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MODELAGEM FASORIAL DINÂMICA DE PROTEÇÃO EM LINHAS DE TRANSMISSÃO EM
UM SIMULADOR DE GRANDES PERTURBAÇÕES
Rodolfo Elias de Castro e Almeida
Orientador: Prof. Mauricio Campos Passaro
Instituto de Sistemas Elétricos e Energia (ISEE)
Resumo – Este trabalho apresenta a modelagem e
implementação de um simulador para treinamento de
operadores visando a proteção de linhas de
transmissão do sistema elétrico. Com o intuito de
reproduzir o Sistema Interligado Nacional (SIN)
utilizou-se das filosofias de proteção e dos
procedimentos de rede do Operador Nacional do
Sistema Elétrico (ONS). Para esclarecimento da
ideia, abordam-se, as topologias do SIN e as
principais funções para proteção de linhas, assim
como os métodos para detecção de falta. Alguns casos
são simulados para mostrar o funcionamento do
simulador e sua potencialidade quanto a distúrbios
inerentes ao sistema elétrico, curto-circuitos.
Palavras-Chave: curto-circuito, linhas de
transmissão, proteção, simulador, SIN.
I - INTRODUÇÃO
A geração de energia elétrica no Brasil começou em 1883 com o início da operação da
primeira usina hidrelétrica do país, localizada no
Ribeirão do Inferno, afluente do rio Jequitinhonha, na
cidade de Diamantina. Apenas em 1889 entrou em
operação a primeira hidrelétrica de maior porte no
Brasil, Marmelos-Zero da Companhia Mineira de
Eletricidade, em Juiz de Fora – MG [1]. Estavam
andados os primeiros passos para o país vir a ter um sistema hidrelétrico dos mais complexos e eficientes de
todo o mundo. O baixo custo de operação propiciado
pela hidroeletricidade incentivou a expansão deste tipo
de geração ao longo do século XX até hoje.
Com o advento do aumento populacional e o
crescimento econômico do novo país chamado Brasil,
cada vez mais se fez importante à necessidade de
energia elétrica. A partir de 1900 o Brasil começou a
criar uma estrutura energética com grandes usinas,
órgãos administrativos, comitês de distribuição e em
dezembro de 1997 foi criada a ANEEL, Agência
Nacional de Energia Elétrica, com o objetivo de regular, fiscalizar, implementar políticas e estabelecer
tarifas para o Setor Elétrico Brasileiro [2].
Com o crescimento da carga demandando o
aumento regular do número e da potência de unidades
geradoras, cada vez mais a distância se tornou um
desafio para a transmissão de energia, visto que nossa
opção por usinas hidráulicas impôs a exploração de
grandes rios cada vez mais distantes para geração de
energia elétrica.
Nas décadas de 60 e 70 foram instalados
grandes sistemas de transmissão. Na chamada “década perdida” (anos 80), a entrada em operação da
Hidrelétrica de Itaipu e seus sistemas de transmissão
em corrente contínua em ±600 kV e em corrente
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
OUTUBRO/2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ
ENGENHARIA ELÉTRICA
2
alternada em 765 kV assegurou o atendimento da
expansão que a carga pôde ter naquelas condições
econômicas. Então a Interligação Sul-Sudeste em 500
kV dava início a melhores condições operativas em
função da alternância dos regimes hídricos de ambas as
regiões, fazendo com que as linhas de interligação
passassem a figurar como geradores virtuais para a
região que estivesse em carência energética sazonal
devido ao período seco do ano. No início dos anos 80, também as regiões Nordeste e Norte passaram a
usufruir de interligação em 500 kV. Ao fim da década
de 90 e ao longo do terceiro milênio, novas usinas
hidráulicas impuseram a transferência de energia de
longa distância entre regiões do Brasil como a
transmissão Norte-Sudeste e Nordeste-Sudeste, bem
como a expansão das interligações Norte-Nordeste e
Sul-Sudeste [1].
Na presente década o Brasil vem consolidando
a expansão do Sistema Interligado Nacional (SIN) até
as mais remotas cargas do Noroeste e as quase que derradeiras explorações hidrelétricas possíveis no
Noroeste e no Norte. A operação interligada – o
espírito do SIN – tem sido bem-sucedida a ponto de
sobrepujar condições hidrológicas e econômicas
particularmente adversas, evitando-se um racionamento
de energia elétrica.
Uma vez que as linhas de transmissão aéreas
são expostas a todo tipo de intempéries e outras ações
danosas às fazem suscetíveis a frequentes curtos-
circuitos, daí vem a relevância das respectivas
proteções. Em 2014 a Rede Básica e a Rede de Operação sofreram cerca de 6.000 curtos-circuitos [3] e
os consumidores em pouco ou nada foram afetados,
graças à eficácia das proteções.
Assim, conforme Mamede [4], como a maioria
das transmissões de energia elétrica no Brasil são feitas
por linhas aéreas muito susceptíveis a falhas sejam
estas naturais ou humanas, pois estão totalmente
expostas à ação do tempo, manter sua disponibilidade
em níveis otimizados é uma missão que se encara como
desafio diário. Uma necessidade básica dos sistemas
elétricos foi criar uma proteção que poderia religar uma
linha para manutenção ou retira-la de operação no caso da incidência de descargas atmosféricas, vendavais,
queimadas e ações humanas [4].
Com o intuito de minimizar os efeitos destes
defeitos as linhas de transmissão começaram a ser
protegidas ao longo de seu percurso e em suas
extremidades através de cabos-guarda, para-raios e
disjuntores associados a relés de proteção [4].
Um sistema elétrico como o SIN supera
inúmeras contingências, mas inevitavelmente pode
sucumbir diante das perturbações de grande porte que
se propagam por meio do efeito cascata ou efeito dominó. Os operadores dos Centros de Controle desde
o Centro Nacional, os Centros de Geração, os Centros
de Transmissão até o menor Centro de Distribuição são
treinados para fazer o humanamente possível para
minimizar as consequências (propagação) e para
restabelecer a volta ao serviço de todo o SIN
(recomposição). Este tipo de treinamento pode vir a ser
aperfeiçoado por meio do desenvolvimento de um
Simulador de Grandes Perturbações e de
Recomposição, graças ao advento de ferramentas
poderosas de engenharia como o programa Organon*.
Diante de tal cenário de perspectiva de
pesquisa e desenvolvimento de um simulador
revolucionário em sua concepção e prático como
requerem os operadores, pensando na ação diuturna de zelar pela disponibilidade de energia elétrica no Brasil,
este TFG se propõe a prover diversos modelos de
funções de proteção de linhas de transmissão que
reproduzam acuradamente o desempenho de todos os
relés eletromecânicos, estáticos e digitais, bem como
todos os IEDs (Intelligent Electronic Devices) em
serviço no país.
II – REFERENCIAL TEÓRICO
Estudiosos da área econômica correlacionaram o
desenvolvimento de um país com o consumo per
capita de energia elétrica e o seu respectivo índice de
crescimento. Esta correlação vem do fato do consumo
estar ligado diretamente à produção industrial e ao
poder aquisitivo da população. Com o aumento da população e do desenvolvimento econômico, torna-se
prioritário o aumento da potência disponível (instalada)
na matriz energética do país [8].
Inúmeras fontes comercias de energia elétrica
estão em uso no mundo. Cada país, devido a suas
topologias geográfica, hidrográfica e eólica, escolhe as
fontes a serem instaladas levando em consideração o
custo de produção e o retorno do investimento. Para
um aproveitamento hidroelétrico viável, como é o caso
do Brasil, as condições geográficas e hidrográficas que
em geral localizam-se longe dos centros de consumo levam à necessidade de transportar a energia elétrica
através das linhas de transmissão (LTs) [8].
Existem duas modalidades para transmissão de
energia elétrica: por corrente contínua e por corrente
alternada. Ambas são adequadas para a transmissão a
longas distâncias e a opção técnico-econômica entre
elas é uma decisão tomada no planejamento de longo
prazo da expansão do sistema elétrico. No Brasil já há
dois elos de corrente contínua em alta tensão (HVDC
links), mas o Sistema Interligado Nacional (SIN), como
todos os seus congêneres, é em corrente alternada da
geração até a carga [8], [4]. As linhas de transmissão também podem ser
aéreas ou subterrâneas. Neste trabalho serão
mencionadas as aéreas, pois são os componentes do
sistema elétricos mais susceptíveis a incidência de
agentes externos, tais como: descargas atmosféricas,
queimadas, crescimento da vegetação na faixa de
servidão, vendavais, ações humanas acidentais e
vandalismos. Acresce que as linhas de transmissão
também podem sofrer problemas como trinca, quebra
ou poluição das cadeias de isoladores, ruptura de
condutores ou cabos para-raios (fios ou cabos de guarda), que são inerentes às suas características
3
construtivas e condições de manutenção. A ocorrência
de um destes eventos dá origem a um curto-circuito,
cujas consequências podem conduzir ao mero
desligamento automático da LT ou a uma perturbação
em larga escala, dependendo das condições
prevalecentes no sistema elétrico naquele momento [4].
Cabe citar que a modelagem da função de
proteção diferencial pode ser utilizada para linhas de
transmissão subterrâneas. A engenharia de linhas de transmissão aéreas trata
de criar meios de prevenção de ocorrência de curto-
circuito, bem como cuida de desligar automaticamente
a linha defeituosa e, se viável, prover religamento
automático rápido. A prevenção da ocorrência de curto-
circuito baseia-se em características construtivas
adequadas como torre típica, faixa de servidão, cabos
para-raios, baixa resistência de pé de torre, cabo
contrapeso (counterpoise) entre outros. Uma vez
submetida a um curto-circuito, a LT deve ser desligada
automaticamente no mínimo tempo possível, ação ao encargo dos relés de proteção (sensores e atuadores) e
dos disjuntores (equipamentos de manobra capazes de
interromper a corrente de curto-circuito) [4], [3].
Os elementos da proteção (relés e disjuntores) têm
por função retirar uma linha de operação
automaticamente em meio a um defeito (curto-
circuito). A atuação da proteção deve atender aos
seguintes requisitos básicos: velocidade de atuação,
sensibilidade, confiabilidade, compatibilidade
eletromagnética e automação (em harmonia com o
controle local) [4], [9]. Os dispositivos de proteção (relés ou IEDs)
contêm as funções adequadas a cada tipo de
componente protegido (barra, linha, transformador,
unidade geradora e outros equipamentos). As principais
funções de proteção de linhas de transmissão a serem
implementadas (modeladas) no trabalho, conforme
norma ANSI são:
21-Proteção de distância
87- Proteção diferencial longitudinal
59- Proteção para sobretensão
Por meio da função 21 podem ser implementados
vários esquemas (lógicas) de teleproteção com o fito de
assegurar proteção sem retardo intencional para curto-
circuito de qualquer tipo em qualquer ponto da LT [4].
Na proteção de linhas de transmissão a função
mais utilizada no Brasil é a de distância (21) devido ao
grande comprimento das linhas. Essa função utiliza os
valores de tensão e corrente das linhas medidos através
de TPs e TCs e assim obter características de operação
baseadas em valores de impedância. Este valor medido
pelo relé está diretamente ligado ao ponto de falta associado à linha, que nada mais é que uma fração da
impedância de sequência positiva existente entre o relé
e o defeito [4].
A função de distância tem suas características de
operação expressas no plano R-X, ou diagrama polar.
As características de operação são implementadas por
meio de figuras circulares e/ou retilíneas com as quais
são definidas no diagrama R-X regiões finitas de
atuação das subfunções de distância, como, por
exemplo, as zonas de proteção. A decisão de operação
do relé está ligada à área finita de atuação, na qual a
impedância medida venha se localizar. Caso a
impedância medida não esteja no interior de nenhuma
das características de operação, o relé não opera [4],
[9]. Até meados do século passado os sistemas
elétricos operavam individualmente, mas a expansão da
carga e a necessidade de uma maior confiabilidade do
fornecimento de energia elétrica conduziram a uma
interligação dos sistemas individuais. O SIN é
constituído de grandes interligações como a Norte-
Sudeste, Nordeste-Sudeste, Norte-Nordeste e Sul-
Sudeste que ligam um extremo do país ao outro e
interligações entre subsistemas regionais onde há
necessidade do transporte de energia devido às
condições hidrológicas sazonais [8], [4]. Os problemas inerentes ao comportamento
transitório das máquinas rotativas levaram à criação de
modelos dinâmicos para estudos de estabilidade
angular e de tensão. Estes modelos são descritos por
um conjunto de equações normalmente não lineares
onde algumas das variáveis são: velocidade angular,
frequência, corrente e tensão [10].
Através de métodos de linearização é possível que
os modelos encontrem as equações de estado de um
sistema de potência. A função destes modelos
dinâmicos é encontrar um ponto de equilíbrio, ou seja, um ponto em que todos os elementos ativos consigam
operar em sua determinada frequência e com
estabilidade, sem causar danos ao sistema [10].
Para a incorporação de funções de proteção a um
simulador da dinâmica do sistema elétrico são
necessários algoritmos de curto-circuito e de análise de
resposta transitórias. Com a disponibilidade destes
algoritmos no programa Organon, iremos desenvolver
um simulador por modelagem fasorial para
perturbações de grande porte. Sendo o programa que o
Operador Nacional do Sistema (ONS) utiliza para
controle do SIN estaremos utilizando de uma ferramenta muito confiável para testes e análises.
O Conselho Internacional de Grandes Sistemas
Elétricos (CIGRÉ) publicou em sua revista Electra do
mês de dezembro de 2015 que as redes elétricas estão
para ter grande mudança na geração distribuída,
aumento da eficiência e capacidade além de mencionar
que “É obvio que a automação da operação das redes
irá continuar a crescer em importância” [11].
Dentre os desafios e soluções mencionados na
área da proteção e automação pela revista, alguns estão
sendo analisados e discutidos neste trabalho como; proteção para faltas, controle de tensão em unidades
geradoras, sincronismo do sistema e comunicação.
“Como já realizado no passado, sistemas de automação
e proteção irão suportar a evolução da rede” [11].
4
III – METODOLOGIA CIENTÍFICA
Este TFG é voltado essencialmente para a Rede
Básica, mas é também aplicável às LTs de menores
níveis de tensão A Rede Básica aqui considerada é a
vigente no SIN, sendo constituída por linhas de
transmissão de níveis de tensão de 230 a 750 kV
operadas por dez concessionárias de serviço público de
transmissão administrando um total de 125.640 km de
LTs [12]. A Figura 1 apresenta os percentuais
correspondentes aos níveis de tensão:
Figura 1: Distribuição das Linhas por Tensão
Com o objetivo de assegurar que a modelagem se
aplica igualmente a todas as tecnologias de
implementação de sistemas de proteção
(eletromecânica, eletrônica de estado sólido e digital
numérica), o ferramental a ser utilizado consiste de comparadores de sinais elétricos. Os comparadores
utilizados no trabalho são de amplitude e de fase tipo
cosseno [14].
Comparador de Amplitude: Quando o módulo do
sinal de operação (SO) for maior que o módulo do sinal
de restrição (SR) multiplicado pela declividade (%) s,
haverá sinal de disparo para o disjuntor.
Comparador Cosseno: Este comparador trabalha
com sinais de tensão (S1 – operação – e S2 –
polarização) que variam conforme a perturbação
imposta ao sistema, a característica de operação está
ligada ao ângulo entre os sinais:
Operação
Apresenta condição ótima de operação quando
.
Não Operação
Possui condição ótima de restrição quando
As principais funções utilizadas no Brasil e que
serão abordadas neste trabalho são:
Proteção de Distância [14]
A proteção de distância (21) é a função mais
amplamente utilizada no Brasil para linhas de transmissão. Na qualidade de proteção gradativa, sua
implementação é feita por zonas de atuação
determinadas pelos respectivos alcances [4]. A Figura
2 descreve a essência da aplicação dessa função às
LTs:
Figura 2- Esquema de Três Zonas de Distância
Zona 1 – Atua sem retardo intencional para
faltas garantidamente internas à LT protegida.
Devido aos erros decorrentes de imprecisões
nas impedâncias da linha, nos transformadores
de potencial e corrente em regimes
permanente e transitório, bem como nos
próprios dispositivos da zona um em ambos os
regimes citados, seu alcance resulta inferior ao
comprimento total da linha, deixando
descoberto o trecho junto ao terminal oposto.
Zona 2 – Atua com retardo intencional para faltas internas à LT, visando cobrir o trecho
final não protegido pela zona um. Devido aos
erros decorrentes de imprecisões nas
impedâncias da linha, nos transformadores de
potencial e corrente em regime permanente,
bem como nos próprios dispositivos da zona
dois também em regime permanente, seu
alcance resulta superior ao comprimento total
da linha, o que implica em temporização para
assegurar as proteções de componentes
adjacentes. Zona 3 – Atua com retardo intencional para
faltas externas à LT em questão, devendo
detectar curtos-circuitos na extremidade
remota da LT adjacente eletricamente mais
longa. Esta implementação como retaguarda
remota num sistema elétrico de fontes
múltiplas pode ser inviável em função da
necessidade de discriminar o carregamento
máximo.
42%
8% 5%
33%
10% 2%
Linhas de Transmissão [kV]
230
345
440
500
600 (CC)
TEMPO
ZONA 1
ZONA 2
ZONA 3
T2
T3
Z1
Z2
Z3T3
T20
0
1 TRIP
TRÊS CONJUNTOS
DE UNIDADES
DE MEDIDA
5
Proteção Diferencial Percentual Longitudinal [14]
A proteção diferencial (87) tem por objetivo a
comparação de sinais (módulo e ângulo) das correntes
das extremidades da linha intercambiadas por um
sistema de comunicação (teleproteção). A função
diferencial é, por excelência, a mais adequada à
implementação de proteção unitária [4]. A Figura 3
resume esta filosofia de proteção unitária:
Figura 3- Função Diferencial Percentual Longitudinal
IV – FERRAMENTAL PARA A MODELAGEM
Proteção de Distância
Como a função 21 apresenta características de
operação variáveis no diagrama polar (R-X), a
modelagem será feita sem depender de verificação geométrica para a decisão de sua atuação. Assim, a
modelagem consistirá em uma única equação de
resultado escalar a ser comparado com os alcances das
N zonas em pu do comprimento da linha.
Em decorrência do estágio de desenvolvimento
atual do Organon para superposição de curto-circuito,
as funções de distância são modeladas exclusivamente
para a componente simétrica de sequência positiva.
Esta é a única peculiaridade (temporariamente)
restritiva quanto aos modelos das funções de distância
e diferencial percentual longitudinal. Por outro lado, este TFG é bastante inovador ao
modelar a função de distância de característica mho por
intermédio do conceito de localização de falta descrito
em [13]. Uma vez que a característica mho para um
dado tipo de defeito é variável [14] (assim como a
quadrilateral), conforme mostra a Figura 4, a
modelagem convencional implicaria em verificação
geométrica para cada condição de falta:
Figura 4a- Característica para Falta à Frente
Figura 4b- Característica para Falta Reversa
Figura 4- Característica Mho Variável
Nunca é demais mencionar que, para uma dada
zona (um dado alcance), a característica de operação
varia em função dos seguintes fatores de influência:
tipo de curto, tensão de polarização, localização da
falta interna ou externa, impedância da fonte (ZS) medida pelo relé, impedância de transferência entre os
terminais da LT, fluxo de potência pré-falta, resistência
de falta (havendo fluxo pré-falta). Por exemplo, para
uma falta em uma dada localização, fixados os demais
fatores haverá uma característica correspondente;
qualquer variação isolada ou conjunta dos demais
fatores implica em outra característica devido à
variação de ZS. Mesmo dispondo da equação abaixo,
determinada por Ordacgi e Sollero [15], para
determinação acurada de ZS, o dispêndio de capacidade
e rapidez de processamento seria inconveniente por
excessivo:
No caso de um modelo de sequência positiva com polarização por ação de memória, como neste TFG, a
equação passa a ser:
Portanto, é muito mais prático empregar a
equação que se segue, onde o resultado escalar
adimensional “r” pode ser comparado com os alcances
das N zonas em pu ou % do comprimento da linha:
COMPONENTEPROTEGIDO
RTC RTC
87 I
IS1 IS2
IRESTRIÇÃO
s
I
OPERA
NÃO OPERA
IP1 IP2
IRESTRIÇÃO
R
XZR
ZS
ZMEDIDO
S”2
S”1
+90o
-90o
OPERA
NÃO
OPERA
ZMEDIDO
S”2S”
1ZR
ZS
R
XOPERA
NÃO OPERA
6
Proteção Diferencial Percentual Longitudinal [14]
A implementação mais frequente de proteção
diferencial às linhas de transmissão é pelo critério
percentual, que compara uma corrente de operação com
um percentual de uma corrente de descrição. Esse
critério tem sido usado nas tecnologias eletromecânica,
estática e digital A Figura 5 descreve o modelo
empregado neste TFG:
Figura 5- Proteção Diferencial Percentual
A proteção diferencial desenvolvida pela SEL Inc.
[16], única no gênero por trabalhar exclusivamente no
Diagrama Polar [14], também pode ser facilmente
modelada, se necessário. A Figura 6, gentilmente
cedida pela SEL Inc., resume a característica de
operação deste tipo de função 87L:
Figura 6a- Condição de Falta Interna
Figura 6b- Condição de Falta Externa
Figura 6- Proteção Diferencial 311L da SEL Inc.
Teleproteção por Signalling [14]
Uma vez que a aplicação da proteção diferencial
às linhas tipicamente longas do SIN é recente, graças
ao advento da telecomunicação digital por fibra ótica,
as funções 21 e 67N têm sido empregadas para
implementar proteções unitárias, mediante o conceito
de signalling. Este conceito de teleproteção consiste
em intercambiar sinais binários oriundos das unidades
21 e 67N por um sistema de telecomunicação que pode
ser tão simples quanto as Ondas Portadoras em Linhas
Aéreas de Transmissão (OPLAT). Desta forma, podem ser configurados diversos
esquemas (circuitos lógicos) capazes de assegurar a
detecção de faltas internas em qualquer ponto da LT
protegida.
Em suma, a teleproteção (associação das técnicas
de comunicação entre os relés de proteção) é o meio
pelo qual se pode aplicar a proteção unitária a linhas de
transmissão. A modelagem poderá ser feita incluindo
as latências típicas dos sistemas de telecomunicações,
conforme a realidade do SIN [13].
V - ESTUDO DE CASO
Como experimento para o trabalho de conclusão
foi implementado no programa de análise de redes
Organon um sistema de proteção automático para
linhas de transmissão. A implementação das funções se
dá em todos os terminais de linha e suas
parametrizações seguem os seguintes critérios:
Distância – zona 1 alcance de 80% e zona 2
temporizada com alcance de 120% do
comprimento da linha;
Diferencial Percentual – , conforme a Figura 5;
Sobretensão – instantânea com sensibilidade
de 130% da tensão nominal.
Esta modalidade de implementação facilita a
eventual mudança da parametrização para que as funções de proteção reajam de acordo com o necessário
para impor condições dinâmicas específicas ao sistema
elétrico em estudo.
As simulações serão feitas após o estabelecimento
do fluxo de potência do sistema e posteriormente serão
aplicadas algumas perturbações por meio de eventos
dinâmicos como curtos-circuitos em pontos quaisquer
das linhas, de modo a observar o comportamento das
funções de proteção e suas consequências sobre as
condições operativas do sistema elétrico.
O sistema elétrico utilizado para as simulações é o sistema de nove barras desenvolvido por Paul M.
Anderson [17] constituído de três fontes, sendo a barra
1 uma barra Vθ (swing) que controla o balanço do
sistema e outras duas barras PV (geração). As barras
foram implementadas para suprir a demanda de três
cargas localizadas nas barras 5,6 e 8 em um sistema de
I
IRESTRIÇÃO
IMÍN
OPERA
NÃO OPERA
IR1 IR2
S1
S2
SYSX IIΔI
SYSXRESTRIÇÃOIII
Proprietary
311L 311L
L R
IR
IL
1
1= 1=
jb
R
RestrainingRegion
a
a
1
Proprietary
311L 311L
L R
IR
IL
1
-1= -1=
jb
R
RestrainingRegion
a
a
-1
7
transmissão com tensão de 230 kV nas barras PQ
(cargas). A parametrização dos componentes empregou
valores típicos encontrados no SIN. A Figura 7
apresenta o diagrama unifilar do sistema usado neste
TFG.
Figura 7: Sistema de 9 barras (Paul M. Anderson)
Tabela 1: Potências Geradas
P. gerada
(MW)
P. máxima
(MW)
Utilização
(%)
Barra 1 171,32 310,00 55.27
Barra 2 163,00 200,00 81.50
Barra 3 85,00 200,00 42.50
Tabela 2: Cargas do sistema
Tensão
(pu)
Potência
(MW)
Potência
(Mvar)
Barra 5 0.999 125.00 50.00
Barra 6 1.014 90.00 30.00
Barra 8 1.003 200.00 35.00
Parâmetros da simulação
Tempo de simulação - 5s
Função de Distância:
Tempo de atuação do disjuntor - 0,05s
Tempo de atuação de zona 1 - 0,035s
Tempo de atuação de zona 2 - 0,23s
Alcance de Zona 1 - 0,8Z’
Alcance de Zona 2 - 1,2Z’
Função Diferencial:
Tempo de atuação - 0,025s
Nível diferencial de corrente para atuação -
0,3pu
As simulações desenvolvidas neste trabalho tem
duração de cinco segundos, tempo que se notou a
acomodação do sistema em regime permanente.
Como caso base para o trabalho final de
graduação utilizou-se das funções de distância e diferencial para a detecção de faltas ao longo da linha
de transmissão existente entre as barras 7 e 8, linha de
interligação do sistema teste.
Função de Distância
Na utilização da função 21 (distância) aplicou-se
três curtos ao longo da linha para observar o
8
funcionamento e a diferença de atuação entre as zonas
de proteção.
0,1Z’
0,5Z’
99,9Z’
A característica mho foi utilizada para as
simulações envolvendo um curto sólido ( ) no tempo de 0,2 segundos de simulação.
Para análise dos resultados obtidos foram
plotados gráficos de tensões das barras e gráficos das
correntes nos ramos do sistema elétrico. Além dos
gráficos o programa Organon disponibiliza um
relatório de simulação que também será mostrado neste
trabalho.
Curto 1 – aplicou-se um curto a uma distância
de 0,1% da LT próximo a barra 7 (from).
Figura 8: Tensões nas barras
Figura 9: Correntes nos ramos
Figura 10: Resultado de Simulação
Podemos observar nos gráficos 8 e 9 das tensões e
correntes que houve um aumento da corrente nos
ramos adjacentes ao curto (corrente de falta)
proporcionando uma queda de tensão nas barras 7 e 8.
Com a imagem ampliada consegue-se observar a
diferença de tempo de atuação dos disjuntores que tem
comando de disparo em tempos diferentes devido ao
retardo intencional de zona 2.
Com o relatório de simulação da figura 10
podemos observar que o relé de zona 1 da barra 7
(from) que estava perto da falta atuou em 36ms conforme tempo programado, já o relé da barra 8 (to)
conseguiu visualizar o defeito apenas em zona 2 e
enviou sinal de disparo com o retardo intencional em
238ms.
Curto 2 – aplicou-se um curto no meio da linha de
transmissão, ou seja, curto a 50% da LT.
Figura 11: Tensões nas barras
Figura 12: Correntes nos ramos
Figura 13: Resultado de Simulação
Na segunda simulação pode-se observar o
aumento da corrente nas linhas adjacentes ao curto e a
9
queda de tensão nas barras entre o curto conforme
figuras 11 e 12.
Outro ponto importante é que um curto ocorrido
no meio da LT teve atuação de ambas as proteções de
primeira zona sem retardo intencional no tempo de
36ms conforme expressa o relatório de simulação na
figura 13.
Curto 3 – Aplicou-se um curto no final da linha
de transmissão a 99,9% da barra 7 (from) e 0,1% da barra 8 (to).
Figura 14: Tensões nas barras
Figura 15: Correntes nos ramos
Figura 16: Resultado de Simulação
No terceiro curto utilizando a característica de
distância observou novamente o aumento das correntes
de falta e o aumento na queda de tensão das barras
adjacentes a linha do curto-circuito conforme figuras
14 e 15.
Ao contrário do primeiro curto aplicado, a zona 1
da barra 8 (to) observou o defeito rapidamente e enviou
sinal de disparo em 40ms, já a barra 7 (from) que esta
longe do defeito apenas o enxergou através de zona 2 e enviou o sinal de disparo em 239ms, respeitando o
tempo de retardo intencional conforme podemos
observar no resultado de simulação da figura 16.
Função Diferencial
Para exemplificar a atuação da proteção
diferencial aplicou-se um curto sólido ( ) no meio da linha de transmissão entre as barras 7 e 8
no tempo de 0,2 segundos de simulação.
Figura 17: Tensões nas barras
Figura 18: Correntes nos ramos
Figura 19: Resultado de Simulação
Utilizando a característica diferencial pode-se
observar o aumento da corrente de falta juntamente com a queda de tensão nas barras adjacentes ao curto
conforme figuras 17 e 18.
Conforme o resultado de simulação, figura 19,
podemos ver que a ação de disparo foi enviada em
76ms, tempo de abertura do disjuntor somado ao tempo
de operação da característica diferencial de linha (87L).
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VI – RESULTADOS E DISCUSSÕES
Além do caso teste foram feitas simulações de
aplicação de falta no meio da LT 7-8 utilizando as
funções de distância e diferencial. Em ambas as
características determinou-se o valor limite de
resistência de falta para atuação conforme os
parâmetros de simulação.
Tabela 3: Limites de resistência de falta
característica mho
Distância
(mho)
Resistencia
de Falta (Ω)
Tempo
barra from
(ms)
Tempo
barra to
(ms)
1 4,5 38 38
2 9,5 36 122
3 14 241 327
1) Ambas zonas 1 detectaram o defeito e
enviaram sinal de disparo no tempo
programado
2) Há atuação de ambas as zonas 1, a barra
from detectou o defeito no tempo
estabelecido e a barra to apresentou um
retardo de 86 segundos para detectar a
falta
3) Há atuação de ambas as zonas 2, contudo
a barra to apresentou um retardo de 89
segundos para detectar a falta
Tabela 4: Limites de resistência de falta
característica Diferencial
Diferencial
Longitudinal
Resistência
de Falta [Ω]
Tempo
[ms]
1 26,5 76
2 444 78
3 515 76
4 517 98
5 518 120
6 529 203
Nas simulações de detecção de falta para a
característica diferencial nota-se uma maior
acomodação da resistência de falta. Está que se dá devido à peculiaridade da característica de área infinita
de atuação no diagrama polar (R-X). Pode-se observar
que após o terceiro caso (0,975pu) os tempos de
atuação começam a aumentar indicando o limite de
operação.
Conforme mostrado nos gráficos e nos resultados
de simulações exemplificados no estudo de caso
conseguimos implementar e validar um simulador de
funções para análise da proteção de linhas de
transmissão atendendo os requisitos deste trabalho com sucesso.
VII – CONCLUSÃO
Este artigo apresentou um estudo de
implementação e análise de validação de modelos das
principais funções de proteção de linhas de transmissão a um software de análise de redes em sistemas de
potência (Organon). Os modelos e suas
parametrizações seguem à risca os Procedimentos de
Rede e as Filosofias de Proteção de Linhas [6] [7] do
ONS. Foi possível verificar que as implementações
foram bem-sucedidas com os resultados apresentados
nos resultados de simulação.
As características de operação da função de
proteção de distância são variáveis no tempo (ação de
memória) e em função do ponto de operação do
sistema elétrico, implicando em condições geometricamente diferentes para cada curto-circuito,
quer as características sejam circulares (mho) ou
quadrilaterais. Portanto optou-se por trabalhar com o
conceito de localização de falta (características mho e
de reatância) para não se depender de verificações
geométricas que impõem requisitos elevados de
capacidade e tempo de processamento. O conceito de
localização de falta aplicado aos modelos provê
resultados numéricos escalares e adimensionais que são
comparados com os alcances em pu do comprimento
da linha, diretamente proporcionais à impedância de
sequência positiva do componente. Pode-se concluir que está em curso uma bem-
sucedida ação de reproduzir um sistema de proteção de
linhas de transmissão para uso em um Simulador de
Grandes Perturbações e de Recomposição cada vez
mais fiel às implicações e comportamentos de um
sistema elétrico de potência real como é o caso do SIN.
VIII - AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer ao meu orientador e toda
a equipe da empresa HPPA pelo tema proposto e toda
ajuda na execução deste trabalho.
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IX – REFERÊNCIAS
[1]http://www.cemig.com.br/pt-br/a_cemig/Nossa_Historia/Paginas/historia_da_eletric
idade_no_brasil.aspx (21 set 2016).
[2]http://www.aneel.gov.br/a-aneel (21 set 2016).
[3]“Relatório de Análise Estatística de Desligamentos
Forçados Referente ao Ano de 2014–Linhas de
Transmissão”, relatório ONS RE 3/0105/2015 (21 Set
2016)
[4]Livro “Proteção de sistemas elétricos de potência” -
Joao Mamede Filho e Daniel Ribeiro Mamede
[5]Livro “Analysis of Faulted Power Systems” – Paul
M. Anderson.
[6]“Filosofias das Proteções das LTs de Alta e Extra Alta Tensão da Rede de Operação do ONS”, Relatório
ONS RE 3/109/2011 (21 set 2016)
[7]“Filosofias das Proteções das LTs de Tensão
Inferior a 345 kV da Rede de Operação do ONS”,
Relatório ONS RE 3/220/2012 (21 set 2016)
[8]Livro “Transmissão de Energia Elétrica, Linhas
Aéreas – Rubens Dario Fuchs”.
[9]Livro “Power System Relaying – Stanley H.
Horowitz, Arun G. Phadke”
[10]Tese de mestrado “Modelagem de linhas de
transmissão para estudos de transitórios
eletromagnéticos – João Ricardo Ferreira Lemos”
[11]Artigo “Coordination of Protection and
Automation for Future Networks”, CIGRÉ, Electra, M.
Adamiak, V. Leitoff no 283, December 2015.
[12]http://www.abrate.org.br/ (27 Set 2016)
[13]Livro “Modern Solutions for Protection, Control,
and Monitoring of Electric Power Systems” – Editors
H.J. Altuve F., E.O. Schweitzer III, ISBN 978-0-
9725026-3-4.
[14]“Apresentações sobre Proteção de Linhas de
Transmissão” – J.M. Ordacgi F., CEPSE da UNIFEI e
CEPSE da UFRJ.
[15]“Determinação Acurada das Características de
Operação dos Relés Tipo Mho” – R.B. Sollero, J.M.
Ordacgi F., V Seminário Técnico de Proteção e
Controle, GTP/SCEL/GCOI e CCON, Curitiba, PR,
1995.
[16]“Modern Line Current Differential Protection
Solutions” – H. Miller, J. Burger, N. Fischer, B.
Kasztenny, 36th Annual Western Protective Relay
Conference, Spokane, WA, USA, October 20-22, 2009.
[17]”Analysis of Faulted Power Systems – Paul M.
Anderson”
BIOGRAFIA:
Rodolfo Elias de Castro e
Almeida
Nasceu em Itajubá (MG), em
1992. Cursou ensino médio
no colégio Caro Objetivo em
Itajubá. Ingressou na UNIFEI
em 2011. Está realizando
estágio na empresa HPPA - High Performance
Power System Applications, na cidade do Rio de
Janeiro.