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0 0 0 6 1 3 5 1 7 2 0 1 0 4 0 1 3 2 0 0 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO AMAZONAS Processo N° 0006135-17.2010.4.01.3200 - 7ª VARA FEDERAL - MANAUS Nº de registro e-CVD 00307.2018.00073200.2.00691/00128 S E N T E N Ç A S E N T E N Ç A Tipo A Tipo A Trata-se de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal contra Estado do Amazonas, Secretaria Estadual de Infraestrutura – SEINF , Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas – IPAAM, Construtora ETAM Ltda., e Construtora Amazônidas Ltda., por meio da qual pretende a recuperação de danos causados ao meio ambiente, mediante PRAD; a declaração de nulidade da Licença de Instalação expedida pelo IPAAM; ao pagamento de multa a título de ressarcimento pelos danos ambientais produzidos; indenização pelo dano moral coletivo e; alternativamente, o estabelecimento de medidas compensatórias. O MPF afirmou que o Estado do Amazonas está realizando obra de construção da Avenida das Torres, em Manaus, e provocando graves e irreparáveis danos ambientais em áreas protegidas e áreas de preservação permanente; que a obra está em desacordo com a licença ambiental expedida pelo IPAAM, visto que as recomendações e condicionantes estão sendo descumpridas e não há monitoramento por parte do órgão ambiental estadual. Juntou documentos (fls. 69/322). O IPAAM (fls. 340/348), o Estado do Amazonas (fls. 367/413), a Construtora ETAM Ltda. e a Construtora Amazônidas Ltda. (fls. 416/461), manifestaram-se pelo indeferimento do pedido liminar. O IBAMA (fls. 494/504) informou não possuir interesse no feito, acrescentando que no caso dos autos, tem-se que a construção da obra da Avenida das Torres no Município de Manaus/AM, causa impacto ambiental apenas local, não transcendendo áreas localizadas em outros estados, tampouco outros países”. A União (fls. 505/506) também informou não possuir interesse no feito, registrando que a destinação de verba federal ao Corredor Ecológico Urbano do Igarapé do Mindu, por si só, não impede a construção da Avenida das Torres, que já está quase finalizada. Não há qualquer menção quanto à utilização irregular ou não de recursos públicos federais repassados. Outrossim, constatado que o impacto da obra ao meio ambiente é apenas local, o licenciamento ambiental deve ser executado pelo órgão estadual, até eventualmente com a participação do órgão municipal, restando afastada a interveniência da União no processo de licenciamento”. A Construtora ETAM Ltda. e a Construtora Amazônidas Ltda. apresentaram ________________________________________________________________________________________________________________________ Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO HIRAM ARMÊNIO XAVIER PEREIRA em 17/12/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006. A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 16919173200236. Pág. 1/25 Justiça Federal/AM Fls.__2540______ Rub.___________

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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO AMAZONAS

Processo N° 0006135-17.2010.4.01.3200 - 7ª VARA FEDERAL - MANAUSNº de registro e-CVD 00307.2018.00073200.2.00691/00128

S E N T E N Ç AS E N T E N Ç ATipo ATipo A

Trata-se de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal contra Estado do Amazonas, Secretaria Estadual de Infraestrutura – SEINF, Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas – IPAAM, Construtora ETAM Ltda., e Construtora Amazônidas Ltda., por meio da qual pretende a recuperação de danos causados ao meio ambiente, mediante PRAD; a declaração de nulidade da Licença de Instalação expedida pelo IPAAM; ao pagamento de multa a título de ressarcimento pelos danos ambientais produzidos; indenização pelo dano moral coletivo e; alternativamente, o estabelecimento de medidas compensatórias.

O MPF afirmou que o Estado do Amazonas está realizando obra de construção da Avenida das Torres, em Manaus, e provocando graves e irreparáveis danos ambientais em áreas protegidas e áreas de preservação permanente; que a obra está em desacordo com a licença ambiental expedida pelo IPAAM, visto que as recomendações e condicionantes estão sendo descumpridas e não há monitoramento por parte do órgão ambiental estadual. Juntou documentos (fls. 69/322).

O IPAAM (fls. 340/348), o Estado do Amazonas (fls. 367/413), a Construtora ETAM Ltda. e a Construtora Amazônidas Ltda. (fls. 416/461), manifestaram-se pelo indeferimento do pedido liminar.

O IBAMA (fls. 494/504) informou não possuir interesse no feito, acrescentando que “no caso dos autos, tem-se que a construção da obra da Avenida das Torres no Município de Manaus/AM, causa impacto ambiental apenas local, não transcendendo áreas localizadas em outros estados, tampouco outros países”.

A União (fls. 505/506) também informou não possuir interesse no feito, registrando “que a destinação de verba federal ao Corredor Ecológico Urbano do Igarapé do Mindu, por si só, não impede a construção da Avenida das Torres, que já está quase finalizada. Não há qualquer menção quanto à utilização irregular ou não de recursos públicos federais repassados. Outrossim, constatado que o impacto da obra ao meio ambiente é apenas local, o licenciamento ambiental deve ser executado pelo órgão estadual, até eventualmente com a participação do órgão municipal, restando afastada a interveniência da União no processo de licenciamento”.

A Construtora ETAM Ltda. e a Construtora Amazônidas Ltda. apresentaram

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO HIRAM ARMÊNIO XAVIER PEREIRA em 17/12/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 16919173200236.

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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO AMAZONAS

Processo N° 0006135-17.2010.4.01.3200 - 7ª VARA FEDERAL - MANAUSNº de registro e-CVD 00307.2018.00073200.2.00691/00128

contestação (fls. 508/566), ocasião na qual arguiram a incompetência da Justiça Federal e ilegitimidade ativa do MPF. No mérito, afirmaram que atenderam às normas da legislação ambiental. Juntaram documentos (fls. 567/642).

O Estado do Amazonas (fls. 648/709), em contestação, arguiu ilegitimidade ativa do MPF, em decorrência da ausência de interesse federal na demanda; e a falta de interesse de agir do MPF, visto que, após a conclusão da obra, o Estado atuará para recompor as áreas degradadas, mediante PRAD. No mérito, alegou que se obrigou perante o IPAAM a recuperar as áreas degradadas. Juntou documentos (fls. 710/714).

O IPAAM apresentou contestação às fls. 729/773, oportunidade em que alegou ser o órgão competente para a expedição da licença. Juntou documentos (fls. 774/778).

Na decisão de fls. 842/849-v, foi indeferido o pedido liminar; foram afastadas as preliminares de incompetência da Justiça Federal e de ilegitimidade ativa do MPF; foi determinada a intimação da União e do IBAMA para informarem em que polo pretendem atuar na lide; e foi excluída a Secretaria do Estado de Infraestrutura – SEINF, por não possuir personalidade jurídica própria para figurar na ação.

O MPF (fls. 908/915) manifestou-se pela inclusão da União e do IBAMA no polo ativo e do Município de Manaus no polo passivo. Reconheceu, também, a perda do objeto em relação à suspensão e posterior anulação da L.I n. 005/08 do IPAAM.

O Estado do Amazonas (fls. 923/933) apresentou agravo retido contra a decisão de fls. 842/849-v, especificamente na parte que reconheceu a legitimidade do MPF e a competência da Justiça Federal para processar e julgar a causa.

Na decisão de fls. 935 foi determinada a inclusão do Município de Manaus no polo passivo, bem como a inclusão da União e do IBAMA no polo ativo.

O Município de Manaus apresentou contestação às fls. 942/961, ocasião na qual também arguiu a ilegitimidade ativa do MPF, bem como a ilegitimidade passiva para figurar na demanda. No mérito, alegou a inexistência de responsabilidade civil por parte do município, atribuindo essa responsabilidade ao Estado do Amazonas. Juntou documentos (fls. 962/1256).

A União (fls. 1259/1262-v) afirmou, novamente, não possuir interesse em integrar a lide e requereu a reconsideração da decisão de fls. 935. Às fls. 1268/1282, interpôs agravo de instrumento contra a referida decisão.

O IBAMA (fl. 1286) ratificou os termos da petição de fls. 494/504, e pleiteou a ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO HIRAM ARMÊNIO XAVIER PEREIRA em 17/12/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 16919173200236.

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Processo N° 0006135-17.2010.4.01.3200 - 7ª VARA FEDERAL - MANAUSNº de registro e-CVD 00307.2018.00073200.2.00691/00128

reconsideração da decisão de fls. 935, que o incluiu no polo ativo.

O MPF (fls. 1288/1291) apresentou contrarrazões ao agravo retido interposto pelo Estado do Amazonas.

Réplica ministerial às fls. 1293/1311. Juntou os documentos de fls. 1312/2062.

O IBAMA (fls. 2064/2079) interpôs agravo de instrumento contra a decisão de fls. 842/849-v e fl. 935.

À fl. 2082, o juízo manteve as decisões agravadas por seus próprios fundamentos. Acerca da preliminar de ilegitimidade passiva arguida pelo Município de Manaus, observou-se que ela se confunde com o mérito da ação, sendo rejeitada. Foi designada audiência de conciliação.

Realizada a audiência (fls. 2091/2093), foi concedido prazo para as tratativas do acordo.

O Estado do Amazonas (fl. 2106) e o Município de Manaus (fl. 2107) informaram acerca da impossibilidade de acordo. O Município de Manaus juntou documentos (fls. 2108/2252).

O MPF (fl. 2259) informou que as partes estavam realizando reuniões com a finalidade de celebrar acordo.

Foi realizada nova audiência de conciliação (fls. 2267/2268), sendo deferido o pedido do MPF para a suspensão do processo para as tratativas de acordo entre as partes.

O Estado do Amazonas (fls. 2292/2293), acerca da proposta de termo de ajustamento de conduta apresentada pelo MPF, manifestou-se no sentido de que a assinatura do TAC não seria necessária, visto que as medidas apresentadas já estavam sendo tomadas pelo Estado.

À fl. 2316, manifestação do MPF requerendo o prosseguimento do feito, pugnando pela análise posterior do cumprimento espontâneo das propostas do TAC, a fim de analisar eventual perda superveniente do objeto em relação ao Estado do Amazonas.

Na decisão de fls. 2317/2319, determinou-se o prosseguimento do feito, com a intimação das partes para apresentarem as provas que pretendem produzir.

Às fls. 2321/2322-v, o MPF requereu a inversão do ônus da prova.

A Construtora Amazônidas e a Construtora ETAM (fls. 2376/2377), a título de produção de prova, requereram a oitiva do engenheiro Francisco de Oliveira, lotado na SEINFRA, e do engenheiro da Construtora ETAM, Egleuson Araújo Santiago.

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO HIRAM ARMÊNIO XAVIER PEREIRA em 17/12/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 16919173200236.

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O IPAAM (fl. 2414) informou não possuir outras provas a especificar.

Na decisão de fls. 2417/2418, foi deferido o pedido de prova testemunhal requerido pelas Construtoras Amazônidas e ETAM, sendo designada nova audiência de conciliação.

Na audiência de conciliação (fls. 2463/2463-v), as partes destacaram ser dispensável a oitiva das testemunhas Francisco de Oliveira e Egleuson Araújo Santiago. O juízo consignou que “diante dos documentos apresentados pela Construtora ETAM, resta suprida a necessidade das oitivas deferidas à fl. 2417, com o que anuíram as partes presentes”. Foi aberto prazo para a apresentação das alegações finais.

Razões finais do MPF às fls. 2491/2501; do IBAMA, às fls. 2504/2504-v; do Estado do Amazonas, à fl. 2511; da Construtora ETAM e da Construtora Amazônidas, às fls. 2518/2525.

É o relatório. Decido.

1. O meio ambiente ecologicamente equilibrado é direito fundamental, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações, nos termos do art. 225 da CF/88. Assim, a proteção ao meio ambiente é pressuposto para concretizar o direito fundamental à vida e à dignidade da pessoa humana, este último enquanto fundamento da República Federativa do Brasil (artigo 1º, III, da CF/88).

As atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitam o infrator a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados, consoante o § 3º do citado artigo 225 da CF/88. Logo, todo aquele que causa dano ao meio ambiente, direta ou indiretamente, deve ser responsabilizado.

A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, em seu artigo 14, § 1º, estabelece que, independentemente da existência de culpa, o poluidor é obrigado a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. Trata-se da responsabilidade civil objetiva, ou seja, é desnecessário provar a culpa do poluidor. Para sua caracterização há que comprovar o evento danoso, a conduta lesiva e o nexo causal entre o dano e a conduta do poluidor.

No presente caso, o MPF ajuizou esta ação civil pública visando à condenação dos requeridos a promoverem a recuperação da área degradada, inclusive com o ressarcimento do dano moral ambiental coletivo, além do pagamento de multa a título de ressarcimento pelos danos ambientais produzidos, ou, subsidiariamente, caso seja verificada a impossibilidade de reparação, a implementação de medidas compensatórias.

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO HIRAM ARMÊNIO XAVIER PEREIRA em 17/12/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 16919173200236.

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De acordo com o Relatório n. 22/2009 do MPF (fls. 69/83), de 13.11.2009, estava sendo construída uma ponte sobre o igarapé no Corredor Ecológico do Mindu (fotografias 1 a 7). Também foram registradas imagens do igarapé (fotografias 8 a 27).

O Município de Manaus, por meio do Ofício n. 2620/08 – SEMMA (fls. 90/92), de 10.11.2008, solicitou providências do Ministério Público Estadual e Federal para a paralisação imediata da obra de construção da avenida, bem como a revisão do seu projeto, licenciamento ambiental e modo de execução. Para tanto, informou que “o corredor ecológico serve não somente para preservar a mata ciliar da área de preservação permanente do igarapé do Mindu, o maior da área urbana de Manaus, cuja bacia hidrográfica drena aproximadamente 1/3 da cidade; mas também para abrigar rica flora nativa e fauna silvestre, inclusive o Sauim-de-Manaus, espécie de primata endêmico do nosso município e criticamente ameaçado de extinção”.

Informou, ainda, que:

Fazem parte do corredor ecológico urbano do Igarapé do Mindu, as unidades de conservação Parque Municipal do Mindu e Reserva Particular do Patrimônio Natural Cachoeira Grande/Honda, além de diversas áreas verdes dos conjuntos habitacionais implantados nas suas adjacências.

O corredor ecológico urbano ainda serve como área de expansão para o igarapé do Mindu, que possui grande volume de água e dezenas de afluentes, na época das chuvas, prevenindo as alagações e enchentes frequentes na cidade de Manaus, justamente devido a ocupação desordenada das áreas de fundo de vale.

A obra em comento está aterrando os afluentes e nascentes, além dos canais secundários do igarapé do Mindu, que neste trecho possui leito bastante meandrado, diminuindo a vazão natural das águas e causando o estreitamento do canal do igarapé, o que a nosso ver, contribuirá para o aumento das enchentes a montante e a jusante da área de intervenção.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente – SEMMA entende que a obra deveria ter previsto a tubulação desses afluentes, nascentes e meandros (canais secundários) do curso d’água principal, e não o seu aterramento. Além disso, era nossa reivindicação que a travessia da avenida por sobre o corredor ecológico se desse de forma suspensa, com pontes de vão e largura suficientes para permitir a manutenção da vegetação embaixo delas, garantindo a preservação da conectividade que propicia o fluxo gênico da fauna e da flora locais, razão primordial da criação do corredor ecológico urbano.

O Município de Manaus, no referido ofício, acrescentou que a intervenção sofrida pelo Corredor Ecológico Urbano do Igarapé do Mindu está ocasionando a destruição da vegetação em APP, a fauna está sendo afugentada e isolada, o igarapé aterrado com suas nascentes e afluentes ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO HIRAM ARMÊNIO XAVIER PEREIRA em 17/12/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 16919173200236.

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menores, causando dano ambiental gravíssimo e irreparável ao ecossistema do maior e mais importante curso d’água urbano de Manaus.

No Relatório Técnico da SEMMA (fls. 111/113 e fls. 2183/2185), elaborado em 16.06.2008, consta que, na área do Corredor Ecológico Urbano do Igarapé do Mindu, com acesso pela Av. Efigênio Sales, próximo a entrada da até então futura Av. das Torres, observaram-se duas máquinas pesadas (pás carregadeiras), realizando trabalho de limpeza da área, suprimindo vegetação da área de preservação permanente do Corredor, num espaço compreendido entre o igarapé do Condomínio Efigênio Sales e a margem esquerda do Igarapé do Mindu. Verificou-se grande mudança na paisagem e composição vegetal, principalmente na margem esquerda do Igarapé do Mindu, ocasionada pela intervenção das máquinas no local. Ressaltou-se que, em decorrência da realização do serviço, há possibilidade de arraste do material orgânico, proveniente do desmate, ir para o leito do igarapé.

Consta no citado relatório que “momentos depois chegaram ao local a Sra. Secretária Luciana Montenegro Valente e os representantes da SEINF, o Sr. Paiva e o Sr. Tapajós, engenheiro responsável pela obra da Av. das Torres, este último constatou que houve intervenção na área por parte da construtora contratada e que naquele trecho em questão não foi autorizado a realização de atividade, pois ainda não tinha licença ambiental”.

No Relatório Técnico da SEMMA (fls. 96/98), elaborado em 07.11.2008, constatou-se, na área do Corredor Ecológico Urbano do Igarapé do Mindu, em proximidades do seu marco zero, localizado no bairro Coroado, a realização de serviços de terraplanagem. No local, havia uma pá carregadeira e três caminhões caçambas. Verificou-se que o aterramento estava sendo realizado até a margem do igarapé do Mindu, trecho onde ele possui vários meandros (pequenos cursos d’água que se juntam ao principal), que foram aterrados e/ou desviados.

Observou-se que “devido ao aterramento dos meandros, há risco de alagações nas áreas próximas a intervenção da obra da Av. das Torres. A possibilidade da área alagar poderia ter sido evitada se fossem seguidas algumas recomendações, como ao invés de aterrar os meandros, fazer instalação de tubulações que garantissem o fluxo das águas nesses locais”. Consta que a obra foi paralisada em junho pela fiscalização da SEMMA, em razão de a Secretaria Estadual de Infraestrutura – SEINF ter realizado serviço de supressão de vegetação em outro trecho da travessia do igarapé do Mindu sem a aprovação do Projeto Básico.

Nas imagens de fls. 98, a SEMMAS destacou a área aterrada, o aterro até a margem do igarapé, o aterro dos meandros, e a máquina realizando o aterro.

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO HIRAM ARMÊNIO XAVIER PEREIRA em 17/12/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 16919173200236.

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Às fls. 100/101 consta o Decreto n. 9.329, de 26 de outubro de 2007, que cria o Corredor Ecológico Urbano do Igarapé do Mindu, para fins de proteção ambiental.

A SEMMA autuou a Construtora ETAM (fls. 107 e 108), no dia 13.06.2008, por ausência de licença ambiental na intervenção realizada em área de preservação permanente, no Corredor Ecológico do Mindu, bem como terraplanagem e desmate em APP, sem licença ambiental municipal.

À fl. 114, consta a Informação Fiscal n. 023 da SEMMA, segundo a qual as empresas contratadas não possuíam autorização para intervir no local, tendo sido lavrado auto de infração (n. 2375, fl. 279) e a interdição da obra (n. 1461, fl. 283) até a avaliação da situação do licenciamento.

À fl. 119, consta a Licença de Instalação – L.I. n. 005/08, expedida pelo IPAAM em 14.01.2008 para a Secretaria de Estado de Infraestrutura – SEINF, com validade de 730 (setecentos e trinta) dias, autorizando a implantação do projeto das ligações viárias de Manaus, no trecho localizado entre a Avenida Timbiras (Bairro Cidade Nova) até as Avenidas Efigênio Sales e Cosme Ferreira (Bairro Coroado), denominado trecho 1.

Nos termos da Notificação n. 613/2008 da SEMMA (fl. 131), de 11.07.2008, as obras da Av. das Torres foram desinterditadas no trecho localizado na área de interferência do Corredor Ecológico do Mindu, devendo a empresa cumprir integralmente os compromissos assumidos pela SEINF, bem como todas as condicionantes da L.I. n. 005/08 do IPAAM.

Às fls. 145/151, consta o termo de ajustamento de conduta ambiental n. 121/08 celebrado entre a Prefeitura de Manaus, por intermédio da SEMMA e a Construtora ETAM.

Por meio do Parecer Técnico de fls. 168/170 da SEINF, de 02.12.2008, foi afirmado que o empreendimento possui a Licença de Instalação n. 005/08 expedida pelo IPAAM; que o EIA/RIMA foi apresentado no Estudo Ambiental Simplificado – EAS, elaborado pelo Instituto I-PIATAM – Instituto de Inteligência Socioambiental Estratégica da Amazônia em 25.10.2007; e que o Termo de Referência foi elaborado pelo IPAAM em 27.08.2007.

Às fls. 176/183 e fls. 204/211, consta o Termo de Referência elaborado pelo IPAAM para o Estudo Ambiental Simplificado – EAS para a implantação da Avenida das Torres.

No parecer técnico elaborado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA (fls. 187/195), de 10.12.2008, a pedido do MPF, observou-se “a aparente ausência de um EIA/RIMA em referência ao empreendimento em questão, o que causa preocupação dada a magnitude da obra”. Acerca da importância direta do CEUM para a fauna, flora e recursos

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Processo N° 0006135-17.2010.4.01.3200 - 7ª VARA FEDERAL - MANAUSNº de registro e-CVD 00307.2018.00073200.2.00691/00128

hídricos, os técnicos do INPA manifestaram-se no seguinte sentido:

É reconhecida a importância dos fragmentos florestais de Manaus como abrigo de fauna, e em especial de uma espécie endêmica e ameaçada, o Sauim de Manaus. A fragmentação florestal, como a que foi promovida pela ruptura da conectividade do Corredor do Mindu com a abertura da Avenida das Torres certamente vai ter impactos negativos sobre estas populações, seja por aumentar em muito a mortalidade de animais por atropelamentos e eletrocução com a pavimentação e urbanização da estrada, seja pela diminuição de mais um remanescente florestal que sirva de habitat para estas espécies. Conforme constatado em visita de campo, a permanência da cobertura florestal é essencial para a preservação dos recursos hídricos da área, e para a integridade do Igarapé do Mindu.

A estrada cortou vários igarapés e nascentes que nascem à partir da Bola do Coroado. Muitas ainda encontram-se dentro do remanescente florestal no local. Se a vegetação for retirada, acabará com os cursos d’água. O curso principal do Mindu apresenta já alto grau de poluição antrópica, e a contribuição do empreendimento em questão seria marginal, permanecendo a baixa ocupação verificada no momento. No entanto, a existência da estrada vai atrair interesses de ocupação imobiliária, e se estas áreas forem ocupadas, isso com certeza afetará a bacia hidrográfica e os recursos hídricos. Parte dos trechos que já foram danificados com a obra da Avenida das Torres, já apresentam igarapés secos, e ainda pode-se prever o abaixamento dos lençóis freáticos. A construção da estrada também está acarretando canalização artificial de braços do igarapé principal, e existe dúvida se a vazão planejada será suficiente para períodos de maior intensidade de chuvas. Existem trechos onde três afluentes de três micro-bacias do igarapé convergem para uma mesma tubulação. Caso esta preocupação se confirme, moradores futuros daquela área poderão sofrer com problemas de cheias. Aparentemente, este problema já é verificado em residência no local hoje.

No Relatório Técnico de Fiscalização n. 17/08 do IPAAM (fls. 197/200), de 11.12.2008, a equipe técnica observou a realização de trabalhos de terraplanagem, movimentação de terra, aterros e dragagens para o início da implantação da transposição do igarapé do Mindu, com intervenção em Área de Preservação Permanente – APP, resultando na retirada da vegetação natural da área, desvio do curso normal do igarapé, ocasionando a formação de lagoas e poças com água estagnada, propiciando a propagação de vetores transmissores de doenças (Culicídeos), represamento parcial do igarapé, comprometendo o fluxo normal de escoamento das águas com a consequente alagação a montante da área quando da ocorrência de períodos com índices pluviométricos elevados.

Verificou-se, também, que o aterro realizado em parte da bacia do igarapé do Mindu resultou na obstrução de vários cursos d’água que drenavam em direção a ele, comprometendo a ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO HIRAM ARMÊNIO XAVIER PEREIRA em 17/12/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 16919173200236.

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drenagem da área e estabilidade física do solo no local. A SEINF foi notificada para efetuar a dragagem na área da transposição, de modo a retificar o curso natural do Igarapé do Mindu, drenar todas as lagoas e poças existentes na área, e apresentar projeto complementar para a execução da intervenção no Igarapé do Mindu.

O MPF solicitou informações da Universidade Federal do Amazonas acerca da importância direta do corredor ecológico urbano do igarapé do Mindu, levando-se em conta os aspectos de fauna, flora e recursos hídricos para a sua reserva florestal. A Universidade respondeu a solicitação nesses termos:

Os corredores ecológicos atuam na ligação entre as populações silvestres e os diversos ambientes, minimizando o efeito do isolamento causado pela fragmentação de habitats. Essa facilidade proporciona o intercâmbio gênico e possibilita o movimento de indivíduos entre populações isoladas, consequentemente aumentando a sobrevivência ao nível populacional.

A fragmentação florestal e de habitat ocasiona o isolamento de comunidades e populações vegetais, desencadeando o empobrecimento da diversidade biológica. A floresta, quando interrompida por barreira antrópica (estradas, culturas agrícolas, etc.), tem sua capacidade de fluxo gênico (animais, pólen, sementes e outras formas de diásporas) bastante diminuída, prejudicando a funcionalidade ecológica, edáfica e climática.

Nesse sentido, o Corredor Ecológico do Mindu, com sete quilômetros de extensão, é fundamental pois, além de estar ligando os fragmentos florestais restantes na área urbana de Manaus, está servindo de anteparo ao assoreamento de igarapés e nascentes e mantendo equilíbrio ecológico, hidrológico e cultural da cidade, especialmente da sua área de abrangência.

No Relatório Técnico da SEMMAS (fls. 238/239), elaborado em 18.03.2009, visualizou-se uma draga retirando dejetos do leito do igarapé a fim de facilitar o fluxo das águas, visando diminuir as constantes enchentes que ocorrem no igarapé. Observou-se, no trecho da primeira travessia, próximo à subestação da Manaus Energia, o solo compactado, possibilitando o tráfego de veículos até a margem do igarapé do Mindu. No trecho da segunda travessia, havia máquinas trabalhando na compactação do solo, dando continuidade à obra.

Na conclusão do relatório, foi enfatizado o dano ambiental causado pela obra, principalmente no aterro dos meandros, que dão vazão ao volume de água quando da ocorrência de precipitação pluviométrica. Foi informado que a retirada da vegetação ciliar facilitará o carreamento de todo tipo de detrito para o igarapé, ocasionando erosão, assoreamento e, consequentemente, alagações nas suas proximidades.________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO HIRAM ARMÊNIO XAVIER PEREIRA em 17/12/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 16919173200236.

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No Relatório Técnico de Fiscalização n. 010/09 do IPAAM (fls. 241/242), de 07.04.2009, a equipe técnica observou a presença de máquinas pesadas (retroescavadeiras, caçambas, etc.), realizando serviços de aterro, compactação da área e escavações para construção dos pilares que servirão de suporte para a implantação da ponte de transposição do igarapé. Constatou-se que as lagoas identificadas em vistoria realizada em dezembro de 2009 e relatado no RTV n. 17/08 não mais existem, sendo atendido, portanto, os itens 1 e 2 da Notificação n. 1244/08. Consignou-se que o item 3 da referida notificação ainda não havia sido cumprido.

Observou-se que, no local da obra de transposição do igarapé do Mindu, foi realizada dragagem, com desvio do curso natural do igarapé, pela SEMOSBH. Segundo o engenheiro da SEINF, Paulo, essa dragagem interferiu diretamente no andamento da obra, havendo necessidade de entendimento entre Estado e Município para sanar possíveis pendências surgidas. Conforme consta do relatório, a dragagem feita pela SEMOSBH teve por objetivo a desobstrução do leito do igarapé, que possuía significativa presença de materiais sólidos (madeira, plástico, material metálico, areia, argila, isopor, etc.), carreados, lançados e depositados pelas ocupações humanas desordenadas, sitiadas às margens do igarapé, dificultando o fluxo normal das águas pluviais intensas, aumentando a área de inundação do local e causando transtorno aos residentes na área de entorno.

Em conclusão, ressaltou-se que “as intervenções para construção da Avenida das Torres estão acontecendo dentro de sua normalidade. Os impactos ambientais ora existentes decorrentes das intervenções físicas foram previstos e pontuados no Estudo Ambiental Simplificado – EAS apresentado a este Instituto para análise e apreciação, culminando com sua aprovação. Alguns desses impactos ambientais são imediatos e mediatos, temporários e permanentes, pontual e local, e reversíveis e irreversíveis, se manifestando conforme as etapas do processo construtivo de transposição do igarapé e posterior à conclusão da obra. Destacamos, também, que, atentos à implantação das ações de mitigação, a equipe técnica estará acompanhando o andamento e conclusão da obra que culmina com a execução do Plano de Recuperação da Área Degradada. Quanto às intervenções de dragagem no leito do igarapé do Mindu, já executadas pela SEMOSBH, sem regularização neste Instituto, culminará em autuação com multa”.

No Parecer Técnico n. 058/09 do IPAAM (fls. 251/253), de 07.07.2009, consta que as obras de aterro, terraplanagem e compactação são inerentes ao processo construtivo de transposição do igarapé, pontuadas no EAS. Essas intervenções são determinantes para manifestação de impactos ambientais negativos, pontuado no EAS, porém, muitos deles estão sendo mitigados através da tecnologia e engenharia aplicada na construção da transposição. De acordo com o parecer, as encostas e áreas de acesso que hoje se encontram desprotegidas de vegetação, em

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razão das intervenções, deverão ser objeto da implementação do plano de reabilitação da área degradada, que deverá ser feito na medida em que as intervenções físicas estruturais forem sendo concluídas, a fim de mitigar os impactos ambientais.

Na Informação n. 175/2009 da SEMMAS (fls. 297/301), de 17.09.2009, consta que o Termo de Ajustamento de Conduta Ambiental, firmado em 04.09.2008 com a Construtora ETAM, não foi cumprido em sua cláusula primeira, que fixava que o compromissário se comprometia a providenciar o licenciamento ambiental pertinente no prazo de 30 (trinta) dias, assim como renová-lo periodicamente. Consta, também, que a Construtora ETAM foi autuada e interditada pelo não cumprimento do TACA (Auto de Infração n. 2722, fl. 317; Auto de Interdição n. 1869, fl. 318).

Observou-se que os danos ocorridos na construção da Av. das Torres, situada no trecho compreendido na área de interferência do corredor Urbano do Mindu foram: desmatamento da mata ciliar, assoreamento do igarapé e seus afluentes, afugentamento da fauna silvestre existente naquela área, intervenções manuais e mecânicas em APP e construções civis prejudicando como um todo o Corredor Ecológico Urbano do Mindu. Verificou, ainda, que estava sendo retirada água do igarapé com bomba para, segundo informações colhidas de um funcionário da Construtora ETAM, seria para molhar a pista na qual estavam executando a obra.

Ao final, concluiu-se que “há um somatório de fatos que causam o impacto ambiental naquela área, tendo como principal fator o seccionamento do corredor Ecológico Urbano do Mindu”.

Segundo o Parecer Técnico n. 077/09 do IPAAM (fl. 352), foi informado que os itens 20, 21, 23 e 26 das restrições/condições da Licença de Instalação – L.I. n. 005/08 (fls. 350/351) não foram cumpridos. Quanto ao item 22, não foram evidenciados indícios de processos erosivos decorrentes da obra, no entanto, o cumprimento dessa condicionante/restrição deverá ser efetivamente analisado quando da conclusão da obra, observando se as medidas técnicas adotadas são suficientes para conter o surgimento de possíveis processos erosivos. Quanto ao item 27, observou-se que medidas mitigadoras deverão ser efetivamente consolidadas quando da conclusão da obra. Em razão do referido Parecer, foi expedida pelo IPAAM, em 01.09.2009, a Notificação n. 12117 para a SEINF cumprir as restrições de números 20, 21, 23 e 26 da L.I. n. 005/08.

Em 13.04.2009 foi expedida pelo IPAAM a Notificação n. 12058 para a SEINF apresentar o Projeto Executivo de transposição da travessia do corredor Ecológico do Igarapé do Mindu.

Consoante o Parecer Técnico n. 002/10 do IPAAM (fl. 357), de 07.01.2010, o estudo ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO HIRAM ARMÊNIO XAVIER PEREIRA em 17/12/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 16919173200236.

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ambiental exigido pelo órgão para Avaliação de Impacto Ambiental – AIA, da atividade de construção da Avenida das Torres, foi o Estudo Ambiental Simplificado – EAS. De acordo com a legislação Estadual de Meio Ambiente, a atividade de construção da Avenida das Torres não contempla a exigência de EIA/RIMA. Consta que, para nortear a elaboração do EAS, foi emitido pelo IPAAM um Termo de Referência – TR, contendo os critérios básicos e diretrizes gerais para a elaboração da AIA. Observou-se que a SEINF não cumpriu nenhuma as restrições objeto da Notificação n. 12117 e que, além dessas, encontram-se em aberto as restrições de números 15 e 24.

Foi expedida a Notificação n. 5073/10 (fl. 358) para a SEINF cumprir as restrições contidas na Notificação n. 12117 e as restrições 15 e 24, contidas no verso da Licença de Instalação n. 005/08.

À fl. 365 consta a Licença de Instalação – L.I. n. 099/10 do IPAAM, expedida em 20.05.2010, com validade de 365 dias, autorizando “a implantação, no trecho localizado entre a Av. Timbiras, na Cidade Nova, até a Av. Efigênio Sales, no bairro Coroado, denominado trecho I”.

Às fls. 583/614 encontra-se o Estudo Ambiental Simplificado – EAS.

Nos termos do Parecer Técnico n. 048/10 do IPAAM (fls. 710/714 e fls. 774/778), de 17.06.2010, a denominação de Avenida das Torres se deve pelo fato de ela estar sendo construída pelo traçado da Linha de Transmissão – LT de energia elétrica vindo da Hidrelétrica de Balbina, no município de Presidente Figueiredo/AM.

Consta que a “obra teve início pela área central do trecho I da Avenida das Torres, no bairro Parque das Laranjeiras. Atualmente a obra de construção da Avenida das Torres encontra-se em fase de conclusão dos serviços de terraplanagem (foto 01), pavimentação (foto 02), drenagem (foto 09), calçamento (foto 02) e instalação de rede elétrica (foto 04), mais precisamente no encontro desta obra com a rua Timbiras, na Cidade Nova II, assim como também nas proximidades do acesso à Avenida Efigênio Sales e Cosme Ferreira, no bairro do Coroado”.

Verificou-se que, embora a obra, na parte central do trecho I da Avenida, esteja praticamente concluída, nas proximidades da Colônia Japonesa estava havendo a implantação do sistema de drenagem no canteiro central. O canteiro central da Avenida das Torres está recomposto de gramínea em praticamente toda sua extensão.

Em relação às pontes, observou-se que, no talude próximo a elas, na área do corredor ecológico, foram implantados 3 (três) túneis em concreto em cada margem do igarapé para passagem da fauna e drenagem das águas por ocasião das chuvas intensas. Essa medida visa a minimizar os impactos ambientais sobre o deslocamento da fauna no trecho do corredor ecológico ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO HIRAM ARMÊNIO XAVIER PEREIRA em 17/12/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 16919173200236.

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que sofrerá intervenção para construção das duas pontes, bem como mitigar o fluxo das águas da área de expansão da bacia de inundação nesse trecho.

Ressaltou-se que “as intervenções feitas nas margens do igarapé do Mindu, trecho de transposição por ponte, que em tempo pretérito apresentava pequenas poças de água parada, não mais existem, em virtude das obras de engenharia feitas no local, inclusive podemos constatar que um igarapé, afluente do Mindu, que deságua próximo a uma das pontes apresenta suas águas fluindo naturalmente, não sendo visualizado qualquer impedimento no fluxo natural das águas”.

Em conclusão, o parecer técnico apontou que “a obra de construção da Avenida das Torres se encontra em fase de conclusão e não sendo constatada irregularidade ambiental que comprometa a sua continuidade e cujos impactos ambientais não estejam pontuados no Estudo Ambiental Simplificado, esta equipe informa que a interessada deverá dar continuidade no cumprimento integral de todas as restrições/condições contidas no verso da Licença de Instalação expedida por este Instituto, visando o cumprimento dos compromissos ambientais assumidos pelo interessado, por ocasião do Licenciamento Ambiental desta obra”.

De acordo com as imagens de fls. 2019/2037, tiradas em 23.08.2011, observa-se a APP degradada do Igarapé do Mindu, na ponte da Avenida das Torres, com a vegetação ciliar não recuperada, mas em processo de regeneração natural. Verificou-se que não há continuidade da vegetação por baixo da ponte, suprimindo a conectividade do corredor ecológico. Observou-se o solo exposto e em processo de erosão, causando assoreamento do curso d’água. Também não há qualquer medida de contenção da erosão, bem como replantio da vegetação ciliar.

Constam, ainda, imagens de um estacionamento de caminhões em APP, dentro do CEUM, impossibilitando, segundo o MPF, a regeneração natural da vegetação ciliar no local. Observou-se lixo acumulado no leito do igarapé, no trecho próximo à ponte da Avenida das Torres.

Há imagens de tubos de concreto para, segundo o MPF, passagem das águas na cheia, evidenciando subdimensionamento do sistema de drenagem.

Às fls. 2040/2053 consta o Termo de Ajustamento de Conduta Ambiental – TACA, firmado entre o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual com o Município de Manaus, o Secretário Municipal de Infraestrutura, o Subsecretário Municipal de Serviços Básicos, o Secretário Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade e o Subsecretário Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade, nos autos da ação civil pública n. 2009.32.00.00.2520-6, que tramitou na 3ª Vara desta Seção Judiciária, homologado pelo Juízo em 04.12.2009 (fl. 2057).

A referida ação, conforme Aditamento a Termo de Ajustamento de Conduta ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO HIRAM ARMÊNIO XAVIER PEREIRA em 17/12/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 16919173200236.

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Ambiental (fls. 2054/2062), foi ajuizada com vistas à tutela do meio ambiente contra a realização, pela Prefeitura Municipal de Manaus, de serviços de desassoreamento e intervenção mecanizada em áreas de preservação permanente do Igarapé do Mindu.

No Relatório n. 006/2012 (fls. 2098/2102), elaborado pelo MPF em 26.03.2012, assinado pelo servidor Osmário Abreu, Técnico Apoio Especializado/Transporte, Assessor Especial do Procurador-Chefe, constatou-se “in loco que a situação fática, referente à degradação ambiental, continua inalterada, sendo que a melhora das condições ambientais se deve à regeneração natural da vegetação ciliar, sem nenhuma medida de recuperação da área degradada promovida pelo réu, conforme se verifica da comparação entre as fotografias tiradas, do mesmo local de observação, na presente data, durante a construção da avenida (no ano de 2009, que constam do relatório ASSESP n. 22/2009, anexo à inicial) e no dia 23.08.2011 (que constam às fls. 2019/2037 dos autos)”.

De acordo com as imagens, o MPF observou a não recuperação da área degradada. Na foto 11 (fl. 2101), observou-se “medida de replantio executada no aterro ao lado da ponte sobre o igarapé do Mindu, porém sem nenhum tratamento prévio do solo para o recebimento das mudas, plantadas sobre área degradada, cujo crescimento e estabilização da vegetação está comprometido”.

Às fls. 2146/2148, consta o Ofício n. 1133/12-GS/SEMMAS, de 10.05.2012, por meio do qual foi informado que não há, na SEMMAS, processo de licenciamento ambiental formalizado para a construção da Avenida das Torres. Quanto ao licenciamento ambiental, informou que houve diversas reuniões no COMDEMA que trataram do assunto.

Noticiou que foi lavrado o Auto de Infração n. 2375 e o Auto de Interdição n. 1361, pela ausência de licença ambiental e intervenção em APP do Corredor Ecológico do Mindu, tendo sido autuada a Construtora ETAM, responsável pela construção das pontes. Ressaltou que a construção da Avenida das Torres foi idealizada, planejada e executada pelo Governo do Estado do Amazonas, por intermédio da SEINF, e que não teve nenhuma participação na obra, nem nos impactos causados ao Corredor Ecológico do Mindu, tendo exigido que este fosse recuperado.

O MPF (fls. 2354/2354-v) afirmou que “em relação às ações de mitigação dos impactos sobre a área de preservação permanente do igarapé e sobre a perda de conectividade para a fauna (corredor ecológico), o Estado do Amazonas – SEINFRA não realizou e nem pretende realizar as ações de recuperação de áreas degradadas (plantio em APP e áreas escolhidas para recuperação ambiental), nem implantou as passagens de fauna nos pontos escolhidos por

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especialistas”. O MPF fez essa afirmação com base no documento de fl. 2356, onde consta a informação de que, em razão da situação financeira do Estado, não era possível, naquele momento, em agosto de 2016, executar a recuperação de áreas degradadas nem a instalação de passagens de fauna. Ou seja, já havia se passado, então, mais de 6 (seis) anos da inauguração da Avenida das Torres e os problemas quanto à recuperação das áreas degradadas ainda permanecia.

No Laudo Técnico Ambiental – Avenida das Torres (Trecho I), constante às fls. 2390/2398, elaborado pelo Governo do Estado – SEINFRA em 10.11.2016, cujo objetivo foi averiguar in loco a situação ambiental, até então atual, das áreas degradadas em razão da construção da Avenida das Torres Trecho I para recuperação ambiental, observou-se, nas denominadas áreas 1 e 1A, localizadas nas margens esquerda e direita da Avenida, abrangendo as duas margens do igarapé do Mindu, a presença de cobertura vegetal na Área de Preservação Permanente, com exemplares de vegetação regenerada em diferentes estágios de crescimento. O laudo destacou as espécies Buriti (Mauritia flexuosa), Embaúba (Cecropia sp.), Ingá (Inga sp.) e Mamona (Ricinus communis), além de espécies arbustivas de menor porte que compõem a vegetação rasteira associada a gramíneas do gênero Brachiaria (Brachiaria decumbens).

Verificou-se uma faixa descoberta de vegetação (Figura 03, fls. 2392), sendo dada a sugestão de intervenção com plantio de espécies florestais nativas características desse tipo de local (mata ciliar) para recuperação das pequenas clareiras identificadas.

Asseverou-se que não foram encontrados processos erosivos de degradação na área avaliada ou no seu entorno, conforme imagens de fls. 2392-v.

Nas denominadas áreas 2 (Figura 13, fl. 2394), 3 (Figura 22, fl. 2395-v), 3A e 3B (Figuras 27 e 28, fl. 2396 e fl. 2397), observaram-se áreas desprovidas de vegetação florestal, sendo sugerida intervenção com plantio de espécies florestais nativas características desse tipo de local, para recuperação das pequenas clareiras observadas.

Nas considerações finais, afirmou-se que “as áreas visitadas encontram-se sem ação de processos erosivos, porém com interferência humana em algumas, conforme descrito neste relatório, havendo desta forma a necessidade de elaboração de estudos voltados à recuperação das áreas afetadas, inerentes ao plantio e manutenção das mudas a serem inseridas nos locais”.

No Relatório n. 003/2016 – Áreas para Implantação de Passagens de Fauna (fls. 2406/2412), elaborado pelo Governo do Estado – SEINFRA em 26.11.2016, a primeira área visitada foi o trecho I da Avenida das Torres, sobre a ponte do igarapé do Mindu nos sentidos centro-bairro e bairro-centro (Figura 2). Observou-se que, nesse trecho, já havia sido concebida uma passagem ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO HIRAM ARMÊNIO XAVIER PEREIRA em 17/12/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 16919173200236.

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subterrânea (Figuras 3 e 4). Todavia, o Grupo de Trabalho recomendou apenas a recomposição vegetal nas áreas com solo exposto, observadas sob a ponte e nas margens do igarapé (Figuras 1, 5 e 6). Consta no relatório que essa área foi contemplada no Relatório Técnico de Levantamento das Áreas a serem recuperadas como forma de compensação da obra da Avenida das Torres.

Nas imagens de fl. 2408, observam-se algumas áreas sob a ponte com solo exposto.

Ao final do relatório, considerou-se “a necessidade de atender a solicitação da Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público Federal – MPF referente às obras da Avenida das Torres – Trecho I esta Secretaria de Estado de Infraestrutura – SEINFRA se dispõe a firmar um convênio com a Universidade Federal do Estado do Amazonas – UFAM, ou encaminhar Projeto Básico para contratação de empresa especialista no serviço citado para que assim seja sanada tal pendência”.

Às fls. 2470/2484, a Construtora ETAM apresentou documentos por meio dos quais informou que cumpriu as restrições/condições de n. 11, 12 e 18 da Licença de Instalação n. 099/10 (fl. 2486/2487). Contudo, em resposta ao ofício de fls. 2485 da ETAM, que solicitou informações acerca da existência de pendências a serem cumpridas pela empresa quanto à construção de duas pontes de concreto sobre o igarapé do Mindu, referente às restrições/condições da licença supracitada, tanto a SEINFRA (fl. 2488) como o IPAAM (fl. 2489) informaram que a obra não se enquadra como atividade passível de licenciamento ambiental.

O MPF destacou, em suas razões finais (fls. 2491/2501), que “a principal medida que poderia compensar ou mitigar os danos causados pelos réus na construção da Av. das Torres sobre o CEUM seria a tentativa de restabelecer a conectividade biológica perdida, com a recuperação de áreas degradadas e a instalação de passagens de fauna ao longo do Corredor Ecológico Urbano do Igarapé do Mindu, medidas que nenhum dos requeridos implementou”.

De acordo com os documentos constantes dos autos, observa-se que, não obstante o Estado do Amazonas possua as licenças e autorizações necessárias para a intervenção na área de seu empreendimento, determinadas condicionantes e restrições não foram cumpridas e, consoante ressaltado pelo MPF com base em documento do Estado do Amazonas, não havia previsão para o seu cumprimento em razão da ausência de recursos financeiros para a execução do PRAD e para a implantação da conectividade do corredor ecológico.

Os danos ambientais causados pela construção da Av. das Torres estão comprovados nos autos e a sua recuperação e/ou mitigação por meio do PRAD não foi executada.

Por imposição constitucional, o meio ambiente deve ser preservado para as presentes ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO HIRAM ARMÊNIO XAVIER PEREIRA em 17/12/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 16919173200236.

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e futuras gerações, tratando-se de valor sobranceiro a qualquer interesse empresarial ou político, avocando observação em qualquer obra pública – sobretudo na dimensão analisada nos presentes autos. Nesse sentido, observe-se decisão emblemática emanada do Egrégio TRF1, balizada em jurisprudência consolidada pelos tribunais superiores:

AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (RIO GRANDE). SUSPENSÃO DE ATIVIDADES AGRESSORAS AO MEIO AMBIENTE. PRINCÍPIOS DA REPARAÇÃO INTEGRAL E DO POLUIDOR-PAGADOR. CUMULAÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER (REPARAÇÃO DA ÁREA DEGRADADA E DEMOLIÇÃO DE EDIFICAÇÕES), DE NÃO FAZER (INIBIÇÃO DE QUALQUER AÇÃO ANTRÓPICA SEM O REGULAR LICENCIAMENTO AMBIENTAL). POSSIBILIDADE. IRRETROATIVIDADE DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL POR IMPERATIVO DO PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO RETROCESSO ECOLÓGICO EM DEFESA DO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO. ORIENTAÇÃO DA CARTA ENCÍCLICA SOCIAL-ECOLÓGICA LAUDATO SI, DO SANTO PADRE FRANCISCO, NA ESPÉCIE DOS AUTOS. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA. (...) II - "Na ótica vigilante da Suprema Corte, "a incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica, considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que privilegia a "defesa do meio ambiente" (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral (...) O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações" (ADI-MC nº 3540/DF - Rel. Min. Celso de Mello - DJU de 03/02/2006). Nesta visão de uma sociedade sustentável e global, baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura de paz, com responsabilidades pela grande comunidade da vida, numa perspectiva intergeracional, promulgou-se a Carta Ambiental da França (02.03.2005), estabelecendo que "o futuro e a própria existência da humanidade são indissociáveis de seu meio natural e, por isso, o meio ambiente é considerado um patrimônio comum dos seres

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humanos, devendo sua preservação ser buscada, sob o mesmo título que os demais interesses fundamentais da nação, pois a diversidade biológica, o desenvolvimento da pessoa humana e o progresso das sociedades estão sendo afetados por certas modalidades de produção e consumo e pela exploração excessiva dos recursos naturais, a se exigir das autoridades públicas a aplicação do princípio da precaução nos limites de suas atribuições, em busca de um desenvolvimento durável. A tutela constitucional, que impõe ao Poder Público e a toda coletividade o dever de defender e preservar, para as presentes e futuras gerações, o meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida, como direito difuso e fundamental, feito bem de uso comum do povo (CF, art. 225, caput), já instrumentaliza, em seus comandos normativos, o princípio da precaução (quando houver dúvida sobre o potencial deletério de uma determinada ação sobre o ambiente, toma-se a decisão mais conservadora, evitando-se a ação) e a conseqüente prevenção (pois uma vez que se possa prever que uma certa atividade possa ser danosa, ela deve ser evitada) , exigindo-se, assim, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade (CF, art. 225, § 1º, IV)" (AC 0002667-39.2006.4.01.3700/MA, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE, QUINTA TURMA, e-DJF1 p.172 de 12/06/2012). (…) VII - Apelação desprovida. Sentença confirmada. (AC 0004069-72.2008.4.01.3802 / MG, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE, QUINTA TURMA, e-DJF1 p.314 de 09/11/2015).

A prova dos autos, acima explanada à exaustão, é abundante e unívoca quanto aos graves e irreparáveis danos causados pelos requeridos ao meio ambiente, com o reiterado descumprimento das condicionantes da licença, expondo a finalidade evidente de realizar a obra a qualquer custo e à revelia de sua dimensão ambiental.

As obras, de grande dimensão, rasgam corredor ecológico de relevância única para a maior capital da Amazônia, prejudicam múltiplos cursos d'água, expostos à erosão e ao assoreamento, com agravamento dos riscos de inundações – em prejuízo sobretudo à população mais pobre. Em relação à fauna, as obras agravam o risco de extinção do Sauim-de-coleira (Saguinus bicolor), espécie criticamente ameaçada e que habita exclusivamente as matas de Manaus e adjacências, sofrendo constantes pressões por atropelamentos e perda de habitat.

Com isso, verifica-se o nexo de causalidade entre a conduta dos requeridos Estado do Amazonas e Construtoras ETAM e Amazônidas e os danos causados ao meio ambiente, visto que degradaram área de preservação permanente, assorearam curso d’água e causaram danos ao corredor ecológico do Mindu, conforme ampla documentação juntada aos autos.

O IPAAM e o Município de Manaus omitiram-se quanto ao dever de fiscalização na ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO HIRAM ARMÊNIO XAVIER PEREIRA em 17/12/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 16919173200236.

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obra, deixando de aplicar as devidas sanções, inclusive com a paralisação e/ou suspensão da obra até a correção das medidas necessárias para o cumprimento das condições estabelecidas nas licenças, bem como, após a conclusão da obra, não se empenharam em exigir a recuperação dos danos, motivo pelo qual contribuíram, também, para os danos causados, devendo responder solidariamente pela sua recuperação.

Passados mais de 8 (oito) anos da conclusão da obra, as mazelas ocasionadas ao meio ambiente continuam sendo sentidas pela fauna e flora, que perderam sua conectividade no corredor ecológico urbano do igarapé do Mindu.

O acervo documental constante dos autos é suficiente para demonstrar que os requeridos praticaram ilícito ambiental, gerando danos ao meio ambiente.

Tem-se, portanto, que estão claramente comprovados o evento danoso, a conduta lesiva e o nexo causal entre o dano e a conduta dos requeridos.

Assim, impõe-se a condenação dos requeridos na obrigação de elaborar plano de recuperação da área degradada – PRAD, nos termos da legislação vigente, ou, no caso de impossibilidade, no estabelecimento de medidas compensatórias aos danos ambientais causados e, em último caso, a indenização por perdas e danos.

2. Em relação ao pedido de condenação dos requeridos à obrigação de pagar “multa... a título de ressarcimento pelos danos ambientais produzidos” (fl. 67), tenho que tal deve compreender todo o dano causado, excluído o que puder ser recuperado mediante PRAD, conforme acima determinado. Com isso, parte do dano poderá ser recuperado in natura, enquanto o restante deverá ser indenizado (danos intermediários e residuais), em valor a ser revertido ao fundo de que trata o artigo 13 da Lei de Ação Civil Pública.

Dessa forma, com relação à indenização por dano interino ou intermediário e residual, observa-se que o dano ambiental comprometeu área de preservação permanente e assoreamento de curso d’água, além de ter comprometido a conectividade da fauna e da flora do corredor ecológico do Mindu, pondo em risco a perpetuação de espécie endêmica de primata (Sauim-de-coleira, Saguinus bicolor), que habita exclusivamente as matas da região, devendo os requeridos, solidariamente, indenizarem os danos causados.

Em matéria de balizamento de valor indenizatório em caso de dano ambiental, convém lembrança à jurisprudência:

RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL

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REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. DANOS DECORRENTES DO ROMPIMENTO DE BARRAGEM. ACIDENTE AMBIENTAL OCORRIDO, EM JANEIRO DE 2007, NOS MUNICÍPIOS DE MIRAÍ E MURIAÉ, ESTADO DE MINAS GERAIS. TEORIA DO RISCO INTEGRAL. NEXO DE CAUSALIDADE. 1. Para fins do art. 543-C do Código de Processo Civil: a) a responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para afastar sua obrigação de indenizar; b) em decorrência do acidente, a empresa deve recompor os danos materiais e morais causados e c) na fixação da indenização por danos morais, recomendável que o arbitramento seja feito caso a caso e com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível socioeconômico do autor, e, ainda, ao porte da empresa, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso, de modo que, de um lado, não haja enriquecimento sem causa de quem recebe a indenização e, de outro, haja efetiva compensação pelos danos morais experimentados por aquele que fora lesado. 2. No caso concreto, recurso especial a que se nega provimento. (STJ, REsp 1374284/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/08/2014, DJe 05/09/2014).

No caso em apreço, como se trata de indenização por dano interino ou intermediário (aquele situado entre sua ocorrência efetiva e a total compensação) e residual (degradação ambiental que subsiste, após tentativa de recuperação), não pode ser neste momento inteiramente mensurado, ante a ausência de tentativa de recomposição. Nada obstante, como imperativo da efetividade da tutela jurisdicional, impõe-se o arbitramento de valor mínimo, aqui arbitrado moderadamente em R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), considerando o pedido contido na inicial, o vulto da obra, a capacidade econômica dos responsáveis e o elevado grau de culpa evidenciado, ainda que passível de majoração, acaso apresentada prova efetiva ao tempo da liquidação pela parte interessada.

3. Quanto à conceituação e configuração da obrigação de indenização por danos morais coletivos ambientais, é relevante o estudo jurídico apresentado pelo doutrinado Délton Winter de Carvalho1:

“O dano ambiental extrapatrimonial ou moral, por sua vez, consiste nos prejuízos de natureza não patrimonial (valores de ordem espiritual, ideal e moral) ocasionados ao indivíduo (aspecto subjetivo)

1 DE CARVALHO, Délton Winter. Gestão Jurídica Ambiental. Ed. Revista dos Tribunais, p. 428-429, 2017.________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO HIRAM ARMÊNIO XAVIER PEREIRA em 17/12/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 16919173200236.

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ou à sociedade (aspecto objetivo), em razão dos danos ocasionados ao meio ambiente 16. Tratando-se o dano moral de uma espécie de lesão a direito personalíssimo, como lesão a direito fundamental (quer individual quer coletivo), a sua relação com o meio ambiente é cristalina17. Assim, quando a ofensa ao meio ambiente acarreta transtornos imateriais, pode haver a configuração de um dano moral ambiental. O dano moral por degradação ambiental pode apresentar uma dupla caracterização, seja como dano moral individual, seja como dano moral coletivo. Em síntese, a doutrina leciona que dano moral ambiental consiste em “todo o prejuízo não patrimonial ocasionado à sociedade ou ao indivíduo, em virtude da lesão ao meio ambiente”18. (...)Assim, quando uma agressão ao patrimônio ambiental acarreta a desvalorização imaterial do meio ambiente ecologicamente equilibrado ou a perda da qualidade de vida das presentes e futuras gerações, tem-se o dano ambiental extrapatrimonial coletivo ou transindividual, decorrente do sentimento negativo sentido por uma coletividade em razão da violação de valores imateriais coletivos [...], este consiste naqueles danos ambientais que comprometem os interesses não patrimoniais de uma comunidade, tais como a lesão a um monumento histórico, danos à paisagem ambiental ou a um monumento natural de relevância local, danos ambientais em cidades de vocação (eco)turística etc.”.

Logo, o dano moral não se restringe à dor, sofrimento ou tristeza, devendo ser analisada a gravidade da violação jurídica, seja no tocante à percepção individualizada de cada vítima ou em relação à carga de valores que envolvem determinado grupo, de ordem social, econômica e cultural, possuindo, por isso, caráter reparatório e ressarcitório.

Outrossim, o dano moral deve ser compreendido como a lesão injusta e intolerável a interesses ou direitos cuja titularidade pertença a toda a sociedade, considerada em seu todo ou em qualquer de suas expressões – grupos, classes ou categoria de pessoas. Nesse sentido é o posicionamento recente do TRF da 1ª Região: Apelação 00328735320124013400, Des. Federal Kassio Nunes Marques, Sexta Turma, e-DJF1 data: 12/02/2016; Apelação, Juiz Federal Evaldo de Oliveira Fernandes, Quinta Turma, e-DJF1 data: 25/02/2016; Apelação 00328735320124013400, Des. Federal Kassio Nunes Marques, Sexta Turma, e-DJF1 data: 12/02/2016.

Assinale-se, ainda, a posição do STJ, no sentido do cabimento da condenação em indenização por danos morais coletivos:

AMBIENTAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PROTEÇÃO E PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE. COMPLEXO PARQUE DO SABIÁ. OFENSA AO ART. 535, II, DO CPC NÃO CONFIGURADA. CUMULAÇÃO DE OBRIGAÇÕES DE FAZER COM INDENIZAÇÃO PECUNIÁRIA. ART. 3º DA LEI 7.347/1985. POSSIBILIDADE. DANOS MORAIS COLETIVOS. CABIMENTO. 1. Não ocorre ofensa ao art. 535 do CPC, se o Tribunal de origem decide, fundamentadamente, as questões essenciais ao julgamento da lide. 2. Segundo a jurisprudência do STJ, a logicidade hermenêutica do art. 3º da Lei 7.347/1985 permite a

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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO AMAZONAS

Processo N° 0006135-17.2010.4.01.3200 - 7ª VARA FEDERAL - MANAUSNº de registro e-CVD 00307.2018.00073200.2.00691/00128

cumulação das condenações em obrigações de fazer ou não fazer e indenização pecuniária em sede de ação civil pública, a fim de possibilitar a concreta e cabal reparação do dano ambiental pretérito, já consumado. Microssistema de tutela coletiva. 3. O dano ao meio ambiente, por ser bem público, gera repercussão geral, impondo conscientização coletiva à sua reparação, a fim de resguardar o direito das futuras gerações a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. 4. O dano moral coletivo ambiental atinge direitos de personalidade do grupo massificado, sendo desnecessária a demonstração de que a coletividade sinta a dor, a repulsa, a indignação, tal qual fosse um indivíduo isolado. 5. Recurso especial provido, para reconhecer, em tese, a possibilidade de cumulação de indenização pecuniária com as obrigações de fazer, bem como a condenação em danos morais coletivos, com a devolução dos autos ao Tribunal de origem para que verifique se, no caso, há dano indenizável e fixação do eventual quantum debeatur. (REsp 1269494/MG, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 24/09/2013, DJe 01/10/2013).

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. OMISSÃO INEXISTENTE. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. CONDENAÇÃO A DANO EXTRAPATRIMONIAL OU DANO MORAL COLETIVO. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO IN DUBIO PRO NATURA. 1. Não há violação do art. 535 do CPC quando a prestação jurisdicional é dada na medida da pretensão deduzida, com enfrentamento e resolução das questões abordadas no recurso. 2. A Segunda Turma recentemente pronunciou-se no sentido de que, ainda que de forma reflexa, a degradação ao meio ambiente dá ensejo ao dano moral coletivo. 3. Haveria contra sensu jurídico na admissão de ressarcimento por lesão a dano moral individual sem que se pudesse dar à coletividade o mesmo tratamento, afinal, se a honra de cada um dos indivíduos deste mesmo grupo é afetada, os danos são passíveis de indenização. 4. As normas ambientais devem atender aos fins sociais a que se destinam, ou seja, necessária a interpretação e a integração de acordo com o princípio hermenêutico in dubio pro natura. Recurso especial improvido. (REsp 1367923/RJ, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 27/08/2013, DJe 06/09/2013).

Ressalta-se, ainda, que a responsabilidade do agente ao degradar o meio ambiente é de ordem objetiva, orientada pela teoria do risco integral, conforme já firmado pelo Superior Tribunal de Justiça em análise de recursos repetitivos:

RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. DANOS DECORRENTES DO ROMPIMENTO DE BARRAGEM. ACIDENTE AMBIENTAL OCORRIDO, EM JANEIRO DE 2007, NOS MUNICÍPIOS DE MIRAÍ E MURIAÉ, ESTADO DE MINAS GERAIS. TEORIA DO RISCO INTEGRAL. NEXO DE CAUSALIDADE. 1. Para fins do art. 543-C do Código de Processo

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO HIRAM ARMÊNIO XAVIER PEREIRA em 17/12/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 16919173200236.

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Processo N° 0006135-17.2010.4.01.3200 - 7ª VARA FEDERAL - MANAUSNº de registro e-CVD 00307.2018.00073200.2.00691/00128

Civil: a) a responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para afastar sua obrigação de indenizar; b) em decorrência do acidente, a empresa deve recompor os danos materiais e morais causados e c) na fixação da indenização por danos morais, recomendável que o arbitramento seja feito caso a caso e com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível socioeconômico do autor, e, ainda, ao porte da empresa, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso, de modo que, de um lado, não haja enriquecimento sem causa de quem recebe a indenização e, de outro, haja efetiva compensação pelos danos morais experimentados por aquele que fora lesado. 2. No caso concreto, recurso especial a que se nega provimento. (STJ, REsp 1374284/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/08/2014, DJe 05/09/2014).

Ainda no que toca à jurisprudência, atente-se à recém-aprovada Súmula n. 629 da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a consignar que “Quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não fazer cumulada com a de indenizar”.

Conforme já ressaltado, os documentos constantes dos autos demonstram o nexo causal entre a conduta adotada pelos requeridos e os danos causados ao meio ambiente.

Tais fatos geram o dever de indenizar por parte dos requeridos, tal como pleiteado na inicial, no que toca aos danos morais coletivos.

No presente caso, é inequívoca a violação do ordenamento jurídico pelos requeridos, uma vez que intervieram em área de preservação permanente, interferindo em curso d’água, causando assoreamento, com partes do solo exposto, gerando danos à comunidade local com a mortandade de animais e espécies da flora.

O dever de indenizar os danos morais coletivos ficou demonstrado nos autos.

Além disso, deve-se rememorar que o dano moral coletivo cumpre função pedagógica, ou seja, visa a desestimular as condutas ilícitas, exercendo um caráter educacional e não apenas econômico, conforme posicionamento dos tribunais: AC 200104010839323, Sérgio Renato Tejada Garcia, TRF4 – Terceira Turma, DJ 05/02/2003; RESP 200901343796, Castro Meira, STJ – Segunda Turma, DJE data: 18/02/2011.

Frise-se, por outro lado, o caráter ressarcitório do dano moral coletivo. ________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO HIRAM ARMÊNIO XAVIER PEREIRA em 17/12/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 16919173200236.

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Os variados aspectos abordados dão conta da especial gravidade do dano ambiental em análise, consistindo em obra que perpassa corredor ecológico de suma importância para a conservação de espécie de primata criticamente ameaçada, realizada sem qualquer baliza ambiental adequadamente mensurada.

Pondere-se ainda o elevado valor da obra. Embora não haja menção específica ao valor global da empreitada, consta dos autos que apenas a cessão de direitos referentes ao contrato n. 031/07-SEINF (fls. 625-629), referente à obra em análise, menciona o valor remanescente de R$ 27.656.758,87 (vinte e sete milhões, seiscentos e cinquenta e seis mil, setecentos e cinquenta e oito reais e oitenta e sete centavos), que, atualizado de fevereiro de 2009 para a presente data, soma o total de R$ 47.992.875,99 (quarenta e sete milhões, novecentos e noventa e dois mil, oitocentos e setenta e cinco reais e noventa e nove centavos; INPC, fator 1,73530370).

Considerando tais aspectos, sobretudo em face do abalo imediatamente sensível à população de Manaus, ciosa da boa preservação de seu patrimônio ambiental, da qualidade do meio ambiente e suas consequências à saúde, estando agora exposta a maiores riscos de alagamentos e atropelamento de fauna, assim como o caráter ressarcitório em relação ao dano causado, fixo em R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) o valor da indenização pelos danos morais coletivos a ser arcado, solidariamente, pelos requeridos, devendo ser revertido ao fundo de que trata o art. 13 da Lei n. 7.347/85.

Ressalta-se que o pedido referente à declaração de nulidade da Licença de Instalação expedida pelo IPAAM perdeu o objeto, conforme mencionou o MPF, tendo em vista que a obra da Av. das Torres foi concluída ainda no ano de 2010, em junho, um mês após a interposição da presente ação, conforme demonstra notícia juntada pelo Juízo às fls. 644/645.

Diante do exposto, JULGO PROCEDENTES os pedidos contidos na inicial, resolvendo o mérito nos termos do artigo 487, I, do CPC/15, para CONDENAR os requeridos Estado do Amazonas, Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas – IPAAM, Município de Manaus, Construtora ETAM Ltda., e Construtora Amazônidas Ltda., solidariamente:

I – A recuperar a área degradada descrita na exordial, conforme plano de recuperação da área degradada – PRAD, que contemple as especificidades de cada igarapé atingido, com aprovação do IBAMA, assinado por profissional habilitado, com anotação de responsabilidade técnica – ART e cronograma de execução, com prazos especificados para cada fase prevista. Prazo: 60 dias, a contar do trânsito em julgado da sentença;

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II – Subsidiariamente, acaso inviável a execução de PRAD total ou parcialmente, deverão os condenados executar medidas compensatórias aos danos ambientais produzidos, a serem estabelecidas pelo IBAMA. Prazo: 60 dias, a contar do trânsito em julgado da sentença;

III – Ao pagamento de indenização pelos danos interinos ou intermediários, bem como pelos danos residuais, em valor mínimo que arbitro em R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), passível de majoração em liquidação de sentença, acaso apresentada prova pela parte interessada, devendo o valor ser revertido ao fundo de que trata o art. 13 da Lei n. 7.347/85. Prazo: 60 (sessenta) dias, a contar do trânsito em julgado da sentença. Acaso, na fase de liquidação, seja constatado que o dano intermediário ou residual tem maior amplitude, a diferença deverá ser paga pelos requeridos conforme apurado;

IV – Ao pagamento de indenização pelo dano moral coletivo, no valor de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) devendo ser revertido ao fundo de que trata o art. 13 da Lei n. 7.347/85. Prazo: 60 (sessenta) dias, a contar do trânsito em julgado da sentença.

Com relação às obrigações de fazer, nelas incluídas a recuperação do meio ambiente degradado e a realização de medidas compensatórias, em caso de mora por parte dos condenados, fica o requerente, desde logo, autorizado a realizar as intervenções necessárias à melhor recomposição e compensação do bem ambiental, podendo valer-se da colaboração de entidades públicas e privadas, atentando-se ao disposto nos artigos 249 e parágrafo único do Código Civil e 536 do Código de Processo Civil, com a conversão da obrigação de fazer em obrigação de pagar, pelo requerido/executado, o valor total despendido nessa finalidade.

Custas pelos requeridos.

Sem condenação em honorários (STF, RE 428.324/DF; STJ, EREsp. 895.530/PR; STJ, AgInt no REsp 1531504/CE).

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Manaus/AM, 17 de dezembro de 2018.

Hiram Armênio Xavier Pereira

Juiz federal substituto

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