revisÕes. 12º anodoc

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REVISÕES TESTE 1 Leia atentamente o seguinte texto: Não sei ser triste a valer Nem ser alegre deveras. Acreditem: não sei ser. Serão as almas sinceras Assim também, sem saber? Ah, ante a ficção da alma E a mentira da emoção, Com que prazer me dá calma Ver uma flor sem razão Florir sem ter coração! Mas enfim não há diferença. Se a flor flore sem querer, Sem querer a gente pensa. O que nela é florescer Em nós é ter consciência. Depois, a nós como a ela, Quando o Fado a faz passar, Surgem as patas dos deuses E ambos nos vêm calcar. 'Stá bem, enquanto não vêm Vamos florir ou pensar. Fernando Pessoa 1. De entre as afirmações seguintes, identifique aquela que completa a frase, de acordo com o sentido global do texto. 1.1. Os versos "Não sei ser triste a valer/ Nem ser alegre deveras" (w. 1 -2) e "Ah, ante a ficção da alma / E a mentira da emoção" (vv. 6-7) a) associam-se, na medida em que caracterizam a dicotomia sentir/pensar. b) são complementares, na medida em que ajudam a caracterizar o sujeito poético enquanto ser de emoções fingidas. c) são antitéticos, na medida em que apresentam estados antagónicos. d) são complementares, na medida em que ajudam a caracterizar o sujeito poético enquanto ser fragmentado. 1.2. O verso "Mas enfim não há diferença." (v. 11) a) afirma a semelhança entre o florescer da flor e a consciência humana. b) permite anular a diferença entre o poeta e as flores. c) abre caminho para a aproximação entre emoção e razão. d) nega a diferença entre aquilo que o poeta vê e aquilo que é, enfim, a realidade. 2. De entre as afirmações seguintes, escolha aquela que corresponde à alternativa correcta. O enunciado "Acreditem: não sei ser." (v. 3) traduz a) um acto ilocutório compromissivo. b) um acto ilocutório directivo. c) um acto ilocutório expressivo. d) um acto ilocutório assertivo. 3. Refira, fundamentando-se no poema, o dilema existencial do sujeito poético. 1

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revisões 12.º

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REVISES

REVISES

TESTE 1

Leia atentamente o seguinte texto:

No sei ser triste a valer

Nem ser alegre deveras.

Acreditem: no sei ser.

Sero as almas sinceras

Assim tambm, sem saber?

Ah, ante a fico da alma

E a mentira da emoo,

Com que prazer me d calma

Ver uma flor sem razo

Florir sem ter corao!Mas enfim no h diferena.

Se a flor flore sem querer,

Sem querer a gente pensa.

O que nela florescer

Em ns ter conscincia.Depois, a ns como a ela,

Quando o Fado a faz passar,

Surgem as patas dos deuses

E ambos nos vm calcar.'St bem, enquanto no vm

Vamos florir ou pensar.

Fernando Pessoa

1. De entre as afirmaes seguintes, identifique aquela que completa a frase, de acordo com o sentido global do texto.1.1. Os versos "No sei ser triste a valer/ Nem ser alegre deveras" (w. 1 -2) e "Ah, ante a fico da alma / E a mentira da emoo" (vv. 6-7)a) associam-se, na medida em que caracterizam a dicotomia sentir/pensar.b) so complementares, na medida em que ajudam a caracterizar o sujeito potico enquanto ser de emoes fingidas.

c) so antitticos, na medida em que apresentam estados antagnicos.d) so complementares, na medida em que ajudam a caracterizar o sujeito potico enquanto ser fragmentado.1.2. O verso "Mas enfim no h diferena." (v. 11)a) afirma a semelhana entre o florescer da flor e a conscincia humana.b) permite anular a diferena entre o poeta e as flores.c) abre caminho para a aproximao entre emoo e razo.d) nega a diferena entre aquilo que o poeta v e aquilo que , enfim, a realidade.2. De entre as afirmaes seguintes, escolha aquela que corresponde alternativa correcta. O enunciado "Acreditem: no sei ser." (v. 3) traduza) um acto ilocutrio compromissivo.b) um acto ilocutrio directivo.c) um acto ilocutrio expressivo.d) um acto ilocutrio assertivo.3. Refira, fundamentando-se no poema, o dilema existencial do sujeito potico.4. Aponte em que medida o sujeito potico se distancia e se aproxima dos outros, clarificando o modo como essa aproximao construda.5. Escreva duas frases distintas, simples ou complexas, em que utilize o termo "razo" numa relao de homonmia.6. Explicite o sentido da quarta estrofe, clarificando a utilizao expressiva da linguagem.7. Aponte o tempo verbal predominante no poema e explique o valor da sua utilizao.8. De entre as afirmaes seguintes, escolha aquela que corresponde alternativa correcta.A frase "(...) a ns como a ela, /Quando o Fado a faz passar, / Surgem as palas dos deuses / E ambos nos vm calcar" (vv. 16-19) contma) uma orao subordinada temporal e uma orao subordinada consecutiva.b) uma orao subordinada temporal.c) uma orao subordinada temporal e uma orao coordenada copulativa.d) uma orao subordinada temporal e uma orao subordinada comparativa.9. Explique a concluso do poema, referindo em que medida ela aponta uma soluo para o problema existencial do sujeito potico.

II

A capacidade de superao constante de obstculos e limitaes um aspecto que caracteriza o ser humano e um tpico que percorre a cultura e a literatura portuguesas.Numa dissertao, de duzentas a trezentas palavras, exponha o seu ponto de vista sobre o tpico em questo, fundamentando-se na sua experincia de leitor. Com o texto da sua dissertao, dever apresentar o respectivo plano.

SUGESTES DE RESOLUO

GRUPO I

1.1. b)1.2. c)2. b)3. O dilema existencial do sujeito potico surge sintetizado na expresso "no sei ser" (v. 3). Perante a afirmao de que as suas emoes no so reais - "No sei ser triste a valer / Nem ser alegre deveras" (w. 1-2) -, o sujeito potico evidencia a sua capacidade de autoconheci-mento e de auto-anlise e entende no ser capaz de cumprir o seu estatuto existencial assente em emoes genunas. Ciente deste facto, questiona-se se apenas ele vive esta situao, ou se os outros, cujos sentimentos so sinceros, sero iguais a ele prprio e apenas desconhecem essa realidade- "Sero as almas sinceras / Assim tambm, sem saber?" (w. 4-5).

4. Partindo de uma situao inicial de reflexo sobre si prprio enquanto indivduo isolado margem dos outros, marcada pela primeira pessoa do singular em alternncia com o uso da terceira pessoa, o sujeito potico estabelece o seu afastamento em relao aos outros; ele incapaz de ser sincero nas suas emoes, os outros so "almas sinceras". No entanto, este afastamento vai dissolver-se pela analogia que estabelecida entre o florescer das flores, segundo os ditames da Natureza, sem preocupaes de ordem intelectual ou emocional: "Ver uma far sem razo / Florir sem ter corao" (w. 9-10), o "ter conscincia" do ser humano - "O que nela florescer / Em ns ter conscincia" (w. 14-15). Esta ideia vai ser generalizada pela utilizao da primeira pessoa do plural, que torna possvel que o "eu" se aproxime dos outros. Assim, cada entidade existe () de acordo com a sua natureza e, nessa medida, as diferenas transformam-se em pontos comuns.

5. Desconhece-se a razo que levou o Rui a abandonar o emprego. / O uso da razo caracteriza o ser humano, / As laranjas so rnais caras do que as batatas na razo de trs para um.

6. A quarta estrofe aproxima flores e homens, uma vez que ambos se encontram sujeitos ao poder do Fado e dos deuses que impem um limite para a vida, marcado pelo tempo. Presente na estrofe est um eufemismo de morte "Quando o Fado a tez passar" (v. 17), que marca a durabilidade limitada da vida, e uma imagem associada a um disfemismo "Surgem as patas dos deuses / E ambos nos vm calcar" (w. 18-19). Estes recursos expressivos traduzem a reduzida importncia dos seres sujeitos s leis da Natureza.

7. O tempo verbal que predomina no poema o presente do indicativo. A sua utilizao justifica--se, pois permite generalizar as afirmaes que integra.

8. c)

9. 0 poema termina com um apelo: sujeitos que estamos passagem do tempo e s leis do destino, ajamos de acordo com aquilo que so os ditames da nossa natureza - florir espontaneamente e sem razo ou racionalizar: '"St bem, enquanto no vm / l/amos florir ou pensar" (w. 20-21], A aceitao desta ordem natural permite, em certa medida, apaziguar a inquietao do sujeito potico, uma vez que, perante um destino inevitvel, torna irrelevante o facto de as suas emoes no serem genunas

GRUPO II

Sugesto de plano

Tese: A condio humana marcada peio constante ultrapassar dos limites: fisiolgicos, fsicos, geogrficos, intelectuais...Argumentos:- apresentao das origens humanas: limitadas;- capacidade evolutiva: ultrapassa limites fisiolgicos;- aumenta a sua capacidade intelectual;- descoberta do Mundo: ultrapassa limites geogrficos;- parte conquista de novos mundos: ultrapassa limites fsicos;- a literatura e a cultura como reflexo da condio humana (exemplos da literatura: o humanismo em Cames, referncia a Mensagem, de Fernando Pessoa...)Concluso: confirmao da tese - o Homem superao.

Sugesto de dissertao

O Homem insatisfao e superao. So estas caractersticas intrnsecas da natureza humana que permitem que macacos, inicialmente vergados sob o peso do seu prprio corpo e encharcados na lama do seu planeta natal, tenham vindo a caminhar orgulhosamente no solo de outros mundos. Estas caractersticas so marcas distintivas do Homem, desde as origens ancestrais, e permitem o constante ultrapassar das barreiras que o limitam.A necessidade de conforto e de segurana levou-o a abandonar o bosque e a caverna, os limites iniciais do seu mundo, e a ultrapassar as limitaes que o seu prprio corpo lhe impunha: adquiriu uma nova postura e desenvolveu a capacidade cerebral. Este desenvolvimento levou aquisio de uma inteligncia superior que lhe permitiu discorrer sobre a sua realidade, descobrir--Ihe as leis e modific-la. O ser humano pode, ento, conquistar o seu mundo, ligar os continentes e torn-lo menor. Porm, no aceitou como limite definitivo para a sua espcie as fronteiras do seu planeta natal e assumiu a possibilidade de encontrar novos mundos e novas barreiras para ultrapassar no espao sideral.Desta constante superao de limites do conta diversas obras literrias. A ttulo de exemplo, pode referir-se a exaltao da capacidade humana para ultrapassar os limites do conhecimento, patente em Os Lusadas, de Lus de Cames, obra produzida luz da filosofia humanista, que defende o homem como medida de todas as coisas, capaz de combater todos os monstros que lhe bloqueiem o caminho, como notrio no episdio do Adamastor. Esta constante superao humana tambm referida em Mensagem, de Fernando Pessoa, pelo axioma: "ser descontente ser homem".Assim, o Homem, ao longo do seu percurso evolutivo, revelou como constante da sua natureza o romper dos limites, sendo, indubitavelmente, esta capacidade de superao, aliada insatisfao permanente, um dos seus traos mais marcantes..

TESTE 2

Leia atentamente o seguinte texto:

Por trs da torre o luar

Faz a torre uma outra torre.

A voz alegre a cantar

me triste, de a escutar,

Pois sei que quem canta morre.

Tenho pena de sentir

Porque sentir pensar.

A torre negra e esplendente.

A lua oculta por ela

um halo de luz ausente.

Meu corao dormente:

Cisma sentado janela.

Tenho pena de pensar

Porque quem pensa no sente.Fernando Pessoa

Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas ao questionrio que se segue.1. Identifique os acontecimentos que motivam a reflexo potica.2. Aponte o estado os esprito do sujeito potico ao longo do poema.3. Comente, tendo em conta as caractersticas da poesia pessoana, os dois ltimos versos de cada estrofe.4. Clarifique a relao que se estabelece entre o luar, a torre e o problema existencial do sujeito potico.5. Analise formalmente o poema e refira um recurso expressivo significativo, justificando a sua opo.

II

Considere a biobibliografia de Lus de Sttau Monteiro:

Lus Infante de Lacerda Sttau Monteiro nasceu no dia 3 de Abril de 1926, em Lisboa, cidade na qual veio a falecer a 23 de Julho de 1993. Partiu para Londres com dez anos de idade, acompanhando o pai que exercia as funes de embaixador de Portugal, e regressou ao seu pas natal em 1943, quando o pai foi demitido do cargo por Salazar. Licenciou-se em Direito na Universidade de Lisboa, mas exerceu advocacia apenas por cerca de dois anos. Partiu novamente para Londres e tornou--se condutor de Frmula 2, no "team" Cooper. Dedicou-se pesca e gastronomia. Em 1951, casou com uma senhora inglesa, de quem se divorciar mais tarde e com quem voltar a casar. Quando regressou a Portugal, optou pela carreira jornalstica e tornou-se colaborador de vrias publicaes, destacando-se a revista Almanaque e o suplemento "A Mosca" do Dirio de Lisboa, tendo sido o criador da seco Guidinha. Trabalhou no Dirio de Notcias, criando textos sobre gastronomia numa perspectiva histrica. Em 1960 publicou o romance Um Homem no Chora e no ano seguinte Angstia para o Jantar e a pea de teatro Felizmente H Luar!, que foi distinguida com o Grande Prmio de Teatro. A sua representao foi proibida pela censura, e foi levada a palco apenas em 1978, no Teatro Nacional. Foi preso em 1967 pela PIDE, aps a publicao das peas de teatro A Guerra Santa e A Esttua, que criticavam a ditadura e a guerra colonial. Tornou-se urna figura popular, depois do 25 de Abril de 1974, ao integrar o jri do concurso televisivo "A Visita da Cornlia".Com base na informao contida no texto que leu, elabore o curriculum vitae de Lus de Sttau Monteiro. Acrescente dados que entenda necessrios e pertinentes para que este fique completo.

SUGESTES DE RESOLUO

GRUPO I

1. Na origem da reflexo do sujeito potico esto dois acontecimentos: a projeco da sombra da torre, feita pelo luar, e um canto alegre que o poeta ouve - "Por trs da torre o luar/ Faz a torre uma outra torre. /A voz alegre a cantar/ me triste, de a escutar" (vv. 1 -4).

2. O sujeito potico apresenta um estado de esprito marcado pela tristeza - " me triste, de a escutar" (v. 4), "Tenho pena de sentir" (v. 6). O sujeito potico apresenta uma atitude introspectiva e reflecte sobre as suas emoes dormentes - "Meu corao dormente"(v. 11).

3. Os dois ltimos versos da primeira estrofe - "Tenho pena de sentir / Porque sentir pensar" apresentam uma das tendncias marcantes da poesia de Fernando Pessoa ortnimo: a transformao intelectual das suas emoes, sinceramente experimentadas, e a dor associada incapacidade de viver apenas os sentimentos. Os dois ltimos versos do poema confirmam esta ideia - "Tenho pena de pensar / Porque quem pensa no sente". O sujeito potico assume a sua incapacidade de apenas sentir e o domnio do pensamento. Assim, os dois ltimos versos de cada estrofe funcionam quase como um refro, reiterando a ideia da dor associada incapacidade de experimentar as emoes sem as intelectualizar.

4. O problema existencial do sujeito potico radica na sua constante intelectualizao dos sentimentos, experimentando a incapacidade de sentir emoes genunas, na medida em que processa constantemente os seus sentimentos. Do mesmo modo, o luar projecta a sombra da torre, que, embora seja semelhante torre real que lhe deu origem, j no a mesma, tal como o sentimento intelectualizado uma sombra do sentimento real que o originou.

5. O poema "Por trs da torre o luar" constitudo por duas stimas, com o esquema rimtico abaabca, na primeira estrofe, e deddead, na segunda estrofe, havendo, por conseguinte, rima cruzada e emparelhada em a e d e interpolada em b e e e um verso solto (c). Os versos apresentam-se em redondilha maior, sendo esta uma marca caracterstica da produo potica de Fernando Pessoa ortnimo. A personificao do corao, patente em Meu corao dormente: / Cisma sentado janela , possivelmente, um dos recursos expressivos mais relevantes neste poema, uma vez que traduz a ausncia de sentimentos que caracteriza o sujeito potico.

GRUPO II

Sugesto de curriculum vitae

IdentificaoNomeData de nascimentoEndereoContactoLus Infante de Lacerda Sttau Monteiro3 de Abril de 1926

Formao acadmica

1949Licenciatura em Direito pela Universidade de Lisboa

Experincia profissional

Jri do concurso "A Visita da Cometia", RTP

Jornalista Jornal de Noticias Revista Almanaque Dirio de Lisboa (Suplemento A Mosca e criador da seco Guidinha)

Corredor de Frmula 2 (Inglaterra) Team Cooper

Dois anos de prtica de advocacia

Trabalhos publicados

1967A Guerra SantaA Esttua

1961Angstia para o JantarFelizmente H Luarl

1960Um Homem no Chora

Prmios recebidos

1961Grande Prmio de Teatro (Felizmente H Luar!)

LnguasIngls fluente

Outros interessesPesca

Gastronomia

TESTE 3

Segue o teu destino,

Rega as tuas plantas,

Ama as tuas rosas.

O resto a sombra

De rvores alheias.

A realidadeSempre mais ou menos

Do que ns queremos.

S ns somos sempre

Iguais a ns-prprios.

Suave viver s.

Grande e nobre sempre

Viver simplesmente.

Deixa a dor nas aras

Como ex-voto aos deuses.

V de longe a vida.

Nunca a interrogues.

Ela nada pode

Dizer-te. A resposta

Est alm dos deuses.

Mas serenamente

Imita o Olimpo

No teu corao.

Os deuses so deuses

Porque no se pensam

Ricardo Reis

1. Comente a expressividade dos trs primeiros versos do poema, clarificando a filosofia de vida que neles se indicia.2. Clarifique o sentido de "V de longe a vida" (v. 16), relacionando este verso com o estoicismo.3. Justifique a recorrncia do verbo ser no presente do indicativo.4. Aponte traos caractersticos da poesia de Ricardo Reis, presentes no poema em anlise.

II

A partir de 1916, Campos o poeta do abatimento, da atonia, da aridez interior, do descontentamento de si e dos outros.Jacinto do Prado CoelhoPartindo da afirmao acima transcrita e fazendo apelo sua experincia de leitura, elabore um texto expositivo-argumentativo bem estruturado, de cento e cinquenta a duzentas e cinquenta palavras, sobre a evoluo da obra potica de lvaro de Campos.

SUGESTES DE RESOLUO

GRUPO I

1. Os trs primeiros versos surgem construdos com base numa frase complexa do tipo imperativo que traduz trs conselhos: "Segue o leu destino. / Rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas". Estes conselhos, dirigidos a um tu com o qual o sujeito potico parece desenvolver uma relao dialgica, apresentam uma filosofia de vida assente na aceitao plcida do destino, do Fatum clssico, que determina, de forma definitiva, a ordem dos eventos e perante o qual o Homem impotente, no lhe cabendo outro papel que no aceit-lo. Esta atitude de aceitao da ordem predestinada de eventos resulta na fruio tranquila daquilo que o mundo tem para oferecer e numa atitude de serenidade, atravs da qual possvel apreciar a beleza e a perfeio, ainda que efmeras, de que as rosas so smbolo. Assim, a filosofia de vida do sujeito potico assenta numa lgica epicurista de carpe d/em, na aceitao do Fatum e numa vida de serenidade.2. O verso "V de longe a vida" (v. 16) relaciona-se com o estoicismo, na medida em que esta filosofia defende a supresso dos afectos para que o homem chegue a um estado de indiferena, de apatia perante a vida, que lhe permita goz-la sem sofrimento. Desta forma, o homem assiste vida, mas permanece marginal a ela na medida em que no goza paixes - "Suave viver s" (v. 11) - e evita o sofrimento - "Deixa a dor nas aras / Como ex-voto aos deuses" (w. 14-15], cumprindo o ideal estico.

3. O presente do indicativo tradicionalmente considerado como o tempo verbal que permite apresentar afirmaes tomadas como verdades intemporais. utilizao do verbo ser corresponde, regra geral, a construo de verdades quase axiomticas, como o caso dos versos "A realidade / Sempre mais ou menos / Do que ns queremos" (vv. 6-8). Ao longo do poema, surge o verbo ser no presente do indicativo sempre que o poeta enuncia generalizaes que justificam os seus conselhos

4. O poema apresenta caractersticas formais distintivas da produo de Ricardo Reis, uma vez que surge em verso branco, maneira da poesia clssica horaciana. A estrutura frsica assenta, frequentemente, no uso de inverses, por forma a criar uma sintaxe alatinada, prxima dos clssicos, como em "Suave viver s" (v. 11). Por outro lado, o poema transmite uma filosofia epicurista, assente na serena fruio do prazer relativo, sujeito ao poder inexorvel do destino, aliada a um estoicismo de aceitao plcida da vida vivida de forma distante e marcada pela ausncia de dor, que so questes filosficas tpicas da potica deste heternimo.

GRUPO IISugesto de textoDe todos os heternimos de Fernando Pessoa, lvaro de Campos aquele que, claramente, apresenta uma linha evolutiva a marcar a sua produo potica, passando por trs fases distintas.

Assim, numa primeira fase, geralmente classificada como decadentista, regista-se a existncia s um tdio civilizacional, presente no extenso poema que a assinala - "Opirio" - no qual o sujeito potico regista impresses de um indivduo que viaja por mar, com os sentidos narcotizais pelo consumo de pio, rumo a um "Oriente a oriente do Oriente".A evoluo do poeta faz com que este tdio seja poeticamente combatido pela exaltao sensaicionista da civilizao moderna, da mquina, patente em poemas futuristas de que "Ode Triunfal" e "Saudao a Walt Whitman" so exemplo. Nesta fase, surge um poeta no auge de uma histeria associada vida moderna, que grita e despeja, de forma jactante e torrencial, as suas sensaes eufricas e disfricas. A esta onda febril e agitada sucede-se uma fase intimista de tdio existencial, na qual o poeta ; volta sobre si prprio e se apresenta como um ser dominado pelo cansao - "O que h em mim sobretudo cansao". Nesta ltima fase, verifica-se ainda o isolamento do sujeito potico e o desejo de recuperao da infncia, encarada como paraso perdido - "No tempo em que celebravam o dia dos meus anos, eu era feliz e ningum estava morto."Em suma, lvaro de Campos resulta no heternimo mais complexo de Fernando Pessoa, atravessando, de forma evolutiva, fases poticas diferentes.

TESTE 4

Leia atentamente o seguinte texto:

(Na nora do quintal da minha casa

O burro anda roda, anda roda,

E o mistrio do mundo do tamanho disto.

Limpa o suor com o brao, trabalhador descontente.

A luz do sol abafa o silncio das esferas

E havemos todos de morrer,

pinheirais sombrios ao crepsculo,

Pinheirais onde a minha infncia era outra coisa

Do que eu sou hoje...)Mas, ah outra vez a raiva mecnica constante!Outra vez a obsesso movimentada dos nibus.E outra vez a fria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboiosDe todas as partes do mundo,De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios,

Que a estas horas esto levantando ferro ou afastando-se das docas. ferro, ao, alumnio, chapas de ferro ondulado! cais, portos, comboios, guindastes, rebocadores!

Eh-l grandes desastres de comboios!Eh-l desabamentos de galerias de minas!

Eh-l naufrgios deliciosos dos grandes transatlnticos!Eh-l-h revolues aqui, ali, acol,Alteraes de constituies, guerras, tratados, invases,Rudo, injustias, violncias, e talvez para breve o fim,A grande invaso dos brbaros amarelos pela Europa,

E outro Sol no novo Horizonte!

Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto

Ao flgido e rubro rudo contemporneo,

Ao rudo cruel e delicioso da civilizao de hoje?

Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento,

O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro,

O Momento estridentemente ruidoso e mecnico,

O Momento dinmico passagem de todas as bacantes

Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais.

Eia comboios, ela pontes, eia hotis hora do jantar,

Eia aparelhos de todas as espcies, frreos, brutos, mnimos,Instrumentos de preciso, aparelhos de triturar, de cavar,Engenhos, brocas, mquinas rotativas!Eia! eia! eia!Eia electricidade, nervos doentes da Matria!

Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metlica do Inconsciente!Eia tneis, eia canais, Panam, Kiel, Suez!Eia todo o passado dentro do presente!Eia todo o futuro j dentro de ns! eia!Eia! eia! eia! 45 Frutos de ferro e til da rvore-fbrica cosmopolita!Eia! eia! eia! eia-h--!Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.Engatam-me em todos os comboios.Iam-me em todos os cais.

Giro dentro das hlices de todos os navios.Eia! eia-h! eia!Eia! sou o calor mecnico e a electricidade!

Eia! e os rails e as casas de mquinas e a Europa!Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, mquinas a trabalhar, eia!

Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-l!

Hup-l, hup-l, hup-l-h, hup-l!

H-la! He-h! H-o-o-o-o-o!

Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!

.Ah no ser eu toda a gente e toda a parte!

lvaro de Campos, "Ode Triunfal",

1. Justifique a utilizao dos parnteses na primeira estrofe, referindo as temticas nela abordadas e estabelecendo uma relao com as estrofes subsequentes.2. Refira um elemento simbolicamente representativo da velocidade e do progresso do mundo moderno presente no excerto e justifique a sua escolha.3. Aponte trs recursos expressivos relevantes na marcao discursiva do estado psicolgico do sujeito potico.4. Clarifique em que medida o tempo presente surge, no excerto em anlise, como fuso de todos os tempos.5. Explique o ltimo verso do poema.II

Escreva uma reflexo sobre a vida nas grandes cidades (duzentas a trezentas palavras)

SUGESTES DE RESOLUO

GRUPO I

1. Os parnteses que abrem e fecham a primeira estrofe assinalam uma incurso do sujeito potico pelo seu mundo interior. Nela so abordadas temticas de carcter pessoal e intimista, neste caso a evocao nostlgica da infncia - " pinheirais sombrios ao crepsculo, / Pinheirais onde a minha infncia era outra coisa / Do que eu sou hoje" (w. 7-9) - e a fatalidade da morte - "E havemos todos de morrer" (v. 6). Estas temticas surgem num aparte, sob a forma de discurso parenttico na primeira estrofe, que se diferencia daquele apresentado nas estrofes subsequentes, no qual se desenvolve, num tom violento, a apresentao desenfreada do mundo moderno - "Mas, ah outra vez a raiva mecnica constante! / Outra vez a obsesso movimentada dos nibus. / E outra vez a fria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios" (w. 10-12). A utilizao reiterada da expresso adverbial "outra vez" associada conjuno adversativa "mas" permite inferir que o sujeito potico apenas fez uma pausa, que surge entre parnteses num discurso sbrio e contido, na sua observao febril do mundo moderno e agitado que o rodeia.

2. O comboio, repetidamente referido ao longo das vrias estrofes do poema, simbolicamente representativo do mundo moderno, integrando materiais que so fruto da produo industrial humana, como o ferro, o ao, o alumnio, as chapas de ferro onduladas, elementos que surgem apostrofados no texto. Por outro lado, ao permitir a viagem rpida, o comboio torna possvel a reduo das distncias, unindo o Mundo.3. Ao longo de todo o poema transcrito, com excepo da primeira estrofe, o sujeito potico apresenta um estado psicolgico febril, quase histrico, detectvel em expresses como "raiva mecnica" (v. 10), "obsesso movimentada" (v. 11), "Giro, rodeio, engenho-me. / Engatam-me em todos os comboios. / Iam-me em todos os cais." (w. 47-49), "E/a/ sou o calor mecnico e a electricidade!" (y. 52). Assim, o seu discurso errtico, esfuziante, marcado por frases do tipo exclamativo, pelo uso de interjeies e de onomatopeias, de que so exemplo os versos "E/a todo o passado dentro do presente! / Eia todo o futuro j dentro de ns! eia! / Eia! eia! eia! / Frutos de ferro e til da rvore-fbrica cosmopolita!/ Eia! eia! e/a! eia-h--!" (w. 42-46).4. O sujeito potico refere o tempo presente no verso 42 "Eia todo o passado dentro do presente!". Aqui estabelece-se uma fuso entre o momento presente que comporta em si o tempo passado, do qual resulta. Por outro lado, no verso 43 "E/a todo o futuro j dentro de ns! eia!", o sujeito potico assume a presentificao do passado. Assim, os tempos passado e futuro no se antecedem nem sucedem numa perspectiva cronolgica sequencial, mas fundem-se no presente que surge ento como sntese de tudo o que foi e de tudo o que ainda no .5. O ltimo verso do poema - "Ah no ser eu toda a gente e toda a parte!" - apresenta o desejo de fuso do sujeito potico com todos os outros e com todos os lugares. Depois de um percurso de emoo e de exaltao crescentes, em que ele enumera de forma quase histrica mltiplos elementos da vida moderna e apresenta o momento presente como a fuso de todos os tempos, o sujeito potico manifesta a ambio de fuso fsica, aglomerando tudo o que existe em si, desejando assim extremar as sensaes vertiginosas, de sentir tudo em todos os momentos.

GRUPO IIISugesto de reflexo

A cidade , por definio, um local urbanizado habitado pelo homem que nela desenvolve as actividades que lhe so caractersticas. l que se encontram escolas, hospitais, bibliotecas, supermercados, cinemas, teatros, comrcio, servios sociais... Nesta medida, as cidades modernas exercem urna grande atraco, uma vez que. aparentemente, so os locais que oferecem uma maior qualidade de vida, dado que acompanharam, causaram at, o progresso tecnolgico, o que faz com que se tenham tornado cada vez maiores, mais funcionais e tambm mais povoadas.

Uma das solues para acomodar o nmero crescente de habitantes aquela que visionamos na imagem A: a construo de prdios cada vez mais altos, sugestivamente intitulados arranha--cus, em cidades servidas por redes virias em nmero crescente, que, teoricamente, facilitam as deslocaes. Vista de longe, tal como observamos na imagem A, a cidade assemelha-se a um local onde a vida parece fcil. Porm, a aproximao s suas ruas - aquilo que mostrado na imagem B - permite detectar as suas fragilidades.De facto, os habitantes da cidade vivem sob o signo da rapidez e do isolamento: movimentam-se do prdio onde, frequentemente, apenas pernoitam, sem criar qualquer tipo de relacionamento com os seus vizinhos, para, de manh cedo e depois de longo tempo passado em filas de trnsito que entopem as redes virias, se deslocarem aos seus locais de trabalho, apenas para cumprirem um ritual semelhante ao fim do dia. As ruas da cidade encontram-se regra geral vazias de calor humano e a pobreza, o abandono e a solido daqueles que no se integram na vida de trabalho tornam-se visveis.Assim, a vida na cidade revela-se perversa, na medida em que o conforto que parece prometer, quando vista de longe, resulta num pequeno - ou grande - sofrimento quotidiano para aqueles que habitam as suas ruas.

TESTE 5

Leia atentamente o seguinte texto:AH, UM SONETO...

Meu corao um almirante louco

que abandonou a profisso do mar

e que a vai relembrando pouco a pouco

em casa a passear, a passear...

No movimento (eu mesmo me desloco

nesta cadeira, s de o imaginar)

o mar abandonado fica em foco

nos msculos cansados de parar.

H saudades nas pernas e nos braos.

H saudades no crebro por fora.

H grandes raivas feitas de cansaos.

Mas - esta boa! - era do coraoque eu falava... e onde diabo estou eu agoracom almirante em vez de sensao?.

lvaro de Campos

1. Comente a expressividade da metfora que abre o poema, clarificando o sentido da imagem que ela ajuda a construir.2. Estabelea uma relao entre os espaos fsicos referidos no poema e o estado de esprito do sujeito potico.3. Clarifique em que medida a ltima estrofe traduz o problema existencial do sujeito potico.4. Explique a expressividade da pontuao utilizada.5. Relacione o ttulo do poema com as suas caractersticas formais e com a sua estrutura interna.

II

Lus de Sttau Monteiro pretende, com Felizmente H Luar!, levar o espectador a ter um olhar crtico para se aperceber e criticar as injustias e as opresses. (Texto expositivo-argumentativo de cento e cinquenta a duzentas e cinquenta palavras).

SUGESTES DE RESOLUOGRUPO I

1. O corao do sujeito potico surge inicialmente metaforizado como "almirante louco / que abandonou a profisso do mar". Verifica-se assim que o corao, tradicional e simbolicamente, encarado como a sede das emoes, renunciou ao papel que o caracteriza, tal como um almirante que abandona a vida no mar. Metaforicamente, o sujeito potico caracteriza-se como um ser incapaz de sentir. A metfora alarga-se na medida em que, no presente de afastamento das emoes, o sujeito potico personifica o seu corao, apresentando-o como um ser que relembra gradual e continuamente os sentimentos do passado. Deste modo, reduz a sua capacidade de sentir e deixa espao apenas para a memria da sensao.2. No poema so referidos dois espaos: o mar e a casa. O mar surge associado ao espao da vida, da experincia das sensaes, onde o corao (o almirante) pode desenvolver a sua profisso, isto , sentir. A casa o espao do imobilismo, do tdio, local onde existe a memria das sensaes, mas no a sua vivncia.3. O sujeito potico verifica que embora o seu discurso tenha como referente inicial o corao -"Meu corao um almirante louco", o processo de recuperao de emoes pela memria - "No movimento (,..) o mar abandonado fica em foco/nos msculos cansados de parar" (w. 5-8) - na realidade muito mais racional do que emocional. Nesta medida, a capacidade de processamento das emoes associada ao discorrer que percorre o soneto contraria aquilo que seria associvel ao corao e isto surpreende o sujeito potico - "e onde diabo estou eu agora / com almirante em vez de sensao" (w. 13-14). Assim, o sujeito potico caracteriza-se como um ser que tenta recuperar a capacidade de sentir, embora se revele incapaz de o fazer.4. Ao longo do poema utilizada uma pontuao diversificada que serve de suporte expressividade da linguagem. Assim, o uso das reticncias em "a passear, a passear..." (v. 4) traduz a recorrncia e lentido da eventualidade enunciada pela suspenso do discurso associada a um verbo que aponta para um evento lento e repetido, que permite a reflexo. Expressivo tambm o uso do ponto de exclamao em "esta boa!" (v, 12), uma vez que se trata de uma expresso interjectiva traduzindo a surpresa do sujeito potico no momento em que se d conta do percurso que a sua actividade reflexiva tomou, constatao que surge aliada ao uso de reticncias "era do corao / que eu falava..."(w. 12-13) que implica uma quebra na reflexo. A ltima frase do poema duplamente expressiva, uma vez que traduz a inquietao do poeta ao perceber que o seu pensamento seguiu um rumo autnomo e se sobreps capacidade de sentir: a frase interrogativa transmite a perplexidade do sujeito potico "e onde diabo estou eu agora /com almirante em vez de sensao?..."5. O poema em anlise um soneto, pelo que o ttulo - "Ah, um soneto..."- adequado Apresenta, por isso, a forma tpica deste tipo de composio potica, uma v? que se estrutura em duas quadras e dois tercetos, que respeitam a isometria do soneto enquanto forma potica estereotipada. Deste modo, todos os versos so decassilbicos, com esquema rimtico abab / cbcb l ded/ fe, com rima cruzada em todos os versos e interpolada entre os segundos versos dos tercetos. O poema respeita a estrutura interna desta forma potica, desenvolvendo um raciocnio ao longo das duas primeiras quadras e do primeiro terceto e uma concluso no ltimo terceto, normalmente designado por "chave de ouro".

GRUPO IISugesto de texto

A pea de Sttau Monteiro. Felizmente H Luar!, um drama pico, assente na tcnica do distanciamento histrico, representando um acontecimento ocorrido num passado histrico com pontos de contacto com o presente. Isto permite que o espectador observe a aco de um ponto de vista afastado e racional, reflicta e estabelea um paralelismo com o seu presente, sendo, assim, induzido a tomar conscincia e agir.Felizmente H Luar! expressa a revolta contra a opresso e a injustia social. O drama de Sttau Monteiro apresenta uma viso crtica da sociedade do sculo XIX, com o intuito de estabelecer uma ligao com o presente - a ditadura portuguesa dos anos 60 do sculo XX - e pr em evidncia a luta do homem contra a tirania, a opresso, a traio, a injustia e todas as formas de perseguio. pela apresentao das injustias e do jogo de interesses que presidiram priso e condenao morte do general Gomes Freire de Andrade que o dramaturgo estabelece um paralelismo entre a realidade oitocentista e a do seu prprio real quotidiano, para que, colocado perante o exemplo, o espectador se sinta compelido, quase obrigado, a reflectir criticamente sobre o que v e tome uma atitude de revolta e transformao da sua prpria realidade.Deste modo, Felizmente H Luar! visa, pelo exemplo distanciado no tempo, levar o espectador a tomar conscincia das injustias da sua sociedade, com o intuito de as eliminar.

TESTE 6

Leia atentamente o seguinte texto;

XLVI

Deste modo ou daquele modo,

Conforme calha ou no calha,

Podendo s vezes dizer o que penso,

E outras vezes dizendo-o mal e com misturas,

Vou escrevendo os meus versos sem querer,

Como se escrever no fosse uma coisa feita de gestos,

Como se escrever fosse uma coisa que me acontecesse

Como dar-me o sol de fora.Procuro dizer o que sinto

Sem pensarem que o sinto.Procuro encostar as palavras ideia

E no precisar dum corredor

Do pensamento para as palavrasNem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir,

O meu pensamento s muito devagar atravessa o rio a nado

Porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar.

Procuro despir-me do que aprendi,Procuro esquecer-rne do modo de lembrar que me ensinaram,

E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,

Desencaixotar as minhas emoes verdadeiras,

Desembrulhar-me e ser eu, no Alberto Caeiro,

Mas um animal humano que a Natureza produziu.E assim escrevo, querendo sentir a Natureza, nem sequer como um homem,

Mas como quem sente a natureza, e mais nada.

E assim escrevo, ora bem, ora mal,Ora acertando com o que quero dizer, ora errando,Caindo aqui, levantando-rne acol,Mas indo sempre no meu caminho como um cego teimoso.

Ainda assim, sou algum.

Sou o Descobridor da Natureza.Sou o Argonauta das sensaes verdadeiras.

Trago ao Universo um novo Universo

Porque trago ao Universo ele-prprio.Isto sinto e isto escrevo

Perfeitamente sabedor e sem que no vejaQue so cinco horas do amanhecerE que o Sol, que ainda no mostrou a cabeaPor cima do muro do horizonte,Ainda assim j se lhe vem as pontas dos dedos

Agarrando o cimo do muroDo horizonte cheio de montes baixos. Alberto Caeiro,

1. De entre as afirmaes seguintes, identifique aquela que completa a frase, de acordo com o poema.1.1. O texto prope uma arte potica. De acordo com o sujeito potico, escrever a) apresentar o resultado da experincia das sensaes.b) um acto espontneo e natural.

c) aprender pela sensao os segredos da Natureza.d) um esforo consciente para a transmisso das ideias.1.2. Quando o sujeito potico afirma "Nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir. / O meu pensamento s muito devagar atravessa o rio a nado / Porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar" (w. 14-16), isto significa quea) o pensamento dificultado pelas dvidas humanas.b) o pensamento no consegue processar a sensao.c) o convencional inibe a fruio plena do real pelos sentidos.d) o sujeito potico lentamente supera as inquietaes metafsicas.2. Explique em que medida o contacto com os homens um obstculo produo do sujeito potico.3. Clarifique o sentido do ltimo verso da quinta estrofe.4. Justifique a referncia final ao sol, ao horizonte e aos montes.5. Refira, apresentando uma fundamentao adequada, em que medida este poema utiliza uma linguagem caracterstica da poesia de Alberto Caeiro.

SUGESTES DE RESOLUO

GRUPO I1.1. b)1.2. c)2. O contacto com os homens faz com que o sujeito potico se sinta prximo deles e utilize a sua linguagem - "o fato que os homens o fizeram usar"(v. 16) - e isto inviabiliza a relao com a Natureza apenas pela sensao. Para ele. escrever "uma coisa que me acontecesse / Como dar-me o sol de fora" (w. 7-8), isto , um acto espontneo e natural, livre da interferncia do pensamento- "Procuro dizer o que sinto / Sem pensar em que o sinto" (w. 9-10) - e. nesta medida, o seu poema no deve traduzir a Natureza, mas apresent-la pela sensao, tal como ela - "E assim escrevo, querendo sentir a Natureza, nem sequer como um homem. / Mas como quem sente a natureza, e mais nada"(w. 23-24). Para o conseguir, o sujeito potico tem necessidade de se libertar do convenciona!, daquilo que apreendido pelo intelecto e no apenas experimentado plos sentidos uma vez que a intelectualizao inibe a utilizao plena destes: "Procuro despir-me do que aprendi. / Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, /E raspara tinta com que me pintaram os sentidos"(w. 17-19). Ao impedir o livre, natural e espontneo acesso das sensaes Natureza, o contacto com os homens tambm impeditivo de uma produo potica espontnea e natural.3. Ao estabelecer urna comparao entre si e "um cego teimoso" (v. 28). o sujeito potico alude incapacidade de seguir com segurana um percurso traado previamente e simultaneamente ao seu esprito de perseverana. Ento, acerta e erra, cai e levanta-se, mas nunca desiste de apresentar nos poemas que escreve a pura sensao que obtm da Natureza: " assim escrevo, querendo sentir a Natureza, nem sequer como um homem" (v. 23).4. Na ltima estrofe, o sujeito potico refere elementos concretos da Natureza para reiterar a ideia que em nenhum momento se isola deles e que continua a frui-los plos sentidos.5. A linguagem potica de Alberto Caeiro caracteriza-se essencialmente pelo uso de um vocabulrio repetitivo e de construes paralelsticas, presentes no poema em anlise, como por exemplo em "Como se escrever", "Como se escrever" (vv. 6-7). "Procuro dizer o que sinto / Sem pensar em que o sinto" (vv. 9-10). Tambm caracterstico deste poeta o uso da metfora, normalmente assente num vocabulrio concreto, como em "raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, / Desencaixotar as minhas emoes" (vv. 19-20). As estruturas sintcticas so, regra geral, simples, predominando a coordenao como em "Desembrulhar-me e ser eu, no Alberto Caeiro, / Mas um animal humano que a Natureza produziu" (vv. 21-22). A adjectvao escassa e o tempo verbal predominante o presente do indicativo.

GRUPO II

Sugesto de reflexo

O quadro de Pablo Picasso intitulado Mulher que chora e o enunciado de lvaro de Campos aproximam-se, uma vez que ambos representam uma nova perspectiva esttica, que nasce no inicio do sculo XX.A pintura exibe uma cabea feminina e o modo como esta representada traduz uma nova concepo de arte. Esta visvel no rosto fragmentado, na intercepo de figuras geomtricas, que quebram a suavidade das linhas, e ainda no entrecruzar de perspectivas que resultam de vises simultneas do objecto representado atravs de ngulos diversos. Deste modo, esta pintura exemplo de uma manifestao esttica que rompe com os conceitos tradicionais que perspectivavam a arte em obedincia a determinados critrios estticos, subordinados a uma concepo de beleza clssica, o que, no inicio do sculo XX, parecia insuficiente para permitir a expresso artstica do homem moderno. Por seu turno, o enunciado de Campos iguala a viso clssica do belo -simbolizado no ideal da beleza feminina corporizado pela esttua da Vnus de Milo - e a beleza contida numa frmula matemtica - o binmio de Newton. A apresentao inovadora do belo associado matemtica - fria e rigorosa - rompe tambm com a concepo clssica de arte, introduzindo uma viso moderna e revolucionria.Assim, quer Campos quer Picasso podem ser associados ao Modernismo do incio do sculo XX, que perspectivava, sobretudo, a ruptura com a viso tradicional de arte, associada harmonia clssica, aproximando-a da realidade do mundo moderno.TESTE 7

Leia atentamente o seguinte texto:

CALMA

Que costa que as ondas contam

E se no pode encontrar

Por mais naus que haja no mar?

O que que as ondas encontram

E nunca se v surgindo?

Este som de o mar praiar

Onde que est existindo?

Ilha prxima e remota,

Que nos ouvidos persiste,

Para a vista no existe.Que nau, que armada, que frota

Pode encontrar o caminho

praia onde o mar insiste,

Se vista o mar sozinho?Haver rasges no espaoQue dem para outro lado,E que, um deles encontrado,Aqui, onde h s sargao,Surja uma ilha velada,

O pas afortunadoQue guarda o Rei desterradoEm sua vida encantada?

Fernando Pessoa, "Mensagem

1. De entre as afirmaes seguintes, identifique aquela que completa a frase, de acordo com o sentido global do texto.1.1. Ao longo do poema, o sujeito poticoa) tenta encontrar uma ilha perdida no nevoeiro.b) pressente a existncia de uma realidade para alm do visvel.c) recebe informaes sobre as novas terras descobertas anunciadas pelo som das ondas.d) sonha com uma ilha encantada e um rei adormecido.

1.2. O poema apresentaa) um sonho de um futuro possvel.b) um presente de estagnao e de possibilidade.

c) um futuro possvel ligado ao rnar.d) o mar como potenciador do regresso de um passado de glria.2. Aponte a relao que se estabelece entre o sujeito potico e as ondas do mar.3. Explique, no contexto do poema, a expressividade do oxmoro que inicia a segunda estrofe.

4. Explique em que medida o achamenio do "Rei desterrado" ultrapassa os limites fsicos do espao.II

Num texto expositivo-argumentativo de cem a duzentas palavras, refira a importncia da tenso sinceridade/fingimento na poesia lrica de Fernando Pessoa ortnimo. Fundamente a sua opinio com argumentos que decorram da sua experincia de leitura de poemas deste autor.

SUGESTES DE RESOLUOGRUPO I1.1. b)1.2. b)2. As ondas do mar permitem ao sujeito potico relacionar-se com aquilo que est para l do real conhecido: "Que cosia que as ondas contam / E se no pode encontrar" (vv. 1-2), "O que que as ondas encontram / E nunca se v surgindo?" (vv. 4-5). Nesta medida, a proximidade do sujeito potico com o mar permite a aproximao do longe apenas pressentido pelo ecoar das ondas: "Este som de o mar praiar / Onde que est existindo?" (vv. 6-7). Associa-se, deste modo, a certeza de um real matria do sonho. Assim, sujeito potico e ondas esto em dois plos opostos: o negativo, do desconhecimento e da ausncia, e o positivo, do contacto e do conhecimento. Ora a relao que se estabelece entre ambos resulta da ligao ao desconhecido: aquilo que o poeta "no pode encontrar"e "nunca (...) v" contado e encontrado pelas ondas que o trazem at ele.3. A segunda estrofe inicia-se com o oxmoro "Ilha prxima e remota", sendo o nome "ilha" modificado por dois adjectivos com um sentido de tal forma antagnico que no podem ser aplicados em simultneo para caracterizar a mesma entidade, o que institui um paradoxo. Porm, esta aplicao dos dois modificadores antnimos torna-se possvel pelo sentido criado nos versos seguintes: "Que nos ouvidos persiste, / Para a vista no existe" (vv. 9-10). Desta forma, criada uma relao de proximidade com a ilha, pela apreenso sensorial da sua existncia atravs da audio, embora associada a um afastamento sensorial, pela viso. Em termos simblicos, a proximidade da ilha liga-se ao sonho sempre prximo e ecoado pelas ondas do mar e o afastamento relaciona-se com o conhecimento do real que se afasta do sonho.4. O "Rei desterrado" encontra-se numa "ilha velada", isto , inacessvel viso e o sujeito potico demonstra, ao longo do poema, a dificuldade - quase impossibilidade - de percorrer o caminho que a ela conduz: "Que nau, que armada, que frota /Pode encontrar o caminho / praia onde o mar insiste" (vv. 11-13). Embora, de certo modo, haja certeza da existncia do lugar onde o Rei se encontra, no parece possvel o seu adiamento plos meios reais, neste caso pela navegao pelo mar que circundar a tal ilha. O resgate s ocorrer se houver "rasges no espao / Que dem para outro lado" (vv. 15-16), ou seja, para um lado desligado do real, sendo o corte no espao aquilo que permitir a presentificao da ilha velada "Aqui, onde s h sargao" (m. 18). Deste modo, o achamento do "Rei desterrado" depende da concretizao do sonho e, consequentemente, do ultrapassar dos limites fsicos do espao.

GRUPO II

Sugesto de texto

A tenso sinceridade/fingimento um dos aspectos mais marcantes da produo lrica de Fernando Pessoa ortnimo. uma vez que, em grande medida, a define.De facto, o prprio poeta que. no poema "Autopsicografia", apresenta o conceito de poeta como fingidor: "O poeta um fingidor". Assim, a poesia marcada pelo fingimento potico. Esla ideia radica no pressuposto de tratamento, ou processamento, potico das emoes genunas, isto . sinceras, que so sempre o ponto de partida para a produo potica. Deste modo, o poeta "chega a fingir que dor a dor que deveras sente", e defende-se, poeticamente, de acusaes de falsidade ("Dizem que tinjo ou que minto tudo o que escrevo") ao afirmar que os seus sentimentos, no deixando de ser sinceros, so experimentados pela razo e no - tal como era a concepo da poesia tradicional supostamente marcada pela sinceridade - pelo corao ("Eu simplesmente sinto com a imaginao, no uso o corao"}.Assim, assumida na poesia de Fernando Pessoa ortnimo uma arte potica assente na transformao, pelo uso do fingimento potico, dos sentimentos sinceros, criando a tenso sinceridade/fingimento que marca de forma iniludvel a poesia deste autor.

TESTE 8

Leia atentamente o seguinte texto:

Quo doce o louvor e a justa glria

Dos prprios feitos, quando so soados!

Qualquer Nobre trabalha que em memria

Vena ou iguale os grandes j passados.

As envejas da ilustre e alheia histria

Fazem mil vezes feitos sublimados.

Quem valerosas obras exercita,

Louvor alheio muito o esperta e incita.

D a terra Lusitana Cipies,

Csares, Alexandros, e d Augustos;

Mas no lhe d, contudo, aqueles does

Cuja falta os faz duros e robustos.

Octvio, entre as maiores opresses,

Compunha versos doutos e venustos

(No dir Flvia, certo, que mentira,

Quando a deixava Antnio por Glaphyra).

Vai Csar sojugando toda Frana

E as armas no lhe impedem a cincia;

Mas, nua mo a pena e noutra a lana,

Igualava de Ccero a eloquncia.

O que de Cipio se sabe e alcana

nas comdias grande experincia.

Lia Alexandre a Homero de maneira

Que sempre se lhe sabe cabeceira.

Enfim, no houve forte Capito

Que no fosse tambm douto e ciente,

Da Lcia, Grega ou Brbara nao,

Seno da Portuguesa to-somente.

Sem vergonha o no digo: que a rezo

De algum no ser por versos excelente

no se ver prezado o verso e rima,

Porque quem no sabe arte, no na estima.Por isso, e no por falta de natura,

No h tambm Virglios nem Homeros;

Nem haver, se este costume dura,

Pios Eneias nem Aquiles feros.

Mas o pior de tudo que a ventura

To speros os fez e to austeros,

To rudos e de ingenho to remisso,

Que a muitos lhe d pouco ou nada disso.

s Musas agardea o nosso GamaO muito amor da ptria, que as obrigaA dar aos seus, na lira, nome e famaDe toda a ilustre e blica fadiga;Que ele, nem quem, na estirpe, seu se chama,Calope no tem por to amiga,Nem as Filhas do Tejo, que deixassemAs telas de ouro fino e que o cantassem.Porque o amor fraterno e puro gosto

De dar a todo o Lusitano feito

Seu louvor, somente o prosuposto

Das Tgides gentis, e seu respeito.

Porm no deixe, enfim, de ter desposto Ningum a grandes obras sempre o peito

Que, por esta ou por outra qualquer via,

No perder seu preo e sua valia. Lus de Cames, Os Lusadas- Canto V

1. De entre as afirmaes seguintes, identifique aquela que completa a frase, de acordo com o texto.1.1. Ao longo das estncias, o poetaa) apresenta as fontes de inspirao dos poetas.b) retrata os heris da literatura universal.c) crtico em relao ao desinteresse dos lusitanos pelas letras.d) tece um elogio aos heris lendrios nascidos fora da terra Lusitana.

1.2. Cipio, Csar, Alexandre, Octvio e Ccero so semelhantes, pois todos erama) homens experientes e sensatos.b) grandes homens que valorizavam as letras.c) leitores assduos de Homero.d) grandes guerreiros e grandes poetas.2. Explique o sentido global das estncias 97 e 98.3. Clarifique a relao de Vasco da Gama com a poesia.4. Aponte, fundamentando-se no poema, as razes que o poeta aponta para cantar os feitos lusitanos.II

1. De entre as afirmaes seguintes, escolha a alnea que corresponde alternativa correcta.1.1. Em "Qualquer Nobre trabalha que em memria l Vena ou iguale os grandes j passados"(est. 92, w. 3-4) o "que" a) um pronome relativo.b) uma conjuno subordinativa completiva.c) uma conjuno subordinativa concessiva.d) uma conjuno subordinativa final.1.2. Na orao "Mas no lhe d, contudo, aqueles does / Cuja falta os faz duros e robustos" (est. 95, w. 3-4) a dupla adjectivao tem a funo sintctica dea) atributo.b) modificador do nome no restritivo.c) predicativo do complemento directo.d) predicativo do sujeito.1.3. Em "Lia Alexandre a Homero"(est. 96, v. 7), o sujeito da orao a) composto.b) Alexandre.c) Homero.d) nulo subentendido.

2. Reescreva os quatro primeiros versos da estncia 95, procedendo a todas as alteraes necessrias, sem desvirtuar o sentido original, de modo a obter uma orao subordinada concessiva.

3. Explique de que modo a afirmao quem no sabe arte, no na estima adquire um valor genrico.

4. Explique a utilizao do presente do indicativo ao longo da estncia 96.

III

Considere a afirmao de Jacinto Prado Coelho:

Em contraste com o realismo d Os Lusadas, a Mensagem reage pela altiva rejeio a um Real oco, absurdo, intolervel, propondo-nos em seu lugar a nica coisa que vale a pena: o imaginrio

Partindo da afirmao transcrita e fundamentando-se na sua experincia de leitura de Os Lusadas e da Mensagem, redija um texto expositivo-argumentativo, com duzentas a trezentas palavras.

SUGESTES DE RESOLUOGRUPO I1.1. c)1.2. b)2. A estncia 97 conclui a ideia apresentada nas que a precedem, salientando o exemplo de grandes heris guerreiros universais que nunca abandonaram o cultivo das letras - "Enfim, no houve forte Capito / Que no fosse tambm douto e ciente" (vv. 1-2). Desta globalizao, o poeta exclui os portugueses - "Seno da [nao] Portuguesa to-somente" (v. 4). Os heris lusitanos no tm por hbito o cultivo das letras e no so por elas louvados. Isto deve-se, no entender do poeta, ausncia de devoo em relao s letras, proveniente da ignorncia: "a rezo / De algum no ser por versos excelente / no se ver prezado o verso e rima, / Porque quem no sabe arte, no na estima" (w. 5-8). A estncia 98 apresenta a dependncia que os heris lendrios, referidos por metonmia como "Pios Eneias" e "Aquiles feros", tm em relao aos poetas picos, metonimicamente "Virglios" e "Homeros": a inexistncia dos segundos leva inexistncia dos primeiros, pois se ningum cantar, por via da poesia pica, os seus feitos hericos, estes sero, logicamente, ignorados. Porm, o poeta explica que no por falta de dotes poticos que no se louvam os heris - "e no por falta de natura"(v, 1). sim o desinteresse pela poesia que leva a que se no cantem os heris, e considera lastimvel a pouca, ou nenhuma, preocupao que os prprios heris tm em relao divulgao dos seus feitos -"Mas o pior de tudo que (...) a muitos lhe d pouco ou nada disso"(vv. 5-8).3. Vasco da Gama pouco valoriza a poesia: "Que ele, nem quem, na estirpe, seu se chama, / Ca/ope no tem por to amiga" (est. 99, vv. 5-6).4. Assumindo que os lusitanos no apreciam as letras - "quem no sabe arte, no na estima" (est. 97, v. 8) - e que os prprios heris lusitanos no se importam particularmente com a divulgao dos seus feitos - "Que a muitos lhe d pouco ou nada disso" (est. 98, v. 8) - o poeta canta a sua ptria por "amor fraterno e puro gosto / De dar a todo o Lusitano feito / Seu louvor" (est. 100, vv. 1-3). Isto significa que a sua poesia pica se fundamenta exclusivamente no seu patriotismo, no esperando, por isso, qualquer recompensa.GRUPO II

1.1. d)

1.2. c)1.3. b)1.4. c)2. D a terra Lusitana Cipies, Csares, Alexandros, e d Augustos, embora no lhe d, contudo, aqueles does cuja falta os faz duros e robustos.3. Na expresso "quem no sabe arte, no na estima", o sujeito - quem no sabe arte - identificvel com todos aqueles que no sabem arte, sendo, por conseguinte, efectuada uma operao de quantificao que cria um universo de referncia que engloba todas as entidades do mundo real que partilham a caracterstica de no saberem arte. Assim, a proposio expressa pelo predicado sintctico - no na estima - aplicvel a todas as entidades que possuem a caracterstica indicada, sendo, portanto, enunciada uma frase genrica,4. Na estncia 96, o presente do indicativo aparece em alternncia com o pretrito, de que , sobretudo, exemplo o pretrito imperfeito do indicativo. A primeira ocorrncia do presente surge em "as armas no lhe impedem a cincia", associada aco de Csar representada atravs da conjugao perifrstica "Vai Csar sojugando". O seu uso adequado representao de uma eventualidade que se assume como durativa, embora sem projeco no presente da enunciao. Assim, ambas as formas verbais representadas podem ser facilmente parafraseadas por formas do imperfeito, igualmente vlidas para a traduo do aspecto durativo das eventualidades ("ia Csar sojugando"e "as armas no lhe impediam a cincia'}. As seguintes ocorrncias do presente do indicativo - "O que de Cipio se sabe e alcana" e "Que sempre se lhe sabe cabeceira"- projectam as eventualidades referidas num tempo alargado que engloba o presente do momento da enunciao e no qual o enunciador assume a partilha dos estados enunciados nas proposies - saber e alcanar (conhecer) - que se reportam ao conhecimento presente de eventualidades passadas.GRUPO III

Sugesto de textoMensagem e Os Lusadas so obras que apresentam vrios aspectos em comum, salientando--se o facto de ambas se debruarem e glorificarem, ainda que distintamente, a Histria de Portugal.Cames e Pessoa reconhecem o apagamento ptrio e desejam a sua renovao. Na obra camoniana, as geraes precedentes surgem na sua faceta herica e paradigmtica, enquanto Pessoa apresenta indivduos na sua vertente mtica. Em Cames regista-se uma formulao histrica, concebida numa perspectiva humanista, em que o homem capaz de se transcender, de derrotar todos os gigantes da ignorncia e o medo do desconhecido, simbolizados pelo Adamastor, e de se libertar "da lei da morte". Mensagem concebida de uma forma simblica, sendo o homem encarado como o ente capaz de cumprir o sonho. No h heri na obra pessoana, apenas o mito, que, tal como Ulisses, sem existir, constri o real. J o heri camoniano todo o colectivo que constitui o povo portugus.Refira-se que os tempos de produo dos poemas so distintos. Cames escreveu a sua obra em pleno Renascimento, segundo modelos clssicos, dedicando-a a D. Sebastio, rei de Portugal que, no momento do encerramento do ciclo dos Descobrimentos e do incio de decadncia, foi encarado como esperana de renovao do pas. Por seu turno, a obra pessoana encara D. Sebastio, j fisicamente morto, como o Desejado, o mito redentor de uma ptria feita "nevoeiro", interessando a Pessoa a vertente de sonho, capaz de construir o real.Embora as duas obras sejam marcadas pelo patriotismo destes poetas, Os Lusadas contm uma faceta realista, exaltando a nao com base nos feitos hericos do seu povo, enquanto a Mensagem apresenta o endeusamento do mito como grmen de renovao da ptria, tendo uma projeco futura, assente no sonho.TESTE 9

Leia atentamente o seguinte texto:BERESFORD

(Rindo-se)Troco os meus servios por dinheiro, Excelncia. H quem os troque por uns anos no poder e h quem os troque por outras coisas. Haveis de compreender, senhores, que esta no a minha ptria e que no por patriotismo que vos estou reorganizando o exrcito. Mas... deixemo-nos de conversas inteis! No interessa agora, saber o que leva cada um de ns a actuar desta ou daquela maneira. O que interessa saber qual a melhor forma de sufocar a revolta que se prepara.

(Sorri)Senhores, afirmo-vos em nome dos meus 16 000$00 anuais, que farei tudo o que for necessrio para os continuar a receber!

D. MIGUELConto consigo, Excelncia!

PRINCIPAL SOUSA

No lhe oculto que no gosto de si, Sr. Marechal, mas sei que no momento presente preciso do seu auxlio.(Para D. Miguel)

Quem ser, Sr. Governador, o chefe da conjura?D. MIGUEL

(Rindo-se)Que importa? Essa pergunta, Reverncia, no digna dum estadista. Que um irresponsvel queira saber quem o chefe duma conspirao, entende-se, mas que um estadista tambm o queira, j no.

Perante uma conjura, o estadista esfrega as mos, Reverncia, e agradece ao Senhor a oportunidade de aniquilar alguns inimigos de Deus e do Estado.

(Levanta-se)A pergunta ; quem dever, ou convir, que tenha sido o chefe da revolta?

PRINCIPAL SOUSA

E condena-se um inocente?

D. MIGUEL

No h inocentes, Reverncia. Em poltica, quem no por ns, contra ns.(Entra Vicente pela esquerda do palco.)

VICENTE

Senhores! Senhores! Ontem noite entraram mais de dez pessoas em casa de...D. MIGUEL

Cuidado!

VICENTE

(Atrapalhado. Olhando sua volta.)Entraram mais de dez pessoas na casa que fui incumbido de vigiar..

D. MIGUEL

Conhece-lhes os nomes?VICENTE

S de sete, senhor.D. MIGUEL

(Para Vicente)

Est bem. Continue

(D, Miguel, depois de Vicente ter sado pela esquerda do palco, prossegue para os governadores)

A questo que temos de resolver, Excelncias, , portanto, bem simples. Consiste apenas em chegarmos a acordo acerca da pessoa que mais nos convm que tenha sido o 50 chefe da conjura. Lus de Sttau Monteiro. Felizmente H Luar!

1. De entre as afirmaes seguintes, identifique aquela que completa a frase, de acordo com o sentido global do texto.1.1. O excerto transcrito apresentaa) trs estadistas que tentam encontrar os responsveis de uma conjura.b) trs estadistas que buscam a manuteno dos seus interesses pessoais.c) quatro figuras aliadas na luta contra um grupo de conjurados.d) trs estadistas tentando solucionar um problema de estado.1.2. O excerto transcrito importante para o desenvolvimento da aco da pea, poisa) permite caracterizar plenamente a figura do Marechal Beresford.b) apresenta o delinear do plano para a priso de Gomes Freire de Andrade.c) apresenta Vicente na sua escalada social.d) clarifica a relao hierrquica entre os trs estadistas.2. Caracterize, com base nas trs primeiras falas, a relao entre Beresford e os seus dois interlocutores, D. Miguel e o principal Sousa.

3. Explique a funo da nica nota que se l margem do dilogo, relativa ao principal Sousa.4. Indique, baseando-se no excerto transcrito, dois dos traos caracterizadores da personagem Vicente.5. "Quem ser, Sr. Governador, o chefe da conjura?" (l. 19)Comente a resposta de D. Miguel a esta questo, tendo em conta que a resposta dada em dois momentos.

II

Considere a seguinte afirmao:

Um poeta j falou, vendo o homem e seu caminho: "o lar do passarinho o ar, e no o ninho". E eu voei... Eu passei um tempo fora, eu passei um tempo longe. No importa quanto tempo, no importa onde. Num lugar mais frio, ou mais quente de repente, onde a gente esquisita, um lugar diferente. Letra e msica de Gabriel, o PensadorApresente uma dissertao sobre as questes levantadas pela afirmao transcrita. Redija um texto bem estruturado, de duzentas a trezentas palavras, fundamentando-se em leituras que tenha realizado. Junto com o seu texto deve apresentar o respectivo plano da dissertao

SUGESTES DE RESOLUOGRUPO I1.1. b)1.2. b)2. Este excerto apresenta D. Miguel, Beresford e o principal Sousa a prepararem um plano de represso contra inimigos polticos, a pretexto dos rumores de uma conjura em marcha. A interveno de Vicente, dando conta da vigilncia exercida sobre a casa que factos anteriores indicam ser a do general Gomes Freire de Andrade, cria o suspense, O clmax ser atingido nas cenas subsequentes, no final do primeiro acto, quando o general indicado como o inimigo a aniquilar e acusado, sem provas, de ser o chefe da conjura.

3. Esta nota retira qualquer ambiguidade acerca da personagem do principal Sousa, antecipando a revelao da hipocrisia que subjaz ao escrpulo moral que as suas falas falsamente transmitem. A funo desta nota, semelhante de outras do mesmo tipo, nesta pea, a de orientar a interpretao das atitudes e comportamentos da personagem (reforando a informao das indicaes cnicas que acompanham as falas).4. Vicente tem, entre outros, os seguintes traos caracterizadores:- uma personagem secundria, que surge em cena para apresentar o relatrio da sua vigilncia policial (mostrando que a cilada montada j est em curso);- representa a polcia poltica, que serve os intuitos repressivos do poder;- uma personagem cuja interveno produz efeitos na dinmica cnica, ao introduzir uma alterao de ritmo no dilogo e ao contribuir para a criao de suspense relativamente ao nome do chefe da conjura;5. A primeira rplica de D. Miguel questo do principal Sousa explicita o pensamento que subjaz a sua aco poltica, fundado na prepotncia e na ausncia de escrpulos. De facto, define a notcia de uma conjura como um ptimo pretexto para aniquilar os seus inimigos polticos - que ele aponta como sendo "inimigos de Deus e do Estado" (associando assim a Igreja, de que representante o principal Sousa, aos seus interesses). Em consequncia, reformula a questo colocada pelo principal Sousa, substituindo a forma verbal "ser" por "convir" "que tenha sido". Torna claro que apenas o move a sua mesquinha convenincia poltica, ignorando quaisquer outros valores.Na ltima fala, passa a aplicar o seu pensamento poltico quela situao concreta, definindo que cabe aos trs poderes aliados - poltico, militar, religioso - chegarem a acordo sobre a pessoa que mais lhes convm aniquilar, para designarem como chefe da revolta.

GRUPO IIISugesto de planoTese; o homem deve cumprir a sua natureza pelo abandono do conforto.Argumentos:- o conforto limita o homem;- a viagem amplia o conhecimento humano;- exemplos de leituras: Mensagem...Concluso: o homem cumpre-se pelo abandono do lar.

Sugesto de dissertao

A afirmao do msico Gabriel, o Pensador, traduz, de forma metafrica, a necessidade de o ser humano procurar a felicidade fora do conforto do seu lar, tal como o passarinho deve abandonar o conforto do ninho e voar, sujeito a enfrentar perigos e obstculos. No ar est o seu lar, o que significa que a sua natureza o voo.Tambm o homem, por aproximao do poeta, deve partir. Esta partida permite-lhe aceder a diferentes realidades e, como consequncia, ampliar o seu conhecimento do mundo. O conforto inibe o cumprimento da natureza humana, pois restritivo em relao ampliao do saber, uma vez que, sentindo-se bem, o homem se julga completo, sem ter noo da magnificncia da realidade que existe fora do lar nem da dimenso real da sua incompletude.Esta questo atravessa a cultura humana e surge frequentemente traduzida na literatura. Assim, por exemplo, a obra pessoana Mensagem apresenta essa ideia atravs do lamento do poeta em relao queles que se sentem felizes no conforto do lar em "Triste de quem vive em casa contente com o seu lar". No entender do poeta, esta satisfao leva a uma vida que apenas dura, mas que no realmente vida, uma vez que no cumpre a natureza humana.Para cumprir a sua condio, o homem deve, tal como o passarinho, assumir o espao fora do conforto do lar como o seu verdadeiro lar, isto , o espao de habitao e projeco da sua verdadeira natureza.Teste 10

Leia atentamente o seguinte texto:

Grita o povinho furiosos improprios aos condenados, guincham as mulheres debruadas dos peitoris, alanzoam os frades, a procisso uma serpente enorme que no cabe direita no Rossio e por isso se vai curvando e recurvando como se determinasse chegar a toda a parte ou oferecer o espectculo edificante a toda a cidade, aquele que ali vai Simeo de Oliveira e Sousa, sem mester nem benefcio, mas que do Santo Ofcio declarava ser qualificador, e sendo secular dizia missa, confessava e pregava, e ao mesmo tempo que isto fazia proclamava ser herege e judeu, raro se viu confuso assim, e para ser ela maior tanto se chamava padre Teodoro Pereira de Sousa como frei Manuel da Conceio, ou frei Manuel da Graa, ou ainda Belchior Carneiro, ou Manuel Lencastre, quem sabe que outros nomes teria e todos verdadeiros, porque deveria ser um direito do homem escolher o seu prprio nome e mud-lo cem vezes ao dia, um nome no nada, e aquele Domingos Afonso Lagareiro, natural e morador que foi em Portei, que fingia vises para ser tido por santo, e fazia curas usando de bnos, palavras e cruzes, e outras semelhantes supersties, imagine-se, como se tivesse sido ele o primeiro, e aquele o padre Antnio Teixeira de Sousa, da ilha de S. Jorge, por culpas de solicitar mulheres, maneira cannica de dizer que as apalpava e fornicava, decerto comeando na palavra do confessionrio e terminando no acto recato da sacristia, enquanto no vai corporalmente acabar em Angola, para onde ir degredado por toda a vida, e esta sou eu, Sebastiana Maria de Jesus, um quarto de crist-nova, que tenho vises e revelaes, mas disseram-me no tribunal que era fingimento, que ouo vozes do cu, mas explicaram-me que era efeito demonaco, que sei que posso ser santa como os santos o so, ou ainda melhor, pois no alcano diferena entre mim e eles, mas repreenderam-me de que isso presuno insuportvel e orgulho monstruoso, desafio a Deus, aqui vou blasfema, hertica, temerria, amordaada para que no me ouam as temeridades, as heresias e as blasfmias, condenada a ser aoitada em pblico e a oito anos de degredo no reino de Angola, e tendo ouvido as sentenas, as minhas e mais de quem comigo vai nesta procisso, no ouvi que se falasse da minha filha, seu nome Blimunda, onde estar, onde ests Blimunda, se no foste presa depois de mim, aqui hs-de vir saber da tua me, e eu te verei se no meio dessa multido estiveres, que s para te ver quero agora os olhos, a boca me amordaaram, no os olhos, olhos que no te viram, corao que sente e sentiu, corao meu, salta-me no peito se Blimunda a estiver, entre aquela gente que est cuspindo para mim e atirando cascas de melancia e imundcies, ai como esto enganados, s eu sei que todos poderiam ser santos, assim o quisessem, e no posso grit-lo, enfim o peito me deu sinal, gemeu profundamente o corao, vou ver Blimunda, vou v-la, ai, ali est, Blimunda, Blimunda, Blimunda, filha minha, e j me viu, e no pode falar, tem de fingir que me no conhece ou me despreza, me feiticeira e marrana ainda que apenas um quarto, j me viu, e ao lado dela est o padre Bartolomeu Loureno, no fales, Blimunda, olha s, olha com esses teus olhos que tudo so capazes de ver, e aquele homem quem ser, to alto, que est perto de Blimunda e no sabe, ai no sabe no, quem ele, donde vem, que vai ser deles, poder meu, pelas roupas soldado, pelo rosto castigado, pelo pulso cortado, adeus Blimunda que no te verei mais, e Blimunda disse ao padre, Ali vai minha me, e depois, voltando-se para o homem alto que lhe estava perto, perguntou, Que nome o seu, e o homem disse, naturalmente, assim reconhecendo o direito de esta mulher lhe lazer perguntas, Baltasar Mateus, tambm me chamam Sete-Sis.Jos Saramago. Memorial do Convnio1. Estabelea um contraste entre as personagens colectivas e aquelas que surgem individualizadas.2. Comente a expressividade presente na imagem "a procisso uma serpente enorme que no cabe direita no Rossio e por isso se vai curvando e recurvando" (\\. 2-3).3. Caracterize a tenso emocional que marca Sebastiana ao longo do excerto.4. Explique em que medida que o tom irnico que caracteriza o excerto ajuda a construir a postura critica do narrador em relao aos eventos narrados.5. Aponte e clarifique a simbologia que marca o primeiro encontro entre Baltasar e Blimunda.II

1. Explique o processo de formao do lexema "recurvando" e clarifique a alterao semntica produzida.2. Clarifique o valor aspectual traduzido pela perifrstica na expresso "entre aquela gente que est cuspindo para mim e atirando cascas de melancia e imundcies" (II. 34-35).3. Reescreva o excerto do texto abaixo transcrito (cf. II. 21-25), fazendo todas as alteraes que entenda necessrias, de modo a transform-lo em discurso directo."que tenho vises e revelaes, mas disseram-me no tribunal que era fingimento, que ouo vozes do cu, mas explicaram-me que era efeito demonaco, que sei que posso ser santa como os santos o so, ou ainda melhor, pois no alcano diferena entre mim e eles, mas repreenderam-me de que isso presuno insuportvel e orgulho monstruoso, desafio a Deus"

III

Sbio o que se contenta com o espectculo do mundo. Ricardo ReisReflicta sobre a concepo de vida referida no verso de Ricardo Reis. Redija um texto bem estruturado, com duzentas a trezentas palavras, apresentando criticamente a filosofia de vida deste heternimo de Fernando Pessoa.

SUGESTES DE RESOLUOGRUPO I1. As personagens colectivas - o povo, as mulheres e os frades - aparecem descaracterizadas enquanto indivduos, surgindo como uma massa que assiste ao auto-de-f que actua de forma violenta na procisso dos condenados. Isto traduzido plos verbos gritar, guinchar e alanzoar, que transportam uma carga semntica forte, associada violncia e a uma certa selvajaria. As personagens individualizadas surgem identificadas plos nomes prprios e so o trio Baltasar, Blimunda e o frade Bartolomeu de Gusmo, que assistem procisso, numa atitude passiva. So tambm individualizados os condenados: Simeo de Oliveira, Domingos Lagareiro, Antnio Teixeira de Sousa e Sebastana Maria de Jesus, que integram passivamente a procisso e cujos crimes so enumerados pela voz narrativa.2. A metaforizao da procisso em serpente duplamente significativa. Por um lado, sugestiva do movimento sinuoso da procisso pelas ruas da cidade de Lisboa ("se vai curvando e recurvando", I. 3). Por outro lado, a metfora traduz o carcter malfico da procisso, tendo em conta a simbologia judaico-crist associada a este animal, que representa o pecado.3. Sebastiana apresenta uma tenso emocional caracterizada pela angstia crescente, que culmina com a expresso "enfim o peito me deu sinal, gemeu profundamente o corao" (II. 36-37). Esta angstia resulta da preocupao de no ver a sua filha - " corao meu, salta-me no peito se Blimunda a estiver" (II. 33-34) - sendo este o seu nico desejo - "que s para te ver quero agora os olhos" (II. 31-32) que se sobrepe ao temor da sua condenao ao degredo. Assim, o momento em que a personagem vislumbra a filha o culminar de toda a tenso -"vou ver B/imunda, vou v-la, ai, a/i est, Blimunda, Blimunda, Blimunda, filha minha" (\\. 37-38) -atestado pela utilizao da interjeio "ai'' e pela reiterao do nome prprio "Blimunda".4. O tom irnico caracteriza o discurso do narrador, sobretudo antes de este ceder o seu estatuto personagem. Assim, so irnicas, entre outras, as expresses "como se determinasse chegara toda a parte ou oferecer o espectculo edificante a toda a cidade" (II. 3-5), estando a ironia contida na utilizao do adjectivo "edificante", que tem, pela associao a um espectculo de degradao e de selvajaria, precisamente o valor contrrio. Sarcstico tambm o comentrio "imagine-se, como se tivesse sido ele o primeiro" (l. 15), efectuado a propsito de um dos condenados "que fingia vises para ser tido por santo, e fazia curas usando de bnos, palavras e cruzes, e outras semelhantes supersties" (II. 13-15), que pode ser entendido como uma crtica dirigida igreja Catlica que condenava pessoas por fazerem aquilo que ela prpria sempre fez desde a sua fundao. Este tom irnico permite ao narrador assumir uma postura crtica em relao aos eventos que apresenta.5. O primeiro encontro entre Baltasar e Blimunda assume uma dimenso simblica na medida em que ocorre no momento em que Blimunda perde a me e se torna autnoma, ao entrar no mundo adulto, estando, por conseguinte, apta a ter um marido. Por outro lado, este primeiro encontro, ocorrido na presena de uma procisso de condenados pelo Tribunal da Inquisio, vai ter a sua imagem especular no final do romance, j que a ltima vez que as personagens se encontram , precisamente, no auto-de-f onde Baltasar queimado.

II

1. "Recurvando" uma palavra formada pelo processo de afixao, tendo como ponto de partida a palavra base curva qual se associou o sufixo derivacional -ar, resultando no lexema curvar, ao qual se juntou o prefixo modificador r-. Este introduz a ideia de repetio, o que alterou o significado da palavra.2. A perifrstica traduz, neste caso, um valor continuado ou durativo de eventos iterativos: as aces de "cuspir" e de "atirar cascas de melancia".3. Sugesto de uma transformao possvelSebastiana declarou a medo:- Tenho vises e revelaes...O Inquisidor, com autoridade, afirmou:- Isso fingimento!- Ouo vozes do cu... - acrescentou Sebastiana.- Isso efeito demonaco! - esclareceu o Inquisidor.- Sei que posso ser santa como os santos o so, ou melhor ainda, pois no alcano diferena entre mim e eles. - disse ela. Isso presuno insuportvel e orgulho monstruoso. Isso um desafio a Deus! - repreendeu o Inquisidor.

GRUPO III

Sugesto de reflexo

Ricardo Reis apresenta na sua obra potica uma concepo de vida fundamentada na aceitao da regncia suprema do Destino. Assim, a filosofia deste poeta radica na calma aceitao da ordem das coisas, adoptando como seus os princpios clssicos do estoicismo, pela certeza de que tudo aquilo que o ser humano vive marcado pela inevitabilidade, pela certeza do seu fim ltimo e pela certeza de que a vida apenas um adiamento, breve, da morte. Como consequncia, qualquer esforo infrutfero, pois tudo efmero e a vida deve ser usufruda de acordo com o princpio do prazer, de acordo com a filosofia de Epicuro, ainda que seja entendido como um prazer suave e ligeiramente marcado pela tristeza da certeza de que , tambm ele, efmero. Nesta medida, a filosofia de vida de Reis marcadamente niilista, pretendendo a anulao do desejo, pelo sofrimento intil que provoca. O mundo deve ser entendido como um palco, no qual se desenrolam acontecimentos aos quais o homem verdadeiramente sbio deve apenas assistir, pois "quer gozemos, quer no gozemos, passamos como o rio", a felicidade conseguida apenas no momento e o prazer relativo que se obtm deriva simplesmente da anulao do sofrimento.Porm, esta filosofia de vida na realidade permite apenas uma no-vida, na medida em que o homem no vive, assiste passagem da vida, anulando a sua essncia humana, o sentir e a vontade e aceita apenas o desenrolar dos acontecimentos. Embora a adopo de uma filosofia niilista evite o sofrimento, evita tambm o usufruto da vida humana na sua totalidade e abrangncia e, nesta medida, no pode ser a soluo para o sofrimento inerente condio humana.

Teste 11

Elabore um texto de duzentas a duzentas e cinquenta em que reflicta sobre as questes sociais levantadas pela imagem apresentada, relacionando a sua reflexo com a pea Felizmente H Lua! de Lus de Sttau Monteiro.

Sugesto de reflexo

A figura apresenta uma cena de violncia, perpetrada por um grupo de soldados sobre um grupo de mulheres e crianas que tentam fugir. Embora no seja possvel identificar a data nem o local onde o evento teve lugar, possvel afirmar que este tipo de situao ocorreu e ocorre em qualquer lugar do Mundo no qual no sejam preservados os direitos fundamentais dos homens, nomeadamente o direito liberdade.De facto, estas situaes ocorreram - e ainda ocorrem - um pouco por todo Mundo, sempre que o poder das instituies se sobrepe aos direitos individuais e subsistem regimes opressivos que tentam silenciar as vozes discordantes, recorrendo, para tal, ao uso da fora das instituies militarizadas - o exrcito e a polcia - e da violncia, muitas vezes praticada de forma aleatria e indiscriminada, com o objectivo de criar um clima social de represso pelo medo. atravs destas estratgias que os governantes visam a manuteno de uma ordem social que lhes permita manter o poder e o usufruto de determinados privilgios, frequentemente abusivos.Esta situao ocorreu em Portugal em vrios momentos de que so exemplos o incio do sculo XIX e a ditadura que deteve o poder durante grande parte do sculo XX. Disto d conta a obra de Sttau Monteiro, Felizmente H Luar!, que, apresentando o Portugal oitocentista, espelha a represso dos anos sessenta. Nesta pea, a polcia surge claramente ao servio do poder, que pretende manter os seus privilgios, instilando o medo na populao para evitar a revolta.

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