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Visibilidades Visibilities Coordenadora: Junia Cambraia Mortimer, PPG-AU/FAUFBA, professora adjunta, [email protected] Debatedor: Xico Costa (Francisco de Assis da Costa), UFPB- UFBA, professor adjunto, [email protected]

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Visibilidades

Visibilities

Coordenadora:JuniaCambraiaMortimer,PPG-AU/FAUFBA,professoraadjunta,[email protected]

Debatedor:XicoCosta(FranciscodeAssisdaCosta),UFPB-UFBA,professoradjunto,[email protected]

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SESSÃO L IVRE

DESENVOLVIMENTO,CRISEERESISTÊNCIA:QUAISOSCAMINHOSDOPLANEJAMENTOURBANOEREGIONAL? 2

Apropostade sessão livrequeaqui seapresentaparaoXVII EncontroNacionaldaANPURestádiretamenterelacionadaàsessãotemática6“Espaço, identidade e práticas sócio-culturais”.Demodo amplo, o temaVisibilidades conecta-se à dinâmica cultural vigente no neoliberalismo, nadenominadaera da emergência,em que a vida nas atuais grandes cidades se efetiva emexperiênciascoletivas,práticasestéticaseimagináriospolíticosqueseressignificam;nessesentidoéquepropomosrefletirsobreasvisibilidadesqueospermeiam.

AsessãolivreVisibilidadesdiscutirágestosurbanosutilizandoimagens,nãoparaempreenderumestudo representacional dos gestos urbanos, mas a fim de construir o tema partindo daexperiência do visível. Propomos explorar imagens como instância de pensamento que fazapareceras coisas, conforme flexõesouqualidadesheterogêneas; imagensqueao "relampejar"sobreamalhadaurbanidadenaqualestamosnecessariamenteimplicadospromovem,aomesmotempo,umatorção,umesgarçamento,umainstabilidade,umfuronessamalha.

Pensamos a compreensão do visível não como algo da percepção ou do dado, mas comomanifestação construída dentro de uma trama fantasmática de ocultação e aparição, deobscuridade e luminosidade, que ao esconder, faz revelar, e que, ao fazer revelar, tambémesconde.Nessesentido,identificamoscomofocodenossointeressedepesquisaasimagensque,ao operarem visível e invisível, tensionam a norma e o anômico, a ordem e a desordem,proporcionando uma desestabilização das formas estabilizados e homogêneas concernentes àexperiência urbana (ou um esgarçamento do tecido da urbanidade) implicando assimreconfigurações não no sentido de mascarar esse dissenso, mas, ao contrário, no sentido deevidenciaressa fratura,as falhaseos furos.Emnenhummomento trata-sedeumaapologiadafalta mas, ao contrário, da explosão/implosão abrupta e intermitente daquilo que se pretendeestável no conjunto dos gestos urbanos: aí se funda uma falha, umestriamento das superfíciesdandovisibilidadeàrecomposição,àdeformaçãonasingularidadedagestoirregulareadverso.

Percebemos que esgarçamentos no tecido da urbanidade poderiam ser desdobrados segundodeterminadas figuras, pensadas através da imagem: o punctum, o anteparo, o abjeto, adeformação,afantasmagoria,ofetichismo,aaura,aimaginaçãopolítica,aestetizaçãodapolítica,acontemplaçãoeoGestussocial.EssasfigurassurgiramapartirdeleiturasdeRolandBarthes,HalFoster,GeorgesDidi-Huberman,WalterBenjamin,AriellaAzoulay,ElianeMorais,CaffineBertoldBrecht. Propomos nos focar em quatro dessas figuras: punctum, fantasmagoria, fetichismo egestussocial.

PunctumOpunctum instauraarelaçãoinesperadaeúnicadoindivíduocomaimageme,deumamaneiraampla, com o visível através de um detalhe que emerge, o qual perturba, dilacera e,consequentemente, implica reconfiguraçõesparao indivíduo. Issoporque revelaumadimensãoque curtocircuita paradoxalmente o exterior e o íntimo (extimidade, segundo Lacan)reconfigurandoosmodosdeinteragircomomundo.Esseimpasse,essacenaparadoxalde“miseen abime”, talvez seja o que constitui omodo de ancoragemdopunctumemesmo das outrasfiguras (fantasmagoria, fetichismo, gestus social). Em todas essa alternância, ou melhorreversibilidadedostermos,passagensquenostransportam,quesefazememtravessia.NãoseriaafitadeMoebius,comsuaspassagens inesperadasentredentro/fora, interior/exterioramelhorexpressãotopológicadessasituação?

Nessesentido, consideramosopunctum comooaspectoperturbadorda relaçãocoma imagemque implica um reconfigurar de nosso modo tradicional de construção e de compreensão davisibilidade urbana. Assim, ele coloca em evidência aquilo que nos atrai e que desestabiliza a

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superfícievisível,umdetalhequeimplicanadesestruturaçãodanormalidadegestualeurbana.Seamalhadaurbanidadesefazvisívelpelogestourbano,entendemoscomopunctumaquiloquesedará no detalhe da ação disruptiva. Não se trata propriamente de uma escolha,mas é algo daprojeção inesperadadeumaspectoespecífico,umpontooqual,ao“aparecer”, feredoexterioralgoquenoséíntimo,poispertenceaocampodeumacondiçãocomumquenosfazigualmenteimersosnovariegadoespetáculourbano.Opunctuméaderrisãodoespetáculopoisfazemergirodetalheaocampodoestético-político:noconjuntodagestualidadeurbanadoconsumo,damodaedoestilo, opunctum é umaporta -mesmo se antes elanãoestava lá - que se abre ao gestodisruptivo.

Mas,separaBarthes,opunctumédainstânciadaexperiênciaindividualcomaimagem,paranósinteressa,noentanto,opunctum–aindaquenão-codificávelmasnarrável–enquantoativadordereconfiguraçõesdenossacompreensãodaurbanidade.Comisso,eleevidenciabrechas,fraturas,furos e esgarçamentos, igualmente constitutivos da urbanidade, por meio do jogo visível einvisível.

Fantasmagoriaefetichismo:doassombroaoobsessivoDeacordocomBenjamin,afantasmagoriaéumaespéciedevéuatravésdoqualacidadefamiliaraparece“oracomopaisagemoracomoaposento”(BENJAMIN,1939/2006,p.61).Essaalteraçãoda relação com a cidade como paisagem ou aposento está atrelada ao aproximar-se e aodistanciar-se,econstitui-secomofantasmagoriaquandoessemovimentodealgummodoiludeenãonospermiteverascoisasdemaneiraacertadamentepolítica.Afantasmagoriatambémpode,portanto, ser apreendida a partir da experiência dialética da distância e da proximidadedesenvolvida por D.-H. (DIDI-HUBERMAN, 1998, p. 161), sobre a fruição da imagem, quandomobilizaaindaumaoutradimensãodessadiscussãoqueconcerneàsfigurasdeauraedofetiche.

Problematizando a fetichização da imagem de determinadas classes sociais, Ariella Azoulay(AZOULAY, 2010) propõe abordar a imaginação fotográfica a partir de sua ontologia política,lançando luzes sobre os processos de construção coletiva de imagens. Analisando o gestofotográficoexperimentadoporrefugiadospalestinosemparceriacomfotógrafoseartistasvisuais,Azoulaychamaatençãoparaafotografiacomoconstruçãodeumaclassesocial,deumimaginário,portanto,diferentementedecomooEstadoofazia.Nessesentido,afotografia,paraAzoulay,nãoacontece na imagem que é produzida e guardada (até certo ponto invisibilizada) num arquivopessoal.Paraela,todoaparatodofotográficobemcomoosgestos-apresençadosfotógrafosnoslocaisdosatentados,ofotografar,ofazercircularaimagem-neleimplicadosfazemsentidocomopartedoproduzirimagens,umaaçãoqueatravessaosdiscursos,umgestopolíticoquepodefazerreverberarestruturasexistentesaoprovocaroutrosmodosdeleiturapolíticadomundo.Azoulaycoloca em discussão a presença da câmera, os gestos, o corpo do fotógrafo. Esse aparato dofotográfico,queAzoulayincluinasuacompreensãodefotografia,consistenumaespéciedevéu,nostermospropostosporMoraes(MORAES,2002),queaoesconder,tambémdáaver.Acriaçãode uma representação social pela fotografia, de uma narrativa outra que se opõe à imagemfetichizada criada por uma determinada ordem hegemônica e reproduzida por diversos grupossociais,constituiassimacriaçãodeumvéuque,aoesconder,visibiliza.

Trazemosafiguradafantasmagoria/fetichizaçãocomoformadeproblematizarnossabuscapelosgestos disruptivos e irregulares para nos precaver do romantismo e da obsessão peladecomposiçãodaordemsocial.

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OgestussocialeasingularidadegestualO Gestus social é parte do pensamento brechtiano para uma teoria de crítica à representaçãoteatral clássica, deformando-a e reconfigurando-a segundo outras formas de visibilidade darepresentação teatral. Brecht dirá que menos importa o desenvolvimento da psicologia dopersonagempeloator,emaisaabsorçãodoconjuntodegestossociaisqueopersonagemlhetraz.Não se trata da interpretação de sentimentos e emoções, pensando-os como matriz dagestualidade.EmBrechtagestualidadenãovemdaemoção:vemdeumestudo,deumaanálise,ecompõe-seopersonagemapartirdeumconjuntodegestosmontadospelodistanciamento.Naforma de expressão do teatro dramático, pelo contrário, se produz no público um quadrohipnóticoalienante.“Mergulhadanaidentificaçãocomossentimentosdoprotagonista,aplateiafalhou emparticular das decisõesmorais comas quais a trama é feita.” (BRECHT, 1967, p. 45).Comprometido com o materialismo histórico, Brecht percebe a necessidade de um teatromoderno apoiado num efeito de distanciamento que permita combater esta ordem hipnótica(empatia),propondo,assim,umaincursãoaoâmbitodatradicionalÓperaChinesaparaacriaçãodoTeatroÉpiconainstânciadepeçapopular.

Dessemodo,entendemosqueoaquiprocuramos,aindaqueprecariamente,definir comogestodisruptivo(ouirregular)seaproximadealgumamaneiradadefiniçãodeGestussocialbrechtiano,pois“oGestussocialéogestorelevanteparaasociedade,ogestoquepermiteconclusõessobreascircunstânciassociais.”(BRECHT,1967)

As quatro figuras aqui evocadas, o punctum, a fantasmagoria, o fetichismo e o gestus socialrecolocam,enquantoseconstituemcomoumcampodevisibilidades,ogestourbanoameaçadopeloaparecimentodeumagestualidadeirregular,disruptiva–semnenhumheroísmo-quelacera,esburaca a fina rede de urbanidade. Tecido quase morto, supurado, quando circunscrito aoconsumo,aredenãoseconfundecomourbanoapesardehomogeneizaramutaçãoincansáveldogestosurbanos.Ogestodisruptivoéseucontraponto,soberanoeinquieto,torçãoquedeformaocampodovisíveleproduzaimagem-reversaquenospunge.

Palavras-chave:visibilidade,gestourbano,irregularidade.

OTEMPODOAGORADAINSURGÊNCIA:MEMÓRIADEGESTOS,POLÍTICADEIMAGENS

RitaVelloso,EscoladeArquiteturadaUFMG,[email protected]

Há na filosofia benjaminiana uma política do tempo, mas não há uma política do espaço, osabemos. Tal política ficou num esboço (os textos extraídos da Obra das Passagens), numamontanhadenotas (a própria coleçãode cadernosdasPassagens) e num sumário primeiro (asTeses sobre a História). Mas, talvez pudéssemos levar adiante a reflexão de Benjamin sobre oespaçoemfacedaexperiênciadelutainsurreicionaltravadanascidades.Ainsurgênciacolocaascategorias dessa política do espaço, dentre as quais prepondera a imagem. Desdobrada noentrelaçamento do presente histórico vivido do agora e um passado específico (o agora darecognoscibilidade)enummomentodedespertarprovocadopelaexperiênciadolugar,aimagemurbanaé imagemdialética, responsávelpor iluminaroutrosacontecimentosde lutas,por retirardainvisibilidadeoutraspráticasderesistência,subjetividadesecontracondutas.

Dasquestões colocadaspelo filósofoalemãoparaa imagemqueprovocaoagir e a consciênciahistórica (imagem-pensamento) é que vem a conexão do nosso assunto de investigação – asarquiteturas da insurreição –na sesssão livreVisibilidades. De ummodo fundamental, Benjamin

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estápresentenahistóriaurbanaquesepretendecontarapartirdosritmosdeinsurreiçõesesuasressonâncias e cicatrizes deixadas sobre a cidade. Cada insurgência é experiência de rupturatransitória com o lugar; cada insurgência instabiliza os hieróglifos espaciais,monumentos, ruas,edifícios, ao redor dos quais acontece. Toda e cada insurgência explode a lógica subjacente aourbano desenhado e planejado. Então, quando se pretende escrever uma espécie de históriaurbana pelo avesso, que imagens em anteparo darão conta dessa narrativa? Estamos vendosurgir, comas insurreiçõesque seespraiarampelomundodesde1999,aoaparecimentodeumnovoespaçodaaparência?Essassão,porora,asperguntasquedãoinícioanossodiálogo.

Palavras-chave:insurreição,imagemdialética,imagem-pensamento.

MODOSDEVISIBILIDADEURBANA:CADERNOSDECAMPO

RenataMarquez,EscoladeArquiteturadaUFMG,[email protected]

Hal Foster, em “Oautor enquanto etnógrafo”, retoma “Oautor enquantoprodutor” (Benjamin,1934)paracriticaroartistaetnógrafo,umnovoparadigmapolêmiconoqual“aobraparalácticaque procura enquadrar o enquadrador enquanto este enquadra o outro” seria a únicapossibilidade fértil (Foster, 1996). Entretanto, quando questiona, numa breve linha, se as obrasresultantes dessa apropriação de método seriam de fato interdisciplinares, não aprofundaepistemologicamente a questão. Se falta a essa análise uma perspectiva epistemológica queentendaaartecomoumaformadeconhecimentoantesdefazerpartedeumsistemanoqualascontradições institucionais, mercadológicas e egocêntricas atuam, minando qualquer vidainteligente, pretendemos discutir práticas artísticas como “instrumentos de investigação visual”(Carneiro, 2013) em cadernos de campo urbanos, coletivos e imagéticos, anteriores a qualquerescrita ordenadora. Eduardo Viveiros de Castro comenta que os discursos do antropólogo e donativo não são forçosamente textos, são quaisquer práticas de sentido. Mas, se o sentido doantropólogo é a forma e o sentido do nativo é a matéria, a relação social é a causa de umatransformação na constituição relacional de ambos (2002). Nesse contexto, não só o ato deobservarmasainvençãodosmodosdevisibilidadedaquiloqueéobservadoconstituemocampodoarte.Eaartecomopráticadefronteiranãosedáapenasnosmodosdefazer,mastambémnoslugares de disseminar, promovendo um esforço pedagógico de criar laços de tradução einterrelação.Olugarresultanteésimultaneamenteestético,acadêmico,historiográfico,filosófico,etnográfico,político.

Palavras-chave:artecontemporânea;etnografiaurbana;epistemologiaestética.

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GESTOURBANODEFOTOGRAFAR:SOBREOREGIMESÉLFICODEVISIBILIDADEESUASMOVIMENTAÇÕESNOIMAGINÁRIOURBANO

JuniaMortimer/PriscilaMusa,PPG-AU/FAUFBA,[email protected]

Entendendo a prática fotográfica como lugar de problematização do conhecimento, portanto,numa perspectiva epistemológica, partimos de um caderno de imagens1como forma de lançarquestões sobre regimes de visibilidade, conformeRancière (2012 [2003]), instituídos pelo gestourbanodefotografar.Aproduçãofotográficacontemporânea,denominadaporJuanFontcuberta(2016)comopós-fotografia,apresenta,umcarátersélficoquenãoémodapassageira.Esseregimede visibilidade sélfico é caracterizado por um sistema de produção e circulação de imagensfotográficas agenciadas pelo qualquer e construídas em função do inscrever da presença doindivíduo numa determinada situação narrada. Nessas imagens, sobretudo aquelas quereferenciamumeventoouespaçourbano–focodenossointeressehoje–,ocorpodofotógrafo,queatéentãopredominavaforadecena(obs-cena),passaaocuparumlugarcentral,substituindoumasupostaalteridadepelopróprioindivíduocomopartedeumasituaçãourbana(visibilidadedoobsceno).SintomadoqueFontcubertaentendecomosupremaciadonarcisismoetriunfodoego,o fenômeno selfie, no entanto, pode ser desdobrado pensando a “gestão do impacto quedesejamos produzir no próximo” (2016), de modo que estaria aí seu sentido político. Comopesquisadoresdeimagináriosurbanosfotográficos,nabuscaporimagensqueentendemoscomoquestionadorasdemodelosdominantesdecompreensãoeproduçãodecidade,essamudançanoregimedevisibilidadeapontadaporFontcuberta indica relações inéditasentre imagem,corpoecidade as quais transferem o foco de um “isso foi” (Barthes 1983) para um “eu estava ali”(Fontcuberta2016).Quemovimentaçõesno imagináriourbanofotográficoessegestourbanodefotografar,nasuadeclinaçãosélfica,agencia?Quetiposdeideiasenarraçõesdecidadeessegestoarticula? É possível que a “gestão de impacto” que caracteriza a produção do regime devisibilidade sélfico abrigue também algummodo de transgressão com relação aos códigos dosregimesdevisibilidadedominantesna tradição fotográfica?Aoservirdemensagens,enãomaisnecessariamente de lembranças para guardar, essas imagens urbanas pós-fotográficas reteriamalgum resto citadino onde explorar possíveis desvios nos modos de criação dos regimes devisibilidade? Explorar os desdobramentos dessa mudança de regimes de visibilidades noimagináriourbanofotográficopormeiodostensionamentosentreimagem,corpoecidadeéoquepretendemosiluminarcomessareflexão.

Palavras-chave:gestodefotografar;regimedevisibilidade;imagináriourbano.

1Este ensaio fotográfico, que abre nossa apresentação, resultou de duas festividades de largo em Salvador (Festa daConceiçãodaPraia,8dedezembrode2016,eFestadoBonfim,14dejaneirode2017).AsfotografiasforamrealizasporJuniaMortimerePriscilaMusa.