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Revolução Socialista “Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” J. Posadas Ano 08 – Nº 21 – Janeiro de 2007 Jornal Posadista Continuação do Jornal Frente Operária, fundado em 1953 A aceleração do Crescimento – expõe à Nação, definitivamente, tudo aquilo que se pode esperar da atual equipe do governo Lula - todos os seus limites e possibi- lidades, no bem e no mal - em termos de idéias e estratégia econômica e social. Não propõe um projeto de desenvolvimento nacional po- pular, tão esperado desde o primeiro mandato do Governo Lula, mas medidas economicistas que estão longe de resgatar a grande divida so- cial com o povo brasileiro. È um plano conservador, minimalista, não toca em aspectos fundamentais no que se refe- re à distribuição de renda e em particular aos benefícios aos rentistas e ao setor financeiro, às multinacionais. Não altera os fundamentos do neoliberalismo. Tenta otimizar todos os me- canismos do atual estado capitalista, sua legis- lação e seus mecanismos, fazendo concessões a setores empresariais (desonerações) e restri- ções a setores sociais (limitando os aumentos salariais do setor público e “disponibilizando” os recursos dos trabalhadores representados pelo FGTS para investimentos). Não ataca as grandes fortunas, não controla o fluxo de capi- tais, não altera os poderes do Banco Central, não propõe acelerar a Reforma Agrária. Não toca nem “contingencia” os 160 bilhões do ser- viço da dívida, que só em um ano poderiam alavancar um salto no crescimento econômico. Valoriza, de certa forma, a iniciativa do Es- tado e do governo, raspa o fundo da panela dos recursos orçamentários possíveis para disponibilizá-los, reduz o teto do superávit pri- mário, exige melhor gerenciamento dos recur- sos, não compromete os gastos sociais (como os planos anteriores), não toca na previdência (embora crie um fórum para eventuais mudan- ças), mas depende essencialmente do aumento dos investimentos privados por meio das PPs e outros investimentos que, teoricamente, po- dem chegar a 500 bilhões de Reais em 4 anos. Num contexto que atualmente é favorável aos negócios capitalistas, com os indicadores macroeconômicos positivos, o PAC pode servir de estímulo para a produção e o consumo, pode inquestionavelmente desencadear mecanismos de crescimento econômico em setores como a cons- trução civil, a indústria eletroeletrônica e outros. Até mesmo algumas privatizações foram ofereci- das, como as concessões das rodovias, o aumen- to das facilidades de créditos e financiamentos, sinalizando “boa vontade” para com os “merca- dos”. Entretanto, não garante transformações soci- ais aceleradas, num país que tem 42 milhões de miseráveis, altos índices de criminalidade (60 mil mortos por armas de fogo anualmente), acidentes de trânsito (60 mil) e de trabalho (incalculável), além de todas as mazelas sociais históricas. O PAC e a necessidade urgente de medidas para as massas pobres O PAC não atende à necessidade de uma gran- de transformação. Um crescimento de 5% ao ano nada assegura. E é muito pouco para um governo que deve durar somente 4 anos. Não haverá, as- sim, “espetáculo do crescimento”. Não corresponde às expectativas criadas na América Latina para a redução da pobreza, passa de longe sobre a discussão sobre o “socialismo do século XXI”. Os países da América Latina que querem se desvencilhar da mazelas do neoliberalismo, pro- põem um Projeto de Desenvolvimento Nacional Popular, com investimentos pesados por parte das empresas estatais e simultâneamente, inves- timento pesados no combate a criminalidade, no combate ao analfabetismo, na saúde, na reforma agrária, na distribuição de renda e no desenvolvi- mento econômico em parceria com a iniciativa privada, mas sob o controle das empresas esta- tais. O Brasil vive a incrível situação de 70% da O PAC não prevê investimentos na erradicação rápida da pobreza e na aceleração de medidas sociais como acabar com o analfabetismo Foto: Norman Gall MERCOSUR Página 3 O Estado Revolucionário (J. Posadas) Página 4 “REVOLUÇÃO SOCIALISTA” na Internet www.revolucaosocialista.cjb.net [email protected] Oriente Médio contra o imperialismo Página 7 A Nona Sinfonia de Beethoven (J.Posadas) Página 8 economia ser controlada por não-residentes e um Banco Central, na prática, autônomo. É preciso discutir um outro modelo econô- mico onde o Estado soberano detenha as rédeas do desenvolvimento, rompendo com o controle das transnacionais e da submissão colonizadora da ditadura do capital financeiro. No mesmo ins- tante que o Governo Federal anuncia o PAC, o Banco Central faz uma demonstração de força inaceitável: mantém uma das maiores taxas de juros do planeta. Inviabilizando o desenvolvi- mento social de qualquer país. Contraditoriamente, em relação às medidas anunciadas pelo PAC, os compromissos do go- verno no âmbito do Mercosul são extremamente favoráveis a um novo ciclo de desenvolvimento, mas não podem esperar pela iniciativa privada (mesmo que esta tenha interesses nos grandes projetos de integração). O Estado deverá ser o empreendedor principal, e para isso, tem que mudar paradigmas neoliberais. Um exemplo é a proposta do Banco do Sul, que encontra resis- tências entre as burguesias brasileira e argentina, e as propostas da agenda social comum e à redu- ção da pobreza no Continente, feitas insistente- mente pela Venezuela, pela Bolívia e agora, pelo novo governo progressista do Equador. continua na página 2 Foto: Marcello Casal Jr./Abr

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RevoluçãoSocialista

“Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” J. Posadas Ano 08 – Nº 21 – Janeiro de 2007

Jornal

Posadista

Continuação doJornal

Frente Operária,fundado em 1953

A aceleração do Crescimento – expõe àNação, definitivamente, tudo aquiloque se pode esperar da atual equipe do

governo Lula - todos os seus limites e possibi-lidades, no bem e no mal - em termos de idéiase estratégia econômica e social. Não propõeum projeto de desenvolvimento nacional po-pular, tão esperado desde o primeiro mandatodo Governo Lula, mas medidas economicistasque estão longe de resgatar a grande divida so-cial com o povo brasileiro.

È um plano conservador, minimalista, nãotoca em aspectos fundamentais no que se refe-re à distribuição de renda e em particular aosbenefícios aos rentistas e ao setor financeiro,às multinacionais. Não altera os fundamentosdo neoliberalismo. Tenta otimizar todos os me-canismos do atual estado capitalista, sua legis-lação e seus mecanismos, fazendo concessõesa setores empresariais (desonerações) e restri-ções a setores sociais (limitando os aumentossalariais do setor público e “disponibilizando”os recursos dos trabalhadores representadospelo FGTS para investimentos). Não ataca asgrandes fortunas, não controla o fluxo de capi-tais, não altera os poderes do Banco Central,não propõe acelerar a Reforma Agrária. Nãotoca nem “contingencia” os 160 bilhões do ser-viço da dívida, que só em um ano poderiamalavancar um salto no crescimento econômico.

Valoriza, de certa forma, a iniciativa do Es-tado e do governo, raspa o fundo da panela dosrecursos orçamentários possíveis paradisponibilizá-los, reduz o teto do superávit pri-mário, exige melhor gerenciamento dos recur-sos, não compromete os gastos sociais (comoos planos anteriores), não toca na previdência(embora crie um fórum para eventuais mudan-ças), mas depende essencialmente do aumentodos investimentos privados por meio das PPs

e outros investimentos que, teoricamente, po-dem chegar a 500 bilhões de Reais em 4 anos.

Num contexto que atualmente é favorável aosnegócios capitalistas, com os indicadoresmacroeconômicos positivos, o PAC pode servirde estímulo para a produção e o consumo, podeinquestionavelmente desencadear mecanismos decrescimento econômico em setores como a cons-trução civil, a indústria eletroeletrônica e outros.Até mesmo algumas privatizações foram ofereci-das, como as concessões das rodovias, o aumen-to das facilidades de créditos e financiamentos,sinalizando “boa vontade” para com os “merca-dos”.

Entretanto, não garante transformações soci-ais aceleradas, num país que tem 42 milhões demiseráveis, altos índices de criminalidade (60 milmortos por armas de fogo anualmente), acidentesde trânsito (60 mil) e de trabalho (incalculável),além de todas as mazelas sociais históricas.

O PAC e a necessidadeurgente de medidas para as

massas pobres

O PAC não atende à necessidade de uma gran-de transformação. Um crescimento de 5% ao anonada assegura. E é muito pouco para um governoque deve durar somente 4 anos. Não haverá, as-sim, “espetáculo do crescimento”. Nãocorresponde às expectativas criadas na AméricaLatina para a redução da pobreza, passa de longesobre a discussão sobre o “socialismo do séculoXXI”.

Os países da América Latina que querem sedesvencilhar da mazelas do neoliberalismo, pro-põem um Projeto de Desenvolvimento NacionalPopular, com investimentos pesados por partedas empresas estatais e simultâneamente, inves-timento pesados no combate a criminalidade, nocombate ao analfabetismo, na saúde, na reformaagrária, na distribuição de renda e no desenvolvi-mento econômico em parceria com a iniciativaprivada, mas sob o controle das empresas esta-tais. O Brasil vive a incrível situação de 70% da

O PAC nãoprevêinvestimentosna erradicaçãorápida dapobreza e naaceleração demedidassociais comoacabar com oanalfabetismo

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MERCOSUR

Página 3

O EstadoRevolucionário

(J. Posadas)

Página 4

“REVOLUÇÃO SOCIALISTA”na Internet

www.revolucaosocialista.cjb.net

[email protected]

Oriente Médiocontra o

imperialismoPágina 7

A Nona Sinfoniade Beethoven

(J.Posadas)

Página 8

economia ser controlada por não-residentes eum Banco Central, na prática, autônomo.

É preciso discutir um outro modelo econô-mico onde o Estado soberano detenha as rédeasdo desenvolvimento, rompendo com o controledas transnacionais e da submissão colonizadorada ditadura do capital financeiro. No mesmo ins-tante que o Governo Federal anuncia o PAC, oBanco Central faz uma demonstração de forçainaceitável: mantém uma das maiores taxas dejuros do planeta. Inviabilizando o desenvolvi-mento social de qualquer país.

Contraditoriamente, em relação às medidasanunciadas pelo PAC, os compromissos do go-verno no âmbito do Mercosul são extremamentefavoráveis a um novo ciclo de desenvolvimento,mas não podem esperar pela iniciativa privada(mesmo que esta tenha interesses nos grandesprojetos de integração). O Estado deverá ser oempreendedor principal, e para isso, tem quemudar paradigmas neoliberais. Um exemplo é aproposta do Banco do Sul, que encontra resis-tências entre as burguesias brasileira e argentina,e as propostas da agenda social comum e à redu-ção da pobreza no Continente, feitas insistente-mente pela Venezuela, pela Bolívia e agora, pelonovo governo progressista do Equador.

continua na página 2

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Página 2 Janeiro 2007RevoluçãoSocialista

Expediente

“RevoluçãoSocialista”

Órgão da Corrente Posadista do PT –Regulamentada junto ao

Diretório NacionalContinuação do Jornal “Frente

Operária”, fundado em 1953.Diretor Responsável :

C. Almeida – Reg. Prof. 049/SPE-mail: [email protected]

Página Web:www.revolucaosocialista.cjb.net

Correspondências :

Brasília DFCirculação interna ao PT

J.Posadas, fundador eorganizador da IVInternacional Posadista

Vem da página 1

Todos os países que romperam com as po-líticas neoliberais, total ou parcialmente, estãose desenvolvendo a ritmos e níveis superioresao Brasil. Para não falar da China, cujo motoressencial da economia é o Estado.

Fica cada vez mais claro que a única possi-bilidade de sobrevivermos o ofensiva do imperi-alismo norte-americano decorrente do seu bru-tal endividamento e frequentes fracassos em suasguerras de ocupação como no Iraque, é a unifica-ção política e econômica dos países da Américado Sul. O Brasil tem sinalizado positivamenteneste sentido; mas muito longe da necessidadepara enfrentar os interesses dos grandes conglo-merados econômicos e dos países centrais, e danecessidade manifestada pelas mobilizações dasmassas no continente.

Pode-se prever que, se mantivermos a atualpolítica social-democrática por parte do Gover-no Federal, entraremos em crise pelo seuminimalismo, e pela sua incapacidade de res-ponder aos grandes problemas sociais. Não adi-antam os apelos de Lula em Davos pela “ajuda”aos países mais pobres, tampouco se pode es-perar muito das rodadas de Doha no âmbito daOMC. É muito pouco o que pode fazer o capi-talismo mundial em favor dos países periféri-cos, principalmente em matéria social e ambiental;embora se possam fazer grandes negócios, elesnão serão favoráveis às grandes massas pobresda Ásia, África e América Latina.

Portanto, é previsível uma ou mais crisescom relação à base social que elegeu Lula e comos movimentos sociais, por falta de resultadosna reforma agrária e em outros projetos, pois o

dade de representar os setores sociais, mobilizá-los, organizá-los. e conseguir assim pautar ogoverno e neutralizar a pressão neoliberal e asabotagem dos “aliados”. Nem o PED, nem osusto na campanha eleitoral com as trapalhadasrelacionadas com o dossiê Vedoim, foram cho-ques suficientes para criar no Partido um climarebelião das bases e de discussão e idéias quepossibilitassem a re-fundação do Partido. Ascrises sucessivas no decurso do processo eleito-ral, e agora a retomada do mandato do Presiden-te Berzoini, além das movimentações em tornoda eleição do presidente da Câmara, nada indicaum processo positivo de reconstrução da vidateórica, política e democrática no Partido, quecontinua comandado pela lógica da disputa detendências, e pelas bancadas parlamentares epetistas com mandato executivo. Não consola ofato que o PT tenha saído forte do processoeleitoral, trata-se de uma exigência bem maisprofunda e de alcance histórico.

Como se não bastasse, a nova fase degovernabilidade num governo chamado de coali-zão, no qual evidentemente se fazem mais con-cessões ao PMDB e aos partidos aliados emdetrimento do PT, além de negociações poucoclaras com os partidos de oposição, com a dis-tribuição de ministérios e outros postos-chaveda administração pública, tornam-se fundamen-tais a autonomia política e teórica, a capacidadetática de condicionamento e influência sobregoverno, mas não por meio de pressões pela“ocupação de espaços”, e sim pela capacidadede representar e mobilizar a sociedade, juntocom a de dar idéias sobre a economia, as leis, osacordos de integração sul-americanos, a políticainternacional, etc. Em suma, o PT deve diferen-ciar-se dos partidos da burguesia e da sua pró-pria alma social-democrática e refundar-se nosentido revolucionário da palavra, voltando àspróprias raízes e ir além delas, a partir de umafrente com os movimentos sociais. Se não fizerisso, está arriscando sofrer um enfraquecimentogradual e o desaparecimento do cenário políticocomo força de esquerda e popular. Este proces-so é evidente na sua atual composição social, noseu comportamento de “partido de poder” e demáquina eleitoral, e na falta de funcionamento,vida teórica e política, de formação de quadros, dedemocracia interna e relacionamento com os mo-vimentos sociais.

As perspectivas do novo governo

Há uma situação complexa, que não tende àestabilidade. Os eventuais êxitos econômicos dogoverno (que ainda precisam ser verificadosporque as elites até agora expressaram mais crí-

ticas que vontade de colaborar) poderiam em-purrar Lula para governar cada vez mais depen-dente da direita, num caminho conservador, con-duzindo o governo para uma navegação tranqüi-la, embora em detrimento das expectativas detransformação rápida provenientes da socieda-de e dos próprios eleitores. Isto poderia repre-sentar o fim das esperanças do PT de voltar agovernar o país ou pelo menos dar continuidadeàs tímidas medidas sociais que caracterizaram oseu governo: as candidaturas burguesas “legíti-mas” já estão à espreita para 2010. O PT nãotem candidatos fortes, à altura de uma figuracomo Lula, e o que é pior, não está criando nopaís o movimento de transformação que legiti-maria o surgimento de novas lideranças popula-res. Apostar na queda de braços interna e noprestígio de algumas personalidades, seria te-merário.

O país - representado por todas as suas for-ças sociais consolidado nas duas vitórias de Lulapara Presidência da República, não pode pautarsua ação em virtude de ser a maior economia docontinente. Não se trata de uma questãoeconomicista, e sim política e ideológica. O PT eo Governo Lula devem pautar sua ação, tendoem vista que o neoliberalismo fracassou e asmassas da América Latina compreenderam estanova situação e estão se mobilizando através deações de massas e até mesmo através do voto,elegendo governos de esquerda eprogressistas para aplicarem um programa dedesenvolvimento nacional e popular.

A saída para tal situação é uma re-fundaçãogeral das forças progressistas, de esquerda, dosmovimentos sociais aos sindicatos, das áreasmais à esquerda do PT às organizações popula-res das mais variadas, numa ampla frente dediscussões sobre a formação de um novo sujeitopolítico à altura e condizente com a esquerdizaçãodo processo latino-americano. Isso requer rigorteórico e analítico, uma forte vontade política e amáxima objetividade para entender as exigênciasde milhões de pessoas e camadas populares quedepositaram a esperança num governo que poderepresentar, ou uma guinada pela transformação,ou um grande fracasso com conseqüênciasimprevisíveis. Requer, sobretudo, uma visão econvicção que as massas do mundo já saíram dadefensiva, estão conquistando posições avança-das na Venezuela, na Bolívia, no Irã, no Equa-dor, em Cuba, nos fóruns sociais, nos movimen-tos antiimperialistas e contra a globalização capi-talista, nos movimentos ambientalistas, e nospróprios Estados Unidos, e que é preciso sairdo minimalismo e das posições defensivas paradar respostas à nova era de lutas que se abriu,principalmente no continente Sul-americano.

fluxo de lucros e os mecanismos de acumulaçãocapitalista (grupos internos e multinacionais nopaís) continuam gigantescos, sem qualquer redu-ção ou controle. Como imaginar então uma rever-são na distribuição da renda e uma aceleraçãodos processos de transformação social?

As dificuldades dos movimentossociais frente ao segundo mandato

do governo Lula.

Por outro lado, os movimentos sociais nãotêm sido capazes de articular iniciativas fortes,têm dificuldades em gerenciar esta relação com ogoverno, ao não conseguir condicioná-lo. Houveum avanço quando os movimentos deram apoioeleitoral a Lula, num comportamento tático cor-reto, superando uma forte rejeição inicial. Foipositivo porque interpretaram corretamente ocomportamento do eleitorado popular que ree-legeu Lula com 60% dos votos, e serviu parabarrar a revanche direitista. Agora, entretanto,não há espaço para continuar neste relaciona-mento contraditório – e dilatório das transfor-mações. Os movimentos sociais devem exercerum papel mais incisivo, e exigir do governo ocumprimento das metas sociais, da reforma agrá-ria, da distribuição de renda, sem tergiversações,para impor uma virada. Não há mais Palocci,não há mais contingenciamentos, não há maisdívida externa, não há mais perigos de“desestabilização”, todos álibis utilizados atéagora para a postergação das medidas favorá-veis à transformação social.

Portanto, restam somente os problemas re-ais e urgentes, e estes se chamam Reforma Agrá-ria, a redução radical das taxas de juros, a taxa-ção das grandes rendas e do patrimônio, a re-construção do papel do Estado para promovero desenvolvimento, a democratização da Mídia,os investimentos pesados em saúde, educação ehabitação popular, entre outras medidas. É ver-dade que o PAC focaliza no saneamento básicoe na habitação, mas muito dependente dos me-canismos do mercado, e portanto, dos lucros,quando deveriam ser prioridades nacionais dealta relevância social que não podem esperarpelos mecanismos de lucros dos capitalistas.Quanto aos investimentos em infra-estrutura,em si positivos, o efeito social dos mesmos di-lui-se em lucros dos capitalistas que serão osbeneficiários imediatos.

Quanto ao processo geral de governo, osmovimentos sociais devem ser muito mais inci-sivos, e para isso, precisam de idéias e capacida-de de mobilização. Idéias significam propostasestruturadas, reais e concretas de transformaçãosociais, políticas e econômicas que consigammudar a agenda do governo, contrastando com amesmice e incapacidade de inovar e a falta deaudácia da atual equipe de governo e do próprioPT, cuja bancada desde a crise de 2005 vem man-tendo um perfil no mínimo medíocre, para nãofalar do partido como tal, que vive numa eternadefensiva e todo voltado para dentro.

O PT deve promover umarevolução interna para sobreviver.

Quanto ao PT o seu dilema agora é recupe-rar a sua história, a sua autoridade, a sua capaci-

O presidente Lulanão pode esquecerque a classetrabalhadora e osmovimentossociais foram abase de apoiomais importante edecisiva para areeleição dogoverno.

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Página 3Janeiro 2007 RevoluçãoSocialista

MERCOSUL:sobe o tom político antiimperialista do bloco

A mais recente reunião de Cúpula doMercosul, no Rio de Janeiro, foiuma expressão clara da elevação

dos processos de intervenção das massasno continente sul-americano, formatandoum novo desenho político, uma nova com-posição e uma relação de forcas políticasque favorecem a luta contra o imperialismo.

Destaque-se que os presidentes que com-pareceram, em vários momentos chegarama polemizar em público, como ocorreu comEvo Morales, da Bolívia, que criticou a Co-lômbia por sua submissão ao imperialismo,provocando reação do presidente colom-biano, logo em seguida também criticadapor Hugo Chavez, que defendeu a posiçãoboliviana e ainda pediu que os debates dareunião fossem amplamente divulgados apúblico, quando normalmente, essas reu-niões não passam de discursos solenes,sem que a sociedade possa tomar conheci-mento do verdadeiro debate. Isto mudou, emudou graças a presença de presidentesclaramente de esquerda, como HugoChávez, Evo Morales e Rafael Correa, quepolitizam os debates, apresentam propos-tas mais além do convencional.

Nesta reunião no Rio de Janeiro, além detrazer acordos concretos, como o firmadoentre Brasil e Venezuela para a construçãodo gasoduto ligando o territóriovenezuelano ao nordeste brasileiro, tambémfoi debatida a proposta de criação de umBanco do Sul, apresentada por HugoChávez. Apesar de uma reação inicial de-fensiva por parte do Brasil, que contra-ar-gumentou propondo um novo uso dos ins-trumentos já existentes – o que indica aforte dependência que o governo brasilei-ro mantém ante a oligarquia financeira mun-dial – pouco a pouco estas propostas deintegração verdadeira, soberana, vão setornando conhecidas mais amplamente,para desespero da mídia capitalista, que,de modo incorrigível, não tem como impe-dir que Hugo Chavez se dirija ao público,fazendo debates públicos, agendas com lu-tadores de esquerda, como foi a visita aOscar Niemeyer. Pela sua malignidade in-trínseca, a mídia busca transformar Chavezno demônio, mas suas idéias penetram, al-cançam círculos mais amplos, como foi odiscurso que proferiu na AssembléiaLegislativa do Rio, onde recebeu a Meda-lha Tiradentes, quando defendeu o socia-lismo, e que foi televisionado pela TV Alerj.

A elevação do tom antiimperialista destareunião do Mercosul foi tão significativaque em certos momentos a mídia chegou adefender Lula como o mais sensato dospresidentes, mesmo quando Lula apresen-ta propostas de cooperação com a Bolívia

de Evo Morales, que esta mesma mídia com-bateu furiosamente quando os bolivianosnacionalizaram seus recursos energéticos.

Evidentemente, falta muito ao MERCOSULpara transformar-se de fato num instrumentoeficaz de integração e de impulso a um de-senvolvimento com justiça social na região,pois as economias mais importantes sãoainda controladas pelo capital externo, pe-las multinacionais, com o que muitas dasdisputas e divergências, são na verdade,expressão da disputa de mercado destasempresas, como por exemplo no conflitoentre Argentina e Brasil em função das fá-bricas de embalagens pet, fomentado poruma multinacional instalada na Argentinacontra outra instalada aqui.

Muito superior é a proposta do Banco doSul. Enquanto, atualmente os governos sul-americanos recebem taxas de juros baixasao depositarem em Bancos norte-america-nos, e pagam elevadas taxas de juros sesolicitarem empréstimos dos mesmos Ban-cos para aplicação de seu próprio capital,com o Banco do Sul essas reservas nacio-nais passariam a ser depositadas num ban-co próprio, livre de ingerências da oligar-quia financeira, em disputa com elas, e comcritérios de aplicação de massa de recursosem projetos prioritários para uma integraçãoque não obedeça à lógica das empresasmultinacionais, e que não se submeta àsconstantes e sistemáticas pressões do im-perialismo, que se opõe a qualquer formade integração.

É muito importante que os movimentos so-ciais, os sindicatos e partidos políticos tam-bém acompanhem essas reuniões apresen-tando propostas para estimular a integraçãocom a participação direta dos trabalhado-res, como, por exemplo, no financiamentoque o governo da Venezuela vem conce-dendo a várias fábricas ocupadas de SãoPaulo e Santa Catarina, inclusive compran-do antecipadamente sua produção, impe-dindo a falência e o desemprego, já quehaviam sido abandonadas pelos patrões.Tais experiências devem ser divulgadaspoderosamente como uma verdadeira es-cola de como a integração, com a participa-ção direta dos trabalhadores, encontrará umnível de objetividade e solidariedade capazde superar todos os limites que ainda pre-dominam nas agendas das reuniões ofici-ais de presidentes.

Os movimentos sociais do continente de-vem apoiar decididamente a intenção deHugo Chávez, agora sustentada firmemen-te por Rafael Correia, de criar o Banco doSul, face à hesitação dos demais governosde enfrentar a oligarquia financeira mundi-al. E que apresentem projetos concretospara a geração de empregos, a produção dealimentos, projetos na área do biodiesel,modelo energético que vem sendo gradual-mente controlado por empresasmultinacionais. O MST pode apresentarprojetos para a produção de sementes eco-

lógicas, os sindicatos podem apresentarprojetos para a recuperação de fábricas àbeira da falência ou já falidas, destinandosua produção a alvos concretos que bene-ficiem o desenvolvimento social da região.E estes projetos não necessariamente de-vem ter caráter nacional, podem ser insta-lados para beneficiar os paises mais po-bres, mais necessitados, como a Bolívia,onde faltam fábricas de sapatos, de mó-veis, de fogões, de eletro-domésticos, e ostrabalhadores podem fazer uma aliança di-reta com o Banco do Sul para a instalaçãode unidades produtivas onde for mais ne-cessário, mais adequado, mais convenien-te, segundo um planejamento de acordo àsnecessidades das massas exploradas, nãosob critérios mercadológicos. O Banco doSul, proposta que assustou a burguesianesta reunião do Mercosul pode inclusiveatrair os pequenos produtores rurais e ur-banos, hoje asfixiados pelos altos juros,sem qualquer condição de concorrêncianum mercado dominado pelos cartéis dogrande capital.

De todo modo, é absolutamente indispen-sável que a esquerda, os movimentos so-ciais, os sindicatos realizem uma ampla vidapolítica de discussão de todas essas pro-postas que estiveram em tela na reuniãodo Mercosul, sobretudo a partir da inter-venção mais elevada, pelo presidente HugoChávez, que sempre, com iniciativas auda-ciosas e concretas, demonstra que as rela-ções de forca alteraram-se significativamen-te no continente. Mas, com uma vida polí-tica rotineira, burocrática, convencional, asforças progressistas, sobretudo suas dire-ções, terminam por reduzir o enorme im-pacto do papel desempenhado por HugoChávez nestes encontros. Mas a direitapercebeu a sua importância e o perigo queele representa, por isto esta campanha des-tinada a demolir com mentiras e manipula-ções informativas a sua imagem. Os movi-mentos sociais, o PT – que esteve pratica-mente ausente do ato político com Chávezna Assembléia do Rio de Janeiro – deveriadebater com sua militância e a sociedadeas propostas do venezuelano; a Radiobrásdeveria divulgar amplamente estas propos-tas, assim como a mídia alternativa. A reu-nião do Mercosul, o seu tomantiimperialista, demonstra as condiçõespara a organização de uma FrenteAntiimperialista na América Latina, comsindicatos, movimentos sociais, intelectu-ais, igreja progressista, militares naciona-listas que estão observando o poderosoexemplo de Hugo Chávez, visandoimplementar as propostas mais fundamen-tais e defender estes governos do assediodas oligarquias e de sua mídia mais vene-nosa.

Hugo Chávesrecebeu amedalhaTiradentes dodeputado PauloRamos (PDT-RJ)na AssembléiaLegislativa doRio de Janeiro ediscursoudefendendoTiradentes,Abreu de Lima,Vargas e Jango.

Evo Morales defende a cooperação junto com aposição firme de nacionalização do petróleoboliviano.

Rafael Correa apoia a proposta de Hugo Chávezdo Banco do Sul e faz ataque contundente aoneo-liberalismo, representando as massaspobres do Equador que lhe depositaram o seuvoto de confiança.

Página 4 Janeiro 2007RevoluçãoSocialista

Organizar o Partido da revolução

Vão encontrar dificuldades para organizar o partido. É lógico que aonão haver uma preparação mar-

xista, uma vida marxista revolucionária, aonão haver uma base sólida do proletaria-do, o peso da revolução não se transmite.Quase sempre tratam de compensá-lopor meio da equipe intelectual. Por isso,a proclamação é clamorosa, apesar deque as conclusões não são tão clamoro-sas, mas se vêem as intenções hones-tas dessas direções. Porque existe a di-ferença entre o clamor com que se ex-pressam e a falta de meios adequados?Não há uma preparação científica sufici-ente ao não haver uma base proletáriaatravés da qual se podem transmitir a re-volução mundial; são os intelectuais quea transmitem em forma débil, superficial,tímida e inconsequente.

É lógico as massas não tem uma educa-ção marxista. Na União Soviéticatampouco houve uma educação marxis-ta, mas existia o Partido Bolchevique quecompensava a falta de educação dasmassas com o partido. O partido repre-sentava conscientemente as massas efazia o que era de interesse das massas.Era um pequeno núcleo, organizado emforma disciplinada, que transmitia ao paísa segurança das idéias. Vinculava a vidada União Soviética com o mundo. Ensi-nava a compreender e a raciocinar, a do-minar os problemas mundiais da políticae da revolução. Criava nas camadas dapopulação de operários, camponeses eintelectuais a segurança revolucionária.Criava nos bolcheviques um campo de atra-ção, não magnético, mas consciente, querespondia à necessidade consciente.

As massas necessitam um tempo parater onde se agarrar, onde desenvolver

suas qualidades e a sua capacidade. Ne-cessitam o partido, o núcleo que una osproblemas do país com os problemas doresto do continente, que mostre que a for-ça não é o país, mas o mundo. É precisocompreender o mundo para a resoluçãode todos os problemas. Isso é Lenin.A Revolução Russa triunfou e o resto dasrevoluções triunfaram depois porque com-preenderam o mundo através do Partidobolchevique. Reiteramos: pode-se tomaro poder sem partido comunista, mas paraconstruir o Estado operário é necessárioo Partido bochevique. Todos os proble-mas que existem nos Estados operáriosnão são de ordem econômico, mas deorganização social do funcionamento doEstado operário. O problema é a ausên-cia de Partido bolchevique.

Em nenhum Estado operário os proble-mas fundamentais são problemas eco-nômicos. Por exemplo, na Polônia: 80%da propriedade agrária é privada, mas osprodutores não têm o poder. Pesam nopoder, mas quem tem o poder é o proleta-riado através do Partido Comunista. Se oPartido organizar formas soviéticas é ofim da propriedade privada, porque des-sa forma a compreensão do proletariadochega aos camponeses para que apói-em o funcionamento coletivo e se terminao problema. Mas, os dirigentes tememdesprender-se dessa camada que elescriaram. Isso não é uma consequêncialógica da propriedade privada agrária naPolônia. É a forma social burocrática. Aburocracia, deixou assim para ter aliados.Isso não é uma necessidade lógica dodesenvolvimento da economia. É a ne-cessidade social da burocracia.

Isso ocorre também na URSS atualmen-te. Não há necessidade de que exista okolkoz. É um anacronismo estúpido detodo ponto de vista. Não é a falta de má-quinas, nem de técnicos, engenheiros,ferramentas ou parafusos. O que falta é aorganização social. Se estabelecem asformas soviéticas de funcionamento docampo, em cinco anos duplicam a produ-ção. Os soviéticos realizaram isso naspiores condições e os chineses também.Mesmo com todo o exagero dos chine-ses, eles duplicaram a produção. É a for-ma social, não é a programação econômi-ca, nem a questão de quem vai dirigir, queadministrador, de quem faz as contas. Éum problema de organização social.

Em troca, os Estados operários fazemprogramas econômicos de acordo com aconcepção de aparato, de pequeno gru-po de gente, que contam com o apoio so-viético ou o investimento alemão, chinês,mas não contam com a capacidade nemo apoio das massas; têm em conta o de-senvolvimento do comércio exterior e nãoo desenvolvimento interior da população.

A primeira coisa que fizeram osbolcheviques quando tomaram o poderfoi desenvolver a economia do país parasatisfazer a necessidade do país. Afeta-ram o comércio mundial para levantar opaís, asseguraram a revolução interior,deram estabilidade e encararam novosplanos econômicos. A economia não é umente separado da capacidade produtivado país. É preciso perguntar-se: em be-nefício de quem, para quem, programadocom que concepção? (..)

É preciso ter em conta ao planificar, quaissão as perspectivas da história. O imperi-

O ESTADO REVOLUCIONÁRIO,SUA FUNÇÃO TRANSITÓRIA E

A CONSTRUÇÃO DOSOCIALISMO

J. Posadas28 de setembro de 1969

Publicamos extratos do livro “O Estado revolucionário, sua funçãotransitória e a construção do socialismo”, obra central no pensamentode J Posadas, que analisa processos novos do pós-guerra que não pude-ram ser analisados na época de Lênin e Trotsky. Dentre esses, o surgimentode vários governos nacionalistas na A. Latina, como Perón na Argentina,Velasco Alvarado no Peru, J. Torres na Bolívia, Getúlio Vargas no Brasil,que o leva a caracterizá-los como Estados Revolucionários e a prever osurgimento de outros onde as instituições originalmente servidoras dos in-teresses capitalistas, como a igreja e o exército, entram em crise e muitosde seus setores atuam em nome das massas pobres, do campesinato e doproletariado e passam ao campo da defesa das soberanias nacionais e daluta anticapitalista. A contradição, naquele então, entre o grande avançomundial da revolução através da Urss, China, Cuba e diversos países soci-alistas, e o despreparo das direções comunistas e do movimento operáriona América Latina e África, dava elementos para o surgimento de proces-sos sui-generis aos quais J. Posadas chamou “Estados revolucionários”,que naõ têm características de um Estado capitalista, mas tampouco deum Estado operário. Trata-se de uma fase transitória. E eis aqui, onde eledestaca a função do Partido Revolucionário de massas, na construçãodo salto ao socialismo. Consideramos de particular utilidade sua leituraneste momento onde Hugo Chávez chama o exército a se constituir ForçaArmada na defesa dos interesses da revolução, propoe a criação do PSUV(Partido Socialista Unido da Venezuela) e anuncia medidas para construiro socialismo na Venezuela. Um Partido Revolucionário e de massas é uminstrumento fundamental para o salto do Estado Revolucionário ao Estadooperário na Venezuela. Chegou-se ao governo, agora é preciso assumir opoder. Em breve, este livro será republicado em português.

O presidenteHugo Chávezda Venezuela

(de origemmilitar

nacionalistarevolucionário)e o presidente

MahmoudAhmadinejad

do Irã(de origem

religiosaislâmica),

f i rmamdiversos

acordos decooperação no

campoenergético e

industrialrumo ao

socialismo doséculo XXI

Página 5Janeiro 2007 RevoluçãoSocialista

alismo vai responder com a guerra atô-mica. Não tem perspectivas de triunfar,mas vai responder com a guerra atômica.Ao se planificar a economia é preciso con-siderar a planificação do resto do conti-nente. Não se pode fazer uma planifica-ção tendo em conta somente o própriopaís.

Os conceitos que Lenin explicava no “Es-tado e a Revolução” se mantêm plena-mente. É preciso incorporar aos mesmos,elementos novos da história. Lenin es-creveu pensando num só Estado operá-rio. Naquela época, o Estado capitalistatinha uma fisionomia nítida que hoje jánão tem. No Estado revolucionário, o exér-cito já não tem o papel, a força, e nem atranscedência que tem num Estado capi-talista pleno. São categorias de distintasfases do Estado que de alguma maneiramerece uma caracterização precisa. Nósos qualificamos de Estados revolucionári-os porque gradualmente vão perdendo ocaráter de Estado capitalista, sob o impul-so da revolução; mantêm a sua estruturaque é capitalista, com uma direção que sedeclara contrária e que toma medidas con-tra o capitalismo. A estrutura das relações,das instituições e do funcionamento jurídi-co continua sendo do capitalismo. (....)

O temor de algumas direçõesrevolucionárias de lançar uma campanhacontra a estrutura capitalista do exércitoé porque devem romper com uma parteque antes as apoiava. Em Cuba, durantea primeira parte da revolução, houve umafase de conciliação com Urrutia (1)tratando de atraí-lo; mas depois asmassas começaram a ocuparam asfábricas, os campos e impulsionaram adireção cubana a superar essa fase. Aintenção de Fidel Castro não era alheia àdas massas, não estava contra, masforam as massas que determinaram ostempos e os prazos do processorevolucionário. No começo, ele dizia em“moralizar o capitalismo”, e as massascubanas disseram: “sim, moralizamos,mas desta maneira”.

É preciso discutir em base a estasexperiências históricas. É necessáriotransformar o aparato do estado comórgãos que assegurem a continuidadeda revolução, que defendam o interessedo desenvolvimento socialista darevolução. Deve ser o interesse e a funçãosocial que deve predominar com relaçãoà preocupação e a capacidade intelectual.O proletariado tem uma função socialque é insubstituível; um ou outro operáriopode tentar fazer carreira, mas comoclasse, tem um interesse social objetivo.Essa é a função histórica do proletariadoque dizia Marx: deve ser objetivo eimpulsionar tudo aquilo que ajuda oprogresso da história. Por isso, há queincorporar proletários e, se devemparticipar intelectuais, têm que estarganhos ao proletariado. Como este não

rior. Não há uma acumulação capitalista,mas social que dá segurança e estabili-dade à revolução.

Assim fizeram os bolcheviques. Os capi-talistas gozavam de Lenin e da sua equi-pe: “são idealistas!”, “o que sabem deeconomia?”, “o que entendem de diplo-macia?”. Diziam isso porque osbolcheviques iam às reuniões internacio-nais sem gravata, mas tinham a força decomunicar-se com todo o mundo. Che-gavam a todas as massas do mundo.

A democracia é o instrumento para a in-tervenção da classe operária. A ditadurado proletariado é o pleno exercício do po-der da classe operária sobre a organiza-ção do estado para defender todas asmedidas que conduzem ao socialismo.As formas em que se exerce a ditadurado proletariado podem mudar, podem serbaseadas na persuasão, sem necessi-dade de recorrer à violência ou chegar aformas de imposição. A qualificação deditadura não significa impor ou vigiar comas armas na mãos; significa que a classeoperária deve levar adiante as medidasnecessárias à construção do socialismo,e obviamente opor-se a tudo aquilo queseja contrário a essa necessidade.

A ditadura do proletariado é atuar, legislar,dirigir, controlar o país com esta consci-ência. Repetimos, as formas podem vari-ar, podem ser formas mais violentas oumilitares; mas se são formas militares,de maneira conseqüente, já não é ditadu-ra proletária. Porque se o governo e o es-tado têm o apoio das massas que, porsua vez, participam democraticamenteem organismos de decisão e controle, aintervenção policial ou militar já não é ne-cessária. E, caso a ação militar seja ne-

cessária, trata-se de milícias operárias.Mas, se estas não são acompanhadasdo funcionamento celular revolucionário,caem no vazio, se transformam num cor-po separado, sem chegar a ser um corpoburocrático, criam-se uma direção e umfuncionamento destacado. (...)

O papel do proletariado nofuncionamento do partido

O partido é quem organiza a capacidadeda população. Não é necessário um par-tido bolchevique, restringido, pequeno ouclandestino como as condições históri-cas impuseram ao partido de Lênin. Opartido comunista se apóia sobre a con-vicção, a segurança das idéias comunis-tas que estão no proletariado. Lá ondenão exista a força do proletariado local,apóiam-se nas forças internacionais declasse, nas experiências que se realiza-ram no mundo. Isso é o que persuade ointelectual, o camponês e o revolucioná-rio. É isso o que dá segurança na pers-pectiva comunista. Mas, é preciso esta-belecer de alguma forma a disciplina, aconvicção e a segurança de formar partede um instrumento que se apóia no pro-letariado e na sua experiência.

O partido comunista, ou como se queirachamar, tem que ter como objetivo a cons-trução do comunismo. Nesta fase, é fun-damental esclarecer o objetivo e o progra-ma: construir o comunismo, estatizaçõese controle com funcionamento soviético. Opartido em construção deve dirigir-se a todaa população revolucionária em movimen-to, e fundamentalmente nos organismosdo proletariado. Essa é a estrutura e abase para a edificação do novo partido.

É preciso desenvolver sobre esta base acapacidade da classe operária como diri-gente da sociedade, que discute todosos problemas; ao mesmo tempo que es-tuda, trabalha. É preciso realizar assem-bléias, manifestações e debates sobretodos os problemas do país e do mundo,discutindo os problemas da revolução edo Estado operário, de como se constróio Estado operário. É preciso discutir asoutras revoluções, as experiências trans-mitidas pela história: a revolução russa, achinesa, a cubana. Fazer crescer e sentiro proletariado de que ele é capaz de diri-gir, não somente na sua fábrica, mas nopartido e na sociedade.

Não se trata de uma fórmula: partido, di-reção central ou regional, e a célula, mascomo se faz, como funciona e o quê sediscute. As células têm que discutir sobreos problemas do país, que são: o quê ecomo se produz, com quê programa e ob-jetivo, como se defende da contra-revolu-ção, como armar as massas para essadefesa. Todo o mundo tem que discutir to-dos os problemas; devem existir órgãos

tem vida política, porque não tem partido,é difícil encontrar operários preparados.É preciso criar essas condições que sepodem realizar em curto prazo.Os Estados revolucionários para se man-ter e progredir, devem romper estruturacapitalista do exército e judicial; devem edu-car e aumentar a participação da classeoperária como direção política. Para isso,são necessários o partido e os órgãos: sin-dicatos, comitês de fábrica, e de fábrica. Omovimento operário deve acostumar-se adecidir como órgão. Romper o aparato doestado, o aparato jurídico, financeiro, poli-cial e militar. É preciso estatizar os bancose mudar a moeda, como fizeram osbolcheviques no dia seguinte da revolução;criaram um novo rublo para cortar toda pos-sível especulação internacional contra onovo estado. Ao passar o primeiro momentodo isolamento, retomaram os intercâmbi-os internacionais porque o capitalismonecessitava dessas relações.

(…) Assim fizeram os Estados operáriose é preciso contar com eles para a reali-zação desses passos de ruptura com aestrutura econômica anterior. Não se ob-têm créditos do exterior, mas se obtêm ocrédito das massas. Não há créditos como exterior, mas sim uma intensa vida inte-

Hugo Chávez e Fidel Castro discutemexperiências históricas no rumo da unificaçãodos povos da América Latina

As massas venezuelanas tem agorao desafio da tarefa histórica

da construção do PSUV(Partido Socialista Unido da Venezuela)

continua na página 6

Página 6 Janeiro 2007RevoluçãoSocialista

específicos como as milícias que discu-tem e levam adiante a questão militar. Masesta discussão deve integrar o resto dapopulação porque dessa forma se per-suade e se desenvolve a iniciativa paraatuar sem chocar e sem criar problemaspara o Estado. Intervêm-se com idéias.

A milícia operária, como o funcionamentorevolucionário das massas nas células enos demais órgãos, permite o desenvol-vimento da iniciativa individual de formaimediata sem passar pelo funcionamen-to dos órgãos burocráticos, ou pelo con-sentimento do chefe, do dirigente ou dosecretário. Pode suceder que num bairro,os burocratas não tenham interesse emmedidas a favor da população do lugar: terágua à disposição, ou canalizações, oudiscutir os problemas do mundo. Os habi-tantes do bairro podem tomar a iniciativade convocar uma reunião que decide etoma algumas resoluções: “queremosdiscutir este argumento, ou queremos quese faça esta outra coisa”. Para a direçãonão interessa porque pensa: “para quêdiscutem isso se nós já decidimos”.

Na medida em que as massas discutemtodos os problemas, adquirem a estabili-dade cultural revolucionária e a segurançasocial decidem na história; não são nemum complemento, nem um mero ponto deapoio, são decisivas. Desta maneira influ-em sobre toda a população e sobre osseus próprios dirigentes que estão obri-gados a avançar, senão são deixados delado. O dirigente propõe a uma massa quenão diz somente sim ou não, ou que sesubmete ao programa do dirigente, mas auma massa com uma base cultural e revo-lucionária. As massas podem carecer deconhecimento, mas sabem bem o quequerem: justiça e igualdade.

É preciso considerar as diferentes eta-pas que atravessou a Urss; durante ossete primeiros anos tratava-se de umarevolução isolada que tinha que lançar-se a organizar as massas do mundo,tirá-las dos partidos socialistas e refor-mistas e construir partidos comunistas.Esse processo necessitava de tempo eprazos e de um esforço enorme, comoo que fizeram os primeiros partidos re-volucionários.

Os comitês de fábrica devem realizar cons-tantemente assembléias para decidir ofuncionamento, a produção, a técnica e aciência que é preciso aplicar, de maneiraque em pouco tempo os operários com-preendam tudo. Uma vez terminada a jor-nada, é preciso discutir tudo isso. Empoucos meses, os operários vêem quenão são necessários os gerentes e queeliminando os gerentes, se eliminamdessa maneira o gasto, o tempo e os li-mites da função gerencial. O gerente en-

tende de maneira parcial o que é precisoproduzir, para quem produzir e como pro-duzir. Além disso, com a eliminação dogerente, se elimina o monopólio da ad-ministração da fábrica. (...)

Não são necessários dois ou mais parti-dos, apesar de que possam coexistir vá-rios partidos. O importante é que exista opartido revolucionário; chame-se comu-nista ou com outro nome, já que não éisso o que define a natureza do partido. Onome deve explicar o que é o partido; mas,se o programa é comunista e o nome não,inevitavelmente terminará chamando-se

massivamente ao sindicato. O sindicatoera o instrumento mais importante paracomunicar-se com o resto da sociedade:com os camponeses pobres, com os in-telectuais, com a pequeno-burguesia ex-plorada. O partido tinha meios importan-tes como o jornal, a atividade social e par-lamentar, e os soviets. Mas, o sindicato oconectava com uma parte importante dabase social dos operários e camponeses.

Os países que dependem muito da pro-dução agrícola tem que criar imediata-mente instalações para transformar a ma-téria prima básica para o consumo, ou o

É preciso exigir dos chineses, dos sovié-ticos, cubanos e dos demais Estadosoperários, a máxima ajuda. Mas, semesperar da ajuda, nas situações em quenão se podem incorporar meios mecâni-cos avançados, utilizar as próprias mãosou os instrumentos disponíveis, de modoque a população desenvolva a seguran-ça de que não há nada que não se possaresolver. Essa é a base para a interven-ção política objetiva.

Ao mesmo tempo, é preciso contar com oprocesso da revolução política nos Esta-dos operários, com o desenvolvimento darevolução mundial e com a inevitabilidadeda guerra. O capitalismo vai lançar a guer-ra, não por ser potente, mas pela sua de-bilidade; mas também não vai poder lan-çar quando queira. Já teria que ter lança-do há muitos anos, mas retrocede cons-tantemente. Ele não abandona a sua in-tenção, mas vive recuando, perdendooportunidades históricas e capacidade.Porém, de toda maneira, depender des-sa expectativa não é o mais convenientecaminho para a revolução, porque o sis-tema capitalista retrocede política e soci-almente, mas aumenta enormemente opoder atômico de destruição. Todo essepoder não se anula com o retrocesso po-lítico e social porque tem mais armas etambém uma equipe menor e concentra-da que é a que decide o uso das armasatômicas. (...)

Um dos grandes progressos na históriado marxismo, na construção dos Estadosoperários e do socialismo é a influênciada revolução no mundo árabe. As mas-sas árabes estavam aferradas a Alá; odeixam e se aproximam do marxismo.Esse é um dos acontecimentos mais im-portantes. Deveriam existir centenas derevistas invocando a Alá e a Maomé comoguias espirituais do “socialismo muçul-mano”. Mas, em troca, retomam a Marx.Não dizem explicitamente, mas seguemo que disse Marx e a experiência dos Es-tados operários. Não é possível prescin-dir da idéia. O programa, a política e osinstrumentos não são invenções casuaisou um recurso transitório da história. Osinstrumentos surgem como resultado deuma necessidade do estado da econo-mia e das relações sociais. Isto não sepode fazer sem o instrumento do marxis-mo. As direções estão preocupadas porresolver os problemas do dia a dia, paraos quais não podem esperar a dominar omarxismo. Falta-lhes, então, a seguran-ça e a paciência histórica que deriva daconvicção de que o proletariado vai triun-far. O proletariado tem a confiança de quevai triunfar. (...)

partido comunista. Os cubanos, inicial-mente não o chamaram de comunista,mas depois sim. (...)

Como definir esta nova situação na histó-ria não prevista por Marx e Engels? São“Estados revolucionários”, não “Governosrevolucionários”. Os governos podem mu-dar, mas os “Estados revolucionários” nãomudam porque já são Estados que al-cançaram uma estrutura de propriedade,de funcionamento, de relações interiores,que mesmo que mudem os governos atu-ais, têm que basear-se nessa situação.Para voltar atrás, os setores burgueses ereacionários devem dar um golpe contra-revolucionário, porque já foram tomadasmedidas que afetam a existência do capi-talismo, que não permitem a reproduçãodo mesmo. Mesmo que o poder não es-teja em mãos do proletariado, e que nãoseja um governo surgido do proletariado,tomam medidas que não permitem a re-produção da acumulação do capital paraa concorrência mundial do capitalismo.

A relação entre o partido e osórgãos de funcionamento soviético

É necessário um partido bolchevique ba-seado nos sindicatos. A base do partidodeve ser o funcionamento sindical. Osbolcheviques, durante os primeiros anosda Revolução Russa, constituíam um par-tido baseado nos sindicatos. A sua forçacentral era a classe operária que aderia

seu uso em processos posteriores detransformação. Se o grupo dirigente darevolução se demonstra capaz de realizarem pouco tempo um processo planifica-do de transformação da produção, issotem um efeito importante sobre o resto dapopulação e estimula a sua intervenção.A revolução cresce dessa forma. (...)

Quando se acode à classe operária, é ne-cessário que esta possa ter os instrumen-tos para se pronunciar. Não se pode con-vocar de um dia para o outro a que façauma assembléia e que os operários par-ticipem. É necessário levar uma vida or-ganizada de assembléias, de manifesta-ções, comícios e discussões. Não sepode pretender fazer uma reunião ou dis-cussão esporádica e pedir que a classeoperária ou uma parte dela se pronuncie.É preciso desenvolver uma vida organiza-da na forma de assembléias de fábrica,de empresa, assembléias de campone-ses ou de empregados. Realizar mani-festações, comícios, discussões políticas,alfabetizando a população com documen-tos políticos. Discutir os publicamente to-dos os problemas de economia do país edo mundo. Discutir os problemas da cons-trução do socialismo, da religião, da natu-reza, da vida e da morte, e de como escre-ver. Organizar a intervenção das massaspara que possam participar as mulheres,as crianças e os anciãos. E ao mesmotempo, é preciso realizar as formas maissimples de produção sem esperar ter to-dos os meios materiais para isso.

(1) Assumiu como Presidente provisório deCuba entre 3 de janeiro e 17 de julho de 1959,mas foi depois removido por Fidel Castrodevido a “atos próximos à traição” esubstituido por Osvaldo Dorticós Torrado, queera mais leal às reformas socialistasempreendidas pela revolução.

Vem da página 5

Entrega detratores aoscamponesesna Venezuelarealizadacom aparticipaçãodos soldadosdo ExércitoBolivariano

Página 7Janeiro 2007 RevoluçãoSocialista

Avança aunidade e a

iniciativa dasmassas do

Oriente Médiocontra o

imperialismo

Apesar de todos os golpes recebidosdiariamente, e a falta de umprograma e de uma verdadeira di-

reção unificada anti-capitalista e revolu-cionária, a profunda experiência, consci-ência e convicção das massas, a sua von-tade permanente de luta contra a opres-são na tentativa de abrir espaço à vida eao progresso, não dão trégua aos planoscínicos e macabros do imperialismo noOriente Médio.

Nenhum dos planos do imperialismo,de guerra, destruição, ocupação, massa-cre quotidiano de civis, de operários, ci-entistas ou técnicos, e agora, de campiõesde atlética e de futebol, as tentativas paramanter em vida o governo de Fuad Sinioreno Libano, de Mahumd Abbas na Palesti-na e do outro no Afeganistão, dos gruposassassinos no Iraque ou os planos de ata-que contra o Irã, nada disso consegue cri-ar uma perspectiva ou uma margem demanobra que lhes permita roubar o petró-leo ou viabilizar a aplicação do Planopara o Novo Oriente Médio. Não há ne-nhuma margem de manobra, política ousocial, portanto passam a utilizar os fran-co-atiradores. Franco atiradores em Bei-rute, em Gaza, e bandos de assassinos pro-tegidos no Iraque. As massas libanesas comHassan Hassrolla, podiam há muito tem-po derrotar o governo fantoche. Após qua-se 60 dias de greve geral convocado pelossindicatos até a derrubada do governo,ela foi cessada e a população enviadapara casa. Teriam conseguido e deveriamfazê-lo. Provavelmente Teerã, pressiona-do pela ameaça de um ataque militar adioutudo e deu via a uma combinação de saí-da diplomática e reforço das relações in-ternacionais, prosseguindo o processo dastransformações sociais e econômicas.Siniore se lamentou porque o exército te-ria se recusado à ordem de reprimir osgrevistas. Portanto, entraram em ação asprovocações e os paramilitares. O conve-nho das burguesias em Paris, tratará deapoiar o governo Siniore porque qual-quer substituição conduzirá Hesbollah nacampanha governamental e levará o Lí-bano decididamente fora da órbita dospaíses imperialistas. De toda forma as de-

cisões em Paris não oferecem nenhumaperspectiva porque Siniore é aos olhos dasmassas um traidor, um agente dos imperi-alistas e dos vértices paramilitare e nãotem outro caminho senão ir direto para atumba da família.

Contra o embargo financeiro e nucle-ar desejado pelos imperialistas, o Irã vetao ingresso a 38 inspetores da AIEA e au-menta os acordoc com a Russia, China,India e os países asiáticos e europeus, en-quanto os Republicanos nos EUA perdemna sua própria casa. Não resta aosagressores que pensar a planos de des-truição militar. Os russos instalaram mís-seis super capazes Tur-M1 terra-ar nasinstalações nucleares iranianas; os chi-neses vendem os caça Jian-10 semelhan-tes ao F-16 e ao Mig-29, e uma delegaçãoiraniana esteve na Coréia do Norte para

no nível da guerra do Vietnã. Se uma guer-ra contra o Irã tiver que vir, com algumaforma de golpe de estado, haverá enormesrebeliões no próprio EUA e em todos ospaíses do G7. Internamente, as forças ocul-tas do poder capitalista e difusas dos apa-ratos mafiosos estão trabalhando paracriar obstáculos e derrubar Ahmaidnejad;mas, cada vez que ele retorna daVenezuela, empurra decididamente as re-formas estruturais no interesse da popu-lação, como a distribuição das ações doscentros produtivos para as famílias po-bres, aos operários e aos agricultores. Acaixa comum Irã-Venezuela de 2 bilhõesde dólares para o desenvolvimento lati-no-americano está somente no começo.Existe um outro de 4 bilhões entre o Irã e oPakistão. E a colaboração vai se dandoentre a China e Russia, Pakistão e India.

truição faz sim que nenhuma provocação,nem mesmo o eforcamento de SadanHussein conseguisse criar confusão entrexiitas e sunitas; pelo contrário, aumen-tam as relações entre o Iraque, a Siria e oIrã. Enquanto os EUA sequestram os di-plomatas iranianos no Iraque, o Irã enviatécnicos, corrente elétrica, alimentos e tudoo que possa ajudar as massas iraquianas.Faz a mesma coisa com os libaneses, ossirianos e os palestineses. Mas se retiram osvários Robert Gates ou Condoliezza Ricedos encontros com os governos árabes, eos mesmos retornam à sua própria posi-ção e sustentam através da Organizaçãodos países árabes do Golfo Pérsico o di-reito do Irã de desenvolver a própria ener-gia pacífica nuclear. E agora eles tam-bém querem, enquanto as manobras dosambientes pró-imperialistas, como noQatar ou no Kwait, ficam circunscritas epor trás do dinamismo do processo.

Na Palestina, o governo Hamas, com oapoio das massas revolucionárias, supor-ta toda provocação assassina seja dos is-raelenses, seja do aparato reacionário daOLP e desmascara sua natureza e inten-ções. O Hamas não reconhece o Estadode Israel e lutará até derrubá-lo junto atodas as forças revolucionárias do Orien-te Médio; agora, também com mísseis devárias organizações palestinas. Rompe-ram com Mahmud Abbas que está usandoos seus franco-atiradores para levá-lo aoisolamento. As bombas atômicas sionistasnão servirão ao Estado sionista para sal-var-se. Não pode colocá-las no seu assen-to. O Estado sionista foi criado para divi-dir e esmagar os movimentos revolucio-nários árabes, mas agora, depois da der-rota imprimida pela resistência libanesa,há uma profunda crise dentro e fora e vairolando em direção à queda. Não existenenhuma perspectiva, nem social, nem eco-nômica, nem política e nem militar quepossa salvar este Estado do seu destino;nem a ONU, nem dentro dos países que oinventaram, nem entre as burguesias ára-bes que já tem os seus próprios espinhos, enem a Palestina ocupada. Esta corroída asua própria capacidade de justificar-sehistorica e materialmente. Cai a sua forçaideológica e, agora, depois da derrota noLíbano, se derruba também a sua impuni-dade. Quando cair o governod de Sinioree as pessoas no no Líbano explodirem dealegria, no Estado sionista haverá fune-rais e aumentará a sua crise de direção.Portanto, o imperialismo deverá substi-tuir parte das funções de Israel no OrienteMédio, como deverá substituir através daOtan o papel que cabia antes ao Pakistãodo leste; e dentro de pouco terão proble-mas sérios também na Turquia que nãoaguenta mais a situação. Estes eram ospaíses do pacto do centro que o imperia-lismo criou para dominar toda a região,desde a India ao Mediterraneo, com cus-tos próprios, mas agora deve substituí-los;mas ao fazer isso, se afundou no pântanoa ponto de não saber como sair.

Do nosso correspondente do Iran

Mesmo com a bárbara repressão contra o povo palestino as massas árabes avançam com ootimismo de poder vencer ao imperialismo

discutir questões de defesa comum, en-quanto os russos e indianos fazem acor-dos pelos novos Mig-20 construídos naIndia. O crescente papel do Irã no Orien-te Médio, a sua resistência contra as pres-sões imperialistas e o seu processo inter-no fizeram sim que estes países se tornas-sem um sério obstáculo aos planos impe-rialistas e o centro propulsor e operativodos processos revolucionários no OrienteMédio, que obriga os anglo-americanos aaumentar as intervenções das manobrasmilitares, apesar da oposição do Congres-so, do Senado e dos organismosinstitucionais e produtivos comerciais.

O incidente entre o submarino nucleardos EUA e a petroleira japonesa na saídado Golfo Pérsico faz parte dos preparati-vos militares e da pressão sobre os paísesárabes para fazê-los participar nos pla-nos de sufocamento do Irã. Mas um ata-que contra o Irã será um grande incêndioque se alastrará por muitos países entreos quais os grandes como Russia, China,India, além de todo o Oriente Médio. Quemmais tem este cenário apocalítico são ospaíses imperialistas. Podem destruir e ar-rasar todo o território, mas não ocuparmelhor do que o Iraque ou o Vietnã. A cri-se psicológica do exército dos EUA está

O Irã não é um país isolado. Existe todauma rede de infraestrutura, gás, eletrici-dade, ferrovias, petróleo e outras trocascom todos os países limítrofes. Há acor-dos de segurança com a Arábia Saudita,com uma estreita colaboração contra aguerra e para a resolução da crise libane-sa, iraquiana e questoes entre xiitas esunitas. O Irã é membro da organizaçãomilitar-comercial de Xangai. A diplomaciada pressão e ameaças não funciona mais eresta somente a última opção: a militar, comtodas as suas tremendas consequênciaspossíveis. Mas cada golpe ao Irã terá umcontra-golpe mais amplo e profundo con-tra todas as estruturas imperialistas.

No Iraque, as forças de agressão nãoconseguem impor nenhum equilíbrio a seupróprio favor. Destruiram todos os orga-nismos iraquianos como no Vietnã e sempoder substituir com os próprios. O go-verno iraquiano é muito mais próximo aoIrã do que aos anglo-americanos; fez umacordo com a Síria para expulsar osagressores. Os EUA tiveram que substituiro próprio embaixador Khalilzad que sesabia que estava por trás das explosões edos massacres. A experiência e o conheci-mento alcançado pelas massas árabes doIraque após 16 anos de agressão e des-

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Página 8 Janeiro 2007RevoluçãoSocialista

A NONA SINFONIA DEBEETHOVEN E OPROGRESSO DAHUMANIDADE

CULTURA

J. POSADAS23 de maio de 1975

Ludwig Van Beethoven

A música é uma criação do ser huma-no, que se desenvolveu com o pro-cesso da civilização humana. Ela

expressa um dos níveis mais elevados deharmonia que o ser humano alcança. O quepromove e determina a base essencial damúsica é a busca do sentido, da explicaçãoentre a vida e a natureza, da relação da vidacom o céu, com os seres humanos, e entreos seres humanos.

Na etapa de Beethoven, este expressa, atra-vés da música, o que a mente dos filósofos,dos historiadores, dos sociólogos daquelaépoca buscavam explicar, respondendo ànecessidade de ordenar a vida da humani-dade.

O processo de criação de um gênio musicalnão se dá da mesma forma que de um Marx.Marx é resultado da compreensão do pro-cesso dialético e da existência do proletari-ado, do desenvolvimento dos regimes so-ciais, dos sistemas de propriedade, de pro-dução, do regime de propriedade privadaque criou o proletariado. Ao se criar o pro-letariado, criou-se uma condição nova paraa elevação dos meios, das condições paraa humanidade se libertar de todo tipo desujeição. Não é o músico quem cria essascondições. Ele é um reflexo delas. E devemsurgir condições prévias para que este semanifeste. Ou então, ele expressa antes quesurjam estas condições, como é o caso daprodução do músico, do artista, do pintorrevolucionário. Isto é, ele prevê o curso dahistória sem ter plena consciência da moti-vação da estrutura social. Ele a exprime. Amúsica de Beethoven é isso. Sendo um pro-duto da revolução burguesa, da revoluçãofrancesa, expressa um nível, um alcance in-finitamente superior aos limites da revolu-ção burguesa. Ele expressa o nível alcança-do pela inteligência humana, a capacidadede sentir, de reproduzir as relações huma-nas através da música, de forma superior. A

sua música não se limita ao quê fazer diário,mas resplandece o desenvolvimento dosobjetivos que a história já possibilitava quese manifestassem no ser humano. Apesarda limitação imposta pela propriedade pri-vada, o desenvolvimento da revolução bur-guesa abria caminho à vida da democraciae da ciência. E mesmo mantendo a visãocelestial, impulsionava os acontecimentosterrenos, sem ocultar o céu, mas libertan-do-se da sujeição a este.

E Beethoven expressa, na música, o maisalto nível de harmonia entre a natureza, asrelações humanas e o indivíduo, através dasua capacidade de interpretação, de orga-nização, de sentimento e de consciência.

A música se faz com a superestrutura docérebro e não apenas com a inteligência.Forma parte da inteligência; é uma das ma-neiras mais elevadas da inteligência, aindaque não seja a mais completa. A mais com-pleta é a de Marx, pois é a que dá as idéiaspara mudar a sociedade. Porém, emBeethoven expressa-se a mesma necessi-dade, a mesma capacidade do ser humanode chegar a tal nível de capacidade e deevolução. Se não se chegou a uma formasuperior no Estado operário foi devido àstravas exercidas pela direção de Stalin; docontrário, já teriam existido outras expres-sões superiores a Beethoven. Elas não exis-tiram não por que não houvesse condições,mas porque o regime ou a direção stalinistaimpediu a continuidade de Marx, nesta eta-pa da história, que se daria através deTrotsky.

Beethoven é ouvido e apreciado porqueforma parte de um objetivo da humanidade:harmonizar a existência, elevar o seu o ní-vel cuja base é a alegria humana de viver. Ea alegria humana de viver tem que sugerir,desenvolver idéias nobres. Idéias que ex-pressem a fraternidade e que sejam a basedas relações humanas. A música de

Beethoven expressa isso. A sua harmoniaconduz à fraternidade humana. Por isso, emsua mais completa obra, a Nona Sinfonia,ele teve que introduzir o coro. A música erainsuficiente para ele expressar o que sen-tia. Mesmo sendo a música mais elevadaque já se ouviu, e, possivelmente, até queestejamos no socialismo, não escutaremosalgo superior a Beethoven, mas ele incor-porou o coro. Isso tem um significado his-tórico. Não era uma imitação da ópera, comodizem os historiadores da época. O coro deBeethoven não se assemelha, nem conduza lembrar ou pensar em nenhuma ópera. Pelocontrário, a voz humana é superior ao somdo instrumento. O som do instrumento tam-bém é parte do ser humano, mas passa peloinstrumento, e então a capacidade da ex-pressão se vê cortada, diminuída. A voz édireta, reflete diretamente os sentimentos,comunica, organiza. A forma mais elevadade expressão da música é a voz humana. Aforma mais elevada da fraternidade na mú-sica é expressada dessa forma porBeethoven.

O que Marx expressou em sua obra,Beethoven expressou da forma mais com-pleta na música. Podia expressar-se atra-vés da pintura, mas o efeito seria inferior,tanto com relação à música quanto comoobra intelectual. O intelectual conduz à açãodireta; organiza, prevê, desenvolve o raci-ocínio. A pintura sugere, motiva bases pararaciocinar. A capacidade teórica do marxis-mo dá diretamente os instrumentos paracompreender as causas, os fatores que in-tervêm na história e determinam. Na músi-ca não. Na música o músico deve interpre-tar, sentir (através do que se chama sensi-bilidade) a inspiração. Mas a inspiraçãonão pode ser feita se não há um sentido deunidade com o ser humano, como expressaBeethoven. Por isso só há um Beethoven,que é superior a Bach, que foi dos mestresde Beethoven na forma da música, mas nãosocialmente.

Escutamos Beethoven porque forma partedo objetivo do comunismo: elevar as rela-

ções humanas, a vida a un nível superiorrepleta de fraternidade. Beethoven é quemmais se aproxima disso. Beethoven poderiater sido superado no Estado operário. Mas,mesmo assim, no Estado operário, semStalin, com o socialismo, é necessária umaforma estável de sociedade para expressaras formas mais elevadas de expressão ar-tística. Beethoven já expressava a seguran-ça de um regime que se mostrou superiorao feudalismo. E no socialismo são neces-sárias relações superiores para dar músi-cos e pintores.

Escutamos Beethoven com a mais elevadaalegria de sentir-nos comunicados, unidosaos criadores das relações humanas, dafraternidade humana qualquer que tenhasido o lugar ou a função que eles exerce-ram, como Beethoven na música.

Sem dúvida, que há uma diferença muitogrande entre Beethoven e Marx. Marx davaa base para dirigir, intervir e transformar ahistória. Beethoven dava um dos elemen-tos para desenvolver a alegria para decidir-se a mudar a história. São diferenças defunções. Os dois eram necessários na his-tória.

A “Apassionata”, a melhor sonata deBeethoven, expressa uma comunicação eum sentimento de paixão muito profundo.Sentimento harmonioso extremamente pro-fundo. Mesmo com aspectos melancólicos,em determinados momentos, a melancolianão desce ao nível da angústia, mas con-duz à reanimação por meio do amor. A me-lancolia de Beethoven era por viver só, nãoter companheira, por ter tido uma série deproblemas com uma mulher que amava. Masentre a mulher que amava e a música, ficoucom a música. E na “Apassionata” mostrauma profundidade muito grande de senti-mento apaixonado, que é um exemplo, umguia para todos. E especialmente para nós,para sentirmos que tudo o que se faça dedigno na história tem que ser apaixonada-mente.

A paixão não é o torvelinho do ritmo, mas osentimento de acúmulo de decisão, de amorpara conseguir o que se quer. Demonstrarque se age com carinho e amor à vida, aosseres humanos e ao porvir, ou ao que cha-mamos de porvir. E Beethoven mostra issomuito bem. Ele era um grande apaixonadopela música e, através dela, da vida. E atra-vés da vida, da fraternidade humana. Porisso criou a Terceira, a Quinta e a Nona,que são três símbolos da fraternidade hu-mana. E na Terceira Sinfonia está a marchafúnebre, que não conduz a pensamentosde luto, de morte, do companheiro que sevai, mas a uma descrição de um aconteci-mento fora do nosso domínio – que é amorte – mas que a compreendemos, dei-xando de ser uma imposição.

RevoluçãoSocialista

“Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 08 – Nº 22 – Junho de 2007 – R$1,00

JornalJornalJornalJornalJornalPosadistaPosadistaPosadistaPosadistaPosadista

Continuação doJornal

Frente Operária,fundado em 1953

Empresa Brasileira deAgroenergia

Página 3

IrãViagem do Papa

Página 7 e 8

A rosa e a vida(J.Posadas)

Página 8

A Operação Navalha e a crise irreversívelda representação política atual das elites

e das forças conservadoras

PresidenteLula noI FórumNacionaldas TVsPúblicas

Fórum Nacionaldas TVs Públicas

Página 2

AMÉRICA LATINAPágina 4

TVES e apoio aHugo Chávez

Página 5

(continua na página 2)

EDITORIAL

Rica

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Stuc

kert

A Polícia Federal não atua por inér-cia, sem orientação e movida sim-plesmente por um afã patriótico e

ético: há um movimento no governo e nasociedade que pressiona e exige iniciati-vas e maior controle do Estado sobre a“ditadura dos construtores” e suasimbiose com a velha e corrupta classepolítica. O governo Lula, apesar de toda aconciliação com as forças tradicionais edos esforços para cooptar todas as com-ponentes da elite para manter umagovernabilidade tranqüila, e de todas asconcessões adjacentes, encontra-se na si-tuação de desenvolver o país, de oferecercrescimento e estabilidade e responder ao

eleitorado que o elegeu, e aos avanços re-volucionários do resto da América Latina.Isso está em contradição com o atual ar-ranjo institucional e o funcionamento car-comido da administração pública e da clas-se política atual. Nem o PAC nem projetode desenvolvimento algum podem caminharquando bilhões e bilhões saem pelo ralo dacorrupção graúda e miúda, envolvendoexponentes centrais da administração pú-blica e do legislativo.

Independentemente que as forças polí-ticas possam manipular os resultados e odesenrolar da “Operação Navalha”, ou li-mitar o seu alcance com habeas-corpus poratacado, fazer uso da mídia ou por espírito

de corporação como ocorre no Senado, oumesmo reagir e cercear o trabalho da PolíciaFederal ou da banda não-contaminada do po-der judiciário, já o estrago está feito: por issona percepção popular o Congresso Nacionalocupa o último lugar da escala decredibilidade. A ridícula tentativa do Sena-do, desmoralizado até a alma pelo escândaloque envolve o seu presidente, de outorgar-se em juiz da democracia na Venezuela, pormeio da defesa do canal privado RCTV e seusdesmandos, mostra que estes senadores es-camoteiam os reais e terríveis problemas doBrasil, inclusive o da existência de uma dita-dura midiática da qual, paradoxalmente, elesmesmos podem ser vítimas em qualquer mo-mento.

Isto forma parte das condições subjeti-vas e objetivas para que os movimentos so-ciais irrompam à cena, e o Congresso Nacio-nal do MST é uma ótima oportunidade, paraapresentar-se ao país com propostas e idéi-as incisivas que ajudem a reforçar a melhorala deste governo, que, paradoxalmente, en-contra-se em condições mais favoráveis paralimitar a pressão das alas mais conservado-ras e oportunistas. O governo de Lula apre-senta elementos contraditórios sobre osquais é preciso refletir com o critério da obje-tividade critica, e de uma estratégia e táticaque não freiem, mas empurrem as forças pro-gressistas institucionais que querem avan-çar, junto aos movimentos sociais, para ob-ter avanços na luta pelas transformaçõessociais.

É inegável que a repressão aos movi-mentos sociais continua, seja pela ação di-reta das elites (violência no campo) seja pelaatuação dos órgãos de Estado, como a po-lícia e a justiça contra os pobres das áreasurbanas. Ela não é assumida abertamentepelo governo, mas este é conivente. A grandequestão do Brasil é a questão social, e aesta o reformismo dá somente pálidas res-postas. O “combate à violência” nos mor-ros do Rio é emblemática, pois transformaem questão militar problemas eminentemen-te e evidentemente sociais. Os programasde “aceleração” da educação e as iniciati-vas sociais - ninguém pode refutar este es-forço - prometem um futuro melhor mas sódentro de algumas décadas, o que contras-ta com a realidade de lutas sociais e rápidastransformações no continente Sul-Ameri-cano.

No fundo, o que faz com que os peca-dos neoliberais do governo sejam perdoa-dos é a aparentemente calmaria na área eco-nômica. É a paz do núcleo do furacão: omundo está em reboliço, pode desabar, jun-to com o império do dólar, o papel pintado.O Brasil pode ficar com a brocha na mão,enquanto os especuladores já estarão lon-ge, em outras paragens ou nos abismos doinferno e da guerra. Frente ao primeiro tre-mor forte da economia mundial, ogradualismo das reformas fiscais, da redu-ção a conta-gotas da taxa de juros, dasdesonerações setoriais e o jogo tranqüilodo “equilíbrio cambial”, que teoricamenteconduziriam o país ao caminho do cresci-mento, podem dar lugar a uma turbulência ea novas iniciativas truculentas por parte daárea econômica para garantir os lucros eprivilégios de banqueiros, investidores,especuladores e das oligarquias econômi-cas, em nome da “estabilidade”.

Não será um jogo fácil, do qual o Brasilpoderá se safar com “competitividade”.Principalmente se ficarem livres os meca-nismos de nova colonização na área dosbiocombustíveis, com a desnacionalizaçãoacelerada e evidente do setor. O PAC é umimpulso aos investimentos, mas coloca emestridente evidência que, sem o papel pre-ponderante do Estado, o país não poderáse desenvolver.

Intervir nas contradições do governo Lulapara avançar na luta antimperialista a

nível continental

Página 2 Junho 2007RevoluçãoSocialista

Expediente“RevoluçãoSocialista”

Órgão da Corrente Posadista do PT –Regulamentada junto ao

Diretório NacionalContinuação do Jornal “Frente

Operária”, fundado em 1953.Diretor Responsável :

C. Almeida – Reg. Prof. 049/SPE-mail: [email protected]

Página Web:www.revolucaosocialista.cjb.net

Brasília DFCirculação interna ao PT

J.Posadas, fundador eorganizador da IVInternacional Posadista

Este Fórum foi um acontecimento damaior importância na luta pela democratização dos meios de comuni-

cação de massas no nosso país. Talvez asentidades democráticas, que com tenacida-de e persistência têm conduzido batalhasmemoráveis neste tema não tenham perce-bido a profundidade deste processo e asoportunidades que se apresentam. O “Ma-nifesto pela TV Pública independente e de-mocrática” – a Carta de Brasília – aprova-do e lido frente ao Presidente da República,estabelece compromissos que não mais po-derão ser ignorados, como a regulamenta-ção dos parágrafos 220 a 223 da Constitui-ção, cuja ausência está na base da atualditadura midiática privada.

A luta do Ministério da Cultura e a pre-sença do Presidente da República, não sódando o aval ao Manifesto, mas expressan-do o seu entendimento sobre o papel rele-vante que a nova TV deve desempenhar nopaís, promovendo os grandes debates deinteresse nacional “do Oiapoque ao Chuí”e como os meios e a qualidade necessáriospara capturar a audiência e ser um fator dedesenvolvimento da cidadania, mostra queainda há forças no governo e influência dasociedade nas opções a serem feitas na pró-xima fase.

A batalha está no começo, mas é um bomcomeço. Deixar a Coferência Nacional dasComunicações nas mãos do Ministro HélioCosta das Comunicações, prevista paraagosto, é um perigo, pelo que ele represen-ta e tem representado até hoje, ou seja, opapel de representante dos interesses damídia privada no governo. A ABERT já estáconvocando a sua Conferência, que serásem dúvida alguma a resposta do setor pri-vado, e o início da contra-ofensiva. De fato,a guerra está declarada, como mostra ofato que os maiores meios de comunicaçãodo país simplesmente ignoraram e oculta-ram fato tão relevante como a Conferência.

Portanto, como todos reafirmaram, acampanha tem que ir às ruas, aos sindica-tos, a todas as instâncias democráticas. Opróprio Ministro Gil pediu – e obteve – queo Fórum tivesse caráter permanente, vigi-lante. Os movimentos populares não de-vem perder esta oportunidade, pois este nãoé tema específico de uma categoria decomunicadores e jornalistas, é patrimôniofundamental da democracia e da luta pelas

transformações sociais, é a janela pela qualos movimentos podem se enxergar e ver omundo, para que lado vai, e conhecer aprópria força.

O I Fórum Nacional das TVs Públicasmostra que há decisão no governo de dis-putar o monopólio dos oligopólios da mídiaprivada e comercial, e ocupar os espaçosde comunicação de massas, favorecendocom os seus meios técnicos e financeiros aexpressão da diversidade regional e cultu-ral do povo brasileiro. Não importa ficardiscutindo o nome do Ministro, e a sua tra-jetória profissional recente. O Presidentefoi claro sobre a concepção que deve guiara nova TV, e que para tal missão o convo-cou. O maior desafio não é conquistar omeio, a mídia; esta está praticamente asse-gurada. O que falta, agora, são idéias, ser-mos capazes de produzir uma TV superiorem qualidade e conteúdo, aos meios priva-dos. O que não nos exime de combater, pormeio da regulação, os oligopólios abertosou ocultos, que buscam refúgio nas novastecnologias e na convergência das mídias.

Sobre as intenções sinistras dosoligolólios privados não pode haver dúvi-das: basta recordar a campanha eleitoralde 2006, as várias tentativas de golpemidiático, a guerra ideológica permanentecontra os movimentos sociais e a ala maisprogressista do governo. Quando o Presi-dente Lula assinou o decreto criando asRTVIs, em 2004, a ABERT o criticou, o pres-sionou, mas tambem a FENAJ o criticouem nota oficial, associando-se de algummodo a pressão da ABERT. Queria que man-dassem um projeto de lei, que JAMAIS se-ria aprovado neste Congresso. Naquelemomento, o governo se intimidou e o de-creto não caminhou. Desta vez, não pode-mos deixar o governo isolado.

Tal como ocorreu e ocorre constante-mente na Venezuela, a guerra será dura. Aresposta do governo Venezuelano tem sidoampliar a área pública, e está prestes alançar o satélite de comunicaçõesgeoestacionário feito em parceria com aChina, que vai independizar o nosso Conti-nente inclusive do boicote tecnológico e atédo risco do Império “cegar” as nossas co-municações, e oferecer um meio potente deretransmissão dos sinais das TVs indepen-dentes da América Latina.

Há que se deixar de lado todas as di-gressões acadêmicas sobre o perigo de uma“TV chapa-branca”, aliás, rechaçado pelopróprio Presidente Lula, ou o ranço anti-estatal, para fortalecer toda a área pública,estatal e comunitária de meios de comuni-cação, criando, “duas, três, mil emisso-ras” para que, finalmente, o povo brasilei-ro possa expressar o seu ser, a sua cultura,a sua informação e a mídia de rádio e TVtenha a sua própria cara. Provavelmenteesta seja uma das maiores e últimas opor-tunidades para iniciar uma reviravolta àesquerda nas políticas deste governo decoalisão. Perdê-las seria imperdoável.

O I Fórum Nacional dasTvs Públicas

Vem da página 1

Paradoxalmente, as elites jamais viveramuma crise de representação política como aatual, e tentam embarcar um por um dosseus representantes no barco do GovernoLula para incliná-lo para o próprio lado. Aoposição vacila, se dispersa. Em parte pornão ter do que reclamar, já que seus pleitossão atendidos. Em parte, por não ter alter-nativa alguma a propor, acontentando-seem roubar à esquerda as suas bandeirashistóricas, por ela esquecidas num armário.Por isso a oposição se diz mais “ética” e“distributivista” que a própria esquerda.

O que realmente faz com que o barconavegue tão devagar e sem rumo é a faltade coordenação e de vida política dos par-tidos de esquerda e dos sindicatos que re-colham o enorme potencial de inteligênciae capacidade de luta dos velhos quadrosoperários e da juventude deste país. Lulaocupa em certo sentido o vácuo com seuspronunciamentos e o seu instinto político,na ausência de vida política do próprio PT.Os movimentos sociais são os que mais semobilizam, discutem e combatem, mas aonão encontrarem eco nos partidos (a nãoser na igreja de base e nas Pastorais daTerra e em intelectuais e artistas de esquer-da), correm o risco de serem induzidos aoisolamento ou à pura e simples crítica aogoverno.

É necessário sair da atitude simplista deque “a culpa é do governo, que desarmouos setores combativos”, traindo oucooptando as suas bases sociais. As ba-

ses sociais nunca renunciaram à perspecti-va da transformação, mas entendem queela passa por esta experiência, por este go-verno real e que diariamente tem que tomarmedidas, decisões, aplicar leis, e o têm feitode maneira diversa de todos os governosneoliberais precedentes. Diante das con-tradições interiores deste governo, é preci-so ver que há vários quadros técnicos epolíticos que resistem no planoinstitucional, às concepções mais reacio-nárias. É crucial aliar-se para estimular aruptura com as grandes transnacionais.

Claro está que as mobilizações da socie-dade organizada formam parte da aliança: aespera tem que ser ativa, combativa, na qualse estimule ou obrigue o governo a tomardeterminadas posições mais próximas aosmovimentos sociais. Há que se levar emconta que este governo é um duplo refém:das elites, pelos mecanismos econômicosneoliberais herdados das derrotas do mo-vimento operário dos anos 80 e 90; mastambém da sua base social e do poderosoprocesso de transformação social em cur-so no resto da América Latina que penetrapor todos os poros e indica novos cami-nhos, a quebra dos paradigmas reacionári-os e neoliberais, abre novas possibilidadesde desenvolvimento e mudanças sociais emfavor dos mais pobres.

É pouco? Não, neste mundo de polari-zação e guerra, e no qual já se discute osocialismo do século XXI. O que não sepode é ficar à espreita, ou à espera, de fora,fazendo a crítica “de esquerda”. É precisoarrancar conquistas, retomar as grandesreflexões, propostas estratégicas de desen-volvimento, pelejar no terreno das chama-das “reformas”, abrir brechas por todos osflancos e combater os neoliberaisencastelados nas várias instituições, por-que as condições são propícias para em-preender outro tipo de desenvolvimentoenergético, ambiental, social e político.

Os movimentos sociais, a lutas do MSTexigindo o cumprimento da Reforma Agrá-ria, as greves do funcionalismo, dos pro-fessores e metroviários de São Paulo eBrasília, as ocupações de fábricas como asde Itapevi, e as manifestações do Grito daTerra de 23 de maio, no Dia Nacional deLuta Unificada, mostram o potencial dosmovimentos sociais para pressionar o go-verno, sem o que não há conquistas soci-ais que se sustentem.

O veto presidencial à Emenda 3 e amobilização dos sindicatos, necessitam deuma mútua interação para assegurar que asleis trabalhistas e a CLT do tempo de Vargas,não retrocedam. Os debates pré-congressuais do PT devem recolher as ex-pectativas dos movimentos sociais e assu-mir a Campanha pela Empresa Brasileirade Agroenergia, e da democratização dosmeios de comunicação, de apoio à fusãodas TVs Públicas com as TVs comunitári-as. Energia, Comunicação e Reforma Agrá-ria, são centros nevrálgicos para empurraro governo no rumo das transformaçõessociais. O que é certo é que ainda há umenorme terreno de combate e de conquis-tas a serem feitas.

O ministro Gilberto Gil no Fórum Nacionaldas TVs Públicas

Rica

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Página 3Junho 2007 RevoluçãoSocialista

Nos bastidores da questão energéticaestão em jogo forças aliadas a inte-resses econômicos de grande porte,

grupos transnacionais, Bill Gates, Soros,bancos franceses, grupos financeiros comoa Mitsubishi. E o que é concreto é que asforças do grande império, diante do previs-to esgotamento das energias não renováveise da eminente derrota política e social naguerra do petróleo no Iraque, procuram al-ternativas de alcance estratégico que, pre-visivelmente, não excluem as opções milita-res, a começar pela ocupação “pacífica”:chama a atenção, neste sentido, a velocida-de com que grandes grupos multinacionais,estão comprando grandes extensões de ter-ras brasileiras a preço irrisório para amonocultura da cana-de-açúcar e investin-do na construção de mega-usinas, para aexportação e alimentação do seu parque au-tomobilístico e bélico. Para isto, os norte-americanos já criaram quatro empresas deâmbito mundial e com sede nos EUA, e umaCâmara de Comércio de EnergiaRenovável, sob a presidência de Jeb Bush,irmão do presidente Bush, tendo como re-presentante do Brasil Roberto Rodrigues,ex-Ministro da Agricultura do governoLula, representando a FIESP e ligado àMonsanto e ao agronegócio estrangeiro,inimigos do pequeno produtor nacional. Ouseja, enquanto o império organiza seus ins-trumentos, no Brasil foi demolida a Secre-taria de Tecnologia Industrial, que implan-tou o Pró-Alcool, e seguimos sem uma ala-vanca centralizadora.

Porém, não se pode dizer que a batalhaesteja perdida. Isto pode ocorrer, se não seentra urgentemente em campo. É precisoconsiderar que foi o próprio Lula a lançara idéia de uma Empresa Brasileira deAgroenergia (EBA) e de uma produção debiocumbustíveis baseada na agricultura fa-miliar, o que, rigorosamente não está ocor-rendo. Entretanto, a proposta responde nãosó aos interesses dos agricultores, mas tam-bém de setores nacionalistas, intelectuais,cientistas como Bautista Vidal, militares, sin-dicatos, movimentos sociais e clero progres-

sista, bem sintetizados no artigo de FreiBetto (veja ao lado).

Às ameaças de dominação completa dastransnacionais e agronegócios, cuja pontado iceberg é a vinda de Bush, é preciso oporurgentemente a mobilização das forças po-pulares, unificando o grande anseio de de-fesa da nação brasileira, que não morreu,desde a Campanha Popular pelo “O Petró-leo é Nosso” e a criação das Petrobrás porGetúlio Vargas. É preciso levantar a cam-panha da “A agroenergia é nossa!”, a par-tir dos pequenos e médios agricultores,combinando a luta pela Reforma Agráriacom a implantação de uma Empresa Brasi-leira de Agroenergia em mãos do Estado.

Há dentre os elementos contraditóriosdeste governo, alguns fundamentais nosquais se apoiar para levar esta luta. O po-sição discordante de Lula quanto aos ata-ques de Bush contra o Irã na questão daenergia nuclear, a resolução do Brasil deaderir ao Banco do Sul proposto pelaVenezuela, Equador e outros países, a pre-dominância da linha de integração com aVenezuela, Argentina, Equador, Bolívia,Nicarágua, Uruguai e Chile; a participa-ção brasileira na I Cúpula Energética da A.Latina, a assinatura de novos acordos decooperação no campo petrolífero com aVenezuela, e a atitude de busca de acordo eentendimento mesmo em problemas espi-nhosos e complexos como o da nacionali-zação dos recursos petrolíferos pela Bolí-via, indicam uma linha diplomática alinha-da com a frente mais avançada de resistên-cia ao imperialismo existente atualmente.

É preciso dar uma forma institucionalpara que o redirecionamento do projetoagroenergético esteja submetido às neces-sidades das massas pobres do país. Somentea planificação estatal pode criar uma políti-ca de créditos, de preços, decomercialização, de geração de emprego,de garantias nas relações de trabalho nocampo, de garantia da produção deagrocombustíveis sem prejuízo da produ-ção de alimentos.

Do carnaval aoimenso canavial

Frei Betto

O Brasil é o país do carnaval. Aqui não se vive sem os cinco efes: fé, festa,feijão, farinha e futebol. Toda essa alegria está ameaçada de se transformarnuma grande tristeza nacional caso o governo federal não tome, o quanto

antes, severas medidas para impedir que o país se torne imenso canavial em mãosestrangeiras.

Estamos de volta aos ciclos de monocultura que, nos livros didáticos de minha infân-cia, marcavam os períodos da história nacional: pau-brasil; cana-de-açúcar; ouro;borracha; café etc. Esta razão da recente visita de Bush ao Brasil, temos a matéria-prima e a tecnologia alternativas ao petróleo, energia fóssil prestes a se esgotar.Hoje, 80% das reservas petrolíferas se encontram no conflitivo Oriente Médio.

Construir usinas nucleares é dispendioso e arriscado, alvos potenciais de terroris-tas. A solução mais segura, barata e ecologicamente correta é a cana-de-açúcar e osóleos vegetais. Petróleo era um bom negócio quando o barril custava US$ 2. Hojenão custa menos de US$ 50. E não dá duas safras. Cana e mandioca, além deabastecer veículos e indústrias, dão quantas safras se plantar. Basta dispor da terraadequada e disto que, ao contrário dos EUA, há nos trópicos em abundância: água esol. De olho nessa fonte alternativa de energia, Bush veio ver para crer. O etanolextraído de nossa cana tem a metade do custo do produzido pelo milho made in USA;1/3 do preço do etanol europeu obtido da beterraba; e é, hoje, 30% inferior ao preçoda gasolina, além de não poluir a atmosfera nem se esgotar.

Então o Brasil se tornará um país rico? Sim, se o governo agir com firmeza e detivera ganância das multinacionais. Bill Gates e sua Ethanol Pacific já estão de olho nasterras de Goiás e Mato Grosso. Japoneses, franceses, holandeses e ingleses que-rem investir em usinas de álcool. Se o Planalto não tomar a defesa da soberanianacional, o imenso canavial Brasil estará produzindo combustível para os paísesindustrializados que, na defesa de seus interesses, cuidarão da segurança de seusnegócios aqui, ou seja, regressaremos ao estágio colonialista de República, nãodas Bananas, mas da Cana. E as próximas gerações correrão o risco de experimen-tar na carne o que hoje sofrem os iraquianos.

Assim como Monteiro Lobato, na década de 1940, clamou pela defesa do petróleobrasileiro, dando origem à Petrobras, é hora de exigir a criação da Biocombrás, aCompanhia Brasileira de Biocombustíveis. Caso contrário, teremos nosso territórioagricultável retalhado pelo latifúndio associado às empresas multinacionais; a canaimperando no Sudeste; a soja e as pastagens desmatando ainda mais a Amazôniae provocando graves desequilíbrios ambientais. E é ilusão imaginar que a tecnologiade exploração da biomassa vegetal absorverá mão-de-obra. O desemprego e osubemprego (bóias-frias) serão proporcionais ao número de pés de cana plantados.

Bush não veio aqui preocupado com a miséria em que vivem milhões de brasileiros,sobretudo os migrantes expulsos do campo e amontoados nas favelas em torno dasgrandes cidades. Nem interessado na pequena propriedade rural e na agriculturafamiliar. Veio soprar nos ouvidos do presidente Lula para o Brasil dar as costas àVenezuela petrolífera de Chávez e erguer seu copo de garapa orgulhoso de suaenergia vegetal, feliz porque vão chover álcooldólares na lavoura nacional. O Brasilentra com a terra, a água e o sol, e um pouco de mão-de-obra barata, eles colhem,exportam e vendem o produto via Monsanto, Cargill e congêneres, aplicando os lu-cros lá fora. Ficam com o verde da cana e dos dólares e, nós, com o amarelo da fome,como descrevia Carolina Maria de Jesus em Quarto de despejo.

O mínimo que se espera do presidente Lula é que siga o exemplo de Chávez edefenda os interesses nacionais. A empresa venezuelana equivalente à nossaPetrobras era a sócia minoritária na exploração do petróleo do país vizinho. AgoraChávez reverteu a equação: a partir de 1º de maio a Venezuela fica com 60% dascotas e as empresas estrangeiras com 40%.

Foi o clamor popular que, no passado, obrigou o governo a ouvir que “o petróleo énosso”. É hora de clamar pelo etanol e impedir que o imenso canavial Brasil multipli-que o trabalho escravo, aumente o número de bóias-frias e devaste o que nos restade florestas e reservas indígenas.

A BIOMASSA É NOSSA!Campanha Nacional já

pela criação de uma EBA(EMPRESA BRASILEIRA DE AGROENERGIA)

Os perigos doalinhamento com os

EUA na questãoenergética e anecessidade da

EMPRESABRASILEIRA DEAGROENERGIA

Micro-usina de álcool construída porMarcelo Guimarães em Minas Gerais

Página 4 Junho 2007RevoluçãoSocialista

Passados nada menos do que uma dé-cada da queda da União Soviética,de acentuada agressividade do ca-

pitalismo internacional, e de concentraçãodas riquezas das transnacionais e do capi-tal financeiro, eis que se inicia uma novaera, a da insurgência, como disse Fidel.Abre-se um processo irreversível decontraposição, de rebelião contra este pro-cesso perverso do imperialismo anglo-ame-ricano. Na América Latina e no mundo asmassas organizam-se para reverter este pro-cesso, questionando os modelosneoliberais privatizantes e impondo gover-nos nacionalistas, que protagonizam o Es-tado como detentor e organizador das ri-quezas sociais em benefício das classesmais desfavorecidas do continente. A pró-pria Rússia, centro da crise da ex-Urss passapor um processo de re-estatização do petró-leo, da rede de TV, do sistema bancário erecoloca na sua bandeira a foice e o martelo.

O “fim” da guerra fria veio demonstrarque isto só veio fortalecer o aparato bélicodos EUA e suas ações de anexação de paí-ses, para atender seus interesses como opetróleo do Iraque, ou a ocupação do terri-tório brasileiro “pacificamente”, através dacompra de grandes extensões de terras paraa exportação de agroenergia a fim de suprirexclusivamente suas necessidades.

ALBA E UNASUL

A América Latina tornou-se um vulcãoexplosivo contra 500 anos de colonialismoe opressão do capitalismo neoliberal dosúltimos decênios. A reação é em cadeia e deforma coordenada. Apoiando-se na chamaresistente de Cuba, a consciência popularsuperou as barreiras da paciência e tem im-posto governos e lideranças, como HugoChávez, Evo Morales, Rafael Correia, Lula,Kirchner e Ortega, e tem criado movimen-tos e formas de participação social, estabe-lecendo a aspiração comum de umaintegração latino-americana. Eis a Cúpulada ALBA que consagra a UNASUL (Uniãodas Nações da América do Sul), enterra aALCA e firma o compromisso de acabar como analfabetismo em toda a região abarcadapela ALBA em 3 anos, assina 14 projetosde saúde, educação, cultura, comércio jus-to, ambiental e industrial, e cria um FundoALBA para investimento e cooperação en-tre os países. Concomitantemente se reali-

zou o Primeiro Encontro de Movimentos eLíderes Sociais, que se incorporam no es-quema da ALBA para um trabalho conjun-to e com poderes de decisão nos projetos.

A integração está aí em marcha e é já umfato. Ela se viabiliza porque existe uma lide-rança disposta como Chávez a centralizaros povos e dar-lhes o norte justo, no rumodo socialismo. A integração passa porTelesul, Banco do Sul, Universidade do Sul,Gasoduto do Sul e ALBA, e é preciso queas forças políticas participantes, estabele-çam objetivos que norteiem tais instituiçõesdentro de metas revolucionárias que rom-pam com os interesses econômicos dasmultinacionais e que afirmem os interessesde Estados soberanos, representando cla-ramente a aspiração democrática e socialis-ta dos povos da América Latina. Chávez,foi recebido com ovação na Argentina e naBolívia, em contraste com o giro fúnebre deBush repudiado por manifestações de pro-testo dos movimentos sociais no Brasil,Uruguai e Colômbia. Já há um consensonas massas latino-americanas de que aintegração viável é a do socialismo, e deque as medidas aplicadas na Venezuela ser-vem de referência para o que é possível enecessário fazer em todos os países parapercorrer este caminho.

A Venezuela e a Bolivia rumo aosocialismo

Neste primeiro de maio, além do aumen-to de 20% do salário mínimo, o Estadovenezuelano acaba de decretar várias me-didas de interesse social. Uma delas, assu-mir através da PDVSA o controle majoritá-rio das faixas petrolíferas do Orinoco e aca-bar com os contratos de risco dasmultinacionais. A outra é a não renovaçãoda concessão à RCTV (no pleno respeitodas leis da comunicação e da Constituição),por 53 anos em mãos de um clã mafioso egolpista, restituindo o direito democráticodo povo no controle social do espectroradioelétrico. E finalmente, outra medida, acriação oficial do Partido Socialista Unidoda Venezuela. Com isso se prenuncia o avan-ço do governo ao poder. Chávez conclamaa classe operária a assumir o papel prota-gonista da revolução. O Partido é um ins-trumento político necessário na constru-ção do socialismo; unificador e controlador,junto ao exército revolucionário, frente aos

riscos da burocracia e da corrupção,germens da contra-revolução. Algumas di-reções sindicais míopes e restritas aosindicalismo reformista não estão dispos-tas a assumir uma função política; por issonão vêem a importância de apoiar um parti-do revolucionário unificado de massas, eterminam cumprindo uma funçãodesagregadora. Referindo-se aos que nãoaderiram ao PSUV, e aos “social-democratastraidores”, Chávez citou Trotsky, e fez umapelo à unificação das forças em torno darevolução bolivariana; ao mesmo tempo,deixou claro que no PSUV vigorará a plenaliberdade de correntes e estimulará a bata-lha de idéias na construção do socialismo.

Na Bolívia, Evo Morales aprofunda asnacionalizações das minas e do gás, e osmineiros e camponeses estabelecem o con-trole operário, mirando o socialismo do sé-culo XXI . Os mineiros bolivianos, em pou-co tempo, melhoraram as condições de tra-balho, incorporando as cooperativas pri-vadas que se baseavam na super-explora-ção de famílias e da mão de obra infantil.Em Huanumi foram incorporados os “pri-vados” à empresa estatal que soma hoje emtorno a cinco mil mineiros, sindicalizados. Aclasse operária conseguiu superar a “guerraentre os pobres” que produziu dezenas demortos e feridos no ano passado. E comobem recordado por H. Chávez, no comícioem El Alto no seu último giro, os militarestêm uma função importante a cumprir nadefesa da soberania dos povos, como o fezJuan José Torres na Bolívia, presidente,nacionalista e revolucionário, promotor nosanos 70 de uma aliança mineiro-campone-sa-militar, e por isso assassinado pela CIA.

O nacionalismo revolucionário

A tradição de movimentos militares na-cionalistas da América Latina, como a do

peronismo, de Getúlio Vargas, de Juan JoséTorres na Boliva, Velasco Alvarado no Peru,Arbens na Guatemala, que deu fundo paraas teses de J. Posadas como “O papel dosmilitares nacionalistas” ou “Do nacionalis-mo ao Estado Revolucionário”, hoje é re-conhecida por Fidel Castro na sua entre-vista a Ramonet no livro “Cem horas comFidel”, e está materializada no Estado Re-volucionário venezuelano. Não há que es-quecer Humala Ollanta. Perdeu por poucoas eleições, mas continua sendo uma forçalatente do nacionalismo peruano que nãodá estabilidade ao neo-liberal Alan Garcia.

Soma-se a esta pressão integradora dasmassas latino-americanas, a eleição deRafael Correia no Equador, sua vitória es-magadora de 80% pela Assembléia Consti-tuinte. Tudo indica que o Equador de Cor-reia pesa fortemente a favor de umaintegração de cunho socialista: a defesaimediata das nacionalizações, do Banco doSul, o fechamento da base americana, e asdeclarações de revisão das privatizações econcessões do Estado para que este recu-pere o controle de setores estratégicoscomo o petróleo, a mineração, a eletricida-de e as comunicações.

A Primeira Cúpula Energéticada América do Sul

A questão energética passa a ser funda-mental para a humanidade, e a América La-tina pode cumprir um papel exemplar naintegração deste continente de riquezas mi-nerais, petrolíferas, florestas, biomassa, sol,vento e água como patrimônio social dasmassas latino-americanas. Não há contra-dição entre a exploração petrolífera e a dabioenergia, se o controle dessas riquezasestiverem em mãos de governos que res-peitem os interesses dos povos, dos traba-lhadores, camponeses e indígenas; em

A falênciado modelo neoliberal

na América Latina

Os presidentes Chávez, Lula, Evo Moráles e Nicanor Duarte lançam a pedra fundamental doComplexo Petroquimico de Jose por ocasião da I Cúpula Energética da América do Sul.

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Página 5Junho 2007 RevoluçãoSocialista

mãos do imperialismo, significam guerra,como já vemos dramaticamente no Iraque.A Venezuela e a Bolívia logram finalmentecolocar o petróleo em mãos de um Estadorevolucionário e em benefício do povo.Esta I Cúpula Energética da América do Sulrealizada em Margarita na Venezuela foi umaboa resposta inicial à pretensão de Bushde imperar dividindo. A Venezuela ofereceo petróleo da faixa petrolífera do Orinocopara assegurar a estabilidade energéticada América do Sul.

O Brasil, por sua vez, possuidor do mai-or potencial energético de biomassa do con-tinente, tem tudo para ser um grande benfei-tor do outro pólo energético, o do álcool e oda agroenergia, se romper com o esquemadas transnacionais de Bush e do capitalis-mo internacional. O Brasil pode propor umprojeto unificador através da criação de uma“OPEP Verde” para a integração energéticados povos. Porque não propor à Bolívia,como ao Peru e à Colombia, a reversão daatividade produtiva da coca paraagroenergia alimentar e combustível? Mas,certamente, sem uma EBA (Empresa Brasi-leira de Agroenergia) onde o Estado brasi-leiro planifique, controle e comercialize adistribuição, é impossível entrar em qual-quer projeto integrador nos moldes defavorecimento da agricultura familiar naAmérica Latina.

Dentro do espírito revolucionária, hácampo para a plena integração energéticana América Latina. O imperialismo joga como poder da mídia para instigar a desuniãodos povos latino-americanos. Não há dis-putas entre Venezuela e Brasil. É a ira ianquecontra os vários acordos de cooperaçãoque vão desde o Orinoco à refinaria Abreude Lima em Pernambuco. O Brasil já cons-truiu mini-usinas de etanol em Cuba. Esta,por sua vez, acaba de fazer acordos de ins-talação de 11 usinas de álcool na Venezuela.

Por outro lado, há discussões objetivase fraternas a serem feitas entre as direçõesrevolucionárias sobre como melhor respei-tar os parâmetros sociais e ecológicos daprodução energética.

Por exemplo, a oferta de compra total doetanol brasileiro por parte da Venezuela,desprovida das taxas alfandegárias dosEUA, é importante para romper a depen-dência do Brasil ao mercado dos monopóli-os internacionais. Ao mesmo tempo, corre-se o risco de favorecer a estrutura latifun-diária atual da produção do álcool, se nãohouver uma EBA, onde o Estado favoreçaos pequenos e médios agricultores nacomercialização com os demais países daA. Latina. Junto às lutas camponesas pelaReforma agrária, que não dependam da di-nâmica deste processo, é fundamental acriação da EBA já.

Há que discutir a nivel continental te-ses demonstrativas de que o petróleo vai

acabar no planeta em 40 anos, e que o Bra-sil sendo possuidor de uma grande riquezatropical tem tudo para produzir combustí-vel renovável, limpo e a baixo custo,combinadamente com alimentos para opovo do inteiro continente, dependendoda forma de produção e se houver planifi-cação estatal. Há experiências exemplaresde pequenos agricultores produtores debioálcool-cachaça-gado a partir de canavi-ais de pequena extensão de terra. Experiên-cias deste tipo já foram levadas pelo enge-nheiro Marcelo Guimarães a Cuba, demons-trando que bastavam 10% da plantação decana-de-açúcar do país para gerar auto-su-ficiência energética.

Em muitos países, como o Brasil, princi-palmente em se falando de cana-de-açúcare não de milho, é necessário considerarque a utilização justa, com fins sociais, eunida a medidas de reforma agrária, abioenergia pode ser uma solução revoluci-onária, podendo perfeitamente combinar aprodução de combustível a alimentos. Háinúmeros estudos científicos brasileirosque o demonstram. Cuba, sendo um Esta-do Operário, já tem a estrutura que prima obem social, a emulação consciente de umpovo que permite acionar campanhas so-ciais como a das lâmpadas de menor po-tência; tem tudo para utilizar a produçãoda cana-de-açúcar sem depender da suaexportação para importar petróleo, e semfavorecer agro-negócios multinacionais,nem a indústria dos automóveis de luxo.

Cuba tem a grandeza histórica, comoEstado operário de exportar bens sociais,médicos, enfermeiros, remédios e vacinas,totalmente desprendidos do interesse par-ticular de um ou outro setor econômico,mas sim, emulados pela solidariedadeinternacionalista. E tem pensadores, cien-tistas e um Partido que podem pesar numaplanificação energética que melhor absor-va as potencialidades do país, incluindosol e biomassa, com um projeto de diversi-ficação da produção, de álcool combinadocom alimentos, assumindo uma tecnologiaprópria de motores a combustível ecológi-co para um eficiente parque industrial detransportes coletivos, ônibus, tratores ecaminhões. Um projeto de intercambiotecnológico é perfeitamente possível con-tando com as melhores forças progressis-tas do governo Lula, com Chávez e os de-mais países da ALBA. Desta forma se im-põem relações de Estado. Isto exigiria doBrasil uma instituição estatal como a EBA.Além disso, pode tornar realidade uma“OPEP Verde”. Seria importante se ospaises da UNASUL também criassem suasrespectivas empresas nacionais deagroenergia viabilizando um sistema con-tinental do sul de empresasinterconectadas, e dessa forma concreti-zar os objetivos integradores estabeleci-dos na I Cúpula Energética da América doSul.

O direito soberano do governoe do povo venezuelano

A medida do governo Hugo Chávez denão renovação, legal e constitucional,

da concessão à empresa privada, reacioná-ria e golpista da RCTV para utilização doespectro radioelétrico da nação venezuelanamerece o apoio incondicional de todos osbrasileiros que respeitam verdadeiramentea democracia e o direito soberano dos povos.

Os grandes grupos econômicos, orques-trados por Bush e CIA, detentores dooligopólio da mídia, alçam a bandeira negrada “falsa democracia”, instigam e conspi-ram contra a Revolução Bolivariana e aintegração latino-americana. Os histéricossenhores da guerra são os mesmos que jáantes acionaram seus potentes instrumen-tos midiáticos privados, para fabricardocumentários e falsas notícias e imagensjustificando a guerra dos mísseis, espargin-do bombas de “democracia” para massacraro povo da Iugoslávia e do Iraque. E porquenunca o Senado brasileiro tirou uma moçãode condenação a tão monstruoso desrespei-to à democracia e à legalidade internacionalda ONU? Onde estavam estes senadores“democráticos” brasileiros que ousaram ti-rar uma moção contra Chávez, desrespei-tando a soberania da Venezuela?

Como nunca na Venezuela, se está dandoo exercício pleno da democracia popular. Opresidente Chávez foi eleito e reeleito vári-as vezes desde 1998 pela imensa maioria dopovo. Finalmente “a liberdade de expres-são é de todos e de todas” como dizia oslogan de uma gigantesca manifestação po-pular realizada no dia 2 de junho em Cara-cas, um longo rio vermelho de pessoas, demais de 4, 5 kilômetros de trabalhadores,camponeses, estudantes, em apoio à medi-da presidencial de retirada de concessão àRCTV. Alguém viu esta notícia nos jornais ena TV brasileira? Ocultar isto é um crime deinformação. Isso é guerra nas telas de tele-visão. Não fossem as imagens e o serviçopúblico da Telesur que chegaram aos rincõesda América Latina, o breu seria total, comonuma guerra nuclear.

O clã mafioso e oligárquico que dominoupor 53 anos parte importante do espaçoradioelétrico pensou que a concessão era ili-mitada. Os limites foram impostos pela lei,pela Constituição e pelo povo. Porque amídia aqui ocultou esta manifestação de 2de junho? Que democracia é esta? É o temordos oligarcas e financeiros no Brasil, amigosdo clã da RCTV e do império, que mostramsomente as manifestações da minoria bur-guesa abastada das escolas privadas, mani-pulada pelos golpistas. Isso sim, é instiga-ção à violência, à desunião dos povos.

O pretendido desentendimento entre ogoverno Chávez e Lula, por culpa da intro-missão do Senado brasileiro nas questõesinternas da Venezuela, é instigado pela grandemídia burguesa, porta-voz dos opositores

aos acordos que estão sendo estabelecidosentre os dois países, com um papel pre-poderante da Venezuela na articulação doMercosul e da ALBA. Lula bem reafirmouque “Hugo Chávez é um parceiro e nãorepresenta um perigo para a América Lati-na”. Como disse também o presidenteOrtega da Nicarágua: «A Venezuela e o go-verno do presidente Chávez tem sido fun-damentais para o processo de integraçãoda região sul-americana. Quem se mete coma Venezuela, se mete com toda a região».

Os senhores da oligarquia brasileira,Sarney, Antonio Carlos Magalhães, os po-derosos ligados à Globo temem que o exem-plo da Venezuela se estenda ao Brasil; pro-vocam e intrigam Lula para que não siga oexemplo da revolução bolivariana. Antesmesmo desta medida com a RCTV, Chávezjá desde 2002 regulamentou 195 meios decomunicação comunitários, criou a Lei deResponsabilidade Social na Rádio e Televi-são, registrou 10.778 produtores nacionaisindependentes, deu apoio financeiro do Es-tado, estimulou a difusão da música e dasobras culturais venezuelanas. A nova TVESobjetiva continuar estas conquistas; dar es-paço para a cara, a voz e a cultura do povo.E isso é só o início. Estes senadores que nãose ocupam dos graves problemas sociais doBrasil, e se fazem valentes pela “democra-cia”, sabem perfeitamente que o governovenezuelano tem sido demasiado paciente erespeitador dos interesses privados e da oli-garquia. Estes têm sido detentores de 78%das estações de TV do espaço radio-elétri-co. Mas, se não cumprem com as regras cons-titucionais, e utilizam um bem público paraseus interesses privados, instigando a vio-lência e o golpe de estado, correm o risco,que a democracia popular lhes imponha omesmo fim da RCTV. Agora é a hora da de-mocracia das maiorias e o fim da ditaduradas minorias. Neste 2 de junho, o povovenezuelano se declarou em pé de luta, vigi-lantes e alertas nas fábricas, quarteirões,escolas, estradas e campos, inaugurando oseu PSUV com 5 milhões de inscritos, paraassegurar a irreversibilidade das suas con-quistas revolucionárias.

Viva a nova TV Venezuelana Social (TVES)!O que aimprensa noBrasilocultou:a gigantescamanifestaçãoem Caracasno dia 2 dejunho emapoio aChávez

Luis

Laya

Página 6 Junho 2007RevoluçãoSocialista

O Irã se encontra no meio de umturbilhão de fatos e eventos que oconduzem a uma situação onde

tudo adquire uma conotação de reação ourevolução. As vias reformistas capitalistasestão já queimadas pelas tentativas anteri-ores; reformas que não ocorreram e toma-ram características de usurpação ou de li-beralismo da OMC ou de outras organiza-ções imperialistas. Reformismo que se ti-vesse continuado teria submetido o Irã àstrágicas consequências da globalizaçãoimperialista.

Uma das razões da falência das tentati-vas reformistas é a inexistência de uma só-lida classe burguesa, que na tentativa deorganizar um Estado islâmico capitalistaconseguiu somente criar uma super-estru-tura burocrática mafiosa e ramificada nosgrandes aparatos do poder político e eco-nômico, mas separada da sociedade irania-na, criando uma profunda discriminaçãosocial; um abismo entre o extrato usurpadormafioso, enriquecido rapidamente, atravésda guerra e das facilidades internacionaiscapitalistas, e a maior parte da população.Isto se configurou geograficamente comuma enorme concentração em Teerã, às cus-tas da agricultura, das tribos nômades edos tecidos sociais já abalados violenta-mente pela guerra passada entre Irã-Iraque.Um Irã essencialmente agrícola, sem setransformar num país industrial que pudes-se justificar a concentração nas cidades.Em pouco tempo afluiu 73% da populaçãoem direção às periferias das cidades; umamigração forçada, dado que as pequenasempresas familiares, ou as tribos nômadesautônomas, e parte do eco-sistema, foramobrigadas a emigrar para as cidades, tor-nando-as invivíveis, sem identidade, infra-estrutura, emprego, suporte social e comtanta miséria e violência como em todas asmetrópoles capitalistas do chamado tercei-ro-mundo.

As privatizações no períodoanterior de Rafsanjani e Khatami

Após a revolução, a grande proprieda-de concentrou-se nas mãos do Estado; e aConstituição prevê os serviços sociais gra-tuitos. Nos 8 anos da política de “equilí-brio” de Rafsanjani, a propriedade do Esta-do foi parcialmente privatizada e manipula-da pelas famílias incrustadas no poder bu-rocrático. Mas, não ocorreu uma verdadei-

Irã:Entre reforma e

revolução

ra privatização e a união entre os Bancos eos Poderes judiciário e policial arrasava atodos, pequenos e médios, que tentassemcriar uma atividade produtiva, subordinan-do-os aos usurários e depois, enviando-osà prisão. A privatização foi uma forma mer-cantil de entrelaçamento como se a propri-edade fosse a mercadoria para ser compar-tilhada, passando de mão em mão até au-mentar falsamente o seu valor. Os hospi-tais foram privatizados e fechados paraaqueles que não podiam pagar. Grandesfábricas faliram, depois foram privatizadase apropriadas gratuitamente, ou com as fa-cilidades bancárias, presenteadas e depois,vendidas de forma rentável. A mudança dadestinação do uso, virou lei. Os arrozais eos pequenos campos de chá viraram man-sões; os mercados e os parques viraramarranha-céus; bairros populares desintegra-dos e cancelados deram lugar a edifíciosconstruídos com dinheiro sujo; florestasdestruídas e as minas privatizadas para ouso das quadrilhas das exportações.

Durante os 8 anos de Khatami asprivatizações e a vontade de estruturar aburguesia continuaram, mas desta vez anível internacional e submetida às políticasimperialistas do OMC. Ele aplicou uma lei,ainda em vigor, que veta a intervenção doEstado nas atividades produtivas e econô-micas. Foi um desastre. Iniciou a elimina-ção dos subsídios sociais. Uma tragédiapara um país economicamente atrasadoonde tantas famílias vivem graças à ajudadireta do Estado. Isso levou a umenfrentamento com as fundações e as or-ganizações sociais, criando um grande des-contentamento das massas que há um anoe meio derrubaram a direção política dasinstituições.

O debate interno

Um novo poder executivo trabalha ago-ra entre reforma e revolução. É uma forma-ção sem Partido, sem um programa anti-ca-pitalista bem definido. Não pôde limpar oaparato administrativo dos velhos perso-nagens corruptos, mas em cada semáforovermelho fez descer alguém. Não pôde es-colher os ministros como queria e além dis-so se defrontou imediatamente com o novoparlamento que, apesar de estar no mesmocampo, tem diferentes comprimentos deonda mesclados num complexo reformista,dedicado a pequenos negócios, enredadoem pequenas leis, que buscam contentar atodos. Um ministro propôs que o salárionão podia superar 7 vezes o mais baixo. Umoutro propôs 10 para 1. Porém, não conse-guiram abaixar aqueles máximos, incalculá-veis e intocáveis, e nem elevar os mais bai-xos. A oposição e parte dosfundamentalistas alegam que “é impossí-vel porque isso criaria inflação, porque nãohá fundos”. A solução intermediária queencontraram foi congelar os altos e aumen-tar gradualmente os baixos, de trás para afrente, mudando pouco e deixando intactoenormes privilégios.

O obstáculo principal é a oposição ob-tusa do poder judiciário contra a depura-ção dos terroristas do sistema econômicofinanceiro. É uma guerra com vários inci-dentes. O incidente mortal ao ministro dajustiça que começava a abrir os nomes dosladrões já condenados, e a fuga ao exteriorde um grande especulador, levaram à que-da de 4 poderosos do judiciário, indicandoo início da sua desarticulação. Sem a más-cara judiciária o aparato mafioso fica nu edesmembrado.

Ahmadinejad fala com o povo

O presidente Ahmadinejad atiça o fogodo povo; incita as massas, durante as ses-sões do seu governo itinerante, para queintervenham. O povo grita, sobretudo asmulheres jovens que agitam as faixas dereivindicações, junto a milhões de cartas,denúncias e pedidos. Não podendo supe-rar os obstáculos, o presidente os manobramobilizando continuamente as massas in-tervindo com os meios do poder executivoque são tantos! Ele fala da planificação cen-tralizada e da aplicação descentralizada,escreve contra a burocracia, a sua históriae o seu peso parasitário: “quanto maior éa participação das massas na administra-ção dos seus interesses, mais diminui opeso da burocracia e do Estado”. Essa éuma concepção revolucionária. Ao mesmotempo, retirou o poder hierárquico da Or-ganização da Programação e Orçamentoque concentrava tudo nas próprias mãos,conduzindo, permanentemente, viagensinúteis de 350 dirigentes de diversos locaisaté Teerã, para dar com a porta fechada nacara. Ahmadnejad deu financiamento e po-deres de decisão às secretarias regionais,que são designadas pelo ministro do interi-or para contornar os poderes fortes, civis ereligiosos das máfias locais. Mas, quemcontrola o controlador? Neste caso,Ahmadnejad se dirige diretamente à popu-lação e a incita a intervir e denunciar, e acriar sintonia e ressonância. Agora, cabeaos Conselhos locais tornar-se idôneospara as suas próprias tarefas.

Estamos entre reforma capitalista e re-volução. Finalmente se pretende aplicar oartigo da Constituição que afirma a econo-mia mista, entre 20% estatal, 40% privada e40% cooperativista. Esta última foi aCinderela nos precedentes 16 anos e can-celada do orçamento do governo Khatami,mas agora, o Executivo pretende dar-lhemaior peso com o próprio Banco e o orça-mento. Estamos na terceira onda deprivatizações; mas desta vez realizada porum poder híbrido revolucionário. A partir domomento em que este artigo entrou em vigor,Ahmadinejad iniciou a socializar as proprie-dades compreendidas nos 40%cooperativista da economia, e distribuiu, atéo momento, as ações das fábricas ativas aaté 9 milhões de famílias pobres e campone-sas, e operárias no próximo passo. Essassão ou não são medidas revolucionárias?Não são medidas anti-capitalistas, mesmoque não sejam assim denominadas?

Naturalmente, ele é atacado como quemesbanja riqueza ou como um populista. Osliberais e a máfia estatal, por sua vez, tratamde combatê-lo com a privatização veloz ede baixo custo das ações dos gigantes dasiderurgia, da mineração do cobre deKirman, mantendo os monopólios e a dis-tribuição; sem contar que ainda não é claraa destinação das indústrias petrolíferas. Ospoços, as indústrias militares, o Banco e a

O presidente Ahmadinejad com grandeconsenso popular

O império de Bush,depois do Iraque,

prepara um ataqueao Irã

Página 7Junho 2007 RevoluçãoSocialista

Companhia de Seguro Centrais fazem parteda quota de 20% do Estado. Uma Bolsatransparente deveria controlar as transa-ções limpas, e por isso, expulsaram toda agestão precedente da Bolsa. Mas, a com-pra de milhões de toneladas de aço por par-te de um Banco privado e o salto do seupreço demonstra a impossibilidade de re-formar o sistema com boas maneiras, e comoeste é inconciliável com a necessidade dastransformações sociais.

Apesar da lei contra a intervenção doEstado na economia, o governo oferece ter-reno grátis como forma de abaixar o preçodas casas (1). Mas não basta isso, enquan-to o aço e o cimento, como o açúcar, a pes-ca ou a fruta, tiverem os seus próprios sul-tões e especuladores privados.

Irã e a sua política exterior

No campo internacional as coisas sãoclaras: o afã dos imperialistas em sufocar oIrã com o pretexto do nuclear, é por medoao novo poder que cria obstáculo aos pla-nos imperialistas na zona. Não é casualque os governos revolucionários daVenezuela e de Cuba se aliem ao iranianocom uma atividade comum como o BancoIrã-Venezuela, destinando dois bilhões dedólares para o desenvolvimento da Améri-ca Latina e outras atividades agro-industri-ais. Igualmente, não são casuais os acor-dos com o governo palestino do Hamas,ou da Síria, e os mercados e infra-estrutu-ras interligadas com os países limítrofescomo Iraque, Turquia, Armenia, Azerbaijan,Russia, Afeganistão, Pakistão e India. Emgeral, o Irã expressa relações de forças mun-diais que a protegem, que são a FederaçãoRussa, a República Popular da China, aIndia e o Pakistão, apesar de todos os pro-blemas em que se encontram.

Ahmadinejad diz que o trem da revolu-ção já partiu e que deixou de lado o freio daenergia nuclear. Enquanto isso coloca no“mercado” um remédio, à base vegetal, con-tra o AIDs, grátis, feita em colaboração comos cubanos. É um processo revolucionárioque deve combinar cada passo reformistacom medidas sociais e revolucionárias. Éuma revolução permanente. Um trem quenão vai parar na estação de um capitalismosui generis, que, se não sair do trilho, con-tinuará até transformar-se completamente.Se não se toma uma decisão rápida seguin-do o trilho das medidas revolucionárias, otrem tomará a direção do trilho minado. Osministros da Economia e o da Bolsa pro-põem abrir os bancos privados externos e

vender até 33% das ações estatais à Bolsainternacional. O governo não pode acessaros petrodólares depositados no exterior, en-quanto deve fazer empréstimos com jurosaltíssimos. Ahmadinejad deu ordem desubstituir a direção corrupta da Companhiade Seguro Estatal do Irã, criticando o mi-nistro da economia, e indiretamente a ma-gistratura, provocando uma reação furiosados ambientes próximos à Direção Supre-ma que insiste sobre uma via intermediária,enquanto o Parlamente treme. Mas, o Irãnão pode mais voltar para trás. SeAhmadinejad cai, não vencerão oneoliberalismo e a globalização capitalista.A situação é bastante explosiva.

A não solução de um conflito no Líba-no deixou aberta a mão ao imperialismo queestá atiçando fogo para intervir militarmen-te, buscando a justificativa na provocaçãode um grupo, ativo também no Iraque. Mas,estas armas não podem deter a força doHesbollah que conta com o apoio quasetotal da população. Agora ele é mais forteque durante a guerra dos 33 dias. Anosatrás, depois do assassinato de Rafiq Hariripor parte de Israel, o Hesbollah declarouque o Líbano não era uma Ucrânia, quenão foi uma revolução de veludo laranja.Agora a Rússia vende 50 mísseis à Síria,que oferece 10 ao Irã, contornando o em-bargo; e mesmo a França, amiga de Siniore,mantém uma linha crítica aos EUA sobre oLíbano. O presidente do Irã, Ahmadinejad,já advertiu que se ousarem fazer do Líbanoum outro Iraque, isso terá graves conse-qüências para o Estado sionista. O imperi-alismo está provocando uma bomba incen-diária, demonstrando a queda das suasposições em todo o Oriente Médio, casoperca o fantoche governo de Siniore.

Do nosso correspondente no Irã(1) Devido ao anterior cancelamento das Normas deEdificação, se havia estimulado uma maior renda e especulaçãoimobiliária, aumentando a incidência do valor do terreno nopreço das casas.

“REVOLUÇÃO SOCIALISTA” na Internetwww.revolucaosocialista.cjb.net

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O Papa Bento XVI, o indisfarçávelcardeal Ratzinger, inquisitor dos

irmãos Boff e dos padres brasileiros daTeologia da Libertação, chegou aoBrasil como embaixador das pioresforças conservadoras do imperialismo,para conter a atuação do clero pro-gressista no Brasil e usar o poder doVaticano para conter a vontadetransformadora das massas católicaspregando a resignação e a submissãoao poder da Igreja.

Sua presença, entretanto, caiu noesquecimento antes que seu aviãoaterrisasse em Roma. Não foi capaz dereunir as multidões que o Papa Woytilahavia conseguido. Não foi capaz de daruma idéia sequer para intervir nas so-luções para as questões sociais pre-mentes que afligem os povos da Améri-ca Latina, ao contrário, ignorou o so-frimento dos mais pobres, e mentiu aodeclarar que os indígenas não foramcatequizados à força, mostrou-se indi-ferente ao sofrimento das mulheresobrigadas à opção pelo aborto, e re-duziu todos os problemas do mundoao cumprimento estrito da sua versãoconservadora da liturgia católica.

Entre os problemas ignorados, estáa existência de 1 milhão de mulheres eadolescentes, sobretudo das camadasmais pobres da população, que se sub-metem a abortos a risco a cada ano,fora do controle e da assistência dosistema sanitário nacional; enquantoque, por outro lado, as mulheres dasfamílias com alto poder aquisitivo re-correm igualmente ao aborto, engor-dando o caixa de centenas de clínicasprivadas com maior poder de extorsãodevido à ilegalidade formal.

As declarações do MinistroTemporão e do próprio Lula qualifi-

cando o aborto como questão de saú-de pública é um exemplo do desenten-dimento até mesmo a nível diplomáti-co com o Vaticano nessa questão, comotambém no rechaço à reintrodução doensino religioso obrigatório.

O aborto é uma questão social; éabsurdo não garantir as mínimas con-dições de sobrevivência, de trabalho ede educação, e criminalizar, ao mesmotempo, as mulheres de um país onde90% estão abaixo das possibilidadesmínimas de sobrevivência, falando hi-pocritamente de “vidas humanas”. Osinimigos da vida humana são aquelesque benzem as armas e os mísseis daguerra imperialista no mundo, e usama religião como ópio do povo e nãocomo elemento de estímulo àfraternidade, de amor aos pobres, comoo fazem os padres brasileiros ligadosàs causas sociais, à Pastoral da Terra,e mesmo à própria CNBB. Atentado àvida é reduzir a idade penal aos jovensmarginalizados e despojados do direi-to a uma vida digna e feliz.

Finalmente o governo intervém paraajudar as camadas mais pobres na saú-de, na planificação familiar, tratandode romper o monopólio da indústriamultinacional dos remédios. É precisotambém conquistar uma lei do abortoque assegure a proteção do Estado àmulher, como em Cuba, ou mesmo empaíses mais avançados do capitalismoonde esse direito foi imposto com a lutadas mulheres, dos movimentos feminis-tas, socialistas, comunistas, católicosprogressistas, como um elemento derespeito à dignidade humana. Os hos-pitais públicos devem garantir gratui-tamente a opção consciente da mulhere dos casais pelo aborto.

A necessidadede uma nova leisobre o aborto ea inútil viagem

do Papa aoBrasil

LIBERDADE PARA OS 5 HEROIS CUBANOS ANTI-TERRORISTAS, INJUSTAMENTE PRESOSNOS ESTADOS UNIDOS POR DEFENDER UM MUNDO JUSTO E MELHOR

PARA OS FILHOS DA HUMANIDADE E AS GERAÇÕES DO FUTURO!

(Gerardo Hernández, Fernando González, Ramón Labañino,René González y Antonio Guerrero)

Adquira:

O PENSAMENTOVIVO DE TROTSKY

De J. Posadas(portugues e espanhol)

Edição Ciência,Cultura e Política

Pedidos:[email protected]

Página 8 Junho 2007RevoluçãoSocialista

HOMENAGEMÀ CAMARADA

JEANNINE POLET

Após combater duramente contrauma penosa enfermidade, nossaquerida camarada Jeannine Polet,

da seção belga posadista, nos deixou no dia6 de novembro de 2006.

Jeannine dedicou toda a sua vida à lutapelo comunismo. Desde a sua juventude foiprofundamente rebelde contra a miséria, asinjustiças, as desigualdades e a guerraspromovidas pela sociedade capitalista. Deentão, aderiu e participou da construção daIV Internacional Posadista, trabalhou porlongos anos na elaboração do jornal “LutteOuvrière”, militou no sindicato CGSP devidoà sua profissão de motorista de ônibus naSTIB de Bruxelas, como uma das pioneirase poucas mulheres neste ramo; atuoufortemente nos movimentos contra a Otane a guerra.

Jeannine foi sempre uma batalhadora daunificação das forças políticas da esquerdae, particularmente da refundação do PartidoComunista e da reaparição do seu jornal“Drapeau Rouge” (Bandeira Vermelha). Nosúltimos anos, Jeannine empenhou todo o seutalento gráfico e informático na obra decriação da página web da IV InternacionalPosadista e à publicação das obras de J.Posadas.

A seção brasileira lhe rende umacomovida e calorosa homenagem, narecordação de sua presença plena de alegriae otimismo, militante dinâmica, comunicativae animadora em todos nossos momentos delutas e adversidades comuns.

Em sua homenagem publicamos o textode J. Posadas ao lado, e em honra à vidarevolucionária de todos os combatentescomo Jeannine Polet, para quem “a vida sema luta pelo socialismo não teria havidosentido”.

Os seres humanos usam as flores tanto como ummeio de comunicação com a natureza como entresi mesmos. A rosa é a flor que simboliza de forma

mais elevada este sentimento. Ela vem de épocas muitoremotas da humanidade, tendo estrutura molecular ecomponentes necessários à saúde, à vida. A partir da rosase fazem chás, saladas; aliás, todas as flores têm essaspropriedades; as verduras também, mas em outras formas.Por enquanto, não são digeríveis, mas se vêem animais quese sustentam de flores, como é o caso da abelha que produzo mel; ou seja, a abelha realiza uma transformação. Todasas matérias primas das flores – tanto os ácidos, como asproteínas – são transformadas para que sejam assimiladaspelo ser humano. As outras flores também devem ser assim.Nós não comemos flores, devido aos hábitos da alimentaçãovigente com carne e outros produtos.

A mais linda flor da comunicação humana é a rosa, quevem desde a origem do ser humano. A rosa é a maiscomunicativa. Tenho a impressão que deve ser pelo seuperfume, que é o mais agradável de todos; e também pelassuas cores que são muito harmoniosas. As rosas têm coresque harmonizam com a vista, com o olhar, com opensamento, e o seu perfume é o mais suave e profundo. Épor isto que se diz a uma garota jovem e bonita, ou a umacriança linda: “você parece uma rosa!” É comparada auma rosa. E num momento em que estou pensando sobre opassado, as rosas tomam uma maior dimensão e chegamaté mim, para que o perfume, a cor e o aspecto secomuniquem com o passado. Assim, eu penso e as rosas semovem, percebendo minha preocupação em encontrar umacompreensão ou explicação de alguma coisa. É aí que elase move e diz: “Veja, isto é assim!” E agradece, com o seuperfume, seu aroma e sua cor.

No Estado operário, as flores vivem sem preocupação,pois elas não são arrancadas inutilmente, não sãomaltratadas. Elas não se sentem maltratadas. Pode-searrancar uma flor, mas neste ato há uma continuação dasua vida, mesmo que ela deixe de viver, ela faz com quevivamos. Ela faz parte da continuação da vida. Assim, a

Jeannine Polet durante uma campanha eleitoraljunto ao Partido Comunista Belga

A ROSA E AVIDA

vida é unitária, é única, e desenvolvida em diversas formas;a flor de um jeito, e os seres humanos de outro. Destaforma, a fragrância, a cor e o frescor da flor se incorporamà nossa inteligência e desenvolvem a capacidade dainteligência. A flor está presente aí, no desenvolvimentodas idéias. É uma centralização feita pelo ser humano,concentrando todo o desenvolvimento da natureza eexpressando em seguida uma forma superior da natureza:o ser humano – o qual também representa a flor. A flor éparte da composição orgânica da natureza; tal como oser humano, não como gênero humano – porque este éuma particularidade do outro – mas, organicamente,como natureza, nós somos iguais à rosa. E mesmo tendoem conta que alguns não são nada mais que os espinhosdas rosas, que são os capitalistas; mas que já nãoconseguem espinhar mais. A humanidade já aprendeu ase manifestar, por isso, eles não espinham mais.

As flores, as plantas, e os animais serão partesintegrantes da vida. Não a vida como gênero humano, emforma animal, de tal ou qual reino. Estas são divisõesobsoletas, que tiveram que fazer, embora não sejam malfeitas para sua época. Contudo, agora, é preciso ver quetodo animal, e flor, formam parte da vida – em forma deplanta, de animal, ou em forma de ser humano – que, emcerta medida, se pode dizer, não estrita ou organicamenteigual: “uma forma superior”. Relativamente é uma formasuperior, porque foi assim que a natureza se desenvolveu,mas quando houver a integração de tudo, encontraremosuma forma de vida superior das plantas, muito superior.Da mesma forma como encontraremos o jeito de respirardebaixo d’água, e o faremos. Hoje não acontece isto poruma condição que é o resultado de uma estruturaçãoanterior, mas logo será possível faze-lo. Não será apenascom relação à água ou ao ar, e sim, em relação à água, ar,terra e cosmos: ou seja, tudo se unifica. O ser humanoquer voltar à sua origem – e não é possível estabelecerquantos anos, que são trilhões – mas a origem é o cosmos.A humanidade está no despontar de conhecer-se a si mesma.

J. Posadas gerou este texto quando ao longo de umacaminhada particularmente especial, ao retorno de uma

manifestação de 1º de maio de 1981 em Roma, se defrontoudiante de um belíssimo roseiral. Na sua concepção dialética da

vida, a morte é superada na medida em que o ser humano, assimcomo as rosas quando são arrancadas do seu pé, continua na vidados demais que permanecem (1) . Esta foi a sua conduta nos seus

últimos dias de vida: elaborar textos, orientações constantes paraimpulsionar a continuação da vida na luta pelo socialismo.

Jeannine Polet foi uma das tantas rosas vermelhas cultivadasno jardim das idéias do marxismo-posadismo, que lutou até oúltimo momento da sua vida em reunião com seus camaradas,

para deixar o exemplo vivo de que o ideal revolucionário dosocialismo é o mais sublime e necessário do universo e que ahumanidade deve persegui-lo, até as últimas conseqüências.

J. Posadas1 de maio de 1981

(1) J. Posadas veio a falecer alguns dias depois, em 25 de maio de 1981.

RevoluçãoSocialista

“Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 08 – Nº 23 – Outubro de 2007 – R$1,00

JornalJornalJornalJornalJornalPosadistaPosadistaPosadistaPosadistaPosadista

Continuação doJornal

Frente Operária,fundado em 1953

AgrocombustívelPágina 3

Escudoanti-mísseis

Página 7

Energia cósmica(J.Posadas)

Página 8

VenezuelaPágina 4

Che GuevaraPágina 5

Encontro deTeerãPágina 6

EDITORIAL

A crise que vem-se arrastando no Senado, a partir do linchamentomidiático do Senador Renan

Calheiros e entrando na nova fase com adiscussão sobre a aprovação da CPMF, ex-põe todas as contradições do GovernoLula, mas também a desarticulação das for-ças do campo burguês.

É evidente que o bem-sucedido linchamen-to do Senador foi um episódio a mais nadisputa pelo poder, cujo objetivo e essên-cia era – e isso não foi escrito em lugar al-gum pela Mídia – pressionar o governo Lulapara tentar derrubar o veto à Emenda 3, queabre um rombo nas conquistas trabalhistasainda vigentes neste país.

Os setores mais conscientes e mais radicaisda elite tentam desta maneira ressurgir dascinzas e da sucessão de derrotas às quaisforam submetidas desde a famosa crise do“mensalão” – o golpe branco fracassado –até à clamorosa reeleição de Lula, que dei-xou seqüelas terríveis nas suas filas. Atéhoje estas tentam uma desesperada recom-posição, agarrando-se a episódios meno-res como o chamado “apagão aéreo”, ou àsoportunidades que os pasquins de extre-ma-direita como a Veja e a Época, oferecemna série denuncista orquestrada, talvez, pormentes bem-iluminadas de além-mar.

“realizam” colossais níveis de remessa delucros. Então, à popularidade do Presiden-te junto às classes mais pobres, junta-seum crescente consenso da área burguesa,compreendendo aí os governadores daoposição.

Claro está que o preço a pagar por tantosafagos da elite é muito alto: a pressão da“base aliada” do governo é enorme, a vora-cidade por espaços no governo é incontível,e os pressupostos neoliberais da economiamantidos, tendem a ocupar os corações ementes de boa parte dos gestores – mesmodaqueles petistas menos contaminados.Veja-se o caso das privatizações das rodo-vias (pintado como caso de sucesso) comas novas concessões para a cobrança depedágios. Ou a total indiferença frente aoplebiscito popular pela desprivatização daVale do Rio Doce. Veja-se, em particular, oabraço mortal do agronegócio ao governoquanto ao novo filão de riqueza que é oagrocombustível, que merece análise sepa-rada.

A “revolução do agrocombustível”

Talvez aí esteja a chave da reviravolta e daesperança de resgatar o governo deste abra-ço de urso: de fato, a estratégia do

As contradições do governo Lula ea urgência de correção de rumo

A oportunidade histórica de resgatar a relação com os movimentossociais através da “revolução dos agrocombustíves”

Não que o Senador esteja isento de algunsdos desmandos que se lhe atribuem: massão pecados veniais para os Srs. Senado-res. Relacionar-se com lobistas, lubrificar aalocação de verbas orçamentárias aos ami-gos, controlar meios de comunicação, e,nem dizer, ter e manter amantes, tudo isso éprática comum e corrente no CongressoNacional, em todos os níveis. Há dados es-tatísticos à disposição e não é segredo deEstado. Quando se torna pasto para as fe-ras da mídia, com direito ao deleite em pági-nas da Play Boy, é dever de qualquer cida-dão consciente interrogar-se sobre as ra-zões de fundo de semelhante campanha.Uma coisa é certa: ela nada tem a ver com aética, nem a conclusão da crise – com a con-denação total do acusado e a sua cassaçãoe ostracismo – resolverá qualquer um dosproblemas sinalizados pelos heróicos pala-dinos da retidão, da ética e da moral na po-lítica.

Bem outro é o embate, e é pelo poder: debi-litar o governo Lula, eis a questão. Ele setornou perigoso, consegue governar super-partes, prescinde da base aliada, e do pró-prio partido ao qual pertence. O relativo êxi-to econômico encanta boa parte das elites,que como diz o presidente, deveriam acen-der uma vela para ele todos os dias, tal é onível de lucratividade; junto com os empre-sários “nacionais”, as multinacionais, que

Todo nosso repúdiopelo assassinato

do companheiro doMST,

Valmir Mota de Oliveira(Keno),

por ação damultinacional

SYNGENTA em conluiocom a oligarquia

paranaense.

Valmir Mota de Oliveira (Keno)

(Continua na página 2)

Campanha de alfabetização do MST

Página 2 Outubro 2007RevoluçãoSocialista

Expediente“RevoluçãoSocialista”

Órgão da Corrente Posadista do PT –Regulamentada junto ao

Diretório NacionalContinuação do Jornal “Frente

Operária”, fundado em 1953.Diretor Responsável :

C. Almeida – Reg. Prof. 049/SPE-mail: [email protected]

Página Web:www.revolucaosocialista.cjb.net

Brasília DFCirculação interna ao PT

J.Posadas, fundador eorganizador da IVInternacional Posadista

agrocombustível atualmente é o carro-che-fe da política internacional e comercial doBrasil. Não sem razão, Lula tem apontado ocombustível renovável e limpo provenien-te da agricultura como uma “revolução” ecomo um processo “inexorável”, conveni-ente, adequado para solucionar a inevitá-vel crise energética do mundo, e além dis-so, como uma “colossal oportunidade”para os povos do mundo menos desenvol-vido, notadamente a África e a AméricaLatina.

O calcanhar de Aquiles do projeto é justa-mente esse: como está formulado, ele nãooferece garantia alguma de que os peque-nos agricultores, as comunidades mais po-bres e os países subdesenvolvidos pos-sam libertar-se da escravidão. O chamado“selo social” – a obrigatoriedade da com-pra de 10% da matéria-prima para a produ-ção de agrocombustíveis – revela-se umapantomima, não envolve o produtor no ci-clo industrial, não permite agregar valor, e,sobretudo, não dá autonomia energética aosinteressados. Um homem que de agricultu-ra dos países pobres entende, o Diretor-Geral da FAO, afirma taxativamente em arti-go recente que não há uma “estratégia” paragarantir que haja benefício para o mundosubdesenvolvido, e que o “perigo” é que

se tornem fornecedores deagrocombustível para alimentar a voraci-dade dos 800 milhões de veículos dos paí-ses ricos.

Como esconjurar o perigo ou, “umoutro agrocombustível é possível”.

Na verdade, o projeto alternativo existe, eestá abundantemente demonstrado aí ondefoi implantado. Falamos de Rede Biobrasil,falamos dos projetos do Prof. MarcelloGuimarães, falamos de muitos projetos im-plantados no bojo do programa Luz paraTodos, todos eles voltados para as comu-nidades ou pequenas ou isoladas, para aagricultura familiar, quilombolas, assenta-mentos da Reforma Agrária, todos eles uti-lizando variadas tecnologias completamen-te compatíveis com o ambiente, garantido-res da biodiversidade e da a produção dealimentos, aliás, alavancadores da produ-ção dos mesmos com a supressão de usode insumos químicos caros e importados,estimuladores da auto-produção e auto-consumo energéticos, ou seja, modelosauto-sustentáveis, de baixo custo,emancipadores e verdadeiramente revolu-cionários.

Ou seja, uma colossal oportunidade deempoderamento das comunidades e dasmassas exploradas do campo em torno daprodução do combustível, de redistribuiçãode um dos meios de produção mais impor-tantes da humanidade, que são aqueles re-lacionados com a energia, apresenta-se aosolhos do país mais privilegiado do mundoem termos de recursos naturais e detecnologias e tradições próprias adequa-das ao projeto.

Só que o governo não a vê. Há um debatena sociedade que pode favorecer umredirecionamento da política energética decunho social. O III Congresso Nacional doPT tirou uma resolução de apoio à forma-ção de uma Empresa Brasileira deAgroenergia que privilegie a produção domédio e pequeno agricultor. Idéia abraçadapelo deputado Reginaldo Lopes (PT-MG)que está organizando uma Frente Parlamen-tar de apoio. Da mesma forma no últimoCongresso Nacional do MST houve umsalto qualitativo onde passam do simpleslema do “Brasil sem latifúndio” para umprojeto de luta pela reforma agrária queabrange a soberania nacional e a justiçasocial no país. Em um dos pontos, a Cartacongressual do MST diz: “Lutar para quea produção dos agrocombustíveis estejasob o controle dos camponeses e traba-lhadores rurais, como parte dapolicultura, com preservação do meioambiente e buscando a soberaniaenergética de cada região.” Este debateestá também dentro das correntes milita-res nacionalistas no exército. As declara-

ções do general José Benedito de BarrosMoreira, apoiando a fabricação de subma-rinos nucleares e um projeto de defesa mi-litar do país contra os riscos das invasõesestrangeiras no território brasileiro – in-cluindo a Amazônia –, devido ao apetitemultinacional de apoderar-se dos recursosenergéticos nacionais e das novas pers-pectivas de exploração da bionergia, mere-cem uma atenção de todas as forças inte-ressadas em defender um Brasil livre e so-berano.

Dado que o governo não oferece umaalternativa urgente a esta demanda, os mo-vimentos sociais encontram-se perplexos,hesitam e duvidam. Por outro lado, no PT,há uma descontinuidade entre a resoluçãode apoio à Empresa Brasileira e o debateinterior sobre o tema da agroenergia; nãohá um plano de lutas nesse terreno..

É bem verdade que o agronegócio e asmultinacionais têm tomado a dianteira, pa-radoxalmente liderados pela Petrobrás e porboa parte da equipe de governo: o Brasilestá batendo todos os recordes de produ-ção de biodiesel, etanol, está expandindorapidamente as áreas plantadas com asmonoculturas da soja, milho, cana-de-açú-car, usinas estão sendo construídas ou com-pradas por grupos nacionais e estrangei-ros – vorazes e previdentes compradoresde terras frente a um barril de petróleo quejá bate a casa dos U$100,00 o barril. Produ-tores rurais mais abastados, tendo farejadoa oportunidade, já produzem tudo aquiloque necessitam nas próprias terras e batemàs portas do governo para poder vender oproduto, deixando em pânico os atuais dis-tribuidores de combustível e os guardiõesdo fisco que se sentem ameaçados pelo“decontrole”. A “rebelião das forças pro-dutivas” prevista por Karl Marx é a realida-de viva do nosso campo. Só que ela podeficar nas mãos das elites, do agronegócio,das multinacionais.

(Vem da página 1)

EDITORIAL

Portanto, a única saída é que os movimen-tos sociais encampem a campanha “AAGROENERGIA É NOSSA” e pela forma-ção da EMPRESA BRASILEIRA DEAGROENERGIA, uma empresa preponde-rantemente estatal que garanta o controledo processo em benefício da agriculturafamiliar, dos assentamentos da reformaagrária, dos setores mais explorados docampo, para, rapidamente, construir uma,mim, um milhão de microusinas que trans-formem estas populações em comunidadesde produtores do próprio combustível, ge-rando um colossal ciclo de acumulação edistribuição de riquezas.

Chamamos à UNE, aos movimentos soci-ais, às organizações sindicais, aos nacio-nalistas, à intelectualidade do país a deba-ter o tema, que apresenta-se como “opor-tunidade” e “ameaça” ao Pais. que corre orisco de um novo ciclo dedesnacionalização e colonização – já emcurso – e que, ao contrário, pode dar lugara um pólo de coesão social imbatível – go-verno e movimento pela reforma agrária,movimentos sociais, sindicais – inauguran-do um novo ciclo de distribuição de renda,oferecendo a famosa “porta de saída” paraos programas sociais de simples manuten-ção alimentar como o Bolsa Família, e cri-ando uma nova força política que liberte oGoverno Lula da dependência da aliançacom as elites, que resolva a crise de identi-dade da esquerda petista e não petista emtorno de um projeto nacional gigantesco erelevante, que somar-se-ia às revoluçõesem curso no resto do Continente. Este é omomento!

Se não houver uma mudança profundade rota no governo a curto prazo, maisKenos existirão, como tantos outros quederam suas vidas na esperança de que nes-te governo o Brasil pudesse ser finalmenteum país livre e soberano.

25 de outubro de 2007

A luta continua: 3,7 milhões votaram no plebliscito pela re-estatizaçãoda Vale do Rio Doce

Página 3Outubro 2007 RevoluçãoSocialista

Um enorme equívoco paira sobre adiscussão sobre o combustívelrenovável a partir da agricultura:

o de que ele esteja fadado a ser a novacommodity mundial para alimentar a vora-cidade insaciável de energia dos paísesricos, em detrimento dos países mais po-bres, do ambiente e, sobretudo, da alimen-tação humana.

Várias mentes iluminadas já nos adver-tiram sobre este perigo: o Presidente cu-bano Fidel Castro, o PresidenteVenezuelano Hugo Chávez, Frei Betto,Leonardo Boff e muitos outros renomadosexpoentes e intelectuais dos movimentossociais e progressistas pelo mundo afora.Não há como contestá-los: o perigo é real.Os tentáculos neocolonizadores do impé-rio já se movem com incrível rapidez, com-pram terras e usinas no Brasil, preparam-se para o “day after” da era petrolífera, àsnossas custas.

Entretanto - e com todo o respeito portão fundamentadas opiniões - mais quenunca é preciso parafrasear o slogan dosfóruns sociais mundiais: UM OUTROMUNDO É POSSÍVEL NO TERRENO DAAGROENERGIA. O agrocombustível podeser uma arma revolucionária, se o proces-so for dominado pelas forças nacionais epopulares de cada país. O problema com oqual nos defrontamos, às vésperas da pri-meira grande conferência nacional sobreo tema é que amplos setores dos movi-mentos sociais já consideram o tema UMABATALHA PERDIDA PARA OAGRONEGÓCIO e para a versão imperia-lista da nova Era. E como conseqüência,já militam contra o projeto.

O primeiro problema, para todos nós, éque esta nova Era é irreversível e já estáem marcha: os últimos dados da economiarural brasileira já falam de um excedentede produção de biodiesel e de um aumen-to crescente e incontrolável da exporta-ção de etanol, por conta e responsabilida-de do agronegócio. A cada aumento dobarril do petróleo, que já supera os 80 dó-lares, haverá uma nova corrida aos com-bustíveis renováveis.

A equação é simples: o governo Brasi-leiro proclama aos quatro cantos do mun-do que vai entrar de cheio na produção doagrocombustível, em todas as suas moda-lidades. Convoca as forças produtivas afazê-lo, abre caminhos para a exportação,constrói álcooldutos, destilarias, investeem pesquisas. As forças do agronegócioprivado e dos investidores imperialistas

Agrocombustível:ameaça ou

oportunidade?não se fazem de rogados: entraram de cheiono novo filão bilionário, comprando terras,investindo, desnacionalizando. O resultado,assim sem controle, é previsível: um novociclo de dominação colonial da cana-de-açú-car e outras monoculturas.

O que não é irreversível é que este pro-cesso deva ser dominado pelo Império e pe-las forças reacionárias ligadas aos gran-des negócios agropecuários: depende, mui-to mais do que se pensa, de nós, dos lutado-res dos movimentos sociais, pela reformaagrária, pela justiça social e pelas transfor-mações sociais.

Até mesmo o Diretor-Geral da FAO – Or-ganização das Nações Unidas para a Alimen-tação e a Agricultura, Jacques Diouf, apóster promovido estudos sobre os perigos daredução da produção alimentar devido àconversão da agricultura aosagrocombustíveis, chega à conclusão queeste processo pode ser positivo:

“Eletricidade é o que impulsiona o de-senvolvimento: redes de computadores nãofuncionam movidas a esterco de vaca seco.Mas com tecnologia moderna você podetransformar esterco em biogás. Ajudar 2bilhões de pessoas que vivem com menosde US$ 2 diários a mudar para umabioenergia acessível, caseira eambientalmente sustentável representariaum passo enorme no seu desenvolvimento.Promover tal mudança é ainda mais urgen-te porque o aumento de 300% no preço dopetróleo nos últimos anos impõe uma car-ga insuportável nas economias dos paísesmais pobres....”

“ .... focar o debate exclusivamente embiocombustíveis para transporte é não per-ceber o potencial da bioenergia para a re-dução da pobreza. Ele está mais em ajudar2 bilhões de pessoas a produzir sua pró-pria eletricidade e satisfazer outras neces-sidades energéticas do que em manter 800milhões de carros e caminhões nas ruas....”

E agrega:“Se fizermos as coisas certas, a

bioenergia nos dará oportunidade históri-ca de acelerar o crescimento em muitos dospaíses mais pobres do mundo, possibilitarum renascimento da agricultura e entre-gar energia moderna a um terço da popu-lação mundial.

No entanto, essa promessa só se tornarárealidade se as decisões certas forem toma-das agora e se as políticas apropriadas fo-rem implantadas. Nós precisamos criar,urgentemente, uma estratégia internacio-nal para a bioenergia (o grifo é nosso). Na

sua ausência, corremos o risco de produ-zir efeitos diametralmente opostos: maiorpobreza e dano ambiental.”

É inquestionável que se o processo fi-car nas mãos das oligarquias de sempre oudo imperialismo, vai materializar-se o qua-dro mais terrível vislumbrado pelo compa-nheiro Fidel Castro. Assim será com qual-quer forma de produção de energia, do pe-tróleo ao nuclear, e até mesmo com a inó-cua e renovável energia eólica ou foto-voltaica: se é o imperialismo que detémtecnologia, indústrias, mercados, investi-mentos, teremos que pagar royalties atémesmo pelos ventos e pelo sol que abun-dam no nosso planeta.

Se o processo, ao contrário, é dominadopelas forças populares e legitimamente na-cionais, a equação se inverte totalmente,em favor do ambiente, da segurança alimen-tar, da biodiversidade, da sustentabilidade,da justiça social.

Já está abundantemente demonstradopor mil experiências-piloto pelo Brasil aforaque o agrocombustível produzido em pe-quenas propriedades e comunidades NÃOREDUZ A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS,NEM FAZ DANOS AO AMBIENTE, aocontrário, multiplica a riqueza humana damaneira mais completa e legítima. MAS ACONDIÇÃO INDISCUTÍVEL E ABSOLU-TA É QUE O CONTROLE DO PROCESSOESTEJA NAS MÃOS DOS MOVIMENTOSE GOVERNOS POPULARES.

O que temos pela frente, portanto, é apossibilidade, real e tangível, de oferecerao Governo Lula uma proposta estratégicapara dar a saída que este não está encon-trando para o problema da reforma agrária:uma poderosa aliança com as massas po-pulares do campo para que estas ingres-sem a pleno título na autoprodução de com-bustível, libertando-se, ao mesmo tempo,do agronegócio, do atraso, da dependên-cia dos mecanismos do mercado capitalis-ta. Com um investimento ínfimo, o Governopode criar 2, 3 milhões de micro-usinas euma massa de 6 milhões de produtores,atendendo em pleno à preocupação mani-festada pelo Diretor-geral da FAO e de tan-tos movimentos populares, ambientalistas,camponeses pelo mundo afora.

Iniciamos a “era da biomassa”, com ca-racterísticas totalmente diferentes da “erado petróleo”. A própria característica da

exploração do petróleo - perfuração de po-ços -, dentro do capitalismo, levou-nos auma concentração brutal de poder e rique-za. A produção da energia da biomassa, ten-do o sol (disperso por todo o território tro-pical nacional) como fonte primária para aprodução de agroenergia, muda significati-vamente os parâmetros para a produção deenergia. Em qualquer canto do país, qual-quer pessoa poderá produzir sua energiadentro de determinados níveistecnológicos. Portanto, estamos diante deuma “revolução no modo de produção deenergia” com todas as suas consequênciase plenas possibilidades de geração de ri-queza de forma a beneficiar, não uma ououtra empresa petrolífera, mas milhões depessoas.

Mas para isso, tem-se que criar a EM-PRESA BRASILEIRA DE AGROENERGIA,de propriedade preponderantemente públi-ca. Esta deve ter todo o poder, os recursose o marco legal para por em marcha essamassa enorme de novos produtores, pro-vendo tecnologia, financiamento,infraestrutura, transporte, meios decomercialização, impedindo que o setor fi-que à mercê da anarquia, como já está ocor-rendo hoje.

É urgente e possível, ao mesmo tempo,desvincular o projeto da voracidade da in-dústria petrolífera, estruturada conforme aótica dos grandes mercados internacionaise da indústria automotriz. O monopólio es-tatal do petróleo – mesmo que parcial – deveser mantido, mas cumpre outra missão, ou-tro papel, desta vez redimensionado pelaentrada em cena de milhões de produtoresindependentes de agrocombustível, quetornar-se-ão vendedores e não mais com-pradores. Pela infinidade de novos prota-gonistas e atores que serão envolvidos, peloseu caráter social e ambiental, o projeto nãopode ficar à mercê da lógica da era do Pe-tróleo.

A I Conferência Nacional Popular emCuritiba é um passo importante para serum pólo aglutinador dos camponeses, ope-rários, estudantes, intelectuais, setores daigreja, militares nacionalistas, setores dogoverno federal empenhados em transfor-mar a Campanha Popular a “Agroenergia énossa” num movimento transformador.Estes são os ventos positivos da AméricaLatina, e terá a força transformadora queteve a memorável campanha “ O Petróleo énosso”. É preciso contar com elementosnão desprezíveis que sopram a favor, comoo fato de que o III Congresso Nacional doPT aprovou a criação da Empresa Brasilei-ra de Agroenergia; que uma Frente Popu-lar “A Agroenergia é nossa” no Congres-so Nacional, está sendo realizada pelo De-putado Federal do PT (MG), ReginaldoLopes; e por fim, devemos destacar a sim-patia já manifestada pelo Presidente Lulapela criação da Empresa Brasileira deAgroenergia.

Micro-destilaria de álcool em pequena proprie-dade rural do engenheiro Marcelo Guimarães

Página 4 Outubro 2007RevoluçãoSocialista

Num contexto de pressõesimperialistas, ameaças de Bush auma guerra atômica mundial, o

governo de Chávez expressa a necessida-de de avançar rapidamente na consolida-ção de instrumentos para afirmar a revolu-ção. Está na ordem do dia a necessidade deum salto de um Estado revolucionário a umEstado operário. Por isso medidas como aconstrução do PSUV e as Reformas consti-tucionais são agora um centro de debateque envolvem com forte efervescência asmassas venezuelanas.

A construção do PSUV

A construção do partido de massas, doPSUV é uma das tarefas centrais para que aclasse trabalhadora seja protagonista naconstrução de um Estado socialista. O novopartido, o PSUV cumpre uma função cen-tral para assegurar este salto, como elemen-to de unificação entre operários, campone-ses, estudantes, intelectuais e militares, decontrole político sobre o Estado e de edu-cação marxista das massas no rumo do so-cialismo. Não há dúvidas de que nos últi-mos anos de revolução, o povovenezuelano passou a ser mais culto epolitizado, fruto do analfabetismo zero al-cançado e do estímulo à cultura popular erevolucionária: depois dos Miseráveis deVitor Hugo, e dos Dom Quixote, agora são1 milhão de Manifestos comunistas de Marxdistribuídos ao povo, e milhões de proje-tos de reforma constitucional a serem de-batidos. Os 5 milhões candidatos a militar edar vida ao Partido, dentro de uma popula-ção de 26 milhões, indicam que quando seconvoca a formar um instrumento paraavançar nas transformações socialistas, oapoio é gigantesco e surge do “nada”. Issopode estimular as correntes dentro do PTque não se submeteram à política parlamen-tar e que tratam de recuperar o programadas transformações sociais e suas raízeshistóricas como partido de massas.

O PSUV é um não à fragmentação de parti-dos de esquerda, e um sim a um instrumen-to unificado onde as massas devem apren-der no seu interior a raciocinar, discutir idéi-as, a comparar experiências, a se educar naconsciência coletiva, a romper os aparatos,a estimular os órgãos populares, os conse-

lhos de fábrica, de universidade, as novascomunas, os sindicatos, a acabar com osburocratas e a corrupção. O partido deveser um instrumento para impedir a abstra-ção da democracia formal retórica, e con-centrar a decisão da classe operáriavenezuelana em dirigir, em impedir vacila-ções na aplicação das medidas revolucio-nárias, de planificação econômica centrali-zada, das estatizações, do monopólio docomércio exterior, das reformas constituci-onais que assegurem o salto para um Esta-do operário ou chamado socialista; sem comisso deixar de intervir contra a reproduçãoburocrática e aparatosa dentro do partido.A história é muito generosa e deixou exem-plos, desde o funcionamento dos sovietsem 1917 na Urss, de como realizar essaincontornável tarefa. O programa Alô Pre-sidente, é expressão aproximada de umaespécie de soviet televisivo que Chávezbusca estimular, suprindo a falta do partidoque está por se construir. Mas, não o podesubstituir. A construção de quadros e aerradicação dos vícios burocráticos, dacorrupção, dos perigos profissionais dopoder, já advertidos por Trotsky são tare-fas urgentes para impedir um processotermidoriano no governo e de contra-revo-lução na esfera social. A liberdade de cor-rentes e a batalha de idéias no Partido nãodeve ser confundida com o democratismoimobilista, muito menos com uma forma deconciliação com alas conservadoras den-tro do chavismo que resistem às medidastransformadoras.A melhor defesa das conquistas da revolu-ção é aprofundar a participação das mas-

sas, desde as crianças aos anciãos, nãosomente com manifestações e o povo narua, mas com órgãos de poder, conselhosde operários e camponeses, e através delesganhar a juventude. É preciso dar real con-teúdo de massas à democracia participativaconvocada por Chávez. Nas universidadesé preciso estimular a discussão sobre a ci-ência, técnica e cultura a serviço do povo,rompendo com o esquema tradicional e con-servador da autonomia alienante frente àrevolução, criando um novo modelo, comose propõe a universidade bolivariana. É pre-ciso reformular o programa das universida-des, estimular a literatura marxista sobre osproblemas. Deve-se ganhar a juventude, apequeno-burguesia para uma função soci-al junto à classe operária.

A importancia das estatizações eda planificação estatal da

economia

O debate sobre a a necessidade daestatização e da planificação da economia,controle de comitês de fábrica, bairros, etc...,deve ser uma arma política permanente nopartido. É preciso discutir a superioridadeda propriedade estatal como elementodeterminante no desenvolvimento econô-mico, como em Cuba, e como foram os ou-tros Estados operários. A falência de apa-ratos ou direções burocráticas nos paísesdo Leste europeu, não invalida a superio-ridade da propriedade estatal sob controleoperário. Basta ver o que eram antes aTchecoslováquia, a Polonia e Iugoslávia, ehoje, invadidas pelo capital privado. Cada

futuro militante do PSUV deve ser um qua-dro, um professor que debate esses temas,como nos Alô Presidentes. Evo Moralestambém não só nacionaliza, mas dá aulasem comícios aos camponeses sobre os be-nefícios econômicos e sociais das nacio-nalizações do gás para as prefeituras e po-pulações locais.

A experiência chilena

Na América Latina, já se discute muito e sefaz alerta à experiência chilena. Mas, terãosido efetivamente assimiladas as conclu-sões sobre o golpe no Chile? Lá onde teriasido necessário ganhar o exército, arreba-tando-o do servilismo ao grande capital eao imperialismo? E não só isso. É verdadeque faltou a unidade dos partidos de es-querda, comunista e socialista com o MIR,mas a maior carência da revolução chilenafoi a falta de preparação das massas para aguerra civil, e do chamado às forças revo-lucionários do exército, que desse vida àsdiversas formas de organização popularindependente do jogo parlamentar e da de-mocracia burguesa concedida. O que o gran-de capital tem demonstrado historicamenteé que não abandona o poder pacificamen-te, como se demonstrou no massacre dePinochet. Isso é válido hoje para aVenezuela. É preciso saltar do governo aopoder popular para estabelecer um EstadoSocialista. Há indícios, num dos pontos danova reforma constitucional de que já separte de um nível de compreensão superiorà revolução chilena. Segundo ela, as For-ças Armadas Bolivarianas passam de umainstituição profissional a ser um corpo pa-triótico popular e antiimperialista, para pre-servar-se de qualquer ataque interno ouexterno no caminho da preparação para umaguerra popular de resistência, atenta a umapreparação social, científica e tecnológicano exército, e a nunca servir à oligarquia ouao poder estrangeiro. Haverá uma GuardaBolivariana Territorial e um novo compo-nente, que são as Reservas, que se consti-tuem a Milícia Popular Bolivariana. Chávezbem mencionou a Trotsky em Santa Clara:“Em toda revolução é necessário a chibatada contra-revolução”. E daí se vê que astentativas de golpe reacionário de 2002,desencadearam um processo de consciên-cia no governo e nas massas venezuelanas.

A construção do PSUV,a reforma constitucional

e as tarefas da revolução venezuelana

ChávezhomenageiaChe Guevara

no Alô Presidenteem Santa Clara eem conversação

com Fidel indicaCienfuegos para a

construção darefinaria de re-

gasificação.

Página 5Outubro 2007 RevoluçãoSocialista

Che Guevara, a suas idéias, o seuinigualável exemplo revolucionáriocontinuam vivos e se reapresentam de

modo contundente nas lutas dos povos naAmérica Latina e no mundo. Che deixa de serum simples símbolo para se materializar emprojetos reais de luta na América Latina, deprocessos integradores, de formação de novosgovernos revolucionários e de crescimento demovimentos populares anti-capitalistas decamponeses, indígenas, mineiros, operários,estudantes e militares nacionalistas. Por issovárias entidades dos movimentos sociais noBrasil lhe deram a justa homenagem, inclusive,pela primeira vez, o Congresso, por iniciativade forças da esquerda ali presentes, ressuscitoucom honras a Che Guevara após a últimaacolhida que lhe rendeu Jânio Quadros em1964.

A tese do Che de que a soberania de qualquerpovo latino-americano passa pela libertaçãoconjunta de todo o continente, se materializanos fatos. O neo-liberalismo desce ladeiraabaixo, e se levanta a idéia integradora da ALBAapoiada em todos os seus alicerces: Unasur,Banco do Sul, Telesul, Universidade e Gasodutodo Sul. A Venezuela passa a ser um centro vitalqualitativo ao lado de Cuba para estender arevolução socialista na América Latina. Cuba,encurralada pelo bloqueio imperialistadificilmente poderia sobreviver, se além daconsciência do povo cubano, as fronteiras dasua revolução não se estendessem com oadvento do processo na Venezuela. Esta porsua vez conta com o apoio de Cuba, com maisde 14 mil médicos cubanos e várias operações“milagres”, no projeto de alfabetização “eu simposso” em todo o território. Aí, como na Bolívia,renasce não apenas o Che guerrilheiro de LaHiguera, mas o médico, estadista, economistacrítico e construtor, e o internacionalistaabnegado até a morte.

Nas “Anotações críticas à EconomiaPolítica” de Che Guevara, ou no “Opensamento econômico do Che” (CarlosTablada) publicados recentemente em Cuba, vê-se Che Guevara na sua amplitude completa.Guerrilheiro, construtor da consciência eemulação comunista com seu próprio exemplono trabalho voluntário, mas sobretudo,economista e elaborador teórico, crítico àdependência da monocultura, defensor doprocesso de diversificação e autonomiaprodutiva industrial nacional, e questionadordo funcionamento burocrático, defensor dointernacionalismo como única via ao socialismoChe criou o Instituto de Derivados da Cana-de-açúcar onde no discurso inaugural disse que oaçúcar seria apenas um dos sub-produtos dacana.

A concepção internacionalista do Che, e deTrotsky de que não há possibilidade de

socialismo num só país, é inquestionável numaAmérica Latina que está pondo em prática aintegração revolucionária como caminho paraa libertação de cada povo. No programa “AlôPresidente” de Chávez em Santa Clara, juntoao mausoléu do Che, que foi o ponto maiselevado e significativo da homenagem que lhefoi rendida no mundo, se formalizouemblematicamente esta concepção integradora.Fidel e Chávez selam um ato de união onde aVenezuela e Cuba constituem um só governo,como parte de uma Confederação Socialista daAmérica Latina. E do ato passaram a um acordoconcreto de re-gasificação em Cienfuegos, comajuda venezuelana.

A conversação ao vivo entre Chávez, emSanta Clara, e Fidel, em Havana, merece umaatenção especial, pelo método de construção edebate que se pode e se deve fazer na construçãodas direções revolucionárias do socialismo doséculo XXI: uma hora de balanço coletivo Fidel-Chávez, com a participação de ministros edirigentes políticos de ambos lados, sobre suasexperiências históricas, traçando um programasocialista conjunto.

Che Guevara renasce também na tribunada ONU onde em 1964, rompendo os esquemasda diplomacia, teve a ousadia de chamar aolevante revolucionário dos povos em todas aspartes do mundo onde houvesse um mínimosinal de injustiça social. Entre a tentativa deainda salvar e reverter o “covil de bandidos”caracterizado por Lênin, e a tentação de criarum novo organismo internacional dos países,fora do jugo e monopólio imperialista dos EUA,repercutem discursos na última Conferência desetembro na ONU como o de Ahmedinejad doIrã, de Rafael Correa do Equador, Evo Moralesda Bolívia, do chanceler venezuelano NicolasMaduro, na mesma linha antiimperialista deChávez. Não é mais Fidel sozinho a ser atacadode “gênio maldito”. Ao contrário, o fim doembargo a Cuba foi votado quase unanimementepelos integrantes da ONU. Deste contexto e dofracasso no Iraque é que surge a ira de Bushque ameaça com a guerra atômica ao mundo eao Irã. Cai a máscara: querem desarmar o Irãpara atacá-lo.

Por isso mais de 1 milhão de civis, incluin-do mulheres, já se inscreveram às Reser-vas. O ponto da reformulação das Armasna constituição é o que atiça a histeria daoposição burguesa.

O papel dos militares nacionalistas

A tradição bolivariana do exércitovenezuelano se viu reforçada pela nacio-nalização realizada por correntes militaresnacionalistas. Se expressa mais tarde noMBR.200 que assume a tarefa de dar umuso antiimperialista ao petróleo nacionali-zado na década de 70. Essa corrente lidera-da por Chávez já tinha sofrido, por sua vez,influência pelo nacionalismo militar latino-americano, seja dos generais VelascoAlvarado (Peru), Juan José Torres (Boliva),Perón e Vargas, e também da revolução na-cionalista de 1952 na Bolívia liderada porVillaroel que serve de base sócio-históricaao governo de esquerda de Evo Morales,que resiste e adota medidas estatizantes esociais graças ao apoio das massas, mastambém dos setores militares nacionalistas.Por isso, essas novas forças na Venezuela,PSUV, Guarda Territorial, Milícias eComunas são combinações importantespara o fermento socialista.

Um dos pontos da reforma constitucional éa proibição do latifúndio. É preciso que jun-to à expropriação se efetive uma ReformaAgrária que estimule a diversificação daprodução agrícola. Não é suficiente expro-priar o latifúndio se não há um projeto deprodução agrícola alimentar e deagroindústrias junto às comunidades, e decontrole estatal sobre a produção ecomercialização. Não há por que aVenezuela ter que importar 70% dos alimen-tos. É preciso ter um projeto de construçãode hortas ao redor das cidades, e estimulara diversificação agrícola-alimentar, com es-tímulo ao pequeno e médio agricultor. A re-volução venezuelana tem elementos maisfortes para planificar a economia, agora como fim da autonomia do Banco Centralpropugnado pela reforma constitucional,servindo ao interesse do Estado socialistae ao plano nacional de desenvolvimento.As reservas internacionais não podem ser

manipuladas pelo Banco Central, mas esta-rão sob a direção do presidente que passaa ser o administrador da Empresa pública.O chefe de estado estabelece a destinaçãodas reservas, para a produtividade, para asmissões, para o desenvolvimento social eendógeno. Enquanto isso, o Banco do Sulserá em breve oficialmente operacional.

O projeto constitucional de redução do tem-po de trabalho a 6 horas e 36 semanais secolocado vitoriosamente em prática, seráum estímulo às lutas sindicais anti-capita-listas na América Latina e no mundo. É umaconquista essencial da classe trabalhado-ra. Enquanto o capitalismo utiliza o progres-so científico para combinar o desempregocom a super-exploração dos que trabalhamcom cargas de 12 horas diárias, a revoluçãobolivariana poderá dar um exemplo de comoa ciência e a técnica no Estado socialistasignificam emprego para todos e mais tem-po de lazer, estudo e cultura à classe traba-lhadora.

Evidentemente, este projeto de reformaconstitucional tem tudo para que as provo-cações e manifestações contra-revolucio-nárias se acentuem. Mas, independente-mente da legislação, e o que fica no papel,o povo venezuelano está aprendendo adebater o livrinho vermelho da constitui-ção e a participar como nunca. Um povoorganizado, militarizado e determinado, nãohá constituição que agüente! Por isso, noBrasil, a mídia agente dos grandes gruposfinanceiros e estrangeiros, tem feito umacampanha violenta contra a Venezuela, e adoação que esta fez de 5.000 livros em por-tuguês sobre Bolívar para 624 escolas pú-blicas do ensino fundamental no DistritoFederal. Temer a Bolívar é temer que se es-tude Tiradentes e a Abreu de Lima nas es-colas. A concepção independentista eintegradora de Bolívar, unida à generosida-de da revolução bolivariana, só fere àque-les que hoje, esquartejariam pela segundavez a Tiradentes, e que têm interesse decriar mentes alienadas e submetidas ao gran-de capital e que querem fazer umainquisição às mentes pensantes que nãohesitarão um minuto para defender digna-mente a revolução bolivariana e estendê-laao Brasil e à América Latina.

A atualidade dopensamento deChe Chevara

LIBERDADE PARA OS 5 HEROIS CUBANOS ANTI-TERRORISTAS, INJUSTAMENTE PRESOSNOS ESTADOS UNIDOS POR DEFENDER UM MUNDO JUSTO E MELHOR

PARA OS FILHOS DA HUMANIDADE E AS GERAÇÕES DO FUTURO!

(Gerardo Hernández, Fernando González, Ramón Labañino,René González y Antonio Guerrero)

Che Guevara

Página 6 Outubro 2007RevoluçãoSocialista

Basta um simples confronto para levantar a irade Bush que ameaça o Irã com a terceira guerraatômica mundial. Apesar de todos ospreparativos, a conferência sobre o OrienteMédio desejada pelo imperialismo americano,faliu devido à recusa do Egito e também de AbuAbbas, da Autoridade Palestina, ao ver que oHamas, a resistência libanesa e o Irã a boicotaram.Enquanto isso, a Conferência dos Cinco emTeerã, constitui uma guinada histórica queprepara um novo nível elevado na cooperação,integração e no progresso dos países e dos povosda região contra todas e tantas tentativasimperialistas iniciadas na pós-queda da Urss.

Não são os destruidores da Iugoslávia, nem oskossovaros como Bernard Kuschner ou Sarkoincendiário, mas Bush, pessoalmente, quedeclara a eventualidade da guerra atômica comoa última arma preventiva, antes que a influenciaintegradora do Irã se alastre ou que,indiretamente, o Estado de Israel se derrube porimplosão ou pela pressão generalizada contraele e pela sua impossibilidade de se reformar.

O Encontro dos Cinco em Teerãselou o fracasso do imperialismo na

Ásia Central e no Mar Cáspio

O Encontro de Teerã assinalou o fracasso dosplanos de domínio imperialista na Ásia Centrale no Mar Cáspio, na sua tentativa de isolar ederrotar o Irã. O seu logro é o lançamentoimediato, e no futuro próximo, das cooperaçõese das integrações entre os países do Mar Cáspioe uma tomada de posição nítida da FederaçãoRussa contra as chantagens e ameaçasimperialistas; esta se sente empurrada à proteçãoe integração do Irã, e dos países que até há poucotempo pareciam ter se transformado em súditosdo imperialismo norte-americano.

Poderíamos indagar sobre as razões queconduziram a esta virada, mas o principal éentender o que foi decidido nos dois dias doencontro, e nas duas horas de discussão diretaRússia-Irã a portas fechadas, onde Putin teriafeito propostas estratégicas aos iranianos, e aindanão publicadas, e às quais Khamenei teriarespondido: “Pensaremos!”. Ambas as partesteriam declarado que não há nenhum limite aodesenvolvimento das próximas colaborações eintercambiaram mil elogios e sorrisos.

Os seus comportamentos, a certo ponto, nãopareciam ser de estadistas de alto escalão, masvelhos amigos que se reencontravam. No início,meio contidos, mas logo em seguida tudo eramabraços, provavelmente pela tranqüilidade enaturalidade de Putin que admira o poeta,filósofo, matemático e astrônomo OmarKhyyam e a história do Irã. Demonstrou saberque há toda uma parte do território da ex-Urss,da Índia e do Afeganistão que foram do Estadoiraniano e, na realidade, a língua persa era aquelaoficial, do Estado indiano dos Mogul, iranianodos turcos e persas, e dos turcos otomanos,através da qual a poesia e a literatura persa foido domínio e uso público da Ásia menor aosubcontinente indiano. Durante o colóquio entrePutin e Khamenei, quando este falava, Putinnão deixava de sorrir como se dissesse: “vaitranqüilo, manda brasa, não tenha medo!”. Osdirigentes iranianos ofereceram o próprio paíscomo sua própria casa. Mesmo sendo um atoformal, em sinal de hospitalidade oriental e deuma antiga cultura internacional, simboliza aprofundidade do processo histórico, onde háum reencontro, uma integração e o empenho emestruturar-se em um único processo.Prometeram de aumentar o valor de câmbio de 2bilhões de dólares anuais atuais para 200 bilhõesdentro dos próximos 10 anos.

Apesar de que o tema central da reunião fosse aquestão do Mar Cáspio, os Cinco definiramalguns passos importantes bilaterais e trilateraisde alcance histórico, entre os quais, a construçãode uma rede ferroviária e de auto-estrada queliga o Kazakistão e o Turkmenistão e o Irã aolitoral leste do Mar Cáspio; ela por sua vez seconecta à rede da ex-Urss ao norte, à Turquia eEuropa; e ao sul, se coliga ao Golfo Pérsico e aoMar de Omman. O Irã sob o domínioimperialista até a revolução islâmica, não havianunca desenvolvido uma rede ferroviária,essencialmente por questões geopolíticas emilitares de contenção em relação aoenfrentamento com a Urss. Era como se estavelha cruzada, dos contos de Marco Pólo e docaminho da seda, fosse impedida e cada vínculointerrompido. Além disso, Putin propõe aconstrução de um canal navegável que coligue oMar Cáspio ao Mar Negro e ao mar aberto,possibilitando o desenvolvimento do comércioem toda a zona. Isso é possível ao norte dacadeia montanhosa georgiana e nas estepesmeridionais da Rússia. Deverão tomar decisõessobre isso. E porque não? Xerxes já não haviafeito isso em Corinto, cortando a Ática doPeloponeso? Já não o haviam feito os fenícios eDario no Suez, e assim por diante, até ossoviéticos entre o Volga e o Don? Enquanto isso,decidiram de rever-se a cada seis meses a nívelde ministros do exterior e a constituir-se numaorganização de cooperação com encontros anuaisde representantes de alto nível.

Nenhum uso militar do Mar Cáspiopode ser feito e nenhuma nave

mercantil pode atravessá-lo combandeira estrangeira, com exceção

dos cinco países.

A outra decisão, que impede e freia o Azerbaijão,é que ninguém pode pensar e muito menosrealizar um ataque militar a partir do próprioterritório a outros países. Nenhum uso militardo Mar Cáspio pode ser feito e nenhuma navemercantil pode atravessá-lo com bandeiraestrangeira, com exceção dos cinco países.Todos os países e, logicamente o Irã, têm direitoa desenvolver a produção e o uso da energianuclear em todos os campos pacíficos. A Rússiase compromete a levar adiante o cumprimentoda construção da central nuclear de Bushehr noGolfo Pérsico no prazo estabelecido. As redesde eletricidade e outras infra-estruturas, serviçose coligações, e a produção dos aviões serãorealizados. O Irã já comprou 50 motores de jetTupolev e de Mig 29 quando a Rússia tinhavendido, há pouco tempo, os mísseis terra-arcom várias testadas para serem instaladas sobrebases móveis ao redor de bases nucleares e deBushehr.

As dificuldades de definir o regime depropriedade jurídica do Mar Cáspio e o inícioda intervenção do imperialismo no maior lago daTerra demonstram todo o mal que comportou aqueda da Urss. Desde então, este lago setransformou de uma situação pacífica de usocomum entre a União Soviética e o Irã, segundoos acordos de 1921, quando o novo governorevolucionário do Soviet anulou as dívidas do

Irã ao império czarista e dissolveu as forçasimperialistas dos cossacos presentes no Irã, aum lago tempestuoso a ser dividido entre cincopaíses contrastantes dirigidos sobre o lago, que,na desgraça da vitória dos rebeldes filo-americanos do Daghestan-Cecenia, se teriam quedividir em 6.

Os 5 ainda não chegaram a um acordo sobre adivisão do lago na superfície, na profundidade eno sub-solo. A profundidade do lago começados 5 metros na foz do Volga ao norte do lago,aos 100 metros ao sul junto às costas iranianas.A República do Azerbaijão ao oeste e aquela doTurkmenistão ao leste chegaram logo aodesentendimento pelas jazidas de petróleo nosubsolo do lago. Os caças iranianos tiveram queexpulsar navios de pesquisa petroleira inglesesque trabalharam nas águas do Irã, por conta doAzerbaijão; enquanto isso, a República russa, oKazakistão e o Azerbaijão se puseram de acordopara deter 64% da superfície, enquanto o Irãreivindicava a propriedade e a gestão comum dolago, como na época da revolução russa. Casonão fosse aceito, pretendia 20%, segundo adivisão paritária da superfície, enquanto osdemais lhe propunham somente 14%,possivelmente pela profundidade maior das suaságuas. Enquanto isso, o Azerbaijão sustentava eainda sustenta a relação militar com os Eua e jácomeçavam a mergulhar os submarinos militaresnas águas do Mar Cáspio; No Turkmenistãoatuava o Consórcio do lago instituído pelos Euae as companhias americanas e européiastrabalhavam no Kazakistão pela pesquisa eextração do petróleo nas maiores jazidas do MarCáspio. Salvo no caso do Azerbaijão, todo oresto não existe mais. O Kazakistão expulsou ascompanhias americanas, o Consórcio americanonão funciona mais no Turkmenistão, e oAzerbaijão teve que rever e conter as instigaçõesmilitares dos Eua e as provocações contra o Irãde constituir o Grande Azerbaijão junto aoiraniano com a capital em Tabriz iraniana.

O regime de propriedade será instituído nestanova atmosfera de confiança reencontrada e decolaboração, assim como a colaboração iraniana-russa, vendo os efeitos positivos da atuação dePutin nestes anos para resolver os problemasdo Tajikistão (1) e de Karabach (2). De todaforma, o significado político do encontro e assuas decisões, com uma resolução comum de 25pontos, vão além dos fatos em si e sematerializam numa organização econômico,social e política antiimperialista que estimulaagora cada um dos cinco países a ser maisdecisivos neste caminho e a preparar-se emoutras eventualidades. Sem dúvida que esta novaentidade, como a que está em desenvolvimentona América do Sul, influenciará todas as outrasquestões e processos de crise do Oriente Médioem todo o mundo.

18 de outubro de 2007(do nosso correspondente no Irã)

(1) No Tajikistão houve sempre convulsõesinternas influenciadas pelos talibãs afegãos e pelatendência reacionária mussulmana que por anos serefletia na direção do governo.(2) Se refere aos enfrentamentos militares havidossobre o caso de Karabach entre a Armênia e oAzerbaijão.

O salto e os desafios doEncontro de Teerã entre os

cinco países vizinhos aoMar Cáspio

O encontroentre Putin eAhmedinejadem Teerãna reuniãodos 5 paísesvizinhos aoMar Cáspio

Página 7Outubro 2007 RevoluçãoSocialista

O governo dos EUA, seguido pelonosso na Bélgica e por outros,alegam falsamente ser uma

proteção con-tra o Irã e a Coréia doNorte. Mas todo mundo sabe que o“escudo” não é nada defensivo, e quenão necessitamos de proteção contraagressões não existentes. Estas basesnos aproximam mais ainda da guerramundial que os EUA projetam conscien-temente contra a Rússia e a China.

Onde está o real perigo? Quem estátrazendo a guerra para os quatro cantosda Terra? É a OTAN que já se estende a29 países entre a América do Norte e aEuropa. Os seus tentáculos estão naguerra no Afeganistão e as suas inter-venções militares se multiplicaramdesde o bombardeamento da Iugoslávia.

Publicamos neste númeroeste documento do CSO quefoi apresentado em uma

manifestação internacional noBrdy, região da República Tchecaonde se prepara a instalação depeças do escudo anti-míssil dosEstados Unidos.

O “Comitê de Vigilância Otan”é uma agrupação belga compostapor várias tendências de esquerdaradical dentro da qual atuam nos-sos companheiros posadistas. Estareunião onde participou o CSOnum povoado distante daBohemia na República Tcheca,reuniu organizações contra a guer-ra de várias partes da Europa, jun-to com o movimento popular tche-co que rechaça qualquer instala-ção de bases militares e de elemen-tos de escudo anti-míssil no seuterritório. Vários prefeitos da re-gião de Brdy estão encabeçandoesta mobilização e se empenharamsolenemente a lutar com todas asforças para impedir a realizaçãodeste projeto. É preciso dizer queestes valentes companheiros sãoobjetos de muitas pressões de todotipo. O governo de centro-direitada Chequia já assinou tudo com ogoverno dos EUA para construiresta base e instalar o radar gigan-te. Agora, estão tratando de cor-romper as autoridades locais compromessas de construir infra-estru-turas, estradas de rodagem, cana-lizações de água e meios de trans-porte, que têm sido precários, coma condição de que se aprove a cons-trução da base militar. O que é elo-qüente é que vão utilizar FundosEuropeus. Não se trata de umaquestão “local”. A populaçãotcheca em todo o país está muitoindignada com a arrogância des-te governo que assinou o acordocom os ianques sem consultar aninguém. A própria mídia publicapesquisas de opinião onde 70 a85% das pessoas estão contra enem querem saber de uma novabase militar. Lá naquele povoadoda região de Brdy, todos se senti-ram parte do mundo quando pu-deram ouvir e ver a mensagem novídeo do prefeito de Hiroshima, emnome do movimento “Prefeitospela Paz” que ele preside, chaman-do a impedir a instalação de umanova base e a decretar nesta re-gião uma nova zona da Europasem armas nucleares.

Saudação do Comité Surveillance Otan* aoEncontro em Brdy-Breznice (República Tcheca)

(*)CSO – Comitê de Vigilância contra a Otan na Bélgica

O “escudo” anti-mísseis dos EUA na República Tcheca e na Polônia

te de estar diante de fatos já ocorridos. Mas, é precisoimpedir isso. Por isso é importante esta mobilização naRepública Tcheca, e outras já anunciadas na Polônia ena Hungria, que são vitais para as populações da Euro-pa. É indispensável esta solidariedade com vocês!

Na Bélgica, nós devemos exigir do nosso governo (o atu-al e o que virá) que renda contas. Nós denunciamos, econsideramos que seja nulo e inválido todo acordo bilate-ral que implique em qualquer participação ou instalaçãono assim chamado “escudo”. Nós denunciamos e consi-deramos que seja nulo e inválido qualquer compromissodo governo sobre isso através da OTAN: Não ao voto emfavor, não à “abstenção construtiva”!

Nós chamamos aos cidadãos dos movimentos e aos par-tidos progressistas do nosso país a rejeitar qualquer par-ticipação direta ou indireta, na instalação deste “escu-do”. Esta “defesa” da Europa serve somente para aumen-tar os riscos de guerra na Europa. Muitos líderes pró-OTAN estão entusiastas, mas as populações européiasnão têm interesse na política agressiva dos líderes norte-americanos. É preciso lutar por uma outra Europa! O ca-minho para a paz não pode ser a dos armamentos, maso da desmilitarização, cooperação e acordos com aRússia os países vizinhos.

Contate-nos: [email protected]

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Manifestação contra a instalação do radar em Praga

A partir do colapso da URSS, os EUA e a OTAN têmincrementado a sua política de agressão e expansão visandoa apropriação dos recursos energéticos e as suas vias deescoamento. Esta política provocou a desintegração da Iu-goslávia, a total destruição do Iraque após 12 anos de umcriminoso bloqueio e a “revolução de várias cores” em tornoda Rússia. Essa mesma política é a que agora apresenta oIrã como a maior ameaça ao Ocidente, justificando essasbases anti-balísticas na República Tcheca e na Polônia oque, ao contrário, aumenta a cadeia de agressões anterio-res.

Os EUA e a OTAN apresentam este sistema anti-balísticocomo uma simples proteção para a Europa, mas concreta-mente dizem: “Nós temos os meios para atacar você – evocê não tem como responder. Não lhe resta, portanto, outraalternativa que ficar sob a nossa proteção”.

O governo dos EUA assinou previamente acordos bilateraiscomprometendo diretamente a República Tcheca e a Polôniana construção do escudo. Mas, há outro passo: a OTAN nãosomente ratificou o principio do escudo, mas decidiu cons-truir (principalmente na Hungria) um sistema complementaranti-míssil compartilhado com os Estados Unidos. Os círcu-los dirigentes estão fazendo as contas para ver quanto cadapaís membro vai ter que pagar.

O ano 2010 é quando o sistema deveria estar operacional, enão está longe. Os líderes políticos e militares o apresentamcomo se fosse um projeto teórico, mas isto é para evitar odebate público sobre a questão. Corremos o risco novamen-

Página 8 Outubro 2007RevoluçãoSocialista

Pode existir vida em outros planetas ou em outras galá-xias ou universos. A transformação da matéria do estado inorgânico ao estado orgânico pode haver se dado

em forma diferente daqui da Terra, de modo que a utilizaçãoda energia seja superior à daqui. Aqui apenas se sabe utilizara energia do petróleo e de forma muito limitada e primária; aenergia atômica pode estar sendo utilizada sabiamente, comotodas as outras formas de energia existentes na matéria. En-quanto ainda não há interesse de como utilizá-la benefica-mente na Terra, em outras partes já a poderão estar transfor-mando em luz.

A organização da matéria pode ter se dado em outros siste-mas planetários ou galáxias em combinações infinitas e sobformas totalmente diferentes das que conhecemos na Terra.Não podemos saber como pode ter ocorrido, mas o que ima-ginamos é que pode existir uma utilização da energia infinita-mente superior à nossa. Descobriu-se na União soviética umnovo raio que é luz; mas só hoje se descobre, quando emoutros planetas podem já haver descoberto e desfrutado des-de milhões de anos. O que nós demoramos para ir de umcontinente a outro, eles fazem em meio segundo, de modoque a concepção da vida e da matéria, está determinada porisso. Esta energia tem que ter uma propriedade e força infini-tamente superior à que conhecemos. De modo que se podeconceber um ser que levante a mão e produza luz, atraia ouafaste objetos e organize a energia. Tudo isso é possível.

Nós estamos acostumados a ver e conceber a vida na Terradentro da visão comercial da propriedade privada, do senti-mento de possessão, que é a base na qual se desenvolveu asociedade até chegar à etapa do Estado operário. Isto é o quedetermina a noção de existência e sua relação com os outrosplanetas. Aqui, quando planejam ir a outro planeta é para verse podem explorar e dominar, porque a ciência está sujeita aoque lhe fornecem ou lhe pagam. A ciência não é independente.Não é a mesma situação do sujeito que tem urna horta, plantae colhe o que quer; este, mesmo estando submetido à nature-za, tem o poder de determinar. A ciência não; ela está sujeitaa quem a financia. Por exemplo, os astrônomos e os físicos,de onde vão tirar dinheiro para instalar aparelhos e pesquisar?Eles não têm recursos. Não têm nem equipe disponível, nemdinheiro para pagar-lhes; nem meios para poder viver. Comque meios estudarão a física? O Estado capitalista sim, podepropiciar tudo isso; a burocracia soviética também. Podeminstalar equipes, mas terminam limitando sua capacidade aointeresse capitalista ou ao interesse individual de casta para-sitária da sociedade. Por isso o conhecimento da física, damatéria, da astronomia, é ainda uma coisa incipiente. Não háum conhecimento real do que existe. Prova é que constante-mente estão corrigindo as bases dos descobrimentos, seja deNewton, seja de Einstein, e de todos eles. (...)

Há um cientista japonês que disse o que nós dissemos: que éum crime desperdiçar tamanha energia liberada pelos terre-motos. E que se pode fazer um sistema injetável, como sefosse uma espécie de radar, que vá vendo as mobilizações, osgases que há no interior da Terra. Quer dizer, todas as formasque supomos existir, que não se conhecem ainda, mas queexistem realmente, sejam gases ou desprendimentos interio-res produzidos por gases ou movimentos de rotação do sol e

da Terra que os cientistas ainda não conhecem. Ele diz que se podeprever o terremoto, conter, e utilizar esta energia, tal como escreve-mos quando houve o terremoto de 1961 no Chile.

A organização da matéria que permitiu na Terra certas formas devida, sua reprodução, está limitada pela capacidade científica. Acapacidade científica está limitada pela capacidade de poder estudare, esta pela capacidade econômica. A capacidade econômica é a dequem tem os meios e o interesse. E o interesse dominante é capita-lista. Isso constitui urna limitação enorme. E além disso, existe aconcepção do mundo limitada pela visão individualista da proprie-dade e da sua utilização privada. Isto limita a capacidade de obser-vação; e a audácia na observação é limitada pelo conhecimento de-terminado pelo interesse e pelo preconceito social. Isso é evidentena questão do transplante do coração.

Quando os soviéticos lançaram o primeiro sputinik, um socialistaidiota do Uruguai escreveu urna poesia chamada “A lua violada”. Épreciso ser um imbecil para dizer isso. São pessoas impotentes eincapazes porque não têm nem finalidade, nem perspectiva parapoder a avançar. Como não tem perspectiva se dedicam a isso,porque o que esses concebem é a propriedade privada. E para poderencarar e estudar as formas diversas através das quais está constitu-ída a matéria, se requer a energia caminhando, a organização consci-ente, como somos nós. Mas em nós há energia não consciente, porque senão, como viveríamos, qual é o impulso que nos faz viver?Esta é uma das formas de energia.

A mentalidade capitalista, que impede aos burgueses terem pers-pectivas, faz com que não tenham interesse e limitem a audácia deobservação do mundo. Porque se fossem audazes e resolutos perce-beriam que não têm função na vida, e que a sua existência não temjustificativa. É seu interesse que limita e estreita a sua visão. E,consequentemente limitam os alcances da física, da química, damedicina, e de todas as ciências. Em troca, não tem porque ser damesma forma nos outros planetas. Não têm porque ter havido lutade classes. Por quê? Aqui na Terra se deu dessa forma porque assimse deu na história. Mas em outros planetas não há porque ter sidoassim.

(..) Ainda se utiliza a energia de forma muito mecânica, limitada erudimentar. Hoje se pode utilizar a transformação da matéria emenergia existente em estado natural. É preciso fazer isso. Por exem-plo, eliminar todo processo de refinação de petróleo para transfor-mar a matéria em energia. Um belo dia, do ar vão fazer energia; otransformarão em energia. Se a eletricidade surge, isso se deve àestrutura e comportamento da matéria; e se aproveita porque che-gou-se a este descobrimento que é limitado. No futuro a eletricidadenão será necessária. Tudo o que existe é energia. Para que algo ouqualquer objeto exista, tem que ser energia porque senão não existe.

A capacidade científica do ser humano está determinada pela orga-nização social, e esta, pelo objetivo que se persegue; mas em tudona vida, a capacidade de organização social é prioritária. A organiza-ção social da propriedade privada é muito limitada; o seu alcance élimitado, porque tudo o que ela gera: o ímpeto, o impulso, a cora-gem, a audácia, estão determinados pelo interesse e a apropriaçãoindividuais, e nada mais. (...)

O marxismo e o conhecimento científicoNo futuro socialista se encontrará a forma de resolver facilmenteto-dos os problemas derivados da noção da Terra, gravidade, pres-

são atmosférica, pressões pela altitude, etc. Se encontrará, so-bretudo, uma resposta ao problema essencial: a capacidade soci-al organizada num só pensamento – que é a sociedade – serácapaz de resolver tudo. Não haverá como hoje, apenas algunsindivíduos dedicados a pensar; e nem as faculdades e universida-des serão tais como são atualmente. Essa forma de organizaçãoatual tem a finalidade de criar as diferenciações e separações, deforma que alguns estudem para aumentar o rendimento dos quemandam. A Universidade existe hoje com a função de prepararalguns profissionais para explorarem a sociedade em benefíciodo capitalismo. Ela existe para isto. No futuro, não haverá ne-cessidade de Universidade, haverá um só objetivo na sociedade,e este será a Universidade. O progresso será comum para todos.Esta é a audácia perante a natureza.

Este é um problema que tem importância para a formação e oconhecimento marxista que é ilimitado, não se detém no proble-ma das lutas sociais econômicas e políticas. Não há nenhumproblema que esteja desvinculado da humanidade. Todos os pro-blemas da humanidade têm influencia uns sobre os outros. Quantomais cresce o domínio do conhecimento da história da humani-dade, da economia, da matéria, mais aumenta a segurança paraencarar os problemas com audácia e resolução. Mesmo não ha-vendo conhecimento e preparação científica prévia sobre umdeterminado ramo, se houver a preparação científica do instru-mento, que é o marxismo, a dialética, pode-se encarar todos osproblemas. Este é o aspecto essencial.

(...) O marxismo tem como condição essencial o espírito crítico,para conservar sua potência histórica inestinguível, até que sur-jam formas superiores de interpretação, que permitam compre-ender, como parte do marxismo, o processo da naturezadialeticamente.

A matéria e a energia

Descobriu-se que existe uma velocidade superior à da luz: entãohá um processo superior à velocidade da luz. Isso mostra quetoda a concepção atual da estrutura da matéria está em questão.A matéria não tem, na sua estrutura, nenhuma forma. Por isso, épossível encontrar vida em qualquer parte do universo e mesmoformas inconcebíveis de vida. Formas que vão desde a maisprimária até as superiores. As formas e combinações são infini-tas. Todos aqueles que admitem a existência de “discos voado-res” não o fazem com a preocupação científica e a vontade dedesenvolver o conhecimento, mas dominados peloimpressionismo e obrigados a constatar um fato verídico, sem aobjetividade de utilizar o conhecimento científico para aplicá-loa outros conhecimentos sociais. Por exemplo, se existe vida emoutros mundos, quer dizer que existem formas de organizaçãosuperiores, que não têm que estar levando uma vida como anossa, em guerras. Todos estes indivíduos que admitem a exis-tência de “discos voadores” simplesmente fazem umaconstatação, como aquele que está projetando a luz; esta sereflete na parede e diz: “Isto é luz”, e nada mais. Não tiram dissonenhuma conclusão.

(*) extraído do folheto de J. Posadas: “Os discosvoadores, o processo da matéria e energia, a ciência, a

luta de classes e revolucionária, e o futuro socialista dahumanidade”)

Os limites do conhecimento científicoe da utilização da energia na sociedade

capitalista (*) (título do comitê de redação)

21 de junho de 1968J. Posadas

A organização damatéria pode ter

se dado em outrosplanetas ou

galáxias, emcombinações

infinitas ediferentes

da Terra