rios que correm

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E X P O S I Ç Ã O M M u n I c I p a l d e B e n a v e n t e u s e u

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Catálogo da exposição "Rios que Correm" Museu Municipal de Benavente 2001

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Page 1: Rios que correm

E X P O S I Ç Ã O

M M u n I c I p a l d e B e n a v e n t e u s e u

Page 2: Rios que correm

“As marés não esperam e os lancesnão se colhem com o pé em terra”

Alves Redol

" Este rio tem varios nomes. Huns lhe chamam Sorraya, outros o apelidão Ribeyra de Benavente. Nasce dez legoas adiante de Ponte de Sôro, em hum valle junto de Arês, distante uma legoa daquelle lugar. No seu nascimento não é caudaloso, mas as muitas agoas que de diversas partes do Alem-Tejo se lhe juntão, o fazem ser no Inverno caudalozissimo. Com as enchentes he navegavel em bateis até Coruche A qualidade dos peixes de que mais abundam he de barbos e alguma eiroz, pescam-se também nelle lampreas e saveis no tempo em que esta especie costuma buscar a barra de Portugal até ao sitio do Furadouro, huma legoa antes de chegar a Mora, porque mais adiante só se tira peixe em pegos. As pescarias são em botiroens, tarrafas e tresmalhos. Nos botiroens se pesca no tempo dos saveis e lampreas e nas tarrafas e tresmalhos em todo o anno.Toda esta Ribeyra se vai juntar ao Tejo ao sítio chamado de Ponta d'Erva(...)" 1758

(Rio Almansor) "Na distancia de um quarto de legoa no sitio do porto tem porto de mar por natureza com suas mares regulares todo o anno Entra nele o rio da villa de Benavente e neste rio o rio que chamão a ribeira de Canha, no sitio do esteiro do carvão; he navegavel de embarcação em grandeza de hum diate que varias vezes nelle tem portado: he de corpo quieto sobe ate a villa de Benavente e para cima: corre de nascente para poente: cria peixes, como são muges, linguados, enguias, e nelle e tem pescado algumas corvinas; abundantissimo de savem no tempo da sua pescaria, que he livre e finda no mar de Lixboa, no sitio que chamão ponta de erva" 1758

Page 3: Rios que correm

Alcochete

Sam

ora

Cor

reia

Benavente

Santo Estevão

Vendas Novas

Canha

Coruche

Erra

Couço

Móra

Cabeção

Santarém

Nisa

Tolosa

Ponte de Sôr

RIO ALMANSOR

RIO TEJO

RIO SORRAIA

Page 4: Rios que correm

Sável Alosa alosa

Achigã ( Perca americana) Micropterus salmoides

Carpa Cyprinus carpio

Barbo Barbus barbus

Lampreia do rio Lampetra fluviatilis

Enguia Anguilla anguilla

Tainha-Fataça Liza ramada

Pesca ao remolhão

Método artesanal muito utilizado pelas gentes ribeirinhas para a pesca da enguia. O remolhão faz-se com alguma perícia e bastante

paciência, para o efeito são apenas necessárias linhas e um pequeno arame a servir de agulha e, naturalmente, as minhocas. Depois de

enrolado e amarrado na ponta de uma cana é mergulhado na água, e sempre que a enguia pique, com bastante agilidade o pescador saca

o remolhão para o barco, ou em terra, para um alguidar ou simplesmente um chapéu de chuva.

O rio Sorraia é o maior afluente do Tejo em território português, recebendo as águas

de várias ribeiras ao longo do seu

percurso e, quase na foz, mistura as águas com o rio

Almansor e engrossando o seu caudal entra, por fim, no Tejo

junto à Ponta d' Erva.Sujeito no seu troço final ao movimento das marés, é um "rio de água doce e salgada"

(1421) que sempre facilitou o contacto com o interior

alentejano e a grande cidade de Lisboa.

Teve ao longo dos tempos um papel vital para a região e,

segundo registos históricos, já romanos e árabes aqui se fixaram, usufruindo dele no

campo agrícola e como linha de comunicação, para a

exportação

dos produtos cultivados nas férteis terras do Vale do Sorraia, onde também desenvolveram engenhosos sistemas de irrigação que chegaram aos nossos dias.Há cerca de 40 anos ainda era navegável, tendo conhecido até então um significativo tráfego fluvial de escoamento de produtos agrícolas e florestais, nomeadamente cortiça, madeiras e cereais. Apresentando uma corrente ligeira ou quase nula, uma profundidade média de 1,70m, abundavam no seu caudal várias espécies piscícolas, tendo-se desenvolvido em toda a zona a pesca artesanal de rio. Esta riqueza haliêutica tornou-o também num local privilegiado para a prática da pesca desportiva.

Page 5: Rios que correm

A pesca representava um recurso vital no rio e nele abundavam as enguias, os sáveis, os barbos, as lampreias, as tainhas (fataças-toiras e muges) e, por vezes, chegavam a entrar os linguados, as corvinas e os robalos.Desde sempre muito regulamentada no que respeita aos tipos de pesca, em 1560, encontramos uma postura proibindo a pesca à rede e, já em 1900 as posturas da Câmara referem que é “prohibido pescar com redes de arrastar, nassas, cestos de vime ou redes com malha mais estreita do que 20 milímetros, e o emprego de substâncias venenosas ou explosivas que matem ou entorpeçam peixe ou prejudiquem as águas e mesmo quanto às épocas de defeso, salvaguardando com período interdito os meses de Março a Maio.

Os rios do Tejo sempre atraíram gentes de outros locais, vinham da Vieira, da Murtosa, entre muitos outros e aqui chegavam ao fim de 15 a 20 dias de jornada dura a pé, para as campanhas do sável e pela abundância da enguia. Procuravam sorte fêmea e acabavam por se fixar nestas margens, o dinheiro compensava, chamando mesmo a esta zona a América do Sul.Além da pesca os barcos faziam também os fretes da cortiça e, a partir do mês de Janeiro, iam muitas vezes a Lisboa, vender enguias, no regresso chegavam a Benavente em duas marés.

E porque os rios eramestradas, por aqui passavam muitas embarcações que entravam dentro no Alentejo e chegavam também ao Tejo de Lisboa. Mais caudalosa, a via fluvial sorraiana, era navegável até ao Couço por barcos de lotação limitada a 8 toneladas podendo, em momentos de cheia, elevar-se a 12 toneladas até Coruche, em 1901. Em Benavente, efectuava-se muitas vezes o transbordo das mercadorias para embarcações de fundo chato, favorecendo o transporte. Os produtos transportados eram diversos embora os cereais, a cortiça, o mutano, os toneis e as madeiras ocupassem lugar de destaque.

Page 6: Rios que correm

eiroses de metro, vivinhas e gordas, para assar nas brasas, linguados de fundo de areia, mais

brancos do que carne de galinha, fataças-toiras para caldeirada e sopa, que nem de unto precisavam para encher o caldo de olhas amarelas, mugens, camarão estreminho e até

savogas, mais espinhas do que carne, mas gostosas como nenhuma outra novidade do rio

para adubarem caldo de sopa com hortelã e linguados folha-de-oliveira, de comer inteiros e chorar por mais, quando o fundo da panela só

dá cheiro. Alves Redol

A vida corre no rio

A proximidade do rio definiu uma relação de profunda empatia entre as gentes e a água. O rio, mesmo ali ao lado, envolvia a vida dos homens.Além dos recursos naturais que o rio proporcionava, nas suas águas, junto às margens, a vida também corria. As brincadeiras no rio constituiam uma escapadela habitual nos dias de Verão, justificando talvez uma fuga à escola ou ao trabalho.

Hoje, o rio poderá ser devolvido às suas gentes. Com efeito, a requalificação e reabilitação das áreas ribeirinhas do Tejo, através do Projecto de arranjos urbanísticos das zonas ribeirinhas de Benavente e Samora Correia, integrado na medida Valtejo do Programa Operacional de Lisboa e Vale do Tejo, pretende animar os rios Sorraia e Almansor, valorizando as suas potencialidades e multiplicando as suas novas valências para a prática de desporto ao ar livre e actividades turísticas de lazer.