRIAS DHISTÓRIAS DHISTÓRIAS DA HISTÓRIAA HISTÓRIAA HISTÓRIAA HISTÓRIAA HISTÓRIA

A oferta em busca daprocura - acto médicocondicionadopor H. Carmona da Mota

50 CONTCONTCONTCONTCONTOSOSOSOSOS

... O Castela!por Raul de Amaral-Marques

52 CONSULCONSULCONSULCONSULCONSULTÓRIOTÓRIOTÓRIOTÓRIOTÓRIOJÚRIDICOJÚRIDICOJÚRIDICOJÚRIDICOJÚRIDICO

Direito à informação desaúde - Comunicação deinformações entre colegas

54 CONSULCONSULCONSULCONSULCONSULTTTTTADORIA FISCALADORIA FISCALADORIA FISCALADORIA FISCALADORIA FISCAL

Entrega da declaração deIRS

56 LEGISLAÇÃOLEGISLAÇÃOLEGISLAÇÃOLEGISLAÇÃOLEGISLAÇÃO

Resumo da Legislaçãopublicada em Novembro eDezembro

58 AAAAAGENDGENDGENDGENDGENDAAAAA

4 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Janeiro 2006

E D I T O R I A L

Janeiro

E stranho este Janeiro. Mês pacato por excelência, os portugueses circulam nas ruas em rescaldo de

compras, usando os transportes públicos e sem pressões de maior nos consultórios de oftalmologia.

Este ano, mais de Ordem que de clínica, foi um estranho mês entre a elevação da ética e o terra a terra

da política politiqueira.

Na dimensão da ética os Juramentos de Hipócrates nas três Secções Regionais com a chamada à

realidade de tantos jovens. Saudade de ser assim tão jovem, de acreditar ainda tanto, de ter a certeza de

conseguir mudar o Mundo.

Nas alturas da Ética agora já um pouco poluídas pelos pragmatismos reais ou imaginários da política, a

discussão dos decretos da Procriação Medicamente Assistida.

O trabalho estritamente da Ética Médica que a Ordem apresentou na audição parlamentar para a qual

foi convidada está na integra neste número da ROM.

Penso ser importante lê-lo na totalidade. Só a totalidade permite perceber a nossa posição, facilmente

consensualizada por todos os elementos do CNE.

Como todos os textos poderá ser visto só de um ângulo, como aquela célebre garrafa de whisky para

uns meio cheia para outros meio vazia.

Penso ser um texto claro, em que os consensos se obtiveram pela razão e pelo fio condutor do

pensamento. Toma posição, não se esconde, mas, na essência, lança o repto.

Pela nossa parte estamos disponíveis. Disponíveis para o debate exigente mas não para resolver problemas

difíceis passando por cima dos princípios, nem para exercícios do utilitarismo pragmático que começa

a ser sufocante neste início do Séc. XXI.

Também uma viagem a Luanda para participar no II Congresso dos Médicos de Angola e aprovar os

estatutos da Comunidade Médica de Língua Portuguesa. Está aberto o caminho irreversível da procura

da formação em português e da manutenção dos laços do conhecimento e da cultura.

Para a nova geração de portugueses, desesperadamente virados para a Europa fria e competitiva, uma

chamada das latitudes mais quentes e mais difíceis onde desde sempre soubemos fazer amizades.

No próximo número falaremos mais demoradamente destes factos.

Por fim, acertos sobre o Regulamento do Internato, concluído e à espera da assinatura de quem de

direito e um afloramento sobre a Entidade Reguladora da Saúde.

Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Janeiro 2006 5

Pedro NunesE D I T O R I A L

A Ordem recomenda que os médicos não se inscrevam até ao dia

limite do prazo, dado que iremos tentar esclarecer alguns aspectos

de duvidosa constitucionalidade.

Com efeito, de acordo com o artº 8º do decreto-lei nº 309/2003, de

10 de Dezembro que cria a supra dita Entidade, esta não intervem

em matérias da competência das Ordens profissionais.

Ora são precisamente da competência da Ordem dos Médicos o

registo dos profissionais a manutenção actual desse registo

(quotização) e a verificação da qualidade técnica e ética da prática

médica e da formação que a condiciona.

A obrigatoriedade do registo na Entidade Reguladora da Saúde é

uma duplicação funcional que não se aceita, um ónus inconstitucional

que cai sobre os médicos.

A opinião que tenho sobre a mencionada entidade e as funções que

pretende desempenhar desenvolvi-as minuciosamente num dos

textos para T.S.F. Poderei a ele voltar quando adequado.

O respeito que me merecem as pessoas que dirigiram e actualmente

dirigem a ERS, nomeadamente os nossos colegas Rui Nunes e Eurico

Castro Alves, ou o economista de mérito Álvaro Almeida, não me

impedem de avaliar a Entidade como entendo que ela se apresenta

no contexto organizativo do País.

Também não sou sensível ao argumento de que a sugestão para

taxar todos os médicos partiu de um conselheiro que já teve

particulares responsabilidades na Ordem. A Ordem actual rejeita

por unanimidade tais “oportunidades” e entende que os médicos

não necessitam deste novo actor no Teatro da Saúde.

É tempo de nos deixarmos de originalidades, ouvir quem de facto foi

eleito para falar em nome dos médicos e trabalhar para o bem comum...

6 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Janeiro 2006

E D I T O R I A LNa Ordem do Dia

TSF 11Acabada que está a época das rabanadas, aberto e bebido que foi oespumante francês ou de Cantanhede, a comunidade lusa prepara-separa, de novo, enfrentar a crise.

Com os um e meio por cento que a função pública terá para gover-no e o sempre presente déficit, melhor será concentrarmo-nos namedição da glicémia que isso do colesterol só nos trará depressões.

Em matéria de Saúde a época não foi de presentes e o que se ouviufalar na alvorada do Natal é de molde a deixar sindicatos à beira deum ataque de nervos.

Não nos competindo entrar por essas esferas, nem advogar se al-guém quer pôr manteiga dos dois lados da torrada, resta-nos formu-lar votos pios e manter a atenção.

Dois mil e seis nasce, para o politicamente correcto, auspicioso.

Encerrado que será muito em breve o ciclo eleitoral, aparentementesem surpresas de maior, entramos num período sem eleições o queno dizer da maioria dos comentadores é sinónimo de estabilidade etomada de decisões difíceis.

Não nego que a democracia mediática em que vivemos apela aoimediato e popular, subordinando o lógico e correcto à contabilida-de enviesada do que dá votos.

Confio mais do que isso no saber colectivo e acredito sem ingenui-dade que explicar com verdade os factos aos eleitores traz, a médioou longo prazo, importantes benifícios a quem o faz não havendoque temer os populismos fáceis.

Ter medo do populismo é, verdadeiramente, não acreditar na demo-cracia e não acreditar na democracia abre a porta a todas as desgra-ças. É dos livros que as ditaduras, sejam elas políticas sejam as do diaa dia empresarial, são muito produtivas e fáceis a curto prazo, mastransportam em si os genes da sua inexorável destruição.

No momento em que entramos no tal período de estabilidade polí-tica que nos poderá assegurar a competitividade e o bem estar eco-nómico, o único desejo que me ocorre neste começar de ano, é quequem detem o poder tenha o discernimento para compreender osseus limites.

No campo tão sensível da Saúde, o mesmo é dizer, ter o discernimentode acreditar na boa intenção dos profissionais. Médicos, enfermeirose técnicos de há muito deram provas, com algumas e inevitáveisexcepções, de procurarem o bem comum.

Tratá-los como lobbies a abater, para além da instabilidade social queacarreta, é uma profunda perda de tempo e prova de incompreensí-vel falta de confiança em si próprio por parte de quem governa.

No ano que agora começa, impenitente optimista que sou, acredito queas reformas há longo tempo aguardadas vão, por fim, ser postas emprática. Com o envolvimento de todos, sem acusações e desculpas demau pagador que só servem para despertar corporativismos tontos.

É que a verdade inelutável é que corporativismos arcaicos são tenta-

ções que tanto afligem os profissionais como os políticos e os jorna-listas e, instabilidade por instabilidade, por vezes mais vale a políticae mediática que a social...

TSF 12

Um colega com quem em tempos trabalhei usava com frequênciaprovérbios e asserções populares para explicar factos do quotidia-no.

Quando a má língua levava a conversa para algumas ascensões eco-nómicas mais rápidas logo ele citava:...“Onde há um bebedouro há sempre um passarinho” ou de formamais simples “...onde há dinheiro, há sempre alguém a roubar”.

Lembrei-me dele esta semana quando, como muitos portugueses,assisti ao espectáculo da indignação ministerial ao exprimir solidarie-dade para com um Director de Hospital que estará a ser vítima deameaças anónimas.

Não está em causa a forma escolhida pelo Sr. Ministro para exprimirsolidariedade, a forma é uma questão de estilo e cada um tem o seu.

Não está, também, em causa a solidariedade propriamente dita poistodos nós por certo estamos solidários com alguém que vê a si e àsua família ameaçado na integridade física por via do cargo que ocu-pa.

O que me pareceu motivo de reflexão foi ninguém, para lá da indig-nação e das ameaças mais ou menos inconsequentes de retaliação,se ter preocupado em analisar e propor medidas eficazes de contro-lo das causas do sucedido. Isto no mesmo dia em que um diárioafirmava ter a criminalidade violenta aumentado trinta por cento noúltimo ano.

Não sei se o caso em concreto é uma tentativa de coacção porparte de um gang organizado habitante do sobredito hospital, semeramente a manifestação potencialmente perigosa de um doentemental perturbado por qualquer dano real ou imaginário.

Confesso, no entanto, que não me causou assim tamanha estupefac-ção.

É sabido que se alguém começa a agitar pântanos de águas turvas searrisca a perturbar o banquete dos jacarés e estes, quando incomo-dados, tentam morder.

A gestão cuidada da coisa pública deve ser prejudicial a muito boagente, ou não haja por aí tantos belos carros conduzidos por gentecujos ordenados não chegam nem para a gasolina. Gestor que tentepôr ordem numa casa de certeza se candidata a dissabores, é doslivros e não tem grande volta a dar...

Também é certo que a democratização do poder nas sociedadesmodernas aproxima dirigentes e dirigidos nos mesmos espaços pú-blicos o que facilita a acção dos tontos e aumenta o risco dos que seexpõem e ousam tomar decisões.

Se provas ou exemplos fossem precisos bastaria recordar a mortetrágica de John Lennon, de Olof Palm ou mais recentemente da Mi-nistra Sueca dos Negócios Estrangeiros.

Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Janeiro 2006 7

Na Ordem do DiaE D I T O R I A L

Na verdade este tipo de casos é característico das democracias,porque só nas democracias os ministros vão ao supermercado ouos primeiro ministros a pé para casa depois do cinema.

Também só nas democracias os cidadãos têm liberdades e garantiasque condicionam as acções das polícias e as impedem de tomar me-didas fáceis de prevenção. É por esse motivo que nas democracias seexige um grande investimento na lei e na sua aplicação.

Se queremos viver em democracia é necessário mais que solidarie-dade, é necessário garantir leis simples, eficazes e susceptíveis deprovocar penas suficientemente pesadas para serem dissuasoras.

De igual modo viver em democracia pressupõe um sistema judicialde acção rápida e eficaz que garanta a todos os criminosos que, seapanhados, serão rapidamente julgados e garantidamente punidos.

Também se exigem polícias bem equipadas, respeitadas por to-dos e protegidas pelo Estado. Enquanto o criminoso sair da es-quadra antes do polícia que o prendeu ter tempo de escrever orelatório, não há cidadão que possa passear com tranquilidadena Avenida da Liberdade.

É que como também dizia com frequência o tal colega dado aosprovérbios:

“...verdadeiramente, o que guarda a vinha é o medo... não é o cão...”

TSF 13Hoje em dia não está definitivamente na moda tomar decisões. Quan-do estas são difíceis e exigem bom senso e sentido do risco,encomenda-se um estudo.

O estudo tem inegáveis vantagens. É modernaço, tem um ar deciência e um grupo de académicos a subscrevê-lo. É certo que,por norma, se um grupo conclui alguma coisa, logo outro con-clui o oposto. Tal situação não envergonha óbviamente ninguém,muito antes pelo contrário é a cabal demonstração da indepen-dência dos seus autores.

Um estudo controverso é, sem dúvida, mais útil que um que nãodesperte paixões. Assim como assim a controvérsia garante, à parti-da, que se a decisão se revelar errada tal se deve à dificuldade damatéria e à manifesta impossibilidade de prever o resultado.

Alguns, mais cínicos, dizem que os estudos têm a inegável vantagemde se basear na estatística e esta, como todos sabem é “a arte detorturar os números até que eles digam o que pretendemos”...

Há ainda outros que, definitivamente arredados da modernidade, afir-mam que os estudos se limitam a dizer o que quem os encomendaquer. Ou não conhecessemos todos os concursos com o famosoperfil, que na realidade mais não é que o retrato de corpo inteiro dequem vai ocupar o lugar.

No contexto sobredito não fiquei particularmente espantado quan-do um estudo sobre os hospitais SA encomendado pelo Ministérioda Saúde e apresentado esta semana, veio afirmar precisamente ocontrário de um outro, há pouco tempo divulgado por distinto de-partamento do mesmíssimo Ministério.

Já fiquei um pouco mais preocupado quando jornais diários,dos gerais aos económicos, interpretaram como evidênciado oposto as conclusões do estudo agora divulgado. Assimse para os homens da economia o estudo é lapidar e o que épreciso é liberalização e transformar tudo em SA, para ou-tros o estudo revela o descalabro desta forma de gestão.

Moderado e sensato que tento ser, li o estudo sem grandespaixões ou estados de alma e nele vi espelhado o que estavaà espera: - Algumas vantagens de organização e contabilidadee um aumento significativo das despesas de administração.Quanto aos aspectos clínicos, afinal os que importam, o es-tudo não traz nada de interessante, como não poderia deixarde ser já que não foi feito por médicos.

Houve, no entanto uma conclusão que me conseguiu irritar.Trata-se de um indicador positivo, divulgado como se da des-coberta da pólvora se tratasse. Segundo os autores os hos-pitais SA registariam menos óbitos que os outros. A minúciafoi ao ponto de quantificar a benesse...

Fiquei estarrecido. Um jornal diário da maior seriedade apres-sou-se a fazer contas e extrapolar que se todos os hospitaisfossem SA teriam morrido menos 2350 portugueses no anotransacto. Nem a operação das forças policiais no Natal eFim de Ano consegue ser tão benéfica para a Saúde.

O meu coração balanceou entre pedir a prisão de uns quantosresponsáveis por tal mortandade ou o mais elevado grau daTorre e Espada para o herói que salvou mais de dois milharessó por ter mudado de estatuto trinta hospitais.

Foi no cume da angústia e da incompreensão que a dúvidame assaltou. Será que houve menos mortes efectivamenteou tão simplesmente uma política sistemática de altas man-dou para casa ou para instituições de retaguarda os casosterminais?

É importante que se esclareça esta dúvida.

Por um lado porque todos um dia iremos morrer, ou estare-mos à beira de tal desfecho, e temos o direito de saber o quenos espera no hospital público – seja ele SA ou outra coisaqualquer.

Por outro lado porque andar a torcer estatísticas destanatureza é de mau gosto, revela falta de decoro e é des-necessário, mesmo que seja para defender uma ideia emque se acredita...

TSF 14Vinte e quatro horas passadas sobre as eleições presidenci-ais são elas a ordem do dia e não qualquer tema de saúde.Temas haveria mas que vou deixá-los para a semana.

Hoje à que não perturbar a reflexão política que a outroscabe, e simplesmente deixar uma nota ao presidente cessante,Dr. Jorge Sampaio: uma nota de agradecimento pelo lugarelevado com que sempre distinguiu os Médicos e a sua Or-dem pela forma atenta e empenhada com que seguiu os te-

8 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Janeiro 2006

E D I T O R I A LNa Ordem do Dia

mas da Saúde, pela frontalidade e lealdade com que sempre tomouposição mesmo quando essa posição não coincidia totalmente coma nossa.

Ao Presidente eleito cabe uma palavra de esperança na persecuçãoe no reforço de uma colaboração institucional que sabemos dever-lhe e que nunca negaremos.

A Ordem como associação pública e entidade reguladora da práticamédica é uma instituição de estatuto constitucionalmente consoli-dado a quem cabe em primeiro lugar defender o interesse dos por-tugueses.

É nessa lógica e nesse entendimento funcional que ontem viajei paraLuanda onde me encontro. Vim para participar no congresso dosMédicos de Angola e simultaneamente para consolidar a Comunida-de Médica de Língua Portuguesa criada há um ano.

A delegação portuguesa irá reunir-se com a delegação da Ordemdos Médicos de Angola, Moçambique e Cabo Verde e com o Conse-lho Federal e Associação Médicas do Brasil.

Há um empenhamento fortíssimo na manutenção das óptimas rela-ções pessoais e institucionais que permitem desenvolver a medicinaque fala português.

Para além do interesse de Estado e das relações preferenciais condi-cionadas pela geografia, há um sentimento de pertença a um grupoem que a língua nos vincula.

Manter a tradição do conhecimento mútuo e a cultura médica quenos une entra na Ordem do Dia não como um pequeno apontamen-to mas sim como um desígnio de fundo.

No dia em que os portugueses reflectem sobre o enquadramentoinstitucional que escolheram cabe-me em nome dos médicos falar do quenos une e do espaço alargado que construímos ao longo dos séculos.

Permitam-me que por uma semana esqueça os factos do dia-a-diaque habitualmente dão tema a esta crónica.

TSF 15Por entre a ressaca das presidenciaias a semana finda não foi fértil emtemas de Saúde.

Inaugurou-se o projecto de uma fábrica, o que veio lembrar, uma vezmais, que a Saúde pode não ser um custo mas uma importante área daeconomia, e a Entidade Reguladora da Saúde promoveu um wokshoppara tentar perceber para o que serve.

Falar da Entidade Reguladora da Saúde é sempre difícil. Tanto o seuanterior como o actual Presidente são pessoas aparentemente bemintencionadas, de curriculum sério e com vontade de bem fazer. Numpaís como o nosso a crítica torna-se quase sempre personalizada oque no caso tende a ser injusto.

Para lá das pessoas há, no entanto, as instituções que é o que conta.

Bem intencionadas ou não as pessoas podem dedicar a sua actividadea entidades inúteis ou perniciosas, o que sem tirar o mérito às pessoas

torna a empresa nefasta.

Com o passar do tempo mais me convenço que é este o caso.

As entidades reguladoras, ditas independentes, são típicas dos EstadosUnidos da América e só recentemente têm vindo a ganhar espaço nossistemas europeus. São típicas de sistemas em que os capitais preten-dem fluir livremente sem os constrangimentos que as realidades dapolítica e dos Governos sempre implicam.

Nasceram para impedir que o jogo do mercado fosse perturbado porciclos eleitorais ou crenças ideológicas. Na Comunidade Europeia têmservido para impor a lógica neoliberal, mesmo quando os governossão socialistas ou social-democráticos.

É ver o seu exemplo mais típico – as Autoridades da Concorrência –desregulamentarem as tabelas de preços e tentarem destruir os regu-ladores baseados na ética e na qualificação – as Ordens profissionais.

A Entidade Reguladora da Saúde é uma originalidade portuguesa, as-sim uma espécie de experiência piloto, que alguém vendeu como con-ceito no tempo de um Governo que descobria a pólvora todos osdias e tinha a assumida esperança de privatizar todo o sistema deSaúde.

O que se estranha é que agora que os hospitais voltaram à tutela doEstado na qualidade de empresas públicas directamente dependentesdo Ministro da Saúde, se insista na preservação de uma entidade queencontra o seu espaço parasitando funções alheias como sejam as dasOrdens ou, principalmente, as do Governo.

Acresce que em tempos de déficit esta entidade tem de seautosustentar o mesmo é dizer, tem de cobrar pesadas taxas a hospi-tais endividados e que mal têm dinheiro par cumprir a sua função detratar doentes.

Dificilmente se compreende que um hospital público, mesmo que em-presa, corte no número de médicos e enfermeiros para depois gastaro orçamento a alimentar uma entidade de contornos estranhos e queninguém sabe bem para o que serve, para além de empregar gestoresarmados em fiscais do que desconhecem.

Não nos parecendo que tal entidade tenha sido exigência de algumfundo de pensões americano desejoso de comprar em bolsa as ac-ções do Hospital de S. João, mais valeria simplesmente extingui-la comoum erro do passado do que promovê-la para depois procurar desco-brir a sua utilidade.

É que se foi criada para servir de bode espiatório das medidas difíceisa tomar é desnecessária, cara para o efeito e injusto para quem foichamado a liderá-la.

Se simplesmente traduz a incapacidade do Governo em exercer asfunções para que foi eleito, isto é, regular os diversos sectores do País,então a democracia tem mecanismos adequados para resolver estasdificuldades.

Se pelo contrário é mais uma das nossas poéticas originalidades, então ébom lembrar que estamos em crise e em vez de inventar a roda todosos dias melhor fora que cada um fizesse o trabalho que lhe compete...

10 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Janeiro 2006

I N F O R M A Ç Ã O

Passamos a transcrever a apresen-tação que foi efectuada por PedroNunes, bastonário da Ordem dosMédicos, à Assembleia da Repúbli-ca, sobre procriação medicamenteassistida.

«Cabe-me em nome da Ordem dos Mé-dicos agradecer o convite e desde já dis-ponibilizar a Ordem dos Médicos para oapoio e informação complementar queconsiderarem apropriado.A Conferência Parlamentar realizada nasemana transacta e para a qual igualmen-te fomos convidados facilitou a tarefa.Perante V. Exas. passaram cientistas deelevada craveira que de há muito se de-dicam a áreas conexas com a problemá-tica que discutimos. De igual forma ouvi-mos filósofos e eticistas de profunda re-flexão e pensamento substantivo sobreas questões morais e sociais que as no-vas tecnologias acarretam.Ouvimos através da sua Presidente a re-flexão que, em termos nacionais, cabe aoórgão em quem o Estado delega tal fun-ção – O Conselho Nacional de Ética paraas Ciências da Vida.Simplificada que está a tarefa, pois enten-do não caber à Ordem dos Médicos re-petir com diferente sonoridade aquilo queoutros com maior adequação e profun-didade expenderam, iremos unicamenteater-nos ao restrito universo da Éticaprópria dos Médicos e às consequênciasque a Deontologia dela resultante induzno comportamento destes.Antes, porém, e dado que à Ordem igual-mente comete dar parecer sobre o im-pacto das políticas públicas sobre a quali-dade da Medicina, dos cuidados que sãoprestados aos Portugueses e na forma-ção e desenvolvimento profissional dosmédicos, permitam-me algumas reflexõessobre estes aspectos.A PMA é hoje uma realidade em todosos países que possuam meios para fazerface aos seus custos. Numa perspectivaestritamente de solidariedade social e dealtruísmo poderá pôr-se em causa a des-

Procriação medicamente assistidapesa pública numa matéria que algunsconsideram ser unicamente o exercíciode um desejo que se tenta impor comoum direito.Por este angulo de abordagem faria maissentido o apoio à adopção de criançasabandonadas ou em risco, em si mesmoum problema social de difícil resolução,que as vultuosas verbas envolvidas navulgarização desta tecnologia.As opções nesta matéria são claramentepolíticas, isto é, de gestão da coisa públi-ca, cabendo à Ordem alertar para os cus-tos e, se solicitada, colaborar na suaparametrização e enquadramento técni-co. Cabe-nos, igualmente, dar testemu-nho que a infertilidade, em si mesmo umapatologia, pode ser causa de um significa-tivo sofrimento psicológico.Compreendendo os argumentos dequem ponha em dúvida, em tempo detanta carência e contenção nas despesasde Saúde, o investimento na garantia doque alguém chamou genoísmo, isto é, ego-ísmo genético, não podemos deixar dedefender alguma garantia pública de equi-dade de acesso a todos os portugueses.Como em muitas áreas da Medicina, oque falta e se recomenda, é o estabeleci-mento de mecanismo que torne claro eperceptível quais os apoios que para cadasituação, os Portugueses podem esperarter do seu Sistema e Serviço de Saúde.Ao abordarmos o tema no âmbito dosprojectos de Lei em discussão, privilegia-remos, como disse os aspectos particu-lares da Ética Médica, tanto mais que en-tendemos que as Leis desta natureza,porque enquadradoras, não visam res-ponder ao que exequível ou adequadoem cada momento em termos financei-ros. Tais aspectos deverão ser reguladosem sede de legislação específica para aqual identicamente colaboraremos sechamados.Um segundo aspecto que não pode dei-xar de ser abordado é o que atine à ínti-ma relação que a PMA possui com a in-vestigação em células estaminais embrio-nárias. Não defendendo, como verão, uma

postura utilitarista nestas matérias, nãopodemos de igual modo deixar de regis-tar a legítima expectativa que os cientis-tas portugueses acalentam de um ambi-ente legislativo favorável e compaginávelcom o que se passa nos países cujos es-paços sociais e culturais partilhamos.Permitam-me, agora que, de forma bre-ve, exponha como entendemos a dimen-são da Ética e o nosso compromisso paracom ela:Entendemo-la como patrimonial, isto é,como algo inerente à qualidade de Médi-co. A nossa Ética constitui-se, assim, comoelemento caracterizador ao nível a que oserá o gesto técnico ou a habilitaçãoacadémica necessária para o exercício.Tomada nestes termos, a Ética é, por suanatureza, universal, identificando compor-tamentos esperados de qualquer médi-co, qualquer que seja o local do planetaem que exerça ou a Sociedade em quese integre. Comportamentos comuns sãoassim expectáveis e mesmo desejáveispelo que sentimos ter o direito de serapoiados pelos Governos nestedesiderato, já que a previsibilidade é umbem maior quando se lida com situaçõescomplexas como são as da Saúde e daDoença.Ao longo de séculos de exercício de umaprofissão difícil, porque lidante com a ca-tástrofe, habituámo-nos como médicos aconfiar num quadro próprio de valores.Importa que se compreenda que a for-ma mais complexa de catástrofe é aquelaque é vivida solitariamente porque afec-tando o indivíduo na sua temporalidadee não o colectivo social. Habituámo-nosa ver o indivíduo e a considerá-lo comoobjecto primeiro dever e compromisso.Como quaisquer valores, os nossospodem ser assumidos como de um im-perativo categórico que se impõe aohomem com origem no transcenden-te ou de forma mais simples, mas nãomenos vinculativa, como algo que emliberdade se escolheu e se assume en-quanto parte de um grupo e nele sedefinindo e explicando.

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Como qualquer quadro de valores os daÉtica Médica hierarquizam-se numa arti-culação interdependente que dá utilida-de e compreensibilidade à sua existência.Reconhece-se assim que algum ou algunsdestes valores devam ter qualidade ab-soluta pois que são o referencial contrao qual todos os outros se medem.Não negamos enquanto médicos o de-bate ético que é suscitado nas Socieda-des pelo seu próprio devir, pela comple-xidade e novidade que os problemas le-vantados pela Ciência traduzem.Não negamos enquanto médicos que aMoral porque eminentemente grupal etemporalmente identificada possa variarde uma para outra Sociedade e ao longodo tempo dentro de uma mesma.Reconhecemos que a Lei, porque traduzo querer social, é a tradução dessa mes-ma moral pelo que necessariamente epor vezes conflituante com a nossa Éticao que poderá ser fonte de complexasrelações de aproximação e de necessida-de de compreensão de comportamen-tos adoptados e esperáveis.Entendemos que o contributo social queprestamos e nunca negamos, mesmo nasmais difíceis circunstâncias, deve mere-cer dos nossos concidadãos a reservade atenção necessária ao esforço decompreensão dos nossos comporta-mentos e atitudes desde já porque taiscomportamentos e atitudes resultam daexperiência de milénios na procura damelhor forma de lidar com a vida hu-mana e a sua fragilidade.O debate ético é, por outro lado, nãotanto o pôr em causa os nossos valoresmas sim o explicar quais as consequênci-as práticas da formatação provocada pe-los valores no uso das ferramentas que ainovação coloca ao nosso dispor.Para nós, não está nem poderá estar emcausa a Vida ou o seu primado mas comomelhor preservá-la,como melhorá-la oucomo engrandecê-la com os meios queneste momento, nesta Sociedade, depen-dendo da V. decisão, estão disponíveis.Introduzida que está o relacionamen-to e o contexto, necessário se mos-tra para compreensão do porquê dasrespostas que atempadamente se da-rão às questões colocadas explicar umpouco melhor os valores principal-

mente os subordinantes.Entendem os médicos como valor pri-meiro o Homem. Como se compreendeo caracter definidor de Homem é paraos médicos a existência de Vida. Se emtermos de dignidade se reconhece queesta se transporta para lá do terminusdaquela, o que motiva, por exemplo, aobrigação de segredo para além do mo-mento da morte, tal deve-se não tanto aum conceito transcendental daquela masà necessidade de assegurar a plenitudedo usufruto da Vida enquanto tal.É essa garantia de usufruto pleno que aomédico cabe lutar para que assegurada,que justifica a disponibilidade de meiosmas igualmente assegura a conformaçãocom a vontade do próprio quando esta éa de parar e deixar a Natureza seguir oseu curso.O médico situa-se assim no plano emque ao assegurar ao Homem que o co-loca no centro e lugar cimeiro da sua aten-ção, ao mesmo tempo lhe assegura que asua sacralidade se situa na concepção deSimone Weil quando afirma:-“existe no Homem qualquer coisa desagrado, mas não é a sua pessoa, não émesmo a Pessoa Humana. É ele, aquelehomem, tão simplesmente”...O compromisso Ético dos Médicos é pois,Senhores Deputados, em cada momen-to, para cada homem que o busca ou quea sociedade lhe entrega. O compromissoÉtico dos Médicos é para com a Vida epara com o seu direito a ser vivida porcada homem até ao limite das possibili-dades e sob sua autónoma decisão.É à luz destes compromissos que deve-rá der equacionada a problemática queaqui nos traz e as respostas às questõesque imaginamos subjazerem ao Vossoconvite.Ao pedirem-me que em nome da Or-dem dos Médicos vos exponha o pensa-mento sobre a Procriação MedicamenteAssistida, não deverão estranhar que nãovos trace um quadro opinativo que en-quanto cidadão possuo, nem mesmo vosdê uma panorâmica do que eventualmen-te será o quadro opinativo maioritáriodos médicos enquanto cidadãos.Tais conceitos deverão ser-vos irrelevan-tes na medida em que, representantes quesois da integralidade dos portugueses, vos

cabe em termos desse conjunto maiorde cidadanias optar. Nestes termos aopinião dos médicos não releva sobre ade qualquer outro grupo social.Foi a compreensão, entendimento e acei-tação desse facto que me levou à talvezum pouco por demais longa introdução.Acredito que facilitadora da percepçãodo porquê das respostas breves e sinté-ticas.Se bem compreendi buscam V. Exas. aresposta da Ética Médica para questõestais como:

Concorda a OM com a Procriação Me-dicamente Assistida?A resposta só poderá ser obviamente sim.Sim enquanto se tratar de um acto tera-pêutico de uma patologia que aqui tomao nome de infertilidade. Patologia que éfonte de sofrimento moral para pessoasque licitamente aspiram à possibilidadede se reproduzirem, convergirem afec-tos sobre descendentes e mesmo, emestritos termos biológicos, preservaremconfigurações próprias de ADN.

Concorda a OM com a fertilizaçãoheteróloga?Em termos éticos a proveniência dosgametas é indiferente. Sendo certa a ab-soluta oposição à comercialização do serhumano no todo ou em parte, pelo quetal abre de possibilidade deinstrumentalização perturbadora de umexercício ético da medicina baseado emrelações de confiança e transparência,nada pressupõe a oposição à dádiva be-névola. Tal debate é claramente da esferado social em termos de moral e nadatem a ver com ética na sua dimensão es-tritamente médica.

Concorda a OM com o acesso demães solteiras, viúvas ou divorcia-das à PMA?Como atrás ficou claro o compromis-so ético do médico é para com o serhumano individual descontextualizadoquando necessário da dimensão social.Se tal concepção é válida para a defesado indivíduo quando possa estar emcausa a defesa da Sociedade (veja-se oimpedimento ético de colaborar coma pena de morte mesmo quando legal)

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por maioria de razão se justificará pe-rante o desejo de um adulto responsá-vel dar origem a um novo ser. Cabe àanálise do bem social, isto é, à política enão à ética médica definir limites queserão, em última análise, apenas e só deâmbito social.É nesta matéria que o debate se inquinacom considerações de ordem financei-ra. Interrogo-me se não deverá ser porsimilitude avaliado em confronto com osprocedimentos em uso quando consi-derações de natureza religiosa (lembre-mos a oposição a terapêuticas transfu-sionais) igualmente impliquem custosacrescidos para o sistema.A questão da discriminação do novo sere o seu direito ao enquadramento emque nasce é uma questão do foro moralque entendemos enquanto Ética Médi-ca não nos pronunciar. Tanto mais quepara o fazer teríamos de utilizar a viado confronto entre titulares de direitosiguais e avaliação de danos psicológicose sua dimensão o que certamente con-duzirá a um nível decisional casuístico.

Como vê a OM o problema do nú-mero de embriões a fertilizar?Trata-se de um problema predominan-temente técnico. O objectivo óbvio é ode fertilizar tantos óvulos quantos osseres humanos que se pretende venhama existir. Da evolução da técnica e daponderação resultante da fiabilidade dosresultados perante a necessidade deevitar desnecessárias estimulaçõesováricas e colheitas se constituirá o de-bate em cada momento. É total a oposi-ção ética a que se produzam embriõesque não tenham o fim específico de se-rem implantados e darem origem a se-res humanos. Com a melhoriatecnológica é de acreditar que cada vezmenos seja necessária a produção deembriões supranumerários.Em qualquer caso deve ser assumido queo insucesso é uma variável a ponderar erepresentar perante a responsabilidadeque se assuma perante o embrião quefoi produzido.

Considera a OM aceitável a inves-tigação em embriões?A investigação em embriões, nomea-

damente quando tal revista a formade obtenção de células estaminais éseguramente um tema actual e de di-fícil resposta.Alguns autores contestam a utilidade detal investigação invocando a possibilida-de de obtenção de iguais resultados comcélulas provenientes de tecidos adultoscomo sejam as do sangue do cordãoumbilical. Não só não está provado queassim seja como é nosso entendimentoque não se resolvem problemas etica-mente difíceis pela via aparentementesimples de condicionar ou espartilhar aciência e o progresso.Preconiza-se tal investigação em embri-ões excedentários dos processos dePMA, por exemplo aqueles para os quaisnão exista projecto parental ou que pelodecurso de longo tempo de congelaçãojá não se reconheça viabilidade para im-plantação.Importa dizer desde logo que, em ter-mos de Ética Médica, tais conceitos sãode total irrelevância importando unica-mente a caracterização ou não comovida humana do embrião em causa.Sendo vida humana nenhum embrião éexcedentário já que nenhuma vida éexcedentária, inútil ou perniciosa e comotal dispensável. Ao opor-se determinadae totalmente à interrupção do curso davida humana já que o seu objectivo éprecisamente o oposto, a Ética Médicaopõe-se totalmente à instrumentalizaçãode embriões classificados comoexcedentários em processos de PMA.Igualmente a ausência de projectoparental não releva já que a vida humananão é passível de ser propriedade deoutrem, mesmo que putativos progeni-tores e se considera mesmo uma obriga-ção ética propor a perda do poder pa-ternal quando este não está a ser exerci-do para benefício do ser vivo a proteger.A investigação poderá ser lícita quandopara benefício do próprio. Como rara-mente tal tipo de investigação tem a vercom o interesse do embrião em causa,estamos perante uma investigação parabenefício da humanidade sem que paratal seja possível a obtenção do consen-timento livre e informado. Tal tipo deinvestigação, como acontece com os me-nores, não é permitida.

Pode-se, portanto, concluir que se consi-derarmos os embriões como vida huma-na, isto é, se considerarmos que a vidahumana se inicia no momento em que seprocessa a fusão nuclear e se constituiuma célula com potencial de evolução ecom um número diplóide de cromosso-mas então, em termos de Ética Médica ainvestigação sobre embriões é ilícita.No entanto, nada que não uma simplesconvenção humana situa o início da vidanesse preciso momento. À medida queo nosso conhecimento dos processosbiológicos vai aumentando mais comple-xos mas mais perfeitas vão sendo asnossas tomadas de decisão.Há uns anos, quando se entendia queo momento da morte correspondia,isto é, se diagnosticava, pela paragemcardíaca, em termos éticos o transplan-te era inviável como hoje o é a inves-tigação em embriões de seis ou dozecélulas. Quando se percebeu que amorte se podia diagnosticar mais cedo,pois ela efectivamente acontecia an-tes do momento em que a diagnosti-cávamos, passou a ser viável sem vio-lação ética tratar inúmeros doentes. Amorte é hoje reconhecidamente umprocesso e não um momento.Como momento pode identificar-seaquele em que ela se torna irrever-sível, porque não assumir a conse-quência de idêntico raciocínio parao começo da vida.A dignidade que se reconhece à vida hu-mana que findou proscreve a banalizaçãoou tratamento degradante do cadáver.Não impede, contudo, a recolha de ór-gãos para transplante ou investigação.Porque não idêntica postura perante umconjunto celular que se poderá vir aconstituir como uma Vida Humana.Para os médicos o valor da Vida é umvalor absoluto e o valor de referênciaem relação ao qual todos os outros sededuzem e todos os códigos dedeontologia se estabelecem. Não nosdeve ser pedido para o violarmos,menorizarmos ou relativizarmos.Pode-nos ser pedido, contudo, e tal estánas mãos de V. Exas., que sejamos maisprecisos e que demos o nosso contri-buto para o diagnóstico do momentoexacto em que Ela se inicia...»

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ELEIÇÕES PARA A SECÇÃO DASUB-ESPECIALIDADE DE MEDICINA

INTENSIVA29 DE MARÇO DE 2006

HORÁRIO: DAS 9H00 ÀS 20H00LOCAL: SECÇÕES REGIONAIS DA ORDEM DOS MÉDICOS

CALENDÁRIO ELEITORAL – 2006Janeiro 27 Os cadernos eleitorais estarão disponíveis para consulta em cada

Secção Regional.Fevereiro 2 Prazo limite para reclamação dos cadernos eleitoraisFevereiro 7 Prazo limite para decisão das reclamaçõesFevereiro 17 Prazo limite para formalização das candidaturasFevereiro 23 Prazo limite para apreciação da regularidade das candidaturasMarço 17 Prazo limite para envio dos boletins de voto e relação dos candida-

tosMarço 29 Constituição das Assembleias Eleitorais (Secções de Voto), acto elei-

toral e contagem dos votos a nível regional (A Mesa Eleitoral Naci-onal funciona na Secção Regional que detém a Presidência da Secçãoda Sub-especialidade).

Abril 3 Apuramento final dos resultados a nível nacional.Abril 10 Prazo limite para impugnação do acto eleitoral.Abril 17 Prazo limite para decisão de eventuais impugnações.

Foi revogado no Plenário dos Conselhos Regionaisda Ordem dos Médicos que se realizou no passadodia 18 de Janeiro de 2006 o Regulamento do Estágiode Qualificação Profissional. O Regulamento ora re-

Regulamento do Estágio de QualificaçãoProfissional – Revogação

vogado havia sido aprovado em plenário dos Con-selhos Regionais de 30 de Março de 2004 e encon-tra-se publicado na nossa edição de Abril dessemesmo ano.

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DESPACHO“A Presidente do Conselho Disci-plinar Regional do Norte da Ordemdos Médicos, ao abrigo do dispostono art.º 42° do Estatuto Disciplinardos Médicos , aprovado pe loDecreto-Lei n.º 217/94, de 20 deAgosto, faz saber que, por delibera-

Conselho Disciplinar Regional do Norte da Ordem dos Médicos

D I S C I P L I N A

Pena de censuraAo abrigo do disposto no art.º 42° do Estatuto Disciplinar dos Médicos, aprovado

pelo Decreto-Lei n.º 217/94, de 20 de Agosto, promove-se a publicação dos

seguintes despachos do Conselho Disciplinar Regional do Norte:

ção de 14 de Junho de 2005, transi-tada em julgado, do Conselho Dis-ciplinar Regional do Norte da Or-dem dos Médicos, proferida nosautos de processo disciplinar n.º 56/2003, em que é arguido o SenhorDr. FERNANDO MANUEL AZEVE-DO SEABRA, foi o mesmo conde-

nado na pena disciplinar de censu-ra, com a sanção acessória da publi-cidade da pena, por violação dosartºs. 1º, n.º 1, 2º, n.º 1, e 7° do Re-gulamento de Conduta nas Relaçõesentre Médicos.

Porto, 28 de Novembro de 2005

DESPACHO“A Presidente do Conselho Disciplinar Regional do Nor-te da Ordem dos Médicos, ao abrigo do disposto noart.º 42º do Estatuto Disciplinar dos Médicos, aprova-do pelo Decreto-Lei n.º 217/94, de 20 de Agosto, fazsaber que, por deliberação de 14 de Junho de 2005,transitada em julgado, do Conselho Disciplinar Regio-nal do Norte da Ordem dos Médicos, proferida nos

autos de processo disciplinar n.º 58/2002, em que éarguido o Senhor Dr. JOSÉ RAMON FERRERO GON-ZALEZ, foi o mesmo condenado na pena disciplinar decensura, com a sanção acessória da publicidade da pena,por violação dos art°s. 6º, n.º 1, 26° e 13º, al. d), doCódigo Deontológico.

Porto, 28 de Novembro de 2005.

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Pedro Nunes de visita ao Distrito de Bragança«Os custos da interioridade devemser suportados por todos nós»De visita ao Distrito de Bragança, Pedro Nunes, bastonário da Ordem dos

Médicos, tomou contacto directo com a realidade vivida pelos profissionais

que exercem medicina nos centros de saúde e hospitais dessa região

interior, e inteirou-se das dificuldades dos mesmos. Nos dois dias de

duração da visita, em que se sucederam reuniões informais com os

Colegas da região, o presidente da OM foi acompanhado por Moreira da

Silva, presidente do Conselho Regional do Norte da OM e Manuela Dias

membro da Direcção do Conselho Regional do Norte.

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Um dos compromissos de Pedro Nunes aquando da suacandidatura a Bastonário da Ordem dos Médicos foi deaproximar a OM dos médicos que representa. Dando cum-primento a esse desígnio, o bastonário visitou nos dias 15 e16 de Dezembro o Distrito de Bragança tendo efectuadovárias reuniões com médicos dessa zona do país.A primeira reunião foi com Berta Nunes, coordenadora daSub-região de Saúde de Bragança, em que se auscultou aperspectiva da Administração. Berta Nunes falou aos re-presentantes da OM da intenção de informatizar todos osCentros de Saúde da região (tendo como referência tem-poral o final do ano). A coordenadora da Sub-região deSaúde referiu alguns dos problemas específicos da regiãocomo sejam a falta de acessibilidades, falta de apoio aosmédicos que trabalham nestas zonas, as dificuldades doCODU, nomeadamente devido ao facto das pessoas nãosaberem descrever os seus sintomas, e o envelhecimentoda população. Factores que, como referiu, impedem que seolhe para o interior da mesma forma que o fazemos emrelação ao litoral - «no interior pagam-se os mesmos im-postos mas não se têm os mesmos benefícios», concluiu.Sobre os ‘custos da interioridade’, Pedro Nunes sublinhouque os mesmos devem ser suportados por todos e nãoapenas pelas pessoas que vivem no interior do país. Nestesentido, o bastonário referiu o alvitrado fecho de urgênciasque, como sublinhou, não pode ser concretizado com baseem análises meramente contabilistas ou em estatísticas ce-gas da realidade específica de cada zona geográfica. «Hánecessidade de fechar urgências, mas localizadas nos gran-des centros urbanos dotados de outras acessibilidades emeios, não em zonas em que isso implica o sacrifício doscuidados de saúde a prestar à população. Tem que se abor-dar a questão numa perspectiva que englobe a ponderaçãode factores como o tempo de deslocação até ao hospitalmais próximo, a existência ou não de meios de emergência,os acessos, etc. O país não é só a cidade. Se houve uma máplanificação – para a qual a OM já alerta desde há oito anos

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– não pode ser o interior a pagar o erro dos sucessivosGovernos. Muitas vezes a OM referiu à tutela a necessida-de de aumentar o número de vagas nas faculdades de me-dicina. Estamos disponíveis para ajudar o Ministério no quefor necessário em termos de planificação futura, mas é cer-to que os próximos dez anos, enquanto os futuros médi-cos não acabarem a sua formação, serão difíceis.»

Problemas comuns a todo o DistritoOs representantes da OM visitaram os Centros de Saúdede Bragança, Miranda do Douro, Vimioso, Macedo de Cava-leiros, Mirandela, Carrazeda de Ansiães e Vila Flor, e os hos-pitais de Bragança e Mirandela, tendo igualmente conversa-do com colegas do Hospital de Macedo de Cavaleiros du-rante o I Encontro Transmontano de Unidades de AVC, emque estiveram presentes e que foi organizado por essaunidade de saúde. Das conversas com os Colegas dos vári-os estabelecimentos, concluiu-se que os problemas senti-dos são comuns a todo o Distrito de Bragança.Foram debatidos os problemas concretos do dia-a-dia dosespecialistas em Medicina Geral e Familiar, tendo sido trans-mitida a natural disponibilidade da OM para apoiar os mé-dicos através da emissão de recomendações ou pareceres,sempre que a situação o justifique. Reafirmou-se a defesaintransigente dos direitos dos doentes e a referência deque, quando esses direitos sejam postos em causa, dever--se-á comunicar tal facto à Ordem.A questão da passagem de atestados médicos, por exem-plo, com a finalidade de obter a carta de condução, de caçaou obtenção de crédito foi referenciada por alguns dosColegas, tendo sido explicado que não existe uma obriga-ção de efectuar tal passagem mas que, a solução preferen-cial será, em cada estabelecimento, os médicos concerta-rem a sua posição quanto a esse problema, assumindo emconjunto a passagem ou não de tais atestados.A questão da formação e das dificuldades que são coloca-das aos médicos que pretendem fazer acções de formação,

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ainda que sendo uma questão laboral que cabe aos sindica-tos, foi discutida, tal como o excesso de horas extraordiná-rias que os médicos acabam por ter que fazer para assegu-rar as urgências, facto que também constitui um factor quedificulta a possibilidade de acesso a cursos e/ou congres-sos. Essa falta de recursos humanos implica, tal como foiconversado, sérias dificuldades no cumprimento das reco-mendações sobre o número de médicos que deverão estarpresentes, por exemplo, no momento da realização de umacirurgia, reconhecendo, no entanto, todos os intervenien-tes que é essencial garantir a qualidade técnica do exercí-cio da medicina e os direitos dos doentes. Quanto ao factoda prática de determinados actos nas zonas interiores dopaís ser menos frequente, a solução preconizada pela OMé a existência de mais acções de formação.

Satisfação profissional e falta de recursoshumanos

Nestes encontros com médicos do Distrito de Bragança,conversou-se igualmente sobre as carreiras médicas e asatisfação profissional. A falta de recursos humanos foi focadacomo um factor que prejudica a satisfação profissional. «Vimpara Medicina Geral e Familiar por opção e gosto. Mas hojenão vinha. Somos muito pressionados, mas não somos nempsicólogos nem assistentes sociais. Supostamente faço par-te de uma equipa multidisciplinar mas sinto que estou sozi-nho. Esta é a nossa maior frustração: não é dado o devidovalor aos Clínicos Gerais», referiu um dos Colegas de umdos CS visitados, que acrescentou: «especificamente emrelação aos centros de saúde, de uma maneira geral, foifeito um investimento maior, mas a tentativa de dar respos-ta a solicitações crescentes é complicada especialmentequando devia existir a intervenção de outros técnicos».Os problemas de satisfação profissional perante as dificul-dades de trabalhar no interior do país também têm umarelação directa com a dificuldade em recrutar médicos para

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fazer as urgências e com a subsequente sobrecarga horáriaque torna possível efectuar as urgências. Essa falta de re-cursos humanos aliada ao sobredimensionamento das lis-tas de utentes de cada médico foram referências constan-tes ao longo desta visita, problemas generalizados mas quese sentem de forma mais acentuada no interior, onde exis-tem extensões muito afastadas. Pacífico é o entendimentode que é necessário o Ministério da Saúde criar mecanis-mos para atrair médicos para estas regiões.Verificaram-se situações de centros de saúde muito mo-dernos mas mal planeados e CS completamente desa-dequados ou com instalações antigas e sem condições.Exemplo paradigmático é o Centro de Saúde de Carra-zeda de Ansiães - «esperámos doze anos para o verinaugurado» - e que, aquando da inauguração, já se en-contrava subdimensionado e mal planeado: possui ape-nas quatro consultórios médicos mas gabinetes de en-fermagem tem mais de quatro. No entanto, em quasetodos os CS existe um gabinete de saúde oral, algunscom médico dentista, assistente social, salas de reabili-tação equipadas, em alguns casos com fisioterapeuta.Elemento igualmente positivo citado por vários Cole-gas foi o facto de existir uma ligação mais efectiva daspessoas ao seu médico de família e o facto da popula-ção idosa não ser tão votada ao abandono no interiorcomo é nas cidades. «Nas aldeias, os idosos têm o seuespaço, os vizinhos que lhes dão assistência, actividadesdiárias como a agricultura... Não há o mesmo abando-no que nos centros urbanos».O centro hospitalar foi um assunto incontornável du-rante estas reuniões informais, sendo a opinião preva-lente que, desde que o objectivo seja melhorar o de-sempenho dos serviços e a qualidade dos cuidados pres-tados, esse é um bom projecto. Contudo os profissio-nais demonstraram a sua apreensão relativamente à faltade regulamentação dessa realidade. Em seu entendimen-to, cada hospital terá que manter a sua identidade e arespectiva cultura organizacional.

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Informatização dos CS: uma realidade?Apesar das referências à informatização dos CS pelarepresentante da Sub-região de Saúde de Bragança, oque se constatou foi que a maior parte dos Centros jápossui o equipamento necessário à realização de video--conferências e à prática da telemedicina, instrumentosúteis em qualquer região mas provavelmente fundamen-tais nas zonas interiores, mas que em nenhum dessesestabelecimentos essa prática é uma realidade pois osequipamentos ou não estão ligados, ou não houve for-mação para a sua utilização ou simplesmente não háqualquer articulação com outras instituições de saúdepara a prática dessas valências. «Falta alguém do outrolado», comentava um dos muitos médicos que, ao longodestes dois dias foram referindo a existência de equi-pamento de telemedicina sem que o mesmo pudesseser utilizado.Quanto à análise do software que existe disponível parasubstituir as fichas em papel e permitir a gestão da infor-mação clínica e do histórico do doente de forma com-pletamente electrónica, as opiniões manifestadas diver-giram: alguns médicos referiram essa ferramenta comomuito útil, especialmente em termos de organização ad-ministrativa, enquanto outros referiram que o facto dese passar «mais tempo a olhar para o computador doque para o próprio doente» pode ser um factor pertur-bador da relação terapêutica. O sistema utilizado em al-gumas das instituições visitadas tem sido adaptado aomodo de funcionamento dos próprios médicos e têm-secorrigido os erros detectados, mas muitos Colegas con-sideram que existe de facto uma deterioração da rela-ção médico/doente devido ao uso excessivo da informá-tica e que algumas questões de segredo profissional po-dem ser postas em causa.

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ConclusõesSobre a utilidade destas reuniões, a opinião generalizada dosmédicos foi que as mesmas são muito úteis e que existem mui-tas questões a ser debatidas, tendo sido lançado o repto parafuturas visitas. Pedro Nunes realçou a importância que atribuia este contacto directo entre Colegas no sentido de conhecerde perto a opinião dos mesmos. O Bastonário da OM deixouem todos as unidades visitadas uma mensagem de união- «so-mos médicos e isso é a nossa característica mais importante ea que nos une a todos» - e apelou ao que referiu como sendoum «corporativismo saudável» e à não conflitualidade entreColegas, referindo ainda a expectativa de que os médicos fre-quentem mais assiduamente as sedes distritais e regionais daOrdem dos Médicos e a certeza do apoio da OM para resolu-ção dos problemas reais dos profissionais de qualquer região.Moreira da Silva, por seu lado, referiu a necessidade de aumen-tar as acções de formação local, enquanto que Manuela Diasaconselhou os Colegas a terem iniciativa, nomeadamente numaaproximação à Ordem e aos Sindicatos para ser possível resol-ver os problemas com maior celeridade e eficácia.

Apesar das dificuldades que existem, Ana Simõessente-se recompensada em termos de satisfa-ção profissional: «para mim a grande vantagemde exercer medicina no interior do país é emtermos de vida pessoal. Quanto aos benefíciosprofissionais talvez existam menos meios masisso é muito compensado porque as patologiasque tratamos aqui são tão importantes comoas que não podemos tratar e que reencaminha-mos. Apesar de todas as dificuldades em ter-mos de relação médico/doente para mim háimensos ganhos, a relação é melhor, mais fácil,

Ana Simões, especialista em cirurgia - Hospital de Mirandelaeles conhecem-nos e nós conhecêmo-los, eu trato--os pelo nome e isso é muito importante. Sinto quefazemos imensa falta a esta população e o únicofacto que lamento é que ninguém queira estar colo-cado nestas zonas: somos três cirurgiões emMirandela, se tentássemos cumprir as regras – oque seria a situação ideal – estaríamos os três vintee quatro horas de serviço, todos os dias da semana.Considero que independentemente de existir umou dois politraumatizados por mês ou um por ano,todos merecem o melhor tratamento possível e coma celeridade necessária a estes casos».

Num concelho onde o apoio da Santa Casa da Misericórdia temum papel fulcral na assistência à população, o atendimento per-manente do CS de Vila Flor está neste momento a funcionarnuma parte do hospital dessa instituição, sendo que a outraparte está em obras. A existência de um centro de saúde com30 anos, arquitectonicamente mal planeado, sem gabinetes sufi-cientes, com consultórios de dimensões extremamente reduzi-das e a falta de disponibilização de terrenos para a construçãodo novo centro de saúde, apesar de serem factores desmotivantes,não impedem os médicos de Vila Flor de continuar o seu traba-lho com o empenho natural de quem gosta da profissão queescolheu. No entanto, os seis médicos que aí trabalham, enfren-tam problemas (ainda) de maior gravidade no que diz respeito àsegurança: à noite, no atendimento permanente, não existe umporteiro ou um segurança. O/a médico/a encontra-se sozinho/acom uma enfermeira e uma administrativa, sendo que das vezes

em que foi necessário chamar a GNR, os agentes da autoridadelevaram entre meia hora e quarenta e cinco minutos a chegar(sendo que só existem em Vila Flor dois efectivos da GNR podeinclusivamente dar-se o caso de nenhum deles estar disponívelno momento em que seja necessário). Numa situação em queum utente sob o efeito de álcool coloque em risco a integridadefísica das três pessoas que se encontram à noite no SAP, nãoexiste qualquer recurso célere e, portanto, que seja minimamen-te eficaz. Uma situação de insegurança que referem ser comumem todo o distrito de Bragança. Foi igualmente explicado, que,durante a noite, é geralmente o médico que recolhe os dadosdos utentes. As indicações da OM são claras: Um médico nãotem que efectuar trabalho administrativo nem ser sujeito a tra-balhar sem condições de segurança. Para a urgência funcionar ànoite é necessário que exista um médico de serviço e um deprevenção, um enfermeiro, um administrativo e um segurança.

Insegurança no Centro de Saúde de Vila Flor

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Considerando que a principal dificuldadenum hospital interior são os recursos hu-manos, Olímpia Carmo explica: «não sintoqualquer dificuldade a nível técnico e pen-so que em termos de tecnologia temos oque é necessário. A nossa principal dificul-dade é dar resposta a todas as utentes danossa área de influência porque somos pou-cos especialistas».Sobre a importância que atribui à visita dos

Olímpia Carmo, obstetraHospital de Mirandela

representantes da OM, esta obstetra é pe-remptória: «acho uma óptima iniciativa poiscontinuamos a sentir-nos um pouco isola-dos. A visita dos elementos da OM paraconversar connosco, no nosso ambiente detrabalho, faz-nos sentir menos isolados emais seguros por sabermos que podemoster o seu apoio, conhecer a sua opinião,informarmo-nos se estamos a trabalhar demodo correcto...»

Sobre as vantagens e desvantagens do exercício da medi-cina no interior do país, esta pediatra expressa claramen-te a satisfação com a opção que tomou: «Vim paraBragança, por opção pois sou da zona de Macedo de Ca-valeiros. Estive num hospital central noPorto e até era uma perspectiva inte-ressante continuar lá pois gostava decuidados intensivos e só em hospitaiscentrais é que há unidades de cuida-dos intens ivos neo-nata i s epediátricos. No entanto, em termospessoais senti que tinha benefícios emvoltar para a minha área de residên-cia antiga. Não estou nada insatisfeita,antes pelo contrário: a ideia de queos médicos que vêm para o interiornão têm a mesma qualidade ou quenão têm outras colocações não é cor-recta, como se vê pelo meu caso e pelode muitos outros colegas que opta-ram como eu. Penso que fazemos umtrabalho meritório, nomeadamentemelhorando os índices de saúde – osda pediatria são exactamente iguaisaos nacionais - e é por essa razão queme indigna que se fale em ratio médi-co/doente. Esse ratio que é apresentado é, na verdade,um indicador a nosso favor: por sermos poucos vemosmuito mais doentes do que os nossos colegas dos hospi-tais centrais. Não estou a dizer que não trabalham, claro,mas fazem, provavelmente com muito mérito, outro tipode actividades, exames muito mais sofisticados, trabalhoscientíficos, etc. Em termos de clínica propriamente dita, a

aplicação do ratio médico/doente não permite as con-clusões que muitas vezes se querem tirar. Quando o nossotrabalho é bem feito, com uma triagem dos doentes e asua orientação para as áreas em que somos carenciados,

e que são muitas obviamente, é umtrabalho que só vai dignificar a pro-fissão e, logicamente, beneficiar anossa população.Perante a indicação estatística de umnúmero determinado de partos ‘paramanter activos e cientificamente bemformados os especialistas de mater-no-infantil’, Manuela Ferreira nãohesita em afirmar: «não podemosanalisar apenas números isolados maspessoas, regiões, população, numaanálise necessariamente global. Pen-so que posso falar pelos meus Cole-gas ao dizer que qualquer alteração,se for para beneficiar a população,estaremos todos de acordo, mas sefor para a prejudicar, ou seja se aspessoas que já têm um mau acesso apartir do local onde vivem ainda fi-carem mais longe do hospital, não po-deremos concordar. Em muitas situa-

ções, e não apenas na saúde, é como se as pessoas quevivem longe do litoral fossem portugueses de segundaembora paguem impostos da mesma maneira. O acessonunca é idêntico pois há poucos recursos humanos se osrecursos económicos aplicados forem também mais limi-tados, então com certeza que os índices de saúde nestasregiões irão piorar».

Manuela Ferreira, pediatraHospital de Bragança

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A C T U A L I D A D E

Reconhecendo ter uma visão algo economicis-ta, este oftalmologista defende, contudo, que nãopode haver nenhuma perda de qualidade doscuidados prestados: «relativamente à questãodo fecho das urgências e à criação do CentroHospitalar do Nordeste penso que é uma ne-cessidade que deve ser racionalizada, temos queeconomizar meios e recursos, sendo indiscutí-vel que a questão das urgências tem que serrevista. Os gastos na saúde deste distrito têmque ser repensados. Considero que isso éinquestionável e que as Direcções das três uni-dades existentes terão que concertar eequacionar todas as questões que se levantam de forma aque a qualidade da saúde se mantenha, economizando aomáximo. A economia de recursos é uma questão que na nos-

Horácio Correia, oftalmologistaHospital de Bragança

sa sociedade tem que ser sempre colocada emprimeiro lugar. Os responsáveis pelas três uni-dades terão que se organizar dentro de umquadro técnico, sem esquecer as três entida-des que existem: Bragança, Macedo e Mirandela,com as suas realidades médicas, que não po-dem ser escamoteadas e sem que exista qual-quer sobreposição de nenhuma das unidadesrelativamente às outras. Considero que há cus-tos a mais na saúde mas que têm que ser pre-servados os cuidados de saúde mínimos paraas pessoas que estão no interior do país. Masem termos económicos é difícil manter pre-

senças físicas em todos os hospitais, em todos os centros desaúde, a todo o momento. Temos que apostar na melhoriadas vias de comunicação e das acessibilidades».

Sobre qualquer plano de fecho de urgências, ba-seado em critérios meramente estatísticos, estaespecialista em MGF considera que «essa ques-tão tem que ser muito debatida e ponderadacom quem trabalha na região porque, embora adensidade populacional seja relativamente peque-na, temos uma área geográfica muito extensa».«Se houver um problema agudo de saúde ondeirão as pessoas?», complementou.Sobre a sua opção em trabalhar no interior, deci-são que teve há mais de vinte anos, Manuela Fer-

Manuela Fernandes, Especialista em Medicina Geral e FamiliarCentro de Saúde de Bragança

nandes não está arrependida: «gosto muito de tra-balhar aqui, sinto que estamos muito próximos dapopulação, a qual nos conhece muito bem. Achomuito agradável trabalhar desta forma. Como mé-dica, a dificuldade que por vezes sinto é o acesso aoutro tipo de acções de formação. O facto de ter-mos hospitais com muito menos valências que nolitoral também é um factor negativo pois, muitasvezes, os nossos doentes têm que se deslocar mui-tos quilómetros para a realização de exames com-plementares de diagnóstico».

Estes três anestesistas são unânimes emafirmar que, com menos recursos doque um hospital central, onde estão empermanência de presença física quatroanestesistas durante as 24 horas, nohospital distrital onde trabalham, ape-sar das dificuldades, «com um doenteigualmente grave e sem colegas a quemrecorrer, temos que actuar sozinhos ecom igual eficácia. E actuamos. E tudotem corrido bem apesar da falta deapoios». O facto de terem que tomar

Maria Clara Rosas Cardoso Soares, Maria Luís, João Aguiar - anestesistasHospital de Bragança

decisões sem poderem trocar opi-niões com colegas, é algo que temelevados custos em termos pesso-ais, não só em termos de carga detrabalho mas também em termosde desgaste e stress. Perante as di-ficuldades que sentem, concluem: «émuito importante, ou mesmo fun-damental, termos sempre umanestesista de apoio, mas o Colégiode Anestesia nunca se pronunciousobre essa questão técnica».

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Em carta dirigida a Berta Nunes, coordenadora da Sub--Região de Saúde de Bragança, o presidente do ConselhoRegional do Norte, efectuou a avaliação da visita às unida-des de saúde do Distrito Médico de Bragança, carta essaque se passa a reproduzir:

«Exma. Senhora Coordenadora da Sub-Região de Saúdede BragançaProfessora Doutora Berta Nunes

Em primeiro lugar gostaria de a cumprimentar e agrade-cer a forma calorosa com que nos recebeu na Sub-Regiãode Saúde de Bragança e de nos ter proporcionado a visitaaos estabelecimentos de saúde que abaixo discriminamos.Aproveitamos a oportunidade para fazermos algumas su-gestões que nos parecem passíveis de correcção nesteinício do seu mandato, que esperamos profícuo e que tra-ga melhoramentos no funcionamento dessas Unidades deSaúde.

O Sr. Bastonário e o Conselho Regional do Norte da Or-dem dos Médicos (Dr.ª Manuela Dias, Dr.ª Fátima Oliveirae Dr. José Pedro Moreira da Silva) visitaram em 15 e 16 deDezembro de 2005 as seguintes Unidades de Saúde doDistrito Médico de Bragança:

Hospital de BragançaCS de BragançaCS de Miranda do DouroCS de VimiosoCS Macedo de CavaleirosHospital de MirandelaCS MirandelaCS de Carrazeda de AnsiãesCS Vila Flor

Em Macedo de Cavaleiros fomos gentilmente convidadospara a sessão de abertura da Jornadas Transmontanas dasUnidades de AVC promovida pela Unidade de AVC doHospital de Macedo de Cavaleiros.

Da visita efectuada pudemos constatar que na globalida-de os Centros de Saúde têm boas instalações com excep-ção do de Vila Flor (em remodelação) para a prestação decuidados médicos. Verificamos algumas não conformida-des que gostaríamos de ver corrigidas.

Muito nos preocupou verificar que apesar das indicaçõesda Ordem dos Médicos, insistentemente divulgadas ao lon-go dos anos, continuam os Serviços de Atendimento Per-

manente a serem assegurados por um único médico. Nuncaserá de mais voltar a salientar a precariedade de atendi-mento que esta situação provoca, não servindo nem apopulação, nem propiciando uma boa prática médica.

Constatámos que o Serviço de Atendimento Permanentenocturno é feito também com um só médico, um enfer-meiro e um auxiliar, sem pessoal administrativo e semqualquer tipo de segurança pública ou privada na área deatendimento ou no exterior do CS.

Material excelente para a prática de tele-medicina arma-zenado mas não funcionante.

Material de radiologia também armazenado mas tambémnão funcionante.

Blocos Operatórios a funcionarem com um só Cirurgião,sem ajudante habilitado, que põe em risco todo o actocirúrgico e que contraria todas as indicações veiculadaspelos Colégios das várias áreas cirúrgicas e aprovadas peloConselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos.

Serviços de Urgência de Ginecologia e Obstetrícia a fun-cionarem com um só médico especialista o que põe emrisco os actos médicos praticados e vai também contratodas as normas da boa prática, contrariando as indica-ções veiculadas insistentemente pelo Colégio de Gineco-logia e Obstetrícia e também aprovadas pelo ConselhoNacional Executivo da Ordem dos Médicos.

Igualmente nos preocupa a dificuldade de Formação refe-rida insistentemente pelos médicos das várias Unidadesde Saúde. Lembramos que são médicos a trabalhar emsituações penosas de isolamento, tanto geográfico, comohumano. Dada esta particularidade, devem sim, ser esti-mulados e incentivados na frequência de acções de For-mação e não, impedidos por argumentos falaciosos. OsDirectores das várias Unidades e Saúde devem ser instru-ídos no sentido de criar situações favorecedoras da For-mação médica e não entraves, dificuldades burocráticas,que na prática impedem as substituições necessárias ouobrigam a remarcações de consultas para prazos poucoexequíveis.

Com os melhores cumprimentos,

O Presidente do Conselho Regional do Norte daOrdem dos Médicos

J. Pedro Moreira da Silva»

Avaliação da visita pelo CRN

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Novas CédulasProfissionais

O CNE em 20/12/2005decidiu que as antigas cé-dulas de papel perdem avalidade a partir de 01/05/2006. Pelo que é defundamental importân-cia que os Colegas efec-tuem a requisição danova cédula o mais bre-vemente possível.

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A C T U A L I D A D E

João SáPresidente do Conselho Directivo – Colégio daEspecialidade de Medicina Interna – Ordem

dos Médicos

(...)Ao contrário de muitos apóstolos da desgraça, o grupode Médicos que têm servido na liderança do Colégioestá seguro de que a Medicina Interna não está deca-dente nem se extinguirá. Considere-se apenas a cres-cente intensidade de tarefas de consultoria intra-hos-pitalar, da gestão do processo assistencial no interna-mento e no ambulatório, na urgência e emergência, noscuidados aos doentes críticos, na Medicina do fim devida, na clínica das dependências, nas diversas preven-

Medicina Interna– Existimos e Seremos

ções de estados mórbidos, na epidemiologia, nabioestatística, na informática e na decisão, só para citaralgumas áreas que complementam a rotina quotidianaao lado dos doentes essencialmente não-cirúrgicos.Internistas existimos e seremos.

TEXTO INTEGRAL NA EDIÇÃO DA ROM DE DE-ZEMBRO DE 2005, disponível online em:http://www.ordemdosmedicos.pt/ie/institucional/publicacoes/revista/rom63.pdf

Nota da redacção: Por lapso na última edição, na página 17, foi publicada uma fotografia do Dr. Arnaldo Sá no lugaronde devia estar colocada a fotografia do Dr. João Sá, presidente do conselho directivo do Colégio da Especialidade deMedicina Interna (como indica a legenda). Pelo facto apresentamos as nossas desculpas ao autor do artigo MedicinaInterna - Existimos e Seremos.

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O P I N I Ã O

Competências em Medicina Internaou Competência na Medicina Interna

Tendo lido com atenção o artigo deopinião do Dr. Carlos Vasconcelos, narevista de Setembro da Ordem sobrea criação de competências em Medici-na Interna (MI) nomeadamente nas áre-as da Doenças autoimunes/ Reumato-logia e no HIV/SIDA, não posso deixarde demonstrar o meu desagrado rela-tivamente ao mesmo.

Esperaria uma tomada de posição porparte dos responsáveis da Reumato-logia (Colégio da Especialidade, Soci-edade Portuguesa de Reumatologia).Na ausência desta faço-o neste mo-mento a título pessoal enquanto Reu-matologista.

Segundo o Dr. Carlos Vasconcelos adiferenciação de alguns colegas de MIem diversas áreas de uma especialida-de generalista como a MI dava-lhescompetência clínica, e, portanto, a di-ferenciação institucional seria o passonatural consequente. Assim, de acor-do com o seu interesse e conveniên-cia pessoais poderia qualquerinternista ser competente para seguire tratar doentes cuja doença são doforo técnico e especializado de outrasespecialidades reconhecidas pela Or-dem dos Médicos (OM).

Penso que a visibilidade dada a tais ideiaspela OM, pode indiciar que as mesmascolhem alguns apoios no interior daOrdem. Embora o artigo seja de opi-nião e portanto da responsabilidadeexclusiva do autor, encerra de formamais ou menos directa a linha editorialda revista e neste caso da OM.

A definição de doenças autoimunes édiversa e embora englobe patologiasseguidas por diversas especialidadescomo a Neurologia, a Gastroenterolo-gia e a Endocrinologia entre outras são

fundamentalmente as doenças da com-petência técnica da Reumatologia quefalamos quando se discutem as doen-ças autoimunes (LES, AR, Vasculites, Es-pondilartropatias, etc).

A Reumatologia, como todas as outrasespecialidades médicas, derivou da MIe existe no Instituto Português de Reu-matologia desde 1948. Em 2005 fez 25anos o seu colégio da especialidade. Acriação da Reumatologia não nasceu deum acto isolado e sem coerência maspelo desenvolvimento normal da Me-dicina Moderna e pela especificidade daspatologias e a necessidade de aprofun-damento curricular único que se de-senvolve por 5 anos.

Os dois exemplos dados (Autoimunese HIV/SIDA) parecem-me não o tersido feito de forma inocente. Emborano seu artigo o Dr. Carlos Vasconcelosos tenha apresentado como exemplosentre outros, para mim enquanto Reu-matologista a sugestão da criação decompetências nesta área não me pare-ce ser um acto de pureza de pensa-mento mas encerra eventualmente ob-jectivos mais profundos.

Há vários anos que assistimos de for-ma sistemática a um conjunto de obs-táculos ao desenvolvimento daReumatolgia que se associa paralela-mente à tentativa de maior visibilidadedas consultas de doenças autoimunespor parte da MI.

A Reumatologia tem neste momentocerca de 120 especialistas e um núme-ro reduzido de centros dispersos mai-oritariamente pela zona da grande Lis-boa; tal resulta não da inexistência dedoentes, da falta de importância clínicada especialidade ou da falta de candi-datos à mesma mas quase exclusiva-

mente à recusa que desde sempre sur-giu à criação de unidades ou serviçosde Reumatologia quer em hospitais cen-trais quer em distritais.

Nos últimos 15 anos foram vários osplanos de criação de uma Rede de Re-ferenciação Hospitalar de Reumato-logia que não foram implementadosaté à criação do Plano Nacional Con-tra as Doenças Reumáticas aprovadoem 2005 pela D.G.S., actualmente emfase de implementação. Mesmo noâmbito deste plano, as resistências cri-adas à implementação de serviços têmsido elevadas.

Será apenas coincidência que a maioriados Hospitais de Lisboa e da zona doPorto não tenham valência de Reuma-tologia inclusivamente no Hospital deSanto António onde trabalha o Dr Car-los Vasconcelos? Essa coincidência é ain-da maior se virmos que nesses hospi-tais existem grupos de médicos a reali-zar consultas de doenças autoimunes.

Logicamente com menos serviços re-sultam menos capacidades formativase menos internos, logo uma dificul-dade acrescida na implementação daReumatologia.

Mas será que o bloqueio ao desenvol-vimento da Reumatologia assenta emrazões clínicas válidas?

Sabemos dos estudos internacionais vá-lidos que o seguimento por especialis-tas de Reumatologia melhora o prog-nóstico, a incapacidade e os custos di-rectos e indirectos inerente aos doen-tes com patologia reumatológica (loca-lizada ou sistémica), quando compara-dos com o seguimento por especialis-tas de Clínica Geral ou de Medicina In-terna.

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O P I N I Ã O

No nosso país a Reumatologia é dasespecialidades que, per capita, apre-senta mais trabalhos científicos e pu-blica mais artigos.

É óbvio que clinicamente as doençasreumáticas sistémicas são cientifica-mente interessantes e um desafiopara qualquer clínico que as segue;mas a meu ver as grandes razões pe-las quais estamos a falar em compe-tências em MI estão ligadas ao desen-canto que por vezes se relaciona àMI associado a razões clínicas e ou-tras não exclusivamente científicas.

Não deixa de ser estranho e um desper-dício de recursos humanos especializa-dos que os internos de Reumatologia seencontrem sobrecarregados em urgên-cias centrais e internas do foro específi-co da MI (muitas das vezes mais de 2vezes por semana), enquanto outros es-tão a fazer consultas de Autoimunes.

Peço desculpa por não acreditar na ino-cência da proposta de criação de com-petências em MI. Parece que parte daMI tenta a absorção clínica das compe-tências de especialidades cujo desen-volvimento natural sempre combateu.

Qual o papel da Ordem nesta ques-tão?

A demissão do seu papel regulador e dedesenvolvimento da qualidade das espe-cialidades aponta ou para uma má ges-tão e desconhecimento de situaçõesimportantes ou para indícios da presen-

ça de influências por parte das especia-lidades maiores no seio da OM. Tal con-duta por parte da OM tem atrasado acriação de outras especialidades e per-mitido o desenvolvimento de situaçõesque chocam com as competências dediversas especialidades que proliferamsem qualquer interferência reguladora.A Ordem, e nomeadamente o seu Bas-tonário, deveriam ser os primeiros a cui-dar e a defender as especialidades nãodominantes, tendo um projecto globalpara a Medicina Portuguesa que passepela reorganização dos internatos e pelapressão ao Ministério da Saúde para aimplementação de um modelo de saúde(clínico) que tenha em conta a qualida-de da Medicina e do acto médico. A vol-ta ao modelo do século XIX da Medici-na Geral e da Cirurgia Geral como úni-cas especialidades não pode no séculoXXI ser a referência.

Não acredito nas competências médi-cas em MI que me parecem tentativasde se obterem especialidades médicasexistentes sem cumprir a formação exi-gida pela especificidade das patologiase pela Ordem.

A Ordem sofre neste momento de ata-ques frontais de outras formas de me-dicina ditas alternativas (tradicional chi-nesa, homeopatia, etc) pela indefiniçãodo acto médico ou por parte da tutelacom uma medicina centrada no núme-ro e na economia em vez de ser nodoente e na qualidade. Contudo se amesma Ordem não definir de formaclara o âmbito e competências das suas

próprias especialidades¸ a luta contrauma medicina não científica ou contraa medicina economicista estará cada vezmais perdida.

Para mim, enquanto Reumatologista,este artigo patrocinado pela Ordem élesivo à minha prática médica.

A minha opinião não deverá ser enten-dida como corporativista mas antes ten-tando ser reveladora dessas mesmascorporações ou lobbies que se movemnos bastidores da medicina, minando acredibilidade dos médicos e da Ordem,e cuja agenda em vez de ter em contaos doentes e o serviço aos mesmos,tem unicamente propósitos pessoais.

Não confundo a MI como um todo degrupos mais ou menos organizados epenso que a valorização da MI deve serigualmente uma prioridade de todos osmédicos e da Ordem, a qual porém nãodeverá ser obtida com a criação decompetências, mas através de mecanis-mos de formação e integração em ser-viços com múltiplas valências médicas.

Em virtude de achar que a Ordem temde ser plural e por me sentir no direi-to à resposta enquanto Reumatologis-ta, espero que esta opinião tenha amesma visibilidade que a outra publi-cada por vós, que a meu ver contrariao espírito plural e multidisciplinar daOrdem e que foi divulgada de formatão abrangente.

Lisboa 19 de Dezembro de 2005

Luis Cunha MirandaReumatologista

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O P I N I Ã O

As questões éticas na prática médica foram sempre umadas facetas dessa prática, com mais ou menos consciênciadesse facto. Hoje em dia as questões éticas assumem umaimportância de realce na prática médica da civilização oci-dental, em que princípios e valores são postos em questão,e em que existem declarações, códigos, normas e leis paradeveres, direitos e actividades, não só na profissão médicacomo em outras profissões, ofícios e artes.Por isso decidimos fazer uma revisão, com uma visão sinté-tica dos aspectos éticos na prática médica, enumerando eclassificando alguns problemas, e deixando pistas para re-flexão, sem entrar na sua análise detalhada e discussão por-menorizada, que tornaria demasiado extenso este artigo.Desde há muito que existem códigos, conselhos, ora-ções e juramentos médicos referenciando aspectos éti-cos na prática médica. Os mais célebres e importantesda antiguidade foram o Código de Hamurábi, de mais oumenos 1000 anos antes de Cristo, os Conselhos deEsculápio, do séc. VI A. C., e o Juramento de Hipócrates,de mais ou menos 500 A. C., que contém conceitos queainda hoje são a base da prática médica e que são jura-dos por todos os novos profissionais. Na Idade Médiaapareceram o juramento de Asaph, no séc. VI e a oraçãode Maimónides no séc. XII, e entre nós o juramento deAmato Lusitano no séc. XVI. Mas foi em meados do séc.XX, em 1948, que a Declaração de Genebra, ao fazer aadaptação para os tempos actuais do juramento de Hi-pócrates, fez a síntese e actualização dos anteriores do-cumentos. Esta declaração foi revista e actualizada em1983 e 1994 e periodicamente poderá sofreractualizações. Em 1949, com revisão em 1968 e 1983, foipublicado o Código Internacional de Ética Médica daAssociação Médica Mundial, o qual poderá também serrevisto e actualizado periodicamente, conforme a evolu-ção da ciência, dos conceitos e dos problemas.Entre nós existe o Código Deontológico da Ordem dosMédicos, de 1977, que aliás serviu de base para a presenterevisão, que foi já posteriormente acrescentado e que estáem vias de actualização.A prática médica, neste contexto, pode exercer-se emvários planos: 1) ético, relacionado com a consciênciaindividual; 2) moral, relacionado com a noção do Bem edo Mal, numa perspectiva individual e colectiva (social),e 3) legal, relacionado com as leis que regem determi-nadas sociedades. Definem-se assim, nestes diferentesplanos, a bioética e ética médica, a deontologia profissi-onal e o direito médico.

“Aspectos Éticos na Prática Médica- visão sintética”

Todo o médico deve ter uma consciência limpa, desen-volvendo o bem pensar, o bem- querer e o bem-fazer(benevolência e beneficência), para uma correcta condu-ta baseada na boa fé, na honestidade e na humildade. Omédico deve ser competente, baseado na experiência ena cultura, que deve sempre aumentar e actualizar, fa-zendo parte dessa competência o sentido das suas limi-tações para que possa pedir ajuda a colegas quando es-sas limitações são excedidas.Define-se assim uma “ars médica” (arte baseada na ciência),uma “Iegis artis” (estado da arte) e um “error artis” (erromédico), que condicionam uma boa ou má prática médica,baseada na liberdade, independência e responsabilidade. Oerro médico é, todavia, diferente da negligência e ainda maisda incúria, e a responsabilidade pode ser; 1) ética e moral,quando diz respeito unicamente à consciência do médico;2) civil, quando justifica indemnização; 3) penal (criminal),quando os actos praticados infringem a lei (do país, inter-nacional); e 4) disciplinar, quando infringe as boas regras deactuação médica, a qual pode ainda ser administrativa eprofissional, a primeira quando existe carreira hierárquica,e/ou vínculo profissional, a segunda quando a AssociaçãoMédica (Ordem dos Médicos) considera ter havido infrac-ção na actuação médica perante os doentes, os colegas e/ou a sociedade.Todavia, o plano teórico dos valores e dos princípios é dife-rente da aplicação prática desses mesmos princípios. Porexemplo, o princípio universal de “não matarás” pode, naprática, ter algumas excepções, como a legitima defesa ecertos casos de mal menor. Assim, as normas podem serconsideradas, no seu aspecto geral ou no caso individual,dependendo de circunstâncias, interesses, eventuais confli-

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O P I N I Ã O

tos, que fazem com que as regras possam ter excepções.Assim mesmo se passa na lei, geral, embora possa admitircasos concretos, e na aplicação das leis a um determinadocaso ou situação concreta. O poder legislativo elabora asleis, o poder executivo zela pela sua aplicação, o poder judi-cial julga as suas omissões e infracções ...Definem-se assim deveres e direitos. Deveres e direi-tos dos médicos, dos doentes e da comunidade, quevamos analisar em quatro capítulos: A) o médico aoserviço do doente; B) o médico ao serviço da comuni-dade; C) relações entre médicos; D) relações dos mé-dicos com terceiros.Enumeraremos, neste contexto, alguns problemas éticoscomuns na prática médica de hoje, tendo sempre em aten-ção que não pretendemos fazer uma discussão dos proble-mas, mas tão somente apontá-los, defini-los, classificá-los, eassim dar pistas para reflexão e discussão.

A. O médico ao serviço do doenteAnalisaremos sucessivamente sete aspectos: 1) Qualidadedos serviços médicos; 2) Consentimento informado; 3) Se-gredo profissional; 4) Privação da liberdade; 5) Problemasrespeitante à vida e à morte; 6) Experimentação humana;7) Honorários.

nação em relação aos seus doentes, sejam de sexo, raça,credo, situação económica ou outra, devendo ser impar-cial e isento. Teoricamente é-lhe conferido o direito delivre escolha do seu doente (como o doente deve terlivre escolha do médico, embora com limitações práticasna medicina pública), e também tem o direito de objec-ção de consciência, desde que salvaguardados os direi-tos básicos dos doentes. O médico deve ter respeitopelas crenças, interesses e situações especiais, nomeada-mente com crianças, idosos e deficientes. A privação daliberdade põe problemas especiais e será tratada adian-te. Também o esclarecimento e o consentimento infor-mado, e o segredo profissional, que são apanágio da acti-vidade médica, pela sua importância serão tratados noscapítulos seguintes. Três situações podem todavia cons-tituir excepções pontuais a estes princípios e regras: assituações de urgência clínica, as situações de calamidadepública ou epidemia e a greve de médicos. Três situaçõesparticulares que podem implicar que alguma ou algumasdestas regras possam não ser aplicadas, tendo em aten-ção que o bem dos doentes é o objectivo principal daactividade ‘médica, num contexto todavia de deveres edireitos, dos médicos e dos doentes.

1. Qualidade dos serviços médicosRelativamente à qualidade dos serviços médicos, os princí-pios gerais a observar respeitam a relação médico-doentee doente-médico, que deve ter uma base de dignidade erespeito mútuo. Há que dizer não ao abuso e à corrupçãoa todos os níveis, seja pessoal, sexual, ou de qualquer outranatureza.O médico deve ter a qualificação conveniente e ser com-petente. Para tal deve manter-se treinado e actualizado eobservar as suas limitações. Mas o médico deve ter totalliberdade e independência de actuação, assim podendo ha-ver, como atrás se referiu, erro médico e responsabilidadea vários níveis (moral, civil, penal, disciplinar).O médico não deve praticar qualquer tipo de discrimi-

Manuel Mendes SilvaChefe de Serviço Hospitalar de Urologia do Hospital Militar Principal, Lisboa –Ex-Presidente da Associação Portuguesa de Urologia – Ex-Presidente do Colégiode Urologia da Ordem dos Médicos – Ex-Presidente da Comissão de Ética do

Hospital Militar Principal

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2. Consentimento InformadoO consentimento informado baseia-se nos princípios ge-rais do esclarecimento adequado por parte do médico edo consentimento esclarecido por parte do doente. Talpressupõe uma descrição sumária de atitudes e procedi-mentos com a avaliação das respectivas expectativas e ris-cos/benefícios. As complicações eventuais serão tambémpesadas, assim como os custos, económico-financeiros oude outra natureza. As alternativas devem ser tambémexplicitadas, com as suas vantagens versus inconvenientes.Todos estes aspectos devem ser suficientemente compre-endidos pelo doente que deverá colocar quaisquer dúvi-das para o seu cabal esclarecimento. Desde que esclareci-do, o doente deve dar o seu consentimento, oral ou escri-to, para a atitude ou procedimento a efectuar, sendo adecisão partilhada pelo médico e pelo doente. O pessoal,médico ou não, que participe nos procedimentos, deveser identificado. Obviamente que há algumas excepções aestes princípios, em casos de urgência, de doentes incapa-citados (coma, incapacidade mental, crianças, etc., em queo consentimento será efectuado pelos seus representan-tes), ou outras situações particulares.

fissional a pedido do doente, mas esse facto deve ser omais circunscrito possível. A privação da liberdade realçaa observância do segredo profissional.

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3. Segredo ProfissionalO princípio geral do segredo profissional baseia-se na pri-vacidade do doente e da relação médico-doente, poden-do haver situações de conflito entre a privacidade do do-ente e o interesse público. Em principio prevalece a priva-cidade, havendo todavia casos especiais em que, quandoavisado o doente, e desde que seguidos determinadospressupostos, o interesse público pode prevalecer. A ob-servância do segredo profissional deve estar bem presen-te nos atestados médicos, nos arquivos cl ínicos,informatizados ou não, nas comunicações e publicaçõescientíficas e na relações com a comunicação social (porexemplo boletins clínicos dos VIP). Muitas vezes, em rela-ção a entidades pagadoras, existe perda do segredo pro-

4. Privação da LiberdadeA integridade e o interesse dos doentes são os princípiosgerais que regem a actividade médica em privação da li-berdade. Os presos são seres humanos com direitos egarantias e o médico deve defender sempre esses direi-tos, nomeadamente em casos de experimentação humanae de tortura. A greve de fome é um direito que assiste aospresos e o médico deve ter um papel de ajuda nestassituações.

5. Problemas respeitantes à vida e àmorteO princípio geral neste contexto é o respeito pela vida.O aborto (interrupção voluntária da gravidez) põe pro-blemas muito específicos e, salvaguardando o principiodo respeito pela vida, tem casos de difícil decisão naprática, apesar das orientações éticas e morais e dasdefinições legais sobre o assunto. Também a eutanásia équestão muito discutida, sendo de realçar que o médi-co, respeitando a vida, deve prover à dignidade na mor-te, como durante a vida. Casos de abstenção terapêuti-ca ou de suspensão de recursos de “vida artificial” sãopois decisões médicas que podem ser independentesda eutanásia, evitando assim a distanásia e a obstinaçãoterapêutica. Proporcionar uma morte digna, tanto quan-to possível isenta de sofrimento, com todo o apoio doponto de vista humano, com bom senso na utilizaçãodos recursos técnicos disponíveis, é um dever de todosos médicos, e chamamos-lhe morte assistida.Se o aborto e a eutanásia respeitam à morte, dizemrespeito à vida os problemas referentes à transplanta-ção de órgãos e à sua colheita, assim como os proble-

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mas da sexualidade, do sexo recreativo, da contracepçãoe ester i l i zação, da procr iação ar t i f i c ia l e daintersexualidade e transexualidade. Também aqui se in-cluem as questões, tão actuais, da manipulação genéti-ca, de que são exemplo a clonagem, o problema dascé lu las estamina is , o dest ino dos embr iõesexcedentários, etc. A discussão destas questões está naordem do dia e as Comissões de Ética frequentementesão chamadas a emitir pareceres sobre estes assuntos.

C. Relações entre MédicosAs relações entre médicos devem pautar-se pela soli-dariedade, profissional e humana, a qual todavia tem li-mites, impostos pelos superiores interesses dos doen-tes e dos próprios médicos, enquanto homens e profis-sionais, com uma profissão tão especial como a Medici-na. A relação entre colegas pode ter várias variaçõesinter pares, como por exemplo entre professores e alu-nos (mestres e aprendizes), entre generalistas e espe-cialistas, entre vários e diferentes especialistas e subespecialistas, interespecialistas do mesmo ramo, entre.clínicos e investigadores, e por outro lado entre oscolegas que funcionam em Medicina estatal , ouconvencionada e privada, entre e inter Hospitais, Cen-tros de Saúde e Saúde Pública.A cooperação médica deve ser uma realidade a todosos níveis. O médico enquanto profissional não deve co-brar honorários a colegas e deve cooperar com opini-ões, pareceres, atitudes e práticas, sempre que lhe ésolicitada cooperação a nível profissional, pois sempreque um médico sente que atinge o nível das suas limita-ções deve procurar colaboração com outros colegasque, na sua opinião, estão aptos para o fazerem. Essacolaboração pode ter diversas formas práticas, desde oacompanhamento de doentes e o envio a colegas até àsconferências e juntas médicas. Todavia a dicotomia, ouseja a partilha de honorários ou benefício material paraos cooperantes á custa dos doentes é altamente con-denável.Uma forma actual de relacionamento clínico e científi-co entre colegas diz respeito às recomendações clíni-cas, em que especialistas e expertos em determinadasmatérias recomendam a outros colegas atitudes ou prá-ticas, baseadas na sua experiência ou na evidência cien-tífica.Problemas específicos são colocados nas sociedades ci-vis e comerciais de serviços médicos em que podemexistir vínculos laborais entre médicos, assim comoquando existiam carreiras e hierarquias, públicas ou não,com médicos funcionários e chefias médicas.

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6. Experimentação humanaO princípio geral que informa este capítulo é o primadodo indivíduo. Os ensaios clínicos e terapêuticos têm hojeprincípios éticos bem definidos e legislação publicada, emPortugal e na Europa. As Comissões de Ética devem salva-guardar esses princípios éticos, que aceitam a investiga-ção científica e os avanços terapêuticos, mas sempre àcusta do conceito do homem antes da humanidade e daciência.

7. HonoráriosHá que distinguir honorários de salários. Se todo o traba-lhador, incluindo o médico, tem direito a salários, na acti-vidade livre são legítimos os honorários, os quais devemser contudo relativos, e atender a variados factores e cir-cunstâncias.

B. O Médico ao Serviço da ComunidadeO médico tem responsabilidade perante a comunidade.Assim é quando o médico actua como perito, em váriascircunstâncias, quando o médico é investigador nas ciên-cias básicas, quando é um técnico na indústria farmacêuti-ca e técnica, e quando é médico de saúde pública, talvez oexemplo mais completo da responsabilidade médica pe-rante a comunidade.

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D. Relações dos Médicos com TerceirosAnalisaremos sucessivamente três aspectos: 1) com institui-ções de cuidados de saúde, científicas e profissionais; 2) comoutros profissionais de saúde; 3) com outros, nomeadamen-te “gigantes sociais”.

1. Com instituições de cuidados de saúde,cientificas e profissionaisEstas instituições são os Hospitais, Centros de Saúde, Clíni-cas, Universidades, Sociedades Científicas, Sindicatos, etc.,tendo cada uma delas problemas genéricos comuns a todase problemas específicos próprios de cada uma. Podem serinstituições do Estado, instituições em que haja patrões, pri-vados ou semi privados, ou instituições cooperativas. O pa-pel, hoje, nas sociedades ocidentais e em Portugal, dos gru-pos económicos, nomeadamente dos Bancos e Seguradoras,como patrões das instituições de saúde, é relevante, substi-tuindo o Estado, a Igreja e as Misericórdia e as Clínicas livres

de médicos, e a relação dos médicos com os administrado-res e gestores destas instituições põe problemas importan-tes e actuais. Casos especiais dizem respeito a instituiçõesespecíficas, como militares, desportivas, escolares, de traba-lho, tribunais, etc.. Se o médico noutros tempos era funda-mentalmente um profissional livre, hoje cada vez mais é fun-cionário, com contratos, carreiras e hierarquias, que podempor problemas éticos e de responsabilidade disciplinar, admi-nistrativa e profissional.

2. Com outros profissionais de saúdePara além da relação com os gestores atrás referida, podemtambém pôr-se problemas na relação dos médicos com osenfermeiros, os farmacêuticos, os técnicos paramédicos (no-meadamente psicólogos e assistentes sociais), os administra-tivos, auxiliares, etc., quer a nível hospitalar, quer ambulató-rio ou de saúde pública. Há que ter posturas éticas nessesrelacionamentos e saber gerir eventuais conflitos.

3. Com outras entidades. Eventuais“gigantes sociais”As relações dos médicos com a comunicação social, com aindústria farmacêutica e técnica, e com a política, levantamproblemas éticos específicos e de grande actualidade, haven-do que salvaguardar princípios e valores e que afirmar atitu-

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des. Assim mesmo também se passa com a publicidade médi-ca, ou de interesses dos médicos.

Problemas éticos comuns na práticamédica de hojeConforme se afirmou no início deste trabalho, pretendemosenumerar e classificar alguns problemas éticos na práticamédica, lançando algumas pistas para reflexão mas sem en-trar na discussão dos problemas, demasiado extensa e con-troversa para um trabalho deste nível.No quadro 12 estão identificados problemas éticos comunsna prática médica de hoje, anteriormente classificados.

Bibliografia1. Esperança Pina, J. A. - A Responsabilidade dos Médicos(3° Edição), lidei, Lisboa, 2003.2. Ambroselli; Claire - L’éthique medicale, PressesUniversitaires de France, Paris, 1988.3. Archer, L., Biscaia, J. Osswald, W. - Bioética, EditorialVerbo, Lisboa, São Paulo, 1996.4. Daniel Serrão - Responsabilidade Médica, AcçãoMédica, Ano LIV, 2, 5 - 17, 1990.5. Esperança Pina, J. A. - Os grandes problemas éticosda Medicina contemporânea, Nação e Defesa, 52: 3-15,1989.6. Gonçalves Ferreira, F. A. - História da Saúde e dosServiços de Saúde em Portugal, Fundação CalousteGulbenkian, 1990.7. Kremer- Marietti, A. - L’étique, Presses Universitairesde France, Paris, 1987.8. León, A. - Ética em Medicina, Editorial Cientifico -Médico, Barcelona, Madrid, Lisboa, Rio de Janeiro,México, 1973.9. Mendes Silva, M. - Aspectos Éticos na Prática MédicaUrológica - Visão Sintética, Acta Urológica Portuguesa,22; 1: 9-16, 2005.10. Peiro, Francisco - Deontologia Médica, Livraria Cruz,Braga, 1966.11. Pinto, J. R. Costa - Questões actuais de Ética Médica,Editorial A. O., Braga, 1979.12. Segreccia, E. - Manual de Bioética, Edições Loyola,São Paulo, 1996.13. Villey, R. - Deontologie Médicale, Masson, Paris, NewYork, Barcelona, Milan, México, Rio de Janeiro, 1982.14. Código de Registo Civil, Editora Almedina, Coimbra,1997. 15. Código Penal, Editora Rei dos Livros, Lisboa,1995.16. Estatuto de Ordem dos Médicos, Dec. Lei n° 282/77, 5Jul1977.17. Código Deontológico da Ordem dos Médicos, Dec.Lei n° 282/77, 5Jul1977, Revista Ordem dos Médicos,27 Março 2002 (suplemento).18. Bases do Serviço Nacional de Saúde, Lei 56/79,15Set1979.19. Lei de Bases da Saúde, Lei 48/90, 24Ago1990.20. Estatuto do Serviço Nacional de Saúde, Dec. Lei n°11/93, 15Jan1993.21. Constituição da República Portuguesa, Saúde, Art.°64°, 1997.22. Estatuto Disciplinar dos Médicos, Dec. Lei 217/94,20Ago1994.23. Ensaios Clínicos, Dec. Lei 97/94, 9Abr1994.24. Ensaios Clínicos, Lei 46/04, 19Ago2004.25. Pareceres do Conselho Nacional de Ética para asCiências da Vida, 1991, 92, 93, 94, 98 e seguintes.

Conhecê-los, reflectir sobre eles, discuti-los, é o prólogo paraaplicar na prática os princípios e os valores éticos que infor-mam a nossa tão nobre profissão. E á laia de conclusão, ilus-trando com a cena bíblica do sacrifício de Isaac por Abraão,em que o Anjo impede que Abraão sacrifique Isaac (Rembrant,seco XVII): ...Que nunca se nos coloque o dilema ético dematar o filho para obedecer a Deus, mas se um dia essedilema se nos colocar, que o Anjo (a Consciência) nos façatomar a decisão acertada que no fundo corresponde aosverdadeiros desígnios de Deus...

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Qu’ é das disfunções erécteis do meupaís estranho,Onde estão elas que não vêm consultar?

2002. Disfunção eréctil. Simpósio sa-télite do XIX Encontro Nacional de Clí-nica Geral, patrocinado pela Pfizer, pro-dutora do Viagra®.

Jun 2005 «Não há número sufici-ente de consultas»

Estima-se que 300 milhões de homensno mundo tenham disfunção eréctil.São números assustadores.Com o aparecimento do Viagra®, em1998, houve uma grande revolução.O Viagra® é uma coisinha muito simples,com 80 a 90% de êxito.«TM» — As pessoas passam a acorrermais às consultas de sexologia, mas de-pois deparam-se com a escassez destas.SM — Exactamente. Não há número su-ficiente de consultas para dar resposta.TM 1.ºCADERNO de 2005.06.150510951C18105ABV24C

Jun 2005 “Metade dos homens dos40 aos 69 anos sofre de disfunçãoeréctil” revela o primeiro estudo de pre-valência deste distúrbio em Portugal, fi-nanciado pela Fundação para a Ciência eTecnologia e pelos laboratórios Pfizer.Para o coordenador do estudo, o direc-tor do Serviço de Endocrinologia do Hos-pital SM a baixa sensibilização para o pro-blema em Portugal é notória tanto pelafraca adesão a consultas de andrologia,como pelo baixo consumo de fármacospara a disfunção eréctil, comparativamen-te com outros países ocidentais.“É preciso que os médicos passem a in-dagar sobre a vida sexual dos seus doen-tes”http://jornal.publico.clix.pt/noticias.asp?a=2005&m=06&d=18&uid=&id=26189&sid=2883

Dez 2005 «Onde é que eles estão?»

H I S T Ó R I A S d a H I S T Ó R I A

A oferta em busca da procura– acto médico condicionado H. Carmona da Mota

Segundo um estudo epidemiológico pro-movido pela Sociedade Portuguesa deAndrologia e patrocinado pela Pfizer, ha-verá mais de 400 mil homens comdisfunções sexuais. «Se é verdade que há 300 ou 400 milhomens com disfunção eréctil, a pergun-ta, que nós (SPA) há muito tempo faze-mos, é: onde é que eles estão ?

TM 1.º CADERNO de 2005.12.070511351C08105PR49A

O bazar must go on; se a montanha nãovem a Maomé, vai Maomé à montanha.

Em 1962 ainda não havia Viagra.

Eu era médico do regimento de Luanda(RIL), recém chegado e recém formado.Á minha frente estava um soldado africa-no, impecavelmente fardado que, em sen-tido, me entregou um bilhete sem nadadizer. Intrigado, comecei a ler:

Começo por pedir releve-me V. Senhoriao encómodo que faço e o bom tempoque por meio desta venho roubar.Encontro-me muito atrapalhado SenhorDoutor! Sou solteiro amigado há coisa

de um mês e acho-me incompetente. Écerto quanto informo estar sem tesãosuficiente. Claro como digo, sempre quechegasse a sensação de querer efeituar acontacto sexual, perdia a força brusca-mente. A pichota tem levantado mas, nãotem sido capaz de resistir 3 ou 2 minutosde tesagem.

A dificuldade foi não desatar à gargalha-da; é estúpido mas foi o que aconteceu.Lá consegui conter-me quando me deiconta que tinha que ajudar a resolver esteproblema novo para mim, que só conhe-cia dos livros. Voltei a folha:

O sexo por acaso não apresenta doresde espécie algum. Tenho orinado muito àvontade sem dores. Tenho notado sem-pre quando desejasse foder, antes de apro-ximar ao sítio principal o sexo levantamas, depois de consentrado, perde totalis-simamente a força e desta maneira nadaconsigo.Com isto senhor Doutor tenho passadomal o meu tempo, pensando.Assim, apresento à V. Senhoria a minha tris-teza queixa em virtude de bocalmente àpresência de V. Senhoria não poder falar.

A consulta foi demorada (para aquietaro rapaz e para arquitectar a estratégia –o que é que o meu pai – meu mestre emproblemas estranhos – faria?) o prognós-tico foi optimista e a terapia (com con-sentimento não informado) incluiu umamissão de dois meses numa Companhiana Muxima. Ali há uma igreja dedicada àSrª da Conceição, mais conhecida comoSrª da Muxima* (coração em Kimbundo),é uma das de maior devoção popular emAngola.Com a benção da padroeira ou não, al-guns meses depois anunciou-me o bapti-zado.*http://www.paroquias.org/forum/read.php?1,347,347

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O Oriente não me fascina assim por aíalém. Minto, se disser que não gosto daAustrália. Mas, esse país-continente, quetambém fica do lado onde nasce o sol,situa-se no outro hemisfério e a maioriados habitantes não tem os olhos em bico.Prometo, para breve, uma história decorais e de crocodilos!Mas, desta vez, não vou falar da Austrália,vou falar de uma viagem que fiz ao Japão!Mais um congresso! Desta vez sobreAsma e numa cidade que não diz nada àmaioria das pessoas: Maebashi! Quase nãoa vi no mapa quando andei à sua procuradurante a preparação da viagem. Tambémnesse tempo ainda não havia a Internet ea pesquisa era difícil. E foi numa revistade automóveis que encontrei referênci-as: ali situa-se a fábrica de uma marca deautomóveis, a Subaru!Ao contrário da China que não me en-tusiasma muito, o Japão sempre me des-pertou curiosidade... talvez as reminis-cências da diáspora! Esqueço PearlHarbour, Hiroshima e Nagasaki e vejo--me português de quinhentos a chegar aterra estranha e desconhecida.Não exagero se disser que nunca me ti-nha curvado tanto na minha vida comonaquelas dez dias que por lá passei... oinclinar da cabeça, o curvar do tronco...uma forma elegante e cerimoniosa decumprimento e de expressão de respei-to das pessoas umas pelas outras... Penaos portugueses que de lá tanta coisa trou-xeram, não tivessem sabido importar estegesto saudável de cumprimento e res-peito.Dois dias em Tóquio, o suficiente paraver o essencial, circular em estradas comportagem dentro da própria cidade,reaprender a utilização dos pauzinhospara comer (nos restaurantes japonesesnão há faca e garfo), andar no metro, cir-cundar o palácio imperial... e o supra--sumo, comer o tal bife de vaca massajadae alimentada a cerveja!Depois, o trem bala a caminho daMeabashi. A chegada junto do local do

Congresso coincidiu com a saída das cri-anças de uma escola... todos arrumadi-nhos, a farda elegante, o chapéu, comosoldadinhos a sair do quartel... e o des-troçar sucedeu quase de imediato quan-do se aperceberam da nossa presença...um atravessar atento da rua e, ei-los aonosso lado a tocarem as nossas mãos, aolharem com insistência o nosso rosto, onosso olhar circular, redondo... para algu-mas daquelas crianças éramos os primei-ros ocidentais que eles tinham a oportu-nidade de ver ao perto e tocar... Senti--me uma raridade exótica!Num dia de folga do Congresso, o grupode portugueses resolveu alugar um au-tocarro com motorista e ir visitar umcentro de importante religiosidade paraos japoneses, o Santuário de Nikko. Cul-turas e tradições religiosas muito dife-rentes das nossas, um cavalo endeusado,mas a mesma necessidade de comérciode imagens e de recordações...Surpresa agradável... o reencontro comos pirolitos de bola da minha infância... tale qual como os nossos com a pequenadiferença que os pirolitos japoneses, nãoque tivessem a bola em bico, mas tinham--na protegida por um carapuço em látex...tal e qual como se de um preservativo setratasse... convenci a simpática japonesaa vender-me uma garrafa (que não erapermitido levar, tinha de ser bebido ali)depois de um complicado gesticular. Agarrafa ainda a guardo na minha caixa derecordações, como uma preciosidade.A seguir a este episódio, no mínimo nos-tálgico, um deambular pelas tendas derecordações... um buda aqui, uma bonecade pasta de papel noutra tenda, meia dú-zia de recordações para os amigos... mas,a procura de um sapo em jade demoroumais a minha presença num dos exposi-tores... do outro lado a vendedora olhava--me com atenção, não com atitude vigi-lante mas com ar intrigante e curioso... enão resistiu... com o passo miúdo e bre-ve, a senhora, de quimono tradicional e jácom ar de pessoa bastante idosa, dirigiu-

-se-me e perguntou: Amarican? De inícionão entendi porque a pronúncia não cor-respondia ao escrito... mas lá percebi queme perguntava se era americano. Respon-di que não, que era português, de P O RT U G A L. Um sorriso abriu-lhe o olharde espanto e satisfação e fez-me sinal paraesperar um pouco na linguagem univer-sal dos gestos e, passado algum tempo,surge do interior da barraquinha ondetinha entrado, com um bolo na mão eofereceu-mo.Fiquei surpreso, agradeci-lhe com profun-das vénias e fui a correr para junto doautocarro, onde o grupo dos portugue-ses já me aguardava com alguma impaci-ência. Comi o bolo, uma espécie de pãode ló em tamanho de queque ou bolo dearroz, contei o episódio aos meus com-panheiros de viagem e a coisa ficou poraqui. Na altura pensei que, devido à suaprovecta idade, a senhora soubesse, pelatradição, da vinda dos portugueses atéao Japão na época dos descobrimentos,ou qualquer coisa no género...Esta história contei-a centenas de vezese sempre a mesma questão: porque ra-zão a velhota me teria oferecido o bolo?Sem resposta fiquei durante anos.Um dia, de conversa com um colega quetinha vivido em Macau durante algunsanos e um profundo conhecedor dospovos do Oriente, conto-lhe a história e,mesmo antes de a terminar, ele vira-separa mim e pergunta-me:- tu sabes que bolo a mulher te deu?- não!, respondi- deu-te um “castela”!- “castela”? perguntei eu- sim, um “castela”, um bolo parecido como pão de ló, feito com farinha, açúcar, ovose claras em castelo e que foi levado pelosportugueses até ao Japão e ficou comoum bolo tradicional. De tudo isto ficou o “castela“ das claras,uma das cerca de quatrocentas palavrasportuguesas que entram no vocabuláriojaponês... do arigatô (obrigado) ao buton(botão)... coisas da diáspora!

De vez em quando... eu conto uma história!

... o castela! Raul de Amaral-MarquesMédico Pneumologista e Imuno-Alergologista

C O N T O S

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CONSULTÓRIO JURÍDICO

Foi solicitada a este Departamentoanálise e parecer sobre uma situaçãoexposta por uma médica, relativamenteàs informações clínicas veiculadas porum Hospital a pedido do doente.

Refere a consulente – Médica de Fa-mília, que o Hospital não transmite aintegralidade da informação com inte-resse para o seguimento do paciente.

Em concreto, quando o paciente soli-cita informação clínica ao Hospital estenão a fornece ao doente mas sim aoseu Médico de Família. Não obstante,os elementos facultados são fotocó-pias de algumas páginas do processoclínico do paciente (fotocópias de no-tas de seguimento, de resultados deanálises ou de requisições de exames)e não um relatório devidamente or-ganizado e que permita uma continui-dade da prestação de cuidados.

A médica em causa pede orientaçãosobre o procedimento a ter peranteesta actuação do Hospital.

Apreciemos, pois, a questão que nosfoi colocada.

É doutrina assente na O.M. ter o do-ente direito a conhecer os dados queo seu processo clínico contém e ter omédico o dever de sobre ele produzirinformação inteligível e objectiva asolicitação daquele.

É também pacífico que o acesso à in-formação de saúde por parte do do-ente, ou de terceiros com o seu con-sentimento, deve ser sempre feito atra-vés de médico, escolhido pelo titularda informação.

Decorre, ainda, de posições já assumi-das pela Ordem dos Médicos que a

Direito à informação de saúdeComunicação de informações entre colegas

transferência de informação entre doiscolegas deverá ser feita a pedido dodoente e através de resumo, com basena ficha clínica.

Em suma e como diz o art. 78º doCódigo Deontológico “Sempre que ointeresse do doente o exija, o Médicodeve comunicar sem demora a qual-quer outro médico assistente, os ele-mentos do Processo clínico necessá-rios à continuidade dos cuidados.”

Era, pois, deste modo que o Hospitaldeveria disponibilizar a informação,designadamente aos Médicos de Fa-mília, ou seja, através de relatório queabranja, os dados necessários a quepossa ser dada continuidade à presta-ção de cuidados de saúde ao doente.

Os artigos 2º, 3º e 5º da Lei 12/2005,de 26 de Janeiro, sobre InformaçãoGenética e Informação da Saúde, vãotambém no sentido acima indicado,nomeadamente no que se refere àmatéria aqui tratada.

Na sequência de ofício remetido pelaSr.ª Presidente do Conselho Regionaldo Sul ao Director Clínico do Hospi-tal, este veio esclarecer os procedi-mentos que usualmente são seguidosna instituição.

Assim e de acordo com a referidamissiva, toda a informação de natu-reza c l ín ica só é enviada /disponibilizada a médicos (entre ou-tros) após prévia apreciação e con-cordância da Direcção Clínica, sen-do que normalmente a transmissãoé efectuada através de relatório mé-dico ou, por razões de celeridade, decópia do processo clínico.

Mais refere que o envio dos meios

complementares de diagnóstico oudas respectivas cópias está expres-samente previsto no art.º 77.º doCódigo Deontológico.

Ora, salvo o devido respeito, parece--nos que os procedimentos seguidosno Hospital deveriam distinguir entrea informação clínica que deve ser vei-culada aos médicos assistentes dosdoentes, designadamente aos médicosde família, com vista à continuidade daassistência e todas as demais situações.

Na verdade, o que está em causa nocaso concreto é a existência de situa-ções em que falta a integralidade dainformação necessária e com interes-se para o seguimento do paciente.

Sendo que, como anteriormente já foireferido, tal informação deverá sertransmitida sem demora, não encon-tramos justificação razoável para que,por regra, a mesma careça de prévioconsentimento e aprovação da direc-ção clínica, desde que ela seja organi-zada / elaborada por médico assisten-te ou responsável da equipa médicaque prestou assistência ao doente.

Por outro lado, é preferível que sejamelaborados relatórios, mas nada obstaa que por razões de celeridade, a in-formação seja constituída por cópia doprocesso clínico, desde que organiza-da e autorizada pelo médico respon-sável pela assistência prestada.

Aquilo que é fundamental é que, nes-te caso, seja remetida cópia integraldo processo clínico e não apenas umasfolhas ou cópias dos meios comple-mentares de diagnóstico.

A Consultora JurídicaPaula Quintas

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As declarações modelo 3 de IRS, respeitantes aos rendimentosde 2005, poderão ser entregues na Ordem dos Médicos, Aveni-da Gago Coutinho, n.º 151, Lisboa, nos seguintes dias úteis:

1ª FaseDias 7 a 14 de Março inclusive – das 18h30 às 20h30

2ª FaseDias 14 a 28 de Abril inclusive – das 18h30 às 20h30

Devido a dados importantes para a entrega das declarações,transcreve-se a seguinte portaria:

Ministério das Finanças e da Administração PúblicaPortaria nº 1287/2005 de 15 de Dezembro

Nos termos do artigo 57.º do Código do Imposto sobre oRendimento das Pessoas Singulares, os sujeitos passivos devemapresentar, anualmente, uma declaração de modelo oficial rela-tiva aos rendimentos do ano anterior. Para 2006, mostra-senecessário proceder à actualização do modelo da declaraçãomodelo n.º 3 e de alguns dos anexos, bem como actualizar asrespectivas instruções de preenchimento.Assim:Manda o Governo, pelo Ministro de Estado e das Finanças, nostermos do artigo 8.º do Decreto-Lei n.º442 – A/88, de 30 deNovembro, e do n.º1 do artigo 144º do Código do Impostosobre o Rendimento das Pessoas Singulares, o seguinte:1.º São aprovados os seguintes novos modelos de impressos aque se refere o n.º 1 do artigo 57.º do Código do IRS:a) Declaração modelo n.º 3 e respectivas instruções de preen-chimento;b) Anexo B (rendimentos empresariais e profissionais auferidospor sujeitos passivos abrangidos pelo regime simplificado ouque tenham praticado actos isolados) e respectivas instruçõesde preenchimento;c) Anexo C (rendimentos empresariais e profissionais auferidospor sujeitos passivos tributados com base na contabilidade or-ganizada) e respectivas instruções de preenchimento;d) Anexo G (mais-valias e outros incrementos patrimoniais) erespectivas instruções de preenchimento;e) Anexo G1 (mais-valias não tributadas e manifestações defortuna) e respectivas instruções de preenchimento;f) Anexo H (benefícios fiscais e deduções) e respectivas instru-ções de preenchimento;g) Anexo I (herança indivisa) e respectivas instruções de preen-chimento;h) Anexo J (rendimentos obtidos no estrangeiro) e respectivasinstruções de preenchimento.

Entrega de declaração de IRS2.º São mantidos em vigor os modelos dos seguintes anexos,aprovados pela Portaria n.º 1461/2004, de 11 de Dezembro:a) Anexo A (rendimentos do trabalho dependente e de pen-sões) e respectivas instruções de preenchimento;b) Anexo D (imputação de rendimentos de entidades sujeitasao regime de transparência fiscal e de heranças indivisas) e res-pectivas instruções de preenchimento;c) Anexo E (rendimentos de capitais) e respectivas instruçõesde preenchimento;d) Anexo F (rendimentos prediais) e respectivas instruções depreenchimento.

3.º Os impressos aprovados pela presente portaria apenas de-vem ser utilizados a partir de 1 de Janeiro de 2006 e destinam--se a declarar os rendimentos dos anos 2001 e seguintes.4.º Os impressos ora aprovados constituem modelo exclusivoda Imprensa Nacional-Casa da Moeda, S.A., e, quando entre-gues em suporte de papel, integram original e duplicado, deven-do este ser devolvido ao apresentante no momento da recep-ção, depois de devidamente autenticado.5.º Os sujeitos passivos de IRS titulares de rendimentos empre-sariais ou profissionais determinados com base na contabilida-de, bem como pelo regime simplificado de tributação, quando omontante ilíquido desses rendimentos seja superior a €10.000e não resulte da prática de acto isolado, ficam obrigados a envi-ar a declaração de rendimentos dos anos 2001 e seguintes portransmissão electrónica de dados.6.º Para efeitos do disposto no número anterior, o sujeito pas-sivo e o técnico oficial de contas, nos casos em que a declaraçãodeva por este ser assinada, serão identificados por senhas atri-buídas pela Direcção-Geral dos Impostos.7.º Os sujeitos passivos não compreendidos no n.º 5.º podemoptar pelo envio da declaração modelo n.º3 e respectivos ane-xos por transmissão electrónica de dados.8.º Os sujeitos passivos que utilizem a transmissão electrónicade dados devem:

a) Efectuar o registo, caso ainda não disponham de senha deacesso, através da página «Declarações electrónicas» no ende-reço www.e-financas.gov.pt;b) Possuir um ficheiro com as características e estrutura deinformação, a disponibilizar no mesmo endereço;c) Efectuar o envio de acordo com os procedimentos indicadosna referida página.

9.º Quando for utilizada a transmissão electrónica de dados, adeclaração considera-se apresentada na data em que é subme-tida, sob condição de correcção de eventuais erros no prazo de30 dias. Se, findo este prazo, não forem corrigidos os errosdetectados, a declaração é considerada sem efeito.

CONSULTADORIA FISCAL

56 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Janeiro 2006

L E G I S L A Ç Ã OPUBLICADA EM NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2005Vasco Coelho - Consultor Jurídico S. R. S.

Novembro - 1.ª Série

Decreto-Lei n.º 179/2005, de 2005-11-02Ministério das Finanças e da Administração Pública

Altera os artigos 78.º e 79.º do Estatuto da Aposentação, definin-do as condições de exercício de funções públicas ou de trabalhoremunerado por aposentados, em quaisquer serviços do Estado,pessoas colectivas públicas ou empresas públicas

Portaria n.º 1140/2005, de 2005-11-07Ministério da Saúde

Classifica como hospital central o Hospital de São Teotónio, S. A.,de Viseu

Decreto n.º 25-A/2005, de 2005-11-08Ministério dos Negócios Estrangeiros

Aprova a Convenção Quadro da Organização Mundial de Saúdepara o Controlo do Tabaco, adoptada em Genebra, pela 56.ª As-sembleia Mundial de Saúde, em 21 de Maio de 2003Decreto Legislativo Regional n.º 20/2005/M, de 2005-11-

-25Região Autónoma da Madeira - Assembleia Legislativa

Altera o regime e orgânica do Serviço Regional de Saúde, aprova-do pelo Decreto Legislativo Regional n.º 9/2003/M, de 27 de Maio

Decreto-Lei n.º 205/2005, de 2005-11-28Ministério da Economia e da Inovação

Estabelece o regime de instalação e funcionamento bem como osrequisitos de segurança a que devem obedecer os estabelecimen-tos que prestem aos consumidores o serviço de bronzeamentoartificial mediante a utilização de aparelhos bronzeadores queemitem radiações ultravioletas em qualquer das suas modalidades

Novembro - 2.ª série

Despacho n.º 23035/2005, de 2005-11-08Ministério da Saúde - Gabinete do Ministro

Nomeia a coordenadora nacional para a Saúde das Pessoas Idosase dos Cidadãos em Situação de Dependência, define as suas com-petências e determina o seu programa específico.

Despacho n.º 23038/2005, de 2005-11-08Ministério da Saúde - Gabinete da Secretária de Estado Adjunta

e da SaúdeDelegação de competências no secretário-geral do Ministério daSaúde, licenciado Rui Manuel Andrade Gonçalves.

Despacho n.º 23112/2005, de 2005-11-09Ministério da Saúde - Administração Regional de Saúde de Lisboa

e Vale do TejoDelegação de competências, com a faculdade de subdelegação emtodos os níveis do pessoal dirigente, nos coordenadores sub--regionais de saúde de Lisboa, de Setúbal e de Santarém, respecti-vamente licenciados Maria Manuela Cunha Vasconcelos Peleteiro,Rui António Correia Monteiro e Fernando Manuel de AlmeidaAfoito, no âmbito das respectivas sub-regiões. O presente despa-cho produz efeitos a partir de 2 de Maio de 2005, ficando por estemeio ratificados todos os actos que no âmbito dos poderes dele-gados e subdelegados tenham sido praticados pelos referidos diri-gentes.

Despacho n.º 23113/2005, de 2005-11-09Ministério da Saúde - Administração Regional de Saúde de Lisboa

e Vale do TejoDelegação de competências, com a faculdade de subdelegação emtodos os níveis de pessoal dirigente, nos vogais do conselho deadministração, licenciados Maria de Lourdes Caixaria Bastos, Fran-

cisco Manuel da Cruz Ferreira Crespo, Maria Margarida GomesFragoso Mendes e Ana Maria dos Santos Pereira Nunes.

Aviso n.º 9953/2005, de 2005-11-10Ministério da Saúde - Secretaria-Geral

Torna pública a abertura do concurso para ingresso no internatomédico em Janeiro de 2006 - ano comum.

Aviso n.º 10149/2005, de 2005-11-15Ministério da Saúde - Secretaria-Geral

Torna pública a abertura do concurso extraordinário do internatomédico 2006 - formação específica.

Despacho n.º 23455/2005, de 2005-11-15Ministério da Saúde - Alto Comissariado da Saúde

Cria a Comissão para a Formulação do Programa Nacional dePrevenção das Infecções Nosocomiais (adiante designada abrevia-damente por Comissão), constituída paritariamente por especia-listas, representantes da Direcção-Geral da Saúde e do InstitutoNacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.

Despacho n.º 23549/2005, de 2005-11-18Ministério da Saúde - Gabinete do Ministro

Nomeia, em comissão de serviço, subdirector-geral da Saúde oProf. Doutor Paulo de Lys Girou Martins Ferrinho

Aviso n.º 10229/2005, de 2005-11-18Ministério da Saúde - Secretaria-Geral

Faz pública a constituição do júri do concurso extraordinário deingresso no período de formação específica do internato médicoem 2006, nomeado por despacho do secretário-geral do Ministé-rio da Saúde de 22 de Outubro de 2005

Despacho n.º 23550/2005, de 2005-11-18Ministério da Saúde - Gabinete do Ministro

Nomeia, em comissão de serviço, subdirectora-geral da Saúde alicenciada Maria da Graça Gregório de Freitas.

Despacho conjunto n.º 980/2005, de 2005-11-21Ministérios da Justiça e da Saúde

Constituí a comissão para acompanhamento da execução do regi-me jurídico do internamento compulsivo, prevista no capítulo II daLei da Saúde Mental, que terá sede em Lisboa, nas instalações daDirecção-Geral da Saúde.

Aviso n.º 10578/2005, de 2005-11-24Ministério da Saúde - Secretaria-Geral

Altera o aviso de abertura do concurso para ingresso no interna-to médico em Janeiro de 2006 - ano comum, publicado no Diárioda República, 2.ª série, n.º 216, de 10 de Novembro de 2005, sob on.º 9953/2005 (2.ª série).

Dezembro - 1.ª Série

Portaria n.º 1272/2005, de 2005-12-06Ministério da Saúde

Estabelece a composição, nomeação de membros e peritos, com-petências e funcionamento da Comissão Técnica de Cosmetologia,prevista no artigo 27.º do Decreto-Lei n.º 142/2005, de 24 deAgosto. Revoga a Portaria n.º 629/2001, de 23 de Junho

Decreto-Lei n.º 213/2005, de 2005-12-09Ministério da Saúde

Cria um regime excepcional e transitório para a contratação deempreitadas de obras públicas, fornecimento de bens e aquisiçãode serviços destinados ao desenvolvimento das experiências pilo-to em execução e cumprimento dos objectivos da Comissão parao Desenvolvimento dos Cuidados de Saúde às Pessoas Idosas e àsPessoas em Situação de Dependência, aprovados pela Resoluçãodo Conselho de Ministros n.º 84/2005, de 27 de Abril.

Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Janeiro 2006 57

Decreto-Lei n.º 212/2005, de 2005-12-09Ministério da Justiça

Estabelece o regime jurídico do subsistema de saúde dos ServiçosSociais do Ministério da Justiça

Resolução do Conselho de Ministros n.º 187/2005, de2005-12-12

Presidência do Conselho de MinistrosLimita o exercício de outras actividades por parte de membrosdos órgãos de administração das empresas que integram o sectorempresarial do Estado, aplicando-se ainda esta orientação, com asdevidas adaptações, aos membros dos conselhos directivos dosinstitutos públicos

Lei n.º 57/2005, de 2005-12-13Assembleia da República

Altera o artigo 21.º do Código do IVA, aprovado pelo Decreto-Lein.º 394-B/84, de 26 de Dezembro, no sentido de consagrar o direi-to à dedução de despesas com biocombustíveis e de reajustar oregime do direito à dedução de despesas resultantes da organiza-ção e participação em congressos, feiras, exposições, seminários econferências

Portaria n.º 1288/2005, de 2005-12-15Ministérios das Finanças e da Administração Pública e da

Economia e da InovaçãoAprova o modelo, edição, preço, fornecimento e distribuição dolivro de reclamações a ser disponibilizado pelos fornecedores debens e prestadores de serviços abrangidos pelo Decreto-Lei n.º156/2005, de 15 de Setembro

Portaria n.º 1289/2005. de 2005-12-15Ministérios da Justiça e da Saúde

Declara instalado o Gabinete Médico-Legal de Castelo BrancoPortaria n.º 1301/2005, de 2005-12-20

Ministérios da Economia e da Inovação e da SaúdeRegulamenta o Decreto-Lei n.º 205/2005, de 28 de Novembro,que estabelece o regime de instalação e funcionamento bem comoos requisitos de segurança a que devem obedecer os estabeleci-mentos que prestem aos consumidores o serviço de bronzea-mento artificial mediante a utilização de aparelhos bronzeadoresque emitem radiações ultravioletas (UV) em qualquer das suasmodalidades.

Portaria n.º 1311/2005, de 2005-12-22Ministérios das Finanças e da Administração Pública e da Saúde

Altera o quadro de pessoal da Administração Regional de Saúdede Lisboa e Vale do Tejo, serviços de âmbito sub-regional de saúdede Lisboa e Centros de Saúde de Amadora, Lourinhã, Penha deFrança, Sintra, Torres Vedras, Venda Nova, Ajuda, Pêro Pinheiro,Benfica, Almada e Cova da Piedade. Revoga a Portaria n.º 885/2003, de 25 de Agosto.

Decreto-Lei n.º 222/2005, de 2005-12-27Ministério da Economia e da Inovação

Transpõe para a ordem jurídica nacional a Directiva n.º 2004/96/CE, da Comissão, de 27 de Setembro, e altera o Decreto-Lei n.º264/98, de 19 de Agosto, no que respeita à limitação da colocaçãono mercado e da utilização de níquel nos conjuntos de piercing

Portaria n.º 1326/2005, de 2005-12-28Ministério da Saúde

Regula o concurso de ingresso no internato médico com inícioem Janeiro de 2006 para efeitos de escolha do estabelecimentopara a frequência do ano comum.Nota retirada do preâmbulo deste diploma: “Verificando-se que,excepcionalmente, ainda se mantêm as circunstâncias que impe-dem que os médicos que vão iniciar o internato médico em Janei-

ro de 2006 realizem o exame a que se refere o n.º 1 do artigo 12.ºno 4.º trimestre de 2005, torna-se necessário estabelecer as re-gras a que deve obedecer a tramitação do correspondente con-curso, bem como fixar os critérios que devem presidir à seriaçãodos candidatos para efeitos de escolha do estabelecimento para afrequência do ano comum”.

Portaria n.º 1327/2005, de 2005-12-28Ministérios da Saúde e da Cultura

Altera para três anos o prazo mínimo de conservação dos docu-mentos relativos a prescrição de medicamentos e requisições deMCD/AT/consultas, referenciados com o n.º 43 na tabela anexa àPortaria n.º 835/91, de 16 de Agosto (Regulamento Arquivístico daex-Direcção-Geral dos Cuidados de Saúde Primários e das Admi-nistrações Regionais de Saúde).

Dezembro - 2.ª Série

Despacho n.º 24766/2005,de 2005-12-02Ministério da Saúde - Gabinete do Ministro

Designa várias personalidades para integrar a equipa que prestaráassessoria ao coordenador da Missão para os Cuidados de SaúdePrimários (MCSP).

Despacho n.º 25077/2005, de 2005-12-06Ministério da Saúde - Gabinete da Secretária de Estado Adjunta

e da SaúdeHomologa a rede de referenciação de psiquiatria e saúde mental.

Aviso n.º 11164/2005, de 2005-12-07Ministério da Saúde - Secretaria-Geral

Publicita o mapa de idoneidades/capacidades formativas e das va-gas a preencher pelos candidatos ao ingresso no período de for-mação específica do internato médico de 2005.

Despacho n.º 25417/2005, de 2005-12-12Ministério da Saúde - Gabinete do Ministro

Determina que seja autorizado o início do procedimento para aconstrução do novo Hospital de vila Franca de Xira, no âmbitodas parcerias público-privadas.

Despacho n.º 25822/2005, de 2005-12-15Ministério da Saúde - Gabinete do Secretário de Estado da

SaúdeClarifica as condições de comparticipação dos produtos dietéticosdestinados aos doentes afectados de erros congénitos do meta-bolismo, através da identificação das entidades prescritoras e dalista de produtos comparticipados, por forma a facilitar o circuitode conferência e pagamento de facturas.

Despacho n.º 25991/2005, de 2005-12-16Ministério da Saúde - Gabinete do Secretário de Estado da

SaúdeCria, no âmbito e na dependência directa do Instituto de GestãoInformática e Financeira da Saúde, a Unidade de Compras do Mi-nistério da Saúde, adiante designada Unidade de Compras, com amissão de, através de uma actuação transversal, promover o au-mento de eficácia, eficiência e transparência e a redução de custosdas aquisições pelos serviços e instituições do Serviço Nacionalde Saúde e do Ministério da Saúde, bem como compatibilizar estapolítica de compras centralizadas com a política global das com-pras públicas.

Despacho n.º 26566/2005, de 2005-12-23Ministério da Saúde - Gabinete da Secretária de Estado Adjunta

e da SaúdeRevê a composição do Conselho Ético e Profissional de Odon-tologia,

58 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Janeiro 2006

AAAAA G E N DG E N DG E N DG E N DG E N D AAAAA

PATROCÍNIOS CIENTÍFICOS - 2006

EVENTO: XV Jornadas Internacio-nais de AteroscleroseLOCAL: Auditório dos HUCCoimbraDATA: 16 e 17 de FevereiroPARECER: favorávelORGANIZAÇÃO/CONTACTO:Rosalina Guedes; Tel: 239-400 438;Email [email protected]

EVENTO: IX Congresso de Psiquia-tria S. João de DeusLOCAL: Universidade Católica – Lis-boaDATA: 16 a 18 de Fevereiro de 2006PARECER: favorávelORGANIZAÇÃO/CONTACTO:Casa de Saúde da Idanha; Tel: 21 – 4328689; Fax:: 21 – 432 89 87

EVENTO: 7th INTERNACIONALConference on New Trens inImmunosuppression andImunohemotherapyLOCAL: BerlimDATA: 16 a 19 de Fevereiro de 2006PARECER: favorávelORGANIZAÇÃO/CONTACTO:Amgen Farmacêutica; Tel: 21 – 422 0550; Fax: 21 – 422 05 55

EVENTO: BMT Tandem MeetingsLOCAL: HonoluluDATA: 16 a 20 de FevereiroPARECER: favorávelORGANIZAÇÃO/CONTACTO:AMGEN Farmacêutica; Tel: 21 – 42205 50; Fax: 21 – 422 05 55

EVENTO: II Jornadas de Urologia deCoimbra e Medicina FamiliarLOCAL: Hotel D. Luis – CoimbraDATA: 17 e 18 de FevereiroPARECER: favorávelORGANIZAÇÃO/CONTACTO:Departamento Médico de Congressos;Tel: 21 – 358 43 80; Fax: 21 – 358 4389; E-mail: [email protected]

EVENTO: Jornadas da Sociedade Por-tuguesa do Acidente Vascular CerebralLOCAL: Viana do CasteloDATA: 17 e 18 de FevereiroPARECER: favorávelORGANIZAÇÃO/CONTACTO:

Soc.Port. Acidente Vascular Cerebral;Tel. 22 616 86 81; Fax: 22 – 616 86 83

EVENTO: I Jornadas Iberoamericanasde Cardiologia da BaíaLOCAL: Salvador da BaiaDATA: 20 a 22 de Fevereiro de 2006PARECER: favorávelORGANIZAÇÃO/CONTACTO:Departamento Médico de Congressos;Tel: 21 – 358 43 80; Fax: 21 – 358 4389; E-mail:[email protected]

EVENTO: 5th Genoa Meeting onHypertension, Diabetes and RenalDiseaseLOCAL: GenovaDATA: 23 a 25 de Fevereiro de 2006PARECER: favorávelORGANIZAÇÃO/CONTACTO:Amgen Farmacêutica; Tel: 21 – 422 0550; Fax: 21 – 422 05 55

EVENTO: Annual Conference onDialysisLOCAL: São Francisco – EUADATA: 26 a 28 de Fevereiro de 2006PARECER: favorávelORGANIZAÇÃO/CONTACTO:Amgen Farmacêutica; Tel: 21 – 422 0550; Fax: 21 – 422 05 55

EVENTO: XIII InternationalCongress on Metabolism andNutrition in Renal DiseasesLOCAL: Mérida – MéxicoDATA: 28 de Fevereiro a 4 de Marçode 2006PARECER: favorávelORGANIZAÇÃO/CONTACTO:Amgen Farmacêutica; Tel: 21 – 422 0550; Fax: 21 – 422 05 55

EVENTO: Jornada Internacional deDermatologia Clínica y Atención Pri-máriaLOCAL: Buenos AiresDATA: 7 a 9 de Março de 2006PARECER: favorávelORGANIZAÇÃO/CONTACTO:Associação Médica de CooperaçãoLusófona e Iberoamericana e Depar-tamento Médico de Congressos; Tel:21 – 358 43 80; Fax: 21 – 358 43 89

EVENTO: IX Jornadas de MedicinaInterna do FunchalLOCAL: FunchalDATA: 8 a 11 Março de 2006PARECER: favorávelORGANIZAÇÃO/CONTACTO:Serviço de Medicina II; Centro Hospi-talar do Funchal

EVENTO: X Jornadas de Cardiolo-gia e HTA de BejaLOCAL: BejaDATA: 16 e 17 de Março de 2006PARECER: favorávelORGANIZAÇÃO/CONTACTO:Instituto de Cardiologia Preventiva deAlmada; Tel: 21 – 274 32 55; Fax: 21 –274 32 23

EVENTO: XIII Congresso Nacionale I Congresso Ibero-Italiano de Cirur-gia Oral e MaxilofacialLOCAL: Hotel meridien – PortoDATA: 16 a 18 de Março de 2006PARECER: Favorável

EVENTO: 4th InternationalSymposium on targeted AnticancerTherapiesLOCAL: AmesterdãoDATA: 16 a 18 de MarçoPARECER: favorávelORGANIZAÇÃO/CONTACTO:MercK SA; Tel: 21 – 361 35 00; Fax: 21– 361 36 65

EVENTO: Renal Physician’sAssociationLOCAL: Baltimore - USADATA: 18 a 20 de MarçoPARECER: favorávelORGANIZAÇÃO/CONTACTO:Amgen Farmacêutica;Tel: 21 – 422 0550; Fax: 21 – 422 05 55

EVENTO: Nephrology: A case BasedApproach for the NephrologistLOCAL: Flórida – USADATA: 19 a 22 de MarçoPARECER: favorávelORGANIZAÇÃO/CONTACTO:Amgen Farmacêutica; Tel: 21 – 422 0550; Fax: 21 – 422 05 55EVENTO: 5th European BreastCancer Conference

60 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Janeiro 2006

Ex.mo SenhorPresidente da Ordem dos Médicos/Director da Revista daOrdem do MédicosAssunto: Editorial “Europa”/Integração do Dr. Jaime Cor-reia de Sousa na Delegação Portuguesa à UEMO.No editorial da Revista da Ordem dos Médicos n.º 61, deOutubro de 2005, refere-se Vossa Ex.ª à conduta do Con-selho Regional do Norte da Ordem dos Médicos, visandoem particular o seu Ex-Presidente.Para todos os efeitos legais, e porque o referido editorialcontem omissões e imprecisões que põem em causa a ver-dadeira realidade dos acontecimentos relatados por vossaEx.ª no texto de que é responsável, vimos solicitar a publi-cação desta carta na Revista da Ordem dos Médico, en-quanto membros do CRN da Ordem dos Médicos no triénio1999-2001.Assim:1 - Como supomos ser do conhecimento de Vossa Ex.ª, arepresentação internacional da Ordem dos Médicos, pres-supõe que os representantes internacionais reunam o apoiodo Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos.Dito por outras palavras, as representações internacionaisno âmbito de organismos médicos, como o Comité Perma-nente dos Médicos da União Europeia ou a UEMO, sãoinstitucionais e não pessoais.

3 - Obedecendo a idêntico critério, o Conselho Regionaldo Norte, em conjunto com Vossa Ex.ª e com o ConselhoRegional da Sul a que presidia, propôs a substituição do Dr.Jaime Correia de Sousa na Presidência da UEMO, por ou-tro colega que reunisse a confiança do CNE da Ordem dosMédicos mas que, ao contrário do que Vossa Ex.ª afirma,não integrava o Conselho Regional do Norte.4 - Para que todos os médicos em geral, e Vossa Ex.ª emparticular, não tenham dúvidas quanto ao afirmado em 3)transcreve-se a acta do CNE de 30 de Janeiro de 1999,realizado em Coimbra:

“As Secções Regionais do Norte e Sul propõem a substi-

Recebeu a ROM, subscrita por médicos que integraram oanterior Conselho Regional do Norte, uma carta com exi-gência de publicação ao abrigo de direito de resposta (Leide Imprensa, Lei n.º 2/99, de 13 de Janeiro).Não seria necessária a invocação de tal direito legal dadoque a ROM é manifestamente aberta à publicação de arti-gos de opinião, promovendo o esclarecimento e mesmo acontrovérsia, desde que com a qualidade e elevação ade-quadas, claro.No caso vertente a autoria do desmentido sentiu-se inco-modada com um comentário que produzi referindo aintransigência que levou a uma anterior perda de presidên-cia portuguesa de uma associação internacional importan-

te. Este comentário integrava-se numa referência elogiosa,que entendi totalmente merecida, a um colega que fez par-te por diversas vezes do Conselho Regional do Norte e sededicou com todo o empenho à Ordem dos Médicos – oDr. Jaime Correia de Sousa.Dado o tom formal e jurídico que autoria do desmentidoentendeu dar à sua missiva, esta foi analisada pelaConsultadoria Jurídica, será publicada nos estritos termosda Lei e não terá da minha parte qualquer resposta ouexplicação já que as páginas da ROM são demasiado valio-sas para polémicas estéreis.

Dr. Pedro M. H. Nunes

tuição da Presidência da UEMO, entendendo o Senhor Bas-tonário que o Dr. Jaime Correia de Sousa deveria ter colo-cado o lugar à disposição. A Secção Regional do Centroentende que o Dr. Jaime Correia de Sousa deve manter-secomo Presidente da UEMO.Assim foi aprovado com os votos contra da Secção Regio-nal do Centro, o afastamento do Dr. Jaime Correia de Sou-sa da Presidência da UEMO e consequentemente de toda aequipa.Foram propostos o Dr. Jorge Bandeira, Dr. José Luís Ribei-ro Gomes e Dr.ª Manuela Gomes Santos, devendo as Sec-ções Norte e Sul apresentar uma proposta para a presi-dência da UEMO. A Secção Regional do Centro manifestouindisponibilidade para integrar a presidência e a represen-tação portuguesa.Os Conselhos Regionais vão indicar os seus elementos paraas várias organizações internacionais”.

Porque pretendemos crer que Vossa Ex.ª não está com lap-sos de memória e muito menos a agir, isto é, a escrever,com má fé, apenas queremos salientar que Vossa Ex.ª foium do proponentes da substituição do Dr. Jaime Correiade Sousa na presidência da UEMO, visto ter estado presen-te na referida reunião, conforme consta da citada Acta.5 - A decisão do CNE acima referida foi formalmente apre-sentada numa reunião da UEMO realizada no Porto, emque estiveram presentes para além do Dr. Miguel Leão, àdata Presidente do Conselho Regional do Norte da Or-dem dos Médicos, a Dr.ª Isabel Caixeiro (actual Presidentedo Conselho Regional do Sul), a Dr.ª Manuela Santos (mem-bro do Conselho Regional do Sul) e o Dr. José Luís Gomes,ex-Vice-Presidente do Conselho Regional do Sul da Or-dem dos Médicos.

Com os melhores cumprimentos

Alexandre Puga, Fátima Oliveira, José Manuel Machado Lopes,José Pedro Moreira da Silva, Miguel Galaghar, Miguel Guimarães,Miguel Leão, Nelson Pereira