revista viração - edição 22 - novembro/2005

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R A˙ˆO V i R A˙ˆO V i Projeto social impresso sem fins lucrativos · Ano 3 · N o 22 · Novembro de 2005 · R$4,00 · www.revistaviracao.com.br Zumbi Encontro discute o racismo na mídia Encontro discute o racismo na mídia Os hérois de Cartão-Postal QUE FIGURA! BRASIL ÁFRICA BRASIL ÁFRICA BRINDE BRINDE Em Pernambuco, no quilombo de Conceição das Crioulas, jovens se engajam na conquista de suas terras FUNDEB em debate FUNDEB em debate Zumbi Os hérois de Em Pernambuco, no quilombo de Conceição das Crioulas, jovens se engajam na conquista de suas terras Mudança, atitude e ousadia jovem Mudança, atitude e ousadia jovem Os entraves do Fundo para a Educação Básica Os entraves do Fundo para a Educação Básica

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Os heróis de Zumbi: Em Pernambuco, no quilombo de Conceição das Crioulas, jovens se engajam na conquista de suas terras

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Page 1: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

RAÇÃOVi RAÇÃOViProjeto social impresso sem fins lucrativos · Ano 3 · No 22 · Novembro de 2005 · R$4,00 · www.revistaviracao.com.br

Zumbi

Encontro discuteo racismo na mídia

Encontro discuteo racismo na mídia

Os hérois de

Cartão-PostalQUE FIGURA!

BRASILÁFRICA

BRASILÁFRICA

BRINDE

BRINDE

Em Pernambuco, no quilombode Conceição das Crioulas,jovens se engajam naconquista de suas terras

FUNDEBem debate

FUNDEBem debate

ZumbiOs hérois de

Em Pernambuco, no quilombode Conceição das Crioulas,jovens se engajam naconquista de suas terras

Mudança, atitude e ousadia jovemMudança, atitude e ousadia jovem

Os entraves doFundo para a

Educação Básica

Os entraves doFundo para a

Educação Básica

Page 2: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

É isso mesmo! A Vira está recebendo o Prêmio Cidadania Mundial 2005,concedido pela Comunidade Bahá’i do Brasil. Estamos entre os nove vencedores,

escolhidos a partir de 54 finalistas de 23 Estados.

Quem ganhou junto com a Vira foi: Alberto Dines (do Observatório da Imprensa),Ângela Basto (do Diário Catarinense), Eugênio Bucci (da Radiobrás),

Gilberto Dimenstein (da Folha de S. Paulo), Marcelo Canela (do Jornal Nacional,da Rede Globo) e o cartunista Ziraldo Alves Pinto, na categoria individual

e DHNet do Rio Grande do Norte e a TV Educativa, do Rio de Janeiro na categoria institucional.

Realizado a cada dois anos, o prêmio sempre enfoca temas atuais que mereçama atenção da sociedade, contemplando comunicadores e veículos de mídia

comprometidos com a defesa das populações vulneráveis.O tema de 2005 foi Mídia Cidadã.

A cerimônia de entrega do prêmio será dia 13 de dezembro, em Brasília, no Ministérioda Justiça. Os nove premiados de 2005 se juntam a um seleto grupo de CidadãosMundiais, do qual fazem parte Lygia Fagundes Teles, Hélio Bicudo e Leonardo Boff.

ganha Prêmio de

· Prêmio de Cidadania Mundial · Prêmio de Cidadania Mundial ·

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Page 3: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

Apoio Institucional

EditorialVIRAJOVENS PELO BRASIL

• Curitiba (PR): Monalisa Stefani, LeonardoJianoti, Augusto Cuginotti, Paula Batista,Ubirajara Barbosa da Fonseca e Suelen Safiano;• Porto Alegre (RS): Aline Schonarth, AngeloKirst Adami e Márcia Veiga; • Belo Horizonte(MG): Luana Silva, Mariana, Pedro Henrique Sil-va, Regina Mendes, Rebeca; • Rio de Janeiro(RJ): Débora Motta, Juliana Lanzarini, GustavoBarreto, Maria Cecília Leão, Rafael Andrade deSouza e Vitória Aguiar; • Brasília (DF): IonaraTalita Silva, Danuse Silva de Queiroz, SilviaBertoldo, Julio Osano, Alisson Jeferson e MariaClaudia Barros; • Fortaleza (CE): Cristiane Pa-rente, Verônica Rodrigues, Giovanni dos Santos,Daniela Aureliano, Nágia Leite e LudovicaDuarte; • São Luís (MA): Raimunda Ferraz, AbelLopes no fundo, Lissandra, Viviane, Marcelo,Leonardo, Silvano,Vanessa, Dayse Rio, AdemarDanilo, colaborador no programa de rádio Ati-tude Jovem, Jailson Santos, Erica Roberta,Daiana Roberta, Maria Claúdia,Ismael Silva,Rafaela Glleysa e Diego Leonardo; • Manaus(AM): Jhony Abreu e Izabelly Costa

Parte da galera do Virajovem de São Paulo:Adriano Rangel, Atiely Santos, Carol Lima,Carolina Coimbra, Chindalena Barbosa,Diego Pauli, Diego Pacci, Douglas dosSantos, Fabíola Quadros, Fábio Mallart,Fernanda Tobias, Gisele Palla, GiovanaCamargo, Heloísa Sato, Isis Soares, JulianaMartins, Leandro Pena, Pedro Henrique deAraújo, Sálua Oliveira, Sara Araújo, TaluanaBrisa, Thayani Pinatti, Tiago de Oliveira, TiagoLuiz Silva, Elisa Fingermann, Rafael Artusi,Roziane da Silva, Camila Paula Macedo,Diego Sierra, Mariana Rosa, Orlando Tonholi,Giorgio D’Onofrio e Nadja Piloto.

ATENDIMENTO AO LEITORRua Fernando de Albuquerque, 93 – Conj. 3

Consolação – 01309-030 – São Paulo (SP)Tel./Fax: (11) 3237-4091 e (11) 9440-7866

HORÁRIO DE ATENDIMENTOdas 9 às 13h e das 14 às 18h

E-MAIL REDAÇÃO E [email protected]

[email protected]

Arq

uivo

Vira

ção

VIRAÇÃOé publicada mensalmente em São Paulo (SP)pelo Projeto Viração da Associação de Apoio

a Meninas e Meninos da Região Sé de São Paulo,filiada ao Sindicato das Empresas Proprietárias

de Jornais e Revistas de São Paulo;CNPJ (MF) 74.121.880/0003-52;

Inscrição Estadual: 116.773.830.119;Inscrição Municipal: 3.308.838-1

Novembro é o mês da Consciência Negra por excelência,porque celebramos o exemplo de Zumbi dos Palmares,

no dia 20. E a Vira comemora junto, mas sempre lembrando queé o ano todo que devemos nos empenhar para acabar com umadas maiores mazelas do Brasil: a discriminação racial.

Afinal, somos o segundo país com mais negros no mundo,perdendo só para a Nigéria, na África. Pena que a chamada“mídia grande” só fala da população negra no Dia da Abolição,13 de maio, e por ocasião do 20 de novembro. Foi isso o que viroudenúncia no Encontro Internacional Brasil-Africa – IgualdadeRacial: um Desafio para a Mídia, realizado em outubro, na capitalpaulista. O evento, que contou com a participação de mais de600 pessoas, entre jovens, educadores, professores e profissio-nais de comunicação do Brasil e de vários países africanos,foi promovido pelo Núcleo de Comunicação e Educação da Escolade Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo(NCE-ECA-USP), o Instituto Internacional de Jornalismoe Comunicação (IIJC) de Genebra e o SESC-SP.

Foi nesse encontro “histórico”, como muitos afirmaram, queos virajovens entrevistaram o antropólogo congolês KabengelêMunanga para a seção Galera Repórter.

Devemos fazer das nossas diferenças uma grande vantagemnum mundo rico em diversidade étnica, racial, cultural e religiosa,apontando e lutando contra qualquer situação de discriminaçãoe exclusão. Não neguemos nossas origens. Pelo contrário,vamos abraçá-las!

ÁFRICA, BRASILe negritude

ÁFRICA, BRASILe negritude

Page 4: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 224

daRGRG

• HISTÓRIA DE QUILOMBO 12Em Conceição das Crioulas, no Pernambuco,os jovens participam ativamente da defesada terra contra a ganância dos brancose a força do tráfico de drogas

• JUVENTUDE ENGAJADA 17Fique por dentro da Campanha em Defesada Vida – A Juventude Quer Viver

DIGA LÁ 5ENTRE ASPAS 6VIRATUDO 8TESÃO 10VIRA OU NÃO VIRA 11GALERA REPÓRTER 22COLUNA VERDE 25GERAÇÃO CIDADÃ 26

QUE FIGURA! 27NO ESCURINHO 28TODOS OS SONS 29REVELE-SE 30TURMA DA VIRA 32DESAFIO 33VIRAÇÃO SOCIAL 34

Sempre na ViraSempre na Vira

MAPAmina

Mande suas sugestões, elogiose críticas por carta ou e-mail

Aguardamossua participação!

Participe !Participe !

Ricardo Teles

Conselho EditorialCecília Garcez, Ismar de Oliveira eIzabel Leão (Núcleo de Comunicaçãoe Educação – ECA/USP), ImmaculadaLopez, João Pedro Baresi, MaraLuquet, Marcus Fucks e ValdêniaPaulinoEquipe PedagógicaAparecida Jurado, Auro Lescher,Cássia Vasconcelos, Isabel Santos,Márcia Cunha e Vera LionDiretor Paulo Pereira LimaRedaçãoCarlos Gutierrez, Daniela Landin,Felipe Jordani e Gabriel MitaniColaboradoresAllan da Rosa, Ana Lucia Pires,Camilla Crosso, Carmen Franco,Carlos Alberto de Oliveira, CarolCoimbra, Cinthia Gomes, CleidsonViana da Silva, Danilo Gomes,Fabiana Salviano, Fábio Mallart,Fernanda Sucupira, GiorgioD’Onofrio, Hilário Dick, Ionara TalitaSilva, Izabel Leão, Jô Brandão, JoséManoel Rodrigues, Juliana RochaBarroso, Karliane Alves, MaranaBorges, Marcio Baraldi, MarianaCacau, Marília Almeida, Nádja Bium,Natália Forcat, Novaes, Ohi, RafaelSilva, Rayane Maciel, Robson deOliveira, Rones Maciel, Sérgio Rizzo,Silas Corrêa Leite, Susana PiñolSarmiento e Vitón Rayzov.Consultor de MarketingThomas StewardRelacionamento InstitucionalGeraldo Virgínio e Luci FerrazRevisão Andréa PontesProjeto Gráfico IDENTITÀAdriana Toledo BergamaschiMarta Mendonça de AlmeidaFotolito Digital SANT’ANA BirôImpressão Editora ReferênciaJornalista ResponsávelPaulo Pereira Lima – MTB 27.300Divulgação Equipe ViraçãoAdministração Miguel W. da SilvaE-mail Redação e [email protected]@revistaviracao.com.brPREÇO DA ASSINATURA ANUALAssinatura Nova R$ 40,00Renovação R$ 35,00De colaboração R$ 50,00Exterior US$ 35,00

• TERRORISMO DE ESTADO 18Correspondente da Vira, em Londres(Inglaterra), conta como os jovensavaliam as leis antiterror do governo

• EDUCAÇÃO SEM FUNDO 20O Fundo de Manutenção eDesenvolvimento da Educação Básicae de Valorização dos Profissionaisde Educação (Fundeb) e seus mistérios

• BRASIL - ÁFRICA 22O antropólogo Kabengelê Munanga fala sobreas relações muito próximas entre o Brasile os países do continente africano

Representante de um dos maisde 1500 quilombos existentesno Brasil, que defendem aregularização de suas terras

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raça

Page 5: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

5nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

DIGA LÁPEDIDO DE AJUDA

!!Jorge Antonio dos Santos SouzaSão Paulo (SP)

Sou Educador Universitário junto ao Programa Escola Família, na EE João Amós Comenius, situadano Bairro de Vila Santa Catarina, em São Paulo. Estamos querendo desenvolver aulas de informática

junto à comunidade. E já conseguimos a doação dos equipamentos (CPU, monitor, teclado e mouse).As aulas serão dadas pelo corpo de universitários bolsistas do programa acima e, no momento,uma de nossas dificuldades para implantar as aulas é onde instalar estes equipamentos.

Quero, por meio desta, solicitar, em nome do Programa Escola da Família, a doação de escrivaninhaspara estas aulas, que serão dadas aos sábados e domingos das 9 às 17h. O Programa têm apoioda Unesco, Instituto Ayrton Senna, Instituto Faça Parte, Fundo de Social de Solidariedade do Estadode São Paulo, Fundo para o Desenvolvimento da Educação, Secretaria da Educação e Governodo Estado de São Paulo. Caso não possa fazê-lo, é possível que você nos indique ONGsque prestam este tipo de serviço? Empresas? Parceiros?

!

TÁ NA FITAPadre FlávioNovo Hamburgo (RS)

Sou assinante da revista,inclusive irei renovar

minha assinatura.

Ela é muito boa e os jovensgostam muito. Continuemcom este lindo projeto!.

!

FALA

AÍ! Mande seus comentários sobre a Vira,

dizendo o que achou de nossas reportagense seções. Suas sugestões serão bem-vindas!

Escreva para nosso endereço:Rua Fernando de Albuquerque, 93 – Conj. 03

Consolação – 01309-030 – São Paulo (SP)Tel/Fax: (11) 3237-4091 ou para o e-mail:

[email protected] sua participação!

Márcio Baraldi

PARTICIPAÇÃOJeckson B. Santos

por e-mailGostaria de saber se vocês não têm informações

sobre associações de prostitutas no estadode Alagoas. Não sou mulher, mas preciso fazer

um trabalho de antropologia, o que não deve serfeito falando apenas com as garotas, mas também

com alguma organização que trabalha com elas.

!

GALERA,mais uma pisada

de bola. Desta vezcom um fotógrafo e

colaborador da Vira,o Giorgio D´Onofrio.

ErramosOPS!

O crédito da foto dapágina 11, da edição 19,

não é do Virajovemde Curitiba, mas dele.

Valeu Giorgio e vai descul-pando a mancada.

Niclaudino Aguiar DiasCoroali (MG)

Parabenizo a Vira pelas reportagense pelo conteúdo muito bom.

Creio que a revista pode melhorarmuito mais. Que tal divulgar maisreportagens sobre os movimentos

sociais, como, por exemplo,o Movimento dos Atingidos por

Barragens (MAB), meio ambiente,fé e política etc.?

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S

S

P

Page 6: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 226

‘‘‘‘Filosofia

escolana

E VOCÊ, o que acha

ltimamente, uma onda deFilosofia tem tomado con-ta das discussões entre

amigos, dos programas de televisão e dascapas de revistas. O que antes era assunto só

para intelectuais, hoje caiu na boca da galera.Mas afinal, o que é a Filosofia? A palavra tem ori-

gem grega e significa “amor pela sabedoria”. Ela en-globa, na verdade, o estudo e o raciocínio coletivodas dúvidas que cercam o ser humano. É, em linhasgerais, o pleno exercício de questionar, discutir, de-bater e argumentar.

Uma certa polêmica, porém, tem envolvido o as-sunto. Alguns projetos de lei prevêem o ensino obri-gatório da disciplina nas escolas e algumas pessoassão contra. Muito debate ainda tem que rolar para quese chegue à melhor solução. Para abrir a cabeça, confi-ra os livros: Introdução à Filosofia (de Paulo GhiraldelliJr. – Editora Manole) e O Mundo de Sofia (de JosteinGaarder – Editora Companhia das Letras); e assista a:Matrix (de Andy Wachowski e Larry Wachowski – WarnerBros), Dogville (de Lars von Trier – Lions GateEntertainment / California Filmes) e Neste Mundo (deMichael Winterbottom – Lions Gate Films Inc.).

U

do ensino de Filosofia na escola?THIAGO FIGUEIREDO, 20 anos

estudante deCiências da Computação,

Valparaíso (DF)

Filosofar é muito bom. Às vezesa gente da uma “viajada

cabulosa”, eu me amarro!Acho que a matéria nãotem que ser obrigatórianas escolas: é muito chatopensar por obrigação e,muitas vezes, acaba não

sendo eficaz. O interesse temque partir do próprio jovem

e a escola só têm que estimular.

ALISSON JÉFERSON, 19 anosestudante de

curso pré-vestibular,Samambaia (DF)

Considero a Filosofia muitoimportante porque é através dela

que eu me descubro, que vejo osmeus limites. Ela desperta o nossolado crítico, transforma a nossa visão

de mundo e nos instiga a querer saber mais.A forma que é ensinada na escola é muito

cansativa e, em vez de estimular a gentea pensar, acaba se tornando uma matéria a

mais que tem que ser cumprida. Filosofia nãoé para ser decorada, é para ser vivenciada.

Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 226

Filosofiaescolana

Page 7: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

7nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

‘‘‘‘

COLABORAÇÕES:DANUSE QUEIROZ, SILVIA BERTOLDO

e IONARA TALITA (Brasília – DF)

MARCIO UEMURA, 15 anosestudante do Ensino Médio,

São Paulo (SP)

Eu acho que a Filosofiaé importante na minhavida, é a base daquiloem que acredito e quevivo. Ela pode seraplicada no nossobom-senso, nos dáas diretrizes do que é

certo e do que é errado.Isso influencia nas nossas

ações, no nosso dia-a-dia.É legal que ela seja ensinada na escola porqueé uma orientação para o jovem não se abalarcom os problemas da vida.

MARIANA ALMEIDA, 19 anosestudante de curso pré-vestibular,

São Paulo (SP)

A Filosofia está sempre envolvidana nossa vida, está englobadana maioria dos acontecimentos.Ela é aplicada no jeitodas pessoas serem e agirem.É bom que a disciplina sejaensinada às crianças desdepequenas, para que elas

mesmas se orientemem suas vidas.

JOSÉ AUGUSTO FIGUEIREDO, 16 anosestudante do Ensino Médio,

São Paulo (SP)

Não sei se a Filosofia é tãoimportante na minha vida.

Eu já li alguns livros, mas nãome conecto muito bem como assunto. Temos que pensar

muito sobre coisas que agente ainda não consegue

entender para estudá-la maisprofundamente. Acho que a

disciplina não deveria ser ensinadanas escolas, e sim em algumas faculdades.

O interesse deve partir dos próprios estudantes.

RENATA OLIVEIRA, 17 anosestudante do Ensino Médio,

São Sebastião (DF)

A Filosofia é muito importantena minha vida, pois me ajuda a pensar.A maneira como é ensinada na escola,

no entanto, tem que mudar.Às vezes eu não agüento as minhas

aulas de Filosofia porquesão muito chatas.

MELISSE GONÇALVES, 18 anosestudante do Ensino Médio,

São Paulo (SP)

A Filosofia me faz pensar em várias coisas.Para mim, ela serve para pensar na vida,

avaliar o que é melhor para as pessoas, nortearnosso caminho. Ela é uma ótima matéria para

ser ensinada nas escolas, pois ajuda os alunosa saberem lidar melhor com a vida.

7nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

Page 8: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 228

Dica de LivroLUANA E AS SEMENTES

DE ZUMBI

Uma protagonista negra, de tran-cinhas e com um berimbau mágico.

Mais uma maneira para milhões de crian-ças Brasil afora compreenderem um paísde muitas etnias e culturas. “É a primeiraheroína infantil negra do Brasil. Ela temfamília, mora com o pai, a mãe, o irmãozi-nho e a avó etem amigosde diferentes

etnias. Joga capoeira e seuberimbau é mágico, que a

faz viajar no tempo”, diz o cria-dor da personagem e da série

de livros, Aroldo Macedo.No primeiro livro, Luana, a

menina que viu o Brasil neném,editado pela FTD, o berimbau,após ser atingido por um raio, ad-quire poderes mágicos e leva aprotagonista à época em que os primei-ros navios portugueses aportaram poraqui. No mais recente, Luana e as semen-tes de Zumbi, a menina de 8 anos encon-tra Zumbi dos Palmares. Os livros narramas viagens no tempo e a série de 12 gibis,as aventuras de Luana contra FumaçaMortal, o vilão que polui o meio ambien-te. As histórias em quadrinhos e o se-gundo livro são editados pela Toque deMydas, editora do autor.

Galera estudiosaA maioria dos 112 mil alunos do

Programa Universidade para Todos(ProUni) tem obtido sucesso nos seuscursos e sentido entusiasmo pelos es-tudos. “Vários reitores de universida-des privadas têm manifestado satis-fação com o desempenho desses jo-vens, que muitas vezes não entravamna universidade por questão de opor-

tunidade”, declarou oministro interino doMEC, Jairo Jorge. A seuver, políticas afirmati-vas como o ProUni e decotas para alunos de es-colas públicas entraremnas universidades fede-rais constituem um ca-minho para o país en-frentar a questão da ex-clusão.

BABACA

No latim, Balbu significava gago e originou overbo balbutiare (gaguejar, falar obscuramente). Emportuguês, balbutiare deu balbuciar e balbu viroubobo, porque uma das gracinhas que os bobos dacorte faziam era imitar gago. Antigamente, os bo-bos da corte se destacavam por seu modo de vestirextravagante. Hoje, muitos trajam de terno e grava-ta e não gaguejam, o que dificulta sua identificaçãoimediata. De bobo veio boboca, com a terminaçãopejorativa – oca (como em engenhoca). Babaca éuma forma variante de boboca.

DNA! Origem depalavras e expressões

Cotas nas universidadesO presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Re-

belo, recebeu em meados de outubro estudantes dediversas entidades, como o Movimento dos Sem-Uni-versidade (MSU). Eles pediram a aprovação do Proje-to de Lei 3627/04, do Executivo, que prevê a reservade, no mínimo, 50% das vagas das universidades pú-blicas federais para estudantes que tenham cursadointegralmente o Ensino Médio em escolas públicas,especialmente negros e indígenas. Rebelo explicou aosestudantes que, na última reunião de líderes, sugeriuprioridade para a inclusão da proposta na pauta doplenário, e que a decisão caberá também às lideran-ças. Aldo prometeu ainda apoiar todos os projetos quevalorizem o ensino público e o acesso à educação. “NoBrasil, a desigualdade é a regra. Começa com a regio-nal e a social, que impedem o acesso à educação.”

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ulga

ção

Lucynei Martins / Rede Rua

Antonio Milena/ABR

Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 228

Page 9: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

9nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

“Se quem ama adivinhasse o mal queo ciúme faz, não daria falso um passo,

nem pra frente e nem pra trás.”

Provérbio brasileiro

“O rio atinge seus objetivos porqueaprendeu a contornar obstáculos.”

Lao-Tse, filósofo chinês

DO CONTRAtexto e foto MARÍLIA ALMEIDA

Felipe Rafael Caczan, 24 anos, é produtoreditorial e mora em São Paulo. Não quer nemouvir falar em dinâmica de grupo.

Por que você é contra a dinâmica de grupo?– Todas as dinâmicas nas quais participei não influenciaram

em nada o resultado porque a maioria das pessoas que passam na

Conheça a página na internet da Organização Comuni-cação e Cultura, de Fortaleza (www.comcultura.org.br).A galera trabalha com a formação dos jovens para acidadania, atuando em escolas e outros espaços deaprendizagem. Promove o protagonismo dos jovensna melhoria do ensino público e das condições de vidanos bairros e nas comunidades onde moram. Por meiode oficinas, o Comunicação eCultura capacita alunos para acriação de jornais nas escolas,por meio do Programa Escolade Cidadãos. A meta é atingir1000 escolas públicas e outrosespaços de aprendizagem doCeará, até o final do ano 2005.

Dica de Site: Comunicação e Cultura

dinâmica em grupo já sabem da resposta ou fazem as coisas pres-sionadas só para impressionar a galera que está avaliando. Acho que esse negócio assimde trabalho em equipe é tudo furado, a pessoa tem que saber trabalhar na individualidade.Qual foi a sua pior dinâmica?

– Como vou contratar um jornalista baseado em uma dinâmica de grupo? Nada a ver. Ele tem quemandar um texto dele. No caso do dia-gramador, tem que ver o portfólio dele, mos-trar realmente coisas que assinou. Dinâmi-ca de grupo é balela porque depois você aca-ba trabalhando, conhecendo as pessoas. Oser humano é diferente, não é programável.

– Uma vez fui fazer uma em uma escola que era assim: a gente tinha que montar um quadradocom umas peças, só que ninguém podia falar nada e só podia conversar com as pessoas somentepor gestos, caras e bocas. Todo mundo queria comandar, liderar a equipe. Foi um negócio nadaa ver. No final das contas, todos queriam se mostrar para ganhar um emprego.Como deveria ser o processo de avaliação na sua opinião?

“A vida vai ficando cada vezmais dura perto do topo.”

Friedrich Nietzsche, filósofo alemão

Armas ilegaisLevantamento realizado entre janeiro de 2004 e se-

tembro deste ano, pelo Infocrim, a base de dados in-formatizada das ocorrências policiais de São Paulo,mostrou que, dos mais de sete mil casos registradosde porte ilegal de armas no período, 48,5% envolviamjovens entre 16 e 24 anos. Os homicidas presos e asvítimas são, em sua maioria, também muito jovens,de baixa escolaridade e moradores de periferia. Parao cientista político Túlio Kahn, os dados reforçam umadeficiência nos programas de TV veiculados antes doreferendo do desarmamento. Segundo ele, o enfoquedos debates ficou centrado nos adultos, chefes de fa-mília. “Além do aspecto de insegurança, existe o mitoda virilidade ao portar uma arma.

Brasil sem homofobiaO Ministério da Educação vai desenvolver um projeto

de capacitação de 80 professores e coordenadores peda-gógicos da rede municipal de ensino público em Juiz de Fora (MG) em 2006.O projeto foi criado pelo Movimento Gay de Minas (MGM) e inserido dentrodo programa do Governo Federal Brasil sem Homofobia. Diversos temasserão abordados em oficinas por dez especialistas em educação e ho-mossexualidade de todo o país. A intenção é que com a criação doprojeto, não apenas diminua o preconceito nas escolas, mastambém se crie um terreno onde os homossexuais pos-sam construir sua própria identidade.

9nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

Page 10: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 2210

musicalAssim como o futebol, a música também assume algumas

responsabilidades no contexto brasileiro. Devido à imensadiversidade cultural, a música brasileira é muito rica e atinge

um status de paixão nacional, fato tal que também seduz milharesde jovens a seguirem carreira.

Natural do Rio de Janeiro e formado pela Escola de Música e BelasArtes do Paraná, Alex Figueiredo já ostenta seus 15 anos de profissio-nalismo, atestando que para ser músico é necessário mais do quetalento: “Hoje em dia só talento não basta. Disciplina e estudo sãofundamentais para se tornar um bom profissional, tanto na músicacomo em qualquer área”, diz ele.

Dentre aulas e bares, a rotina de um músico pode ser atribuladíssi-ma ou completamente vaga. Passagens de som, preparação de aulase ensaios ocupam espaços indefinidos no dia-a-dia, e quem tem tudoisso dá graças a Deus. “É aí que entra a sorte e a localização.Não há dúvida de que as melhores oportunidades estão no eixoRio-São Paulo, só que a concorrência também é maior e tem todas

as neuroses de uma grande metrópole”, analisa.Apesar de tanto esforço individual, a carreira musical

é extremamente coletiva. A dependência – nem semprehumana – engloba a parte instrumental como um todo e,

se engana quem acha que a voz e os sons corporaisnão entram nessa dança. É afinação pra um lado,

cabo pro outro, tom daqui, acorde acolá, mastudo com um propósito de despertar algum

sentimento, seja ele melancólico ou alegre.Mas alto lá! Imagine se um jogador de

futebol só jogasse para o seu time docoração? Alex afirma que apesar do estiloo importante é que trabalho é trabalho:“Toco forró um dia, MPBlack no outroe em seguida em um casamento,por exemplo, mas independentedo estilo cada um deve ser encaradocom a mesma seriedade”.

E para quem realmente quer seguireste caminho, aí vai uma dica: o Con-servatório de Música Popular Brasileiraé uma ótima pedida, pois, além deótimos profissionais envolvidos, contacom um preço acessível. Com diversasescolas em todo o Brasil, vale a pena

procurar algum na sua cidade. Bastadar uma conferida no guia de sue municí-

pio. Agora, por favor, me dêem licença,porque a minha aula já está começando...

Não há dúvida de que as melhoresoportunidades estão no eixo Rio-São Paulo,

só que a concorrência também é maior etem todas as neuroses de uma grande

metrópole, diz o músico carioca AlexFigueiredo, que trabalha em Curitiba (PR)

Alex Figueiredo dá aulas de percussão:“Disciplina e estudo são fundamentais

para se tornar um bom profissional”

texto e fotoVITÓN RAYZOV

TALENTO

Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 2210

TESÃO ALEX FIGUEIREDO tem paixão pelo que pensa e faz!!

.

Page 11: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

11nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

Um dia com um profissional paraajudar você a escolher sua carreira

uixeramobim, a cerca de 240 Km de Fortaleza, a capital cearense, tem a suaeconomia quase toda voltada para as práticas agrícolas. Por isso, tivemos acuriosidade de saber mais de uma profissão, a de técnico agrícola, não muito

conhecida, mas que é super comum nas comunidades agrícolas, como no assentamentoMuxuré Velho. E quem vai nos ajudar a

Técnico Agrícola RAYANE MACIEL, KARLIANE ALVES e RONES MACIEL

Rayane Maciel, Karliane Alves entrevistamo técnico agrícola José Leonardo; na outra

imagem, Rones Maciel dá uma forcinhadigitando e editando o texto

descobrir um pouco mais sobre essa profis-são é técnico agrícola José Leonardo, 31 anos.Ele é funcionário da Prefeitura de Quixeramo-bim e trabalha no distrito Lacerda. Afinal, o queleva um jovem a passar oito anos fora de casaestudando, e depois retornar para sua comuni-dade e ajudá-la a se desenvolver?

Para começar, vamos saber o que é um técnicoagrícola. Segundo José Leonardo, “técnico agríco-la é uma profissão que serve pra dar assistência aohomem do campo na área da agricultura e pecuá-ria”. E quem pensa que fazer assistência técnica ésó de vez em quando está muito enganado, poiso nosso técnico trabalha todos os dias, sai bemcedo, começa pela manhã por cada propriedadee só retorna para casa no final do dia. Ele deixoubem claro que é um trabalho muito cansativomas, ao mesmo tempo, muito gratificante.

Um técnico agrícola ganha em médiadois salários e meio, podendo chegar atéa quatro salários mínimos, isso no municípiode Quixeramobim. Em outros lugares nãoé muito diferente.

Morar no campo, salário mais ou menos,será que há alguma dificuldade? Como emtoda profissão, essa tem lá as suas: “Nocampo, o pessoal ainda mantém velhoshábitos, herança de seus antecedentes, eisso acaba atrapalhando o meu trabalho”.José falou-nos ainda o porquê da

escolha dessa profissão. “Sendo filhode agricultor, vi que seria a melhor

maneira de contribuir com a minhacomunidade e viver diretamente

com o homem do campo eajudá-lo quando necessário”.

Rayane Maciel, 14 anos, e Karliane Alves, também da mesmaidade, são do assentamento Muxuré Velho, município de

Quixeramobim (CE); Rones Maciel 20 anos é estudante deComunicação em Fortaleza e atua na Catavento

Comunicação e Educação Ambiental, parceira da Vira

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11nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

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Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 2212

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Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 2212

texto e fotosFERNANDA SUCUPIRA,

de Conceição das Crioulas (PE)

Num quilombo fundadosó por mulheres, no século 19,

os jovens hoje participamativamente da defesa da terracontra a ganância dos brancose a força do tráfico de drogas

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13nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

Numa tarde de sol escaldante, Jocicleide Valdecide Oliveira, a Kêka, senta-se na varanda de suacasa. As mãos ágeis da jovem de 18 anos trans-

formam a fibra do caroá, planta do sertão nordestinobastante resistente à seca, em uma pequena bonecaque representa uma das mulheres mais significativasna história de sua comunidade. Numa casa pertodali, Adalmir José da Silva, 24 anos, por sua vez,confecciona instrumentos de percussão, commadeira e pele de animal, para a tradicionalbanda de pífanos. Fala com entusiasmo sobreas festas em que a banda toca e pessoasde todas as idades participam do trancelim,dança típica de sua terra, em que todos vãose trançando. Ambos são jovens de Conceiçãodas Crioulas, comunidade quilombola com 4 milhabitantes, que resiste no sertão de Pernambucohá cerca de duzentos anos, apesar das recorrentestentativas de expulsão da população negra dali.

Contam seus habitantes que, no início do século 19,chegaram na região seis crioulas livres que deram inícioao cultivo e à fiação do algodão, iniciando a tradição doartesanato na comunidade. Com a venda do produto,compraram o terreno onde viviam e, por muito tempo,tiveram a escritura dele. Aos poucos, Conceição foi

sendo invadida e cercada pelosbrancos, que hoje detêm asmelhores terras, enquanto osquilombolas se espremem nasáreas que sobraram e vivemdo cultivo de feijão, mandioca,hortaliças, a chamada agriculturade subsistência. A histórica lutapela posse desse território étnico

vem se intensificando nas últimas décadas, o que temacirrado os conflitos. Mais de vinte lideranças locais

já foram ameaçadas de morte pelosfazendeiros, e, no final do ano passado,

houve até uma tentativa de incêndio nasede da associação quilombola.

FUTEBOL FEMININO

Kêka e Adalmir são dois dos jovens que participamdo esforço pela retomada da terra de seus antepassados,que mobiliza grande parte dos habitantes do local ecoloca Conceição em posição de destaque no movimen-to quilombola nacional. Há algum tempo, parte dajuventude começou a se envolver com essa questão,considerada fundamental para a vida da populaçãonegra de Conceição, mas que antes costumava serassunto apenas das pessoas mais velhas. A escassezde terras traz inúmeros problemas, como a falta deespaço para o jovem cultivar sua própria roça ou paraa construção de novas casas quando os mais novosresolvem casar ou iniciar a vida independente da família.

Jocicleide (primeira à direita)é uma das lideranças que atuam

na defesa das terras de Conceição

QUILOMBOLAS

Como são chamadosos habitantes das co-munidades negrasrurais, descendentesdos quilombos

13nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

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Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 2214

PONTO DE CULTURA

Iniciativa do Ministérioda Cultura em parceriacom entidades sem finslucrativos para fomentara cultura e projetos liga-dos à cidadania

População sobrevive da pequenaagricultura e da produção

de artesanato

Tanto Adalmir quanto Kêka, entre muitos outros,fazem parte da comissão de juventude da AssociaçãoQuilombola de Conceição das Crioulas (AQCC), contri-buem para o resgate da cultura, discutem a situaçãode seu povo e buscam mais opções de lazer para crian-ças e adolescentes da comunidade. Ela atua, junto comsua mãe e suas duas irmãs, no movimento de mulheresrurais da região. Foi uma das fundadoras do primeirotime feminino de futebol, o Crioulinhas Futebol Clube,e integra a equipe responsável pela continuidade doartesanato na comunidade, fonte de renda para diversasfamílias. Ele faz faculdade de pedagogia e desenvolveprojetos ligados a esportes, música e recursosaudiovisuais. Há alguns meses, foi ao Rio de Janeiro

participar de uma oficina devídeo para ensinar aos outrosjovens quilombolas como usaralguns recursos do esperadoPonto de Cultura, que serácriado na comunidade. Elessão apenas dois exemplos deum processo recente em que osjovens cada vez mais se tornamprotagonistas em Conceição

das Crioulas e buscam alternativas para permanecerna terra em que nasceram. Mas nem sempre foi assim.

Até 1987, grande parte da renda da comunidade vinhado plantio do algodão. Naquele ano, a invasão de umapraga nas lavouras da região fez com que as condiçõesfinanceiras dos habitantes de Conceição piorassem,e muito. A situação, que já era bastante complicadaantes, em especial nos períodos de seca, atingiu níveisdesesperadores. A população não enxergava formasde sobrevivência digna, e muitas pessoas, em especialos jovens, viram-se obrigadas a emigrar para a periferiadas grandes cidades. A localização de Conceição dasCrioulas, dentro do Polígono da Maconha, região nointerior de Pernambuco que apresenta largo cultivoda erva, trouxe e ainda traz conseqüências muito nega-tivas, que atingem principalmente os jovens.

ESTADO AUSENTE

A total ausência do Estado nessa época, que nãodeu nenhuma atenção para o problema, abriu espaçopara que o plantio e o tráfico, formas aparentementefáceis de se obter dinheiro, atraíssem muitos jovensda região. Atentos ao que acontecia, os narcotraficantescomeçaram a investir mais em Conceição. O desejo delevar uma vida mais parecida com a apresentada pelatelevisão, com roupas caras, carros, e aparelhos eletrôni-cos de última geração, despertou como uma necessi-dade entre uma parte da juventude, que, muito maissensível a esse tipo de apelo, se tornou alvo certeiropara o grande po-der de sedução do tráfico. A ilusão,no entanto, não durou muito. Em pouco tempo,vários dos envolvidos no crime começarama ser presos e alguns foram mortos.

Nos últimos anos, no entanto, o problema diminuiubastante em Conceição, o que é atribuído a dois fatoresprincipais: o projeto de educação diferenciada desen-volvido desde então e o crescente envolvimento políticodos jovens. “Eu presenciei nessa comunidade um mo-mento em que ou os jovens caíam na luta, no sentido

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15nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

Projeto de educação procura incluira cultura e as tradições locais

no cotidiano da escola

de melhorar a situação, ou entravam notráfico. E a gente escolheu a luta”, explicaAparecida Mendes, que hoje é coordena-dora executiva da AQCC. Num dessesmomentos decisivos, ela viu dois meni-nos assassinados, jogados um em cimado outro, formando uma cruz. Eram doisconhecidos seus, cujo crescimento elahavia acompanhado desde o início.Sabia que eles não dispunham de condi-ções financeiras para sobreviver, o quea entristeceu ainda mais. A mobilizaçãoimpulsionada por essa situação resultounuma presença bem mais forte do Estadona comunidade, com a implementaçãode políticas públicas que diminuem os riscosde eles serem seduzidos pelo crime.

A SAÍDA NA EDUCAÇÃO

Os avanços alcançados na educação, que transfor-maram Conceição em uma referência para as outrascomunidades quilombolas no país, são apontadoscomo um fator essencial para isso. Até 1995, só eraoferecido, na própria comunidade, o ensino de 1a a 4a

série. Hoje, a galera têm oportunidade de estudar atéo Ensino Médio, cerca de trinta jovens estão cursan-do faculdade em Salgueiro – cidade a 42 km dali, daqual Conceição faz parte – e alguns já estão forma-dos. Antes, quando chegavam aos 16 anos, eles semudavam para as grandes cidades, em buscade melhores condições de vida.

O projeto que está sendo colocado em prática nasescolas de Conceição busca algo pra lá de diferente:incluir a cultura e as tradições locais no currículo e nocotidiano escolar. O processo se iniciou como uma reaçãonatural ao fato de que a escola tal como era apresentada,igual à de Salgueiro, não tinha muito a ver com o dia-a-dia da comunidade. Uma realidade rural, negra, quilom-bola, com uma história bastante particular e sabedoriatradicional que não eram valorizados naquele modelo.

Todos os textos que são lidos e trabalhados nas aulasde gramática ou escritos pelos alunos, por exemplo,passaram a ser sobre histórias da comunidade, quecrianças e adolescentes pesquisam com os habitantesmais velhos. Assim, aprendem ao mesmo tempo osconteúdos previstos no currículo escolar e a origemde Conceição das Crioulas. A partir disso, iniciaramo resgate de suas raízes e a valorização da cultura localque, aos poucos, começaram a surtir efeitos. “Quandoeu era mais novo, os jovens não costumavam participardo trancelim porque ainda não tinham despertado paraas coisas boas da comunidade, inclusive eu era um dostais. A gente não achava bonita a dança, nem a banda depífanos. Só quando fomos estudar em Salgueiro e vimosque a cultura de lá não tinha nada a ver com a nossa,e que a nossa era riquíssima, nós começamos a dar

valor e a participar do trancelim, que é muito contagian-te. Quando a gente vê, não consegue mais ficar parado”,diz Adalmir. Hoje, alguns jovens integram até mesmoda banda de pífanos da comunidade.

PROTAGONISMO JUVENIL

A Associação Quilombola de Conceição das Crioulasfoi fundada em 2000 com o objetivo de receber o títulode posse do território étnico, mas vem incorporandodiversas outras demandas que surgiram ao longo dosanos. Só em 2003 é que foi criada a comissão de juven-tude, como resultado da crescente mobilização dosjovens, sendo hoje uma das mais atuantes.

Eles começaram a realizar debates sobre temas daatualidade, políticas públicas voltadas para eles, drogase sexualidade. Organizaram um torneio de futebol desalão, com o objetivo de arrecadar dinheiro para com-prar o material necessário para fazer os instrumentosda banda de pífanos, iniciaram uma campanha emdefesa do meio ambiente, conscientizando os habitan-tes de Conceição em relação ao problema do lixo,que poderia contaminar o açude da comunidade.

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Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 2216

OS QUILOMBOS DE HOJE

O grupo de jovens foi se desenvolvendo cada vezmais, até que surgiu a necessidade de se criar umespaço espe-cífico para eles na AQCC. Desde então,a participação deles na luta pelo título definitivo dasterras de seus antepassados só aumentou. Atualmente,reivindicam junto ao Instituto Nacional de Colonizaçãoe Reforma Agrária (Incra) a construção de uma quadrapoliesportiva dentro de seu território. No entanto,a quadra, que seria uma opção de lazer, ainda dependeda regularização da área quilombola.

Um grupo grande já faz parte da comissão de juventu-de da AQCC, muitos têm viajado para participar decursos e encontros fora da comunidade, e já sentemuma diferença significativa em suas vidas. Kêka, porexemplo, viveu com sua família por muito tempo fora

de Conceição, primeiro em Salgueiro e depois emPetrolina. Com a morte de seu pai, ela e as outras quatromulheres – suas duas irmãs, sua tia e sua mãe – decidi-ram, em 2000, voltar para a comunidade para tentara vida por lá novamente.

Hoje, Kêka considera que a mudança melhorou muitoa vida delas porque, quando moravam na cidade, nãotinham muitas atividades. Várias amigas dela da épocaem que vivia em Salgueiro tiveram filhos aos doze anos,prostituem-se, ou não têm nenhuma perspectiva de vida.“Nós nos conscientizamos e crescemos muito desde quechegamos aqui”, avalia. Outro fator que contribui paraisso é que, em Conceição, a presença da mulher na lutapela terra, na organização da comunidade e na tomadade decisões é muito forte.

A jovem quer trabalhar com o meio ambiente, porisso, gostaria de fazer um curso de especialização foradali, mas com o objetivo de colocar em prática seusconhecimentos na própria comunidade. Depois de termorado em Salgueiro, consegue comparar melhor a vidanaquela cidade com a que leva no quilombo. “Na cidade,o lugar é desenvolvido, mas nós não nos desenvolve-mos. Lá, as pessoas não têm noção de nada, vivemnum mundo triste. Em Conceição das Crioulas, o lugarnão é desenvolvido, mas nós nos desenvolvemos.A gente passa dificuldades, só que ninguém morre defome. Aqui, conseguimos lutar pelos nossos direitos,sabemos o que é melhor para a gente”, define Kêka..

Desde que os negros começaram a ser trazidos, à força, da África para serem escravizados no Brasil, os qui-

lombos se constituíram como espaços de resistência, onde a população negra consegue manter uma cultura

própria. O mais famoso foi o de Palmares, na Serra da Barriga (AL), comandado pelo herói negro Zumbi, festejado

no Dia 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra.

Hoje, há 2.228 comunidades quilombolas no país, de acordo com o mais recente

levantamento, divulgado em maio deste ano pela Universidade de Brasília. O movi-

mento quilombola, porém, estima que esse número ultrapasse os 4 mil. Ainda

que 63% das comunidades se concentrem no Nordeste, elas estão em

quase todo o país, com exceção de Roraima, Acre, e Distrito Fe-

deral. Vivem nelas cerca de 2 milhões de quilombolas, segun-

do a Fundação Cultural Palmares, embora o movimento tam-

bém acredite que esse número seja bem maior.

Quanto à regularização, apesar de o direito à terra das co-

munidades quilombolas estar previsto na Constituição Brasilei-

ra de 1988, a titulação desses territórios vem sendo feita lentamen-

te. Muitas estão em conflito pela posse, tanto com proprietários par-

ticulares quanto com o governo, e ameaçadas de despejo. Até agora

só foram tituladas 119 comunidades, em 61 territórios, sendo que par-

te delas ainda não conseguiu a posse efetiva de suas terras, porque não

houve retirada ou indenização dos proprietários e posseiros.

Dezessete anos depois de o direito ser assegurado, apenas 5% das comunida-

des conhecidas foram regularizadas. Se o ritmo se mantiver, serão precisos mais de

três séculos para concluir a titulação.

Pernambuco

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17nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

tá na mãotá na mão• Casa da Juventude Pe. Burnier

www.casadajuventude.org.br

A juventude

As pesquisas vão gritando, com seus dados, que um dos maioresreceios ou medos, também da juventude, é a violência e que umdos sonhos mais bonitos que a juventude carrega é a paz em seu

sentido mais amplo. Como contribuir para que uma não exista e quea outra floresça como a rosa mais bonita do jardim da vida?

Uma das iniciativas que essa realidade despertou em 2004, atravésde cartazes, folders, mensagens pela internet, foi a Campanha em Defesada Vida – A Juventude Quer Viver, promovida pela Casa da JuventudePe. Burnier (CAJU), de Goiânia (GO), em parceria com o ConselhoEstadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA), a Pastoralda Juventude Nacional, entre outras entidades.

Criada em 1983 e filiada à Associação Jesuíta de Educaçãoe Assistência Social, da Companhia de Jesus, a CAJU oferece formação,assessoria, pesquisa e outros serviços para jovens e adolescentes.

No Encontro Nacional da Pastoral da Juventude, por exemplo,em Salgado (SE), a campanha foi assumida em nível nacional e sedesdobrou em sondagem entre os jovens a partir de duas perguntas:1) No Brasil que a gente quer: o que deve ter? 2) No Brasil quea gente quer: o que não deve ter?

Participaram da pesquisa jovens de 21 cidades de 6 Estados (Goiás,Amazonas, Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul).Os desejos mais fortes deles são, por ordem de importância: educaçãopública de qualidade, emprego digno ou oportunidades de trabalho,lazer, saúde pública, moradia digna e reforma agrária. Pode-se dizerque “não há novidades”, considerando outras pesquisas. Segundoa pesquisa do Instituto Cidadania (ainda a melhor que temos sobreo tema, no Brasil), os direitos sociais mais importantes são o emprego,a educação, a saúde, a segurança, a moradia e a alimentação.

Quanto à segunda questão – no Brasil que a gente quer, o que nãodeve ter? – os grandes “inimigos” a serem enfrentados, segundo osjovens são: violência, drogas, preconceito, corrupção, desemprego,fome, desigualdade social e prostituição.

A sondagem oferece-nos dois mapas que mostram como os jovenssão capazes de ver a realidade e sonhar com soluções. Sem querer,o todo aponta para a forma pedagógica e mística que se faznecessária frente ao que se vê e sonha.

Hilário Dick é sacerdotee coordenador da Casa da

Juventude Pe. Burnier (CAJU)

quer viverPesquisa revela o que os jovensdesejam para o mundo

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Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 2218

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Em nome da guerra ao terror,governo britânico lança planoque pode ir contra os direitoshumanos; os jovens protestam

Avida dos jovens ingleses vem mudando a cada dia que passa.Londres, uma cidade cosmopolita que abriga gente de mais decinqüenta países e que fala quase quarenta idiomas, está vivendo

uma grande ameaça contra a liberdade civil e os direitos humanos devidoa uma lei antiterrorista que está sendo criada e que pode ser implantadaa qualquer momento na Inglaterra.

Em artigo publicado em um jornal inglês no início deste ano, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, já havia defendido um pacote de medidasque incluía a prisão de suspeitos de terrorismo. Hoje, quatro meses depoisdos atentados terroristas em Londres que mataram mais de cinqüentapessoas, o primeiro-ministro inglês apresentou oficialmente seu projetode lei que pode dar poderes à polícia de prender um suspeito por até trêsmeses sem nenhuma acusação formal, alegando que a proteçãoda população contra o terrorismo é sua principal tarefa.

Além disso, também estabelece deportar muçulmanos do Reino Unidosuspeitos de ligações com grupos terroristas, e ainda fechar locais usadospara “pregar o ódio”, como livrarias ou websites radicais.

Essa série de medidas gerou bastante polêmica e fortes críticasde grupos ativistas em defesa dos direitos humanos. No entanto, Tony Blairse defendeu dizendo que “se preocupava muito com as liberdades civisno país, mas a liberdade civil mais importante é o direito de viver sema ameaça de ataques terroristas”.

MARIANA CACAU, de Londres (Inglaterra)

Jovens ingleses e imigrantes protestam contra a invasão do Iraque e a linha-dura de Tony Blair

ameaçada

Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 2218

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19nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

tá na mãotá na mão• Confira a página na inter-

net da organização Estu-dantes contra a guerra:www.ssaw.co.uk, em inglês

JOVENS NA BERLINDA

Com tanta especulação sobreatentados terroristas, jovens ingle-ses começaram a prestar maisatenção no que está acontecendono mundo. Eles se interessam peloassunto, discutem, opinam, fazemblogs e até criam grupos de discus-sões. Organizaram dezenas deprotestos contra a invasão do Iraquee o plano de Blair e criaram novasorganizações. Uma delas é aSchool Students Against War (SSAW– “Estudantes contra a guerra”),fundada em 2003 somente poralunos de escolas da Grã-Bretanha.O movimento é tão organizadoque há dois anos conseguiu reuniraproximadamente 50 mil jovens emum protesto nas ruas contra a

guerra no Iraque, e conta atécom um websites na internet(www.ssaw.co.uk, em inglês)que dispõe das últimas notíciase futuras campanhas.

A maioria dos jovens que fazemparte da SSAW se reuniram nacapital inglesa dia 24 de setembroem um protesto contra a presençade tropas inglesas no Iraque.São jovens espalhados por todoo Reino Unido que defendema liberdade civil, a comunidadeislâmica no país e que se reúnemperiodicamente para discutir osplanos do governo e organizarcampanhas contra a guerra.

Em entrevista ao jornal inglêsSocialist Worker, a estudante Alys

de civil que temos é algo limitado,mas um princípio muito importante”,afirma. “Mesmo que não sofremosdiretamente sobre os ataques aosdireitos humanos ou que pareçamnão ter significado imediato nanossa vida, mesmo assim estão nosatacando, pois qualquer dia um denós pode ser preso sem nenhumtipo de julgamento.” E serem vítimascomo aconteceu com o brasileiroJean Charles de Menezes, assassina-do por policiais, em 22 de julho.

O jovem britânico afirma que osataques de 7 de julho não o impres-sionaram e acredita que o terroris-mo não afeta o governo de TonyBlair, apenas faz com que ele fiqueainda mais forte.

Amigos prestam homenagem ao brasileiro Jean Charles,assassinado à queima-roupa pela polícia britânica

19nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

Elica Zaerin, 17 anos, da coordena-ção do grupo, conta que todos osdias jovens a procuram interessadosem fazer parte da SSAW. “Temosque protestar contra esses abusos.George W. Bush e Tony Blair sãoresponsáveis pelas 100 mil mortesque aconteceram no Iraque atéagora. Eles têm poder suficientepara mudar essa situação e é porisso que não vamos ficar parados.”

COMO JEAN CHARLES

O estudante Thomas Will, 18 anos,que também integra a SSAW,garante que se ninguémprotestar ou expor suasopiniões, é fácil para ogoverno reprimir aspessoas. “A liberda-

A inglesa Manuela Martins,19 anos, considera a situação muitodelicada. “As pessoas aqui estãomuito assustadas com o terrorismoe Blair precisa fazer alguma coisapara controlar quem está envolvidoem movimentos radicais”, diz aestudante, que concorda em depor-tar se for preciso. Manuela defendeo primeiro-ministro em algunspontos, mas é contra a guerra.

Assim como Manuela, a estudan-te Shiwley Begum, 19 anos, tambémconcorda em deportar gente queestá ligada ao terrorismo. “Sei queé uma situação difícil por causa da

liberdade civil, mas acreditoque essa lei deve ser

colocada em práticadesde que saibamexatamente quem estásendo colocado parafora do país”.

A vida dos brasilei-ros residentes em

Londres depois dosataques terroristas tam-

bém mudou. Há um ano emeio na Inglaterra, o paulista

Thiago de Lima, 22 anos, conta quechegou a mudar de vagão no metrôou descer do ônibus antes de seuponto porque desconfiou de certospassageiros. “Hoje tudo já voltouao normal, mas cheguei a mudarde metrô quatro vezes em ummesmo dia por suspeitar de genteestranha”, conta. .

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Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 2220

Compromisso de campanha eleitoral do presidenteLula, parte importante de seu programa de gover-no e uma das quatro prioridades anunciadas pelo

Ministério da Educação (MEC) no início da gestão,o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educa-ção Básica e de Valorização dos Profissionais de Educa-ção (Fundeb) está hoje no centro do debate daspolíticas voltadas para a educação.

Quando aprovado, o Fundo será uma políticadas mais importantes da educação no país,concretizando o conceito de Educação Básicapresente na Lei de Diretrizes e Bases (LDB),que inclui e articula a educaçãoinfantil, o ensino fundamentale o ensino médio. Especi-alistas afirmam se tratarde um avanço impor-tante em relação aoFundef, fundo hoje emvigor, que focaliza oEnsino Fundamentalregular de 7 a 14 anos.Atualmente, são atendi-dos pelo Fundef32 milhões de alunos,sendo que com a criaçãodo Fundeb, a previsão é deque sejam atendidos mais de 47 milhões.

COMO FUNCIONA

A Constituição brasileira traz a conquista de umdireito muito importante para a educação no país:a garantia de verbas vinculadas no âmbito da União,Estados e Municípios. Com o Fundeb, assim comoocorre hoje com o Fundef, parte das verbas vinculadas

de Estados e Municípios será destinada a 27 fundoscontábeis estaduais. Os recursos retornam aos Estadose aos Municípios conforme o número de matrículas emsuas redes de ensino, considerando a educação infantil,o ensino fundamental e o ensino médio, com base emum valor mínimo de investimento por aluno decretado

anualmente pelo presidente da República.Os Estados que não conseguirem viabilizar

esse investimento mínimo por aluno a todosos matriculados na educação básica virãoa receber uma complementação da União.Portanto, o mecanismo do Fundeb, assim

como vem sendoo Fundef, quer promo-ver eqüidade tanto apartir da complemen-tação da União quanto

a partir de uma redistri-buição dos recursos

dentro dos Estados,adotando como critérioo número de alunos

matriculados pornível de ensino noâmbito de cada rede.

A previsão é que, noquarto ano de vigência,

haja um investimento público anualde R$ 50,4 bilhões, dos quais R$ 4,3 bilhões provenientesdos cofres do Governo Federal.

NÓS CRÍTICOS

Apesar dos nítidos avanços que o Fundeb poderiaalavancar, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC)hoje em tramitação no Congresso apresenta uma série

EducaçãoEducaçãoem pauta

CAMILLA CROSO

Fique por dentro do Fundode Manutenção e Desenvolvimento

da Educação Básica e de Valorizaçãodos Profissionais de Educação (Fundeb); um palavrão de todo

tamanho, mas que tem a ver com a sua vida, bem de perto

Márcio Baraldi

Page 21: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

21nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

tá na mãotá na mão• DE OLHO NO CONGRESSO

A Proposta de Emenda Constitucionalfoi enviada ao Congresso em 14 dejunho e está sendo avaliada pordiversas comissões. Acompanheo assunto pela página na internetda Campanha Nacional pelo Direito àEducação: www.campanhaeducacao.org.br

de graves limitações.A principal dela é deixaras creches de fora, nãopermitindo que estaspossam acessar osrecursos do Fundeb,comprometendo assimo acesso de 13 milhõesde crianças na faixaetária de 0 a 3 anos.Da Educação Infantil,somente está contem-plado o financiamentoda pré-escola, ou seja,de crianças de 4 a 6anos de idade. A exclu-são das creches, alémde ferir o conceito deEducação Básica,impacta a vida demilhões de criançase mulheres trabalhadoras, particular-mente as de baixa renda.

Foi principalmente a pressão dossecretários estaduais de educaçãoque levou à exclusão das creches,demonstrando que a educaçãobrasileira está muito longe de serregida por um regime de colabora-ção entre União, Estados e Municí-pios. A preocupação dos secretáriosestaduais é que a demanda reprimi-da por creches, etapa custosa e sobresponsabilidade dos secretáriosmunicipais, fosse maior que ademanda por Ensino Médio, etapasob responsabilidade dos secretá-rios estaduais, e que de conse-qüência, haja uma perda de recur-sos dos Estados para os Municípios.

A inclusão das creches no Fundebtem sido uma das pautas prioritáriasdo Movimento Fundeb pra Valer,

Congresso já se mostraram bastantefavoráveis à inclusão das creches,mas é preciso continuar atento àtramitação da PEC e seguir adiantecom a mobilização do movimento.

A exclusão das creches é apenasuma das questões críticas. Outratambém fundamental é a necessida-de de ampliar o investimento porparte da União, sem o qual nãopodemos vislumbrar um patamarde qualidade para a educaçãodo país. A previsão para o primeiroano é uma complementação deR$ 1,2 bilhões, o que reduziria

o já baixíssimo investi-mento por aluno hojeem vigor. Em umaversão antiga da PEC,havia a previsão deeliminar ainda que gra-dativamente – a Desvin-culação das Receitas daUnião (DRU). Esse é ummeca-nismo posto emprática pelo governofederal para desvincularparte da verba vincula-da; a conseqüência paraa educação é a perdade mais de R$ 4 bilhõespor ano, no âmbito daUnião. A eliminaçãoda DRU seria, efetiva-mente, uma forma deampliar consideravel-mente os recursos

investidos pela União no Fundeb.Infelizmente, o Ministério da Fazen-da pressionou o MEC para retirarda PEC esta estratégia. No entanto,ainda há tempo de pressionaro Congresso para que a PEC voltea contemplar o fim da DRU.

articulação que envolve um grandenúmero de organizações da socieda-de civil, entre os quais a CampanhaNacional pelo Direito à Educação, oMovimento Interfóruns de EducaçãoInfantil do Brasil (Mieib) e a Funda-ção Abrinq. Parlamentares do

Mães e filhos protestam contra as exclusão das creches

Organizações sociais precionamparlamentares para rever pontoscríticos do Fundeb

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Page 22: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 2222

O antropólogo congolês Kabengelê

encontraGALERAREPÓRTER

Nosso país começa a conhecer, reconhecer e entender melhor suas origense a realidade ao aumentar o diálogo com o continente africano.

É o que defenderam mais de 600 pessoas que participaram do EncontroInternacional Brasil-Africa – Igualdade Racial: um Desafio para a Mídia,

realizado em outubro, na capital paulista

ntre os dias 12 e 14 de outubro, mais de 600 estudantes, educa-dores, professores e profissionais de comunicação e intelectuaisdo Brasil e de nove países da África discutiram a exclusão do

negro na mídia durante o Encontro Internacional Brasil-Africa – Igualda-de Racial: um Desafio para a Mídia. O evento foi promovido pelo Núcleode Comunicação e Educação da Escola de Comunicações e Artes

da Universidade de São Paulo (NCE-ECA-USP), o Instituto Internacionalde Jornalismo e Comunicação (IIJC) de Genebra e o SESC-SP. Foi nesse encontro “histórico”, como muitos afirmaram, que os

virajovens entrevistaram o antropólogo congolês Kabengelê Munanga.Aos 63 anos, Kabengelê está no Brasil há 28, mas possui uma formação

que passa por diversas regiões do mundo. É formado em antropologia pelaUniversidade Nacional do Congo, é mestre pela Universidade de Louvain,na Bélgica, e doutor pela Universidade de São Paulo, onde hoje faz pesqui-sas e ministra aulas. É autor de Para entender o negro no Brasil de hoje:história, realidades e caminhos, pela editora Global. Nesse bate-papo,Kabengelê trata das relações sociais e culturais entre o Brasil e o seucontinente de origem e das importantes políticas de ação afirmativa,como a de cotas para negros e indígenas na universidade.

Em relação à questão social, há semelhanças entre o Congo e o Brasil?– Não, as questões sociais dos dois países têm origens históricas diferen-

tes. Os países africanos têm a herança das colonizações, que deixaram umapobreza praticamente generalizada, que foi aprofundada depois das indepen-dências por causa das guerras internas e das condições debilitadas de desen-volvimento. A questão social é muito séria em todos os países africanos. Hácerca de 340 milhões de africanos vivendo com menos de um dólar por dia.Quase metade da população não tem acesso à água potável. Algumas estatís-ticas dizem que morrem a cada semana, cerca de 200 mil pessoas. Cerca de

Munanga fala da importância de oBrasil estreitar laços com a África.

Segundo ele, o ensinamentode história do continente africanonas escolas já é um bom começo

Brasilencontra a África

IAGO HAMANN, 14 anosDOUGLAS LIMA, 17 anos

BRUNO PEREIRA, 17 anosJUSSANE PAVAN, 18 anos

CAROL LIMA, 24 anos

FELIPE JORDANI, da Redaçãofotos NCE/USP

SUSANA SARMIENTO, 23 anos

22 Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 22

E

encontra a ÁfricaBrasil

Page 23: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

23nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

10 mil mulheres morrem de partoa cada semana. A maioria dasvítimas da aids está no nossocontinente, assim como a maioriade crianças órfãs vítimas dela.

Dessa forma, é bem difícil fazeruma comparação em termo dequestão social. As desigualdadesdaqui também são profundas,mas possuem origens históricascompletamente diferentes. A situa-ção do continente africano é maiscalamitosa em comparação comalguns países da América Latina,apesar da questão social ser tam-bém muito alarmante aqui.

De que forma o Encontropode contribuir na soluçãodesses problemas?

– Não creio que a comunicaçãoresolva, mas sim que ela alerta aconsciência das pessoas que nãosabem nada das coisas que aconte-cem nos dois continentes. Os afri-canos que foram convidados nãoconhecem o Brasil e depois desteencontro saíram com uma imagemdiferente. A imagem que se temdo Brasil na África é a do mito dedemocracia racial. Eles acham queaqui é o paraíso racial: o único paísdo mundo onde o negro e o brancoconvivem sem problema algum.Mas todos vão sair daqui com umaopinião completamente diferente.

Como a cultura africanapode ser inserida na gradecurricular das escolas?

– Precisamos de livros didáticospara fazer isso, pois eles não exis-tem no Brasil. Podemos encontrarnas livrarias alguns livros de históriaque foram traduzidos, mas não sãodidáticos. Em várias regiões do paísvocê tem cursos hoje organizadospara formar os educadores.Na Universidade de São Paulo,o Centro de Estudos Africanosrealiza cursos assim, pelo terceiroano. Este semestre, por exemplo,eu mesmo estou com a disciplina

EDUCOMUNICADORES MIRINS

Cerca de 80 crianças e adolescentes (50 de escolas públicas e 30 do Colégio

São Luís, de São Paulo) produziram mídia durante o Encontro Internacional

Brasil-África. Eles participam de projetos de educomunicação, como o Educom.rádio

e a Revista Viração. A galera realizou a cobertura por meio de rádio, televisão e

internet e foram capacitados pelo Núcleo de Comunicação e Educação da Escola

de Comunicações e Artes da Universidade de

São Paulo (NCE-ECA-USP) e pelo Núcleo de

Educação do Museu Afro-Brasil.

A cobertura pode ser acessada com visita

ao site http://www.saoluis.org/africabrasil/

onde estão armazenados os programas radio-

fônicos. Na página do NCE, você pode aces-

sar os textos: www.usp.br/nce

Introdução aos Estudos Africanos.No livro que escrevi no ano passado(Para entender o negro no Brasilde hoje), retomo a história da África,situando-a como o berço da humani-dade, mostrando o que eram ascivilizações africanas antes do tráficonegreiro, antes da partilha colonial,de que regiões foram trazidos osafricanos dos quais os brasileirossão descendentes e o que trouxerampara cá enquanto culturas que nóspodemos ver no cotidiano brasileiro.Quando eu digo o que trouxeram,estou falando de contribuição,não de influência. Influência é umapalavra feia. É bom falar de contri-buições culturais. Também falo davida desses descendentes de afri-canos aqui no Brasil: os problemasque eles viveram na escravidão.Faço esse histórico para mudara cabeça daquele que pensaque o negro era um joão-bobo.

O que são ações afirmativas?– Hoje há várias maneiras de

trabalhar com políticas de açãoafirmativa que são políticas especi-ficas para você atender um setorda população que, por questõeshistóricas e por questão cultural

foi prejudicada. Uma delas é a po-lítica de compensação que é umamaneira de você refazer a justiçasocial, reintegrar esses povos,para que eles possam exercer suacidadania num plano de igualdadecom os demais cidadãos. Não hácomo você fazer isso só com aspolíticas universalistas. Mesmoque aprofundadas, elas não resol-vem as questões específicas.A questão do homem e da mulheré uma questão social. A questãoda discriminação social, também.Mas todas essas questões sociaistêm especificidades, tem nome,sexo, religião e endereço. Elas temde ser trabalhadas em suas especifi-cidades. Embora o negro seja pobre,ele acumula uma outra discrimina-ção, que é racial. Se for uma mulher,acumula três: pobre, negra e mulher.Se for portadora de deficiência, maisuma. Não vamos resolver o proble-ma de um portador de deficiênciacomo se fosse o problema de qual-quer pobre de um modo em geral,porque ele tem especificidade.É nesse sentido que a gente falade políticas de ação afirmativa.São políticas específicas, dirigidaspara certo seguimento da sociedade.

Page 24: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 2224

Quais são as outras ações afirma-tivas além das cotas para negros eestudantes das escolas públicas?

– Além das cotas, você podetrabalhar a questão da diversidadena escola. Isso faz parte da políticade ação afirmativa. Há várias fórmu-las para a política de ação afirmativaque não se resumem apenas a cotas.Por que trabalhamos com elas? Éporque as mentalidades das mudan-ças são lentas. Sem impor algumascondições, as pessoas não vão fazer.Por isso a cota é importante. Vocêpode chegar numa empresa e dizer:olha, você não tem engenheiro negroaqui, dá para você contratar alguns?O cara vai dizer: me mostra ondeestão que eu vou contratar. Porquenão tem negros na medicina e se nãomudarmos a história das universida-des, nunca vai ter. O vestibular, queé um sistema que se diz de mérito,não tem nenhum mérito. Mérito évocê pegar pessoas que tiveram amesma formação, que vieram da

mesma classe social e freqüentaremo mesmo cursinho, a mesma salade aula com o mesmo conteúdo.Aí, sim, você pode dizer que estámedindo o mérito. Mas você pegarum jovem que vem de uma escolapública da periferia e comparar comoutro que saiu do cursinho para dizerque isso é mérito, está errado; não setrata de mérito. Como dizer que duaspessoas estão em condições iguais,sendo que uma está com um fusqui-nha e a outra está com um Mercedes,uma BMW? Se vão correr, vamos vero carro que é mais veloz. Claro quequem tem Mercedes, será maisveloz. Você vai dizer que é mérito?Então é por isso que fazendo aseparação, você vai pegar os melho-res que saíram das escolas públicas,submeter ao mesmo conteúdo,mesmo se tiraram nota um pouqui-nho diferente, você vai escolher osmelhores daquele lugar. Passarampor mérito, mas a partir de um pontode equilíbrio da mesma igualdade.

DECLARAÇÃO DE SÃO PAULO

Oencontro internacional produziu um documento fi-nal, fruto das discussões sobre mídia e etnias e a re-

lação Brasil-África. Nele, os participantes fazem algumasrecomendações para a relação entre mídia e a igualdade

racial. Veja alguns trechos:• A expansão e consolidação de programas de coope-

ração na área da comunicação entre instituições públicase privadas brasileiras e africanas, visando a maior aproxi-

mação de seus respectivos povos;• O incentivo à realização e divulgação de pesquisas

multidisciplinares e intercontinentais sobre o papel e a res-ponsabilidade da mídia na promoção da igualdade dentro

da diversidade racial, étnica e cultural;• A elaboração e execução, mediante parcerias entre

instituições públicas, a iniciativa privada e o terceiro setor,de programas de capacitação para profissionais da mídia,

habilitando-as para a promoção da igualdade para alémdas fronteiras raciais, de gênero, étnicas e culturais;

• O desenvolvimento de programas de cooperação en-tre países africanos e Brasil, que estimulem o intercâmbio

entre pessoas dos dois continentes, dando especial aten-ção a intercâmbios específicos entre os jovens;

• O estímulo às iniciativas que visem reduzir a poucainformação sobre as realidades africanas e brasileiras;

• O desenvolvimento de práticas educomunicativaspelas instituições e comunidades educativas, assim como

pela mídia, visando a promoção de iniciativas voltadas parao combate a toda e qualquer forma de discriminação por

raça, cor, etnia, gênero, classe e crenças religiosas;• Implementação de programas de capacitação para

aquisição de know-how sobre novas tecnologias de comu-nicação, visando a produção de mídia alternativa aos gran-

des conglomerados midiáticos;• O desenvolvimento de programas de estudo sobre a

história da África em todos os níveis de ensino, para afro-brasileiros e instituições africanas;

• A criação de um núcleo disseminador, congregandoos participantes africanos e brasileiros, visando sensibili-

zar os povos na África e no Brasil para as questões cruciaisque os mesmos se deparam em seus respectivos países e

as contribuições que possam fomentar para o desenvolvi-mento mútuo, com capacidade de implementar as reco-

mendações aprovadas;• As informações resultantes deste Encontro deverão

ser disseminadas em todas as línguas acessíveis na Áfricae no Brasil;

• O encorajamento a que afro-brasileiros busquem suasraízes genealógicas na África, promovendo seu sentido de

pertencimento às suas origens;• A transformação do Encontro Internacional África-Bra-

sil em atividade regular, realizada no Brasil ou em outropaís africano.

Então as cotas na universidadesão uma medida temporária atéfazer uma melhoria nas escolas,até colocar todas as escolasno mesmo nível?

– Não há um projeto definitivo.Tudo vai depender da evoluçãoda sociedade. Daqui a dez ou vinteanos a sociedade brasileira podeperceber que não precisa maisde cotas, que o nível da escolapública melhorou. O sistema decotas é multiplicador. Um jovemque passou pelas cotas e entrouna universidade vai ter a possibili-dade de, teoricamente, ter acessoa um bom emprego, educar osfilhos em uma escola particular,ficando em nível de igualdadecom os outros. Se você não fixaruma porcentagem especial parao negro, não haverá como diminuira desigualdade: 7% de brasileirosque têm diploma universitáriosão brancos, 1% são orientais,apenas 2% são negros e mestiços..

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25nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

EDUARDO ROMERO

Desde criança, ouvimos que meio ambiente são os animais e as plantas,a natureza. Esquecemos que a origem da palavra meio ambiente significao meio onde estamos, o local onde vivemos, trabalhamos, estudamos,

enfim, todo e qualquer ambiente onde estejamos inseridos, envolvidos.Isto quer dizer então que todos os locais fazem parte do ambiente e,automaticamente, tudo o que está neste local também deve serconsiderado como elemento integrante do meio.

Isso quer dizer que eu, minha família e amigos, e tudo o que fazemos estádiretamente ligado ao meio ambiente? É isso mesmo. Tudo, sem deixar nadade fora. E nossas ações no dia-a-dia interferem nesse meio, de forma positivaou negativa. Somos nós quem escolhe o que e como fazer. Sou eu, é você,quem decide se vamos economizar ou desperdiçar água ou energia, porexemplo. Se vamos produzir mais ou menos lixo. Se vamos reciclar,ou jogar na rua. A decisão e a resposta estão sempre nas nossas mãos.

É uma pena só lembrar do assunto ambiental quando ocorre uma catás-trofe, um acidente. Já corremos o risco de daqui a pouco não termos águaboa para beber. Muitas espécies de animais e plantas já entraram em extin-ção. Mas cada um pode colaborar, e de forma muito simples.

Se em casa, no trabalho, na rua, onde quer que estejamos, evitarmoscoisas comuns, mas que prejudicam muito a natureza, podemos reverterparte desses problemas. Por exemplo, quantas vezes, até sem perceber,jogamos um papelzinho de bala na rua? Pois é, esse papelzinho é plástico,demora cem anos para se decompor, se desfazer. E ainda por cima vai pararnum rio. Isso mesmo, num rio, pois a chuva vai acabar levando-o para lá,e assim prejudicar a vida aquática.

Todos podemos colaborar, sem ter que virar ambientalista ou se dedicarsó ao meio ambiente basta querer e mudar pequenos costumes e hábitos.

Eduardo Romero é jornalista e arte-educadorem Campo Grande (MS)

Veja como um gesto simples, como não jogar papel de bala na rua,pode contribuir para salvar a natureza

Tudo o que você devesaber sobre ecologia

VOCÊ SABIA QUE...

AMAZÔNIA EM PERIGO

Assim como a pior seca dosúltimos 40 anos, as mais recentesnovidades científicas sobrea Amazônia também são ruins.O impacto da ação humana,provocado pelo corte seletivode árvores, chega a dobrar aperturbação ambiental na área,caso esse processo seja somadoaos distúrbios já causados pelodesmatamento tradicional.

Os números gerados por umanova metodologia de pesquisa,que consegue enxergar pelomeio das copas das árvores,são impressionantes. Entre 1999e 2002, os dados analisados paraos Estados do Acre, Mato Grosso,

25nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

Pará, Rondônia e Roraima mos-tram que a área impactada pelométodo do corte seletivo varioude 12.075 a 19.823 quilômetrosquadrados. Isso equivale de60% a 123% das áreas identificadaspelo Instituto Nacional de PesquisasEspaciais (Inpe) como desfloresta-das pelo corte intensivo de espéciesde madeira, dentro do mesmoperíodo.

CARVÃO ILEGAL

No final de outubro, o InstitutoBrasileiro do Meio Ambiente (Ibama)multou oito siderúrgicas do Pará e doMaranhão em mais de R$ 500 milhões,porque as empresas não comprovarama origem legal do carvão vegetale não cumpriram a reposição florestal.Tais siderúrgicas, multadas com basena Lei de Crimes Ambientais e noCódigo Florestal, usam carvão vegetalno beneficiamento do minério de ferroextraído do Pólo Carajás.

As multas resultam do relatórioelaborado pela Diretoria de Florestasdo Ibama, que com base em dadosapresentados pelas próprias siderúr-gicas, identificou o consumode 7,7 milhões de metros cúbicosde carvão ilegal e de 15,4 milhõesde metros cúbicos de toras de ma-deira exploradas sem autorização,nos últimos cinco anos.

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O meio ambiente é seu ambienteO meio ambiente é seu ambiente

.

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Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 2226

A horalargada

A horalargada

.

Veja como funciona o Consórcio Socialda Juventude Geração Cidadã que oferececapacitação profissional a 2 mil jovens

texto CAROL LEMOS COIMBRAe fotos MAÍRA SOARES

dada

Consórcio Social da Juventude foi criado paraincentivar a inserção do jovem no mundo dotrabalho, e não apenas no mercado de trabalho.

É uma entre tantas ações do Governo Federal atravésdo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Na região de Embu das Artes, Embu-Guaçu,Itapecerica da Serra, Juquitiba, São Lourenço da Serrae Taboão da Serra, o Consórcio adotou o nome fantasiade Geração Cidadã. A entidade-âncora é a Associação

dos Moradores da Região do Jardim Independência(Asmoreji).De novembro a março, o Geração Cidadã ofereceráformação profissional e para a cidadania a 2 mil jovensentre 16 e 24 anos. Além disso, 40% dos jovens benefi-ciados pelo projeto serão inseridos no mercado detrabalho por meio de parcerias com empresas ou naeconomia solidária através de cooperativismo, associa-tivismo e empreendimentos individuais ou familiares.

• SÃO LOURENÇO DA SERRA

“Estamos batalhando paratornar o município uma estância

hidromineral. Portanto, a expectati-va é que o Geração Cidadã incentivea abertura de empresas de turismo e ecoturismo,

gerando empregos nesta área.”

Prefeito José Merli (PSDB)

• EMBU DAS ARTES

“A demanda que temosna indústria não é suprida por falta

de capacitação dos jovens. Senti-mos falta de cursos profissionalizan-

tes que e, de certa, forma sãoum resgate das escolas técnicas.”

Prefeito de GeraldoLeite da Cruz (PT)

• JUQUITIBA

“Esperamosque o Geração

Cidadã capaciteos jovens de acordo comas necessidades do municí-pio para que a inserçãoseja efetiva.”

Prefeito RobertoSinval Rocha (PSDB)

• TABOÃO DA SERRA

“O Geração Cidadã chama aatenção das empresas da região para

o jovem, que agora tem a oportuni-dade de ter uma capacitação e de ser

inserido no mercadode trabalho de sua

própria região.”

Prefeito Evilásiode Farias (PSB)

• ITAPECERICA DA SERRA

“Acredito que o Geração Cidadã iráintegrar os municípios da região, ofere-

cendo oportunidade de emprego aos jovense, com isso, diminuindo a violência.”

Prefeito Jorge Joséda Costa (PMDB)

• EMBU-GUAÇU

“Capacitar nossos jovens parao ecoturismo é fundamental, já que

nosso município tem a proteção da leipor ser uma região 100% de manancial.”

Prefeito Antônio Marques (PTB)

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27nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

Aleijadinhoa alma de um gênio

CARLOS ALBERTO DE OLIVEIRAe CLEIDSON VIANA DA SILVAQUE FIGURA ...

Artista mineiro, que dedicousua vida as esculturas,foi o maior representantedo barroco no Brasil

Aleijadinhoa alma de um gênio

Conhecido como Aleijadinho, Antônio Francisco Lis-boa foi um grande artista, pois dedicava sua vidafazendo belas esculturas. Ele era filho de uma es-

crava que se chamava Isabel e seu pai era um arquitetoportuguês chamado Manuel Francisco Lisboa. Aleijadinhose espelhou na profissão do pai.

Segundo Rodrigo José Ferreira Britas, um histo-riador estudioso do século 14, Aleijadinho nas-

ceu em 1738 e morreu com setenta e seis anos,em 1814. Ele era uma pessoa de pele escura,

tinha voz forte, cabelos pretos anelados, bar-ba grande, beiços grossos e orelhas gran-des. Foi responsável por importantes obrasnas cidades de Congonhas e Ouro Preto,nas Minas Gerais. Como destaque, temos

os 10 profetas da Igreja de Bom Jesus deMatozinhos, em Congonhas. As obras de Aleijadinho misturavam diver-

sos estilos do barroco. Ele utilizava como ma-terial para suas obras a pedra sabão, maté-

ria-prima brasileira. Foi considerado o maisimportante artista plástico do barroco mi-neiro e seu conjunto de obras tornou-sefamoso muitos anos depois.

Próximo à idade de cinqüenta anos,Aleijadinho teve uma surpresa muitodesagradável: descobriu que tinhauma doença nas articulações e, como passar do tempo, foi perdendo omovimento das mãos e dos pés. Elepedia a seu ajudante que amarras-se as ferramentas nos seus punhospara continuar as obras que escul-pia e entalhava.

Pelo fato de ser pobre e negro,Aleijadinho foi enterrado comoindigente. Infelizmente essa é atriste realidade do mundo, cheiode desigualdades e desvaloriza-ção dos seres humanos. .

Page 28: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 2228

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ste M

undo

s conflitos geopolíticos, espe-cialmente os mais distantes,são traduzidos pelo noticiário

internacional em números (de mortose feridos, mas também de prejuízosmateriais), discursos e decretos dos chefesde governo e de Estado. Quase nada arespeito do quociente humano envolvido,o que talvez mais importa, chega até nós:é cada vez mais raro que jornais e revistas(da televisão nem se fala) tratem de gente.

Restam a internet e, como sempre,o cinema para nos aproximar da dimensãocotidiana desses conflitos. O cinema de ficção,inclusive, com sua capacidade de envolvimentopsicológico e de sedução narrativa. NesteMundo, do inglês Michael Winterbottom, é umótimo exemplo, ao tratar do drama de milharesde exilados afegãos que se refugiaram em paísesvizinhos ao longo das últimas décadas, paraescapar, em primeiro lugar, da invasão soviética;depois, da guerra civil que levou o grupo Talebanao poder; e, por fim, à invasão americana emseguida aos atentados de 11 de setembro de 2001.

Quem são esses sujeitos sem país para viver?Winterbottom conta a história de dois deles.No início do filme, eles estão instalados precaria-mente em um campo de refugiados em Peshawar,no Paquistão. Sonham, no entanto, com a possibili-dade de cruzar o Oriente Médio e a Europa, e alcançar,como outros afegãos, a Inglaterra, onde acreditamque possam levar uma vida melhor, ainda que comoimigrantes ilegais, executando o “serviço sujo”da sociedade de consumo ocidental.

A única maneira de buscar esse imaginário paraísoé acreditar nos agenciadores de viagens clandestinas,que cobram os olhos da cara por uma jornada das maispericlitantes. Na falta de alternativa, os afegãos embarcamnessa canoa furada.“Neste Mundo”acompanha o seupériplo com um

registro muito próximo ao dodocumentário (a história é inspiradaem fatos verídicos). E não deixaráninguém indiferente à dor bemconcreta do drama afegão.

SÉRGIO RIZZO – CRÍTICO DE CINEMANO ESCURINHO ...

Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 2228

Cenas do filme Neste Mundo,que trata do drama dos refugiados

afegãos ao longo das últimas décadas

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29nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

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29nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

Brasileira,

MOVIMENTO DE ARTISTASDA CAMINHADA

Hoje presente em vários Esta-

dos, o Movimento de Artis-

tas da Caminhada (Marca) surgiu

em 1990. Um de seus funda-

dores, o poeta, cantor e

compositor cearense

Zé Vicente explica que

a idéia não é cada ar-

tista ser “uma estre-

la, brilhando sozinha”,

mas defender o brilho

em constelação.

CARLOS GUTIERREZ

Acantora e compositora cearense Eliane Brasileiro em seuprimeiro CD solo, Brasileira, sim sinhô!, faz um passeio pordiversos ritmos de nossa cultura popular. “A grande novidade

está na criação dos arranjos, que transformam a sonoridade mar-cante dos batuques em um gingado mais cadenciado para se ouvirem qualquer lugar”, explica Eliane, natural de Fortaleza. Mas viaja

por vários municipios do Ceará divulgando o seu trabalho.Apesar de este ser seu primeiro trabalho solo,

a artista participou de produções de vários amigose amigas, como do disco Nativo, do cantor

sim sinhô!

cearense Zé Vicente.Mas não é só o trabalho

musical da cantora que édiferenciado. Ela é ligadaao Movimento de Artistas

da Caminhada (Marca), quereúne artistas de diversas áreas.

Esses poetas, compositores,artistas plásticos e fotógrafos têm

em comum o compromisso com osmovimentos sociais e defendem a participação popular nas políticas públicas.

“Desejo que o meu canto chegue às pessoas que sonham com um mundomais justo e, que por algum motivo, não têm voz para gritar isso”, afirma Eliane.“Penso que é esta a minha missão: cantar com a alma, expressar o meu compro-misso com o povo oprimido através da arte à qual me dedico.” A preocupaçãosocial a levou a participar do disco Plantando Cirandas, do Movimentodos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Em Brasileira, sim sinhô!, somos convidados a desfrutar de estiloscomo coco de roda, cirandas, boizinho e outros ritmos próprios da músicanordestina como o xote e o baião. Segundo a cantora, “foi uma experiênciaonde provei vários sabores. Eu mesma produzi este trabalho, com paixão,profissionalismo, a eterna preocupação de como o público iria recebê-lo”.

Eliane, além de cantora, é também arte-educadora e trabalha com crianças nasáreas em situação de risco da periferia de Fortaleza. “Em relação a esse trabalho,quero gravar um CD com as crianças cantando cirandas, com uma pretensão detrazer o sentido das grandes rodas, costume ancestral de nossos povos indígenas.”

Para o futuro, a artista pensa em se juntar com outros companheirosdo Marca e criar uma espécie de Instituto Marca, que seria “um centro produçãoartística comprometido com a caminhada popular, apoiando a produção,divulgação e distribuição artístico-cultural”.

Em seu CD,Eliane defende osvalores da cultura

popular do Nordeste

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Page 30: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 2230

!!REVELE-SE

Vista a minha peleVocê conseguiria?

Seja negro só por um diaSeja preto pelo menos por mim

Somando todas as minhas cores assim

Vista a minha peleAssuma a minha corSeja você quem for

Capture radicalmente a minha dorBem lá dentro de mim

E procure me compreender melhor assim

Vista a minha peleEu sou igualzinho a você

Ser Humano, porqueCorpo, Mente, Banzo, Coração

Então questione racismo e discriminação

Vista a minha peleSou vermelho por dentro

E negro sempre cem por centoAfrobrasilis, AfrodescendenteMuito além de para sempre

Inteiramente ser humano e sobretudo gente

Vista a minha peleVista-se epidermicamente de mim

E procure me entender como seu igual assimSeu irmão da humana cósmica raça

E sinta tudo o que dentro de mim se passa

Vista a Minha PeleAssim você muito bem confere

Assim você vai realmente se sentirLá dentro da minha própria pele

Como eu quero ser árvore de leite e florirComo eu quero ser janela de pão e me abrir

Como eu quero ser estrada de açúcar e prosseguirComo eu quero o fim de diásporas e sorrir

Sem nenhum branco para me ferirE você vai captar essencialmente então

A verdadeira pureza do que é primordialE o que eu quero é total libertação

E todos iguais na aquarela da coloraçãoNuma brasileiríssima democracia racial

Vista a minha peleSeja um pouco eu mesmo um negrão aí

Dentro de você – Para você sentirSou preto brasileirinho

Sou negrão e sou negrinhoSou Negro e Ser Humano de igual valor

E tenho a África nas moendas e engenhosno meu interior

Depois de me vestir e depois de se sair de siDeixando de ser eu negro aí

Venha me estender a sua mãoE, de coração para coração

Abrace-me como um seu completo irmãoA pele espiritual sendo uma só entãoNuma sagrada e sideral celebração.

Silas Corrêa Leite � São Paulo (SP)

Viver com arteEm setembro, a Casa da Juventude Pe. Burnier

(CAJU) promoveu, em Goiânia (GO), umaexposição de ilustrações de Adriana Mendonça.

O objetivo foi trazer, através do lúdico, umareflexão sobre o universo juvenil, trabalhando

as alegrias e conflitos vividos nesta fase.A técnica desenvolvida nas ilustrações é mista,feita com materiais que as crianças utilizam naescola, como cola colorida, aquarela e papel.

A mostra faz parte dos Ciclos de Culturapromovidos pela Campanha a Juventude

Quer Viver com Arte.Ilustrações de

Adriana Mendonça

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31nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

O homem e o mundoO homem é conhecido como um animal racionale que sabe distinguir o bem do mal. Mas vive

praticando o mal, fazendo com que asociedade fique mais amedrontada.O mundo seria bem melhor, quer dizer,perfeito se todas as pessoas tivessem mais

amor ao seu próximo. Seria bom tambémse essas mesmas pessoas lembrassem que

tudo o que elas plantam, elas também colhem! Omundo perfeitamente seria se não houvesseinveja, pobreza, droga, desigualdade social,racismo, ganância e outras diversas coisas

que estão prejudicando-o. Seria bom tambémse houvesse o respeito e todos olhassem

pra si mesmos e vissem que ninguém éperfeito. Assim, haveria união e maisamor no coração. E todos viveríamoscom mais harmonia, paz e alegria.

Carlos Alberto de OliveiraBelo Horizonte (BH)

O homem e o mundo

Mudança, atitudee ousadia jovem

CUPOM DEASSINATURA

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4. BOLETO BANCÁRIO

(R$2,95 de taxa bancária)

RAÍZES NEGUZ

é publicada há três anos peloartista plástico afrodescendenteRobson Salles, em São Paulo.A revista aborda assuntos relacio-nados à população negra noBrasil, com reportagens, artigose muitas ilustrações. Mais infor-mações com o próprio editor, quesegue a sua aventura quixotesca,em busca de apoio financeiro epatrocínio: [email protected]

LucianeTodo ousado momentoEm que beboO vinho dos teus olhos sutisPerpasso nele um silêncioQue ludicamente me dizBrincantes verbos sábios

Já o pólen dos teus lábiosElo da arte matrizGermina em essênciaRegenera-se a raizQuando plana, pousaE negramente me beija.

Allan da RosaSão Paulo (SP)

IlustraçõesSilvio Diogo e

Marcelo D´Salete

Luciane

Page 32: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 2232

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Márcio Baraldi é cartunista, ilustrador e colaborador da Revista Viraçãowww.marciobaraldi.com.br – [email protected]

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Page 33: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

33nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

1) Em uma casa com quatro paredes existeuma janela em cada parede. Todas as janelas sãoviradas para o Sul. Em uma das janelas apareceum urso.Qual a cor do urso?

2) É noite, um homem deseja ir da cidade Xpara a cidade Y e o único meio de travessia éuma ponte, e o tempo para atravessá-la é de 10minutos. No meio da ponte há um guarda quepassa 5 minutos dormindo e 5 acordado. Esseguarda, sempre que vê alguém atravessando aponte, manda-o voltar, pois é proibida a traves-sia à noite. Como o homem faz para atraves-sar a ponte e chegar na cidade Y?

3) Você está preso e, com você, estão duasmulheres. Uma tem os olhos azuis e a outra,olhos pretos. A mulher que tem olhos azuis sem-pre fala a verdade. A mulher que tem olhos pre-tos sempre mente. A você é dada a oportunida-de de liberdade se você acertar a cor dos olhosdas duas. Para tanto, você poderá fazer apenasuma pergunta somente para uma delas. Quepergunta você faria?

4) O que é que se compra para comer, masnão se come?

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Envie suas sugestões e idéias para aseção DESAFIO através do nosso

e-mail: [email protected]

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S:1) Branco, pois se trata de um urso polar. Se todas as janelas estão para o sul é que não existe norte.

Se não existe norte é porque estamos mais ao norte possível. Ou seja, a casa está no Pólo Norte. – 2)Assim que o guarda dormisse, eu começaria minha travessia. Sei que para atravessar a ponte eulevaria 10 minutos, logo, ao chegar na metade da ponte, o vigilante acordaria. Então, eu, espertacomo só eu mesmo, daria um giro de 180º sobre meu próprio eixo e enganaria o guarda. Ele iriapensar que eu estava tentando atravessar para o lado de onde, na verdade, eu estava vindo e meobrigaria a voltar. Eu imediatamente giraria nos calcanhares e obedeceria a autoridade e seguiriameu caminho para o tão desejado lado da ponte. – 3) Escolho qualquer uma delas e digo: “Se euperguntar à outra mulher qual de vocês duas tem olhos claros, quem ela indicará?”. Se ela responder“Ela indicará a si mesma”, está falando a verdade, pois a outra, mentindo, indicaria a si própria. Logo,falei com a mulher de olhos claros. Se ela responder “Ela indicará a mim”, está mentindo, pois a outra,

falando a verdade, indicaria a si própria. Logo, falei com a mulher de olhos escuros. – 4) Os talheres.

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Page 34: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

Revista ViRAÇÃO · Ano 3 · nº 2234

A ruacomo casaA ruacomo casa

Quanto você pagaria por um passeio nocentro da cidade de São Paulo sem notara presença de moradores espalhados

pelas ruas? O governo Alckmin já fez sua aposta.Bateu o martelo em R$ 250,00 mensais e não cedenenhum centavo a mais. Porém, há outra possibili-dade. O morador que retornar ao seu Estadode origem leva na mala cerca de R$ 5.000,00.

Essas são as opções oferecidas para cercade 300 moradores sem-teto que ocupam a RuaMauá, centro de São Paulo, próxima à Estação Luz.No dia 4 de outubro, eles foram despejados doEdifício Paula Souza, localizado na rua de mesmonome e ocupado pelas famílias desde 2002.

A menos de cem metros, na Rua Plínio Ramos,moradores ligados ao Movimento de Moradiada Região do Centro (MMRC) também aguardamprovidências do poder público. A reintegraçãode posse ocorreu há mais de dois meses.

As duas situações reforçam um dos principaisproblemas do Brasil hoje: a falta de uma políticapública para habitação. Nos grandes centrosurbanos, locais em que as desigualdades econômi-cas e sociais são mais evidentes, moradores lutampor dignidade. Ocupam imóveis abandonados,esquinas e calçadas. Um pequeno espaço embaixode qualquer viaduto é questão de sobrevivência.Clamam por um direito que está na Constituição

Federal Brasileira (Art.5o – Todos são iguais perantea lei, sem distinção de qualquer natureza, garantin-do-se aos brasileiros e estrangeiros residentesno país a inviolabilidade do direito à vida, à liber-dade, à igualdade, à segurança e à propriedade).

Tal situação também demonstra falta de vontadepolítica em solucionar o problema. Segundorelatório da Organização das Nações Unidas,O Direito à Moradia no Brasil: violações, práticaspositivas e recomendações ao Governo Brasileiro,na cidade de São Paulo há mais imóveis vaziosdo que famílias sem casa para morar. Aproximada-mente um milhão de pessoas residem emfavelas sem infra-estrutura alguma.

Enquanto isso, a Prefeitura de São Paulo concen-tra suas ações no processo de revitalização docentro (Projeto Ação Centro), o grande responsávelpelas reintegrações de posse. Nos próximos cincoanos, o programa deverá investir 168 milhõesde dólares na região, dos quais 100,4 milhõesde dólares financiados pelo Banco Interamericanode Desenvolvimento. Um dos objetivos do Projetoé fazer com que o centro seja um local democráti-co, com justiça social e tenha sua diversidaderespeitada. Isso no papel e no discurso, poiso que se vê são ações que confirmam o compro-misso do Estado com os interesses deuma minoria privilegiada.

Famílias de sem-teto tentam sevirar no meio da rua, após despejo

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Page 35: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

35nº 22 · Ano 3 · Revista ViRAÇÃO

Pop UpPop UpAquela travessura incontrolável que escapa

de dentro de você

POR OHI

Page 36: Revista Viração - Edição 22 - Novembro/2005

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ranking do Relatório A Mídiados Jovens, produzido pela Agência

de Notícias dos Direitos da Infância

(Andi), que analisou publicações de

2002, 2003 e 2004. Ganhamos de

revistas como MTV, Capricho,

Todateen e Atrevida. E para você,

leitor que ajuda a fazer a Vira, os

nossos mais sinceros

parabéns. Pedimos a

todos que continuem

a ajudar na luta para

conseguirmos mais

assinantes. Só assim

poderemos continuar

virando e produzindo

mídia de qualidade.

RELEVÂNCIA SOCIAL NAS REVISTAS

REVISTA 2004 2003 2002 2001 VARIAÇÃO(2001-2004)

• Viração 97,58% 89,19% --- --- ---• MTV 47,29% 41,03% 34,53% 38,96% 21,38%• Capricho 17,60% 20,30% 19,85% 17,08% 8,25%• Todateen 17,60% 14,46% 14,37% 9,00% 95,55%• Atrevida 13,33% 15,27% 13,14% 7,76% 74,77%

RANKING QUANTI-QUALITATIVODAS REVISTAS

POSIÇÃO REVISTA MÉDIA MÉDIA MÉDIAPONDERADA PONDERADA PONDERADA

2004 2003 2002

1 Viração 0,299696 0,288463 ------------2 Capricho 0,198358 0,231970 0,1731493 MTV 0,145919 0,156397 0,1628394 Todateen 0,074137 0,080182 0,0862455 Atrevida 0,072475 0,051663 0,076266

Média Geral do ano 0,158117 0,161735 0,124624

Fonte: Andi

Fonte: Andi

POSIÇÃO REVISTA MÉDIA MÉDIA MÉDIAPONDERADA PONDERADA PONDERADA

2004 2003 2002