parecer rios que cortam matricula

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 Parecer   Jurídico Tema : Rios e córregos que cortam matrícula: Necessidade ou não de desmembramento da mesma? Uma estr ada que corta um imóvel pa ssa pa ra o domínio blico automaticamente. Isto independentemente de desapropriação ou de acordo formal en tr e Estado e particular, em razão de sua destinação, a qual denominarse! via pública. "iante disto, não #! direito ao particular em constar em seu título de propriedade um bem que não mais l#e pertence, posto que a fai$a dedicada a tal uso passa a compor os % bens de uso comum do povo&, o que equivale dizer que , enq uanto des tin ados ao uso cotidiano da pop ulação, não po dem ser possuídos ou usucapidos por terceiro. 'or consequ(ncia, o imóvel ou matrícula cortado)a* por uma estrada ou trec#o, que antes era um todo, passa a ser composto)a* de duas partes + . u se-a, passa a e$is tir não um só imóvel, mas sim duas matrículas distintas, isto porque a estrada !rea pertencente ao 'oder 'úblico, lo/o, as fai$as de terras localizadas cada uma de um lado da estrada não são contí/uas e requerem, portanto, a abertura de duas matrículas )uma para cada imóvel*. En tr et anto, qu ando, um córreg o, rio, ou álve o/ leito corta o imóvel , o procedimento diferente. 1   propriet!rio pre-udicado tem o direito líquido e certo de acionar o 0udici!rio em face do Estado, requerendo a desapropriação indireta )via de re/ra o mesmo não possui direito 1 restituição do bem, mas apenas 1 -usta indenização*.

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EXCELENTSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRGIO TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Parecer JurdicoTema : Rios e crregos que cortam matrcula: Necessidade ou no de desmembramento da mesma?Uma estrada que corta um imvel passa para o domnio pblico automaticamente. Isto independentemente de desapropriao ou de acordo formal entre Estado e particular, em razo de sua destinao, a qual denominar-se- via pblica. Diante disto, no h direito ao particular em constar em seu ttulo de propriedade um bem que no mais lhe pertence, posto que a faixa dedicada a tal uso passa a compor os bens de uso comum do povo, o que equivale dizer que, enquanto destinados ao uso cotidiano da populao, no podem ser possudos ou usucapidos por terceiro. Por consequncia, o imvel ou matrcula cortado(a) por uma estrada ou trecho, que antes era um todo, passa a ser composto(a) de duas partes. Ou seja, passa a existir no um s imvel, mas sim duas matrculas distintas, isto porque a estrada rea pertencente ao Poder Pblico, logo, as faixas de terras localizadas cada uma de um lado da estrada no so contguas e requerem, portanto, a abertura de duas matrculas (uma para cada imvel).

Entretanto, quando, um crrego, rio, ou lveo/leito corta o imvel, o procedimento diferente. Nestes casos o veio dgua o integra, ao contrrio do que ocorre com as estradas ou trechos, no se podendo adotar o mesmo critrio l utilizado, j que o rio no via pblica. (Fonte: Instituto de Registro Imobilirio do Brasil, Irib. / Site: www.irib.org.br - Tel. 289-3599 e-mail [email protected])

ademais, orientao da Receita Federal do Brasil neste sentido aduz que a existncia de um rio que corta a propriedade rural no implica descontinuidade da rea desta, na forma da orientao governamental destinada aos contribuintes de Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural ITR que se encontra em receita.fazenda.gov.br/publico/itr/2013/PerguntaseRespostasITR2013.pdf.

Em resumo: Estradas ou trechos que cortam matrculas necessariamente impe o desmembramento da mesma, em razo da utilidade pblica que implica na descontinuidade do terreno. Contudo, tal no ocorre em relao aos rios, crregos, correntes e filetes, em razo de que os mesmos integram o imvel, criando-se um carter particular aos mesmos, conforme se ver adiante.Contudo, chegar a esta concluso no tarefa fcil, e um olhar desatento sobre o tema indicaria que, com base no artigo 20 da Constituio Federal de 1988, todo e qualquer rio ou crrego que passe sob determinada matrcula imporia na diviso da mesma em duas ou mais desmembraes, em razo de que tal unidade natural seria, absolutamente e sem excees, de propriedade da Unio.Sobre isto, o primeiro ponto a ser considerado tendo em conta o entendimento de desnecessidade de frao da matrcula diz respeito ao fato de que o crrego/leito que corta a matrcula de propriedade de nossa cliente no se encaixa dentre as hipteses previstas no inciso III do artigo 20 da Constituio Federal, uma vez que: 1) os terrenos da cliente no so de propriedade da unio; 2) o crrego/leito no banha mais de um Estado; 3) o crrego/leito no serve de limite com outros pases; 4) no se trata, in casu, de terrenos marginais ou praias fluviais.Com isso, tem-se que ditas guas no pertencem Unio. Cuida-se, pois, de guas que talvez se incluiriam entre os bens do Estado, na forma do artigo 26, inciso I, da Constituio Federal, in verbis:Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:

I - as guas superficiais ou subterrneas, fluentes, emergentes e em depsito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da Unio;

O segundo ponto a ser observado que as guas nem sempre foram de exclusivo domnio pblico, porque o Cdigo de guas (Decreto n 24.643/34) previa, em seu artigo 8, a existncia de guas particulares que consistiam nas nascentes e todas as guas situadas em terrenos que tambm o fossem, excetuadas aquelas classificadas como de uso comum de todos ou dominicais.Os respectivos lveos ou leitos, por sua vez, eram de domnio pblico de uso comum ou dominical, se pblicas as guas, ou de domnio particular sendo as guas comuns ou particulares (artigo 10 do Decreto n 24.643/34), o que no se alterou pelo Decreto-lei n 852/38 e pelo Decreto-lei n 9.760/46.Por tal razo, no se questionava sobre a possibilidade de unificar imveis separados por curso de gua que na vigncia do Decreto n 24.643/34 era particular, porque particular o respectivo lveo, nem sobre a necessidade de desmembrar imvel inteiramente seccionado por corrente de gua de igual natureza.Com efeito, Cid Tomanik Pompeu, em obra que versa sobre o Direito de guas no Brasil, considera que o lveo, que na vigncia do Cdigo de guas era bem particular, continua a ter igual domnio. Neste ponto, diz o autor sobre o artigo 10 do Decreto n 24.643/34:O art. 10 aplicvel em parte. Tendo em vista que a Constituio Federal de 1988 tratou somente das guas e no dos leitos, lveos e margens, relativamente s antigasguas comunseguas particulares, continuam esses a pertencer aos proprietrios ribeirinhos. Nesse sentido, versa o art. 1.252 do CC/2002. Apenas as guas foram tornadas pblicas. A expresso e ser particular no caso das guas comuns ou das guas particulares, contida no art. 10, continuavlida, mas somente para as que se tornaram pblicas a partir da Constituio Federal de 1988. Sendo agora pblicas as guas, a diviso equitativa, prevista no 2 do art. 10, deve ser feita pelo titular do domnio, Unio, Estado ou Distrito Federal, ressalvado quanto sguas particulares, o exame do direito de propriedade que venha a ser feito pelo Poder Judicirio (Direito de guas no Brasil, So Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, pgs. 164/165).J Jos Ribeiro considera, com amparo em Clvis Bevilqua e em Jos Cretella Jnior, que no possvel dissociar o domnio das guas da propriedade do lveo pela qual elas correm e conclui que, por tal razo, tanto as guas que eram particulares como os seus respectivos lveos passaram, com a Constituio Federal de 1988, ao domnio pblico, o que faz da seguinte forma:Assim sendo, evidente que no passaram ao domnio pblico dos Estados apenas as guas que eram particulares, mas tambm a parte do solo por elas ocupadas (o leito, o lveo ou a poro de terra que o suporte fsico das guas). Portanto os particulares perderam o domnio ou propriedade no s das guas mas tambm do respectivo solo que lhes serve de suporte fsico, j que a gua no fica no ar, mas forma, com o solo a que adere, uma unidade jurdica. E isso tem, indubitavelmente, reflexo nas matrculas dos imveis onde tais guas se localizavam. Essa nova situao jurdica dever ficar consignada no Registro de Imveis (Propriedade das guas e o Registro de Imveis, In: Freitas, Vladimir Passos de, (Coord.).guas Aspectos Jurdicos e Ambientais. 3 ed., So Paulo: Juru, 2009, pg. 52).A divergncia doutrinria sobre a matria, que no se limita aos autores supra citados, teve sua existncia consignada por Fernanda Aparecida Mendes e Silva Garcia Assumpo (A dominialidade e Gesto das guas: inconstitucionalidade do art. 1.290 do Cdigo Civil,Revista CEJ, Braslia, n. 38, p. 15, jul./set. 2007) e por Virgnia Amaral da Cunha Scheibe que, por seu turno, esclarece:Todavia, dever referir ainda que entre administrativas de escola, como Hely Lopes Meirelles e Maria Sylvia Zanella di Pietro, a opinio de que persiste a propriedade privada sobre guas comuns, tal como as define o Cdigo de guas, ou seja, aquelas que no permitem navegao nem flutuao (O Regime Constitucional das guas, Benjamim, Antnio Herman V, e Milar, Edis (Coords),Revista de Direito Ambiental, So Paulo: Revista dos Tribunais, n. 25, p. 210, janeiro-maro de 2002).Outra razo para a ausncia de indagaes quanto desnecessidade de desmembramento das matrculas cortadas por rio/crrego/leito consiste no fato de que o Cdigo Civil de 2002, editado na vigncia da Constituio Federal, prev em seu artigo 1.290 a possibilidade de propriedade particular sobre nascente e, mais, regulamenta em seu artigo 1.252 o destino de lveo abandonado de (...)corrente pertencente aos proprietrios ribeirinhos das duas margens.Tais disposies do Cdigo Civil, por seu lado, no colidem com a Lei n 9.433/97, que trata do domnio pblico das guas consideradas como formadoras de recursos hdricos, sem especificar, de forma expressa, a quem pertencem os lveos das guas que no regime do Cdigo de guas eram particulares.Tem-se, pois, que o Cdigo Civil de 2002, posterior Constituio Federal, continuou a prever a existncia de nascente e de corrente particulares, pois no revoga as disposies do Cdigo de guas, de 1997. Assim posta a questo, foroso concluir, a bem da segurana jurdica, que se mostraria no mnimo precipitado o reconhecimento administrativo do domnio pblico sobre todas os lveos de guas e leitos que no regime do Cdigo de guas eram tidos como particulares, sobretudo com base na Constituio Federal que foi redigida anteriormente s normas j citadas.Ademais, um reconhecimento absoluto destes (de que todas as guas que cortam matrculas so da Unio), se hipoteticamente promovido, certamente teria como consequncia indagaes, pelos Oficiais de Registro de Imveis dos Estados, sobre a necessidade de desmembramento de imveis inteiramente seccionados por cursos dgua que no regime do Cdigo de guas eram particulares, ou sobre a necessidade de abertura de matrculas especficas para esses cursos dgua.A adoo de medida dessa natureza, contudo, implicar, como efeito lgico, no reconhecimento administrativo de que passou a ser pblica propriedade anteriormente privada, por fora de expropriao no decorrente de texto neste aspecto literal, como poder acarretar situaes insustentveis, ou de difcil soluo, em especial se as parcelas criadas por eventuais desmembramentos tiverem reas menores que as previstas na legislao para o mdulo mnimo rural e para o lote urbano.Ademais, nem mesmo o reconhecimento de que passaram a ser pblicos os lveos dos cursos dgua que no regime do Cdigo de guas eram particulares, caso adotado, permitiria a realizao imediata dos desmembramentos de matrculas, uma vez que seria necessrio verificar, caso a caso, sobre a configurao da unidade imobiliria tendo em conta aspectos econmicos e jurdicos, mormente porque o domnio dos recursos hdricos no implica, necessariamente, em alterao da posse ou da deteno das nascentes e dos lveos antes particulares. Concluso : Diante de todo o exposto,considerada a questo de forma abstrata, a soluo que nos cabe propor, mediante amparo na Constituio Federal, no novel Cdigo Civil, no Instituto de Registro Imobilirio do Brasil, na Receita Federal do Brasil e, sobretudo, no Cdigo Brasileiro de guas, no sentido de manter intactas as matrculas de unidades imobilirias seccionadas por cursos dgua que so particulares pelo regime da Lei n 9.433/1997, uma vez que ditos atributos naturais incorporam-se na matrcula imobiliria, no havendo descontinuidade da mesma tal como ocorre em relao estradas, bem como por no haver configurao de bens de uso comum do povo, ou dominicais, de propriedade da Unio ou Estado. Ampara o presente parecer, ainda, o decisum 81/2009-E, do Processo CG 2008/102503 Corregedoria Geral da Justia de So Paulo.Santa Cruz do Sul/RS, 24 de junho de 2015.

Guilherme R. Mueller

AF&S AdvocaciaAv. Joo Pessoa, 590 | Bairro Santo IncioSanta Cruz do Sul | RS | CEP 96.820-066

Fone: (51) 9233-8946 | E-mail: [email protected] O proprietrio prejudicado tem o direito lquido e certo de acionar o Judicirio em face do Estado, requerendo a desapropriao indireta (via de regra o mesmo no possui direito restituio do bem, mas apenas justa indenizao).

Art. 20. So bens da Unio:

(...)

III - os lagos, rios e quaisquer correntes de gua em terrenos de seu domnio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros pases, ou se estendam a territrio estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais.

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