revista1861

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R EVISTA E SPÍRITA Jornal de Estudos Psicológicos

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  1. 1. REVISTA ESPRITA Jornal de Estudos Psicolgicos
  2. 2. REVISTA ESPRITA Jornal de Estudos Psicolgicos Contm: O relato das manifestaes materiais ou inteligentes dos Espritos, aparies, evocaes, etc., bem como todas as notcias relativas ao Espiritismo. O ensino dos Espritos sobre as coisas do mundo visvel e do invisvel; sobre as cincias, a moral, a imortalidade da alma, a natureza do homem e o seu futuro. A histria do Espiritismo na Antigidade; suas relaes com o magnetismo e com o sonambulismo; a explicao das lendas e das crenas populares, da mitologia de todos os povos, etc. Publicada sob a direo de ALLAN KARDEC Todo efeito tem uma causa. Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. O poder da causa inteligente est na razo da grandeza do efeito. ANO QUARTO 1861 TRADUO DE EVANDRO NOLETO BEZERRA FEDERAO ESPRITA BRASILEIRA
  3. 3. SumrioQUARTO VOLUME ANO DE 1861 JANEIRO Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espritas:15 O Livro dos Mdiuns 22 A Bibliografia Catlica Contra o Espiritismo 24 Carta Sobre a Incredulidade 1a parte 35 O Esprito Batedor do Aube 46 Ensinos Espontneos dos Espritos: Os trs tipos 55 Cazotte 56 A voz do Anjo-da-Guarda 58 Garridice 59
  4. 4. FEVEREIRO Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espritas: 61 O Sr. Squire 66 Escassez de Mdiuns 74 Carta Sobre a Incredulidade 79 Conversas Familiares de Alm-Tmulo: O Suicdio de um Ateu 89 Questes e Problemas Diversos 96 Ensino dos Espritos: Ano de 1860 98 Ano de 1861 99 Comentrio sobre o ditado publicado sob o ttulo de O despertar do Esprito 100 Os trs tipos continuao 102 A harmonia 105 MARO O Homenzinho Ainda Vive A Propsito do Artigo do Sr. Deschanel, Publicado no Journal des Dbats 107 A Cabea de Garibaldi 121 Assassinato do Sr. Poinsot 125 Conversas Familiares de Alm-Tmulo: Sra. Bertrand 128 Srta. Pauline M... 134
  5. 5. Henri Murger 137 O Esprito e as rosas 140 Ensinos e Dissertaes Espritas: A lei de Moiss e a lei do Cristo 142 Lies familiares de moral 145 Os missionrios 148 A Frana 149 A ingratido 151 ABRIL Mais uma Palavra Sobre o Sr. Deschanel 153 O Sr. Louis Jourdan e O Livro dos Espritos 156 Apreciao da Histria do Maravilhoso, do Sr. Louis Figuier, pelo Sr. Escande, Redator da Mode Nouvelle 168 O Mar, pelo Sr. Michelet 180 Conversas Familiares de Alm-Tmulo: Alfred Leroy, suicida 182 Jules Michel 187 Correspondncia 189 Ensinos e Dissertaes Espritas: Vai nascer a verdade 192 Progresso de um Esprito perverso 193 Sobre a inveja nos mdiuns 195
  6. 6. MAIO Sociedade Parisiense de Estudos Espritas Discurso do Sr. Allan Kardec por Ocasio da Renovao do Ano Social 199 O Anjo da Clera 209 Fenmenos de Transporte 213 Conversas Familiares de Alm-Tmulo O Dr. Glas 224 Questes e Problemas Diversos 230 Ensinamentos e Dissertaes Espritas: Sra. de Girardin 238 A pintura e a msica 240 Festa dos Espritos bons 240 Vinde a ns 241 Progresso intelectual e moral 242 A inundao 243 JUNHO Channing Discurso Sobre a Vida Futura 245 Correspondncia Carta do Sr. Roustaing, de Bordeaux 253 A Prece 260 Conversas Familiares de Alm-Tmulo: O Marqus de Saint-Paul 262 Henri Mondeux 265 Sra. Anas Gourdon 270
  7. 7. Efeitos do Desespero 273 Dissertaes e Ensinos Espritas: Muitos os chamados, poucos os escolhidos 278 Ocupao dos Espritos 280 O deboche 282 Sobre o perisprito 284 O Anjo Gabriel 284 Despertai 285 O gnio e a misria 286 Transformao 287 A separao do Esprito 288 JULHO Ensaio Sobre a Teoria da Alucinao 289 Uma Apario Providencial 296 Conversas Familiares de Alm-Tmulo Os amigos no nos esquecem no outro mundo 300 Correspondncia 304 Desenhos Misteriosos 309 Explorao do Espiritismo 313 Variedades: As vises do Sr. O. 316 Os Espritos e a gramtica 319
  8. 8. Dissertaes e Ensinos Espritas: O papel dos mdiuns nas comunicaes 322 Hospital Pblico 326 A prece 330 AGOSTO Aviso 333 Fenmenos Psicofisiolgicos das Pessoas que Falam de si Mesmas na Terceira Pessoa 333 Manifestaes Americanas 339 Conversas Familiares de Alm-Tmulo: Dom Peyra, prior de Amilly 342 Correspondncia Carta do Sr. Mateus Sobre os Mdiuns Trapaceiros352 Dissertaes e Ensinos Espritas: Da influncia moral dos mdiuns nas comunicaes 355 Dos transportes e outros fenmenos tangveis 358 Os animais mdiuns 363 Povos, silncio! 368 Jean-Jacques Rousseau 370 A controvrsia 371 O pauperismo 373 A concrdia 374 A aurora dos novos dias 375
  9. 9. SETEMBRO O Estilo o Homem Polmica Entre Vrios Espritos 377 Conversas Familiares de Alm-Tmulo A pena de talio 394 Correspondncia: Carta do Sr. Mathieu sobre a mediunidade das aves 398 Carta do Sr. Jobard sobre os espritas de Metz 402 Dissertaes e Ensinos Espritas: Um Esprito israelita a seus correligionrios 408 Variedades Notcia falsa 419 OUTUBRO O Espiritismo em Lyon 421 Banquete Oferecido ao Sr. Allan Kardec 427 Discurso do Sr. Allan Kardec 430 Epstola de Erasto aos Espritas Lioneses 439 Conversas Familiares de Alm-Tmulo Eugne Scribe 447 Ensinamentos e Dissertaes Espritas: Os cretinos 451 Se fosse um homem de bem, teria morrido 454 Os pobres e os ricos 455 Diferentes maneiras de fazer a caridade 456 Roma 457 O Coliseu 458
  10. 10. A Terra Prometida 460 Egosmo e orgulho 462 Sociedade Esprita de Metz 463 NOVEMBRO Resqucios da Idade Mdia O Auto-de-f de Barcelona 465 Opinio de um Jornalista sobre O Livro dos Espritos 470 O Espiritismo em Bordeaux 473 Reunio Geral dos Espritas Bordeleses: Discurso do Sr. Sab 477 Consideraes sobre o Espiritismo 480 Discurso do Sr. Allan Kardec 490 Primeira epstola de Erasto aos espritas de Bordeaux 501 Banquete Oferecido a Allan Kardec pelos Espritas Bordeleses: Discurso e brinde do Sr. Lacoste 506 Brinde do Sr. Sab 508 Discurso do Sr. Desqueyroux 509 Discurso e brinde do Sr. Allan Kardec 511 Poesias do Momento, Ditadas pelo Sr. Dombre: Os camponeses e o carvalho 514 O ourio, o coelho e a pega 516 Bibliografia: O Livro dos Mdiuns, 2a edio 517
  11. 11. O Espiritismo ou Espiritualismo em Metz 518 O Fluido Universal 519 Efeitos da Prece 520 O Espiritismo na Amrica 521 DEZEMBRO Aviso 527 Novas Obras do Sr. Allan Kardec a Serem Publicadas Brevemente 528 Organizao do Espiritismo 528 Necrologia Morte do Sr. Jobard, de Bruxelas 547 Auto-de-f de Barcelona 550 A Toutinegra, o Pombo e o Peixinho Fbula 554 O Sobrenatural 556 Meditaes Filosficas e Religiosas 562 Nota Explicativa 567
  12. 12. Revista Esprita Jornal de Estudos Psicolgicos ANO IV JANEIRO DE 1861 No 1 Boletim DA SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPRITAS (Resumo das Atas) Sexta-feira, 16 de novembro de 1860 Sesso particular Admisso de dois novos membros. Comunicaes diversas: 1o Leitura de vrias dissertaes recebidas fora das sesses. 2o Carta do Sr. de Porry, de Marselha, presenteando a Sociedade com a segunda edio de seu poema intitulado Urnia. A Sociedade agradece ao autor por lhe haver permitido apreciar o seu talento e sente-se feliz por v-lo aplicar-se s idias espritas. Revestindo a forma graciosa da poesia, essas idias tm um charme que as tornam mais facilmente aceitveis por aqueles a quem poderia melindrar a severidade da forma dogmtica.
  13. 13. REVISTA ESPRITA 16 3o Carta do Sr. L..., fornecendo novos detalhes sobre o Esprito batedor e obsessor, do qual a Sociedade j se ocupou. (Ver o relato mais adiante). 4o Carta das senhoras G..., do Departamento do Indre, sobre as brincadeiras de mau gosto e as depredaes de que so vtimas h vrios anos, e que atribuem a um Esprito malvolo. Trata-se de seis irms; malgrado todas as precaues que tomam, suas roupas so tiradas das gavetas dos mveis, mesmo fechadas a chave, e muitas vezes so cortadas em pedaos. 5o O Sr. Th... relata um caso de obsesso violenta, exercida sobre o mdium por um Esprito mau, ao qual aquele conseguiu dominar e expulsar. Dirigindo-se ao Sr. Th..., esse Esprito escreveu: Odeio-te, pois que me dominas. Desde ento, no mais apareceu e o mdium deixou de ser importunado no exerccio de sua faculdade. 6o O Sr. Allan Kardec cita um caso pessoal de indicao dada pelos Espritos, notvel por sua preciso. Numa conversa que ele teve na vspera com o seu Esprito familiar, disse-lhe este: Encontrars no Sicle de hoje um longo artigo sobre este assunto e que responde tua pergunta; fomos ns que inspiramos o autor e o trabalho que ele expe, o qual est relacionado com as grandes reformas humanitrias que se preparam. Esse artigo, de que nem o Sr. Kardec nem o mdium tinham conhecimento, realmente se encontra no jornal indicado, sob o ttulo designado, provando que os Espritos podem estar a par das publicaes do mundo material. TRABALHO DA SESSO. Ensino espontneo. Comu- nicao assinada por Cazotte, recebida pelo Sr. A. Didier. Outra, contendo as lamrias de um Esprito sofredor e egosta, recebida pela Sra. Costel. Evocaes. Segunda conversa com o Esprito gastrnomo, que tomou o nome de Baltazar, e que algum julgou
  14. 14. JANEIRO DE 1861 17 reconhecer como sendo o do Sr. G... de la R..., o que foi confirmado pelo Esprito. Perguntas diversas. Perguntas dirigidas a So Lus sobre o Esprito batedor, ao qual se refere a carta do Sr. L..., assim como sobre o Esprito depredador das senhoras G... A propsito deste ltimo, ele diz que ser mais fcil vencer a sua resistncia, considerando-se que mais brincalho do que mau. Sexta-feira, 23 de novembro de 1860 Sesso geral Comunicaes diversas. Leitura de vrias dissertaes obtidas fora da sesso: Entrada de um culpado no mundo dos Espritos, assinada por Novel e recebida pela Sra. Costel. O castigo do egosta, pela mesma senhora. Esta comunicao d seqncia a outra do mesmo Esprito, obtida na sesso anterior. Outra sobre o livre-arbtrio, assinada por Marcillac. Reflexes do Esprito de Verdade sobre as comunicaes relativas ao castigo do egosta, recebidas pelo Sr. C... TRABALHOS DA SESSO. Ensino Espontneo. 1o O duende familiar, assinado por Charles Nodier e recebido pela Sra. Costel. 2o Parbola de Lzaro, assinada por Lamennais e recebida pelo Sr. A. Didier. 3o O Esprito Alfred de Musset apresenta-se pela Srta. Eugnie; coloca-se disposio para tratar de um assunto escolha da assemblia; deixada a escolha ao seu critrio, faz notvel dissertao sobre as consolaes do Espiritismo. Quanto oferta feita para responder a perguntas, trata dos seguintes temas: Qual a influncia da poesia sobre o Espiritismo? Haver uma arte esprita, como houve uma arte pag e uma arte crist? Qual a influncia da mulher no sculo XIX? Evocaes. Evocao de Cazotte, que se manifestara espontaneamente na ltima sesso. Foram-lhe feitas vrias perguntas sobre o dom de previso que em vida parecia possuir.
  15. 15. REVISTA ESPRITA 18 Questes e problemas diversos. Sobre a ubiqidade dos Espritos nas manifestaes visuais. Sobre os Espritos das trevas, a propsito das manifestaes do Sr. Squire, que s se produzem na obscuridade. Nota Trataremos dessa questo em artigo especial, falando do Sr. Squire. O Sr. Jobard l trs encantadoras poesias de sua lavra: A felicidade dos mrtires, A ave do paraso e A anexao, esta ltima uma fbula. Sexta-feira, 30 de novembro de 1860 Sesso particular Assuntos administrativos. Carta coletiva assinada por vrios membros, a respeito da proposta do Sr. L... As concluses admitidas pela comisso foram aceitas pela Sociedade. Carta do Sr. Sol..., rogando Sociedade aceitar a sua demisso de membro da comisso, por motivo das viagens que o afastam de Paris durante a maior parte do ano. A Sociedade exprime seu pesar pela deciso do Sr. Sol... e espera poder mant-lo no nmero de seus scios. O Sr. presidente fica encarregado de responder nesse sentido. Ser providenciada a sua substituio na comisso. Comunicaes diversas: 1o Ditado espontneo, contendo novas explicaes sobre a ubiqidade, assinado por So Lus. Discusso a respeito dessa comunicao. 2o Outra assinada por Charles Nodier, recebida por um mdium estranho Sociedade e transmitida pelo Sr. Didier, pai, a propsito do artigo do Journal des Dbats contra o Espiritismo.
  16. 16. JANEIRO DE 1861 19 3o O Sr. D..., do Departamento de Vienne, roga insistentemente seja evocado o Sr. Jean-Baptiste D..., seu sogro. A Sociedade jamais se presta a esses tipos de solicitaes, quando encerram apenas um interesse privado, sobretudo na ausncia das pessoas interessadas e quando estas no so conhecidas diretamente. Entretanto, tendo em vista o carter honrado e a posio oficial do correspondente, as circunstncias particulares apresentadas pelo defunto e o atesmo que este ltimo professou durante toda a vida, pensa a Sociedade que tal evocao pode oferecer um proveitoso assunto de estudos. Em conseqncia, o pe na ordem do dia. 4o Vrios membros relatam um interessante fenmeno de manifestao fsica de que foram testemunhas. Consiste no levantamento de uma pessoa pela influncia medinica de duas jovens de 15 e 16 anos que, colocando dois dedos nas travessas da cadeira, a elevam um metro, aproximadamente, seja qual for o seu peso, do mesmo modo que o fariam com o mais leve dos corpos. Esse fenmeno foi repetido vrias vezes, sempre com a mesma facilidade. (Dar-lhe-emos a explicao em artigo especial). 5o O Sr. Jobard l um artigo de sua autoria, intitulado A converso de um campnio. TRABALHOS DA SESSO. Ensino espontneo. Dissertao sobre a ubiqidade, assinado por Channing e recebido pela Srta. Huet. Outra sobre o artigo do Journal des Dbats, assinada por Andr Chnier e recebida pelo Sr. A. Didier. Outra assinada por Rachel e recebida pela Sra. Costel. Um fato digno de nota, lembrado a propsito das duas primeiras comunicaes, que, quando um assunto de certa importncia se encontra na ordem do dia, muito comum v-lo tratado por vrios Espritos, atravs de mdiuns e lugares diferentes. Parece que, interessando-se pela questo, cada um deseja contribuir para o ensino que resultar de tais comunicaes.
  17. 17. REVISTA ESPRITA 20 Evocaes: 1o Jean-Baptiste D..., referida acima, e de seu irmo, ambos materialistas e ateus. A situao do primeiro, que se suicidou, deveras lamentvel. 2o Evocao do Sr. C. de B..., de Bruxelas, a pedido do Sr. Jobard, que o conhecera pessoalmente. Sexta-feira, 7 de dezembro de 1860 Sesso particular Admisso do Sr. C..., professor em Paris, como scio livre. Comunicaes diversas. Leitura de uma dissertao assinada pelo Esprito de Verdade, recebida em sesso particular, em casa do Sr. Allan Kardec, a propsito da definio de arte, bem como da distino entre a arte pag, a arte crist e a arte esprita. O Sr. Theub... completa essa definio dizendo que se pode considerar a arte pag como sendo a expresso do sentimento material; a arte crist, expresso da expiao e a arte esprita, expresso do triunfo. TRABALHOS DA SESSO. Ensino esprita espontneo. Dissertao assinada por Lamennais, recebida pelo Sr. A. Didier. Outra assinada por Charles Nodier, recebida pela Srta. Huet. Continua o assunto iniciado a 24 de agosto de 1860, embora ningum lhe tivesse guardado a lembrana e o pudesse recordar. Outra, assinada por Georges e recebida pela Sra. Costel. Evocao do Dr. Kane, viajante americano e explorador do plo norte, o qual descobriu um mar livre alm do crculo dos gelos polares. Apreciao muito justa da parte do Esprito sobre os resultados dessa descoberta. Questes diversas. Perguntas dirigidas a Charles Nodier sobre as causas que podem influir na natureza das comunicaes
  18. 18. JANEIRO DE 1861 21 em certas sesses, notadamente nesse dia, em que os Espritos no tiveram a sua eloqncia habitual. Discusso a respeito desse ponto. Sexta-feira, 14 de dezembro de 1860 Sesso geral O Sr. Indermuhle, de Berna, presenteia a Sociedade com uma brochura alem publicada em Glaris, em 1855, intitulada: A eternidade j no segredo ou As mais evidentes revelaes sobre o mundo dos Espritos. Comunicaes diversas: 1o Leitura de uma evocao muito interessante e de vrias dissertaes espritas obtidas fora das sesses. 2o Fato de manifestao visual relatado pelo Sr. Indermuhle na carta que dirigiu Sociedade. 3o Fato pessoal ocorrido com o Sr. Allan Kardec, e que pode ser considerado como uma prova de identidade do Esprito de antigo personagem. A Srta. J... recebeu vrias comunicaes de Joo Evangelista, sempre com uma escrita muito caracterstica e completamente diferente da sua caligrafia habitual. Tendo o Sr. Allan Kardec, a pedido seu, evocado aquele Esprito por intermdio da Sra. Costel, constatou-se que a escrita tinha exatamente o mesmo carter da da Srta. J..., embora a nova mdium desconhecesse o fato; alm disso, o movimento da mo tinha uma delicadeza fora do comum, o que constitua, ainda, uma similitude; enfim, as respostas concordavam em todos os pontos com as que tinham sido dadas atravs da Srta. J..., e nada havia na linguagem que no estivesse altura do Esprito evocado. 4o Notcia remetida pelo Sr. D... sobre um caso notvel de viso e de revelao, ocorrido com um agricultor poucos dias antes de sua morte.
  19. 19. REVISTA ESPRITA 22 TRABALHOS DA SESSO Comunicaes espritas espontneas. Os trs tipos: Hamlet, Tartufe e Don Juan, assinada por Gerard de Nerval e recebida pelo Sr. A. Didier. Fantasia, assinada por Alfred de Musset e recebida pela Sra. Costel. O julgamento, assinada por Leo X e recebida pela Srta. Eugnie. Evocao do agricultor, do qual falamos pouco acima. Ele d algumas explicaes sobre suas vises. Notvel particularidade a ausncia absoluta de ortografia e uma linguagem completamente semelhante da gente do campo. Questes diversas dirigidas a So Lus sobre os fatos relacionados com a evocao tratada acima. O Livro dos Mdiuns Anunciada h muito tempo, mas com a publicao retardada em virtude de sua prpria importncia, esta obra aparecer entre os dias 5 e 10 de janeiro, na livraria do Sr. Didier, nosso editor, localizada no Quai des Augustins, 351 . Representa o complemento de O Livro dos Espritos e encerra a parte experimental do Espiritismo, assim como este ltimo contm a parte filosfica. Fruto de longa experincia e de laboriosos estudos, nesse trabalho procuramos esclarecer todas as questes que se ligam prtica das manifestaes. De acordo com os Espritos, contm a explicao terica dos diversos fenmenos, bem como das condies em que os mesmos se podem reproduzir. No obstante, sobretudo a matria relativa ao desenvolvimento e ao exerccio da mediunidade mereceu de nossa parte uma ateno toda especial. 1 Ela igualmente encontrada nos escritrios da Revista Esprita, Rua Sainte-Anne, 59, passagem Sainte-Anne. Um grande volume in-18, de 500 pginas; Paris, 3 fr. 50; pelo Correio, 4 fr.
  20. 20. JANEIRO DE 1861 23 O Espiritismo experimental cercado de muito mais dificuldades do que geralmente se pensa, e os escolhos a encontrados so numerosos. isso que ocasiona tantas decepes aos que dele se ocupam, sem a experincia e os conhecimentos necessrios. Nosso objetivo foi o de prevenir contra esses escolhos, que nem sempre deixam de apresentar inconvenientes para quem se aventure sem prudncia por esse terreno novo. No podamos negligenciar um ponto to capital, e o tratamos com o cuidado que a sua importncia reclama. Os inconvenientes quase sempre se originam da leviandade com que tratado problema to srio. Sejam quais forem, os Espritos so as almas dos que viveram, no meio das quais estaremos infalivelmente, de um momento para outro. Todas as manifestaes espritas, inteligentes ou no, tm, pois, por objeto, pr-nos em contato com essas mesmas almas; se respeitamos os seus restos mortais, com mais forte razo devemos respeitar o ser inteligente que sobrevive e que constitui a sua verdadeira individualidade. Fazer das manifestaes uma brincadeira faltar com o respeito que talvez amanh reclamaremos para ns mesmos, e que jamais violado impunemente. O primeiro momento de curiosidade causado por esses estranhos fenmenos j passou. Hoje, que se lhes conhece a fonte, guardemo-nos de profan-la com brincadeiras descabidas e nos esforcemos por nela haurir o ensinamento apropriado que nos assegurar a felicidade futura. O campo muito vasto e o objetivo por demais importante para cativar toda a nossa ateno. At hoje, todos os nossos esforos tenderam para fazer o Espiritismo entrar neste caminho srio. Se esta nova obra, tornando-o ainda mais bem conhecido, puder contribuir para impedir que o desviem de sua destinao providencial, estaremos amplamente recompensados de nossos cuidados e de nossas viglias.
  21. 21. REVISTA ESPRITA 24 No negamos que esse trabalho suscitar mais de uma crtica da parte daqueles a quem incomoda a severidade dos princpios, bem como dos que, vendo as coisas de um outro ponto de vista, j nos acusam de querer fazer escola no Espiritismo. Se fazer escola procurar nesta cincia um fim til e proveitoso para a Humanidade, teramos o direito de nos sentir envaidecidos com essa acusao. Mas uma tal escola no necessita de outro chefe que no seja o bom-senso das massas e a sabedoria dos Espritos bons, que a teriam criado sem a nossa participao. Eis por que declinamos da honra de a ter fundado, felizes de nos colocarmos sob a sua bandeira, no aspirando seno o modesto ttulo de propagador. Se for necessrio um nome, inscreveremos em seu frontispcio: Escola de Espiritismo Moral e Filosfico, e para ela convidaremos todos quantos tm necessidade de esperanas e de consolaes. Allan Kardec A Bibliografia Catlica Contra o Espiritismo At este momento o Espiritismo no havia sido atacado seriamente. Quando certos escritores da imprensa peridica, em seus momentos de lazer, se dignaram ocupar-se dele, foi apenas para o ridicularizar. Trata-se de encher um rodap, de fornecer um artigo a tanto por linha, no importa sobre que assunto, desde que a contagem d certo. De que matria tratar? Tratarei de tal coisa? pergunta a si mesmo o redator encarregado da parte recreativa do jornal. No; muito sria. E daquela outra? assunto por demais repetido. Inventarei uma autntica aventura da alta sociedade, ou da gente do povo? Nada me vem mente neste quarto de hora e a crnica escandalosa da semana ainda est por fazer. Ah! tive uma idia! Achei o meu assunto! Vi em algum lugar
  22. 22. JANEIRO DE 1861 25 o ttulo de um livro que fala de Espritos; e h em toda parte gente bastante tola para levar isto a srio. Que so os Espritos? Nada sei sobre o assunto, mas pouco me importa! Deve ser divertido. Para falar a verdade, eu no acredito absolutamente em Espritos, porque jamais os vi e mesmo que visse tambm no acreditaria, porque isso impossvel. Assim, nenhum homem de bom-senso pode crer neles. Ou isto lgico, ou no me conheo. Falemos, pois, dos Espritos, uma vez que esto na ordem do dia. Tanto esse assunto, como qualquer outro, divertir nossos caros leitores. O tema muito simples: No h Espritos; no pode nem deve hav-los. Assim, todos que neles crem so loucos. Mos obra e fantasiemos a coisa. meu bom gnio! eu te agradeo por esta inspirao! Tu me tiras de um grande embarao, pois nada h a dizer e preciso de meu artigo para amanh, e dele no fazia a menor idia. Mas eis um homem srio que diz: um erro brincar com essas coisas; isto mais srio do que se pensa; no acrediteis que se trate de moda passageira: essa crena inerente fraqueza da Humanidade, que em todas as pocas acreditou no maravilhoso, no sobrenatural, no fantstico. Quem imaginaria que em pleno sculo XIX, num sculo de luzes e de progresso, depois que Voltaire demonstrou to bem que s o nada nos espera, depois de tantos sbios que procuraram a alma e no a encontraram, ainda se possa acreditar em Espritos, em mesas girantes, em feiticeiros, em magos, no poder de Merlin o encantador, na varinha mgica, na Senhorita Lenormand? Humanidade! Humanidade! aonde irs se eu no vier em teu auxlio para tirar-te do lamaal da superstio? Quiseram matar os Espritos pelo ridculo, e no o conseguiram; longe disso, o mal contagioso faz incessantes progressos; a zombaria parece fazer-lhe recrudescer e, se no for posto um freio, em breve a Humanidade inteira estar infestada. Considerando-se que esse meio, habitualmente to eficaz, tornou-se impotente, tempo que os sbios interfiram, a fim de acabar com isso de uma vez por todas. As zombarias no so argumentos; falemos em
  23. 23. REVISTA ESPRITA 26 nome da Cincia; demonstremos que em todas as pocas os homens foram imbecis por acreditarem que houvesse um poder superior ao deles; que no tivessem em si mesmos todo o poder sobre a Natureza. Provemos-lhes que tudo quanto atribuem s foras sobrenaturais se explica por simples leis da fisiologia; que a sobrevivncia da alma e o seu poder de comunicar-se com os vivos uma quimera, e que loucura acreditar no futuro. Se, depois de ter digerido quatro volumes de boas razes, eles no se convenceram, no nos restar seno lamentar a sorte da Humanidade que, em vez de progredir, retrograda a largos passos para a barbrie da Idade Mdia e corre para a sua perda. Que o Sr. Figuier possa revelar suas verdadeiras intenes, porquanto seu livro, to pomposamente anunciado, to elogiado pelos campees do materialismo, produziu um resultado diametralmente oposto ao que esperava. Mas eis que surge um novo campeo, que pretende esmagar o Espiritismo por outro meio: trata-se do Sr. Georges Gandy, redator da Bibliographie Catholique, atirando-se num corpo- a-corpo em nome da religio ameaada. E vejam s! a religio ameaada por aquilo a que chamais de utopia! Tendes, pois, bem pouca f em sua fora; acreditais, assim, na sua vulnerabilidade, desde que temeis que as idias de alguns sonhadores possam abalar os seus fundamentos; assim, considerais esse inimigo deveras temvel, para o atacar com tanta raiva e furor. Obtereis resultado melhor que os outros? Duvidamo-lo, j que a clera m conselheira. Se conseguirdes amedrontar algumas almas timoratas, no receais acender a curiosidade num maior nmero de outras? Julgai-o pelo fato seguinte. Numa cidade que conta com certo nmero de espritas e com alguns grupos ntimos que se ocupam das manifestaes, um pregador fez certo dia um sermo virulento contra o que chamava a obra do demnio, pretendendo que s este vinha falar nessas reunies satnicas, cujos membros estavam todos notoriamente votados danao eterna. Que aconteceu? Desde o
  24. 24. JANEIRO DE 1861 27 dia seguinte bom nmero de ouvintes se ps em busca das reunies espritas, pedindo para ouvir os diabos falarem, curiosos de saber o que lhes diriam; porque tanto se tem falado que a gente se familiarizou com um nome que j no incute medo. Ora, nessas reunies eles viram pessoas srias, honradas, instrudas, orando a Deus, coisa que no faziam desde a primeira comunho; pessoas que acreditavam em sua alma, em sua imortalidade, nas penas e recompensas futuras, trabalhando para se tornarem melhores, esforando-se por praticar a moral do Cristo, no falando mal de ningum, nem mesmo dos que lhes lanavam antemas. Ento aquelas criaturas compreenderam que se o diabo ensinava tais coisas que se havia convertido. Quando os viram tratar respeitosa e piamente com os seus parentes e amigos mortos, que lhes prodigalizava consolao e sbios conselhos, no puderam admitir que tais reunies fossem sucursais do sabbat, considerando-se que no viam caldeiras, nem vassouras, nem corujas, nem gatos pretos, nem crocodilos, nem livros de magia, nem trpode, nem varinhas mgicas ou quaisquer outras acessrios de feitiaria, nem mesmo a velha de queixo e nariz aduncos. Tambm quiseram conversar, um com sua me, outro com o filho querido, parecendo-lhes difcil, ao reconhec-los, que essa me e esse filho fossem demnios. Felizes por terem a prova de sua existncia e a certeza de se reencontrarem num mundo melhor, perguntaram-se com que objetivo haviam querido amedront-los, suscitando-lhes reflexes que jamais tinham imaginado. O resultado que gostaram mais de ir ali onde encontravam consolaes, do que aos locais em que eram amedrontados. Como vimos, esse pregador enveredou por caminho errado, sendo o caso de se dizer: Mais vale um inimigo que um amigo incompetente. O Sr. Georges Gandy espera ser mais feliz? Ns o citamos textualmente, para edificao dos nossos leitores: Em todas as pocas das grandes provas da Igreja e de seus prximos triunfos houve contra ela conspiraes infernais, nas
  25. 25. REVISTA ESPRITA 28 quais a ao dos demnios era visvel e tangvel. Jamais a teurgia e a magia tiveram mais voga no seio do paganismo e da filosofia, do que no momento em que o Cristianismo se espalhava no mundo, para o subjugar. No sculo XVI, Lutero teve colquios com Sat, e um redobramento de feitiarias, de comunicaes diablicas se fez notar na Europa, enquanto na Igreja se operava a grande reforma catlica que iria triplicar suas foras, quando um novo mundo lhe abria destinos gloriosos sobre um espao imenso. No sculo XVIII, na vspera do dia em que o machado dos carrascos deveria retemperar a Igreja no sangue de novos mrtires, a demonolatria florescia no cemitrio de Saint-Mdard, ao redor das tinas de Mesmer e dos espelhos de Cagliostro. Hoje, na grande luta do catolicismo contra todas as potncias do inferno, a conspirao de Sat veio visivelmente em auxlio do filosofismo; o inferno quis dar, em nome do naturalismo, uma consagrao obra de violncia e de astcia que continua promovendo j h quatro sculos e que se apresta para coroar com uma suprema impostura. A reside todo o segredo da pretensa doutrina esprita, amontoado de absurdos, de contradies, de hipocrisia e de blasfmias, como veremos a seguir, e que tenta, como a ltima das perfdias, glorificar o Cristianismo para o aviltar, espalh-lo para o suprimir, afetando respeito pelo divino Salvador, a fim de arrancar na Terra tudo que Ele fecundou com seu sangue e substituir o seu reino imortal pelo despotismo dos mpios devaneios. Abordando o exame dessas estranhas pretenses, que julgamos ainda no suficientemente desvendadas e condenadas, pedimos aos nossos leitores a gentileza de acompanharem nossa caminhada, um tanto longa, nessa encruzilhada diablica, de onde a seita espera sair vitoriosa depois de haver abolido para sempre o nome divino, ante o qual a vemos dobrar os joelhos. A despeito de seus ridculos, de suas profanaes revoltantes, de suas contradies sem fim, o Espiritismo constitui para ns precioso ensinamento. Jamais as loucuras do inferno haviam rendido nossa santa religio mais deslumbrante homenagem. Jamais o havia Deus
  26. 26. JANEIRO DE 1861 29 condenado com mais soberano poder, a confirmar-se pelo testemunho destas palavras do divino Mestre: Vos ex patre diabolo estis. Este comeo permite julgar a amenidade do resto. Os nossos leitores que quiserem edificar-se nessa fonte de caridade evanglica podero permitir-se o prazer de ler a Bibliographie Catholique, no 3, de setembro de 1860, Rua de Svres, no 31. Ainda uma vez, por que tanta clera, tanto fel contra uma doutrina que, como dizem, se obra de Sat, no poder prevalecer contra a obra de Deus, a menos que se suponha seja Deus menos poderoso que Sat, o que seria um tanto mpio? Duvidamos muito que essa irrupo de injrias, essa febre, essa profuso de eptetos de que o Cristo jamais se serviu contra os seus maiores inimigos, sobre os quais clamava a misericrdia de Deus e no a sua vingana, ao dizer: Perdoai-lhes, Senhor, pois no sabem o que fazem; duvidamos insistimos que uma tal linguagem seja persuasiva. A verdade calma e no necessita de exaltao; e, com tal raiva, fareis crer na vossa prpria fraqueza. Confessamos no compreender bem esta singular poltica de Sat, que glorifica o Cristianismo para o aviltar, que o espalha para o suprimir. Em nossa opinio isto revelaria muita falta de habilidade e se assemelharia a um hortelo que, no querendo batatas, as semeasse em profuso em seu horto, a fim de lhes destruir a espcie. Quando acusamos os outros de pecar por falta de raciocnio, devemos, para ser lgicos, comear por ns mesmos. No sabemos muito bem por que o Sr. Georges Gandy acusa mortalmente o Espiritismo por se apoiar no Evangelho e no Cristianismo. Que diria ento se se apoiasse em Maom? Certamente muito menos, porquanto fato digno de nota que o Islamismo, o Judasmo, o prprio Budismo so objeto de ataques menos virulentos que as seitas dissidentes do Cristianismo. Com certa gente, preciso ser tudo ou nada. H, sobretudo, um ponto que o Sr. Gandy no perdoa ao Espiritismo: o de no haver
  27. 27. REVISTA ESPRITA 30 proclamado esta mxima absoluta: Fora da Igreja no h salvao, e admitir que aquele que faz o bem possa ser salvo das chamas eternas, seja qual for a sua crena. Evidentemente, uma tal doutrina s poderia sair do inferno. Mas ele se trai principalmente nesta passagem: Que quer o Espiritismo? uma importao americana, inicialmente protestante, e que j havia triunfado permitam-nos diz-lo sobre todas as plagas da idolatria e da heresia; tais so os seus ttulos em relao ao mundo. Seria, pois, das terras clssicas da superstio e das loucuras religiosas que nos viriam a verdade e a sabedoria! Eis aqui, por certo, uma grande ofensa. Se ele houvesse nascido em Roma seria a voz de Deus; como, porm, nasceu num pas protestante, a voz do diabo. Mas o que direis quando tivermos provado, o que faremos um dia, que ele estava na Roma crist muito antes de estar na Amrica protestante? Que respondereis ao fato, hoje constatado, de que h mais espritas catlicos do que espritas protestantes? O nmero das pessoas que em nada crem, que de tudo duvidam, do prprio Deus, considervel e cresce numa proporo assustadora. Ser por vossas violncias, vossos antemas, vossas ameaas do inferno, vossas declamaes furibundas que as reconduzireis? No, porque so as vossas prprias violncias que as afastam. Sero culpados por haverem levado a srio a caridade, a mansuetude do Cristo e a bondade infinita de Deus? Ora, quando elas ouvem os que pretendem falar em seu nome, proferindo ameaas e injrias, pem-se a duvidar do Cristo, de Deus, de tudo, enfim. O Espiritismo as faz compreender palavras de paz e de esperana e, como lhes pesa a dvida e sentem necessidade de consolaes, atiram-se aos braos do Espiritismo, porque preferem aquilo que sorri s coisas que apavoram. Ento crem em Deus, na misso do Cristo e na sua divina moral. Numa
  28. 28. JANEIRO DE 1861 31 palavra, de incrdulos e indiferentes, tornam-se crentes. Foi isto que ultimamente levou um padre respeitvel a responder a uma de suas penitentes que o consultava sobre o Espiritismo: Nada acontece sem a permisso de Deus; ora, Deus permite essas coisas para reavivar a f que se extingue. Se houvera empregado outra linguagem, talvez a tivesse afastado para sempre. Quereis a todo custo que o Espiritismo seja uma seita, quando ele no aspira seno ao ttulo de cincia moral e filosfica, respeitando todas as crenas sinceras. Por que, ento, dar uma idia de separao queles que no pensam nisso? Se repelirdes os que ele reconduz crena em Deus, se s lhes derdes o inferno como perspectiva, sereis responsveis por uma ciso que vs mesmos tereis provocado. So Lus nos dizia um dia: Zombaram das mesas girantes; jamais zombaro da filosofia, da sabedoria e da caridade que brilham nas comunicaes srias. Enganou-se, porque no contou com o Sr. Georges Gandy. Muitas vezes os escritores se divertiram custa dos Espritos e de suas manifestaes, sem pensar que um dia eles mesmos poderiam ser alvo das piadas de seus sucessores; porm, sempre respeitaram a parte moral da cincia. No entanto, foi reservado a um escritor catlico, o que lamentamos sinceramente, expor ao ridculo as mximas admitidas pelo mais elementar bom-senso. Cita grande nmero de passagens de O Livro dos Espritos; no aludiremos seno a algumas delas, que daro uma idia perfeita de sua apreciao. Deus prefere os que o adoram do fundo do corao aos que o adoram exteriormente. O texto de O Livro dos Espritos diz: Deus prefere os que o adoram do fundo do corao, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honr-lo com cerimnias que no os tornam melhores para com os seus semelhantes2 ; O Sr. Gandy admite o inverso; mas, como homem de boa-f, deveria ter citado a passagem textualmente, em vez de trunc-la de maneira a lhe desnaturar o sentido. 2 N. do T.: O Livro dos Espritos, questo 654.
  29. 29. REVISTA ESPRITA 32 Toda destruio de animais que excede os limites das necessidades uma violao da lei de Deus3 ; o que quer dizer que o princpio moral que rege os prazeres se aplica igualmente ao exerccio da caa e da matana. Precisamente; mas parece que o Sr. Gandy caador e pensa que Deus fez a caa, no para alimento do homem, mas para lhe proporcionar o prazer de, sem necessidade, promover a matana de animais inofensivos. Os prazeres tm limites traados pela Natureza: o limite do necessrio; pelos excessos, chegamos saciedade. a moral do virtuoso Horcio, um dos pais do Espiritismo. Visto que o autor critica esta mxima, parece no admitir limites aos prazeres, o que no muito religioso. Para ser legtima, a propriedade deve ser adquirida sem prejuzo da lei de amor e de justia; assim, aquele que possuir, sem preencher os deveres de caridade que ordena a conscincia ou a razo individual, um usurpador do bem alheio; espiriticamente estamos em pleno socialismo. O texto diz assim: S legtima a propriedade adquirida sem prejuzo de outrem. A lei de amor e de justia probe fazer a outrem o que no gostaramos que nos fosse feito; condena, por isso mesmo, todo meio de aquisio que lhe seja contrrio. L no se encontra: que ordena a razo individual; uma prfida adio. No julgamos que se possa, em s conscincia, possuir custa de justia; o Sr. Gandy deveria dizer-nos em que casos a espoliao legtima. Felizmente, os tribunais no so de sua opinio. A indulgncia aguarda, fora desta vida, o suicida que se v a braos com a necessidade, que quis impedir casse a vergonha sobre os seus filhos, ou sobre a sua famlia. Alis, So 3 N. do T.: O Livro dos Espritos, questo 735.
  30. 30. JANEIRO DE 1861 33 Lus, de cujas funes espritas falaremos em breve, se digna revelar-nos que h escusas para os suicdios por amor. Quanto s penas do suicida, elas no so determinadas; o que certo que ele no escapa ao desapontamento; em outras palavras, pego na armadilha, como se diz vulgarmente neste mundo. Esta passagem est inteiramente desnaturada pelas exigncias da crtica do Sr. Gandy; seria preciso mencionar sete pginas para restabelecer o seu texto. Com tal sistema seria fcil tornar ridculas as mais belas pginas dos nossos melhores escritores. Parece que o Sr. Gandy no admite gradao nem nas faltas, nem nas penalidades de alm-tmulo. Acreditamos num Deus mais justo e desejamos que o Sr. Gandy jamais tenha que reclamar em seu favor o benefcio das circunstncias atenuantes. A pena de morte e a escravido foram, so e sero contrrias lei da Natureza. O homem e a mulher, sendo iguais perante Deus, devem ser iguais perante os homens. Ter sido a alma errante de algum saint-simonista4 apavorado, procura da mulher livre, que presenteou essa maliciosa revelao ao Espiritismo? Assim a pena de morte, a escravido e a submisso da mulher, que a civilizao tende a abolir, so instituies que o Espiritismo no tem direito de condenar. tempos felizes da Idade Mdia, por que passastes sem retorno? Onde estais, fogueiras, que nos tereis livrado dos Espritos? Citemos uma ltima passagem, das mais benignas: O Espiritismo no pode negar uma tal salada de contradies, de absurdos e de loucuras, que no pertencem a nenhuma filosofia, nem a nenhuma lngua. Se Deus permite essas manifestaes mpias, que deixa aos demnios, conforme ensina a Igreja, o poder de enganar os que os chamam, violando a sua lei. 4 N. do T.: Grifos Nossos.
  31. 31. REVISTA ESPRITA 34 Ento o demnio bonzinho, porque, sem o querer, nos faz amar a Deus. Quanto verdade, a Igreja no-la d a conhecer; ela nos diz, com os Livros Sagrados, que o anjo das trevas se transforma em anjo da luz, e que seria necessrio recusar at mesmo o testemunho de um arcanjo, caso fosse contrrio doutrina do Cristo, de cuja infalvel autoridade depositria; alis ela tem meios seguros e evidentes para distinguir as sedues diablicas das manifestaes divinas. De fato uma grande verdade que se deveria recusar at mesmo o testemunho de um arcanjo, caso fosse contrrio doutrina do Cristo. Ora, que diz essa doutrina, que o Cristo pregou pela palavra e pelo exemplo? Bem-aventurados os que so misericordiosos, porque alcanaro misericrdia. Bem-aventurados os pacficos, porque sero chamados filhos de Deus. Aquele que se encolerizar contra seu irmo ser ru de juzo; quem disser a seu irmo: Raca, ser condenado pelo conselho; e qualquer que lhe disser: Louco, ser condenado ao fogo do inferno. Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de que sejais filhos do vosso Pai que est nos cus, que faz se levante o sol sobre bons e maus, e chover sobre justos e injustos; porquanto, se no amardes seno os que vos amam, que recompensa tereis? No fazem os publicanos o mesmo? Sede, pois, perfeitos, como perfeito o vosso Pai que est nos cus.
  32. 32. JANEIRO DE 1861 35 No faais aos outros o que no gostareis que eles vos fizessem. Sendo, pois, a caridade o princpio fundamental da doutrina do Cristo, conclumos que toda palavra e toda ao contrrias caridade no podem ser, como dizeis com muita propriedade, seno inspiradas por Sat, ainda mesmo que este se revestisse da forma de um arcanjo. por essa razo que diz o Espiritismo: Fora da caridade no h salvao. Sobre o mesmo assunto, remetemos o leitor s nossas respostas ao jornal Univers, nmeros de maio e julho de 1859, bem como Gazette de Lyon, de outubro de 1860. Recomendamos igualmente aos nossos leitores, como refutao ao Sr. Gandy, a Lettre dun catholique sur le Spiritisme, pelo Dr. Grand. Se o autor dessa brochura1 est condenado ao inferno, haver muitos outros e ali veramos coisa estranha os que pregam a caridade para todos, enquanto o Cu seria reservado queles que lanam antemas e maldio. Estaramos singularmente equivocados quanto ao sentido das palavras do Cristo. A falta de espao obriga-nos a deixar para o prximo nmero algumas palavras em resposta ao Sr. Deschanel, do Journal des Dbats. Carta Sobre a Incredulidade (Primeira parte) Um dos nossos colegas, o Sr. Canu, outrora muito imbudo dos princpios materialistas, e que o Espiritismo levou a uma apreciao mais sadia das coisas, acusava-se de ter-se feito propagandista de doutrinas que hoje considera subversivas da 5 Grand in-18, preo 1 fr.; pelo Correio: 1 fr. e 15 centavos. No escritrio da Revista Esprita e na Livraria Ledoyen, no Palais Royal.
  33. 33. REVISTA ESPRITA 36 ordem social. No intuito de reparar o que considera, com justa razo, uma falta, e esclarecer aqueles a quem havia transviado, escreveu a um de seus amigos uma carta, sobre a qual julgou por bem pedir a nossa opinio. Pareceu-nos que ela correspondia to bem ao objetivo que ele se propunha, que lhe pedimos permisso para public-la, o que certamente agradar aos nossos leitores. Em vez de abordar francamente a questo do Espiritismo, que teria sido repelido pelas pessoas que no admitem ser a alma a sua base; sobretudo se em lugar de lhes expor sob os olhos os estranhos fenmenos que teriam negado, ou atribudo a causas ordinrias, ele remonta sua origem. Procura, com razo, torn-las espiritualistas, antes de as tornar espritas. Por um encadeamento de idias perfeitamente lgico, chega idia esprita como conseqncia. Esta marcha, evidentemente, a mais racional. A extenso desta carta obriga-nos a dividir a sua publicao. Paris, 10 de novembro de 1860. Meu caro amigo, Desejas uma longa carta sobre o Espiritismo. Esforar- me-ei por te satisfazer como melhor puder, enquanto espero a remessa de uma importante obra sobre a matria, a qual deve aparecer no fim do ano. Serei obrigado a comear por algumas consideraes gerais, para o que ser necessrio remontar origem do homem. Isto alongar um pouco a minha carta, mas indispensvel para a compreenso do assunto. Tudo passa! diz-se geralmente. Sim; tudo passa. Mas em geral tambm se d a esta expresso uma significao muito afastada da que lhe prpria. Tudo passa, mas nada acaba, a no ser a forma.
  34. 34. JANEIRO DE 1861 37 Tudo passa, no sentido de que tudo marcha e segue o seu curso; mas no um curso cego e sem objetivo, embora jamais deva acabar. O movimento a grande lei do Universo, assim na ordem moral como na ordem fsica, e o fim do movimento a progresso para o melhor. um trabalho ativo, incessante e universal; o que chamamos o progresso. Tudo est submetido a esta lei, exceto Deus. Deus o seu autor; a criatura lhe instrumento e objeto. A criao compe-se de duas naturezas distintas: a natureza material e a natureza intelectual. Esta o instrumento ativo; aquela o instrumento passivo. Esses dois instrumentos so complementos um do outro, isto , um sem o outro seria de emprego inteiramente nulo. Sem a natureza intelectual, ou o esprito inteligente e ativo, a natureza material, isto , a matria ininteligente e inerte, seria perfeitamente intil, nada podendo por si mesma. Sem a matria inerte dar-se-ia o mesmo com o esprito inteligente. Mesmo o instrumento mais perfeito seria como se no existisse, caso no houvesse algum para dele se servir. O mais hbil operrio e o sbio da mais elevada ordem seriam to impotentes quanto o mais completo idiota, se no tivessem instrumentos para desenvolver a sua cincia e faz-la manifestar-se. Eis aqui o momento e o lugar de fazer notar que o instrumento material no consiste somente na plaina do marceneiro, no cinzel do escultor, na paleta do pintor, no escalpelo do cirurgio, no compasso ou na luneta do astrnomo; consiste
  35. 35. REVISTA ESPRITA 38 tambm na mo, na lngua, nos olhos, no crebro, numa palavra, na reunio de todos os rgos materiais necessrios manifestao do pensamento, o que naturalmente implica a denominao de instrumento passivo prpria matria sobre a qual a inteligncia opera, por meio do instrumento propriamente dito. assim que uma mesa, uma casa e um quadro, considerados nos elementos que os compem, no so menos instrumentos que a serra, a plaina, o esquadro, a colher de pedreiro e o pincel que os produziram, que a mo e os olhos que os dirigiram; enfim, que o crebro que presidiu a essa direo. Ora, tudo isto, inclusive o crebro, foi o instrumento complexo de que se serviu a inteligncia para manifestar o seu pensamento, sua vontade, que era produzir uma forma, e essa forma ou era uma mesa, ou uma casa, ou um quadro, etc. Inerte por natureza, disforme por essncia, a matria no adquire propriedades teis seno pela forma que se lhe imprime, o que levou um clebre fisiologista a dizer que a forma era mais necessria que a matria, proposio talvez um tanto paradoxal, mas que prova a superioridade do papel desempenhado pela forma nas modificaes da matria. conforme essa lei que o prprio Deus, se assim me posso exprimir, disps e modificou incessantemente os mundos e as criaturas que os habitam, de acordo com as formas que melhor convm aos seus propsitos para a harmonizao do Universo. E sempre segundo essa mesma lei que as criaturas inteligentes, agindo incessantemente sobre a matria, como o prprio Deus, mas secundariamente, concorrem para a sua transformao contnua, transformao em que cada grau, cada estgio um passo no progresso, ao mesmo tempo que manifestao da inteligncia que lhe deu origem. desse modo que tudo na criao est em movimento e sempre em progresso; que a misso da criatura inteligente ativar esse movimento no sentido do progresso, o que realiza muitas vezes mesmo sem o saber; que o papel da criatura material
  36. 36. JANEIRO DE 1861 39 obedecer a esse movimento e manifestar o progresso da criatura inteligente; que a Criao, enfim, considerada em seu conjunto ou em suas partes, realiza incessantemente os desgnios de Deus. Quantas criaturas inteligentes (sem sair do nosso planeta) desempenham uma misso da qual esto longe de suspeitar! E confesso que, de minha parte, ainda h bem pouco tempo eu era desse nmero. Nem por isso me sentiria constrangido em deixar aqui algumas palavras sobre a minha prpria histria. Havers de perdoar-me essa pequena digresso, que pode ter seu lado til. Educado na escola do dogma catlico, no tendo desenvolvido a reflexo e o exame seno muito tarde, por muito tempo fui um crente fervoroso e cego; por certo no o esqueceste. Mas sabes, tambm, que mais tarde ca no excesso contrrio: da negao de certos princpios que minha razo no podia admitir, conclu pela negao absoluta. Sobretudo me revoltava o dogma da eternidade das penas. Eu no podia conciliar a idia de um Deus, que me diziam infinitamente misericordioso, com a de um castigo perptuo para uma falta passageira. O quadro do inferno, suas fornalhas, suas torturas materiais me parecia ridculo e uma pardia do Trtaro dos pagos. Recapitulei minhas impresses de infncia e lembrei-me de que, por ocasio da minha primeira comunho, diziam-nos que no havia necessidade de orar pelos danados, porque isso de nada lhes serviria; aquele que no tivesse f era votado s chamas, bastando uma dvida sobre a infalibilidade da Igreja para se ser condenado s penas eternas; que o prprio bem que fizssemos aqui no nos poderia salvar, considerando-se que Deus colocava a f acima das melhores aes humanas. Essa doutrina me tornara impiedoso, endurecendo-me o corao. Olhava os homens com desconfiana e, mais leve falta, eu cria ver ao meu lado um condenado de quem devia fugir como da peste, e ao qual, em minha indignao, eu teria recusado um
  37. 37. REVISTA ESPRITA 40 copo de gua, dizendo-me a mim mesmo que Deus lhe recusaria ainda mais. Se ainda houvesse fogueiras, eu teria empurrado para elas todos os que no tivessem a f ortodoxa, fosse ainda o meu prprio pai. Nesse estado de esprito eu no podia amar a Deus: tinha medo dele. Mais tarde uma poro de circunstncias demasiado longas para enumerar, vieram abrir-me os olhos e eu rejeitei os dogmas que no se conciliavam com a minha razo, porque ningum me havia ensinado a pr a moral acima da forma. Do fanatismo religioso ca no fanatismo da incredulidade, a exemplo de tantos companheiros de infncia. No entrarei em detalhes, que nos levariam muito longe. Apenas acrescentarei que, depois de haver perdido durante quinze anos a doce iluso da existncia de um Deus infinitamente bom, poderoso e sbio, da existncia e da imortalidade da alma, enfim hoje encontro de novo, no uma iluso, mas uma certeza to completa quanto de minha existncia atual, quanto a de te escrever neste momento. Eis, meu amigo, o grande acontecimento de nossa poca, o grande acontecimento que nos dado ver realizar-se em nossos dias: a prova material da existncia e da imortalidade da alma. Voltemos ao fato; mas para te fazer melhor compreender o Espiritismo, vamos remontar origem do homem, no nos detendo nesse assunto por muito tempo. evidente que os globos que povoam a imensido no foram feitos unicamente tendo em vista a sua ornamentao. Tm tambm uma finalidade til, ao lado da agradvel: a de produzir e alimentar os seres vivos materiais, que so instrumentos apropriados e dceis a essa multido infinita de criaturas inteligentes que povoam o espao e que so, definitivamente, a
  38. 38. JANEIRO DE 1861 41 obra-prima, ou melhor, o objetivo da criao, pois que s elas tm a faculdade de conhecer, admirar e adorar o seu autor. Cada um dos globos espalhados no espao teve o seu comeo, em relao sua forma, num tempo mais ou menos recuado. Quanto idade da matria que o compe, um segredo que no nos importa aqui conhecer, uma vez que a forma tudo para o objeto que nos ocupa. Com efeito, pouco nos importa que a matria seja eterna, ou apenas de criao anterior formao do astro, ou, finalmente, contempornea a essa formao. O que preciso saber que o astro foi formado para ser habitado. Talvez no seja um despropsito acrescentar que essas formaes no so feitas em um dia, como dizem as Escrituras; que um globo no sai repentinamente do nada j coberto de florestas, de prados e de habitantes, como Minerva saiu armada, dos ps cabea, da cabea de Jpiter. No; Deus procede, certamente, com mais lentido; tudo segue uma lei lenta e progressiva, no porque Ele hesite ou tenha necessidade de lentido, mas porque essas leis so assim e so imutveis. Alis, aquilo a que ns, seres efmeros, chamamos lentido, no o para Deus, para quem o tempo nada representa. Eis, pois, um globo em formao ou, se quiseres, j formado. Devem transcorrer ainda muitos sculos ou milhares de sculos antes que ele seja habitvel, mas enfim chega o momento. Depois de modificaes numerosas e sucessivas em sua superfcie, pouco a pouco comea a se cobrir de vegetao (falo da Terra, no pretendendo fazer, a no ser por analogia, a histria dos outros globos, cujo fim, evidentemente, o mesmo, mas cujas modificaes fsicas podem variar). Ao lado da vegetao aparece a vida animal, uma e outra na sua maior simplicidade, pois sendo esses dois ramos do reino orgnico necessrios um ao outro, fecundam-se mutuamente, alimentam-se reciprocamente, elaborando de comum acordo a matria inorgnica, para torn-la cada vez mais apropriada formao de seres sempre mais perfeitos, at que ela tenha atingido o ponto de poder produzir e
  39. 39. REVISTA ESPRITA 42 alimentar o corpo que deve servir de habitao e de instrumento ao ser por excelncia, isto , ao ser intelectual que dele deve servir- se; que, por assim dizer, o espera para manifestar-se, pois, sem ele, no poderia faz-lo. Eis que chegamos ao homem! Como se formou ele? Ainda a no o problema. Formou-se segundo a grande lei da formao dos seres, eis tudo. Pelo fato de no ser conhecida, essa lei no deixa de existir. Como se formaram os primeiros exemplares de cada espcie de plantas? Os primeiros indivduos de cada espcie de animal? Cada um deles se formou sua maneira, segundo a mesma lei. O que certo que Deus no teve necessidade de se transformar em oleiro, nem de sujar as mos no barro para formar o homem, nem de lhe arrancar uma costela para formar a mulher. Esta fbula, aparentemente absurda e ridcula, pode muito bem ser uma figura engenhosa, ocultando um sentido penetrvel por Espritos mais perspicazes que o meu; mas como disso nada entendo, vou me deter aqui. Finalmente, eis o homem material habitando a Terra, ele prprio habitado por um ser imaterial, do qual apenas o instrumento. Incapaz de algo por si mesmo, como a matria em geral, no se torna apto para qualquer coisa seno pela inteligncia que o anima; mas essa mesma inteligncia, criatura imperfeita como tudo quanto criatura, isto , como tudo quanto no Deus, tem necessidade de aperfeioar-se, e precisamente em vista desse aperfeioamento que o corpo lhe foi dado, porquanto, sem a matria, o Esprito no poderia manifestar-se, nem, conseqentemente, melhorar-se, esclarecer-se e progredir, enfim. Considerada coletivamente, a Humanidade comparvel ao indivduo. Ignorante na infncia, ela se esclarece medida que os anos avanam, o que se explica naturalmente pelo mesmo estado de imperfeio em que se achavam os Espritos, para cujo avano a Humanidade foi feita. Mas quanto ao Esprito,
  40. 40. JANEIRO DE 1861 43 considerado individualmente, no ser numa nica existncia que poder adquirir a soma de progresso que chamado a realizar. Eis por que um nmero mais ou menos grande de existncias corpreas lhe so necessrias, conforme o emprego que tiver feito de cada uma delas. Quanto mais houver trabalhado para o seu adiantamento em cada existncia, menos existncias ter de suportar; e como cada existncia corprea uma prova, uma expiao, um verdadeiro purgatrio, tem interesse de progredir o mais rapidamente possvel, a fim de sofrer menor nmero de provas, pois o Esprito no retrograda. Para ele cada progresso realizado uma conquista assegurada, que no lhe poder ser retirada. De acordo com esse princpio, hoje demonstrado, torna- se evidente que ele alcanar mais cedo o objetivo, quanto mais depressa caminhar. Resulta do que precede que cada um de ns no se acha, hoje, em nossa primeira existncia corporal, por muito que nos encontremos distanciados da ltima, porque nossas existncias primitivas devem ter-se passado em mundos muito inferiores Terra, qual s chegamos quando nosso Esprito alcanou um estado de perfeio compatvel com esse astro. Do mesmo modo, medida que progredimos passamos a mundos superiores, sob todos os aspectos muito mais adiantados que a Terra, e isso de degrau em degrau, avanando sempre para o melhor. Mas antes de deixar um globo, parece que nele passamos vrias existncias, cujo nmero, todavia, no limitado, mas subordinado soma de progresso que houvermos realizado. Prevejo uma objeo em teus lbios. Dir-me-s que tudo isto pode ser verdadeiro, mas como no me lembro de nada, o mesmo ocorrendo com os outros, tudo quanto se tiver passado em nossas precedentes existncias como se no se tivesse passado. E, se acontece o mesmo em cada nova existncia, ao meu Esprito pouco importa ser imortal ou morrer com o corpo, se, conservando a sua individualidade, no tem conscincia de sua
  41. 41. REVISTA ESPRITA 44 identidade. Com efeito, para ns seria a mesma coisa, mas no assim. No perdemos a lembrana do passado seno durante a vida corporal, para readquiri-la com a morte, isto , quando o Esprito despertar em sua verdadeira existncia, a de Esprito livre, em relao qual as existncias corpreas podem ser comparadas ao que o sono representa para o corpo. Em que se tornam as almas dos mortos enquanto esperam uma nova reencarnao? As que no deixam a Terra ficam errantes em sua superfcie, vo sem dvida aonde lhes apraz, ou, pelo menos, aonde podem, conforme o seu grau de adiantamento, mas, em geral, pouco se afastam dos vivos, principalmente daqueles a quem so afeioadas, quando tm afeio por algum, a menos que lhes sejam impostos deveres a cumprir alhures. Estamos, pois, em todos os momentos, cercados por uma multido de Espritos conhecidos e desconhecidos, amigos e inimigos, que nos vem, nos observam e nos ouvem; alguns participam de nossas penas, bem como de nossas alegrias; outros sofrem com os nossos prazeres ou gozam com as nossas dores, enquanto outros, finalmente, mostram-se indiferentes a tudo, exatamente como acontece na Terra, entre os mortais, cujas afeies, antipatias, vcios e virtudes so conservados no outro mundo. A diferena que os bons desfrutam na outra vida de uma felicidade desconhecida na Terra, o que se compreende muito bem; no tm necessidades materiais a satisfazer, nem obstculos do mesmo gnero a ultrapassar. Se viveram bem, isto , se nada tm ou pouco tm a se censurar em sua ltima existncia corporal, gozam em paz o testemunho de sua conscincia e do bem que fizeram. Se viveram mal, se foram maus, como l esto a descoberto no podem mais dissimular sob o envoltrio material, sofrendo a presena daqueles a quem ofenderam, desprezaram e oprimiram, bem como a impossibilidade, em que se encontram, de subtrair-se aos olhares de todos. Sofrem, finalmente, pelo remorso que os corri, at que o arrependimento os venha aliviar, o que acontece mais cedo ou mais
  42. 42. JANEIRO DE 1861 45 tarde, ou que uma nova encarnao os afaste, no s vistas de outros Espritos, mas s prprias vistas, tirando-lhes momentaneamente a conscincia de sua identidade. Desse modo, perdendo a lembrana do passado, sentem-se aliviados. Mas tambm , para eles, o momento em que comea uma nova prova. Se dela tiverem a sorte de sair melhorados, gozaro o progresso realizado; se no se melhorarem, reencontraro os mesmos tormentos, at que, finalmente, se arrependam ou aproveitem uma nova existncia. H um outro gnero de sofrimento: o experimentado pelos piores e mais perversos Espritos. Inacessveis vergonha e ao remorso, estes no sentem os seus tormentos, embora seus sofrimentos sejam ainda mais vivos, porquanto, sempre inclinados ao mal, mas impotentes para o fazer, sofrem de inveja ao ver os outros mais felizes ou melhores que eles prprios, ao mesmo tempo sofrendo a raiva de no poderem saciar o seu dio e entregar-se a todas as suas ms inclinaes. Oh! estes sofrem muito, mas, como te disse, sofrero apenas enquanto no se melhorarem, ou, em outros termos, at o dia em que melhorarem. Muitas vezes no prevem esse termo; so to maus, to enceguecidos pelo mal, que no suspeitam a existncia, ou a possibilidade da existncia de um melhor estado de coisas, no imaginando, conseqentemente, que seu sofrimento deve acabar um dia. isso que os torna insensveis ao mal e lhes agrava os tormentos. Como, porm, nem sempre podem fugir sorte comum que Deus reserva, sem exceo, a todas as criaturas, chega finalmente um momento em que lhes preciso seguir a rota ordinria; algumas vezes esse dia est mais prximo do que se poderia supor ao observar a sua perversidade. Foram vistos alguns que se converteram subitamente, e de repente seus sofrimentos cessaram; entretanto, ainda lhes restam rudes provas a suportar na Terra, em sua prxima encarnao. preciso que se depurem, expiando as prprias faltas, e isto, definitivamente, mais que justo; pelo menos no temem mais a perda do progresso realizado, pois no podem retroceder.
  43. 43. REVISTA ESPRITA 46 Eis a, meu amigo, da mais clara e sucinta maneira, a exposio da filosofia do Espiritismo, tal qual me era possvel faz- lo numa carta. Dela encontrars desenvolvimentos mais completos, at este momento, e os mais satisfatrios, em O Livro dos Espritos, fonte onde bebi aquilo que me fez o que sou. Passemos agora prtica. (Concluso no prximo nmero) O Esprito Batedor do Aube Um dos nossos assinantes transmite-nos detalhes muito interessantes sobre manifestaes que ocorreram, e ainda ocorrem, numa localidade do Departamento do Aube, cujo nome silenciaremos, mesmo considerando que a pessoa em cuja casa se do esses fenmenos no se preocupa absolutamente em ser assaltada pela visita de numerosos curiosos, e apesar dessas manifestaes barulhentas j lhe terem produzido vrios dissabores. Alis, nosso correspondente relata como testemunha ocular e ns o conhecemos bastante para saber que ele digno de confiana. Extramos as passagens mais interessantes de seu relato: H quatro anos (em 1856), na cidade onde resido, em casa do Sr. R..., ocorreram manifestaes que lembram, at certo ponto, as de Bergzabern; ento eu no conhecia aquele senhor, s travando conhecimento com ele mais tarde, de sorte que foi por ter ouvido dizer que fiquei sabendo do que se passava naquela poca. Havendo as manifestaes cessado h muito tempo, o Sr. R... j se julgava livre delas quando, pouco depois, recomearam como antigamente. Pude, ento, testemunh-las durante vrios dias seguidos. Contarei, portanto, o que vi com os meus prprios olhos.
  44. 44. JANEIRO DE 1861 47 A pessoa que objeto dessas manifestaes o filho do Sr. R..., de dezesseis anos; tinha, portanto, apenas doze quando elas se produziram pela primeira vez. um rapaz de inteligncia excessivamente limitada, no sabe ler nem escrever e raramente sai de casa. Quanto s manifestaes que ocorreram em minha presena, com exceo do balanar do leito e da suspenso magntica, o Esprito imitou mais ou menos em tudo o de Bergzabern; as pancadas e as arranhaduras foram as mesmas; assoviava, imitava o rudo da lima e da serra e atirou no quarto pedaos de carvo vindos no se sabe de onde, desde que no os havia no aposento em que estvamos. Os fenmenos geralmente se produzem quando o jovem est deitado e comea a dormir. Durante o sono fala ao Esprito com autoridade e assume o tom de comando de um oficial superior a ponto de enganar os outros, embora jamais tenha assistido a exerccios militares; simula um combate, comanda a manobra, alcana a vitria e se julga nomeado general no campo de batalha. Quando ordena ao Esprito que desfira certo nmero de golpes, acontece algumas vezes que este d mais do que lhe ordenado. Ento o garoto pergunta: Como fars para tirar as pancadas que deste a mais? Ento o Esprito se pe a raspar, como se apagasse algo. Quando o menino comanda, fica numa grande agitao e por vezes grita to forte que sua voz se extingue numa espcie de estertor. Ao ser comandado, o Esprito bate todas as marchas francesas e estrangeiras, mesmo as dos chineses. No pude verificar a sua exatido, pois no as conheo. Mas muitas vezes acontecia ao menino dizer: No assim! Recomece! E o Esprito obedecia. Devo dizer de passagem que durante o sono o menino muito grosseiro ao comandar. Numa noite em que eu assistia a uma dessas cenas, j havia cinco horas que o filho R... se achava em grande agitao. Tentei acalm-lo por meio de alguns passes magnticos, mas logo se tornou furioso e revolveu todo o leito. No dia seguinte deitou- se minha chegada e, como de costume, dormiu ao cabo de alguns minutos; ento as pancadas e arranhaduras comearam. De repente
  45. 45. REVISTA ESPRITA 48 disse ao Esprito: Vem c; eu vou te adormecer. E, para grande surpresa nossa, magnetizou-o, apesar da resistncia do Esprito, que parecia recusar-se; pelo menos o que pude depreender da conversa que eles tiveram juntos. Depois o despertou, desmagnetizando-o como o teria feito um magnetizador profissional. Percebi, ento, que dava a impresso de recolher muito fluido, que me lanou, apostrofando-me e injuriando-me. Ao despertar, no guardava nenhuma recordao do que havia ocorrido. Longe de se atenuarem, os fatos se agravam cada vez mais de modo aflitivo, para exasperao do Esprito, que por certo teme perder o domnio que exerce sobre o rapaz. Quis perguntar- lhe o nome e os antecedentes, mas s logrei mentiras e blasfmias. Devo dizer agora que ele fala pela boca de um rapaz, que lhe serve de mdium falante. Tentei inutilmente despertar-lhe melhores sentimentos, por meio de boas palavras; respondeu-me que a prece no exerce o menor poder sobre ele; que tentou se elevar at Deus, mas s encontrou gelo e nevoeiro. Ento me chama de beato e, quando oro mentalmente, observo que se torna furioso e d golpes redobrados. Diariamente traz objetos muito volumosos, ferro, cobre, etc. Quando lhe pergunto onde os obtm, responde que os toma das pessoas desonestas. Se lhe dou lies de moral, enfurece- se. Uma noite me disse que enquanto eu viesse ele quebraria tudo, e que no iria embora antes da Pscoa; depois me cuspiu no rosto. Tendo perguntado por que se ligava dessa forma ao jovem R..., respondeu: Se no fosse ele, seria outro. O prprio pai no est livre dos assaltos desse Esprito malfazejo. Muitas vezes interrompido em seu trabalho porque batido, puxado pelas roupas em todas as direes e mesmo beliscado at sangrar. Fiz o que pude, mas os recursos j chegam ao fim. Acrescento que tanto mais difcil obter bons resultados quanto certo que o Sr. e a Sra. R..., apesar do desejo de livrar-se do Esprito, que lhes ocasionou verdadeiros prejuzos, e so obrigados a
  46. 46. JANEIRO DE 1861 49 trabalhar para viver, no me auxiliam, pois sua f em Deus no tem grande consistncia. Omitimos uma poro de detalhes que s serviriam para corroborar o que relatamos. Todavia, dissemos o bastante para mostrar que se pode dizer desse Esprito, como de certos malfeitores, que da pior espcie. Na sesso da Sociedade, de 9 de novembro ltimo, foram dirigidas a So Lus as seguintes perguntas a respeito: 1. Tereis a bondade de dizer-nos alguma coisa sobre o Esprito que obsidia o jovem R...? Resp. A inteligncia desse rapaz das mais fracas. Quando o Esprito se apodera dele, fica completamente alucinado, tanto mais quanto mais mergulhado no sono. No exercendo a razo nenhum domnio sobre o seu crebro, deixa-se obsidiar por esse Esprito turbulento. 2. Pode um Esprito relativamente superior exercer sobre outro Esprito uma ao magntica e paralisar suas faculdades? Resp. Um Esprito bom nada pode sobre outro, a no ser do ponto de vista moral; jamais fisicamente. A fim de paralisar pelo fluido magntico ter de agir sobre a matria, e o Esprito no matria semelhante ao corpo humano. 3. Como, ento, pretende o jovem R... magnetizar o Esprito e faz-lo adormecer? Resp. Ele assim o julga, e o Esprito se presta iluso. 4. O pai deseja saber se no haveria um meio de se desembaraar desse hspede importuno e se o filho ainda estaria sujeito a essa prova por muito tempo. Resp. Quando o rapaz estiver acordado ser necessrio que evoquem, junto com ele, os Espritos bons, a fim de
  47. 47. REVISTA ESPRITA 50 o pr em contato com estes e, por esse meio, afastar os maus, que o obsidiam durante o sono. 5. Poderamos agir assim, evocando, por exemplo, esse Esprito, a fim de o moralizar ou, quem sabe, o prprio Esprito do rapaz? Resp. Talvez no seja possvel no momento; ambos so muito materializados. preciso agir diretamente sobre o corpo do ser vivo, por meio da presena dos Espritos bons, que viro a ele. 6. No compreendemos bem a resposta. Resp. Digo que preciso chamar o concurso dos Espritos bons, que podero tornar o rapaz menos acessvel s impresses dos Espritos maus. 7. Que poderemos fazer por ele? Resp. O Esprito mau que o obsidia no o deixar com facilidade, j que no fortemente repelido por ningum. Vossas preces, vossas evocaes so uma arma fraca contra ele. Seria necessrio agir direta e materialmente sobre a pessoa a quem ele atormenta. Podeis orar, pois a prece sempre boa. Mas no o conseguireis por vs mesmos, se no fordes secundados por aqueles mais interessados no caso, isto , o pai e a me. Infelizmente, eles no tm essa f em Deus que centuplica as foras, e Deus s ouve aqueles que a Ele se dirigem com confiana. No podem, pois, queixar-se de um mal para o qual nada fazem para evitar. 8. Como conciliar a sujeio desse rapaz, dominado por tal Esprito, com a autoridade que sobre este exerce aquele, j que ordena e o Esprito obedece? Resp. O Esprito desse jovem pouco adiantado moralmente, mas o mais do que se pensa, em inteligncia. Em outras existncias abusou de sua inteligncia, no dirigida para um
  48. 48. JANEIRO DE 1861 51 fim moral, mas, ao contrrio, para objetivos ambiciosos. Agora se encontra em punio num corpo que no lhe permite dar livre curso inteligncia, e o Esprito mau aproveita a sua fraqueza. Este se deixa levar por questes de somenos importncia, porque sabe que o jovem incapaz de lhe ordenar coisas srias: ele o diverte. A Terra est repleta de Espritos assim, em punio em corpos humanos; eis por que nela h tantos males, e dos mais variados tipos. Observao A observao vem apoiar esta explicao. Durante o sono, o jovem demonstra uma inteligncia incontestavelmente superior de seu estado normal, o que prova um desenvolvimento anterior, porm reduzido a estado latente sob esse envoltrio grosseiro. Somente nos momentos de emancipao da alma, nos quais no sofre tanto a influncia da matria, que sua inteligncia se manifesta, ocasio em que exerce tambm uma espcie de autoridade sobre o ser que o subjuga. Mas, voltando ao estado de viglia, suas faculdades se aniquilam sob o envoltrio material que as comprime. No est a um ensino moral prtico? Algum manifesta o desejo de evocar esse Esprito, mas nenhum dos mdiuns presentes se interessa em servir-lhe de intrprete. A Srta. Eugnie, que tambm havia mostrado repugnncia, tomou de repente o lpis num movimento involuntrio e escreveu: 1. No queres? Pois sim! Tu escrevers. Certamente pensas que no te dominarei. Eis-me aqui. Mas no te espantes tanto. Farei com que vejas minha fora. Nota Nesse momento o Esprito faz a mdium dar um grande murro na mesa e quebrar vrios lpis. 2. J que estais aqui, dizei por que motivo vos ligastes ao filho do Sr. R...
  49. 49. REVISTA ESPRITA 52 Resp. Seria preciso, creio, que eu vos fizesse confidncias! Antes de tudo, sabei que tenho grande necessidade de atormentar algum. Um mdium sensato me repeliria. Apego-me a um idiota, que no me ope nenhuma resistncia. 3. Nota Algum argumenta que, malgrado esse ato de covardia, esse Esprito no deixa de ter inteligncia. Ele responde sem que lhe tenham perguntado diretamente: Resp. Um pouco. No sou to tolo quanto pensais. 4. Que reis quando vivo? Resp. No era grande coisa; um homem que fez mais mal do que bem e que cada vez mais punido. 5. J que sois punido por ter feito mal, devereis compreender a necessidade de fazer o bem. No desejais melhorar? Resp. Se quiserdes auxiliar-me, eu perderia menos tempo. 6. No pedimos mais que isso, mas necessrio que tenhais vontade. Orai conosco, isto vos ajudar. Resp. (Aqui o Esprito d uma resposta blasfema). 7. Basta! No queremos ouvir mais. Espervamos despertar em vs alguns sentimentos bons; foi com esse objetivo que vos chamamos. Mas desde que s respondeis nossa benevolncia com palavras vis, podeis retirar-vos. Resp. Ah! aqui esbarra a vossa caridade! Porque pude resistir um pouco, vejo que essa caridade logo pra; que no valeis mais do que eu. Sim, podereis moralizar-me mais do que pensais, se soubsseis dar provas disso, primeiro no interesse do idiota que sofre, do pai que no se assusta muito e finalmente no meu, se assim vos agrada.
  50. 50. JANEIRO DE 1861 53 8. Dizei vosso nome, a fim de que possamos cham-lo. Resp. Oh! meu nome pouco importa. Chamai-me, se quiserdes, o Esprito do jovem idiota. 9. Se vos quisemos fazer calar porque dissestes uma palavra sacrlega. Resp. Ah! Ah! o senhor chocou-se! Para saber o que h na lama preciso revolv-la. 10. Algum diz: Esta imagem digna do Esprito: ignbil. Resp. Quereis poesia, moo? Ei-la: Para conhecer o perfume da rosa preciso cheir-la. 11. J que dissestes que vos poderamos auxiliar a vos tornardes melhor, um dos senhores presentes se oferece para vos instruir. Quereis atend-lo quando vos evocar? Resp. Antes de tudo, quero ver se me convm. (Depois de alguns instantes de reflexo acrescenta): Sim; irei. 12. Por que o filho do Sr. R... se enfurecia quando o Sr. L... queria magnetiz-lo? Resp. No era ele que se encolerizava; era eu. 13. Por qu? Resp. No tenho nenhum poder sobre esse homem, razo por que no posso suport-lo. Ele quer arrebatar-me aquele que tenho sob o meu domnio, e isso no admito. 14. Deveis perceber vossa volta Espritos mais felizes que vs. Sabeis por qu? Resp. Sei muito bem; eles so melhores do que eu.
  51. 51. REVISTA ESPRITA 54 15. Compreendeis ento que, se ao invs de fazer o mal, fizsseis o bem, sereis feliz como eles? Resp. No desejava mais que isso; mas difcil fazer o bem. 16. Talvez seja difcil para vs, mas no impossvel. Sabeis que a prece pode exercer grande influncia em vossa melhoria? Resp. No digo que no; pensarei nisso. Chamai-me algumas vezes. Observao Como se v, esse Esprito no desmentiu o seu carter. Entretanto, revelou-se menos recalcitrante no fim, o que prova no ser de todo inacessvel ao raciocnio. Ele dispe da soluo, mas, para domin-lo, preciso um concurso de vontades que ora no existe. Isto deve ser um ensinamento para as pessoas que poderiam achar-se em casos semelhantes. Sem dvida esse Esprito muito mau e pertence ral do mundo esprita. Pode-se dizer que brutalmente mau, mas que em seres semelhantes h mais recursos que nos hipcritas. Seguramente so muito menos perigosos que os Espritos fascinadores que, auxiliados por certa dose de inteligncia e uma falsa aparncia de virtude, sabem inspirar a certas pessoas uma confiana cega em suas palavras, confiana de que cedo ou tarde sero vtimas, porquanto tais Espritos jamais agem com vistas ao bem: tm sempre uma segunda inteno. Esperamos que O Livro dos Mdiuns tenha como resultado pr-nos em guarda contra suas sugestes, o que, certamente, no lhes agradar. Mas, como fcil de ver, to pouco nos inquietamos com a sua m vontade quanto com a dos Espritos encarnados, que eles podem excitar contra ns. Os Espritos maus, tanto quanto os homens, no vem com bons olhos aqueles que, desmascarando as suas torpezas, lhes tiram os meios de fazer o mal.
  52. 52. JANEIRO DE 1861 55 Ensino Espontneo dos Espritos DITADOS RECEBIDOS OU LIDOS NA SOCIEDADE POR VRIOS MDIUNS Os trs tipos Mdium: Sr. Alfred Didier H no mundo trs tipos que sero eternos. Esses trs tipos, grandes homens os pintaram tais quais eram em seu tempo; e adivinharam que existiriam sempre. Esses trs tipos so, inicialmente, Hamlet, que diz para si mesmo: To be or not to be, that is the question; depois Tartufe, que resmunga preces enquanto medita no mal; por fim Don Juan, que a todos diz: No creio em nada. Molire achou, sozinho, dois desses tipos; Aviltou Tartufe e fulminou Don Juan. Sem a verdade o homem fica na dvida como Hamlet, sem conscincia como Tartufe, sem corao como Don Juan. Hamlet est em dvida, verdade, mas procura, infeliz, a incredulidade o acabrunha, suas mais doces iluses se afastam cada vez mais, e esse ideal, essa verdade que ele persegue cai no abismo como Oflia e fica perdida para sempre. Ento enlouquece e morre como um desesperado; mas Deus o perdoar, porque teve corao, amou e foi o mundo que lhe roubou aquilo que queria conservar. Os outros dois tipos so atrozes, porque egostas e hipcritas, cada um a seu modo. Tartufe toma a mscara da virtude, o que o torna odioso; Don Juan em nada cr, nem mesmo em Deus: s acredita em si mesmo. Jamais tivestes a impresso de ver, nesse famoso smbolo que Don Juan e na esttua do Comendador, o cepticismo diante das mesas girantes? O corrompido Esprito humano frente sua mais brutal manifestao? At o presente o mundo no viu neles seno uma figura inteiramente humana. Credes que no se deve neles ver e sentir algo mais? Como o gnio inimitvel de Molire no teve, nessa obra, o sentimento do bem-senso dos fatos espirituais, como o tinha sempre dos defeitos deste mundo! Grard de Nerval
  53. 53. REVISTA ESPRITA 56 CAZOTTE Mdium Sr. Alfred Didier curioso ver surgir, no meio do materialismo, uma reunio de homens de boa-f para propagar o Espiritismo. Sim, no meio das mais profundas trevas que Deus lana a luz, e no momento em que mais esquecido que Ele melhor se mostra, semelhantemente ao ladro sublime de que fala o Evangelho, e que vir julgar o mundo no momento em que este menos esperar. Mas Deus no vem a vs para vos surpreender; ao contrrio, vem prevenir-vos de que essa grande surpresa, que deve apoderar-se dos homens ao morrerem, deve ser para eles funesta ou feliz. Foi para o meio de uma sociedade corrompida que Deus me enviou. Graas clarividncia, algumas dessas revelaes que em meu tempo pareciam to maravilhosas, hoje se mostram muito naturais. Para mim, todas essas lembranas no passam de sonhos e, louvado seja Deus! o despertar no foi penoso. O Espiritismo nasceu, ou melhor, ressuscitou em vosso tempo; o magnetismo era do meu tempo. Crede que as grandes luzes precedem os grandes clares. O autor do Diable Amoureux vos lembra que j teve a honra de conversar convosco e se sentir feliz em continuar suas relaes amistosas. Cazotte Na sesso seguinte foram dirigidas ao Esprito Cazotte as perguntas que se seguem: Na ltima vez em que aqui viestes espontaneamente tivestes a gentileza de dizer que voltareis de boa vontade. Aproveitamos o oferecimento para vos dirigir algumas perguntas, se assim o quiserdes.
  54. 54. JANEIRO DE 1861 57 1o A histria do famoso jantar em que predissestes a sorte que aguardava cada um dos convivas inteiramente verdadeira? Resp. verdadeira no sentido de que a predio no foi feita numa nica noite, mas em vrios jantares, no fim dos quais eu me divertia em amedrontar os meus amveis convivas, por meio de sinistras revelaes. 2o Conhecemos os efeitos da dupla vista e compreenderamos que, dotado dessa faculdade, tivsseis podido ver coisas distantes, mas que se passavam naquele momento. Como pudestes ver coisas futuras, que ainda no existiam, e v-las com preciso? Podereis dizer-nos, ao mesmo tempo, como vos foi dada essa previso? Falastes simplesmente como inspirado, sem nada ver, ou o quadro dos acontecimentos que anunciastes se vos apresentou como uma imagem? Tende a bondade de descrever isto to bem quanto puderdes para a nossa instruo. Resp. H na razo do homem um instinto moral que o impele a predizer certos acontecimentos. verdade que eu era dotado de uma clarividncia extraordinria, mas sempre humana, para os acontecimentos que ento se passaram. Mas acreditais que o bom-senso, ou o sadio julgamento das coisas terrenas possam vos detalhar, com anos de antecedncia, tal ou qual circunstncia? No. minha natural sagacidade aliava-se uma qualidade sobrenatural: a dupla vista. Quando eu revelava s pessoas que me cercavam os terrveis abalos que deveriam ocorrer, evidentemente eu falava como um homem de bom-senso e de lgica. Mas quando eu via pequenos detalhes dessas circunstncias; quando eu via visivelmente tal ou qual vtima, ento no falava mais como um simples homem dotado, mas como um homem inspirado. 3o Independentemente desse fato, tivestes outros exemplos de previso durante a vida?
  55. 55. REVISTA ESPRITA 58 Resp. Sim. Eram todas mais ou menos sobre o mesmo assunto. Mas, como passatempo, eu estudava as cincias ocultas e me ocupava muito de magnetismo. 4o Essa faculdade de previso vos acompanhou no mundo dos Espritos? Isto , aps a morte ainda prevedes certos acontecimentos? Resp. Sim; esse dom me ficou muito mais puro. Observao Poder-se-ia ver aqui uma contradio com o princpio que se ope revelao do futuro. Com efeito, o futuro nos oculto por uma lei muito sbia da Providncia, considerando- se que tal conhecimento prejudicaria o nosso livre-arbtrio, levando-nos a negligenciar o presente pelo futuro. Alm disso, por nossa oposio, poderamos entravar certos acontecimentos necessrios ordem geral. Mas quando essa comunicao nos pode impelir a facilitar a realizao de uma coisa, Deus pode permitir a sua revelao, nos limites designados por sua sabedoria. A VOZ DO ANJO-DA-GUARDA Mdium Srta. Huet Todos os homens so mdiuns; todos tm um Esprito que os dirige para o bem, quando sabem escut-lo. Pouco importa que alguns se comuniquem diretamente com ele por uma mediunidade particular, e que outros no o ouam seno pela voz do corao e da inteligncia; nem por isso deixar de ser o seu Esprito familiar que os aconselha. Chamai-o Esprito, razo, inteligncia: sempre uma voz que responde vossa alma e vos dita boas palavras; s que nem sempre as compreendeis. Nem todos sabem agir segundo os conselhos dessa razo, no da razo que se arrasta, em vez de marchar, dessa razo que se perde em meio aos interesses materiais e grosseiros, mas da razo que eleva o homem acima de si mesmo, que o transporta para regies desconhecidas; chama sagrada que inspira o artista e o poeta,
  56. 56. JANEIRO DE 1861 59 pensamento divino que eleva o filsofo, impulso que arrasta os indivduos e os povos, razo que o vulgo no pode compreender, mas que aproxima o homem da divindade mais que qualquer outra criatura; entendimento que sabe conduzi-lo do conhecido ao desconhecido, fazendo com que execute os atos mais sublimes. Ouvi, pois, essa voz interior, esse bom gnio que vos fala sem cessar, e chegareis progressivamente a ouvir o vosso anjo da guarda, que do alto do cu vos estende as mos. Channing GARRIDICE Mdium Sra. Costel Hoje nos ocuparemos da garridice feminina, que a inimiga do amor: ela mata ou o amesquinha, o que pior. A mulher garrida assemelha-se a um pssaro engaiolado, que, pelo canto, atrai as outras aves para junto de si. Ela atrai os homens, cujos coraes se dilaceram contra as grades que a encerram. Lamentamos mais a ela que a eles. Reduzida ao cativeiro pela estreiteza de idias e pela aridez de seu corao, sapateia na obscuridade de sua conscincia, sem jamais poder ver luzir o sol do amor, que s irradia para as almas generosas e dedicadas. mais difcil sentir o amor do que inspir-lo; no entanto, todos se inquietam e perscrutam o corao desejado, sem primeiro examinar se o seu possui o tesouro cobiado. No; o amor que a sensualidade do amor-prprio no amor, assim como a garridice no a seduo para uma alma elevada. Temos razo em censurar e cercar de dificuldades essas frgeis ligaes, vergonhosa permuta de vaidades, de misrias de toda sorte. O amor fica alheio a essas coisas, do mesmo modo que o raio no fica maculado pelas imundcies que ele ilumina. Insensatas so as mulheres que no compreendem que sua beleza e sua virtude representam o amor em seu abandono, no
  57. 57. REVISTA ESPRITA 60 esquecimento dos interesses pessoais e na transmigrao da alma que se entrega inteiramente ao ser amado. Deus abenoa a mulher que carregou o jugo do amor e repele aquela que fez desse precioso sentimento um trofu sua vaidade, uma distrao sua ociosidade ou uma chama carnal que consome o corpo, deixando vazio o corao. Georges Allan Kardec
  58. 58. Revista Esprita Jornal de Estudos Psicolgicos ANO IV FEVEREIRO DE 1861 No 2 Boletim DA SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPRITAS (Resumo das Atas) Admisso de dois novos membros. Relatrios diversos: 1o Leitura de vrias comunicaes obtidas fora das sesses. 2o O Sr. Allan Kardec l uma carta de Bordeaux, na qual proposta a evocao da Srta. M. H..., recentemente falecida. Consultada sobre o assunto, a Sociedade julga por bem no se ocupar dessa evocao. Trabalhos da sesso: 1o Ditado espontneo assinado por Lzaro, recebido pela Sra. Costel. Outro assinado por Grard de Nerval, obtido pelo Sr. A. Didier. O Esprito desenvolve a tese cujas bases apresentara na comunicao Os Trs Tipos: Hamlet, Don Juan e
  59. 59. REVISTA ESPRITA 62 Tartufe, em 14 de dezembro. Desenvolve o tipo de Hamlet. Solicitado, d a sua opinio sobre La Fontaine. Outro assinado por Torquato Tasso, recebido pela Srta. H... O Esprito faz igualmente uma apreciao sobre La Fontaine. 2o Evocao de lady Esther Stanhope, que passou a maior parte de sua vida nos altiplanos do Lbano, no meio das populaes rabes que lhe haviam dado o ttulo de Rainha de Palmira. Sexta-feira, 28 de dezembro de 1860 Sesso geral Relatrios diversos: 1o Leitura de vrias comunicaes recebidas fora das sesses, entre outras um conto fantstico assinado por Hoffmann, obtido pela Sra. Costel, e a evocao de um negro, feita em Nova Orlans, pela Sra. B... A comunicao notvel pela ingenuidade das idias e pela reproduo da linguagem usada entre os negros. 2o Carta da Sra. T. D..., da Cracvia, constatando os progressos do Espiritismo na Polnia, na Podlia e na Ucrnia. Essa senhora mdium h sete anos. Junta sua carta quatro comunicaes que atestam a bondade e a superioridade do Esprito que as ditou, alm de pedir para fazer parte da Sociedade. 3o O Sr. Allan Kardec dirige aos Espritos a alocuo seguinte, para lhes agradecer o seu concurso durante o ano que ora se finda: No queremos terminar o ano sem dirigir os nossos agradecimentos aos Espritos bons, que tiveram a bondade de nos instruir. Agradecemos principalmente a So Lus, nosso presidente espiritual, cuja proteo tem sido de tal modo evidente para a Sociedade que esta o tomou sob seu patrocnio. Assim, esperamos continuar merecendo a sua proteo, rogando-lhe que nos inspire
  60. 60. FEVEREIRO DE 1861 63 sentimentos que nos possam tornar sempre dignos dela. Agradecemos, igualmente, a todos os que espontaneamente vieram dar-nos os seus conselhos e as suas instrues, quer nas nossas sesses, quer nas comunicaes dadas em particular aos nossos mdiuns, e que nos foram transmitidas. Neste nmero no poderamos esquecer Lamennais, que ditou ao Sr. Didier pginas de to grande eloqncia; Channing; Georges, cujas belas comunicaes tm sido admiradas por todos os leitores da Revista; Sra. Delphine de Girardin, Charles Nodier, Grard de Nerval, Lzaro, Tasso, Alfred de Musset, Rousseau e outros. O ano de 1860 foi eminentemente prspero para as idias espritas. Esperamos que com o concurso dos Espritos bons o ano que vai comear no seja menos favorvel. Quanto aos Espritos sofredores que compareceram, seja espontaneamente, seja ao nosso chamado, continuaremos, por nossas preces, a implorar para eles a misericrdia de Deus, rogando-lhe amparar os que se acham no caminho do arrependimento e esclarecer os que ainda se encontram na via tenebrosa do mal. Trabalhos da sesso: 1o Ditado espontneo sobre o ano de 1860, assinado por J.-J. Rousseau, recebido pela Sra. Costel. Outro assinado por Necker, obtido pela Srta. H... Outro, sobre o ano de 1861, assinado por So Lus. 2o Evocao de lady Stanhope, de Hoffmann, e do negro de Nova Orlans. 3o Questes diversas: Sobre a lembrana de existncias anteriores em Jpiter; Sobre as diversas aparies de que foi alvo a sogra do Sr. Pr..., presente sesso. Sexta-feira, 4 de janeiro de 1861 Sesso particular Admisso do Sr. W..., pintor.
  61. 61. REVISTA ESPRITA 64 Relatrios diversos: 1o Carta do Sr. Kond..., Mdico de Vancluse, lamentando que tudo quanto se menciona nas atas da Sociedade no seja publicado integralmente na Revista. Diz ele que Os partidrios do Espiritismo, que no podem assistir s sesses, sentem-se estranhos s questes que so estudadas e resolvidas nessa assemblia cientfica. Todos os meses, aguardamos com febril impacincia a chegada da Revista. Quando a recebemos, no perdemos um minuto para a ler: lemos e relemos, pois aprendemos uma poro de problemas, dos quais jamais teramos a soluo. Pergunta se no haveria um meio de remediar esse inconveniente. A Sra. Costel diz ter recebido cartas no mesmo sentido. Isto prova uma coisa, diz o Sr. Allan Kardec, e que nos deve dar grande satisfao: o valor que se atribui aos trabalhos da Sociedade e o crdito que ela desfruta entre os verdadeiros espritas. A publicao do resumo das atas mostra aos estrangeiros que ela s se ocupa de coisas graves e de estudos srios; a considerao que conquistou no exterior se deve sua moderao e sua marcha prudente por um terreno novo, ordem e gravidade que presidem s suas reunies, assim como ao carter essencialmente moral e cientfico de seus trabalhos. , pois, para ela um encorajamento para no se afastar de um caminho que lhe traz estima, j que do estrangeiro, at da Polnia, escrevem pedindo para dela participarem. reclamao especial e muito lisonjeira para ns, feita pelo Dr. K..., responderei, a princpio, que a publicao integral de tudo quanto se faz e se discute na Sociedade demandaria volumes e mais volumes. Entre as evocaes que so feitas muitas h que no correspondem expectativa ou no oferecem interesse bastante geral para serem publicadas. So conservadas nos arquivos a fim de que se possa consult-las em caso de necessidade,
  62. 62. FEVEREIRO DE 1861 65 limitando-se o boletim em mencion-las. O mesmo se d com as comunicaes espontneas: s publicamos as mais instrutivas. Quanto s questes diversas e probl