roberto lobato corrêa - o espaço urbano

11
;: ) ., ! ' I. I , - . _ . _ _ 1,. ."'-.1 '-"'. ',.., 1,• . cocs, lsio e, ntividades como a p' .1 de mcrcado- rias, presln~ao de services di· .unc. io slmbcll- ca, que sc "cham vlnculada, .. HI socl'edadc. Es re s s ao, po r su a VCl, 0 movimcnto opriil ~m.:c<.ladc, da e stru tu ra s oc ia l, d cm an dn nd o I un co cs lI""allil~ q ue sc mute- . rializam nas Iorm as cspaciais I. F orum s cstas que s~o socinl- m ente produzidus par agcnrcs s oc ia ls c on cr et es . C om cc nrc - mas a na li su ud o 0 papcl t1CSICS n gc nt cs c, n scguir, c on sk lc rn -. rcm os os processes c as Iormas cspaciui , que .collSliluirau n p ar te c en tr al UCSIC cstudo. ~--------,--------------- I i' f, i ; , SII NII lS, ~Iiholl, £J/III((/ t "'(lOtlO. ~d o I 'n ul n, N o be l, 198$. ......... --"-- 3 1 QUC111 produz o cspaco urbano? o cspaco urbnno capltallsta - Irugment do , artlcula- do, rcflcxo, coudiclonnutc social, hcio de slm bolos e cam- : po de lutas - ~. 11111 pruduto social, r esu lt ad o de Q~()es acu-' , muh ul as ur r nv es do te mp o, C eugcndrudas por agentes que . . ' produzcm C c on sou ic m e sp ac o. Si lo a ge nt es SOClnlS concre- " .... los, c l1ao urn mcrcudo invlslvcl ou processes aleatorlos ' ',' , ,':.' n tu an do s obr c 11111 cspnco bstrnto, A jl~ao destes agentes ; ';1' " :.' ~'.\ ; e complcxa, dcri ando da dlnflmica de acumulacao de capi-:' .,'. tal, das ncccssidudcs m uuivcis de rcprouucno dn s r el a~ () cs ' ~: I. de producito, c dos conlliros de classe qu e d cl a e me rg en t •.': l ~• J A complexlunde dn 1Ir,:,10 d os u ge nt es s oc in ls l nc lu l p nl- ' tlcas que l vam a 11111 c ou st an te p ro ce ss o d e rc org an lz ac Ao cspacinl que 5Cfnl v iii lncorpcrucno de nevus A re a s ao ClPIl- co urbnuo , dCIISiflcllt;i\o do us o do 5010, dclerlora~Ao de cc rtu s a re as , rc no va cn o u rb an a, relo ca ca o dllerenclada da ln lra -c sts utu rn c muduuca, coercltiva ou n i\o , 00 c o n te u d o social C cconomico de derermlnndas l\rens da c id ad e, U pre- ciso considcrnr cnrrctuuto que, n cndu transformacao do es- : pnco u rb an e, cstc SC muutcm slmultaneamente Iragmenta- ' do C u rtlc uu ulo , rcllcxo e c ou dlc io ua nte s ocia l, ninda que. as lunuas cspncluis C SUilS f ll ll ~O C S te nha rn m ud ad o, A pc:si- t •~ .' . I Ii,! : 1, ': ' . ,. •' : .'~':. '.: " ,' .' r ., . , . "\' I '" I ! ! ,j 't' , ' 1 ----------- -_ •••__-y- ---------------.,......,. .. " , ., ... '._"'''._' --, . . -~--,---.---------- "

Upload: pollyanafranca

Post on 11-Feb-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

7/23/2019 Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

http://slidepdf.com/reader/full/roberto-lobato-correa-o-espaco-urbano 1/11

;:).,

! '

I.

I,-... _ . _ _

1,. I·. " ' - . 1

' - " ' .',..,1,• .

cocs , lsio e , nt ividades como a p' .1 de mcrcado-

rias, pres ln~ao de services di· . unc. i o slm bcll-

ca , que sc "cham vlncu lada, ..HI socl'edadc. Es

re s sao, por su a VCl, 0 m ovim cnto • op riil ~m.:c<.ladc, da

e stru tu ra s oc ia l, d cm an dn nd o I un co cs lI""allil~q ue sc m ute-

. ria lizam nas Iorm as cspaciais I . F orum s cstas que s~o socin l-

m ente produz idus par agcnrcs s oc ia ls c on cr et es . C om cc nrc -

m a s a na li su ud o 0 papc l t1CSICS n gc nt cs c , n s cg uir , c on sk lc rn -.

rcm os os processes c as Iorm as csp ac iu is, que .collSliluirau n

p ar te c en tr al UCSIC cstudo.

~ - - - - - - - - , - - - - - - - - - - - - - - -

I

i'

f,

i; •

, SIINIIlS, ~Iihol l , £J/III((/ t "'(lOtlO. ~d o I 'n ul n, N o be l, 198$.

. . . . . . . . . - -"- -

31

QUC111 produzo cspaco urbano?

o c sp aco u rb nno cap lta l ls ta - I ru gm en tn do , artlc u la -d o , rc flc xo , co ud ic lo nnu tc so c ia l , chc io d e s lm bo lo s e cam- :po de lutas - ~. 11111 pruduto soc i a l , resultado de Q~()es acu-' ,

muhulas urrnves do tempo, C eugcndrudas por agentes que. . 'produzcm C consouicm espaco. Silo agentes SOClnlS concre- " ....

los, c l1ao u rn m crcudo inv lslvc l o u processes aleatorlos ' ',' , ,':.'

n tuando sobrc 1 1 1 1 1 cspnco abstrnto, A jl~ao destes agentes ; ' ; 1 '" : . '~ ' . \;

e complcxa , dcrivando da dlnflmica de acumulacao de cap i-: ' ., '.

ta l , d as n c cc ss id ud c s m uu iv c is d e rcprouucno dn s r el a~ () cs ' ~: I.

de producito, c dos conlliros de classe qu e dcla emergent • . ' :l ~•J

A com plexlu nd e dn 1 I r , : , 1 0 d os u ge nt es s oc in ls l nc lu l pnl- '

tlcas qu e lcv am a 11111 c ou st an te p ro ce ss o d e rc org an lz ac Ao

cspacin l qu e 5C f nl v iii lncorpcrucno d e nevus A reas ao ClPIl-

co urbnuo , dCIISif lcl l t ;i \o do us o do 5010, dclerlora~Ao decc rtu s a re as , rc no va cn o u rb an a, re lo ca ca o dllerenclada d a

ln lra -c sts utu rn c m u d u u c a , co ercltiva ou n i\o , 00 con teud o

social C cconomico de derermlnndas l \ r e n s d a c id ad e, U pre-

c i so c on si d c rn r cnrrctuuto que , n cndu transform acao do es- :

p nc o u rb an e, c s t c SC muutcm s l m u l t a n e a m e n t e Iragm enta- '

do C u rtlc uu ulo , rcllc xo e c ou dlc io ua nte s ocia l, ninda que.

a s l un u as c s p n c l u i s C S U il S f ll ll ~O C S te nha rn m ud ad o, A p c:si-

t •~

.' .I

Ii,! :1,':' .,.•': .'~':. '.:",'

.' r .,

. , .. "\'I '" I!! ,j 't'

• , ' 1

----------- -_ •••__-y- ---------------.,......,. .. . " .. , . . . . . . . ., . . . '._"'''._' --,. .-~--,---.----------"

Page 2: Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

7/23/2019 Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

http://slidepdf.com/reader/full/roberto-lobato-correa-o-espaco-urbano 2/11

1 2

g ua ld ad e s oc io -e sp ac ia l tu m bc rn m 10 desaparece: 0 cqui l i -

brio social e da organizacaoespacial na o passa de um dis-

curso tecnocratico , imprcgnado de ideologia.

Quem sao estes agentes sociais que fazem e refazem a

cidade? Que estrategias e acoes concretas desernpenharnno processo de fazer e refazer a cidade? Estes agentes sao

os seguintes:

(a) os proprietaries dos meios de producao, sobretudo os

grandes industriais;

(b) os proprie taries fundiarios;

(c) os promotores imobiliarios;

(d) 0 Estado; e

(e) os grupos socia is excluidos.

Antes de considerarmos a acao de cad a urn destes agen-

tes, convern tecer alguns cornentarios gerais sobre eles em

coniunto .Em primeiro lugar, a acao destes agentes se faz dentro

de urn marco juridico que regula a atuacao deles. Este mar-

co nao e neutro, refletindo 0 interesse dominante de urn

dos agentes, e constituindo-se, em muitos casos, em uma re-

torica arnbigua, que permite que haja transgressoes de acor -

do com os interesses do agente dominante.

Em segundo lugar, convem apontar que, ainda que

possa haver diferenciacoes nas estrategias dos tres primei-

ros agentes, bern como conflitos entre eles, ha entretanto

denominadores comuns que os unem: urn deles e a apropria-

Cao de uma renda da terra. Por outro lado, a acao desses

agentes serve ao proposito dominante da sociedade capita-

lista, que e 0 da reproducao das relacoes de producao, im-plicando a continuidade do processo de acumulacao e a ten-

tativa de minimizar os conflitos de classe, este aspecto ca-

bendo particularmente ao Estado. Para isto 0 espar;:o, urba-

no constitui-se, como aponta Lefebvre (1976), em ms~ru-

mento onde sao viabilizados concretarnente os propositos

acima Indicados. em grande parte atraves da posse e do con-

trole do uso da terra urbana.

._-- ---..- -"---'-.

13

Em terceiro lugar, e necessario ressaltar que a tipolo-

g ia apresentada e muito mais de natureza analitica do que

efetivamente absoluta. No est agio atual do capitalisrno, os

grandes capitais industrial , f inanceiro e i rnobi liario podem

estar integrados indireta e diretarnente, neste caso em gran-

des corporacoes que, alern de outras atividades, cornprarn,

especulam, financiam, administram e produzem espaco ur-

bano. Como consequenc i a desta integracao muitos dos con-

flitos entre aqueles agen t es supramencionados desaparecem.

Em quarto lugar, e importante notar que as estrare-

gias que esses agentes adotam variam no tempo e no espa-

co, e esta variabilidade decorre tanto de causas externas

aos agentes, como de causas internas, vinculadas as con-

tradicoes inerentes ao tipo de capital de' cad a agente face

ao movirnento geral de acumulacao capitalista e dos con-

flitos de classe . Assim, como exemplo, 0 aumento da com-

posicao organica de capital de uma empresa, afetando ataxa de lucro, po de gerar novas estr ategias que incluam

rnudancas locacionais , afetando, portanto, 0 uso da terra

urbana.

Os proprletarios dos meios de producao

Osgrandesproprietarios industriais e das grandes em-

presascomerciais sao, em razao da dirnensao de suas ativi-

dades, grandes consumidores de espaco, Necessitam de ter-

renos amplos e baratosque satisfacam requisitos locacio-

nais pertinentes 'as atividades de suas empresas - junto

ao porto. as vias Ierreas ou em locais de ampla acessibilida-

de a populacao etc, A terra urbana tern assim, em princi-

pio, urn duplo papel: 0 de suporte fisico e 0 de expressar

diferencial rnente requisitos locacionais especi ficos as at iv i-

dades.

Mas as relacocs entre proprietaries dos meios de pro-

dUI;UO e a terra urbana sao mais cornplexas. A especulacao

~ . - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -__________ .,,__ , f '~ ,..... • ..:~.,.·· -~'· ._ " _ , , , . . . . . ' ' ' ' ' ' ' ' _ -.~.---------------

Page 3: Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

7/23/2019 Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

http://slidepdf.com/reader/full/roberto-lobato-correa-o-espaco-urbano 3/11

14

fundiaria, geradora do aurnento do preco da terra, tern du-

plo efeito sobre as suas atividades. De urn lade oncra os

custos de expansao na medida em que est a pressupoc terre-

nos amplos e baratos. De outro, 0 aumento do prcco dosimoveis, resultante do aumento do preco da terra, atinge

os salaries da forca de trabalho: gera-se assim uma pres-

Sao dos trabalhadores vis an d o salaries mais elevados, os

quais incidirao sobre a taxa de lucro das grandes empresas,

reduzindo-a.

A especulacao Iundiaria nao e assim de interesse dos

proprietaries dos meios de producao, Intercssa, no cntan-

to, aos proprietaries fundiarios: a retencao de terras cria

uma escassez de oferta eo aumento de seu preco, possibill-

tando-lhes ampliar a renda da terra. Esta pratica gera con-

fli to ent re proprie taries industria is e fundiarios J.

OS confiitos que emergent tend em a ser, em principle,resolvidos em favor dos proprietaries dos meios de produ-

cao, que, no capitalismo, comandam a vida economica e

politica, A solucao desses conflitos se faz at r aves de pres-

sees junto ao Estado para realizar desapropriacoes de ter-

ras, ins talacao de inf ra-estrutura necessaria as suas ativida-

des e para a criacao de facilidades com a construcao de ca-

sas baratas para a forca de trabalho.

Mas torna-se necessario saber quem sao os proprieta-

rios industriais em cad a caso. Sao cles desccndcrucs de irni-

grantes, orig inariamente vinculados ao cornercio de exporta-

cao-importacao , ou suas raizes estao na propriedade fundi a-

ria? E e necessario ainda que se conheca 0 peso positivodos grupos em conflito e as aliancas que sao feitas.

E importante tambern considerar, como lembra Min-

gione 2, que os conflitos entre proprietaries industriais e

I CAI'H. H or ac ia . A g en re s y e stra te gia s e n la p ro du cc io n d el e sp ac io u rb a-

n o e s pa n ol . Geografia, 8 , 1972. .,l M1NGlONE. E nz o. T he oretic al e le me nts fo r a m arxist an alys is o f u rb an

d ev elo pm en t. I n: H AR lo E. M . o rg . Captive Cities, L on do n. Jo hn W ile y. 1 97 7.

15

Iundiarios nao mais constituem algo absoluto como no pas-

sado. Isto se deve a:

(a) 0 desenvolvimento das contradicoes ent re capi ta l e traba-

lho torna per igosa a abolicao de qualquer forma de proprie-

dade, entre elas a da terra, po is isto poderia levar a que se

demandasse a abol icao da propriedade capi tal is ta ;

(b) at r aves da ideologia da cas a propria, que inclui a terra,

podern-se minimizar as contradicoes ent re capi ta l e t rabalho;

(c) a propria burguesia adquiriu terras, de modo que a pro-

priedade fundiaria passou a ter significativo papel no pro-

cesso da acumulacao;

(d) a propriedade da terra e pre-requisi te f!lndamental para

a construcao civil que, por sua vel, desempenha papel extre-

mamente importante no capitalismo, amortecendo areas da

at ividade industrial ; e

(e) a propriedade Fundiaria e seu controle pcla c1asse dorni-

nante tern ainda a funcao de permitir 0 controle do espa-

C ;O at raves da segregacao residencial , cumprindo, portanto,

urn significativo papel na organizacao do espaco.

Nas grandes cidades onde a atividade fabr il e expressi-

va, a acao espacial dos proprietaries industriais leva a cria-

cao de amplas areas fabris em setores distintos das areas re-

sidenciais nobres onde mora a elite, porem proximas a sareas prolerarias. Oeste modo a acao deles modela a cida-

de, produzindo seu proprio espaco e inter ferindo decisiva-

mente na localizacao de outros usos da terra.

E, quando uma industria, localizada em razao de fato-

res do passado, se ve envolvida fisicamente por usos resi-

dencia is de status. verifica-se que a relocal izacao industrial

constitui otirno negocio. Desloca-se para areas mais am-

plas e baratas, com infra-estrutura produzida, em muitos

casos, pelo Estado. Ganha assim uma nova localizacao on-

de pode se expandir. Adicionalmente extrai elevada renda

fundiaria ao real izar 0 loteamento do antigo terreno Iabril,

. , _ . , " ' - , - , - - - - - -

'1

-.

Page 4: Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

7/23/2019 Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

http://slidepdf.com/reader/full/roberto-lobato-correa-o-espaco-urbano 4/11

16

altam en te va lo rizud o p clo novo lISO. A zon a Su i da c id a-

de d o R io de Jane iro o fe re ce alg un s exernplos n o ta ve is d es -

ta prat ica .

Os proprietario s fundiarios

O s p ro prie ta rie s d e te tra s atuarn n o s cn tid o d e o bie rc m

a m aie r rcn da Iu nd ia ria d e sua s propriedudcs, in tcrcssan-

do-se em que estas icnharn 0 usa que seja 0 m a is r cm u ne ra -

da r p oss iv cl, cspec ia lm cn rc u so co mcrc ia i ou rc s id enc ia l

de status. E sra o p artic ula rm en te in tc re ss ad os n a c on ve rs ao

d a terra ru ra l e rn t er ra u rb an a, o u seja, tern interesse na ex-

pansao d o e spaco d a cidade na m ed ida em qu e a te rra u rba -

na e rna is valo rizada qu e a ru ra l. I s to s ig n ifica que e s tao

fu nd am cn talm cn te in tercssa do s n o valor de troca d a terra

e nao no seu valor de IISO.

OS proprie tar ies Iundiarios podern enrao exercer pres-

se es ju nto ao E sta do , e sp ecia l m en te n a in sta nc ia m un icip al,

v i s ando intcrfcrir n o p roccsso de dcfinicao da s le is de u sa

do so lo e do zoneam en to u rbano . E sta pressao nao e feita

un ifo rm em en te nem b en efic ia a todos as proprietaries f un -

diaries. A lg un s, a s m ais p od ero so s, poderao ate m csm o ter

suas te rra s va lo r iz ada s atrav es do inv es tim en to pub lico em

in fra -e stru tu ra , e sp ec ia l m en te a v iaria : as c id ad es b ras ile i-

ras fo rn ec em ~ ario s e xe rn plo s d es ta p ra tic a,

A p ro prie dad e fu nd ia ria d a p eriferia u rb an a, so bre tu -

d o aquela da g rande cidade , cons titu i-se no a lva de aten caod os p ro prie taries de te rra s . Is to se d eve ao faro d e e sta r e la

d ire tarn en te su brn etid a ao p ro ce sso d e tran sfo rrn ac ao d o es-

paco ru ra l em u rb an o. As poss ibi l idades dcssa t ransfonna-

ca o sao , en tre ta nto , d ep en den tes d e ur n con fron to en tre a s

rend as a se rem ob tida s com a producao agr icola e com a

ven da de terra s pa ra fin s u rb an os . M ais c ed o au m a is ta r-

de , g raca s ao d ife ren cia l da renda, a u sa ag rico la da . p erife -

ri a e sub s titu ido po r lim urban e, p assando , em m uuos ca -

~-.

'I

17

50S, po r lim a etap a de esteri l izacao d a t er ra . Ha enrao ur n

proccsso d e valorizucao Iundiiiria.

A passugcm da terra ag rico la p ara terra u rban a. no enI a n t o, e mais complexa, envolvendo diferencia is de deman

du de tcrrus c habitucoes , de direcao em que esta transfer

m acae sc ve ri f ic a e da s fo rm as que c ia a ssum e. E ste s d ife -

rencia is a tu arn rn ais au m cnos de m odo com binado .

A d em an da d e terras e habiracoes depende do apareci

m en ro d e no vas cam ada s soc ia is , o riun da s em parte de flu

x os m ig ra t orios e qu e d ctem n iv el de ren da que as to rna ca

p ac ira da s a part icipar do m ercado de te rras e hab ita co es

D ep cn de ta rn be rn d as p oss ib ilid ad es d e rern un era cao d o c a-

p ita l in ve stid o e m te rra s e o pe rac oe s im ob iliarias . E d ep en -

d e aind a d a po litica que 0 E stado ado ta pa ra pe rm itir a re -

prcducao do cap ita l, c om o a reforco do aparelho d o Esta

do pe lo aurnento d o nu rnero de Iunc io nar io s e atrav es d a

idco lo gia d a ca sa p rop ria , con fo rm e m ostra , en tre ou tro v

Durand-Lasserve .

Ha, portanto , condicoes qu e in te rfe rem na dernanda

d e terras e habitacoes, a s q ua is vao traduzir-se em taxas dis-

tin ta s d e c re sc im e nto dernografico e e sp ac ia l d as cidade s

de um dad o pa is au regiao ,

O s d ife re nc ia is d e direcao em qu e a s transforrnacoes

se v erificam dep en dern , p o r sua vez , da e s tru tu ra ag ra ria

'que pede v ia bil iz ar a u nao as operacces de valorizacao fu n

diaria, da s condicoes ecologicas d if er en ci ad as , d a e xi sr en ci a

d e e ixo s de circulacao, e dos tipos de usa a qu e se des tin a

a te rra u rb an a.A ss im , es tru tu ra s ag raria s d ife ren ciad as e m seto re s d is

tin to s da pe riferia pod ern in fluenciar d ife ren cia lm en te a

passag e rn do ru ra l ao u rb ano . N es te sen tido , e conven i cn

tc ap on tar qu e um a es t rutura agraria b as ea da n a p ro prie da

de espcculativa tende a v ia bil iz ar m a is r ap id am e nte a t rans-

fo rm acao em qu csrao . A exis ten cia de are as alag ad ic as em

um d ado seto r da pe rifer ia , po r o u tro lado , con s titu i-se ,

v ia d e reg r a , em urn en trave pa ra a va lo riz a cao Iund iar ia

Page 5: Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

7/23/2019 Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

http://slidepdf.com/reader/full/roberto-lobato-correa-o-espaco-urbano 5/11

I,

18

O s eixo s d e co mu uic ac ocs . o utro ss im , lem o co rre ncia e sp a-

ci a I de modo selerivo , aferan do desig ualm erue a per i fer ia ru -

ra l-urbana. Finalmcntc. hu usos upicos de p erifc ria , c om o

ce rta s indus tria s que sao ai lo ca lizada s , sub tra indo terra spara u ma v alo riz ac ao a trav es d e u sa r es id en cia l.

Os d iferencia is das Io rm as que a ocupacao u rban a na

per i fer ia a s s ume sao, er n rclacao ao u sa r es idcnc i a l , os se

gu in tes : u rban iz acao de status e u rban iza cao popu la r. A s

e stra te gia s d os p ro prie ta rie s fu nd ia rio s var ia rao s egundo

su as p ro pried ad es se localizcrn na s are as on de dom ina um a

o u outra f o rma .

O s p ro prie ta rie s d e te rra s b em lo ca liz ad as, v alo riz ad as

p or am en id ad es fis ic as , co mo 0 mar , lagoa, s ol, s al, v erd e

etc., agem press ionando 0Estado visando a instalacao da in -

f ra -es tru tu ra u rbana ou ob tendo c re dit os b an ca rio s para

e le s p ro pr io s in st ala re m a in fra -e st ru tu ra . T ai s i nv es tim e nt os

valorizam a terra qu e antcriormente fora e ste riliz ad a p orurn razo av clm cn te lo ng o p erio do d e tempo. Carnpanhas pu

b li ci ra ri as c xa lr an d o as quaJidade s da a rea sao re alizad as ,

ao rnesm o tem po que 0 p rcco da terra so b e cons ran temente .

E stas te rras d a p eri f eria d e a rn en id ad es sa o d es tin ad as

a populacao de status. Com o se trata de u rn a d c rn a nd a 501-

v av cl, e p oss iv el ao s p ro pric tario s f'u nd iario s ro rnarcm-se

r ambem promotorcs imobiliurios: lo te iam , v cnd cm e COI1\

tro em ca sa s d e lu xo . C riam -se a ss irn b airro s se le tiv os e m se

to res d e am en id ad es: c om o a p alav ra "p eriferia" tern s c n r l -

d o p ejo ra tiv e, es te s b airro s I is icam en te p eri Ie rico s n ao sa omais p er ce bi do s c om o estando lo ca liz ad os n a p eri fe ria u rb a-

n a, po is afinal de con tas os bairro s de status na o s ao s o ci al -

men t e per i f 'e r i cos lNo Brmi l os excmplos de ex-perifcrias I/r/J(II/{/s cnobrc

c id as sa o n um ero sa s. N a s c id ad cs liioraneas local izam-se JUIl-

to ao m ar, com o no R io de Jane iro , em Sa lvado r, R ec ife e

F o rta le za . B air ro s, C0l110 C opacabana, Ipane rna , Barra daTi juca , Barra , liapoa, Bo a Viagern e A l dc o ta ja fo ru m , n ump assad o m ais ou rn en os d ist an tc , p erife ria s u rb an as : agora

sa o bairros de status, fru to s d e v alo riz ac oe s fu nd ia ria s .

~ ~ - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -•.~ __ .• ,__ .._ ... .. .- .-- ..... - . ..- . ~._, •. ",,,.J1l,~.,.., <;

.._._.-.----'-'-.~----.--.--------------~-

19

A os p ro prie ta rie s d os te rre no s m al lo ca liz ad os, em per i -

ferias scm am en idade s, re sta apenas ou tra estrategia. Em

u ma cid ad e o nd e existe u ma seg reg ac ao so cio -esp ac ia l, c om

ur n se tor per i fe r i co , nao apena s d is tan te do cen tro m as sema me nid ad es , n ao a tra in do , p ortan to , g ru po s so cia is d e e le va-

do status, nao resta ao s proprietaries Iundiar ios senao 0 10-

tearncnto de sua s terra s com o m eio d e extrair a renda da ter-

ra . E se tra ta d e lo tearn en to s p op ulare s, c om 0m in im o d e in -

I ra -e stru tu ra . T en do e m v is ta 0 b aixo p od er aqu is itiv o d a p o-

p ulac ao qu e p ara ai se des loca , nao h a i nte re ss e. d es se s p ro

p rie ta rio s e m s e tra ns fo rm are m e m p ro m oto re s im ob ilia rio s.

A p e na s r ea li za ra o 0 lo te am e nto : a s h ab it ac oe s serao cons t rui -

das pelo sistem a de au toconstrucao ou pelo E stado , que a i

irn pla nta e no rm es e m o no to ne s c on ju nto s h ab ita cio na is .

Cria rn-se lo te am en to s p op ula re s n a p erife ria u rb an a: e n-

chentes, m o sq uito s, v al as negr a s , c ri m es , esquadrao da rnor-

re , horas e horas pcrdidas em prccariostransportes co l er ivos ,

c is a lg u ns dos a sp ec to s d o q uo tid ia no d esta p er i f eria u rb an a,

fruro de um a acao e sp ac ia lm e nt e d if er en ci ad a d os proprieta-

rio s fu nd ia rio s. T ais lo te am en to s s ao ile ga is fa ce it leg is lacao

u rban a em v igo r. E m pou eo tem po sao legalizados, e pOI' pres-s ao p op ul ar c on se gu em alguns pou co s services de infra-estru-

tu ra p or c on ta d o E stad o. Is to g era n ov a v alo riz aca o Iu nd ia -ria, at in gi nd o in clu siv e o s t er re no s reservados pelos ant igos

p ro p ri et ur io s f un d ia ri os , m u it os d c1 es in te nc io na lr ne nte s itu a-

dos entre o s l o tc a me n to s e 0 cspaco u rb a no c o nt in u o.

Os promotores lmoblliarios

Po r promoiorcs lmobiliar ios , cntende-se urn conjunto

d e a ge nte s q ue re aliz arn , p arc ia l Oll to ta lm e nte , a s s eg um te s

operacoes':

(a ) incorporacao, qu e e a operacao-chave da pron:0t;a~ im~ -biliuria: 0 incorporador reali za a g es ti io d o capltal-dinhei-

) Ver At \I[IIH. Roberto Schmidt de. In: VAllADARES. Lic ia , 1982.

Page 6: Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

7/23/2019 Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

http://slidepdf.com/reader/full/roberto-lobato-correa-o-espaco-urbano 6/11

fI

20

1'0 n a fase d e sua tran sfo rm acao em m crcado ria , em im o -

v e l; a local izacao, 0 tam anho das u n idad es e a qual idade

do predio a SCI ' construido sa o definidos nil incorporacao,

ass im com o as d cc iso cs de quem va i con st ru i-Io , a p rop a -g and a e a venda das unidades ;

(b) Iinanciamemo, ou scja , a p artir da formacao d e r ec ur-

50S m on eia rio s p ro vc nic nte s d e p esso as I is ic as e ju rid ic as ,

v e ri fi ca -s e , d e aco rdo com 0 i ncorporador , 0 inves t imcnto

visando a cornpra do terrene e a construcao do imovel;

(c ) e stu do te cn ic o, re aliz ad o p or e co no mist a s e a rqu itc to s,

v isan do v erif ica r a v iab ilidad e tccn ica d a o bra d en tro d e pa-

rametros d ef in id os a nte rio rm en te p elo incorporador- e- a 'Iuz --

do codigo d e obras;

(d) construcao Oll producao f is ic a d o imovcl, que sc vcrifi-

ca pcla atuacao d e I irmas cspccial izadas nas mais diversas

e tap as do p ro cesso p rodu tiv o ; a Io rca d e traba lho esta y in

culada as firm as co ns t ru to ras; e( e) c or nc rc ia liz ac ao o u tr an sf or rn ac ao d o c ap ita l- me rc ad o-

ria e m c ap ita l-d in he iro , a go ra a cre sc id o d e lu cro s; o s c orre -

to re s , o s p lan ejad ores d e v en da s e os p ro fiss io na is d e p ro pa -

g an da sao o s resp on save is p or es ta o peracao .

E s ta s o p er ac o es VaG o rig in ar d ife ren te s tip os d e ag en -

te s c on cre to s, in clu in do 0 p ro pr ie ta rio -c on str uto r d o te rr e-

n o, u rn age nte c la s sico e qu e a ind a p ersis te pro du zin do p ou

c os e p eq ue no s im ov eis , a s firm as e xc lu siv am cn te in co rp ora -

d oras, aqu e la s qu e sevespecia l izam n a con stru cao ou em

u rn a e tapa do p ro ces so p rodu tivo , c om o a con cre tag em de

c im en to , o u tra s qu e in co rporam e cons tro e rn , ou tra s m ais

esp ec ia lizad as n a co rre tag em e aqu elas qu e co ncen tram emsu as m ao s to das as o perac oes : a lg um as d esta s ultirnas c on -

tro lam ta rnb ern o utra s a tiv id ad es fo ra d o sc ro r Iu nd ia rio

imobil iario.

P o r ou tre lado , d o pon to d e v is ta da g en ese do p rom o-

to r im ob ilia rio v erific am -sc e no rm es d ifc rc nc as e ntre e le s.

H a desde 0 p r o prie ta rio fu nd ia ric qu e se tran sfo rm ou em

21

co ns tru to r e in co rp orad or, ao c orn erc ian te p ro spe ro qu e di -

v ers ifica su as a tiv id ad es c rian do um a in co rp orad ora , p as-sando pe l a cmpresa in du stria l, q ue em mementos d e crise

ou am pliacao d e seu s neg 6c io s c ria um a sub sid ia ria lig ad aa promocao imobil iaria. Grandes b an co s e 0 Es t ado atuam

t a rnbe rn c om o p ro m oto rc s irnobiliarios.

E ntre os agentes em questao, p artic ula rm en te o s incor-

poradores, ha urn d ifc rc nc ia l e m funcao de d ois aspectos,

c on ce itu aliz ad os p or R. S. de A lm eid a com o "esc a la de

operacocs", ou 0 numero d e construcoes simultaneas qu e

o i n co r po r ad o r e c a p a z de gerir, e "c sca la esp ac ia l d e atua-

cao", ou a a rea onde se lo ca lizam as ob ras e o s estoques

d e terrenos, E sta s d ua s e sc ala s cstao rclacionadas: m aio r a

escala d e opcracoes, maior a escala espacial de atuacao e,

adicionalmente, maior 0 p od er p olitic o d o in co rp or ad or.

Q ua is sao as estrategias dos prornotores irnobiliarios?

N a so cied ad e cap ita lis ta n ao ha in te re sse d as d ife re nte s fraco es do cap ita l en vo lv id as n a p rodu cao d e irnov e is

e m p ro du zir h ab ita co es p op ula re s. Is to se d ev e, b asic am en -

te , ao s b aixos n iv eis d os sa la rie s d as cam adas p op ula res , fa -

ce ao cu sto d a hab itacao p rod uz id a cap ita lis ticam en te . D e-

v e-se tam bem , em p arte , co n f orm e arg um enta H enri Coing",

a conv erge nc ia d e in te re sses do p roprie ta rio fu nd ia rio , do

p ro moto r irn ob ilia rio e d a in dus tria de m ate ria l d e c on struc ao no sen tid o de ap en as produz ir hab itaco es com inov a-

co es, co m va lo r d e u so su perio r as an tig as, o bten do-se , po r-

tan to , um p reco d e vend a ca d a v ez m aio r, 0 que am p lia a

e xc lu sa o d as c am ad as p op ula re s.

Em que cond ico es , p e rg un ta H . C o ing , e p os siv el h a-ve r a p rodu cao d e hab itaco es p a ra o s g rupo s d e b a ixa ren

d a? Q uando est a p rodu cao e re ru av e l?

(a ) e ren ta ve l se sao sup cro cupa das po r v a ria s fa rn ilia s o u

pOI ' v a ria s p es so as so lte ira s que a lu g am u rn im 6ve l o u u rn

comedo;

~ I n: D'H\Nl-L \~~IH\[. Alain. 1980.

Page 7: Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

7/23/2019 Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

http://slidepdf.com/reader/full/roberto-lobato-correa-o-espaco-urbano 7/11

fI

22

(b) e rentavel se a qualidade da construcao for pessirna

com 0 seu custo reduzido ao minimo, con forme Engels des-creve para a Inglaterra em relacao ao seculo XIX; e

( < : _ ) e rentavel quando verifica-se enorme escassez de habita-coes, elevando os precos a niveis insupcrtaveis,

Mas esta nao e a situacao usual nas cidades do Tercei~

ro Mundo: 0 capital nao tern interesse em produzir habita-

cces para as camadas populares. Numa sociedade onde par-

te ponderavel da populacao nao tern acesso a casa propria

ou mesmo nao t~m c~~di~oes de pagar aluguel, a estrategia

dos promotores imobiliarins e basicamente a seguinte:

(a) di rig ir-se, em primeiro lugar, a producao de residencias

para satisfazer a demanda solvavel; e

(b) obter ajuda do Estado no sentido de tornar solvavel a

producao de residencias para satisfazer a demand a nao-sol-

vavel.

_ E~ rela~ao a pr imeira categoria, verifica-se a produ-

cao de imoveis de luxe visando atender aqueles que dispoern

de recursos, at incluindo-se a producao de residencias secun-

darias, em areas de lazer, para este segmento da populacao,

A producao de irnoveis caros e finos pode chegar mesmo

a saturar, havendo, por outro lado, deficit de residencias

populares. Para 0 segmento da populacao que constitui 0

mercado dos promotores imobiliarios, os financiamentos

nao sao dificeis, 0 mesmo ocorrendo para as incorporado-

ras de im6veis.

A existencia de uma demanda solvavel saturada e de

uma nao-solvavel insatisfe ita explica 0 interesse do capital

imobiliario em obter ajuda do Estado, de modo a permitir

tornar via vel a construcao de residencias para as camadas

populares: creditos para os promotores imobiliar ios, facili-

dades para desapropr iacao de ter ras, e creditos para os futu-

ros moradores. A criacao de orgaos, como foi 0 caso do

Banco Nacional da Habitacao (BNH) e das Cooperativas

de Habitacao (COHABs), e a criacao de mecanismos juridi-

-------- ------

23

cos e financeiros, como 0 Fundo de Garantia por Tempo

de Servico (FGTS), v isam viabi lizar a acumulacao capi ta lis-

ta via producao de habi tacoes, cujo acesso e agora ampliado.

Esta estrategia e viavel em razao da importancia daproducao de habitacoes na sociedade capitalista. Cumpre

ela urn papel fundamental, que e 0 de amortecer as crises

ciclicas da economia atraves do investimento de capital e

da criacao de numerosos empregos: dai ter 0 apoio do Esta-

do capitalista, que por sua vez esta fortemente repleto, atra-

ves de seus componentes, de interesses irnobi liarios.

A estrategia dominante, de produzir habitacoes para

a populacao que constitui a demanda solvavel, tern urn sig-

nificativo rebatimento espacial. De fato, a acao dos promo-

tores imobiliarios se faz cor relacionada a:

(a) preco elevado da terra e alto status do bairro;

(b) acessib il idade, efic iencia e seguranca dos meios de trans-

porte;

(c) amenidades naturais ou social mente produzidas; e

(d) esgotamento dos terrenos para construcao e as condi-

coes fisicas dos imoveis anteriormente produzidos, confer -

me indica R. S. de Almeida. Estas caracteristicas em coniun-

to tendem a valor izar diferencialmente certas areas da cida-

de, que se tornam alvo da acao rnacica dos promotores imo-

biliarios: sao as areas nobres, criadas e recriadas segundo

os interesses dos promotores, que se valem de rnacica pro-

paganda. Assim, de urn lado, verifica-se a manutencao de

bairros de status, que continuam a ser atrativos ao capital

imobiliario e, de outro, a criacao de novas areas nobresem razao do esgotamento de areas disponiveis em outros se-

tores valorizados do espaco urbano: os novos bairros no-

bres sao efetivamente criados ou result am da transforma-

cao da imagem de bairros antigos que, dispondo de alguns

atrativos, tornam-se de status elevado.

A atuacao espacial dos promotores imobiliarios se faz

de modo desigual, criando e reforcando a segregacao resi-

Page 8: Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

7/23/2019 Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

http://slidepdf.com/reader/full/roberto-lobato-correa-o-espaco-urbano 8/11

fII

I

\

24

dencial que caracteriza a cidade capitalists. E, na medida

em que ern outros scrores do espaco produzem conjunro-,

habitacionais populates, a segregacao e ratificada.

o Estado

o Estado atua t a rnbern na organizacdo espacial da ci

dade. Sua atu acao rem sido c orn plexa e variavcl tan to 110

tempo COIllO no espaco, reflctindo a dinarnica da socieda

de da qual e parte consr i tuinte . Vamos considerar apenas

o papel do Estado capitalista, privilegiando a cidade lati

no-americana e, part icularmente, a brasile ira.

Uma primeira observacao refere-se ao fato de 0 Esta

do a tu a r d ir et am e n te como grande industri al , consumidor

de espaco e de loca li zacoes espec ificas, proprie ta rio fundia

rio e promotor imobi l iar io . scm deixar de sc r tambern urnagente de regulacao do uso do solo c 0 alvo dos cham ados

rnovimenros socia is u rb an os, A ss im , ao im pla nra r u rn a re fi-

naria de pctroleo, 0 Estado esta organizando di retamente

o espaco urbane, ao mesmo tempo que interfere, dada a na

tureza da atividade industrial, no uso da terra das areas pro

ximas, As terras publicas sao uma reserva fundiaria que 0

Estado dispoe para usos diversos no futuro, inclusive para

negociacoes com outros agentes sociais. Atraves de orgaos

como a COHAB, par outro lado, 0Estado torna-se promo-

tor imobiliario.

No entanto, e at r aves da irnplantacao de services pu

blicos, como sistema viario, calcarnento, agua, esgoto, ilu

rn inacao , parqucs, coleta de lixo etc., intcrcssantes tanto

as empresas como a populacao em geral, que a atuacao

do Estado se faz de modo mais corrente e esperado. A cia-

boracao de leis e normas vinculadas ao uso do solo, entre

outras as normas do zonearnen to e 0 codigo de obras, cons-

titucrn outro atributo do Estado no que se refere ao espa

co urbane. E c dccorrcnte de seu desempcnho espacialrncn

---------------. -~-.-.- -

2 5

te desigual enquanto provedor de services publicos, especial-

mente aqueles que servem a populacao, que 0 Estado se

torna 0 alvo de certas re ivindicacoes de segmentos da popu-

lacao urbana.

Em rea li dade, segundo A. Samson 5, 0 Estado dispoe

de urn conjunto de instrumentos que pode empregar em re-

lacao ao espaco urbano. Sao os seguintes, entre outros:

(a) direito de desapropriacao e precedencia na compra de

terras;

(b) regulamentacao do uso do solo;

(c) controle e limitacao dos precos de terras;

(d) limitacao da superffcie da terra de que cada urn pode

se apropriar;

(e) impostos fundiarios e imobiliarios que podem variar se-

gundo a dimensao do im6vel, uso da terra e localizacao;

(f)t axacao de terrenos Iivres, levando a uma utilizacaomais cornpleta do espaco urbano;

(g) mobi li zacao de reservas fundia rias publicas, afetando

o preco da terra e orientando espacialmente a ocupacao

do espaco;

(h) investimento publico na producao do espaco, atraves

de obras de drenagem, desmontes, aterros e implantacao

da infra-estrutura;

(i) organizacao de mecanismos de credito a habitacao; e

G) pesquisas, operacoes-teste sobre materiais e procedimen-

tos de construcao, bern como 0 controle de producao e do

mercado des te material .

Esta complexa e variada gama de possibilidades de

acao do Estado capitalista nao se efetiva ao acaso. Nern

se processa de modo social mente neutro, como se 0 Esta-

do fosse uma instituicao que governasse de acordo com

uma racionalidade fundamentada nos principios de equill-

brio social, econornico e espacial, pairando acima das clas-

s In: DURAND-LASSERVE, Alain, 1980.

Page 9: Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

7/23/2019 Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

http://slidepdf.com/reader/full/roberto-lobato-correa-o-espaco-urbano 9/11

scs soc ia ls c de scus con flito s . S ua n<;ao C m arcad a p elos

confl i tos d e i ntc rc ss cs d os diferentes mcmbros da socicdade

d e c la s se s , bern c omo d a s a li an c as en t r e c lc s, T en de a privi -

lcg ia r o s in tc rc s ses d aqu ele scg rn cn to o u scg meru os da c la s -

se dom in an te qu e , a cad a memento, estao no poder.

E p rec iso con sid e ra r qu e a acao do Estado processa-

sc em trds n i v e is p o l il ic o - a dm in i s tr a ti v o s c e sp a ci ai s: f ed e -

ral , estadua l c munic ipa l . A cada Urn d cs tc s n fv eis su a a tua -

ca o muda , assim c omo 0 discurso q ue e nc ob re o s in te re sse s

dominan t es . E no n iv el m un ic ipa l, n o en tan to , qu e este s in -

te re sse s se to rnam m ais evidentes e 0 d iscu rso m eno s en -

c az . A nn al a le gisla ca o g ara nte a m un ic ip alid ad e m uito s p o-

dcres sobre 0 espaco urb ano , p oderes qu e advern, ao que

p arece , d e um a Iong a trad ic fio rc fo rcad a p e lo fa to d e qu e ,

num a e conom ia cad a v cz m ais m onopo lis ta , o s se to res fu n -

d ia rio e im ob ilia rio , m en os co ncen trad os , con stitu em -se

em fertil cam po de aruacao p ara a s e lite s lo ca is .

A atuacao do E stado sc fax, fu nd am en ta lm en te e em

ul t ima anal ise, v is an do c ria r condicoes d e rca l izacao ere-

p ro du cflo d a so cic da dc c ap ita lism , is to e , c on dic ne s q ue v ia -

bi l izcrn 0 p ro ccs so d e acu rnu lacao e a rep rodu cao das c la s-

s es so cia is e suas I racoes .

Te nd o e m v ista e ste s p ro po sito s 0 E st ad o c ap it ali sta

c ria m ecan ism os qu e lcv am a sc gre ga ca o re sid cn cia l c a su a

rat i f icacao. Assirn , o s d ife rcn cia is de im po sto te rrito ria l e

p red ia l sao urn fo rte I a to r d is c rim in an te , a fc tan do 0 pre -

co d a te rra e do s im ovc is e , com o con scqu en c la , in c id in -

d o n a seg reg acao so c ia l: os g rupo s d e rend a m ais e lev ada

resid em em im ove is m ais ca ro s lo ca lizado s em ba irro s on -d e 0 preco d a te rra e m ais e lev ado , A trav es d a a lo cacao es-

p ac ia lm en te d ife ren ciad a d os equ ip am en to s d e co nsu mo co -

let ivo, 0 E stad o ta rn be rn in te rfe re n a seg rcgaca o resid en -

c ia l, H arv ey c om en ta qu e es te tip o de a tuacao tcnd e a am -

p lia r a rend a rea l d aqu e le s que ja po ssu e rn e lev ada rend amonetar ia .

'.-_._----

2 7

D. V ette r" e ou tro s forn ecem a este re sp c ito u rn exec -

len te exe mp lo d e in ve stim en to s p ub lic os e sp ac ia lrn en te d es i-

guais c suas conscqucncias. Trata-se da alocacao concentra-

da de recu rso s em agua e esgo to na Zo na S uI c ario ca d ura n-

te a decada d e 1970. Esta e a a rea m elho r se rv id a do espa-1;0 ~;: ::~!:;c!':'do R io d e J an eir o: ali re sid e u rn econornica e

po liticam en te pod ero so g rupo soc ia l qu e tev e seu s i rnoveis

m ais valo rizados - a ccss lveis, p ortan to , a g ru po s so cia is

cad a v ez rnais sc l ec ionados .

A segregacao r es id e nc ia l p o de r es ul ta r tambern de um a

acao d irc ta e explicita d o E sta do a t ra ve s d o p la ne ja me nto ,

qu ando d a criacao, a pa rtir d o ze ro , d e nucleos urbanos,

Esta tem side um a tradicao latino-americana, m as nao ex -

c lu siv a , qu e te rn suas o rig en s ja no seculo XVI. A este res-peito , as p a lav ras de Hansen 7 sab re a o rig em e evolucao

d a c id ad e d e M erid a na pen in su la do Yuca tan , n o M exic o ,s ao d ig nas d e no ta :

A cldade 10 1 planejada em lorno de uma praca central.

Os quatro quarlelrOes que a dellmllavam loram reservados

para a calodral, os edlliclos dos governos provincial e muni-

cipal e a resldancla do chele dos conquistadores. Aos outros

espanh61s loram cedidos lotes dentro de dols ou Ir~s quar-

teirOes, em cada dlrecao, Esta area espanhola de resldAncla

constituiu 0 centro. A uma distAncia rnalor, na dlre9Ao do ex-

terior, e deixando sspaco para a expansao deste centro, 10-

ram reservadas areas nas quais os indios podlam e9tabele-

cer-se. Estas Meas constituiram os barrios. A medlda que a

cidade crascla, 0 centro loi absorvendo os barrios e os ln-

dlos toram se mudando para mais aillm. A medida que estes

aumenlavam em numero, a Areaque ocupavam la sa tornan-

do malor. Mas 0 crescimento prosseguiu vagarosamanle

em harmonia com a estrulura social e cultural eslabaleclda.

E B ra silia , u m a c id ad e p Ja ne ja da , in au gu ra da em 19601

A o po sic ao e ntre 0 P lan o P ila to e as d en om in adas c id ad es-

fi In: MArHADO DA SILVA. Luis Antonio, 1981.

7 HANSEN. A. T. Ecologia de uma cidade latino-arnericana. In: PIERSON.

D.•org. Estudos de ecolozia humane. Silo Paulo. Martins Fontes, 1970. p. 497.

Page 10: Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

7/23/2019 Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

http://slidepdf.com/reader/full/roberto-lobato-correa-o-espaco-urbano 10/11

c

11 1

sarelitcs c notavel, conforme indicam as varios art igos eon-

l idos I1[lS co lc tancas o rg an izada s pa r P av ian i. E la C 0 cx cm-

pia acahado do plancjamom o do Est a do capitalista criuncia c on dic oe s d is ti nr as de v ida c rcproducao da s difcrenres

c lasses soc ials . N este sen tid o 0 p la nc ja mc nt o re pr od uz iu ,

so b o utra fo rm a. 0 v elh o m o dc lo c ol on ia l descriro p ar H an-

sen e 0 p ad ruo tip ieo d a c idad e bras ile ira , com as pob rcs

na pcrifcria.

Atraves de politica conjugada de rcnovacao urbana

-- aberturn de modern as v ias de trafcgo - 0 E sta do c ap ita

lista viabiliza simultanearncntc v ario s in rc rc ssc s, D c um la

do . v ia cxpu lsao do s pobres re sid en tes em co rt ices ju n to ao

c en tro d a c id ad c, rc dire cio na a sc grc ga ca o re sic lc nc ia l c v ia bi-

liza 0 cnp itn l iu to bllia rio q ue te rn o portu nid ade de rea liza r

bon s n cg oc io s em areas ond e a preco da te rra e , p e la p roxi-

m id ade d o cen tro . bas t an te c lcv ado : Ii a rc no va ca o u rb an a.

i\las v iab iliz a tum bem a am pliacao do capital de ernprei tci

ras ce ria cond ico cs de urna c ir cu la ca o m a is e fic ic nr c, v ia bi-

lizando ass irn a p rodu cao d e nov as m cios d e tran sportc , en -

tre c les aq uc lcs de u sa in div id ua l. O s cxcm plo s sao n um ero-

50S: 0 m ais I am os o e aque le d e abcrtu ra dos boulevards

d e P aris pc lo b arao Hau ssm an no fin a l do sccu lo p assado .

Mas os cxcrnplos brasi lc iros .~ ;iono t avcis: a nbcrtura c ia ave-

n id a R io B ra nc ll . iI prin c ip a l d o cen tro do R io d e Jan e iro .

c a d cm olicao d e co rtice s n cs ta a rcn no com cco do sc cu lo ,

C ur n dc lcs , conf'orrnc m ostra Rocha em se ll c s tu do sob rc

a IIera d as d cm olico cs ". O utros excm plo s sc mc lhan tcs ap a-

rccem com a ab ertu ra c ia av en id a P residcn te V arg as n a d eca-

d a d e 1940 e com a v ia cxp ressa ligando 0 t un e l C a tu m b i-

Laran je iras , po rtan to a zon a S ui d a c id ad e , a p ri nc ip al v ia

de en trad a e sa id a do R io d e Jan e iro .

o E stad o tam bern pro duz ch ao , esp aco tecn ica rn en te

p ass iv e! de ocup acao , v ia ob ras de d rcn agcm . d csm on tcs c

a tc rro s. A c ida de do R io de Jane iro C . o e st e s cn ti do , urn

exem plo do s m ais no tav c is . E sta c riaca o d e csp aco in se re -

s e n ov arn en te n os p ro po sito s g em -is a nte rio rrn en te m en cio -

_ .. -_. -_. --_,----_-' . ------_._----_---_-_---_ ..

11;1(.105, v isan do , p ortan to , to rn ar v iav eis a arividadc e c ono

mica e a difcrcnciacao social. O~ aterros realizados pa ra a

in s t a lacao do po rto do R io d e Ja ne iro , pa ra a c riacao U P.I ockcv C lub , d e lo tcam en to de status jun to a la go a R od ri

g o d e ' F re ita s d o denom in ado A terr o , u rn parkway a be i ra

c ia b aia de G ua nab ara , sao tres d os m uito s e xem plo s de pro-

duca o de chao p e lo E stado cap ita lis ta , a tcn d endo a v aries

p ro p os lt os i m ed ia to s.E s tes sao a lg uns do s tip o s de a tu acao do E s tado no es

p aco u rbano . E stam os lan g e d e esgo ta r 0 a ss un to : a pe n~ '

p ro cu ro u- se t ra ze r a ton a a lgun s r~ su ltado s de es tu dos ja

rca lizado s, 0 le ito r ce rtam en te conhe ce ou tros cxem plo s,

a o m cn os s up crfic ia lm cn te . S ug cre -s c q ue e ste c on he cim en -

to sc ja ap rofu nd ado , con trib u in do p ara 0 en tend imento

do p ap c l d o E stado enqu an to ag cn te m ode lado r do espa co

u rb a ne c ap it al is ta .

Os grupos sociais excluidos

N a s oc ie da dc d e c la ss es v er if' ic ar n- sc d if er en l;a s s oc ia ls

110 que sc re fe re ao accsso ao s ben s e se rv ices p r~ du z id os

so cia lm entc , N o capiialismo a s d ife ren cas sao muito gran-

d es. e m aiorcs a in d a em ra ises com o , en tre ou tro s, os d a

America Latina. A habitacao C um dcsscs bens cu]o IlCC~

so c sc lc t iv o: pa rce l a cn orm e d a po pulacao n ao te rn aces ...o.

qucr d izc r, nao po ssu i renda p ara p agar 0 a lu g~ e1 . d e u ma

hab ita~ ao d ecen te e , m uito m enos , com prar um Imovel. Es-

te C u rn do s m ais sig niflca tiv o s s in tom as de exc lusao que .

no cn tan to , n ao o corre iso lad am ente : co rre la te s a e la _es tao

a subnu tricao . as d o en cas. a b a ixo n iv e l d e esco land ade .

o d escm preg o ou 0 su be mp rc go e m csm o 0 e rn p re g o r na l- re

muncvado , . .,O s g ru po s so cia ls exc lu ido s tem c om o p oss lb llad ad es

d e m orad ia o s den sa rn en te o cup ado s co rtices loca lizados

p r6xim os a o cen tro d a c id ad e - ve l has res ide nc ias que no

Page 11: Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

7/23/2019 Roberto Lobato Corrêa - O espaço urbano

http://slidepdf.com/reader/full/roberto-lobato-correa-o-espaco-urbano 11/11

. 1 1 1

p as sa do I ora m habitnda~ pcla elite c que s c a ch ar n d cg ra da -

das c subdivididas -, a casa procfllzida pclo sistema de au-

tocomtrw;;lo em 1 0( c: ll1 1e l1 t05 p crifc ric o« , o s c on iu utn s ha

bitaciouais produzidos pelo Estado, via de regra tambem

distanres do centro, e a favela. :As Ires primciras possibilidndes nressupocm urna vincu-

lacflo a urn agcnte social, C0l110 0 proprielario de i l116vcis

- ern 11111itosasas scm maior cxprcssfio C0l110 agcnre rno-

delador -, 0 propr iet:irio fundi;irio da pcr ifer ia c 0 Esta

do. NCIlhumn dclas Iails Iormn , em princip io , a popula<;;io

cxcluida ern agcnrc modclador do espaco urbano. NCI11meso

1110 aquclcs que produzcm irnovcis no sistema dc autocons-

trucao - pclo mcnos no scntido plene. lsto porque estao

s~lbmetidos a logica dos proprictar ios fundiar los da peri fe-

ria, tornando-se, il cust a de mui to sobrerrabatno, nrooricra-

r ios de lim ter rene e UI11imovel, de mercador ias COI11 valor

de uso e de troca.E na producao da favela, em terrenos rniblicos ou pri

vades invadidos, que os grupos socials cxcluidos tornam.

se, cfcuvamcnrc , agcnrcs moclelaclores, produzindn sel l pro-

prio cspaco, na maioria dos casos indepcl1dentemenle c a

despcito dos outros agcntcs. A producdo destc cspaco C , an-

tes de mais nada, lima forma de rcsistcl1eia c, ao I11CSI110

tempo, urna eqratcgia de sobrcvivcncia . Resislcncia c sobre

vivencia as advcrsidadcs impostas aos grupos socia ls rcccm

expulsos do campo ou provcnicnrc, de arcus urbanns sub-

mctidas ,\s opcracoes de renovacao, que Iuram pclo direitoa cidade.

Resistencia c sobrevivencia que se traduzern na apro-

priacao de ter renos usualment e inadequados para os outros

agentcs cia producao clo cspaco, cncos ras ingremes e areas

alagadicas, Trata-se de urna apropria<;ao de fato. No pia-

no irnediato a favela corrcspondc a uma solucao de um du-

1'10problema, 0 du habitucao c de acesso ao local de traba-

Iho. A cidade do Rio de Janeiro. que possui numerosas

31

areas in gr crn es e a la ga dic as , c on stitu i um e xc ele nte e xe rn -

plo. A localizacao de suas numerosas favelas pode parecer ,

quando distribu idas em um m apa, com o que aprescn tan-

do urn padrao aleatoric: cad a uma, entretanto, tern uma 16-

gica que inclui a relativa proximidade de urn mercado de

trabalho.

A cvolucao da favela. isto C , a sua progressiva urbani-

zacao ate tornar-se urn bairro popular, resulta, de urn la-

do. cia n<;iio dos proprios moradores que. pouco a pouco,

durante um longo pcrfodo de tempo, vao melhorando suas

rcsidencias c implantando atividades econornicas diversas .

De outro, advem da acao do Estado, .que implanta algu-

rna infra-estrutura urbana, seja a partir de pressoes exerci-

das pelos moradores organizados em associacoes, seja a

part ir de interesses ele itoreiros. Esta urbanizacao, contudo,

desencadcia uma valorizacao que acaba por expulsar al-

guns de seus moradores e atrair outros.

A literatura sobre favelas e muito numerosa. Sugeri-

mos que, inicialmcntc, veja-se a resenha bibliograf ica sobre

habitacao em geral, inclusive as favelas, no trabalho de Val-

ladares (1982).

Urn exernplo concreto: 0bairro de

Copacabana

Ate cntao focalizamos cada um dos agentes rnodelado-

res do espaco urbano. A atuacao deles, no entanto, nao se

faz isoladamente. Atuam em conjunto, isto e, no processo

de producao concreta de urn bairro residencial ou de urn

distrito industrial, varies agentes estao presentes. Vamos

agora. atraves de um exernplo real, ver es t a atuac~o. coniun-

tao Consideraremos 0 bairro de Copacabana, locallzado na

Zona Sui da cidade do Rio de Janeiro, a zona nobre da me-

tropole carioca. A analise estende-se pelo perlodo de 1870