revista sesctv - março 2013

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1 Março/2013 - edição 72 sesctv.org.br DOCUMENTÁRIO A AÇÃO DO TEMPO NA SERRA DE IBITIPOCA CURTADOC O CINEMA MARGINAL DOS ANOS DE 1960 MÚSICA AS DIFERENTES SONORIDADES DO MUNDO

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Em entrevista, o crítico de cinema José Geraldo Couto fala da crítica de cinema. No artigo desta edição, Cláudio Novaes Pinto Coelho, doutor em Sociologia escreve sobre comunicação e política.

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Março/2013 - edição 72sesctv.org.br

DocuMentário A Ação Do teMpo

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DoS AnoS De 1960

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SonoriDADeS Do MunDo

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ArquiteturasDiferentes pontos de vista sobre a obra, o espaço e sua relação com as pessoas e a cidade.

Direção: Paulo Markun e Sérgio Roizemblit

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DeStAqueS DA progrAMAção 4

entreviStA - José Geraldo Couto 8

Artigo - Cláudio Novaes Pinto Coelho 10

Promover o encontro de culturas e o acesso a diferentes realidades é caracte-rística inerente aos meios audiovisuais. O Cinema, como manifestação artística, e a Televisão, com seu amplo alcance, permitem ao espectador conhecer e apreciar outros modos de pensar, sentir e fazer, num constante processo de aproximação e de prática da diversidade.

Neste mês, o SescTV propõe ao telespectador uma reflexão sobre a ação do tempo na vida de moradores de regiões afastadas dos grandes centros urbanos, com o documentário Ibitipoca, Droba pra Lá. Dirigido por Felipe Scaldini, o filme acompanha o dia a dia nos vilarejos da Serra de Ibitipoca, no interior mineiro, cuja rotina mantém as tradições herdadas dos antepassados. O local, no entanto, passa por rápidas transformações, com a chegada dos turistas e de novos moradores, que fazem o caminho inverso, trocando as cidades grandes pela tranquilidade e pelo contato com a natureza.

A diversidade também está presente na programação musical do SescTV, que às quartas-feiras deste mês exibe shows com artistas de diferentes países do mundo: França, Nigéria, Argentina e Israel. A série CurtaDoc apresenta o episódio inédito Cinema Lado B, com documentários de curta-metragem que retomam o Cinema Marginal dos anos de 1960. Outro destaque da programação é o documentário Os Anos JK – Uma Trajetória Política, de Silvio Tendler, que mostra a trajetória do presidente Juscelino Kubitschek.

A Revista do SescTV deste mês entrevista o crítico de Cinema José Geraldo Couto. Ele comenta seu trabalho e fala sobre o atual mercado cinematográfico brasileiro. O artigo do professor Cláudio Novaes Pinto Coelho aborda a relação entre política e Comunicação.

Boa leitura!

Danilo Santos de MirandaDiretor regional do Sesc São paulo

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CAPA: Documentário Ibitipoca, Droba pra lá, de Felipe Scaldini. Foto: Divulgação

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CURTADOC

Cinema à margem

epiSóDio Cinema Lado B reviSitA oS filMeS Do cineMA MArginAl eM trêS DocuMentárioS De curtA-MetrAgeM

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A originalidade na narrativa, as experiências estéticas, uma visão crítica e politizada de seu tempo e a construção de uma linguagem mais autoral motivaram um grupo de cineastas e movimentaram o cenário brasileiro em meados da década de 1960. Com pouco orçamento e muita originalidade, esses diretores subverteram o Cinema convencional, assumindo o experimentalismo e rompendo com formas narrativas e estéticas existentes até então. Dentre seus representantes estavam Julio Bressane, Rogério Sganzerla, João Silvério Trevisan e Ozualdo Candeias. O movimento foi chamado de Cinema Marginal, embora seus protagonistas não concordassem com essa nomenclatura. “Esse rótulo foi muito contestado pelos participantes do movimento, que achavam que isso acentuava essa marginalização deles. Como se fosse um estigma que pesasse sobre eles e que condenasse o Cinema produzido por eles à invisibilidade, a um lugar fora do circuito exibidor, fora da discussão do Cinema oficial”, afirma o crítico de Cinema José Geraldo Couto.

Houve outras tentativas de classificar esse trabalho, como Cinema de Invenção, Cinema de Vanguarda e Cinema Independente. “Mas o fato é que ficou muito marcado o termo Cinema Marginal, até porque é um Cinema que ficou à margem mesmo da produção e do circuito exibidor, mas também muitas vezes pelos temas e personagens abordados por esse Cinema”, explica Couto. Dentre as obras mais significativas desse período estão O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, e À Margem, de Ozualdo Candeias, filme tido como precursor do Cinema Marginal.

O movimento é tema do episódio inédito Cinema Lado B, da série CurtaDoc, que o SescTV exibe neste mês. Com direção de Kátia Klock, o programa apresenta três documentários de curta-metragem que revisitam o Cinema Marginal: Candeias: da Boca pra Fora (15 min., 2003), de Celso Gonçalves; A Vermelha Luz do Bandido (16 min., 2009), de Pedro Jorge; e Pedreira (7 min., 1973), de João Batista de Andrade.

Com depoimentos dos cineastas José Mojica Marins e Carlos Reichenbach e do crítico de Cinema Inácio Araújo, o filme Candeias: da Boca pra Fora retrata a obra do diretor de À Margem, que se tornou referência de inventividade e inovação. “O filme é interessante por retratar Candeias, que não só foi uma espécie de precursor do Cinema Marginal, como ele próprio era um marginal entre os marginais, um cara que veio de um meio totalmente diferente da maioria dos cineastas”, diz Couto. A Vermelha Luz do Bandido dialoga com o clássico de Sganzerla, não apenas no tema abordado, mas também na escolha estética. O filme tem participação do cantor Seu Jorge e depoimentos dos cineastas Julio Bressane e Jean-Claude Bernardet e da atriz Helena Ignez. Pedreira aborda a vida de trabalhadores da mineração no início dos anos 1970 e tem conotação de denúncia social, por expor os riscos enfrentados por esses profissionais. Foi produzido para o programa Hora da Notícia, coordenado pelo jornalista Vladimir Herzog, na TV Cultura de São Paulo.

Terças, às 21h

cine MemóriaDia 5/3

lembrançasDia 12/3

retratos de ÉpocaDia 19/3

cinema lado bDia 26/3

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filMe De Silvio tenDler refAz AtrAjetóriA De juScelino KubitScheK, coM DepoiMentoS De tAncreDo neveS e oScAr nieMeyer

O Brasil de JK

Um político cordial, entusiasmado e com habilidades diplomáticas capaz de contornar uma fase de instabilidades políticas, garantindo o Estado democrático de direitos. Um presidente que abriu o País para o capital e a tecnologia estrangeiros, sem deixar de valorizar o nacionalismo. Mineiro de Diamantina, nascido em 1902, Juscelino Kubitschek teve uma ascensão rápida: foi prefeito de Belo Horizonte (1940-1945), governador (1950-1955) e, finalmente, presidente da República, eleito em 1956.

Juscelino antevia um país moderno e industrial. Durante seu mandato, o Brasil estreitou laços com países estrangeiros, em especial os Estados Unidos. Seu desejo era romper o ciclo de país exportador de matéria-prima e importador de produtos acabados. “Essa política que meu governo vem realizando no sentido de dar ao Brasil os próprios pés com que ele possa caminhar já está plenamente equacionada”, discursou JK, na inauguração da montadora Ford no Brasil. Juscelino se entusiasmava com a ideia de um país cortado por autoestradas e crescendo com a indústria automobilística.

Em sua gestão, o Brasil viveu um momento de

DOCUmenTáRiO

os Anos jK – uma trajetória políticaDireção: Silvio TendlerDia 30/3, às 22h

DOCUmenTáRiO

euforia, de autoconhecimento e de valorização do nacionalismo. Era a época da bossa nova, dos primeiros filmes do Cinema Novo, do teatro de Augusto Boal e de Gianfrancesco Guarnieri. A conquista da Copa do Mundo de 1958, durante seu mandato, tira do Brasil o estigma de que seria segundo lugar em tudo.

Um de seus projetos mais ambiciosos foi a transferência da capital do Brasil para a região central do País, desbravando o cerrado com uma arquitetura inovadora, hoje um patrimônio cultural da humanidade. “Quando mostrei o projeto do Palácio da Alvorada, no dia seguinte ele me encontrou e disse: ‘Você sabe, não consegui dormir pensando nesse Palácio!’. Ele via Brasília como um sonho predileto, com um entusiasmo extraordinário”, relatou o arquiteto Oscar Niemeyer. JK deixou a presidência em 1961, sucedido por Jânio Quadros, mas na expectativa de retornar quatro anos depois. O início do regime militar, em 1964, impede a realização de seu desejo. Com direitos políticos cassados, JK vira empresário, redige suas memórias e morre, num acidente automobilístico, em 1976.

A carreira política de Juscelino é tema do documentário Os Anos JK – Uma Trajetória Política, que o SescTV exibe neste mês. Dirigido por Silvio Tendler, o longa-metragem lançado em 1980 traz imagens históricas, como as posses dos presidentes JK, Jânio Quadros e João Goulart e a festa de inauguração de Brasília. O filme tem narração de Othon Bastos e conta com depoimentos de políticos contemporâneos ao ex-presidente, como Tancredo Neves, Renato Archer, Magalhães Pinto e Henrique Teixeira Lott, e também do arquiteto Oscar Niemeyer.

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Cantos do mundo

Diz-se da música – assim como de outras formas de arte – que é universal, pois sua linguagem é assimilada e apreciada por ouvintes, independentemente de sua origem, de onde vivem, das experiências a que tiveram acesso, da educação que receberam. Mas a música também é parte determinante da cultura de uma sociedade, traduzindo nessa expressão artística sua visão de mundo, a partir das letras criadas, dos instrumentos usados, dos arranjos propostos. Assim, o som produzido na África adquire características próprias e que o difere da música realizada em continente europeu. Ou do encontro de culturas presentes no território latino-americano, que incorpora referências de outros cantos do mundo para criar algo novo.

Neste mês, o SescTV faz um passeio por diferentes vertentes musicais, com a exibição de shows com artistas estrangeiros, representantes da música da Europa, da América Latina, da África e do Oriente Médio. A cada semana, um programa apresenta a diversidade da música produzida em outros países e que conquistam apreciadores no mundo todo.

A tradição da música polifônica tocada no sul da França é a base do espetáculo Lo Còr de la Rosa, que o canal exibe no dia 6. Gravado no Sesc Santana, o show reuniu a cantora brasileira Renata Rosa e o grupo francês de canto à capela Lo Còr De La Plana, da cidade de Marselha, para apresentar os trabalhos

SeSctv exibe eSpetáculoS coM ArtiStAS repreSentAnteS DA MúSicA DA europA, DA AMÉricA lAtinA, DA áfricA e Do oriente MÉDio

MúSicA

recentes dos artistas, como as canções Manto dos Sonhos e Zunido da Mata.

Clássicos da cantora argentina Mercedes Sosa formam o espetáculo Uirapuru Latino-americano: Homenagem a Mercedes Sosa, que será exibido no dia 13 e que reuniu os intérpretes Cida Moreira, Márcia Castro, Mônica Salmaso, Renato Braz, além do sobrinho da cantora, Coqui Sosa, e de sua assistente pessoal, Mañano Cerna. No repertório, músicas que marcaram a carreira de Mercedes Sosa, como Yo Vengo a Ofrecer mi Corazón, Duerme Negrito e La Maza.

Filho do lendário Fela Kuti, precursor do Afrobeat, o músico e ativista nigeriano Femi Kuti apresenta sua sonoridade rítmica e percussiva em show gravado no Sesc Santo André, a ser exibido no dia 20. O programa traz ainda entrevista com Femi Kuti, que relembra sua infância e fala de questões políticas, como as consequências da escravidão para os países africanos e para o Brasil.

A cantora e compositora franco-israelense Yael Naim mostra sua versatilidade no palco, em espetáculo que vai ao ar no dia 27. Nascida em Paris e criada em Israel, ela estudou música erudita, descobriu The Beatles aos 12 anos de idade, estudou órgão e piano e cantou na Big Band da Força Aérea. No show, ela mistura diversos estilos musicais e canta em inglês, francês e hebraico.

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Quartas, 22h

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uirapuru latino-americano: homenagem a Mercedes SosaDia 13/3

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Pra lá da Serra

DocuMentário De felipe ScAlDini propõe uMA reflexão Sobre A Ação Do teMpo eM vilArejoS nA SerrA De ibitipocA, interior Mineiro

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DOCUmenTáRiO

Nos arredores do Pico do Pião, na Serra de Ibitipoca, mata adentro no estado de Minas Gerais, moradores reproduzem um estilo de vida herdado de seus pais e avós. Nesse lugar, o ritmo ainda segue os tempos da natureza: acordar com o nascer do sol, aguardar o tempo do cultivo, respeitar o período de chuvas. Brincadeira de criança é tomar banho de cachoeira. Nos vilarejos como Boa Vista, Tapera e Mogol, antigos moradores como Dona Cidinha e o marido Daniel, Chico Bertolino e Geraldo Ferreira da Silva reparam como, aos poucos, a região está mudando. Antigos vizinhos trocaram a vida tranquila pelos apelos da cidade grande. Dona Isolina, uma das fundadoras do vilarejo de Mogol, aponta as casas agora vazias, onde nem mais as flores podem ser vistas.

Mas as belezas naturais da Serra de Ibitipoca também atraem novos moradores. São pessoas que fazem o caminho contrário, deixando os grandes centros urbanos em busca de mais contato com a natureza. Na Vila de Ibitipoca, onde antes só se avistavam alguns casebres, hoje se contam mais de 900 moradias, todas construídas na última década. Outro sinal da transformação se dá na mão de obra: trabalhadores deixaram a agricultura rural de subsistência para atuar na construção de casas ou nas funções de caseiro, cozinheira, arrumadeira... O Parque Estadual e a Reserva de Ibitipoca, que juntos somam cinco mil hectares de área verde, atraem também os turistas, surgindo, com eles,

ibitipoca, Droba pra láDireção: Felipe ScaldiniDia 17/3, às 20h

DocuMentário

a necessidade de mais pousadas e restaurantes.Em 2011, o cineasta Felipe Scaldini esteve na

região para registrar esse momento de transformação e colher depoimentos dos protagonistas dessa história. O resultado é o documentário Ibitipoca, Droba pra Lá, que o SescTV exibe neste mês. Com 71 minutos de duração, o filme traz os relatos e as impressões dos antigos moradores dos vilarejos que circundam o Pico do Pião e mostra a ação do tempo na vida desses personagens, evidenciando o contraste entre simplicidade e modernidade. O filme é uma realização da Ferro-Velho Produções.

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enTRevisTA

A crítica como mediaçãoenTRevisTA

“penSo que, SeM ArrogânciA, A críticA Deve AjuDAr o

eSpectADor A ver Melhor uM filMe, ou SejA, De forMA

MenoS ingênuA e DeSArMADA”

Como o Cinema surgiu na sua vida? O Cinema surgiu na infância. Sempre vi muitos filmes. Até a adolescência, era um programa de pura diversão. No final do ensino médio e início da faculdade é que comecei a frequentar cineclubes, ler sobre Cinema, discutir com amigos. Passei então a pensar o Cinema como meio de expressão e como arte. Qual a média de filmes assistidos por você semanalmente? Você consegue ir ao cinema apenas como entretenimento, sem pensar em trabalho? Hoje em dia vou bem menos ao cinema, até por estar morando em Florianópolis, fora do eixo em que os filmes são lançados. Acabo vendo muita coisa em DVD ou baixada da internet. Houve épocas em que eu ia ao cinema todo dia, vendo às vezes mais de um filme por dia. Hoje vejo, no cinema, uns dois ou três por semana. Sim, consigo ir ao cinema apenas por prazer, sem pensar em trabalho, tentando não pensar no que escreveria sobre o filme se tivesse de fazê-lo. Como é tecnicamente construída uma crítica de Cinema? Essa é uma pergunta impossível de responder, pois há várias formas de crítica, várias maneiras de abordar um filme. Pode-se partir de uma cena e buscar ver nela o estilo ou a linguagem do diretor, de que maneira ele enfoca determinado tema ou cria determinada atmosfera. E pode-se começar contextualizando o filme em sua época, na história do Cinema, no seu gênero etc. O ideal é que a crítica vá além da mera paráfrase e do mero juízo de valor, que tente descobrir no filme coisas que poderiam passar

José Geraldo Couto é crítico de Cinema. Formado

em História e em Jornalismo, trabalhou nos jornais O

Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo e na revista Set,

escrevendo sobre cinema e vídeo. Também é autor

dos livros André Breton (editora Brasiliense); Brasil:

Anos 60 (editora Ática); Florianópolis (Publifolha);

e Futebol Brasileiro Hoje (Publifolha). Atualmente,

realiza traduções de livros, escreve para as revistas

Bravo! e Carta Capital e mantém uma coluna de

cinema no blog do Instituto Moreira Salles.

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despercebidas a um olhar mais ingênuo e desavisado. Para isso, quanto mais conhecimento o crítico tiver da linguagem cinematográfica, da história do Cinema, das outras artes e do contexto histórico abordado no filme, melhor. Quais os critérios a se considerar para avaliar um filme sem cair no estereótipo de bom ou ruim? São observadas questões técnicas, artísticas e de linguagem? É sempre bom pensar o filme em várias frentes: em sua relação com a história do Cinema, com outros filmes do mesmo gênero ou do mesmo contexto de produção; em sua relação com o objeto abordado (momento histórico, personagens, ambientes); em seu manuseio da linguagem específica do Cinema (enquadramento, montagem, iluminação, ritmo etc.); em sua relação com o espectador, ou com um espectador ideal; em sua relação com as artes visuais, com a música, com a literatura. Tudo isso fornece um conjunto de parâmetros que torna menos subjetiva a apreciação de um filme, menos idiossincrática a sua avaliação. Com a ressalva de que a subjetividade, e mesmo um certo grau de idiossincrasia, nunca serão abolidos. Um filme é um organismo vivo, que mexe com múltiplas camadas da sensibilidade do espectador, e o crítico não deixa de ser um espectador. Cada um será sensibilizado de uma maneira diferente pelo filme. Qual o papel da crítica na mediação entre a obra e o espectador? Penso que, sem arrogância, a crítica deve ajudar o espectador a ver melhor um filme, ou seja, de forma menos ingênua e desarmada. E chamar a atenção para aspectos que poderiam passar despercebidos a um olhar menos atento e preparado. Em última instância, a crítica deve ajudar o espectador a apurar e aguçar o seu olhar, a sua percepção. Na sua opinião, a crítica tradicional está perdendo espaço nos veículos de mídia? Sem dúvida. Aquele crítico imbuído de autoridade, que um grande número de leitores ia ler em busca do juízo definitivo sobre determinados filmes ou autores, está em extinção, se é que já não se extinguiu. Hoje há uma grande pulverização de opiniões e avaliações, sobretudo na área do Cinema, que sempre foi uma espécie de “terra de ninguém” em que todos se julgam no direito (que de fato têm) de opinar. O advento da internet fez surgirem inúmeros sites e blogs de cinema, em que pessoas de diferentes perfis opinam sobre as produções. O que você pensa sobre essa nova realidade? Penso que é muito saudável que haja na internet um espaço de reflexão sobre o cinema cada vez mais exíguo nas publicações impressas. Por outro lado, proliferam também as imposturas, os achismos, o vale-tudo. É cada vez mais difícil, e cada vez mais necessário, separar bem o trigo do joio. Como você avalia a

produção cinematográfica brasileira atual? Considero muito rica a produção brasileira atual, com vários novos realizadores competentes e criativos surgindo em todas as regiões do País, sobretudo no Nordeste, com o epicentro em Pernambuco. O problema é que só o que ganha visibilidade no mercado são alguns poucos blockbusters nativos, em geral comédias de humor televisivo ou dramas espíritas. Há uma disparidade muito grande entre os milhões de espectadores dessas produções Globo Filmes e a plateia exígua de filmes. Como a TV brasileira pode contribuir para a ampliação do repertório cinematográfico de seus telespectadores? Esta é a resposta mais fácil: exibindo a maior quantidade possível de filmes das mais variadas épocas e nacionalidades, sobretudo as obras consideradas fundamentais da cinematografia mundial.

“uM filMe É uM orgAniSMo vivo, que Mexe coM MúltiplAS cAMADAS DA SenSibiliDADe Do

eSpectADor, e o crítico não DeixA De Ser uM eSpectADor”

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A Política e a Comunicação

Cláudio Novaes Pinto Coelho é doutor em Sociologia pela USP e professor de pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero.

Desde a Grécia Clássica, a política e a comunicação são realidades inseparáveis. Os cidadãos reunidos em assembleia debatiam e deliberavam sobre os principais temas de interesse comum. No entanto, a democracia grega era uma democracia restrita aos socialmente dominantes: mulheres e escravos não eram cidadãos, os seus interesses não eram debatidos, não possuíam voz no espaço público.No mundo contemporâneo, há o predomínio da democracia representativa: os cidadãos, a população considerada adulta, elegem os seus governantes. Mas, será que todos os cidadãos participam do espaço público, podendo comunicar os seus interesses? Formalmente, devido à liberdade de expressão, essa participação estaria garantida. No entanto, na prática a situação é outra. Na imensa maioria das sociedades, os cidadãos compõem uma massa de milhões de pessoas. Seria possível que todos se comunicassem com todos? Se a sociedade é de massa, a comunicação também é. A participação no espaço público depende da possibilidade de se ter acesso aos meios de comunicação de massa. Até o aparecimento da internet, os recursos tecnológicos que permitem a comunicação de massa, devido ao seu alto custo, estavam monopolizados pelo Estado ou por grandes empresas. No Brasil, os principais veículos de comunicação (Rádio e TV) são concessões públicas administradas por empresas privadas cujo principal objetivo é o lucro. Os interesses divulgados são aqueles das empresas, a venda de serviços e produtos. As ideias divulgadas não devem contrariar esses interesses: a massa será reconhecida e valorizada como consumidora, mas não como cidadã. As grandes empresas de comunicação, representantes dos interesses empresariais, substituem a população no exercício efetivo da cidadania, como a história do Brasil evidencia.Mas, não existem antídotos para essa situação, nada contraria o poder das empresas de comunicação? Aparentemente sim, como os programas jornalísticos, os debates políticos e o horário eleitoral gratuito. O jornalismo deveria divulgar assuntos de interesse público, desempenhando um papel essencial para a existência da democracia representativa, sendo a voz dos cidadãos, que bem informados escolheriam os políticos capazes de enfrentar os principais problemas sociais. No entanto, não é isso o que acontece. Problemas sociais, como a especulação imobiliária, cuja divulgação pode contrariar

importantes anunciantes, não serão divulgados, ou serão divulgados de forma rápida, não merecendo nenhum destaque, nem despertando o interesse dos cidadãos. Fazendo parte de uma programação voltada para atingir o máximo de audiência possível, o jornalismo segue a lógica comercial, ou seja, a lógica da sociedade do espetáculo.Na sociedade do espetáculo, a comunicação segue a linguagem publicitária, voltada para a sedução do público com mensagens atraentes. O jornalismo preocupa-se cada vez mais com a aparência: o cenário, a imagem dos jornalistas, o tom de voz dos apresentadores etc. As notícias se sucedem rapidamente, prendendo a atenção do público, numa comunicação superficial e marcada por um tom emocional e imediatista. Se a principal característica da democracia na Grécia Clássica era o debate racional sobre os problemas dos cidadãos, que livremente expressavam os seus pontos de vista, de acordo com os seus interesses, isso não acontece no noticiário do Rádio e TV.A mesma dependência da sociedade do espetáculo pode ser constatada no horário político eleitoral ou nos debates políticos. Partidos e candidatos procuram seduzir os eleitores e não conquistá-los racionalmente. A política está reduzida a um espetáculo marcado pela superficialidade da linguagem publicitária. Os políticos nos representam, do mesmo modo que os produtos. Os que dominam a linguagem publicitária, os “marqueteiros”, são contratados a peso de ouro e dirigem as campanhas políticas, esvaziando a dimensão ideológica dos partidos políticos, que se transformam em organizações voltadas para os interesses econômicos dos seus membros e não mais para representarem os interesses públicos.Mas não existe mesmo nenhuma esperança para uma política e uma comunicação de fato democráticas? A internet, devido ao seu caráter descentralizado, possibilitando uma comunicação de todos com todos, é uma esperança, desde que aconteça a disseminação de informações de interesse público e uma retomada de debates racionais voltados para a solução dos principais problemas sociais. Por enquanto, a realidade não é essa, mas a mudança só depende de nós, cidadãos.

ARTigO

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para sintonizar o SeSctv: Anápolis, Net 28; Aracaju, Net 26; Araguari, Imagem Telecom 111; belém, Net 30; belo horizonte, Oi TV 28; brasília, Net 3 (Digital); campo grande, JET 29; cuiabá, JET 92; curitiba, Net 11 (Cabo) e 42 (MMDS); fortaleza, Net 3; goiânia, Net 30; joão pessoa, Big TV 8, Net 92; Maceió, Big TV 8, Net 92; Manaus, Net 92; natal, Cabo Natal 14 (Analógico) e 510 (Digital), Net 92; porto velho, Viacabo 7; recife, TV Cidade 27; rio de janeiro, Net 137 (Digital); São luís, TVN 29; São paulo, Net 137 (Digital). uberlândia, Imagem Telecom 111. no brasil todo, pelo sistema DTH: Oi TV 28 e Sky 3. Para outras localidades, consulte sesctv.org.br

Esta revista foi impressa em papel fabricado com madeira de reflorestamento certificado com o selo do FSC® (Forest Stewardship Council ®) e de outras fontes controladas.A certificação segue padrões internacionais de controles ambientais e sociais.

O SescTV participou da RioContent Market, realizada entre os dias 20 e 22 de fevereiro, no Rio de Janeiro, e considerada um dos mais importantes eventos de conteúdo audiovisual multiplataforma da América Latina. A edição de 2013 do evento, organizado pela ABPITV (Associação Brasileira de Produtoras Independentes de TV), contou com 3 mil participantes inscritos, entre produtoras, canais e profissionais do audiovisual.

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Sincronize seu celular no QR Code e assista ao vídeo com os destaques

da programação.

Diferentes tradições e ofícios desempenhados por mulheres são apresentados em quatro episódios da série Coleções, às quintas-feiras, 21h30. A temporada Cantos de trabalho acompanha o cotidiano das Quebradeiras de Coco Babaçu, dia 7/3; o Coral das Lavadeiras de Almenara, dia 14/3; e as Destaladeiras de Fumo de Arapiraca, dia 21/3. No dia 28/3, a série traz o episódio Viola no Brasil – Mulheres Violeiras. Coleções tem direção de Belisario Franca.

ofícioS e trADiçõeS

A série Artes Visuais apresenta, neste mês, quatro episódios que retratam a obra de artistas nascidos em outros países e que escolheram o Brasil para viver e desenvolver seus projetos. Eles incorporam a cultura, as cores e as formas brasileiras ao seu olhar estrangeiro. Claudia Andujar, dia 6/3; Eleonore Koch, dia 13/3; Flávio Shiró, dia 20/3; e Maureen Bisilliat, dia 27/3, sempre às 21h30. Artes Visuais tem direção de Cacá Vicalvi.

Direção Executiva Valter Vicente Sales Filho Direção de Programação Regina Gambini

Coordenação de Programação Juliano de Souza Coordenação de Comunicação Marimar Chimenes Gil

Redação Adriana Reis Divulgação Jô Santina e Jucimara Serra

Envie sua opinião, crítica ou sugestão [email protected]

Leia as edições anteriores em sesctv.org.br Av. Álvaro Ramos, 776. Tel.: (11) 2076-3550

seRviÇO sOCiAL DO COmÉRCiO – sesCAdministração Regional no Estado de São Paulo

Presidente Abram SzajmanDiretor Regional Danilo Santos de Miranda sescsp.org.br

A revista SESCTV é uma publicação do Sesc São Paulo sob coordenação da Superintendência de

Comunicação Social. Distribuição gratuita. Nenhuma pessoa está autorizada a vender anúncios.

Coordenação Geral Ivan Giannini Supervisão Gráfica e editorial Hélcio Magalhães Editoração Ana Paula Fraay e Rosa Thaina Santos

Revisão Ana Lúcia Sesso

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O SescTV encerra, neste mês, a Mostra Feminino Plural, com a exibição dos curtas-metragens Pedra Bruta, direção de Julia Zakia; e Rio de Mulheres, de Joana Oliveira e Cristina Maure, no dia 2/3, às 21h. Desde dezembro passado, o canal apresenta filmes de curta duração que destacam o olhar feminino sobre a sociedade brasileira. A mostra tem curadoria de Zita Carvalhosa.

feito por MulhereS

Quatro episódios inéditos da série Instrumental Sesc Brasil mostram, às segundas-feiras, 22h, os destaques da música instrumental, em espetáculos gravados no Sesc Consolação. Neste mês, serão exibidos programas com o quarteto de violonistas Maogani, dia 4/3; com o multi-instrumentista Rafael Martini, dia 11/3; com o percussionista Cyro Baptista, acompanhado de seu sexteto de world music, dia 18/3; e com o trio MarginalS, dia 25/3. A série tem direção artística de Max Alvim.

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