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Ricardo Reis Análise do poema “Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio”

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Page 1: Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" - 12º ano

Ricardo Reis

Análise do poema “Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio”

Page 2: Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" - 12º ano

Tópicos a abordar® Aspetos caraterísticos da poesia de

Ricardo Reis;® Atividades de pré-leitura;® Leitura do poema a abordar;® Análise da temática;® Análise estilística;® Simbologia presente no poema;® Conclusão;® Resposta a questões de compreensão.

Page 3: Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" - 12º ano

Ricardo ReisRicardo Reis nasceu em 1887, no Porto, e

formou-se em Medicina. “[…] é um pouco, mas muito pouco mais baixo [do que Alberto Caeiro], mais forte, mas seco […] Reis de um vago moreno mate […] educado num colégio de jesuítas […] vive no Brasil desde 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico. É latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria […].”

Fonte: Carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro(13 de janeiro de 1935)

Page 4: Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" - 12º ano

Caraterísticas da poesia de Ricardo Reis■ Horacianismo:

■ Carpe diem: “Aproveita o dia”, vive os prazeres do momento

■ Aurea mediocritas: “ouro medíocre”, a felicidade reside na simplicidade natural

■ Epicurismo:■ Procura da felicidade relativa■ Moderação nos prazeres■ Fuga às sensações extremas■ Busca do estado de ataraxia (tranquilidade

sem perturbação)

■ Estoicismo (conformismo):■ Indiferença perante as emoções (apatia)■ Aceitação do poder do destino (fatum)■ Atitude de abdicação

■ Paganismo:■ Crença nos deuses clássicos■ Inspiração na civilização grega

■ Obsessão com a passagem do tempo:■ Preocupação constante com a efemeridade

da vida■ Questionamento do fluir indiscutível do

tempo■ Medo da morte

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Atividade de pré-leitura

Crónica “O arroz-doce quente” de Miguel Esteves Cardoso

◙ Segundo o autor, “Adiar prazeres é uma boa estratégia” porque permite “[...] aprender a dar-lhes valor” (l. 11) no momento em que são experimentados.

◙ Considera que “A pressa é uma paixão destrutiva” (l. 13) e que, por isso, pode não permitir desfrutar convenientemente de situações memoráveis.

◙ O adiamento dos prazeres, defendido no poema de Ricardo Reis, prende-se com uma atitude de abdicação e de recusa de esforço face à inexorabilidade da vida e à certeza da morte.

Page 6: Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" - 12º ano

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamosQue a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.

(Enlacemos as mãos).Depois pensemos, crianças adultas, que a vidaPassa e não fica, nada deixa e nunca regressa,Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,

Mais longe que os deuses.Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena

cansarmo-nos.Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.Mais vale saber passar silenciosamente

E sem desassossegos grandes.Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a

voz,Nem invejas que dão movimento de mais aos olhos,Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre

correria,E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro

Ouvindo correr o rio e vendo-o.Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-asNo colo, e que o seu perfume suavize o momento – Este momento em que sossegadamente não cremos em

nada,Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois

Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,

Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamosNem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,

Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim – à

beira-rio,Pagã triste e com flores no regaço.

◘ Estrutura da ode

◘ Regularidade estrófica e métrica

◘ Rima branca

Análise externa

Tema/ filosofia de vida do sujeito poético:

- Abdicação consciente face aos sentimentos e

gozos da vida.

Page 7: Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" - 12º ano

Análise interna

Page 8: Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" - 12º ano

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamosQue a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.

(Enlacemos as mãos).Depois pensemos, crianças adultas, que a vidaPassa e não fica, nada deixa e nunca regressa,Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,

Mais longe que os deuses.Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-

nos.Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.Mais vale saber passar silenciosamente

E sem desassossegos grandes.Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,Nem invejas que dão movimento de mais aos olhos,Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,

E sempre iria ter ao mar.Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro

Ouvindo correr o rio e vendo-o.Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-asNo colo, e que o seu perfume suavize o momento – Este momento em que sossegadamente não cremos em

nada,Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois

Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos

Nem fomos mais do que crianças.E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim – à beira-

rio,Pagã triste e com flores no regaço.

1ª parte:A efemeridade da vida

2ª parte:A inutilidade dos compromissos

3ª parte:A busca da

tranquilidade

4ª parte:A ausência de

perturbação face à morte

Page 9: Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" - 12º ano

Primeira parte – estrofes 1 e 2

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamosQue a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.

(Enlacemos as mãos).Depois pensemos, crianças adultas, que a vidaPassa e não fica, nada deixa e nunca regressa,Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,

Mais longe que os deuses.

A metáfora do rio e o correr da água

(símbolo da passagem inexorável)

A inutilidade de qualquer compromisso

A necessidade de predomínio da razão

sobre a emoção, como defesa contra o

sofrimento

Elementos clássicos: o ambiente bucólico, o

nome “Lídia” e o papel do fatum

Page 10: Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" - 12º ano

Segunda parte – estrofes 3 e 4

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.Mais vale saber passar silenciosamente

E sem desassossegos grandes.Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,Nem invejas que dão movimento de mais aos olhos,Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,

E sempre iria ter ao mar.

O enlaçar e desenlaçar das mãos como recusa

de qualquer compromisso

A recusa constante de todo e qualquer

excesso (amores, ódios, paixões,

invejas..)

Evitar todos os desassossegos que

possam provocar dor

A morte como única certeza do percurso

existencial

Page 11: Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" - 12º ano

Terceira parte – estrofes 5 e 6

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro

Ouvindo correr o rio e vendo-o.Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-asNo colo, e que o seu perfume suavize o momento – Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,

Pagãos inocentes da decadência.

O estabelecer de um “programa de vida”: a

vida deve ser vivida de forma serena e calma; deixemo-la passar à

nossa frente, controlando as nossas

emoções e sentimentos

Valorização do carpe diem: captemos o

“perfume” do momento, evitemos o

conhecimento das coisas

Page 12: Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" - 12º ano

Quarta parte – estrofes 7 e 8

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depoisSem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos

Nem fomos mais do que crianças.E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim – à beira do rio,

Pagã triste e com flores no regaço.

A aceitação pacífica da morte é consequência

da demissão do eu perante a vida. Assim, a morte não deve ser motivo de sofrimento,

pois ainda não foi presenciada. A vida passa, por isso não devemos assumir compromissos,

devemos fazer apenas pela tranquilidade

Justificação para o modelo de vivência

amorosa definido pelo poeta

Page 13: Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" - 12º ano

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamosQue a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.

(Enlacemos as mãos).Depois pensemos, crianças adultas, que a vidaPassa e não fica, nada deixa e nunca regressa,Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,

Mais longe que os deuses.Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-

nos.Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.Mais vale saber passar silenciosamente

E sem desassossegos grandes.Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,Nem invejas que dão movimento de mais aos olhos,Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,

E sempre iria ter ao mar.Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro

Ouvindo correr o rio e vendo-o.Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-asNo colo, e que o seu perfume suavize o momento – Este momento em que sossegadamente não cremos em

nada,Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depoisSem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos

Nem fomos mais do que crianças.E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim – à beira-

rio,Pagã triste e com flores no regaço.

Ritmo lento e pausado

Aliteração dos sons «v» e «s» com o arrastamento do «e» (sons nasais e fechados)

Pontuação e advérbios de modo

Palavras de conotação pessimista

Enumeração

Gradação com assíndeto

Comparação

Metáforas

Perífrase

Eufemismo

Hipálage

Utilização expressiva do presente do indicativo e do gerúndio, e depois do futuro do indicativo e do presente do conjuntivo.

Page 14: Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" - 12º ano

Simbologia presente no

poema• O rio sugere passagem; efemeridade (vv. 1 e 10);• O Fado e os deuses pagãos controlam a vida dos

homens (vv. 7, 24 e 32);• O enlaçar/desenlaçar das mãos traduz o desejo

de aproveitar o momento, de assumir compromissos, contra a sua inutilidade (vv. 3, 4, 9 e 27);

• As flores no colo e o seu perfume sugerem o bem efémero (vv. 21, 22);

• A perífrase se for sombra antes atua como um eufemismo para «Se eu morrer antes de ti»(v. 25);

• O adjetivo sombrio é uma hipálage para o estado de espírito do sujeito poético, esperando a morte.

Page 15: Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" - 12º ano

Simbologia presente no

poema• O barqueiro sombrio é uma referência mitológica a Caronte, figura que transportava os mortos pelos rios infernais. A família do defunto colocava-lhe na boca o óbolo, uma moeda grega que simbolizava o seu pagamento.

Page 16: Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" - 12º ano

Conclusão♦ Ricardo Reis e Caeiro

A influência de Alberto Caeiro em Reis sente-se no paganismo de ambos. Além disso, se a natureza era residência, visão em Caeiro, em Reis surge como refúgio, metáfora.

Reis vê a natureza com a Razão

Caeiro vê a natureza com os

sentidos

Verbos que traduzem

operações mentais, como

“aprendamos” e “pensemos”

Para Caeiro há apenas sensações

Page 17: Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" - 12º ano

Conclusão♦ Ricardo Reis e Pessoa Ortónimo

Neste poema observam-se vários pontos comuns entre as poesias de Pessoa ortónimo e Ricardo Reis:

- Lado mais conservador de Fernando Pessoa;- Dicotomia razão/coração;- Gosto pela cultura clássica.

Page 18: Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" - 12º ano

Resposta às perguntas de compreensão1. Bucólico; apóstrofe; exorta; metáforas; sereno; físicos.

2.1. O conetor “Depois” insere uma conexão temporal mas, sobretudo, uma oposição face ao conteúdo da primeira quadra. Na primeira estrofe o sujeito poético convida Lídia a contemplar o curso do rio. Já na segunda quadra o sujeito poético recorda a natureza racional do ser humano (“pensemos” (v. 5)), que os obriga a reconhecer que a vida é transitória.

2.2. O modificador do nome apositivo “crianças adultas” destaca a ingenuidade das “crianças” em Lídia e o sujeito poético, não se podendo esquecer que são pessoas “adultas”, e são sujeitas ao raciocínio que as obriga a reconhecer a efemeridade da vida.

3.1. O sujeito poético opta por desenlaçar as mãos de Lídia, por considerar que se trata de um compromisso/emoção intensa, que pode impedir que vivam “silenciosamente” (v. 11), ou seja, sem agitações e em ataraxia.

4.1. A repetição da preposição “sem” (vv. 12-13) e da conjunção “nem” (vv. 13-15) intensificam a ideia de recusa, introduzindo a enumeração de sentimentos e de ações que se rejeitam, a fim de encontrar a tranquilidade desejada.

6. Os seres humanos devem procurar uma existência semelhante à dos elementos naturais. Assim, aceitando-se efémeros, reconhecem-se nas “flores” (v. 21) transitórias e no “rio” (vv. 1, 10, 15, 20) que segue de forma irreversível o seu curso, tal como os humanos devem aceitar o destino que lhes coube.

Page 19: Ricardo Reis - Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio" - 12º ano

Trabalho realizado por:

Ana Patrícia PiresFilipa FonsecaPedro Milhano

12º A