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http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 A FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO DO LOTEAMENTO CEVAL – PELOTAS/RS Gilciane Jansen Universidade Federal de Pelotas [email protected] INTRODUÇÃO O trabalho tem por finalidade discutir sobre a produção do espaço urbano, tendo como foco o Loteamento Ceval na cidade de Pelotas-RS. Dessa forma, buscou-se compreender como ocorreu a produção do espaço urbano do Loteamento Ceval, enfatizando o papel dos agentes modeladores do espaço urbano envolvidos na construção do loteamento. Primeiramente, o trabalho buscará realizar uma revisão conceitual de termos que envolvem a temática sobre a produção do espaço urbano, tendo como ponto de partida a definição de produção do espaço a partir de Henri Lefèbvre. Ao longo dessa primeira etapa, se buscará realizar de forma dialética uma interlocução que contribua para a compreensão sobre o que abordam os autores a respeito da produção do espaço urbano (teoria) e a materialização do que eles descrevem na produção do espaço urbano do Loteamento Ceval o que culminará com a formação desse território (prática). No segundo momento, será abordado o estudo de caso do Loteamento Ceval que discutirá sobre a formação desse território. CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA Para entendermos sobre a produção do espaço urbano, é mister que se discuta sobre a produção do espaço, o que é o espaço urbano e mais propriamente como ocorre essa produção do espaço urbano. O intento, para embasar teoricamente este estudo é buscar em autores que trabalham com a temática do espaço urbano tais como: Henri Lefèbvre, Ana Fani Alessandri Carlos, Roberto Lobato Corrêa, entre outros autores, subsídios para contribuir na constituição desse artigo sobre a produção do espaço urbano, mais propriamente do Loteamento Ceval. Primeiramente, abordando sobre a produção do espaço, entende-se que essa 964

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A FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO DO LOTEAMENTOCEVAL – PELOTAS/RS

Gilciane Jansen

Universidade Federal de Pelotas

[email protected]

INTRODUÇÃO

O trabalho tem por finalidade discutir sobre a produção do espaço urbano,

tendo como foco o Loteamento Ceval na cidade de Pelotas-RS. Dessa forma, buscou-se

compreender como ocorreu a produção do espaço urbano do Loteamento Ceval,

enfatizando o papel dos agentes modeladores do espaço urbano envolvidos na construção

do loteamento. Primeiramente, o trabalho buscará realizar uma revisão conceitual de

termos que envolvem a temática sobre a produção do espaço urbano, tendo como ponto de

partida a definição de produção do espaço a partir de Henri Lefèbvre. Ao longo dessa

primeira etapa, se buscará realizar de forma dialética uma interlocução que contribua para a

compreensão sobre o que abordam os autores a respeito da produção do espaço urbano

(teoria) e a materialização do que eles descrevem na produção do espaço urbano do

Loteamento Ceval o que culminará com a formação desse território (prática).

No segundo momento, será abordado o estudo de caso do Loteamento Ceval

que discutirá sobre a formação desse território.

CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA

Para entendermos sobre a produção do espaço urbano, é mister que se discuta

sobre a produção do espaço, o que é o espaço urbano e mais propriamente como ocorre

essa produção do espaço urbano. O intento, para embasar teoricamente este estudo é

buscar em autores que trabalham com a temática do espaço urbano tais como: Henri

Lefèbvre, Ana Fani Alessandri Carlos, Roberto Lobato Corrêa, entre outros autores, subsídios

para contribuir na constituição desse artigo sobre a produção do espaço urbano, mais

propriamente do Loteamento Ceval.

Primeiramente, abordando sobre a produção do espaço, entende-se que essa

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idéia não é nova e que pensadores como Marx, Lênin, Luxemburgo, Harvey e Lefèbvre já se

preocupavam com essa temática. Porém, Lefèbvre é quem mais trabalha com a temática da

produção do espaço. Este pensador diz que o espaço não é produzido por si só, isto é, o

espaço não se (re)produz sozinho ou isolado. Infere-se que, para o espaço ser produzido é

necessário que se tenham relações sociais que o movimentem e o tornem dinâmico. Assim,

para este pensador, a produção do espaço envolve a produção social, que mais tarde

tomará maior proporção e ele chamará de espaço social. De acordo com Lefèbvre (1974, p.

103 apud MARTINS, 2004, p. 26):

O conceito de espaço social se desenvolve, se amplificando. Ele se introduz no

seio do conceito de produção e mesmo o invade; ele se torna o conteúdo, talvez

essencial. Ele engendra então um movimento dialético muito específico, que não

abole certamente a relação ‘produção-consumo’ aplicada às coisas (os bens, as

mercadorias, os objetos de troca), mas a modifica, amplificando-a. Uma unidade

se entrevê entre os níveis freqüentemente separados da análise; as forças

produtivas e seus componentes (natureza, trabalho, técnica, conhecimento) as

estruturas (relações de propriedade), as superestruturas (as instituições e o

próprio Estado).

Para complementar a ideia de Lefèbvre, o espaço é um produto social, criado

para ser usado, para ser consumido, pois, entende-se que é um meio de produção e como

meio de produção não pode ser separado das forças produtivas e seus componentes que

lhe dão forma. No livro Henri Lefèbvre e o retorno à dialética de José de Souza Martins

(1996, p. 58) este menciona como o espaço é produzido da seguinte forma:

O homem age sobre a natureza na atividade social de atender suas

necessidades. Constrói relações sociais e concepções, idéias, interpretações que

dão sentido àquilo que faz e àquilo de que carece. Reproduz, mas também

produz, isto é, modifica, revoluciona a sociedade, base de sua atuação sobre a

natureza, inclusive a sua própria natureza. Ele se modifica, edifica sua

humanidade, agindo sobre as condições naturais e sociais de sua existência, as

condições propriamente econômicas.

Nessa perspectiva entende-se que, o homem tem necessidades seja de habitar,

comer, vestir-se, trabalhar e este deve suprir de alguma forma as suas necessidades básicas.

De acordo com isso, pode-se inferir que, no Loteamento Ceval a dinâmica não foi diferente,

uma vez que, o habitar (moradia) era uma necessidade imediata que deveria ser suprida de

alguma forma, seja com a ajuda do poder público ou somente com a mobilização dos

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próprios moradores (grupos sociais excluídos). Desse modo, entende-se que, o espaço é

produzido de acordo com idéias, vontades e necessidades do homem e que a cidade é vista

como o lugar onde as diversas classes sociais vivem e se reproduzem (Corrêa, 1995).

Percebe-se que, no caso do Loteamento Ceval, objeto desse estudo, que a maior

necessidade dos moradores era a de uma moradia adequada, para que esses indivíduos

pudessem ter acesso e direito à cidade de forma plena. Diante do exposto, é importante

mencionar o Estatuto da Cidade que é a Lei Federal Brasileira nº 10.257, aprovada em 2001,

que tem como objetivo principal superar a desigualdade urbana no Brasil. Além disso, é

colocado no Estatuto da Cidade (2001, p.3) que:

Entre os desafios encarados pelo governo está o de trabalhar para reverter uma

característica marcante das suas cidades e comum em outras tantas cidades do

mundo: a segregação socioespacial. Bairros abastados que dispõem de áreas de

lazer, equipamentos urbanos modernos coexistem com imensos bairros

periféricos e favelas marcadas pela precariedade ou total ausência de

infraestrutura, irregularidade fundiária, riscos de inundações e escorregamentos

de encostas, vulnerabilidade das edificações e degradação de áreas de interesse

ambiental.

Estes problemas relatados acima envolvem todas as cidades, porém os grupos

sociais excluídos são os mais prejudicados, pois estes habitam lugares insalubres onde há

carência de infraestrutura urbana. O caso dos moradores do Loteamento Ceval não foge à

regra, uma vez que, estes moravam à margem do Canal São Gonçalo e se apropriaram de

uma área pública com a intenção de obterem melhores condições de vida e habitação.

Entende-se que, o direito à cidade deve ser garantido para todos os cidadãos, porém há um

descaso do poder público, que faz vistas grossas quanto essa questão.

A autora Ermínia Maricato coloca no Estatuto da Cidade (2001, p. 5) que: “Nossa

sociedade é historicamente desigual, na qual os direitos, como por exemplo: à cidade, ou à

moradia legal, não são assegurados para a maioria da população”. Esta citação coloca um

grande embate presente no espaço urbano, que envolvem todos os agentes sociais

modeladores do espaço, mais precisamente os grupos sociais excluídos que são mais

vulneráveis e suscetíveis ao acesso à moradia.

De outro modo, é mister compreender o que é o espaço urbano que de acordo

com Corrêa (1995, p. 1) é:

O conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si. Tais usos definem

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áreas, como: o centro da cidade, local de concentração de atividades comerciais,

de serviço e de gestão; áreas industriais e áreas residenciais, distintas em termos

de forma e conteúdo social; áreas de lazer; e, entre outras, aquelas de reserva

para futura expansão. Este conjunto de usos da terra é a organização espacial da

cidade ou simplesmente o espaço urbano fragmentado. Eis o que é espaço

urbano: fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto

de símbolos e campo de lutas. É assim a própria sociedade em uma de suas

dimensões, aquela mais aparente, materializada nas formas espaciais.

Conforme a citação, é importante mencionar que o espaço urbano é um campo

de lutas, uma vez que, os espaços melhores e com melhor infra-estrutura são destinados

aos mais abastados e os espaços menos relevantes e sem amenidades, aos que não

possuem condições financeiras de pagar por melhores espaços de moradia, este aspecto

demonstra a segregação sócio espacial que há em todas cidades. Por isso, a importância de

se colocar em prática a Lei do Estatuto da Cidade contribuindo para que se tenha igualdade

urbana.

Infere-se que, a produção do espaço urbano do Loteamento Ceval se deu num

campo de lutas, pois os moradores apropriaram-se do terreno do poder público que seria

destinado para a construção de um condomínio para a classe média e lutaram

incessantemente para permanecerem naquele espaço. Isto demonstra que há uma luta

constante dos menos abastados pelo direito à cidade, que na maioria das vezes

encontram-se nas bordas do tecido urbano, mais precisamente nas áreas periféricas da

cidade, onde a infra estrutura é extremamente precária ou inexistente. Dessa maneira, o

espaço urbano é produzido de forma heterogênea e fragmentada pela própria sociedade

que segrega socialmente uns(pobres) e contempla outros (ricos). Em virtude disso, Santos

(2008, p. 45) coloca:

A produção do espaço urbano está intimamente ligada ao jogo de interesses

entre os seus agentes e partícipes, fruto das relações simbólicas e contraditórias

do capitalismo em suas múltiplas facetas. O espaço urbano é artificial, é

construído no meio antes natural e, em seguida manipulado numa teia de ações

sociais, onde as relações entre os atores envolvidos nem sempre resultarão na

aplicabilidade das soluções que visem os anseios da maioria.

Entende-se com isso, que a maioria é sempre representada pelos mais

vulneráveis, logo os menos abastados, os quais estão imbuídos de muitas necessidades e

anseios principalmente pelo acesso e direito à uma moradia digna.

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Segundo Vara (2009, p.38):

A produção e reprodução do espaço obedecem à normas ou leis que submetem

a sociedade que o produziu. A apropriação do espaço não é igualitária, coletiva.

Ela é, na verdade racionalmente seletiva através de vários agentes que detêm o

poder do capital, sejam eles públicos ou privados.

De acordo com o citado anteriormente, percebe-se que o espaço urbano não é

produzido isoladamente, pois há agentes envolvidos que contribuem para a fragmentação

do espaço urbano. Uma vez que, estes agentes possuem intenções associadas à terra

transformada em mercadoria. Mas, quem são estes agentes sociais modeladores da cidade?

São: os proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais; os

proprietários fundiários; os promotores imobiliários; o Estado e os grupos sociais excluídos.

Segundo Corrêa (1995, p. 1):

Os grandes proprietários industriais e as grandes empresas comerciais são, em

razão da dimensão de suas atividades, grandes consumidores de espaço.

Necessitam de terrenos amplos e baratos que satisfaçam requisitos locacionais

pertinentes às atividades de suas empresas – junto a portos, a vias férreas ou

em locais de ampla acessibilidade à população. Os proprietários de terras atuam

no sentido de obterem a maior renda fundiária de suas propriedades,

interessando-se em que estas tenham o uso mais remunerador possível,

especialmente uso comercial ou residencial de status. Por promotores

imobiliários, entende-se um conjunto de agentes que realizam, parcialmente ou

totalmente, as seguintes operações: incorporação; financiamento; estudo

técnico; construção ou produção física do imóvel; e comercialização ou

transformação do capital-mercadoria em capital-dinheiro, agora acrescido de

lucro. O Estado atua também na organização espacial da cidade. Sua atuação

tem sido complexa e variável tanto no tempo como no espaço, refletindo a

dinâmica da sociedade da qual é parte constituinte. Por fim, os grupos sociais

excluídos são aqueles que não possuem renda para pagar o aluguel de uma

habitação digna e muito menos para comprar um imóvel. Este é um dos fatores,

que ao lado do desemprego, doenças, subnutrição, delineiam a situação social

dos grupos excluídos.

Tentaremos a partir do exposto por Corrêa realizar de forma dialética um

raciocínio que enfatize os principais agentes modeladores na produção do espaço urbano

do Loteamento Ceval.

Neste trabalho pode-se enfatizar que, os grupos sociais excluídos, ou melhor o

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grupo de moradores do atual Loteamento Ceval, não possuíam condições de adquirir um

imóvel, uma vez que, moravam às margens do São Gonçalo, onde a topografia é muito baixa

e que ocorrem constantes enchentes. Por esse motivo, a decisão de apropriarem-se de um

terreno do poder público (Prefeitura de Pelotas) localizado nas proximidades do local

anterior de moradia. Nesse caso, a Prefeitura de Pelotas era proprietária da terra que foi

apropriada pelo grupo de moradores, e o principal destino da terra era a construção de

apartamentos para a classe média1.

Com isso, percebe-se que, o principal destino da terra, num primeiro momento,

era ser transformada em mercadoria gerando capital, e não abrigar os menos abastados.

Nesse caso o grupo social excluído (moradores) passam a ser uma ameaça para a Prefeitura,

uma vez que estes, se apropriaram do espaço destinado à construção dos apartamentos

para classe média.

Para a autora Ana Fani Carlos (1994, p. 86):

O uso do solo urbano será disputado pelos vários segmentos da sociedade de

forma diferenciada, gerando conflitos entre indivíduos e usos. Esse pleito será,

por sua vez, orientado pelo mercado, mediador fundamental das relações que

se estabelecem na sociedade capitalista, produzindo um conjunto limitado de

escolhas e condições de vida.

Este conjunto limitado de escolhas e condições de vida no espaço urbano,

condiciona-se aos grupos sociais excluídos que não podem pagar pelos espaços melhores

equipados da cidade, isto é, aqueles em que há infra estrutura urbana adequada e

amenidades. Isto faz com que esses grupos habitem espaços precários da cidade,

principalmente onde há riscos ambientais como: enchentes, desabamentos de terra. Por

esse motivo o pleno direito à cidade já torna-se uma luta, onde de um lado estão os mais

abastados e de outro os “excluídos”, isto torna o espaço cada vez mais fragmentado e

desigual. De acordo com isso, entende-se que, cada agente social possui um interesse

específico pela terra, o que torna o espaço urbano não coletivo, mas individual.

Assim, nesse campo de lutas trava-se uma batalha entre os moradores da

margem do Canal São Gonçalo, posteriormente, do Loteamento Ceval, querendo

permanecer no terreno e de outro a Prefeitura de Pelotas buscando alternativas para que o

grupo se retirasse.

1 Baseado em informação verbal de uma moradora do Loteamento Ceval. Retirado da dissertação de Maria de Fátima Santos da Vara denominada: “Estratégias da população de baixa renda na produção do espaço urbano: o caso do Loteamento Ceval em Pelotas-RS”.

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Conforme Heidrich (1998 apud OLIVEIRA, 2002, p. 45) coloca que:

Pode-se identificar territórios toda vez que, uma coletividade humana se

apropria de um lugar e ali passa a estabelecer relações de posse e de domínio.

Essa concepção leva em conta que um território é apropriação e

estabelecimento de relações de poder no seu interior.

Então, pode-se dizer que esse grupo social excluído foi em busca de um espaço

o qual pudesse viver de forma digna, transformando-o em território.

De acordo com Corrêa (1995, p.4):

É na produção da favela, em terrenos públicos e privados que os grupos sociais

excluídos tornam-se, efetivamente, agentes modeladores. A ocupação destes

terrenos que dão ensejo à criação das favelas é uma forma de resistência à

segregação social e sobrevivência ante a absoluta falta de outros meios

habitacionais. Aparentemente desprovida de qualquer elaboração espacial, as

favelas acrescentam uma lógica que inclui a proximidade a mercados de

trabalho. Outro fenômeno observado é a progressiva urbanização da favela, até

se tornar um bairro popular. Isto se explica pela ação dos moradores que

pretendem a melhoria das condições de vida, conjuntamente com o Estado que,

por motivos diversos, destina recursos à urbanização das favelas.

Pode-se dizer que, inicialmente quando da ocupação, o atual Loteamento Ceval

era considerado uma favela, porque as moradias eram pequenos casebres de madeira e

inexistia infra estrutura. Segundo o Observatório de Favelas que é uma organização social

de pesquisa e de proposições políticas sobre as favelas, a favela é: “Um espaço destituído

de infra-estrutura urbana- água, luz, esgoto, coleta de lixo; sem arruamento; globalmente

miserável; sem ordem; sem lei; sem regras; sem moral. Enfim, expressão do caos”.

Conforme o Estatuto da Cidade (2001, p.13):

A urbanização ou requalificação urbanística e social de favelas pode ser uma boa

proposta quando ela está bem localizada na cidade e seus moradores têm oferta

de emprego, além de serviços e equipamentos coletivos nos arredores.

Acredita-se que, a persistência e luta que os moradores travaram com a

Prefeitura foi um dos motivos que levou à urbanização da área. Pois, a área é bem localizada

e possui oferta de emprego para os moradores.

Diante disso, os agentes sociais modeladores do espaço envolvidos nesse estudo

foram basicamente dois: os grupos sociais excluídos e o poder público local.

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O grupo social excluído (moradores) necessitavam habitar um espaço que

promovesse melhores condições de vida. Por isso, se apropriaram da área da Prefeitura e

produziram seu espaço no local. Assim, eles obtiveram o direito à cidade.

Apreende-se que, a ação da Prefeitura foi necessária para a efetiva constituição e

construção do Loteamento Ceval, porém foi desnecessário o longo período de descaso com

os moradores. Uma vez que, estes não estavam se apropriando de uma área privada, mas

pública. Além disso, a intenção era de moradia, pois careciam de melhores condições de

vida, não havia um outro propósito.

Com isso, propõe-se que, para que se tenha um espaço urbano menos desigual

e mais humanitário é necessário que se coloque em prática o que esta proposto no Estatuto

da Cidade, o que vem a calhar com a sugestão de desenvolvimento sócio espacial proposto

pelo professor Marcelo Lopes de Souza no livro Mudar a cidade. O desenvolvimento sócio

espacial requer planejamento e gestão do sistema urbano, pois estes são as ferramentas

para que se tenha melhoria da qualidade de vida e aumento da justiça social. Este

desenvolvimento é promotor da igualdade social, isto é, do direito à cidade de forma plena.

Segundo Souza (2008, p.62):

A respeito da qualidade de vida entende-se que esta corresponde à crescente

satisfação das necessidades- tanto básicas quanto não básicas, tanto materiais

como imateriais de uma parcela cada vez maior da população. Quanto ao

aumento da justiça social, trata-se de uma discussão mais complexa.

Resumidamente a justiça social parte da premissa da igualdade dos indivíduos

enquanto seres humanos merecedores de tratamento igualmente digno e

respeitoso.

Entende-se essa colocação de forma que, o indivíduo “excluído” não possui um

tratamento digno e respeitoso. A premissa da igualdade ainda é pouco difundida na

sociedade capitalista que preza a desigualdade social.

No Brasil a questão da exclusão social difunde-se nos anos 1990 remetendo-se a

ideia de diferenciação social, não realização dos direitos de cidadania, vulnerabilidades e

privações.

De acordo com o dicionário de sociologia, exclusão social é a situação

decorrente da desigualdade social e da excessiva concentração da renda de uma sociedade

nas mãos de poucas pessoas. Nesse caso, grande parte da população se vê excluída dos

benefícios dessa sociedade e impossibilitada de satisfazer suas necessidades básicas, como

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nutrição, vestuário, educação e saúde. Com a globalização, o termo abrange também

aqueles que não conseguem emprego por não terem uma preparação adequada para as

novas funções criadas pela sociedade global. Segundo Leal ( 2011, p. 166):

Faz parte de qualquer sociedade capitalista o jogo de excluir e incluir, como duas

faces necessárias da mesma moeda. Assim, o problema da exclusão nasce com a

sociedade capitalista típico dela, mas juntamente com o problema da inclusão.

Poderíamos dizer que a própria gênese do capitalismo está na expropriação do

trabalhador de seus meios de produção- uma forma de exclusão- para em

seguida, incluí-los como trabalhadores assalariados.

Diante disso, entende-se que, os indivíduos estão incluídos mesmo que de forma

perversa na sociedade. Martins (1997, p. 32) afirma que: “ a sociedade capitalista desenraíza,

exclui, para incluir, mas incluir de outro modo, com suas próprias regras, segundo sua

própria lógica”.

De acordo CARLOS (1994, pág. 95):

O modo como a sociedade vive hoje é determinado pelo modo como o capital se

reproduz, em seu estágio atual de desenvolvimento. Isto quer dizer, também,

que o trabalhador não foge ao “controle” do capital, nem quando está longe do

local de trabalho, pois o espaço da moradia tende a se subjugar às necessidades

e perspectivas da acumulação do capital. Por outro lado, o trabalhador também

terá acesso à moradia, e possibilidades limitadas de escolha para morar. O

modo de vida urbano, sob o capitalismo, impõe disciplina.

Entende-se que, a lógica capitalista é tão perversa que influi diretamente até

mesmo no lugar de moradia que é colocada como o valor de uso para os grupos sociais

excluídos. Para possuírem uma vida digna é necessário que tenham um espaço de moradia

do mesmo modo, porém o capital limita essa possibilidade. A proposta do desenvolvimento

sócio espacial é uma forma de gestão que pode ser adotada pelas cidades, contribuindo

para que esse processo desigual seja amenizado e se torne mais igualitário.

De acordo com Souza (2008, p.63) a autonomia individual e a coletiva é movida

pelos indivíduos. Quanto a isso ele coloca que:

A autonomia individual é a capacidade de cada indivíduo estabelecer metas para

si próprio com lucidez, persegui-las com máxima liberdade possível e refletir

criticamente sobre a sua situação e sobre as informações de que dispõe,

pressupõe não apenas condições favoráveis, sob o ângulo psicológico e

intelectual, mas também instituições sociais que garantam uma igualdade

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efetiva de oportunidades para todos os indivíduos. A autonomia coletiva

depreende não somente instituições sociais que garantam a justiça, a liberdade

e a possibilidade do pensamento crítico, o que implica a ausência de opressão

“de fora para dentro, de uma sociedade sobre a outra, de uma classe ou grupo

social sobre o outro. Essa autonomia diz respeito à liberdade que o indivíduo

possui e consequentemente a proteção de ações nocivas dos outros.

Na sociedade atual é necessário que se difunda cada vez mais a ideia do

desenvolvimento sócio espacial para que os indivíduos saibam desenvolver a autonomia

individual e, posteriormente uma autonomia coletiva que faça com que estes sejam os

provedores da melhora da sua qualidade de vida e aumento da justiça social, em outras

palavras autores da sua própria história.

ESTUDO DE CASO

O Loteamento Ceval (Figura 1) localiza-se no bairro Simões Lopes em Pelotas.

Anteriormente, essa área pertencia a empresa Bung Alimentos, antiga Ceval e foi comprada

pela Prefeitura Municipal de Pelotas. Em 2002, os moradores localizados à margem do Canal

São Gonçalo começaram uma mobilização para apropriarem-se do terreno da Prefeitura,

pois o motivo principal para a ocupação eram as constantes enchentes que atingiam as

moradias. Essa área que os moradores ocuparam estava destinada à construção de

apartamentos para a classe média, o que não se efetivou com a apropriação da área pelos

moradores de baixa renda. Segundo Vara (2009, p.65): “ verificou-se que a maioria das

famílias (35%) possui renda per capita entre R$127,00 e R$ 175,00”. Pode-se inferir que este

valor, destinava-se basicamente para suprir as necessidades mínimas com alimentação e

saúde.

Figura 1: Mapa do Loteamento Ceval, 2009

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Fonte: Secretaria Municipal de Habitação (SMH) de Pelotas, 2009

Pode-se analisar na figura 1, que o Loteamento Ceval está dividido em 7 quadras

e lotes numerados e bem distribuídos, além de possuir área de lazer para os moradores.

Mas pode-se dizer que esse processo só ocorreu devido apropriação da área pelo grupo

social.

Na dissertação de Mestrado Maria de Fátima S. da Vara coloca que: “a Prefeitura

de Pelotas, promovia reuniões constantes tentando sugerir outros locais de moradia, o que

era refutado pelos moradores”. O principal embate era que as propostas de outros locais de

moradia eram distantes do centro da cidade e de seus locais de trabalho. Do momento da

apropriação do terreno em 2002 até 2006, os moradores viveram sem assistência do poder

público local, pois, não havia infra estrutura e as moradias eram casebres de madeira

(Figura 2). Com isso, devido não possuir energia elétrica no terreno, o atual Loteamento

Ceval, era chamado de Vila Fantasma, porque os moradores utilizavam velas para iluminar

a total escuridão2.

2 Informações retiradas da dissertação de Mestrado de Maria de Fátima Santos da Vara sobre o Loteamento Ceval.

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Figura 2: Casebres improvisados no Loteamento Ceval na ocasião da invasão – 20043

Fonte: Eneida Rodrigues Tavares, 2004

Segundo Vara (2009, p. 60):

Na paisagem do Loteamento Ceval foi possível identificar muitas crianças

descalças, cachorros, sujeiras e trânsito de pessoas, bicicletas, charretes, motos

e de vez em quando, algum carro, geralmente, velho. Também pode-se verificar

um número significativo de cavalos e charretes nos pátios, além de muitos

papelões, pneus e sujeiras.

Esta observação permite perceber como vivem os grupos sociais excluídos,

nesse caso moradores do Loteamento Ceval. Sabe-se que, houveram melhorias nas

condições de vida, pois eles foram atendidos pelo poder público local, suprindo a

necessidade de moradia e infra estrutura.

Porém, as necessidades financeiras ainda permanecem impressas nesse espaço,

sendo necessário a coleta de materiais recicláveis com carroças e/ou charretes para o

sustento das famílias. Este material muitas vezes é colocado junto às moradias o que causa

3 Figura retirada da Dissertação de Mestrado em Geografia de Maria de Fátima S. da Vara.

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um aspecto de sujeira. Infere-se que, esta paisagem está vinculada ao modo de vida desses

moradores, pois é dessa forma que eles organizam seu espaço, suprindo suas necessidades

da forma que conseguem.

A autora da dissertação sobre o Loteamento Ceval Maria de Fátima da Vara

(2009, p.70) destaca a notícia retirada do Jornal Diário Popular:

Abandonados. Assim se sentem os moradores do loteamento Ceval, localizado

no início da avenida Brasil no Simões Lopes. Desde 2002, quando aportaram por

ali fugidas da enchente que arrasou a vila da Ponte (nas margens do canal São

Gonçalo), as 45 famílias esperam pela demarcação dos lotes. Enquanto isso, não

podem construir casas definitivas, nem têm acesso à luz, água ou esgoto. (Diário

Popular, Quarta – Feira, 24 de janeiro. 2004).

Em 2006, depois de quatro anos de total descaso do poder público local com os

moradores da Ceval, iniciou-se a construção das moradias com um cômodo e banheiro,

instalou-se água, esgoto, rede elétrica e foi feito o arruamento (Figura 1). O Loteamento é

composto por seis ruas identificadas pelos seus respectivos números, que delimitam sete

quadras com o total de 115 casas edificadas pela Secretaria Municipal de Habitação.

Segundo Vara (2009, p. 72): “Inicialmente o projeto previa a construção de 70

casas adquiridas pelo Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social (PSHIS), mas

depois houve a necessidade de assentar moradores de outros locais da cidade nessa área”.

Percebe-se que, com a luta do grupo de moradores da Ceval outros indivíduos também

puderam ter acesso à moradia, aumentando assim o número de habitações. O programa

habitacional foi executado pela Secretaria Municipal de Habitação (SMH) com parcerias com

a Caixa Econômica Federal (CEF) e o Sistema Tecnológico de Construção Ltda (SISTECOM).

Pode-se dizer que, primeiramente o grupo social excluído, neste caso os

moradores do Loteamento Ceval, foram os primeiros agentes modeladores e produtores

daquele espaço urbano, posteriormente o poder público agiu naquele espaço com a função

de estruturador e organizador, construindo moradias e infra estrutura para os moradores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para concluir, é importante ressaltar que esse campo de lutas que é o espaço

urbano na sua forma desigual e fragmentada é produzido pelos agentes sociais

modeladores principalmente por aqueles que utilizam a terra como mercadoria que são os

grandes proprietários industriais, as grandes empresas comercias; os proprietários de

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terras; os promotores imobiliários e o Estado. Os grupos sociais excluídos, entende-se que,

necessitam da terra para moradia. Por isso, essa luta que trava-se entre os agentes

principalmente os que querem obter a terra como mercadoria transformando-a em capital e

os que lutam pelo acesso à moradia por necessidade. Nesse caso a luta travou-se entre a

Prefeitura e os moradores do Loteamento porque de um lado a Prefeitura brigava pela terra

como mercadoria e de outro os moradores lutando pela terra como moradia. Percebe-se

que os agentes que tem como objetivo transformar a terra em mercadoria são os principais

responsáveis pela desigualdade urbana e conseqüente segregação sócio espacial. O grupo

social excluído, os moradores do Loteamento Ceval tiveram uma autonomia coletiva

(proposta do desenvolvimento sócio espacial), uma vez que estes buscaram obter qualidade

de vida atendendo as necessidades básicas, principalmente a de moradia e conjuntamente

procuraram aumentar a justiça social que visa a igualdade dos indivíduos enquanto seres

humanos merecedores de tratamento igualmente digno e respeitoso. Com isso, os

moradores formaram o território do Loteamento Ceval de forma humana e igualitária.

REFERÊNCIAS

CARLOS, A. F. A. A (Re) Produção do espaçourbano. São Paulo: Edusp, 1994.

CORRÊA, Roberto Lobato. Resumo do livro: OEspaço Urbano (Editora Ática, Série Princípios),3a. edição, n.174, 1995. p.1-16.

ESTATUTO da Cidade Comentado.<www.cidades.gov.br/images/stories/.../EstatutoComentado_Portugues.pdf> Acesso em 10 dejaneiro de 2014

LEAL, Giuliana Franco. Exclusão social e rupturados laços sociais: análise crítica do debatecontemporâneo. Florianópolis: Ed. da UFSC,2011.

MARTINS, José de Souza. Henri Lefèbvre e oretorno à dialética. São Paulo: Hucitec, 1996.

MARTINS, José de Souza. Exclusão social e a novadesigualdade. São Paulo: Paulus, 1997.

MARTINS, Solismar Fraga. A produção do espaçoem uma cidade portuária industrial: O casodo município do Rio Grande/RS. Tese dedoutorado em Geografia. Florianópolis: UFSC,

2004.

OBSERVATÓRIO de Favelas.<http://www.pucsp.br/ecopolitica/downloads/1_D_2009_O_que_favela_afinal.pdf> Acesso em24 de janeiro de 2014

OLIVEIRA, Giovana Mendes de. Século XXI:território, estado e globalização. Caxias doSul: EDUCS, 2002.

SANTOS, Milton. O Espaço Dividido: Os doiscircuitos da economia urbana nos paísessubdesenvolvidos. São Paulo: Ed.Universidade de São Paulo, 2008.

SOUZA, Marcelo Lopes de. Mudar a Cidade: umaintrodução crítica ao planejamento e àgestão urbanos. 5ª Ed. Rio de Janeiro;Bertrand Brasil, 2008.

VARA, Maria de Fátima S. da. Estratégias dapopulação de baixa renda na produção doespaço urbano: o caso do Loteamento Cevalem Pelotas – RS. Dissertação de Mestrado emGeografia. Rio Grande: FURG, 2009.

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A FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO DO LOTEAMENTO CEVAL – PELOTAS/RS

EIXO 3 – Desigualdades urbano-regionais: agentes, políticas e perspectivas

RESUMO

Para compreendermos como ocorreu a formação territorial do Loteamento Ceval é mister que nos

reportemos aos agentes modeladores do espaço que, segundo Roberto Lobato Corrêa no livro

Espaço Urbano são definidos como: os proprietários dos meios de produção; os proprietários

fundiários; os promotores imobiliários; o Estado e os grupos sociais excluídos. A problemática em

questão está particularmente na produção do espaço urbano que não ocorre de forma pacífica e

igualitária, pois os interesses que envolvem os incluídos não são os mesmos dos excluídos

causando divergências. Principalmente, porque os incluídos detêm o capital e os excluídos o

trabalho. Assim, pode-se dizer que a formação do território do Loteamento Ceval baseou-se na

busca dos grupos sociais excluídos por melhores condições de moradia e infraesturura, visando

uma vida digna e mais igualitária. O objetivo geral que norteia a discussão busca compreender

como ocorreu a formação do território do Loteamento Ceval. Os objetivos específicos são: analisar

os agentes envolvidos na formação do território do Loteamento; verificar a situação de moradia e

infraestrutura do Loteamento Ceval; e compreender os motivos que levaram os moradores há

habitarem o Loteamento Ceval. O método científico empregado é o Materialismo Histórico e

Dialético de Marx, em que o sujeito constrói o objeto e o objeto passa a influenciar o sujeito, pode

entender que, o objeto está no sujeito e o sujeito está no objeto é uma relação construtiva e

dialética de ambos promovendo a autonomia do sujeito. Esse método ainda tem como uma de

suas características principais a dialética e a ação do sujeito que produz o espaço. Por isso,

adotou-se esse método, pois é a que mais se adéqua ao estudo. Pois, entende-se que, houve uma

autonomia do grupo social excluído que produziu o espaço do Loteamento Ceval, mais

precisamente o território. A metodologia utilizada baseia-se em: pesquisa bibliográfica relacionada

a produção do espaço e território, pesquisa cartográfica da área de estudo e observação em

campo.Os principais resultados obtidos contribuem para afirmar que o capital está concentrado

nas mãos da classe dominante, estes detêm o capital caracterizando-se como a classe capitalista,

diferentemente da classe proletária que detêm a mão de obra - o trabalho. A tênue distinção entre

as classes sociais gerou conjuntamente uma problemática urbana - a fragmentação do espaço

urbano. De acordo com isso, infere-se que, o espaço urbano é produzido desigualmente, pois há

os que estão incluídos, a classe dominante que habita os melhores espaços da cidade e os

excluídos (operários) que moram em áreas precárias de infraestrutura. O Loteamento Ceval é fruto

dessa lógica desigual, pois formou-se de maneira precária, uma vez que os moradores,

anteriormente habitavam as margens do Canal São Gonçalo. Assim, apropriaram-se de uma área

pública onde atualmente é o Loteamento exigindo do poder público moradia digna e infra

estrutura no local. Isto foi adquirido pela população somente depois de longos anos de espera e

muita luta.

Palavras-chave: territórios; grupos excluídos.

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