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Histórias urbanas a contrapelo Histoires urbaines à contre-poil Ronaldo Brilhante 1 , eau uff, [email protected] 1 Professor Adjunto da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense. Grupos de Pesquisa: GHUM / OPPHUS _ PPGAU UFF

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Históriasurbanasacontrapelo

Histoiresurbainesàcontre-poil

RonaldoBrilhante1,eauuff,[email protected]

1ProfessorAdjuntodaEscoladeArquiteturaeUrbanismodaUniversidadeFederalFluminense.GruposdePesquisa:GHUM/OPPHUS_PPGAUUFF

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SESSÕES TEMÁT ICA 7 : C IDADEE H ISTÓRIA

DESENVOLVIMENTO,CRISEERESISTÊNCIA:QUAISOSCAMINHOSDOPLANEJAMENTOURBANOEREGIONAL? 2

RESUMO

ApartirdeumacríticaaosconhecimentosparcelaresrealizadossobreascidadesHenriLefèbvreconvoca-nosarefletirsobreoporvirdeoutromododeconhecerourbano.Suareflexãoorientaopercursodefinidonestapesquisa,quepropõeumaligaçãoentrecamposdisciplinaresdiversos.

Esteestudoédesenvolvidocomoobjetivodesedelinearumprocedimentodeensinoepesquisadedicado a apre(e)nder o ambiente urbano por intermédio de relações históricas neleconstituídos, tendo comomote principal a formação de relações dialógicas estabelecidas entreeducandoseeducadores.Afundamentaçãoteórico-metodológicapropostatemcomoreferencialasperspectivasdeHenriLefèbvre,PauloFreireeWalterBenjamin.

Reside aqui o convite ao entendimento de umamaior interação entre indivíduos, grupos e osambientesnosquais sedão suas experiências.Oque sebuscaéumamaneiradeeducar e agirmaisrespeitosasobreoespaçourbano.

Palavras Chave: Urbanização. Pesquisa e ensino. Memórica e lembrança. Dialogismo. Relaçõesentrecruzadas:históriasurbanas.

RÉSUMÉ

C’est à partir d’une critique auxmodes segmentaires de la connaissance sur les villes, qu’HenriLefèbvrenousinviteàréfléchirsurl’avenird’unemanièreélargiedeconnaîtrelemilieuurbain.Leparcoursdéfinidanscetteétudes’orientedanslapenséed’HenriLefèbvre, laquelleproposeuneconnexionentrechampsdisciplinairesdistinctsetaussientrerelationsobjectivesetsubjectives.

Cetteétudeaétédéveloppéedansl’objectifdepromouvoiruneprocédured’enseignementetderechercheconsacréeàpercevoirlemilieuurbainàpartirdesrelationsentrehistoiresquis’ysontconstituées. Les fondements théoriquesetméthodologiquesproposés sontbasés sur l’approcheentre les perspectives d’Henri Lefèbvre, Paulo Freire etWalter Benjamin. C’est cette démarcheque l’on retrouve dans les recherches sur le terrain, développées dans de différentsmilieux etdifférentsgroupes.

Setrouveicil’invitationàlacompréhensiond’uneplusgrandeinteractionentreindividus,groupesetmilieuxdanslesquelssontvécuesleursexpériences.Cequel’onrechercheiciestunemanièred’éduqueretd’agirplusrespectueuseparrapportàl’espaceurbain.

Mots-clés: Urbanisation; Recherche et enseignement; Mémoire et souvenir. Dialogisme;Perceptiondesmilieuxurbains.Relationscroisées:histoiresurbaines.

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INTRODUÇÃO“Precisamos da história, mas não como precisam dela os ociosos quepasseiamnojardimdaciência”(NIETZSCHE,apudBENJAMIN,1993,p.228)

Nestetextoapresentopartedasreflexõescontidasemminhapesquisadedoutorado2(Brilhante,2013), cuja preocupação fundamental pauto-se na reflexão acerca de novos procedimentos deensinoepesquisaadaptadosaourbanismo,quetemoexercícioda

históriaedas relaçõesafetivas comoambiente físicocomoelementosnorteadores.Para tanto,são levados em conta laços de complementaridade entre campos disciplinares diversos, aquiparticularmente organizados pormeio de uma aproximação entre as inquietações contidas: nourbanismodeHenriLefèbvre,napedagogiadePauloFreireenosconceitoshistóricosdeWalterBenjamin. Inquietações diversas que tem em comum uma preocupação fundamental com aeducaçãodesujeitosnahistória.

A organização de paralelos entre esses pensadores foi facilitada por compreender que em seusargumentos residem alguns princípios comuns: a) abordam o ambiente físico como elementomediador(exercíciodialético)dereflexãoegeraçãodesaberes;b)permitemumexercícioteórico-práticocondizentecomaatualidadedaspreocupaçõesdocampodoensinoepesquisa,nosentidodetecerrelaçõesentreparte-todo,objetividade–subjetividade,pensamentocientífico–saberescomuns; c) demonstram a necessidade de transitar nos limites de suas disciplinas específicas,procurandopontosdecomplementaridadecomoutroscamposdisciplinares;d)refletemoespaçourbano segundo uma abordagem preocupada em reavivar de acordo com outras angulaçõeselementoslatentesdopensamentomarxista3.

Existem importantes pontos de contato entre Lefèbvre, Freire e Benjamin que em muitocontribuíram para a demarcação dessa abordagem. Eles demonstram, antes de tudo, umapreocupação fundamental com um modo de tessitura de conhecimentos e modos deconscientizaçãocalcadosnohumanismo,emreflexõesemgrandemedidautópicas,emergidasemperíodos históricos de profundas castrações dos direitos civis, como a 2ª Guerra Mundial e aGuerraFria.Demodogeral,asobrasdessestrêsautoresexpressamumagrandepreocupaçãoemproduzir emancipação (quebrar elos diversos de opressão produzidos entre classes sociaisdiversas) através da criação de práticas políticas que, também, podem ser interpretadas comosendodeconhecimentos.

Devemos sempre nos questionar em nossos campos disciplinares específicos sobre os limites einferênciasaosconhecimentosmaisgeraispropiciadospeloafastamentoentre-disciplinas-diversas,sugerindo-nos, talvez, não uma nova disciplina recomposta, mas um âmbito de encontro(in?)disciplinar,calcadonumnecessárioembateentre-idéias.As linhasdepensamentoenquanto2TesededoutoradodefendidanocontextodoProgramadePós-graduaçãoemUrbanismodaUniversidadeFederaldoRiodeJaneiro(PROURB),emjunhode2013.AtesecontoucomaorientaçãodaProfessoraDra.LilianFesslerVaz,tendocomoco-orientadoraaProfessoraDra.MariaLaísPereiradaSilva:“Vestígiosdeumurbanismoamoroso”(Brilhante,2013).3Seus itinerários são basicamente vinculados ao pensamentomaterialista-histórico-dialético, particularmente delineadopelo ideáriomarxista; contudo,podemos considerá-los comopensadoresdeumageraçãoquegozadeumafastamentocríticoemrelaçãoaoqueMarxoriginalmentepropunhae,principalmente,aosmodosdiversoscomoele foiapropriado(LEFÈBVRE,1991; FREIRE, 2005a; BENJAMIN, 2009). Creio, em conjunção com atualidade de diversas abordagens(MÉSZÁROS,2003,2005;LÖWY,2005;KONDER,2002)queopensamentomarxistadeveseratualizadoacadatempo,nãonosentidodeeternizá-loortodoxamente,massimcomapreocupaçãodereavivar-lheapartirdenovoscontextosespaço-temporaisedepensamentos.Acreditoque,emseustempos,Freire,LefèbvreeBenjaminpromoveramdesdobramentosbastante particulares e frutíferos aomaterialismo histórico, que aqui serão abordados no sentido de permitiremnovoscaminhospráticos.

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instrumentais analíticos remetem a separações nas formas de saber; entretanto, enquantoelementos de um âmbito, ou jogo complexo de complementaridades, podem ser apreendidascomo dimensões interdependentes capazes de resguardar um entendimento amplo do real(Lefébvre,1991,p.37-40).

Umapráticade sabereshumananãodeve serestabelecidapor_ouestabelecer_umasupostaneutralidadeartificialeinsípidaàcondiçãohumana;deve,aocontrário,convidaraojogodialógicoeconflituoso(FREIRE,1996,2005a)tãoindispensávelaoaprendizadoefetivamentetransformadordas condições de desigualdades e injustiças sociais. Destamaneira, práticas de conhecimento epráticashistórico-políticasdevemseirmanarparaobemdeumarenovadacondiçãonomundo.

PauloFreire,aproximando-sedeumamaneirabastanteespecíficaesurpreendentementeatualdeHenriLefèbvre,dizestarconvencidodequeasaçõespolíticaseeducativasdeveriamsemesclarpara o bem de uma nova vitalidade referente ao espaço das cidades; no sentido de umentendimento-e-práticaquepermitaàscidadesseremosprolongamentosmaiselementaresdasescolas.Deve-sesonhar-realizaravocaçãoescolardascidadesenquantoambientede realizaçãode todo e qualquer conteúdo de ensino. Reside aqui o enlace fundamental daquilo que édefendido: (Freire, 2000, 2005a, 2005b), (Lefèbvre, 1991, 2004) e de modo mais diferenciado,(Benjamin,2000,2009)confluemnosentidoderefletiracidadeenquantoâmbitodeumasuperiorrealizaçãode saberesedepráticashumanas. Saberesepráticas aindapoucoapreendidaspelasciênciasvoltadasaoensino,equesedebruçamsobreourbano.

Sejacomopropósitodeseconscientizarquantoaformasdeaçãosobreomeiourbano,sejacomopropósitodesepropagarconhecimentosdisciplinaresdiversossobreascidades;umnovomodode educar deve se encarregar da elaboraçãodemetodologias de ensino e pesquisa específicos,comafinalidadedeproduzirumaeducaçãodesentidosamplos,comapropostade:seesclarecernasrelaçõesaquiloéindividualoucoletivo,localounão-local(Morin,2004,2006),oficialounão;e se demarcar um paralelo entre o observado e as histórias de educandos e educadores, seusmodosdeverbalizaçãoeamaneiracomosãoconstituídososseusmodosdeagirnomundo. Tudodevesecomporcomoelementodetrocashistóricasbaseadasemrelaçõesdediálogos4,quedevem ser apreendidas como trocas de conhecimentos e experiências. Caso isso seja realizado,desfigura-se,porconseguinte,aquiloquenaeducaçãotradicionalpodemosconsiderarcomoalgoasertransposto:desfaz-seumarazãonaqualoaprendizadosedáabstratamente,porintermédioderelaçõesnão-horizontaisbalizadaspelatransmissãodeconteúdos,segundoaqual,comobemdefiniu (Freire,2000,2005a,2005b), recipientescheiossãoresponsáveispelopreenchimentoderecipientesvazios.

Asmuitas instânciasdopensamentosobreasquestõesconcernentesaomeiourbano,emtodosos níveis de ensino, mas em particular nas universidades, resguardam uma granderepresentatividadenoquetangeàmelhoriadascondiçõesdevidanascidades,oquedevepassarpelacriaçãodesemprerenovadasformasdeaguçamentosdeconsciência.Perpassaopapelsocialdoeducadoradifusão-compreensão-prática-criaçãodesentidosde/paraurbanidade.

4Em interlocuções feitas com pesquisadores, professores e grupos sociais diversos, é facilmente verificável o crescentereconhecimentodaimportânciademeiosdetransmissãodahistórianaconstruçãodesaberessobreascidades.Contudo,há uma lacuna considerável entre o desejo de transmissão de experiências, histórias e memórias sobre a vida nosambientesurbanoseseupoucousoemprocedimentoseducativossistematizados.Poroutrolado,exercitamospoucoemnossosmeiosdeensinoasnossascapacidadesderelacionarashistóriasdoscontadoresàshistóriasdosouvintes,edestasàshistóriasquecostumamosvalorizaremnossasenunciaçõesenquantoprofessores.

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LEFÈBVRE:AHISTÓRIAENQUANTODIMENSÃODAREALIZAÇÃODOSERURBANO

“Durante longos séculos, a Terra foi o grande laboratório dohomem; sóhápouco tempo é que a cidade assumiu esse papel. O fenômeno urbanomanifestahojesuaenormidade,desconcertanteparaareflexãoteórica,paraa ação prática e mesmo para a imaginação. Sentido e finalidade daindustrialização,asociedadeurbanaseformaenquantoseprocura.Obrigaareconsiderar a filosofia, a arte e a ciência.A filosofia reencontraomedium(meio emediação) de seus primórdios – a Cidade – numa escala colossal ecompletamente isolada da natureza. A arte, também reconhecendo suascondições iniciais, dirige-se para um novo destino, o de servir à sociedadeurbanaeà vidaquotidiananessa sociedade.Quantoàs ciências,nãopodemevitar o confronto com esse novo objeto sem que renunciem a suaespecificidade, deixando o campo livre para uma delas (...) Elas travamcontato, de maneira cada vez mais premente, com uma exigência detotalidade e de síntese. Fato que obriga a conceber uma estratégia doconhecimento, inseparável da estratégia política, ainda que distinta dela.Segundoqualeixoeemquehorizontespensaressaestratégiadosaber?Nadireçãodaentradaparaapráticadeumdireito:odireitoàcidade,istoé,àvidaurbana,condiçãodeumhumanismoedeumademocraciarenovados”(Lefèbvre,1991,Apresentação,grifosmeus)

A necessidade de formação de renovados modos de consciência, elaboração e prática sobre oespaço urbano5atravessa boa parte da obra de Lefèbvre (1961, 1976, 1986, 1991, 2004). Eleapontaparaa importânciadeumaaproximaçãoentreespecialidadesdiversasque sejacapazdeperfazer uma ciência nova, que propicie uma leitura apurada sobre a complexa condição dohumanonascidades,equepermitaaoscorpossociaiselementosparaumainteraçãoconscientesobreaquiloqueeleapontacomo“fenômenourbano”.

Em sua obra “O Direito à Cidade” Henri Lefèbvre (1991) argumenta sobre a importância de seconstituirummododesabersobreourbano,umaciênciadacidade,quesecomponhaapartirderenovadas articulações entre os modos de saberes especializados. Nesse sentido é degrande importância sua crítica ao limite ocasionado pelas ciências parcelares ou parciaispara uma compreensão que se pretende global6. Ele evidencia a necessidade de se relacionardiversos modos de conhecimentos que foram fragmentados pelo exercício da própriaespecializaçãodosmodosdesaber.Especializaçãoquesemostraacadatempomaisprecisaemrevelarpartesdeobjetos,ouobjetosemseparado.

5“A produção do espaço não seria “dominante” dentro do modo de produção, mas ligaria os aspectos da práticacoordenando-os, reunindo-os, mais precisamente, numa “prática”. E isso não é tudo. Longe disso. Se o espaço (social)intervémnomododeprodução,aomesmocomotempoefeito,causaerazão,elemudacomessemododeprodução!Fácildeentender:elemudacomas“sociedades”,sequeremosdizerassim.Entãoháumahistóriadoespaço.(Comodotempo,doscorpos,comodasexualidade,etc.).Históriaaindaaserescrita.Oconceitodeespaçoligaomentaleocultural,osocialeohistórico”(Lefèbvre,1986,préface,traduçãoegrifosmeus).6Afirma, no entanto que “Necessária, essa ciência (da cidade) não basta. Aomesmo tempo em que percebemos a suanecessidade, percebemos seus limites. A reflexão urbanística propõe o estabelecimento ou a reconstituição de unidades(sociais localizadas) fortementeoriginais,particularizadasecentralizadas,cujas ligaçõese tensõesreestabeleceriamumaunidade urbana dotada de uma ordem interna complexa,não sem estrutura,mas comuma estrutura flexível e umahierarquia. Mais precisamente ainda, a reflexão sociológica visa ao conhecimento e á reconstituição das capacidadesintegrativasdourbano,comoascondiçõesdaparticipaçãoprática.Porquenão?Comumacondição:adenuncasubtrairessastentativasparcelares,portantoparciais,àcrítica,àverificaçãoprática,àpreocupaçãoglobal”(Lefèbvre,1991,111,grifosmeus)_Reflexõessobrecomplexidadeerelaçõesentrepensamentosespecíficoseabrangentesbastanteatuais,quehojeencontramimportantesenlacescomosargumentosdeEdgarMorin(2004,2006).

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“NodecorrerdoséculoXIX,contraafilosofiaqueseesforçaporapreenderoglobal (...) constituíram-se as ciências da realidade social. Essas ciênciasfragmentama realidadea fimdeanalisá-la, cadauma tendo seumétodoouseus métodos, seu setor ou seu domínio. Ao fim de um século, discute-seainda se essas ciências trazem iluminações distintas sobre uma realidadeunitária ou se a fragmentação analítica que elas efetuam corresponde adiferençasobjetivas,articulações,níveis,dimensões”.(Lefèbvre,1991,p.37)

Érealçadoocuidadoaonosdepararmoscomacidadeenquantoobjeto,dadoqueelaé,também,um fenômeno em constante transformação, no qual interagem reciprocamente o social, oeconômico,opolíticoeocultural.Devidoa isso,umacompreensãooucompreensõesacercadourbanomantêm-sedesprovidasdeabordagensmaisgeraiscapazesdefundirsaberesespecíficos;suaapreensãoénorteadapelodesejodecriaçãodeumanovaepistemologia.SegundoLefèbvre,

“A realizaçãoda sociedadeurbanaexigeumaplanificaçãoorientadaparaasnecessidades sociais, as necessidades da sociedade urbana. Ela necessita deuma ciência da cidade (das relações e correlações na vida urbana).Necessárias,estascondiçõesnãobastam.Umaforçasocialepolíticacapazdeoperar esses meios (que não são mais do que meios) é igualmenteindispensável”.(Lefèbvre,1991,p.142_TESE5)

Essaciênciadacidadepodesercompreendidamaisdoquecomoumaespecialidade,elapodeserapropriadacomoumâmbitodeencontroentreespecialidadesquesedebruçamsobreummesmoe complexo fenômeno: o fenômeno urbano. Uma ciência da cidade deve resguardar certaapreensão da totalidade que compõe a vida urbana. Por este percurso o urbanismo, enquantoespecialidade,poderiaassumirumpapelmúltiplo,numafronteiracapazdefazerconvergirciência,arteefilosofianumdiálogoproativo.

Se por um lado a perspectiva lefebvreana sugere um modo de compreensão do urbano queextrapole os limites ocasionados pelas ciências parcelares; por outro lado, ele conecta aconcretizaçãodessenovomododesaberauma lógicaquevinculaaproduçãodoespaçoaumapropostaque,entendemos,dizrespeitoàhumanizaçãodavidaurbana.Segundoseusargumentos,ascidadesdevemsercompreendidascomoaslinguagensconcretasecomplexasdoscorpossociais,esãoospróprioscorpossociaisquecarecemdaproduçãoepráticaderenovadasformasde saberes sobre o urbano7, e não simplesmente os especialistas que se debruçamemestudossobreacidade.

Casoosgrupossociaissejamhistóricaecoletivamenteconscientesdaformaçãoepráticadessaslinguagens concretas e complexas que são as cidades (que assumem a forma de praças, ruas,edificaçõese tudomais), realiza-seoque sedeseja ser enquanto cultura compostapor sujeitosefetivamenteresponsáveispelarealizaçãodosinteressescomuns.

Ao ser praticado pelos grupos sociais com o objetivo de constituir outros modos de práticasurbanas,essenovomododesaber sobreourbanoassumeum importantecaráterpolítico;poistermina por adquirir uma função conscientizadora capaz de proporcionar ao indivíduo oesclarecimento quanto ao seu histórico papel na constituição da vida urbana; prática esta que7Nesse caminho Lefèbvre se aproxima de seu contemporâneo (e até certo momento interlocutor) Guy Debord (1997;JAPPE,1999)aodefenderqueoexercíciodossaberessobreourbanodeveriaextrapolaroscírculosacadêmicos,deveriamfazerpartedaspráticasdosgrupossociais.Odesejodeaçãosobreourbano,comumaossujeitosdascidades,é,decertomodo,apresentadocomoumalatênciasilenciadapelomododeproduçãocapitalistaatravésdeseusmodosdegovernoeaçãosobreavidacotidianae,demodogeral,sobreoambienteurbano.EmCritiquedelaviequotidienne(Lefèbvre,1961,p78-225)existemremissõesà“não-participação”eà“passividade”,ditadaspelosnovosmeios técnicos, comoa televisão(hojecomainterneteosnovosmeiosdemídiaerelaçõesdigitais),queapresentaomundocomoum“espetáculo”.

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sugereaosindivíduosatomizadosasecomporemcomosujeitospolíticosativosnaconstruçãodeumadeterminadaformaçãosocial.

Lefèbvreafirmaqueatransformaçãodasociedadenãonasceriamais(contrapondo-seaMarx)damisériaoupelaaçãodoproletariado,massimdasnecessidadesedosdesejoshumanos,desuariquezaedesuacomplexidade (Lefèbvre,1961,V2,p.37),sobretudoem reação àmanipulaçãodasnecessidadesquesedistanciamcadavezmaisdosdesejos(ibid,V2,p.16-91).Nessecaminho,o urbanismo encontrava-se (e talvez ainda se encontre), entre as dimensões do conhecimento,“atrasado”emrelaçãoaumaapreensãomaisaprofundadadarealizaçãodavidanascidades(ibid,V2, p. 82), pois as cidades cada vez mais exemplificam a degradação desta mesma vida. Essadegradação,dentreoutrosfatores,podeserverificadapelodistanciamentoentreavidacotidiana(“literalmente colonizada”) e a história (ibid, V2, p. 17 / 26), sendo que a verdadeira história(argumentoqueo irmanaaBenjamineFreire)realiza-senos laçosentrepassados,presentesefuturospessoaisecoletivos8.

A configuração dos direitos ao meio urbano não se realiza pelo simples exercício de uso doambientefísico,deseuscódigos,oudeseusserviços;abuscaeconquistadosdireitosdependemdacriaçãoderenovadasformasdesaberepraticarsobreourbano.“Odireitoàcidade”deveserreconhecido como forma superior dos direitos; o que implica no “direito à liberdade, àindividualização na socialização, ao habitat e ao habitar. O direito à obra (à atividadeparticipante)eodireitoàapropriação(bemdistintododireitoàpropriedade)estãoimplicadosnodireitoàcidade”(Lefèbvre,1991,p.135;grifomeu).

O direito à cidade deve se instituir como o direito à própria vida urbana, que deve serconstantementemodificadapelospensamentos-e-práticassociais.

“Pouco importaqueo tecidourbanoencerreemsio campo (...) conquantoque ‘o urbano’, lugar de encontro, prioridade do valor de uso, inscrição noespaço de um tempo promovido à posição de supremo bem entre os bens,encontre sua base morfológica, sua realização prático-sensível. O quepressupõeumateoriaintegraldacidadeedasociedadeurbanaqueutilizeosrecursosdaciênciaedaarte”.(Lefèbvre,1991,p.117;grifomeu)

A partir de uma observação focada na fragmentação do conhecimento e seus desdobramentossobreoambientefísico,Lefebvreconvoca-nosarefletirsobreoporvirdeoutromododeconhecero urbano quando sugere “uma teoria integral da cidade e da sociedade urbana que utilize osrecursosdaciênciaedaarte”.Sãoquestionadososmodostradicionaisdeconstruçãodeconhecimentos ao aderir a esta formulação umanecessária ligação entre ciência e arte _ entreobjetividadeesubjetividade9.

8 Para Lefèbvre, em repercussão à Marx, o cotidiano apresenta-se atualmente cíclico e submetido ao quantitativo,enquantoqueahistóriaeleva-se comoâmbitodas realizaçõesúnicasequalitativas. Semconsciênciade suahistória,osindivíduoseassociedadessãoverdadeiramentearrastadosnahistória(argumentoqueoirmanaaBenjamin).Avidadosindivíduosquecompõeassociedadesdevesedestacarcomoobraecomohistóriaconsciente,subtraídaàalienaçãodavidacotidiana(Lefèbvre,1961,p.337).9Valedestacarque,emLefèbvre,bastantedestaargumentaçãoquerelacionaaçãopolítica,arteeciênciadecorredesuarelaçãocomomovimentosurrealista.SegundoAnselmJappe“Nosanos20(Lefèbvre),dirigeogrupo‘Philosophies’,umadasrarastentativasnaFrançadeelaborarumateoriamarxistaindependente,equetemumarelaçãodecolaboração,aomesmo tempodeconcorrência, comos surrealistas. (...)Noperíododa ‘desestalinização’, Lefèbvre torna-se,duranteumcerto tempo, ‘o mais importante dos filósofos marxistas contemporâneos’, embora, na realidade, seu pensamento sejamuitoecléticoe,segundoalguns,diletante,utilizandoelementosdeNietzsche,HusserleHeidegger”(JAPPE,1999,p.100).

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Aparticipaçãosocialnopensamentoepráticasobreourbanopodeseroeloapartirdoqualascidadespodemsetornarefetivamenterepresentativasdosdireitosdoscidadãos,masparaissosecompor de modo efetivo é necessário atentar-se àquilo que é utopicamente enunciado pelopensamento lefebvreano: necessitamos de uma teoria, de uma forma de geração deconhecimentoespecífica,necessitamosdeummododeconhecerourbanoquetransgridaalógicadas sínteses parcelares; e uma renovada forma de apropriação da história, ou das históriasurbanas,temumpapelpreponderantenessemododeconhecimento-e-ação.

Essarelaçãoentreaformaçãodeumaconsciênciapolíticavoltadaàaçãosobreourbano,queénutridadeuma ciência específica, perfazuma importante articulaçãode seu pensamento quepode ser interpretada num primeiro momento com alguma estranheza. Porém, não seriaexageradoconsiderarqueesteraciocínioimplicanumconviteaumaconcepçãodopensamentoedaaçãosobreourbanobastanteatuale significativo.Segundoele,umnovohumanismoeumanova democracia dependem de outro modo de praticarmos a vida cotidiana, que deve sernorteada por uma “estratégia do conhecimento, inseparável da estratégia política” (Lefèbvre,1991,apresentação).

EmLefèbvre,assimcomonoutramedida,emFreireeemBenjamin,aformaçãodosujeitourbano,consciente em relação aos seus direitos, se vincula ao modo como este sujeito relaciona suahistória (presente,passadoe futuro)aos conhecimentosgeraiseespecíficosqueeleé capazdeadquiriremsuasrelaçõescomoambienteecomosoutros.Ossujeitosserevelamnamedidaemqueatuamcomoprotagonistasenãocomocoadjuvantesnaconstituiçãodosmeiosondevivemenastrocasqueestabelecem.Énacidadequepodemosreconheceroâmbito,aescala“ideal”,paraoplanodessemarcoderealizaçãohumana,poiscidadeemanapolítica,seconfundecomoprópriosignificadodedemocraciaeterminaporrefletirimagemdacondiçãohumananomundo.

ParaLefèbvre,FreireeBenjamin,umarenovadapráticadavidapolíticaatrela-seaumanecessáriaconscientizaçãohistóricaemrelaçãoaopresente,quese fazapartirdeumaanálisedopassadocapazde iluminarumaação futura. Estes três autores têmemcomumabuscapor construçõesmetodológicas diversas que assim se caracterizam de modo comum por constituir derivações(mais oumenos) livres da dialéticamarxista. Seus procedimentos são delineados no sentido deproporcionarumaobservaçãoapuradadahistórianumalongafaixatemporal.

Emseu livro “A revoluçãourbana” (2004) Lefèbvre teoriza sobreoexercícioanalíticooqualeledenominatransdução,quefundamentaoseumétodoregressivo-progressivo,ecumpreoobjetivodepermitirummododeleiturahistóricabaseadanotrânsitodopresentenadireçãodopassadoedesteemdireçãoaofuturo.Comissoprocuranãosimplesmenteatribuirnovasexplicaçõesaoquepassou,masesclarecerquantoaosprocessosquesedesenvolvemnaatualidadeequaisosseuspossíveis desdobramentos; alémdenos permitir uma leitura realçadadosmomentos emque ahistóriasemostroudescontínua10.

Lefèbvreidealizaumaciênciadacidadecapazdeoferecerasbasesteórico-críticasvoltadasaumapráticapolíticarenovadora:

“Apenas a força social capaz de se investir a si mesma no urbano, nodecorrerdeumalongaexperiênciapolítica,podeseencarregardarealizaçãodo programa referente à sociedade urbana. Reciprocamente, a ciência da

10Como em Benjamin evidencia-se a necessidade de demonstrar que a história não se constitui sob um ordenamentocontinuum,cuja lógicaé imutável.Aosecolocarasdescontinuidadesemevidênciaseprocuratrazera luzosmomentosondeseverificamastransformaçõeshistóricas.

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cidadetrazparaestaperspectivaumfundamentoteóricoecrítico,umabasepositiva”(Lefèbvre,1991,p.114).

Podemos reconhecer certa lacuna entre esse ideal lefebvreano e a prática dessa “força social”.Apesarderefletireteorizarapráticasocial,eleasistematizaapartirdeumaelaboraçãodistantedeuma interaçãomaisdireta face aosdiversos grupos sociais queperfazemosobjetosde suasanálises. É nesse ponto que as perspectivas lefevreana e freireana podem ser compreendidascomocomplementaresemfavordeumapráticaeducativaespecífica.Ambospreocupam-secomaformação de saberes diversos que são exercidos no decorrer de um longo aprendizado políticocapaz de proporcionar mudanças efetivas à realidade social. Freire faz com que um dosmovimentosmais seminais de socialização e conscientização em nossa cultura, a alfabetização,remonte esta possibilidade; reside em seus argumentos, um convite implícito a um modo dealfabetizarqueconcerneàpolítica.

Podemosargumentarqueasociedadepoderá“investirasimesmanourbano”casoaelasejamoferecidas, através de modos de educação/conscientização diferenciados, maneiras simples derefletir sobre a complexidade do urbano. Ação que é, de certo modo, correspondida pelapedagogiadePauloFreire:oseducandos,apartirdeumarelaçãoentre-histórias,sãoconvidadosarefletir sobre como suas “pequenas” e “anônimas” histórias estão intimamente vinculadas àshistórias,sentidosesignificadosdeumtodomaior.(Freire,2005a).

Poroutrolado,nãoháemFreireapreocupaçãocomodesenhodeumaciênciaespecíficaparaacompreensão daquilo que ele observa no campo; há, como em Lefèbvre, uma crítica aoconhecimentono contextodaespecialização.Oqueambosnãoacreditavaméque residirianosmeios de ensino tradicionais o objetivo de se formar para uma prática política necessária àtransformaçãodas(ainda)atuaiscondiçõesdesegregação,alienaçãoeatomização.

Hoje,numcontextobemdiversodaquelequemobilizouaproduçãodeambos,podemosobservartanto a permanência, quantoos reflexos indesejáveis dosmodos comoa educaçãoépraticada.Educa-separaummercadoacadadiamaisestreitoemenosparaaquiloquecompõeumavidasocialecomum.Educa-secomoseexistisseneutralidadenasinstituiçõesdeconhecimento;mas,comoFreirebemressaltaissoébastantequestionável.

Semignorarqueexistemenormesdiferençasentreaquelecontextohistóricoeonosso,devemosconsiderar que existem importantes apropriações dos acessos pensamentos e práticas deLefèbvre, Freire e Benjamin a serem explorados nos dias de hoje; dado que a relação entreprocessos de elaboração de conhecimentos e a concretização dos ambientes urbanos pode sercompreendidacomoalgoaserrealizado.Para longedoexercíciodedoutrinas,suaspráticasnospropiciamcaminhos,procedimentos,modosdereflexãoextremamentesignificativosparaonossotempo. Tempo este em que, infelizmente, urbanidade ainda não é sinônimo de igualdade,liberdadeesolidariedade;tampoucosignificademocraciaejustiça.Maséprecisamentesobreissoque eles estavam falando, e é precisamente sobre isso que continuamos a criticamenteargumentaremnossasdissertaçõesepráticassobreourbano.

FREIRE:HISTÓRIAENQUANTOSUPORTEAPRÁTICA-E-AÇÃOEDUCATIVA

“ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo, os humanos seeducamentresi,mediatizadospelomundo”(Freire,2005a)

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Comodefendidoanteriormente,existeumarelaçãodecomplementaridadeentreosargumentosde Lefèbvre, Freire e Benjamin que aqui favorece uma formulação teórico- metodológicacondizentecomasatuaisnecessidadesdocampodeensinovoltadoàsquestõesurbanas.Esses autores se preocupam commodos de criação de conhecimentos/consciências a partir deoutramaneirade realizarmosahistóriaemnósenãosomenteparanós. Suasperspectivas,emderivaçãoaomaterialismohistóricodialéticomarxista,partemdeumolharsobreopresenteemdireçãoaopassadoeque,surgindodessemovimento,sevoltaparaofuturocomopropósitodeumaaçãomaishumanasobreoambientefísico.

Este exercício de pensamento e ação pouco ou nada tem a ver com a atualidade dos jargões“politicamentecorretos”quedizemprimarporummundomaishumano,eque,aomesmotempo,parecem esquecer-se que outra humanidade necessária ao gênero humano depende de umainquiriçãoverdadeiramentecríticadarelaçãodedominaçãoentre-humanos,bemcomodomodocomo estes transformam a natureza. Essa verificação só pode ser feita caso ela considere ohumanoenquantoser fundamentalmentehistórico,equeeledevesereducadoahistoricizar-secomafinalidadedenãoapaziguarseusconflitose/oudiferenças,massimdebuscarresolvê-losapartir de uma razão fundamentada no diálogo11. Tudo isso implica em modalidades depensamento,deaçãoederelaçõescalcadasnumamaneiradeeducar.

Modosdeencontros(históricos)entreaspessoassãoteorizadosporLefèbvre,FreireeBenjamin,namedidaemqueelessededicamàconstituiçãodeelaboraçõesteóricasepráticasvoltadasaumexercício da história que sugere umamaior interação entre sujeitos: da história enquanto bemcomum,talvezomaisbasilarparaoesclarecimentoquantoanossasituaçãonomundo.Apartirdesuasargumentações,podemoslevaremcontaqueoambienteurbanopodeserapreendidocomoobjeto privilegiado para o exercício do conhecimento histórico e como anteparo criativo dopróprioexercíciopolíticodahistória.Édaconcretudedoespaçoconstruídoquepodemosdelinearoscaminhoseasmetasnadireçãodeumaefetivarealizaçãodosideaisdeigualdade,liberdadeesolidariedade.Ideaisessestãosorrateiramentesequestradospelosmesmospropósitosquedesdesempre continuam a produzir, por motivos supostamente diversos, desigualdades, opressões eguerrassemelhantesàquelasdesempre.

Em seu procedimento de ensino Freire (2005a) demonstra que o conhecimento se faz maisprofundamente quando realizado através das experiências cotidianas dos educandos; e que osconhecimentosmaisgeraisemrelaçãoaosdiversosfenômenosquepudemosobservardependemda maneira como nos posicionamos (educandos e educadores, nos encontrando oudesencontrando)diantedoobservado. Exercício estede reflexão-ação amploque se articuladeanalogiasentretemposeespaçosdistintos,dadoqueahistoriadopresentesóépossíveldevidoaumarelaçãodecasualidadesqueseengendramnopassado;equeofuturo(ahistóriaquetemosodireito e condições de desenhar) deve ser apreendido enquanto um fazer nascido dessaconsciência.

Omodo de alfabetização freireano é iniciado pelo “levantamento do universo vocabular”12dosgrupos com os quais se pretende compartilhar saberes. Re-significando Freire podemos refletirsobre a validade de uma alfabetização focada sobre as questões que tangemo espaço urbano.

11Estetextonãotrazaprofundamentosàrazãodialógica,quefreirepraticava,sem,noentanto,teorizarsobreela.Emseusapontamentos podemos verificar que sua ligação ao dialogismo apresentava-se aberta, heterodoxalmente apoiadas emBuber,2001eBakhtin,1986.12Nocorpodeseumétodo,aolevantamentodaspalavras,desenvolvidopeloseducadoresjuntoaosgruposcomosquaisserãodesenvolvidasasaçõeseducativas,dá-seestenome.

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Nesse modo de educar-e-agir, educandos e educadores são convidados a falar de suasexperiências,bemcomodesuasatitudesfrenteaoexperienciado.

Oaprendizadosedimenta-sedemodomaisaprofundadoquandooprocessoeducativoseutilizadeelementosqueserealizamdemodoconcretonavidadoseducandos.Trata-sedeumexercíciobastantesimples,comresultadoscomprovadamenteconsistentes,masqueaindahoje,porrazõesdiversas,deixamdeserlevadosemcontanosprocessosdeensinoeaprendizagem.

EmFreire,háaincitaçãoempensarsobreaseparaçãoinstitucionalizadaentresujeitoseobjetos,representantes e representados, educandos e educadores.Uma crítica a essas ordens conduzoeducando a refletir e re-situar os agentes (por vezes involuntários) dessas elaborações: oseducadores,oscientistas,ospolíticos...aselites.Apráticapedagógicadevecontribuirparaqueoeducandoaprendaaleracontextualidadeemquevive,arelacioná-lacomumuniversomaioreaproduzir indagações a partir destas aproximações. Deve convidar os indivíduos atomizados arecomporem-sepelacriaçãodenovasligações,sentidosesignificações.

O educador deve, respeitar-propiciar o transbordamento de percepções, valores, histórias,memóriaselembrançasnodecorrerdoprocessodeaprendizagem.Porestecaminho,cabe-nosodesafio da maturação de sistematizações que permitam aberturas e maleabilidade ao corpoheterogêneodaquelesqueparticipamdoprocessoeducativo.

Ao educando se alerta não só sobre os vocábulos inerentes às suas relações cotidianas, mas,paralelamente, acerca das trocas materiais e simbólicas que sustentam a verbalização nessesencontros. A prática freireana se realça pelo fato de promover uma educação que ensina aanalisareatuarcriticamentesobreovivido,enão(simplesmente)entendê-lopassivamente.

Énestepontoquedevemosenfatizarainfluênciadomaterialismohistóricoemseumétodo.Éporforçadesta vertentedepensamentoque, aindahoje,podemosaclararosmodosdedominaçãoentre classes, as condições de exploração do trabalho, as desigualdades sociais, econômicas eculturais geradaspelo sistema capitalista. É, também, a partir da açãode exploraçãode gruposhumanos sobre grupos humanos que se materializam os ambientes que vivenciamos econhecemos bem: ruas, bairros, condomínios, favelas, terras improdutivas; elementos deprocessos de urbanização ricos na criação de ambientes muitas vezes segregados e que, porrebatimento,naesferadaexperiência,educamparaasegregação.

Ohumanovê suahistóriamaterializadanoespaço (também)atravésdavivênciaeda formaçãodos ambientes nos quais se dão seus encontros, aomesmo tempo em que são essesmesmosambientesquesugeremoutroporvir:umaruamaliluminada,quesugereumamelhoriluminação;umacidademaladministrada,queclamaporummelhorcorpotécnicoepolítico;populaçõessemacesso à habitação digna, que reivindicam políticas habitacionais consistentes e tantomais. Apartirdepoucosexemplospodemosencontrarboasjustificativasparaqueosambienteshumanosassumam um papel mais representativo nos processos de aprendizagem em qualquer nível deensino. A práxis freireana não resguarda em si este objetivo, entretanto contém importanteselementosparatalelaboração.

AlgumasquestõespropostasporFreirepermitemboasiluminaçõesparaaatualidadedosmodosde geração de saberes de modo geral; questões que, especificamente, podemos considerarsignificativas para uma redefinição de horizontes para educarmos ao urbano, algumas dessasquestões podemos exemplificar do seguinte modo: A educação que praticamos permite maisencontros ou desencontros? É possível ser apolítico no desenrolar de um processo ensino? Ao

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educarmos reiterando a neutralidade não estaremos educando para o descompromisso pelascausascomunse,decertomodo,fundamentandoocultoaoindividualismo?

Aformaçãodeumaculturaeducacionalbaseadanoconviteaodiálogo,ocupadaemproduzirmaisperguntasemenos respostasprontas,constituiopontodepartidadeumprojetode renovaçãonas formas de saber e de agir sobre as nossas histórias, sobre nósmesmos e, como podemospropor,sobreourbano.Esse ideal freireanoseconcretizapelaconjugaçãodeprocedimentosdeensino e aprendizagem direcionados à interação entre educandos e educadores. Num de seusprocedimentos é sugeridoqueolhemos atentamenteosmodos comonos relacionamos comosoutrosecomoquecompõeouniversoanossavolta.

BENJAMIN:FUNDAMENTOSPARAUMAHISTÓRIAACONTRAPELO

“Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjoque parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhosestão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas.O anjo da históriadeveteresseaspecto.Seurostoestádirigidoparaopassado.Ondenósvemosuma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumulaincansavelmenteruínasobreruínaeasdispersaanossospés.Elegostariadedeter-separaacordarosmortosejuntarosfragmentos.Masumatempestadesopradoparaísoeprende-seemsuasasascomtantaforçaqueelenãopodemais fechá-las.Essa tempestadeo impele irresistivelmenteparao futuro,aoqualeleviraascostas,enquantooamontoadoderuínascresceatéocéu.Essatempestade é o que chamamos progresso” (BENJAMIN _ TESE IX_ 1993,p.226).

WaltherBenjaminsugerequeobservemoscomatençãoaquiloqueéresidualnodecorrerdeumexercíciodeconstruçãohistórica.Opequenoevento,qualquerqueseja,nãoelucidadeprontoatotalidade de um fenômeno,mas devemos confiar que ele carrega fragmentos reveladores datotalidade. O desafio do historiador materialista deve ser o de unir partes aparentementedesconexas numa nova e esclarecedora construção. Reside aqui o convite a uma formulaçãohistóricaenquantodesvendamentoepossibilidade.Oquesedefendeéumaconcepçãoabertadahistóriaesempredeterminações,atentaàssurpresaseaosimprevistos.

ParaBenjaminahistóriadeveserapreendidacomopossibilidadedeação/transformaçãosobreoreal. Segundo Michael Löwy, “Na história das idéias do século XX, as ‘Teses’13de Benjaminparecemumdesvio,umatalho,aoladodegrandesauto-estradasdopensamento.Mas enquantoessas são bem delimitadas, visivelmente demarcadas e conduzem a etapas devidamenteclassificadas,apequenatrilhabenjaminianalevaaumdestinodesconhecido”(Löwy,2007,p147).

Como já afirmado anteriormente essa concepção histórica é calcada no materialismo históricomarxista, o qual Benjamin deseja libertar do conformismo burocrático daqueles que limitam arenovação das ideias de Marx ao pretenderem praticá-lo ortodoxamente. Nesta linha depensamento a tentativa de prática ortodoxa do ideário marxista o condena mais do que seusdetratores.“Suarelaçãocomaherançamarxistaéaltamenteseletivaepassapeloabandonomaisdoquepelacríticaexplícitaouporum‘acertodecontas’direto”(LÖWY,2007,p.147).

No plano cognitivo a proposta de uma história aberta ou a contrapelo conduz a uma novamodalidadedereflexãoquesevoltaaoexercíciodadialética,caracterizadapelarecusaaoidealde

13ReferênciaàsTesesSobreoConceitodeHistória,umdosúltimosescritosdeBenjamin,datadode1940.

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progressoeà reflexãodecunhopositivista.Se,porum lado,podemosreconhecerumasintoniaentreLefèbvreeFreirenosentidodeumareflexãohistóricaecríticaemrelaçãoàscidadesedaelaboração de um modelo de formulação de saberes voltado ao ambiente urbano; por outro,podemos reconhecer que Benjamin oferece uma conceituação histórica capaz de permitiraprofundamentosteóricosepráticosfundamentaisparaoexercíciodessessaberes.

Atualmente, no contexto de discursos tranquilizadores e / ou imersos em “marés” deambiguidades,nãosãopoucosaquelesquesugeremqueasidéiasdeBenjamin(bemcomoasdeFreire e Lefèbvre) pertencem a uma conjuntura histórica ultrapassada; que os problemasfilosóficos que correspondem à realidade atual estariam ligados à solução de conflitos porprocedimentos.ComodefendeLöwy:

“se é evidente que a história não se repete e que nossa época não lembramuitoos anos1930, parecedifícil acreditar, à luz da experiênciado final doséculoXX,queasguerras,osconflitosétnicos,osmassacrespertençamaumpassado longínquo. Ou que o racismo, a xenofobia, o próprio fascismo nãorepresentemmaisumperigoparaademocracia”(Löwy,2007,p.152)

Devemosobservarcomatençãoaatualidadedopensamentobenjaminiano.Pensamentoessequenos permite verificar o modo como a barbárie, ou a subjugação de parcelas oprimidas dapopulação, se renova em nossos tempos a partir de outras práticas e de acordo com lógicassemprecapazesdeproduzirformasdelegitimaradesigualdadesocialeaexclusãodasminorias.OpensamentodeBenjaminsevoltacomgrandeintensidadeparaasclassesoprimidas;contudo,suacríticamaisgeralaosdiversosmodosdeopressãoeocuidadocomquepropõetecerahistóriasobopontodevistadahumanidadeoprimida,confereasuareflexãoumcaráteruniversal. Issonospermiteapreenderaemancipaçãosocialeofimdossistemasdedominaçãodeclassesobreclasseou de grupo sobre grupo. “Trata-se de um objetivo universal, que se inspira na promessa nãocumpridade1789: liberdade, igualdade, fraternidadeou,sobretudo,solidariedade” (Löwy,2007,p.154).

ParaBenjaminopresenteabrigaumagrandepossibilidadede futurospossíveis.A ligaçãoentrepresente, passado e futuro, que perfaz o sentido da história a contrapelo que, humanamente,devemospretender,atrela-seaumaposturaética,socialepolíticaportodosaquelesquehojeeontemforamvítimasdaopressão.Nãosabemosaocertooscontornosqueessalutairáadquirir,seufuturoé“incertoeasformasqueassumiráserão,semdúvida, inspiradosoumarcadospelastentativasdopassado:serãoigualmentenovosetotalmenteimprevisíveis”(Löwy,2007,p.158).

Segundo Löwy o pensamento benjaminiano é formulado pela “afinidade eletiva (no sentido deGoethe)”entretrêscorrentesdepensamentoheterogêneos,calcados:noromantismoalemão,nomessianismojudaicoenomarxismo.“Nãosetratadeumacombinaçãoou‘síntese’ecléticadessastrêsperspectivas (aparentemente) incompatíveis,masda invençãoapartir destas, deumanovaconcepção,profundaeoriginal(...).Todatentativadesistematizaçãodesse‘pensamentopoético’(HannahHarendt)é,portanto,problemáticaeincerta”(Löwy,2007,p.17)

É necessário reconhecer a importância de seu pensamento para a formulação de uma novacompreensão da história humana. Adorno (apud LÖWY, 2007, p.14) define Benjamin como umpensador “distanciado de todas as correntes”. “Sua obra se apresenta realmente, como umaespéciedeblocoerráticoàmargemdasgrandestendênciasdafilosofiacontemporânea.Portanto,não adianta tentar recrutá-lo para um dos dois grandes campos que disputam, atualmente, ahegemonianopalco(ouseriaconvenientedizernomercado?)das idéias:omodernismoeopós-modernismo”(ibid,p.14).

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Sua obra marcada pelo afastamento dos grandes relatos, pela desconsideração da idéia deprogresso e pela defesa a descontinuidade histórica distanciam Benjamin dos discursos pós-modernossobreasociedadeatual.Eledefendeumaoposiçãofundamentalentreumaconcepçãoqualitativadotempoinfinito,aotempoinfinitamentevazio,característicodaideologiamodernadeprogresso. O que faz com que assuma uma vertente crítica que o diferencia do marxismopraticadonaépoca14.

Odeclíniodasformasdetransmissãodeexperiênciascoletivaséumadasherançasmaisonerosasàhumanidadenaeracapitalista.Em‘ExperiênciaePobreza’,umdeseustextosmaissignificativosno qual aborda este tema ele afirma que “a felicidade não está no ouro mas no trabalho”(BENJAMIN,1993,p.114).Énoprocessodotrabalho,enãonoprodutoacabado,queohumanoécapaz de tecer ligações entre si, a partir dos modos de transmissão de experiências. Odesenvolvimento das técnicas fez surgir uma nova forma de miséria, comum a todosindistintamente, pois perdemos o contato com elos importantes que conferiam sentido aoencontro/uniãoentre-semelhantes.Oesvaziamentodossentidosdatransmissãodeexperiênciasestá intimamente ligado à transformação dos seres humanos em autômatos cada vez maisalienados de seu papel na constituição de bens comuns. Sem a necessidade de transmissão deexperiências

Benjamin aponta para o desaparecimento da arte de narrar e para as suas consequências nãosomenteparaas formasdeprodução,masparaa culturadoencontrohumano.Da transmissãodas formas de produção da confecção artesanal, ao entendimento dos cidadãos acerca damanutençãooutransformaçãodaquiloqueresguardaamemóriacoletivanoespaçourbano,tudooqueperfazasedimentaçãodevalorescomunsmostra-sefragilizadodiantedessenovocenário.Aevoluçãodastécnicas,comotambémsalientaLefèbvre(1991,pp.3-26),fezcomqueavidaurbanapreponderasse para toda a humanidade sem que esta tivesse tempo de apreender o que issorepresentaria para as suas práticas e os seus valores individuais e coletivos. Desse modo, aevoluçãodastécnicasconvergiuparaaconformaçãodeumanovahumanidade(oudeummododedesumanização)desencontradadelaçosquelheseramfundamentais.

Entretanto,nestecenáriodedesalentosãosugeridoscaminhos,quesãocontrapartidasfilosóficaspara uma nova apreensão e prática da história humana; no caminho de exercícios capazes depropiciarrenovadosdirecionamentos.Aespacialidadedacidade,aobservaçãotantodesuatransformação, quanto da permanência de determinados elementos exercem um papelfundamental na sua construção teórico-metodológica. A cidade benjaminiana concentra oconjuntodemateriaissuficientesparaalgumasdesuasimportantesconstataçõesemrelaçãoaos(des)caminhosdahumanidade,mas,também,paraaformulaçãoderenovadaspossibilidadesdeaçãodossaberesquepodemserproduzidosapartirdaexperiênciacomoambienteurbano.

Livros como ‘Passagens’ (2009)eRuadeMãoÚnica (2000), conservamo ideal reveladordeumprocedimento de leitura e prática da história através do ambiente urbano. A leitura dessesambientes ou das ações sobre esses ambientes em tempos diversos pode revelar muito, porexemplo:umasemelhançaintemporaldasaçõesdopoderdedominaçãodeclassesobreclasseapartirdosmodoscomoosprocessosdetransformaçãodosespaçosempobrecidosdascidadeséexercida,gerandoexclusãoesegregação;easemelhançacomosentimos,vivenciamos,vivificamoso espaço das cidades, revelando-nos imponderáveis ligações com o passado e com o futuro. O

14Inclusive,nestepontoespecificamente,deLefèbvreedeFreirequeapresentamreflexõesbastantecalcadasnaidéiadeprogresso.

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espaçourbanoéricoemmateriaisouimagens(dialéticas)queconvidamarelaçãoentrepresente,passadoefuturo:

PARIS _ 1926: “Paris deixou, para sempre, de ser um conglomerado depequenas cidades tendo sua fisionomia, sua vida; onde se nascia, onde semorria,ondesegostavadeviver,quenãosepensavaemabandonar;ondeanaturezaeahistóriatinhamcolaboradopararealizaravariedadenaunidade.A centralização, a megalomania criaram uma cidade artificial onde oparisiense,traçoessencial,nãosesentemaisemcasa.Assim,desdequepode,ele vai embora e eis uma nova necessidade, a mania da vilegiatura.Inversamente, na cidadedesertadapor seushabitantes, o estrangeiro chegacom data fixa: é a ‘estação’. O parisiense, na cidade transformada emencruzilhada cosmopolita, sente-se desenraizado” (Dubech e D’Espezel,Histoire de Paris, Paris, 1926, p.427-428; apud Benjamin,Passagens,2009,p169).

RIODEJANEIRO_2012:“Primeiroelesderrubaramacasapradepoisfalaremindenização. (...). Chegaram e derrubaram. Aí quando tava derrubando,chegouumsub-prefeitodaBarra,aícomeçouafalar.Começouacochicharumcomoutroláeeuviquetavaalgumacoisaerrada,queelesestavamfazendoalgumacoisaerrada.(...)chamaramagentepraconversarefalaramquetavatudoerrado,equepartirdaquelemomento iaacabardederrubarmesmoedepois ia ver qual era o valor de indenização” (Fragmento de entrevista deMoradordaPedradeGuaratiba.Brilhante,2013).

Formulação histórico-poética benjaminiana: “O caráter destrutivo não vênada de duradouro. Mas eis precisamente por que vê caminhos por todaparte.Ondeoutrosesbarramemmurosoumontanhas,tambémaielevêumcaminho.Jáqueovêportodaparte,temdedesobstruí-lotambémportodaparte. Nem sempre com brutalidade, às vezes com refinamento. Já que vêcaminhospor todaparte,estásemprenaencruzilhada.Nenhummomentoécapazdesaberoqueopróximotraz.Oqueexisteeleconverteemruínas,nãopor causadas ruínas,maspor causado caminhoquepassa atravésdelas.Ocaráterdestrutivonãovivedosentimentodequeavidavaleservivida,masdeque o suicídio não vale a pena.” (Rua de mão única, 2000 _ O caráterdestrutivo,p.235).

ParaBenjamin,atarefamaisimportantedohistoriadoréevitarqueoesquecimentoseconsolide,poisaameaçaquepesasobreahumanidadeéadaperdadamemória,quandotodasasformasdebarbárie puderem se apaziguar como fatos normais. Passa pelo papel do intelectual salvar opassadooprimidodoesquecimento,quefazcomqueosvencidosdehojeesqueçam-sedahistóriadeontem.Sóconseguiremossalvaropassadocasodesmascaremosapré-históriacontadapelosvencedores,erevelemosahistória.Amemóriadaopressãoécapazdeesclarecerqueo ‘castelodeareia’noqualvivemoséfrutodosofrimentodemuitosedoabandonodaquiloquepoderianosconferir um sentidomais humano. Cabe ao historiadormaterialista trabalhar comestilhaços dahistória,descontextualizandooobjetopara irradiarnovossentidos.Essehistoriadordeveatuarcomo o narrador que se utiliza de fragmentos significativos, acumulando-os numa novaconstrução,atravésdealegoriasecomapoiododiscursometafórico, recursosessescapazesdegerarrepercussãonaquelesquesededicamaouvir.Éaalegoriaquedizalgoparaalémdoquediz,desnudandooreal,aofragmentá-lo.

Paraumprocedimentodereflexãohistóricacalcadonarelaçãoentretemposesujeitosdiversosalembrança exerce um papel crucial em sua perspectiva. Benjamin, se remetendo à obra de

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Proust15(“A la Recherche du Temps Perdu”) diz que “um acontecimento vivido é finito, ou pelomenos encerrado na esfera do vivido, ao passo que um acontecimento lembrado é sem limites,porqueéapenasumachaveparatudooqueveioantesedepois”(BENJAMIN,1993,p.37).

Proustconvida-nosànoçãodeinfinitoecomunhãoaoelaborarumdiscursodedicadoalembrançaeàsemelhança.Abuscadesesperadamenteúnicadesuaexperiência individuala transformademaneira dialética numa busca universal. “O golpe de gênio de Proust está em não ter escrito“memórias”, mas justamente, uma “busca”, uma busca das analogias entre o passado e opresente”.Conduzaumatramasegundoaqualtemporalidadesdiversasseirmanamporforçadeumasemelhançasurpreendente.

“Atarefadoescritornãoé,portanto,simplesmenterelembrarosacontecimentos,mas‘subtraí-losàs contingências do tempo em uma metáfora” (GAGNEBIN, prefácio a “história aberta”, inBENJAMIN, 1993). A estética proustiana contribui para dar forma ao método do historiador“materialista”. Por este caminho Benjamin procura ummodo de escrever a história que buscaredimiropassadonopresente“graçasàpercepçãodeumasemelhançaquetransformaosdois:transforma o passado porque esse assume uma forma nova, que poderia ter desaparecido noesquecimento; transforma o presente porque este se revela como sendo a realização dessapromessa anterior que poderia ter se perdido para sempre, que ainda pode se perder se não adescobrirmos,inscritanaslinhasdoatual”(BENJAMINapudGAGNEBIN,1993,p.16).

ParaHannahArendt,

“asmetáforassãoosmeiospelosquaisserealizapoeticamenteaunicidadedomundo.OqueétãodifícildeentenderemBenjaminéque,semserpoeta,elepensavapoeticamentee, porconseguinte,estavafadadoaconsiderarametáfora como omaiordomda linguagem.A ‘transferência’ linguísticanospermite dar forma material ao invisível e assim torná-lo capaz de serexperimentado.(...)Nãolheeraproblemaentenderateoriadasuperestruturacomoadoutrinafinaldopensamento metafórico–exatamenteporque,semmuitotrabalhoeevitandotodasas‘mediações’,elerelacionavadiretamenteasuperestrutura com a chamada infra-estrutura ‘material’, que para elesignificava a totalidade dos dados sensorialmente experimentados. Estavaevidentemente fascinado por aquilo mesmo que os outros rotulavam depensamento‘marxistavulgar’ou‘nãodialético’”(Arendt,1987,p.144).

ComosalientaMichaelLöwy,apropostadeBenjamin“é,aomesmotempoe inseparavelmente,históricaepolítica.Elapartedahipótesedequecadamomentohistóricotemsuaspotencialidadesrevolucionárias. (...) Encontramos aqui a unidade profunda, íntima, messiânica, entre a açãorevolucionária no presente e a intervenção da memória em um momento determinado dopassado”(LÖWY,2005,p.136).Seupensamentonosconvidanãosomenteareflexãosobreoutromodo de conceituação histórica, mas, sobretudo ao devir histórico humano calcado naexperiência. Benjamin,maisdoquenenhumoutro autor lembra-nosqueo tempomecânicodo

15Benjamin compartilhava com Proust a “preocupação de salvar o passado no presente, graças à percepção de umasemelhança que transforma os dois. Transforma o passado porque este assume uma nova forma, que poderia terdesaparecido no esquecimento; transforma o presente porque este se revela como a realização possível da promessaanterior–umapromessaquepoderiaseperderparasempre,queaindapodeserperdidasenãofordescobertainscritanaslinhasatuais”(Gagnebin,1985,p.16).Oquetemumaprofundaconsonânciacomopensamentolefebvreano:“noquedizrespeito à cidade, o objeto da ciência não está determinado. O passado, o presente, o possível não se separam. É umobjetovirtualqueopensamentoestuda.Oqueexigenovasabordagens”(Lefèbvre,1991,p.105).

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relógiopassa, os anospassam,masnãoo tempoque conta apassagemdohumanoparaoutracondiçãodehumanidade,paraforadeseutempocíclico.

CONCLUSÃO

Épossívelqueconsigamosprojetarcidadesmelhorescasoaprendamosatambémcontribuirparaumprojetodeeducação/conscientizaçãocujofocosejaproduzirrelaçõeslibertárias,igualitáriasefraternas. É a esta realização que devemos dedicar especial atenção para a conjugação de ummodode ensino específico voltado ao espaço urbano.Devemos apre(e)nder as cidades comooverdadeiro espelho de nossas consciências e ações. É nas cidades que homens e mulheres seencontrame,mirandorealizaçõesquesão(oudeveriamser)suas,reconhecem-sesujeitosdeseusuniversos que são individuais e sociais, objetivos e subjetivos _ experienciais, memoriais,históricos,culturaisepolíticos.

Os modos de pensamento e prática sobre o urbano podem se revelar enquanto exercíciosocializante, numa conjugação capaz de agregar complementarmente teoria, ética, estética epolítica.Acidadepermiterealizarohumanoenquantoserquerefleteaquiloquematerializoueaindasonhaemmaterializar.

HáemBenjamin,LefèbvreeFreireumaafirmativaradicaldequeaverdadeirahistóriaresguardauma necessária utopia humanista, que visa concretizar o encontro entre sujeitos quecompreendemassuasrelaçõesentresienuma largafaixatemporal,apartirdeumarelaçãodereciprocidades.Ohumanopodeirmanar-sedemaneirasuperiorapartirdeumacompreensãodomodo como se realiza nomundo e domodo como pode transformá-lo. Tudo isso depende doexercícioderenovadasformasdesaberes,quedependedaformulaçãoderacionalidadesvoltadasaodiálogo.

A relaçãododiálogona gestaçãode saberes só se viabilizaquandoháo comprometimentoemproldeumaconstrução,deumentendimentopartilhado.Destemodo,Freiredestacavaarelaçãodeamor,necessáriaaestemododeensinar-aprender:“senãoamoomundo,senãoamoavida,senãoamooshomens,nãomeépossívelodiálogo”(FREIRE,2005a,p.92).

Arevoluçãosetraduznaspráticassociais,mastambém,eatravés,deumanecessáriarevoluçãoqueserealizaemcada indivíduoquesereconhecehistoricamente.Umasociedade igualitáriaseconstróiapartirdomovimentointeriordecadaindivíduoquesereconhecediversonumcontextodeigualdades.

Um urbanismo amoroso (Brilhante, 2013), ou a amorosidade na formação de saberes não seimpõeemnormasouprocedimentosortodoxamente fechados e bemdelineados.Não sepregaumaformulaçãodeescola,massimdeummododeabordaremconstanteelaboração,dadoquedeve variar de acordo com a temporalidade dos encontros de saberes, de especialidades, depercepções,doprópriohumano,edeacordocomascircunstancialidadesqueseapresentamnosmomentos de investigação de cada parte fragmentada daquilo que podemos reconhecer comofenômenourbano.

Essegestodeveserapreendidonacondiçãodepensarmo-nosenquantoeducandoseeducadoresemnossacondiçãodeseresvoltadosaoconflito,necessário,emfunçãodenossasimponderáveisdiferenças. Contudo, num contexto educacional verdadeiramente comprometido com odesfazimento de elos de segregação, exploração, opressão e injustiças, Freire sugere que é

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possívelpensarquenummundodiversoeconflituosopodemosdescobrirosvestígiosparaoutrosmodos de encontros entre humanos. A grandeza dessa proposta consiste em permitir que sereflitasobreahistoricidadedogênerohumanoenquantotermonorteadordeumencontrocapazde fazer florescer relações de respeito em territórios de profundas diferenças, mas defundamentaissemelhanças.

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