exmo. sr. dr. juiz de direito da vara empresarial … · contribuiÇÕes. aÇÃo anulatÓria de ato...
TRANSCRIPT
Ivan Nunes Ferreira
Luciano Vianna Araújo
Ronaldo Cramer
Raphael Duarte
Guilherme D’Aguiar
Cristiane Carvalho D’Almeida
Mia Alessandra Reis
Bruna Kamarov Benisti
Virgílio Mathias
A D V O G A D O S
Flávia Kruel
Valter Barcellos
Gustavo Klein Soares
Fernando Pinheiro Borges
Júlia Letícia de Souza
Gustavo Mizrahi
Jacqueline Tardelli C. de Oliveira
Rafaella Parente Mandarino
Júlia Jones Braz de Lima
Renata Nicoll
E S T A G I Á R I O S
R I O D E J A N E I R O
Av. Presidente Wilson 164, 6º andar, Centro RJ
20030-020 | Tel. 21 2220-6150 | Fax 21 2220-6458
S Ã O P A U L O
Rua Hungria 574, 11º andar, Jardim Europa
SP – 01455-000 | Tel./Fax 11 3814-6994
www.nfvacd.adv.br | [email protected]
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA__VARA EMPRESARIAL DA COMARCA
DA CAPITAL
A ASSOCIAÇÃO DOS APOSENTADOS E PENSIONISTAS DA
IPIRANGA (“AAPI”), com sede na Rua Bandeira do Sul, nº 181,
Anil, Jacarepaguá, Rio e Janeiro, inscrita no CNPJ sob o nº
09.571.397/0001-46, com fundamento no art. 91 do Código de
Defesa do Consumidor (CDC), vem, por seus advogados abaixo
assinados (doc. 1), propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA contra (1)
FUNDAÇÃO FRANCISCO MARTINS BASTOS (“FFMB”), inscrita no CNPJ
sob o nº 95.247.235/0001-99, com endereço na Av. Dolores
Alcatraz Caldas, nº 90, 13º andar/parte, Praia de Belas,
2
Porto Alegre/RS; (2) DISTRIBUIDORA DE PRODUTOS DE PETRÓLEO
IPIRANGA S.A., inscrita no CNPJ sob o nº 92.689.256/0001-76,
com endereço na Rua Francisco Eugênio, nº 329, São Cristovão,
Rio de Janeiro/RJ; (3) COMPANHIA BRASILEIRA DE PETRÓLEO
IPIRANGA, inscrita no CNPJ sob o nº 33.069.766/0001-81, com
endereço na Rua Francisco Eugênio, nº 329, São Cristovão, Rio
de Janeiro/RJ; (4) TROPICAL TRANSPORTES IPIRANGA LTDA.,
inscrita no CNPJ sob o nº 42.310.177/0001-34, com endereço na
Rua Francisco Eugênio, nº 329, São Cristovão, Rio de
Janeiro/RJ; (5) ISA-SUL ADMINISTRAÇÃO E PARTICIPAÇÕES LTDA.,
inscrita no CNPJ sob o nº 89.548.607/0001-70, com endereço na
Rua João XXIII, nº 2219, apartamento 02, Centro, Flores da
Cunha/RS; (6) EMPRESA CARIOCA DE PRODUTOS QUÍMICOS S.A.,
inscrita no CNPJ sob o nº 33.346.586/0058-35, com endereço na
Rua Eteno, nº 3189, Polo Petroquímico, Camaçari/BA; (7)
IPIRANGA LOGÍSTICA LTDA., inscrita no CNPJ sob o nº
08.017.542/0001-89, com endereço na Rua Francisco Eugênio, nº
329, São Cristovão, Rio de Janeiro/RJ; (8) AM/PM COMESTÍVEIS
LTDA., inscrita no CNPJ sob o nº 40.299.810/0001-05, com
endereço na Rua Francisco Eugênio nº 329, sala 401/parte, São
Cristovão, Rio de Janeiro/RJ; (9) SOCIEDADE DE ASSISTÊNCIA
MÉDICA DOS EMPREGADOS DA IPIRANGA – SAMEISA, inscrita no CNPJ
sob o nº 03.627.391/0001-67, com endereço na Av. Eng.
Francisco Martins Bastos, nº 80, Santa Tereza, Rio Grande/RS;
(10) SOCIEDADE DE EMPREGADOS DA IPIRANGA, inscrita no CNPJ
sob o nº 33.758.632/0001-78, com endereço na Rua Francisco
Eugenio, nº 329, São Cristóvão, Rio de Janeiro/RJ; (11) ALVO
DISTRIBUIDORA DE COMBUSTÍVEIS LTDA., inscrita no CNPJ sob o
nº 09.302.703/0001-49, com endereço na Rua Mariz e Barros, nº
678, 7º andar, Maracanã, Rio de Janeiro/RJ; (12) IPIRANGA
ASFALTOS S.A. – IASA, inscrita no CNPJ sob o nº
59.128.553/0001-77, com endereço na Av. Paulista, nº 1754, 7º
andar, Cerqueira César, São Paulo/SP; (13) IPIRANGA
PETROQUÍMICA S.A., inscrita no CNPJ sob o nº 88.939.236/0001-
39, com endereço na Rua Francisco Eugênio, nº 329, São
3
Cristovão, Rio de Janeiro/RJ; (14) IPIRANGA QUÍMICA ARMAZÉNS
GERAIS LTDA. (nova denominação: IQAG ARMAZÉNS GERAIS LTDA.),
inscrita no CNPJ sob o nº 06.308.585/0001-98, com endereço na
Av. Ladslau Kardos, nº 380, parte 1, Jardim Aracilia,
Guarulhos/SP; (15) REFINARIA DE PETRÓLEO IPIRANGA LTDA.,
inscrita no CNPJ sob o nº 94.845.674/0001-30, com endereço na
Rua Eng. Heitor Amaro Barcellos, nº 551, Rio Grande/RS; (16)
ISATEC - PESQUISA, DESENVOLVIMENTO E ANÁLISES QUÍMICAS LTDA,
inscrita no CNPJ sob o nº 89.314.975/0001-06, com endereço na
Av. Eng. Francisco Martins Bastos, nº 202, Santa Tereza, Rio
Grande/RS; (17) RIO GRANDE REFINARIA DE PETRÓLEO LTDA.,
inscrita no CNPJ sob o nº 08.270.757/0001-07, com endereço na
Rua Eng. Heitor Amaro Barcellos, nº 551/parte, Centro, Rio
Grande/RS; e (18) IPIRANGA QUIMICA S.A., inscrita no CNPJ sob
o nº 93.145.076/0001-96, com endereço na Av. Dolores Alcaraz
Caldas, nº 90, 13º andar/parte, Praia de Belas, Porto
Alegre/RS, pelos seguintes motivos:
A CAUSA
1- Esta é uma ação civil pública de direitos
individuais homogêneos, que objetiva ressarcir os prejuízos
materiais e morais que suportaram os aposentados,
pensionistas e empregados do grupo denominado “Empresas
Petróleo Ipiranga”, em decorrência da extinção dos planos de
previdência privada da Fundação Francisco Martins Bastos -
FFMB.
2- Sublinhe-se que, de acordo com a Súmula 321 do STJ,
a relação jurídica entre entidade de previdência privada
(aberta ou fechada) e seus participantes é de consumo.
3- Logo, cabível esta ação civil pública para
ressarcir todos os danos causados aos participantes dos
planos de previdência da FFMB, aqui considerados
4
consumidores, conforme o art. 1º, inciso II, da Lei
7.347/1985, bem como o art. 81, inciso III, do Código de
Defesa do Consumidor (CDC).
4- A fim de evitar eventual discussão sobre a via
judicial adequada para a proteção de direitos individuais
homogêneos, cumpre ressaltar que não há, para tanto, nenhuma
diferença entre ação coletiva e ação civil pública em nosso
ordenamento jurídico.
5- O fato de o art. 91 do CDC utilizar a expressão
“ação civil coletiva” não significa que o nosso ordenamento
tenha criado uma nova ação coletiva e excluído a ação civil
pública para a defesa de direitos individuais homogêneos.
6- Na realidade, o Código de Defesa do Consumidor e a
Lei da Ação Civil Pública são compatíveis entre si, sendo
possível propor ação civil pública para a defesa de direitos
individuais homogêneos, conforme já decidido pelo Superior
Tribunal de Justiça, desde 1994:
“PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PUBLICA PARA DEFESA
DE INTERESSES E DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGENEOS.
TAXA DE ILUMINAÇÃO PUBLICA. POSSIBILIDADE.
A Lei n. 7.347, de 1985, é de natureza
essencialmente processual, limitando-se a
disciplinar o procedimento da ação coletiva e não
se entremostra incompatível com qualquer norma
inserida no Título III do Código de Defesa do
Consumidor (Lei n. 8.078/90).
É princípio de hermenêutica que, quando uma lei faz
remissão a dispositivos de outra lei de mesma
hierarquia, estes se incluem na compreensão
daquela, passando a constituir parte integrante do
seu contexto.
5
O artigo 21 da Lei n. 7.347, de 1985 (inserido pelo
artigo 117 da Lei n. 8.078/90) estendeu, de forma
expressa, o alcance da ação civil publica à defesa
dos interesses e „direitos individuais homogêneos‟,
legitimando o Ministério Público,
extraordinariamente e como substituto processual,
para exercitá-la (artigo 81, parágrafo único, III,
da Lei 8.078/90). Os interesses individuais, „in
casu‟, (suspensão do indevido pagamento de taxa de
iluminação publica), embora pertinentes a pessoas
naturais, se visualizados em seu conjunto, em forma
coletiva e impessoal, transcendem a esfera de
interesses puramente individuais e passam a
constituir interesses da coletividade como um todo,
impondo-se a proteção por via de um instrumento
processual único e de eficácia imediata – „a ação
coletiva‟.
[...]
Recurso conhecido e provido para afastar a
inadequação, no caso, da ação civil publica e
determinar a baixa dos autos ao Tribunal de origem
para o julgamento do mérito da causa. Decisão
unânime.”
(REsp 49272/RS, Rel. Ministro DEMÓCRITO REINALDO,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 21/09/1994, DJ
17/10/1994, p. 27868 – grifou-se).
7- Cumpre ressaltar, inclusive, que atualmente o
Superior Tribunal de Justiça reconhece a existência de um
microssistema de proteção a interesses coletivos, no qual
todas as normas que visam tutelar direitos dessa natureza se
comunicam:
“Os arts. 21 da Lei da Ação Civil Pública e 90 do
CDC, como normas de envio, possibilitaram o
6
surgimento do denominado Microssistema ou
Minissistema de proteção dos interesses ou direitos
coletivos amplo senso, no qual se comunicam outras
normas, como o Estatuto do Idoso e o da Criança e
do Adolescente, a Lei da Ação Popular, a Lei de
Improbidade Administrativa e outras que visam
tutelar direitos dessa natureza, de forma que os
instrumentos e institutos podem ser utilizados com
o escopo de „propiciar sua adequada e efetiva
tutela‟ (art. 83 do CDC).”
(REsp 695.396/RS, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES
LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 12/04/2011, DJe
27/04/2011).
8- Portanto, tanto faz denominar, no caso, a demanda
como ação civil coletiva ou ação civil pública, trata-se de
mera questão de nomenclatura, sem interferência no
processamento e no julgamento desta causa. O importante é o
fundamento em que a ação se apoia, e no caso são os artigos
1º, inciso II, da Lei 7.347/1985 e 81, inciso III, do CDC.
POLO ATIVO
9- A Associação dos Aposentados e Pensionistas da
Ipiranga – AAPI tem legitimidade para a propositura desta
demanda, porquanto está constituída há mais de 1 ano (foi
criada em 01/03/2008) e tem, entre suas finalidades
institucionais, a proteção dos direitos dos aposentados e
pensionistas das Empresas Petróleo Ipiranga, conforme exigem
o art. 5º, inciso V, da Lei 7.347/1985 e o art. 82, inciso
IV, do CDC.
POLO PASSIVO
7
10- São rés nesta demanda a Fundação Francisco Martins
Bastos, que administrava os planos de previdência e era
patrocinadora de um dos planos, e as sociedades que compõem o
grupo Empresas Petróleo Ipiranga, que eram patrocinadoras
desses planos.
11- Todas as demandadas integravam a cadeia de comando
que resultou na extinção dos planos de previdência. As
empresas retiraram, imotivadamente, o patrocínio dos planos,
obrigando a FFMB a extingui-los.
12- Desse modo, tanto a FFMB, quanto as empresas são
responsáveis em reparar todos os danos sofridos pelos
participantes, em decorrência da retirada de patrocínio e da
extinção imotivada dos planos de previdência.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO
13- Ainda preliminarmente, esclareça-se que a
competência para julgamento desta ação é da Justiça Estadual
do Rio de Janeiro.
14- Em primeiro lugar, não se impugna, nesta ação,
nenhum ato da Secretaria de Previdência Complementar,
atualmente Superintendência Nacional de Previdência
Complementar – PREVIC, tampouco de qualquer outro órgão da
União Federal, mas sim das demandadas, que decidiram, por
vontade própria, retirar o patrocínio e extinguir os planos
de previdência oferecidos pelas Empresas Petróleo Ipiranga.
15- Com isso, afasta-se a competência da Justiça
Federal, uma vez que não há necessidade de se colocar no pólo
passivo a PREVIC ou outro ente federal.
8
16- Apenas para ilustrar, em caso semelhante, o
Tribunal Regional Federal da 3ª Região decidiu o seguinte:
“PROCESSO CIVIL. PREVIDÊNCIA PRIVADA. REAJUSTE DE
CONTRIBUIÇÕES. AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO
ADMINISTRATIVO. COMPETÊNCIA. ILEGITIMIDADE PASSIVA
AD CAUSAM DA UNIÃO FEDERAL. ATUAÇÃO FISCALIZATÓRIA
DA SECRETARIA DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR,
VINCULADA AO MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.
REMESSA DOS AUTOS À JUSTIÇA ESTADUAL. - A Lei
Complementar nº 108, de 29/05/2001, que dispõe
sobre a relação entre a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, suas autarquias,
fundações, sociedades de economia mista e outras
entidades públicas e suas respectivas entidades
fechadas de previdência complementar, estabelece,
em seu artigo 24, que „Art. 24 - A fiscalização e
controle dos planos de benefícios e das entidades
fechadas de previdência complementar de que trata
esta Lei Complementar competem ao órgão regulador e
fiscalizador das entidades fechadas de previdência
complementar.‟
- Hipótese em que essa fiscalização era, de fato,
exercida pelo Ministério da Previdência Social,
através da Secretaria de Previdência Complementar,
como se constata através do Ofício de fls. 66/67,
em que essa Secretaria autorizou, em 09/06/2006,
que o ECONOMUS efetuasse o registro contábil
noticiado acima, bem como pela Notificação de
Fiscalização realizada no período de 17/07/00 a
15/08/00.
- Os interesses próprios do órgão fiscalizador não
se confundem com aqueles que em sua atuação deve
proteger. Salvo previsão legal expressa em
contrário, a União e seus órgãos com personalidade
9
jurídica própria não são legitimados passivamente
nas ações em que se discutem os atos privados que
deveriam fiscalizar ou autorizar.
- Agravo legal a que se nega provimento.
(TRF-3, Segunda Turma, agravo de instrumento nº
200903000447147, j. em 18.03.2010 – grifou-se).
17- Demonstrada a competência da Justiça Estadual,
ressalte-se que a AAPI pode ajuizar esta ação na Comarca do
Rio de Janeiro, porque o art. 93 do CDC dispõe que, se o dano
for de âmbito nacional, como ocorreu na hipótese, o autor
pode escolher propor a demanda no foro da Capital de qualquer
Estado ou do Distrito Federal. Novamente, confira-se a
jurisprudência:
“ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. COMPETÊNCIA.
ART 2º DA LEI 7.347/85. ART. 93 DO CDC.
1. No caso de ação civil pública que envolva dano
de âmbito nacional, cabe ao autor optar entre o
foro da Capital de um dos Estados ou do Distrito
Federal, à conveniência do autor. Inteligência do
artigo 2º da Lei 7.347/85 e 93, II, do CDC.
2. Agravo regimental não provido”.
(STJ, Segunda Turma, AgRg na medida cautelar nº
13.660-PR (2007/0302772-6), Rel. Min. Castro Meira,
j. em 04.03.2008 – grifou-se).
18- Portanto, esta ação pode ser ajuizada na Comarca do
Rio de Janeiro da Justiça Estadual, sendo certo que compete à
Vara Empresarial o julgamento da causa, conforme o art. 101
do CODJERJ.
OS PLANOS DE PREVIDÊNCIA DA FFMB
10
19- Em 1993, as Empresas Petróleo Ipiranga criaram a
Fundação Francisco Martins Bastos, tendo como objeto “a
instituição, administração e execução de planos de benefícios
de natureza previdenciária, conforme definido nos
Regulamentos dos Planos de Benefícios” (doc. 2).
20- Inicialmente, a FFMB instituiu um plano de
previdência, sob a modalidade benefício definido, para os
empregados de todas as empresas do Grupo, com exceção da
Ipiranga Petroquímica S.A. Explique-se que o plano de
previdência de benefício definido é aquele em que o valor do
benefício corresponde a um percentual da remuneração que o
participante recebia antes da aposentadoria.
21- O plano de previdência então oferecido pela
Fundação era patrocinado por todas as Empresas Petróleo
Ipiranga, que eram solidárias entre si, salvo, como já dito,
a Ipiranga Petroquímica S.A. Entenda-se patrocinador como
aquele que oferece o plano a seus empregados e é garantidor
do pagamento das pensões.
22- Em 1994, as Empresas Petróleo Ipiranga adquiriram a
Atlantic Participações e Investimentos Ltda. (holding do
grupo Atlantic) e seus funcionários foram transferidos da
Atlantic Sociedade Previdenciária - ASP para a FFMB, o que
também ocorreu com os aposentados e pensionistas já atendidos
pela ASP.
23- Em 1997, a FFMB passou a administrar outro plano de
previdência, também sob a modalidade de benefício definido,
somente para os empregados da Ipiranga Petroquímica S.A.
Porém, esse plano era patrocinado apenas pela Ipiranga
Petroquímica S.A., uma vez que essa empresa era, à época, uma
joint venture com outra sociedade não integrante das Empresas
Petróleo Ipiranga.
11
24- Posteriormente, além dos dois planos de previdência
de benefício definido, a FFMB criou dois novos planos de
natureza mista, um para os empregados da Ipiranga
Petroquímica S.A. e outro para o restante dos empregados das
Empresas Petróleo Ipiranga. No plano de previdência de
natureza mista, também conhecido como plano de contribuição
definida, o benefício a ser recebido pelo participante
depende da rentabilidade obtida pela aplicação das
contribuições recebidas pelo plano.
25- Em 2002, após a Ipiranga Petroquímica S.A. deixar
de ser uma joint venture, as Empresas Petróleo Ipiranga
tornaram-se solidárias entre si no patrocínio de todos os
planos e reduziram os quatro planos existentes para dois: um
plano de benefício definido e outro de contribuição definida.
26- Assim, antes da venda das Empresas Petróleo
Ipiranga, que será explicada no capítulo seguinte, a FFMB
administrava, para todos os aposentados, pensionistas e
empregados, um plano de previdência privada de benefício
definido e um plano de previdência de contribuição definida,
com patrocínio solidário de todas as empresas do Grupo.
A VENDA DAS EMPRESAS PETRÓLEO IPIRANGA
27- Em 18 de abril de 2007, Ultrapar S.A., Petrobrás
S.A. e Braskem S.A. adquiriram o controle acionário da
Refinaria de Petróleo Ipiranga S.A. e da Distribuidora de
Produtos de Petróleo Ipiranga S.A., as quais, por sua vez,
controlavam todas as sociedades que compõem as Empresas
Petróleo Ipiranga.
28- Com a mudança de controle acionário, as empresas do
Grupo ficaram assim distribuídas entre as novas
12
controladoras: a Ultrapar ficou com a Distribuidora de
Produtos de Petróleo Ipiranga S.A., a Companhia Brasileira de
Petróleo Ipiranga, a Tropical Transportes Ipiranga Ltda., a
ISA-SUL Administração e Participações Ltda., a Empresa
Carioca de Produtos Químicos S.A, a Ipiranga Logística Ltda.,
a AM/PM Comestíveis Ltda., a Sociedade de Assistência Médica
dos Empregados da Ipiranga – SAMEISA e a Sociedade de
Empregados da Ipiranga. A Petrobras, por sua vez, recebeu a
Alvo Distribuidora de Combustíveis Ltda., empresa que foi
criada para receber a parte cindida da Companhia Brasileira
de Petróleo Ipiranga, e a Ipiranga Asfaltos S.A. – IASA. A
Braskem, por fim, tornou-se controladora da Ipiranga
Petroquímica S.A., Ipiranga Química Armazéns Gerais Ltda.,
ISATEC – Pesquisa, Desenvolvimento e Análises Químicas Ltda.
e Ipiranga Química S.A. Já a Refinaria de Petróleo Ipiranga
Ltda. e a Rio Grande Refinaria de Petróleo Ltda. ficaram sob
o comando das três controladoras.
29- Concluídas as operações societárias para mudança do
controle, as Empresas Petróleo Ipiranga e a FFMB acabaram com
a solidariedade existente entre elas no patrocínio dos planos
de previdência. Assim, as demandadas passaram a ser apenas
patrocinadoras de seus próprios planos, e não mais de todos
os planos do Grupo.
A RETIRADA DO PATROCÍNIO
E A EXTINÇÃO DOS PLANOS
30- Depois da quebra de solidariedade, as rés
decidiram, sem nenhuma justificativa, retirar o patrocínio
dos planos de previdência da FFMB. Na prática, tal decisão
significava, como efetivamente veio a ocorrer, a extinção
desses planos.
13
31- As demandadas pediram a homologação da retirada de
patrocínio e a Secretaria de Previdência Complementar – SPC a
aprovou. Ressalte-se que a SPC ainda não aprovou a retirada
de patrocínio dos planos dos empregados da Refinaria de
Petróleo Ipiranga Ltda. e da própria Fundação Francisco
Martins Bastos.
32- Neste passo, deve ser destacado que a decisão de
retirada de patrocínio e suas consequências são de inteira
responsabilidade das rés. A SPC apenas verifica se os
procedimentos formais para retirada de patrocínio foram
cumpridos, nos termos da Resolução MPAS/CPC nº 6/1988.
33- Após a aprovação pela SPC, a FFMB encaminhou uma
carta a cada um dos empregados e aposentados do Grupo
Ipiranga, dando-lhes prazo de 60 (sessenta) dias para optarem
entre (a) receber à vista o valor da reserva de retirada ou
(b) transferir esse valor para um plano de outra entidade
(doc. 3). Explique-se que reserva de retirada constitui o
valor projetado da aposentadoria integral do participante,
calculado segundo as regras da legislação pertinente.
34- Os participantes não tinham uma terceira opção.
Conforme esclarece a referida carta, caso os participantes
não escolhessem uma das duas alternativas, as rés faziam
valer a primeira opção, isto é, depositavam o valor da
reserva de retirada na conta bancária do participante.
35- Diga-se, desde logo, que as duas opções oferecidas
só trouxeram prejuízos aos participantes, seja porque o valor
da reserva de retirada foi calculado de forma incorreta, seja
porque os participantes sofreram enorme desgaste emocional,
diante das conseqüências do término do seu plano de
previdência.
14
DIREITO CONSTITUCIONAL À APOSENTADORIA
36- Não se nega, nesta petição inicial, que as rés
tenham o direito de retirar o patrocínio de um plano de
previdência.
37- Entretanto, essa retirada não pode ser
injustificada, principalmente quando se trata de um plano de
previdência fechada, oferecido pelo empregador apenas a seus
empregados.
38- A aposentadoria constitui um direito social,
assegurado ao trabalhador, conforme o inciso XXIV do art. 7º
da Constituição Federal.
39- Compreendida como um direito social, isto é,
imprescindível para a sobrevivência do trabalhador, a
aposentadoria não pode ser subtraída dos empregados, sem
nenhum motivo relevante.
40- No caso dos autos, os empregadores criaram os
planos de previdência, convenceram seus empregados a aderirem
e, depois que muitos já estavam desfrutando o benefício ou
estavam prestes a desfrutar, resolveram, sem nenhuma razão
plausível, extinguir os planos.
41- A decisão de acabar com um plano de previdência
fechada tem consequências sociais e psicológicas gravíssimas,
porque atinge o empregado no momento em que ele, após anos de
trabalho, está contando com a pensão para viver a última
quadra de sua vida.
42- Normalmente, encaixam-se nessa situação pessoas
idosas, que, durante décadas, pagaram as contribuições
15
previdenciárias e, agora, são surpreendidas com a notícia de
extinção do plano.
43- Nem se diga que o pagamento à vista do valor da
reserva de retirada ou a transferência desse valor para um
plano de outra entidade evitam qualquer prejuízo ao
participante.
44- Há, sem dúvida, graves danos. Conforme será melhor
detalhado em capítulos próprios, os danos materiais e morais
são evidentes. Os primeiros resultam do valor deficitário da
reserva de retirada, uma vez que, para quantificar esse
valor, as rés não levaram em conta as singularidades de cada
participante. Os danos morais, por seu turno, decorrem da
terrível sensação experimentada pelos participantes, ao
saberem que seus planos de previdência haviam sido extintos.
45- Ademais, ao aderirem e pagarem um plano de
previdência, os participantes têm direito adquirido ao
recebimento das contribuições previdenciárias, conforme o
art. 5º, inciso XXXVI, da Constituição, o que não pode lhes
ser surrupiado, sem nenhuma razão importante.
46- Em vista disso, as demandadas somente poderiam
privar seus empregados da aposentadoria, se houvesse algum
motivo econômico ou jurídico insuperável, como, por exemplo,
a inviabilidade financeira do plano de previdência.
47- Chama a atenção que, no caso dos autos, os planos
de previdência eram superavitários, as rés jamais tiveram
qualquer problema financeiro para geri-los.
48- Se os planos eram superavitários e não havia nenhum
impedimento jurídico para sua continuidade, a sua extinção
16
tratou-se de mero capricho das demandadas, que, decerto, não
tinham mais interesse em mantê-los.
49- Ocorre que esse capricho custou muito caro aos
participantes, criando neles um profundo descrédito em
relação às entidades privadas de planos de previdência, que
dizem garantir um futuro tranqüilo, com a aposentadoria
prometida.
CAPRICHO QUE VIOLA
A FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO DE PREVIDÊNCIA PRIVADA
50- Além de constituir a aposentadoria uma garantia
constitucional, não se pode olvidar da sua inafastável função
social.
51- A relação jurídica entre o participante e a
entidade de previdência privada não pode ser interpretada
como mera relação civil, na qual, por simples ato de vontade,
o patrocínio possa ser retirado, sem que o patrocinador arque
com as consequências desse ato.
52- Em simples contratos, nos quais não se encontram
envolvidos valores sociais tão relevantes quanto no caso em
tela, o princípio da função social do contrato tem
aplicabilidade, justamente para que não haja desvantagens
para uma das partes em detrimento da outra.
53- Trata-se de uma nova interpretação contratual,
insculpida no nosso ordenamento jurídico à luz do art. 421 do
Código Civil e com o advento do Código de Defesa do
Consumidor.
17
54- Considerando a função social do contrato, deve-se
limitar a autonomia contratual, quando presentes interesses
coletivos ou referentes à dignidade da pessoa humana.
55- Na hipótese vertente, o interesse dos participantes
no contrato era de garantir uma pensão mensal e uma vida
digna após sua aposentadoria. Ou seja, o contrato firmado
entre as partes tinha nítida função social, e, por esse
motivo, deve preponderar sempre o interesse dos
participantes.
56- A esse respeito, veja-se o ensinamento de Caio
Mario da Silva Pereira:
“A função social do contrato serve para limitar a
autonomia da vontade quando tal autonomia esteja em
confronto com o interesse social e este deva
prevalecer, ainda que essa limitação possa atingir
a própria liberdade de não contratar, como ocorre
nas hipóteses de contrato obrigatório.”
(Instituições de direito civil, v. 3. 14ª edição.
Rio de Janeiro: Forense: 2010, p. 12).
57- Repita-se: o contrato de previdência privada
relaciona-se, diretamente, com o bem-estar e a dignidade de
seus participantes, de modo que evidente a sua função social.
58- Assim, a opção das rés de extinguirem os planos de
previdência, sem qualquer justificativa, gera inequívoca
desvantagem para os participantes, de modo que todos os
prejuízos causados por esse ato devem ser ressarcidos, a fim
de que, pelo menos, reste protegida a função social do
contrato de previdência.
INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
18
59- De acordo com a já mencionada Súmula 321 do STJ, o
Código de Defesa do Consumidor rege a relação entre a
entidade de previdência complementar e seus participantes.
60- Com a incidência da legislação consumerista,
percebe-se com maior nitidez a ilegalidade do ato das rés.
61- Nenhum dos participantes, no momento da adesão, foi
esclarecido de que o plano poderia ser extinto,
unilateralmente e sem justificativa, pelas rés. No panfleto
que divulgava os planos de previdência da FFMB, o texto
dizia: “O futuro a gente garante hoje” (doc. 4).
62- A fim de conquistar novos clientes, as rés também
entregavam um material explicativo que explicava as regras
dos planos de previdência. Nesse material, não há nenhuma
linha alterando que o plano poderia ser extinto de forma
imotivada (doc. 5).
63- De acordo com os §§ 3º e 4º do art. 54 do CDC, a
possibilidade de extinção unilateral do plano tinha que estar
destacada e realçada nos documentos que os participantes
receberam no momento da adesão:
“Art. 54. [omissão]
§3o Os contratos de adesão escritos serão
redigidos em termos claros e com caracteres
ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não
será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar
sua compreensão pelo consumidor.
§4° As cláusulas que implicarem limitação de
direito do consumidor deverão ser redigidas com
destaque, permitindo sua imediata e fácil
compreensão.”
19
(grifou-se).
64- Decerto, se tivessem sido avisados desse suposto
direito das demandadas, poucos empregados das Empresas
Petróleo Ipiranga teriam subscrito o plano de previdência,
pois tal circunstância deixa o consumidor numa posição de
desvantagem exagerada. Afinal, é bastante arriscado aderir a
um plano de previdência que pode ser extinto, a qualquer
momento, por seus instituidores.
65- Todavia, ainda que a possibilidade de extinção
unilateral e imotivada do plano estivesse prevista em algum
documento de forma destacada, como manda a Lei, tal cláusula
seria considerada abusiva e, por conseguinte, nula, nos
termos do art. 51, incisos IV, IX e XV, do CDC:
“Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras,
as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento
de produtos e serviços que:
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas,
abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem
exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a
eqüidade;
IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou
não o contrato, embora obrigando o consumidor;
XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção
ao consumidor;”.
66- Assim, consoante os princípios do Código de Defesa
do Consumidor, é flagrantemente ilegal a decisão das rés de
extinguirem, de forma injustificada, os planos de previdência
de seus empregados.
20
67- Como consequência de sua atitude ilegal, as
demandadas respondem pela reparação de todos os danos
causados aos participantes, na forma do art. 14 do CDC:
“Art. 14. O fornecedor de serviços responde,
independentemente da existência de culpa, pela reparação
dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
fruição e riscos.”
(grifou-se).
68- Destaque-se, por último, que a responsabilidade das
rés é objetiva, sendo certo que as rés somente não serão
condenadas, se provarem a inexistência do ato ou culpa
exclusiva do consumidor ou de terceiro.
PERDAS E DANOS
69- Ao contrário do que se pode imaginar, a AAPI não
pretende a restauração dos planos de previdência, muito
embora essa providência fosse a ideal. Infelizmente, a
ilegalidade já foi concretizada e, promovida a extinção dos
planos de previdência da FFMB, não há mais como, na prática,
restabelecê-los.
70- Em troca, o que deseja a AAPI é a condenação das
demandadas em perdas e danos, por ilícito contratual. Visto
que a Constituição Federal (aposentadoria como direito
social), o Código Civil (função social do contrato) e o
Código de Defesa do Consumidor (ausência de esclarecimento e
cláusula abusiva) vedam a extinção imotivada de um plano de
previdência, e assim deve ser interpretado o contrato de
previdência privada, as demandadas cometeram ilícito
contratual.
21
71- Como o contrato não prevê multa para a hipótese
destes autos, a conduta das rés deve ser caracterizada como
descumprimento de obrigação contratual e sancionada com
condenação a pagar indenização por perdas e danos, tudo
conforme prevê o art. 389 do Código Civil:
“Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o
devedor por perdas e danos, mais juros e
atualização monetária segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, e honorários de
advogado”.
72- No caso, os danos a serem indenizados pelas rés
compreendem três prejuízos específicos:
(a) O valor insuficiente da reserva de retirada
pago a cada participante;
(b) O valor arbitrariamente descontado da reserva
de retirada e para o qual não foi dada nenhuma
explicação;
(c) O dano moral experimentado pelos participantes
ao terem conhecimento que sua aposentadoria
foi extinta e que “seu futuro não estava mais
garantido”.
73- Cada um desses prejuízos será explicado,
detidamente, nos próximos capítulos.
74- Sendo esta uma ação civil pública de direitos
individuais homogêneos, a determinação do valor de
indenização por danos morais pode ser feita na sentença da
fase conhecimento, pois não depende da apreciação da situação
particular de cada associado.
22
75- Já a quantificação dos prejuízos com o valor da
reserva de retirada (explicados nos itens (a) e (b) do item
72 acima), tal cálculo deverá ser feito em fase de liquidação
de sentença, quando cada participante ingressará no processo,
para demonstrar o dano e executar a sentença contra as
demandadas, conforme prescrevem os artigos 95 e 97 do CDC:
“Art. 95. Em caso de procedência do pedido, a
condenação será genérica, fixando a
responsabilidade do réu pelos danos causados.”
Art. 97. A liquidação e a execução de sentença
poderão ser promovidas pela vítima e seus
sucessores, assim como pelos legitimados de que
trata o art. 82”.
76- Portanto, por terem privado todos os empregados das
Empresas Petróleo Ipiranga do direito à sua aposentadoria,
nas condições em que foram contratadas, devem as rés ser
condenadas ao ressarcimento de todos os danos materiais e
morais suportados pelos participantes.
RESERVA DE RETIRADA:
VALOR INCORRETO
77- Como explicado, ao extinguirem os planos de
previdência, as demandadas calcularam o valor da reserva de
retirada de cada participante, para ser depositado à vista ou
transferido para outra entidade de previdência complementar,
a fim de constituir plano de previdência similar ao da
Fundação Francisco Martins Bastos.
78- Como igualmente dito, a reserva de retirada
corresponde, em tese, ao valor projetado da aposentadoria
integral do participante. Deve ser a soma de todos os valores
23
que o participante receberia mensalmente de aposentadoria,
segundo as condições do plano a que aderiu.
79- Como na FFMB as aposentadorias são vitalícias e
transferem-se, no caso de falecimento do participante, para a
mulher ou os filhos (menores ou universitários até 24 anos),
esse cálculo não é tão simples.
80- Para quantificar o valor da reserva de retirada de
cada participante, as rés criaram um critério médio,
arbitrando a média da expectativa de vida dos participantes,
da expectativa de vida da mulher dos participantes e da idade
em que os participantes têm filhos.
81- Com muita facilidade, constata-se que, ao adotar
esse critério, as demandadas calcularam valores de reserva de
retirada completamente equivocados, sem nenhum amparo com a
realidade de cada participante.
82- Basta ver o seguinte exemplo: se um participante
casou-se com uma mulher 10 anos mais nova do que ele, teve
seu primeiro filho aos 50 anos e tem mais de 80 anos de
idade, seu caso, com certeza, não se encaixará no critério
médio estabelecido pelas demandadas.
83- Para piorar, o alegado critério médio utilizado
pelas rés não foi divulgado ou esclarecido aos participantes.
Simplesmente eles receberam um extrato com o valor da reserva
de retirada e só, sem nenhuma indicação de como as demandadas
chegaram àquela quantia. Um verdadeiro acinte!
84- Desse modo, o valor da reserva de retirada foi
calculado de maneira iníqua, pelo que as rés devem ser
condenadas a ressarcir os prejuízos sofridos pelos
24
associados, cujo valor deverá ser apurado individualmente, na
fase de liquidação de sentença, na forma do art. 97 do CDC.
A EVIDÊNCIA CONCRETA DA INJUSTIÇA DO CÁLCULO
85- Sabe-se que esta ação civil pública de direitos
individuais homogêneos tem duas fases. Na primeira, apura-se
a responsabilidade, e na segunda, liquidam-se os prejuízos,
para executá-los contra o réu.
86- Por mais que, no início da demanda, não seja
necessário conhecer o valor dos prejuízos, a AAPI quer, neste
capítulo, demonstrar que os participantes foram muito
prejudicados com o “cálculo secreto” do valor da reserva de
retirada.
87- Veja-se o exemplo de um associado da AAPI. Ele tem
57 anos de idade e recebia, no plano de previdência da FFMB,
R$ 9.807,67 mensais. Conforme a tabela de mortalidade do
IBGE, a expectativa de vida para um homem de 57 anos é de
21,6 anos. Considerando 13 valores de previdência por ano, já
que o plano da FFMB pagava o equivalente ao 13º salário, o
valor que o associado recebia anualmente correspondia a R$
127.499,71. Multiplicando-se essa quantia por 21,6, chega-se
ao valor de R$ 2.753.933,73.
88- No entanto, a FFMB pagou a esse associado, como
reserva de retirada, o valor de R$ 2.184.164,07, menos de R$
569.769,66 do que o cálculo acima. E repare-se que a referida
conta não considerou a correção monetária, nem o fato de que,
após a morte do associado, o valor da previdência transfere-
se para sua mulher.
25
89- Por meio dessa conta bem simples, verifica-se que o
valor de reserva de retirada pago aos participantes foi muito
menor do que o devido.
DESCONTO ARBITRÁRIO
90- Afora o cálculo incorreto, as demandadas promoveram
um desconto arbitrário no valor da reserva de retirada.
91- No extrato do valor da reserva de retirada, esse
desconto aparece no campo intitulado “valores antecipados”.
Veja-se, por exemplo, no extrato anexo (doc. 6), que não há
nenhum esclarecimento para essa dedução.
92- Desse modo, as rés devem ser condenadas a pagarem
todos os valores que descontaram, sem nenhuma explicação, das
reservas de retirada de cada participante. Essas quantias
deverão ser apuradas individualmente, na fase de liquidação
de sentença, conforme prescreve o art. 97 do CDC.
PAGAMENTO ADICIONAL:
CONFISSÃO DE QUE O CÁCULO FOI ERRADO
93- Recentemente, os participantes foram pegos de
surpresa.
94- A FFMB enviou, por e-mail, a todos os participantes
um inusitado aviso, no qual informa que pagará “um valor
adicional e residual correspondente à diferença de
atualização dos investimentos, apurada da data-base de
retirada até a data do efetivo pagamento das reservas” (doc.
7).
95- Em outras palavras, ao pagar aos participantes um
valor adicional, a própria FFMB reconhece, mais de um ano
26
depois do depósito da reserva de retirada, que o cálculo
dessa reserva foi incorreto.
96- No entanto, ainda assim, a FFMB e as demais rés
não informaram qual o critério utilizado para o cálculo
adicional da reserva de retirada, o que dá aos participantes
a certeza de que mais erros e incongruências existiram nessa
conta.
DANO MORAL
97- Para José Afonso da Silva, o direito à previdência
social é o “instrumento mais eficiente da liberação das
necessidades sociais, para garantir o bem-estar material,
moral e espiritual de todos os indivíduos da população”
(Curso de direito constitucional positivo. 32 ed. São Paulo:
Malheiros, 2009, p. 310 – grifou-se).
98- Tal direito consiste na segurança do trabalhador
que, após contribuir para a previdência durante toda sua vida
profissional, terá a tranqüilidade de se aposentar e receber
proventos que lhe permitam viver dignamente.
99- Ou seja, os proventos advindos da aposentadoria,
mais que possuírem natureza alimentar, garantem todos os
direitos sociais ao cidadão.
100- A violação do direito à previdência implica
situação grave o suficiente para afetar a dignidade da pessoa
humana.
101- Isso exatamente o que ocorreu no caso dos autos. De
repente, os participantes dos planos da FFMB foram
comunicados que, em 60 dias, receberiam um montante calculado
unilateralmente por ela, a título de aposentadoria.
27
102- Posteriormente, os participantes receberam em suas
contas valores inferiores ao devido, sem que sequer fosse
apresentada a forma do cálculo que apurou essas quantias.
103- Após anos de contribuição, os associados viram-se
abandonados à própria sorte pelas rés.
104- Sem alternativa, alguns participantes buscaram
investimentos para receberem um determinado valor mensal,
como esperavam que fosse ocorrer com os planos da FFMB.
Entretanto, nenhum investimento se aproxima do que eles
receberiam com aquele plano.
105- Ressalte-se que a FFMB administrava um fundo de
aproximadamente R$ 850 milhões, com taxas de administração
baixíssimas e elevada rentabilidade em virtude do montante
aplicado. Ao receberem a reserva de retirada, muitas vezes de
valor insuficiente para reivindicar perante outras entidades
taxas de administração menores e aplicações semelhantes às
feitas pela FFMB, os participantes viram-se completamente
desamparados pelo Grupo Ipiranga, que lhes havia prometido
garantir seu futuro.
106- Não se pode esquecer que, nos panfletos em que
divulgavam os seus planos, as demandadas anunciavam: “O
futuro a gente garante hoje” (vide novamente doc. 4).
107- Dessa forma, o fim inesperado dos planos de
previdência da FFMB gerou graves e irreversíveis danos morais
aos participantes, já que eles jamais terão a tranquilidade
de gozarem de suas aposentadorias nas condições previstas
pela FFMB.
28
108- Sobre o conceito de dano moral, transcreva-se a
lição de YUSSEF SAID CAHALI:
“Na realidade, multifacetário o ser anímico, tudo
aquilo que molesta gravemente a alma humana,
ferindo-lhe gravemente os valores fundamentais
inerentes à sua personalidade ou reconhecidos pela
sociedade em que está integrado, qualifica-se, em
linha de princípio, como dano moral”.
(Dano moral. 2 ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1998, p. 20)
109- Não há dúvida de que, no caso, houve ofensa à
dignidade dos participantes, porquanto estes viram frustradas
todas as suas expectativas com relação ao futuro. Mais que
isso: tiveram a certeza de que não terão a estabilidade que
pretendiam ao se aposentarem.
110- Dessa forma, a perda de seu plano de previdência,
com tudo que isso implica, provocou grave perturbação nos
associados, o que, inevitavelmente, se configura dano moral.
PEDIDO
111- Por essas razões, a AAPI confia em que V.Exª
julgará procedente o pedido, para condenar as rés a pagarem
aos participantes dos planos de previdência:
(a) indenização por danos materiais, decorrentes
do cálculo incorreto do valor da reserva de
retirada e do valor arbitrariamente descontado
dessa reserva, tudo a ser apurado
individualmente, em fase de liquidação de
sentença, nos termos do art. 97 do CDC.
Ressalte-se que essa indenização é devida
29
ainda que se entenda que a extinção dos planos
de previdência teria sido lícita;
(b) indenização por danos morais, advindos da
abrupta, imotivada e ilegal extinção dos
planos de previdência da FFMB, a serem fixados
judicialmente.
112- Pede, ainda, a condenação das demandadas em ônus de
sucumbência.
113- Requer a citação das rés, por oficial de justiça e
carta precatória, nos endereços indicados no preâmbulo desta
inicial.
114- Protesta pela produção de prova documental
superveniente, oral e pericial.
115- Dá a causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).
116- Por fim, protesta pela juntada da procuração no
prazo de 15 dias, como autoriza o art. 37 do CPC.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Rio de Janeiro, 15 de maio de 2011.
RONALDO CRAMER
OAB/RJ 94.401
IVAN NUNES FERREIRA
OAB/RJ 46.608
VIRGÍLIO MATHIAS
OAB/RJ 134.983
BRUNA KAMAROV
OAB/RJ 159.069