revoluÇÃo inglesa de 1640 - 1649: estratÉgias dos … · (hill, christopher, 1955, p.13)....

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Castelo Branco Científica - Ano III - Nº 05 - janeiro/junho de 2014 - www.castelobrancocientifica.com.br 1 Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 REVOLUÇÃO INGLESA DE 1640 - 1649: ESTRATÉGIAS DOS EXÉRCITOS Bruno Antônio Morais de Almeida 1 RESUMO: Este trabalho de pesquisa tem como objetivo compreender a Revolução Inglesa de 1640 a partir do estudo da organização militar; identificar as diferentes estratégias de lutas de classes de Exércitos do Rei Carlos I e Parlamentar comandado por Oliver Cromwell para alcançar a vitória durante a Revolução Inglesa (1640-1649); relacionar os resultados das lutas de classes de exércitos com suas estratégias adotadas e, por fim, ponderar os resultados dessas lutas de classes de exércitos da Revolução Inglesa (1640-1649). Sendo no âmbito das estratégias que surgem as pri- meiras derrotas e vitórias revolucionárias e reais. A justificativa para de- senvolver essa pesquisa da Revolução Inglesa de 1640 - 1649: Estratégias dos exércitos surge em decorrência da real comprovação de somente ser possível construir novos sistemas de poder baseadas no uso da força asso- ciadas ou não com as estratégias, logo, somente se modifica determinada sociedade dentro desse processo evolutivo em qualquer tempo e espaço. Este projeto de pesquisa contribuirá de forma significativa para ampliar os estudos das estratégias militares com ênfase no período da Revolução 1 Discente do 6º semestre do Curso de História pela Universidade Federal do Oeste da Bahia - UFOB - Barreiras. Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID - História pela Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior - CAPES. E-mail: [email protected]

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REVOLUÇÃO INGLESA DE 1640 - 1649: ESTRATÉGIAS DOS EXÉRCITOS

Bruno Antônio Morais de Almeida1

RESUMO: Este trabalho de pesquisa tem como objetivo compreender a Revolução Inglesa de 1640 a partir do estudo da organização militar; identifi car as diferentes estratégias de lutas de classes de Exércitos do Rei Carlos I e Parlamentar comandado por Oliver Cromwell para alcançar a vitória durante a Revolução Inglesa (1640-1649); relacionar os resultados das lutas de classes de exércitos com suas estratégias adotadas e, por fi m, ponderar os resultados dessas lutas de classes de exércitos da Revolução Inglesa (1640-1649). Sendo no âmbito das estratégias que surgem as pri-meiras derrotas e vitórias revolucionárias e reais. A justifi cativa para de-senvolver essa pesquisa da Revolução Inglesa de 1640 - 1649: Estratégias dos exércitos surge em decorrência da real comprovação de somente ser possível construir novos sistemas de poder baseadas no uso da força asso-ciadas ou não com as estratégias, logo, somente se modifi ca determinada sociedade dentro desse processo evolutivo em qualquer tempo e espaço. Este projeto de pesquisa contribuirá de forma signifi cativa para ampliar os estudos das estratégias militares com ênfase no período da Revolução

1Discente do 6º semestre do Curso de História pela Universidade Federal do Oeste da Bahia - UFOB - Barreiras. Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID - História pela Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior - CAPES. E-mail: [email protected]

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Inglesa de 1640. Tendo como metodologias as análises documentais do período da Revolução Inglesa de 1640; aliando o conhecimento teórico marxista da obra o Manifesto do Partido Comunista com as minhas obser-vações e análises críticas.PALAVRAS-CHAVE: Classes; Estratégias; Exércitos; Força; Lutas; Re-volução

INTRODUÇÃO

Antes de iniciar este estudo específi co ao quais outros historiadores e, agora, igualmente faço, logo, designo-a de Revolução Inglesa de 1640, porém, é necessário informar seguindo nesse fl uxo que não foi somente uma revolução no século XVII, mas uma série de revoluções na Inglaterra, conforme se verifi ca: “As Revoluções Inglesas do século XVII criaram as condições políticas e econômicas para a industrialização da Inglaterra.” (APOLINÁRIO, 2007, p.64, grifo do autor).

CONCEITO SOCIOLÓGICO DE REVOLUÇÃO

Antes de iniciarmos nosso estudo específi co, convém analisar o fenômeno da revolução sob o ponto de vista sociológico. Segundo Ruy Ruben Rus-chel2 sobre o conceito sociológico da revolução:

2Desembargador aposentado do TJ-RS. Doutor em Direito e Livre-Docente em Direito Constitucional. Titular de Direito Constitucional no Mestrado da PUC-RS. Membro Efetivo do Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul e do Instituto Histórico e Geográfi co do Rio Grande do Sul.

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Não são unânimes os sociólogos, como também os cientistas polí-ticos, em bem caracterizar o que seja uma revolução. Uns dela têm um conceito mais largo, outros, mais restrito. Juntando-se os traços mais freqüentemente admitidos pelos estudiosos do assunto, poder--se-ia dizer: “revolução é o processo de mudanças rápidas e profun-das da estrutura de uma sociedade e de seu sistema de poder, ge-ralmente acompanhadas de muita violência.” A revolução francesa, por exemplo, consistiu na troca da aristocracia da terra pela burgue-sia do dinheiro, no controle do Estado, com todas as conseqüências sociais correlatas, transformação esta que se operou em poucos anos após 1789, acompanhada de toda a espécie de violências, ofi cializa-das ou não, desde simples confi scos e expulsões até numerosíssimas prisões e matanças. Fenômeno idêntico ocorreu na Rússia, a partir de 1917, quando a estrutura feudal e capitalista foi substituída por um modelo comunista de ditadura do proletariado, no meio de mi-lhões de vítimas. Essas duas, a francesa e a russa, são consideradas as mais clássicas; porém muitas outras, mais ou menos tipifi cadas, poderiam ser trazidas à colação. (RUSCHEL, 1997, p.59-60).

DESENVOLVIMENTO

Quais as causas das primeiras derrotas dos revolucionários ingleses de 1640? E quais as causas das primeiras vitórias do exército do rei? Em hi-pótese isso se deveu a desorganização do exército dos parlamentares frente ao organizado exército do rei. A Revolução Inglesa de 1640 foi resultado dos abusos cometidos pelas autoridades dos reis das dinastias dos Tudor (Henrique VII, Henrique VIII e Elizabeth I - sécs. XV - XVII) e Stuart (Rei Jaime I, Carlos I, Carlos II, Jaime II, Guilherme - sécs. XVII - XVIII). Uma série de acontecimentos assolava a classe da baixa burguesia e campone-ses expulsos dos campos com a política dos cercamentos iniciada ainda no século XVI na dinastia Tudor e acirrada na dinastia dos Stuart até o

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século XVIII, e que davam direitos aos grandes proprietários de terras para produzirem tecidos provenientes da lã das ovelhas. Segundo Christopher Hill sobre essa questão estratégica para o bom funcionamento do sistema feudal-capitalista na Inglaterra:

A agricultura <<progressiva>> (isto é, capitalista) dos séculos XVI e XVII conduziu à expropriação de inúmeros pequenos camponeses; a riqueza produzida pelos novos métodos concentrou-se nas mãos de um pequeno grupo de exploradores; a comunidade de aldeia foi des-truída. (HILL, 1955, p.9).

Logo, a dinastia dos Stuart foi marcada pela ambição do poder absoluto e pela busca incansável do enfraquecimento dos burgueses, em geral, dos pequenos burgueses, que como vimos somente os grandes burgueses pro-prietários de terras e produtores de lã faziam parte do círculo de poder e prestígio dos Stuart. Analisando em específi co o governo de Carlos I, não conseguindo manter os acordos com o Parlamento e muito menos a paz nos territórios ingleses este infl ige uma ação militar contra os parlamentares contrários à sua autoridade. O rei Carlos I com o apoio do exército de cavalaria estava a priori numa posição estratégica já bastante defi nida, em que há muito tempo estavam experimentados desde as guerras de vassalagem, ao contrário, os parla-mentares eram representados pelos cabeças redondas3. Logo, analisando esse momento histórico de revolução inglesa de 1640 é imprescindível

3Membros ou defensores do partido Parlamentar ou Puritano, durante a guerra civil; na origem, o termo referia-se ao cabelo cortado curto dos Puritanos, em contraste com o cabelo comprido do Cavaliers (N.T).

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notabilizarmos as divisões de exércitos que possibilitaram as campanhas militares. Segundo Christopher Hill:

A Guerra Civil foi uma guerra de classe, em que o despotismo de Carlos I foi defendido por forças reaccionárias da Igreja vigente e dos proprietários de terras conservadores. O Parlamento venceu o Rei porque pôde apelar para o apoio entusiástico das classes mer-cantis e industriais na cidade e no campo, para os pequenos pro-prietários rurais e a pequena nobreza progressiva e para massas mais vastas da população, sempre que, pela livre discussão, estas se tornavam capazes de compreender as causas reais da luta. (HILL, Christopher, 1955, p.12).

Uma série de fatores como quantidade, qualidade, armas, estratégias, mo-ral pode decidir ou não uma guerra. Para tanto irei identifi car esses fatores e transitar em busca da adequada efi ciência das suas utilizações durante a Revolução Inglesa de 1640. Uma estratégia de luta da Classe de Exército Parlamentar é segundo Christopher Hill:

A explicação da revolução do século XVII mais comum, é a que foi apresentada pelos leaders do Parlamento em 1640, nas suas declara-ções de propaganda e apelos ao povo. E tem sido repetida desde aí, com pormenores e enfeites adicionais, pelos historiadores Whigs e liberais. Esta explicação diz que os exércitos parlamentares lutavam pela liberdade do indivíduo e pelos seus direitos, consagrados na lei, contra um Governo tirânico, que o lançava para a prisão sem processo jurídico, o tributava sem o seu consentimento, aquartelava soldados na sua casa, lhe saqueava os bens e procurava destruir as suas estimadas instituições parlamentares. Ora, tudo isto é verdade, por agora. Os Stuarts procuravam realmente impedir o povo de se reunir e de participar de discussões, cortavam as orelhas dos que cri-

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ticavam o governo, cobravam arbitrariamente as taxas, desiguais na sua incidência, tentaram fechar o Parlamento e nomear funcionários para governarem o país. Tudo isto é verdade; E, se bem que no sécu-lo XVII o Parlamento fosse ainda menos genuinamente representa-tivo do comum das pessoas do que é hoje, contudo a sua vitória era importante, na medida em que punha alguns limites ao governo au-tônomo das classes mais ricas da sociedade. (HILL, 1955, p.13-14).

É fato notório que o governo de Carlos I desde muito tempo já vinha per-dendo poder político e econômico na Inglaterra e nos seus territórios ane-xados. Isso se deveu ao seu governo tirânico de centralização do poder em suas mãos com o absolutismo real. Em contrapartida, o Parlamento objetiva ganhar a política dentro de casa! O Parlamento tinha um objetivo defi nido o que é importante para qualquer empreendimento: ascensão do capitalismo. É tentador aos historiadores indagar: Carlos I não defendia o capitalismo uma vez que garantia aos grandes proprietários burgueses a liberdade de pro-dução de lã das ovelhas para confecção de tecidos? Isso não renderia enor-mes capitais para o desenvolvimento industrial da Inglaterra? A indagação é difícil responder, mas tentarei respondê-la. Se analisarmos somente o fato de acúmulo de capitais para a Inglaterra isso seria correto defender, porém, a verdade é que esse fenômeno se concentrou nas mãos de uma minoria elítica associada com os abusos de poder de Carlos I. Ao contrário, a baixa burgue-sia ambicionava maiores participações populares e mais possibilidades de ascensão de classe. O que segundo Christopher Hill:

Não obstante, produzia-se mais riqueza: a alternativa teria sido a estagnação econômica ou a retrogressão. A Espanha dos séculos XVIII e XIX mostra o que essa estagnação teria signifi cado para a vida política e cultural da comunidade. A longo prazo, a criação de uma nova riqueza, com a ascensão do capitalismo em Inglaterra,

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abriu a possibilidade de uma distribuição mais equitativa em no-vos moldes, tal como os horrores da revolução industrial, no século XIX, criaram a base económica para uma transição para o socialis-mo. (HILL, 1955, p.9).

Existe uma máxima que afi rma: “A propaganda é a alma do negócio.” Isso é uma verdade que foi bastante aplicada durante a Revolução Inglesa de 1640 por ambas as classes, conforme afi rma Christopher Hill:

A explicação da revolução do século XVII mais comum, é a que foi apresentada pelos leaders do Parlamento em 1640, nas suas declara-ções de propaganda e apelos ao povo. E tem sido repetida desde aí, com pormenores e enfeites adicionais, pelos historiadores Whigs e Liberais. (HILL, Christopher, 1955, p.13).

Baseando-me na Teoria Marxista, em que a mesma apresenta as várias estratégias de lutas da classe do proletariado de forma a alcançar a vitória, entendamos nesse caso vitória como a ascensão do socialismo e comunis-mo, Karl Marx preconiza que a propaganda é desenvolvida antes e durante a revolução como plano ideológico antes mesmo do plano prático, exem-plo a literatura de Babeuf. Segundo Karl Marx sobre essa estratégia de luta das classes em confl ito:

No lugar da atividade social, aparece necessariamente sua atividade inventiva, pessoal; no lugar das condições históricas da libertação, apenas condições fantasiosas; no lugar da organização paulatina do proletariado até se constituir em classe, apenas a organização de uma sociedade inventada por eles. A história futura do mundo resume-se à pura propaganda e à execução prática de seus planos sociais. (MARX, Karl, 2008, p.61).

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Mas afi nal, qual a explicação plausível para essa realidade histórica em que a propaganda ideológica seja por meio da literatura seja por meio do dis-curso no Parlamento inglês é extremamente utilizada? Segundo Karl Marx:

Como a evolução do confl ito de classes acompanha o desenvolvi-mento da indústria, os socialistas e comunistas utópicos não encon-tram tampouco as condições materiais para a libertação do prole-tariado e procuram uma ciência social, leis sociais, que crie essas condições. (MARX, 2008, p.60).

Logo, a propaganda foi uma das primeiras estratégias utilizadas pela classe Parlamentar e seus líderes de forma efi ciente com o objetivo de conquistar a massa inglesa. Além dos discursos fervorosos dos parlamentares, sendo assim superior ao discurso do rei Carlos I, outra estratégia de propaganda adotada por ambos as classes buscando o apoio de seus comandados foi o uso da astrologia com seus discursos astrológicos na fi gura dos astrólogos, estes sendo fi nanciados por Carlos I e pelos parlamentares infl uenciavam signifi cativamente nas previsões astrológicas favorecendo assim o seu lado do campo. Isso seria possível? Segundo Juliana Ferreira sobre o poder de infl uência dos astrólogos para a Guerra Civil na Inglaterra:

Logo no início do século XVII, Francis Bacon, um dos fi lósofos in-gleses mais infl uentes, acenou com a possibilidade de prever even-tos relacionados a grandes massas populacionais, incluindo eventos de caráter político e religioso. Para ele, a previsibilidade das guerras era comparável à previsibilidade das inundações. Eram ocorrências naturais, que permitiam prognósticos igualmente legítimos. Durante a Guerra Civil, a capacidade efetiva de motivação das previsões po-líticas foi explorada. A astrologia serviu como “propaganda de guer-ra” a ambos os lados do confl ito. As previsões sobre o desenrolar

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dos combates eram aceitas pela maior parte dos pobres soldados que se amontoavam nos campos de batalha. Promessas de vitória eram o encorajamento de que muitos precisavam, e alguns astrólogos, cientes disso, fi zeram uso de seus escritos como instrumentos de persuasão. O ritmo daquela “batalha de publicações” foi frenético, e pareceu coincidir com o próprio ritmo intenso dos combates. Nos seus almanaques anuais e outras obras publicadas incessantemen-te, astrólogos como George Wharton, William Lilly e John Booker apresentaram prognósticos sobre questões políticas, sociais e reli-giosas. Os astrólogos, estivessem eles a favor do rei Charles I ou do Parlamento, tinham consciência do poder da “arma de propaganda” em suas mãos. (FERREIRA, 2007).

Outra estratégia aplicada nesse período de guerra civil na Inglaterra por parte dos soldados milicianos da classe dos parlamentares foi por meio de atentados terroristas, isso era uma realidade que fazia parte do universo das revoluções inglesas, conforme se verifi cou no caso que fi cou conhecido como “A conspiração da pólvora de 1605” em que o rei Jaime I era o prin-cipal alvo e seus súditos da alta burguesia.

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Terror em Londres: A conspiração da pólvora de 1605

Na ilustração, o rei Jaime I interroga Guy Fawkes antes de sua execução. Foto: Getty Images (VOLTAIRE, 2013)

ÚLTIMA BATALHA DA REVOLUÇÃO INGLESA DE 1640 – 1649

A guerra política travada entre o rei Carlos I e o Parlamento chegou ao seu auge com manifestações populares contra a postura tirânica do rei, este ao descumprir a Petição de Direitos do Parlamento desativando essa institui-ção por meio da força militar. Em 1640, o rei Carlos I reativa o Parlamento com o objetivo de obtenção de recursos para acabar com os confl itos de religiões escocesas.

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O retorno do Parlamento é também o marco do surgimento de uma fi gura emblemática de nome Oliver Cromwell que juntos organizaram as tribu-tações e as causas religiosas inglesas. O Parlamento decreta autonomia de funcionamento da instituição parlamentar e proíbe o rei Carlos I a possuir um exército. Logo, Carlos I combate mais uma vez o Parlamento, porém, este consegue organizar a milícia do povo. Segundo Rainer Souza sobre esse momento crítico de término da Revolução Inglesa de 1640 – 1649:

O rei se deslocou para a cidade de Oxford, onde organizou a formação de um exército com mais de 20 mil homens fi éis à causa realista. Para tanto, contou com o apoio de membros da nobreza britânica e fi guras conservadoras da grande burguesia. Do outro lado, os parlamentares contaram com o apoio de pequenos burgueses, artesãos, proletários e camponeses para a formação do Exército de Novo Tipo. A ação dos revolucionários foi liderada por um pequeno proprietário de terras puritano chamado Oliver Cromwell. Liderando o Exército de Novo Tipo, esse novo líder promoveu a organização de tropas organizadas por meio da incorporação de soldados que poderiam ascender militarmente graças ao bom desempenho de suas funções. As fi leiras desse exército foram tomadas pelos “roundheads”, puri-tanos que não utilizavam as perucas que simbolizavam as tradições nobiliárquicas. Na batalha de Naseby, travada em 1645, a vitória das tropas lideradas por Oliver Cromwell forçaram Carlos I a se refugiar na Escócia. Naquela região, onde sua fi gura era pouco apre-ciada, acabou sendo entregue às forças revolucionárias por meio da denúncia do próprio Parlamento escocês. Logo em seguida, Carlos I conseguiu fugir das mãos dos revolucionários, possibilitando uma rápida reorganização das tropas anti-revolucionárias. Entretanto, os realistas não conseguiram bater os exércitos revolucionários que conseguiram recapturar Carlos I. Em meio às agitações do processo revolucionário, o rei foi decapitado e a República foi proclamada na Inglaterra. Com isso, Oliver Cromwell chegou ao poder dando fi m

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à hegemonia monárquica em solo britânico. A revolução puritana chegou ao seu fi m, abrindo novas possibilidades políticas dentro da Inglaterra. (SOUSA, Rainer, 2014).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A conclusão é que a Revolução Inglesa de 1640 - 1649 foi efeito de uma série de fatores que aqui tentei delinear, em especial do absolutismo do rei Carlos I, algo impossível de ser realizado para a época como não existia uma comunica-ção com o Parlamento. Foi um revanchismo de outros tempos com outros reis absolutistas. Concluo que a classe baixa burguesa estava por assim dizer por vezes em situação estratégica vulnerável, mas que conseguiu organizar forças ir-regulares de luta revolucionária. Fatores imprescindíveis por vezes numa guerra estavam do lado do rei Carlos I como, por exemplo, a experiência versus a classe de exército Parlamentar não tão experiente em guerras. Porém, como apresentei nem sempre esses fatores defi nem um confl ito, pois, o uso da força é apenas mais uma estratégia a ser considerada. Logo, outras podem ser aplicadas.

REVOLUTION ENGLISH 1640 - 1649: STRATEGIES OF HOSTS

ABSTRACT: This research aims to understand the English Revolution 1640 from the study of military organization , identifying the different strategies of class struggles of armies of King Charles I and the Parlia-mentary commanded by Oliver Cromwell to achieve victory during the Revolution English (1640-1649) ; relate the results of the class struggles of armies with their adopted strategies and, fi nally , consider the results of these class struggles of armies of the English Revolution ( 1640-1649 ). Being within the strategies which are the fi rst revolutionary defeats and

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victories and real. The rationale for developing this research the English Revolution de1640 -1649 : Strategies of hosts arises due to the real proof only be possible to build new power systems based on the use of force or not associated with the strategies , so only changes given society wi-thin this evolutionary process at any time and space. This research project will contribute signifi cantly to expand the studies of military strategy with emphasis on the period of the English Revolution of 1640. Having such methodologies documentary analyzes the period of the English Revolution 1640, combining Marxist theoretical knowledge of the work the Commu-nist Manifest with my observations and analysis critical. A conclusion is that the English Revolution 1640-1649 was driven by a number of factors that have tried to outline here, in particular the absolutism of King Char-les I, which is impossible to be carried out for the season as there was no communication with the Parliament. It was a revenge of other times with other absolutist kings. Conclude that the low bourgeois class was so mean sometimes in vulnerable strategic position, but managed to organize irre-gular forces of revolutionary struggle. Indispensable factors sometimes a war were on the side of King Charles I, for example, the experience versus the class of Parliamentary army not as experienced in wars. But not always presented as these factors defi ne a confl ict because the use of force is just another strategy to consider. Soon, others may apply.

KEYWORDS: Classes; Strategies; Hosts; Force; Fights; Revolution

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Referências

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FERREIRA, Juliana Mesquita Hidalgo. Revista Brasileira de História. Propaganda e crítica social nas cronologias dos almanaques astrológi-cos durante a Guerra Civil inglesa no século XVII. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?pid%3DS0102-01882007000200011%26script%3Dsci_arttext+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em 10 de Fev. de 2014.

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