revista viração - edição 99 - setembro/2013

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Com quem será? Casar continua na moda e faz parte dos planos de jovens gays e heterossexuais.

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quem faz a virapelo brasil

Conheça os Virajovensem 20 Estados brasileirose no Distrito Federal:

Aracaju (SE)Belém (PA)Boa Vista (RR)Boituva (SP)Brasília (DF)Campo Grande (MS)Curitiba (PR)Fortaleza (CE)Goiânia (GO)João Pessoa (PB)Lagarto (SE)Lavras (MG)Lima Duarte (MG)Maceió (AL)Manaus (AM)Natal (RN)Picuí (PB)Pinheiros (ES)Porto Alegre (RS)Recife (PE)Rio Branco (AC)Rio de Janeiro (RJ)Salvador (BA)S. Gabriel da Cachoeira (AM)São Luís (MA)São Paulo (SP)Vitória (ES)

Auçuba Comunicação e Educomunicação – Recife (PE) • Avalanche Missões Urbanas Underground – Vitória (ES) • Buxé Fixe - Amadora (Portugal) • Casa da Juventude Pe. Burnier – Goiânia (GO) • Casa Peque Davi – João Pessoa (PB) • Catavento Comunicação e Educação – Fortaleza (CE) • Cientifi ca Assessoria Empresarial – Porto Alegre (RS) • Cipó Comunicação Iterativa –

Salvador (BA) • Ciranda – Central de Notícia dos Direitos da Infância e Adolescência – Curitiba (PR) • Coletivo Jovem – Movimento Nossa São Luís – São Luís (MA) • Gira Solidário – Campo Grande (MS) • Grupo Conectados de Comunicação Alternativa GCCA – Fortaleza (CE) • Grupo Makunaima Protagonismo Juvenil – Boa Vista (RR) • Instituto de Desenvolvimento, Educação

e Cultura da Amazônia – Manaus (AM) • Instituto Universidade Popular – Belém (PA) • Mídia Periférica – Salvador (BA) • Instituto Candeias de Cidadania – Lima Duarte (MG) • Jornal O Cidadão – Rio de Janeiro (RJ) • Lunos – Boituva (SP) • Movimento de Intercâmbio de Adolescentes de Lavras – Lavras (MG) • Oi Kabum – Rio de Janeiro (RJ) • Projeto de Extensão Vir-a-Vila

(UFRN) - Natal (RN) • Projeto Juventude, Educação e Comunicação Alternativa – Maceió (AL) • Rejupe • União da Juventude Socialista – Rio Branco (AC)

Nova diretoria da Vira é empossada durante assembléia extraordinária, em 23 de agostode 2013. Confi ra os nomes das novas presidenta e vice, e do novo secretário na página 4

Ingr

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a

editorial

Não foram as revoluções no comportamento nas décadas de 1960 e 1970, nem as novas formas de encarar e vivenciar o amor e a sexualidade que fi zeram

com que adolescentes e jovens deixassem de sonhar com o casamento. Talvez até mesmo pela maior liberdade que se desfruta hoje em dia, especialmente por gays e lésbicas, que a diversidade passou também a querer juntar as escovas de dente, mas não apenas na prática. A recente resolução do Conselho Nacional de Justiça, em 14 de maio deste ano, que obriga os cartórios brasileiros a celebrarem o casamento entre pessoas do mesmo sexo de papel passado, despertou em muitoscasais homossexuais a vontade de ofi cializar suas uniões.

A reportagem de capa desta edição aborda o casamento enquanto direito, além de histórias pouco convencionais de

diversos casais – homo e heterossexuais. Nesta edição, você ainda confere uma reportagem feita por jovens italianos

sobre preconceito e racismo, além de conhecer uma rede de voluntários que compartilha

saberes do campo. Boa leitura!

quemsomosA Viração é uma

organização não governamental

(ONG) de educomunicação, sem fi ns lucrativos, criada em março de 2003.

Recebe apoio institucional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo e da ANDI - Comunicação e Direitos. Além deproduzir a revista, oferece cursos e ofi cinas em comunicação popular feita para jovens, por jovens e com jovens em escolas, grupos e comunidades em todo o Brasil.

Para a produção da revista impressa e eletrônica, contamos com a participação dos conselhos editoriais jovens de 20 Estados, que reúnem representantes de escolas públicas e particulares, projetos e movimentos sociais. Entre os prêmios conquistados nesses dez anos, estão Prêmio Don Mario Pasini Comunicatore, em Roma (Itália), o Prêmio Cidadania Mundial, concedido pela Comunidade Bahá’í. E mais: no ranking da ANDI, a Viração é a primeira entre as revistas voltadas para jovens. Participe você também desse projeto.

Paulo Pereira Lima Diretor Executivo da Viração – MTB 27.300 Associazione Jangada

Apoio institucional

De papel passado!

Copie sem moderação! Você pode:• Copiar e distribuir• Criar obras derivadasBasta dar o crédito para a Vira!

Linguagem e preconceitoJovens italianos analisam o discurso de alguns jornaisde grande circulação do seu país e percebem racismoe preconceito implícitos nas mensagens

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Auxílio e� cazO estímulo à leitura ajuda no tratamento da dislexia, um transtorno de aprendizagem que faz com que crianças tenham difi culdades para ler, escrever e falar

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Difícil adaptaçãoO fl uxo de estrangeiros no Brasil é menor que o da época da colonização, mas as difi culdades de jovens imigrantes parecem ser as mesmas de séculos atrás

10Casar também é direito!Por amor, por desejo de ter fi lhos, pela gravidez inesperada... A liberdade sexual e a conquista de direitos estimulam casais hetero e homossexuais a ofi cializarem suas uniões

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Câmera mobilizadoraVirajovens de Salvador entrevistam o professor universitário Rodrigo Rossoni, que adota a fotografi a como instrumento de transformação da realidade

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RG da Vira:

Revista Viração - ISSN 2236-6806

Conselho EditorialEugênio Bucci, Ismar de Oliveira, Izabel Leão, Immaculada Lopez, João Pedro Baresi, Mara Luquet e Valdênia Paulino

Conselho FiscalEveraldo Oliveira, Renata Rosae Rodrigo Bandeira

Conselho PedagógicoAlexsandro Santos, Aparecida Jurado, Isabel Santos, Leandro Nonato e Vera Lion

PresidenteSusana Piñol Sarmiento

Vice-PresidenteMaria Izabel Leão

Primeiro-SecretárioRafael Lira

Diretoria ExecutivaPaulo Lima e Lilian Romão

EquipeBruno Ferreira, Elisangela Nunes,Evelyn Araripe, Gutierrez de Jesus Silva, Ingrid Evangelista, Irma D’Angelo,Manuela Ribeiro, Marcos Vinícius Oliveira, Rafael Silva, Tulio Bucchioni e Vânia Correia

Administração/AssinaturasDouglas Ramos e Norma Cinara Lemos

Mobilizadores da ViraAcre (Leonardo Nora), Alagoas (Jhonathan Pino), Amazonas (Jhony Abreu, Claudia Maria Ferraz e Sebastian Roa), Bahia (Everton Nova, Enderson Araújo e Mariana

Sebastião), Ceará (Alcindo Costa e Rones Maciel), Distrito Federal (Webert da Cruz), Espírito Santo (Jéssica Delcarro e Izabela Silva), Goiás (Érika Pereira e Sheila Manço), Maranhão (Nikolas Martins e Maria do Socorro Costa), Mato Grosso do Sul (Fernanda Pereira), Minas Gerais (Emília Merlini, Reynaldo Gosmão e Silmara Aparecida dos Santos), Pará (Diego Souza Teofi lo), Paraíba (José Carlos Santos e Manassés de Oliveira), Paraná (Juliana Cordeiro e Vinícius Gallon), Pernambuco (Edneusa Lopes e Luiz Felipe Bessa), Rio de Janeiro (Gizele Martins), Rio Grande do Norte (Alessandro Muniz), Rio Grande do Sul (Evelin Haslinger e Joaquim Moura), Roraima (Graciele Oliveira dos Santos), Sergipe (Grace Carvalho) e São Paulo (Luciano Frontelle, Paolla Menchetti e

Harrison Kobalski).

ColaboradoresAntônio Martins, Dedê Paiva, Heloísa Sato, Márcio Baraldi, Natália Forcat, Nobu Chinen, Novaes e Sérgio Rizzo .

Projeto Gráfi coAna Paula Marques e Manuela Ribeiro

RevisãoIzabel Leão

Jornalista ResponsávelPaulo Pereira Lima – MTb 27.300

DivulgaçãoEquipe Viração

E-mail Redaçã[email protected]

Manda Vê 06Imagens que Viram 24Que Figura 30No Escurinho 31

Sexo e Saúde 32Rango da Terrinha 33Parada Social 34Rap Dez 35

sempre na vira:

Pra comemorar!Conheça uma rede que completa dez anos em 2013,com uma atuação marcada pela articulação de atores sociais pelo direito à educação

17

Mídias LivresO mais novo jornal comunitário de Niterói (RJ) é fruto de um curso sobre Educomunicação no Morro do Preventório, zona sul da cidade fl uminense

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Saberes do campoUma rede mundial de voluntários promove a troca de experiências e técnicas de agricultura orgânica em 57 países do mundo, inclusive o Brasil

26

diga lá!

Perdeu alguma ediçãoda vira? não esquenta!

Você pode acessar, de graça, as edições anteriores da revista na internet: www.issuu.com/viracao

Mande seus comentários sobre a Vira, dizendo o que achou de nossas reportagens e seções. Suas sugestões são bem-vindas! Escreva para Rua Augusta, 1239 - Conj. 11 - Consolação - 01305-100 - São Paulo (SP) ou para o e-mail: [email protected] - Aguardamos sua colaboração!

Parceiros de Conteúdo

Para garantir a igualdade entre os gêneros na linguagem da Vira, onde se lê “o jovem” ou “os jovens”, leia-se também “a jovem” ou “as jovens”, assim como outros substantivos com variação de masculino e feminino.

Ops... erramosNa edição anterior (nº 98/ agosto de 2013), erramos

ao publicar a linha fi na (frase em destaque logo abaixo do título) da matéria sobre o 4º Enajoc na matéria intitulada Vigilância Constante, na página 28. A informação correta seria: “Enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes é pauta de comitê municipal de Porto Alegre”. Além disso, grafamos o nome da rede Streetfootballworld, também na edição anterior, de forma errada na linha fi na da matéria da seção Parada Social e nos esquecemos de creditar o roteiro do Rap Dez como sendo de autoria dos Virajovens de Salvador, que fazem parte do Projeto Sala Verde. Pedimos desculpas pelos equívocos.

Ops... erramosNa edição anterior (nº 98/ agosto de 2013), erramos

ao publicar a linha fi na (frase em destaque logo abaixo do título) da matéria sobre o 4º Enajoc na matéria intitulada Vigilância Constante, na página 28. A informação correta seria: “Enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes é pauta de comitê municipal de Porto Alegre”. Além disso, grafamos o nome da rede Streetfootballworld, também na edição Streetfootballworld, também na edição Streetfootballworldanterior, de forma errada na linha fi na da matéria da seção Parada Social e nos esquecemos de creditar o roteiro do Rap Dez como sendo de autoria dos Virajovens de Salvador, que fazem parte do Projeto Sala Verde. Pedimos desculpas pelos equívocos.

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Por e-mail

Olá! Meu nome é Menkell Souza Rodrigues, tenho 21 anos. Acessei o site da Viração e fi quei muito interessado em conhecer melhor o trabalho de vocês. Lido com jovens na minha comunidade e, por isso, o interesse nos projetos que vocês desenvolvem. Sou de Belém do Pará, gostaria de saber mais sobre os Virajovens e a Agência Jovem de Notícias. Vi que aqui na cidade vocês têm presença marcada. A quem e/ou pra onde devo me dirigir? Desde já agradeço a atenção de vocês!

Resposta:

Olá, Menkell! Os conselhos virajovens são grupos de adolescentes e jovens ligados a entidades e movimentos sociais que atuam pelo Brasil na defesa dos direitos humanos ou são coletivos autônomos interessados em produzir comunicação para outros jovens.

São esses núcleos os responsáveis pelos conteúdos da Revista Viração já há dez anos. O site da Agência Jovem de Notícias segue a mesma lógica colaborativa da revista. Em Belém, o Instituto Universidade Popular (Unipop) é a organização que apoia o conselho virajovem daí. Mas você pode formar um segundo conselho da Viração em Belém. O que acha?

A Viração Educomunicação recuperou o seu per� l original no Twitter. Volte a nos seguir pelo@viracao.

E também con� ra a página da Agência Jovem de Notíciasno Facebok.

Você é contra ou a favor dalegalização do aborto no Brasil?

Jéssica Delcarro, do Virajovem Pinheiros (ES), Jhony Abreu,do Virajovem (AM) e Bruno Ferreira, da Redação

O aborto é um tema que vem sendo discutido tanto em rodas de conversas informais quanto em reuniões no Senado. Em aproximadamente 55 países, o aborto é legal e sem

restrições, o serviço é gratuito e efetuado em Hospitais particulares ou públicos, entre eles estão Cuba, França, China, Estados Unidos, Portugal, África do Sul e o Uruguai. No Brasil, o mesmo só pode ser executado em casos em que a gestante corre risco de vida, ou em caso de estupro.

No começo de fevereiro deste ano, peritos da ONU se espantaram com o número de mulheres mortas pela prática ilegal no Brasil, de aproximadamente 200 mil mulheres por ano. Fomos questionar os jovens sobre o que eles pensam sobre isso. Confi ra!

Isabella Naves19 anos | Goiânia (GO)

“Acho que as pessoas não possuem instrução sufi ciente para que isso ocorra, além da falta de responsabilidade. Em lugares onde não é legalizado, o número de abortos já é enorme. Com a possível legalização, esse númeroirá aumentar muito.”

mandavê

Adriano Barbosa21 anos | São Mateus (ES)

“Sou contra. Preservar a vida em todos os estágios de sua formação é algo muito importante. O aborto impede o nascer de alguém de maneira violenta. Trata-se de um homicídio contra indefesos.”

Diego Girão27 anos | Manaus (AM)

“Sei que existem situações bem complicadas, como o caso de bebês anencéfalos e estupro, acho que somente diante dessa condição pode-se pensar no aborto. Mas isso seria apenas a liberação para eventual decisão e não uma consumação geral.”

Revista Viração • Ano 11 • Edição 9906

Raquel Mattos22 anos | Cariacica (ES)

“Sou a favor, pois a descriminalização do aborto e sua regularização são essenciais para avançar na autonomia sobre nossos corpos. Uma gravidez gera grandes impactos na vida de uma mulher, por isso só ela tem condição de avaliar se está preparada. O Estado tem o dever de garantir às brasileiras o direito de decidir.”

para ler no busão

FAZ PARTE

O livro Em defesa da vida: aborto e direitos humanos, das autoras Alcilene Cavalcante e Dulce Xavier, trata abertamente de questões que implicam a legalização do aborto. O abortamento inseguro é uma das principais causas de mortalidade de mulheres gestantes, provoca milhares de internações e acarreta problemas para a saúde de inúmeras mulheres, principalmente pobres, negras e jovens.

Católicas pelo Direito de Decidir é uma organização não governamental feminista, fundada no Brasil em 8 de março de 1993. Sua missão é “promover a mudança de padrões culturais e religiosos, afi rmando os direitos sexuais e os direitos reprodutivos como direitos humanos, para garantir a autonomia e a liberdade das mulheres e a construção de relações igualitárias entre as pessoas”. A ONG vem buscando por meio de seus trabalhos a justiça social, o diálogo inter-religioso e a mudança dos padrões culturais e religiosos que cerceiam a autonomia e a liberdade das mulheres, especialmente no exercício da sexualidade e da reprodução.

Hebert Balieiro25 anos | Manaus (AM)

“O aborto, na minha concepção é um crime, por isso sou contra. Entendo que o feto ao ser gerado já é uma vida e a pessoa, ao fazer um aborto, está indo contra as leis de Deus, pois ninguém pode tirar a vida de outra pessoa.”

Victória Petrólio15 anos | São Paulo (SP)

“Eu sou a favor! As pessoas mais pobres que não têm condições de cuidar abortam ou dão para a adoção. Se a mulher quer abortar o problema é dela. Ela tem a consciência do que está fazendo.”

Rafael Azevedo23 anos | Manaus (AM)

“Sou a favor que seja regularizado, pois acredito que em muitos casos o procedimento seja necessário. O aborto nunca acabará mesmo se for proibido e a legislação poderá normatizar como o aborto poderá ser feito e quem terá esse direito.”

Revista Viração • Ano 11 • Edição 99 07

Dadi Petrólio20 anos | São Paulo (SP)

Essa é uma questão que fi co meio em cima do muro, porque super apoio legalizar, desde que seja pra caso de estupro. Mas se for puramente por abortar porque não quer ter, aí eu sou meio contra”

Confi ra o link sugerido pelo QR Code!

No site das Católicas pelo Direito de Decidir, você consegue fazer o download do livro Em defesa da vida: aborto e direitos humanos:

www.catolicas.org.br/biblioteca/conteudo.asp?cod=37

tá na mão

No site das Católicas

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Lorenzo, Alice, Cecilia, Anna, Anna, Marco, Ottavia, Emily, Stefania, Arianna,Francesco, Alice, Isabella, Selene, Isra, Clelia Sophie, Marco, Benedetta, de Trento*Tradução: Juliana Winkel

Mensagens ditas nas entrelinhas (ou, às vezes, de forma explícita) podem dizer muito sobre como a imprensa e a comunidade tratam as

questões multirraciais. Essa foi a descoberta feita por jovens de quatro turmas do liceu clássico “G. Prati”, na cidade de Trento – Itália, que participaram, entre os meses de abril e maio, de uma série de atividades ligadas ao tema.

As refl exões se desenvolveram a partir da análise de notícias dos jornais italianos L’Adige e Corriere Della Sera, ligadas a temas como o programa de assistência monetária a famílias de baixa renda, casos policiais e ocupações ilegais. Na leitura de artigos, cartas e comentários feitos na Internet, foram identifi cadas generalizações, insinuações e associações arbitrárias e infundadas, assim como afi rmações imprecisas. Como

Revista Viração • Ano 11 • Edição 9908

Estudantes italianos analisam as notícias de jornais do país e identifi cam racismo e preconceito nas entrelinhas dos discursos

“Eu não sou racista, mas...”

Jovens estudantes italianos analisam o racismo “democrático”

viraçãoworld

conclusão, os jovens puderam comprovar o papel ativo que a linguagem midiática pode ter no fomento à desconfi ança e ao racismo, seja no uso inapropriado de palavras ou na ênfase a alguns tipos de notícias.

Nos artigos, que normalmente defendem argumentos específi cos, não aparecem expressões explicitamente ofensivas, mas frequentemente generalizações, simplifi cações e insinuações: “os atravessadores clandestinos haviam pedido hospedagem a conterrâneos legais que se dizem totalmente alheios à questão.” Nas cartas e, principalmente nos comentários online, por sua vez, a linguagem é mais livre, contendo insultos e associações arbitrárias.

Lendo os textos mais negativos, foram identifi cadas expressões de desconfi ança, descontentamento e, às vezes, medo do que é diferente; as pessoas exprimem ideias e emoções de forma sintética e simplifi cada, frequentemente em dialeto trentino. Os estudantes notaram também a falta de conhecimento mais amplo dos temas, ou linguagem instrumentalizada, sobretudo em relação ao debate político: de acordo com a análise, pessoas pouco informadas ou mal-intencionadas acreditam que os imigrantes tenham mais direitos e privilégios que os cidadãos locais, ou se deixam infl uenciar pela dúvida de que o estrangeiro possa ser autor ou cúmplice de delitos. “Deixarão o trentino à deriva, à mercê de imigrantes desocupados que vivem de subsídios, atravessadores de drogas e fanáticos

religiosos. Enquanto continuarmos a votar nessa gente, merecemos essa degradação...”

Os resultados do trabalho dos estudantes foram apresentados no evento Eu não sou racista, mas…, organizado pela fundação Alcide Degasperi, no dia 28 de maio. Depois das falas e depoimentos de personalidades de destaque das esferas política e cultural, os alunos puderam expressar e confrontar as próprias opiniões a respeito da temática do racismo, especialmente no campo das comunicações e da linguagem midiática.

Estiveram presentes ao evento, discutindo o tema ao lado dos jovens, o professor Giuseppe Zorzi, presidente da fundação, e o escritor Michele Bonmassar, autor do livro Razza e diritto nell’esperienza coloniale italiana (Raça e direito na experiência colonial italiana). Participaram ainda o diretor do Centro Intercultural Empolese Valdelsa, Giuseppe Faso; a conselheira municipal de Rovereto, Aicha Mesrar; o jornalista e educomunicador da Viração, Paulo Lima; e a presidente da Associação de mulheres albanesas em Trentino (TEUTA), Leonora Zelfi .

O resultado geral do trabalho, dizem os estudantes, foi muito positivo. “Graças a este projeto aprendemos a prestar mais atenção à linguagem, seja na leitura ou na escrita – e nos tornamos, também, mais conscientes da importância de se ter acesso as informações completas e variadas para podermos nos exprimir ativamente em nossa sociedade e com respeito a todos”.

Revista Viração • Ano 11 • Edição 99 09

*Participantes da turma V do Ginásio “B” do Liceu clássico “G.Prati”, de Trento, na Itália

País: Itália

Capital: Roma

População: 60.303.800

Língua o� cial: Italiano

Colonoscontemporâneos

Conheça histórias de superação de jovens de outras nacionalidades

que vieram para o Brasil em busca de uma vida melhor

Há três séculos, milhões de estrangeiros viam no Brasil a terra prometida, o lugar ideal para o início de uma nova

vida. Com isso, milhares de imigrantes fazem viagens de meses para conseguir um lugar na “terra da felicidade”. Mas nem tudo são fl ores. Ao pisar em solo brasileiro, muitos percebiam que aquela promessa de terra perfeita e de sonho era apenas uma ilusão criada por interesse dos colonizadores.

Parece que as coisas não mudaram muito. As famílias que vêm de todas as partes do mundo são formadas por muitos jovens, que têm que se adaptar às novas formas de vida, como idioma, clima, ambientee costumes.

O fl uxo de estrangeiros no Brasil diminuiu em relação ao início da colonização, mas nunca parou. Os tempos são outros, a modernidade, as tecnologias, a internet fi zeram com que adaptações fossem menos bruscas. Mas, por incrível que pareça, muitos dos problemas que os jovens estrangeiros enfrentaram, há três séculos, faz parte da rotina dos colonos contemporâneos.

O objetivo deles, na maioria das vezes é o mesmo: a busca por uma melhoria de vida em terras desconhecidas, talvez por questões socioeconômicas que seu país de origem não oferece. Em muitos casos, os jovens são obrigados a vir com a família sem nenhum

Sebastian Roa, Virajovem de Manaus (AM)*

Revista Viração • Ano 11 • Edição 9910

tipo de escolha, sentem-se desnorteados, excluídos pela cultura, idioma e costumes do novo País e é aí que entra a adaptação.

Para a colombiana Daniela Gomez, de 17 anos, a adaptação foi muito brusca, pois chegou ao Brasil aos 10 anos com sua família, sem saber uma palavra em português. Após três meses, teve que começar a estudar. No início, foi uma prova de fogo. Ela conta que “no começo foi amedrontador, pois foi muito difícil a comunicação interpessoal, a diferença de costumes, coisas que eles faziam que eu nem imaginava fazer, a comida, as brincadeirinhas”.

Daniela ainda diz que teve depressão, mesmo sendo criança, quando chegou ao Brasil. Ao se perceber como uma estranha em um sistema social diferente, a sua defesa era se fechar com todos. “ Ficava muito triste ao me lembrar dos meus amigos, da minha casa, tudo isso fez com que eu me fechasse com todos que tentavam ser simpáticos comigo e acabava me excluindo do resto.”

Daniela também diz que o preconceito a visitou em algumas ocasiões, por conta de sua nacionalidade. “Na escola, muitos colegas me associavam ao tráfi co, faziam brincadeiras de mau gosto relacionadas à má e errada fama que meu país tem. Mas não os culpo por isso, pois eles eram minoria. Muitos dos meus colegas e professores sempre me apoiaram em tudo e sou muito grata a eles.”

A adolescente deu a volta por cima, hoje faz agronomia na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), visitou outras cidades brasileiras, participou do parlamento juvenil do Mercosul pelo Estado do Amazonas, desenvolveu projetos de cunho social pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e resume seus sete anos no Brasil dizendo: “Foi uma fase de aprendizado. No começo um futuro inseguro, cheio de medos, difi culdades, e agora olhando para atrás vejo que tudo isso foi por um bom motivo. Para meu futuro vejo esperança, alegria e desenvolvimento.”

Quando questionada se vai fi car no Brasil ou voltar para a Colômbia, com um grande sorriso e rosto pensativo responde: “Creio que fi carei no Brasil, pois foi o País que me acolheu de braços abertos.”

Felimon Rodriguez, de 26 anos, está se preparando para ser padre na congregação scalabriniana. Ele já trabalhou no México, seu país de origem, na Guatemala, nos Estados Unidos e no Estado do Amazonas trabalha com juventude estrangeira há quatro messes, em especial com a juventude haitiana.

O estudante de sacerdócio divide a etapa de adaptação destes jovens em primeira e segunda semana. “A primeira semana é o período de descobrimento, de ver tudo como novo, a língua, a cultura, as pessoas, encontrar os lugares. Já a segunda semana é o choque, é nessa semana que

sete anos no Brasil dizendo: “Foi uma fase de aprendizado.

difi culdades, e agora olhando para atrás vejo que tudo isso foi por um bom motivo. Para meu futuro vejo esperança,

Quando questionada se vai fi car no Brasil ou voltar para a Colômbia, com um grande sorriso e rosto pensativo responde: “Creio que fi carei no Brasil, pois foi o País que me

Felimon Rodriguez, de 26 anos, está se preparando

trabalhou no México, seu país de origem, na Guatemala,

com juventude estrangeira há quatro messes, em especial

Revista Viração • Ano 11 • Edição 99 11

Daniela, colombiana de 17 anos, chegou ao Brasil com sua família aos 10 anos

Revista Viração • Ano 11 • Edição 9912

começam a vir os problemas que os fez deixar o Haiti, as famílias, o porquê deles estarem aqui, o desemprego, a depressão. E é muito difícil lidar com isso.”

Segundo Felimon, esses jovens são muito sensíveis às diferenças culturais. “Culturalmente, por história de exploração, eles são muito frágeis em relação a algumas diferenças da cultura deles com a brasileira. Qualquer coisinha, para eles já é preconceito”. Porém, ele destaca que isso “não quer dizer que não exista grande preconceito contra eles. Existe sim, talvez ainda maior pela cor. Nunca faltam aqueles que riem deles quando sobem no ônibus e também no trabalho, no dia a dia”.

O futuro padre encerra o assunto dizendo que historicamente a imigração é sempre confl ituosa. O preconceito, para ele, é fruto de insegurança. “O preconceito surge do medo que o nativo sente de ser substituído, de uma cultura nova, de outras tradições. Mas isso tem diminuído, pois os mesmos jovens têm se encarregado de quebrar essas barreiras.”

Atualmente, existem quatro casas de acolhida a haitianos, nas quais recebem ofi cinas de leis trabalhistas e são encaminhados ao mercado de trabalho. Até agora, 200 trabalhadores jovens tiveram a chance de recomeçar uma vida aqui em Manaus.

As histórias de Daniela e “os jovens de Felimon” ainda são realidades no Brasil. Aqueles mesmos problemas que os colonos enfrentaram por aqui ressurgem em outras formas nestes tempos. Ainda existe muito a ser feito, mas cada conquista e meta alcançada por eles é uma mostra que as barreiras de separação e do indiferente estão sendo destruídas aos poucos por esses colonos contemporâneos, afi nal eles vieram pelo mesmo motivo daqueles de três séculos atrás: melhorar a vida.

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Felimon Rodriguez, 26 anos, trabalha com a juventude haitiana no Amazonas

Revista Viração • Ano 11 • Edição 98 13

Educomunicar comfotografia

galerarepórter

Edvan Lessa, Luiza Diana Alves da Silva, Layolle Carvalho, Carlene Fontoura,Mariana Sebastião, Ana Maria Marques, do Virajovem Salvador (BA)*

Formado em jornalismo e apaixonado por fotografi a, Rodrigo Rossoni viu uma oportunidade de contribuir para a formação

das pessoas aliando comunicação e educação. Desde 2003, ele conduz atividades ligadas à fotografi a que permitem a mudança de olhar dos sujeitos sobre o mundo onde vivem.

Ele é professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Com experiência em fotografi a documental e fotojornalismo, também ensina educomunicação para estudantes de graduação. Na sua trajetória, permeada por projetos que exploram a linguagem fotográfi ca como possibilidade criativa e crítica do espaço urbano, há o protagonismo de indivíduos em comunidades e grupos sociais periféricos.

Rodrigo afi rma que o conhecimento é feito a partir das experiências das pessoas e que isso se trata de um processo, sem começo nem fi m. Já realizou trabalhos com o Movimento Sem Terra (MST), moradores da favela da Maré, no Rio de Janeiro, e de Salvador, no bairro de Mata Escura.

O educomunicador acredita que a fotografi a pode potencializar as capacidades das pessoas, permitindo

que elas interfi ram de forma artística e poética em seus espaços de convivência. Confi ra a entrevista abaixo:

Quais são suas principais experiências na relação entre fotografi a, comunicação e educação?

Passei a ver que a fotografi a poderia contribuir bastante nessas duas áreas quando realizei um projeto sobre trabalho infantil. Registrei imagens de crianças em diversos ambientes: na carvoaria, canaviais, nas ruas e lixões, etc. Percebi que aquelas crianças não tinham acesso a uma formação escolar e comecei a pensar como a fotografi a poderia contribuir com isso. Realizei, então, um trabalho com integrantes do Movimento Sem Terra (MST). Eles queriam registrar o ambiente onde vivem, circulam. E identifi quei que a fotografi a muda o olhar sobre o mundo, possibilita outras construções, além de permitir novas instâncias de aprendizagem.

Na área da fotografi a, é preciso mais do que observar?

Exatamente. É pensar ideias e projetos que podem ser potencializados com a fotografi a. Isso funciona como um processo. Não é sair por aí fotografando o que vê. As

Professor de comunicação da UFBA desenvolve

a movimentos sociais e comunidades, no Rio e em Salvadortrabalho de transformação social por meio da fotografi a junto

Revista Viração • Ano 11 • Edição 9914

Educomunicar comfotografia

“Identifi quei que a fotografi a muda o olhar sobre o mundo, possibilita outras construções, além de permitir novas instâncias de aprendizagem.”

pessoas têm uma relação histórica com a fotografi a.E um encantamento por isso. Como sei dessa aproximação com as imagens, quero provocar discussões relevantes que infl uenciam na formação de um olhar sobre o mundo, intervindo sobre ele. Não uma intervenção social, mas artística e poética.

A fotografi a, acima de tudo, trabalha com o apelo visual. Como se expressar por meio disso?

Isso depende dos estudos sobre linguagem. Somos sujeitos que se comunicam. E nossa comunicação acontece por meio da linguagem verbal. Na fotografi a, passamos a nos comunicar com a linguagem visual e aprender a se expressar dessa forma no mundo. Como já relatei, trata-se de um processo de aprendizado. A imagem tem um efeito anestésico sobre as pessoas, permitindo que realizem experiências estéticas através disso.

Na prática, como as atividades acontecem?Primeiro, começam com as descobertas. Como

se formam as imagens, a luz, construção de cenários etc. Depois precisamos ensinar o domínio sobre o equipamento. Isso é importante. A partir daí, passamos a pensar projetos juntos. São eles quem trazem os temas a serem abordados. Temas que sejam relevantes para as suas vidas, que são experimentados no cotidiano. Não se trata de determinar nada. O trabalho todo é feito em conjunto. A fotografi a ajuda a potencializar esses debates e a consequente formação pessoal deles.

Que diferenças você pôde observar nos trabalhos conduzidos em diferentes lugares e ambientes?

Cada lugar tem suas peculiaridades. Mas todos tinham um aspecto em comum que era a falta de conhecimento sobre fotografi a. O que muda mesmo é o interesse a ser conquistado com o projeto. Ou seja, no MST, as pessoas queriam divulgar seu espaço e suas atividades. Na favela da Maré, os moradores queriam mostrar um cenário que a mídia não mostra. E em

Revista Viração • Ano 11 • Edição 99 15

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Salvador, na Mata Escura, as pessoas viam que aprender a fotografar poderia ser uma oportunidade de trabalho e renda. Cada grupo buscou seus objetivos no trabalho. A proposta com os jovens de escolas públicas é ampliar a visão deles sobre o mundo, de que forma eles podem contribuir para o mundo. Será um momento de produção de conhecimento de forma mais ampla.

Rossoni em ofi cina de fotografi a

Ler é a solução!O hábito da leitura é fundamental para tratar a dislexia, uma síndrome de aprendizagem

Viviane Andrade, colaboradora da Vira em São Paulo (SP)

Aleitura é uma grande aliada na recuperação de pessoas que têm transtornos de aprendizagem.A prática desbrava barreiras muitas vezes invisíveis

e de difícil diagnóstico, como é o caso da dislexia, um distúrbio que confunde pais, professores e especialistas. Como se trata de uma doença refl etida durante o período educacional, sua constatação precisa ser minuciosa.

A dislexia faz com que a criança tenha difi culdades na leitura, escrita e bloqueio na assimilação fonética, comprometendo o entendimento de um texto, o que não signifi ca que tenha uma menor capacidade intelectual ou problemas mentais, físicos ou psicológicos. Pelo contrário, a pessoa que tem essa síndrome pode até desenvolver habilidades acentuadas após o tratamento.

Segundo as fonoaudiólogas Fabiana Regiani da Costa, Elaine Herrero e Kátia de Cássia Botasso, do Conselho Nacional de Fonoaudiologia – 2º Região de SP, “o diagnóstico é complexo e multidisciplinar. Para que uma criança seja diagnosticada com transtorno de leitura, deve passar por um processo de avaliação com diferentes profi ssionais, dentre eles: fonoaudiólogo, neurologista, psicólogo”, apontam.

Quando identifi cada, o paciente pode sentir-se incapacitado – explica a também fonoaudióloga do Conselho – Sandra Maria F. Murat Paiva dos Santos. “Fica evidente a baixa autoestima e o ciclo-vicioso de fracasso. Isso resulta em fraco aproveitamento, o que reforça o sentimento de incapacidade”. Por isso, os trabalhos específi cos com os especialistas indicados e o diagnóstico precoce são tão importantes para a recuperação dos disléxicos.

É preciso fazer com que as pessoas que têm dislexia criem o hábito de ler. O tratamento feito à base de leitura estimula a memória, enriquece o desenvolvimento do vocabulário e ajuda na fl uência verbal. Para facilitar ainda mais a compreensão, os disléxicos devem ler os textos em voz alta. O exercício facilita a identifi cação dos sons, das sílabas e das palavras, proporcionando, assim, o entendimento das frases.

“É importante que a criança vivencie experiências com livros, televisão, revistas, teatro e exposição à linguagem adequada para captar e dar signifi cado à folha impressa”, fi naliza Marcia Cristiane de Freitas-Civitella; Maria Teresa Rosangela Lofredo Bonatto e Monica Petit Madrid, demais fonoaudiólogas do Conselho.

Revista Viração • Ano 11 • Edição 9916

O estímulo à leitura é fundamental para tratar a dislexia, segundo especialistas

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*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Década de amor à educaçãoJéssica Delcarro, do Virajovem Pinheiros (ES)*;e Flaviane Lopes, colaboradora da Vira em São Mateus (ES)

Paulo Freire dizia que “a educação é um ato de amor”. Nesse sentido, já há dez anos, uma rede procura enfrentar a desigualdade social por

meio da educação. Pode parecer estranho, mas faz todo sentido. A Rede de Educação Cidadã (Recid) busca envolver diferentes sujeitos nos processos de forma coletiva, horizontal, democrática e transparente na gestão política e pedagógica para a conquista e afi rmação de direitos.

Ela nasce da articulação de diversos atores sociais, entidades, movimentos populares do Brasil e governo federal que assumem solidariamente a missão de realizar um processo sistemático de sensibilização, mobilização e educação popular. Criada sob a liderança de Frei Betto, a partir do gabinete da Presidência da República, em 2003, a Rede está atualmente presente em todos os Estados brasileiros e também no Distrito Federal. Hoje, ela conta com a adesão voluntária de mais de 500 educadores populares e com a ação de 186 educadores contratados por meio de convênio celebrado entre a Secretaria Nacional dos Direitos Humanos e o Centro de Assessoria Multiprofi ssional (Camp).

“Acreditamos que nos próximos dez anos da Recid, estejamos em todas as cidades brasileiras, contribuindo com a formação e fortalecimento dos grupos de base cada vez mais autônomos. Além disso, queremos auxiliar na criação de políticas públicas para a Educação”, afi rma Sandra Valentim, representante da Região Sudeste e integrante da Comissão Nacional da Recid.

Revista Viração • Ano 11 • Edição 99 17

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

A rede atua fortemente na elaboração de material de divulgação de políticas públicas e das ações dos movimentos sociais e sociedade civil, de aprofundamento e de formação. Os integrantes da Recid criam cartilhas, cadernos de estudo e vídeos, além de realizarem ofi cinas locais e encontros nos Estados e macrorregiões brasileiras de educação popular, comunicação, sistematização de experiências e direitos humanos e análise da realidade.

Se há algo que ilustra bem o trabalho são as cirandas, que promovem processos de formação continuada em educação popular, e são o ponto de partida para trabalhar seus conteúdos.

Há dez anos, a Rede de Educação Cidadã promove encontros

e desenvolve materiais sobre formação multiplicadora

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

tá na mão

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Bruno Ferreira e Elisangela Nunes Cordeiro, da Redação; e Viviane Andrade, colaboradora da Vira em São Paulo (SP)Ilustrações: Di Castro, do Virajovem Curitiba (PR)*

de papel passadoA união entre duas pessoas não precisa ser, necessariamente, tradicional.

Conheça histórias de pessoas casadas que fogem à ideia conservadora de casal

capa

M uitos dizem que os tempos mudaram, que certos valores foram esquecidos e sentimentos renegados. Dizem que hoje em dia poucas são as

pessoas que acreditam no amor e que um casamento possa durar, realmente, a vida inteira. Mas, mesmo depois de todas as revoluções de comportamento que aconteceram entre os anos 1960 e 1970, especialmente em relação ao sexo, esse ritual ainda é desejado por adolescentes e jovens. O casamento é um vínculo entre duas pessoas que decidem compartilhar a vida por motivos diversos. Uns casam-se por amor; outros pelo sonho de constituir uma família; e tem também os que se casam por antecipação, devido à maternidade ou à paternidade. Na sociedade atual, há maneiras diferentes de estabelecer relações a dois.

O Censo 2010 mostrou que as uniões consensuais cresceram nos últimos dez anos, indo de 28,6% para 36,4%. As pessoas que mais desejam se casar são as mulheres entre 20 e 24 anos. No grupo dos homens, a faixa etária permaneceu entre 25 a 29 anos. Por isso, uma coisa é certa, boa parte dos adolescentes e jovens espera encontrar a pessoa ideal para constituir família.

Revista Viração • Ano 11 • Edição 9918

Esse é o caso de Assis da Silva, de 25 anos, e Bracha Rochancki, de 22, que estão juntos há quatro anos e há mais ou menos nove meses resolveram fi car noivos. Por seguirem religiões diferentes, vão se casar somente no civil. “Encontrei a pessoa certa na qual confi o para formar uma família”, declara Bracha. “Antes de começar um relacionamento, é importante achar uma pessoa que tenha o mesmo ideal que o seu, se tornem, antes de tudo, grandes amigos. É preciso respeitar e aceitar a outra pessoa como ela é”, diz Assis.

Para a psicóloga Maria Adrião, a religião tem um papel relevante para jovens que, desde cedo, optam por uma união mais tradicional, que se espera ser eterna. “O casamento tem uma questão religiosa muito forte de que deve ser para sempre, mas se tirarmos essa visão, o casamento também pode ser uma questão de experimentação de uma relação a dois, mas que não necessariamente vá durar eternamente e sim durar enquanto ambos estiverem estimulados”, diz.

Entretanto, Maria crê que as variações individuais de cada relação dependem do “contexto social, político e cultural em que estão inseridas. Nos tempos atuais, temos maior fl exibilidade social de fazermos nossas escolhas”, completa.

“A linha que separa os valores da sociedade e da religião é muito tênue. A sociedade brasileira é, basicamente, alicerçada pelos valores judaico-cristãos”, diz Ester Leite Lisboa, assistente social, assessora do programa Saúde e Direitos de Koinonia – Presença Ecumênica e Serviço. “Até os dias atuais, a maioria das mulheres sonha com o casamento de véu e grinalda; as que não seguem esse modelo de vida são vistas como profundamente rebeldes. O morar junto ainda sofre algumas rejeições e não é considerado um casamento real. O papel, o contrato de união, é o que legitima o casamento”, diz.

Maria Adrião lembra a mudança no papel da mulher na sociedade atual, com compromissos e atuação diferentes de décadas atrás, quando era vista como reprodutora e cuidadora do lar. “As mulheres passaram a ocupar a vida pública, a trabalhar, a sair cada vez mais da vida privada, da vida doméstica e a ingressar no trabalho. Então, elas começam a ampliar seu repertório e o casamento não vira mais prioridade”.

Procriação e matrimônio

Ester explica que a maioria das religiões visualiza o casamento e a relação sexual como prioridade no matrimônio, e que o sexo só poderá ser consumado após a realização dos votos perante Deus, com a intenção de

Revista Viração • Ano 11 • Edição 99 19

procriar e não a de prazer. Muitas vezes, por essa razão, observa-se que o casamento de jovens seguidores de algumas religiões é mais conservador. Já as doutrinas afro-brasileiras, por exemplo, não costumam impor orientações sexuais.

Ela dá ênfase também a outra característica dos novos tempos, em que a “virgindade pré-nupcial é altamente prezada e geralmente esperada das mulheres e desejável para os homens, e as experiências masculinas normalmente são toleradas e encorajadas pela sociedade, independente da religião”, explica.

Eliane Pereira Laurentis, advogada especialista em Defesa dos Direitos da Diversidade Sexual e Homoafetividade da 38ª Subseção da OAB de Santo André (SP), afi rma que a entidade familiar foi reconhecida pela Igreja Católica no século 18. “Até então, as uniões entre as pessoas se davam de acordo com seus usos e costumes. Para estar sob a proteção de Deus, a família que a igreja amparou foi constituída por um homem e uma mulher e com fi ns de procriação.”

Sexualidade e casamento

A sexualidade é abordada de modos diferentes por cada religião. A assistente social explica que em algumas religiões é permitido o uso de anticoncepcionais e outros métodos contraceptivos para facilitar o planejamento familiar. “Os mais tradicionais não aprovam o sexo antes do casamento e apresentam resistência em relação ao divórcio. A separação da Igreja deveria ser defendida por todos que, tendo religiões, crenças e posições diversas, pretendem ter os seus direitos civis, políticos, sexuais e reprodutivos igualmente assegurados”, afi rma.

Para João Geraldo Netto, noivo de André Moreira, o importante dentro de um relacionamento é a decisão e a forma como o casamento será encarado e aceito, não só pelo casal e familiares, mas também pela sociedade. Para ele, isso faz uma grande diferença. “Tivemos

Revista Viração • Ano 11 • Edição 9920

pouquíssimas demonstrações de preconceito ao longo do nosso relacionamento. Acredito que grande parte desse preconceito vem de como encaramos as coisas. Somos seres humanos e, independente de sexo, amamos”.

“O amor é algo que ninguém pode controlar e os jovens de hoje não têm receios de viver as suas paixões. Todo mundo quer ter uma família com a companhia escolhida. Querem estar ao lado de seu par. Isso é o casamento”, diz Eliane Pereira. João Geraldo complementa e diz que não vai “se casar para enfrentar ninguém”, deseja apenas viver feliz com quem escolheu para fi car ao seu lado o resto da vida.

No mês passado, o padre Roberto Francisco Daniel, mais conhecido como padre Beto, foi excomungado pela Igreja Católica por não se opor à relação homoafetiva, reconhecida em 2011 pelo STF (Supremo Tribunal Federal) como entidade familiar e tendo todos os direitos assegurados. Ministros do STF aprovaram a União Estável e confi guraram ao casamento homossexual o poder de receber “pensão alimentícia, pensão por morte, divisão de bens, guarda de fi lhos, reconhecimento dos fi lhos na certidão de nascimento, dentre outros. Oito estados no Brasil reconhecem o casamento civil, aquele realizado no cartório, com direito a expedição de certidão de casamento, escolha de regime de bens e uso do sobrenome do par” esclarece Eliane.

Aprendendo como casamento

Hoje não existe uma regra para que adolescentes e jovens queiram e decidam se casar. Uns casam-se pelo amor; outros pelo sonho da família; e tem também os

que casam por antecipação devido à maternidade/paternidade. Dentro de todas essas situações, o importante é aprender com essa nova fase da vida.

A história de Valéria Rocha, de 30 anos, é um exemplo de casamento na adolescência motivado pelo desejo de deixar a casa dos pais, onde tinha um relacionamento conturbado com seus familiares, ainda aos 14 anos. “Foi muito difícil para a minha mãe. Eu fugi de casa e passei em torno de seis meses sem me comunicar. Ela sofreu demais”, conta. Valéria, quando era adolescente, viveu por mais de um ano com o namorado, mas há nove anos vive com Carlos Alexandre, também de 30 anos.

O enlace matrimonial na juventude nem sempre signifi ca privação da liberdade. Muitas vezes têm mais a ver com adquirir novos compromissos e experiências, do que com o desgaste e irresponsabilidade. Essa união facilita o processo de transformação e o crescimento pessoal dos casais.

Maria Adrião explica que “o casamento exige o compartilhamento de visão de mundo, do cotidiano, trazendo a capacidade de autoconhecimento e de conhecimento do outro. Você amplia o repertório. É um conjunto de aprendizados sociais, emocionais, culturais, de valores e crenças.”

Cassio Goes é um exemplo disso. Aprendeu mais cedo do que imaginou, pois planejava se casar somente aos 24 anos, no entanto, a paternidade adiantou o processo, e a união estável aconteceu quando ele ainda tinha 21. Com pouco tempo para se estabelecer fi nanceiramente, ele confessa ter “aprendido a administrar melhor o dinheiro e ganhado mais responsabilidade”, além de compreender melhor as coisas e respeitar as diferenças.

O casal Bracha e Assis espera compreender, com o casamento, o signifi cado exato da palavra união, enfrentando, juntos, e com cumplicidade, incentivo e apoio, as questões e difi culdades que surgirão com o tempo. “Espero que mesmo nos momentos difíceis da vida, meu marido esteja comigo para me ajudar e criticar quando necessário, mas acima de tudo, que sejamos unidos como um casal e muito felizes”, diz ela.

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Planejamento familiar

A Pesquisa Gravidez na Adolescência: Estudo Multicêntrico sobre Jovens, Sexualidade e Reprodução no Brasil (Gravad), realizada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Instituto de Medicina Social (IMS), Programa em Gênero, Sexualidade e Saúde do Centro Latino Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (Clam) desconstruiu o discurso que vinha sendo imposto por gerações e pela sociedade, em relação à sexualidade. A análise corrobora com a ideia de que a sexualidade dos jovens, tal qual como a dos adultos, fortalece o aprendizado e está integrada ao processo de socialização adquirida através do acesso à educação, ou da falta dela. Essa variação deriva das particularidades notáveis entre classes sociais e gêneros.

Por isso, é tão importante que adolescentes e jovens tenham acesso a essas informações e ao uso dos preservativos. “Um conjunto de pesquisas diz que a média de iniciação sexual dos adolescentes varia de 14 anos para as meninas e 13 para os meninos. O que preocupa é que muitas vezes eles começam a vida sexual sem muita informação e segurança”, comenta a psicóloga Maria Adrião.

O projeto Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE) é um dos programas citados pela psicóloga como fonte de orientação para os jovens. A proposta tem como objetivo contribuir com a formação integral dos estudantes da rede pública no que diz respeito à saúde reprodutiva e sexual, a ponto de conseguir reduzir os índices de infecção pelo HIV/DST. A iniciativa foi implantada nos 26 Estados brasileiros, no Distrito Federal e em 600 municípios. É uma parceria do Ministério da Saúde com o Ministério da Educação.

“Temos também algumas iniciativas nas unidades básicas de saúde que trabalham com o planejamento familiar, voltadas para a população em geral, mas ainda precisamos avançar muito”. Maria diz ainda que é preciso desburocratizar certos tipos de informações para que os adolescentes e jovens tenham acesso a determinadas informações, métodos e técnicas para terem mais autonomia e poderem planejar a vida reprodutiva e sexual.

Porém, ela acredita que os direitos sexuais ainda não estão totalmente conquistados e livres. Pontua sobre o boom político que estamos vivendo atualmente no País com relação aos homossexuais e ao fato das meninas buscarem viver abertamente a vontade de fi car com muitos garotos. “Numa sociedade ainda conservadora, essas garotas são totalmente discriminadas, tachadas como ‘galinhas’, vagabundas”.

Revista Viração • Ano 11 • Edição 9922

Uniões homoafetivas

As uniões entre pessoas do mesmo sexo representam um fato social cada vez mais constante em todo o mundo. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE), no Brasil existem mais de 60 mil casais homossexuais, número considerável e que pode ser muito maior ao se verifi car os que omitiram sua orientação sexual em razão do preconceito que enfrentam no dia a dia.

Em 14 de maio desse ano, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma resolução que obriga todos os cartórios do País a celebrarem casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e a converter a união estável de casais gays e lésbicas em casamento.

O Brasil segue a tendência de países como a França, que em abril deste ano, se torna o 14º país do mundo a permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo. No entanto, muitos conservadores foram às ruas protestar contra a decisão do parlamento francês. Ainda no primeiro semestre, 13 Estados brasileiros e o Distrito Federal já haviam regulamentado o casamento igualitário. Mas a resolução do CNJ obriga todos os Estados a legitimarem o casamento homoafetivo.

Casais homossexuais que se casam em cartório passam a ter direitos civis como a inscrição de cônjuge como dependente em plano de saúde e INSS, opção por adotar o nome do marido ou esposa, pensão alimentícia em caso de separação e herança, em caso de morte, direitos também assegurados pela união estável. A diferença, no entanto, entre essa situação e o casamento civil, é o estado civil. As pessoas que celebram um contrato de união estável continuam sendo solteiras, mas pelo casamento civil igualitário, elas passam a ser, de fato, casadas pela lei.

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

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Saiba mais sobre o assunto no site: http://casamentociviligualitario.com.br/

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Revista Viração • Ano 11 • Edição 9924

Texto: Dani Savietto, colaboradorada Vira em Jundiaí (SP)Imagens: Cid Lima de Carvalho Júnior, Cleiton Rodrigo Silva, Fernanda Queiroz, Jéssica Moraes, Letícia Cristina Bueno e Victória da Silva Santos, do Virajovem Jundiaí (SP)*

Com a proposta de olhar para o mundo de maneira transformadora

os adolescentes do curso de Comunicação e Mídia da Escola Cetec, em Jundiaí (SP), saíram para uma seção fotográfi ca pela cidade. Num primeiro momento todos estudaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos, e aconteceram debates em sala de aula para discutir qual a situação em nossa cidade. Os adolescentes perceberam que muitas situações passam despercebidas por serem comuns mesmo não devendo ser.

Com um olhar investigativo saímos às ruas para encontrar estas situações, registrá-las e pensarmos em propostas para melhorias em Jundiaí, tendo como principal objetivo a valorização e a garantia do direito humano.

Neste processo, nasceram essas imagens, que para nós são inspiradoras, pois a partir delas esperamos trabalhar propostas para nossa cidade.

imagensque viram

Olhar sobre direitos

Revista Viração • Ano 11 • Edição 99 25

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Caminhos de solidariedade

Rede Wwoof possibilita que voluntários viajem o mundo com

baixo custo e aprendam técnicas de agricultura orgânica

Emilia de Mattos Merlini, do Virajovem Lima Duarte (MG)*

Eu e meu marido, Diogo Jorge, nos mudamos da capital de São Paulo para a pequena cidade de Lima Duarte (MG), há três anos. Um ano depois

da mudança, compramos a nossa “chacrinha” na roça e, desde então, recebemos voluntários do mundo todo por meio da rede Wwoof (World Wide Opportunities on Organic Farms ou Rede Mundial de Oportunidades em Fazendas Orgânicas).

A ideia começou na década de 1970, quando voluntários londrinos passavam o final de semana trabalhando em fazendas, como forma de ter acesso barato ao campo e trocar experiências. A fila de fazendas e voluntários cresceu rapidamente e a rede foi criada desde então. Hoje fazem parte dela 57 países do mundo, presentes em todos os continentes. A organização promove o conceito de agricultura orgânica, sustentável, hábitos de consumo responsáveis e a possibilidade de aprender fazendo. Ela também dá importância a “fazermos juntos” (como os recentes protestos no Brasil têm mostrado) e vê essa prática como uma oportunidade de mudar a vida das pessoas.

No site, tanto as fazendas (como são chamados todos os pedaços de terra, independente do tamanho) como os voluntários, preenchem uma ficha cadastral detalhada. Os voluntários pagam uma pequena quantia anual e entram em contato com as fazendas solicitando a estadia. Como no couchsurfing, é possível aceitar ou não o hóspede. Nesse cadastro também se indica os

Revista Viração • Ano 11 • Edição 9926

idiomas que se falam. Não há problemas se só se fala português, muitos estrangeiros sabem nossa língua o suficiente para nos comunicarmos bem.

No sítio Saracura, eu e o Diogo já recebemos mais de 20 pessoas, muitos da Europa, mas também dos Estados Unidos, do Brasil e da África. Conhecemos pessoas incríveis, que pesquisam e querem aprender sobre técnicas mais sustentáveis e nos ajudam em nossas tarefas diárias: fazemos bioconstruções, permacultura e plantios agroflorestais (veja a matéria Sustentáveis de verdade, da Viração, número 78, sobre essas técnicas). Em troca, recebem hospedagem e alimentação, aprendem sobre práticas sustentáveis e conhecem um lugar novo sem gastar quase nada. Há dias para passeios, descanso e, para quem está aprendendo uma língua, é também uma oportunidade de praticá-la e enriquecê-la.

Rede na qual as pessoas oferecem hospedagem – em suas casas – para viajantes, ou se disponibilizam a apresentar locais de sua cidade. É muito diferente você conhecer um local a partir de quem vive nele do que por meio de guias de viagem (https://www.couchsurfing.org ).

Revista Viração • Ano 11 • Edição 98 27

Considero essa uma experiência muito bacana. Essas pessoas acabam nos ajudando com seus conhecimentos e aprendem com os nossos. Há coisas que às vezes precisamos pedir para serem feitas de outra forma, mas nunca tivemos uma experiência negativa. Sei também de dois casais que se casaram depois de se conhecerem enquanto participavam desse intercâmbio.

Pelo Brasil

Há muitas fazendas Wwoof pelo Brasil afora. Valentine Van Roye, belga de 28 anos, é casada com o carioca Victor Chevaunt, de 27 anos. O casal vive no Sítio Arca de Nóe, em Sapucaia (RJ), onde recebem voluntários há dois anos e meio, e hospedam até cinco deles de uma só vez. Para ela, o Wwoof é uma maneira muito interessante de viajar e de receber as pessoas. “O objetivo da rede é a troca de comida e hospedagem por trabalho, mas, na real, é muito mais do que isso. Os voluntários vêm carregados com as coisas de fora e fi camos sabendo de novos fi lmes, novas músicas, sobre notícias mais específi cas de seus países, além de seus costumes”. E completa: “Nós trocamos experiências de vida e melhoramos a vida social no campo, onde geralmente estamos mais isolados”.

Ela acrescenta ainda que, hoje, a fazenda conta com a ajuda desses voluntários para seu trabalho diário: “Sem eles estaríamos totalmente enrolados”. Valentine sugere uma lista com regras de convivência e plaquinhas em locais estratégicos para orientar os voluntários e

minimizar possíveis falhas de comunicação, situações que podem existir entre pessoas de culturas diferentes convivendo juntas e falando línguas que, muitas vezes, não são suas línguas natais.

Já os cariocas Daniel Cintra, de 29 anos, e Juliana Torres, de 26, experimentaram o outro lado da experiência. Eles viajaram o Brasil durante oito meses, fazendo Wwoof nos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Goiás. Passaram por nove fazendas, entre elas uma escolinha local. “Nesse caminho, aprendemos inúmeras técnicas de manejo do solo, bioconstrução, agrofl oresta, além de vivermos experiências espirituais e de interação coletiva que levaremos para o resto de

Emília e a voluntária Vera Fischlauer, da Áustria, fi nalizam pintura com tinta de terra na fachada do Sítio Saracura

Diogo Jorge e os voluntários Emily (belga), Daniel Cintra e Juliana Torres (ambos cariocas) amassam barro para a parede de pau-a-pique

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Revista Viração • Ano 11 • Edição 99 27

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nossas vidas e além”. Para eles, o saldo da experiência foi muito positivo: “Desde então, não conseguimos fi car longe da natureza e dessa forma de viver mais com o pé na terra”. O casal hoje mora no Rio de Janeiro e pretende um dia ter sua própria terra.

Por todas essas razões, entendo que a rede Wwoof, assim como o couchsurfi ng é uma forma de driblar o individualismo, o consumismo – como se o turista fosse aquela pessoa que precisa gastar muito dinheiro e não pode trabalhar – de mostrar que é possível confi ar nas pessoas, de repensar a busca exagerada por segurança, de fazer do campo um lugar mais agradável e interligado, de nos abrirmos para o universo e para o imprevisível, que pode ser maravilhoso!

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Saiba mais sobre a Rede Wwoof em: www.wwoofbrazil.com e www.wwoofi nternational.org e conheça mais sobre o sítio Saracura: http://moradaviva.wordpress.com/

Saiba mais sobre a Rede

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As voluntárias fazem parede de pau-a-pique com garrafas de vidro

Revista Viração • Ano 11 • Edição 99 29

Comunidade tem voz

Rafael Lopes e Gizele Martins, do Virajovem Rio de Janeiro (RJ)*

Jornal comunitário, fruto de curso sobre Educomunicação,

é lançado no Morro do Preventório, em Niterói (RJ)

Com o objetivo de mostrar o dia a dia da favela, um grupo de 16 simpáticas meninas lançou em abril deste ano, o Ainda Não Pensei, jornal

comunitário do Morro do Preventório, localizado na Zona Sul de Niterói (RJ). O impresso é fruto da oficina de Educomunicação do Grupo Paiol Cultural, que aconteceu no final do ano passado.

“Muitas pessoas aqui não pensam sobre saneamento. Têm outras coisas que precisam melhorar. Existe gente que não liga para isso. A gente quer o melhor para a comunidade. O nome do jornal é para isso, para que todos pensem os problemas”, comentou Pamela Sebastião sobre os bastidores da produção do jornal e o que ela acredita poder fazer: mudar o pensamento dos moradores do Preventório.

Uma das coordenadoras do projeto, a jornalista Jéssica Santos, conta que a ideia surgiu a partir do projeto de leitura crítica, realizado pelo Sesc Niterói, em parceria com o Paiol Cultural e o Banco Comunitário do Preventório, em novembro do ano passado. Segundo ela, com a turma já formada, foi mais fácil colocar a ideia em prática.

“Trabalhamos sempre pautados no desenvolvimento da consciência crítica e a autonomia dos sujeitos envolvidos nos projetos. Inicialmente, a publicação será de três em três meses e contará com quatro páginas”, disse Jessica.

Durante o lançamento do jornal, uma roda de conversa debateu a importância da comunicação comunitária como construção da identidade favelada. Na ocasião, Pedro Martins, membro da Associação Mundial das Rádios Comunitárias (Amarc), apontou a força do rádio como instrumento de comunicação capaz de produzir o efeito de organizar rapidamente as pessoas.

“Não é à toa que os poderosos no Brasil querem uma lei que restrinja nosso direito de fazer rádio e TV. Acontecendo alguma coisa, você consegue se comunicar na hora. Durante as tragédias das chuvas

mídias livres

da região serrana, o veículo mais importante foi a rádio comunitária de Friburgo. Ela foi fundamental para salvar vidas, funcionando 24 horas”, explica Pedro.

Depois dessa conversa sobre comunicação comunitária, a galera do Morro do Preventório cuidou da parte cultural. Teve muita música e muita dança, além do bazar que funcionou durante toda a tarde com o objetivo de arrecadar grana para a impressão dos próximos exemplares.

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Consciência crítica e autonomia dos sujeitos envolvidos é o objetivo do projeto

que figura!Mestre dE xote e xaxado Dominguinhos consagrou-se pela

fidelidade à cultura nordestina e pela

herança do legado de Luiz Gonzaga

Maria do Socorro Costa, do Virajovem São Luís (MA)*

Considerado o herdeiro artístico de Luiz Gonzaga, desde muito cedo Dominguinhos se tornou um profissional da música. Aprendeu a tocar sanfona

aos seis anos e junto com mais três dos seus dez irmãos, fez parte de um grupo chamado Os Três Pinguins. Mais tarde, por seu talento musical, integra a banda de Luiz Gonzaga. As composições de Dominguinhos marcam as festas do São João nordestino. Com influência e apoio do próprio Gonzagão, o rei do baião, conseguiu sobreviver da música e se sobressair com suas composições.

José Domingos de Morais, o nome de batismo de Dominguinhos, era de família humilde, filho de um tocador e afinador de sanfonas, conhecido como mestre Chicão. Nasceu em Garanhuns (PE), em 12 de fevereiro de 1941. Costumava contar que seu pai “trabalhava para todo mundo em Garanhuns (PE). Tocava em festas e também botava uma rocinha”. Durante a infância, viveu as dificuldades da seca do agreste pernambucano. Nas épocas mais duras, chegaram a passar fome, quando a roça não rendia por causa da estiagem e o pai passava meses sem tocar. Ele contou em uma ocasião que sua mãe “lavava e passava para o dono de uma padaria e, no final do dia, trazia uns pães que pareciam ter sido feitos uns seis dias antes, de tão duros. Mas para mim estava tudo bem, com um pouco de farinha e água ficava satisfeito”. Mais tarde, quando tinha 13 anos, muda-se para Nilópolis (RJ), onde dá início à carreira junto a Luiz Gonzaga.

Dominguinhos compôs diversos arranjos com parcerias frutos de suas relações amorosas ou de amizades, dentre elas com a cantora Anastácia, com quem fez Eu Só Quero um Xodó e outras 212 canções, além das composições com Chico Buarque, na música Tantas Palavras; Gilberto Gil, em Lamento Sertanejo; Nando Cordel, em De volta pro meu aconchego e Isso aqui tá bom demais. Dominguinhos morreu em 23 de julho de 2013, em São Paulo, deixando um legado de diversas canções com seu estilo marcado pelo xote e o xaxado.

“Bom vaqueiro nordestino Morre sem deixar tostão E o seu nome é esquecido Nas quebradas do sertão”

Dominguinhos (trecho de A Morte do Vaqueiro)

Revista Viração • Ano 11 • Edição 9930

*Virajovem presente em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Duas vezes RussoSérgio Rizzo*

M ais de três milhões de espectadores assistiram a Somos tão Jovens e Faroeste Caboclo nos cinemas. Os produtores e os distribuidores

de cada um temiam que a coincidência no lançamento (ambos chegaram ao circuito em maio) prejudicasse os dois fi lmes. No fi m das contas, um despertou interesse para o outro, e ambos contribuíram para reviver a vida e a obra de Renato Russo (1960-1996).

A ótima recepção a Somos tão Jovens e Faroeste Caboclo demonstra que Renato jamais saiu de cena. Suas canções e ideias sobre o poder jovem dos anos 1980 e 1990 continuam a fazer eco entre os jovens dos anos 2000, muitos dos quais não haviam nascido ou eram crianças quando ele morreu. É um fenômeno semelhante ao que ocorreu com Cazuza (1958-1990), hoje também objeto de culto. Entender por que esses dois artistas mantêm tamanho prestígio, como ícones da cultura pop brasileira e da rebeldia contra o “sistema”, ajuda a entender valores da “geração Facebook”.

Os dois fi lmes evocam a memória de Russo de maneiras bem distintas. Somos tão Jovens faz uma crônica do período de formação do cantor e compositor (interpretado por Thiago Mendonça). Ao optar por esse recorte biográfi co, recria também o cenário pop de Brasília nos anos 1970 e 1980. Já Faroeste Caboclo se inspira na canção de mesmo nome para imaginar uma história fi ccional que se ambienta na capital federal durante o mesmo período. Ambas as histórias falam do universo de Russo e da história recente do Brasil: um de seus temas de fundo é a agonia da ditadura civil-militar de 1964.

noescurinho

*www.sergiorizzo.com.br

Revista Viração • Ano 11 • Edição 99 31

Sucesso de Somos Tão Jovense Faroeste Caboclo demonstra queRenato Russo jamais saiu de cena

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Revista Viração • Ano 11 • Edição 9932

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Evelin Haslinger, do Virajovem Porto Alegre (RS); e Juliana Carolina da Silva Lima, do Virajovem Boa Vista (RR)*

Muitos homens fi cam despreocupados em ter uma rotina no urologista. Alguns passam a se preocupar com isso apenas após os 40 anos, idade a partir da qual se recomenda o exame de próstata. No entanto, jovens de 15 a 30 anos estão

sujeitos a ter câncer de testículos. De acordo com a Associação Brasileira de Urologia, os casos são raros. A incidência desses tumores é de 6 a 11 casos para cada cem mil homens.

Em caso de diagnóstico positivo, o testículo afetado é extraído, o que não afeta a atividade sexual e reprodutiva do paciente, caso o outro testículo funcione normalmente. O passo seguinte no tratamento poderá ser quimioterápico, radioterápico, cirúrgico ou apenas um controle clínico, dependendo do diagnóstico do tumor. Para saber mais sobreo tema, entrevistamos a urologista Cristine Froemming, de Porto Alegre (RS).

É possível prevenir o câncerde testículo?

Prevenir não, mas é possível fazer um diagnóstico precoce. A maioria dos casos tratados no início tem grande possibilidade de cura. Esse diagnóstico precoce é possível através da palpação dos testículos uma vez por mês. Se o homem detecta algum nódulo ou caroço no testículo, deve procurar um urologista para poder determinar se é câncer ou não.

Quais são os sintomas?

Nenhum. Não causa dor, nem febre apenas se nota o nódulo no testículo. É um tumor agressivo, mas que responde muito bem a qualquer tipo de tratamento desde que tenhadiagnóstico precoce.

Como é o tratamento?

O tratamento consiste em retirar o testículo e, dependendo do tipo, recomenda-se a radioterapia ou quimioterapia ou até mesmo cirurgia maior em todo o abdômen. Se ele vier a fazer radioterapia ou quimioterapia deverá fazer uma coleta de esperma, armazenar num banco de sêmen, porque esses tipos de tratamento podem vir a alterar a fertilidade. O inconveniente é o custo elevado para a manutenção desse sêmen ao longo de vários anos.

Mande suas dúvidas sobre Sexo e Saúde, que a galera da Vira vai buscar as respostas para você! O e-mail é [email protected]

Mande suas dúvidas sobre Sexo e Saúde, que a galera da Vira vai buscar as respostas para você! O e-mail é [email protected]

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

tá na mão

Acesse o site da Associação Brasileira de Urologia para conhecer mais sobre essa especialidade médica e ler sobre o câncer de testículos e outras patologias: www.sbu.org.br

Acesse o site da Associação

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Boa até crua!

Bruno Ferreira, da Redação

Quando se fala em pizza, logo a boca enche d’água.

Mas, e quando se trata de uma pizza viva?

Muitos especialistas em nutrição identifi cam os benefícios da alimentação viva. O nome pode parecer estranho e você pode associá-lo ao consumo de criaturas vivas, se mexendo. Mas não é nada disso! Esse tipo de

alimentação propõe o consumo de alimentos crus, mas nada de carne! Vegetais, ervas, folhas e legumes crus podem se combinar até mesmo em

uma pizza diferente da tradicional, mas tão deliciosa quanto outra qualquer feita com farinha de trigo, leite e ovos, queijo, presunto etc. Pelo menos é isso o que garante Gilberto Bassetto Júnior, químico e chef de culinária viva. Confi ra uma receita viva de pizza de margherita recomendada por ele!

IngredientesMassa:- 4 xícaras (chá) de grão de trigo germinado;- 1 colher (chá) de louro em pó;- ½ xícara de amêndoas hidratadas por 8h (opcional);- 2 colheres (sopa) de azeite;- 1 e ½ colher (chá) de sal marinho;- 1 colher (chá) de ervas fi nas;- 1 colher rasa (chá) de açafrão;- 1 cenoura como biossocador.

Recheio:Queijo feito de castanha de caju4 tomates cortados em rodelas1 maço de manjericãoAzeite para fi nalizar

Modo de preparoColoque no liquidifi car duas

xícaras de trigo germinado por vez junto com a metade do restante dos ingredientes. Com cuidado, abra a tampa do liquidifi cador e pressione a massa com a cenoura (biossocador) para facilitar a

trituração até obter uma massa bem homogênea. Retire a massa e reserve para fazer pratos como pães, tortas, pizzas e lasanhas vivas.

Montagem da pizza: abra a massa e faça pequenas pizzas com ela. Se desejar, leve a massa para desidratar em forno com fogo baixo, ou com exposição ao sol, ou usando um desidratador, cuidando para não sobreaquecer (lembre-se que a pizza é viva). Após isso, disponha o queijo de castanha, a rodela de tomate, o manjericão com um fi o de azeite esirva essa maravilha da culinária viva.

Gilberto Bassetto Jr.

Não é de rua!

Joelma Oliveira e José Carlos Santos, do Virajovem Paraíba (PB)*

Campanha mobiliza instituições para a construção de uma

proposta política para enfrentar a situação de rua na infância

Entre as várias violações dos direitos da infância e adolescência, a realidade de meninos e

meninas em situação de rua sem dúvida é uma das mais preocupantes. De acordo com a Primeira Pesquisa Censitária Nacional sobre Crianças e Adolescentes em Situação de Rua (2010) foram identificadas 23.973 crianças e adolescentes em situação de rua no Brasil.

A pesquisa realizada por meio de convênio entre a Secretaria de Direitos Humanos (SDH) e o Instituto de Desenvolvimento Sustentável (IDEST) revela dados importantes como características sócio-demográficas, condições de saúde, situação educacional, vínculos familiares, discriminações sofridas, motivos de saída de casa.

A Campanha Nacional de Enfrentamento à Situação de Moradia nas Ruas de Crianças e Adolescentes – Criança Não é de Rua surgiu em 2010, em Fortaleza (CE). É uma iniciativa de mobilização nacional para enfrentar uma dura realidade que atinge, no Brasil, milhares de meninos e meninas.

Em João Pessoa (PB), muitas instituições aderiram à campanha durante a Semana Santa deste ano, no final de março. De acordo com a Rede Margarida Pró-Crianças e Adolescentes (Remar), que agrega várias instituições do Sistema de Garantia de Direitos, uma saída para a situação da criança de rua seria

a elaboração de uma política nacional, estadual e municipal de enfrentamento à situação de vivência de rua de crianças, adolescentes e suas famílias, acompanhada de orçamento público.

“Esta política precisa contemplar o direito à convivência familiar e comunitária das crianças e adolescentes em situação de rua, um acolhimento institucional adequado com proposta pedagógica específica, formação de educadores sociais de rua e realização de um banco de dados”, diz Lorenzo Delaini, coordenador da Remar.

parado social

Caminhada organizada pela campanha Não é de Rua mobiliza pessoas para a questão da situação de rua na infância, em João Pessoa

Joelma Oliveira

*Virajovens presentes em 20 Estados do País e no Distrito Federal

Campanha mobiliza instituições para a construção de uma

Joelma Oliveira