revoluçãorevolução socialista “sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (j....

16
Revolução Socialista “Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 11 – Nº 28 – Julho de 2010 – R$2,00 Jornal Jornal Jornal Jornal Jornal Posadista Posadista Posadista Posadista Posadista Continuação do Jornal Frente Operária, fundado em 1953 Conjuntura Econômica Página 3 A guerra Página 9 Copa Irã O acordo nuclear Brasil-Irã EDITORIAL Página 4 Página 6 Página 8 Página 10 A campanha eleitoral entra no vivo, com o registro das candidaturas e o inícios dos comícios e da pro- paganda. Mas já é possível identificar algo da estratégia dos inimigos do governo Lula e dos movimentos e das conquistas populares, os eternos amigos do neoliberalismo e da aliança estratégica com o imperialismo: eles não vão vender barato a derrota. Evidentemente a campanha da oposi- ção conservadora começa mal, nos atro- pelos para formar a aliança conservado- ra, nos conflitos com o DEM, na renún- cia de Aécio Neves, e nas primeiras pes- quisas eleitorais, que indicam uma ten- dência ao aumento da candidata Dilma, antes mesmo da “descida em campo” do presidente Lula. A trapalhada da escolha de Índio da Costa como vice é uma ex- pressão de desequilíbrio, de falta de pers- pectiva de longo prazo, pela inexpressividade do candidato e pela sua disponibilidade para fazer uma campanha agressiva e o papel de vilão, enquanto Serra tenta manter a “compostura”. Tudo indica que por pouco tempo. De fato, dada a crescente popularida- de de Lula, e por não encontrar um eixo para a crítica a seu governo, frente às evi- dências de um crescimento recorde da economia e dos indicadores sociais posi- tivos, o “Serra paz e amor” era a única atitude possível para não cair no ridículo. Entretanto, uma vez revelado que nem mesmo o engano, a declaração de aumen- tar e potencializar o Bolsa Família, a debi- lidade do slogan “o Brasil pode mais”, a suavidade das referências a Lula, nada disso reverte a tendência a uma provável eleição plebiscitária de Dilma, o jogo se faz mais duro, aparecem os supostos “dossiês do PT”, e sobretudo os meios de comunicação abrem a barragem de ar- tilharia contra os mínimos detalhes da candidatura da Dilma, desde a trapalhada do registro do programa, até suas dificul- dades de expressão em comícios. Há que se preparar, portanto, para uma guerra guerreada, e não um processo elei- toral normal e tranqüilo. As elites que ten- taram derrubar Lula com o “mensalão” não se resignaram, embora tenham acu- mulado derrotas desde então. Os seus problemas aumentaram, porque os bastiões tradicionais da burguesia e da oli- garquia agrária foram invadidos pelo apoio popular a Lula e seus programas sociais, a catastrófica crise internacional do capi- talismo encurralou o ideário neoliberal, o desenvolvimentismo e a soberania nacio- nal se afirmaram como alternativas pos- síveis, o papel do Estado foi restaurado e mostra-se decisivo para por ordem na eco- nomia e promover o crescimento econô- mico. Ou seja, a base social e portanto polí- tica de boa parcela das classes dominan- tes tradicionais foi enfraquecida. Outros setores, mais pragmáticos, sabem que a política econômica e social do governo Lula permitiu o seu desenvolvimento, prin- cipalmente pela ampliação sem preceden- tes do mercado, antes limitado pela falta de distribuição de renda. A base política construída por Lula não foi só produto de sua simpatia pessoal ou habilidade e inteligência políticas, que são fatores inquestionáveis: mas é também fruto de um cálculo feito pelas classes dominan- tes, o que à época chamamos de “o Lula consentido”.O cálculo deste setor da bur- guesia é: como não posso derrotá-lo o mal menor é associar-se a ele e tentar conter por dentro. O problema é: até quando estes seto- res vão apoiar o governo popular, até que ponto vão tolerar a transição para a Dilma, até que ponto confiam em que este desenvolvimentismo não vá dar lugar a uma transformação social mais profunda do país, a uma mais ampla distribuição de renda e de direitos? Não há uma nova “carta aos brasileiros” por parte de Dilma, há, ao contrário, uma declarada intenção Lula na Conferência da terra em Brasília (novembro de 2003) Foto: Ricardo Stuckert Venezuela Bomba neutrônica (J.Posadas) Página 12 (J.Posadas) (continua na página 2) Dilma presidente, para continuar o governo popular e suas conquistas Declaração Eleitoral Suplemento Especial Eleições: Projeto Popular e Democrático versus Projeto Neoliberal

Upload: others

Post on 22-Jul-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: RevoluçãoRevolução Socialista “Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 11 – Nº 28 – Julho de 2010 – R$2,00 Jornal Posadista Continuação

RevoluçãoSocialista

“Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 11 – Nº 28 – Julho de 2010 – R$2,00

JornalJornalJornalJornalJornalPosadistaPosadistaPosadistaPosadistaPosadista

Continuação doJornal

Frente Operária,fundado em 1953

ConjunturaEconômica

Página 3

A guerra

Página 9

Copa Irã O acordo nuclearBrasil-Irã

EDITORIAL

Página 4 Página 6Página 8 Página 10

A campanha eleitoral entra no vivo,com o registro das candidaturase o inícios dos comícios e da pro-

paganda. Mas já é possível identificar algoda estratégia dos inimigos do governoLula e dos movimentos e das conquistaspopulares, os eternos amigos doneoliberalismo e da aliança estratégicacom o imperialismo: eles não vão venderbarato a derrota.

Evidentemente a campanha da oposi-ção conservadora começa mal, nos atro-pelos para formar a aliança conservado-ra, nos conflitos com o DEM, na renún-cia de Aécio Neves, e nas primeiras pes-quisas eleitorais, que indicam uma ten-dência ao aumento da candidata Dilma,antes mesmo da “descida em campo” dopresidente Lula. A trapalhada da escolhade Índio da Costa como vice é uma ex-pressão de desequilíbrio, de falta de pers-pectiva de longo prazo, pela

inexpressividade do candidato e pela suadisponibilidade para fazer uma campanhaagressiva e o papel de vilão, enquantoSerra tenta manter a “compostura”. Tudoindica que por pouco tempo.

De fato, dada a crescente popularida-de de Lula, e por não encontrar um eixopara a crítica a seu governo, frente às evi-dências de um crescimento recorde daeconomia e dos indicadores sociais posi-tivos, o “Serra paz e amor” era a únicaatitude possível para não cair no ridículo.

Entretanto, uma vez revelado que nemmesmo o engano, a declaração de aumen-tar e potencializar o Bolsa Família, a debi-lidade do slogan “o Brasil pode mais”, asuavidade das referências a Lula, nadadisso reverte a tendência a uma prováveleleição plebiscitária de Dilma, o jogo sefaz mais duro, aparecem os supostos“dossiês do PT”, e sobretudo os meiosde comunicação abrem a barragem de ar-

tilharia contra os mínimos detalhes dacandidatura da Dilma, desde a trapalhadado registro do programa, até suas dificul-dades de expressão em comícios.

Há que se preparar, portanto, para umaguerra guerreada, e não um processo elei-toral normal e tranqüilo. As elites que ten-taram derrubar Lula com o “mensalão”não se resignaram, embora tenham acu-mulado derrotas desde então. Os seusproblemas aumentaram, porque osbastiões tradicionais da burguesia e da oli-garquia agrária foram invadidos pelo apoiopopular a Lula e seus programas sociais,a catastrófica crise internacional do capi-talismo encurralou o ideário neoliberal, odesenvolvimentismo e a soberania nacio-nal se afirmaram como alternativas pos-síveis, o papel do Estado foi restaurado emostra-se decisivo para por ordem na eco-nomia e promover o crescimento econô-mico.

Ou seja, a base social e portanto polí-tica de boa parcela das classes dominan-tes tradicionais foi enfraquecida. Outrossetores, mais pragmáticos, sabem que apolítica econômica e social do governoLula permitiu o seu desenvolvimento, prin-cipalmente pela ampliação sem preceden-tes do mercado, antes limitado pela faltade distribuição de renda. A base políticaconstruída por Lula não foi só produtode sua simpatia pessoal ou habilidade einteligência políticas, que são fatoresinquestionáveis: mas é também fruto deum cálculo feito pelas classes dominan-tes, o que à época chamamos de “o Lulaconsentido”.O cálculo deste setor da bur-guesia é: como não posso derrotá-lo o malmenor é associar-se a ele e tentar conterpor dentro.

O problema é: até quando estes seto-res vão apoiar o governo popular, até queponto vão tolerar a transição para a Dilma,até que ponto confiam em que estedesenvolvimentismo não vá dar lugar auma transformação social mais profundado país, a uma mais ampla distribuição derenda e de direitos? Não há uma nova“carta aos brasileiros” por parte de Dilma,há, ao contrário, uma declarada intenção

Lula na Conferência da terra em Brasília (novembro de 2003)

Foto

: Rica

rdo

Stuc

kert

VenezuelaBomba

neutrônica(J.Posadas)

Página 12

(J.Posadas)

(continua na página 2)

Dilma presidente,

para continuaro governo populare suas conquistas

Declaração Eleitoral

Suplemento Especial

Eleições:Projeto

Popular eDemocrático

versusProjeto

Neoliberal

Page 2: RevoluçãoRevolução Socialista “Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 11 – Nº 28 – Julho de 2010 – R$2,00 Jornal Posadista Continuação

Página 2 Julho 2010RevoluçãoSocialista

Vem da página 1

Expediente

“RevoluçãoSocialista”

Órgão da Corrente Posadista do PT –Regulamentada junto ao

Diretório NacionalContinuação do Jornal “Frente

Operária”, fundado em 1953.Diretor Responsável :

C.A. de Almeida – Reg. Prof. 049/SPE-mail: [email protected]

Página Web:www.revolucaosocialista.cjb.net

Brasília DFCirculação interna ao PT

de dar continuidade aos programas so-ciais mais avançados de Lula.

Portanto, em tese, podem-se preverdefecções do campo burguês quanto àcandidatura de Dilma, embora a burgue-sia costume apostar no candidato comchances inquestionáveis. Vai depender datruculência da campanha, da guerramidiática, dos inimagináveis golpes dosmarqueteiros, mas também de fatoresimponderáveis a nível internacional,como são as guerras em curso e empotencial, e a natural ingerência do im-perialismo para retomar o controle so-bre um país com a enorme importânciaestratégica como é o Brasil.

Portanto, nada de salto alto: a eleiçãode Dilma deverá ser uma conquista, de-grau por degrau. Equivocado seria jogartodas as cartas também na transferênciaautomática dos votos de Lula: guarda-das as diferenças com a Bachelet e seuscandidatos, a excessiva moderação de seugoverno, ainda assim a experiência doChile ensina. As eleições no Brasil nuncaforam um jogo para ingênuos, basta vero volume de recursos envolvidos.

Entretanto, há um fator que pode serdecisivo, não somente para o processoeleitoral, mas para a sustentabilidade dogoverno da própria Dilma e sua amplaaliança: o crescimento da esquerda, o for-talecimento do PT e de outros partidosprogressistas, a construção de uma am-pla frente sindical e popular, a recupera-ção de uma militância e de uma partici-pação social enfraquecidas pelos aparen-temente irreversíveis progressos e con-quistas da era Lula.

De fato, embora estas tenham sidoexpressivas e estruturantes, como a re-cuperação da Petrobrás, a desprivatizaçãoparcial, a Telebrás, a reconstrução doEstado Nacional, a reconstrução da in-dústria naval, a recolocação do Brasil nocenário internacional, a união do conti-nente sul-americano com o enterro daALCA e da dependência do FMI, e tan-tas outras, parece não existir, à esquer-da, plena consciência do significado destaplataforma programática nacionalista,desenvolvimentista e antiimperialista. Aocontrário, há uma cobrança, muitas ve-zes agressiva, pelo que não foi conquis-tado, pelo que ficou para depois, pelo

no popular, toda e qualquer forma degestão em favor dos mais pobres e dosinteresses reais do país? O combate àcorrupção não passa por, justamente, oaumento do controle e da participaçãopopulares? Não passa pela existência deuma mídia pública, social e independen-te? Não passa pelo crescimento da cida-dania, pelas conquistas dos direitos, pelarealização dos sonhos que faz com queos cidadãos, na hora de votar, sejam re-almente livres e independentes das oli-garquias e suas viciadas classes políti-cas que as sustentam com o clientelismo?

Então, a luta contra a corrupção estáintimamente ligada ao aumento do poderpopular, e não à escolha de uma aliança“pura” e “incontaminada”, que ninguémneste país consegue construir, que nãoexiste, basta ver as forças que compõemo entorno da candidatura de Marina Sil-va, supostamente a candidatura que searroga mais “ética”. Não se trata das vir-tudes pessoais, mas do pedágio que aclasse política cobra para representar osdiversos setores das classes dominantesou candidatos a tal. Não há “reformapolítica” que corrija o caráter burguêsda nossa democracia representativa, esua intrínseca corrupção.

Não se combate a corrupção se o paísainda não consegue realizar plenamenteos sonhos da Constituinte, conquistar areal aplicação do SUS, da reforma psi-quiátrica, do ECA, da Lei Maria da Pe-nha, do Estatuto do Idoso, do recémaprovado Estatuto da Igualdade Racial,se não pode aprofundar a reforma agrá-ria – que também está na Constituição –porque tem que pagar juros escorchantesaos banqueiros. Se não se pode, comopretende Lula a partir do fundo social dopré-sal, criar um sistema educacional devanguarda.

E, pior, se tudo isto retrocede comum novo governo neoliberal, convictode que o Estado não deve existir, que omercado tudo resolve, que os cidadãostêm que recorrer a ele em busca de casa,educação, saúde, assistência e que a

Carteira de Trabalho deve ser um objetode museu. Se retornamos a um governoque vendeu a pátria aos interesses es-trangeiros, que desarmou as Forças Ar-madas, que massacrou e criminalizou osmovimentos sociais. O fato de que umeventual governo Serra terá provavel-mente dificuldade em demolir as con-quistas sociais do governo Lula não nosexime de nada, já que estamos assistin-do, na Europa, a mais colossal demoli-ção dos direitos jamais assistida: salári-os, estabilidade, emprego, saúde, tudovai por água abaixo para pagar a catás-trofe da economia capitalista. O RETRO-CESSO NÃO É UM ESPANTALHOQUE LEVANTAMOS POR RAZÕESELEITORAIS: É UMA POSSIBILIDA-DE REAL E CONCRETA!!!.

Novamente, o fator mais importantedesta contenda é como as forças popu-lares conseguirão mobilizar-se e organi-zar-se para condicionar os governos, nocaso da vitória da Dilma dar segurançapara que esta avance nas conquistas, eno caso de derrota para os neoliberais,TENTAR IMPEDIR QUE RETROCE-DAM E REBELAR-SE FRENTE AOSRETROCESSOS. Em nenhuma das duashipóteses há lugar para quietude, passi-vidade e conformismo. Se queremos algomais avançado que o governo de alian-ças de Lula, é preciso, em primeiro lu-gar, assegurar a sua continuidade elegen-do a Dilma Roussef, criando a possibili-dade da consolidação e doaprofundamento de muitos projetos emcurso. Esta é no momento uma condi-ção imprescindível para poder criar ou-tras condições para estabelecer formasconcretas e reais de poder popular, sin-dical, voltar a formar fortes organizaçõese movimentos nos mais variados seto-res da sociedade. Não há outro cami-nho. Os partidos da esquerda que o fize-rem terão futuro na História. Seria fatalse se conformassem com uma boa ban-cada estadual ou federal, ou um maiornúmero de cadeiras no Senado.

Chamamos portanto a cerrar as filei-ras pela candidatura de Dilma, a usar amobilização das eleições não somente parasacudir bandeiras e distribuir panfletos,mas para promover um debate profundoe amplo à esquerda sobre a importânciade tirar conclusões dos governos de Lula,e criar consciência sobre a sua platafor-ma programática, que é a arma maisinquestionável e invencível da qual dis-pomos e que deve ser a base de susten-tação do novo governo popular.

19 de julho de 2010

Rica

rdo

Stuc

kert

Petrobrás renova a indústria naval

Foto:

Feli

pe G

estei

ra

Bolsa Família (Porto do Capim – PB)

que o Brasil ainda é como país capitalis-ta e socialmente injusto.

E sobretudo, uma falsa cobrança so-bre um suposto caráter anti-ético do go-verno Lula e do futuro governo Dilma.Esta talvez seja a munição mais pesadaem poder da oposição burguesa: conti-nuar enganando a opinião pública prin-cipalmente entre os setores médios, como conto do vigário da ética, com a ur-gência de combater a “corrupção”.

Os recentes escândalos do mensalãodo DEM e os inúmeros mensalões doPSDB –o crônico e histórico mensalãodos banqueiros e das oligarquias – nãobastam para elucidar a questão, repetidaaté as náuseas por toda a mídia comopraga nacional e urgência sem a qual oBrasil não tem futuro. Vende-se a ilusãoque após a lei dos “fichas limpas” o Con-gresso Nacional será outro, puro e cas-to. Basta ver a lista de milionários-can-didatos para não se ter ilusões. São inu-meráveis os mecanismos de poder a ní-veis local, estadual e nacional que deter-minarão a eleição dos candidatos. O “fi-cha-limpa” de hoje não dura um dia demandato, será o “ficha-suja” de amanhã.

Mas a corrupção é mesmo o maiorproblema da Nação? Ou este debate éinstrumental para desprestigiar toda equalquer forma de representatividadeampla, toda e qualquer forma de gover-

Page 3: RevoluçãoRevolução Socialista “Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 11 – Nº 28 – Julho de 2010 – R$2,00 Jornal Posadista Continuação

Página 3Julho 2010 RevoluçãoSocialista

O Governo Lula e o PT estão quebrando vários preconceitos emrelação a como fazer correta-

mente política dentro do chamado cam-po da esquerda. Em primeiro lugar, paraum partido de esquerda que defende osocialismo, o Governo Lula foi capaz deentender que antes de conquistarmoso socialismo, o povo de menor baixarenda precisa comer, vestir, calçar, ha-bitar, comprar eletrodomésticos, termais saúde, educação, laser. É possí-vel tirar milhares da miséria e ir cons-truindo as pontes para uma sociedadesocialista. Os miseráveis não precisamesperar o socialismo para viver melhor.

Logicamente, que não dá para ter a pre-tensão de resolver todos os problemasda miséria acumulados durante anosem apenas 8 anos de governo e dentrodas limitações de uma sociedade capi-talista. Mesmo porque para Lula se ele-ger teve que fazer várias concessões àelite do país. Ele é fruto de uma combi-nação de Lula conquistado e Lula con-sentido. Lula conquistado em virtude desua origem de retirante, das lutas sin-dicais, da luta contra a ditadura militare pela democratização do país, da lutapela construção de um partido de es-querda, das lutas políticas. Lula con-sentido pela elite do país sem alternati-va, depois do fracasso do neoliberalismono Brasil, de certa forma “permitiu” umLula que assumiu determinados com-promissos – através da Carta ao PovoBrasileiro, de manter as regras jáestabelecidas, como a manutenção dosatuais contratos. O capital tem a capa-cidade de sabotar qualquer governoquando se sente lesado, e mesmo nãosendo atingido na sua essência, bus-cou destituir o Governo Lula quando dosacontecimentos envolvendo o chamadomensalão.

O PT aprendeu, depois de muito rejei-tar, que sem fazer alianças que pressu-põe fazer concessões, não elegeria umPresidente da República. Tática que sefaz necessária agora também para aeleição da candidata Dilma à Presidên-cia da República.

É neste contexto e com esta concep-ção que o Governo Lula conseguiu avan-

ços estupendos para a classe maispobre do país. O PSDB está tão de-sesperado que até busca dizer que apolítica do Governo Lula é uma conti-nuidade do governo FHC. Nada maisfalaciosa que esta afirmação.

As diferenças têm seus primeiros fun-damentos, na concepção de classe. OPSDB governa para a elite brasileira. OGoverno FHC ao abraçar a concepçãode Estado mínimo, não o fez apenaspor acreditar no princípio neoliberal masporque o neoliberalismo se traduziu emprivatizar o patrimônio público. O Go-verno FHC cometeu crime de lesa pá-tria ao “doar” empresas como a Com-panhia Vale do Rio Doce. O GovernoFHC privatizou por 105 bilhões de dóla-res, 70 empresas estatais federais e es-taduais. Descontados os benefícios con-cedidos, esse valor é ainda menor.

Uma das primeiras medidas do Gover-no Lula foi interromper o processo deprivatização das empresas estatais,resgatá-las e fortalecê-las e com muitadiplomacia conseguiu afastar o seu go-verno da Aliança para o Comercio dasAméricas - Alca e do Consenso de Wa-shington.

FHC queria mudar o nome de Petrobráspara Petrobrax visando a suaprivatização total. Parte da empresa foiprivatizada em 2001, com a venda de4,84 bilhões de dólares em ações. Atu-almente, essas ações valem 70 bilhõesde dólares. A indústria naval quase de-sapareceu, ficando restrita a um con-tingente de apenas 6 mil trabalhadores.No Governo Lula, a Petrobrás foi resga-tada com um dos principais símbolosdo patrimônio público e do desenvolvi-mento nacional; foi responsável pelaauto-suficiência em petróleo e pelasdescobertas do pré-sal. Seu valor demercado passou de 15,4 bilhões dedólares, em 2002, para 208 bilhões emnovembro de 2009. Com as comprasrealizadas pela Petrobrás, a indústrianaval foi reerguida e já é a 6ª maior domundo, além de empregar 45 mil traba-lhadores. Para o novo marco regulatóriodo petróleo e do gás, Lula adotou o re-gime de partilha. A riqueza do pré-salserá apropriada pela sociedade graças

à criação de um Fundo Social para in-vestimentos em educação, ciência etecnologia, saúde, preservação do meioambiente e no combate à pobreza. APetrobrás será operadora exclusiva dopré-sal e será criada a Petrosal, inteira-mente pública, já que a Petrobrás temuma expressiva participação privada. OGoverno Lula soube muito bem direcionaro desenvolvimento da economia internacom o crescimento dos países chama-dos emergentes; com particular atençãoaos chamados Estados operários,como a China e Rússia. Países queestão reestruturando suas economiasdepois da crise do bloco socialista, mas,como o Brasil, buscam se desenvolvercom uma forte presença do Estado. Pré-condição hoje para o desenvolvimentocom distribuição de renda.

Com Lula, O Brasil diversificou bastan-te o destino de suas exportações. Hou-ve redução no fluxo de exportações paraos Estados Unidos, mas aconteceram

lismo central a fazer novas guerras pelomundo.

No Governo Lula o superávit foi de 136bilhões de dólares, de 2003 a 2008.Esta quantidade de dólares foi, em gran-de medida, comprada pelo Banco Cen-tral, que reforçou as reservas internaci-onais do Brasil. O país fechou 2008 comsaldo de 206 bilhões de dólares de re-servas internacionais. Foi este colchãode reservas que blindou o país na criseeconômica, reduziu as especulaçõescontra o Real e minimizou as conseqü-ências negativas em termos de cresci-mento econômico e geração de empre-gos. Foram criados 11 milhões de em-pregos em 7 anos de governo. Com Lula,O Brasil atravessou bem a crise, nãoteve perdas de reservas. Ao contrário,elas continuam crescendo e já passa-ram de 230 bilhões de dólares. O Go-verno FHC fechou com um déficit de 768milhões no Balanço de Pagamento, ape-sar das inacreditáveis concessões rea-lizadas ao grande capital –privatizações selvagens, dolarização dadívida interna e aumento dos juros paraaté 45% ao ano. Nem assim os tuca-nos conseguiram convencer os grandescapitalistas a financiarem o Brasil.

O Programa Bolsa Família passou deum patamar para outro completamentediferente em uma perspectiva quantita-tiva – atingiu 12 milhões de famílias - ,qualitativamente as políticas sócias fo-ram transformadas em direito. Em umpaís como o Brasil, com sua tradiçãoclientelista, conseguir dizer que políti-ca social não é instrumento declientelismo, é direito das pessoas, émuito mais importante do que a quanti-dade de Bolsa Família que foi distribuí-do, em que pese a importância do Bol-sa Família para tirar milhares de pes-soas da miséria e ser um fator de forta-lecimento do mercado interno.

No Governo Lula houve transferênciasde 305 bilhões de reais de renda ás fa-mílias através do INSS, do Bolsa Famí-lia, do Seguro-desemprego, abono sa-larial, BPC e aos servidores inativos.Neste Governo, em cinco anos, 32 mi-lhões de pessoas ingressaram nas clas-ses C e AB, que passaram a represen-tar 60% da população. 20 milhões debrasileiros saíram da situação de po-breza e extrema pobreza em cincoanos. Na área da educação o Governocriou o Fundeb para toda a educaçãobásica. Construiu 214 escolas técnicas;criou o piso nacional do magistério;criou os programas de formação paraprofessores, livro didático, 1.125 cre-ches e escolas infantis, o ensino fun-damental passou de 8 para 9 anos;

ConjunturaEconômica noGoverno Lula

avanços significativos em relação aChina, América Latina e outros conti-nentes. Corretamente, o Governo Lulapercebeu que nos últimos dez anos, ocrescimento dos países emergentes foi3 a 4 vezes superior à dos países de-senvolvidos, que já haviam começado aestagnar e agora estão rumando parabaixo, de modo acentuado. A crise estádemonstrando a importância dos paí-ses emergentes. E foi neste rumo queo Governo Lula, corretamente,direcionou as relações comerciais dopaís, sem abandonar, logicamente, ocomércio tradicional. O Governo Lulasoube negociar com a correção políticanecessária com a Bolívia a questão dogás, com o Paraguai a questão da tari-fa de energia. Ampliou relações comer-ciais com Cuba e a Venezuela, dizen-do para todo mundo que se faz neces-sário ampliar o comércio sul america-no. Daí a constituição da Anasul. Nãoadianta o Brasil crescer e o seus vizi-nhos ficarem estagnados. Para o Bra-sil crescer, toda a América do Sul temque crescer junto e com distribuição derenda, do contrário podemos ser envol-vidos nesta crise monumental do capi-talismo. Situação que levará o capita-

(continua na página 4)

Programa Luz para Todos

Page 4: RevoluçãoRevolução Socialista “Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 11 – Nº 28 – Julho de 2010 – R$2,00 Jornal Posadista Continuação

Página 4 Julho 2010RevoluçãoSocialista

construiu 14 novas universidades e mais104 extensões universitárias; as vagasde ingresso passaram de 113 mil para228 mil; contratação de 30 mil novosprofessores; com o ProUni garantiu bol-sas para 596 mil estudantes; o Pronafda agricultura familiar passou de 2,2bilhões de reais para 16 bilhões de re-ais; e criou o Programa de Aquisiçãode Alimentos da Agricultura Familiar –PAA, inédito no país, garantindo a com-pra, por um preço justo, da produçãoagrícola e destinando os alimentos parapopulações em insegurança alimentar.Foram realizadas várias políticasdirecionadas para fortalecer a agricul-tura familiar e dar mais qualidade à re-forma agrária que precisa avançar mui-to ainda, pois um dos fatores de con-centração de renda no pais se traduzna elevada concentração de terra.

Hoje, O Brasil tem uma taxa de cresci-mento de renda dos que ganham me-nos maior que a taxa de crescimentodos que ganham mais. No século XXocorria o inverso, porque o país aposta-va sua economia no crescimento dosmais ricos. Apostou-se no consumo in-satisfeito da grande maioria da popula-ção brasileira, com crédito, capaz degerar desenvolvimento econômico parao país. Quem antes comprava um parde sapatos, hoje pode comprar dois;quem comia uma vez por dia, hoje cometrês vezes. Isso gera dinamismo na eco-nomia, faz ela rodar. E outra mudançaimportante que estamos construindo: oaumento do consumo nas classes in-termediárias, a redução das classes demenor renda e concentração do aumen-to da massa de renda nesse meio.

Ninguém tem dúvida de que ainda exis-tem milhares de pessoas excluídas dascondições básicas de vida, analfabetas,sem teto. Um grau alarmante de violên-cia com altíssimos índices de mortali-dade, principalmente de jovens. Mas avida está mudando. A recomposição dopoder de compra do salário mínimo em38% é uma conquista importante parao povo, pois trata-se nada mais nadamenos do que corrigir as perdas decor-rente dos anos de alta inflação.

O Governo Lula zerou a dívida internalastreada em títulos cambiais do Bra-sil. Com as reservas internacionais, adívida externa pública liquida tornou-senegativa, ou seja, nosso país tem maisreservas em dólar do que deve aos ban-cos e organismos internacionais. Emais: mesmo a dívida externa total - pú-blica e privada – é também negativa, ouseja, as reservas do governo e das em-presas privadas no exterior são superi-

ores à dívida total. Foi isso que blindouo Brasil na crise econômica de 2008 eevitou os ataques especulativos contrao nosso país. Se por um lado o governoconseguiu liquidar com a dívida externae sua subordinação ao FMI que hojeconta com empréstimos do Brasil, man-tém uma carga tributária que penalizaa população mais pobre. É verdade tam-bém que, mesmo assim, houve umaaceleração do crescimento do PIB e daprodutividade. Neste sentido, é impor-tante perguntar para onde está indo oaumento da carga tributária.

Alguns pontos centrais precisam serencarados de frente, no momento cer-to, como a reforma tributária e política.As políticas de distribuição de renda pre-cisam ter continuidade e para que te-nham consistência duradoura o paísprecisa modificar a carga tributária queé regressiva, isto é, penaliza as popu-lações mais pobres. Pesa na socieda-de a ausência do imposto sobre gran-des fortunas que tem um alto poder dearrecadação. Questões que não serãoresolvidas com este Congresso Nacio-nal, daí a necessidade de se fazer umplebiscito popular ou uma Constituinteespecifica para resolver estes proble-mas fundamentais para o país.

Diante da brutal crise do capitalismo ediante das ações criminosas do imperia-lismo, como os preparativos de guerra,com utilização de artefatos atômicos, emtorno do Oriente Médio que levará o mun-do de roldão, o país precisa se fortale-cer, mais do que nunca, em torno de umapolítica de soberania nacional. Concep-ção esta que possibilitou o Brasil a seposicionar corretamente com soberaniae não se alinhar com as ações imperia-listas anglo-americanas. Neste sentido,o Governo Dilma precisa se posicionarcontra a desnacionalização das terras eda agroenergia no país. Grandes empre-sas como a Shell estão adquirindo nos-sas usinas de agrocombustível, retiran-do as vantagens fenomenais que o paístem em produzir energia renovável. Damesma forma como as reservas de pe-tróleo precisam ser protegidas, aagroenergia precisa ser preservada comoum patrimônio nacional e ser exploradacom a incorporação das pequenas emédias propriedades rurais, comsustentabilidade, com respeito à nature-za, de forma descentralizada e com dis-tribuição de renda. São estas mudançasestruturais que possibilitarão o país tran-sitar de um modelo ainda estruturado sobo poder econômico nacional e interna-cional para um modelo de profundastransformações sociais, verdadeiramen-te democrático e popular.

02/07/2010

Quando Lúcio, o aplicado capitãoda seleção canarinho, leu mensa-gem condenando o racismo antes

daquela fatídica partida contra a Holanda,talvez não pudesse medir o grande alcancede seu gesto, que nos obriga a recuperarum fase da história recente. Condenar alimesmo o racismo era imperioso pois erarespeitar aquele povo e também alertar paraas novas expressões racistas que estão seprojetando em outros países, inclusive pa-íses que estavam ali disputando o certame.

Sob o apartheid não haveria Copa

na África do Sul O certo é que a Copa do Mundo só es-

tava se realizando ali em território sul-afri-cano porque milhares de seres humanosderam suas vidas contra o animalesco regi-me do apartheid, que com o apoio de paí-ses como Estados Unidos e Inglaterra, prin-cipalmente, massacrou de maneira cruel apátria de Mandela. A África do Sul racista,imperialista, ditatorial, que foi recebendosanções internacionais quanto mais cres-cia a resistência popular em seu interior emundo a fora, levando-a a receber algumassanções internacionais, jamais poderia sera sede de uma Copa do Mundo se estives-se sob o apartheid.

Queremos, portanto, estender a oraçãodo capitão Lúcio para fazer justiça a umpovo que não estava disputando a Copa,mas que foi fundamental para que a Copaali se realizasse para alegria e orgulho danova África do Sul. A declaração de Lúciotem raízes na história da solidariedade re-volucionária que Cuba ofereceu à África,a começar pelo envio de médicos para aapoiar a Revolução na Argélia, onde este-ve trabalhando o próprio Che Guevara.

Enquanto Mandela ainda estava pre-so, Cuba já estava apoiando os vários pro-cessos de libertação em território africano.Libertação que veio a receber um grandeimpulso a partir da Revolução dos Cravos,em Portugal, liderada por jovens capitães,muitos deles egressos das então colôniasportuguesas em território africano, onde

aprenderam muitas lições de dignidade porparte daqueles povos a quem deveriam es-magar. Houve capitães que mais tarde rela-taram que em território angolano se con-venceram que a razão da história estavacom os guerrilheiros angolanos. Por issomesmo, chegavam a organizar certas incur-sões pelas selvas, onde deixavamdeliberadamente suas armas para serem re-colhidas pelos soldados do MovimentoPopular para a Libertação de Angola, simu-lando que haviam sido desarmados, quan-do estavam a dizer, com aquele gesto, queapoiavam a causa da libertação africana.

Estes gestos dos militares portugue-ses floresceram em Cravos Vermelhos pe-las ruas de Lisboa, após soarem os primei-ros acordes da canção “Grândola, VilaMorena”. A razão histórica venceu! Nãosei se o capitão Lúcio, na sua juventude deuma vida dedicada ao futebol, teve oportu-nidade de informar-se sobre isto antes deler aquela importante declaração contra oracismo, num gesto de grandeza da nossaseleção.

Cuito Cuanavale: começo do fim

do apartheid Quando Cuba atendeu ao chamado do

presidente angolano, o médico, poeta eguerrilheiro Agostinho Neto, para que en-viasse ajuda militar para assegurar a liber-tação de Angola, conquistada em 11 denovembro de 1975, com pronto reconheci-mento de Brasil e óbvia contrariedade dosEUA, abria-se uma nova página na histó-ria da África, mas também da solidariedadeinternacional.

A hipocrisia e a malignidade intrínsecada mídia comercial não deu a conhecer aosmilhões de torcedores do mundo inteiro deolhos magnetizados no televisor uma linhasequer desta luta heróica para derrotar oapartheid e permitir, afinal, não apenas alibertação de Angola e da Namília, mas tam-bém de Nelson Mandela e a erradicaçãototal do regime racista, derrotado no cam-po militar em Cuito Cuanavale e, mais tar-de, novamente derrotado pelos votos que

Copa:futebol,

racismo epolítica

(*) (Publicado na Carta Maior de 9/7/ 2010)

Lúcio, o capitão da seleção brasileira e asua mensagem contra o racismo

(continua na página 5)

(vem da página 3)

Page 5: RevoluçãoRevolução Socialista “Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 11 – Nº 28 – Julho de 2010 – R$2,00 Jornal Posadista Continuação

Página 5Julho 2010 RevoluçãoSocialista

elegeram Mandela seu primeiro presidenteda república, o primeiro com legitimidade!

Não tínhamos nenhuma dúvida da bra-vura e da grandeza do gesto do povo cu-bano ao fazer a travessia do Atlântico nosentido contrário àquela rota feita pelosnavios negreiros que vieram para o Brasil etambém para o Caribe, nos unindo para sem-pre na dor, no sangue, na música, na cultu-ra e também no compromisso de saldar estaimensa dívida que toda a humanidade tempara com os povos africanos. Porém, Cubadecidiu pagar antes de todos e para lá en-viou 400 mil homens e mulheres, negros ebrancos, inclusive a brancura da filha deChe Guevara, que também já havia lutadoem Cabinda, enclave angolano próximo aoCongo. O médico brasileiro Davi Lerer es-tava exilado em Angola naquele período,ensandecido de solidariedade e de com-promisso com a libertação angolana. Foiquando começou a perceber que algunsdos feridos de guerra por ele tratados, fala-vam espanhol. Era fruto da Rota do Atlân-tico feita no sentido contrário, no sentidoda libertação. Todos devemos à MamaÁfrica. Mas, só Cuba teve a audácia depagar esta dívida com armas nas mãos!

Armas nucleares contra Cuba A nobreza do gesto provocou o instin-

to assassino das chamadas democraciasimperialistas. Acaba de ser divulgado queIsrael forneceu armas nucleares à Áfricado Sul para serem lançadas sobre as tropascubanas no sul de Angola. Com o apoiodos aviões Migs de fabricação soviética, atropas do exército racista da África do Sulforam enxotadas de território angolano,postas para correr também do território daNamíbia, cujas forças revolucionárias tam-bém formavam aquele formidável exércitode libertação. Chegou-se a discutir nas for-ças de libertação a ida até Pretória!. Poristo os imperialistas cogitaram o uso de ar-mas nucleares contra o exército cubano,pois o seu exemplo de internacionalismoproletário era por demais poderoso à hu-manidade! Tudo isto resultou no agrava-mento da crise do regime de Botha, na li-bertação de Mandela, no fim do apartheid,nas eleições diretas, e, por fim, na conquis-ta da realização da Copa do Mundo, pelaprimeira vez, em território africano!. Vitóriada humanidade, após tantas vitórias queabrilhantam a linda história de justiça dahumanidade, unindo a Revolução Cubanaà Revolução dos Cravos de Portugal! Asarmas nucleares na foram utilizadas daque-la vez. Não se atreveram! Não se sabe se asutilizarão agora contra o Irã.

Racismo nos países imperialistas A condenação ao racismo lida pelo nos-

so capitão, é atualíssima. Tem endereço.Depois da desclassificação das seleçõesdos Eua e da França, vimos pipocar nova-mente manifestações de racismo contranegros, imigrantes, árabes, hispânicos, so-bretudo nestes dois países. Há os que con-siderem a França uma democracia exemplar,mas não querem prestar atenção nas decla-rações de Zidane, o craque da seleção fran-cesa de origem argelina. Contrariando a tesedos acadêmicos pouco atentos, ele questi-ona a democracia francesa: “Eu posso sercampeão do mundo com a camisa da Fran-ça, orgulho nacional, mas não posso ele-ger o presidente?” Agora o deselegantetécnico da seleção francesa atira a culpapelo fracasso aos jogadores de origem afri-cana, à cultura dos bairros de periferia dasgrandes cidades francesas. Nenhumquestionamento ao sistema político fran-cês que é tão duramente combatido pelosjovens das periferias pobres na França, semperspectiva de estudo ou de emprego!

Nos EUA não foi muito diferente. Bus-cam-se justificativas para a desclassifica-ção, mas, as vozes racistas voltam a falaralto, sobretudo contra hispânicos, asiáti-cos e afro-descendentes. A gigantesca con-tradição política vivida pelos Eua só tendea se agravar, certamente de forma dramáti-ca, já que o presidente Obama tem sidopressionado pelo complexo militar-indus-trial a reforçar sua presença armada mundoafora. Já mandou mais 30 mil soldados parao Afeganistão, continua a ordenar bombar-deios de povoados matando crianças edestruindo alvos civis naquele país empo-brecido. Esqueceu-se das torturas deGuantânamo? Manda uma frota nuclearpara as proximidades da costa do Irã. Mul-tiplica o orçamento do Pentágono. O prê-mio Nobel da Paz vai se revelando o PrêmioNobel da Guerra e continua colecionandocadáveres e mais cadáveres!

Na linha inversa, o Brasil aprova o seuEstatuto da Igualdade Racial e cria a Uni-versidade Lusoafricana Brasileira (Unilab),na cidade cearense de Redenção, a primei-ra em extinguir o escravagismo no Brasil.Lá teremos professores e studantes africa-nos, estudando gratuitamente. É a formabrasileira de também começar a apagar aenorme dívida que temos para com os po-vos africanos, como assinalou Lula. É ver-dade que estes dois gestos concretos noschegam com 112 anos de atraso. Há muitoainda para caminhar, mas a linha é a de con-tinuar a abrir espaços para que os negrossigam aumentando sua presença qualifica-da nas universidades, para que os Territó-rios dos Quilombos sejam definitivamenteescriturados em nome dos remanescentesdos escravos, que as políticas públicas dehabitação contemplem as necessidades dapopulação negra, ainda alvo de desumanadiscriminação no mercado de trabalho, re-cebendo ainda os piores salários, ocupan-do as piores funções, e, ainda por cima,confinada à invisibilidade nos meios de co-municação, salvo as honrosas exceções dacomunicação das tvs públicas e comunitá-rias, que registram alguma justiça racialtelevisiva.

Rivalidades exageradas são contraa cooperação

O mal exemplo vem exatamente das tvs

comerciais. Ofendem gratuitamente aopovo paraguaio ou insuflam uma exagera-da hostilidade contra argentinos, certamen-te, fazendo um tipo de jornalismo de desin-tegração, exatamente quando nós latino-americanos estamos a organizar e por emprática, por meio de vários governos, polí-ticas públicas de integração econômica,energética, comercial, cultural educacional.Seguindo as orientações dos que queremimpedir que sejamos solidários e coopera-tivos entre nós - por acaso, as mesmasnações imperiais que antes apoiaram o

apartheid e recentemente tentaram boico-tar a realização da Copa na África - cria-se um clima para uma rivalidade exacerba-da, agressiva, verdadeira hostilidade, porexemplo contra argentinos e paraguaios.

Basta recordar o comportamento do ca-pitão da seleção uruguaia, Obdúlio Varela,que ,em 1950, fez o Brasil todo chorar quan-do derrotarem a equipe canarinha em plenoMaracanã. Varela sentiu tanta segurança econfiança no caráter amistoso do povo bra-sileiro que foi comemorar a vitóriauruguaia com brasileiros na noite carioca,sendo tratado com fraternidade e nobrezaolímpicas pelos nosso povo. Diante decomportamento tão elevado dos brasilei-ros, certos narradorestelevisivos de hoje,apesar de frequência em certames interna-cionais, revelam-se verdadeiramente tor-pes e ineptos para alcançarem um padrãode jornalismo desportivo minimamente olím-pico, tal como a Grécia Antiga - não a atu-al induzida á falência pela oligarquia finan-ceira - legou à humanidade. Queremanimalizar, embrutecer, despertar baixos ins-tintos, estando portanto, em choque fron-tal com os princípios e valores que a Cons-tituição pauta para os meios de comunica-ção, exigindo que sejam educativos, res-peitosos aos mais nobres valores huma-nos e destinados à elevação cultural da so-ciedade.

As nações imperiais sabem perfeita-mente da utilidade destas rivalidades fo-mentadas, muitas vezes artificialmente. So-bretudo contra povos que possuem gran-de potencial de cooperação entre si, comoé o caso de Brasil e Argentina, cujaintegração das bases produtivas poderiaacelerar e encurtar sobremaneira os prazoshistóricos para a integração da AméricaLatina. Por isto fazem o jornalismo da de-sintegração. Pela mesma razão, são incapa-zes, como meios de comunicação, de infor-mar sobre o papel que Cuba desempenhouna história recente de libertação da África.

Jornalismo de integração

As nossas tvs públicas precisam fazer

o contraponto. A diversificação e apluralidade informativas, neste episódio,seriam extremamente válidas. Sobretudo sepermitisse ao povo brasileiro conhecerquanta história existe por detrás da decla-ração contra o racismo que o capitão Lúciofez naquele estádio repleto de sul-africa-nos libertos do regime do apartheid. E tam-bém conhecer quanta manipulação se fazdo esporte, em nome de causas mesqui-nhas e anti-civilizatórias, como as que pre-tendem reviver o racismo e o impedimentoideológico da cooperação e da solidarieda-de entre os povos que tem um destino co-mum. O da unidade, da cooperação e dasolidariedade.

Nelson Mandela festeja a Copa do Mundo na África do Sul

Page 6: RevoluçãoRevolução Socialista “Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 11 – Nº 28 – Julho de 2010 – R$2,00 Jornal Posadista Continuação

Página 6 Julho 2010RevoluçãoSocialista

O acordo estabelecido entre es-tes três países (1) demonstra,em primeiro lugar, o fracasso da

acusação dos Estados Unidos sobre abelicosidade do Irã que, muito pelo con-trário, está aberto a um esquema pací-fico de enriquecimento controlado dourânio; em segundo lugar, de que esteacordo é possível no âmbito de paísese governos como Brasil e Turquia iden-tificados na luta pela soberania de seuspovos contra os ditames das potênciascapitalistas. A paz só é possível fora dosinteresses de dominação do impériocapitalista. Torna-se evidente quem é overdadeiro instigador da guerra: os Es-tados Unidos que insiste, no apoio daRussia, China, França e Alemanha noConselho de Segurança da ONU na con-denação ao Irã.

Lula e Erdogan resolveram alinhar-

se com Ahmadinejad pondo um freio àprepotência americana: com que auto-ridade moral o EUA ousa ameaçar o Irã,sendo aquele o maior produtor de bom-bas nucleares, executor do bombardeioatômico de Hiroshima e Nagasaki edetonador de armas radioativas de urâ-nio no Iraque? Porque não há interven-ção da AIEA em Israel que além de não

ser signatário do acordo de não prolife-ração nuclear, é detentor de mais de400 bombas atômicas? Porque não seinvestiga a denuncia de que oPentágono, através de Israel, tentou ven-der cerca de 14 armas atômicas aogoverno racista da África do Sul (Botha)pouco antes da queda do apartheid? Nãohá como ignorar os fatos. Não há comosubmeter-se a mais esta invenção dosEUA sobre a existência de armas nu-cleares no Irã, como a que criou sobreas “armas químicas e bacteriológicas”de Sadan Hussein para justificar o bom-bardeio contra o Iraque.

Os EUA inventam qualquerpretexto para deter a verdadeira

arma do Irã: a revoluçãoantiimperialista de Ahmadinejad

O objetivo dos EUA no Irã, com aajuda de Israel é, além da apropriaçãodo petróleo e das riquezas energético-nucleares, interromper a crescente in-fluencia do processo revolucionário diri-gido por Ahmadinejad em todo o mun-do islâmico árabe. O Irã hoje retoma onacionalismo de Mossadegh dos anos50 (contemporâneo de Vargas no Bra-sil e Nasser no Egito) continuado pelarevolução islâmica de Khomeini na dé-cada de 70. No aniversário da revolu-ção, no ano passado, 50 milhões deum total de 72 milhões se mobilizaramem todo o país em apoio ao novo gover-no. Foi uma gigantesca adesão à rup-

tura que as medidas de Ahmadinejadsignificam em relação à política neoli-beral e privatizante do programa liberistado governo anterior de Khatami. Asmedidas de reforço da participação doestado em diferentes setores da eco-nomia como o elétrico, petroleiro,aeronaval, abastecimento de água, ali-mentação, moradia e cultura, o comba-te ao contrabando da gasolina ao exte-rior (Afeganistão, Paquistão e Turquia),à corrupção alfandegária, e o aumentoda participação popular no processo detransformação, são os fundamentos queavançam em uma revolução de vesteislâmica, mas socialmenteanticapitalista e antiimperialista. É umarevolução sui géneris como tem ocorri-do na América Latina. Militares, índios,teólogos, operários sindicalistas setransformam em dirigentes revolucioná-rios e socialistas. No Irã islâmico, semisturam o poder político e religiosonum século XXI onde a religião em mui-tos casos deixou de ser o “ópio do povo”para dar passagem aos “teólogos eislâmicos da libertação”; Cristo eMaomé renascem da sua luta contraas altas hierarquias político-religiosase se unem a Marx. Na ausência de tra-dição de sindicatos e partidos de mas-sas, as mesquitas se convertem emum centro de reunião e debate no Irã.As chamadas “preces de 6ª. feira” nasmesquitas transformam-se em eferves-centes células de debate do povo so-bre vários temas econômicos, moradia,trabalho, corrupção, energia nuclear,integração e internacionalismo.Ahmadinejad nomeou 3 ministras mu-lheres (o que não ocorreu antes); issorepresenta um enfrentamento contra oscentros da hierarquia eclesiástica. Agrande mídia, contando com o equívo-co de algumas tendências de esquer-da, faz eco à fracassada “revolução develudo verde” sustentada pela burgue-sia opositora nostálgica doneoliberalismo, cultuando a proprieda-de privada intocável no período do Xá ede Khatami.

Mas, o fator de maior crise dos EUA

e seus aliados é que Ahmadinejad temsido um articulador da frenteantiimperialista no Oriente Médio, edesta com o resto da América Latina,centralmente Venezuela, Brasil e Bolí-via, e Equador. O Irã ajuda a Venezuelacom construção de casas, fabricaçãode carros, tratores, bicicletas, remédi-os; e ambos criaram um mecanismode cooperação financeira fora do FMI, oBanco Veniran. Sem contar com osacordos com a Rússia na importaçãode aviões civis Antonov e Tupolev e mís-seis, dentro de uma linha de indepen-dência dos EUA; e a construção dogasoduto unificando entre vários

O acordo nuclear como Brasil e a Turquia

e o processorevolucionário no Irã

(1) Neste acordo o Irã se dispõe a entregarà Turquia 1.200 kg de urânio poucoenriquecido que retornaria ao Irã numaquantidade de 120 kg de urânio enrique-cido a 20% para aplicação em pesquisas

AS CONTRADI

O imperialismo busca também pressionar a no Conselho de segurança da Onu contra o Irãembargo, recebe a reação de Putin e do mindefensivos e que o acordo é de 2005 e, portantnão, os russos não aceitarão a agressão militara de Putin, na realidade representa indiretameEstado Operário e está de olho nas manobras docom Hillary Clinton. Não é casual o envio dvenezuelano, ou a intenção de instalar duas bado Norte. As pressões contra o Irã, se dão nmanipulados pelo imperialismo, instigam a gueuzbequistã. O governo da presidente interina russo, mas as tendências pró-capitalistas da Rú

Os aparatos contra-revolucionários da RússKirguistão e de Ahmadinejad no Irã e, provavelLula e Erdogan. De fato, não é por casualidadede Erdogan que já tem se aberto aos curdos. É oafaste do Brasil e do Irã, e que se mantenha fiel

O representante russo no território palestinoque resiste a entregar armas à Síria, ao Irã, à Mahmud Abbas, a liderança da burguesia PaleGaza. São setores que conciliam com apoio de pimpedir o avanço da revolução.

países, Tagikistão, Azerbaijão e Turkimenistão, Ahmadinejad demonstra compreender que o triumundo árabe e islâmico em base à retomada doOriente Médio, à integração econômica desses puma Conferência Mundial em Teerã chamada “Emicas, não, para ninguém!” e participaram 102 pnos EUA a Conferencia contra a proliferação numente cerca de 80 países.

Da mesma forma que no Irã, setores do aparaparlamento, impedem o movimentismo de Ahmado povo através do chamado “governo itinerante”cias dentro e fora do parlamento pressionam pa

Neste mesmo momento, setores da alta hieraca contra a suspensão do uso do véu por parte ddo a participação social e revolucionária das mu(veja a análise feita por J. Posadas nos primópublicamos nesta edição). Uma parte importantepara desestabilizar Ahmadinejad e o setor de Kprovocatórias – uma espécie de “termidor” da revdas questões econômico-político centrais, do quine impedir que a luta contra o imperialismo aprofun

Os Presidentes Lula, Ahmadinejad e Erdogan com seus respectivos Ministros dasRelações Exteriores

O presidente Ahmadinejad controla a produção do urânio pfins pacíficos (medicina e saúde) no Irã

Page 7: RevoluçãoRevolução Socialista “Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 11 – Nº 28 – Julho de 2010 – R$2,00 Jornal Posadista Continuação

Página 7Julho 2010 RevoluçãoSocialista

A defesa do acordo Irã-Brasil-Turquia e a soberania dos povos

Neste contexto é muito importantea posição firme de Lula de repudiarqualquer sanção ao Irã, e a insistênciade Ahmadinejad à participação do Bra-sil e Turquia no próximo Conselho deSegurança da ONU em setembro. OsEUA e a burguesia européia, apoiadosno CSO têm o maior interesse em rom-per os laços econômico-militares do Irãcom a Rússia e a China (2). Sancio-nam ao Irã, contra-restam o acordo doBrasil e Turquia com o Irã, e neutrali-zam as pressões para investigar os cri-mes de Israel como os ataques aospalestinos e à Flotilha da Liberdade.

De toda forma os Estados Unidos eseus aliados da OTAN e Israel não saí-ram triunfantes nas últimas negociaçõesno Oriente Médio. A conferencia sobreo TNP chama, pela primeira vez, a umOriente Médio desnuclearizado, toca notema do armamento nuclear de Israel eexige que este assine o Tratado de nãoproliferação nuclear.

E Ahmadinejad mantém a posiçãofirme pelo acordo Brasil-Turquia, nãoservindo às provocações das resoluçõesdo CSO. O problema é justamente queos setores militaristas dos EUA e deIsrael não estão dispostos a sofrer maisderrotas diplomáticas, como na nego-ciação do acordo por meio do Brasil eda Turquia. Por isso, 12 navios de guer-ra dos EUA e 3 submarinos nuclearesde Israel atravessaram o Suez, numaclara ameaça ao Irã e à legalidade in-ternacional.

O governo Lula teve a audácia deromper a fortaleza da impunidade. Háque apoiá-lo nesta luta. Os que seopõem à paz, como Israel e EUA, que-rem destruir o acordo Brasil-Irã-Turquia,e denegrir a imagem de Lula nos meiosde comunicação a serviço do imperia-lismo e da guerra,

É fundamental que o Brasil dê se-gurança a Ahmadinejad a manter essecanal de integração e soberania tríplice,não somente para demonstrar a possi-bilidade de acordos para produção daenergia nuclear para fins pacíficos, masgarantir o avanço da revolução iraniana,que tem o mérito de ser peça chave paraarticular a unificação do Oriente Médioe, deste com o resto do mundo, contrao jugo imperialista.

(2) O recente acordo entre o ministério de petróleo

iraniano e o da energia russa, um “plano para 30anos” de energia para o desenvolvimentotecnológico, energias renováveis e váriasrealizações do setor, incluindo a venda degasolina no caso de embargo segue no sentidocontrário das intenções imperialistas de isolar ederrubar o governo iraniano.

Enquanto estamos finalizando este artigo se publicam as recentes reflexões deFidel Castro, onde alerta o mundo sobre os perigos de ameaça de guerra contra o Irãpor parte do imperialismo: “desde o dia 20 de junho navios militares norte-america-nos, incluído o porta-aviões Harry S. Truman, escoltado por um ou mais submari-nos nucleares e outros navios de guerra com mísseis e canhões mais potentes doque os velhos couraçados utilizados na última guerra mundial entre 1939 e 1945,navegam rumo as costas iranianas através do canal de Suez. Junto das forçasnavais ianques avançam navios militares israelitas, com armamento igualmentesofisticado, para inspecionar toda a embarcação que parta para exportar e importarprodutos comerciais que o funcionamento da economia iraniana precisa”. Há 12navios militares dos EUA e Israel que se juntarão aos 3 submarinos nuclearesisraelenses no Golfo Pérsico.

O imperialismo ainda espera que a contra-revolução interna iraniana interve-nha, sem que ele tenha que sujar as mãos. Mas, quando o setor revolucionário deAhmedinejad puder derrotar a contra-revolução e as chamadas quintas colunas, efizer com que o Irã esparja a onda revolucionária no mundo islâmico árabe e maisalém, crescerá altamente a possibilidade de um ataque. Há setores de guerra doimperialismo que prevêem isso e não estão dispostos a esperar mais. Por isso,preventivamente, há medidas anunciadas pelas altas cúpulas militares dos Guardiõesda Revolução Islâmica, como o general Ali Fadavi e o brigadeiro Mehdi Moini,advertindo os EUA de que se inspecionarem os navios iranianos em águas interna-cionais receberão a devida resposta no Golfo Pérsico e no Estreito de Ormuz. Estessetores estão conscientes de que há toda uma estratégia de guerra contra o Irã, eque a iniciativa do Brasil e da Turquia, depois de algumas poucas tentativas deObama, serve a conter as pressões das tendências na gestão americana que passoa passo conduzem à guerra. A colisão entre o representante dos EUA, MacChristal,na Otan e Obama é significativo de um desconcerto interior que expressa que oimperialismo entra em desacordo sobre como e onde lançar a guerra fatal. Aparen-temente é só pela questão da estratégia no Afeganistão, mas o debate internoprincipal agora é sobre a intervenção contra o Irã que é sem dúvida a energiarevolucionária central que põe em riscos o interesse do imperialismo na região:querem fazer do Irã, um novo Afeganistão. Mas não conseguirão, pois o Irã não éo Afeganistão e a frente dos países independentes se amplia, seja através desteacordo Brasil-Irã-Turquia, seja pelos laços mais profundos entre Venezuela-Irã-Síria e os setores mais conscientes da direção cubana, da Rússia e da China.

O ato criminoso de 15 de julho na mesquita de Zahedan, capital da região Sistane Beluchistan iranianas, com duas bombas, 30 mortos e 170 feridos, busca criar umadivisão entre os sunitas (que são maioria naquela região fronteiriça com o Pakistão)e os xiitas e o governo revolucionário, que poucas semanas atrás havia enforcadoAbdelmalik Riglu, o chefe da quadrilha terrorista atuante há anos naquela zona.Este havia sido preso quando ia para a base militar americana em Manas, noKirguistão, para encontrar-se com Richard Kolbruk, quando existia ainda o gover-no pró-americano precedente. Após o atentado na mesquita, houve uma respostacontundente das massas iranianas, com participação de todos os chefes de tribo,sunitas e xiitas, em apoio à República islâmica, a Khamenei e em rechaço aos planoscriminosos de devastação imperialista. Tem sido um “bumerangue” contra os auto-res do crime. (*)

Ameaças ao povo e àrevolução iranana

(*) Estes artigos se baseiam em informesdo nosso correspondente em Teerã.

O aparato conservador, a maioria doparlamento e a sua direção, a CorteSuprema da Constituição, chamadaConselho dos Guardiões da Constitui-ção Islâmica, em nome do aiatoláAhmad Jannati, sabotam Ahmadinejad,o atacam acusando de eclético, secu-lar e conciliador, faltando pouco paracombatê-lo como herege; aparentemen-te, em nome de Maomé, mas na reali-dade, sustentando o monopólio do açú-car, do setor importador e contraban-dista que lucra com os aparelhos ele-trônicos, celulares, o comércio e a pro-priedade.

DIÇÕES DA RÚSSIA

a Rússia, através da diplomacia russa que votaIrã e que, ao incluir os mísseis S-300 russos noinistro do exterior que declaram que eles sãonto devem ser entregues ao Irã. Diplomacia ou

tar ao Irã. A ala chamada “conservadora” comomente a crescente reivindicação do retorno ao

do imperialismo, apesar do minueto de Medvedevo da nave russa, Pedro o Grande, no Caribebaterias de mísseis S400 na fronteira da Coréia no mesmo momento em que bandos armados,uerra étnica no Kirguistão golpeando a minoriana Roza Otunbayeva pede a ajuda do exército Rússia se opõem.ssia festejariam a queda de Roza Otunbayeva no

velmente pouco se interessariam pelo sucesso dede que reativam o PKK curdo contra o governo

É o aviso do imperialismo para que a Turquia sefiel à Otan.ino pertence a essa tendência da burguesia russa à Argélia e aos palestinos; pela mesma razão oalestina quer manter o cerco e o fechamento dee parte de um aparato da burocracia russa para

o, do Oriente Médio à Ásia Central e Ásia menor.riunfo da revolução iraniana depende da união do dos processos nacionalistas em toda a região dos países. Ahmadinejad convocou em 20 de abril aa “Energia nuclear, sim, para todos!, Bombas atô-2 países, incluindo Iraque; dias depois, se reuniu nuclear, que objetivava condenar o Irã e com so-

arato islâmico, aliados a forças conservadoras doadinejad que busca a mobilização revolucionária

te”, tipo caravanas de Lula. Muitas dessas tendên-para o fracasso do acordo do Irã-Brasil-Turquia.

ierarquia religiosa islâmica levantam uma polêmi- das mulheres. Ahmadinejad as apóia, defenden-ulheres contra a opressão que o véu representaórdios da revolução de Khomeini no texto que

nte do vértice religioso agita agora essa questão,e Khamenei que chama a atenção às pressõesevolução islâmica – que tentam desviar a atençãouinto Plano Qüinqüenal, da luta contra a corrupção,fundem as transformações sociais anticapitalistas.

para

Page 8: RevoluçãoRevolução Socialista “Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 11 – Nº 28 – Julho de 2010 – R$2,00 Jornal Posadista Continuação

Página 8 Julho 2010RevoluçãoSocialista

Irã e Brasil:retaliações e

soberania

mático. Ou seja, culpa-se o Itamaraty pornão se curvar à prepotência inadmissívelda Casa Branca, ora ocupada pelo pri-meiro presidente descendente de africa-nos, mas, apesar da diferença da cor dapela, igualmente teleguiado pelos desíg-nios do Pentágono, pelo complexo mili-tar-industrial, provavelmente a verdadei-ra presidência dos EUA.

Irrealismo diplomático versusrealismo vassalo

Para criticar o Itamaraty e a políticaexterna de Lula, estes porta-vozes infor-mam, com satisfação, que empresários bra-sileiros ligados ao setor de defesa foramcomunicados por fornecedores ou parcei-ros em uma grande feira internacional queseus governos “estavam reavaliando aslicenças de exportação de componentessensíveis para o Brasil”. De acordo comestas fontes, os motivos são “a posição doBrasil em apoio ao Programa Nuclear Ira-niano e também dúvidas sobre a própriaação das políticas nucleares do Brasil”

Na realidade, o problema não é novo.Há um veto imperial histórico das gran-des nações capitalistas que querem impe-dir que outras nações desenvolvam-setecnologicamente, sobretudo quando sãopossuidoras de grandes riquezas mineraise energéticas, como o Irã e também comoo Brasil. Não por acaso houve tantos gol-pes de estado na Bolívia até que um índioaymara, - ensandecido de realista digni-dade e de soberania, como teria sido nos-so Tiradentes - desse um basta à uma san-gria secular. Para os vassalos que anali-sam os fenômenos políticos sob a óticatacanha do irrealismo diplomático, mes-mo depois de ter expulsado o embaixadordos EUA, a Bolívia de Evo Morales seguealtiva, já sendo território livre do analfa-betismo, tendo reduzido em 75 por centoo preço de gás de consumo para o consu-mo doméstico e tendo implantado umarenda de cidadania , tudo a partir da na-cionalização corajosa e soberana de seusrecursos energéticos.

Sempre houve retaliações

O Brasil também já foi alvo de váriaspressões e sabotagens, muito antes de pra-ticar este propalado “irrealismo diplomá-tico”. Turbinas nucleares importadas porVargas da Alemanha foram seqüestradaspor militares dos EUA no porto de Ham-burgo, em 1952, quando seriamembarcadas para o Brasil. Posteriormente,quando Geisel firmou convênio nuclear coma Alemanha, em 1975, estas mesmas vozesposicionaram-se, como sempre, ao lado dosEUA buscando impedir que o Brasil senuclearizasse. A lógica deste setor de plan-tão é impedir que um país emergente atinjaplenitude sócio-econômica. Querem que oBrasil não tenha capacidade militar, depreferência reduzindo drasticamente suasforças armadas, e, também, relegando-as à

função de mera polícia de bairro. Não que-rem que o Brasil tenha indústria naval, nemprodução de fertilizantes, o que o impediráde ter , de fato, soberania alimentar. Estesetor, que comemorou o suicídio de Vargase depois tentou frivolamente demolir a EraVargas desnacionalizando o que pudesse,continua de plantão.

Desarmamento unilateral

Outra prova disso é a entrevista do fí-sico José Goldemberg, ex-ministro do go-verno Collor, concedida à Revista Época,cujo título intrigante, sobretudo pelo mo-mento em que o Brasil é alvo de retalia-ções imperiais é “O Brasil quer a bombaatômica”. Tanto o professor como a revis-ta são por demais conhecidos. Mas, cabesalientar a torcida que ele faz para que oBrasil assine o Aditivo ao Tratado de NãoProliferação , mesmo sabendo que isto nãoapenas permitira inspeções sem qualquerreserva em todas as nossas instalações depesquisa, algo que, evidentemente, os EUA,por exemplo , jamais admitiriam. Mas, oprofessor quer que o Brasil se submeta ins-peções sem limites. Inclusive sob o risco deperder controle sobre desenvolvimentostecnológicos avançados e não alcança-dos, ainda, por outros países.

Além disso, a posição do professor ex-pressa a consciência de que a assinaturado Aditivo do TNP implicaria na renún-cia, pelo Brasil, do desenvolvimento doprojeto do submarino nuclear. E o profes-sor, como todos nós, sabe que há uma imen-sa riqueza petroleira submarina e que asgrandes potências têm uma práxis histó-rica de ignorar soberanias eterritorialidades. Mesmo assim ele não seconstrange em revelar seus pensamentos.Por que as potências imperiais não tive-ram coragem suficiente para , apesar detoda sabotagem, pressão e agressividade,impedir que a China se transformassenuma das grandes potências econômicas,sendo também uma potência espacial?Porque diferentemente do Brasil, as for-ças armadas da China são armadas, O queainda não se pode afirmar em relação àcapacidade de defesa do Brasil, apesarde uma positiva inversão de rota nas polí-ticas para o setor de defesa que aindapossui jipes e tanques utilizados na guer-ra da Coréia e nem pode sequer garantiro rancho para todos os recrutas.

O caso dos aviões tucanos

As retaliações contra o Brasil não sur-gem agora pela política atual doItamaraty. Eles obedecem a lógica da do-minação do mundo, que nunca foi um mun-do para meigos. A diferença é que os quealardeiam “irrealismo diplomático” pra-ticaram, quando no governo, o maisvexatório realismo vassalo. Exemploclaríssimo desta disposição infinita paraobedecer ordens externas: com aprivatização-desnacionalização da

Embraer permitiu-se que há alguns anos,antes da crise do Irã, o Brasil fosse proibi-do de vender 150 aviões Tucanos para aVenezuela, disposta a comprá-los. Diantedo veto imperial, sob o argumento de quehá nos computadores das aeronaves com-ponentes de fabricação norte-americana,a Venezuela fez a compra na China. Coma queda nas encomendas, a Embraer co-locou no olho da rua 4800 metalúrgicos.Mesmo havendo no Brasil um imenso po-tencial para o desenvolvimento da avia-ção regional. Eis o preço social de tal re-alismo vassalo. Retaliações não são dehoje. Indaguem-se quantas houve contrao Programa Espacial Brasileiro, para opaís não consiga entrar no seleto clubedas potências espaciais.

A função das TVs Públicas

O período eleitoral no Brasil coincidecom o agravamento da crise mundial docapitalismo e de uma clara intenção dasgrandes potências de sair da crise pelavida da dinamização da indústria bélica.Isto merece todo o bom debate do mundopor parte dos meios de comunicação, maso que se verifica, salvo honrosas exceçõespara uma informação mais eivada de es-pírito público, é uma campanha de demo-lição da política externa brasileira. Emesmo na TV Brasil a pluralidade de opi-niões sobre este tema realmente explosivoé bastante precária, havendo na editoriainternacional um mesmismo de já linhaeditorial que condena o Irã por não abrirmão de sua soberania. É um quase recadodisfarçado para que o Brasil também de-vesse optar pelo realismo subalterno.

É urgente que este debate se aprofundee se qualifique, até porque a agressão con-tra o Irã pode se materializar, dolorosa-mente. Já fizeram Hiroshima e Nagasaki!E, as retaliações contra o Brasil e outrosemergentes, podem se agravar sim. Só háduas alternativas: uma, quaseimpublicável, da qual é partidário o pro-fessor, a de querer ver o Brasil curvar-seante os ditames do império. A outra,irrecusável, fortalecer nossa capacidadede realizar políticas soberanas e indepen-dentes, a capacidade de estabelecer no-vas parcerias internacionais, baseadas nacooperação e na solidariedade. Mas, combase no realismo histórico, isto implicaem ter capacidade de defesa, independên-cia tecnológica e aprimoramento de nos-sa democracia, superando as enormes dí-vidas sociais e vulnerabilidades externase ideológicas que ainda nos machucamcomo nação. Em razão disso, obviamente,a turma do mantra do “irrealismo históri-co” e do desarmamento unilateral,vocalizada pelo citado professor, certa-mente não estará com a candidata DilmaRoussef. Ela já disse que prega a conti-nuidade das políticas em curso e seuaprofundamento, além de referir-se a Lulacomo um continuador de Vargas.

Publicado no Carta Maior - 02/07/2010

Enquanto uma frota de 12 navios dosEUA e 3 submarinos nucleares deIsrael dirigem-se ao Golfo Pérsico,

com a colaboração da camarilha devassalos da Arábia Saudita e do Egito,para uma ameaça real e uma não descar-tada agressão militar ao Irã, anunciam-se retaliações contra interesses econômi-cos do Brasil por não concordar com assanções impostas à nação persa. Diantedo risco da incineração de um povo quenão invadiu nenhum outro país ou sequerexplora outras nações, vamos registran-do aqui no Brasil a elevação de tom dealgumas vozes que muito longe de clamarpor uma solução pacífica, aproveita a si-tuação de perigo, hoje encoberta pela fu-maça futebolística da Copa, para conde-nar não as retaliações que o Brasil podereceber dos EUA, mas a política externado Brasil por defender nossa soberania,bem como uma solução pacífica paraimpasses desta natureza.

Nas novas sanções adicionais que opresidente Obama anuncia contra o Irã,ficam claras as intenções de atingir vári-os outros países. Ou seja, que por detrásdas medidas punitivas ao Irã há também oobjetivo de promover guerra comercialpara ampliar o controle econômico domundo em mãos das grandes corporaçõestransnacionais, controladoras do mandopolítico nos EUA. Pelas sanções, os EUAnão aceitarão, assim mesmo, de modo im-perial, que o Brasil venda etanol para oIrã, já que o objetivo é realizar um estran-gulamento econômico e energético daque-la nação. Hoje o Brasil não vende etanolpara o Irã, mas se pretendesse vender, aque-les que se arrogam campeões do livre co-mércio, não permitirão, está proibido!

Nota-se satisfação em alguns articulis-tas da imprensa sempre sintonizada comos poderes internacionais na maneira detratar estas absurdas retaliações. Agoratransformam-se soberania e defesa de prin-cípios e de fundamentos pacifistas para asolução de impasses em irrealismo diplo-

Lula, Ahmadinejad e Khamenei

Page 9: RevoluçãoRevolução Socialista “Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 11 – Nº 28 – Julho de 2010 – R$2,00 Jornal Posadista Continuação

Página 9Julho 2010 RevoluçãoSocialista

A afirmação da revista “URSSOggi” (1) de que os «ideólogos»do trotskismo querem o socialis-

mo baseado nas ruínas atômicas, é umainverdade. Quando escrevem isto, os ca-maradas soviéticos se equivocam. O quenós dizemos é que a guerra é inevitável,que o capitalismo vai lançá-la. Mas mesmocom a guerra capitalista o socialismo seconstruirá, porque é uma necessidade dodesenvolvimento da história humana, da ci-ência, da economia, mas, sobretudo, da in-teligência humana, onde a classe operáriaexerce uma função essencial. A guerra atô-mica provocará muitas mortes, centenasde milhões de mortes, mas destruirá so-mente a expressão material do progresso,não a capacidade e a inteligência jáalcançada, que determinou o progresso.Isso já está conquistado. Destruirão pesso-as, edifícios, máquinas, mas não a capaci-dade humana, a experiência, a segurançahumana; tudo isto já está conquistado!

O socialismo não se constrói sobre asruínas atômicas, esta não é a forma de in-terpretar. É o capitalismo quem faz a guer-ra. Não porque nós a queiramos, e sim por-que antes de ser esmagado pela história, ocapitalismo recorrerá à guerra, porquetem os meios para lançá-la. Se não o faz,melhor. Bem, estaríamos dispostos a es-perar trinta anos mais. Mas trata-se de queo capitalismo não tem outro recurso na his-tória senão a guerra. E parte inerente àpropriedade privada. É o mesmo procedi-mento da concorrência, da disputa atravésda concorrência, é a mesma coisa que aguerra que os capitalistas faziam entre si:concorrência comercial, financeira e de-pois a guerra.

Quando os camaradas soviéticos dizemque «os ideólogos do trotskismo queremfazer o socialismo sobre as ruínas atômi-cas», usam a mesma frase de Pablo (2) quefoi publicada em 1959, no último númeroda revista Quarta Internacional e que eracontra Posadas. A frase dizia: «aqueles ilu-didos que querem construir o socialismosobre as ruínas atômicas...» O iludido eraPosadas. E demonstrou-se que não era ne-nhuma ilusão. Essa crítica, posteriormen-te foi tomada por Maitan e mais tarde porMandel.

É uma falsa interpretação. Nós não de-sejamos a guerra atômica. Nem a guerraatômica, nem nenhuma guerra. A guerra éuma conseqüência do sistema capitalista.Nós interpretamos esta conclusão da mes-

A PROPÓSITO DAINEVITABILIDADE DA

GUERRA ATÔMICA

Há suficientes sinais para compreender que a humanidade se aproxima de umafase de decisões e acontecimentos dramáticos, como J. Posadas chamava de“ajuste final de contas”. Ele pode ocorrer a qualquer momento já que não há

nenhuma garantia de que não se efetive de fato um ataque contra o Irã e que isto nãosignifique o início de um processo de maior confrontação global.

Estão todas as condições: uma crise econômica profunda e sem controle, umacrise social degenerativa do sistema capitalista em todo o mundo, e crise militar. Estase expressa no fato que segmentos como o do General MacChristal da Otan se estãopreparando para um assalto, inclusive contra o próprio setor de Obama, onde háelementos que denunciam que o 11 de setembro foi um auto-atentado. A solução detodas essas crises os leva a tentar acertar tudo através da guerra, segundo a suavisão doentia. Como disse o presidente da Síria, Israel está hoje dirigido por um setorpiro-imperialista que se prepara para a guerra. A América Latina neste momento nãotem a força militar necessária para afrontar este embate de guerra antiimperialista,mas tem a força social revolucionária, que H. Chávez chama de a bomba atômicasocial, ou de kriptonita vermelha.

A ameaça da eclosão de uma guerra é concreta porque diante de uma provocaçãode tal porte dos EUA e Israel mobilizando 12 navios de guerra acompanhados desubmarinos nucleares no Golfo de Suez verso Mar Cáspio e várias instalações mili-tares em Azerbaijão apontadas contra Irã, não se pode imaginar que Irã não sedefenda, envolvendo todos os países da região, apesar da evidente desigualdademilitar. Todos os mecanismos de ataque de todos os países se porão em alerta e empreparo. O afundamento do navio da Coréia do Sul (já denunciado como uma açãoprovocatória dos serviços secretos do imperialismo para justificar uma guerra contraa Coréia do Norte), a caída do primeiro ministro do Japão, a viagem do dirigentenorte-coreano à China indicam que todos se porão em ponto de guerra, inclusive aChina e a Rússia, mesmo com a posição de Medvedev. Já não será possível que serepita a política de Stalin quando a URSS foi atacada; apesar de ter sido advertidopelos oficiais jovens do Exército Vermelho que pagaram com a vida por semelhanteaudácia de advertir que Hitler ia atacar a URSS, ou seja, por dizer a verdade!

É indispensável que o Irã faça um chamado às massas soviéticas, à sua consci-ência do que foi a guerra contra o nazismo e às massas chinesas, que não permitamque suas lideranças cometam o mesmo erro de Stalin antes. E mesmo no Irã, porquecomo se poderá enfrentar semelhante desproporção de forças de agressão, permitin-do internamente a atuação de segmentos sociais que preparam a própria destruiçãode importantes instalações do Irã, de infra-estrutura e de perdas humanas, já que éinevitável que os ataques não se limitarão a um ou outro centro científico-militar.Vejam o exemplo das chamadas “bombas inteligentes” dos EUA e da Otan quedestruíram vilarejos, hospitais, escolas na guerra contra a Iugoslávia e o Iraque.

Saudamos o reaparecimento de Fidel e chamamos o mundo à atenção do seualerta, para que se impeça a carnificina do povo iraniano e de vários povos, prepa-rando-se na forma de levantes e rebeliões em vários países, sobretudo dirigindochamados às massas dos EUA para que se levantem e busquem tomar o controle dopaís para reduzir a destruição que se aproxima! A única defesa é a rebelião contra asburocracias, contra os comandos vacilantes, contra o imperialismo em todos oslados. Como a desigualdade de forças é espantosa entre EUA-Israel e Irã, é precisocontar com a força social inteligente das massas revolucionárias que tem que selevantar em todos os lados.

POVOS DE TODO O MUNDO,UNAMO-NOS CONTRA AS AMEAÇAS DE GUERRA DOS EUA E ISRAELCONTRA O IRÃ E A INTEIRA HUMANIDADE!

ma forma como fazemos com a concorrên-cia, com o desemprego, com a inflação, ou,o excedente de produção enquanto existegente que não tem o que comer. São conse-qüências do mercado capitalista, que con-duzem ao antagonismo com a sociedade, àconcorrência entre si e a recorrer à guer-ra. É suficiente ler a história da proprie-dade privada e do capitalismo para ver queo que mais se destaca da atividade do siste-ma de propriedade privada é: guerra, guer-ra, guerra...

De forma que não é correto dizer quequeremos construir o socialismo sobre asruínas atômicas. Nós apenas interpreta-mos que eles lançarão a guerra; mas queapesar da guerra, e de que farão uma des-truição enorme de bens humanos, de ri-quezas, o socialismo se construirá da mes-ma forma, pois o socialismo já é uma con-quista da consciência e da inteligência dahumanidade, desde o último habitante daOceania, da Islândia, da África, Ásia, Amé-rica Latina à Europa. Já existe uma com-preensão, uma segurança de que a econo-mia não é um mistério, que a propriedadejá não cumpre nenhuma função na histó-ria, que a inteligência é produto do desen-volvimento das relações humanas basea-das na economia, mas que uma vez desen-volvida a ciência, esta supera a economia edesenvolve a inteligência objetiva; e tam-bém com o surgimento do proletariadocomo classe dirigente que, para progredircomo classe, para libertar-se como classe,tem que libertar toda a humanidade e nãopode construir nenhuma nova classe.

Eis aí o instrumento representante doprogresso da história. São condições his-tóricas que estes camaradas soviéticos nãolevam em consideração. Não são resolu-ções políticas, e sim análises e conclusõessobre o processo da história. É o capitalis-mo que prepara a guerra e vai lançá-la. Ésó ver o fato de que dedica quarenta porcento da riqueza capitalista aos preparati-vos de guerra. Não somente aos gastos emarmas, porque os preparativos de guerraincluem a contra-revolução, os serviços se-cretos, a polícia.

J. Posadas6 de abril de 1978

(1)Revista editada pela embaixada soviéticana Itália.

(2)Pablo, Mandel e Maitan, formaram partedo grupo dirigente da IV Internacional até1960, ano no qual J. Posadas diverge eorganiza a IV Internacional Posadista.

Fidelalertaaoperigodaguerranuclearcontrao Irã e ahumanidade

Os EUA lançaram a bombaatômica contra Hiroshima

e Nagasaki

Page 10: RevoluçãoRevolução Socialista “Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 11 – Nº 28 – Julho de 2010 – R$2,00 Jornal Posadista Continuação

Página 10 Julho 2010RevoluçãoSocialista

Uma série de acontecimentos, mani-festações e debates compuseram ocenário das lutas do povo

venezuelano, por ocasião das últimas ati-vidades pelo Bicentenário da independên-cia(1). Desde 13 de abril, quando tiveraminício as comemorações pelo 8º. aniversá-rio da derrota do golpe contra-revolucio-nário de 2002, até o 1º. de maio, houve umamaré de eventos que longe de exibir sim-ples vestes de festividades, expressavammanifestações de luta, de debate e de no-vas propostas no elenco do programa re-volucionário.

Com este artigo nos dirigimos aos com-panheiros e companheiras que têm tidoacesso a informações deturpadas da mídiabrasileira e internacional, que não tem feitooutra que ocultar o processo de transfor-mações sociais na Venezuela,desconstruindo constantemente a imagemdo Presidente Hugo Chávez, eleito demo-craticamente, impossibilitando destaforma o acesso à verdade sobre os avan-ços da revolução na Venezuela.

Bicentenário da independência eintegração latino-americana

Um dos pontos altos foi a marcha cívi-co-militar no dia 19 de abril em Caracas quecomemorou o bicentenário da independên-cia, retratando a amplitude da luta libertáriade Bolívar, de nacional a latino-americano.A coincidência da realização da IX Cúpulada ALBA deu maior ênfase ao sentidointegrador do evento. O relevante dessamarcha não foi a demonstração de forçamilitar, mas a integração cultural, social epolítica dos povos. O aspecto militar tam-

bém teve a sua importância, como o temdestacar a existência de um Conselho deDefesa Latino-americano, diante das ame-aças que representam a IV Frota no Caribe,as 7 bases norte-americanas na Colômbia,o golpe em Honduras e as provocaçõesguerreiras do imperialismo contra aVenezuela, Irã, a Palestina e a Coréia doNorte. A imprensa do oligopólio mundialtratou de destacar a ameaça militar que amarcha representava, mas no fundo, o mai-or temor da burguesia é o processo deintegração cívico-militar que se está des-pertando na Venezuela, e a integração polí-tico econômica entre os governos da ALBAe de toda a América Latina. Os cravos de 25de abril de 1974 em Portugal, renasceramnesse dia 19 de abril nas ruas de Caracas,quando no fim da marcha, civis subiramnos tanques confraternizando-se com ossoldados.

Acordos de integração econômicada Venezuela com América Latina

e o mundo

A verdadeira independência da Améri-ca Latina, embrionária há 200 anos, aindaestá por ocorrer. Mas, já está em pleno de-senvolvimento. Enquanto a Grécia, vassalado FMI, vai à bancarrota, para infortúnioda classe trabalhadora grega, os países daAmérica Latina, rompendo com o neo-libe-ralismo e integrando suas economias so-beranas, resistem ao naufrágio do capita-lismo. A Federação Socialista da AméricaLatina deve ser uma meta, que não parte dozero, mas de acordos econômicos concre-tos, já vigentes com a ALBA, o Mercosur,intercambiando produtos e tecnologias,

com valores de troca que vão ser estabele-cidos pela nova moeda, o “sucre”, e admi-nistradas pelo Banco do Sul, dentro de ummecanismo a ser estabelecido sem a espe-culação capitalista, e suprindo as necessi-dades de cada país.

Diversos acordos de cooperação eco-nômica além da esfera da ALBA e fora dadomínio dos grandes países capitalistascomo Irã, Síria, China, Rússia e Bielorússiae Argentina, na base da troca de produtose importação de tecnologia abrem novoshorizontes de auto-abastecimento naVenezuela. Na recente visita de H. Chávezao Brasil, foram firmados 22 acordos entreos quais: intercambio de tecnologia (Ban-co da Venezuela e a Caixa Econômica); pes-quisas agropecuárias da EMBRAPA, pro-dução de soja e derivados; petróleo cru daVenezuela para a Refinaria Abreu e Lima;Petrosul entre Brasil-Venezuela e Argenti-na); projetos de construção de casas; cria-ção de um Instituto de Planificação Econô-mica na Venezuela.

Como muitas vezes reiterado por H.Chávez, referindo-se a Trotsky: “não hásocialismo em um só país; há que estendera revolução ao mundo”. Dessa convicçãonasceu sua força de impulsionar ao lado deCuba, um processo democrático desurgimento de novos governos progres-sistas na América Latina, criando instru-mentos alternativos atrativos para a sobe-rania dos países: Unasul, Banco do Sul,Petrosul, Telesul, Petrocaribe. Daí cresceua avalancha de acordos de cooperação eco-nômica fora do âmbito do FMI e do imperi-alismo. Decididamente, a revolução“bolivariana” abriu uma nova era. Ela ex-pandiu o processo revolucionário, mas ten-do nascido no seio de uma burguesia dé-bil, rica de petróleo, mas sem desenvolvi-mento industrial próprio e para as massas,trata de recuperar tempo histórico, combi-nando estatizações dos setores básicos eestratégicos da economia com acordos comas indústrias (estatais ou privadas) de ou-tros países.

Estatizações e empresas socialistas

O governo de H. Chávez recuperou parao estado 30% da economia: petroquímica,siderurgia, telecomunicações e telefonia,setor elétrico. Recentemente, o estado co-meçou a intervir também contra a máfia dasempresas mineradoras na zona do Guri en-tre o estado Bolívar e Amazonas(venezuelano). Apesar de ser umapercentual ainda baixa de participação doestado, nota-se uma tendência importanteno setor da cultura e da educação; antesde Chávez, além do analfabetismo (que hojese eliminou), registrava-se uma brutal indi-gência em publicações, taxas de leituras,acesso das camadas pobres a livros, sen-do para isso fundamental a criação do Com-plexo Editorial, incluindo a Imprensa Cul-tura do estado, que já fez tiragens como aDom Quixote, com tiragem de 1 milhão deexemplares e distribuição gratuita. O livro“Contos” , de Machado de Assis recebeu

uma tiragem de 300 mil exemplares, o quenunca ocorreu no Brasil onde a tiragempadrão é de apenas 3 mil exemplares. Valecitar também a edição, pela primeira vez, daobra “Cem anos de solidão” no dialetowayuunaiki, o que só pode ser feito poruma iniciativa estatal , pois, pelas leis domercado editorial privado esta tribo indíge-na seria relegada eternamente ao iletramentoe excluída da literatura universal.

Junte-se a isto a criação das chama-das “empresas socialistas” como a do as-falto (PDVSA em conjunção com governoslocais); empresa socialista do leite; PlanoGuayon socialista (exploração do ferro ealumínio); unidade de produção socialista(município Pedraza) com tratores daBielorussia; Plano Caura (nacionalizaramcom a participação de 2.500 funcionáriosdas Forças Armadas a minas ilegais de ex-ploração do ouro. Não se excluem nesseprocesso, mesmo contando com importa-ções mencionadas nos acordos bilateraiscom outros países, o estímulo a pequenosprodutores nacionais de couro, sapatos eroupas e produção de alimentos. Aqui valeuma reflexão sobre como, ao mesmo tempoque impulsionar o sentido progressistadestas medidas, superar os limites das mes-mas para que não restem no âmbito de uma

Avanços, contradiçõese desafios do processo

revolucionário daVenezuela

economia capitalista, e avançar rapidamen-te em medidas de estatização num ritmonecessário para impedir a contra-revoluçãoe afirmar o salto de um estado revolucioná-rio a um estado operário. Há que prever re-sistências das empresas a uma planifica-ção mais centralizada, constituindo-se emfocos de resistência, interesses localizadose no caso venezuelano, torna-sepreocupante por contar ainda com uma pre-dominância privada e capitalista.

Na experiência de Velasco Alvarado noPeru, em torno à chamada “propriedadesocial”, J. Posadas assinalava: ”É precisofazer uma discussão sobre os problemasda propriedade privada, a comunidadeindustrial, a propriedade social e a pro-priedade estatal, a função e a importân-cia histórica dessas formas de proprieda-de e os resultados concretos na história.A comunidade industrial, como a propri-edade social, são veículos muito débeispara o desenvolvimento da economia emgeral, e não somente da empresa. A renta-bilidade não pode ser avaliada em fun-ção de uma empresa ou outra, porque cadaum tem seu interesse privado. A rentabili-dade para eles depende de que a empresa

Presidentes daALBA assistem àmarcha cívico-militar por ocasiãodo Bicentenário daIndependência naVenezuela(abril-2010)

PDVAL e Mercal (mercado de abastecimentoalimentar sob gestão do estado venezuelano)

Page 11: RevoluçãoRevolução Socialista “Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 11 – Nº 28 – Julho de 2010 – R$2,00 Jornal Posadista Continuação

Página 11Julho 2010 RevoluçãoSocialista

funcione bem, à custa das demais. Assimse desenvolve o interesse de um ou outro,que é uma espécie de autogestãominimizada. Com essas formas de propri-edade, estão buscando que seja mais efi-ciente e se eleve a produção. A intenção écorreta, mas não é este o meio. Esta expe-riência indica que eles querem avançar,mas ficam ainda na área limitada das for-mas de propriedade. Não se pode desen-volver a produção se não é em base aointeresse social, de acordo à necessidadesocial e à planificação.”

Reforma agrária e soberania

alimentar

A última reforma da Lei de Terras favo-rece a mais de 2 milhões de famílias campo-nesas, ocupantes e produtoras em terrasdenunciadas ou ditas ociosas, assegura apropriedade de arrendatários produtivos,proíbe a terceirização e olatifúndio. Entretanto, o processo é lento etortuoso, está muito longe das metasestabelecidas pelo governo revolucionário,por resistências internas no próprio apare-lho de Estado, inclusive certos setores dasforças armadas beneficiadas nos regimesanteriores pela concessão de terras em tro-ca de fidelidade aos governos capitalistas.

Nascem complexos estatais para a pro-dução de açúcar e etanol com tecnologiabrasileira, incluindo 11 usinas de álcoolcombustível. As medidas agrárias incenti-vam o pequeno e médio agricultor e aagroindústria. Entre outras se duplica a pro-dução de leite, da carne bovina (graças àimportação e cruzamento com gado zebudo Brasil e Nicarágua), porco e frango.Muitos produtos alimentícios chegam abaixíssimo preço nos Mercales (mercadospopulares sob gestão do estado). Acabamde se criar as redes Bicentenário ou RedeComércio como forma de distribuição esta-tal para deter a corrupção, pois ainda nãose logrou derrotar os atravessadores e amáfia do comércio privado que especula esabota. A perseguição fiscal ou policialpara assegurar o abastecimento não é sufi-ciente enquanto não se eleva a produçãoagrícola e a agroindústria.

A recuperação de terras, a reforma agrá-ria com expropriação dos latifúndios comcontrole social, das comunas e dos sindi-catos tornam-se inadiáveis. A exigência deum consumo elétrico controlado combinao desequilíbrio da natureza, a seca, com umeventual despreparo estratégico, e é toma-do como elemento de autocrítica, e impul-so para o debate e a solução revolucioná-ria das dificuldades. Hugo Chávez se reu-niu com 600 trabalhadores e a UNETE(União Sindical dos Trabalhadores Elétri-cos) que apresentaram um plano estratégi-co com intervenção estatal para recuperare reestruturar o setor elétrico; ao queChávez respondeu: “Façam isso, está nassuas mãos!”. É fundamental impulsionaresta conclusão: maior planificação do es-tado e controle operário-sindical que nãojustifiquem insuficiências ou sabotagens.

Medidas sociais e conquistassindicais

O 1º de maio na Venezuela foi um dia defesta e comemoração de conquistas da clas-se trabalhadora, diferentemente do climade batalha campal e enfrentamentos trans-corridos na Grécia e nos países capitalistasda Europa e da Ásia. Na Venezuela, em en-contro prévio com delegados operários,Chávez decretou: 1) pagamento imediatodo saldo dos 25% de aumento do saláriomínimo decretado ao início do ano; 2) 40%aos médicos, 40% aos militares; 3) 100% depensão dos chamados sobreviventes (viú-vas); 4) o estado ajudará nacomplementação de quotas para contribu-intes se aposentarem; 5) aposentadoria paracamponeses e pescadores; 6) 75% de au-mento para trabalhadores da construçãocivil. E o fundamental: chamou ao controleoperário nas indústrias básicas. Chávezjuramentou uma representação operáriacomo direção da CVG (Conglomerado de15 empresas com mais de 18 mil emprega-dos, eixo econômico de uma região de 5estados e metade do territóriovenezuelano), dentro do “Plano GuayanaSocialista”.

Urge que o povo venezuelano exerçana prática o controle operário dos meios deprodução! Entretanto, não há tradição, nãohá funcionamento de partido suficiente queconduza a uma mobilização consciente daclasse operária, há um peso enorme de ve-lhas tradições, costumes, vícios, corrupção,um movimento sindical que jamais foi au-tônomo e que até ontem funcionava de

luta por recuperar a RCTV e convertê-la naTVes, pública e de domínio social, tem sidoárdua e requerido do governo um esforçode melhoria de conteúdos (remetemos a umartigo específico sobre a questão).

Participação social e eleições

O povo venezuelano se prepara para aseleições de deputados da Assembléia Na-cional em setembro. Para isso se realizaramem 2 de maio as eleições primárias dos can-didatos a deputados do PSUV (Partido So-cialista Unificado da Venezuela). Em todo opaís se candidataram 3.527 militantes, elei-tos pelas bases, nos bairros, universida-des e locais de trabalho. Destes, foram elei-tos 220 (110 com seus respectivos suplen-tes) nos 87 “circuitos” do país. Estes sãoos candidatos do PSUV em setembro. Dos6.776.618 filiados ao partido, votaram 2,5milhões. Houve um equilíbrio entre a tradi-cional e a jovem guarda. A intenção foi ga-rantir maior representatividade possível. Anovidade foi uma eleição grande de jovens(15 entre vários dirigentes estudantiscombativos). A crítica, e a necessidade derenovação dos quadros se expressaram,mas sem que isso seja uma garantia paraque o PSUV alcance os 2/3 do próximo par-lamento para impedir que setores da direitatentem derrubar leis e conquistas da revo-lução.

Aliás, esta é uma possibilidade real: oboicote às eleições parlamentares não fun-cionou, a burguesia ficou isolada, mas des-ta vez decidiu participar, vai investir mi-lhões, vai manipular dados, vai jogar sobre

toral para ir ao governo, como se fez repeti-damente na Venezuela desde 1968, mas háque afirmar os elementos de poder popularpara avançar ao poder, acelerar as medidasde estatização e planificação econômica embases socialistas. Construir o Partido deMassas é fundamental. E assegurar o cres-cimento qualitativo e quantitativo do PSUVé tarefa central. Neste sentido foi impor-tante o I Congresso Extraordinário do PSUV,onde cerca de 700 delegados, debateramdurante 5 meses princípios, funcionamen-to e programa para passar do estado bur-guês ao estado socialista acelerando as em-brionárias formas de controle operário,comunas e milícias. O Congresso apoioutambém a convocatória de H. Chávez deformar uma V Internacional Socialista queseja um centro de coordenação mundial delutas de todos os movimentos e partidosde esquerda antiimperialistas.

O surgimento das milícias, que com-põem um contingente de mais de 200 milpessoas no país, é uma grande novidadeque denota que a revolução bolivariana é“pacífica, mas não desarmada”. No dia 13de abril dia da vitória contra o golpe reaci-onário de 2002, marcharam 36 mil milicianos,operários, camponeses, intelectuais, fun-cionários públicos, jovens, mulheres e ve-lhos, de armas na mão, unidos aos solda-dos do exército, da juventude da UNEFA(Universidade Nacional Experimental dasForças Armadas), das Missõesbolivarianas, trabalhadores da PDVSA, dasIndústrias Socialistas Agrícolas, e do Mi-nistério das Indústrias básicas (estatais).

A revolução bolivariana é nossa!

Esse é o quadro de todas as peças dexadrez em jogo no processo da revoluçãopermanente na Venezuela. Chamamos a to-dos os movimentos sociais, sindicatos, in-telectuais, militares nacionalistas a estaratentos e solidários a esta experiência ocul-tada pelos grandes meios de comunicaçãono Brasil e no mundo. Isso não é casual,pois sabe-se que no Brasil da inolvidáveltradição varguista, hoje recuperada porLula, forças militares e movimentos sociaisrecebem o impulso dos chamados “novosventos do sul”, e vêem com simpatiao processo de integração latinoamericanadetonado pela revolução bolivariana deHugo Chávez, como elemento fundamen-tal para assegurar um programa de trans-formações para tirar o Brasil do atraso. Omelhor reconhecimento e a defesa da revo-lução venezuelana que podemos fazer noBrasil é impulsionar políticas que façamcrescer a união dos povos da América Lati-na em torno da ALBA, do Mercosur, daUnasul, da Telesul, da qual Lula tem sidodefensor de primeira linha.

1 Há 200 anos, no dia 19 de abril de 1810comemoram-se os passos mais importan-tes da libertação colonial contra o Reino daEspanha iniciando-se as guerras deindependência e nascimento da Repúblicada Venezuela.

todas as carências dogoverno (as provocadaspelo boicote e as carên-cias naturais do proces-so revolucionário), epode sim, canalizar odescontentamento e ad-quirir legitimidade parafazer oposição. Qualquerque seja a quantidade derepresentantes que con-sigam eleger, a mídia im-perialista vai fazer umenorme alarde e vai apon-tar o “fracasso” de HugoChávez. Uma oposiçãocombativa, mais a alian-ça com a mídia pró-impe-rialista pode representar

maneira corporativa, e às vezes mafiosa,como no caso dos petroleiros antes da eraChávez. A direção empurra para frente, maso processo requer tempo, lutas, educação,formação, clareza ideológica.

Um dos problemas ainda não totalmen-te resolvidos, é o da comunicação social.Apesar do indubitável progresso que re-presenta a expropriação do estado de par-tes importantes dos setoresbásicos, os principais ramos da economiaestão nas mãos privadas que continuamoferecendo um perigo à revolução, comono setor bancário e das comunicações. A

um real entrave ao processo revolucioná-rio, enquanto ele jogar com as regras dademocracia burguesa formal.

Partido de Massas, comunas emilícias

O processo revolucionário venezuelanoé cheio de variáveis e riscos, pressões con-tra-revolucionárias internas e externas quedenotam a necessidade de saltar do gover-no ao poder. Do governo nacionalista epopular ao poder revolucionário das mas-sas. Não há que descartar o processo elei-

A população civil se confraterniza com as milicias detrabalhadores da cidade e do campo para defenderas conquistas da revolução bolivariana

Page 12: RevoluçãoRevolução Socialista “Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 11 – Nº 28 – Julho de 2010 – R$2,00 Jornal Posadista Continuação

Página 12 Julho 2010RevoluçãoSocialista

A agonia mortal do sistema capita-lista adquire, hoje, forma bem terminante que se expressa na bom-

ba de nêutrons. É preciso ter claro que estaarma de nêutrons foi inventada, criada, es-sencialmente, com caráter local contra-re-volucionário, para ser jogada contra umamanifestação, num comício, numa reunião,contra um movimento revolucionário. É umaarma criada para essa finalidade. É uma armade essência social contra-revolucionária,para enfrentar os movimentos revolucio-nários.

Como toda arma mortífera ao máximograu, também encontrará sua resposta aomáximo grau. E a resposta que em brevecomeçará, e que nós propomos aos cama-radas soviéticos, é o estudo de formas deorganização militar, de funcionamento, quese oponham à bomba de nêutrons. Ninguémpoderá impedir que a fabriquem e que ausem, então em vez de oferecer um alvo,oferecer mil alvos, nos quais eles tenhamque distribuir-se. Essa bomba tem o mes-mo sentido, com o qual a seu tempo, o ca-pitalismo construiu as grandes avenidas naFrança para enfrentar as massas, eliminan-do os lugares nos quais se reunia o prole-tariado. Depois da Comuna de Paris, o ca-pitalismo viu que as ruas, tal como eram,facilitavam a ação revolucionária, então,construíram grandes avenidas para impe-dir a concentração. Isso, de toda forma, nãoimpediu o surgimento e a existência de 20Estados operários. E a bomba de nêutronstampouco determinará que o processo dahistória seja neutro. A uma arma mortíferaresponderão com outra arma mortífera, queé a organização revolucionária das massas.

Nós propomos que os Estados operári-os estudem a forma de organização emobilização para enfrentar esta bomba. Euma das bases essenciais será um apeloaos exércitos, a influência e a pressão so-bre os exércitos para que usem esta bombacontra os seus chefes. Além disso, virá abomba anti-nêutron. Se o nêutron pode serutilizado para asfixiar e matar, se há de en-contrar o meio contra isso. Esse é um as-pecto no qual se demonstra que não existeforça que possa impedir o progresso darevolução, porque esta é uma necessidadebásica da história.

A bomba de nêutrons indica que o ca-pitalismo prepara-se consciente de que arevolução virá. Esta é urna bomba contra-revolucionaria. A guerra do imperialismo écontra-revolucionaria, mas esta não é urnabomba para ser utilizada numa guerra, é urnabomba contra ações revolucionárias. Paraações de guerra tem pouco uso, porque apróxima guerra não será um enfrentamentoentre grandes exércitos, mas serão dispo-sições de armas acionadas por um reduzi-do número de pessoas. Por isso é urna bom-ba que é destinada contra movimentos re-volucionários, particularmente nos EstadosUnidos e na Inglaterra. É contra as massasnorte-americanas, francesas, alemãs, ingle-sas e do resto da Europa que esta bombaestá preparada.

É preciso sentir que quando o imperia-lismo prepara tal arma, não é por necessi-dade militar. É mentira! É muito pequeno oefeito militar dessa bomba, o efeito é soci-al. O que demonstra que o objetivo deles ésuprimir as pessoas. É urna bomba essen-

cialmente contra os movimentos revoluci-onários das massas. Toda a guerra do im-perialismo é contra-revolucionaria, porém,esta é urna bomba contra os movimentosrevolucionários das massas de cada país econtra a parte de suas próprias tropas quese rebelará.

Mas isso não resolve as contradiçõesdo sistema capitalista: matam todas as pes-soas com a bomba de nêutron, reorgani-zam a economia e depois, quem consome?Em dez anos refazem todo o ciclo e depoisdevem matar novamente, ou, devem impe-dir que as pessoas nasçam. São as contra-dições do sistema de propriedade privada.

Reafirmo a conclusão: a bomba de nêu-trons é destinada a ser jogada contra asmobilizações revolucionárias das massas.Esse é o objetivo essencial dessa bomba.A próxima guerra não será uma guerra degrandes movimentos como anteriormente,quando um exército de milhares se desloca-va de um lado a outro para ganhar posições.Mesmo os navios não têm mais importânciamilitar. As guerras serão de armas atômicasna água, na terra ou no ar. Inclusive o saté-lite, feito recentemente pelos italianos, ditopara as comunicações telefônicas, é um sa-télite militar.

Tudo isso demonstra que o imperialis-mo está buscando a arma invencível. Nãoexiste arma invencível, porque a arma nãopode substituir as pessoas. E as pessoassão mais importantes que todas as armas.A guerra, por si mesma, irá levar ao campoda revolução a metade das pessoas quehoje não estão com a revolução. Somente aguerra produz essa virada O capitalismo,incluído os Estados Unidos, contam comisso, porque as massas vão fazer o mesmotambém nos Estados Unidos. Antes da se-gunda guerra, não havia passado pela ca-beça de ninguém que pudesse vir a revolu-ção em países como a Tchecoslováquia, aRomênia, a Hungria e a Bulgária. Os Esta-dos Unidos vêem isso; sentem que a guer-

A Bomba de nêutron,arma de essência

social contra-revolucionária(*)

ra será um impulso anti-capitalista podero-so no próprio Estados Unidos, e deseja abomba de nêutrons para conter esse pro-cesso. O capitalismo observa o comporta-mento das massas nos Estados Unidos:fazem um chamado em defesa da democra-cia e não vai ninguém. Enquanto que todoo mundo dizia: «terminem com o Vietnã, dei-xem o Vietnã». Não é por desinteresse, é ointeresse de que o Vietnã viva e que osianques não se metam.

Sem dúvida não preparam a bomba so-mente para os Estados Unidos. Preparamtambém para jogar contra o exército sovié-tico e dos demais Estados operários, paramatar o máximo que possam. Farão isso.No entanto, é preciso considerar a previ-são de que começada a guerra, 50 por cen-to das forças do sistema capitalista se vol-tarão contra. Mesmo que não passem a agirimediatamente com a revolução, se volta-rão contra. Se expressará de diversas for-mas, no esquecimento do fuzil, na falta debalas, mas de todas as maneiras darão umavirada

Por essa razão, o capitalismo está estu-dando um quadro de ameaças, porque ob-serva o comportamento político dos seusoficiais e não tem tempo para preparar umanova camada de oficiais, já que serão influ-ídos, de toda maneira, pelo processo dedecomposição social do capitalismo, e tam-bém ao mesmo tempo, pelo ascenso dosEstados operários. Se fosse somente a de-composição do capitalismo, este teria certaesperança. Mas junto com a decomposi-ção está o ascenso dos Estados operários,que por sua vez, é de fato o fator essencialda decomposição do capitalismo. Dessaforma, o capitalismo vê que a decomposi-ção surge não do fato de que os oficiaisvejam que irão morrer, mas porque estãofrente a um regime social superior. Tres di-rigentes militares do capitalismo já mani-festaram isso: «perderemos a guerra por-que a União Soviética é um regime socialsuperior».

J. Posadas28 de agosto de 1977

(*)A bomba de nêutrons – as experiências com a bomba de nêu-trons foram autorizadas e efetuadas em 1963, em instalações subterrâ-neas de Nevada nos EUA, com o pretexto do rompimento da moratóriadas experiências nucleares pela URSS em 1961. O desenvolvimentodesta bomba foi suspenso na presidência de Carter e retomado porReagan em 1981. Clinton em 1996 começou com o desmantelamentodo estoque americano. A França explodiu a sua primeira bomba sobreo atol de Mururoa em 1980 e começou a produzi-la também.

Ocupação de Berlim pelo exércitosoviético na derrota do nazismo.

Sobre os escombros da guerra,as massas impuseram novos países

revolucionários no Leste Europeu

J. Posadas

Adquirao livro através do

[email protected]

Page 13: RevoluçãoRevolução Socialista “Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 11 – Nº 28 – Julho de 2010 – R$2,00 Jornal Posadista Continuação

RevoluçãoSocialista

“Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 11 – Nº 28 – Julho de 2010

JornalJornalJornalJornalJornalPosadistaPosadistaPosadistaPosadistaPosadista

Continuação doJornal

Frente Operária,fundado em 1953

Suplemento Especial

O Brasil está entrando num novoembate eleitoral, em que a lutade classes está presente e todas

as conquistas recentes e mais importan-tes do movimento popular estão em ques-tão. A continuidade ou não do governoLula, em termos de diretrizesprogramáticas, progressos da economia,relação com a participação popular, pos-tura internacional, papel do estado, direi-tos democráticos, tudo aquilo de avança-do que representou para a grande maioriada população trabalhadora, para os seto-res mais pobres da população, está em jogo.Embora na forma eleitoral, com todos osseus vícios e deformações incorrigíveisnuma sociedade de classes, há sim umadisputa de projetos díspares e um conflitode classes instalado neste quadro que nãopode ser ignorado por segmentos progres-sistas sob pena de enveredarem para opurismo, a paralisia ou o isolacionismo,que somam indiretamente aos objetivos dadireita.

Ninguém deve confundir-se: ao contrá-rio do que vem afirmando a candidataMarina Silva, e boa parte de analistas inte-ressados, Serra não é Dilma, não é a con-tinuidade melhorada de Lula. As garrasafiadas vão aparecer à medida em que au-mente o desespero na capenga aliançademotucana, quando Lula desça em cam-po e o eleitorado mostre não só a transfe-

Dilma presidente,para continuar

o governo populare suas conquistas

rência dos votos de Lula, mas a clara de-terminação de dar continuidade à suaobra.

O Brasil é país capitalista, mas não porculpa de Lula, pois não há uma direção,não há partidos preparados, não há ummovimento popular consciente para con-duzi-lo ao socialismo, apesar de falaremem socialismo. Há sim partidos, inclusi-ve o PT, que se dispõe a lutar por umprograma de transformações sociais, nocampo democrático e popular. À esquer-da, há uma tendência a fazer uma análiseredutiva do que significaram os dois go-vernos de Lula, devido ao fato que as eli-tes mantêm o poder, a propriedade dosmeios de produção e o controle de boaparte da máquina estatal em suas mãos.Que o país está longe dos ideais do soci-alismo, que há ainda 35% de brasileirospobres, que os banqueiros lucram comonunca, os industriais e comerciantes,idem. Que a reforma agrária foi parcial,que os indicadores da educação e saú-dem deixam a desejar, e assim por dian-te. O pecado maior de Lula seria ter go-vernado numa sólida aliança com as eli-tes.

Governou com as elites sim, mas nãosem conflitos. Mas governou, também,e numa escala sem precedentes, para ospobres. Os números, os indicadores so-

ciais, os salários, as conquistas em ter-mos de direitos, estão todos aí. Na eco-nomia, após um primeiro mandato cheiode dificuldades, principalmente para me-dir forças e estabelecer onde e como sepoderia avançar e também muito depen-dente da correlação de forças da era Bush,enveredou-se pelo caminho do rechaço àALCA, da diversificação dos mercados,da soberania nacional e das novas alian-ças com os emergentes. O caminho foifacilitado pela crise catastrófica das idéi-as neoliberais derivadas da grande criseque estourou nos Estados Unidos e naEuropa em 2009 (e que persiste), e pelaemergência dos processos de transfor-mação social no continente latino-ameri-cano, aos quais o Brasil não somente deuapoio mas tornou-se eixo decisivo emrazão do peso de sua economia, apoian-do projetos que erguem uma infra-estru-tura continental que favorece a industri-alização de países como Venezuela, Bolí-via, Equador e sobretudo Cuba, onde oBrasil financia portos e dá apoio estatalfundamental para que a Ilha possa supe-rar a dependência alimentar do exterior.

Mudanças sociais em favor dos pobrese consenso crescente no plano interno,alianças estratégicas com os países pro-gressistas e antiimperialistas no plano in-ternacional, deram ao governo Lula uminquestionável caráter nacionalista e po-

pular comprovados de maneira terminan-te pela sua popularidade. O potencial doBrasil como nação, adormentado por sé-culos pela mesquinhez e subserviênciadas elites frente às metrópoles imperi-ais, deixa o berço esplêndido e desperta,o país assume um novo papel no pano-rama internacional.

Entretanto, o nacionalismo, orenascimento do varguismo, oantiimperialismo, a reconstrução do Es-tado, a desprivatização parcial, a recu-peração da capacidade de planejamentode longo prazo, e o seu papel decisivopara o enfrentamento da crise internaci-onal, embora reforce a sua capacidadede servir ao Capital, dialeticamente, en-fraquece a autoridade da burguesia aoser posto ao serviço de importantes mu-danças sociais e da soberania nacional.

As conquistas sociais e o regime não-repressivo favorecem a organização po-pular e a conquista da cidadania. O pro-gresso da economia ao contrário de de-bilitar as massas populares pelo acessoao consumo, permite o seu crescimentocomo cidadãos, trabalhadores, lutadorespor mais conquistas, habilitando-as a exi-gências superiores, pois percebem comexperiência prática que não há nenhuma

Lula e Dilma inauguram navio-plataforma FPSO JK (P-34), no campo de Jubarte (ES-2008)

Foto:

Rica

rdo

Stuc

kert/

PR

(continua na página seguinte)

Page 14: RevoluçãoRevolução Socialista “Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 11 – Nº 28 – Julho de 2010 – R$2,00 Jornal Posadista Continuação

Página 2 Julho 2010RevoluçãoSocialista

Expediente

“RevoluçãoSocialista”

Órgão da Corrente Posadista do PT –Regulamentada junto ao

Diretório NacionalContinuação do Jornal “Frente

Operária”, fundado em 1953.Diretor Responsável :

C.A. de Almeida – Reg. Prof. 049/SPE-mail: [email protected]

Página Web:www.revolucaosocialista.cjb.net

Brasília DFCirculação interna ao PT

justificativa para que não possam teracesso a alimentação regular, consumo deroupas, cobertores, eletricidade, eletrodo-mésticos. E percebem que isto só foi pos-sível com o fortalecimento do mercado edos bancos públicos. Dialeticamente, o pro-gresso econômico da nação como paíscapitalista, mas com papel preponderan-te do Estado e uma constante ampliaçãodos direitos sociais, da educação, da jus-tiça, vai criando bases para uma socie-dade mais avançada.

A disputa continua, e vai continuar atéque haja direções sindicais e políticas ecom força e autoridade social suficien-tes, em condições de assumir uma novafase e um novo projeto. Por isso seriaum grave erro crer no reformismo, natese de que todos os direitos vão seampliar indefinidamente. Basta ver os li-mites do reformismo na crise que asso-la o estado do bem-estar social euro-peu, com a destruição de suas conquis-tas sociais, inclusive na rica Alemanha.Se há limites para o reformismo lá, aquios conflitos serão muito mais agudos,devido à trágica desigualdade brasileira.

jada do governo e do palácio a pontapésno período do mensalão. Ali foi umdivisor de águas: enquanto a burguesiaque o impeachment, um setor vacilantedo próprio PT sugeriu a renúncia, maso Lula preparou-se para mobilizar os sin-dicatos para defender o mandato nasruas. Foi quando declarou: “não vou mesuicidar como Vargas, nem renunciarcomo Jânio, nem deixar o país comoJango”. A burguesia percebeu o perigode um presidente como Lula voltandoao Estádio de Vila Euclides, sua memó-ria histórica também recordou a fúriadas massas quando Vargas se suicidou,e assim, preferiu não levar adiante talproposta. Nada pode demonstrar que seas elites da cruzada moralista tivessemretornado ao poder, o país estaria hojesendo governado por uma classe políti-ca “limpa” e “honesta”. Os mensalõesdo DEM e do PSDB o demonstraramexatamente o contrário, como antes,como quando governavam.

do emprego, da cultura, da educação,dos meios de produção. Já o demons-trou do ponto de vista ambiental, e dasguerras que empreende. Este é o qua-dro do mundo mais desenvolvido. Oprogresso social do país, partindo deníveis inadmissíveis de pobreza e mádistribuição de riquezas, é pujante, maso capitalismo em breve vai mostrar asua incapacidade de se alcançar o para-íso. Só o socialismo o permitiria. A Chi-na, após ter acelerado ao máximo umaeconomia tipo capitalista, agora deve daruma guinada no sentido do socialismo,com a vantagem que tem bases para isso.Aqui isto vai significar enorme conflito.

Portanto a política de alianças, as maisinverossímeis e amplas, não é nenhuma“culpa” de Lula, foi a que permitiu avan-çar, sem uma guerra civil precoce, aopatamar em que nos encontramos. Ha-veria de se perguntar quem cooptouquem nas tão criticadas alianças de Lula.O fisiologismo e a roubalheira, típicasdas classes dominantes, de toda a suacorte e serviçais não mudou, mas Lulasoube conduzir o seu consenso conquis-tado na complexa aritmética das insti-tuições e do sistema político para a rea-lização de alguns projetos fundamentais,como o Pré-Sal, o Bolsa-Família, a re-construção da indústria naval e inúme-ros outros.

O moralismo e a ética na política emabstrato, sapientemente manipulado pelamídia das elites e pela oposição conser-vadora em todos os níveis, afetando emcerto momento a amplos setores da clas-se média, chegaram a confundir as idéi-as de boa parte da esquerda. Não fossea firmeza de Lula, esta teria sido despo-

Dilma na assinatura de contrato para o Complexo Petroquimico do Rio de Janeiro (Comperj)

Fotos

: Ri

card

o St

ucke

rt/PR

Lula inaugura primeiro navio Suezmax,batizado João Cândido em Ipojuca (PE)

za, já que a legislação derrubou aunicidade das coligações políticas emtorno das candidaturas a nível federal, eo mapa estadual das alianças é comple-tamente artificial e artificioso, confor-me os cálculos e jogos de poder locais enacionais.

É preciso lembrar que a natureza dascoligações e os próprios partidos políti-cos no Brasil não correspondem senãoindiretamente a interesses de classe, oua interesses de classe em conflito e nãonecessariamente antagônicos, sobretu-do no campo da burguesia; já no campopopular, se excluímos os movimentossociais e as siglas menores, há maiorenraizamento de massas em torno do PTe PCdoB. O Psol não é um partido demassas, é uma esquerda parlamentarcombativa. O PDT representa ainda umatradição nacionalista e popular importan-te, bem como o Partido Socialista. Ou-tros partidos menores exercem só sim-

Aí mora o perigo: Marina Silva, comoum avatar azul, prega uma neutralidadee um purismo que não correspondem àaliança de forças políticas na qual sebaseia. Aliás, ninguém pode em sã cons-ciência reivindicar uma matriz de pure-

bolicamente uma militância à esquerda.Enquanto estivermos em democraciaburguesa, será preciso governar com es-tas e outras siglas, representando inte-resses muito diversificados. Como dis-se Lula, para governar um país tão com-plexo como o Brasil é preciso juntarCristo e até de Judas, mas não aplicar oprograma de Judas. Trotsky disse certavez que os revolucionários fazem alian-ça com Deus e o Diabo para avançar arevolução, mas não vão na casa do dia-bo. Não está mal posicionado o Lula.

O PMDB, que é o maior partido emtermos de bancadas, votos e postos noexecutivo, na realidade tem um núcleoduro de ideologia e concepção burguesae é uma sigla de conveniência para umainfinidade de interesses da burguesia emtodos os níveis da Federação. O “PMDBvelho de guerra e nacionalista” do perí-odo contra a ditadura não existe mais, epor isso o ex-governador do Paraná,Roberto Requião, não conseguiu aderen-tes dentro dele para sua cruzada nacio-nalista e antiimperialista, muito emboratenha feito um governo muito avança-

Vice-versa, o capitalismo por mais queavance, vai mostrar em breve seus limi-tes, pois vai ser obstáculo para auniversalização dos direitos, da saúde,

Page 15: RevoluçãoRevolução Socialista “Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 11 – Nº 28 – Julho de 2010 – R$2,00 Jornal Posadista Continuação

Página 3Julho 2010 RevoluçãoSocialista

numa nova fase com o presidente ne-gro. A perda da hegemonia dos EUA so-bre os negócios brasileiros, retira maisfôlego ainda às oligarquias internas. Oentão criticado “Aerolula” se transfor-ma num instrumento de combate, des-bravando e diversificando mercados e,com eles, reforçando a soberania nacio-nal. Ter expulsado o FMI e passado àcondição de credor do mesmo representaum golpe mortal aos colonizados e ao“complexo de vira-lata” da elite nacio-nal.

Este é o resultado das alianças, e não,como se poderia supor, uma subordina-ção às oligaquias tradicionais. É Sarneyque defende o governo e seus principaisprojetos, inclusive formando parte dabarreira política para impedir acriminalização do MST na CPI da Re-forma Agrária, numa clara demonstra-ção de como as alianças podem favore-cer aos segmentos mais à esquerda. En-quanto ACM morre e não deixa segui-dores e perde a Bahia, seu feudo eterno,Jader Barbalho favorece a chegada doPT ao governo do Pará, e assim cadaum dos bastiões tradicionalistas vão sen-do assaltados pelas políticas de Lula, enão ao contrário. É Roseana Sarney quese alia ao governo, e as políticas tradici-onais vão sendo atropeladas pelo Luzpara Todos, pelo Bolsa-Família, pelacompra antecipada de produtos agríco-

las aos pequenos agricultores para amerenda escolar, é uma enxurrada demedidas de empoderamento e cidadaniaque vai quebrando, na raiz, o poder dasoligarquias. É o que explica, inclusive, avacilação de Aécio Neves, que sabe queMinas não é mais das oligarquias e nãose arriscou a embarcar na canoa de vicede Serra. A desistência de Aécio da viceé, talvez, mais importante que muitasdestas pesquisas feitas para revelar aspossibilidades da dupla Lula-Dilma

A questão da ampla aliança em tornoda candidatura de Dilma Rousseff deveser vista desta maneira: qual é o projetoque a sustenta, e as forças capazes derealizá-lo. Dar continuidade ao governoLula é aspiração de milhões de pessoas,trabalhadores, pobres, e também decrescentes setores da classe média. Ainédita popularidade de um presidente desaída é uma palavra de ordem: avançarnas transformações sociais.

Dilma pode ter menos capacidade dearticulação, menos experiência política,o seu lado subjetivo vai ser colocado aduras provas, mas a plataforma de pro-grama, as alianças construídas por Lulae a sua enorme popularidade, num perí-odo de crescimento econômico vigoro-so e equilibrado, cuja base essencial é ocrescimento do papel do Estado, sãocomponentes que podem lançá-la às al-turas de um governo ainda mais à es-querda que Lula. Não há que olvidar atradição brizolista de Dilma e que a fazreivindicar o papel de Vargas na criaçãoda Petrobrás e das várias conquistas sin-dicais e de consolidação das estatais.

Candidaturas não são caprichos, sãoresultados da correlação de forças. Pormais integridade que tenham candidatosà esquerda, eles não representam pro-cessos. Lula não pode continuar (porenquanto) no governo – e seria de seinterrogar à esquerda porque não houvecombate por um terceiro mandato – masindica uma sucessora. Sua história mili-

tante é límpida, diáfana, como revela asua experiência de resistência e solidari-edade vivida nas masmorras da “Torredas donzelas”, na prisão Tiradentes noperíodo da ditadura. Seu compromissocom o governo e seus programas, idem.Por mais que seja pragmática, nada in-dica que Dilma venha para pactuar porbaixo com as elites, tudo ao contrário.

Em todo caso, seu governo depende-rá de muitos fatores, inclusive da capa-cidade da esquerda de sair do isolamen-to social, mobilizar-se, reforçar os pro-cessos participativos, atuar para refor-çar as conquistas mais importantes eampliá-las. O MST e alguns movimen-tos sociais bateram muito duramente nogoverno Lula, principalmente na primeirafase, e criticaram vários aspectos, osatrasos na reforma agrária, o projeto dosbiocombustíveis, a política ambiental.Chegaram a afirmar que o governo Lulahavia feito uma opção pelo agronegócio,que não eram “amigos” do governo.

Todos estes argumentos foram cain-do por terra com os inúmeros projetospara a área rural e para a agricultura fa-miliar, para os assentamentos, que mes-mo não sendo projetos de âmbito diretoda reforma agrária, beneficiaram mi-lhões de agricultores pobres; osbiocombustíveis não se revelaram ne-nhuma catástrofe, e embora não tenhamsido alavanca direta da reforma agrária,beneficiaram e beneficiam a milhões deagricultores, com um papel mais ativoda Petrobrás no processo, que criouuma subsidiária. Aliás, dadas as relaçõesde força, talvez tenha faltado aos movi-mentos sociais a apresentação de proje-tos que incluíssem a agroenergia famili-ar, descentralizada e estatal como partedas alavancas que podem destravar areforma agrária, e formatar uma aliançamovimentos sociais e estado. O gover-no avançou em projetos de legalizaçãode áreas indígenas, consolidou os direi-tos dos quilombolas, implemento inúme-ros projetos para os setores mais opri-

“Luz para todos”Lula e Dilma

e mCongonhinhas (PR )

junto ao MSTe R. Requião

Inauguração com grupo de operários da usinatermoelétrica de etanol em Juiz de Fora (ES)

do, estatizante e antiimperialista, aindaassim, não conseguiu construir uma cor-rente no interior do PMDB, apesar deter estado 8 anos no governo. Trata-sede um processo histórico já bem conhe-cido ao qual nenhuma reforma políticapode por remédio. O PMDB governoupara as elites no mais terrível governoneoliberal com o PSDB, e o faria nova-mente. O problema é: tê-lo do lado decá, apoiando o governo progressista, oudo lado de lá, apoiando os incorrigíveisneoliberais.

É neste sentido que a política de ali-anças produz eternos conflitos e rebeli-

ões à esquerda. Estivemos entre os crí-ticos da “Carta aos Brasileiros” de Lulaem 2002, mas não por proclamar umaaliança com setores da burguesia indus-trial e financeira, e até mesmo com se-tores oligárquicos; nossa crítica tinha aver com a timidez do compromisso, daplataforma transformadora. Entretanto,reconhecemos que fora desta aliança,não teria existido governo Lula algum.No exercício do governo houve muitosconflitos e concessões; alguns bastiõesfundamentais das elites permaneceramintocáveis, como a gestão autônoma doBanco Central, a lentidão da reformaagrária, e pelo menos no início, o domí-nio incontestado da mídia, além de todoum arcabouço derivado da privataria,ainda não completamente superado. Onatural loteamento dos Ministérios epostos no executivo desalojou muitospetistas, em função da colocação dosincômodos aliados do PMDB e outrospartidos da base de governo.

Mesmo sob o fogo cruzado das alasburguesas internas e externas ao gover-no, que culminou no primeiro mandatocom a chamada crise do “mensalão”, ecom muitas crises internas com adefenestração das alas mais à esquerdae impacientes do PT, que deram lugarao Psol e a outras deserções a nível dequadros do governo, foram fincados al-guns pilares para o que depois foi o se-

gundo governo de Lula, muito mais avan-çado, e desta vez, tendo cooptado ele,pelo enorme prestígio que arrebatou en-tre as massas mais pobres do país, asalas do PMDB e das inúmeras siglas bur-guesas que antes haviam manifestadohostilidade e participado das campanhasde linchamento do “metalúrgico”.

O pêndulo da História pende para aesquerda, e com ele, o governo Lula. Ahisteria da oposição mais reacionária eda mídia vai perdendo efeito, frente aosfatos. O quartel-general da oposição, osEstados Unidos, entra numa crise e

Getúlio Vargas e Lula:Uma identidade nacional a conquistar e continuar

Page 16: RevoluçãoRevolução Socialista “Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 11 – Nº 28 – Julho de 2010 – R$2,00 Jornal Posadista Continuação

Página 4 Julho 2010RevoluçãoSocialista

midos e pobres, principalmente na árearural, como o Luz para todos e estariasensível a uma política que vinculasseagroenergia familiar com a reforma agrá-ria, da mesma forma que organizou adefesa do MST na CPI no Congresso,com a participação do PMDB como de-fensor.

O problema não era a crítica à lenti-dão do governo, em permanente confli-to com a sua base política, era o nãoreconhecimento das possibilidades queeste abria para que os movimentos so-ciais disputassem maiores espaços. To-dos os movimentos sociais e também omovimento sindical tiveram dificuldadespara condicionar ainda mais o “seu” go-verno. Tiveram dificuldades em reco-nhecer que por ele foram superados,inclusive à esquerda. E sobretudo, pornão manejar a tática das alianças, porter alergia atávica às “oligarquias”, mes-mo quando estas apoiavam nas votaçõesaos projetos mais audazes do governo,como a re-estatização do petróleo e acriação da EBC. Ao fazer isso, não fo-ram as oligarquias a se fortalecerem, elasse agarraram a Lula como o enforcadoà corda. Alguns segmentos da esquerdatalvez estejam fazendo uma leitura dadialética ao reverso.

Entre tantas conquistas, como areativação da Telebrás, criação da EBCe a realização da Iª Conferência Nacio-nal de Comunicações passaram desper-cebidas por grande parte do movimentosindical e, curiosamente, dos própriosjornalistas. Um enorme investimento foifeito, e introduziu-se um novo panora-ma informativo e cultural no país, umajanela de cidadania e uma ferramenta deinformação importante para o governopopular. Talvez tenha sido um dos maisdifíceis embates de Lula contra as oli-garquias midiáticas, que acabou abrin-do este espaço com fórceps, mas nãohouve envolvimento maior das forças po-pulares organizadas. Sem ele, a conquis-ta pode cair em mãos erradas. A sensi-bilidade explosiva neste setor pode sermedida pelas dificuldades enfrentadaspor Chávez ao fortalecer a comunica-ção pública e ao exercer a prerrogativapresidencial de renovar ou não uma con-cessão televisiva terminada. Foi trans-formado no diabo mundial, muito em-bora tenha maioria parlamentar e estejadentro da legalidade democrática. Semmaioria parlamentar de esquerda, Lulapreferiu caminhar com cautela.

Que seja claro: Dilma é continuaçãodo governo em disputa, não a conquistado socialismo. Mas o patamar de con-quistas é tal, que somente com um novoe poderoso movimento social organiza-do, poderemos passar a uma nova fase,construindo órgãos de poder e partici-pação reais, depurando o parlamento dos600 picaretas (esta é a radiografia doCongresso atual:e m p r e s á r i o s ,oligarcas, lati-fundiários, pro-fissionais e pro-curadores de in-teresses privadose somente umaminoria autenti-camente popu-lar) e impondo li-deranças autenti-camente popula-res nos proces-sos legislativos enos executivos aníveis federal,estadual e muni-cipal, nos apara-tos de justiça,nos órgãos decontrole, até quesurjam outrasformas maisavançadas dedemocracia dire-ta e popular.

Estão dadas ascondições paraum novo saltona integraçãolatinoamericana, para que o novo Bra-sil-potência seja paradigma de progres-so social e de conquistas, e não se torneuma potência capitalista a mais com viésde imperialismo regional. Se as elites vol-tarem ao controle deste processo, istoserá inevitável, as conquistas podem re-troceder, como retrocederam na Euro-pa. Não há que se ter ilusões a este res-peito, prometa o que prometer Serra!Se, vice-versa, os movimentos popula-res, os partidos de esquerda, os sindi-catos, entenderem que podem realmen-te condicionar o governo elevando o pa-tamar das conquistas e combatendo con-tra qualquer retrocesso, disputando pal-mo a palmo uma maior distribuição derenda, a realização plena do que já estáprevisto nas leis, no SUS, nos tantos Es-tatutos que ainda são textos inaplicados,a realização plena da Reforma Agrária,da reforma psiquiátrica.

As alianças internacionais progres-sistas reforçam um horizonte idealde mudanças sociais.

Dependerá dos movimentos popula-res garantir o apoio à diplomacia do paíscom consolidação das alianças interna-cionais com os BRICs, com os emer-gentes, com a África do Sul, Irã, refor-

çando e transfor-mando o Mercosul,a UNASUR, o Con-selho de Defesa Sul-americano, estasduas enormes con-quistas do governoLula que devem re-ceber apoio no go-verno Dilma, queparece não ter amesma compreen-são e visão de mun-do, mas que deveaprender. Lembrarque as alianças inter-nacionais anti-impe-rialistas e progres-sistas são funda-mentais no horizon-te de uma transfor-mação socialista!Dar suporte aos po-vos que se libertamda opressão e inte-grar-se a eles paraconquistar novospatamares de justiçasocial é fundamen-tal para que o Brasilseja uma potênciatransformadora e

não imperial e conservadora ou pior, obraço das grandes potências contra ospovos latino-americanos que se libertam.

Por todo o exposto, declaramos onosso total apoio à candidatura de DilmaRousseff para a Presidência da Re-pública, fazendo um chamado à es-querda, aos sindicatos, aos movimen-tos populares e sociais a cerrar filei-ras para garantir sua eleição, se pos-sível, no primeiro turno, a incorporarsuas críticas para fortalecer o lado po-pular da aliança de governo reforçandoa plataforma de esquerda, exigindo ocumprimento das propostas. Uma vitó-ria ampla e irrefutável representará tam-bém um condicionante para que as ca-racterísticas mais avançadas e audazesdo programa de Lula tenham continui-dade; uma vitória no fio da navalha darámais força à ala conservadora da aliança

de governo e alento à futura oposição,para frear, distorcer, tergiversar econdicionar o novo governo.

Chamamos, portanto, a não desperdi-çar votos com candidaturas como a deMarina Silva que, embora legítima, em-bora portadora de propostas de defesado meio ambiente e de continuidade dosprogramas sociais, como também de re-formas políticas a que todos aspiram,estas podem ser perfeitamente rea-lizadas pela futura presidente Dilmae com uma base de apoio muito maisampla e com maior eficácia. Marinarecolhe a insatisfação, o protesto, o ra-dicalismo de setores ambientalistas e daclasse média sensíveis à questão ética.Mas, Entretanto, seu discurso é ambí-guo com relação a questões estratégi-cas como o posicionamentoantiimperialista do governo Lula, suapolítica internacional, o papel nefasto daprivataria dos governos neoliberais, opapel do Estado na economia. Especial-mente quando defende políticas econô-micas completamente identificadas comSerra, como por exemplo, reivindican-do o corte de gastos e a austeridade.Sem aumento de investimentos públicos,portanto, sem aumento de gastos, nãose poderá realizar as inadiáveis obras deinfra-estrutura que um país do porte doBrasil – não somos um Uruguai de 3milhões de habitantes – necessita coma máxima urgência para continuar fun-cionando, para fazer crescer a econo-mia, para gerar mais empregos que in-cluam os desempregados crônicos e osnovos que chegam a um mercado de tra-balho que, embora crescente no gover-no Lula, está ainda aquém das possibili-dades de um país que registra dramáti-cas desigualdades e injustiças sociais. Aausteridade reclamada por Serra, e re-petida por Marina, é em favor da oligar-quia financeira e contra a expansão domercado interno. As massas viveramdécadas sob a austeridade mais perver-sa, no subconsumo, no subemprego, dosubsalário, da privação generalizada, en-quanto os rentistas do bolsa-banqueiroviveram sempre na mais indecente opu-lência. É preciso hora de aumentar radi-calmente os investimentos públicos dan-do continuidade às políticas instaladaspor Lula e criando as condições políti-cas, inclusive com uma maioria parla-mentar e maior participação dos movi-mentos sociais, para que se faça umaprofundamento das políticas atuais,votando em Dilma Rousseff!

15 de Julho de 2010

FSM em Belém e a integração latino-americana

Dilma con Vo Nguyen Giap no Vietnã (julho-2008)

Visita de Ahmadinejad ao Brasil